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Crise das utopias e as quatro justiças: ecologias, epistemologias e


emancipação social para reinventar a saúde coletiva

Article · December 2019

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Marcelo Firpo Porto


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AMBIENTAL. View project

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DOI: 10.1590/1413-812320182412.25292019 4449

Crise das utopias e as quatro justiças: ecologias, epistemologias e

Artigo Article
emancipação social para reinventar a saúde coletiva

Crisis of utopias and the four justices: ecologies, epistemologies and


social emancipation for reinventing public health

Marcelo Firpo de Souza Porto (https://orcid.org/0000-0002-9007-0584) 1

Abstract The article proposes a reinterpretation Resumo O artigo propõe uma leitura da cri-
about the health crisis within a broader crisis of se da saúde no interior de uma crise mais ampla
utopias and the need to reinvent social emanci- das utopias e da necessidade de reinventarmos a
pation that can show us realistic paths of hope emancipação social que indique trilhas realistas de
from the present. For this purpose, we propose the esperanças a partir do presente. Para isso propo-
association of four types of justice: social, health, mos a articulação de quatro tipos de justiça: social,
environmental and cognitive. The two first ones sanitária, ambiental e cognitiva. As duas primei-
are well known in critical thinking and collec- ras são bem conhecidas do pensamento crítico e da
tive health, and the last two extend the unders- saúde coletiva, e as duas últimas ampliam o en-
tanding of the crisis in its civilizing, ethical, and tendimento da crise em sua natureza civilizatória,
planetary aspects, marked by the contradictions ética e planetária, marcada pelas contradições e
and destructive potential of Eurocentric, Western potencial destrutivo da modernidade eurocêntrica,
and capitalist modernity. The social is considered ocidental e capitalista. O social, na perspectiva as-
inseparable from the ecological, ontological, and sumida, é considerado indissociável das dimensões
epistemological dimensions in the interface be- ecológicas, ontológicas e epistemológicas que mar-
tween ethics, politics, science and social transfor- carão os grandes embates na interface entre ética,
mation related to the various crises and the neces- política, ciência e transformação social em tempos
sary civilizational transition. The article is based de acirramento das várias crises, surgimento de
on contributions from three fields of knowledge: distopias e necessária transição civilizatória. O ar-
collective health, political ecology and postcolo- tigo se apoia nas contribuições de três campos do
nial approaches, especially the Epistemologies of conhecimento: a saúde coletiva, a ecologia política
the South, as presented by Boaventura de Sousa e as abordagens pós-coloniais, em especial as epis-
Santos around the reinvention of social emanci- temologias do Sul de Boaventura de Sousa Santos,
pation. Finally, we propose some brief reflections em torno da reinvenção da emancipação social. Ao
1
Núcleo Ecologias,
Epistemologias e Promoção for collective health to produce alternatives on final propomos breves reflexões para que a saúde
Emancipatória da Saúde topics such as economic, scientific and technologi- coletiva produza alternativas sobre temas como
(Neepes), Escola Nacional cal development, health promotion, surveillance, desenvolvimento econômico, científico e tecnológi-
de Saúde Pública Sérgio
Arouca, Fiocruz. R. and care. co, promoção, vigilância, atenção e cuidado.
Leopoldo Bulhões 1480, Key words Social crisis, Collective health, Envi- Palavras-chave Crise social, Saúde coletiva, Jus-
Manguinhos. 21041-210 ronmental justice, Cognitive justice, Epistemolo- tiça ambiental, Justiça cognitiva, Epistemologias
Rio de Janeiro RJ Brasil.
mfirpo2@gmail.com gies of the South do Sul
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Porto MFS

Uma breve introdução: as quatro justiças posições mais reformistas ou revolucionárias.


na reinvenção da emancipação Contudo, a crise contemporânea em diferentes
escalas espaciais (local, nacional, regional e pla-
O objetivo deste artigo é avançar na releitura da netária) apresenta desafios que extrapolam as
crise contemporânea, entendida em nossa pro- bases analíticas priorizadas até o momento pela
posta em suas múltiplas dimensões – social, eco- saúde coletiva, restritas às lutas por justiça social
lógica, econômica e democrática - como uma cri- e sanitária.
se das utopias sociais emancipatórias por justiça, Para avançar nos desafios atuais incorpora-
da qual fazem parte as lutas sociais por saúde. O mos duas outras justiças, a ambiental e a cogni-
atual momento de acirramento das várias crises tiva, as quais ampliam o escopo teórico (e tam-
traz à tona um conjunto de incertezas, lacunas de bém metodológico) para compreender a crise da
interpretação e distopias que colocam a necessi- saúde no interior de uma crise civilizacional mais
dade de reinventarmos o sentido de emancipação ampla, de caráter não apenas político e econômi-
em articulação com lutas sociais emergentes que co, mas também dos sentidos e possibilidades de
apontem outros caminhos de futuro. emancipação.
Propomos no artigo uma releitura da crise a O texto, na forma de ensaio, resulta de uma
partir da articulação entre quatro dimensões de longa trajetória de pesquisas e ações que resulta-
justiça que ampliam a noção de emancipação e ram na recente criação do Núcleo Ecologias, Epis-
destacam dimensões ecológicas, epistemológicas temologias e Promoção Emancipatória da Saúde
e ontológicas. São elas as justiças social, sanitária, (Neepes) vinculado à ENSP/Fiocruz3. O Neepes
ambiental e cognitiva. As duas primeiras são bem busca desenvolver conhecimentos interdiscipli-
conhecidas da Saúde Coletiva. nares, metodologias colaborativas sensíveis e di-
A busca por justiça social faz parte das uto- álogos interculturais que apoiem lutas sociais por
pias da modernidade que orientaram as princi- saúde, dignidade e direitos territoriais nos cam-
pais lutas emancipatórias nos dois últimos sécu- pos e cidades. O arcabouço teórico, metodológico
los. A justiça sanitária decorre da justiça social, e pedagógico do Neepes resulta do encontro entre
já que as lutas sociais por melhores condições três campos do conhecimento: a saúde coletiva;
de vida e trabalho, a construção e ampliação do a ecologia política4 apoiada na economia ecoló-
acesso a sistemas de atenção à saúde e práticas de gica, geografia crítica, sociologia e antropologia
promoção e prevenção sempre estiveram e conti- ambiental; e as abordagens pós-coloniais, em
nuam presentes nas lutas e conquistas sociais das especial as epistemologias do Sul5. Esta sintetiza
mais diferentes regiões e países. O contexto da a obra do sociólogo Boaventura de Sousa Santos
medicina social latino-americana e da saúde co- em torno da reinvenção da emancipação social
letiva brasileira1,2, presentes desde os anos 1970, diante de uma crise civilizatória mais ampla da
expressa a atualização dessas lutas no continente modernidade que articula três eixos de domina-
num contexto histórico de enfrentamento das ção, o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado,
ditaduras militares e do capitalismo dependente. os quais afetam principalmente os povos do Sul
Teoricamente tais lutas convergiram na análise Global. Este é compreendido enquanto metáfora
das desigualdades em saúde e na teoria da de- do sofrimento dos povos e populações excluídos
terminação social dos processos saúde-doença radicalmente por sua condição ontológica, sejam
influenciadas pelas ciências sociais e humanas. indígenas, negros, mulheres e comunidades LGB-
No Brasil o movimento pela reforma sanitária e TQI+. Suas lutas são de resistência contra diferen-
o SUS público, com todos seus limites e contradi- tes violências, mas também de reexistências pelo
ções, concretizaram importantes avanços no en- reconhecimento de outros modos de ser, viver,
frentamento das desigualdades sociais em saúde, conhecer, produzir e se relacionar em socieda-
mas que agora se encontram em claro retrocesso. de e com a natureza. Na visão que propomos o
A saúde coletiva tende a analisar as desigual- desafio ético e epistemológico reside no diálogo
dades sociais e em saúde como decorrentes das entre ciência com outros saberes tradicionais, co-
contradições do sistema capitalista. Nessa chave munitários e populares. Isso implica no encontro
de leitura, as disputas e correlações de força que sensível e engajado entre múltiplas linguagens e
marcam certas conjunturas podem, num dado narrativas científicas, artísticas, poético-musicais
momento, agravar ou reduzir desigualdades em e populares que integrem razão e afeto como base
função da organização da sociedade e da atu- ética para o diálogo intercultural.
ação do Estado, ainda que o espectro político e O artigo está organizado da seguinte forma:
de ações propostas possa variar dependendo de primeiro discutimos características e desafios da
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justiça social na atual crise. Na sequência apro- opõem seus objetivos de expansão e acumulação
fundamos as dimensões ecológicas e epistemo- com as condições que os sustentam, seja o traba-
lógicas que estão relacionadas ao significado das lho, a reprodução social, a natureza, a política e
justiças ambiental e cognitiva. Por fim, apresen- suas instituições.
tamos uma breve reflexão sobre agendas e possi- Ambas as utopias, a liberal e a socialista, se
bilidades para o campo da saúde coletiva. desenvolveram e se confrontaram ao longo de
todo o século XX, com diferentes processos po-
Justiça social e a crise atual líticos e econômicos que conformaram as diver-
como crise das utopias sas concepções e arranjos de Estado, de Direito,
de democracia e de relações entre os países ou
Desde o século XIX a economia política tem Estados Nacionais. Os acordos entre os países e
analisado a inter-relação entre processos econô- o surgimento de organismos internacionais fo-
micos, sociais e históricos voltados à utopia mo- ram fortemente marcados pelas duas Guerras
derna de uma vida confortável, longa e prazero- Mundiais do século XX, sendo que a última en-
sa. Duas principais concepções utópicas foram cerrou-se com o marcante episódio das bombas
desenvolvidas desde então6, ambas baseadas na nucleares no Japão, que pela primeira vez na his-
crença do potencial emancipatório propiciada tória colocou a tecnologia moderna como risco
pela ciência e tecnologia, pelo contínuo aumento de destruição da civilização. Retornaremos a isso
da produtividade e pelo crescente nível de orga- mais a frente.
nização da sociedade. O fim da II Guerra marcou a tensa divisão
A primeira é a utopia liberal, assente na capa- bipolar do mundo entre o bloco capitalista hege-
cidade criativa da inovação tecnológica, da pro- monizado pelos EUA, acompanhado da Europa
priedade privada e do livre funcionamento das Ocidental e Japão, e o bloco socialista hegemo-
forças de oferta e procura que definem o mercado nizado pela União Soviética, acompanhado pela
com suas “mãos invisíveis” que evitariam o caos. China e Europa Oriental. Como diz Boaventura
Já a utopia socialista, baseada originalmente em Santos10, o século XX começou com a disputa de
lutas sociais do século XIX e nos escritos de Karl duas grandes utopias, a liberal e a socialista, e o
Marx, reconhecia o potencial evolutivo do desen- século XXI iniciou-se com uma profunda crise
volvimento das forças produtivas pelo capitalis- de ambas e várias distopias em curso. Estas têm
mo. Porém, diferente da visão liberal, assumia o crescido a reboque das diversas crises – políti-
caráter caótico do mercado e das desigualdades ca, econômica, democrática e de valores – e se
na distribuição das riquezas produzidas, cujas disseminado no vazio de novas utopias, já que
contradições seriam enfrentadas pela disputa an- estas servem como sonhos ou guias que orien-
tagônica de poder entre duas grandes classes so- tam transformações sociais emancipatórias. Por
ciais que marcam o conflito capital-trabalho. De isso, reconhecer a crise das utopias implica um
um lado, as classes sociais burguesas e dirigen- comprometimento com a reinvenção da eman-
tes favorecidas com a apropriação dos meios de cipação social, das quais a saúde e a ecologia são
produção e das riquezas, que hegemonicamente dois componentes centrais relacionados à vida e
impõem processos econômicos, políticos e cultu- ao bem estar. Reinventar a emancipação significa
rais de dominação. De outro, a classe trabalha- fortalecer esperanças por outros e melhores futu-
dora, explorada e subalternizada nos processos ros, apontando alternativas concretas para rever-
de produção de mais valia, cujas contradições e ter as diversas crises em andamento, as quais vêm
lutas emancipatórias conformam a luta de classes se agravando nas últimas décadas.
num dado momento histórico e geopolítico na A queda do muro de Berlim e o fim da União
construção do socialismo. Seja numa perspectiva Soviética, com a forte inserção da potência eco-
revolucionária ou reformista, a utopia socialis- nômica chinesa de origem socialista e estatal na
ta assume a construção de sociedades marcadas lógica capitalista global, trazem pela primeira vez
pelo controle coletivo dos meios de produção e na modernidade pós-revolução soviética a prima-
pela ampla redistribuição de riquezas que resul- zia do modelo capitalista de larga escala como al-
tariam em vidas mais plenas, longas e criativas. ternativa única de desenvolvimento econômico e
Portanto, para diversos autores das ciências social. Isso permitiu que as bases do pensamento
sociais críticas influenciados pela economia po- neoliberal desenvolvidas após a II Grande Guerra
lítica e os trabalhos de Karl Marx7-9, a crise con- se expandissem rapidamente sem fronteiras des-
temporânea é inerente ao capitalismo. Isso ocor- de os anos 1990. A ideologia neoliberal expressa a
re devido à natureza instável dos conflitos que atual fase hegemônica do capitalismo financeiro,
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e foi construída por grupos políticos, empresa- esquerda quanto aos riscos do relativismo cultu-
riais e acadêmicos cuja Escola de Chicago é seu ral pós-moderno e consequente alienação social.
maior emblema. Naomi Klein11 mostra como o Como a grande maioria dos cientistas sociais
neoliberalismo foi previamente experimentado contemporâneos, Fraser reconhece a relevância e
em condições particulares de crise e violência, o caráter emancipatório dos novos movimentos
como a ditadura Pinochet no Chile, antes que al- sociais, como o antirracismo, feminismo, movi-
cançasse o poder nos anos 1980 com as eleições mentos LGBTQI+ e de grupos étnicos presentes
de Reagan nos EUA e Thatcher na Inglaterra. principalmente no Sul Global. Contudo, para
Pelo menos duas dimensões podem ser desta- Fraser diversos movimentos da chamada nova
cadas na crise da justiça social em curso: (i) eco- esquerda tenderam a se afastar progressivamente
nômica, relacionada ao aumento do desemprego, da crítica ao capitalismo e o desafio implicaria a
da concentração do poder político e econômico superação do dualismo entre o político/econô-
das classes mais ricas, das grandes corporações mico e o cultural. O caminho passaria por um
transnacionais e do capital financeiro que passa trabalho analítico e pragmático nas fronteiras en-
a circular sem fronteiras ou restrições no merca- tre economia e política, produção e reprodução,
do global; (ii) política e democrática, relacionada sociedade e natureza.
à incapacidade do Estado (executivo, legislativo e A resposta que este artigo fornece aos desa-
judiciário) em defender diversos direitos sociais e fios colocados pelas duas vertentes corresponde
humanos reconhecidos após a II Grande Guerra, às justiças ambiental e cognitiva como estratégia
sendo aprisionado ao pensamento único pelas de reinvenção da emancipação.
forças de mercado e midiáticas.
A crise política expressa a fragilização das de- Crise ecológica e justiça ambiental:
mocracias representativas que favorece o poder desenvolvimento econômico,
econômico e reduz a participação direta de cida- mercantilização e destruição da vida
dãos e organizações que classicamente atuaram
pela justiça social, como sindicatos de trabalha- Embora autores ecomarxistas como O´Con-
dores. Alguns autores, desde os anos 1990, vêm nor13 e Foster14 tenham indicado, como Marx já
alertando para os processos neoliberais que con- previa em seus trabalhos, a ruptura metabólica
duzem à anulação da política10-12, substituída por das economias capitalistas, apenas nas últimas
processos decisórios tecnocráticos e totalitários, décadas teóricos vinculados tanto ao pensamento
o que permitiu a expansão de formas de manipu- liberal como crítico passaram a dedicar atenção
lação de informações propiciadas pela mídia he- ao significado e gravidade da crise ecológica15.
gemônica e, nos últimos anos, pelas redes sociais. Dentre eles destaca-se Nikolas Georgescu-Ro-
Destacamos duas vertentes analíticas sobre egen, considerado o principal precursor da econo-
a atual crise da justiça social provenientes de mia ecológica16, a qual se diferencia de economia
intelectuais críticos estadunidenses. Para David ambiental baseada na economia neoclássica. Em
Harvey9, a crise atual reflete três contradições seus trabalhos produzidos no pós II Guerra, ele
do capitalismo: as fundamentais, presentes em afirmava que a sustentabilidade de qualquer eco-
qualquer época ou lugar onde o capitalismo é nomia deveria confrontar seus processos de pro-
hegemônico, como propriedade privada, capital dução e consumo com as leis da termodinâmica e
e trabalho; as mutáveis, que se adaptam às cir- os processos ecológicos de equilíbrio da natureza
cunstâncias e características onde se insere, como que fornecem suporte à vida17. A economia e in-
tecnologia, descartabilidade do trabalho, graus dústria modernas dos últimos dois séculos, ao se
de competição, desigualdade, geopolítica, recur- pautarem na contínua extração de recursos natu-
sos naturais, liberdade e dominação; e por fim, as rais e fontes de energia não renováveis, geravam
perigosas são aquelas que possuiriam o potencial um metabolismo social insustentável. Isso resul-
de levar o capitalismo ao seu fim, como o cresci- taria na expansão de processos entrópicos desor-
mento infinito, a relação com a natureza e a alie- ganizadores da vida, em oposição aos sintrópicos
nação universal. Nessa perspectiva, a crise atual ou negentrópicos que constroem, organizam e
expressaria uma ampliação das contradições pe- regeneram a vida, o que viria a afetar diferentes
rigosas, sendo seu lado assustador a tênue linha ciclos relacionados aos solos, águas, ar e ao clima,
entre o fim do capitalismo e o fim da própria hu- afetando ecossistemas em escalas locais e planetá-
manidade e natureza tal qual a conhecemos. rias. O extrativismo e o consumo não circular de
A outra vertente é trabalhada por Nancy materiais e energias de bases finitas e altamente
Fraser8, ao lidar com questões que preocupam a poluentes elevariam o potencial entrópico.
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Nos idos de 1970 Georgescu-Roegen17 che- Para além da visão mais estrita da ecologia,
gou a indicar dois setores econômicos como a noção de justiça ambiental incorpora as con-
grandes inimigos da sustentabilidade ambiental. tribuições da ecologia política relacionadas à ex-
O primeiro é a indústria de produção de armas, pansão e agravamento dos conflitos ambientais
símbolo maior da ciência e da tecnologia a ser- e territoriais protagonizados, de um lado, por
viço da destruição e da morte. Seu objetivo é agentes econômicos e governamentais que pro-
ampliar a capacidade de eliminar e/ou controlar movem o ‘desenvolvimento’. De outro, diversos
oponentes em situações de conflito. As tecnolo- sujeitos sociais resistem e constroem alternativas
gias bélicas modernas voltadas à destruição em por meio de lutas que articulam comunidades
massa concretizaram-se nas armas químicas da I atingidas por empreendimentos econômicos,
Guerra Mundial e na bomba nuclear no final da movimentos sociais e diversos parceiros acadê-
II Guerra. A possibilidade de uma hecatombe nu- micos, institucionais e organizações de justiça
clear inaugurou, pela primeira vez na história da ambiental que apoiam tais lutas.
humanidade, a consciência de que a destruição As lutas por justiça ambiental articulam o en-
no curto prazo das condições de vida no planeta frentamento simultâneo de desigualdades sociais
seria possível com um conflito generalizado com e ambientais20. Tais lutas estão sempre inseridas
o uso de uma tecnologia bélica. Isso levou a um em territórios concretos, com suas diferentes
movimento pacifista anti-nuclear precursor do concepções e disputas sobre seus significados, re-
ecologismo, o qual resultou nos acordos de con- cursos e alternativas, sendo um permanente de-
trole e não-proliferação de armas nucleares. Tra- safio a conexão entre lutas territoriais localizadas
tou-se de uma solução paradoxal e instável pou- com bandeiras coletivas e movimentos sociais
co discutida no presente, apoiada na tentativa de mais amplos. Nos campos, movimentos sociais
congelamento do poderio nuclear de um clube vinculados aos indígenas, quilombolas, campo-
restrito de países, como Estados Unidos, Rússia, neses e pescadores, com a importante presença
Reino Unido, França e China. de movimentos feministas, combatem o agrone-
O segundo setor econômico é a indústria gócio, a mineração, a construção de barragens
da moda, em verdade usada como metáfora da hidrelétricas e infraestruturas. Ao mesmo tempo
imposição da forma sobre o conteúdo, do con- propõem alternativas ligadas à proteção ambien-
sumismo exacerbado expresso na obsolescência tal, reforma agrária e agroecologia, demarcação
programada a serviço do lucro, e não da vida. de terras indígenas e quilombolas, dentre outras.
Ambos os setores, junto ao enorme poder que Nas cidades, movimentos das periferias urbanas
adquiriu o capital financeiro nas últimas déca- e favelas questionam a cidade excludente, racista
das, articulam e radicalizam uma ética e estética e não democrática que demarca zonas de sacri-
da crise ecológica e da desumanização moderna. fício sem saneamento e transforma moradias de
Atualmente vem se tornando claro que a tragédia política social em ativos financeiros do mercado
ecológica não precisa de uma hecatombe nuclear; global21. Propõem alternativas para a construção
basta seguir o insustentável divórcio entre desen- de cidades includentes, democráticas, plurais,
volvimento econômico, científico e tecnológico sustentáveis e saudáveis.
com a natureza. Os conflitos ambientais e os movimentos
Torna-se cada vez mais evidente, ainda que por justiça ambiental confrontam, de um lado,
com várias polêmicas científicas e disputas nar- o modelo de desenvolvimento e o conceito de
rativas, o reconhecimento da crise ecológica, progresso. Um enfoque socioambiental críti-
dos desastres associados e dos riscos ecológicos co22 questiona o modelo de desenvolvimento
globais, sejam eles o aquecimento global decor- hegemônico que se expandiu no Brasil nas últi-
rente de gases de efeito estufa como os combustí- mas décadas. A noção desenvolvimento possui
veis fósseis; as indústrias e tecnologias poluentes duas facetas que convivem de forma paradoxal
e seus efeitos nas águas, solos, ar e alimentos; a ou complementar, agravando a crise ecológica
redução da biodiversidade e destruição dos ecos- e as injustiças ambientais com soluções paliati-
sistemas; a crise hídrica em diversas cidades e vas como a economia verde. De um lado, o ne-
regiões, dentre outros. O conceito de fronteiras odesenvolvimentismo relacionado à busca por
planetárias18 indica que alguns desses riscos já te- crescimento econômico, geração de emprego,
riam ultrapassado os limites da irreversibilidade, aumento do PIB e equilíbrio fiscal; de outro, o
com um cenário de crise ecológica que permane- neoextrativismo voltado à exploração de recur-
cerá nos próximos séculos, o que justifica a noção sos naturais e produção de commodities para o
de antropoceno19 , ou ainda capitaloceno. mercado global que explica a reprimarização da
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economia. No caso brasileiro, isso resulta na ex- reinvenção das utopias é ultrapassar a fragmenta-
pansão do agronegócio com seus monocultivos ção das lutas dos vários grupos sociais oprimidos,
de grande extensão, e da mineração que destrói sejam trabalhadores, negros, indígenas, campo-
ecossistemas para explorar jazidas finitas. Dessa neses, mulheres e comunidades LGBTQI+.
forma, reduzem a importância de outros setores Todas as abordagens pós-coloniais baseiam-
com maior potencial de gerar valor agregado, se em pelo menos duas perspectivas. Primeiro, a
ciclos socioeconômicos mais sustentáveis e com crítica à imposição da modernidade eurocêntrica,
menor impacto ambiental. ocidental e capitalista como superior às alterna-
As lutas por justiça ambiental também enten- tivas existentes no chamado Sul Global. Trata-se
dem que as desigualdades e os conflitos ambien- de uma metáfora do conjunto de povos e regiões
tais estão relacionados não apenas a questões de periféricas ao sistema-mundo capitalista24 que
classe social, incluem dimensões raciais, étnicas e continuam a sofrer os efeitos do colonialismo,
de gênero. Isso permite articular a questão eco- mesmo com o fim das colônias. Suas cosmovisões
lógica com o racismo ambiental contra negros, e saberes são considerados primitivos e descartá-
indígenas, outros povos e etnias, ou ainda a vio- veis, ou no máximo como expressões culturais,
lência contra as mulheres. artísticas e religiosas subjetivas e exóticas.
Os movimentos por justiça ambiental for- A segunda perspectiva aponta para a relação
mam um amplo mosaico de possibilidades e indissociável entre dimensões ontológicas (ex-
orientações, dependendo como a crítica ao mo- pressões do ser humano, seja o que promove ou
delo de desenvolvimento e questões raciais, étni- degrada a humanidade), epistemológicas (expres-
cas e de gênero sejam incorporadas, e muitas ve- sões do conhecimento, que nas sociedades mo-
zes estabelecem pontes importantes com a quarta dernas resultam na concepção da superioridade
justiça que completa nossa proposta, a justiça científica por sua pretensão de universalidade,
cognitiva, que será discutida a seguir. objetividade e neutralidade) e políticas (expres-
sões do poder, seja por via da dominação ou da
Justiça cognitiva: a irredutibilidade emancipação). Mesmo reconhecendo seu im-
das dimensões ontológicas portante papel, a ciência moderna e ocidental é
e epistemológicas para a emancipação social questionada pelo seu atrelamento aos processos
de dominação capitalista e a exclusão de outros
A justiça cognitiva possui sua origem teórica saberes. As abordagens pós-coloniais abrem um
e política nas chamadas abordagens pós-colo- amplo leque para desconstruções e alternativas
niais constituídas por um amplo e diverso con- para que as lutas sociais incorporem a dimensão
junto de autores provenientes da Ásia, África e epistemológica e apontem novas possibilidades e
América Latina23. Em nossa proposição, a ideia processos de emancipação, copresença e coexis-
de justiça cognitiva complementa e complexifica tência, os quais têm sido denominados por dife-
as três justiças anteriores, fornecendo bases para rentes nomes, como descolonização do saber e do
construção de uma nova utopia que enfrente ar- poder, e giro decolonial23. Em sua proposição ori-
ticuladamente o capitalismo, o colonialismo, o ginal pelo sociólogo indiano Shiv Visvanathan25, a
racismo e a violência que geram exclusões radi- justiça cognitiva buscou analisar as consequências
cais. Ao mesmo tempo, a justiça cognitiva destaca destrutivas da ciência ocidental hegemônica sobre
os limites da ciência moderna e sua necessidade os países considerados “não desenvolvidos”, cujas
de ser confrontada por meio de diálogos entre di- cosmovisões, culturas e saberes são vistos como
ferentes sistemas de conhecimentos que possam barreiras à modernidade e ao desenvolvimento.
contribuir para um mundo mais sustentável, Os sistemas de conhecimentos do Sul Global
equitativo e democrático. encontram-se fora dos paradigmas reconhecidos
Nossa visão de justiça cognitiva apoia-se for- pela epistemologia dominante, sendo tratados
temente na experiência de cooperação junto ao como ‘senso comum’, ignorância, atraso, supers-
CES/Universidade de Coimbra, cujo Diretor, Bo- tição ou mito, embora estejam profundamente
aventura de Sousa Santos, sistematiza sua obra na vinculados aos sentidos da existência comunitá-
proposição das Epistemologias do Sul5. Sua prin- ria em diferentes dimensões. Por exemplo, exis-
cipal contribuição é repensar alternativas para a tem vários saberes não científicos relacionados a
emancipação social no enfrentamento dos três ei- concepções, filosofias e práticas envolvendo na-
xos de dominação, o capitalismo, o colonialismo tureza, trabalho, meios de subsistência, relações
e o patriarcado. Diversas lutas sociais caminham sociais e interpessoais, saúde e espiritualidade.
de forma desarticulada, e o principal desafio da Portanto, a proposta de uma justiça cognitiva
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pode ser assumida como a busca de reconheci- Breves apontamentos para descolonizar e
mento, legitimidade e direito à coexistência da reinventar a emancipação na saúde coletiva
enorme pluralidade de sistemas de conhecimen-
tos existentes nos diversos povos e culturas. Tal Ao longo do artigo buscamos mostrar como
busca implica a crítica ao paradigma dominante a articulação entre as quatro justiças abre um le-
da ciência moderna que se assume como supe- que de interpretações e possibilidades de novas
rior e critério único de verdade, rejeitando e in- agendas e ações para enfrentar a atual e multifa-
visibilizando outros sistemas de conhecimentos. cetada crise social. Para concluir, apresentamos,
A justiça cognitiva foi incorporada como um de forma breve, algumas questões para que a
dos conceitos fundamentais das epistemologias saúde coletiva, tal como propunha Sergio Arou-
do Sul, junto com outros como linha abissal, eco- ca, prossiga seu projeto civilizatório, político e
logia de saberes, tradução intercultural, socio- acadêmico. Acreditamos que a incorporação das
logias das ausências e das emergências. No livro justiças ambiental e cognitiva trazem elementos
que leva este nome5, as epistemologias do Sul são estratégicos para a construção de novas agendas
apresentadas como: emancipatórias, sem negar os principais com-
[...] conjunto de intervenções epistemológicas promissos assumidos pelas conquistas da refor-
que denunciam a supressão dos saberes levada ma sanitária e o SUS.
a cabo, ao longo dos últimos séculos, pela norma Desde 2016 temos escrito artigos que incor-
epistemológica dominante, valorizam os saberes poram dimensões ecológicas e epistemológicas
que resistiram com êxito e as reflexões que estes têm que aprofundam conexões e alternativas para a
produzido e investigam as condições de um diálogo saúde coletiva a partir de lutas pelas justiças am-
horizontal entre conhecimentos. A esse diálogo en- biental e cognitiva. Por exemplo, para a vigilân-
tre saberes chamamos ecologias de saberes5. cia da saúde no questionamento ao modelo de
As exclusões radicais assumidas pelas episte- desenvolvimento e regulação pautado na noção
mologias do Sul não se restringem às lutas redis- de risco26;; para a construção de metodologias co-
tributivas das riquezas geradas pelo “progresso” laborativas sensíveis que incorporem linguagens
econômico, científico e tecnológico, assim como artísticas, poéticas e populares no diálogo com a
acesso a direitos universais. Essa perspectiva, pre- ciência para a transformação social27; as implica-
sente na concepção hegemônica de justiça social, ções para as áreas de saúde, trabalho e ambiente
tem se mostrado insuficiente e impossibilitado na compreensão dos desastres industriais consi-
compreender ou enfrentar intolerâncias e violên- derando as exclusões radicais contra negros, mu-
cias econômicas, simbólicas, de gênero, culturais lheres e pobres28; e a proposição de uma promo-
ou religiosas que têm se proliferado no Brasil e ção emancipatória para a saúde a partir de lutas
no mundo. nas cidades (favelados, sem teto e periferias) e
As lutas por justiça cognitiva buscam visibili- nos campos (camponeses, indígenas, quilombo-
zar e reconhecer sujeitos, experiências, histórias, las e outras populações tradicionais)29.
conhecimentos e culturas de povos e populações A integração das quatro justiças propostas
indígenas, negras/quilombolas, camponesas, permite apoiar distintas concepções e práticas
mulheres, comunidades LGBTQI+, moradores de saúde a partir das perspectivas do Sul Global,
de periferias urbanas, entre outros. Para fazer isso seja no cuidado, assistência, planejamento, pro-
a justiça cognitiva carrega consigo outro com- moção, prevenção e vigilância em sua indissoci-
ponente, a justiça histórica, que implica o reco- ável relação com a vida, a natureza, o ambiente,
nhecimento não apenas dos saberes e modos de a cultura, o Estado, a democracia, a economia, a
existir dos povos excluídos radicalmente. Signifi- justiça e o território.
ca reconhecer os direitos das populações e povos Para isso é necessário transpor barreiras im-
massacrados no passado e no presente para que, postas pelo saber biomédico, cujas tecnologias
nesse processo, haja a liberação dos sentimentos consideradas universais orientam-se pela medi-
reprimidos contra as injustiças cometidas. Essa calização e subordinação ao capital financeiro-
energia coletiva de liberação é central para a to- médico-hospitalar, desprezando outros saberes
lerância necessária ao diálogo que construa pon- e práticas. Estes incluem terapias holísticas, in-
tes entre o passado e o futuro, sem cairmos na tegrativas e complementares; conhecimentos e
polarização intransponível entre o moderno e o práticas de saúde indígena e no campo; os avan-
ancestral ou tradicional que se reflete no desen- ços da reforma psiquiátrica e da atenção básica
contro excludente entre saberes. em sua relação com processos de humanização,
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incluindo inúmeras expressões artísticas que hu- cação da emancipação social tem por desafio rea-
manizam e aumentam a capacidade de agencia- linhar o fio da meada perdido pelo divórcio entre
mento dos sujeitos excluídos. economia, tecnociência, natureza e sociedade.
Georgescu-Roegen16 observou há cerca de Embora desprezada pela ciência materialista,
meio século, na construção da economia ecoló- a espiritualidade pragmática assumida por dife-
gica, algo que vários sábios tradicionais orientais rentes povos estão na base da sabedoria que pro-
e indígenas já vinham alertando como grande duz sentidos e constrói pontes entre o exterior e
ameaça desde a invasão de seus territórios pelos o interior, o imanente e o transcendente, o pen-
ocidentais com suas economias, tecnologias e ar- samento e o afeto. Trata-se de dar continuidade
mas. Trata-se da ruptura com a natureza e com a ao pensamento emancipatório de Paulo Freire30
noção de espiritualidade de diversas cosmologias e Orlando Fals-Borda31, incorporando dimen-
consideradas primitivas e atrasadas pela moder- sões epistemológicas em sua relação com a vida,
nidade. Para tais sábios, a chegada da moderni- a ecologia, a saúde e a espiritualidade. Isso deve-
dade resultaria na destruição dos rios, florestas, ria implicar uma abertura para que a reinvenção
animais e, por fim, dos próprios humanos. Esse da emancipação social dialogue com elementos e
tempo parece ter chegado com o antropoceno19, experiências perceptivas, afetivas e culturais pre-
e a construção de novas utopias com a ressignifi- sentes em inúmeras sociedades do Sul Global.
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Ciência & Saúde Coletiva, 24(12):4449-4457, 2019


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