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ARTIGO ARTICLE
Um pensamento alternativo de alternativas em tempos de crise
Abstract This article in essay form is an invita- Resumo Este artigo, na forma de ensaio, é um
tion to reflect upon the emancipatory character of convite à reflexão sobre o caráter emancipatório
health surveillance, a debate that was interrupted da vigilância em/da saúde, um debate interrom-
in the 1990s. In these times of grave political and pido na década de 1990. Em tempos de grave crise
institutional crisis in Brazil and in the year of the política e institucional no Brasil e no ano da 1ª
first National Conference on Health Surveillance Conferência Nacional de Vigilância em Saúde (1ª
(1ª CNVS, acronym in Portuguese), it is particu- CNVS), é estratégico renovar as discussões teóri-
larly appropriate to revive the critical theoretical cas e epistemológicas críticas que fundamentaram
and epistemological discussions that have ground- a trajetória da medicina social latino-americana
ed the trajectory of Latin American social medi- e da saúde coletiva nos últimos 40 anos. Para isso,
cine and public health over the last 40 years. To baseamo-nos nos pensamentos críticos da moder-
this end, I draw on aspects of critical thinking on nidade que articulam o capitalismo, o colonialis-
modernity devised by the Portuguese sociologist mo (ou a colonialidade) e o patriarcalismo como
Boaventura de Sousa Santos, who postulates three os três pilares da dominação, segundo o sociólogo
pillars of domination: capitalism, colonialism (or português Boaventura de Sousa Santos. Em um
coloniality), and patriarchy. In the current con- contexto de crise civilizatória, repensar a eman-
text of a crisis of civilization, rethinking emanci- cipação significa atualizar o significado das lutas
pation requires us to refresh our understanding of sociais em seu relacionamento com o conhecimen-
the meaning of social struggles in terms of their to e as epistemologias desprezadas pela civilização
relationship with the knowledges and epistemolo- moderna e ainda presentes no Sul Global, seja nos
gies undermined by modern civilization and still espaços indígenas e camponeses ou nas periferias
present in the Global South, whether in spaces oc- urbanas.
cupied by indigenous peoples and poor farmers or Palavras-chave Vigilância em Saúde, Crise ci-
1
Centro de Estudos da in urban peripheries. vilizatória, Modernidade, Colonialidade e episte-
Saúde do Trabalhador e Key words Health Surveillance, Crisis of civiliza- mologias do sul
Ecologia Humana, Escola tion, Modernity, Coloniality, and epistemologies
Nacional de Saúde Pública
Sérgio Arouca, Fiocruz. R. of the South
Leopoldo Bulhões 1480,
Manguinhos. 21041-210
Rio de Janeiro RJ Brasil.
marcelo.firpo@
ensp.fiocruz.br
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Porto MFS
Introdução: para refletir sobre a vigilância ras próximas a uma concepção de vigilância da
e seu potencial emancipatório saúde.
Na terceira parte do artigo buscamos novos
A reflexão proposta por este artigo, em forma de referenciais para discutir limites e possibilidades
ensaio, se orienta a partir de uma questão chave: da vigilância para além de uma abordagem crí-
em que medida podemos pensar a vigilância em tica pautada na economia política, na análise do
seu caráter emancipatório, bem como seus limi- desenvolvimento das forças capitalistas recentes
tes e desafios nos tempos atuais? Nossa tentativa no país, na conformação do Estado e das classes
de contribuir para esse debate se baseia em mais sociais que forjam contradições, avanços ou re-
de 40 anos de experiências do autor no campo trocessos das lutas sociais e conquistas democrá-
da Saúde Coletiva (SC) em pesquisa, formação e ticas. Sem negar tal leitura, marcante na história
construção de políticas no âmbito do SUS, ba- da MSLA e em diversos intelectuais envolvidos
sicamente nas áreas de saúde do trabalhador, de na reforma sanitária brasileira, bem como no do-
saúde e ambiente, e de promoção da saúde envol- cumento orientador da 1ª CNVS, apresentamos
vendo trabalhos colaborativos e de pesquisa-ação outro referencial ainda pouco explorado pela SC.
com inúmeros grupos sociais vulnerabilizados Baseamos-nos em autores que discutem a temá-
nas cidades, campos e florestas. tica da modernidade, colonialidade e pós-colo-
Ao longo do artigo buscamos trilhar quatro nialismo, principalmente o sociólogo português
discussões que se entrelaçam. Inicialmente sin- Boaventura de Sousa Santos. Para este autor, é
tetizamos os elementos que marcam o contexto necessário construir um pensamento alternativo
atual da crise política e institucional apontados das alternativas3 que possibilite repensar o papel
pelo documento orientador da 1ª CNVS1. O do- das utopias e das lutas sociais emancipatórias em
cumento apresenta seríssimos desafios para as tempos de expansão do capitalismo globalizado,
políticas e ações de vigilância em contexto de com inúmeras crises que se agravam nos vários
retrocessos que rompem com pactos estabeleci- continentes, como a da democracia, da violência
dos pela Constituição Cidadã de 1988 e com os e a ecológica.
avanços, ainda que limitados e contraditórios, de Esse pensamento alternativo reflete uma
quatro gestões do governo do PT, encerrado com crítica mais ampla à modernidade eurocêntrica
o impeachment da Presidenta Dilma Roussef. e ocidental enquanto projeto civilizatório uni-
Num segundo momento resgatamos a dis- versal. As lutas sociais emancipatórias são vistas
cussão em torno da vigilância da saúde iniciado para além da luta de classes e dos processos de
nos anos 80 e 90, impulsionado pela Medicina emancipação-regulação da modernidade. Tra-
Social latino-americana (MSLA) e, no Brasil, ta-se de incorporar outras visões, experiências e
pela Reforma Sanitária e autores da Saúde Co- conhecimentos provenientes das lutas sociais do
letiva (SC). Nossa intenção é retomar um debate chamado Sul Global. Ou seja, dos espaços, povos,
interrompido entre uma vertente mais ampla e culturas e saberes que foram e continuam a ser
emancipatória afinada com os princípios da de- radicalmente excluídos e invisibilizados ao lon-
terminação social da saúde, chamada de vigilân- go de séculos de dominação colonial, capitalista
cia da saúde2; e outra concepção mais restrita que e patriarcal que ainda não terminaram, já que se
veio a ser denominada como vigilância em saúde, renovam e se articulam de diversas formas em
de caráter mais operacional e voltada ao controle tempos de globalização neoliberal.
de agravos, tornada hegemônica na organização Por fim, encerramos o artigo refletindo bre-
do Ministério da Saúde e do SUS. vemente sobre a questão inicial – em que medida
Como veremos, a concepção contra-hegemô- a vigilância pode ser emancipatória – a partir das
nica permanece até os dias de hoje com alguma discussões apontadas anteriormente, levantando
vitalidade no campo acadêmico da SC, bem como desafios e alguns caminhos possíveis para a vigi-
por meio de experiências locais porém instáveis lância.
e descontínuas. Elas navegam por entre espaços
político-institucionais de eleições e coalisões fa- A 1ª Conferência Nacional de Vigilância
voráveis à sua implementação, num frágil limiar em Saúde em contexto de crise
entre o instituinte e o instituído. Mesmo no âm-
bito federal ao longo da gestão do PT, jamais a O tema da 1ª CNVS é “Vigilância em Saúde:
discussão da vigilância da saúde foi retomada, ou Direito, Conquistas e Defesa de um SUS Público
foram criados esforços mais sólidos, sistêmicos e de Qualidade”. O documento orientador1 apro-
sistemáticos para apoiar as experiências inovado- vado pelo Conselho Nacional de Saúde, faz uma
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atual crise colocam para a construção da vigi- tornou a desigualdade uma categoria central na
lância? Enfim, é possível pensar numa vigilância epidemiologia latino-americana, adjetivada en-
emancipatória? tão de social.
Não pretendo propriamente responder ques- Nos anos 1980 e 1990 a MSLA realizou dis-
tões tão complexas, mas principalmente levantar cussões sobre os possíveis avanços no planeja-
alternativas de como pensá-las com referenciais mento e organização de sistemas e serviços de
até o momento pouco trabalhados pela SC, lan- saúde, sendo um dos principais autores o argen-
çando mão de algumas ideias do pensamento tino Pedro Luiz Castellanos6, que enfatizou a im-
crítico pós-colonial ou decolonial e as propostas portância da análise dos processos saúde-doença
de Boaventura de Sousa Santos. Nossa aposta é e das condições de vida das populações para en-
que elas podem nos ajudar a renovar formas de frentar as desigualdades sociais.
compreender e avançar em proposições emanci- Esta discussão frutifica no Brasil em conso-
patórias no campo da saúde coletiva e, mais espe- nância com os debates sobre a reforma sanitária
cificamente, no debate sobre a vigilância. e a construção do SUS desde o início dos anos
Porém, antes de entrar nas bases desse pensa- 19907, e possui como marco o texto seminal de
mento alternativo, faremos um breve resgate da Carmem Teixeira, Jairnilson Paim e Ana Luiza
construção do campo da vigilância para mostrar intitulado “SUS, modelos assistenciais e vigilância
tensões e impasses que permaneceram ao longo da saúde”2. O texto sistematiza as principais dife-
da SC e da implementação do SUS. renças entre os dois modelos hegemônicos, o mé-
dico-assistencialista e o sanitarista, e a proposta
Vigilância em ou da Saúde: emergente da vigilância da saúde a ser construída
um debate interrompido no SUS. Ela teria por objeto os danos, os riscos
e as necessidades de saúde, as condições de vida
É curioso que uma área tão estratégica para a e trabalho, incorporando meios de trabalho ba-
saúde pública e coletiva como a vigilância tenha seados na comunicação, no planejamento e pro-
permanecido sem um aprofundamento teórico e gramação local e situacional, assim como nas no-
político por tanto tempo no âmbito da SC, pelo vas tecnologias médico-sanitárias. As formas de
menos em relação a outras áreas. Trata-se de organização do modelo proposto previam ações
uma questão relevante, já que historicamente a intersetoriais, políticas públicas saudáveis e ope-
vigilância pode ser considerada como a área da rações sobre problemas de saúde e gupos popula-
saúde pública/coletiva que atua diretamente so- cionais específicos. Enfim, uma proposta afinada
bre os determinantes socioambientais da saúde com o espírito da sáude coletiva, ainda que pe-
e o modelo de desenvolvimento, tão discutidos sem limitações como a convivência acrítica entre
no documento orientador. Passadas aproximada- os saberes biomédicos especializados com os sa-
mente três décadas do fim do governo militar, da beres populares e as lutas sociais na definição das
Constituição Cidadã de 1988 e do próprio SUS, e necessidades e prioridades de saúde.
apesar de vários avanços operacionais, o campo A proposta da vigilância da saúde refletia
da vigilância continua sem uma política e sem uma disputa existente nos Congressos de Epide-
definições claras, principalmente no âmbito mu- miologia já naquela época entre duas vertentes
nicipal local. da vigilância5,7.
De acordo com a Portaria 3.252 de 2009 do (i) Uma mais restrita, de caráter operacio-
MS, a vigilância em saúde engloba um conjunto nal e voltada ao controle de agravos específicos
de subáreas e setores, desde as tradicionais vi- com a incorporação de algumas técnicas mo-
gilâncias epidemiológica e sanitária, até outras dernas da Saúde Pública, e que mais tarde veio
áreas – saúde dos trabalhadores, saúde ambien- a se consolidar como vigilância em saúde. Tal
tal, promoção da saúde e análise de situações de vertente assumiu a hegemonia institucional na
saúde – que refletem tanto o desenvolvimento da organização do MS e do SUS. Ainda que tenha
Nova Saúde Pública4 como práticas inovadoras incorporado avanços conceituais e metodológi-
do SUS. Tais áreas são centrais por incidirem nos cos presentes em experiências inovadoras, jamais
riscos e vulnerabilidades relacionadas ao modelo conseguiu materializar uma reorganização mais
de desenvolvimento econômico do país. De acor- ampla do conjunto das ações e serviços de aten-
do com Sabroza5, tal modelo é responsável pelas ção, principalmente no nível local;
desigualdades sociais e regionais do País, resul- (ii) Outra vertente ampliada, ancorada na
tando num tipo de transição epidemiológica bas- proposta de vigilância da saúde, parte dos prin-
tante fora dos padrões dos países centrais, o que cípios da Saúde Coletiva e da Reforma Sanitária
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quais persistem, resistem e se reinventam nos es- com crescimento econômico e redistributivo,
paços comunitários e outros, basicamente no Sul dentre outros jargões do campo dito progressista
Global; (ii) de outro, a utopia socialista, marcada e que vem marcando o posicionamento intelec-
no século XIX pelo trabalho de Marx ao analisar tual na Saúde Coletiva. Não é que não devamos
o capitalismo como sistema social que dialética defender esse projeto de país, principalmente em
e inevitavelmente caminharia para relações so- momentos críticos dos retrocessos que vivemos.
ciais e sociedades mais justas e distributivas, as A questão é que ele reproduz uma visão de de-
sociedades socialistas ou comunistas. Cresceram senvolvimento econômico, científico e tecnoló-
então duas linhas utópicas socialistas que pas- gico que se encontra na raíz da modernidade e
saram a atuar de forma mutuamente críticas e seu projeto colonial. Sem um profundo renovar
divergentes: a reformista via social-democracia, de formas de pensar e sentir, que alguns chamam
fortalecida no pós-guerra com a construção do de giro decolonial ou corazonar, campos fun-
Estado de Bem Estar Social na Europa ocidental; damentais como a saúde coletiva fechar-se-ão
e a revolucionária, referenciada principalmente em suas instituições modernas – universidades,
na revolução soviética de 1917 e nos processos centros de saúde, hospitais – como claustros de
revolucionários na América Latina, África e Ásia, verdades instituídas impermeáveis a novos pro-
curiosamente em sociedades que seriam as menos cessos instituintes de natureza emancipatória.
propícias para o amadurecimento das condições As atuais crises, ao mesmo tempo em que
objetivas revolucionárias previstas por Marx. geram perplexidades, são vistas de forma super-
ficial por uma modernidade que cada vez mais
Reflexões sobre o ser emancipatório encastela-se na fugacidade do presente. Vive-se
para a saúde coletiva e a vigilância um presente rasteiro, superficial, entrincheirado
em tempos de crise entre o passado e o futuro, cuja alienação imobi-
lizadora reside na expectativa de um futuro que
A questão das utopias e o resgate possível da se expande indefinidamente na via da única da
esperança nas lutas emancipatórias são centrais racionalidade moderna, com sua ciência objeti-
nos trabalhos de Boaventura, já que, nas últimas va e universal. O progresso, inevitável, seria uma
décadas, presenciamos uma profunda desilusão questão de tempo. As crises mostram outra coisa.
com as utopias modernas. De um lado, a queda Como as utopias buscam responder neces-
do Muro de Berlim e o fim da União Soviética sidades e aspirações de um tempo presente com
atingem de uma só vez os sonhos socialistas (re- o paradoxo de se realizar num tempo futuro,
volucionários ou reformistas), ao mesmo tempo reiventar a utopia é se aproximar dos sujeitos e
em que tornam cada vez mais problemáticos os saberes excluídos ou desprezados radicalmente
sonhos de emancipação via crescimento eco- pela modernidade, uma utopia que reiventa a to-
nômico por um mercado que se expande sem lerância e a solidariedade a partir das lutas e das
limites. A hegemonia do neoliberalismo em ins- Epistemologias do Sul.
tituições internacionais (FMI, Banco Mundial e Sem dúvida, vivemos tempos difíceis para tal
OCDE) e nacionais dentro dos Estados-Nação e tarefa: Boaventura observa que com a globali-
da mídia está na base da desregulamentação do zação a crise se agrava mais e mais pelo fato da
Estado e dos processos de mercantilização e pri- exclusão metropolitana não radical e mais pro-
vatização sobre a vida e a natureza, incluindo os tegida pelo Estado de Direito está a se encolher,
planos privados de saúde. Tal processo é relatado enquanto que a exclusão radical dos processos de
com força pela análise de conjuntura do docu- espoliação e violência está a se expandir. É o Sul
mento orientador da 1ª CNVS, mas uma leitura invadindo e ocupando o Norte de várias manei-
mais ampla do capitalismo contemporâneo re- ras, fortalecendo a formação de guetos e muros
vela se tratar de um movimento global, não es- dentro das metrópoles. Essa é uma forma de falar
pecífico do Brasil ou da América Latina, mas da da crise da democracia em várias parte do mun-
própria modernidade colonial cada vez mais em do, inclusive no centro capitalista.
crise social, econômica, política e ecológica. A obra de Boaventura, ao analisar a crise
É por isso que devemos problematizar e em seu caráter cada vez mais amplo, planetário
avançar, ainda que defendendo-o taticamente, e complexo, reconhece-a enquanto civilizatória
um projeto de país caracterizado como nacional, moderna, cujo enfrentamento passa por uma
desenvolvimentista, soberano, que seja inclusivo, inversão da lógica do tempo: expandir o presen-
publicista, universal nos direitos e em suas garan- te, tarefa da sociologia das ausências, e contrair
tias, que promova o desenvolvimento sustentável o futuro, tarefa da sociologia das emergências.
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além de universalismos que invisibilizam alter- alimentação saudável, soberania e segurança ali-
nativas em termos de outras socialibilibidades, mentar, agroecologia, o saneamento no campo e
outras economias, outras formas de saber, sentir, nas favelas simultaneamente à luta por moradia
trabalhar e produzir. Tais emergências assumirão e por cidades inclusivas e democráticas. Outro
um crescente protagonismo nas lutas sociais de tema impulsionador de novas práticas envolve a
nosso tempo, que é o tempo das transições civili- crise ecológica e os conflitos decorrentes da po-
zatórias e paradigmáticas em que se agudizam as luição, dos desastres, do acesso à água e escassez
distopias do desenvolvimento, ao contrário das de recursos hídricos, ou mesmo do sentido de
esperanças prometidas pela modernidade. sagrado de rios, árvores e florestas presentes em
A saúde, quer os intelectuais da saúde coleti- inúmeras cosmovisões. Em todos esses espaços e
va assumam ou não, continuará a ser um campo questões, marcados sempre por lutas emancipa-
privilegiado de experimentações sociais para as tórias, a própria concepção de desenvolvimento,
Epistemologias do Sul e as ecologia de saberes. saúde e natureza serão colocadas em xeque, retra-
Pensemos, por exemplo, nos encontros de sabe- balhadas em lutas sociais a favor da dignidade e
res e práticas potencialmente emancipatórias em do bem viver das pessoas e dos povos. Uma vi-
torno da saúde indígena, da saúde no campo, da gilância emancipatória implicará num despojar
saúde dos quilombolas, da saúde nas favelas, da permanente de posições que, em nome da supos-
saúde mental, dos encontros da saúde e a arte nos ta objetividade e superioridade da ciência e efi-
espaços liminais entre conhecimentos definidos, cácia das normas, formam as linhas abissais que
das fronteiras que não se submetem e se revoltam impedem encontros e mobilizações fundamentais
à colonialidade do saber e do poder. Temas como para a transformação em tempos de crise.
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