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Então a senhora considera que a educação infantil ainda está distante dos bebês?
Falar de educação infantil como se fosse algo homogêneo, de 0 a 5 ou de 0 a 6 anos, é
uma mentira, porque o acesso das crianças de 0 a 3 anos, essencialmente as de 0 a 2
anos, ao sistema é absolutamente insignificante em relação ao conjunto da etapa.
Portanto, quando dizemos que a educação infantil está se desenvolvendo, nós nos
referimos particularmente à faixa dos 4 anos para cima.
Um alto índice de mortes por causas evitáveis [que poderiam não ter ocorrido se
houvesse prevenção, tratamento ou serviço de saúde efetivo] significa dizer que a
sociedade está descuidando dos bebês como um grupo social. Se não está diminuindo, é
porque as políticas públicas não estão funcionando ali, seja saneamento básico, seja
atendimento hospitalar, da mãe e da criança. Há uma série de políticas públicas que
beneficiaram mais as pessoas idosas, como a aposentadoria rural. Todo mundo tem o
direito. As opções por políticas públicas são determinadas por barganhas sociais,
dependem de negociações, e existem atores sociais mais fortes do que outros. A posição
que o Brasil ocupa em expectativa de vida é melhor do que a posição do país em termos
de mortalidade infantil, por mais que ela esteja caindo. Ou seja, a sociedade brasileira
está dando mais atenção a outros momentos da vida.
O que melhorou nas últimas décadas?
Quando foi definida a lei do Fundeb, em 2006, muita mobilização foi necessária para
incluir a creche e para que o valor fosse igual ao destinado à pré-escola. À frente da
Coordenação de Educação Infantil (Coedi) do MEC, a professora Rita Coelho tem
conseguido algumas melhorias. Antes, o custo da alimentação da merenda escolar para a
creche era inferior ao custo da alimentação nos outros níveis, e não é mais assim. Não
podemos ter o discurso da tragédia. Antes não havia sequer informação sobre a
educação de crianças de 0 a 4 anos, o que teve início em 1995. Até os anos 2000, não se
falava em qualidade. Hoje se fala, e existe alguma mobilização política, como o
Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil.
A senhora considera que a avaliação dessa etapa pode ajudar o Brasil a ter um
padrão básico de qualidade da educação infantil?
Pode, mas não se ficar no papel. Os critérios nós já temos. Todo ano o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) pergunta para as creches se têm
banheiro, berçário, parquinho. E todo ano nós sabemos que não são todas que têm o
básico. Mas não acredito que o problema seja só do governo. Eu acho que os
movimentos sociais contemporâneos também não estão interessados nessa etapa da
vida. Eles estão mais preocupados com o que chamamos de justiça de reconhecimento,
política identitária, do que em justiça distributiva, de igualdade no que diz respeito ao
acesso a bens materiais.
Qual sua visão sobre as metas do Plano Nacional de Educação para a educação
infantil?
Não entendo por que acham normal existir uma meta para a creche diferente da pré-
escola. A sociedade está propondo o objetivo de ter 100% da pré-escola até 2016 e de
ter 50% de creche
https://revistaeducacao.com.br/2014/09/15/incluir-os-bebes-e-preciso/#:~:text=Com
%20mais%20de%2040%20anos,ra%C3%A7a%20e%20idade%20do%20Brasil.