Você está na página 1de 7

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi - FACISA


Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva - PPgSaCol
Disciplina: Ciências Sociais em Saúde

Discente: Pablo Matheus da Silva Lopes

FICHAMENTOS

Loyola, MA. O lugar das Ciências Sociais na Saúde Coletiva. Saúde Soc., 21(1):9-14, 2012.

10 A discussão abordada no artigo resgatou uma questão referida ao lugar das


ciências sociais na saúde coletiva, que foi levanta em uma mesa redonda durante
o V Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas da Abrasco, realizado
em 2011, em São Paulo.

A saúde coletiva “nasce em um momento em que não mais se tratava de organizar


um sistema público de saúde, mas de ampliá-lo e estendê-lo a toda a população do
país. [...] O próprio termo ‘saúde coletiva’ evoca não apenas o estudo da saúde de
uma coletividade, como a contribuição da coletividade em si mesma, enquanto
sistema social, para o entendimento do que é saúde, como estado e como objeto
de estudo”

“Assim, a presença das ciências sociais e das ciências humanas na saúde coletiva,
mais do que importante, é a base mesma, o cimento que constitui e alicerça a
área”.

11 A inserção das teorias e metodologias das ciências sociais e humanas na saúde


coletiva, contribuiu não só para evolução das pesquisas no campo acerca da
dimensão social da saúde, mas também foram essenciais para as atividades de
ensino nas academias e de proposição de intervenções e políticas no Brasil.

“Apesar disso, as Ciências Sociais não ocupam a centralidade que deveriam


ocupar nestes dois planos, acadêmico e principalmente político”.

“Embora seja a perspectiva social contida na palavra coletiva que confere a


especificidade ao campo, é a palavra saúde que vem sendo sempre retida e
utilizada nas classificações internas e externas à área, como no caso das agências
de fomento, onde a saúde coletiva é classificada como pertencente a grande área
da saúde, com todas as consequências que isso implica, notadamente a submissão
à lógica biomédica”.

12 A autora menciona, também, a dificuldade de convivência entre as diversas


especialidades incorporadas a área, e se preocupa com a solução de tratar a saúde
coletiva com um campo, “evitando encará-la como uma disciplina: um corpo de
saberes historicamente constituído pelo concurso e pelos olhares de várias
disciplinas inseridas numa mesma área acadêmica”

Diante disso, para ela, os termos “área, campo e disciplina” não são mutuamente
excludentes, tendo em vista que enfatizam significados diferentes e, portanto,
devem ser considerados em cada contexto de utilização.

13 Outra problemática diz respeito ao uso indiscriminado da diversidade de métodos


e abordagem de contribuição de cada especialidades/áreas, podendo causar o
empobrecimento e a simplificação das análises e temas investigado pelo campo.

Por fim, alguns desafios são colocados para o fortalecimento das ciências sociais
no campo da Saúde Coletiva:

“Ele consiste em conseguir, no interior da própria área, reforçar a formação


teórica e metodológica em ciências sociais para melhorar a qualidade dos
trabalhos; em trazer para o centro do debate o aprimoramento do ensino de forma
geral e do ensino e da formação em saúde coletiva em particular. Externamente,
os desafios são: 1. desenvolver estratégias de luta para que as ciências sociais e
humanas (sociologia, antropologia, ciência política, filosofia, história, e ciências
afins, ai compreendendo profissionais da saúde e de outras áreas que no campo da
saúde coletiva se servem das ferramentas de análise das ciências sociais) sejam
incluídas como uma subárea da Saúde Coletiva”.

Luz, MT. Especificidade da contribuição dos saberes e práticas das Ciências Sociais e
Humanas para a saúde. Saúde Soc., 20(1):22-31, 2011.

23 As questões ou problemas da vida social contemporânea que interferem na saúde


e doença dos sujeitos, “costumam ser analisados, no campo das ciências sociais,
como ‘macrossociais’, sendo denominados, na área da saúde pública,
“determinantes sociais da saúde”.

25 Consequentemente, cabe as disciplinas das ciências sociais e humanas


(Sociologia, Antropologia, Psicologia, por exemplo), “com seus objetos e
métodos próprios de pesquisa, trabalhar as questões relativas à vida humana em
seu aspecto relacional grupal, comunitário, coletivo”; em cooperação
interdisciplinar com as ciências da natureza (biologia, por exemplo), nos campos
da saúde e saúde coletiva.

Com isso é inegável a ampliação “do ‘olhar humano e social’ nas biociências e na
medicina, mesmo na área da clínica e da cirurgia, é uma clara demonstração da
utilidade e do benefício que oferecem as ciências sociais e humanas em geral à
Saúde como área de conhecimento e de prática profissional”.

É importante salientar, contudo, que as disciplinas como sociologia, antropologia


e filosofia, direcionaram seus olhares e esforços para o estudo das questões da
vida, da saúde e do adoecimento somente no século XX, sobretudo após a
Segunda Guerra Mundial (o autor cita nesse parágrafo Herzlich, 2004, 2005).
Nesse mesmo período, a escola de pensamento funcionalista americana, iniciou a
análise de questões, como a relação médico-paciente, as instituições hospitalares
etc. Mas o auge mesmo dessas contribuições para a saúde por essas disciplinas
foi no fim da década de 1960. Destacam-se os nomes de Foucault, Illich, Jean
Pierre Dupuy e Luc Boltanski.

26 “Ao mesmo tempo pode-se observar, a partir do fim dos anos 1970, na América
Latina e na Europa, o forte movimento teórico, social e profissional da saúde
coletiva. Um novo campo de saberes e práticas interdisciplinar (na década
seguinte também transdisciplinar) iniciou seu caminho, indo além da Saúde
Pública ao tematizar não apenas doenças coletivas, como políticas públicas e
formas inovadoras de atendimento a pessoas e grupos, como modos de
comportamento, representações sociais e subjetividades de doentes; sobretudo, o
significado que pode ter para os sujeitos das políticas médicas: saúde e vida”.

27 Tão importante quanto a contribuição teórica e metodológica para o avanço


científico e acadêmico da Saúde Coletiva, destaca-se a influência das ciências
humanas e sociais na práxis das profissões de saúde. “De fato, a incorporação, na
prática desses profissionais, de instrumentos de apreensão e interpretação de
questões postas pela atenção à saúde e pelo suscitar diário de problemas
institucionais relativos ao campo, que as disciplinas originárias de formação não
têm como equacionar nem solucionar, tem posto em relevância uma contribuição
de ‘tecnologia social’ neste agir, embora ainda sem um reconhecimento
institucional consequente do campo da saúde”.

“as ciências sociais são, nesse caso, um subcampo da saúde coletiva, com
atividade interdisciplinar de pesquisa, em que metodologias, abordagens
conceituais e olhar interpretativo são as ferramentas teóricas e metodológicas do
trabalho das ciências humanas na construção de objetos nesse campo”.

Ianni, AMZ. O campo temático das ciências sociais em saúde no Brasil. Revista de sociologia
da USP, 27(1):13-32, 2015.

14-15 “Ao se constituírem ao largo das escolas de ciências sociais institucionalizadas no


país, ocupando-se de um objeto ali pouco discutido ou mesmo inexistente – a
saúde –, as ciências sociais em saúde enfrentaram o desafio de afirmar-se, à
distância, perante seus pares genéticos, os cientistas sociais ‘típicos’. [...] E,
perante as disciplinas das ciências naturais, constitutivas e hegemônicas na saúde,
as ciências sociais estabelecem-se em um cenário de disputas por sua própria
validação, seja pelas proposições teórico-metodológicas, seja pela disputa do
objeto saúde em si, diferentemente concebido por elas”.
“O relativo apartamento desse campo foi produzido por aspectos
histórico-conjunturais, como a reestruturação do ensino médico na América
Latina e no Brasil nos anos de 1950, que incorporou as ciências sociais nessas
graduações, sob impulso e iniciativa da Organização Panamericana de Saúde
(Opas). Houve também a (re)estruturação do sistema de pós-graduação no país a
partir dos anos de 1960, que integrou cientistas sociais ao ensino e à pesquisa em
saúde; e, ainda, a inserção desses profissionais nos serviços de saúde-escola a
partir dos anos de 1970, além da atuação nos serviços de saúde pública no país”.

16 A autora segue citando nome de pesquisadores importantes para a


consolidação/institucionalização das ciências sociais no câmbio da saúde coletiva,
como João A. Nunes, que, a partir do seu estudo, identifica pesquisas ligadas à
saúde, nos seguintes eixos: “biomedicalização, biossociedade e biopoder, a
‘velha’ e a ‘nova’ saúde pública; o público e o privado; ação coletiva e
participação; saúde e direitos humanos”. A autora faz, também, referência a
Donnangelo, uma das pioneiras do campo das ciências sociais em saúde no
Brasil, com uma das primeiras publicações sobre questões históricas e teóricas
relativas à saúde.

20 Diante das tensões decorrentes de disputas teóricas e epistemológicas que as


ciências sociais da saúde enfrentará desde a sua origem no campo da saúde
coletiva, a questão social e política da saúde será seu foco. Diante disso, a
construção do conceito de determinação social do processo saúde-doença
constituirá o cerne da reflexão.

“Preocupados com a relação saúde-sociedade, os sujeitos do campo da saúde


coletiva desenvolvem uma crítica ao objeto saúde vigente no ensino médico, de
matriz preventivista, que vê a doença como manifestação estritamente biológica
no corpo individual e a sociedade como o meio que deve ser higienizado e
normalizado, preventivamente”.

23 “Essa formulação sobre o social na saúde demarcará o debate da saúde coletiva


no Brasil [...]. A guinada em direção ao social descortinou para os críticos da
biomedicina de então perspectivas de ampliação e sofisticação do objeto saúde,
como a incorporação da complexidade histórico-social aos fenômenos de
saúde-doença”.

24 O artigo segue traçando uma discussão sobre o fazer científico da medicina e a


intervenção técnica do profissional médico de acordo com sua especialização.
“Nesse contexto, o vasto conjunto de equipamentos materiais e os custos
econômicos aí envolvidos, sua obsolescência e os meios de trabalho inovadores
instauram entre o médico e o paciente um vínculo muito particular, que é o da
medicina com os objetivos básicos da produção econômica, no caso, capitalista”.
Nunes, ED. A sociologia da saúde no Brasil – a construção de uma identidade. Ciência &
Saúde Coletiva, 19(4):1041-1052, 2014.

Introdução

O texto analisa o desenvolvimento da sociologia da saúde no Brasil, utilizando a


perspectiva de Wolf Lepenies, um sociólogo alemão. O processo de construção da
sociologia da saúde é examinado em três dimensões: histórica, social e cognitiva. O texto
é dividido em três partes: na primeira, destacam-se os precursores, incluindo viajantes,
naturalistas e estudiosos do folclore, bem como os "médicos-cientistas sociais" e os
primeiros cientistas sociais (1940-1969). A segunda parte discute as construções das
ciências sociais em saúde durante os anos 70 e 80. A terceira parte aborda a forma geral
dos temas tratados pelo campo.

Identidade Histórica

As ciências sociais em saúde no Brasil têm uma origem que remonta à segunda metade
dos anos 60 do século XX, embora tenham raízes mais antigas, abrangendo diversas
disciplinas, como sociologia, antropologia, educação, história, geografia e folclore. Nesse
tópico o autor segue destacando os precursores e pioneiros, e usa a ideia de
"manifestações" literárias, como usada por Antônio Cândido, para descrever o estágio
inicial desse campo de conhecimento antes de sua sistematização e institucionalização
que ocorreu décadas mais tarde.

Os precursores

Os viajantes
O tópico destaca a contribuição de diversos viajantes e cientistas que exploraram o Brasil
desde o século XIX e se interessaram por questões que envolvia a saúde. Entre eles, José
Sigaud, médico e naturalista francês, que investigou a relação entre doenças, o ambiente
natural e a cultura brasiliera, inaugurando uma tradição de pesquisa sobre “doenças
nacionais”. Alphonse Rendu, outro médico francês, foi encarregado de inventariar as
doenças do Brasil, contribuindo para a geografia médica no Brasil.
Além disso, naturalistas como Johann Baptiste e Karl Friedrich também deixaram
informações sobre enfermidades no Brasil em suas viagens, buscando entender a natureza
e o “projeto civilizatório” em suas explorações.

Os folcloristas

A prática médica no Brasil até o século XIX, foi predominantemente influenciada pela
medicina popular devido à falta de formação médica adequada. É enfatiza, ainda, a
importância das medicinas indígenas, religiosas e populares na formação da medicina
brasileira, especialmente na antropologia médica.
O período dos anos 50 é indicado, marcado por ideias de modernização e progresso no
Brasil, que incluiu o "movimento folclórico" e o reconhecimento do folclore como um
campo científico. Mas seus membros foram mais reconhecidos por suas contribuições à
antropologia e sociologia do que por seu papel no movimento folclórico.
Os médicos cientistas-sociais

Nina Rodrigues, médica-cientista social no Brasil, foi reconhecida como uma figura
chave na escola de pensamento formada por Arthur Ramos e Afrânio Peixoto, embora
haja diferenças entre as gerações de pesquisadores desses médicos. Pioneiros na
antropologia em um momento em que não havia uma formação especializada nessa área.
Nina Rodrigues desempenhou um papel importante no processo de institucionalização da
medicina no início do século XX, contribuindo para o avanço da autonomia da categoria
médica e competindo com a tradição clínica que dominava a área até então.

Dos anos 40 à década de 60

Aborda o início das ciências sociais em São Paulo, especialmente na área de saúde
pública, destacando a presença da medicina popular e sua relação com a medicina
científica. Essas declarações foram parte do surgimento das ciências sociais como
atividade acadêmica na região, com ênfase na década de 1940 e 1950.
Os cientistas sociais desempenharam um papel fundamental nos estudos de comunidades
e na promoção da saúde preventiva no Brasil. Eles influenciaram a formação da
consciência sanitária e a intervenção em comunidades assistidas, incluindo a educação
sanitária como parte desse pensamento.
Figuras importantes nessas décadas no conhecimento da saúde no Brasil são Josué de
Castro, Gilberto Freyre e Alberto Guerreiro Ramos. Josué de Castro é reconhecido por
seus estudos em nutrição e alimentação, enquanto Gilberto Freyre foi sociólogo,
antropólogo e historiador. Alberto Guerreiro Ramos, por sua vez, encontrou problemas
sociais articulares, como a mortalidade infantil, com o desenvolvimento nacional.

Identidade Social

A sociologia da saúde inicia o processo de estabelecimento de sua identidade social em


um contexto em que a sociologia e a saúde coletiva no Brasil também se desenvolveram.
A entrada das ciências sociais, de maneira geral, na academia brasileira ocorreu quando o
ensino da sociologia foi sistematicamente introduzido nas escolas médicas na metade dos
anos 60, estendendo-se posteriormente para a enfermagem e a pós-graduação nos anos
70.
Nos anos 80 e 90, a sociologia da saúde expandiu suas atividades para o campo das
políticas de saúde, especialmente em um contexto em que as propostas de reforma
sanitária no Brasil ganharam destaque. Muitos sociólogos que participaram da introdução
ao ensino em saúde também estiveram envolvidos no processo de formalização da Saúde
Coletiva. A colaboração entre cientistas sociais e o campo da saúde tem se mostrado
significativamente, principalmente na formação de sanitaristas e na democratização da
política nacional de saúde.

Identidade Cognitiva

O autor destaca que a identidade cognitiva de um campo de conhecimento emerge


quando se pode identificar claramente suas orientações de pesquisa, paradigmas,
problemas e instrumentos. A produção abrange diversas áreas e tópicos, com ênfase em
estudos epidemiológicos, análises das relações entre saúde e trabalho, prática médica,
empresas médicas, produção de medicamentos, assistência médica, prática de saúde,
entre outros. Exemplos desses estudos pioneiros incluem pesquisas sobre a
estigmatização da lepra, a escolha da medicina como profissão, hábitos alimentares,
medicina preventiva, mercado de trabalho médico, medicina comunitária, enfermagem
como profissão, origens da medicina social brasileira, instituições de saúde, o trabalho
médico sob a perspectiva do materialismo histórico, e muitos outros.

Você também pode gostar