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2.

DESENVOLVIMENTO

O conceito de competência, adotado pela BNCC, marca a discussão pedagógica e


social das últimas décadas e pode ser inferido no texto da LDB, especialmente
quando se estabelecem as finalidades gerais do Ensino Fundamental e do Ensino
Médio (Artigos 32 e 35).

Além disso, desde as últimas décadas do século XX ao longo do início do


século XXI, a ênfase no desenvolvimento das competências nortearam a maioria
dos estados brasileiros, municípios e vários países no desenvolvimento de
seus programas.

Essa também é a abordagem adotada nas avaliações
internacionais pela Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que coordena
a avaliação internacional de alunos, e pela educação, ciência e cultura das
Nações Unidas.

Ao adotar esta abordagem, o BNCC indica que a pedagogia deve ser orientada para


o desenvolvimento de habilidades.

Por uma indicação clara do que os alunos "sabem" e especialmente do que


deve saber, a explicação das competências oferece referências ao reforço das
ações que asseguram a maior parte da aprendizagem.

O anúncio divulgado por o governo federal no BNCC Estadual cita: “Todos


os alunos, do norte ao país, de escolas públicas ou privadas, terão os direitos
de aprendizagem”, e também “Se a educação básica for igual, as oportunidades
também serão.” No entanto, o contexto da economia política
nacional vai à direção oposta, uma vez que graves violações aos direitos
sociais, conforme evidenciado pela aprovação da emenda constitucional 95, congela
os investimentos públicos no âmbito social campo por anos. Reforma trabalhista;
Reforma da previdência social; Reforma do Ensino Médio; Projeto escola sem
partido; Política nacional de avaliações e exames na educação básica; Leilões do
pré-sal, bem como avanços nas privatizações.

No entanto, sabe-se dos custos da educação de qualidade e, que por décadas os


movimentos sociais e entidades educacionais, têm defendido a expansão dos
recursos de produtos brutos para a
educação necessária, para melhorar sua qualidade. O que é investido atualmente é
insuficiente para resolver o problema histórico.

Sem ele, a promessa de que "todos os alunos, de norte a sul do país, de escolas


públicas ou privadas terão os mesmos direitos de aprendizagem" é enganosa.

Afinal, isso não acontece sem treinamento adequado, trabalho, carreiras,
professores e outros profissionais de ensino, nem mesmo
escolas desmanteladas e um número de cargo insuficiente para
atender a aplicação para matrículas, em particular na educação infantil, média e
superior.

Nessa perspectiva, a educação visa adaptação, flexibilidade e trabalho simples e


precário.

A proposta corporativa em
questão vai além de simplesmente aumentar a carga horária escolar, pois
representa a adoção de conceitos  pedagógicos. Um conjunto de estratégias
supostamente capazes de proporcionar “educação mais ampla” aos alunos.

Prevalecem o pragmatismo e o utilitarismo, que se desdobram no


desenvolvimento das habilidades necessárias para resolver as demandas
do cotidiano e do mundo do trabalho, favorece o
autocuidado, os relacionamentos, bom convívio interpessoal, flexibilidade e
resiliência.

Em outras palavras, os valores inerentes à formação dão o tom do documento que


orienta a educação nacional.

Se desvelarmos o discurso das diferenças e como meio de mascarar e justificar


as desigualdades, entenderemos que o BNCC se baseia na subjugação do
sistematizado pelo conhecimento de a cada dia, portanto, na defesa de
um treinamento voltado para a adaptação e apaziguamento, por exemplo, destaca-
se a necessidade de um sujeito proativo saber administrar as diferenças e a
diversidade.

É formar sujeitos capazes de aceitar passivamente a classe, que restringem o


acesso à riqueza produzida pela inclusão do conhecimento sistematizado.

Nesta perspectiva, o método de construção do conhecimento é mais importante do


que o conhecimento já produzido socialmente, portanto, estabelece uma hierarquia
de valores, em que a aprendizagem sozinha está em um nível maior do
que a aprendizagem resultante da transmissão de conhecimento de alguém.

A defesa do relativismo cultural está ligada à possibilidade de apreensão do


conhecimento real, objetivo e de uma cultura universal, que está ligada à crítica do
racionalismo moderno, que permite um monitoramento mais amplo e
mais resultados, estabelecendo novas bases para o aprofundamento.

Além disso, a privatização e a divisão técnica da escola também podem


ser afetadas.

A padronização nacional dos objetivos de aprendizagem deve pressionar as redes


públicas a adotarem o ensino privado, como o BNCC, permitindo a adoção de um
sistema em diferentes regiões do país, incentiva grande produção
de ensino padronizado materiais a serem implantados no país, apoiados na ideia de
que sua mercadoria, junto com o BNCC, promove um aumento de desempenho.

A BNCC e os currículos se identificam na comunhão de princípios e valores que, como já

mencionado, orientam a LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem que a educação tem

um compromisso com a formação e o desenvolvimento humano global, em suas

dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica.

Além disso, BNCC e currículos têm papéis complementares para assegurar as

aprendizagens essenciais definidas para cada etapa da Educação Básica, uma vez que

tais aprendizagens só se materializam mediante o conjunto de decisões que caracterizam

o currículo em ação. São essas decisões que vão adequar as proposições da BNCC à

realidade local, considerando a autonomia dos sistemas ou das redes de ensino e das

instituições escolares, como também o contexto e as características dos alunos. Essas

decisões, que resultam de um processo de envolvimento e participação das famílias e da

comunidade, referem-se, entre outras ações, a:

 contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando estratégias para

apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com

base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas;

 decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e

fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais

dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem;

 selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas,

recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para

trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de

origem, suas comunidades, seus grupos de socialização etc.;

 conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os alunos

nas aprendizagens;
 construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que

levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros

como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos;

 selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para apoiar o

processo de ensinar e aprender;

 criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter

processos permanentes de formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento

dos processos de ensino e aprendizagem;

 manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curricular para

os demais educadores, no âmbito das escolas e sistemas de ensino.

Considerações finais

 A BNCC encontra-se no bojo das contrarreformas, que expressam e
consolidam o projeto da classe dominante brasileira em sua marca
antinacional, antipovo, antieducação pública, que condena gerações
ao trabalho simples e nega os fundamentos das ciências que
permitem aos jovens entenderem e dominarem como funciona o
mundo das coisas e a sociedade (MOTTA e FRIGOTTO, 2017).
 A institucionalização de um currículo minimalista é necessária ao
rebaixamento da formação básica das camadas populares. Em
suma, os reais objetivos do projeto formativo do empresariado são: i)
a escola pública para integração, convivência, apaziguamento,
adaptação e empregabilidade precária para os trabalhadores; ii)
avanço no mercado de materiais didáticos e exploração de um
mercado inteiramente novo de formação docente; consultoria;
sistemas informatizados; iii) o controle do trabalho educativo. Além
disto, na política do MEC, a BNCC deverá reposicionar todo o
sistema de avaliação em larga escala do país (ANA; Prova Brasil;
ENEM), vide Decreto 9.432/18 (BRASIL, 2018), que Regulamenta a
Política Nacional de Avaliação e Exames da Educação Básica. Sem
contar o avanço das “parcerias público-privadas” como estratégia de
privatização da Educação Básica pela venda de pacotes e
determinação do conteúdo e dos métodos de ensino por institutos
privados ou organizações sociais, supostamente neutras.
 Diante disto, urge o desenvolvimento e a prática de proposições
formativas contra-hegemônicas, centradas na elevação do padrão
cultural dos trabalhadores por meio da transmissão do conhecimento
científico, filosófico e artístico em suas formas mais desenvolvidas.
Proposições que pautem uma formação que se coloque “[...] a
serviço do desvelamento da prática social, apto a promover o
questionamento da realidade fetichizada e alienada que se impõe
aos indivíduos” (MARTINS, 2010, p.20). A crise estrutural do capital
nos coloca a tarefa enquanto classe trabalhadora, no âmbito
educacional, de pensar e propor uma educação para a transição, ou
seja, uma educação concatenada com a necessária passagem para
um modo de produzir a
 existência que rompa com a propriedade privada dos meios de
produção – o socialismo6 como transição para o comunismo.
Neste sentido, identificamos nas elaborações da pedagogia histórico-
crítica elementos fundamentais não apenas para tecer a crítica ao projeto
educacional burguês, mas, sobretudo, para fazer proposições que indicam
possibilidades para enfrentá-lo nas condições históricas atuais. Afinal, Os
conhecimentos científicos, filosóficos e artísticos se articulam em função
do objetivo propriamente pedagógico (desenvolvimento humano), que
significa a transformação qualitativa de seu modo de inserção na prática
social. Não podemos perder de vista a noção do todo, em especial, a
unidade conteúdo-forma, pois alterar o conteúdo que é ensinado nas
escolas, avançando na socialização do saber sistematizado, perpassa pela
alteração da forma de organização escolar. Assim como é impossível
pensar a alteração da organização escolar sem que haja a alteração do
conteúdo que é tratado na escola (GAMA, 2015).
Além disso, se é verdade que devemos buscar “[...] na cultura
produzida pelos seres humanos, o que há de mais rico, o que existe de
mais desenvolvido para transmitir às novas gerações” 
CARTAZ
COMPETÊNCIAS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social,

cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a

construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a

investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas,

elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive

tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e

também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal,

visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e

científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em

diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica,

significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se

comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e

exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e

experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer

escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade,

autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e

defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e

global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na

diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e

capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e

promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da

diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e

potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e

determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos,

sustentáveis e solidários.

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