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Análise crítica do plano curricular do Ensino Secundário Geral: um olhar sobre a

Filosofia
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Emílio Orlando Alfredo
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Prof.Doutor Ricardo Mussá buanar
Resumo
O presente artigo analisa as bases e os pilares sobre os quais o Plano Curricular propõe a edificação dos programas
educacionais do Ensino Secundário Geral.
Com o artigo chega-se a conclusão de que os pilares arrolados pelo Plano em análise são demasiado frágeis. Eles
não podem sustentar nenhum programa do Ensino Secundário Geral. Não se pretendendo deste modo desvalorizar
todo o empreendimento até aqui desenvolvido em prol dele, porém pretendeo mostrar a fragilidade das políticas
educacionais no que diz respeito a sua condição de ser (ou não) pensadas pelos moçambicanosm isto é, pelas
pessoas que desenharam o plano em análise e pelo facto deste plano não reflectir a realidade dos moçambicanos.
Palavras chaves: Análise Crítica, Plano Curricular e Ensino Secundario Geral.

Introdução
O presente artigo tem como tema: A análise Crítica do Plano Curricular do Ensino
Secundário Geral: Um Olhar sobre a Filosofia. Pretendo com o tema analisar as bases e os
pilares com os quais o Plano Curricular propõe a edificação dos programas curriculares do
Ensino Secundário Geral. Pretendo também reflectir sobre a possibilidade de produzir o
cidadão ou a sociedade que o Plano preconiza com aquilo que ele chama de perfil do graduado.
São ainda minhas preocupações perceber até que ponto o programa contribui para uma nova
abordagem dos temas educacionais e se a sua construção toma em consideração a realidade do
país.
A constatação final é de que os pilares arrolados pelo Plano em análise são demasiado frágeis.
Eles não podem sustentar nenhum programa do Ensino Secundário Geral.
Não quero com isto deitar abaixo todo esforço empreendido pelas pessoas que o fizeram, quero
porém mostrar a minha indignação pelo facto das políticas educacionais não serem pensadas
pelos moçambicanos; isto é, pelas pessoas que desenharam o plano em análise e pelo facto
deste plano não reflectir a realidade dos moçambicanos.
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1
Mestrando do curso de Psicopedagogia pela Academia Militar Marechal Samora machel –
muiboemilio@gmail.com
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Prof.Doutor Ricardo Mussá buanar, Professor da Academia Militar Marechal Samora machel -
ribuanar@gmail.com

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Os Pilares Do Plano Curricular Do Ensino Secundário Geral.
Os programas do ensino secundário geral foram construídos tendo em conta os contextos
Político-económicos; Sócio-culturais e Educativos; e as perspectivas do Ensino Secundário
Geral. No tocante ao contexto político e económico deve-se ter em conta:
“(Programa Quinquenal do governo, 2005-2009:50) aponta para a redução da pobreza de
69,4% em 1996-1997, para 54% em 2002-2003. De acordo com o Plano de Acção para a
Redução da Pobreza Absoluta (PARPAII- 2005-2009), e com o Programa Quinquenal do
Governo foi estabelecida a redução da incidência da pobreza para 45%, em 2009. Neste
contexto, o sector da Educação ocupa um lugar prioritário pois a formação do cidadão
contribui para o desenvolvimento humano” (PCESG, 2007,P.3)
Embora o texto termine reconhecendo a importância que o sector da educação tem em formar
homens capazes de desenvolver o país e consequentemente o continente e o mundo, os
programas de Ensino Secundário Geral são construídos a partir de um pilar degradado. Ora
vejamos, todos os documentos de que o Plano faz menção, estão ultrapassados em termos de
categoria tempo. Por exemplo, o programa de filosofia foi concebido no ano 2007, cuja
validação ocorreu nos dias 24 e 25 de Outubro do mesmo ano. E o mesmo (o programa de
filosofia) é previsto a sua implementação para o ano de 2009. portanto, todos os documentos
referenciados vão até 2009. O que quer dizer que no ano em que o programa de filosofia entra
em vigor, o referido pilar está em desuso.
Ainda neste primeiro pilar lê-se:
“No âmbito do desenvolvimento económico os desafios do governo estão orientados para a
erradicação da pobreza absoluta, redução das desigualdades sociais, de género e das
assimetrias das regiões do país...”(PCESG, 2007,3).
O mundo mostra outra realidade. O que acontece é que os discursos políticos não
correspondem a ânsia do povo. Hoje, em quase todo o mundo, os ricos continuam cada vez
mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Esta tendência reflecte-se também na educação.
Os filhos da classe alta quase sempre se “dão-bem” na sua formação académica e os currículos
em algumas vezes tendem a beneficiá-los.
Portanto, a luta pela erradicação da pobreza absoluta, das desigualdades sociais deve ser
direccionada ao egoísmo humano. É no egoísmo onde reside o problema fundamental. A
citação traz simplesmente as consequências e não se pode lutar contra consequências.
Apesar dos discursos sobre o desenvolvimento e sobre o combate as assimetrias
“Desde a Segunda Guerra Mundial, e provavelmente desde o início do século XIX, a
desigualdade na repartição dos bens materiais antes aumentou do que diminui, e isso tanto em

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nível global, como também, sob muitos aspectos, em nível regional. Essa afirmação precisa de
ser relativizada num duplo sentido: de um lado, a população mundial, desde o fim da Segunda
Guerra Mundial, quase triplicou e, desde o início do século XIX, cresceu quase oito vezes”
(Kesselring, 2007, 16).
O segundo pilar é o Sócio-cultural e Educativo que afirma: “Moçambique é um País
multilingue e multicultural habitado por diferentes grupos etno-linguísticos com maior
predominância para os de origem bantu” (PCESG, 2007,3).
Este pilar espelha a realidade do País. E quer chamar a atenção dos fazedores dos programas a
tomem consciência desta realidade quando estiverem a desenhar os referidos programas.
Portanto, a chamada de atenção é lógica mas o problema prendesse com a aplicação deste pilar.
O Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano já começou a introduzir as línguas
nacionais nos currículos do Ensino Básico. O propalado ensino bilingue. Só que se cria a priori,
neste processo, a discriminação. Isto quer dizer que as línguas que foram introduzidas neste
processo são as mais privilegiadas em relação a outras. O que na minha opinião não
corresponde à verdade. A outra constatação prende-se com a produção de gramáticas, livros e
dicionários ou melhor com a produção de manuais que permitam a leccionação das referidas
línguas. E pelo facto do currículo do Ensino Secundário Geral prever a leccionação destas
disciplinas sem antes reunir as mínimas condições como as já referidas e a formação dos
professores para este ensino com um currículo que abranja estas disciplinas. Portanto, é uma
falha terrível. O que quer dizer que deliberadamente as outras línguas que até então não estão a
ser leccionadas ou não serão leccionadas podem desaparecer no panorama nacional e mundial.
Pode-se entender também que na verdade a Educação é um instrumento que perpetua os valores
ou a cultura dominante. Os construtores do Plano Curricular ao tentarem pensar na linguagem
ou no ensino bilingue ou ainda ao realçarem a linguagem como elemento fundamental da
cultura, remetem-nos a teorias críticas.
No que diz respeito à cultura, eu penso que a educação deve fazer algo mais. Não é suficiente a
interacção cultural, o respeito pelas diferenças culturais. O currículo não deve ser a imitação
dos sonhos dos outros. É necessário, julgo eu, inventarmos os nossos sonhos. Sermos fautores
da nossa história (como diz Severino Ngoenha). É pertinente trazer para o currículo as
disciplinas que fortalecem o espírito de respeito e de interculturalidade. Por exemplo, introduzir
nos currículos disciplinas como interculturalidade ou multiculturalidade, com a finalidade de
elevar a consciência dos alunos em torno da diversidade cultural. Pois a questão não é só do
macúa ou sena ou ainda de tsonga. A interculturalidade é uma questão que hoje ultrapassa
fronteiras. Primeiro através de meios de comunicação social que mesmo não querendo

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consumimos a cultura de outros grupos sociais e em segundo lugar a questão da abertura de
fronteiras que traz consigo a circulação de bens e pessoas. Para dizer que o currículo deve
reflectir estas realidades todas.
“Com a internacionalização da economia, com as constantes migrações e com a globalização
das comunicações, o número de referências culturais à disposição do aluno é cada vez maior.
A educação multicultural e intercultural procuram familiarizar as crianças com as realizações
culturais, interculturais, morais, artísticas, religiosas etc. de outras culturas não dominantes”
(Costas, 2003, 16)
Este segundo pilar termina com uma reflexão em torno da Educação. Apresenta-nos duas
situações: a primeira é projecção e impasse e a segunda é uma utopia talvez daquelas utopias
irrealizáveis.
Na primeira situação diz-se que: “Em 1983 introduziu-se, em Moçambique, o sistema Nacional
de Educação (SNE) através da Lei 4/83, de 23 de Março, revista pela lei 6/92, de 6 de Maio.
Tratou-se de uma alteração total da estrutura educacional até então vigente. Porém, a guerra,
as calamidades naturais, que devastaram o país e a consequente crise económica
condicionaram os resultados que se esperavam” (PCESG, 2007,P.4).
Esta citação traduz um sentimento de optimismo. Ela parece-me querer dizer que a situação
educacional no país foi péssima e foi diagnosticada como tal, procurou-se logo em seguida
tomar medidas para superar este quadro. Todavia, “o azar bateu à porta”. Veio a guerra, as
calamidades naturais e afundaram todo um sonho dos moçambicanos.
Na minha modesta opinião, o problema fundamental não reside nestes dois factores. Encontrá-
lo-emos sim nas instituições que “pensam por nós”. Refiro-me ao Banco Mundial (BM), Fundo
Monetário Internacional (FMI), Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), todas as
organizações internacionais que planificam as políticas do desenvolvimento dos países
sobretudo em via do desenvolvimento, que é o nosso caso; O problema é que não somos nós a
sonhar, mas sim os outros que sonham por nós. Deixamos de ser, se um dia já o fomos, fautores
da nossa história dos nossos destinos. As mesmas instituições nos mandam deitar abaixo o
edifício bem construído, logo após a independência construíram um edifício com pilares fracos
e hoje nos obrigam a construir edifícios mais fracos ainda e mandam-nos escrever o seguinte:
“Quanto à melhoria da qualidade de educação, o Plano Estratégico da Educação II (2005-
2009), considera como prioritária a transformação curricular do ESG que se centre nas
habilidades para a vida, entrada no mercado de trabalho, do que apenas para o Ensino
superior. O actual currículo do ESG caracteriza-se por ser enciclopédico e orientado para a

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continuação dos estudos no ensino superior, não responde assim às necessidades do mercado
de trabalho e da sociedade moçambicana no geral e do mundo
globalizado” (PCESG, 2007,4)
Não me recordo quando é que o Ministério de Educação e Cultura convocou, nos últimos dez
anos um seminário Nacional com os professores onde tivesse lugar uma discussão que
produzisse estas constatações. Portanto, são constatações políticas e as políticas não são
pensadas por nós.
Este seria o pilar forte com o qual o sistema educacional moçambicano se deveria erguer. O
currículo deve reflectir os problemas da sociedade sem interferência de um problema
quinquenal que é passageiro.
O último pilar é sobre Perspectivas do ESG. De entre os vários pontos merecem destaque:
A Agenda 2025 que preconiza “desenvolvimento do capital humano, está orientada para uma
formação integral do homem moçambicano assente em quatro pilares: saber ser, saber
conhecer, saber fazer, saber viver juntos e com os outros” (PCESG, 2007, 7)
Ao analisar as disciplinas curriculares, tenho a impressão deste currículo formar um homem
não integral, um homem fragmentado, ao invés do homem integral que se pretende. Visto que
não existe nenhum plano de estudo que satisfaça os quatro saberes em simultâneo, (saber ser,
saber conhecer, saber fazer e saber viver juntos). (cfr. PCESG, 2007, 65ss). O que quer dizer
que há um desfasamento entre o escrito e aquilo que se pretende produzir em termos
curriculares. Encontramo-nos numa situação de letargia mental. E por isso mesmo somos
tomados como objectos. O primeiro destinatário do currículo é o professor, o segundo é o aluno
e o terceiro é a sociedade. Que sentido há se os principais intervenientes não são consultados e
são tomados simplesmente como objectos? Será o problema da pobreza? E por conseguinte
somos alienados?
“Dado o predomínio da ordem política e económica com ideologias associadas, fica claro
para que direcção irão se encaminhar os teóricos do currículo. A tarefa deles será
proporcionar uma série de objectivos que o sistema patrocine, comprove e realize” (Sacristán,
2000, 48)
Os Resultados Do Plano Curricular Do Ensino Secundário Geral.
Os resultados do Plano Curricular do Ensino Secundário Geral, que o documento designa por
perfil do graduado merecem também ser analisados. Dos vários perfis arrolados pelo
documento merecem destaque:
“a) Ter amor-próprio, amor pela vida, pela verdade, respeitar e amar o próximo”. Sou reticente
na concretização deste perfil. Seria fácil concretizá-lo se a educação fosse efectuada à margem

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da sociedade, visto que a sociedade moçambicana perdeu todos estes valores. É só recordar os
vários casos de linchamento que ocorrem em quase todo o país; as execuções sumárias
praticadas pela polícia moçambicana; o atentado ao pudor público envolvendo músicos
moçambicanos; a violação sexual dos pacientes praticada por algum pessoal da saúde; as
cobranças ilícitas feitas por alguns professores no nosso sistema de ensino; os problemas da
corrupção que o governo moçambicano procura ultrapassá-los sem sucesso. Perante este quadro
é necessário convidar todas as instituições a participar neste desafio, refiro-me a Família, a
Igreja, a Educação, os poderes tradicionais e políticos.
“São as noções de raça, etnia e nação que dão forma a essas preocupações em que a educação
na família, na escola e na igreja assume um lugar central como instância de produção dos
sujeitos culturais” (Costas, 2003, 70)
“h) utilizar as Tics de forma interactiva”
Como usar as Tics de forma interactiva numa situação em que poucas escolas têm acesso as
Tecnologias de informação e comunicação. As escolas que têm não beneficiam duma forma
imediata aos alunos. Primeiro, elas estão em número insignificante; segundo, não há técnicos
nas escolas para a manutenção das máquinas;
em terceiro lugar não beneficiam os alunos na sua totalidade e por último não há, até então, nas
nossas Escolas professores formados para trabalhar nesta área.
Esta dificuldade de aprendizagem remete-nos à aliena i) que diz “Aplicar os conhecimentos e
suas tecnologias para melhorar a sua qualidade de vida” (PCESG, 2007, 23). As questões a
colocar são: que conhecimento e que tecnologia num programa erigido sobre pilares
degradados? Há um desfasamento claro entre a realidade e o que se almeja atingir. Quando se
fala das tecnologias como meio para melhorar a qualidade de vida, tecnologias essas que ainda
não são realidade nas nossas escolas, quer dizer que a vida vai melhorar sim, mas no papel.
A outra aposta do PCESG na alínea k) diz que o graduado deve “Ser capaz de criar o seu
próprio sustento e o da sua família e gerir os seus rendimentos, contribuindo assim para o
combate à pobreza absoluta” (PCESG, 2007, 23).
Socorrendo-me do velho Aristóteles, na afirmação segundo a qual a pessoa só pode ser justa
praticando a justiça, honesta praticando a honestidade. Posso dizer que a realidade
moçambicana na alínea k está desenquadrada. O que acontece realmente é que não há
condições para concretizar esta alínea. Temos nas nossas escolas um número muito elevado dos
alunos que torna difícil até mesmo impossível o seu treinamento para uma destas actividades
quer ao nível teórico ou prático.

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A Contribuição Do Plano Curricular Do Ensino Secundário Geral.
Procuro com esta abordagem resgatar e criticar a educação inclusiva, ensinoaprendizagem
centrado no aluno, ensino-aprendizagem orientado para o desenvolvimento de competências
para a vida, ensino secundário geral integrado e finalmente ensino-aprendizagem em espiral.
O Plano Curricular do Ensino Secundário Geral traz novas abordagens. Ele pretende ser uma
revolução ou mesmo inovação relativamente ao anterior. O discurso sobre a educação inclusiva
é encorajador, principalmente ao encararmos a educação como um direito natural do homem.
Por isso é necessário dar possibilidades e oportunidades a todos.
O Plano procura sublinhar três situações, nomeadamente: a promoção da equidade de género,
criar condições de aprendizagem para os portadores de deficiência e por fim desenvolver
estratégias para os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem (cfr. PCESG, 2007, p.
14-15)
Na questão da promoção do género eu penso que é altura de pararmos e pensarmos sobre ela.
Estamos a correr o risco de termos muitas raparigas na escola que rapazes, e daí andarmos toda
a vida a promovermos o género. Se assim continuarmos iremos nos dar conta embora tarde de
que “é chegada a hora de promovermos o rapaz”. Os dados estatísticos de 2007 mostram que a
população moçambicana é composta por sua maioria de população feminina e
consequentemente ao andar do tempo as nossas escolas serão povoadas de raparigas. Não só
como também, o número da raparigas aumentou bastante nos últimos anos nas nossas escolas.
O problema hoje dos deficientes nas nossas escolas não se prende com a falta de solidariedade,
amor pelo próximo, ensino de linguagem etc.
A segunda contribuição do Plano Curricular do Ensino Secundário Geral, que acho a intenção
boa, é o ensino-aprendizagem centrado no aluno. “Nesta concepção de ensino, o professor
funciona como um facilitador a quem cabe criar oportunidades educativas diversificadas que
permitam ao aluno desenvolver as suas potencialidades” (PCESG, 2007, p.17).
Ainda na mesma página há sugestões para tal ensino a saber: trabalhos aos pares e em grupos,
Este Plano sugere o ensino tecnicista. O ensino e aprendizagem orientado para o
desenvolvimento de competência para a vida:
“... a teoria técnica é a que tem mais tradição nos estudos curriculares, é aquela cuja
influência se faz sentir ainda nos dias de hoje (...) e caracteriza-se por um discurso científico,
por organização burocrática e por uma acção tecnicista”(Pacheco, 1996, 31)
A tecnicidade do programa não reside apenas no discurso e na estrutura, mas também nos
conteúdos onde o programa agrupa as disciplinas profissionalizantes. (cfr. PCESG, 2007, P.73).

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O ensino centrado nos problemas é promissor. Ajuda os alunos a prepararem-se para um futuro
digno e humano. O documento em estudo sublinha com veemência esta questão ao afirmar:
“... A abordagem de ensino deverá estar orientada para a solução dos problemas da
comunidade, através da ligação em situações concretas da vida, na família e na comunidade”(
PCESG, 2007, P.16)
A citação quer consciencializar a todas as pessoas que dedicam as suas vidas à educação. Que
tenham em mente de que a educação é um direito natural para todo o homem. A citação deixa
claro este aspecto ao afirmar que a escola deve preocuparse com a sociedade, a escola deve
fazer esforço de responder as inquietações da comunidade em que ela se encontra. Ao invés dos
currículos, os professores e alunos estarem fechados dentro duma sala, eles devem abrir-se ao
mundo. Dewey procurou aplicar este tipo de aprendizagem em Chicago. Onde envolveu os
estudantes em projectos de aprendizagem.
Para mim a questão é: estamos preparados para este tipo de ensino? Não seria melhor primeiro
procurarmos trazer as mínimas condições para depois “sonharmos mais alto”? É bom
lembramo-nos que é melhor que se ensine pouco mas tendo a certeza de que o pouco ensinado,
é aprendido pelos nossos alunos.
“Lembrai-vos sempre de que o espírito da minha instituição não consiste em ensinar muitas
coisas à criança, mas em nunca deixar penetrar, no seu cérebro, ideias que não sejam justas e
claras” (Rousseau, 1990, P.182).
A outra contribuição seria na questão do ensino secundário geral integrado. Fazendo uma
análise minuciosa, o programa assinala uma contradição. Ora vejamos: “Os programas de
ensino, os materiais escolares, sobretudo o livro do aluno e o manual do professor são
instrumentos que facilitam o trabalho do professor, ajudando e mostrando as possibilidades de
abordagem integrada das diferentes unidades temáticas” (PCESG, 2007, P.17).
O discurso centra-se na integração das unidades temáticas das aulas, tendo em conta os
materiais escolares. A integração não diz respeito aos saberes. E na mesma página lê-se:
“... a integração permite, por um lado, que a partir de um mesmo projecto o aluno possa
exercitar vários aspectos específicos das disciplinas e questões transversais. Por outro, os
professores das diferentes disciplinas poderão, em conjunto, fazer um acompanhamento do
progresso do aluno e ter uma imagem do desempenho do aluno, através do mesmo
instrumento” (ibidem). Também nesta citação a integração não se refere aos saberes mas sim a
possibilidade que os alunos têm de discutir um projecto em várias disciplinas. Por exemplo,
pedir aos alunos a discutirem um tema ou a escrever um tema sobre o SIDA. Ao trabalharem
sobre o tema terão que enquadrar conhecimentos de outras disciplinas, (Geografia, História,

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Português, Biologia), a transversalidade. Isto permite aos professores analisarem em conjunto a
evolução dos seus alunos.
Para além destas duas abordagens da questão integração existe a outra que diz o seguinte:
“No âmbito da Agenda 2025, a visão estratégica no que concerne ao desenvolvimento do
capital humano, está orientada para uma formação integral do homem moçambicano assente
em quatro pilares: saber ser, saber conhecer, saber fazer, saber viver juntos e com os outros
(Agenda 2025:1290)” (PCESG, 2007, P.7).
Em ambas as situações a ambiguidade ainda permanece. O propósito da Agenda 2025 não foi
respondido. A questão integração está veiculada em torno dos quatro saberes: saber ser, saber
conhecer, saber fazer, saber viver juntos e com os outros.
Portanto as anteriores citações encaram a integração em âmbitos diferentes. Em que perspectiva
deve ser considerada a integração? Na perspectiva temática ou na perspectiva transversal ou
ainda na formação integral do homem moçambicano?
O aspecto do ensino-aprendizagem em espiral é uma boa inovação, por conseguinte não tenho
uma apreciação negativa. Reconheço existir algum esforço em torno desta abordagem.

O Distanciamento entre o Vivido e o Pensado.


O Plano Curricular do Ensino Secundário Geral não reflecte objectivamente a situação social e
económica do país. O programa foi pensado e construído a partir de paradigmas exógenos. O
programa aparece como uma alavanca capaz de virar o mundo. Como um instrumento a partir
do qual pode mudar a sociedade moçambicana. Isto é de louvar. Mas as suas propostas
ultrapassam as condições concretas do país. Por isso é impossível realizá-lo. Assim sendo,
porque elaborar um programa desta natureza?
Antes de apostarmos no programa curricular do Ensino Secundário Geral seria melhor que o
primeiro desafio fosse para as Escolas, os Institutos, as Universidades de formação de
professores em apostar nas metodologias, nos conteúdos, nos valores para os futuros
professores. Este pormenor não foi observado.
Em segundo lugar deveria pensar-se em condições favoráveis de aprendizagens. Pensar em turmas
reduzidas, escolas equipadas com material didáctico, a sua localização, um ambiente acolhedor, em
fim que haja condições para aprendizagem. E finalmente pensarmos nos valores que pretendemos
transmitir para os nossos alunos. O tipo de sociedade e de cidadãos que nós como moçambicanos
queremos. Quero com isto dizer que o Plano curricular deve espelhar a realidade do país. Temos de
sonhar partindo da nossa própria realidade.

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Conclusão
O Artigo é fruto das aulas de Mestrado em Psicopedagogia inserido na cadeira de Teorias e
Desenvolvimento do Currículo. Os programas do ensino secundário geral foram construídos
tendo em conta os contextos Político-económicos; Sócio-culturais e Educativos; e as
perspectivas do Ensino Secundário Geral. Sacristán afirmar que “o currículo reflecte o conflito
entre interesses dentro de uma sociedade e os valores dominantes que regem os processos
educativos” (17). O artigo procura mostrar este conflito de igual modo também procura de
vincar a complexidade e a delicadeza que se deve tomar ao tratar o assunto do currículo. a
reflexão é simplesmente uma contribuição para questões que preocupam a qualquer indivíduo
sensato.
O Plano Curricular do Ensino Secundário Geral não reflecte objectivamente a situação social e
económica do país. O programa foi pensado e construído a partir de paradigmas exógenos. O
programa aparece como uma alavanca capaz de virar o mundo

Referencias Bibliograficas
Aristóteles (2006). Ética A Nicómaco, 2ª Edição, Quetzal Editores, Lisboa.
Kesselring, Thomas (2007). Ética, Política E Desenvolvimento Humano: A Justiça Na Era da
Globalização. Trad. Benno Dischinger. Caxaias do Sul. RS: Educs.
Ministério da Educação e Cultura, Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação
(INDE) (2007). Plano Curricular do Ensino Secundário Geral (PCESG) – Documento
Orientador, Objectivos, Política, Estrutura, Plano de Estudos e Estratégias de
Implementação; Imprensa Universitária, UEM; Maputo.
Pacheco, J. A. (1996). Currículo: Teoria e Práxis, Porto Editora.
Rousseau, Jean-Jacques (1990). Emílio, Vol. 1, Publicações Europa-América, Portugal.
Sacristán, Y. Gimeno (2000). O Currículo Uma Reflexão Sobre a Prática, 3ª Ed.Porto Alegre,
Artmed.

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