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Abstract : The aim of this study is to analyze some of the ideas of thought coroner
maranhense Raimundo Nina Rodrigues on criminal law and its relation to the human
races. Nina Rodrigues as a scientist of his time was in line with the main foreign
theories, but interpret them just was not enough. In this sense, Nina Rodrigues uses a set
of knowledge to analyze, interpret and adapt the theories of Lombroso and Ferri
Garófolos Lacassagne and the top names of the era in the field of criminal
anthropology.
Introdução
Adaptar o saber externo as nossas realidades, era para Nina Rodrigues antes de
tudo, discutir as raças que compõe povo brasileiro e, suas implicações no
desenvolvimento da nação. A ferramenta base dessa analise é o primeiro livro de Nina
Rodrigues As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil de 1894, contudo a
interpretação deste trabalho permite ampliar a discussão tanto num tempo anterior a
Nina Rodrigues como posterior. Os conhecimentos que influenciaram este cientista e,
também a influencia que ele exerceu num grupo de médicos legistas nas primeiras
décadas do século XX.
Entre 1895 e 1897 foi publicado na Bahia um periódico de Medicina Legal que
tinha como objetivo discutir a prática médico-legal e sua posição política e social. O
médico de maior prestígio em medicina legal era o maranhense Raimundo Nina
Rodrigues, que se tornou o principal responsável pelas pesquisas e teses em torno da
degeneração biológica da raça e decadência moral no Brasil. Segundo Corrêa (1998),
Nina Rodrigues acreditava que os problemas sociais e a dificuldade da formação
nacional estavam ligados a uma parcela da população que sofria de uma “patologia”
hereditária: a raça negra e mestiça. A “Revista Medico Legal” – RML foi publicada
trimestralmente entre 1895/96/97. Seu conteúdo contava com artigos, resultados de
pesquisas, análise de obras científicas e perspectivas dos mais influentes e respeitados
membros da Sociedade de Medicina Legal da Bahia, entre eles Alfredo Brito, Juliano
Moreira, Pacheco Mendes. Nina Rodrigues era presidente da sociedade e editor chefe da
revista, um especialista da época em craniologia e criminologia.
O periódico não estava diretamente associado ao Estado. Esse período
correspondeu ao primeiro momento de legitimação da prática médica legal. Um esforço
de um grupo de médicos no reconhecimento dessa especialidade médica que passava
cada vez mais da teoria para prática. Neste sentido, a revista serviu como um
instrumento de divulgação das práticas e também dos assuntos que seria de competência
da medicina legal.
quando advoga contra aqueles que identificam o crime com a loucura e, defende um
livre arbítrio relativo. Tobias Barreto tenta conciliar certo determinismo com livre
arbítrio que seria para Nina Rodrigues impossível. O argumento central do jurista contra
os deterministas seria que, mesmo que as ações humanas fossem motivadas por
fenômenos naturais, a vontade individual prevaleceria.
Raimundo Nina Rodrigues na sua analise, utiliza a teoria da seleção natural dos
povos contra a vontade livre do individuo. A seleção natural não é algo planejado ou
controlado pela vontade do homem. Para Rodrigues não existe liberdade nesta seleção,
ela não segue um percurso reto, e adaptação dos seres humanos podem às vezes exigir
uma “regressão morfológica”. A partir de uma reunião de conhecimentos históricos,
biológicos e psicológicos, o médico maranhense vai desmontando a teoria do jurista que
defende o livro arbítrio relativo. Nina Rodrigues conclui seu argumento:
A verdadeira ação criminosa só poderia ser cometida por alguém que tem
consciência de si mesmo, consciência de seu mundo, e a consciência desenvolvida do
dever. Uma raça inferior dificilmente alcança esse estágio. A concepção de direito
relativo, e transformado ao longo da evolução da sociedade, enfatiza que nem todas as
raças acompanham esse desenvolvimento. Assim, a defesa por uma lei igual e aplicável
a todos seria imensa contradição.
Lombroso foi outro cientista da época trabalhado por Nina Rodrigues, que
reconhecia no médico italiano inovações no campo da antropologia criminal. Rodrigues
tentou adaptar essas inovações a realidade do país. Para Lombroso, o delito para os
selvagens seriam a regra geral. Este delito seria os atos reconhecidos como tal pelos
povos cultos. Essa noção histórica do crime ou do delito era sempre bem clara na teoria
de Rodrigues às vezes oculta nos seus “mestres”. Para Lombroso o crime era visto um
fenômeno natural (Gould, 1991). O caráter da hereditariedade do crime era
compartilhada pelo médico legista, porém outros fatores combinados como meio, raça e
clima poderiam resultar num estudo mais completo.
deveria corrigir esses enganos do direito, para que a sociedade possa viver em
harmonia. O médico legista reconhece que cada raça tem sua própria evolução, e alguns
estágios diferentes de desenvolvimento. Estágios que não podem ser iguais para as raças
devido às origens diferenciadas dos povos. Para autor, o negro e o índio, mesmo
convivendo com o branco em sociedade nunca alcançariam o grau de evolução da raça
branca. O índio brasileiro se extinguiu mais que se civilizou, seria exemplo mais
concreto para Nina Rodrigues desta teoria. A inferioridade da raça negra e indígena
frente à raça branca era quase um “consenso cientifico” da época. Nina Rodrigues
debate com Silvo Romero e outros pensadores que compartilham desta ideia básica de
diferença racial.
(...) Não é mais, portanto, a raça que faz a história, mas a história que
faz a raça (ou espírito da nação); e modificando as instituições ou as
formas de vida social, pode-se transformar a raça: tais ações “são para
as nações o que a educação, a profissão, a condição, a vivência são para
indivíduos”.(...) (Todorov, 1993, p. 168).
Neste sentido, Nina Rodrigues defende uma legislação que atenta para as
diferenças regionais do território brasileiro. A escolha da federação republicana deveria
ser fiel aos seus princípios, ou seja, para Nina Rodrigues o exemplo dos Estados Unidos
onde cada estado possui seu próprio código penal deveria ser seguido pelo Brasil. Cada
região do Brasil respeitando aos fatores climáticos, raciais e culturais deveriam ter seus
códigos penais.
Considerações finais
Os estudos de Nina Rodrigues vinte no final do século XIX forneceram alguns
instrumentos necessários para compreensão da realidade brasileira nas duas primeiras
décadas do século XX. Nina Rodrigues ao considerar em seus trabalhos a diversidade
regional do território brasileiro, já apontava as desigualdades das regiões no Brasil. É
evidente que os motivos dessas desigualdades para Nina Rodrigues estavam associados
aos fenômenos biológicos. Considerava os fatores climáticos como forte influenciador
da degeneração das raças da região norte. Mas seus estudos avançam no sentido de
apontar também a diversidade cultural da nação. Para Côrrea (1998), esta interpretação
de Nina Rodrigues sobre a realidade nacional era o que diferenciava em parte dos seus
discípulos. Médicos legistas como Afrânio Peixoto, Leonídio Ribeiro, Arthur Ramos,
Flaminio Fávero (discípulo de Oscar Freire) construíram suas carreiras associados ao
mestre Nina Rodrigues. Esses homens fariam parte da Escola Nina Rodrigues, e seus
conhecimentos e práticas, legitimados por essa relação. Apesar das questões que
envolvem o saber médico-legal muitas vezes possam ser traduzidas por questões
morais, não parece ter ocorrido uma mudança significativa entre 1890 e as primeiras
décadas do século XX, quanto os assuntos que diriam respeito à medicina legal e seu
papel no Estado. Houve sim, uma mudança na percepção e tratamento dessas questões.
Assim podemos compreender a diferença entre Nina Rodrigues e seus seguidores.
Houve uma continuidade nas questões tratadas por Nina Rodrigues após sua
morte em 1906, contudo a percepção era outra. Nina Rodrigues não tinha ilusões quanto
à população. Sua forma de abordar o tema da raça e do direito permitiu ser rotulado por
algumas bibliografias como racista e positivista. Nina Rodrigues como a maioria dos
pensadores da época era racialista, contudo introduziu no seu debate penal o negro e os
mestiços como pertencentes às raças inferiores. Iguais teoricamente perante a lei, essas
raças não possui os mesmo direitos políticos. Nos tribunais onde negros eram julgados
com a severidade da legislação, não possuindo as mesmas oportunidades dos homens
brancos. Nina Rodrigues racista parecia ser mais democrático que muitos juristas que
defendia universalidade das leis. As pesquisas de Nina Rodrigues como a medidas de
crânios e corpos, em busca da comprovação das diferenças raciais, continuaram por
muito tempo na prática médico legal. Em 1935 é fundado um Laboratório de Biologia
Infantil preocupado com a profilaxia criminal das crianças, podemos comprovar como
essas práticas iniciadas por Nina Rodrigues faziam parte do funcionamento do
laboratório através de seção de Antropometria. De alguma forma a corrente básica de
pensamento prevalecia examinar para se constatar a diferença, diagnosticar e tratar. A
determinação biológica existia, mas poderia ser controlada pela intervenção do médico
legista. Os trabalhos no campo da medicina legal desenvolvido por Nina Rodrigues no
século XIX seria a etapa inicial do aperfeiçoamento técnico desta especialidade
concretizada no século XX. O pensamento de Nina Rodrigues sendo inovador para sua
época perdurou por um longo tempo no campo cientifico.
Bibliografia