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2021
Base Nacional Comum Curricular e a pedagogia das competências: investimentos
no socioemocial a favor do capital
INTRODUÇÃO
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histórico, tempo de ajuste fino das estratégias de dominação burguesa e ao mesmo tempo,
situado na crise estrutural do capital e da flexibilização das relações de trabalho.
Com isso, em três partes que conversam entre si, buscamos primeiramente expor
historicamente a construção do documento. Já num segundo momento, procuramos
problematizar a repolitização da educação escolar, com central atenção a pedagogia das
competências. E por fim, mostramos como essa atualização nas estratégias do capital
diante da Escola e, principalmente, da educação escolar, vem buscando modelar o
comportamento dos trabalhadores/as para adaptação a uma realidade de empregos cada
vez mais flexível e instável.
A CONSTRUÇÃO DA BNCC
O tópico a seguir, não pretendeu ser algo estático, de se esgotar em si mesmo, mas
buscou ser didático, contar os caminhos da construção da BNCC. Pegamos como recorte,
o final da década de 1980, de forma mais precisa, a partir da atual Constituição da
República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), até os dias atuais.
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concordamos com (CÊA, SILVA e SANTOS, 2019) “quando citam que a partir da década
de 1970, diante da crise inaugurada com o esgotamento do padrão fordista-keynesiano, a
reconfiguração do capitalismo sob a égide da transnacionalização econômica e
política apresenta significativos ineditismos” (p.184).
Retomando o início deste tópico, onde falamos do recorde que vamos analisar,
década de 1980 até os dias atuais, e o que acabamos de explicitar nas linhas acima,
encontramos pontos de contatos quando pensamos o Brasil como um dos países que
sofreu/sofre influências dessas novas configurações dos países de capitalismo central.
Influências que encontram no campo educacional um território de interesse para
modelagem dos estudantes, com foco na aprendizagem socioemocional.
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Após a LDBEN de 1971, a temática da base nacional volta a tomar força com a
LDBEN nº 9394 de 1996 que cita em seu artigo 26:
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Neste mesmo ano, inicia-se uma consulta pública para elaboração da primeira
versão do documento, participando desta consulta, sociedade civil, organizações e
entidades cientificas. Já no ano de 2016, iniciam-se as discussões para segunda versão da
BNCC. Este documento, sistematizado principalmente por professores da Universidade
de Brasília e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, esteve aberto a
discussão em vários seminários com professores, gestores e especialistas. Neste mesmo
ano, em agosto, a terceira versão do documento começa a ganhar corpo, sendo entregue
ao CNE no ano seguinte e homologada pelo MEC em novembro de 2017.
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Distintos fragmentos disputaram o texto do documento, sendo hegemônica a ideologia de
Educação burguesa, a favor do capital (NEVES, 2005).
Dentro da construção dessa nova pedagogia da hegemonia (NEVES, 2005), que
chamaremos aqui de repolitização da Educação (ACCIOLY e LAMOSA, 2021)
(SANTOS, 2012), ou seja, a construção de todo um aparato que retira da escola e dos/as
docentes sua autonomia na construção do processo pedagógico e da escola, sua função
social a favor do projeto educativo libertador da classe trabalhadora.
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coletivos, falaremos a seguir da pedagogia das competências e como, através de
estratégias, busca-se a formação de trabalhadores/as adaptados/as a uma realidade de
produção capitalista cada vez mais flexível, ou seja, resignados as condições de
precarização de sua força de trabalho.
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crítica” (GRAMSCI, 1999, p. 94), o projeto burguês de educação, materializado na
BNCC, busca que os futuros trabalhadores/as cumpram as competências propostas pelo
relatório The Changing Nature of Work, 2019 sendo elas: “perseverança, colaboração,
empatia, trabalhar em equipe, adaptabilidade, gerenciamento de emoções, capacidade de
resolução de conflitos, força de vontade, coragem para correr riscos, comprometimento
com o trabalho” (ACCIOLY e LAMOSA, 2021, p.715).
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Diante disso, pegando como recorte a década de 1990, o Brasil, como signatário
de acordos internacionais que envolveram o tema educação, como o que ocorreu em
Jomtien (Tailândia), vem reconfigurando suas propostas educacionais, como
respostas as demandas dos órgãos internacionais e a nova organização mundial do
trabalho.
Para dar conta disso, com a medida provisória nº 746, uma ampla reforma no
ensino médio foi feita na educação dos/as jovens brasileiros/as, medida esta que se
consolidou com a Lei nº 13.415/2017 e que impactou diretamente na Lei nº 9394/1996
(LDB).
Nos contextos em que são implementadas, essas reformas buscam instituir um
currículo mínimo definido por competências, como é o caso da BNCC, em que
essas são definidas como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocinais), atitudes e
valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno
exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (ACCIOLY e LAMOSA,
2021, p. 708).
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formação alijada de conhecimentos históricos e filosóficos, que permitirão uma visão de
uma realidade complexa e contraditória. Ou seja, espera-se dos/as estudantes
conhecimentos para um mundo do trabalho onde a formação técnica, o saber fazer,
superar a dimensão de refletir sobre esse saber fazer e sobre suas condições de produção.
Neste contexto, de valorização de competências socioemocinais, a BNCC, atua
dentro de uma proposta que já foi citada ao longo do texto, mas que vale ressaltar com
aquilo que citam Accioly e Lamosa (2021)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho fizemos um esforço no sentido de mostrar como a
repolitização da educação, principalmente quando analisadas lançando luz na BNNC, em
sua versão final para o ensino médio, trás em seu bojo, todo o ideário de conformação e
modelamento de juventude e, consequentemente, da classe trabalhadora, as novas
demandas do capital.
Com estratégias que buscam dar conta das demandas de órgãos internacionais,
sobre uma nova ordem de distribuição internacional do trabalho, modelar
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comportamentos no sentido de aceitar as reconfigurações no mercado de trabalho,
fazendo com que, no caso das escolas, que a juventude construa seu projeto de vida,
levando em consideração competências socioemocinais, tais como: resiliência,
resignação, adaptação, solução de problemas, cooperação entre outras que colocam os/as
estudantes num local de responsabilização por seus fracassos.
Por fim, o trabalho buscou, somando-se a outros que tratam da temática, mostrar
o quanto é necessária a denúncia e, principalmente, a busca por um processo educativo
que atenda os reais interesses da classe trabalhadora, ou seja, uma escola pública, gratuita,
laica e de qualidade substantiva e que transmita os conhecimentos históricos, filosóficos
e científicos produzidos pela humanidade.
REFERÊNCIAS
CÊA, G.; SILVA, S.; SANTOS, I. De “Educação Para Todos” para “Todos Pela
Educação”. RTPS - Revista Trabalho, Política e Sociedade, v. 4, n. 6, p. p. 181-210, 30
jun. 2019.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 44º ed. Rio de Janeiro/São Paulo:
Paz e Terra, 2018.
MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. 2º ed. São Paulo: Boitempo,
2008.
MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. 2º ed. São Paulo: Boitempo, 2011.
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PRONKO, Marcela. Modelar o comportamento: novas estratégias do Banco Mundial
para a educação na periferia do capitalismo. RTPS - Revista Trabalho, Política e
Sociedade, v. 4, n. 6, p. p. 167-180, 30 jun. 2019.
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