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CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO RIO GRANDE DO NORTE

PROCESSO-CONSULTA CREMERN Nº 005/2019 – PARECER CREMERN Nº 005/2019

INTERESSADO: E.S.

ASSUNTO: Pode o profissional médico realizar procedimentos de


micropigmentação cutânea para reparação de danos em pacientes operados?
RELATOR: Cons. Sidney Augusto da Cruz Costa

EMENTA: A micropigmentação cutânea realizada por


médicos em pacientes que sofreram algum dano de ordem
cirúrgica ou quimioterápica consiste em ato médico por
ser procedimento invasivo e requerer conhecimento de
anatomia, cirurgia e assistência médica, além de ser ato
contínuo do tratamento médico oferecido.

DA CONSULTA
O interessado solicita a este Conselho parecer para saber se ao médico é
permitido a realização de procedimentos de pigmentação para reparação de
sobrancelhas, aréolas mamárias e cicatrizes em geral com a utilização de equipamentos
do tipo micropigmentadores, desde que em pacientes devidamente selecionados.
Solicita-o em virtude de ser mastologista e pretender realizar uma pesquisa na qual
deverá ser avaliada a repercussão de sequelas e do tratamento delas, com
micropigmentação real em pacientes submetidas a tratamento do câncer de mama, onde
serão oferecidos o método em questão para reconstrução da aréola de forma
tridimensional e a harmonização facial com micropigmentação das sobrancelhas
naquelas cujo tratamento quimioterápico ocasionou a rarefação e consequente alopecia.
Essa situação, segundo o interessado, além de causar sequelas físicas nas pacientes
devido à remoção do complexo aréolo-mamilar e perda pilosa nas sobrancelhas, traz
também consigo graves danos psicológicos e estéticos, nem sempre aceitos ou

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satisfatoriamente reparados com os recursos da psicologia, psiquiatria ou cirurgia


plástica, gerando consequências irremediáveis à autoestima dessas pacientes.

DO PARECER
O ato da micropigmentação consiste em depositar, na derme ou no tecido celular
subcutâneo, conteúdo líquido que forneça, naquele local, uma alteração na cor sem
mudar sua forma. O uso desse depósito é uma das formas de modificação do corpo mais
conhecidas e cultuadas do mundo: a tatuagem. Trata-se de uma arte permanente feita na
pele humana que, tecnicamente, consiste em uma aplicação subcutânea obtida através
da introdução de pigmentos por agulhas. Esse procedimento, durante muitos séculos, foi
completamente irreversível (embora, dependendo do caso, as técnicas de remoção atuais
possam deixar cicatrizes e variações de cor sobre a pele). A motivação para os
cultuadores dessa prática é ser uma obra de arte viva e temporal tanto quanto a vida.
Existem muitas provas arqueológicas que afirmam que as primeiras tatuagens
remontam do Egito antigo, entre 4000 e 2000 a.C. e também por nativos da Polinésia,
Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia, que tatuavam-se em rituais ligados a religião.
Hoje, pode-se encontrar em diversas etnias espalhadas pelo mundo o costume de se
utilizar tatuagens faciais e corporais, por todos os continentes.
Hoje, a técnica de micropigmentação cutânea dérmica, dermopigmentação,
consiste em uma das alternativas para a reconstrução de lesões de uma forma estética.
Dermopigmentação da área mamária é uma técnica para aplicação de pigmentos
na camada subepidérmica da pele com o auxílio de um dermógrafo (aparelho que se
utiliza de agulhas para a introdução de pigmentos). Ela é utilizada na restauração de
estruturas danificadas em mastectomia, criando-se nova aréola e recobrindo cicatrizes
indesejáveis, melhorando a auto-estima e confiança da mastectomizada, bem como na
região de sobrancelhas, refazendo-as de forma pigmentar. Mesmo sendo considerado
procedimento relativamente simples e de realização ambulatorial ou em centro-
cirúrgico, ainda assim trata-se de método invasivo por utilizar aparelho de corrente
galvânica com agulhas descartáveis acopladas e consequente sangramento, o que requer
conhecimento em biossegurança, anatomia e fisiologia humanas, antissepsia, anestesia e

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domínio da técnica. Profissionais não-médicos somente utilizam anestesia tópica, que


tem baixo poder de penetração, curto intervalo de tempo e pequeno efeito disestésico, o
que gera pouco tempo (em torno de 30 minutos num procedimento que pode demorar
mais que isso, ocasionando intenso quadro doloroso). Ao médico cabe a prerrogativa de
utilizar anestesia infiltrativa locorregional ou em bloqueio e, quiçá, geral. Ao médico
qualificado na dermopigmentação com o uso em seres humanos de pigmentos
autorizados pela agência que rege a vigilância sanitária do Brasil – Anvisa – soma-se
também a responsabilidade na assistência à paciente, visto que costumeiramente
complicações advindas de atos gerados por outros profissionais não-qualificados expõe
as pacientes a diversos riscos e requerem assistência médica adequada, sendo somente
nesses casos que o médico é procurado. Acrescente-se a isso o fato de haver, em grande
parte das vezes, o curso com linfedema do membro superior ipsilateral, com alteração
da drenagem linfática e consequente infecção, visto que comumente as pacientes estão
em uso de alguma droga de efeito imunossupressor.
Todas as pessoas que precisem ou optem por realizar a micropigmentação estão
aptas a realizar esse procedimento, contraindicado apenas nos casos de anemia e em
portadoras de marcapasso, o que também deve fazer parte da anamnese e cuidados que
o médico deve ter, sobretudo por se tratar de pacientes que porventura estejam em
tratamento com drogas que levam a algum tipo de diminuição da contagem de células
sanguíneas, ocasionando anemia, leucopenia ou trombocitopenia. Ou seja, é sempre
importante ressaltar que antes de qualquer coisa é preciso passar pela avaliação médica
para saber se realmente não há nenhum tipo de impedimento.

CONCLUSÃO
O médico capacitado na realização de procedimentos que envolvam a prática da
micropigmentação cutânea estética e reparadora realizada em ambiente médico
adequado, seguindo rigorosa observação dos protocolos de boa indicação do
procedimento (endossada por uma anamnese criteriosa), antissepsia, anestesia quando
necessária, conhecimento da técnica adotada, rigor ético e cuidados pós-procedimento é
o profissional mais qualificado e indicado para tais procedimentos, visto que por todos

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os fatos ora citados configura-se um ato médico em virtude do quadro patológico prévio
da paciente, diferentemente de um efeito apenas estético em pessoa saudável. Ademais
a micropigmentação realizada por médicos deixa as pacientes mais confiantes e
confortáveis por se tratar de um profissional que já a acompanha ou que seja uma
indicação de seu médico assistente, gerando um efeito de ampla confiança.

Este é o meu parecer, salvo melhor juízo.

Natal, RN, 23 de setembro de 2019.

Cons. Sidney A. C. Costa


Conselheiro Relator

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