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Síntese do livro “INCLUSÃO ESCOLAR – O QUE É? POR QUÊ? COMO FAZER?

Síntese do livro “INCLUSÃO ESCOLAR – O QUE É? POR QUÊ? COMO FAZER?”

Inclusão Escolar: O que é?


Crise de Paradigmas

Segundo Mantoan, estamos vivenciando uma crise de paradigmas. Mas o que seriam estes paradigmas e que crise seria
esta de que fala nossa autora. Os paradigmas podem ser definidos como um conjunto de regras, normas, crenças, valores,
princípios que são compartilhados por um determinado grupo num dado momento histórico e que direcionam o nosso
comportamento, até entrarem em crise, isto é, até não nos satisfazerem mais porque não dão mais conta dos problemas que
temos de solucionar. Portanto, uma crise de paradigma é uma crise da concepção, da visão de mundo que explicam a realidade
a nossa volta e sob o qual agimos.
Onde entra a inclusão escolar nesta história toda? Ocorre que a escola experimenta a mesma crise uma vez que o
paradigma educacional que a organiza encontra-se também em xeque. A inclusão implica numa mudança desse atual paradigma
educacional. A escola não pode continuar ignorando o que acontece ao seu redor, nem anulando e marginalizando as diferenças
dos processos pelos quais forma e instrui seus alunos. Muito menos desconhecer que aprender implica ser capaz de expressar,
dos mais variados modos, o que sabemos, implica representar o mundo a partir de nossas origens, de nossos valores e
sentimentos.
Ocorre que a democratização do acesso à escola permitiu a entrada de novos grupos sociais em suas salas de aula, mas
fechou as portas para os novos conhecimentos que esses grupos trazem consigo a partir da experiência de vida de cada um
deles. Dessa forma, a escola exclui os que ignoram o conhecimento que ela valoriza e, assim, entende que a democratização é
massificação de ensino e não amplia a possibilidade de diálogo entre diferentes lugares epistemológicos, não se abre a novos
conhecimentos. Em consequência, os sistemas escolares estão montados a partir de um pensamento que permite dividir os
alunos em normais e deficientes, as modalidades de ensino em regular e especial, os professores em especialistas nesta e
naquela manifestação das diferenças.
A reviravolta que a inclusão escolar exige da escola só faz sentido se as categorizações e oposições excludentes forem
abolidas de seu cenário: iguais X diferentes, normais X deficientes, ensino regular X ensino especial.

Integração ou Inclusão?

Mantoan propõe aqui uma diferenciação entre integração e inclusão – que embora tenham significados semelhantes,
são utilizados para definir formas de inserção distintas e se amparam em fundamentos teórico metodológicos conflitante.
“Integração‟ refere-se mais especificamente à inserção de alunos com deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego dá-se
também para designar alunos agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais,
grupos de lazer ou residências para deficientes. Trata-se, portanto, de uma concepção de inserção parcial, porque o sistema
prevê serviços educacionais segregados.
A integração escolar pode ser melhor compreendida como o “especial na educação‟, ou seja, a justaposição do ensino
especial ao regular, provocando um inchaço desta modalidade, em virtude do deslocamento de profissionais, recursos, métodos
e técnicas da educação especial às escolas regulares. A inclusão escolar, por outro lado, questiona o próprio conceito de
integração, pois são incompatíveis, uma vez que esta prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática, isto é,
todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular.
Por conta disso, a inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge apenas os alunos com
alguma deficiência ou os que apresentam dificuldades no aprendizado, mas envolve todos os demais alunos. A perspectiva
inclusiva, portanto, elimina a subdivisão dos sistemas escolares em modalidades de ensino especial e de ensino regular.

Inclusão Escolar: Por Quê?

Para Mantoan, a inclusão total e irrestrita é uma ótima oportunidade que temos de reverter a situação da maior parte
de nossas escolas, as quais atribuem aos alunos as deficiências que são do próprio ensino ministrado dentro delas – sempre se
avalia o que o aluno aprendeu, o que ele deixou de aprender, mas raríssimas vezes se analisa “o que‟ e „como‟ a escola ensina,
de modo que os alunos não sejam culpabilizados pela repetência, evasão, discriminação, exclusão, etc.

A questão da identidade X diferença

Mantoan inicia este capítulo com questões a respeito das propostas e políticas educacionais que proclamam a inclusão,
chamando atenção para a forma como estas identificam e tratam as diferenças, isto é, será que reconhecem e valorizam as
diferenças como condição para que haja avanço, mudanças, desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação escolar?

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Observa a autora que, muitas vezes, estas propostas entendem as deficiências como “fixadas‟ no indivíduo,
como se fossem marcas indeléveis, as quais só nos cabe aceitá-las, passivamente, pois acredita-se que nada poderá evoluir,
além do previsto no quadro geral das suas especificações estáticas. Com base nesta ideia é que criam-se espaços educacionais
protegidos à parte, restringidos à determinadas pessoas, ou seja, àqueles que denominamos Portadoras de Necessidades
Educacionais Especiais (PNEE).
Em contrapartida, Mantoan propõe tomarmos a diferença como parâmetro ao invés destes modelos que adotam a
igualdade como referência. Quando não fixamos mais a igualdade como norma, fazemos cair toda uma hierarquia das
igualdades e diferenças que sustentam a “normalização‟. Diz Mantoan que este processo (a normalização), pelo qual a educação
especial tem sido proclamada, propõe de forma sutil, com base em características devidamente selecionadas como positivas, a
eleição arbitrária de uma identidade “normal‟ como um padrão de hierarquização e de avaliação de alunos, de pessoas. É
preciso lembrar que nem todas as diferenças necessariamente inferiorizam as pessoas. Há diferenças e igualdades – nem tudo
deve ser igual, assim como nem tudo deve ser diferente.

A questão legal

Quando garante a todos o direito à educação e à escola, a Constituição Federal não faz distinções e, assim sendo, toda
escola deve atender aos princípios constitucionais, não podendo excluir nenhuma pessoa em razão de sua origem, raça, sexo,
cor, idade ou deficiência. Isso significa que para que todos possam atingir o pleno desenvolvimento humano e o preparo para a
cidadania, entende-se que a educação não pode se realizar em ambientes segregados.
No Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto –, artigo 205, a Constituição prescreve em seu artigo 208 que o
dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de “ [...] atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. Como em nossa Constituição consta que a educação
visa o pleno desenvolvimento humano e o preparo para a cidadania, qualquer restrição ao acesso a um ambiente marcado pela
diversidade, que reflita a sociedade como ela é, como forma efetiva de preparar a pessoa para a cidadania, seria uma
diferenciação que estaria limitando em si mesmo o direito à igualdade dessas pessoas. Em síntese: para os defensores da
inclusão escolar é indispensável que os estabelecimentos de ensino eliminem barreiras arquitetônicas e adotem práticas de
ensino adequadas às diferenças dos alunos em geral, oferecendo alternativas que vislumbrem a diversidade, além de recursos
de ensino e equipamentos especializados que atendam a todas as necessidades educacionais dos educandos, com ou sem
deficiências, mas sem discriminações.
A questão das mudanças
Uma coisa, porém, é o que está escrito e outra é o que acontece, verdadeiramente, nas salas de aula, no dia a dia das
escolas espalhadas por este país. A inclusão, diz Mantoan, pegou as escolas de calças curtas. E o nível de escolaridade que mais
parece ter sido atingido por essa nova questão é o ensino fundamental. A escola se vê ameaçada por tudo o que ela mesma
criou para se proteger da vida que existe para além de seus muros e de suas paredes – novos saberes, novos alunos, outras
maneiras de resolver problemas e de avaliar a aprendizagem.
Sabemos quais são os argumentos pelos quais a escola tradicional resiste à inclusão – eles refletem a sua incapacidade
de atuar diante da complexidade, da diversidade, da variedade, do que é real nos seres e nos grupos humanos. Os subterfúgios
teóricos que distorcem de caso pensado o conceito de inclusão, condicionando-o à capacidade intelectual, social e cultural dos
alunos, para atender às expectativas e exigências da escola, precisam ser eliminados com urgência.
A inclusão se legitima porque a escola, para muitos alunos, é o único espaço de acesso aos conhecimentos.

Inclusão Escolar: Como Fazer?

Não adianta, porém, admitir o acesso de todos à escola, sem garantir a continuidade da escolaridade até o nível que
cada aluno for capaz de atingir. Não há inclusão quando a inserção de um aluno é condicionada à matrícula em uma escola ou
classe especial. O princípio democrático da educação para todos só se justifica nos sistemas educacionais que se especializam
em todos os alunos, e não somente em alguns deles (os com ou sem deficiência).
Para Mantoan, é preciso mudar a escola e, mais precisamente, o ensino nela ministrado. Para mudar a escola é preciso,
entretanto, enfrentar muitas frentes de trabalho, cujas tarefas fundamentais são, no entender de Mantoan: 1) Recriar o modelo
educativo escolar, tendo como eixo o ensino para todos; 2) Reorganizar pedagogicamente as escolas, abrindo espaço para que a
cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercidos nas escolas, por professores,
administradores, funcionários e alunos, porque são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania; 3) garantir
aos alunos tempo e liberdade para aprender, bem como um ensino que não segrega e que reprova a repetência; 4) Formar,
aprimorar continuamente e valorizar o professor, para que tenha condições e estímulo para ensinar a turma toda, sem
exclusões e exceções. Essas tarefas são comentadas nos capítulos seguintes.

Recriar o modelo educativo

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Recriar esse modelo educativo tem a ver com o que entendemos como qualidade de ensino. Uma escola se distingue
por um ensino de qualidade, capaz de formar pessoas nos padrões requeridos por uma sociedade mais evoluída e humanitária,
quando consegue: aproximar os alunos entre si; fazer das disciplinas meios de conhecer melhor o mundo e as pessoas que nos
rodeiam, e ter como parceiras as famílias e a comunidade na elaboração e no cumprimento do projeto escolar.
Nas práticas pedagógicas, predominam a experimentação, a criação, a descoberta, a coautoria do conhecimento.
Resumindo: as escolas de qualidade são espaços educativos de construção de personalidades humanas autônomas, críticas,
espaços onde crianças e jovens aprendem a serem pessoas. Escolas assim concebidas não excluem nenhum aluno de suas
classes, de seus programas, de suas aulas, das atividades e do convívio escolar.

Reorganizar as escolas: aspectos pedagógicos e administrativos

A inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para esta ou aquela deficiência e/ou
dificuldade de aprendizado. Os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for de boa qualidade, o professor levará em
consideração esses limites, e explorará adequadamente as possibilidades de cada um. Não se trata de uma aceitação passiva do
desempenho escolar, mas de se agir com coerência e realismo ao admitirmos que as escolas não existem para formar apenas
alguns membros das novas gerações, os mais capacitados e privilegiados.
A organização administrativa e os papéis desempenhados pelos membros da organização escolar são outros alvos a
serem alcançados. Ao serem alterados os rumos da administração escolar, a atuação do diretor, coordenadores, supervisores e
funcionários perdem o caráter controlador, fiscalizador e burocrático que os encerra em seus gabinetes e readquire um papel
pedagógico, pois amplia a presença destes nas salas de aula e nos demais ambientes educativos das escolas.

Ensinar a turma toda: sem exceções e exclusões

Para Mantoan, o sucesso da aprendizagem está em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver
predisposições naturais de cada aluno. Ensinar atendendo às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada um,
depende, entre outras coisas, de se deixar de lado o caráter transmissivo do ensino praticado hoje e de se adotar uma
pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que se opõe a toda a qualquer visão unidirecional, de transferência unitária,
individualizada e hierárquica do saber.
O ponto de partida para se ensinar a turma toda sem diferenciar o ensino para este aluno ou aquele grupo de alunos, é
entender que a diferenciação é feita pelo próprio aluno e não pelo professor no ato de ensinar.

E a atuação do professor?

Mantoan reconhece que inovações educacionais como a inclusão, também mexem com a identidade profissional e o
lugar conquistado pelos professores em uma dada estrutura de ensino, atentando contra a experiência, os conhecimentos e o
esforço que fizeram para adquiri-los.

Preparar-se para ser um professor inclusivo?

Se, de um lado, é necessário continuar investindo na formação de profissionais qualificados, de outro, não se pode
descuidar da realização dessa formação e deve-se estar atento ao modo pelo qual os professores aprendem. Assim como
qualquer aluno, os professores não aprendem no vazio. Por isso, a proposta de formação que Mantoan nos apresenta parte do
„saber fazer‟ dos profissionais que já possuem conhecimentos, experiências e práticas pedagógicas ao entrar em contato com a
inclusão ou qualquer outra inovação educacional.
O foco da formação seria o desenvolvimento da competência de resolver problemas pedagógicos. Analisa-se, então,
como o ensino está sendo ministrado e a construção do conhecimento pelos alunos. Se um aluno não vai bem, seja ele uma
pessoa com deficiência ou não, o problema precisa ser analisado com relação ao ensino que está sendo dado a toda a turma,
pois ele passa a ser um indicador importante da qualidade do trabalho pedagógico, porque fato de a maioria dos alunos estar
indo bem, não significa que o ensino ministrado atenda às necessidades e possibilidades de cada aluno.

Considerações finais

A escola prepara o futuro e se as crianças aprenderem a valorizar e a conviver com as diferenças nas salas de aula,
serão adultos bastante diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto para entender e viver a experiência da inclusão.

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