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Segurança alimentar em tempos de COVID-19
De acordo com (Opas, 2020), citado por (Silva et. al, 2022), em Dezembro de 2019, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) recebeu um alerta de que uma epidemia de
pneumonia estava acontecendo na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República
Popular da China, sendo confirmado pelas autoridades chinesas de que se tratava de
uma nova cepa do coronavírus. A COVID-19 é uma doença infecciosa que pode
apresentar sintomas respiratórios e, em algumas pessoas, pode levar ao desenvolvimento
mais complexo da doença, em especial em idosos, pessoas com Doenças Crónicas Não
Transmissíveis (DCNT) ou pessoas com câncer.
Segundo (Stephens et al., 2020), citado por (Silva et., al 2021), além dos efeitos
epidemiológicos, sociais e económicos, a crise global decorrente da pandemia por
COVID-19 tem exposto a fragilidade dos sistemas alimentares. Os esforços mundiais
para controlar o vírus, limitando o movimento de pessoas, estão inevitavelmente
causando choques económicos e custos sociais que afectam o funcionamento dos
sistemas agrícolas e alimentares em todo o mundo. A demanda reduzida por
restaurantes e serviços de alimentação comercial, combinada com restrições de mão-de-
obra, capacidade de processamento e/ou armazenamento de alimentos, levou os
agricultores a desperdiçar grande quantidade da sua produção. À medida que a crise foi
aumentando, esses impactos são sentidos de maneira mais profunda nos sectores
agrícolas e economias nacionais. A pandemia fez abrandar a economia mundial e,
consequentemente, levou à redução de renda e à perda de empregos, afectando tanto o
poder de compra quanto o acesso e disponibilidade de alimentos. Desde o início da
pandemia, nenhuma interrupção significativa no fornecimento de alimentos foi
observada.
Para (Ilo, 2020), citado por (Silva et., al 2021), no entanto, os desafios logísticos nas
cadeias de suprimentos, particularmente as restrições de movimento domésticas e
transfronteiriças, e as questões trabalhistas podem levar à interrupção no fornecimento
de alimentos, especialmente se permanecerem a longo prazo.
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De acordo com (Silva Filho & Gomes Júnior, 2020), citado por (Silva et., al 2021),
além disso, restrições ao movimento podem impedir os agricultores de a cessar
mercados e resultar em desperdício de alimentos. Em muitos países, agricultores não
conseguiram vender seus produtos nos mercados locais ou em escolas, restaurantes,
bares, hotéis e outros estabelecimentos de lazer, uma vez que foram temporariamente
fechados. Assim, garantir o funcionamento contínuo das cadeias de suprimentos
nacionais e globais é crucial para evitar uma crise alimentar nos países que já enfrentam
desafios de SAN.
Segundo (Galanakis, 2020), citado por (Silva et., al 2021), a maior procura e
armazenamento de alimentos durante a pandemia, a redução ou interrupção da produção
e distribuição de alimentos, além da escassez de mão-de-obra também podem resultar
em picos de preços e aumento da volatilidade dos preços, desestabilizando os mercados
internacionais. Mercadorias de alto valor, especialmente perecíveis como frutas e
legumes frescos, carne, peixe e leite, são as mais afectadas.
De acordo com (Gombart et al., 2020), citado por (Silva et., al 2021), sabe-se que o
efeito das escolhas alimentares na saúde pode contribuir para a redução dos efeitos da
COVID-19, pois alguns alimentos e nutrientes (cobre, folato, ferro, selénio, zinco e
vitaminas A, B6, B12 e vitamina D) têm o potencial de melhorar a resposta
imunológica. No entanto, em um contexto de vulnerabilidade social, o acesso a estes
nutrientes por grande parte da população está comprometido.
Políticas dos países para acesso aos alimentos nos tempos de COVID-19
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De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), os governos podem
proteger seus cidadãos mobilizando bancos de alimentos, oferecendo transferências
monetárias a famílias vulneráveis, estabelecendo reservas alimentares de emergência e
adotando medidas para proteger os trabalhadores agrícolas. Os países também devem
expandir os programas de protecção social para ajudar aqueles que não tinham cobertura
anteriormente (FAO, 2020a). Essas medidas de enfrentamento a pandemia auxiliam na
garantia da segurança alimentar e nutricional da população mais vulnerável, além da
garantia ao direito humano à alimentação adequada.
De acordo com (The World Bank, 2020), citado por (Silva et., al 2021), nesse sentido, o
Banco Mundial desenvolveu projectos e implantou financiamento de curto e longo
prazo em alguns países da Ásia e África, a fim de garantir que as cadeias de
suprimentos continuem abertas e funcionais. É concedido, então, apoio às populações
mais vulneráveis por meio de programas de rede de segurança, complementados pela
distribuição de alimentos em áreas onde as cadeias de suprimentos são severamente
interrompidas.
Segundo o (Banco Alimentar, 2020), citado por (Silva et., al 2021), em Portugal, o
Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas foi intensificado durante
a pandemia para suprir a demanda de alimentos para famílias mais vulneráveis
(POAPMC, 2020). Além disso, foi construída a Rede de Emergência Alimentar,
estruturada a partir dos Bancos de Alimentos, para garantir o elo entre doadores e
famílias em insegurança alimentar.
Segundo (USDA, 2020b; TMF Group, 2020), citado por (Silva et., al 2021), outros
países da Europa, como Alemanha, Espanha, França e Itália publicaram várias medidas
de ajuda ao sector agrícola e alimentar, dentre elas o auxílio financeiro aos agricultores,
às pequenas empresas e trabalhadores individuais; permissão da entrada de
trabalhadores sazonais de outros continentes; e, no caso da Alemanha, autorização para
que trabalhadores sazonais continuassem exercendo sua função sem contribuir para o
sistema de seguridade social.
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produção de alimentos, é outro elemento que impacta negativamente na
insegurança alimentar. (Schappo, 2020, PP. 3-4).
De acordo com (ILO, 2020), citado por (Schappo, 2020), com as medidas necessárias ao
combate da COVID-19, como as de confinamento e de contenção, os níveis de pobreza
relativa das trabalhadoras e dos trabalhadores da economia informal poderão aumentar
em até 56 pontos percentuais nos países de baixa renda, de acordo com documento
publicado pela Organização Internacional do Trabalho.
De acordo com (Unicef, 2021), citado por (Silva, Silveira & Almeida, 2022), o relatório
da Organização das Nações Unidas (ONU), de Julho de 2021, apontou o agravamento
da crise da fome no mundo no ano de 2020. Ele foi elaborado por várias agências como
a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo
Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), o Fundo das Nações Unidas para
a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA) e a
Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que um décimo da população mundial
viveu situação de fome no ano.
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De acordo com (Rede Penssan, 2021) citado por (Silva, Silveira & Almeida, 2022), no
Brasil, foi realizado o Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da
Pandemia da COVID-19, onde revelou que 19 milhões de brasileiros enfrentam a fome
no seu dia-a-dia e cerca de “116 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e
permanente a alimentos e 43 milhões não contavam com alimentos suficientes”.
O inquérito mostra ainda que a insegurança alimentar pode ter avançado mesmo para as
pessoas que não viviam situação de pobreza, tendo como precursores as perdas do
emprego e renda devido à crise económica agravada pela Pandemia da COVID- 19
(Rede Penssan, 2021).
De acordo com (Silva & Ribeiro, 2020), citado por (Silva, Silveira & Almeida, 2022),
os acessos físicos e económicos aos alimentos tiveram grande repercussão na pandemia
devido às medidas de restrição de circulação. Com o fechamento de feiras livres e
também a paralisação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
agricultores familiares passaram a não ter onde vender sua produção, o que prejudicou o
acesso de parte da população a esses produtos.
De acordo com (FAO, 2021), citado por (Silva, Silveira & Almeida, 2022), a
desigualdade no acesso aos alimentos é a principal diferença observada quando se trata
de insegurança alimentar. Com a pandemia da COVID-19, em 2030 cerca de 30 milhões
de pessoas podem enfrentar a fome, em um comparativo se a pandemia não tivesse
ocorrido, o que mostra os efeitos a longo prazo da emergência de saúde.
De acordo com (Jayatissa, et al., 2021), citado por (Silva, Silveira & Almeida, 2022),
um estudo realizado no Sri Lanka mostrou que, mesmo antes da pandemia de COVID-
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19, já havia prevalência de desnutrição infantil, obesidade em mulheres e insegurança
alimentar, e as pessoas que já moravam em assentamentos urbanos antes da pandemia
foram as mais impactadas com as medidas de restrição impostas. Quase metade dos
domicílios que participaram do estudo e viviam em segurança alimentar passaram a
viver com insegurança alimentar na pandemia. Famílias precisaram recorrer a
poupanças ou empréstimos de dinheiro com amigos para conseguir enfrentar o período.
Factores como a diminuição da renda decorrentes da perda do emprego, redução de
salários e perda da fonte da renda estão entre os problemas para maior agravamento da
crise. As famílias relataram ainda um aumento das despesas familiares decorrente do
aumento dos preços dos alimentos.
Em países de baixa renda, é ainda mais difícil controlar a pandemia devido às pessoas
que vivem em situação de insegurança alimentar não terem a possibilidade de manter as
medidas de isolamento recomendadas pelos órgãos de saúde, principalmente pelo fato
de terem que sair para conseguir os recursos financeiros para garantir a sobrevivência,
tendo uma maior exposição ao vírus. Pereira e (Oliveira 2020).
De acordo com o relatório “The State of Food Security and Nutrition in the World
2021”, uma em cada três pessoas no mundo não tiveram alimentação adequada no ano
de 2020, o que representa cerca de 2,37 bilhões de pessoas, correspondendo a um
aumento de 320 milhões de pessoas em um único ano. O Banco Mundial estima que a
pandemia tenha aumentado o número de pessoas vivendo em extrema pobreza de 119
milhões para 124 milhões de pessoas (FAO, 2021).
De acordo com (Unicef, 2021) citrato por (Silva et. al, 2022), o relatório da ONU de
Julho de 2021, as crianças são as mais afectadas com a má-nutrição, o que compromete
o crescimento pela falta de alimentos. As mulheres em idade reprodutiva também estão
entre as mais afectadas, onde um terço delas sofre com anemia.
Segundo (Martinelli et al., 2020) citado por (Silva et al., 2022), a pandemia, problemas
associados à má nutrição - em todas as suas formas - aumentam, como carências
nutricionais, sobrepeso e obesidade, além das consequências directas da doença da
COVID-19.
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Segundo (Unicef, 2021) citado por (Silva et al., 2022), uma má nutrição pode repercutir
na vida de uma criança impedindo que ela se desenvolva de forma plena, o que pode
comprometer suas capacidades cognitivas, repercutindo em sua vida escolar e
aumentando as chances de mortalidade na primeira infância em comparação aos
nutridos.
Para (Nguyen, et al. 2021), citado por (Silva et al., 2022), a pandemia poderá trazer
muitas outras consequências, mesmo que de forma indirecta, além dos impactos do
próprio vírus. A insegurança alimentar, a morbidade, a mortalidade e a desnutrição
infantil podem ter sofrido grande impacto com a interrupção dos serviços de saúde e
nutrição, além das cadeias de abastecimento e meios de subsistência.
(Meredith, et al., 2020), citado por (Silva et al., 2022), os Estados Unidos, mais de 18%
dos lares foram considerados inseguros no quesito alimentar no ano anterior à
pandemia. Durante o surto, esse número subiu para mais de 24%. A pandemia tem
capacidade de afectar todas as dimensões da segurança alimentar tais como:
disponibilidade, acessibilidade, utilização e estabilidade de alimentos.
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processados ou outras acções pontuais, como as de caridade. Destaca-se a importância
de uma solidariedade que fortaleça a luta pela defesa da vida e dos interesses da classe
trabalhadora, nesse sentido, é fundamental o planeamento colectivo de acções e
políticas estatais que tenham como norte a protecção à vida e aos direitos fundamentais
a ela inerentes.
Segundo (Akseer, 2020), citado por (Silva et al., 2022), programas de transferência de
renda têm sido adoptados em diversos países para assegurar o acesso a alimentos pela
população de baixa renda. Países como o Peru e a República do Quirguistão
empregaram esse tipo de modelo, com incentivos financeiros para que a população
tivesse segurança social.
Para (Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca, 2020) citado por (Silva et al., 2022),
ditaram também programas já existentes, como o Programa de Alimentação Escolar
(PNAE), onde as escolas passaram a distribuir kits com alimentos para que as famílias
dos alunos fizessem o preparo em casa, já que as escolas estavam fechadas.
Para (Unicef, 2021), citado por (Silva et al., 2022), as medidas de restrição de
circulação impostas pela pandemia podem levar a um maior consumo de alimentos
ultraprocessados. Alimentos esses com elevado teor de sódio, calorias e gorduras. Isso
porque esses alimentos, em geral, têm preços mais acessíveis e também prazos de
validade bem maiores do que os alimentos in natura).
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Um dos exemplos é o de Moçambique, que neste momento encontra-se mergulhado em
conflitos armados e violentos nas zonas Centro e Norte do País, resultando em
deslocamento de famílias de seu local de origem, deixando para trás seus cultivos e
víveres. (Silva et al., 2022).
Conforme refere Alencastro (2020), citado por (Silva et al., 2022), a África do Sul
disponibilizou um fundo de 2,2 bilhões de dólares Norte Americanos, para ajudar
pessoas incapazes de trabalhar e assim tentar evitar a perda de empregos.
Ruanda, por sua vez, de acordo com a African News Agency (2020) formulou um plano
de protecção social para a entrega de alimentos gratuitos a pelo menos 20.000 famílias
na capital Kigali, com objectivo de limitar a propagação de COVID-19.
De acordo com (A Lei Orgânica de 2006), citado por (Ribeiro-Silva et al., 2020),
apresenta um conceito de Segurança Alimentar e Nutricional que consiste na realização
do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais,
tendo, como base, práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade
cultural e que sejam ambiental, cultural, económica e socialmente sustentáveis.
(Ribeiro-Silva et., al 2020, p. 3426).
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De acordo com (Ribeiro-Silva et al., 2020), para tematizar os desafios durante a
pandemia, pode-se considerar, em termos gerais, duas dimensões bem definidas: a
alimentar e a nutricional. A primeira se refere aos processos de disponibilidade
(produção, comercialização e acesso ao alimento); e a segunda diz respeito mais
diretamente à escolha, ao preparo e ao consumo alimentar e sua relação com a saúde e
com a utilização biológica do alimento.
Cada uma delas é permeada pelos objectivos de garantir alimentos saudáveis, que
respeitem a cultura alimentar da população e que tenham sido produzidos de forma
sustentável. Tais dimensões foram afectadas pela pandemia COVID-19 (Quadro baixo).
Cada uma delas é permeada pelos objectivos de garantir alimentos saudáveis, que
respeitem a cultura alimentar da população e que tenham sido produzidos de forma
sustentável. Tais dimensões foram afectadas pela pandemia COVID-19 (como ilustra o
quadro a seguir).
Dimensão alimentar
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Dimensão nutricional
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Conclusão
Decerto que sabe-se que o efeito das escolhas alimentares na saúde pode contribuir para
a redução dos efeitos da COVID-19, no entanto, em um contexto de vulnerabilidade
social, o acesso a estes nutrientes por grande parte da população está comprometido. A
insegurança alimentar, a morbidade, a mortalidade e a desnutrição infantil podem ter
sofrido grande impacto com a interrupção dos serviços de saúde e nutrição, além das
cadeias de abastecimento e meios de subsistência.
Conforme refere Alencastro (2020), citado por (Silva et al., 2022), a África do Sul
disponibilizou um fundo de 2,2 bilhões de dólares Norte Americanos, para ajudar
pessoas incapazes de trabalhar e assim tentar evitar a perda de empregos.
Ruanda, por sua vez, de acordo com a African News Agency (2020) formulou um plano
de protecção social para a entrega de alimentos gratuitos a pelo menos 20.000 famílias
na capital Kigali, com objectivo de limitar a propagação de COVID-19.
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Referências bibliográficas
1. Buanango, M., Galesi-Pacheco, L., Ramirez, Y., Costa, C. A. D., Santos, J.,
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