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Insucesso escolar no contexto moçambicano: abordagem, concepções política e

propostas de intervenção do psicopedagogo.


Estudo de caso escola Consolanta Ensino Secudario Geral Nampula

Juma Ualala de Almeida

Resumo
Este estudo, de revisão, se propõe a discutir sobre insucesso escolar no contexto moçambicano, colocando
à disposição algumas variáveis de sucesso. Aqui, descreve-se as variáveis em que o sistema educacional
moçambicano, da necessidade de uma legislação voltada a sucesso tendo como objectivo geral de
conhecer os factores que geram insucesso escolar no contexto moçambicano, a metodologia usada foi

método bibliográfico.
Palavras-Chave: Insucesso, Moçambique, Sistema Nacional

Introdução

Em Moçambique, com a conquista da Independência Nacional em 1975, a Educação


passou a constar no topo das prioridades na governação. O país encara a Educação
como um direito humano e um instrumento primordial para a manutenção do bem-estar,
da unidade nacional e para o desenvolvimento económico, social e político através da
formação de cidadãos. Moçambique em 23 de Março de 1983, publicou a primeira
versão da Lei do Sistema Nacional de Ensino moçambicano, lei 04/83, cuja formação
do Homem Novo, livre do obscurantismo, da superstição e da mentalidade burguesa
colonial eram objetivos primordiais.
No que concerne com a lei, a possibilidade necessário que o homem assumisse os
valores da sociedade socialista, nomeadamente: “O patriotismo e a unidade nacional; o
gosto pelo estudo, pelo trabalho e pela vida coletiva; o sentido de responsabilidade e o
espirito de iniciativa; a concepção científica e materialista do mundo; o engajamento e
contribuição ativa com todos seus conhecimentos, capacidade e energia, na construção
do socialismo”. De acordo com o reajusto do quadro geral do Sistema Nacional de
Educação (SNE) e adequar as disposições contidas na Lei N o 4/83 de 23 de Março às
reais condições socio económicas do país, tanto do ponto de vista pedagógico como
organizativo, a Assembleia da República publicou a Lei 6/92 de 06 de Maio, cujos
objetivos eram:

 “Erradicar o analfabetismo de modo a proporcionar a todo o povo o acesso ao


conhecimento científico e desenvolvimento pleno das suas capacidades;
 Garantir o acesso básico a todos cidadãos de acordo com o desenvolvimento do
país, da introdução progressiva da escolaridade obrigatória;
 Assegurar a todos moçambicanos os acesso a formação profissional;
 Formar o professor como educador e profissional consciente, com profunda
preparação científica e pedagógica, capaz de educar os jovens e adultos;
 Formar cientistas e especialistas devidamente qualificados que permitam o
desenvolvimento da produção e da investigação científica;
 Desenvolver a sensibilidade estética e capacidade artistica das crianças, jovens e
adultos, educando-os no amor pelas artes”.

Destacando na primeira versão do Sistema Nacional de Educação (SNE) determinava


que as crianças moçambicanas que completassem sete anos de idade, obrigatoriamente,
deveriam ser matriculadas na 1ªclasse.

Neste vertente verificou-se que, a idade para que as crianças ingressem no ensino
obrigatório reduziu-se de sete para seis anos.

Olhando nestas condições O SNE estruturou-se em três modalidades de ensino,


nomeadamente:

i) Ensino pré-escolar realizado em creches e jardins-de-infância para crianças


com idade inferior a seis anos, após a lei 06/92;
ii) Ensino Escolar (ensino geral; ensino técnico profissional) e ensino superior.
O ensino geral é o eixo central do SNE e compreende dois níveis: O
primário e o secundário, sendo frequentado por crianças a partir do ano
lectivo em que completam seis anos. O ensino primário prepara os alunos
para o acesso ao ensino secundário e compreende as sete primeiras classes,
subdivididas em dois graus, proporcionando uma formação básica nas áreas
da língua, da matemática, das ciências naturais e sociais, da educação física,
estética e cultural.

Compreende:

a) 1º Grau, da 1ª à 4ª classe;
b) 2º Grau, da 5ª à 6ª classe.

O ensino secundário compreende actualmente seis classes e subdivide-se em dois ciclos,


tendo como objectivo consolidar, ampliar e aprofundar os conhecimentos dos alunos.
Que esta dividido em: 1º ciclo, da 7ª à 9ª classe; 2º ciclo, da 10ª à 12ª classe. Por seu
turno, o ensino técnico profissional actualmente constitui o principal elemento para a
formação profissional, que esta compreendendo por três nível Médio que capacita
técnicos para os setores produtivos, dependendo do respetivo perfil profissional. Para
ingresso neste nível de ensino, é no mínimo a conclusão do 1º ciclo do ensino
secundário geral ou do ensino básico técnico profissional. O ensino superior tem a
competência de assegurar a formação de nível mais elevado de técnicos e especialistas
nos diversos domínios do conhecimento científico, necessários ao desenvolvimento do
país, destinando-se aos graduados da 12ª classe do ensino geral ou equivalente.

A ESCOLA E SUA MISSÃO


Conceito de escola
A palavra, Escola, originária do Latim ‘schola’, pelo Grego ‘schol’é, que inicialmente
significava repouso, descanso, tempo livre, só mais tarde passa a significar instituição
na qual se educa, cujo conceito implica a existência de dois grupos, os professores e os
alunos cabendo à escola o papel de promover o ensino e a aprendizagem, de
desenvolver pessoal e socialmente os educandos” (Sil, 2004, p. 35).
Na sustentabilidade da definição citada a cima transcreve que, a escola, de lugar de
relaxamento, prazer, sem horário pré- determinado, sem programas sistematizados, sem
mediador, constituído do espaço fundamental para a vida do Homem, na medida em que
é lá onde o mesmo vai buscar os conhecimentos técnico-científicos necessários para o
seu próprio desenvolvimento, assim como para fazer face aos inúmeros desafios que a
vida no dia-a-dia apresenta.
Por outro lado, a escola tem conjunto de infraestruturas que são designadas para o
ensino. Dizemos formalmente porque existem situações em que o ensino tem lugar
debaixo de uma árvore, numa tenda, debaixo de um alpendre, por falta de espaço
próprio para albergar os alunos. Estes tipos de espaços estão destinados a acolher o
ensino chamados de escolas, embora não satisfaçam as condições mínimas exigidas para
o efeito.
Portanto, destacamos que a escola onde o homem vai enriquecer o seu conhecimentos,
experiências que já leva do meio onde vive e de que faz parte.
De acordo com Golias e Tosh (1999, p. 64), “eles têm os seus próprios códigos de
comportamento, hábitos culturais e sociais; atitudes e valores, que transmitem,
consciente ou inconscientemente, aos seus filhos”.
Com base na definição de Golias e Tosh há sustentabilidade de que a comunidade em si,
proporciona oportunidades de aprendizagem de uma amálgama de conhecimentos, uma
troca de saberes úteis para a vida.
De acordo com Pacheco (2001, pág. 154) “A escola como elemento de mudança deve
ser o local de construção, desenvolvimento e avaliação de projectos de inovação
curricular, orientados para a melhoria do PEA”.
A escola tem como missão acomodar todos os intervenientes do PEA:
 Planificadores educacionais;
 Currículo;
 Programas;
 Professores;
 Alunos, materiais e a comunidade onde a escola está inserida, no geral.
De facto, a escola proporciona oportunidade para o homem adquirir conhecimentos
científicos e habilidades para a vida. Não só, mas também a escola proporciona ocasião
para o homem interagir com o seu semelhante, trocar experiências, adquirir
competências e, assim, enriquecer o seu intelecto.
Reflectindo a respeito dos argumentos continua a ser um factor insubstituível na
emancipação do pensamento, e o único meio eficaz para a transmissão massiva dos
conhecimentos utilitários que são a leitura, a escrita e o cálculo”.
Como se pode notar, a escola constitui o melhor veículo para a disseminação e
perpetuação de um conjunto de informações a um povo atinentes tais como: a sua
história, seus valores cívicos e morais, a ideologia dominante em determinadas épocas
de vida desse povo, isto é, a orientação política (partido único, multipartidarismo, etc), a
religião, a maneira de ser e de estar e os usos e costumes. Santos (2005, p 36),
debruçando-se sobre o trabalho que os profissionais da educação desenvolvem na
escola, afirma que eles possuem uma tripla tarefa, a saber:
 A instrução formar eruditos, pessoas tão cultas quanto possível;
 A formação veicular as qualidades necessárias à inserção na vida activa;
 A educação formar cidadãos.
Assim, a escola não só transmite conhecimentos técnico-científicos e socioculturais,
mas também tem a tarefa de dotar o Homem de capacidades e habilidades para
transformar e desenvolver o mundo onde ele vive.
A escola tem a nobre missão de tornar os cidadãos cultos, isto é, capazes de viver em
harmonia com o seu próximo, reconhecendo a diversidade de valores culturais, visões
do mundo e as diversas formas de ser e de estar na vida, as quais variam de pessoa para
pessoa, de etnia para etnia e de povo para povo. Portanto, formar indivíduos que
consigam conviver com a diferença, através do reconhecimento dos diversos factores de
possível desunião.
Aplicação da Teoria de Skinner na Educação
Nesta corrente, “a aprendizagem é vista essencialmente como um processo de
modificação do comportamento pelo estabelecimento e reforço de novas associações
entre estímulos e respostas ou extinções associações existentes.
De acordo com Prass (2007, p. 11), o condicionamento operante tem diversas
possibilidades de aplicação no contexto educacional. Destas, de destacar as seguintes:
 Facilitar o processo de ensino através da aplicação e desenvolvimento de
motivações específicas;
 Permitir a aquisição, modificação e supressão de condutas pelo uso adequado de
reforços.
De facto, para cada reacção deve haver um certo tipo de estímulo conducente ao
comportamento desejado. Isto é, os reforços variam do tipo de resposta assim como da
personalidade e do carácter do aluno. Por exemplo, para alunos tímidos, deve haver um
tipo de motivação que os leve a perder a timidez e a colaborarem no PEA, para seu
próprio benefício. Este exercício tem sido bastante difícil, contudo, com a aplicação de
metodologias específicas, pode se obter resultados positivos.
De acordo com Skinner (1974, p. 158),
“(…) o objectivo da educação pode ser expresso em termos
comportamentais: um professor planeja contingências nas quais o aluno
adquirirá comportamento que lhe será útil mais tarde, em outras
contingências. As contingências instrutivas devem ser planejadas, não há
outra solução. O professor não pode trazer para a sala de aula o bastante
da vida real do aluno para construir um comportamento apropriado às
contingências que ele encontrará ulteriormente. Os comportamentos a
serem construídos antecipadamente são tanto uma questão de
pensamento produtivo e de criatividade quanto simples factos e
habilidades”.
Para Ostermann e Cavalcanti (2010, pp. 12/3), Skinner foi o teórico behaviorista que
mais influenciou o entendimento do PEA e a prática escolar.
Aplicação da Teoria de Piaget na Educação
De acordo com a teoria de Piaget, para a nossa compreensão da aprendizagem, é
necessário ter em conta os seguintes aspectos:
a) A importância dos conhecimentos anteriores;
b) A importância de um processo activo e de uma motivação do que aprende a fim
de ultrapassar o estádio de uma assimilação demasiado rápida ou demasiado
pouco reflectida para aceder a uma acomodação das suas estruturas cognitivas, a
uma aprendizagem real;
c) A importância da manipulação de objectos concretos, de experiências concretas;
d) A importância da estrutura dos conhecimentos, das ligações conceptuais entre os
elementos do saber (o que, ao fim e ao cabo nos afasta da fragmentação
preconizada pelos behavioristas), de uma abordagem mais global dos saberes;
e) A importância da disponibilidade dos conhecimentos para que possam ser
utilizados na altura da assimilação, ou seja, da compreensão (ou não) dos
acontecimentos;
f) A importância de criar situações interpeladoras, adaptadas ao nível dos alunos;
g) A importância de favorecer o conflito cognitivo a fim de desenvolver uma
aprendizagem efectiva pelo mecanismo de acomodação;
Ostermann e Cavalcanti (2010, p. 21-22), defendem que a teoria de Piaget não é
propriamente uma teoria de aprendizagem mas uma teoria de desenvolvimento mental.
Segundo Piaget, o crescimento cognitivo da criança se dá através de assimilação e
acomodação. Quando a mente assimila, ela incorpora a realidade a seus esquemas de
acção, impondo-se ao meio. Muitas vezes, os esquemas de acção da pessoa não
conseguem assimilar determinada situação. Neste caso, a mente desiste ou se modifica.
Quando a mente se modifica, ocorre o que Piaget chama de acomodação. As
acomodações levam à construção de novos esquemas de assimilação, promovendo, com
isso, o desenvolvimento cognitivo. Piaget considera as acções humanas e não as
sensações como a base do comportamento humano. Só há aprendizagem quando o
esquema de assimilação sofre acomodação. A mente, sendo uma estrutura para Piaget,
tende a funcionar em equilíbrio. No entanto, quando este equilíbrio é rompido por
experiências não assimiláveis, a mente sofre acomodação a fim de construir novos
esquemas de assimilação e atingir novo equilíbrio.
Sucesso
Ter sucesso significa alcançar êxito e o oposto constitui um retrocesso do que tenha sido
planificado ou esperado. Fonseca (2004, p. 167) define sucesso como “ser capaz de
garantir a própria sobrevivência, num ambiente cada vez mais competitivo; alcançar um
estágio de conforto e tranquilidade na vida; melhorar continuamente o estágio de vida
em que se encontra”. Na educação, falamos do sucesso escolar quando atingimos as
metas planificadas para uma determinada classe, ciclo, ou período académico.
Também falamos de sucesso escolar quando o educando, já fora da escola, é capaz de
aliar a teoria à prática, isto é, quando ele é capaz de aplicar os conhecimentos
aprendidos na escola para resolver problemas concretos na vida. O sucesso ou insucesso
escolar são, regra geral, reflectidos no cumprimento integral ou parcial dos programas
de ensino e no aproveitamento dos alunos.
Deste modo, é comum nos relatórios apresentar-se o grau do cumprimento dos
programas assim como a percentagem das aprovações, reprovações e desistências.
Indo ao contexto real da sala de aulas, reconhecem-se dois momentos fundamentais que
ocorrem simultaneamente, a saber: o ensino (transmissão do saber), pelo professor
designado para o efeito e a aprendizagem (recepção e
Insucesso escolar
O termo insucesso escolar tem ocupado muitos investigadores na atualidade, no tocante
às suas causas, aos seus efeitos, à forma de combater o insucesso ou promover o
sucesso. Este é um dos temas primordiais da literatura e da investigação educacional na
contemporaneidade.
Quando um aluno chega à escola provem do seio de uma família, tem uma génese
social, um nível socioeconómico e cultural que o identifica. Esta identidade constitui
uma desigualdade logo à entrada da escola porque alguns alunos reúnem condições mais
favoráveis ao sucesso na escola do que outros.
Mas o desejo de igualdade de oportunidades sendo uma utopia é também um direito, daí
que devem ser propostas medidas para a tornar possível. Os alunos que revelam
carências no meio familiar são os que, em muitos casos, sentem maiores dificuldades
em cumprir a escolaridade, em tempo útil e os que revelam mais insucesso escolar.
A massificação da escola coloca grandes desafios à comunidade escolar a vários níveis.
O sucesso escolar, da mesma forma que o seu oposto, o insucesso escolar, são matérias
que devem preocupar todos os agentes do sistema educativo e inquietar as sociedades.
Os conceitos de sucesso e insucesso são complexos e o significado que lhes é atribuído
é diverso, dependendo dos intervenientes educativos.
Assim sendo, o insucesso escolar pode traduzir-se pelo não alcance do nível de
aprendizagem preconizado nos programas de ensino. Para o seu combate, é necessário
que se toma em conta os factores que o condicionam em cada momento que o aluno
manifesta tais dificuldades. A descoberta destes factores exige uma colaboração e
intervenção conjunta entre os gestores do processo educativo, professores, encarregados
de educação e os próprios alunos.
Todavia, neste processo, a tarefa do professor como facilitador de aprendizagem e
recuperador dos alunos com dificuldades contínua determinante.
Tavares & Santiago (2001) referem que o sucesso é concebido como a razão entre o que
se pretende conseguir (objetivos) e o que efetivamente se conseguiu (os resultados).
De um modo geral, a ideia de sucesso escolar é associada ao desempenho dos
estudantes, ao longo do seu percurso escolar, consoante a ordem cronológica da idade e
o tempo que os mesmos levam para conclusão de um determinado nível escolar. São
bem-sucedidos, aqueles que satisfazem as normas de meritocracia escolar e progridem
nas respetivas classes, considerando-se, de uma forma geral, as notas por unidade
curricular. Por sua vez, o insucesso é caraterizado pelo baixo rendimento escolar dos
alunos que, por razões de vária ordem, não alcançaram resultados satisfatórios e não
atingiram os objetivos desejados ou não alcançaram as competências esperadas numa
determinada período de tempo.
Contudo, é necessário compreender que estes índices de (in)sucesso variam de acordo
com as situações circunstanciais, pois competências iguais podem ser avaliadas de
formas diferente de um estabelecimento de ensino para outro, em função das
metodologias adoptadas.
Neste contexto, o sistema de ensino, apresenta os seus próprios critérios e
procedimentos de avaliação, constrói regras de preservação de sucesso e de insucesso
escolar, através de procedimentos que a comunidade escolar é chamada a adoptar, em
obediência a normas e por níveis de exigência institucionalmente definidos.
No que diz respeito aos professores, se os seus métodos de ensino, os seus recursos
didáticos, as suas técnicas de comunicação forem inadequados às caraterísticas da turma
ou de cada aluno, o sucesso deste estará em causa. A gestão da disciplina na sala de aula
é outro factor que muito condiciona o aproveitamento académico dos alunos. Há que
perceber que as práticas tradicionais para implementação de estratégias e modelos de
ensino não só satisfazem o processo de ensino aprendizagem de uma minoria de alunos,
como também contribuem para uma educação assente, várias vezes, na discriminação e
na segregação.
Valorizar as diferentes culturas, tentar compreende-las e utilizá-las como ferramentas
essenciais para o processo de ensino-aprendizagem são pontos fundamentais para que o
quociente entre os objetivos e os resultados seja positivo.
Na escola, a estrutura organizativa existente contribui para o sucesso da mesma, pois,
interfere no aproveitamento dos alunos. O estilo de liderança dos órgãos de gestão da
escola, pode influenciar os resultados das instituições escolares, promovendo baixas
expetativas dos professores e dos alunos em relação à escola. A falta de avaliação
permanente e sistemática das instituições de ensino, surge também como uma das
causas mais evidentes para o surgimento do insucesso escolar, pois ninguém sabe o que
anda a fazer na organização que periodicamente não avalia os seus resultados face aos
objetivos que definiu, nem identifica as causas dos seus problemas, para remoção de
obstáculos que ponham em causa o sucesso da comunidade escolar no seu todo.
É necessário também que se tenha em consideração que o sucesso escolar obedece a
critérios subjetivos e relativos, que variam de aluno para aluno, segundo a visão que
cada um tem acerca do assunto e conforme as suas ambições e perspetivas.
Para Tavares & Santiago (2001), deverão considerar-se os resultados (avaliados de uma
forma objetiva) e a satisfação demonstrada pelo aluno, (avaliados de forma subjetiva),
como os indicadores de sucesso. É importante considerar a relação professor-aluno, as
capacidades cognitivas e fatores não cognitivos próprios de cada aluno, entre outros,
como potenciais fatores que interferem no sucesso ou insucesso escolar.
O sucesso na perspetiva de Tavares & Santiago (2001) tem uma dimensão
multifacetada (domínio académico, sócio-relacional e biopsicológico); tem
ainda uma vertente subjetiva (o desempenho pode ser percepcionado de forma
diferente dependendo dos objetivos dos estudantes). Os mesmos autores
consideram que, quer os resultados (objetivos), quer a satisfação (subjetivos)
com esses resultados são indicadores de sucesso.
Desta forma, é fundamental que se combine o caráter objetivo e subjetivo com que cada
aluno demarca o seu desempenho e maximiza-los. Se um aluno está efetivamente
satisfeito com os resultados obtidos, é porque existe uma aproximação clarividente entre
o que o mesmo queria atingir e o que atingiu na realidade.
Ainda na visão de Tavares & Santiago (2001), não se pode, de forma alguma, ignorar o
fato de os próprios objetivos estabelecidos terem duas vertentes possíveis de
apresentação: objectivo proposto para o aluno ou objetivos propostos ou definidos pelo
aluno, pois a visão e os objetivos que se tem sobre uma determinada unidade temática
podem ser analisados de várias maneiras.
Para Mendonça (2007), as diferenças de aproveitamento não advêm unicamente das
desigualdades económicas, pois existem outros aspetos culturais e familiares que
influenciam fortemente o sucesso escolar dos alunos. A autora descreve estas diferenças
referindo que, às zonas degradadas estão ligadas condições disfuncionais, quer de
vizinhança, quer de qualidade dos alojamentos pouco propícias à aquisição de hábitos
culturais e de estudo, relacionadas com as exigências do sistema de ensino. O inverso
acontece nos bairros mais abastados, onde as boas práticas e as normas de convivência
estão de acordo com os processos de escolarização.
Apesar desta visão da autora, é necessário que se tenha em consideração que, no que diz
respeito às zonas rurais, os alunos se encontram muitas vezes, geograficamente isolados,
o que origina também um isolamento social, cultural, o que constitui um fator agravante
face aos saberes que a escola transmite, na medida em que a interatividade deste
ambiente com o saber cientifico é escassa.
A existência do fenómeno insucesso escolar remonta desde o aparecimento da escola
como local que congrega sujeitos que ostentam diferentes tipos de personalidade,
capacidades físicas e intelectuais, proveniência social e cultural, vivências e vontades.
Como Flecha e Tortajada (2000, p. 28) argumentam, o fracasso e o abandono escolares
não constituem fenómeno novo e,
“os índices do fracasso escolar aumentaram na última década. Este é
um dos principais motivos que levaram à desligitimaçãao da escola,
culpando os meninos, as meninas, o meio, o sistema, etc. Embora esses
discursos estejam profundamente arraigados, finalmente se está
analisando que papel tais processos desempenham na escola e em que
contribuem para o fracasso”.
Nesta ordem de ideia, a problemática do fracasso da escola constitui matéria do
passado, do presente e possivelmente do futuro. Depreendendo-se assim, que o fracasso
escolar constitui um desafio generalizado que não pode ser ignorado sob o risco de se
criar condições para a distorção de todo um conjunto de ideais e valores que a sociedade
almeja transmitir às gerações presentes e futuras, via educação.
Na escola, baseando-se nas regras e metas pré-estabelecidas a nível institucional,
distinguem-se os bons dos maus, os mais dotados dos menos dotados, os incapacitados
dos capacitados e, como corolário, são seleccionados os que transitam e os que não
transitam de nível, portanto, os bem e os mal sucedidos. Como Sousa (2003, p. 109),
ironicamente comenta, “Os alunos que aprendem muita quantidade desses
conhecimentos têm boas classificações, recebem diplomas e tem preferência nas
selecções para emprego”. Consequentemente, os que não atingem este estágio estão
incluídos no insucesso. Poderá depreende-se daqui, que a escola não pode ser para
todos. Porque na verdade se o fosse, não haveria exclusões de alunos à base de
preconceitos sociais, linguísticos, culturais, e metas ou regras escola teria como tarefa
ensinar e educar todos indivíduos sem excepção baseada apenas no grau de
desempenho, sem estereótipos, sem discriminação e, por último sem classificações de
ordem administrativa, as quais são selectivas como nos referimos anteriormente e que
de algum modo podem suscitar nos aprendentes diversos sentimentos e reacções, cujas
consequências variam de individuo para individuo.
Quanto ao historial deste fenómeno, há a referir que muitos estudos relacionados com o
insucesso escolar foram publicados no inicio dos anos 60 e dai a aceitação desta
problemática entre os diversos estudiosos, a saber: psicólogos, sociólogos, pedagogos e
outros que não foram suficientemente abrangentes, isto é, não incluíam toda a
população escolar. Vejamos, Crahay (1996, p. 29) reporta que nos anos 50, em França,
o fenómeno insucesso era somente procurado em crianças provenientes de boas
famílias. Entenda-se por boas famílias, aquelas que possuíam condições
socioeconómicas estáveis e não só, mas também conhecedoras das boas maneiras, isto
é, conhecedoras do modus vivendi da classe dominante. Contudo, para as crianças
provenientes “(…) do meio popular que iniciam a escolaridade primária e a abandonam
precocemente (…)”, “ (…) utiliza-se a expressão debilidade ligeira, ou não se fala
delas”. Aqui estamos perante crianças desprovidas de boas condições socioeconómicas
e sem as ditas boas maneiras de se comportar em sociedade, as quais são remetidas ao
anonimato e consequentemente ao esquecimento. Estes estudos discriminativos são, à
partida, um meio de consolidação das diferenças sociais ao não incluir as crianças do
meio popular no estudo sobre as causas do insucesso escolar.
De igual modo, constituem um meio de sobrevalorização dos valores morais, cívicos e
culturais de um segmento da sociedade, o que à partida marginaliza a todo o indivíduo
que esteja fora destes parâmetros comportamentais e vivenciais.
Em contrapartida, o crescimento desta população vai constituir a alavanca para o
surgimento de centenas de investigações para tentar, ao menos, explicar esse facto.
Contudo, no final do século XIX e no inicio deste século, alunos que mostravam deficit
na aprendizagem eram chamados “viciosos, refractários, antiescolares, rebeldes, anti-
sociais, preguiçosos ou ainda pouco dotados, ininteligentes, débeis” (Crahay, ibid, p.
29). Nestas denominações vê-se claramente a tendência de se culpar o aluno pelo seu
próprio insucesso.
Neste contexto, o papel da escola, do professor, dos materiais do processo de ensino e
aprendizagem não estão sendo postos em questão. Não se coloca a possibilidade de uma
correlação aluno- escola- sucesso ou insucesso. Esta visão pode ser considerada
unilateral, pois ela exclui a possível influência da instituição educacional, assim como
outros factores ao aluno extrínsecos, no rendimento do principal utente do sistema
educativo, tais como a relação professor- aluno, a acessibilidade ou não dos materiais de
ensino pelo aluno e seu grau de facilidade ou dificuldade.
Outro exemplo que ilustra o insucesso da possível influência do ambiente escolar sobre
o desempenho do aluno. Como diz Patto (1996, p. 63) quando relata que no final do
século XVIII e início do século XIX alunos com insucesso eram rigidamente chamados,
pelos psicólogos, de ʺanormaisʺ, ʺduros da cabeça, idiotasʺ.
Esta autora acrescenta que “(…) quando os problemas da aprendizagem escolar
começaram a tomar corpo, os progressos da nosologia já haviam recomendado a criação
de pavilhões especiais para os duros de cabeça ou idiotas, anteriormente confundidos
com os loucos; a criação desta categoria facilitou o trânsito do conceito de anormalidade
dos hospitais para as escolas: crianças que não acompanhavam os seus colegas na
aprendizagem escolar passaram a ser designadas como anormais escolares e as causas
do seu fracasso são procuradas em alguma anormalidade orgânica”.
Em contrapartida, os sociólogos, já no início dos anos 60, contrariamente aos
psicólogos, defendem a possível correlação entre o insucesso escolar e a origem social
do aluno (Crahay, pp. 9-10).
De acordo com Mialaret (1999, p. 25) “ (…) ir à escola é desenvolver novos aspectos da
personalidade”. De facto, a escola visa essencialmente inserir o Homem no mundo da
ciência e da tecnologia, no sentido lato, e em contrapartida a casa visa essencialmente
incorporar o Homem dentro do modus vivenda daquele núcleo restrito que constitui a
base de qualquer sociedade humana: a família e seus interlocutores imediatos que são a
vizinhança e as instituições que fazem parte do seu dia-a-dia, a saber os serviços
hospitalares, o comércio, a igreja e outros.
O Insucesso escolar e suas possíveis causas
“A realidade nas escolas é que existem alunos inteligentes, que se distinguem na
habilidade de aprender e alunos que manifestam dificuldades na aprendizagem. Estas
diferenças dependem de muitos factores, mas não deixam de ser reais” (Menegolla,
1995, p. 79).
O insucesso escolar é uma realidade que tende a evidenciar-se no fraco desempenho do
corpo docente, em algumas manifestações dos alunos, tais como as reprovações, as
desistências, a apatia, o fraco desempenho nos níveis subsequentes de ensino assim
como o fraco domínio das quatro habilidades básicas (falar, ler, escrever e contar).
O estudo do SACMEQ (Southern and Eastern Africa Consortium for Monitoring
Educational Quality) 2007 mostra não apenas que o desempenho em Moçambique está
abaixo da média da região, mas também que a maior parte dos alunos na 6ª classe não
desenvolveu competências básicas de leitura e de matemática que garantam o seu
sucesso escolar nos níveis de ensino mais altos.
Falta ainda um instrumento diagnóstico para um melhor acompanhamento do processo
de ensino-aprendizagem ao nível da sala de aula no dia-a-dia (MINED, 2012, p. 58).
A sala de aulas é um espaço que congrega diferentes personalidades, capacidades,
aptidões, maneiras de ser e de estar. É esta realidade que deveria ser observada e
respeitada por todos os intervenientes no PEA.
Como Menegolla (1995, p. 79), nos chama a atenção, “Não se pode negar que existem
diferenças entre os alunos e nem se pode fugir dessa realidade. Diferenças que, por
vezes, não dependem da pessoa, mas sim da natureza. Portanto, a pessoa não pode ser
culpada por carecer de certas habilidades”. Contudo, a realidade leva-nos a crer que as
diferenças entre os alunos não é considerada pelos professores pois, para estes, todos os
alunos são iguais e daí que a exigência é a mesma para todos.
Conclusão
Todavia, há necessidade de se realizar estudos empíricos que possam evidenciar
propostas educativas mais orientadas para a realidade nacional. E, de modo mais
incisivo, propomos uma mudança da nomenclatura, É dentro desta visão que surgem
diversos trabalhos que visam resgatar em que medida o status da família onde o aluno
está inserido tem influência no seu rendimento escolar, nas suas capacidades
intelectuais, no seu comportamento e na sua inserção na sociedade, na adaptação ao
saber ser e saber estar, transmitido pelos professores na escola, muitas vezes diferente
do que aprendeu em sua casa.
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da Educação,Maputo.

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