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Política Nacional

de Saúde do Trabalhador
e da Trabalhadora
Sistema Único de Saúde

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Governador da Bahia
Jaques Wagner
Secretário da Saúde do Estado da Bahia
Washington Luís Silva Couto
Superintendente de Vigilância e Proteção da Saúde
Alcina Marta de Souza Andrade Projeto gráfico, editoração e ilustrações
Miguel Cotrim - xcom
Diretora de Vigilância e Atenção à Saúde do Trabalhador Revisão
Letícia Coelho da Costa Nobre Solange Galvão - xcom

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Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora
Portaria federal GM/MS nº 1.823,
de 23 de agosto de 2012

salvador - ba
2014

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Apresentação

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E
sta publicação tem o objetivo de apresentar a todos e a todas, no estado da Bahia, a
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, publicada pela Portaria
Federal GM/MS nº 1.823, em 23 de agosto de 2012. Este é o primeiro documento
de política nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (ST) aprovado e
publicado pelo Ministério da Saúde, 24 anos após a criação do Sistema Único de Saúde
na Constituição Federal de 1988, constituindo um marco histórico importantíssimo para o
avanço da área em todo o país.
É importante ressaltar que a elaboração desta política se deu a várias mãos, em um
processo participativo, que foi resultado e se beneficiou do acúmulo de experiência e
construção de diversos atores, tanto em suas práticas cotidianas, quanto nas conferências
de saúde do trabalhador em todo o país, nos encontros, seminários e grupos de trabalho
constituídos ao longo das duas décadas de Saúde do Trabalhador no SUS.
A efetivação de uma política não se faz de um dia para outro. É um processo que ocorre
com avanços e retrocessos, ações e omissões, impactos positivos, dificuldades, enfrentam-se
os desafios e se constroem as perspectivas para a sua institucionalização. Para torná-la real
nos municípios, nos territórios, nos ambientes de trabalho e em toda a rede SUS, considera-
se muito importante que ela seja conhecida, debatida, divulgada e assumida por todos que
vêm construindo o SUS que queremos e precisamos para nossa população.
Em tempos de realização da 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e
da Trabalhadora, estamos todos desafiados a atualizar a força instituinte da Saúde do
Trabalhador no SUS. Uma política precisa ser viva, fazer parte dos desejos, das vontades,
das necessidades, das perspectivas e dos objetivos dos sujeitos.
A Sesab, representada pelas equipes da Divast, Suvisa e Diretorias Regionais de Saúde,
vem ao longo desses anos construindo as experiências concretas, cotidianas, inspirando e
dando base às reflexões coletivas da ST em nosso estado e no país.
A Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e todas suas
proposições são muito bem-vindas.

Washington Couto - Secretário da Saúde do Estado da Bahia


Alcina Andrade - Superintendente de Vigilância e Proteção da Saúde
Letícia Nobre - Diretora da Divast

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Introdução

P
ara se instituir a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, por meio da
Portaria Federal GM/MS nº 1.823, em 2012, houve uma longa história de discussões, lutas e
revalidações. O primeiro documento de Política Nacional de Saúde do Trabalhador (PNST) foi
elaborado por um grupo de trabalho constituído pelo Ministério da Saúde, apresentado e discutido em
seminário público realizado na Câmara de Deputados em Brasília, no início de 2001. Por não haver
definição quanto ao financiamento das ações à época, essa proposta não foi levada adiante.
Em 2008, gestores, técnicos e coordenadores estaduais de ST, reunidos em Brasília, deliberaram
pela retomada da elaboração da política de ST no âmbito do SUS, sendo então constituído grupo
temático com representações estaduais, sob coordenação da área técnica do Ministério da Saúde. Ao
longo de 2009, ocorreram reuniões, oficinas de trabalho com a participação de outros atores, dentre
os quais se destacam as discussões no âmbito do GT Saúde do Trabalhador da Abrasco e a realização
de oficina sobre a política nacional de ST, em Salvador, que contou com a fundamental contribuição
do Instituto de Saúde Coletiva, da Universidade Federal da Bahia, e do Departamento de Medicina
Preventiva e Social, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Ao longo de 2010, a primeira versão da política foi apresentada em algumas instâncias de gestão
e controle social, a exemplo da Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador do Conselho Nacional de
Saúde (Cist/CNS); no 4º Encontro Nacional da Renast (30 junho/1º julho); no Conselho Nacional de Saúde
(julho 2010), no III Encontro das Cist (dezembro 2010) e no Colegiado de Gestão da Secretaria de Vigilância
em Saúde do Ministério da Saúde. Foi colocada em consulta pública e recebeu contribuições de conselhos

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de saúde, estaduais e municipais e de outros atores sociais. Também passou por discussão e pactuação nas
instâncias e esferas de gestão do SUS, sendo apreciada pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de
Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), Comissão Intergestores
Tripartite (CIT). Finalmente, retornou para apreciação e aprovação pelo Conselho Nacional de Saúde. Esse
processo coletivo, participativo, resultou no aprimoramento da proposta, publicada em agosto de 2012.
Nela estão pontuados princípios, objetivos, diretrizes, estratégias e responsabilidades institucionais
da PNST. Os elementos conceituais e práticos que informam a política e permitem compreender a
Saúde do Trabalhador como integrante do campo da Saúde Coletiva, os pressupostos e os princípios
éticos da vigilância em saúde do trabalhador, a ST como parte e em articulação com todos os
demais componentes da rede SUS, a participação e o controle social, a responsabilidade sanitária
de gestores e profissionais de saúde. Destaca-se também a concepção de transversalidade, inter e
transdiciplinaridade e articulação com as demais políticas do SUS e demais setores. Por ser uma política
pública que visa, em última instância, a redução das desigualdades sociais e a promoção da equidade,
interessa não somente aos trabalhadores e trabalhadoras como a toda a sociedade brasileira.
Temos ciência de que os principais desafios para a efetivação da PNSTT são os mesmos desafios
do próprio SUS. Algumas práticas concretas já estão sendo experimentadas, com resultados positivos e
surpreendentes nos territórios e municípios em nosso e em outros estados. Mais que nunca é necessário
pensar novas mudanças, reconfigurações institucionais e práticas reflexivas para efetivar o que
acabamos de construir.

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PORTARIA FEDERAL GM/MS Nº 1.823,
DE 23 DE AGOSTO DE 2012

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Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora

O MINISTRO DO ESTADO DA SAÚDE, no finalidade definir os princípios, as diretrizes e


uso da atribuição que lhe confere o inciso II do as estratégias a serem observados pelas três
parágrafo único art. 87 da Constituição; e esferas de gestão do Sistema Único de Saúde
Considerando que compete ao Sistema (SUS), para o desenvolvimento da atenção
Único de Saúde (SUS) a execução das ações de integral à saúde do trabalhador, com ênfase
saúde do trabalhador, conforme determina a na vigilância, visando a promoção e a proteção
Constituição Federal; da saúde dos trabalhadores e a redução da
Considerando o papel do Ministério da morbimortalidade decorrente dos modelos de
Saúde de coordenar nacionalmente a política desenvolvimento e dos processos produtivos.
de saúde do trabalhador, conforme o disposto
no inciso V do art. 16 da Lei nº 8.080, de 19 de Art. 3º Todos os trabalhadores, homens
setembro de 1990; e mulheres, independentemente de sua
Considerando o alinhamento entre a política localização, urbana ou rural, de sua forma de
de saúde do trabalhador e a Política Nacional inserção no mercado de trabalho, formal ou
de Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST), informal, de seu vínculo empregatício, público
instituída por meio do Decreto nº 7.602, de 7 de ou privado, assalariado, autônomo, avulso,
novembro de 2011; temporário, cooperativados, aprendiz, estagiário,
Considerando a necessidade de doméstico, aposentado ou desempregado são
implementação de ações de saúde do sujeitos desta Política.
trabalhador em todos os níveis de atenção do Parágrafo único. A Política Nacional de Saúde
SUS; e do Trabalhador e da Trabalhadora alinha-se com
Considerando a necessidade da definição dos o conjunto de políticas de saúde no âmbito do
princípios, das diretrizes e das estratégias a serem SUS, considerando a transversalidade das ações
observados nas três esferas de gestão do SUS no de saúde do trabalhador e o trabalho como um
que se refere à saúde do trabalhador, resolve: dos determinantes do processo saúde-doença.

Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Art.4º Além do disposto nesta Portaria,
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. a Política Nacional de Saúde do Trabalhador
e da Trabalhadora reger-se-á, de forma
Art. 2º A Política Nacional de Saúde do complementar, pelos elementos informativos
Trabalhador e da Trabalhadora tem como constantes do Anexo I a esta Portaria.

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CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES

Art. 5º A Política Nacional de Saúde do Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora


Trabalhador e da Trabalhadora observará os dever-se-á considerar a articulação entre:
seguintes princípios e diretrizes: I – as ações individuais, de assistência e de
I – universalidade; recuperação dos agravos, com ações coletivas,
II – integralidade; de promoção, de prevenção, de vigilância dos
III – participação da comunidade, dos ambientes, processos e atividades de trabalho, e
trabalhadores e do controle social; de intervenção sobre os fatores determinantes da
IV – descentralização; saúde dos trabalhadores;
V – hierarquização; II – as ações de planejamento e avaliação com
VI – equidade; e as práticas de saúde; e
VII – precaução. III – o conhecimento técnico e os saberes,
experiências e subjetividade dos trabalhadores e
Art. 6º Para fins de implementação da Política destes com as respectivas práticas institucionais.

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Parágrafo único. A realização da articulação trabalho, em atividades de maior risco para a saúde,
tratada neste artigo requer mudanças substanciais submetidos a formas nocivas de discriminação,
nos processos de trabalho em saúde, na organização ou ao trabalho infantil, na perspectiva de superar
da rede de atenção e na atuação multiprofissional desigualdades sociais e de saúde e de buscar a
e interdisciplinar, que contemplem a complexidade equidade na atenção.
das relações trabalho-saúde. Parágrafo único. As pessoas e os grupos
vulneráveis de que trata o caput deste artigo
Art. 7º A Política Nacional de Saúde do devem ser identificados e definidos a partir da
Trabalhador e da Trabalhadora deverá contemplar análise da situação de saúde local e regional e
todos os trabalhadores priorizando, entretanto, da discussão com a comunidade, trabalhadores
pessoas e grupos em situação de maior e outros atores sociais de interesse à saúde dos
vulnerabilidade, como aqueles inseridos em trabalhadores, considerando-se suas especificidades
atividades ou em relações informais e precárias de e singularidades culturais e sociais.

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g) produção de protocolos, de normas

CAPÍTULO II técnicas e regulamentares; e


h) participação dos trabalhadores e suas
DOS OBJETIVOS organizações;
II – promover a saúde e ambientes e processos
de trabalhos saudáveis, o que pressupõe:
Art. 8º São objetivos da Política Nacional de a) estabelecimento e adoção de parâmetros
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora: protetores da saúde dos trabalhadores nos
I – fortalecer a Vigilância em Saúde do ambientes e processos de trabalho;
Trabalhador (VISAT) e a integração com os demais b) fortalecimento e articulação das ações
componentes da Vigilância em Saúde, o que de vigilância em saúde, identificando os fatores
pressupõe: de risco ambiental, com intervenções tanto nos
a) identificação das atividades produtivas da ambientes e processos de trabalho, como no
população trabalhadora e das situações de risco à entorno, tendo em vista a qualidade de vida dos
saúde dos trabalhadores no território; trabalhadores e da população circunvizinha;
b) identificação das necessidades, demandas c) representação do setor saúde/saúde do
e problemas de saúde dos trabalhadores no trabalhador nos fóruns e instâncias de formulação
território; de políticas setoriais e intersetoriais e às relativas
c) realização da análise da situação de saúde ao desenvolvimento econômico e social;
dos trabalhadores; d) inserção, acompanhamento e avaliação
d) intervenção nos processos e ambientes de de indicadores de saúde dos trabalhadores e
trabalho; das populações circunvizinhas nos processos de
e) produção de tecnologias de intervenção, de licenciamento e nos estudos de impacto ambiental;
avaliação e de monitoramento das ações de VISAT; e) inclusão de parâmetros de proteção à
f) controle e avaliação da qualidade dos saúde dos trabalhadores e de manutenção de
serviços e programas de saúde do trabalhador, nas ambientes de trabalho saudáveis nos processos
instituições e empresas públicas e privadas; de concessão de incentivos ao desenvolvimento,

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nos mecanismos de fomento e outros incentivos e) assistência farmacêutica;
específicos; f) sistemas de informações em saúde;
f) contribuição na identificação e erradicação g) sistema de regulação do acesso;
de situações análogas ao trabalho escravo; h) sistema de planejamento, monitoramento
g) contribuição na identificação e erradicação e avaliação das ações;
de trabalho infantil e na proteção do trabalho do i) sistema de auditoria; e
adolescente; j) promoção e vigilância à saúde, incluindo a
h) desenvolvimento de estratégias e ações de vigilância à saúde do trabalhador;
comunicação de risco e de educação ambiental e IV – ampliar o entendimento de que a saúde
em saúde do trabalhador; do trabalhador deve ser concebida como uma ação
III – garantir a integralidade na atenção à transversal, devendo a relação saúde-trabalho ser
saúde do trabalhador, que pressupõe a inserção identificada em todos os pontos e instâncias da
de ações de saúde do trabalhador em todas as rede de atenção;
instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde V – incorporar a categoria trabalho como
do SUS, mediante articulação e construção determinante do processo saúde-doença dos
conjunta de protocolos, linhas de cuidado e indivíduos e da coletividade, incluindo-a nas
matriciamento da saúde do trabalhador na análises de situação de saúde e nas ações de
assistência e nas estratégias e dispositivos de promoção em saúde;
organização e fluxos da rede, considerando os VI – assegurar que a identificação da situação
seguintes componentes: do trabalho dos usuários seja considerada nas
a) atenção primária em saúde; ações e serviços de saúde do SUS e que a atividade
b) atenção especializada, incluindo serviços de trabalho realizada pelas pessoas, com as
de reabilitação; suas possíveis conseqüências para a saúde, seja
c) atenção pré-hospitalar, de urgência e considerada no momento de cada intervenção em
emergência, e hospitalar; saúde; e
d) rede de laboratórios e de serviços de apoio VII – assegurar a qualidade da atenção à
diagnóstico; saúde do trabalhador usuário do SUS.

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CAPÍTULO III
DAS ESTRATÉGIAS

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Art. 9º São estratégias da Política Nacional de territórios, envolvendo as vigilâncias epidemiológica,
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora: sanitária, em saúde ambiental, saúde do trabalhador
I – integração da Vigilância em Saúde do e rede de laboratórios de saúde pública;
Trabalhador com os demais componentes da g) produção conjunta de metodologias
Vigilância em Saúde e com a Atenção Primária em de ação, de investigação, de tecnologias de
Saúde, o que pressupõe: intervenção, de avaliação e de monitoramento
a) planejamento conjunto entre as vigilâncias, das ações de vigilância nos ambientes e situações
com eleição de prioridades comuns para atuação epidemiológicas;
integrada, com base na análise da situação de h) incorporação, pelas equipes de vigilância
saúde dos trabalhadores e da população em geral, sanitária dos Estados e Municípios, de práticas de
e no mapeamento das atividades produtivas e com avaliação, controle e vigilância dos riscos ocupacionais
potencial impacto ambiental no território; nas empresas e estabelecimentos, observando as
b) produção conjunta de protocolos, normas atividades produtivas presentes no território;
técnicas e atos normativos, com harmonização i) investimentos na qualificação e capacitação
de parâmetros e indicadores, para orientação aos integradas das equipes dos diversos componentes da
Estados e Municípios no desenvolvimento das ações vigilância em saúde, com incorporação de conteúdos
de vigilância, e especialmente como referência para específicos, comuns e afins, nos processos formativos
os processos de pactuação entre as três esferas de e nas estratégias de educação permanente de todos
gestão do SUS; os componentes da Vigilância em Saúde;
c) harmonização e, sempre que possível, j) investimentos na ampliação da capacidade
unificação dos instrumentos de registro e técnica e nas mudanças das práticas das equipes das
notificação de agravos e eventos de interesse vigilâncias, especialmente para atuação no apoio
comum aos componentes da vigilância; matricial às equipes de referência dos municípios;
d) incorporação dos agravos relacionados ao k) participação conjunta nas estratégias, fóruns
trabalho, definidos como prioritários para fins de e instâncias de produção, divulgação, difusão e
vigilância, nas listagens de agravos de notificação comunicação de informações em saúde;
compulsória, nos âmbitos nacional, estaduais e l) estímulo à participação dos trabalhadores
municipais, seguindo a mesma lógica e fluxos dos e suas organizações, sempre que pertinente,
demais; no acompanhamento das ações de vigilância
e) proposição e produção de indicadores epidemiológica, sanitária e em saúde ambiental,
conjuntos para monitoramento e avaliação da além das ações específicas de VISAT; e
situação de saúde; m) atualização e ou revisão dos códigos
f) formação e manutenção de grupos de de saúde, com inserção de disposições sobre a
trabalho integrados para investigação de surtos e vigilância em saúde do trabalhador e atribuição da
eventos inusitados e de investigação de situações competência de autoridade sanitária às equipes de
de saúde decorrentes de potenciais impactos vigilância em saúde do trabalhador, nos Estados e
ambientais de processos e atividades produtivas nos Municípios;

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II – análise do perfil produtivo e da situação de econômica e tipo de vínculo nos seguintes sistemas e
saúde dos trabalhadores, o que pressupõe: fontes de informação em saúde, aproveitando todos os
a) identificação das atividades produtivas e do contatos do/a trabalhador/a com o sistema de saúde:
perfil da população trabalhadora no território em 1. Sistema de Informação sobre Mortalidade
conjunto com a atenção primária em saúde e os (SIM);
setores da Vigilância em Saúde; 2. Sistema de Informações Hospitalares do
b) implementação da rede de informações em SUS (SIH-SUS);
saúde do trabalhador; 3. Sistema de Informação de Agravos de
c) definição de elenco de indicadores Notificação (Sinan);
prioritários para análise e monitoramento; 4. Sistema de Informações Ambulatoriais do
d) definição do elenco de agravos relacionados SUS (SIA-SUS);
ao trabalho de notificação compulsória e de 5. Sistema de Informação de Atenção Básica
investigação obrigatória e inclusão no elenco de (SIAB);
prioridades, nas três esferas de gestão do SUS; 6. Registros de Câncer de Base Populacional
e) revisão periódica da lista de doenças (RCBP); e
relacionadas ao trabalho; 7. Registros de Câncer de Base Hospitalar
f) realização de estudos e análises que (RCBH);
identifiquem e possibilitem a compreensão i) articulação e sistematização das informações
dos problemas de saúde dos trabalhadores e o das demais bases de dados de interesse à saúde do
comportamento dos principais indicadores de saúde; trabalhador, como:
g) estruturação das estratégias e processos de 1. Cadastro Nacional de Informações Sociais
difusão e comunicação das informações; (CNIS);
h) garantia, na identificação do trabalhador, 2. Sistema Único de Benefícios (SUB);
do registro de sua ocupação, ramo de atividade 3. Relação Anual de Informações Sociais (RAIS);

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4. Cadastro Geral de Empregados e dos acidentes de trabalho graves e com óbito e das
Desempregados (CAGED); intoxicações por agrotóxicos, considerando critérios
5. Sistema Federal de Inspeção do Trabalho de magnitude e gravidade;
(SFIT); m) viabilização da compatibilização e/ou
6. Troca de Informação em Saúde Suplementar unificação dos instrumentos de coleta de dados e
(TISS); e dos fluxos de informações, em articulação com as
7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística demais equipes técnicas e das vigilâncias;
(IBGE); n) gestão junto à Previdência Social para que
8. outros sistemas de informações dos órgãos a notificação dos acidentes e doenças relacionadas
e setores de planejamento, da agricultura, do meio ao trabalho feita pelo SUS (Sinan) seja reconhecida,
ambiente, da segurança pública, do trânsito, da nos casos de trabalhadores segurados pelo Seguro
indústria, comércio e mineração, das empresas, dos Acidente de Trabalho;
sindicatos de trabalhadores, entre outras; o) criação de sistemas e bancos de dados para
j) gestão junto a essas instituições para acesso registro das informações contidas nos relatórios
às bases de dados de forma desagregada, conforme de inspeções e mapeamento dos ambientes de
necessidades da produção da análise da situação de trabalho realizados pelas equipes de Vigilância em
saúde nos diversos níveis territoriais; Saúde;
k) produção e divulgação, periódicas, com p) definição de elenco básico de indicadores
acesso ao público em geral, de análises de situação de morbimortalidade e de situações de risco para
de saúde, considerando diversos níveis territoriais a composição da análise de situação de saúde
(local, municipal, microrregional, macrorregional, dos trabalhadores, considerando o conjunto dos
estadual, grandes regiões, nacional); trabalhadores brasileiros, incluindo as parcelas
l) estabelecimento da notificação compulsória e inseridas em atividades informais, ou seja, o total da
investigação obrigatória em todo território nacional População Economicamente Ativa Ocupada;

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q) articulação intra e intersetorial para a
implantação ou implementação de observatórios
de saúde do trabalhador, em especial, articulando-
se com o observatório de violências e outros;
r) articulação, apoio e gestão junto à Rede
Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA)
para fins de ampliação dos atuais indicadores de
saúde do trabalhador constantes das publicações
dos Indicadores Básicos de Saúde (IDB);
s) garantia da inclusão de indicadores de saúde
do trabalhador nas RIPSA estaduais, conforme
necessidades e especificidades de cada Estado;
t) produção de protocolos e manuais de
orientação para os profissionais de saúde para a
utilização da Classificação Brasileira de Ocupação
e da Classificação Nacional de Atividades
Econômicas;
u) avaliação e produção de relatórios
periódicos sobre a qualidade dos dados e
informações constantes nos sistemas de
informação de interesse à saúde do trabalhador; e
v) disponibilização e divulgação das
informações em meios eletrônicos, boletins,
cartilhas, impressos, vídeos, rádio e demais
instrumentos de comunicação e difusão.
III – estruturação da Rede Nacional de
Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST)
no contexto da Rede de Atenção à Saúde, o que
pressupõe:
a) ações de Saúde do Trabalhador junto à
atenção primária em saúde:
1. reconhecimento e mapeamento das
atividades produtivas no território;
2. reconhecimento e identificação da
população trabalhadora e seu perfil sócio
ocupacional no território;
3. reconhecimento e identificação

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dos potenciais riscos e impactos (perfil de
morbimortalidade) à saúde dos trabalhadores, das
comunidades e ao meio ambiente, advindos das
atividades produtivas no território;
4. identificação da rede de apoio social aos
trabalhadores no território;
5. inclusão, dentre as prioridades de maior
vulnerabilidade em saúde do trabalhador,
das seguintes situações: chefe da família
desempregado ou subempregado, crianças e
adolescentes trabalhando, gestantes ou nutrizes
trabalhando, algum membro da família portador
de algum agravo à saúde relacionado com o
trabalho (acidente ou doença) e presença de
atividades produtivas no domicílio;
6. identificação e registro da situação de
trabalho, da ocupação e do ramo de atividade
econômica dos usuários das unidades e serviços de
atenção primária em saúde;
7. suspeita e ou identificação da relação entre
o trabalho e o problema de saúde apresentado
pelo usuário, para fins de diagnóstico e notificação
dos agravos relacionados ao trabalho;
8. notificação dos agravos relacionados
ao trabalho no Sinan e no SIAB e, emissão de
relatórios e atestados médicos, incluindo o laudo
de exame médico da Comunicação de Acidente do
Trabalho (CAT), nos casos pertinentes;
9. subsídio à definição da rede de referência
e contrarreferência e estabelecimento dos fluxos
e instrumentos para os encaminhamentos
necessários;
10. articulação com as equipes técnicas e os
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador
(CEREST) sempre que necessário, para a prestação
de retaguarda técnica especializada, considerando
seu papel no apoio matricial a toda rede SUS;

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11. definição e implantação de condutas equipes dos Núcleos de Vigilância Epidemiológica
e manejo assistenciais, de promoção e de Hospitalar, onde houver;
vigilância em saúde do trabalhador, mediante 5. encaminhamento para a rede de referência
a aplicação de protocolos, de linhas de cuidado e contrarreferência, para fins de continuidade do
e de projetos terapêuticos para os agravos, e de tratamento, acompanhamento e reabilitação,
linhas guias para a vigilância de situações de riscos seguindo os fluxos e instrumentos definidos para tal;
relacionados ao trabalho; 6. articulação com as equipes técnicas e os
12. incorporação de conteúdos de saúde do CEREST sempre que necessário para a prestação de
trabalhador nas estratégias de capacitação e de retaguarda técnica especializada, considerando seu
educação permanente para as equipes da atenção papel no apoio matricial a toda rede SUS;
primária em saúde; 7. harmonização dos conceitos dos eventos/
b) ações de saúde do trabalhador junto à agravos e unificação das fichas de notificação dos
urgência e emergência: casos de acidentes de trabalho, outros acidentes e
1. identificação e registro da situação de violências;
trabalho, da ocupação e do ramo de atividade 8. incorporação de conteúdos de saúde do
econômica dos usuários dos pontos de atenção trabalhador nas estratégias de capacitação e de
às urgências e emergências, nas redes estaduais e educação permanente para as equipes dos pontos
municipais; de atenção às urgências e emergências;
2. identificação da relação entre o trabalho e o 9. estabelecimento de parcerias intersetoriais
acidente, violência ou intoxicação exógena sofridos e referência e contrarreferência com as unidades de
pelo usuário, com decorrente notificação do agravo atendimento e serviços das Secretarias de Segurança
no Sinan e adequado registro no SIH-SUS para os Pública, Institutos Médico Legais, e setores/
casos que requererem hospitalização; departamentos de trânsito e transporte;
3. preenchimento do laudo de exame médico c) ações de saúde do trabalhador junto à
da CAT nos casos pertinentes; atenção especializada (ambulatorial e hospitalar):
4. acompanhamento desses casos pelas 1. identificação e registro da situação de

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trabalho, da ocupação e do ramo de atividade desenvolvimento, mecanismos de fomento e
econômica dos usuários dos pontos de atenção incentivos específicos;
especializada, nas redes estaduais e municipais; b) fiscalização conjunta onde houver trabalho
2. suspeita ou identificação da relação entre em condições insalubres, perigosas e degradantes,
o trabalho e o agravo à saúde do usuário, com como nas carvoarias, madeireiras, canaviais,
decorrente notificação do agravo no Sinan; construção civil, agricultura em geral, calcareiras,
3. preenchimento do laudo de exame médico mineração, entre outros, envolvendo os Ministérios
da CAT nos casos pertinentes; do Trabalho e Emprego, da Previdência Social e do
4. encaminhamento para a rede de referência Meio Ambiente, o SUS e o Ministério Público; e
e contrarreferência, para fins de continuidade do c) compartilhamento e publicização das
tratamento, acompanhamento e reabilitação, informações produzidas por cada órgão e instituição,
seguindo os fluxos e instrumentos definidos para tal; inclusive por meio da constituição de observatórios,
5. articulação com as equipes técnicas e os de modo a viabilizar a adequada análise de situação,
CEREST sempre que necessário para a prestação de estabelecimento de prioridades, tomada de decisão
retaguarda técnica especializada, considerando seu e monitoramento das ações;
papel no apoio matricial a toda rede SUS; e V – estímulo à participação da comunidade, dos
6. incorporação de conteúdos de saúde do trabalhadores e do controle social, o que pressupõe:
trabalhador nas estratégias de capacitação e de a) acolhimento e resposta às demandas dos
educação permanente para as equipes dos pontos representantes da comunidade e do controle social;
de atenção especializada; b) buscar articulação com entidades,
IV – fortalecimento e ampliação da articulação instituições, organizações não governamentais,
intersetorial, o que pressupõe: associações, cooperativas e demais representações
a) aplicação de indicadores de avaliação de categorias de trabalhadores, presentes no
de impactos à saúde dos trabalhadores e das território, inclusive as inseridas em atividades
comunidades nos processos de licenciamento informais de trabalho e populações em situação de
ambiental, de concessão de incentivos ao vulnerabilidade;

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c) estímulo à participação de representação equipes de saúde, incluindo os técnicos dos centros
dos trabalhadores nas instâncias oficiais de de referência e das vigilâncias, nas três esferas de
representação social do SUS, a exemplo dos gestão do SUS, mediante concurso público;
conselhos e comissões intersetoriais, nas três b) inserção de especificação da atribuição
esferas de gestão do SUS; de inspetor de vigilância aos técnicos em saúde
d) apoiar o funcionamento das Comissões do trabalhador nos planos de carreira, cargos e
Intersetoriais de Saúde do Trabalhador (CIST) dos vencimentos, nas esferas estadual e municipal;
Conselhos de Saúde, nas três esferas de gestão c) inserção de conteúdos de saúde do trabalhador
do SUS; nos diversos processos formativos e estratégias de
e) inclusão da comunidade e do controle educação permanente, cursos e capacitações, para
social nos programas de capacitação e educação profissionais de nível superior e nível médio, com
permanente em saúde do trabalhador, sempre destaque àqueles destinados às equipes de Vigilância
que possível, e inclusão de conteúdos de saúde em Saúde, à Saúde da Família e aos gestores;
do trabalhador nos processos de capacitação d) capacitação para aplicação de protocolos,
permanente voltados para a comunidade e o linhas guias e linhas de cuidado em saúde do
controle social, incluindo grupos de trabalhadores trabalhador, com ênfase à identificação da relação
em situação de vulnerabilidade, com vistas às saúde-trabalho, ao diagnóstico e manejo dos
ações de promoção em saúde do trabalhador; acidentes e das doenças relacionadas ao trabalho,
f) transparência e facilitação do acesso às incluindo a reabilitação, à vigilância de agravos,
informações aos representantes da comunidade, de ambientes e de processos de trabalho e à
dos trabalhadores e do controle social; produção de análise da situação de saúde;
VI – desenvolvimento e capacitação de e) capacitação voltada à aplicação de medidas
recursos humanos, o que pressupõe: básicas de promoção, prevenção e educação em
a) adoção de estratégias para a progressiva saúde e às orientações quanto aos direitos dos
desprecarização dos vínculos de trabalho das trabalhadores;

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f) estabelecimento de referências e conteúdos organizações sindicais, ONG, entre outras; e
curriculares para a formação de profissionais em k) apoio à capacitação voltada para os interesses
saúde do trabalhador, de nível técnico e superior; do movimento social, movimento sindical e controle
g) produção de tecnologias mistas de educação social, em consonância com as ações e diretrizes
presencial e à distância e publicização de tecnologias estratégicas do SUS e com a legislação de regência;
já existentes, com estabelecimento de processos VII – apoio ao desenvolvimento de estudos e
e métodos de acompanhamento, avaliação e pesquisas, o que pressupõe:
atualização dessas tecnologias; a) articulação estreita entre os serviços e
h) articulação intersetorial com Ministérios instituições de pesquisa e universidades, com
e Secretarias de Governo, especialmente com o envolvimento de toda a rede de serviços do SUS
Ministério da Educação, para fins de inclusão de na construção de saberes, normas, protocolos,
conteúdos temáticos de saúde do trabalhador nos tecnologias e ferramentas, voltadas à produção de
currículos do ensino fundamental e médio, da respostas aos problemas e necessidades identificadas
rede pública e privada, em cursos de graduação e pelos serviços, comunidade e controle social;
de programas específicos de pós-graduação em b) adoção de critérios epidemiológicos e de
sentido amplo e restrito, possibilitando a articulação relevância social para a identificação e definição
ensino/pesquisa/extensão, bem como nos cursos das linhas de investigação, estudos e pesquisas, de
voltados à qualificação profissional e empresarial; modo a fornecer respostas e subsídios técnico-
i) investimento na qualificação de todos os científicos para o enfrentamento de problemas
técnicos dos CEREST, no mínimo, em nível de prioritários no contexto da saúde do trabalhador;
especialização; c) desenvolvimento de projetos de pesquisa-
j) integração com órgãos de fomento de intervenção que possam ser estruturantes para a
pesquisa, nacionais e internacionais e com saúde do trabalhador no SUS, que articulem as ações
instituições responsáveis pelo processo educativo de promoção, vigilância, assistência, reabilitação e
como universidades, centros de pesquisa, produção e comunicação de informações, e resultem

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em produção de tecnologias de intervenção em a divulgação e aplicação dos seus resultados; e
problemas prioritários em cada território; h) garantia, pelos gestores, da observância
d) definição de linhas prioritárias de pesquisa dos preceitos éticos no desenvolvimento de
para a produção de conhecimento e de respostas estudos e pesquisas realizados no âmbito da rede
às questões teórico conceituais do campo da saúde de serviços do SUS, mediante a participação dos
do trabalhador, de modo a preencher lacunas e Comitês de Ética em Pesquisa nesses processos.
produzir modelos teóricos que contribuam para a § 1º A análise da situação de saúde dos
melhoria da promoção, da vigilância e da atenção trabalhadores, de que trata o inciso II deste
à saúde dos trabalhadores; artigo, compreende o monitoramento contínuo
e) incentivo à pesquisa e aplicação de de indicadores e das situações de risco, com
tecnologias limpas e/ou com reduzido impacto vistas a subsidiar o planejamento das ações e das
à saúde dos trabalhadores e ao meio ambiente, intervenções em saúde do trabalhador, de forma
bem como voltadas à produção de alternativas mais abrangente, no território nacional, no Estado,
e substituição de produtos e processos já região, Município e nas áreas de abrangência das
reconhecidos como danosos à saúde, e formas de equipes de atenção à saúde.
organização de trabalho saudáveis; § 2º No que se refere à análise da situação de
f) estabelecimento de rede de centros de saúde dos trabalhadores, de que trata o inciso II
pesquisa colaboradores na construção de saberes, deste artigo, dever-se-á promover a articulação
normas, protocolos, tecnologias e ferramentas, das redes de informações, que se baseará nos
voltadas à produção de respostas aos problemas seguintes pressupostos:
e necessidades identificadas pelos serviços, I - concepção de que as informações em
comunidade e controle social; saúde do trabalhador, presentes em diversas bases
g) estabelecimento de mecanismos que e fontes de dados, devem estar em consonância
garantam a participação da comunidade e com os princípios e diretrizes da Política Nacional
das representações dos trabalhadores no de Informações e Informática do SUS;
desenvolvimento dos estudos e pesquisas, incluindo II - necessidade de estabelecimento de

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processos participativos nas definições e na acumuladas pelos Estados e Municípios nessa área;
produção de informações de interesse à saúde do II - abranger todos os profissionais vinculados
trabalhador; ao SUS, independente da especialidade e nível
III - empreendimento sistemático de atuação – atenção básica ou especializada, os
e permanente de ações, com vistas ao inseridos em programas e estratégias específicos,
aprimoramento e melhoria da qualidade das como, por exemplo, agentes comunitários
informações; de saúde, saúde da família, saúde da mulher,
IV - compartilhamento de informações de saúde do homem, saúde mental, vigilância
interesse para a saúde do trabalhador, mediante epidemiológica, vigilância sanitária e em saúde
colaboração intra e intersetorial, entre as esferas ambiental, entre outros;
de governo, e entre instituições, públicas e III - considerar, sempre que possível, com
privadas, nacionais e internacionais; graus de prioridade distintos, as necessidades de
V - necessidade de estabelecimento de outras instituições públicas e privadas – sindicatos
mecanismos de publicização e garantia de acesso de trabalhadores e patronais, organizações não
pelos diversos públicos interessados; e governamentais (ONG) e empresas que atuam
VI - zelo pela privacidade e confidencialidade na área de modo interativo com o SUS, em
de dados individuais identificados, garantindo consonância com a legislação de regência; e
o acesso necessário às autoridades sanitárias no IV - contemplar estratégias de articulação e
exercício das ações de vigilância. de inserção de conteúdos de saúde do trabalhador
§ 3º O processo de capacitação em saúde do nos diversos cursos de graduação das áreas de
trabalhador, de que trata o inciso VI deste artigo, saúde, engenharias, ciências sociais, entre outros,
deverá: além de outros que apresentem correlação com a
I - contemplar as diversidades e área da saúde, de modo a viabilizar a preparação
especificidades loco-regionais, incorporar os dos profissionais desde a graduação, incluindo
princípios do trabalho cooperativo, interdisciplinar a oferta de vagas para estágios curriculares e
e em equipe multiprofissional e as experiências extracurriculares.

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CAPÍTULO IV
DAS RESPONSABILIDADES
Seção I

Das Atribuições dos Gestores do SUS


Art. 10. São responsabilidades da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Município, em seu
âmbito administrativo, além de outras que venham
a ser pactuadas pelas Comissões Intergestores:
I – garantir a transparência, a integralidade e a
equidade no acesso às ações e aos serviços de saúde
do trabalhador;
II – orientar e ordenar os fluxos das ações e dos
serviços de saúde do trabalhador;
III – monitorar o acesso às ações e aos serviços
de saúde do trabalhador;
IV – assegurar a oferta regional das ações e dos
serviços de saúde do trabalhador;
V – estabelecer e garantir a articulação
sistemática entre os diversos setores responsáveis
pelas políticas públicas, para analisar os diversos
problemas que afetam a saúde dos trabalhadores
e pactuar uma agenda prioritária de ações
intersetoriais; e
VI – desenvolver estratégias para identificar
situações que resultem em risco ou produção de
agravos à saúde, adotando e ou fazendo adotar
medidas de controle quando necessário.
Art. 11. À direção nacional do SUS compete:
I - coordenar, em âmbito nacional, a
implementação da Política Nacional de Saúde do
Trabalhador e da Trabalhadora;
II - conduzir as negociações nas instâncias do
SUS, visando inserir ações, metas e indicadores

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de saúde do trabalhador no Plano Nacional de programação e avaliação das ações de atenção à
Saúde e na Programação Anual de Saúde, a partir saúde do trabalhador;
de planejamento estratégico que considere a X - promover a articulação intersetorial com
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da vistas à promoção de ambientes e processos de
Trabalhadora; trabalho saudáveis e ao acesso às informações
III - alocar recursos orçamentários e financeiros e bases de dados de interesse à saúde dos
para a implementação desta Política, aprovados no trabalhadores;
Conselho Nacional de Saúde (CNS); XI - participar da elaboração de propostas
IV - desenvolver estratégias visando o normativas e elaborar normas pertinentes à sua
fortalecimento da participação da comunidade, dos área de atuação, com a participação de outros
trabalhadores e do controle social, incluindo o apoio atores sociais como entidades representativas dos
e fortalecimento da Comissão Intersetorial de Saúde trabalhadores, universidades e organizações não-
do Trabalhador (CIST) do CNS; governamentais;
V - apoiar tecnicamente as Secretarias de Saúde XII - promover a formação e a capacitação em
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na saúde do trabalhador dos profissionais de saúde
implementação e execução da Política Nacional de do SUS, junto à Política Nacional de Educação
Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; Permanente em Saúde, bem como estimular a
VI - promover a incorporação de ações e parceria entre os órgãos e instituições pertinentes
procedimentos de vigilância e de assistência à saúde para formação e capacitação da comunidade, dos
do trabalhador junto à Rede de Atenção à Saúde, trabalhadores e do controle social, em consonância
considerando os diferentes níveis de complexidade, com a legislação de regência;
tendo como centro ordenador a Atenção Primária XIII - desenvolver estratégias de comunicação
em Saúde; e elaborar materiais de divulgação visando
VII - monitorar, em conjunto com as Secretarias disponibilizar informações do perfil produtivo e
Estaduais e Municipais de Saúde, os indicadores epidemiológico relativos à saúde dos trabalhadores;
pactuados para avaliação das ações e serviços de XIV - conduzir a revisão periódica da listagem
saúde dos trabalhadores; oficial de doenças relacionadas ao trabalho no
VIII - estabelecer rotinas de sistematização, território nacional e a inclusão do elenco prioritário
processamento, análise e divulgação dos dados de agravos relacionados ao trabalho na listagem
gerados nos Municípios e nos Estados a partir dos nacional de agravos de notificação compulsória; e
sistemas de informação em saúde, de acordo com XV - regular, monitorar, avaliar e auditar as
os interesses e necessidades do planejamento ações e serviços de saúde do trabalhador, no âmbito
estratégico da Política Nacional de Saúde do de sua competência.
Trabalhador e da Trabalhadora; Art. 12. À direção estadual do SUS compete:
IX - elaborar perfil produtivo e epidemiológico, I - coordenar, em âmbito estadual, a
a partir de fontes de informação existentes e implementação da Política Nacional de Saúde do
de estudos específicos, com vistas a subsidiar a Trabalhador e da Trabalhadora;

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II - conduzir as negociações nas instâncias VII - realizar a pactuação regional e estadual
estaduais do SUS, visando inserir ações, metas das ações e dos indicadores de promoção, vigilância
e indicadores de saúde do trabalhador no Plano e assistência à saúde do trabalhador;
Estadual de Saúde e na Programação Anual de VIII - monitorar, em conjunto com as
Saúde, a partir de planejamento estratégico Secretarias Municipais de Saúde, os indicadores
que considere a Política Nacional de Saúde do pactuados para avaliação das ações e serviços de
Trabalhador e da Trabalhadora; saúde dos trabalhadores;
III – pactuar e alocar recursos orçamentários IX - regular, monitorar, avaliar e auditar as
e financeiros, para a implementação da ações e a prestação de serviços em saúde do
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da trabalhador, no âmbito de sua competência;
Trabalhadora, pactuados nas instâncias de gestão e X - garantir a implementação, nos serviços
aprovados no Conselho Estadual de Saúde (CES); públicos e privados, da notificação compulsória
IV - desenvolver estratégias visando o dos agravos à saúde relacionados ao trabalho,
fortalecimento da participação da comunidade, assim como do registro dos dados pertinentes à
dos trabalhadores e do controle social, incluindo o saúde do trabalhador no conjunto dos sistemas de
apoio e fortalecimento da CIST do CES; informação em saúde, alimentando regularmente
V - apoiar tecnicamente e atuar de forma os sistemas de informações em seu âmbito de
integrada com as Secretarias Municipais de atuação, estabelecendo rotinas de sistematização,
Saúde na implementação das ações de saúde do processamento e análise dos dados gerados
trabalhador; nos municípios, de acordo com os interesses e
VI - organizar as ações de promoção, vigilância necessidades do planejamento desta Política;
e assistência à saúde do trabalhador nas regiões XI - elaborar, em seu âmbito de competência,
de saúde, considerando os diferentes níveis de perfil produtivo e epidemiológico, a partir de fontes
complexidade, tendo como centro ordenador de informação existentes e de estudos específicos,
a Atenção Primária em Saúde, definindo, em com vistas a subsidiar a programação e avaliação
conjunto com os municípios, os mecanismos e os das ações de atenção à saúde do trabalhador;
fluxos de referência, contrarreferência e de apoio XII - participar da elaboração de propostas
matricial, além de outras medidas, para assegurar o normativas e elaborar normas técnicas pertinentes
desenvolvimento de ações de promoção, vigilância à sua esfera de competência, com outros atores
e assistência em saúde do trabalhador; sociais como entidades representativas dos

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trabalhadores, universidades e organizações não III - conduzir as negociações nas instâncias
governamentais; municipais do SUS, visando inserir ações, metas
XIII - promover a formação e capacitação em e indicadores de saúde do trabalhador no Plano
saúde do trabalhador para os profissionais de saúde Municipal de Saúde e na Programação Anual
do SUS, inclusive na forma de educação continuada, de Saúde, a partir de planejamento estratégico
respeitadas as diretrizes da Política Nacional de que considere a Política Nacional de Saúde do
Educação Permanente em Saúde, bem como Trabalhador e da Trabalhadora;
estimular a parceria entre os órgãos e instituições IV – pactuar e alocar recursos orçamentários
pertinentes para formação e capacitação da e financeiros para a implementação da Política
comunidade, dos trabalhadores e do controle social, Nacional de Saúde do Trabalhador e da
em consonância com a legislação de regência; Trabalhadora, pactuados nas instâncias de gestão e
XIV - desenvolver estratégias de comunicação aprovados no Conselho Municipal de Saúde (CMS);
e elaborar materiais de divulgação visando V - desenvolver estratégias visando o
disponibilizar informações do perfil produtivo e fortalecimento da participação da comunidade,
epidemiológico relativos à saúde dos trabalhadores; dos trabalhadores e do controle social, incluindo o
XV - definir e executar projetos especiais em apoio e fortalecimento da CIST do CMS;
questões de interesse loco-regional, em conjunto VI - constituir referências técnicas em saúde
com as equipes municipais, quando e onde couber; e do trabalhador e/ou grupos matriciais responsáveis
XVI - promover, no âmbito estadual, a pela implementação da Política Nacional de Saúde
articulação intersetorial com vistas à promoção do Trabalhador e da Trabalhadora;
de ambientes e processos de trabalho saudáveis VII - participar, em conjunto com o Estado,
e ao acesso às informações e bases de dados de da definição dos mecanismos e dos fluxos de
interesse à saúde dos trabalhadores. referência, contrarreferência e de apoio matricial,
Art. 13. Compete aos gestores municipais de além de outras medidas, para assegurar o
saúde: desenvolvimento de ações de promoção, vigilância
I - executar as ações e serviços de saúde do e assistência em saúde do trabalhador;
trabalhador; VIII - articular-se regionalmente para integrar a
II - coordenar, em âmbito municipal, a organização, o planejamento e a execução de ações
implementação da Política Nacional de Saúde do e serviços de saúde quando da identificação de
Trabalhador e da Trabalhadora; problemas e prioridades comuns;

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IX - regular, monitorar, avaliar e auditar as parceria entre os órgãos e instituições pertinentes
ações e a prestação de serviços em saúde do para formação e capacitação da comunidade, dos
trabalhador, no âmbito de sua competência; trabalhadores e do controle social, em consonância
X - implementar, na Rede de Atenção à com a legislação de regência; e
Saúde do SUS, e na rede privada, a notificação XIV - promover, no âmbito municipal,
compulsória dos agravos à saúde relacionados articulação intersetorial com vistas à promoção
com o trabalho, assim como o registro dos dados de ambientes e processos de trabalho saudáveis
pertinentes à saúde do trabalhador no conjunto dos e ao acesso às informações e bases de dados de
sistemas de informação em saúde, alimentando interesse à saúde dos trabalhadores.
regularmente os sistemas de informações em
seu âmbito de atuação, estabelecendo rotinas de Seção II
sistematização, processamento e análise dos dados
gerados no Município, de acordo com os interesses e Das Atribuições dos CEREST e das Equipes
necessidades do planejamento da Política Nacional Técnicas
de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora; Art. 14. Cabe aos CEREST, no âmbito da
XI - instituir e manter cadastro atualizado RENAST:
de empresas classificadas nas diversas atividades I - desempenhar as funções de suporte
econômicas desenvolvidas no Município, com técnico, de educação permanente, de coordenação
indicação dos fatores de risco que possam ser de projetos de promoção, vigilância e assistência à
gerados para os trabalhadores e para o contingente saúde dos trabalhadores, no âmbito da sua área de
populacional direta ou indiretamente a eles abrangência;
expostos, em articulação com a vigilância em saúde II - dar apoio matricial para o desenvolvimento
ambiental; das ações de saúde do trabalhador na atenção
XII - elaborar, em seu âmbito de competência, primária em saúde, nos serviços especializados e de
perfil produtivo e epidemiológico, a partir de fontes urgência e emergência, bem como na promoção e
de informação existentes e de estudos específicos, vigilância nos diversos pontos de atenção da Rede
com vistas a subsidiar a programação e avaliação de Atenção à Saúde;
das ações de atenção à saúde do trabalhador; III - atuar como centro articulador e
XIII - capacitar, em parceria com as Secretarias organizador das ações intra e intersetoriais de
Estaduais de Saúde e com os CEREST, os saúde do trabalhador, assumindo a retaguarda
profissionais e as equipes de saúde do SUS, para técnica especializada para o conjunto de ações e
identificar e atuar nas situações de riscos à saúde serviços da rede SUS e se tornando polo irradiador
relacionados ao trabalho, assim como para o de ações e experiências de vigilância em saúde, de
diagnóstico dos agravos à saúde relacionados com caráter sanitário e de base epidemiológica.
o trabalho, em consonância com as diretrizes para § 1º As ações a serem desenvolvidas pelos
implementação da Política Nacional de Educação CEREST serão planejadas de forma integrada
Permanente em Saúde, bem como estimular a pelas equipes de saúde do trabalhador no âmbito

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das Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e das
Secretarias Municipais de Saúde (SMS), sob a
coordenação dos gestores.
§ 2º Para as situações em que o Município não
tenha condições técnicas e operacionais, ou para
aquelas definidas como de maior complexidade,
caberá às SES a execução direta de ações de
vigilância e assistência, podendo fazê-lo, em caráter
complementar ou suplementar, através dos CEREST.
§ 3º O apoio matricial, de que trata o inciso
II deste artigo, será equacionado a partir da
constituição de equipes multiprofissionais e do
desenvolvimento de práticas interdisciplinares,
com estabelecimento de relações de trabalho entre
a equipe de matriciamento e as equipes técnicas
de referência, na perspectiva da prática da clínica
ampliada, da promoção e da vigilância em saúde
do trabalhador.
Art. 15. As equipes técnicas de saúde do
trabalhador, nas três esferas de gestão, com o apoio
dos CEREST, devem garantir sua capacidade de
prover o apoio institucional e o apoio matricial para
o desenvolvimento e incorporação das ações de
saúde do trabalhador no SUS.
Parágrafo único. A execução do disposto no
caput deste artigo pressupõe, no mínimo:
I - a construção, em toda a Rede de Atenção
à Saúde, de capacidade para a identificação das
atividades produtivas e do perfil epidemiológico
dos trabalhadores nas regiões de saúde
definidas pelo Plano Diretor de Regionalização e
Investimentos (PDRI); e
II - a capacitação dos profissionais de saúde
para a identificação e monitoramento dos
casos atendidos que possam ter relação com as
ocupações e os processos produtivos em que estão
inseridos os usuários.

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CAPÍTULO V
DA AVALIAÇÃO E DO MONITORAMENTO
Art. 16. As metas e os indicadores para SUS, o qual é um processo dinâmico, contínuo
avaliação e monitoramento da Política Nacional e sistemático de pactuação de prioridades
de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e estratégias de saúde do trabalhador nos
devem estar contidos nos instrumentos de gestão âmbitos municipal, regional, estadual e federal,
definidos pelo sistema de planejamento do SUS: considerando os diversos sujeitos envolvidos neste
I - Planos de Saúde; processo.
II - Programações Anuais de Saúde; e Art. 17. A avaliação e o monitoramento da
III - Relatórios Anuais de Gestão. Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da
§ 1º O planejamento estratégico deve Trabalhadora, pelas três esferas de gestão do SUS,
contemplar ações, metas e indicadores de devem ser conduzidos considerando-se:
promoção, vigilância e atenção em saúde I – a inserção de ações de saúde do
do trabalhador, nos moldes de uma atuação trabalhador, considerando objetivos, diretrizes,
permanentemente articulada e sistêmica. metas e indicadores, no Plano de Saúde, na
§ 2º As necessidades de saúde do trabalhador Programação Anual de Saúde e no Relatório Anual
devem ser incorporadas no processo geral do de Gestão, em cada esfera de gestão do SUS;
planejamento das ações de saúde, mediante a II – a definição de que as ações de saúde
utilização dos instrumentos de pactuação do do trabalhador, em cada esfera de gestão,

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devem expressar com clareza e transparência os VII - a capacitação dos profissionais de saúde,
mecanismos e as fontes de financiamento; visando à implementação dos protocolos, das
III – o estabelecimento de investimentos nas linhas guias e das linhas de cuidado em saúde do
ações de vigilância, no desenvolvimento de ações trabalhador;
na Atenção Primária em Saúde e na regionalização VIII - a definição dos fluxos de referência,
como eixos prioritários para a aplicação dos contrarreferência e de apoio matricial, de acordo
recursos de saúde do trabalhador; com as diretrizes clínicas, as linhas de cuidado
IV – a definição de interlocutor para o tema pactuadas na Comissão Intergestores Regional
saúde do trabalhador nas três esferas de gestão (CIR) e na Comissão Intergestores Bipartite (CIB),
do SUS; garantindo a notificação compulsória dos agravos
V - a inclusão na Relação Nacional de Ações e relacionados ao trabalho; e
Serviços de Saúde (RENASES) de ações e serviços IX - o monitoramento e avaliação dos
de saúde do trabalhador; indicadores de saúde do trabalhador pactuados,
VI - a produção de protocolos, de linhas guias bem como o acompanhamento da evolução
e linhas de cuidado em saúde do trabalhador, de histórica e tendências dos indicadores de
acordo com os níveis de organização da vigilância morbimortalidade, nas esferas municipal, micro e
e atenção à saúde; macrorregionais, estadual e nacional.

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CAPÍTULO VI
DO FINANCIAMENTO
Art. 18. Além dos recursos dos fundos
nacionais, estaduais e municipais de saúde, fica
facultado aos gestores de saúde utilizar outras
fontes de financiamento, como:
I - ressarcimento ao SUS, pelos planos de saúde
privados, dos valores gastos nos serviços prestados
aos seus segurados, em decorrência de acidentes e
doenças relacionadas ao trabalho;
II - repasse de recursos advindos de
contribuições para a seguridade social;
III - criação de fundos especiais; e
IV - parcerias com organismos nacionais e
internacionais para financiamento de projetos
especiais, de desenvolvimento de tecnologias,
máquinas e equipamentos com maior proteção à
saúde dos trabalhadores, especialmente aqueles
voltados a cooperativas, da economia solidária e
pequenos empreendimentos.
Parágrafo único. Além das fontes de
financiamento previstas neste artigo, poderão ser
pactuados, nas instâncias intergestores, incentivos
específicos para as ações de promoção e vigilância
em saúde do trabalhador, a serem inseridos nos
pisos variáveis dos componentes de vigilância e
promoção da saúde e da vigilância sanitária.
Art. 19. Esta Portaria entra em vigor na data de
sua publicação.

ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA


Publicada no Diário Oficial da União - Ano CXLIX nº 165, Seção I,
pág. 46-51 - Brasília - DF, sexta-feira, 24 de agosto de 2012.

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ANEXO I
ELEMENTOS INFORMATIVOS DA POLÍTICA NACIONAL
DE SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA

Os elementos informativos consistem na trabalho e das repercussões sobre a sua saúde,


apresentação de conceitos e contextualização de bem como na formulação, no planejamento,
termos e conteúdos explicativos e conformadores acompanhamento e avaliação das intervenções
da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da sobre as condições geradoras dos agravos
Trabalhadora. relacionados ao trabalho. Cabe às diversas instâncias
Tem como finalidade precípua conferir caráter do SUS assumir como legítima a participação da
pedagógico e orientador à Política. sociedade nas decisões envolvendo as políticas de
1. A Relação Nacional de Ações e Serviços de saúde do trabalhador, estabelecendo-se relações
Saúde – RENASES compreende todas as ações éticas entre os representantes da comunidade,
e serviços que o SUS oferece ao usuário para dos trabalhadores e do controle social, gestores e
atendimento da integralidade que se inicia e se a equipe de saúde. A garantia da participação da
completa na Rede de Atenção à Saúde, mediante comunidade e do controle social na formulação, no
referenciamento do usuário na rede regional e planejamento, no acompanhamento e na avaliação
interestadual conforme pactuado na Comissão das políticas, contribui para o fortalecimento do
Intergestores Bipartite – CIB. A organização e a exercício da cidadania pela sociedade.
integração das ações e dos serviços de saúde sob 3. Deve-se, no âmbito da Política Nacional de
a responsabilidade dos entes federativos em uma Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, observar
região de saúde, inclusive as de saúde do trabalhador, a diretriz organizativa da descentralização, o que
com a finalidade de garantir a integralidade da requer a consolidação do papel do Município como
assistência aos usuários do SUS é objeto do Contrato instância efetiva de desenvolvimento das ações de
Organizativo de Ação Pública da Saúde. atenção à saúde do trabalhador em seu território, de
2. A participação da comunidade é um acordo com as necessidades e características de suas
princípio fundante do Sistema Único de Saúde populações.
(SUS), estabelecido na Constituição Federal de 4. No que toca à diretriz da hierarquização,
1988 e na Lei Orgânica da Saúde, tendo relevância a construção da atenção integral à saúde do
e especificidades na Política Nacional de Saúde trabalhador passa pela integração de todos os níveis
do Trabalhador e da Trabalhadora. Partindo de atuação do SUS, em função de sua complexidade
deste principio, a participação dos trabalhadores e densidade tecnológica, considerando sua
é essencial nos processos de identificação das organização em redes e sistemas solidários e
situações de risco presentes nos ambientes de compartilhados entre as três esferas de gestão e

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conforme a pactuação estadual e regional. das condições de trabalho e saúde. Refere-se ao
5. O direito à saúde constitui-se num direito compromisso ético, que devem assumir gestores
social derivado do direito à vida, estabelecido e profissionais de saúde nas ações desenvolvidas,
na Declaração Universal dos Direitos Humanos tanto no que diz respeito à dignidade dos
(Resolução 217ª, III, da Assembléia Geral da ONU, trabalhadores, ao direito à informação fidedigna, ao
10/09/1948). No Brasil, segundo a Constituição sigilo, no que couber, das informações relativas ao
Federal de 1988, o direito à saúde é um direito social seu estado de saúde e a sua individualidade, quanto
(Art. 6º) que decorre do princípio fundamental em relação ao direito de conhecimento sobre o
da dignidade humana (inciso III, Art. 1º), cabendo processo e os resultados das intervenções sanitárias,
ao Estado garanti-la mediante políticas sociais e de participação, inclusive na tomada de decisões.
e econômicas, que visem à redução do risco de 6. A incorporação do princípio da precaução nas
doença e de outros agravos e ao acesso universal e ações de saúde do trabalhador considera que, por
igualitário às ações e serviços para sua promoção, precaução, medidas devem ser implantadas visando
proteção e recuperação (Art. 196). prevenir danos à saúde dos trabalhadores, mesmo
Dessa forma, é dever do poder público na ausência da certeza científica formal da existência
prover as condições e as garantias para o exercício de risco grave ou irreversível à saúde. Busca, assim,
do direito individual e coletivo à saúde, com a prevenir possíveis agravos à saúde dos trabalhadores
ressalva de que o dever do Estado não exclui causados pela utilização de processos produtivos,
o das pessoas, da família, das empresas e da tecnologias, substâncias químicas, equipamentos
sociedade (art. 2º, parágrafo 2º da Lei Nº 8.080/90). e máquinas, entre outros. Requer, na tomada
A responsabilidade sanitária é comum às três de decisão em relação ao uso de determinadas
esferas de gestão do SUS – federal, estadual e tecnologias, que o ônus da prova científica passe
municipal, e deve ser desempenhada por meio da a ser atribuído aos proponentes das atividades
formulação, financiamento e gestão de políticas de suspeitas de danos à saúde e ao ambiente.
saúde que respondam às necessidades sanitárias, 7. A Vigilância em Saúde do Trabalhador
demográficas e socioculturais das populações e (VISAT) é um dos componentes do Sistema Nacional
superem as iniqüidades existentes. Nesse sentido, o de Vigilância em Saúde. Visa a promoção da saúde
caráter ético-político da ação sanitária em saúde do e a redução da morbimortalidade da população
trabalhador compreende o entendimento de que o trabalhadora, por meio da integração de ações que
objetivo e a justificativa da intervenção é a melhoria intervenham nos agravos e seus determinantes

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decorrentes dos modelos de desenvolvimento pedagógico que requer a participação dos sujeitos
e processos produtivos (Portaria GM/MS Nº e implica assumir compromisso ético em busca da
3.252/09). A especificidade de seu campo é dada melhoria dos ambientes e processos de trabalho.
por ter como objeto a relação da saúde com o Dessa maneira, a ação de VISAT deve ter caráter
ambiente e os processos de trabalho, abordada por proponente de mudanças e de intervenção sobre
práticas sanitárias desenvolvidas com a participação os fatores determinantes e condicionantes dos
dos trabalhadores em todas as suas etapas. Como problemas de saúde relacionados ao trabalho.
componente da vigilância em saúde e visando à - A importância das ações de promoção,
integralidade do cuidado, a VISAT deve inserir-se proteção e prevenção: partindo do entendimento de
no processo de construção da Rede de Atenção à que os problemas de saúde decorrentes do trabalho
Saúde, coordenada pela Atenção Primária à Saúde são potencialmente preveníveis, esta Política
(Portaria GM/MS Nº 3.252/09). Nesta perspectiva, deve fomentar a substituição de matérias-primas,
a VISAT é estruturante e essencial ao modelo de de tecnologias e de processos organizacionais
Atenção Integral em Saúde do Trabalhador. A prejudiciais à saúde por substâncias, produtos e
Vigilância em Saúde do Trabalhador compreende processos menos nocivos. As práticas de intervenção
uma atuação contínua e sistemática, ao longo do em VISAT devem orientar-se pela priorização de
tempo, no sentido de detectar, conhecer, pesquisar medidas de controle dos riscos na origem e de
e analisar os fatores determinantes e condicionantes proteção coletiva.
dos agravos à saúde relacionados aos processos - Interdisciplinaridade: a abordagem
e ambientes de trabalho, em seus aspectos multiprofissional sobre o objeto da vigilância em
tecnológico, social, organizacional e epidemiológico, saúde do trabalhador deve contemplar os saberes
com a finalidade de planejar, executar e avaliar técnicos, com a concorrência de diferentes áreas do
intervenções sobre esses aspectos, de forma a conhecimento e, fundamentalmente, o saber dos
eliminá-los ou controlá-los (Portaria GM/MS Nº trabalhadores, necessários para o desenvolvimento
3.120/98). Apresenta como características gerais: da ação.
- O caráter transformador: a Vigilância em - Pesquisa-intervenção: o entendimento de que
Saúde do Trabalhador constitui um processo a intervenção, no âmbito da vigilância em saúde

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do trabalhador, é o deflagrador de um processo a intervenção nos determinantes do processo saúde-
contínuo, ao longo do tempo, em que a pesquisa é doença dos trabalhadores, a atuação em situações
sua parte indissolúvel, subsidiando e aprimorando a de vulnerabilidade e de violação de direitos e na
própria intervenção. garantia da dignidade do trabalhador no trabalho.
- Articulação intrasetorial: a Vigilância em A articulação intra e intersetorial deve buscar a
Saúde do Trabalhador deve se articular com os adoção de estratégias que viabilizem a inserção
demais componentes da Vigilância em Saúde - de medidas de promoção e proteção da saúde dos
Vigilância Epidemiológica, Vigilância Sanitária, trabalhadores nas políticas, públicas e privadas,
Vigilância em Saúde Ambiental, Promoção da Saúde mediante a garantia da participação do setor saúde/
e Vigilância da Situação de Saúde. saúde do trabalhador na definição das políticas
- Articulação intersetorial: deve ser setoriais e intersetoriais. A indissociabilidade
compreendida como o exercício da transversalidade entre produção, trabalho, saúde e ambiente
entre as políticas de saúde do trabalhador e compreende que a saúde dos trabalhadores, e da
outras políticas setoriais, como Previdência, população geral, está intimamente relacionada às
Trabalho e Meio Ambiente, e aquelas relativas ao formas de produção e consumo e de exploração
desenvolvimento econômico e social, nos âmbitos dos recursos naturais e seus impactos no meio
federal, estadual e municipal. ambiente, nele compreendido o do trabalho.
- Pluriinstitucionalidade: articulação, com Nesta perspectiva, o principio da precaução deve
formação de redes e sistemas no âmbito da ser incorporado como norteador das ações de
vigilância em saúde e com as universidades, os promoção da saúde e de ambientes e processos de
centros de pesquisa e demais instituições públicas trabalho saudáveis, especialmente nas questões
com responsabilidade na área de saúde do relativas à sustentabilidade socioambiental dos
trabalhador, consumo e ambiente. processos produtivos. Isto implica a adoção do
8. A promoção da saúde e de ambientes conceito de sustentabilidade socioambiental, como
e processos de trabalho saudáveis deve ser integrador de políticas públicas, incorporando nas
compreendida como um conjunto de ações, políticas de desenvolvimento social e econômico
articuladas intra e intersetorialmente, que possibilite o entendimento de que a qualidade de vida e

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a saúde envolvem o direito de trabalhar e viver ações de saúde do trabalhador devem contemplar as
em ambientes saudáveis e com dignidade, e, ao especificidades dos perfis das atividades produtivas
mesmo tempo, evitando o aprofundamento das e da população trabalhadora, considerando
iniquidades e das injustiças sociais. A dignidade no os problemas de saúde deles advindos, e sua
trabalho refere-se à garantia da manutenção de distribuição nos territórios, em coerência à análise da
relações éticas e de respeito nos locais de trabalho, situação de saúde dos trabalhadores.
o reconhecimento do direito dos trabalhadores à 10. Integração da Vigilância em Saúde do
informação, à participação e à livre manifestação. Trabalhador com os demais componentes da
Compreende também o entendimento da defesa e Vigilância em Saúde e com a Atenção Primária em
da promoção da qualidade de vida e da saúde como Saúde:
valores absolutos e universais. - Considerando que a vigilância em saúde do
9. A integralidade da assistência à saúde se inicia trabalhador compreende um conjunto de ações e
e se completa na Rede de Atenção à Saúde, mediante práticas que envolvem desde a vigilância sobre os
referenciamento do usuário na rede regional e agravos relacionados ao trabalho, tradicionalmente
interestadual, conforme pactuado nas Comissões reconhecida como vigilância epidemiológica;
Intergestores, incluindo ações de promoção, intervenções sobre fatores de risco, ambientes
vigilância, diagnóstico, tratamento, recuperação e processos de trabalho, compreendendo ações
e reabilitação, a partir do reconhecimento das de vigilância sanitária até as ações relativas ao
necessidades de saúde da população. Cumpre acompanhamento de indicadores para fins de
ressaltar que esta Política Nacional de Saúde avaliação da situação de saúde e articulação de
do Trabalhador e da Trabalhadora tem como ações de promoção da saúde e de prevenção de
componente estruturante a Vigilância em Saúde do riscos, fica clara a existência de interfaces com os
Trabalhador, a ser desenvolvida de forma articulada demais componentes da vigilância em saúde.
com os demais componentes da Vigilância em Saúde - Frequentemente os riscos advindos dos
e, especialmente, com a Atenção Primária à Saúde. processos produtivos extrapolam os limites dos
A organização da atenção e o planejamento das ambientes de trabalho e atingem, em maior ou

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menor grau, as comunidades e populações no o perfil produtivo e da população trabalhadora
entorno, ou até de locais mais distantes. Por outro em seu território. Para viabilizar essas ações é
lado, problemas de saúde, endemias e epidemias fundamental a integração das vigilâncias com a
que atingem a população geral também afetam Atenção Primária à Saúde.
grupos de trabalhadores ou locais de trabalho - A nova política nacional de atenção básica
específicos. Assim, pode-se observar certa preconiza a inserção de profissionais especializados
superposição de ambientes, lugares e pessoas, como uma possibilidade de apoio matricial a
que resultam na confluência de objetos e campos ser desenvolvido pelo NASF, conforme sua nova
de atuação entre as vigilâncias epidemiológica, regulamentação, o que demanda a articulação entre
sanitária, em saúde ambiental e de saúde do as equipes técnicas envolvidas nas ações de saúde
trabalhador, incluindo o papel das redes, nacional do trabalhador.
e estadual, de laboratórios de saúde pública e dos 11. Análise do perfil produtivo e da situação
setores responsáveis pelo acompanhamento e de saúde dos trabalhadores: o conhecimento da
monitoramento das informações em saúde. situação de saúde dos trabalhadores depende
- O fortalecimento da capacidade de atuação fundamentalmente da produção e sistematização
e das competências técnicas e legais da vigilância das informações existentes em diversas fontes de
em saúde do trabalhador e a integração das práticas dados e de interesse para o desenvolvimento das
entre as vigilâncias são, portanto, estratégicas para políticas de saúde do trabalhador, envolvendo o
a obtenção de melhores resultados na proteção da conhecimento sobre o perfil das atividades produtivas,
saúde dos trabalhadores. da população trabalhadora, a realidade do mundo do
- Por outro lado, considerando a integralidade trabalho, e a análise do perfil de morbimortalidade
do cuidado e seu papel estruturante no processo dos trabalhadores e de outros indicadores sociais,
de construção da Rede de Atenção à Saúde, nos territórios. A análise da situação de saúde dos
cabe também à Atenção Primária à Saúde o trabalhadores visa subsidiar o planejamento e a
desenvolvimento de ações de VISAT, em seu tomada de decisão dos gestores nas diversas esferas
âmbito de atuação e complexidade, e conforme de gestão do SUS, assim como servir aos interesses

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e necessidades dos trabalhadores e da população.
Além disso, deve subsidiar a permanente avaliação
das políticas públicas e privadas, das empresas, dos
trabalhadores e seus sindicatos, contribuindo inclusive
na revisão, atualização e proposição de normas
técnicas e legais. Para tal, as informações devem ser
oportunas, fidedignas, inteligíveis e de fácil acesso.
12. Considerando o princípio de que a saúde
do trabalhador é uma ação transversal a ser
incorporada em todos os níveis de atenção e esferas
de gestão do SUS, a capacidade de identificação
da relação entre o trabalho e o processo saúde-
doença deve ser implementada desde a atenção
primária até o nível terciário, na Rede de Atenção à
Saúde, incluindo as ações de Vigilância em Saúde.
Ao mesmo tempo em que esses níveis de atenção
se estabelecem com a lógica operacional da
hierarquização e da regionalização, deve-se buscar
o seu funcionamento enquanto rede solidária,
resolutiva e de compartilhamento de saberes,
práticas e de produção de conhecimento.
13. Ações de Saúde do Trabalhador junto à
Atenção Primária em Saúde (APS):
A Atenção Primária em Saúde é ordenadora da
Rede de Atenção à Saúde do SUS, conforme consta
na Portaria GM/MS Nº 4.279, de 30 de dezembro de
2010. Nesse sentido, as equipes da APS e de saúde
do trabalhador devem atuar de forma articulada
para garantir o desenvolvimento de ações no âmbito
individual e coletivo, abrangendo a promoção e
proteção da saúde dos trabalhadores, a prevenção
de agravos relacionados ao trabalho, o diagnóstico,
tratamento, reabilitação e manutenção da saúde.
A ação da APS é desenvolvida por meio
do exercício de práticas gerenciais e sanitárias
democráticas e participativas, sob a forma de trabalho
em equipe, dirigidas a populações de territórios bem

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delimitados, considerando a dinamicidade existente
no território em que vivem essas populações. Assim,
cabe à APS considerar sempre que os territórios são
espaços sociopolíticos dinâmicos, com trabalhadores
residentes e não residentes, executando atividades
produtivas e de trabalho em locais públicos e privados,
peri e intradomiciliares.
14. Ações de Saúde do Trabalhador junto à
Urgência e Emergência:
Os pontos de atenção às urgências e
emergências constituem lócus privilegiado para a
identificação dos casos de acidentes de trabalho
graves e fatais, incluindo as intoxicações exógenas,
assim como para o devido encaminhamento das
informações aos setores de vigilância em saúde
(e vigilância em saúde do trabalhador). Dada a
frequência e gravidade desses casos, que são de
notificação compulsória, aumenta a importância
estratégica deste nível de atenção à saúde do
SUS, possibilitando, a partir da notificação, o
desencadeamento de medidas de prevenção e
controle nos ambientes e locais de trabalho. Desse
modo, a articulação desta Política com a Política
Nacional de Urgência e Emergência e com a Política
Nacional de Redução de Morbimortalidade por
Acidentes e Violências, e seus desdobramentos nos
estados e municípios, são estratégicos para a garantia
da integralidade da atenção à saúde do trabalhador.
15. Ações de Saúde do Trabalhador junto à
Atenção Especializada (Ambulatorial e Hospitalar):
Considerando a lógica operacional da
hierarquização e da regionalização das ações e
serviços de saúde, os pontos de atenção especializada
são essenciais para a garantia da integralidade
do cuidado aos trabalhadores portadores de
agravos à saúde relacionados ao trabalho. Assim,
diagnóstico, tratamento e reabilitação desses agravos

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devem ser viabilizados na rede, conforme o perfil - A intersetorialidade permite o
epidemiológico e as necessidades de saúde do estabelecimento de espaços compartilhados
trabalhador em cada região. entre instituições e setores de governos e entre
16. Fortalecimento e ampliação da articulação diferentes esferas de governo – federal, estadual
intersetorial: e municipal, que atuam na produção da saúde, na
- A atuação intersetorial é pressuposto formulação, implementação e acompanhamento
constituinte da Política Nacional de Saúde do de políticas, públicas e privadas, que possam ter
Trabalhador e da Trabalhadora e condição para a impacto sobre a saúde da população. Nos estados
obtenção de impactos positivos na intervenção nos e municípios envolve órgãos dos governos locais,
determinantes das condições de saúde e trabalho. estaduais e municipais, estruturas derivadas dos
- Deve ser entendida como a “... articulação entre ministérios que atuam nas regiões, tais como
sujeitos de setores sociais diversos, saberes, poderes Superintendências Regionais do Trabalho e Emprego
e vontades, para enfrentar problemas complexos. (SRTE), Superintendências Regionais do Instituto
É uma nova forma de trabalhar, de governar e Nacional de Seguridade Social (INSS) e unidades
de construir políticas públicas que possibilitem a descentralizadas da Fundacentro, Ministério Público,
superação da fragmentação dos conhecimentos universidades, centros de pesquisas, entre outros.
e das estruturas sociais para produzir efeitos mais 17. Estímulo à participação da comunidade, dos
significativos na saúde da população”. (Rede Unida) trabalhadores e do controle social:
- Sua prática possibilita o estabelecimento de - O fortalecimento e a ampliação da
estratégias de planejamento conjunto e articulado participação da comunidade, dos trabalhadores e
entre as políticas públicas, de modo a garantir a do controle social, na formulação, no planejamento,
transversalidade das questões de saúde do trabalhador, na gestão e no desenvolvimento das políticas e das
de forma complementar, cooperativa e solidária. ações em saúde do trabalhador, devem considerar

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as configurações do mundo do trabalho, as controle social do SUS e deve estar em consonância
mudanças nos processos produtivos e na estrutura com os princípios e diretrizes da Política de Gestão
sindical, e o crescimento das relações informais e Estratégica e Participativa do SUS.
precárias de trabalho. 18. Desenvolvimento e capacitação de recursos
- Isso requer a busca de alternativas para a humanos
ampliação da representação dos trabalhadores nas - A capacitação dos profissionais para o
instâncias de participação e controle social. Dessa desenvolvimento das ações em saúde do trabalhador
forma, além dos trabalhadores inseridos no mercado tem importância estratégica na operacionalização
formal de trabalho e suas organizações sindicais, desta Política. Essa qualificação deverá considerar
sugerem-se esforços que equacionem a participação a necessidade de harmonização dos conceitos e
de outras representações sociais que congreguem valores, e de mudanças nos processos de trabalho e
os trabalhadores de setores da economia informal, nas práticas de saúde das equipes multiprofissionais
de produção agrícola, pescadores, comunidades nas três esferas de gestão do SUS, de modo a operar
tradicionais, trabalhadores rurais sem terra, efetivamente como redes de atenção solidárias e
quilombolas, trabalhadores autônomos e outros; compartilhadas e na perspectiva de viabilização de
dos empregadores; de grupos sociais e movimentos apoio institucional e matricial.
ambientalistas; com vistas à identificação de - Esse processo – abrangendo as esferas
soluções e compromissos que favoreçam a cognitivas e das competências, habilidades e
promoção e a proteção da saúde de todos os atitudes – deverá proporcionar a preparação de
trabalhadores. profissionais, em quantidade suficiente, envolvendo a
- A participação da comunidade, dos qualificação nas dimensões da gestão, planejamento
trabalhadores e do controle social em saúde do e acompanhamento, da vigilância de agravos e dos
trabalhador deve ser concebida como parte do ambientes e processos de trabalho, da assistência

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(diagnóstico, tratamento e reabilitação), da produção
de informações e comunicação em saúde e da
organização dos serviços. Entre as habilidades a
serem incentivadas, figura a de permanente diálogo
com as demais instituições responsáveis pelas ações
de saúde dos trabalhadores, os trabalhadores e os
empregadores, para que se efetive o controle social.
19. Garantia do financiamento das ações de
saúde do trabalhador
- O financiamento das ações de saúde é de
responsabilidade das três esferas de governo,
conforme o disposto na Constituição Federal e nas
Leis nº 8.080, de 1990, e nº 8.142, de 1990. Por
isso, o desenvolvimento da PNST no SUS deve ser
garantido através das fontes de financiamento do
próprio sistema de saúde, devendo ser contemplada
de modo adequado e permanente nos orçamentos
de saúde da União, Estados, Municípios e DF, além
de outras fontes.
- As ações de saúde do trabalhador, a serem
desenvolvidas conforme esta Política e as políticas
estadual e municipal de saúde, deverão contar com
a respectiva previsão orçamentária, definida nos
planos e nas programações anuais de saúde, nas três
esferas de gestão do SUS.
- Para a garantia do financiamento, as ações
de promoção e vigilância, de atenção à saúde
do trabalhador, de educação permanente, entre
outras, devem ser incluídas nos planos de saúde
com especificação das respectivas necessidades
orçamentárias e financeiras em cada um dos blocos
de financiamento do SUS, conforme legislação
específica, uma vez que as ações de saúde do
trabalhador devem ser executadas por todos
os pontos da rede, conforme a complexidade e
densidade tecnológica de cada uma delas.

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