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POLÍTICA

EDUCACIONAL
DA EDUCAÇÃO
BÁSICA

Pablo Bes
As Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais da Educação
Básica

Introdução
O Brasil é um país continental, sua extensão territorial se difere da
grande maioria das nações de nosso planeta. Da mesma forma, apre-
sentamos uma diversidade étnica muito grande, o que faz com que
as várias culturas que permeiam estas etnias produzam um ambiente
muito diverso e com grandes particularidades regionais nos estados
que nos constituem.
Dentro desta lógica, percebemos que os desafios para a busca por
um projeto de nação devem ser construídos e articulados no inte-
rior das escolas, por intermédio da educação. Mas como equacionar,
regular, sistematizar e unificar um projeto educacional dentro de um
território tão amplo e tão diverso? Esse é o desafio das Diretrizes Cur-
riculares Nacionais Gerais da Educação Básica (DCNGEB) brasileira.

1. Finalidades e objetivos das Diretrizes


Curriculares Nacionais da Educação Básica
Podemos entender a sociedade brasileira como altamente híbrida, mesclada,
miscigenada, contexto em que a diversidade cultural deve ser respeitada e
problematizada constantemente no âmbito social e, da mesma forma, no in-
terior da escola.
Essa contextualização inicial nos leva a pensar: como, dentro deste con-
texto, uma nação poderá conseguir construir um projeto nacional de edu-
cação? Como planejar e dimensionar que se ensine e sejam atendidos os
mesmos critérios educacionais em locais e com alunos tão diferentes?
A resposta para estes questionamentos encontra-se na própria existência
das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, uma vez que estas
vêm a atender o compromisso da União com a Educação Básica previsto no
Art. 9, inciso IV, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB),
que atribui à União:

estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e


os municípios, competências e diretrizes para a Educação Infantil, o
Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos
e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica
comum (LDB 9394/96, art.9).

Dessa forma, as diretrizes foram elaboradas e instituídas como atribuição


federal e têm caráter mandatório, ou seja, devem ser seguidas pelas escolas a
nível nacional na elaboração de suas propostas pedagógicas e no desenvolvi-
mento de suas propostas curriculares junto aos alunos.
As DCNGEB (2013) têm como primeiro objetivo:

I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica


contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos legais, tradu-
zindo-os em orientações que contribuam para assegurar a formação
básica comum nacional, tendo como foco os sujeitos que dão vida
ao currículo e à escola (DCNGEB, 2013, p.9).

Em outros termos, lembramos que possuímos um direito à educação de


qualidade e que nos forneça uma formação humana, cidadã e profissional as-
segurada pela Constituição Federal e também pela própria LDB. As diretrizes
irão sistematizar, organizar, como esta formação irá ocorrer no interior das
escolas do nosso país.
Como segundo objetivo, as DCNGEB apresentam o seguinte texto:

II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve subsidiar a for-


mulação, execução e avaliação do projeto político-pedagógico da
escola de Educação Básica (DCNGEB, 2013, p.10).

Todos aqueles que já se envolveram de forma direta ou indireta na cons-


trução de um projeto político-pedagógico (PPP) de uma escola sabem que
essa não é uma tarefa simples, pois envolve uma série de passos importantes,
visando assegurar a construção, de fato, de um documento que tenha a iden-
tidade daquela escola e de sua comunidade. Dessa forma, também é função
destas diretrizes gerais problematizar e propor reflexões sobre a importância
dessa construção dos PPPs por parte das escolas da educação básica.
E, como terceiro objetivo, as DCNGEB determinam:

III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de profis-


sionais – docentes, técnicos, funcionários – da Educação Básica, os
sistemas educativos dos diferentes entes federados e as escolas que
os integram, indistintamente da rede a que pertençam (DCNGEB,
2013, p.10).

Este terceiro objetivo relaciona-se com a preocupação voltada para os


cursos que se empenham na formação dos professores, bem como na conti-
nuidade destas formações iniciais no interior das escolas, garantindo que as
discussões e as reflexões sobre a teoria e a práxis se estabeleçam continua-
mente no ambiente escolar.
Desta forma, para efeito didático, podemos definir resumidamente
os objetivos das DCNGEB dentro do seguinte esquema:

Fonte: Do autor.

2. As Diretrizes Nacionais Básicas da Educação


Básica e a qualidade na educação

Quando falamos em qualidade, a primeira coisa que nos vêm à mente é que
ela é subjetiva, ou seja, as pessoas pensam, sentem a qualidade de forma dife-
rente, com padrões e olhares que destoam entre si. Mas, nem por isso devemos
deixar de perseguir a qualidade no que desenvolvemos em termos educacio-
nais. Ao invés disso, devemos estabelecer padrões, regras que possam fazer
com que a educação se manifeste em todos os cantos e recantos de nosso país,
buscando uma qualidade comum. Inclusive, essa garantia de padrão de quali-
dade é evidenciada na LDB, em seu Art. 3, inciso IX.
As DCNGEB (2013) entendem que:
O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva ampla e ba-
silar, remete a uma determinada ideia de qualidade de vida na so-
ciedade e no planeta Terra. Inclui tanto a qualidade pedagógica
quanto a qualidade política, uma vez que requer compromisso com
a permanência do estudante na escola, com sucesso e valorização
dos profissionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber
a qualidade na escola como qualidade social, que se conquista por
meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades – pedagógica e po-
lítica – abrangem diversos modos avaliativos comprometidos com
a aprendizagem do estudante, interpretados como indicações que
se interpenetram ao longo do processo didático-pedagógico, o qual
tem como alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes
construídos histórica e socialmente (DCNGEB, 2013, p.23).

Destacamos que a qualidade proposta e perseguida pelas diretrizes tem a


ver com a busca por uma qualidade social e planetária, na qual os alunos e os
professores sintam-se contemplados em termos de aprendizagem e de valori-
zação de forma igualitária em âmbito nacional.

3. As DCNEB e suas articulações com o currículo


e as propostas pedagógicas nas escolas.

Para que se consiga operacionalizar e sistematizar os processos de ensino e


aprendizagem que irão ocorrer dentro das escolas brasileiras, buscando uma
ideia de qualidade social, aliada e explícita nas formulações dos PPPs esco-
lares, é imprescindível que se discuta sobre os currículos escolares.
A discussão sobre o currículo escolar se faz importante devido ao con-
ceito da multiplicidade de culturas que envolvem a escola e os nossos alunos.
Cultura esta entendida como produção social, como o conjunto de práticas e
discursos que constituem a identidade e participam da formação das subjeti-
vidades humanas.

(...) toda política curricular é uma política cultural, pois o currículo


é fruto de uma seleção e produção de saberes: campo conflituoso
de produção de cultura, de embate entre pessoas concretas, con-
cepções de conhecimento e aprendizagem, formas de imaginar e
perceber o mundo. Assim, as políticas curriculares não se resumem
apenas a propostas e práticas enquanto documentos escritos, mas
incluem os processos de planejamento, vivenciados e reconstruídos
em múltiplos espaços e por múltiplas singularidades no corpo social
da educação (DCNGEB, 2013, p.24).

Dessa forma, entendendo o currículo como política cultural, tendo em


vista que propõe e articula os saberes que serão desenvolvidos em sala de
aula, as diretrizes estimulam sua discussão e problematização, uma vez que
contemplem as inúmeras culturas envolvidas e possam atingir aquilo que está
sendo proposto nos projetos político-pedagógicos das escolas. Estes PPPs, por
sua vez, quando bem elaborados, seguindo as orientações da própria diretriz,
irão traduzir o que a comunidade escolar pensa quanto ao tipo de aluno e de
escola que se pretende naquele local.
Os currículos escolares deverão permitir, ainda, segundo as DC-
NGEB (2013), que sejam garantidos o pluralismo de ideias e concepções peda-
gógicas, assim como a valorização da experiência extraescolar e a vinculação
entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Considerações finais
A busca por um padrão de qualidade, por um caminho que se disponibi-
lize a resolver a questão da procura por um projeto nacional de educação, no
qual todos possam aprender, desenvolver-se, tornarem-se cidadãos em igual-
dade de condições escolares, é estimulada e perseguida por meio da imple-
mentação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica.
Por meio dela, garante-se o respeito à diversidade cultural e se esti-
mulam a reflexão e a prática comum em busca do melhor fazer na área peda-
gógica que possa se estender a todos dentro do país.
Referência
BRASIL, Constituição Federal; SEB, DICEI. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
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