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PUBLICAÇÃO DA COORDENADORIA PEDAGÓGICA DA SME PARA OS EDUCADORES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO
EDUCOMUNICAÇÃO
Estudante tem Voz
SUMÁRIO
EDITORIAL...................................................................................... 3
EDUCOMUNICAÇÃO: O QUE É
E COMO APLICAR NA SUA AULA................................................ 40
RELATO 1...................................................................................... 55
PUBLICAÇÃO DA COORDENADORIA PEDAGÓGICA DA SME PARA
OS EDUCADORES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO RELATO 2...................................................................................... 60
ARTE
NÚCLEO DE CRIAÇÃO E ARTE | CM | COPED | SME
ANA RITA DA COSTA
ANGÉLICA DADARIO
CASSIANA PAULA COMINATO
FERNANDA GOMES PACELLI
SIMONE PORFIRIO MASCARENHAS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
PESQUISA ICONOGRÁFICA Magistério / Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria
MEMORIAL DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL Pedagógica.– n. 10 (2020). – São Paulo : SME / COPED, 2020.
Arte Educador e professor de Artes da Rede Municipal de Ensino de São Paulo Código da Memória Documental: SME 146/2020
com atuação em Guaianases e Cidade Tiradentes. Elaborado por Patrícia Martins da Silva Rede – CRB-8/5877
Editorial
Estudante tem voz!
Oportunizar e permitir. Não poderia começar esse editorial com outras palavras. Desde que co-
meçamos a discussão para a construção do Currículo da Cidade, em 2017, não víamos outro lugar
para nossos estudantes que não o de autores de suas histórias.
Esse lugar só é possível se nós, adultos, nos colocarmos à margem. Não como meros expectado-
res, mas como aqueles que criam oportunidades e permitem erros e acertos, oferecem espaço para
que os estudantes expressem seus pontos de vista e exerçam, de fato, o protagonismo. Isso tudo
permeado de muita escuta ativa.
Os profissionais da educação são os elos mediadores do processo. São os animadores e cons-
trutores dos diálogos dos projetos na escola. A dedicação de colocar e firmar meninas e meninos no
centro das decisões de escolha dos conteúdos de interesses e das formas de expressão pela mídia
transforma estes profissionais em militantes do direito à comunicação democrática e participativa
na comunidade escolar.
Essa é a premissa dos projetos de educomunicação desenvolvidos na Rede Municipal de Ensi-
no. Projetos que têm como fundamento básico a proposição do diálogo permanente dos estudantes
com a comunidade escolar.
Por meio de proposições, como Rádio Escolar, Produção Audiovisual, Cinema, Fotografia, Co-
municação pelas Redes Sociais, Jornal Mural e Impresso, História em Quadrinhos, Fanzine, Agên-
cias de Notícias, dentre outros, crianças, adolescentes e jovens, estudantes da Educação Infantil ao
Ensino Fundamental, desenvolvem o seu direito à comunicação democrática e responsável. Elas
e eles, coletivamente, constroem suas produções com propósito de intervenção social nas suas
comunidades, como campanhas, difusão de iniciativas educacionais, promoção de cultura de paz
com e pela comunicação para apoiar o convívio escolar, utilizando uma comunicação bem peculiar:
estudante falando com/para estudante.
Nesse percurso, estudantes produzem e realizam a leitura crítica da mídia alinhada à Matriz de
Saberes, e suas produções contribuem para promoção da educação para os Objetivos do Desenvol-
vimento Sustentável nas comunidades escolares.
As iniciativas para construir uma cultura educomunicativa na Rede só são possíveis por meio
da formação continuada dos profissionais da Educação. Desde 2001, com a implantação do Proje-
to Educom.Rádio, a Rede Municipal de Ensino tem recebido em seus territórios especialistas em
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Educomunicação para ampliar o repertório das linguagens de comunicação e suas tecnologias com o
propósito de fortalecer o protagonismo das crianças e adolescentes e conectar a escola a uma pedagogia
freiriana, que respeita o valor da pluralidade dos sujeitos na escola.
Os estudantes educomunicadores são nossos parceiros. Um exemplo notável foi a participação na maior
pesquisa sobre o que pensa o estudante sobre Educação no país. Em 2017, estudantes do Programa Imprensa
Jovem organizaram uma consulta pública que reuniu 43.655 estudantes que puderam falar o que pensam
sobre educação e escola. Pela primeira vez na Rede, o Currículo da Cidade promoveu o pensamento do es-
tudante, incluindo os dados da pesquisa como referência ao trabalho pedagógico dos professores.
O reconhecimento da prática de Educomunicação na Rede é inegável. Seja pela inspiração da cria-
ção de lei municipal, pelo impacto na diminuição da violência nas escolas, pelos prêmios nacionais e
internacionais conquistados, pela referência no Brasil com a Alfabetização Midiática Informacional,
segundo a Unesco.
A construção de uma proposta de educação que inova pela solidariedade e a parceria entre estudan-
tes e professores mediada pelos princípios da democracia são os lemas da educomunicação, uma pro-
posta que tem força e capacidade de oferecer um paradigma de educação pública que rompe barreiras,
rumo a uma educação de qualidade a todos.
Equipe COPED
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EDUCOM porta
larga para o mundo
5
B
Por rilho nos olhos. Esse é um dos termos que, oportunidade de aprender conceitos sobre rádio esco-
Bruno Ferreira talvez, sintetize o que as vivências educomu- lar, jornal impresso, blogs e entrevistas, desde como
nicativas provocam em estudantes e profes- fazer, o que é e qual impacto nas minhas aprendiza-
Jornalista, professor e sores que se envolvem em diferentes iniciativas de gens, além da parte prática, quando colocávamos esse
educomunicador. É mestre em
Comunicação e especialista em comunicação na escola. Trata-se de um sentimento aprendizado em ação, por meio do desenvolvimento
Educomunicação pela ECA/USP.
que parece (re)estabelecer o sentido entre a escola e de produtos finais, como a rádio na escola durante o
o anseio por expressão e descoberta por parte do cor- intervalo, jornal para circulação no bairro e blog para
po docente e discente, que encontram nas práticas de divulgar nossa cobertura nos eventos. A grade de ati-
educomunicação uma forma de ampliar horizontes, vidades ocorria sempre com a orientação, estímulo
ressignificar as relações que se dão na escola e se tor- e engajamento dos professores, como formadores e
narem agentes de transformação da realidade. facilitadores desse nosso processo de construção co-
Ao longo de 18 anos na Rede Municipal de En- letiva do conhecimento”, afirma Gabriela.
sino de São Paulo, a proposta de educomunicação Foi a vivência nos projetos escolares de educo-
foi mais do que uma prática pedagógica, a partir municação que aguçou a curiosidade de Gabriela e
da comunicação, mas, sobretudo, um espaço para seu desejo por aprender sempre. “A vivência com
o autodesenvolvimento e transformação pessoal de Educom despertou em mim a fome pelo conheci-
inúmeros estudantes, professores e gestores da Rede mento, me ensinou que aprender poderia ser diver-
que ansiavam por abordagens mais humanas e ca- tido, por meio de elementos que me estimulavam e
pazes de contribuir para a superação de problemas dialogavam com a minha realidade. Ter entrevistado
complexos no âmbito escolar, como a violência, a a empreendedora local, dona da lanchonete em que
necessidade de experimentação de novas metodolo- eu comprava doces, me ensinou sobre finanças e eco-
gias, a ressignificação da escola e de seus vínculos. nomia colaborativa, assim como ter feito a cobertura
Este texto pretende, portanto, apresentar alguns jornalística de eventos como o Campus Party me en-
personagens dessa história de transformação. Estu- sinou sobre tecnologias, novas mídias e carreira. Todo
dantes, professores e gestores que se sentiram inspi- esse conhecimento expandiu meus horizontes sobre o
rados e mobilizados ao terem contato com a práxis significado de aprender e me inspirou a sonhar com a
educomunicativa. construção de uma carreira de sucesso em áreas que,
anteriormente, eu até desconhecia”, diz ela.
Experiências Gabriela, além de trabalhar como jornalista,
tornou-se uma profissional de educomunicação.
educomunicativas Oferece formações e palestras para professores e
estudantes da área de educação, algumas em parce-
Comunicativa desde criança, Gabriela Vallim, rias com organizações da sociedade civil, coletivos
25 anos, hoje jornalista, que trabalha com comuni- e startups, inter-relacionando o tema com relações
cação corporativa em multinacional, foi integran- étnico-raciais, diversidade e juventudes. No âmbito
te de projetos de educomunicação da Rede entre pessoal, Gabriela acredita que a educomunicação foi
os anos de 2009 e 2012. Quando era estudante da um espaço importante para o início da consolidação
EMEF CEU Azul da Cor do Mar, na zona leste de de um ideal de vida:
São Paulo, sua mãe, professora de um CEU, soube “A educomunicação me permitiu visualizar um
da existência de um jornal escolar e acreditou que futuro que, naquela época, era apenas possível no
poderia ser uma boa alternativa para o seu desen- meu sonho, me conectou com pessoas que me ensi-
volvimento pessoal e social, uma vez que Gabriela naram ferramentas e caminhos para meu desenvolvi-
sempre teve facilidade para se comunicar. mento, além de acompanhamento na minha jornada,
“As atividades eram divididas em dois momen- que passei a vislumbrar a partir das experiências vi-
tos, a teoria e, posteriormente, a prática. Tínhamos a vidas pela participação no projeto. Tenho orgulho por
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A vivência com Educom despertou se tornasse mais desenvolta, característica que hoje
a ajuda em seu trabalho.
em mim a fome pelo conhecimento, “Pude aprender a me expressar melhor, a falar
me ensinou que aprender poderia em público, e também, não menos importante, me
ser divertido, por meio de elementos tornei uma pessoa muito bem informada sobre tudo,
que me estimulavam e dialogavam pelo fato de buscar conteúdos para passar aos meus
com a minha realidade. colegas nos programas de rádio, o que significativa-
mente contribuiu para minha melhora nos estudos e
ter feito parte, satisfação por me permitir comparti- notas. Hoje, eu lido diariamente com muitas pesso-
lhar esse conhecimento com outros, como o convite as, faço negociações, portanto, ser comunicativa e
que recebi da UNESCO para apresentar minha mo- desenvolta, me ajuda bastante nas situações do dia
nografia sobre o tema em uma das edições da Games a dia”, conta Laís.
for Change, nos EUA, em um dos maiores eventos de O estudante Arthur Ricardo David Hirchi, de 13
tecnologia e games de impacto social”, diz ela. anos, do 6º ano do Ensino Fundamental da EMEF
Também o jornalista Douglas Calixto, de 29 Pedro Américo, vivencia atualmente a expansão de
anos, que é mestre e doutorando em Ciências da horizontes, experimentada por Gabriela há mais de
Comunicação pela ECA/USP, participou do Edu- uma década. O estudante sente que sua participa-
com.rádio durante os anos finais do Ensino Fun- ção no projeto Imprensa Jovem o tornou mais culto,
damental. Foi convidado para participar do projeto “pois fui a lugares que nunca imaginei que poderia;
porque era presidente do Grêmio Estudantil e pelo entrevistei pessoas interessantes como no Festival
interesse em jornalismo e comunicação, existente de Invenção e Criatividade, realizado na USP, onde
desde aquela época. pretendo estudar Astronomia, e prestei assessoria
Douglas destaca a formação cidadã como prin- para os colegas do projeto na produção das maté-
cipal contribuição do Educom.rádio para sua vida, rias”, conta o adolescente.
pois nesse contexto aprendeu a discutir e debater Arthur, que é cadeirante e dedica-se a um projeto
os acontecimentos na escola de forma aberta, plu- pessoal de pintura, paralelamente à escola, diz que
ral e democrática. a partir de sua experiência com educomunicação,
“Eu me formei em Jornalismo, após o grande conseguiu desenvolver-se pessoalmente, sobretudo
impacto que o projeto Educom.Rádio teve na minha no que diz respeito à oratória e às relações interpes-
vida. Ao final do projeto, decidi que a comunicação soais: “O projeto me ajudou a me expressar melhor
e a educação estariam para sempre em minha vida. nas exposições e eventos da Associação dos Pintores
E, de fato, tenho feito diariamente trabalhos,
pesquisas e desenvolvimento de projetos que
trabalham com Educomunicação. Mas, mais
do que isso, a forma como eu me relaciono
com as pessoas e com o mundo tem grande
influência do Educom.Rádio: respeito à dife-
rença e ao lugar do outro. Nada é mais educo-
municativo do que o fazer coletivo de forma
democrática”, diz Douglas Calixto.
Outra história exitosa vinculada ao pro-
jeto Educom.rádio é a da consultora Laís de
Souza Costa, de 24 anos, que participou da
iniciativa em 2001. Para ela, o envolvimento
com a educomunicação na escola fez com que
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com a Boca e os Pés – APBP, da qual participo como Fábio, ao perceber o potencial da práxis edu-
pintor e palestrante. Ajudou-me também nas posta- comunicativa, procurou aprofundar-se nos estudos
gens do blog, em que escrevo, com a colaboração da acerca do campo e integrou, em 2011, a primeira
minha mãe”, diz o estudante. turma do curso de Licenciatura em Educomunica-
ção, da ECA/USP, que não chegou a concluir, e uma
Da docência à
especialização em Mídias na Educação, promovida
em parceria pelo Programa e-Proinfo, do MEC, e
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Imprensa Jovem
Educação cidadã a
partir do jornalismo
Imprensa Jovem desenvolve criatividade
e senso crítico dos estudantes
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O
Por
Imprensa Jovem vive se metendo onde Criar uma Agência de Notícias Imprensa Jo-
Carlos Lima é chamado. Estabelecido como um pro- vem tem possibilitado às escolas interagir com
grama educacional da Rede Municipal sua comunidade, com os estudantes e com a ci-
Coordenador do Núcleo de
Educomunicação, criador do de Ensino de São Paulo, ele está conectado às pro- dade. Uso a definição do aluno repórter André, do
projeto, atualmente Programa
Agência de Notícias Imprensa postas que promovem a participação dos estudan- 4º ano da EMEF Tarsila do Amaral, para entender
Jovem. Ganhador do Prêmio
Aprendizagem Criativa do tes nas escolas. Afinal de contas, estudantes têm esse movimento estudantil de diálogo social com
Media Lab do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts –
MIT Fundação Lemman.
voz e quando eles são chamados podem contribuir e pelas mídias no território da escola: “O Impren-
e muito com suas percepções e ideias. sa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma
Por meio da produção jornalística multimídia, rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece
o projeto “Imprensa Jovem – Agência de Notícias vira notícia. Contamos os fatos e acontecimentos
na Escola” estimula a participação e amplia os ca- por meio dos nossos pontos de vista. Registramos,
nais de comunicação da escola com a sua comu- editamos, publicamos e compartilhamos. Somos
nidade. Os estudantes desenvolvem, de maneira alunos e alunas que produzem notícias”.
autônoma e colaborativa, habilidades críticas e Atualmente, o Imprensa Jovem está presente
criativas, a partir de produção de pautas, pesqui- em 417 Unidades Educacionais. As agências de
sas e coberturas, que são compartilhadas por meio notícias estão espalhadas em toda parte. No for-
de blogs, rádios virtuais, canais no YouTube e pá- mato “Imprensinha Mirim”, as crianças também
ginas no Facebook, entre outras mídias sociais. brincam de produzir mídia e, ao mesmo tempo,
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O Imprensa Jovem é um espaço de expressão. Somos uma
rede e estamos em sintonia. Tudo o que acontece vira
notícia. Contamos os fatos e acontecimentos pelos nossos
pontos de vistas...
desde cedo a colaborar entre si. a participar de intercâmbio no MIT Media Lab, em
Já com os adolescentes, o papo é assim: a pau- maio de 2019, em reconhecimento à proposta que
promove a criatividade,
ta é delas e deles. E toda bagagem que eles trazem
Após a experiência de intercâmbio, promo-
se encaixa para realização de entrevistas, cober-
vido pelo Media Lab MIT, o programa teve um
turas jornalísticas, criação de conteúdos e difu-
saldo de crescimento de 250 para mais de 400
são de suas produções. Eles exercem a autonomia
Unidades Educacionais. O intercâmbio com Me-
imbuídos de colaboração e protagonismo, com a
dia Lab MIT também ampliou nosso olhar sobre
marca do diálogo de Paulo Freire, sem deixar de
como podemos aperfeiçoar as práticas pedagó-
fora a sua preparação para ler e refletir a mídia.
gicas do nosso projeto. Das várias experiências
A comunicação é um direito humano. Por que vivenciamos, participar como ouvinte de uma
isso, ao longo dos quase 15 anos, nos constitu- aula na Escola Kennedy, trouxe inspirações para
ímos como uma tecnologia social de empodera- conectar o Imprensa Jovem às aulas.
mento do estudante pela e com a comunicação Essa vivência de uma semana nos Estados
livre, responsável, reflexiva, expressiva, comu- Unidos nos mostrou o quanto as ideias dos estu-
nitária e democrática. dantes podem promover uma educação significa-
tiva. O papel do estudante é gerar conhecimentos
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P
ara mim, o convite para este artigo foi mui- profissionais, relacionadas à atividade de produção Por
to importante: há exatamente duas décadas, musical. Lembro-me de que, na época, muitos cole- Marciel A. Consani
assumi uma atuação constante em pesqui- gas que compartilhavam comigo da formação mu-
sa e formação docente no uso das Tecnologias na sical “clássica”, não viam com bons olhos aquela Doutor em Ciência da
Comunicação e professor
Educação. Na época, início dos anos 2000, fazia “invasão eletrônica” que tomava de assalto os re- da Licenciatura em
Educomunicação da ECA/USP e
muito sentido adotar a expressão “tecnologia” dutos da “verdadeira” arte, calcada na tradição e no do Programa de Pós-Graduação
em Ciência da Comunicação
como uma categoria epistemológica consistente, contato humano olho no olho — seja lá o que isso (PPGCOM) na mesma Unidade.
quando imperavam as tendências da “informática quer dizer.
educativa”, logo suplantadas pela abordagem das Segundo: nos dias de hoje, com alguma fre-
TIC/NTIC (Tecnologias/Novas Tecnologias da quência, participo de congressos como expositor
Informação e da Comunicação). ou convidado para mediar mesas que enfocam a
Hoje, penso que esse uso lato do termo “tecno- relação tecnologia/educação. Eventualmente, re-
logia” deva ser evitado, não porque ela não mereça corro a uma metáfora musical para me apresentar
ser debatida e estudada, mas pelo fato de essa dis- como uma “guitarrista de rock tocando num con-
cussão ter se tornado muito complexa, devido ao certo barroco”, numa tentativa de reduzir o estra-
acúmulo e à imbricação de conceitos e abordagens nhamento de quem constata que tenho muito pouco
no âmbito da prática docente. Assim, se, por um entusiasmo por novidades tecnológicas.
lado, já não indagamos mais “se” e “por que” as Ambos os aspectos mencionados me dão con-
tecnologias digitais (denominação mais corrente) ta de que parece haver uma polarização clara entre
devem ser integradas nos processos pedagógicos, os educadores que rejeitam as (muitas) inovações
por outro, a resposta à questão sobre “como” isso digitais que, no curso de uma geração, transfor-
deve acontecer está muito longe da unanimidade. maram irreversivelmente nossa rotina e seus co-
Para não correr o risco de adentrar uma discus- legas — não necessariamente mais jovens — que
são complexa e estéril, dado o espaço limitado de acreditam piamente num papel transformador ine-
que dispomos, dividiremos nosso texto em duas rente às tecnologias, ignorando algumas de suas
partes, sendo que, na primeira, problematizaremos terríveis contradições.
a expressão “tecnologia” e, na segunda, aponta- Poderíamos tomar emprestada a nomenclatura
remos brevemente como a “Educomunicação” se de Eco (2011), quando se refere aos “Apocalíp-
oferece como alternativa para conciliar demandas ticos” e aos “Integrados”, sem nos esquecermos
escolares com uma educação transformadora. de que, entre um e outro polo, há um leque de va-
riações nos quesitos de aceitação ou rejeição das
Tecnologias da
tecnologias.
De nossa parte, pensamos que um vício origi-
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A Educomunicação e social permanentemente conectado com os jovens
aprendentes, a mediação pedagógica por meio das
sua abordagem crítica tecnologias (CONSANI, 2008) passa a ser, não ape-
nas sua responsabilidade natural, mas uma fonte ines-
da tecnologia gotável para estratégias problematizadoras.
Assim, é muito provável que, na atualidade,
Paulo Freire (2011), ao lado de Mario Kaplún ainda não tenhamos chegado a um ajuste dura-
(1999), é reputado como um dos “padroeiros” douro na tarefa de contextualizar tantas inova-
da Educomunicação. Sua expressão “Cavalo de ções tecnológicas que incidem no ambiente es-
Troia”, aplicada indistintamente aos meios de co- colar. Entretanto, enquanto existir a instituição
municação e aos computadores, manifesta uma escolar, ela continuará sendo o espaço para a
desconfiança (diga-se de passagem, justificada) necessária mediação crítica, independentemente
em relação à presença das chamadas TICs no con- dos câmbios geracionais.
texto escolar. Kaplún também não soa mais oti-
mista quando se refere, por exemplo, à EaD como
uma forma de “Incomunicação”.
Referências
Ambos os autores, falecidos nos anos 1990, não CONSANI, M. A. Mediação tecnológica na educação: conceito e
aplicações. 2008. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação)
chegaram a assistir o tsunami digital avassalador que – Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São
incidiu sobre a cultura cotidiana. O que diriam hoje, Paulo, 2008.
por exemplo, sobre o fenômeno das redes sociais? KAPLÚN, Mário. Processos educativos e canais de comunicação.
Comunicação e Educação, n. 14, p. 68-75, jan.-abr. 1999.
Essa constatação, em absoluto, não significa que
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. 7. ed. São Paulo:
haja algum tipo de incompatibilidade básica entre o Perspectiva, 2011.
emprego das tecnologias da educação e o trabalho FREIRE, Paulo; GUIMARÃES, Sérgio. Educar com a mídia: novos
dos educomunicadores. Muito pelo contrário, pois diálogos sobre educação. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
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Educom.rádio
Memórias da Educomunicação
no Município de São Paulo
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N De inovação à
Por a Física, temos um fenômeno conhe-
Ismar de Oliveira Soares cido como “interferência de ondas”.
1 A declaração da Prof.a Cida Perez compõe a parte inicial de documentário disponível no Youtube, sob o título: Vídeo Institucional - Projeto Educom Radio.
Acesso: <https://www.youtube.com/watch?v=FDEVvZY164U>
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Do convite da dentre outras ações – habilitava os participantes (pro-
fessores, estudantes e membros das comunidades edu-
professora Dilce cativas) a elaborarem entre si planejamentos de ações
educomunicativas em defesa da paz e da vida colabo-
à decisão da rativa, no contexto escolar.
Nesse sentido, o Educom.rádio representou
professora Marívia uma formação construída, em última análise, pelos
próprios participantes, traduzindo a aprendizagem
A proposta de levar a educomunicação às esco- em vivências cotidianas. Foi por isso que a iniciati-
las do Ensino Fundamental, atendendo professores va ganhou densidade, fincando raízes profundas no
e estudantes da 4ª à 8ª séries, esteve alocada, ini- solo da prática educativa das escolas do município.
cialmente, na instância do Projeto Vida, vinculado O progresso alcançado levou a Secretaria Muni-
ao Gabinete do Secretário de Educação (na época, cipal de Educação de São Paulo a transferir o progra-
o Prof. Dr. Fernando Almeida, então docente da ma, no início da última fase do curso (2º semestre de
PUC/SP), a partir de um convite feito ao NCE/USP 2004), da área de “projetos especiais” não curricula-
(Núcleo de Comunicação e Educação da Universi- res para o interior da área pedagógica, no espaço sob
dade de São Paulo) pela coordenadora Prof.ª Dirce a coordenação da Diretoria de Orientação Técnica -
Gomes, tendo como meta – como já foi sinalizado DOT. A justificativa fornecida, na época, pela Prof.ª
- a redução da violência nas escolas da prefeitura. Marívia Torelli, responsável pelo órgão, lembrava
O programa de formação – que incluía palestras, que o novo paradigma levado à área da linguagem es-
dinâmicas de grupo, oficinas de produção midiática, tava sendo visto pelas autoridades municipais como
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um referencial de efetivo interesse para o projeto edu- trajetória, tendo sido transformado de uma política
cativo do município, levando em consideração que a de governo a uma política de Estado. Ainda mais:
nova prática tinha como objeto justamente a gestão cada nova administração que chegava à Prefeitura,
da comunicação nos espaços educativos. no decorrer dos últimos 18 anos, não apenas reco-
nhecia os avanços do programa, como oferecia sua
A estratégia
própria contribuição para aperfeiçoá-lo.
Os pesquisadores atribuem o fato, em primeiro
Superando os desafios
gias. A pesquisa teve como título “Educomunicação e
as práticas pedagógico-comunicacionais da avaliação
formativa no ensino básico” (ECA/USP).
O Educom.rádio conseguiu superar um desafio
vigente, com certa regularidade, na prática admi-
nistrativa brasileira: a descontinuidade. Diferente-
Visão de futuro
mente do que tem ocorrido com outras iniciativas, A vocação de São Paulo é, em primeiro lugar,
o Educom não sofreu interrupções ao longo de sua a de dialogar com o país e com o mundo sobre seu
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protagonismo na prática educomunicativa. Para A foto que faltou
tanto, cumpre às autoridades zelar pela coerência
epistemológica (a relação entre teoria e prática) do
programa e mantê-lo sincronizado com a política Passados 18 anos do início do Educom.rádio,
educacional do município, como ocorreu na última sinto falta, nos meus arquivos, de uma imagem - se é
reforma curricular, ocasião em que mais de 47 mil que a tenha produzido! Alguma foto que tivesse re-
alunos vinculados ao Imprensa Jovem tomaram par- gistrado a partida das 17 vans que saíram, por volta
te nos debates que consolidaram a reforma educa- das 7h da manhã, da frente da ECA/USP em direção
cional hoje vigente na cidade. Em segundo lugar, aos diferentes polos, no centro ou nas periferias da
cabe à Prefeitura não negar-se a participar de debates cidade, para encontrar, exatamente às 8h da manhã,
públicos, inserindo-se em programas que envolvam os inscritos no programa. Cada veículo levava de 10
ações colaborativas com outras instituições, como a 15 mediadores, em viagens que duravam de 15 mi-
ocorreu recentemente com o Educom.geraçãocidadã nutos a uma hora.
2016-2018, projeto que uniu uma escola do municí- Não sei se as escolas ou os professores da época
pio (EMEF CEU Casa Blanca) a uma escola privada registraram, de forma igual, as partidas e chegadas
(Colégio Dante Alighieri) em práticas interinstitu- dos ônibus que faziam o trajeto entre cada escola e
cionais, contando para tal com a assessoria do NCE/ os polos do Educom, em seu bairro ou região. Sei
USP e da ABPEducom (Associação Brasileira de que não será fácil encontrar, afinal não havia celular
Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação). nem o whatsapp naqueles tempos.
Importante lembrar que São Paulo – com seu Mas das lembranças ninguém certamente se
programa educomunicativo – tem muito a ofere- esqueceu! Era justamente nos ônibus e nas vans
cer à Base Nacional Comum Curricular – BNCC, que muito aprendizado ocorria, muitos planeja-
no debate e na implantação, em todo o país, de uma mentos eram feitos, muitas histórias eram conta-
proposta curricular em condições de dialogar com a das. Histórias que consolidaram o pertencimento
perspectiva defendida pela UNESCO, sob a deno- de todos a uma experiência que, mais que inova-
minação de Educação Midiática Informacional. dora, foi enraizadora.
Fotos: Marciel Consani
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Cinema e Educação
Um namoro repleto de descompassos
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A
educação é um campo que existe há sécu- cinema e educação manteve uma relação despropor- Por
Claudia Almeida
los e suas transformações acompanham o cional, em que se somava a ideia de que prazer e en- Mogadouro
que acontece na sociedade, nem sempre no tretenimento não poderiam ser educativos. É nessa
mesmo compasso. O cinema surgiu no final do sé- fase que se cristaliza a ideia de que, para desempe- Historiadora, com
especialização, mestrado e
culo XIX, sendo que, no Brasil, ele aconteceu nos nhar um papel realmente formador, seria preciso um doutorado pela ECA-USP.
Formadora audiovisual de
primórdios do século XX. cinema com conteúdos edificantes e “informativos”. Professores da Rede Municipal
de Ensino de São Paulo.
O relacionamento entre o cinema e a educação Até hoje se mantém no imaginário de todos que ci- Criadora e coordenadora do
nem sempre foi harmonioso. Se compararmos essa nema educativo é “chato” e que os documentários Grupo Cinema Paradiso e do
Janela Aberta - Cinema &
convivência com um namoro, podemos separá-lo são filmes mais apropriados para o uso educacional, Educação.
em duas fases. A primeira tem a ver com esse iní- já que eles trazem “informações verídicas”. Justa-
cio do século XX, momento em que predominava mente por se pensar apenas no conteúdo dos filmes
uma educação tradicional, ainda bastante determi- (como se fossem material didático) e não na lingua-
nada por uma visão religiosa, apesar do período da gem cinematográfica, há uma desconsideração que o
República ter instituído a educação laica. Os edu- documentário também é resultante de muitas opções
cadores e os religiosos viram um grande perigo na- e costuma trazer um ponto de vista.
quela nova forma de entretenimento que chegava: Principalmente a partir dos anos 1950, período
sala escura, filmes encantadores, que envolviam o de grande efervescência cultural no Brasil, eram os
espectador pelo caminho da emoção e não da razão. cineclubes que desempenharam o papel de formador
O cinema, que representa o primeiro formato da cultural. O cineclubismo teve grande importância no
indústria cultural, fez sucesso imediatamente com Brasil entre as classes médias das grandes cidades
as populações urbanas e e se constituiu em uma
foi visto, de início, como Pelo fato do cineclube sempre prática de formação
um possível “deformador promover debates após a exibição, cultural paralela à edu-
de mentes”, algo que os cação escolar. Sabemos
educadores precisariam
construiu-se entre os frequentadores que há, atualmente, uma
controlar. Temos aí um a ideia de filme aliado à reflexão e geração de adultos que
relacionamento desigual, construiu sua forma-
ao conhecimento.
com uma das partes que- ção cultural a partir do
rendo dominar/controlar cinema, de maneira in-
a outra. As cenas tão conhecidas do filme Cinema formal, mas densa. Foi a partir dos cineclubes que
Paradiso, em que o padre manda cortar as cenas de estudantes e cinéfilos começaram a ter acesso a uma
beijos, retratam muito bem essa situação. filmografia menos comercial, que permitia o acesso,
Apesar da desconfiança, a educação reconhe- o desfrute e a construção de uma cultura cinema-
ce que o cinema pode desempenhar um importante tográfica. Pelo fato de o cineclube sempre promo-
papel educativo. Após a Revolução de 1930 e a in- ver debates após a exibição, construiu-se entre os
fluência das ideias da Pedagogia Nova, constitui-se frequentadores a ideia de filme, sempre aliado à re-
uma comissão para organizar as atividades do cine- flexão e ao conhecimento (não escolar, mas potente
ma no campo educacional (1931) que desencadeará, formador cultural).
em 1937, na criação do Instituto Nacional de Cine- O cineclubismo perdeu sua força nos anos
ma Educativo – INCE. 1980, com o advento do videocassete. Os avanços
Há muitas boas histórias para se contar sobre tecnológicos alteraram bastante a nossa relação
o INCE, a começar que ele teve à sua frente nin- com os filmes que, da sala escura, passaram para o
guém menos que Roquette-Pinto e o cineasta Hum- ambiente doméstico e hoje estão nos computadores
berto Mauro, mas essas histórias ficarão para outra e até nos celulares. A experiência de ver filmes
ocasião. Aqui nos interessa registrar que o namoro também está ligada a um bombardeio de produtos
21
audiovisuais, que pode, dependendo do espectador, ideia de controle da obra para que ela cumpra um pa-
adquirir um significado cultural relevante ou ser pel educativo ainda é forte entre os educadores. Ainda
consumido como um fast food, um sanduíche, cujo se acredita que um filme tem o poder de deformar as
sabor não é mais lembrado algumas horas depois. mentes e disseminar valores indesejáveis.
Nessa época, o namoro educação e cinema passa A facilidade de se exibir um filme na escola atu-
a viver uma nova fase. almente passou a ser usada fartamente, inclusive – e
As escolas, aos poucos, puderam se equipar com principalmente – quando falta um professor, ou até
aparelhos de televisão, videocassete e, posterior- quando um professor não teve tempo de preparar
mente, computadores, DVDs, projetores multimí- sua aula. Essa prática que, de alguma forma banali-
dias, sendo que são raras as Unidades Educacionais zou o uso de filmes nas escolas, contribuiu para que
que não possuem uma sala de projeção. Exibir um se criasse outro preconceito no imaginário de todos:
longa-metragem antes dessa época representava um que cinema na escola é para “matar aula”. Mesmo os
trabalho imenso, quase impraticável. Hoje, muitas professores que usam filmes com clara intencionali-
escolas possuem um acervo significativo de obras dade educativa são vítimas desse preconceito, pois
cinematográficas (em DVD) e os professores – den- ainda encontram resistências por parte da gestão da
tro ou fora da escola – têm oportunidade de conhe- escola, dos familiares dos estudantes e até mesmo
cer e utilizar como prática pedagógica uma infinida- das crianças e jovens (“hoje não tem aula, é filme!”).
de de filmes. Esse equívoco de se usar filmes excessivamen-
Tudo indica que o cenário se tornou extrema- te, e mesmo sem a presença do professor, vem de
mente favorável para esse namoro prosperar e dar uma supervalorização do cinema na formação das
até em casamento. Mas não foi desta vez que essa crianças e jovens, cujas raízes estão naquela ideia
relação deu certo... que falamos no início: que o cinema pode “desedu-
Muitos dos equívocos construídos historicamente car”. Nessa mesma linha, há quem acredite que o
ainda permanecem como “sombra” nesse namoro. A simples fato de se exibir um filme com mensagens
Foto: Daniel Cunha-FOVE-CM-COPED-SME
edificantes é suficiente para se formar jovens com
plena consciência cidadã e com fortes valores de so-
lidariedade. Sonhamos com essa facilidade, mas é
ilusório achar que um filme tem esse poder.
Sem um mediador que permita que o filme sig-
nifique uma experiência cultural para o estudante, a
simples assistência continua sendo “sanduíche”, isto
é, será uma experiência de puro consumo, sem valor
educativo ou cultural.
Outra “sombra” que ainda perturba esse relacio-
namento é a prática de se “didatizar” os filmes, isto
é, tentar adequá-los aos conteúdos das disciplinas.
É interessante que o cinema dialogue com o currí-
culo, desde que não se exclua a dimensão da arte,
sempre lembrando que é uma produção simbólica
(independentemente de ser ficcional ou não), que foi
produzida em um determinado contexto histórico,
por determinados produtores que tinham (têm) seus
interesses mercadológicos. São muitos os descom-
passos ainda desse namoro. É preciso manter, na
educação, o frescor e o prazer da sétima arte.
22
Educomunicação na Rede
Municipal de Ensino de São Paulo
Michele Marques
Conheça o
trabalho de
apoio a projetos
e à formação
docente do
Núcleo de
Educomunicação
da Secretaria
Municipal de
São Paulo
23
O
y desenvolver ações pedagógicas com foco na in-
Núcleo Técnico de Educomunicação, vin-
terdisciplinaridade;
culado ao Núcleo Técnico de Currículo –
NTC, é um setor integrado à Coordenado- y desenvolver a autonomia e a colaboração;
ria Pedagógica – COPED da Secretaria Municipal y formar para leitura crítica da mídia;
de Educação de São Paulo, que tem como proposta
y promover a autoria;
principal ações formativas que visam apoiar, desen-
volver e subsidiar o currículo, por meio das lingua- y desenvolver competências para o uso das TIC
gens de comunicação e promover o desenvolvimen- (Tecnologias da Informação e Comunicação).
to de projetos de Educomunicação.
y divulgação das produções dos estudantes pelos y audiovisual (cinema, vídeo, cineclube e
canais de comunicação do Núcleo (site, blogs, Stop motion);
redes sociais, eventos regionais etc.); y digital (blog, podcast e redes sociais);
y pesquisa e integração de tecnologias digitais aos
y além de outras formas de comunicação que
processos de formação e desenvolvimento de
acompanham a evolução tecnológica.
projetos e ações pedagógicas;
y organização e participação em eventos sobre a Para o desenvolvimento dos projetos e ativi-
temática na Cidade de São Paulo. dades pedagógicas, as Unidades Educacionais po-
dem fazer uso de tecnologias digitais, softwares
livres e recursos educacionais abertos.
Com quais objetivos A elaboração e veiculação das produções são
y incentivar o protagonismo infantojuvenil pela e articulados ao currículo a partir do universo cul-
com a comunicação; tural e social dos estudantes.
24
Como desenvolver projetos Para cadastrar a iniciativa, deve acessar o site do
Núcleo de Educomunicação:
Os professores da Rede Municipal podem desen- http://portal.sme.prefeitura.sp.gov/educomunicacao
volver projetos educomunicativos em sala de aula,
nos diferentes componentes curriculares e/ou áreas
de conhecimentos, como também na ampliação dos
Legislações
tempos e espaços escolares vinculados à Educação É importante conhecer as legislações que apoiam
Integral e em Tempo Integral ou jornada ampliada. e fortalecem as atividades do Núcleo e a atuação dos
Para isso, devem escrever um Projeto Especial professores que desenvolvem projetos educomuni-
de Ação – PEA em que conste: cativos na Rede Municipal de Ensino:
y Lei n°13.941/04 – Programa Educom “ Educo-
y problematização;
municação Pelas Ondas do Rádio”;
y justificativa;
y Portaria n° 5.792/09 – Programa Nas Ondas do
y objetivos; Rádio;
y conteúdos e articulação com Projeto Político- y Portaria n° 7.849/2016 – Art. 25 – Atribuições
-Pedagógico; do Núcleo de Educomunicação;
25
O Guarani nas
ondas do rádio
A Educomunicação presente há 15 anos nas
atividades radiofônicas dos Centros de Educação
e Cultura Indígena, os CECIs.
26
E
m 2001, quando as lideranças indígenas Gua- O meio impresso também deu espaço para que Por
ranis da Cidade de São Paulo se articularam as comunidades indígenas atuassem como sujeitos Carmem Gattás
nico, assim como a proposta pedagógica, foram cons- escrita, fotografia e vídeo.
truídas em uma parceria entre técnicos da SME e as
lideranças indígenas de cada aldeia Guarani. Como tudo começou
Se a internet, assim como outros meios de co-
municação, já faziam parte da vida do Guarani, seria Segundo o escritor e poeta Olivio Jekupé, da al-
preciso favorecer o protagonismo desses povos. E deia krukutu, a história da criação do Projeto CECI
foi com o projeto Educom.rádio, desenvolvido jun- ocorreu da seguinte forma:
to ao povo Guarani-Kaiowá de Amambaí, no Mato “Antigamente, a gente recebia os turistas aqui
Grosso do Sul, que se passou a capacitar os indí- na aldeia krukutu com muita dificuldade, às vezes
genas para a implantação de rádios comunitárias. A estava frio ou chovendo, e para atendê-los era com-
experiência foi um sucesso e resultou na produção plicado, tinham poucos moradores e somente casas
de um programa em yopará (mistura dos idiomas simples de pau a pique, não tinha nem escola ainda.
Língua Portuguesa e Guarani). Na região Nordes- Por isso, já nos anos de 2002, a gente pensava que
te, alguns povos – como os Xukuru do Ororubá, tinha que fazer algum centro cultural para receber
em Pernambuco, e os Pataxó Hã-Hã-Hãe, no sul da melhor os turistas e, nessa época, tinha um rapaz que
Bahia, conseguiram equipamentos próprios para a vinha ajudar a gente na associação para divulgar o
produção de material radiofônico. Isso transformou turismo, conhecido por Sidney Soares, quando ele,
a cultura das aldeias que, entre outros avanços, pas- eu e o Marcos Tupã passamos a estudar o tema. A
sou a dar voz às mulheres. ideia era utilizar os recursos que viriam da campa-
nha da fraternidade, que falava dos povos indígenas.
Indígenas em luta pelo Ela havia doado uma quantia que poderia ser usada
nessa construção que sonhávamos. Com o apoio
direito à comunicação dos moradores, por meio da mão de obra indígena,
seria construído um pequeno centro cultural. Nos
Um documento indígena, Relatório da Oficina de estudos realizados, ficou claro que a casa cultural
Áudio para os Povos Indígenas, que foi construído deveria ser um espaço também para a sistematiza-
de 3 a 6 de junho de 2007, na aldeia Caramuru dos ção da tradição Guarani, um lugar onde fosse possí-
Pataxó Hã-Hã-Hãe, aponta para insatisfações quanto vel trabalhar com o conhecimento dos xamoĩ kuery,
à regulação da radiodifusão comunitária pela Lei nº de uma maneira nova, junto aos jovens. Utilizando
9.612/98, quanto à necessidade de uma legislação es- meios modernos, como a televisão e a internet, para
pecífica para seus povos, que permita a abrangência comunicar nossa tradição. A princípio, a ideia seria
física das rádios maior que o raio de 1 km, e possa fazer desse espaço um anexo da casa de reza, mas
garantir a diversidade de suas culturas e suas estru- o Sr. Marcos Tupã considerou melhor que a cons-
turas internas de organização social. Nesse período, trução fosse junto à associação, assim poderíamos
os povos indígenas se colocam ao lado de diversos utilizar um espaço já construído.
setores dos movimentos sociais na luta conjunta pelo Com o passar do tempo, recebemos o dinheiro da
fortalecimento das rádios comunitárias. campanha, mas ele não seria suficiente para construir,
27
ficaria três vezes mais o valor recebido, aí nosso so- de sua visita à aldeia. Agendamos para uma semana
nho foi-se embora e não conseguimos construir o tal depois e, no dia combinado, ficamos todos no centro da
projeto. Mas não desanimamos e guardamos a ideia aldeia, ao lado do escritório da associação. Quando deu
e sempre comentávamos as possibilidades de um dia 10 horas da manhã, chegaram três carros da Secretaria,
dar certo. Aliás, o desenho criado foi feito pelo pró- com uma grande equipe. Foi uma grande alegria ver
prio Marcos Tupã, pensando nas antigas casas Guara- a chegada de todos eles, começamos a perceber que
ni, ele chegou à conclusão de que a casa cultural de- o negócio era sério mesmo e que a Maria Nilda não
veria ser inteiramente redonda. E o primeiro projeto estava brincando.
foi escrito pelo Sidney Soares, ouvindo nossas ideias. Logo em seguida, todos entraram no escritório da
Já nessa época, nós tínhamos uma forte ligação associação, cada um se apresentou; primeiro, foi a Ma-
com a Secretaria Municipal de Educação de São ria Nilda; em seguida, foi um engenheiro, o Wanderley,
Paulo; muitas reuniões eram feitas e nós éramos e depois o Antônio Passat, fotógrafo da SME.
convidados a participar, quando a senhora Maria Posteriormente, foi a nossa vez. Primeiro, apre-
Nilda Teixeira, que tinha um forte respeito pelos sentou-se o cacique Ventura; em seguida, o Geraldo;
povos indígenas, me perguntou se existia algum o Ércio, o Marcos Tupã, depois eu falei e também fa-
trabalho da prefeitura ou do governo com as crian- laram outros moradores que estavam presentes.
ças de 0 a 6 anos. Falei que a gente tinha um pro- Para nós, foi uma grande alegria mostrar nossa
jeto, mas que estava engavetado. De repente, no- ideia. E foi assim que eles se propuseram a realizar nos-
tei que ela gostou do que ouviu e me disse que a so sonho, ao nos oferecer uma construção bem maior
Secretaria poderia ajudar nesse projeto. Ao ouvir do que a elaborada em nosso projeto inicial. Além do
aquilo, fiquei emocionado. centro cultural, poderíamos ampliar o projeto com uma
Ao voltar para a aldeia krukutu, fui direto falar construção que tivesse cozinha, banheiro, escritório e
com o cacique da época, com o senhor Ventura, com a sala de aula para as atividades com as crianças.
Marcos Tupã, o Geraldo, que era o presidente da asso- Ao ouvir aquilo, pude ver nos olhares dos mora-
ciação Guarani nhe´eporã, e o Ércio. No dia seguinte, dores que estavam todos felizes, e para nos alegrar
liguei para a senhora Maria Nilda e oficializamos o dia ainda mais, a Maria Nilda perguntou:
28
– E nas outras aldeias, Tenondé Porã e Jaraguá, Ondas do Rádio. Eles se reuniam na sede da SME
a gente poderia fazer uma construção igual, será que para os encontros de formação. As gravações passa-
eles gostariam que a gente fizesse? ram a ser salvas em sites de podcast.
Ao ouvir isso, ficamos mais alegres ainda, por- O gestor do programa Nas Ondas do Rá-
que a ideia da Maria Nilda seria para todos. dio, Carlos Lima, instalou equipamentos de
Nesse mesmo dia, foi agendada uma visita para rádio nos três CECIs, que também possuem
que ela pudesse levar os 4 (quatro) caciques: Ventura, sala de informática com acesso à internet.
da aldeia krukutu; Manoel Lima, da Tenonde Porã; Os educadores aprendem a linguagem do
José Fernando e Jandira, do Jaraguá e também outras rádio, fazendo spots e podcast na língua
lideranças das aldeias para que fossem até a Secretaria Guarani,usando as caixas de som para tocar
Municipal de Educação – SME para resolver melhor músicas indígenas.
o assunto dessa construção para as quatro aldeias. A Rádio Kylinguê foi criada nesse período
Várias reuniões aconteceram para trocarmos com o objetivo de fortalecer a educação escolar,
ideias entre a SME e as lideranças das 4 (quatro) apoiar a valorização das culturas dos povos indí-
aldeias, além de outros participantes. genas e a afirmação e manutenção de sua diver-
O tempo foi passando até que iniciaram a cons- sidade étnica.
trução dos três CECIs nas Aldeias Krukutu, Jaraguá Nos CECIs, todos são motivados a participar
e Tenondé Porã.” de eventos fora das aldeias. Na Bienal do Livro
em 2016, os indígenas atuaram como estudantes
Legislação e
o CECI Jaraguá, o CEU Parque São Carlos e o
Colégio Passionista São Paulo da Cruz. Nesse pe-
ríodo, o programa era chamado Rádio TV CECI
e ainda podemos encontrá-lo no YouTube (https:// Educação indígena
youtu.be/47qaCUcYKpQ).
Em 2012, os educadores dos CECIs passaram Sobre a legislação e a educação indígena, diz a
a trabalhar a educomunicação com o programa Nas Constituição que:
1 O Projeto Machuca foi uma “experiência de educomunicação desenvolvida por três escolas da Cidade de São Paulo com realidades socioculturais
significativamente diferentes: uma escola pública da periferia, um colégio católico particular e uma escola indígena Guarani. Essas comunidades interagiram por
meio de diversas mídias na criação de diálogos e debates, e realizaram encontros com enfoque na discussão da Ecologia e Cultura da Paz”. Ver em: https://teses.
usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-04062012-114407/pt-br.php
29
Art. 210. Nas regiões dos CECIs, o povo indígena de-
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em nomina-se Guarani mbyá. Segundo os coorde-
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí-
nadores dos CECIs, a população aproximada é
genas também a utilização de suas línguas maternas e
de 1.000 indígenas na aldeia Jaraguá, 700 na Te-
processos próprios de aprendizagem. (BRASIL, 1998).
nondé) e 300 na Krukutu). A rádio Educom visa
As abordagens sobre a cultura Guarani mbyá facilitar a comunicação entre todos os indígenas
dão suporte a várias estratégias e ações práticas, de São Paulo, assim como em outros territórios.
que devem ser integradas num contexto educativo A importância do rádio para a população brasi-
para leitura e produção midiática. Algumas delas: leira é enorme diante do fato de mediar o acesso
y exercício da escuta inteligente; ao direito de ouvir e difundir as culturas que aqui
convivem. Essa mídia traz subsídios a atividades
y reflexão em grupo a partir de material temá-
que envolvem comunicação com as crianças, que
tico (exemplos de áudio);
é o foco dos três CECIs.
y produção de roteiros e pautas; Hoje existem equipamentos disponíveis nos
y exploração de ferramentas tecnológicas es- três CECIs, que são utilizados para a prática ra-
pecíficas; diofônica, para fotografar e filmar a cultura Gua-
rani e práticas nas quais se adota a escrita Gua-
y gravação de podcast; rani, com a tradução para a Língua Portuguesa.
y veiculação dos programas produzidos.
Carmem Gattás
30
Michele Pereira
Educomunicação na Educação
Infantil na Rede Municipal de
Ensino de São Paulo
31
C
Por om a implementação do projeto Educom.Rádio, da Escola Municipal de Ensino Fundamental –
Michele Marques Pereira1
e Marcelo Augusto Pereira em 2001, foram múltiplas e diversas as ex- EMEF Fernando Gracioso, de Perus.
dos Santos2 periências que, a partir dos princípios educo- Segundo Ana Paula, a rádio teve como um dos
municativos, passaram a compor o quadro de trans- pressupostos fundamentais a validação das vozes
1 Mestranda em Ciências da
formação social e das relações comunicativas nos das crianças que, como sujeitos de direitos, devem
Comunicação e especialista diferentes espaços, níveis e modalidades da Rede protagonizar a construção cultural de ambientes
em Educomunicação na ECA/
USP; formadora do Núcleo de Municipal de Ensino – RME de São Paulo. Aqui fa- pensados para elas, como são as escolas infantis.
Educomunicação da SME-SP e
diretora de Formação e Assuntos laremos de um desses espaços: a Educação Infantil. Tornar coisas imagináveis em ações concretas era
Profissionais da ABPEducom.
Vamos começar essa contação! rotina para Ana Paula e suas crianças.
2 Educador Infantil,
especialização em A ação iniciada pela Rádio Jacaré inspirou
32
Com nome para lá de criativo e gostoso de Atualmente no ar, alguns projetos já têm muita
falar, a Gato na Tuba foi um tipo de rádio que história para contar. O Imprensa Mirim da EMEI
você só encontra em espaços infantis: todo final Angenor de Oliveira Cartola, que tem como uma
de mês, planejada por uma turminha da escola, das idealizadoras a professora Silvia Santos, com-
a programação da rádio acontecia no pátio, com pleta 6 anos de atividades em 2020. As crianças
pauta feita com desenhos, estilo storyboard, au- fazem a cobertura jornalística de acontecimentos
ditório, participação das famílias e muita música, que ocorrem na Unidade Educacional e em even-
o que promovia um encontro criativo, produzido tos externos, e já trabalharam com produção de
pelas crianças. rádio escolar, radiodramaturgia, fotografia, jornal
Como falar dos primeiros passos, sem falar de mural, vídeos, reportagens e telejornal.
fato de pequeníssimos passos? Na mesma época, a Para a professora Silvia Santos, o Imprensa
diretora Rosmari Pereira de Oliveira trouxe, para Mirim "vai além da comunicação oral das crian-
brincar de produzir, os bebês e crianças do Centro ças. Nós buscamos promover o sentimento de
de Educação Infantil – CEI CEU Vila Curuçá, da pertencimento do espaço público e a percepção
Zona Leste, que criaram a Rádio Pingo de Gente. de que a criança pode transformar o espaço ao
É cada nome! seu redor."
CEIs atendem crianças de zero a três anos, A Educomunicação também segue presente
imaginou o desafio? Consciente que todas as nos CEIs da cidade. No CEI Direto Jardim Reim-
crianças, desde as bem pequenas, têm voz e pro- berg, as práticas educomunicativas iniciaram com
duzem cultura, Rosmari as trazia para sua sala, a professora Marcia Curti de Mello, que, após rea-
onde havia computador com microfone de voz lizar o curso Jornal Impresso, em 2015, oferecido
e lá, juntos, produziam gravações, convites para pelo Núcleo de Educomunicação, iniciou o proje-
a comunidade, cantavam músicas e contavam to do Jornal Mural no CEI, no qual divulgava as
histórias. Mas também iam por aí, entrevistando principais ações para a comunidade.
todo mundo. A professora Cláudia Regina dos Santos deu
continuidade ao projeto implementando o Im-
Crescemos, mas prensa Mirim, em que as crianças investigam e re-
gistram o cotidiano. As produções realizadas por
estamos do mesmo elas passaram a compor o jornal, os portfólios e a
documentação pedagógica apresentados na escola
tamanho! e para as famílias.
A sensação de pertencimento e integração das
Passados dez anos dos primeiros registros crianças e famílias à escola e à comunidade re-
históricos de ações educomunicativas infantis da presentam as principais mudanças no ambiente
RME, o número de projetos e práticas foi se mul- do CEI, na opinião da professora Cláudia Regina,
tiplicando pela cidade. Ou seja, as práticas edu- que enfatiza: "o que mais me marcou na experi-
comunicativas cresceram, mas seus protagonistas ência da Imprensa Jovenzinha foi a mudança no
continuam as pequenas e os pequenos. olhar e na postura dos pais das crianças envolvi-
Este é o caso das Unidades que contam com o das no projeto, que passaram a valorizar a Educa-
projeto Imprensa Mirim, uma agência de notícias ção Infantil".
desenvolvida pelas crianças, que busca promover Outro exemplo de projeto educomunicativo
o protagonismo infantil e a ampliação dos meios com bebês e crianças é o da Rádio CEI Vila Mis-
de comunicação em espaços educativos de forma sionária. O movimento foi iniciado pela coorde-
democrática, dialógica, horizontal e participativa, nadora Maria do Carmo Irenio e a diretora Ellen
inclusive das famílias. Cristina de Moraes Pereira Bezerra, e contou com
33
imagens, as crianças foram convidadas a falarem
sobre suas motivações e percepções sobre as fo-
Imprensa Mirim "vai além da tografias que realizaram. Falas que compuseram
comunicação oral das crianças. Nós uma carta para os bebês e crianças do CEI, en-
tregue pelas crianças da EMEI, em conjunto com
buscamos promover o sentimento de uma mostra das fotografias. As crianças da EMEI
pertencimento do espaço público e conversaram com os bebês e as crianças do CEI e
as convidaram para visitar sua escola. Visita que
a percepção de que a criança pode foi uma grande festa comunicativa.
transformar o espaço ao seu redor."
A gente experimenta,
a colaboração de todas as professoras e quadro
de apoio. Buscando ampliar a comunicação com
cresce, aprende e
as famílias e provocadas pela formadora Miche- mostra!
le Marques Pereira, do Núcleo de Educomunica-
ção, que levou como inspiração a Rádio Jacaré As ações destacadas apontam experiências de
FM, foi criada, colaborativamente, a rádio da práticas educomunicativas e nos provocam refle-
Unidade. Um diferencial inicial do projeto foi xões sobre as diversas possibilidades de explorar
uma sequência formativa com todas as professo- e criar com as crianças a partir das tecnologias de
ras e a equipe de apoio da Unidade sobre Educo- comunicação e informação.
municação, meios de comunicação e possibilida- Refletir como os meios de comunicação e in-
des do projeto. formação podem ser implementados no currícu-
Os programas da Rádio CEI Vila Missionária lo e nas práticas da Educação Infantil, a partir
trazem temas, como convites das crianças para a da abordagem educomunicativa, pode contribuir
festa cultural de 2019, sons que os bebês fazem para ampliar o coeficiente comunicativo nas Uni-
ao acordarem e ao tocarem instrumentos juntos, dades Educacionais e aprofundar a leitura crítica
vinhetas, entrevistas com as famílias e um cordel e reflexiva dos meios de comunicação e das prá-
intitulado Cordel do bebê, escrito pela professora ticas pedagógicas; assim como favorecer o prota-
Cleane Fontebasso Gonçalves. Os programas são gonismo e a expressão artística, comunicacional
editados por Suzana Medeiros, Auxiliar Técnica e cultural dos adultos, como também e, principal-
de Educação da Unidade. mente, das crianças, em uma perspectiva de pro-
Com o intuito de pesquisar práticas educo- dução cultural.
municativas na Educação Infantil, a formadora Produção esta que se torna documentação pe-
Michele Marques Pereira realizou, como pesquisa dagógica destes processos. Os profissionais da
de campo para o mestrado em curso, em Ciências infância, como vimos, buscam construir diálogo
da Comunicação, na Universidade de São Paulo, com as famílias sobre as atividades e experiências
uma pesquisa-ação na EMEI José Bonifácio de das crianças, evidenciando e registrando percur-
Andrada e Silva, que teve a participação da creche sos das pequenas e dos pequenos. A educomuni-
CEI Espaço Criança Elias Antônio Zogbi. cação permite que os registros sejam a atividade
As 240 crianças da EMEI, entre três e cinco em si, a ser compartilhada e construída colabora-
anos, foram convidadas a fotografar a escola e o tivamente. A Rádio, o Jornal, a Fotografia, a TV,
cotidiano, para apresentarem às crianças do CEI seus programas e produções são portfólios em si.
que poderiam vir a estudar na escola no ano se- Eles contam essa história. História aqui partilhada
guinte. Em rodas de conversa, com a projeção das em parte.
34
A cada ano que passa, observamos ações Rádio Jacaré FM - bit.ly/radiojacarefm
TV Cedro Rosa - bit.ly/tvcedrorosa
educomunicativas sendo multiplicadas na Edu-
Rádio Gato na Tuba - bit.ly/radiogatonatuba
cação Infantil da RME de São Paulo, como é o Rádio Pingo de Gente - bit.ly/radiopingodegente
caso do Imprensa Mirim na EMEI Dulce Hauck, Imprensa Mirim EMEI Cartola - bit.ly/imprensamirimemeicartola
idealizada pela professora Melúzia Ribeiro Luz Imprensa Mirim CEI Jardim Reimberg - bit.ly/imprensamirimceijardimreimberg
Kiryu, e na EMEI Professor Pedro A. C. Mo- Rádio CEI Vila Missionária DRESA - bit.ly/radioceivilamissionariadresa
Mostra Fotográfica EMEI José Bonifácio - bit.ly/mostraemeijosebonifacio
raes, idealizada pelas professoras Gil Goulart
e Andressa Pires. As ações vão se multiplican-
do, inspirando e trazendo mais história para ser
Referências
contada. Por isso, nossa contação não termina ESCUDERO, Ana Paula Emilio. A experiência da Rádio Jacaré
na EMEI Antônio Munhoz Bonilha-SP. In: ENCONTRO
por aqui, pois há muito mais riquezas e contos BRASILEIRO DE EDUCOMUNICAÇÃO: EDUCAÇÃO
que você, assim como as crianças, podem con- MIDIÁTICA E POLÍTICAS PÚBLICAS, 5., 2013, São Paulo.
Anais [...]. São Paulo: ABPEducom, 2014.
tinuar a conhecer e, quem sabe, se inspirar com
SANTOS, Marcelo Augusto Pereira dos. Cuidar, educar e comunicar:
essas e tantas outras ações que se multiplicam estudo sobre as relações entre Educomunicação, Educação
na cidade. Deixamos aqui um rastro para ex- Infantil e Formação de Professores na cidade de São Paulo,
2013. Monografia (Pós-Graduação Lato Sensu Educomunicação:
plorações sobre educomunicação nas múltiplas Comunicação, Mídias e Educação) - Escola de Comunicações e
infâncias. Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.
35
Linha do tempo
EDUCOMUNICAÇÃO: uma política pública em curso
PROJETO
• Implantação do projeto Educom.Rádio
2001
(parceria NCE/USP e Projeto Vida SMESP).
NAS ONDAS
(EMEF Pedro Teixeira).
DO RÁDIO
• Uso de TIC (parceria com os POIE – Professor
Orientador de Informática Educativa).
• Introdução do Audacity. 2006
• Cobertura Imprensa Jovem
dos grandes eventos da cidade.
36
• Programa Nas Ondas do Rádio Portaria nº 5792/09.
2009 • Implantação da Rádio Jacaré
PROGRAMA
(1ª radio na Educação Infantil do Brasil).
EDUCOMUNICCAÇÃO
• Criação do setor Núcleo de Educomunicação
(1º no país).
2016
• Criação do Programa Imprensa Jovem
(Portaria nº 7.991/2016).
• Prêmio AREDE (Tecnologia na Educação).
NÚCLEO DE
• #ESTUDANTEMVOZ - Imprensa Jovem realiza a maior
pesquisa de Educação do Brasil com 43.655 estudantes.
2017
• Realização de 700 projetos .
37
Reconhecimento
internacional
Imprensa Jovem é destaque em conferência global de
Alfabetização Midiática da UNESCO na Suécia
Imprensa Jovem
38
O
Coordenador do Núcleo de Educomunica- colabora, deve ser compartilhado, pois tem o envol- Por
ção da Secretaria Municipal de Educação Maria Rehder
vimento de jovens e professores das escolas muni-
de São Paulo, Carlos Lima, apresentou as cipais, dissemina temas relacionados aos ODS, e o
boas práticas de Educomunicação desenvolvidas na formato de sua construção foi muito bem sucedido, Consultora do setor de
Educação da UNESCO
Rede Municipal de Ensino para centenas de pessoas podendo servir de exemplo para outras localidades no Brasil e formadora do
Núcleo de Educomunição
no maior evento do mundo de Alfabetização Midi- do mundo. “Por isso, é importante aproveitar opor- da SME-SP. Atualmente
também vice-presidente da
ática e Informacional (AMI), a Global MIL Week tunidades como essa para mostrar o que está sendo ABPEducom - Associação
Feature Conference 2019, promovida pela UNESCO feito em São Paulo e no Brasil, para poder servir Brasileira de Profissionais da
Educomunicação
e parceiros, na Cidade de Gotemburgo, na Suécia, de exemplo e contribuir em processos similares em
em setembro de 2019. Atualmente, 417 escolas mu- outras localidades, colaborando para transformar o
nicipais de São Paulo têm projetos relacionados com mundo em um lugar melhor, com mais informação
esta temática no contexto do Currículo da Cidade, de responsabilidade, comunicação e engajamento de
que envolvem estudantes da Educação Infantil, En- todos na transmissão do conhecimento. A escola é o
sino Fundamental e Médio, incluindo Educação de lugar certo para essa iniciativa”, reconhece a coor-
Jovens e Adultos, os quais realizam diferentes ativi- denadora de Educação da UNESCO no Brasil. Alton Grizzle um dos
organizadores do evento,
dades midiáticas, como coberturas jornalísticas de A Global MIL Week é uma conferência mun- convidou à seguinte reflexão:
eventos, programas de rádio, blog e mídias digitais, dial que trata do tema da Alfabetização Midiática e Pode um envolvimento crítico
com o acesso às informações
gravação de programas audiovisuais, cinema, jor- Informacional, cuja edição 2019 contou com espe- corretas promover a paz e
o respeito pelos direitos dos
nais mural e impresso, fotografia, história em qua- cialistas de 55 países. A experiência da SM de São outros? “Quando as pessoas
têm consciência sobre todos
drinhos e artes. Paulo foi selecionada para ser apresentada em uma os tipos de informações que
recebem e que compartilham,
A Alfabetização Midiática é hoje o principal me- mesa plenária para todos os participantes do evento. refletindo criticamente
canismo para o combate às fake news, permitindo Entre os presentes, destacaram-se a Ministra de Edu- sobre a sua autenticidade,
origem e a possível intenção
que, na escola, os estudantes já adquiram informa- cação da Suécia, a representação da Direção-Geral das informações e, por
consequência, acabam por
ções necessárias e consciência para evitar o compar- de Comunicação e Informação da UNESCO (glo- tomar decisões conscientes e
informadas, podemos dizer que
tilhamento e a produção de notícias falsas. A expe- bal), representação da Universidade de Gotemburgo elas estão no rumo de serem
alfabetizadas midiaticamente e
riência paulistana também se destaca por trabalhar (Cátedra UNESCO para Liberdade de Expressão, informacionalmente”, ressaltou
com diferentes temáticas relacionadas aos Objetivos Desenvolvimento de Mídia e Política Global), além em documento oficial do
evento.
de Desenvolvimento Sustentável – ODS da ONU, de experiências de Coreia do Sul, Filipinas, México,
pois o Currículo da Cidade, por meio de uma parce- Índia, Bélgica e outros países.
ria entre a SME de São Paulo e a UNESCO Brasil, “É por meio da Alfabetização
é o primeiro do mundo a ter os Objetivos de Apren- Midiática e Informacional –
dizagens e Desenvolvimento relacionados com os AMI que conseguiremos evitar a
ODS. O professor Carlos Lima comentou sobre a disseminação de fake news, que
sua participação no evento. “Estamos muito felizes, ensinaremos os cidadãos a rece-
porque talvez seja o único projeto do Brasil a falar berem e analisarem criticamente
sobre escola pública em um evento que reúne pesso- os assuntos publicados tanto na
as do mundo todo, incluindo a presença de jornalis- mídia tradicional quanto nas no-
tas e pesquisadores. Apresentamos um pouco do que vas mídias, e que também os for-
os nossos estudantes têm demonstrado como solu- maremos para serem capazes de
ções para o desenvolvimento de uma comunicação produzir conteúdo de relevância
democrática, solidária, que promova a paz, a alegria e qualidade para seus pares, en-
e felicidade dentro das escolas”, finaliza Carlos. riquecendo os seus debates. Ou
Segundo Rebeca Otero, coordenadora de Educa- seja, ela trata de diversos aspec-
ção da UNESCO no Brasil, o trabalho que a Secre- tos relacionados tanto à comuni-
taria Municipal de Educação de São Paulo realiza e cação quanto à educação”, expli-
com o qual a Representação da UNESCO no Brasil ca Rebeca.
39
Educomunicação: o que é e
como aplicar na sua aula
Saiba mais sobre a aplicabilidade da Educomunicação
no cotidiano das atividades pedagógicas
Imprensa Jovem
40
A
Educomunicação propõe uma intervenção a participação e processos balizados pela pedagogia Por
partir da Educação para a mídia, ou seja, o de projetos. O estudante “sente-se protagonista” ao Débora Garofalo
professor e os estudantes desenvolvem em mesmo tempo em que entende o valor da sua cola-
sala de aula conteúdos educativos, fazendo a gestão boração e da do colega no planejamento e na produ- Professora de Língua
Portuguesa. Primeira mulher
democrática das mídias práticas de ecossistemas co- ção da atividade. brasileira entre os top 10 do
Global Teacher Prize, Nobel da
municativos abertos e criativos. Na sala de aula, muitas atividades podem ser Educação, sendo considerada
uma das 10 melhores professoras
Trata-se de uma proposta que possibilita ampliar desenvolvidas com os estudantes, desde a criação do mundo. É integrante da
o diálogo, a participação e a criatividade em espa- de uma rádio, de um jornal interativo, passando por comissão em Direitos Humanos
da Secretaria Municipal de
ços formais e informais de aprendizagem. Dentro do podcasts com entrevistas, usando recursos gratuitos Direitos Humanos.
ambiente escolar, suas ações ampliam a capacidade para a edição e publicação, como Audacity, blogs
de expressão dos estudantes e também estimulam o e recursos como o celular, aos quais o estudante
pensamento crítico sobre as informações que eles pode recorrer.
consomem diariamente nos veículos de comunica- O professor enfatiza que é preciso criar ambiên-
ção. Além disso, as crianças e adolescentes também cia na sala de aula que propicie o diálogo e a intera-
podem ser protagonistas na produção dos seus pró- ção entre estudantes e dos estudantes com o profes-
prios conteúdos. sor. A participação do professor como mediador do
processo é fundamental para a fruição da proposta
Benefícios da educomunicativa nas aulas.
41
ainda diversas formas de comunicação verbal, não ou OpenShot; de imagem com o GIMP; podem atu-
verbal e textos multimodais. Eles desenvolvem seu ar como diagramadores para editoração de jornal ou
senso crítico em entrevistas e ficam conectados com revista com o Scribus ou Publisher, ou na produção
o mundo a partir de suas visões ao criar pautas e de história em quadrinhos e de criação de vídeo de
trabalhar com temas atuais. animação com o Muan. São aplicativos gratuitos
Com ferramentas digitais, os estudantes podem que podem transformar as aulas em um centro de
recorrer a editores de áudio, de vídeo, com o VSDC produção de mídia.
42
Imprensa Jovem
Sem deixar
ninguém para trás!
Vozes dos estudantes pelos ODS
ecoam pelas escolas e impactam o mundo
43
C
Por rianças, adolescentes, jovens, adultos e ido- especialistas, depoimentos e práticas de professores e
Maria Rehder sos; todas e todos, sem exceção e sem deixar gestores de escolas da Rede Municipal de Ensino e vo-
ninguém para trás! Esse é o lema e a diretriz zes de estudantes.
Consultora do setor de da Agenda 2030, um plano de ação global adotado
Educação da UNESCO no
A Educação e os ODS
Brasil e formadora do Núcleo por 193 países-membros da Organização das Na-
de Educomunição da SME
de São Paulo. Atualmente ções Unidas – ONU em 2015, que indica 17 Objeti-
também vice-presidente da
ABPEducom - Associação
vos de Desenvolvimento Sustentável – ODS e suas
Brasileira de Profissionais da respectivas 169 metas, a serem alcançadas até 2030, A educação é tanto um objetivo (ODS 4) em
Educomunicação.
para erradicar a pobreza e promover vida digna para si mesmo como um meio para atingir todos os
todos em nosso planeta. Esse é um plano para todas outros ODS. Não é apenas uma parte integran-
as pessoas, para o planeta e a prosperidade, que bus- te do desenvolvimento sustentável, mas também
ca fortalecer a paz universal. um fator fundamental para a sua consecução. É
O alcance dos ODS é um grande desafio, que por isso que a educação representa uma estra-
requer forte parceria e aliança global com a partici- tégia essencial na busca pela concretização dos
pação ativa de todos, incluindo governos, sociedade ODS, conforme reconhecido pela UNESCO na
civil, setor privado, academia, mídia, tendo a escola publicação Educação para os Objetivos de De-
como um dos parceiros fundamentais, conforme a senvolvimento Sustentável: Objetivos de Apren-
Organização das Nações Unidas para a Educação, dizagem (UNESCO, 2017).
a Ciência e a Cultura – UNESCO, afirma Rebeca Fruto do reconhecimento desta aliança estraté-
Otero para a Revista Magistério nesta reportagem gica entre a escola e a Agenda 2030 é que, de for-
especial. Leia a seguir a entrevista exclusiva conce- ma pioneira no mundo, uma parceria da Secretaria
dida por Rebeca Otero, coordenadora de Educação Municipal de Educação – SME de São Paulo com a
da UNESCO no Brasil. UNESCO Brasil, faz do Currículo da Cidade o pri-
O comprometimento de estudantes, famílias, co- meiro currículo do mundo a trazer os ODS de forma
munidades e dos profissionais da educação da Rede transversal por todos os componentes curriculares
é peça-chave para promover as transformações ne- e também relacionados com todos os objetivos de
cessárias, a partir de hoje, rumo ao alcance de todos aprendizagem. Os resultados desta iniciativa já po-
os ODS no Brasil e no mundo em 2030. Transforma- dem ser constatados a partir da riqueza e pluralidade
ções estas que resultem das atitudes mais individu- dos diferentes projetos e iniciativas promovidas a
ais em nossa casa, no nosso dia a dia, às ações mais partir do coração das escolas municipais, em conso-
coletivas, principalmente quando realizadas a partir nância com as prioridades de seus Projetos Político-
da escola, contextualizadas com as necessidades e -Pedagógicos – PPPs e realidades de seus territórios,
realidades de nossas comunidades. conforme veremos a seguir.
Mas, afinal, o que são os ODS? O que você e É na escola que são apreendidos os hábitos fun-
a sua escola têm a ver com isso? Qual é a força damentais para uma boa saúde desde a Educação
e a importância do envolvimento, hoje, dos estu- Infantil, como lavagem de mãos, alimentação sau-
dantes, suas famílias e de todos os profissionais dável, até ações de erradicação do Aedes aegypti,
da educação da Rede Municipal de Ensino de São mosquito transmissor da dengue e da febre amarela
Paulo para o alcance do desenvolvimento sustentá- urbana. É também na escola que se promove a mu-
vel do mundo em 2030? dança de comportamento individual e coletivo em
A Revista Magistério, com o objetivo de auxiliá-lo prol de atitudes responsáveis pelo meio ambiente.
a responder essas perguntas, por meio desta reporta- Outrossim, a escola é o espaço em que os profissio-
gem especial, apresenta o que são os Objetivos de De- nais de educação, em aliança com os estudantes e
senvolvimento Sustentável – ODS a partir da realidade famílias, conseguem identificar os casos de trabalho
e perspectiva da escola. Este texto traz entrevista com infantil ou qualquer tipo de exploração.
44
Estes são apenas alguns importantes exemplos da escola para o alcance dos ODS, chegaram à con-
práticos que evidenciam a necessidade de uma abor- clusão de que é “Parar de dizer e começar a fazer”,
dagem integrada a partir da escola para o cumpri- título que escolheram para o artigo que produziram.
mento da Agenda 2030, pois os ODS são integrados “Nossa escola tem desenvolvido diversas ações
e indivisíveis e mesclam, de forma equilibrada, as voltadas aos ODS no âmbito de seu Projeto Político-
três dimensões do desenvolvimento sustentável: a -Pedagógico com ênfase no ODS 4: Educação de Qua-
econômica, a social e a ambiental. lidade de forma integrada com vários ODS”, afirma a
diretora Eliane Aparecida Ferreira da Silva Vasconce-
45
Imprensa Jovem
de conscientização. O “Beco do Laerte”, como é ca- significado de cada ODS, inspirando-a a se compro-
rinhosamente chamado pela comunidade escolar, exi- meter com as ações.
be em suas paredes diversas expressões artísticas por
meio do grafite, inspiradas no famoso ponto turístico
paulistano Beco do Batman, na Vila Madalena. Ali há Professores e gestores
uma parede dedicada a um mural grafitado, feito por
um artista a convite da comunidade escolar, sobre os
escolares em ação!
ODS em um mapa-múndi. Para dar vida e comparti-
lhar o significado de tudo isso, de forma inovadora, a Os ODS são trabalhados em diferentes cursos e
professora Karen tem desenvolvido, por meio do pro- iniciativas oferecidas pelo Núcleo de Educomuni-
jeto Imprensa Jovem, atividades voltadas aos ODS, cação da Secretaria Municipal de Educação de São
como podcasts produzidos pelos estudantes (conteúdo Paulo. “#EstudanteTemVoz. Acredito muito na for-
de áudio transmitido pela internet) que ficarão disponí- ça das vozes e ações dos estudantes nesse movimen-
veis por meio de QRCodes (código de barras em 2D, to de transformação pelo desenvolvimento sustentá-
que pode ser escaneado pela maioria dos aparelhos ce- vel no mundo. O Imprensa Jovem é um importante
lulares), anexados no mural grafitado da escola, para aliado não somente na disseminação das principais
que toda a comunidade escolar possa compreender o mensagens relacionadas aos ODS, mas também no
46
estímulo ao comprometimento individual, princi- veis para que, assim, os estudantes possam mudar
palmente, da criança e do adolescente. Ao produzir seu comportamento, visando uma vida mais saudá-
as reportagens, fazer as entrevistas, interagir com a vel, além de desenvolverem o hábito de ler rótulos
comunidade, pesquisar o tema, o estudante não só de alimentos e analisá-los criticamente e compreen-
contribui para a transformação local, mas também der a relação da propaganda com o consumo. Esse
muda suas atitudes, o que pode gerar um impacto RAE incluiu a produção de roteiros para entrevista a
positivo em todo o nosso planeta”, afirma Carlos ser realizada pelos estudantes com nutricionistas da
Lima, Coordenador do Núcleo de Educomunicação Unidade Básica de Saúde – UBS da comunidade e a
da SME de São Paulo. O combate a fake news nas produção de jingles e peças publicitárias.
escolas é um dos exemplos citados por Lima sobre A professora Érica Souza explica que a publicidade
como as práticas de educomunicação podem contri- faz parte do cotidiano desses estudantes. “A todo mo-
buir diretamente com o alcance do ODS 3 (Saúde e mento são bombardeados de propagandas alimentícias:
Bem-Estar). “Tem muita desinformação relacionada na TV, no rádio, na revista, ou até mesmo no carro de
à saúde sendo divulgada pelo WhatsApp, como as som que circula no bairro onde moram. Portanto, a ideia
questões das vacinas. As fake news podem ser um foi dar oportunidade para que esses meninos e meni-
impeditivo para que o Brasil e o mundo alcancem nas refletissem sobre tais propagandas e qualidade dos
as metas relacionadas à saúde”, exemplifica Lima. alimentos que consomem, fazendo um paralelo com
os ODS, tema atual e urgente para garantir um plane-
ta melhor, mais equitativo e sustentável para as futuras
Publicidade e os ODS 2: gerações. Posterior ao trabalho realizado, foi incrível
Fome Zero e ODS 3: Saúde vê-los analisando rótulos, embalagens e propagandas de
maneira criteriosa, o que permitiu a ampliação do olhar
e Bem-Estar para além do discutido em sala de aula, possibilitando a
busca por uma melhor qualidade de vida”, conclui.
47
Ao produzir as reportagens, fazer as entrevistas, interagir com a
comunidade, pesquisar o tema, o estudante não só contribui para a
transformação local, mas também muda suas atitudes, o que pode gerar um
impacto positivo em todo o nosso planeta.
o desenvolvimento de todas essas iniciativas da es- inclusive para a produção de vídeos educativos”,
cola. Mais de 60% da equipe pedagógica da EMEI explica Gattás.
Olga Benário Prestes, DRE Guaianases, concluiu O projeto se alinha à Base Nacional Comum
cursos oferecidos pelo Núcleo de Educomunicação Curricular, partindo da formação de professores
da SME. “Esses cursos são imprescindíveis, uma e se desdobrando em uma gincana, desenvolvida
vez que os estudantes estão cada vez mais ligados em trilha, no interior da mata, em unidade de con-
às mídias, e os educadores têm de acompanhar esse servação, para estudantes de escolas municipais,
processo”, afirma Edilene de Cássia Zambrana Fer- estaduais e indígenas, em que diversos desafios
rel Ribeiro, diretora dessa escola. Ela reconhece as colaboram para compreender os mecanismos en-
mídias como aliadas da equipe educacional e cita, volvidos no ciclo do carbono, no processo da fo-
como exemplo, a importância das fotos e vídeos tossíntese, na formação dos combustíveis fósseis
publicados nas redes sociais, que aproximam muito e na relação com as MCG. “Um dos principais
a família da escola, fato que confere visibilidade a desafios desse projeto é a mudança de postura dos
todas as práticas pedagógicas. participantes em relação aos valores de coopera-
tividade, dialogicidade e de horizontalidade nas
48
em 2019, foi realizada no Parque Jaraguá, próxi- intuito de disseminar a mensagem do ODS 12 –
mo à escola. “A atividade, com certeza, somou Consumo e Produção Responsáveis.
muito, pois dialogou com o currículo de Ciências A escolha de trabalhar com vídeos em animação
dos professores e com discussões que a escola já Stop Motion (técnica que utiliza a disposição sequen-
tem feito, principalmente com a Semana do Es- cial de fotografias diferentes de um mesmo objeto
tudante, com destaque especial para 2019, pois para simular o seu movimento), segundo a professo-
focamos em Direitos Humanos”, constata Fábio ra, além de contemplar Objetivos de Aprendizagem e
Rogério Nepomuceno, diretor da escola. Ele con- Desenvolvimento presentes no nosso atual Currículo
ta que além da trilha em si, os estudantes também da Cidade de São Paulo, vai ao encontro da preferên-
produziram vídeos, chegando inclusive na final cia das turmas. Vemos, na atualidade, o surgimento
do concurso de vídeos produzidos pelo projeto. de uma nova profissão: os digital influencers e you-
tubers. “Eles são verdadeiros influenciadores na for-
Referência
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ONU, 2015.
Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br
49
Histórias em quadrinhos
como recurso pedagógico
em sala de aula
50
N
o ano de 1954, o psiquiatra alemão Fredric Entendendo isso como uma ameaça velada, os edi- Por
Wertham, radicado nos Estados Unidos e tores criaram o que ficou conhecido como “Comics Carlos A. Teixeira
que ocupava o cargo de chefia do maior Code Authority”, um código de autocensura, que
hospital psiquiátrico de Nova York, o Bellevue, pu- permaneceu em vigor até o início dos anos 1970. Pedagogo, mestre e doutor em
Ciências (UNIFESP e USP).
blicou o livro “Seduction of the Innocent” (Sedução Embora Wertham sempre negasse que fosse a Pós-Doutorando (ECA-USP):
Projeto Biografia em quadrinhos
dos Inocentes). Nesse livro, o autor denunciava que favor da censura, chegando a declarar, no início dos de mulheres negras cientistas
brasileiras. Integra a equipe do
as revistas em quadrinhos, tão difundidas na época, anos 1970, que as histórias em quadrinhos eram vá- Núcleo de Educomunicação
representavam uma ameaça para as crianças. Seus lidas e construtivas, o jornalista Álvaro Oppermann, da Secretaria Municipal de
Educação de São Paulo.
efeitos nefastos, segundo Wertham, incluíam a de- no artigo que publicou na revista Superinteressante
linquência juvenil, a discórdia entre irmãos, maus (2004) sobre a saga do psiquiatra contra os quadri-
hábitos alimentares, estimulavam a homossexuali- nhos, declara que Wertham ficará conhecido na his-
dade e prejudicavam a formação do caráter. tória como “o doutor que odiava heróis”.
A publicação desse livro foi antecipada por uma Baseando-se nas opiniões de Wertham, auto-
série de artigos que Wertham começou a publicar ridades políticas, civis, religiosas e educacionais
a partir de 1948, relatando supostos resultados de passaram a demonizar as revistas em quadrinhos.
pesquisas que ele desenvolvia e que associavam a Até a consolidação da televisão como um veículo
leitura dos quadrinhos com a violência. Contudo, a de comunicação de massa, fenômeno iniciado no
professora e pesquisadora Annallee Newtiz (2013), início dos anos 1950, as revistas de histórias em
da Universidade de Illinois, constatou, como resul- quadrinhos eram o grande veículo de comunicação
tado de uma pesquisa minuciosa que realizou no de massa, lidas por crianças, adolescentes, jovens
acervo particular de Wertham, arquivado na Livra- e mesmo por adultos que, particularmente nos Es-
ria do Congresso americano, que o psiquiatra editou tados Unidos, eram ávidos leitores de revistas em
seletivamente seus dados, para que coincidissem quadrinhos. Contudo, não havia na ocasião critérios
com sua tese de que os quadrinhos eram responsá- de adequação de conteúdo à faixa etária.
veis pelo comportamento antissocial, especialmente O bibliotecário Diego Monsani, para obtenção
entre adolescentes. do título de mestre na Universidade Federal do Rio
Após a publicação do livro Sedução dos Inocen- Grande do Sul, fez desse tema, adequação de conte-
tes, Wertham passou a ser reconhecido como uma údo de revistas em quadrinhos destinadas ao público
autoridade na correlação quadrinhos e delinquên- infantil e adolescente em ambiente escolar, objeto de
cia, chegando a ser chamado para testemunhar no pesquisa. Os resultados da pesquisa foram publicados
Subcomitê do Senado Americano que investigava a em 2009, revelando que, embora livros e revistas com
delinquência juvenil. A despeito de que, no relatório conteúdo em quadrinhos façam parte do acervo das
final desse Comitê, os quadrinhos não fossem con- bibliotecas escolares, grande parte dos responsáveis
siderados culpados por crimes, foram formuladas por essas bibliotecas não tem critérios de seleção para
algumas recomendações dirigidas aos editores de a aquisição de obras. Cabe lembrar que, a partir dos
revistas em quadrinhos, para que mudassem volun- anos 1970, as histórias em quadrinhos passaram a ser
tariamente o conteúdo das revistas que publicavam. valorizadas e reconhecidas como relevantes objetos
51
pedagógicos e com valor educacional (CALAZANS, temas românticos. Homens e mulheres adultos leem
2008; VERGUEIRO; RAMOS, 2009; RAMA; VER- respectivamente os mangás Seinen e Redikomi/Jose,
GUEIRO, 2016; NOGUEIRA, 2017). que tratam de temas mais maduros (LUYTEN 2001;
Um dos bibliotecários entrevistados por Mon- LINSINGEN, 2007; CARLOS, 2009).
sani mencionou que o Fundo Nacional de Desen- Com o advento da internet, diminuiu o consumo
volvimento da Educação – FNDE, responsável pelo de mangás impressos no Japão, mas ainda assim tra-
Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE, ta-se, lá, de um fenômeno editorial que representa
mandou retirar do acervo das bibliotecas escolares 40% do material impresso, movimentando em ven-
uma obra em quadrinhos enviada às escolas pelo das, no ano de 2015, mais de R$ 14 bilhões (GRA-
PNBE, que havia sido alvo de crítica em veículos de VET, 2006; TOBACE, 2015).
comunicação por causa de sua falta de adequação ao Vergueiro, que é coordenador do Observatório
público de alunos da educação básica. de Histórias em Quadrinhos, sediado na Escola de
A publicação e distribuição de mangás no Japão Comunicação e Artes da USP, e que é um pesquisa-
são um bom exemplo do direcionamento de histórias dor referência dos estudos teóricos da área, destaca a
em quadrinhos para públicos específicos. Uma parti- utilização dessa mídia na sala de aula como recurso
cularidade dos mangás ou quadrinhos japoneses, po- pedagógico: “no Brasil […] o emprego das histórias
pulares naquele país desde os anos 1950, é a sua seg- em quadrinhos já é reconhecido pela Lei de Diretri-
mentação por faixa etária e gênero. As crianças de 6 zes e Bases – LDB e pelos Parâmetros Curriculares
a 11 leem Shogaku, quadrinhos de caráter educativo. Nacionais – PCNs” (RAMA; VERGUEIRO, 2016).
Para os meninos de 12 a 17 anos, são produzidos os Luyten e Lovreto, autores do manual “Efeito
HQ”, disponível apenas na internet com acesso gra-
tuito mediante cadastro, são exemplos de pesquisa-
dores que, nos últimos anos, passaram a estudar as
histórias em quadrinhos como prática pedagógica.
Os professores passaram a ser incentivados a utili-
zar os quadrinhos como ferramenta de trabalho, pelo
fato de serem adaptáveis e compatíveis para qual-
quer faixa etária e para abordar qualquer tipo de te-
mática, desde as específicas que compõem as grades
curriculares, bem como outros saberes imprescindí-
veis para a formação integral dos estudantes.
Calazans (2008) compartilha, no livro “História
em Quadrinhos na Escola”, sua experiência no em-
prego dos quadrinhos como recurso de apoio didáti-
co em sala de aula. No final do livro, apresenta um
levantamento bibliográfico fichado e comentado,
mapeando a literatura que estava disponível na épo-
ca que abordava as histórias em quadrinhos.
Foto: Daniel Carvalho - FOVE - CM - COPED - SME
Aos interessados, é possível se aperfeioçar na te-
Shounen, histórias protagonizadas por personagens máticas dos quadrinhos em cursos, oferecidos na mo-
que agem com determinação e motivação, em enredos dalidade EAD, tanto de qualificação, extensão, como
que envolvem lutas, muita ação, entremeados com ro- de especialização. Procure por “Curso Quadrinhos em
teiros cômicos e que tratam da amizade, coragem, Sala de Aula”, “Curso Básico de Histórias em Quadri-
lealdade e esporte. Já para as meninas adolescentes, nhos” e “Especialização em Histórias em Quadrinhos
na mesma faixa etária, os mangás Shoujo apresentam Sobre a produção de quadrinhos utilizando re-
52
cursos da internet, Franco (2004) nomeou este
formato como HQtrônnica. É o uso da velha e boa
fotografia, agora digitalizada, para ser utilizada para
A velha e boa fotografia, agora
produzir histórias em quadrinhos, a exemplo do pas- digitalizada, pode ser utilizada para
sado, quando existiam as revistas de fotonovelas.
Que tal, desafiar os alunos a fotografarem suas ativi- produzir histórias em quadrinhos, a
dades no período de férias e na primeira semana de
retorno às aulas apresentarem numa montagem em
exemplo do passado, quando existiam
quadrinhos, a versão em HQ daquela famosa reda- as revistas de fotonovelas.
ção: Como foram suas férias?
Existe um farto material disponibilizado na in-
ternet, a maioria pago, mas muitos que permitem em projetos no contraturno. Ou seja, antes de de-
gratuitamente um acesso limitado a alguns recursos, senvolverem propostas pedagógicas de histórias
que podem ser utilizados pelos professores para tra- em quadrinhos na sala de aula ou na escola, os
balhar conteúdos pedagógicos utilizando as histó- professores colocam a “mão na massa”, melhor
rias em quadrinhos. Na escolas da Rede Municipal dizendo, no papel e no lápis, e produzem em gru-
de Ensino de São Paulo, nos computadores das salas po (produção editorial) uma história em quadri-
de informática está instalado o software “Hagáquê”, nhos, trabalhando a escolha do tema, bem como
que disponibiliza recursos básicos para um projeto a elaboração do roteiro, a divisão da página em
de criação de histórias em quadrinhos. A novidade quadrinhos, a escolha de personagens, a inserção
agora é que aplicativos para celular transformam fo- de balões (que podem ser de texto, pensamento ou
tografias em quadrinhos. A criatividade dos profes- outro), a escrita sintética dos diálogos, a inserção
sores e dos estudantes poderá utilizar esses recursos de linhas cinéticas, onomatopeias, escolha de en-
para a elaboração de histórias em quadrinhos muito quadramento, enfim, trabalham com os elementos
interessantes. Experimente você também! que compõem a linguagem dos quadrinhos e, no
final, os grupos socializam suas produções.
Formação em HQ A oferta dessa formação, bem com as demais
organizadas pelo Núcleo de Educomunicação, pode
pela SME também acontecer sob demanda das Diretorias Re-
gionais de Educação – DREs e, no caso das Uni-
A Secretaria Municipal de Educação de São Pau- dades Educacionais, a demanda pode ser para um
lo, por meio do Núcleo de Educomunicação, ofere- workshop ou para uma visita técnica.
ce, desde 2018, o curso de formação: “Histórias em Para concluir, as histórias em quadrinhos fazem
Quadrinhos como Recurso Pedagógico em Sala de parte do repertório de literatura lúdica dos estudantes,
Aula”. Até o presente momento, foram ministrados portanto, ao serem introduzidas como recurso peda-
sete cursos em diferentes Diretorias Regionais de dógico em sala de aula, a proposta partirá de algo já
Educação – DREs. São disponibilizadas de 25 a 30 conhecido e apreciado por eles. Trata-se ainda de uma
vagas em cada curso, que são ministrados em 20h. proposta de custo praticamente zero, uma vez que é
No curso de histórias em quadrinhos são abor- utilizado na sua produção papel sulfite, lápis, bor-
dados aspectos teóricos do recurso pedagógico racha, régua, lápis de cor e/ou canetinhas coloridas.
das histórias em quadrinhos, contudo, o curso tem Pode-se ainda trabalhar com o software HagaQuê,
um caráter prático. Os professores experienciam disponível nas salas de informática das Unidades
em um exercício de roteirização e produção edito- Educacionais. Além disso, com o recursos de recen-
rial (divididos em grupos de trabalho) aquilo que tes aplicativos para celulares, pode-se transformar as
proporão aos seus estudantes em sala de aula ou fotos arquivadas em quadrinhos e, adicionando-se ba-
53
Foto: Roberto Tersi - FOVE - CM - COPED - SME
lões de fala, é possível elaborar histórias em quadri- LUYTEN, S. Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses. São Paulo:
Hedra, 2001.
nhos, nas quais os personagens podem ser os própios
LUYTEN, S. B.; LOVETRO, J. A. Efeito HQ. Disponível em: http://
estudantes transformados em personagens das histó- efeitohq.com. Acesso em: 12 nov. 2019
rias elaboradas individual ou coletivamente. MONSANI, D. Biblioteca escolar: um lugar para quadrinhos? 2009.
Aos interessados, é possível se aperfeioçar na te- Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia)
– Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade
máticas dos quadrinhos em cursos, oferecidos na mo- Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. Disponível em
dalidade EAD, tanto de qualificação, extensão, como de https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/22712/000740400.
pdf?sequence=1. Acesso em: 27 nov 2019.
especialização. Procure por “Curso Quadrinhos em Sala
NEWITZ, A. How one man’s lies almost destroyed the comics
de Aula”, “Curso Básico de Histórias em Quadrinhos” e industry. 2013. Disponível em: https://io9.gizmodo.com/how-
one-mans-lies-almost-destroyed-the-comics-industry-5985199 .
“Especialização em Histórias em Quadrinhos”. Acesso em: 25 nov 2019.
CALAZANS, F. História em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2008. OPPERMANN, A. O doutor que odiava heróis. Superinteressante,
31 maio 2004. Disponível em: https://super.abril.com.br/cultura/o-
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2007. número especial.
54
Relato 1
Escola
Florestan
10 anos de Educomunicação
55
Eu me chamo Maria Helena Beserra Moreira, de Cerimônia oferecido pelo Cerimonial da Secre-
professora do Ensino Fundamental, natural de Buí- taria de Educação com presença de três estudantes.
que/Pernambuco. Resido em São Paulo há 30 anos, A cada ano que passa, o grupo se renova e am-
sou casada e tenho dois filhos. Sou Pedagoga pela plia sua criatividade, apropriando-se das novas
Universidade Santo Amaro e Psicopedagoga pela possibilidades tecnológicas e comunicativas.
FAMOSP. Trabalho na Secretaria Municipal de Edu- Neste ano, com o Projeto de Educomunicação
cação da Cidade de São Paulo desde 1990 e, nos últi- da escola Florestan Fernandes completando dez
mos 22 anos, leciono na Escola Municipal Professor anos, podemos ver a transformação que ocorreu
Florestan Fernandes, onde, em 2007, fui designada na vida de tantos meninos e meninas que passaram
como Professora Orientadora de Informática Educa- por aqui. Esses fizeram a diferença na escola e nos
tiva – POIE. Após dois anos (2009), assumi a propos- demais locais em que estão inseridos. São jovens
ta com o diretor Marivaldo Souza (hoje aposentado) que têm uma postura notável por onde passam. Eles
para atuar junto aos estudantes interessados em par- mantêm o vínculo conosco e falam de suas boas es-
ticipar na produção e divulgação dos eventos reali- colhas, aprenderam fazendo de maneira significati-
zados na Unidade Educacional. Oferecemos a eles va, experimentando. A maioria deles nos conta his-
orientação, acesso aos equipamentos de som e de tórias de sucesso e isso é muito gratificante para nós
informática, além dos espaços da escola. Com isso, que acreditamos no potencial e criatividade deles.
o interesse e o engajamento dos estudantes cresce- Maria Helena Beserra Moreira
ram de forma extraordinária. Neste mesmo ano, por Professora
ocasião da Mostra Cultural, organizamos o primeiro
programa de rádio para ir ao “ar”, tendo sua conti- Em 2009, a equipe gestora, sob a direção do Ma-
nuidade no horário do recreio. rivaldo Souza, da Escola Municipal de Ensino Fun-
Esse movimento inovador e criativo empolgou damental Professor Florestan Fernandes, localizada
ainda mais nossos estudantes, resultando em novas na Cidade de São Paulo, juntamente com a professora
adesões ao projeto, ampliando suas intenções e pos- Maria Helena Beserra Moreira decidiram incentivar
sibilidades, bem como a criação de um ambiente vir- a participação dos estudantes no processo de prepa-
tual para divulgar as imagens das atividades realiza- ração e divulgação de eventos realizados na escola,
das pela escola. Assim, o emefflorestan.blogspot.com nasceu então o Projeto Educomunicadores Florestan.
se tornou o principal canal de divulgação das ações Com a implantação do projeto, os estudantes têm a
realizadas pelos estudantes dentro do espaço esco- oportunidade de aproveitar mais os recursos tecnoló-
lar, como também em eventos educacionais externos gicos disponíveis na escola, em momentos além do ho-
por eles representados. Além disso, nossos estudan- rário normal de aula. Eles sugerem, criam e divulgam
tes não só criaram um Jornal Mural e uma conta no informações por meio do Blog dos Estudantes (que já
Twitter com foco na divulgação desses eventos, mas passa de 300 mil visualizações) e do Jornal Mural.
também produziram um canal no YouTube contendo Os Educomunicadores também fazem a cobertura
diversas reportagens, entrevistas e produções audio- jornalística dos eventos, atuam como mestres de ceri-
visuais realizadas por eles próprios. mônia e fundaram a Rádio Florestan, que logo se tor-
Pela Secretaria Municipal de Educação esta- nou a queridinha dos estudantes. Os programas vão ao
vam em andamento os programas Nas Ondas do ar durante os intervalos e fazem a alegria da galera.
Rádio e Imprensa Jovem, que contribuíram para Atualmente, somos 30 educomunicadores ati-
oferecer formação para professores e gestores nas vos, sendo que, de 2009 a 2019, passaram pelo pro-
Diretorias Regionais, em oficinas de rádio, jornal jeto aproximadamente 300 estudantes. Alguns que
mural e blog. Passamos a frequentar esses espaços já se formaram continuam colaborando e auxiliam
para aprender e compartilhar os novos conheci- nas formações multiplicando saberes.
mentos, inclusive participamos do curso de Mestres Por Educomunicadores Florestan
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Depoimento a escola me ofereceu e continua oferecendo para
tantos outros jovens.
dos estudantes Alessandra de Lima Felix, 21 anos
Estudante de Serviço Social – Uninove
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Todo meu Ensino Fundamental foi cursado na meu senso crítico, das minhas habilidades e da mi-
EMEF Florestan Fernandes. Em meio a esses oito nha formação como cidadão. Participei das mais
anos letivos, tive a oportunidade de fazer parte de diversas atividades, que enriqueceram meu conhe-
diversos projetos da escola, entre eles destaco a vi- cimento e acrescentaram em meu currículo. Entre
vência no Projeto Educomunicadores, no qual, sob minhas atuações no projeto, destaco a diagramação
orientação da professora Helena Moreira, pude de- do Blog dos Estudantes, atualmente com mais de
senvolver o gosto pela comunicação e pelo mundo 300 mil visualizações. Por meio desta atividade, de-
da mídia digital. Ser um educomunicador é estar senvolvi minha capacidade de redigir textos e tratar
exposto a todo o momento a experiências de trocas imagens, bem como “vivenciar” o dia a dia de um
de ideias, em que você ensina e, ao mesmo tempo, repórter. Acredito que tudo que aprendi colaborou
aprende. As atividades realizadas durante esse pe- muito para a minha formação; as habilidades co-
ríodo ajudaram-me no desenvolvimento pessoal municativas que desenvolvi me ajudam diariamen-
e pedagógico, um exemplo claro disso foi quando te. Enfim, a oportunidade de protagonizar algo, de
tive contato com entrevistas e mediação de eventos fato, me fez ver que todos têm capacidades e que só
que ajudaram a resolver meu problema de timidez. precisam ser desenvolvidas.
Hoje, já no mercado de trabalho, vejo que algumas Renato Braz, 16 anos, 1º ano do Ensino Médio
experiências desenvolvidas pelo projeto contribuem
na execução de diversas tarefas. Dessa forma, pos- Se fosse para definir o Projeto Educomuni-
so dizer que, além da proposta pedagógica, o Proje- cadores em uma palavra seria APRENDIZADO,
to Imprensa Jovem fomenta também as práticas no aprendizado que vai muito além dos workshops de
âmbito profissional. fotografia, é aprendizado como ser humano. Poder
Michael Aquino, 18 anos – Estudante formado, Ensino Médio transmitir aos colegas mais novos o conhecimento
que adquiri foi uma das muitas coisas boas que esse
Quando entrei no projeto, por volta da 4º série, projeto me proporcionou, ser estudante mediador e,
passei por várias experiências, como ficar à frente além de ensinar, aprender. O Projeto Educomuni-
ou atrás das câmeras, onde logo me identifiquei. A cadores é uma porta aberta para vida; é a oportu-
grande oportunidade para que os participantes pos- nidade que concede a nós, estudantes, o novo; nos
sam encontrar seu espaço é o motivacional, pois, dá a base para que possamos crescer, nos acolhe e
assim, cada um sabe o que fazer, tendo resultados nos ensina a voar. Sou grata a este projeto e a todos
gratificantes na nossa produção, em que sempre que nele estão envolvidos; agradeço à professora
prezamos pela qualidade. No Projeto Educomuni- Helena por tudo que fez e faz por este projeto e por
cadores, pude expressar minhas ideias, aprender tudo que nos ensinou, passarei meu conhecimento
diversas coisas que, possivelmente, não conseguiria adiante com o maior orgulho e gratidão.
em nenhum outro lugar. Minhas funções na Rádio Mikaely Aquino, 15 anos – 9º ano
Florestan, edições de vídeo, foto, desenvolvimento
dos designs e, por ter mais experiência, me possi- Meu nome é Thainá do Carmo Lourenço, estou
bilitaram ensinar os outros estudantes para que as cursando Ensino Fundamental II, na EMEF Professor
produções continuassem. Hoje, mesmo depois de Florestan Fernandes. Entrei no Projeto Educomunica-
formado, ainda contribuo com o projeto. dores há três anos, e isso realmente mudou a minha
Lucas Moreira, 16 anos, 3º ano do Ensino Médio vida, não só acadêmica, mas também a pessoal. O
projeto me mostrou como o mundo é lá fora de uma
Fazer parte do projeto Educomunicadores foi forma mais lúdica e é isso que ele tenta passar para
muito gratificante para mim. Além de me oportuni- todas as pessoas que dele participam. A todo momento
zar a participação em eventos na escola e na Rede estou aprendendo. O que mais se destacou nesses três
Municipal, colaborou para o desenvolvimento do anos foi a fotografia, e hoje estou fazendo curso para
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aprimorar. Essa vivência me desperta interesse em di- Meu nome é Danilo e sou educomunicador. En-
versas coisas, que antes eu não observava. trei no projeto porque via estudantes tirando fotos,
Thainá do Carmo Lourenço, 14 anos – 8º ano ajudando a professora na sala de informática e fi-
quei curioso para saber como era fazer parte disso.
Eu sou a Ana Julia, tenho 13 anos e estou no Então, falei com a professora e logo ela me cha-
sétimo ano. Desde o quinto, já tinha vontade de par- mou dizendo que eu podia iniciar na outra sema-
ticipar do Projeto de Educomunicadores. Sempre na. Quando eu entrei no projeto, eu aprendi a tirar
observava, achava muito legal mexer com compu- fotos, a mexer com programas de edição, animação
tadores, tirar fotos na escola e nos ambientes ex- e de áudio. Eu gosto mais de tirar e selecionar fotos
ternos. Então procurei a professora, me inscrevi e para o blog e gosto também de ser mestre de ceri-
entrei no projeto em 2018. Para mim, foi e continua mônia; na primeira vez que participei, fiquei bem
sendo uma experiência bem legal e diferente, pois nervoso, mas era o que eu queria ser. O projeto me
já consegui fotografar algumas atividades dentro ensina muitas coisas.
e fora da escola, fui mestre de cerimônia e ajudo Danilo Nascimento Freire Sales, 11 anos – 6° ano
no Blog dos Estudantes. Gosto de estar no projeto,
porque com ele vou aprendendo coisas para a vida Fundada em 2017, Elevs Studio’s é uma em-
e pretendo continuar, acho muito legal as atividades presa que atua no ramo audiovisual e foi fundada
que desenvolvemos porque no blog, por exemplo, as por ex-alunos da EMEF Florestan Fernandes, que
pessoas de fora, responsáveis e outros estudantes participaram do Projeto Educomunicadores. Com
podem ver as atividades que acontecem aqui. a empresa, os estudantes Guilherme Alves, Lu-
Ana Júlia Martins, 13 anos – 7° ano cas Moreira e Michael Aquino quiseram aplicar o
aprendizado obtido em um ambiente escolar na vida
Eu me chamo Kaique Miquelino, tenho 13 anos profissional. “Buscamos sempre nos aprimorar em
e participo do Projeto Educomunicadores da EMEF relação às adaptações que o mercado exige, visando
Florestan Fernandes. Comecei o projeto quando ti- diferentes técnicas, explorando majoritariamente
nha apenas oito anos de idade, por volta do terceiro as qualidades de acesso e de produto”. A posição
ano do ciclo I, lembro-me que quando observava inicial da empresa deve-se, sobretudo, à liberdade
aqueles estudantes tirando foto, sendo mestres de e dedicação tida anteriormente em um Projeto de
cerimônia e fazendo parte da rádio, sem dúvidas Educomunicação realizado na EMEF Prof. Flores-
era empolgante, dava prazer de ser um educomu- tan Fernandes, na qual seus fundadores e profissio-
nicador. Desde pequeno, já gostava de mexer com nais exerceram um papel fundamental de liderança,
tecnologia, era bem interessante e divertido. Quan- trabalho em equipe, comunicação e interdiscipli-
do entrei no projeto foi legal porque fiz amizades naridade. Desse modo, a Elevs Studio’s ressalta a
e aprendi coisas bem interessantes. O que eu mais importância do Projeto para sua idealização, pois
gostava e ainda gosto é de tirar fotos, é divertido a participação como educomunicadores permitiu
usar uma máquina tão moderna e fotografar em vá- uma ascensão pessoal e formação crítica, além de
rios ângulos, eu também gosto muito de editar ví- muitas outras habilidades, que raras instituições de
deos. Essa experiência me ajudou muito, não por ensino oferecem.
aprender a tirar foto e mexer na rádio, mas me deu
mais concentração nos estudos, e a professora sem- O Projeto Educomunicadores é uma porta
pre nos falou para ter respeito aonde quer que a aberta para vida; é a oportunidade que
gente vá. Eu espero que o projeto nunca acabe e
concede a nós, estudantes, o novo; nos dá a
dure para sempre, porque como eu estou aprenden-
do, outras crianças podem também aprender. base para que possamos crescer, nos acolhe e
Kaique Miquelino de Souza Bandeira – 7°ano A nos ensina a voar.
59
Relato 2
Nossa EMEF
é assim...
Estudantes descrevem rotina que têm na
escola, destacando seu desenvolvimento nas
atividades extracurriculares que frequentam,
entre as quais o Imprensa Jovem
Relatos de:
1 Estudantes da EMEF Prof. Enzo Antonio Silvestrini. As falas em primeira pessoa não levam o
60 nome do(a) autor(a) por representarem o grupo.
A EMEF Prof. Enzo Antonio Silvestrin fica na Meu último tempo será “travessia” que é uma
zona noroeste da Cidade de São Paulo e há, aproxi- aula de preparação para as provas de concurso,
madamente, 3 anos está no processo de implantação tipo ETEC e São Luís.
de um projeto na escola, em busca de uma educação
E na travessia estudamos, por exemplo, a leitura
com autonomia e reflexão, em busca de uma forma-
de provas – que ensina você a ler a prova da manei-
ção em que as pessoas sejam atuantes na sociedade
ra certa, respeitando as pontuações e tentando en-
e críticas em relação às suas realidades.
tender a pergunta, lendo devagar e com paciência.
Uma quinta-feira dessas, do ano de 2019...
A travessia foi criada porque ex-alunos deram
Dia de tutoria, acordo 6h30 para 6h50 chegar à uma sugestão de estudos de matérias que têm na
escola. No refeitório, pego uma maçã, a aula come- prova de concurso.
ça 7h e o portão fecha 7h10, minha tutoria é sobre
Depois desse último tempo, vamos para o almo-
“saúde física e emocional”, nós conversamos so-
ço. O período da manhã acabou, mas, das 12h às
bre: depressão, doenças psicológicas, drogas, etc…
13h30, há muitas atividades pela escola do projeto
A tutoria é um tipo de aula “diferenciada”, em Mais Educação.
que focamos em um certo tema que trabalharemos
O projeto Mais Educação é uma política públi-
o ano inteiro. São diversos tipos de temas, então os
ca à qual a escola aderiu, para acrescentar mais
alunos têm a liberdade de escolher algo em que se
conhecimento e interesse para participar de ati-
“encontrem”, que estejam interessados.
vidades dentro da escola, como esportes (futebol,
Nos 8os e 9os anos, as turmas de tutoria são mon- vôlei), atividades culturais (Imprensa Jovem, cine-
tadas de acordo com a escolha do tema feita pelos clube, jornal), atividades musicais (flauta), tecno-
alunos. Normalmente são dois professores para lógicas (animação, informática) e artística (dança,
atender cada turma e a programação de atividades pintura).
inclui leituras, debates, filmes, passeios no territó-
Minha visão como aluno é de que os projetos
rio, etc.
são muito bons para os alunos, ajudando-os em ati-
O que os alunos dizem: vidades que têm dificuldade ou para experimentar
outras linguagens.
“Muito bom achar algo de que se gosta para
fazer, para se enturmar, fazer novas amizades, o que À tarde, os portões abrem mais cedo para que
nos ajuda na convivência social. ” os alunos possam ter tempo para almoçar. O sinal
marca o início das aulas às 13h30.
“Mudou bastante, falar sobre o que queremos
mudar na escola (dar nossa opinião); acho interes- Os tempos do Ensino Fundamental II são iguais
sante a vinda de psicólogos nas tutorias; conversa à tarde, mas a tutoria funciona de outro jeito, tam-
entre professores e alunos.” bém tem as aulas eletivas e, nesse momento, ainda
não tem travessia.
“Importante para a evolução do aprendizado
dos alunos. ” A eletiva é uma atividade interativa, que dá
oportunidade aos alunos de desenvolverem uma
Passado o primeiro tempo, vou para a aula
de Português, temos aula de gramática, escrita e
oratória. Hoje, por exemplo, é dia de debate. Os
grupos foram formados “a favor” ou “contra” um Os grupos foram formados "a
tema atual que escolhemos para debater. Tivemos
tempo de pesquisar e estudar para conseguir argu- favor" ou "contra" um tema atual
mentar sobre nossa posição, que não é exatamen- que escolhemos para debater.
te a que temos sobre o tema, mas só de pesquisar
mais sobre, muitas pessoas já tiraram alguns este- Tivemos tempo de pesquisar e
reótipos da cabeça.
estudar para conseguir argumentar
Hora do intervalo, desço para o pátio e encon-
tro a Manuela voltando para sala, ela é do 5º ano e sobre nossa posição.
agora terá atividade de eletiva com as turmas.
61
nova capacidade e aprenderem as coisas de uma for- A tutoria da tarde é para os 6os e 7os anos: com
ma diferente. Cada um pode escolher de qual quer a perda do professor referência que existe até o 5o
participar e, uma vez por semana, no período de 1 ano, em que é mais possível o acesso e a conexão. O
hora e meia, praticam atividades como: cubo mági- professor tutor (além de buscar o histórico do alu-
co, customização, robótica, xadrez etc. As eletivas no) pretende estreitar laços para colaborar com a
da escola têm a função de enriquecimento cultural, vida escolar de cada um em sua tutoria, realizando
de aprofundamento e/ou atualizações de conheci- atividades combinadas e de interesse do grupo.
mentos específicos que complementem a formação
As aulas de Língua Portuguesa, Matemática,
acadêmica dos alunos em geral. Este semestre, uma
Geografia, História e Língua Inglesa têm tempos difer-
das eletivas é oferecida por um estudante da esco-
entes também (não são 45 min) e em salas ambiente.
la, isso mesmo, um colega nosso é responsável pela
eletiva de Imagens Digitais. A nossa escola tem um espaço de fala aber-
to para os alunos, que podem opinar a qualquer
momento e tem alguém pronto para ouvir, e isso é
muito bom.
Há uma grande confiança nos alunos, deixan-
Foto: Paula Letícia - FOVE - CM - COPED - SME
Por
Maria Rehder
1. Maria Rebeca Otero Gomes, Coordenadora de Educação da UNESCO no Brasil. É mestre em Ciências da Saúde pela
Universidade de Brasília – UNB, onde e especialista em Saúde Pública pela Universidade de Campinas. UNICAMP.
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No contexto do cumprimento da Agenda 2030, qual a equitativa e de qualidade. Só assim ela será capaz de
importância de o Currículo da Cidade trazer de forma servir como porta de entrada para todos os direitos dos
inédita a relação dos Objetivos de Aprendizagem com cidadãos.
os ODS?
O que seria uma abordagem integrada para os ODS a
O currículo é uma importante ferramenta do sistema
partir da escola?
educacional. Relacionar os Objetivos de Desenvolvi-
A abordagem integrada para os ODS, a partir da escola,
mento Sustentável – ODS aos Objetivos de Aprendi-
significa trabalhar os temas dos ODS na sala de aula e
zagem é uma forma de fazer com que a comunidade
fora dela, em todas as disciplinas. Ou seja, é auxiliar
escolar se aproprie dos objetivos e metas globais acor-
os alunos a relacionarem os ODS com o seu dia a dia.
dados durante a Assembleia Geral das Nações Unidas,
Por exemplo, nas aulas de Biologia é possível tratar de
em 2015. Também é uma oportunidade de levar para a
vários ODS, como o 3, o 6, o 12, o 13, o 14 e o 15. É im-
formação de professores e para os planos de aulas temas
portante ressaltar também que os objetivos são interde-
importantes para a sustentabilidade global nos âmbitos
pendentes e que para alcançarmos um, é necessário al-
social, econômico e ambiental. Somente iremos alcan-
cançarmos o outro. O ODS 4 busca “alcançar uma Edu-
çar os ODS, se tivermos a participação de toda a socie-
cação inclusiva, equitativa e de qualidade ao longo da
dade. A escola e o sistema educativo são primordiais
vida” e, portanto, é essencial para obtermos o Direito à
para que as comunidades nas quais estão inseridos se
Educação para todos. Além disso, é por meio da educa-
envolvam e façam a sua parte nesse processo.
ção que um cidadão conseguirá ler uma bula de remédio
A UNESCO reconhece a escola como importante alia- e atingir também o ODS 3, por exemplo, que visa “as-
da no âmbito dos esforços globais para o alcance dos segurar uma vida saudável e promover o bem-estar para
ODS em 2030. Por quê? todas e todos, em todas as idades”. A Educação também
Com certeza, a inclusão dos ODS nos debates dentro é instrumento para que as pessoas alcancem todos os ou-
das escolas qualifica a educação e envolve toda a socie- tros direitos humanos. Portanto, a abordagem integrada
dade no alcance das metas estabelecidas até 2030. Afi- relaciona todos esses ODS a partir da Educação.
nal, são nas escolas que formamos os alunos para que
Qual a importância de os estudantes incorporarem os
se tornem cidadãos globais. A escola inicia o ciclo para
ODS em suas práticas cotidianas?
que, posteriormente, as pessoas possam alcançar o que
É essencial, porque é a prática cotidiana, os costumes,
denominamos de aprendizagem ao longo da vida. Além
bem como as atitudes e comportamentos que podem mu-
de educar crianças e jovens, a escola também se torna
dar o mundo para melhor. Quando falamos de desenvol-
um importante propulsor de debates com as comunida-
vimento sustentável, falamos de três aspectos: econômi-
des nas quais está inserida e tem uma grande capilarida-
co, ambiental e social. Muitas vezes, com um pequeno
de geográfica. Portanto, a Educação deve ser inclusiva,
hábito diário, você pode contribuir para o desenvolvi-
mento sustentável em todos esses pilares. Por exemplo,
o tratamento do lixo e a reciclagem contribuem para o
Rebeca Otero - meio ambiente, uma vez que os dejetos tomam o desti-
Coordenadora no correto evitando a poluição; para a economia, pois
de Educação da essa atividade pode gerar emprego para determinada
UNESCO Brasil comunidade; e para o social, uma vez que membros da
comunidade encontram um meio de ganhar uma renda.
Outros exemplos podem ser citados, tais como: o apoio
aos migrantes, o trabalho voluntário, o trabalho de co-
municação entre os jovens, a educação de pares, entre
vários outros.
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Aconteceu na Rede
Uma pequena parte de quem faz parte deste mundo da EDUCOM
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CC S
BY NC SA
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