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criativa NA PRÁTICA
ediç ã o l
esp ecia
DAC
BRASIL
2018 Projeto Fotografia,
Memória e Identidade:
olhares registram a
cultura quilombola do
Rio Grande do Norte
CAPA
projeto 2 | Alquimétricos 16
ESTRUTURAS ENCANTADORAS
AO ALCANCE DAS M ÃOS
16
APRENDIZAGEM COL ABORATIVA
1 JUVENTUDE CRIATIVA
E TRANSFORM ADORA
12 36
INCLUSIVA M AIS PRÓXIM AS
48
40
conclusões| É HORA DE
BUSCAR NOVOS HORIZONTES
Realização
Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa,
Fundação Lemann e MIT Media Lab
Supervisão
Leo Burd e Ann Berger Valente
Reportagem e textos
Maggi Krause
Revisão
Sidney Cerchiaro
Caro leitor,
V
ocê é nosso convidado especial para co- todos estão em constante transformação e
nhecer as oito iniciativas selecionadas aperfeiçoamento.
em 2018 pelo Desafio Aprendizagem Está pronto para embarcar numa expe-
Criativa Brasil (DAC Brasil), promovido pelo dição de conhecimento sobre criatividade e
MIT Media Lab e pela Fundação Lemann. educação? Aperte os cintos. Vamos decolar
Mais que um material sobre projetos de apren- logo mais. Para começar, conheça como fun-
dizagem criativa na prática, este é um livro ciona o DAC Brasil, realizado anualmente
para ser usado como inspiração para organi- para que os educadores selecionados partici-
zar trabalhos que façam do ambiente educador pem do Creative Learning Fellowship. Du-
um espaço de exploração, descoberta, engaja- rante o passeio, em caso de dúvidas, consulte
mento, mão na massa, ideias e, inevitavelmen- o glossário que preparamos com termos es-
te, erros – muito bem-vindos, que fique claro! senciais sobre aprendizagem criativa (pág. 8).
Nas páginas seguintes, você vai encontrar Depois do tour pelos oito projetos vencedo-
exemplos reais de como os alunos podem ser res da edição de 2018, a partir da página 12,
protagonistas do trabalho realizado, dividir você vai conhecer um pouco das aprendiza-
responsabilidades com os colegas, tentar, gens que cada fellow reconheceu ter alcan-
mudar de ideia, tentar de novo e errar sem çado (pág. 44) e os resultados gerais do DAC
medo, descobrir caminhos para responder (pág. 48). Para terminar a expedição, não
questões que eles mesmos levantam, cons- deixe de conferir nossas indicações de leitu-
truir coisas e pesquisar. Não existe mágica ra sobre aprendizagem criativa (pág. 50) para
nem segredo que impeça você de fazer o mes- mergulhar mais fundo no tema e se animar
mo. Os projetos foram desenvolvidos con- para juntar esforços com outros educado-
siderando o contexto local de cada grupo, o res empenhados em tornar a educação mais
interesse dos estudantes e a fundamentação criativa, relevante e divertida. Boa viagem!
teórica da aprendizagem criativa, baseada
nos 4 Ps: paixão, pares, pensar brincando
(play) e projeto. Longe de serem perfeitos, Abraços,
5 | Aprendizagem Criativa na Prática | DAC Brasil 2018 Fotos: Acervo pessoal Voltar para
o sumário
introdução VIAGEM PARA BOSTON
Educadores
brasileiros visitam a
escola Acera
Um mergulho no universo
da aprendizagem criativa
A incrível jornada de 12 educadores brasileiros selecionados
no Desafio Aprendizagem Criativa Brasil 2018
Q
uando se fala em aprendizagem criativa, alguns es- Norteadores e alicerce da aprendizagem criativa, os 4 Ps não
tereótipos podem vir à mente. Alunos brincando de precisam constar de forma obrigatória, o tempo todo, em pro-
forma espontânea, crianças montando protótipos e jetos dessa natureza. É preciso considerar o contexto, a turma,
trabalhos que sempre envolvem linguagem de programa- os objetivos. Apesar disso, é importante que, em algum mo-
ção, por exemplo. Ter essas ideias faz com que o conceito mento do projeto, todos os Ps apareçam porque favorecem a
pareça modismo. Mas quem se dedica ao estudo do tema reflexão de forma contínua do aprendiz e do educador. “É na
sabe: há mais de 50 anos, a teoria da aprendizagem criativa reflexão que o aluno pode se conscientizar sobre colaboração,
– em constante crescimento e aprimoramento – prova que construir algo significativo, explorar outros caminhos quando
tem consistência e é importantíssima. A abordagem educa- estiver perdido ou frustrado”, diz Leo. Um quinto P, de pro-
cional proposta por Mitchel Resnick, do MIT Media Lab, pósito, é uma característica ímpar de projetos brasileiros. Ele
tem como base as ideias construcionistas do matemático e aponta para uma benfeitoria para a sociedade – como atender
educador Seymour Papert, também do MIT, e quatro di- uma necessidade da comunidade local – e deixa claro que o
mensões-chave – os famosos “4 Ps”: paixão, pares, pensar que se aprende não pode estar desconectado da vida.
brincando (play) e projeto. “O aluno imagina o que quer
fazer, cria um projeto pessoal baseado na ideia, brinca e DAC Brasil 2018
explora suas criações, compartilha as ideias e produtos com Na busca por bons projetos de educação formal e informal no
os pares, reflete sobre as experiências, numa verdadeira es- país, anualmente e desde 2015, acontece o Desafio Apren-
piral criativa”, explica Leo Burd, diretor do Programa Le- dizagem Criativa Brasil (DAC Brasil), promovido pelo MIT
mann de Aprendizagem Criativa. Media Lab e pela Fundação Lemann. Os selecionados são
TROCA DE IDEIAS
No Parts and Crafts,
com Will Macfarlan
(à direita, em pé)
Palavras &
expressões essenciais
No dia a dia do trabalho com aprendizagem
criativa, alguns termos são de uso obrigatório.
Saiba o significado de cada um deles
APRENDIZAGEM CRIATIVA
Abordagem educacional proposta por Mitchel Resnick,
do MIT Media Lab, baseada nas ideias construcionistas do
matemático e educador Seymour Papert, também do MIT.
A aprendizagem criativa foca na construção de ambientes teoria construtivista de Jean Piaget, psicólogo que estudava
de aprendizagem centrados em quatro dimensões-chave, o desenvolvimento infantil e com quem Papert trabalhou
os chamados 4 Ps da aprendizagem criativa: paixão, pa- durante vários anos antes de chegar ao MIT. Enquanto o
res, pensar brincando (play) e projeto. Resnick integra essas construtivismo de Piaget defende que as pessoas aprendem
noções por meio da espiral de aprendizagem criativa, em interagindo com o mundo, o construcionismo de Papert
que a criança imagina o que quer fazer, cria um projeto defende que elas aprendem ainda melhor se estiverem en-
baseado na ideia dela, brinca e explora com suas criações, volvidas na criação de um produto (seja ele qual for: um
compartilha as ideias e produtos com seus pares, reflete a programa de computador, um jogo, um castelo de areia)
respeito das experiências – tudo isso, por sua vez, a ajuda significativo para elas e, ao mesmo tempo, compartilhável
imaginar novas ideias e novos projetos. À medida que os com o grupo. A construção de objetos significativos promo-
alunos passam por esse processo, aprendem a desenvolver ve um maior nível de engajamento por parte do aprendiz,
as próprias ideias, testá-las, experimentar alternativas, ob- e também ajuda a materializar o pensamento, facilitando a
ter informações com outras pessoas e gerar ideias com base colaboração e a reflexão sobre processo e produto. O cons-
em suas experiências. E mais: se desenvolvem como pensa- trucionismo também pode ser considerado premissa da
dores criativos. linguagem de programação Logo, base do Scratch.
CONSTRUCIONISMO ERRO
Base da aprendizagem criativa, é uma abordagem educa- No sistema tradicional de educação, o erro é punitivo e
cional concebida por Seymour Papert na década de 1960. visto como uma falha humana. Na aprendizagem criativa,
É possível considerar o construcionismo uma extensão da é visto como parte natural do processo de aprendizagem.
Diretamente ligado à liberdade de arriscar, o erro reflete
o entendimento atual que temos do mundo e serve de base
para novas reflexões e explorações.
PROJETO
Mais um dos 4 Ps da aprendizagem criativa. O bom pro- TINKERING
jeto mobiliza um processo de construção de algo em torno Sem tradução para o português, pode ser associado à ideia
de uma ideia, considerando que as pessoas aprendem me- de exploração criativa ou exploração lúdica de ideias, mate-
lhor quando envolvidas na criação de um produto que pode riais. O percurso não é necessariamente planejado e racio-
ser compartilhado com outras. O produto pode ser físico nal, os aprendizes trabalham no clima de experimentação,
ou virtual, como um carrinho de madeira, um programa erro e acerto, o famoso “vamos ver no que é que vai dar”.
de computador ou uma peça de teatro. Na perspectiva da Na aprendizagem criativa, a aceitação do erro está vincula-
aprendizagem criativa, a atividade de projeto não tem a da diretamente ao tinkering - e ambos conceitos fazem parte
ver com o encerramento de uma unidade de ensino ou um de um dos Ps da aprendizagem criativa (pensar brincando).
prêmio. É a condutora da busca por informações, que se
tornam significativas para os aprendizes porque ajudam a
resolver problemas.
SCRATCH
Linguagem de programação que incentiva a expressão
pessoal de crianças e jovens com base na criação e remixa-
TECNOLOGIA gem de jogos, arte interativa, histórias, poemas, simulações
Não é vista pela aprendizagem criativa como fim, mas, e outros projetos no computador. Inspirado na linguagem
sim, como suporte, ferramenta para construir, refletir, Logo da década de 1970 e enriquecido com o potencial da
colaborar e explorar livremente. Deve ser usada pelos es- tecnologia moderna, o Scratch inclui uma interface gráfica
e uma série de ferramentas de mídia, colaboração e cone-
xão com mundo físico criadas especialmente para viabilizar
o desenvolvimento de atividades de aprendizagem criativa
com o computador. Foi desenhado para ter pisos baixos
(para permitir fácil acesso), tetos altos (possibilitar pro-
jetos bem profundos e complexos) e paredes amplas (para
trabalhar com temáticas bem diversas).
8
projetos
inspiradores
Conheça as inciativas assinadas
por 12 educadores do Brasil
e selecionadas no
Desafio Aprendizagem
Criativa Brasil 2018
- 11 -
projetos
À luz da descoberta
Os Faróis do Saber e Inovação, em Curitiba,
abrigam estúdios de criação para desenvolver projetos
que estimulam a colaboração e a aprendizagem
DEPOIS DA PESQUISA
Os alunos se lançam
a desafios diversos no
contraturno escolar
D
urante uma pesquisa sobre o Fa- dos os materiais para erguê-las? Então,
rol de Alexandria, um grupo de a turma resolveu se dedicar ao desafio de
estudantes ficou conhecendo a construir trenós (com protótipos modela-
Ilha de Faro via Google Earth e visitou dos em 3D) e testá-los na areia seca. Essas
museus e monumentos em explorações atividades foram realizadas por um gru-
virtuais. As descobertas despertaram al- po de alunos do Ensino Fundamental da
gumas curiosidades na garotada: como rede pública de Curitiba. Imersos em um
eram feitas as construções antigas na era ambiente propício para experimentação e
pré-cristã? De que forma eram carrega- descobertas, eles ainda recriaram o pri-
MIL MANEIRAS
Os aprendizes são
convidados a trabalhar
com várias linguagens
1
PROJETO
PONTO DE ENCONTRO
Em Curitiba, são nove
Faróis. Para 2019, a Faróis do Saber
previsão é de mais 22 e Inovação
O QUE É
Espaços não formais
de ensino que
oferecem oficinas no
contraturno escolar.
OBJETIVO
Funcionar como
oficinas de ideias e
polos de disseminação
da cultura maker e da
2
Fotos: 1 Solange Daufembach Esser Pauluk 2 Daniel Castellano / SMCS aprendizagem criativa,
valorizando a criação,
a colaboração, o
meiro guindaste de que se tem registro na protótipos usando computação criativa, pensamento crítico
antiguidade e se lançaram a replicar uma aprendem sobre modelagem 3D, criam e a autonomia dos
frequentadores.
miniatura de guindaste hidráulico, cons- jogos e animações na linguagem de pro-
truído com papelão, seringas e água. A gramação Scratch e montam instalações ONDE
montagem passou por erros e dificuldades, artísticas. Tudo usando ferramentas tra- Curitiba.
mas resultou num objeto criado, testado e dicionais, como martelo e pregos e tec-
aprovado coletivamente. nologia de ponta, entre outros subsídios. QUEM PARTICIPA
Estudantes, professores
Isso tudo aconteceu em um espaço
e funcionários da
maker de uma das unidades dos Faróis Espaços para criação rede municipal de
do Saber e Inovação. Lá, tal como esses “O projeto tem como princípio metodoló- ensino de Curitiba e a
alunos, outros se dedicam a desenvolver gico a experiência de aprendizagem criativa comunidade local.
aprendizagem de forma
de forma flexível e com tempo de interação
variável. É um esquema oposto ao da esco-
ESPAÇO MAKER
As bibliotecas públicas
também são polos de
inovação e criatividade
LEITURA E ESTUDO
Livros à disposição
em sinergia com a
demanda de pesquisa
WORKSHOP
Trabalho com
peças geométricas
interligadas
Estruturas encantadoras
ao alcance das mãos
Em encontros de criação coletiva propostos por Alquimétricos,
materiais simples viram kits de construção para montar
brinquedos, objetos decorativos e o que mais a imaginação permitir
O
nome da iniciativa fundada pelo nas estruturas criadas por quem participa
maker e artista argentino Fer- dos workshops, tão variados que divertem
nando Daguanno por si só já é crianças e adultos, promovem formação
instigante: Alquimétricos. Uma fusão de professores e são geradores de perfor-
de alquimia (que remete a tudo o que é mances sonoras e visuais.
mutante, mágico e transformador) com Alquimétricos abraça tantas possibilida-
métrica (que engloba medida, exatidão e des que não tem uma definição única. O
técnica). Arte e tecnologia estão presentes próprio Daguanno descreve o projeto como
MÃOS EM AÇÃO
A colaboração entre
pares implica
criação coletiva
1
SUSTENTABILIDADE
1
Foco no excesso de lixo
e na falta de iniciativas
educacionais low-tech
2
3 Fotos: 1 Divugalção Olabi Makerspace. 2 Fernando Daguanno
Fernando sica. “Já vi projetos com assimetria e com um convite para participar de uma exposi-
Daguanno movimento. Quem participa vislumbra ção e oficinas em Shenzhen, na China, e
FORMAÇÃO ACADÊMICA
um universo de possibilidades e me mostra hoje se comunica com professoras daquele
Técnico em eletrônica,
diversos caminhos.” país. Entre os próximos passos: lançar um
maker e designer Em 2018, Daguanno confirmou o po- crowdfunding para manter a sustentabili-
autodidata tencial de Alquimétricos transbordar as dade do projeto, editar e publicar um guia
oficinas locais. Assim, surgiu uma comu- detalhado de tecnologia (de código aberto),
PAPEL NO PROJETO nidade de colaboradores interdisciplinar e projetos e atividades e montar uma plata-
Fundador internacional focada em disponibilizar o forma de projetos online e um cardápio de
recurso didático para contextos socioeco- conteúdos em sinergia com o currículo ofi-
nômicos cada vez mais diversos. Ele recebeu cial do ensino brasileiro e do argentino.
Foto: 3 Felipe Gabriel / Red Bull
Content Pool
E
m encontros na casa da professo-
ra Gislaine Batista Munhoz, jo-
vens construíram em seis meses
um jogo que explicava a gamificação ten-
do como pano de fundo a série do dese-
nho animado Hora da Aventura (criada por
Pendleton Ward para o Cartoon Network).
Personagens e elementos foram trabalha-
dos com exploração do ambiente com QR
Codes, jogos com Scratch, kits de robóti-
ca, bonecos de feltro e tecido, e um cenário
em que o jogador entrava e participava da
aventura. O jogo fez sucesso na primeira
vez que foi apresentado para professores
na 1ª Mostra de Tecnologia da Secretaria
Municipal de Educação de São Paulo. E as-
sim nascia a Escola de Aventureiros. “Foi o
primeiro passo para inserir a gamificação
como política pública na rede paulistana,
em 2016”, conta ela, que na época era ges-
tora do Núcleo de Tecnologia para Apren-
dizagem da Secretaria Municipal.
Com o crescimento do número de con-
vites para levar o Escola de Aventureiros
para eventos como a Campus Party, a so-
lução foi passar os elementos do universo
fantástico do cenário para um tabuleiro.
“Defendo a gamificação com estratégia di-
dática para dar voz, protagonismo e auto-
nomia para os alunos, partindo da criação
de narrativas e histórias”, diz Gislaine.
Crianças e jovens usam o universo riquís-
POLÍTICA PÚBLICA
simo dos games, desenhos e filmes juvenis
Na capital paulistana,
a gamificação está – um repertório que não é utilizado na es-
no projeto da rede cola, mas que pode ser perfeitamente rela-
cionado ao currículo.
Foto: Gislaine Batista Munhoz
MATERIAIS
Diversidade
para criar
tabuleiros
PROJETO
APRENDIZAGEM
O conteúdo gamificado
pode ou não estar
atrelado ao currículo
plina diretamente, é uma forma potente de a dificuldade de um adulto se ver como cria-
expressar o que é significativo para ele, o tivo”, diz Gislaine.
que o apaixona. Na gamificação, a parceria
é inerente, não há como construir ou jogar Educadores aventureiros
individualmente. E é isso que transforma o Na iniciativa das oficinas de aprendiza-
processo em uma constante troca de conhe- gem criativa para formação de professores
cimentos. No projeto, o enfoque principal é que introduzem a lógica da gamificação, os
a necessidade de se fazer entender pelo ou- participantes são divididos em equipes, que
tro, seja construindo o enredo ou as regras demoram cerca de 15 minutos para jogar
do jogo, e isso aumenta o protagonismo dos usando o tabuleiro-base desenvolvido pela
participantes. “O gostoso é ver materiali- Escola de Aventureiros. “É rápido porque a
zada a história criada. Muitos professores ideia é apresentar a importância dessa cria-
contam que não se achavam capazes ou se ção. Com base na experiência, o educador
surpreendiam com o resultado. Isso mostra entende o que pode inserir no próprio jogo,
e a criação não tem limites, pois a proposta
é de construção colaborativa com os alu-
Na gamificação, a parceria nos”, conta a professora.
Nas oficinas para docentes, com quatro
é inerente, não há como horas de duração, a proposta é imagi-
nar histórias interessantes e desenvolver
construir ou jogar tabuleiros. É possível organizá-los sem
compromisso com conteúdos curricula-
individualmente. res ou pensando em incluí-los. Gislaine
CAMPUS PARTY
Idealizadores
do tabuleiro Terra
de Aventura
Juventude criativa
e transformadora
Na Bahia, os estudantes dos Centros Juvenis aprendem
se divertindo. Eles se destacam pela autoria de projetos com
potencial de transformar sua realidade e da comunidade
A
lunos finalistas de maratonas de Laboratórios de inovação pedagógica, eles
tecnologia, vencedores de prê- promovem o acesso dos estudantes a temas
mios de criatividade e inovação, contemporâneos no contraturno da esco-
ganhadores de bolsa de incentivo à pesqui- la regular, por meio de cursos, oficinas,
sa ou com projeto selecionado para o Ban- atividades culturais e de incentivo ao co-
co de Práticas Inovadoras do Ministério da nhecimento científico. Na rede de CJCC,
Educação. Ter equipes que alcançam esses que em 2018 abrangeu cinco centros – Sal-
méritos é o resultado de atividades ofe- vador, Vitória da Conquista, Barreiras,
recidas pelos Centros Juvenis de Ciência Itabuna e Senhor do Bonfim - um desa-
e Cultura (CJCC) em cidades da Bahia. fio é comum a todos. Como a frequência
GUERREIRO CRIATIVO
O aluno Paulo Abraão
com a fantasia de
samurai que ele criou
INOVAÇÃO PEDAGÓGICA
Os aprendizes têm
contato com questões
contemporâneas
PROJETO
A Aprendizagem
Criativa na rede
MIL E UMA MANEIRAS dos Centros
Dá até para aprender
matemática com
Juvenis de
moda e fotografia Ciência e
Cultura (CJCC)
O QUE É
Fotos: Equipe do Centro Juvenil de Vitória da Conquista Oficinas de robótica,
programação e
reinvenção das
bens e utilização de transporte. De acordo coisas e formação
com as respostas marcadas por quem acio- de professores
na o questionário, surgem informações na nessas áreas.
tela sobre desperdício de água, por exem- OBJETIVO
plo. A animação ajudou a mensurar a es- Proporcionar aos alunos
cassez de práticas sustentáveis entre os alu- das escolas públicas
nos de um colégio da localidade e instigou o desenvolvimento de
professores a planejar temas relacionados à criatividade, autonomia
e autoria, ao aventurar-
conservação dos recursos naturais. A ani- se por investigações e
mação interativa de Renata foi escolhida criações próprias.
é opcional, as equipes pedagógicas estão para ser apresentada na Feira Brasileira de
sempre inventando novas formas de atrair Ciências e Engenharia (Febrace) em 2018 ONDE
o jovem, fazendo-o apostar em seus inte- e a aluna mereceu uma bolsa do Conselho Bahia.
resses e incentivando a inovação. Nacional de Desenvolvimento Científico e QUEM PARTICIPA
Renata Gondim Valença, 16 anos, alu- Tecnológico (CNPQ Júnior). Estudantes e professores
na do Ensino Médio, participa da incu- da rede pública dos
badora de projetos no CJCC de Vitória da O prazer da descoberta anos finais do Ensino
Conquista e aprendeu programação para Orientadora da aluna no projeto, Elmara Fundamental e Ensino
Médio, em Salvador,
desenvolver uma animação interativa com Pereira de Souza é vice-diretora e pro- Barreiras, Itabuna,
sete perguntas relacionadas ao consumo de fessora do CJCC de Vitória da Conquista Vitória da Conquista
água, energia, descarte de lixo, consumo de desde 2016. Segundo ela, os jovens são e Senhor do Bonfim.
EM REDE
Os Centros são uma
iniciativa da Secretaria
Estadual da Educação
TODOS JUNTOS
Os alunos trabalham
em equipes e
aprendem a cooperar
CAMINHO LIVRE
Uma câmera escura
gigante para explorar
conceitos de ótica
Elmara Pereira
de Souza
FORMAÇÃO ACADÊMICA
Mestre em Educação
e doutora em Difusão SEM FRONTEIRAS
do Conhecimento Alunos do CJCC
já viajaram para
os Estados Unidos
PAPEL NO PROJETO
Responsável pela parte
pedagógica e de
metodologia
1
2
Fotos: 1 Karla Lima. 2 Amanda Oliveira
Iuri Oliveira
Rubim Em 2017, Elmara e Iuri tiveram o pri- participação de Elmara e Rubim no DAC
meiro contato com a aprendizagem criativa 2018. Muitas práticas pedagógicas ti-
FORMAÇÃO ACADÊMICA na Conferência Scratch Brasil, onde co- nham a ver com a aprendizagem criativa,
Graduação em
nheceram Leo Burd, diretor do Programa enquanto outras, não. Um exemplo de
Comunicação/
Jornalismo e mestre Lemann de Aprendizagem Criativa. Mas só mudança de estratégia aconteceu duran-
em Educação depois da seleção para o DAC Brasil 2018 te um curso de robótica livre com Ardu-
começaram a imersão na metodologia. íno. Antes, o professor determinava o
PAPEL NO PROJETO “Logo percebemos que tínhamos de com- que seria feito e ensinava num esquema
Coordenador dos preender e identificar o que já fazíamos e passo a passo. Agora, dá aos alunos a li-
CJCC, organizador ressignificar algumas práticas. É como se o berdade para escolher e isso ampliou de
de cursos sobre que pensamos para a parte teórica dos cen- forma surpreendente a criatividade dos
aprendizagem criativa
e articulador da rede
tros correspondesse às premissas da apren- projetos. “Como o interesse dos jovens é
de AC na Bahia dizagem criativa”, conta Elmara. essencial, temos de nos reinventar cons-
A revisão crítica das atividades dos tantemente e a aprendizagem criativa casa
Centros foi uma das consequências da com essa necessidade”, observa Iuri.
Educação para
mudar a comunidade
Em Santa Bárbara, cidade localizada no Pará, 40% dos
habitantes são crianças. Formar essa geração para enfrentar
problemas é o trunfo do projeto Ação Parceiros
INICIATIVA CIDADÃ
O projeto explora
robótica, mas também
trata de valores
E
ntre os 30 mil habitantes do mu- Belém. Mas, desde 2003, o Projeto Social
nicípio paraense, apenas 150 têm Ação Parceiros, iniciativa de Raimundo
formação em nível superior e as das Graças Lima Xavier, o Xavier, fala de
crianças são 40% da população. Na locali- Educação para a comunidade local. Em
dade, faltam saneamento, oportunidades, 2011, foi possível adquirir uma sede e, em
escolas... À situação socioeconômica, pior 2014, estruturar salas com ambiente edu-
do que a da capital do estado e do que a cacional para acolher famílias e crianças.
média das cidades brasileiras, somam- “As iniciativas de educação criativa e ino-
-se altos índices de violência e consumo vação são raras na nossa região e inexis-
de drogas. Essa é a realidade do municí- tentes nas localidades mais pobres do in-
pio de Santa Bárbara, a 45 quilômetro de terior do Pará”, descreve Sebastião Borges
AÇÃO CRIATIVA
Espaço mão na massa,
trabalho entre pares e
com itens de baixo custo
CONCEITO E PRÁTICA
Scratch e Arduíno PROJETO
chegam para mudar
a educação local
Ação Parceiros:
Robótica
Educacional
em uma
Comunidade
Ribeirinha no
Interior do Pará
O QUE É
Projeto social focado
Arduíno, ao custo de 35 reais, chamaram em educação com
a atenção para o trabalho, que levou o ter- brinquedos feitos
de pneus e outros
ceiro lugar nacional no Prêmio Betinho de materiais de baixo
Cidadania 2017. “É uma iniciativa cidadã, custo na área
que promove o básico para essas pessoas. externa e espaço
Durante a participação no Scratch Day, em mão na massa.
Belém, arrecadamos quase 450 quilos de
OBJETIVO
alimentos para a comunidade”, diz Xavier. Ensino da robótica
educacional para
Ação social população de
Fotos: Projeto Social Ação Parceiros
No primeiro semestre de 2018, cerca de 120 baixa renda.
crianças participaram de oficinas, ativida-
ONDE
Fonseca, o principal colaborador do Ação des lúdicas e usaram a sala de leitura. Havia Santa Bárbara (PA).
Parceiros. A ideia do projeto é transmitir turmas pela manhã e à tarde (às segundas,
conhecimento usando o brincar para tor- quartas e sábados). A iniciativa é movi- QUEM PARTICIPA
ná-lo mais atrativo. “Além de marcenaria, da pela paixão de transformar a vida das Alunos do Ensino
eletrônica e matemática, trabalhamos va- crianças. E o gosto e o interesse delas pelo Fundamental,
professores escolares,
lores e cidadania”, conta Xavier. Cursos de que fazem no projeto são mostrados a pais, coordenadores
programação com Scratch e um robozinho mães e responsáveis nos encontros com as pedagógicos e
feito com garrafa PET e movimentado com famílias. A leitura comunitária, a robótica diretores de escola.
SIMPLES E INTELIGENTE
Robótica de baixo
Foto: Projeto Social Ação Parceiros
custo é um dos pilares
do projeto paraense
BRINQUEDOS
Com materiais
simples, divertem e
promovem desafios
Raimundo
das Graças
Lima Xavier
FORMAÇÃO ACADÊMICA
Técnico em Eletrônica,
tecnólogo em
Processamentos de
Dados e especialista
em Robótica
Educacional
PAPEL NO PROJETO
Fundador e
coordenador-geral
BEM-VINDOS
Os 4 Ps da
Sebastião aprendizagem criativa
Borges Fonseca dão o tom à iniciativa
CAPACIDADE
Dislexia e deficiências
diversas não são
barreiras para aprender
e desenvolver projetos
Universidade e educação
inclusiva mais próximas
Em São João del-Rei (MG), Ciências Cognitivas alia
robótica e psicologia para ajudar alunos a recuperar
a autoestima em um núcleo de aprendizagem criativa
O
que acontece quando a engenha- robótica”, explica Marco Antônio Silva
ria elétrica se encontra com a Alvarenga, professor do departamento de
psicologia, mediada pela robóti- psicologia, que trabalha em parceria com
ca educacional? Muita coisa, na Universi- Eduardo Bento Pereira, coordenador do
dade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Programa de Extensão da Olimpíada Bra-
“O desenvolvimento de robôs exige ha- sileira de Robótica (OBR). Em resumo, as
bilidades cognitivas e competências so- aulas de robótica trabalham com a inte-
ciais, então o primeiro passo foi entender ração social por meio de peer-instruction,
quais seriam as competências que iríamos ou seja, monitores auxiliam e interagem
mensurar antes e depois das oficinas de com os participantes. São desenvolvidas
PROJETO
Ciências
Cognitivas e
Artes Aplicadas
à Promoção e
Desenvolvimento
de Tecnologias
para Educação
Inclusiva
O QUE É
Oficinas maker de
robótica para alunos
SEM MUROS e capacitação
Alvarenga e Pereira de professores no
fizeram o mundo maker desenvolvimento
entrar a universidade de aulas criativas.
Foto: Divulgação
OBJETIVOS
Ajudar alunos
habilidades de instrução, avaliação, pla- aprendizagem e comportamento, dislexia com dificuldade
nejamento, criatividade, busca de solução e transtornos diversos. A segunda ação, de aprendizagem
e comportamento
de problemas, apoio na resolução de tare- formar professores da rede pública para
a perceber que, no
fas e construção coletiva. Tudo isso causa desenvolver aulas criativas com recursos ambiente adequado,
impactos positivos na aprendizagem e na alternativos como objetos reutilizáveis, eles são capazes
motivação e aumenta a autoestima. softwares livres e materiais de arte e artesa- de construir robôs
O trabalho de Eduardo, que focava na nato. E, a terceira, oferecer cursos online. e projetos.
robótica educacional desde 2009 (ele é
ONDE
responsável pelo Núcleo de Robótica e Arte e robótica: tudo a ver
São João del-Rei (MG).
Tecnologias Assistivas – CyRoS), e de Al- Em 2017, depois de conhecerem a expres-
varenga se entrelaçou em uma experiência são aprendizagem criativa em um evento
QUEM PARTICIPA
com alunos com síndrome de Down, cujos em Curitiba, Eduardo e Marco Antônio Estudantes do
pais precisavam de apoio psicológico, em perceberam que já trabalhavam com ele- Ensino Fundamental,
2015. Juntos, escreveram um projeto que mentos da metodologia. Aos poucos, os professores,
propunha três ações. A primeira era abrir laboratórios de extensão, antes focados coordenadores
pedagógicos,
as portas dos espaços maker da UFSJ para na robótica, se tornaram espaços maker.
professores de apoio
alunos atendidos pelo Centro de Referên- Uma oficina de reciclagem de material para a inclusão de
cia em Educação Inclusiva (Cerei) da cida- eletrônico, por exemplo, virou estúdio de alunos com deficiência
de – crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem criativa. Parte dos labora- da rede pública local.
tórios da psicologia também era utiliza- atividade interdisciplinar que lida com
da com os alunos do Cerei. Lá acontece mecânica, eletrônica, programação e ar-
o encontro da universidade com a escola. tes. “O projeto também funciona melhor
Estudantes e bolsistas de várias discipli- se você começar imaginando, aí criar,
nas da UFSJ trabalham com as crianças brincar e compartilhar, para então refle-
que têm dificuldade de aprendizagem e de tir sobre sua criação. Ou seja, se for apli-
comportamento, dislexia e transtornos cada a espiral da criatividade”, diz Marco
diversos nesses espaços, reformulados e Antônio. O brincar é a grande diferença
rebatizados de fablabs e estúdios. “O uso que permeia tudo e torna a atividade lúdi-
da arte suaviza algumas ações da robóti- ca. Já o propósito das oficinas conduzidas
ca”, diz Eduardo. As ideias dele e de Mar- segundo a metodologia da aprendizagem
co Antônio tiveram uma melhora consi- criativa é dar autonomia e empodera-
derável após a participação no DAC Brasil mento para crianças e professores.
2018. “Pensamos em atividades que dia- O objetivo dos fellows com a participa-
logam com a realidade dos participantes. ção no DAC 2018 era expandir suas ações.
Não em processos estruturados. Também “Tudo mudou, desde a nossa postura até a
mudou a percepção de orientador para maneira como organizamos as reuniões.
facilitador. E o enfoque na satisfação dos Os estudantes da engenharia elétrica e da
alunos e diferença entre ideias substitui a psicologia passaram a ser mais ativos na
necessidade de obter produto final defi- construção de oficinas. Reformulamos os
nido”, explica Marco Antônio. espaços para que se tenha acesso aos ma-
A robótica tem os 4 Ps da aprendizagem teriais de forma mais visual e intuitiva”,
criativa. Mas o psicólogo Marco Antônio
questionava um pouco a paixão envolvida Foto: Eduardo Bento Pereira
TROCA DE SABERES
Estudantes e bolsistas
da UFSJ trabalham com
alunos da rede pública
Eduardo Bento
Pereira 1
Fotos: 1 e 2 Eduardo Bento Pereira
FORMAÇÃO ACADÊMICA
Graduado em
Engenharia Industrial
Elétrica, mestrado
e doutorado em
Engenharia Eletrônica
e Computação
PAPEL NO PROJETO
Idealizador e 2
responsável pela
parte de robótica
“O enfoque na satisfação dos alunos
e na diferença entre ideias substitui
a necessidade de obter um produto
final definido”, diz Marco Antônio.
conta Eduardo. Etiquetas agora marcam reflexão e sem o lúdico. Foi preciso ver de
ferramentas e materiais: verde pode ser perto que ela funciona e agora estão sen-
usado à vontade, amarelo necessita a ajuda do estudados os elementos que a tornam
4 do coordenador, vermelho tem a ver com eficaz. O olhar da academia e o desejo de
itens que só podem ser usados por adultos aprender mais levou a dupla buscar um
Marco Antônio responsáveis e roxo determina uso em pro- diálogo interdisciplinar que se formali-
Silva jetos específicos. Os espaços maker tam- zou em agosto de 2018, com a criação de
Alvarenga bém têm uma prateleira da sustentabilida- um núcleo para difundir aprendizagem
de, com materiais reciclados e outros para criativa, com pessoas de todas as áreas e
FORMAÇÃO ACADÊMICA reutilização. Isso leva para outra iniciativa de cidades mineiras. O Núcleo Vertentes,
Doutorado em da dupla – criar um programa municipal começou com oito pessoas e deve chegar a
Psicologia
de coleta seletiva, que ainda não é realiza- 20 no primeiro semestre de 2019. “Fo-
da no município de São João del-Rei. mos apresentando os 4 Ps e a espiral da
PAPEL NO PROJETO Eduardo e Marco Antônio repensa- criatividade aos poucos. Abrimos diálogo
Idealizador e
responsável pela parte
ram o projeto durante três meses depois sobre como trabalhar com os elementos
de Psicologia de voltarem do MIT. Consideram que o da aprendizagem criativa estabelecendo
primeiro desafio foi quebrar o paradig- uma formação profissional colaborativa e
ma da aprendizagem mão na massa sem a lúdica”, diz Eduardo.
Fotos: 3 e 4 Divulgação
O sabor de receitas
regionais e afetivas
Ao participar de atividades do Mãos na Massa, alunos
exercitam a criatividade e constroem conhecimentos ao
preparar pratos típicos da culinária do Mato Grosso do Sul
SABOR DO FUTURO
Alguns alunos fazem
a disciplina porque
querem seguir carreira
NA MEDIDA CERTA
Durante as aulas, são
vistos conteúdos de
Matemática também
P
PROJETO
anelas, talheres, forno, fogão, in-
gredientes culinários, disposição
CADERNO DE SABORES Mãos na Massa:
e vontade de aprender. O cená-
rio é a cozinha da EE Maria Constança,
Algumas tarefas Desbravando
levaram ao estudo do
onde os alunos do Ensino Médio Integral gênero textual receitas a Cozinha da
se encontram uma vez por semana à tarde Escola
para a disciplina eletiva de gastronomia
O QUE É
criada pela professora de Física Ellen Re- Para participar da eletiva, os alunos ti- Atividade semanal
gina Romero Barbosa. São muitas as com- nham de demonstrar interesse por meio na cozinha da escola
petências desenvolvidas com a iniciativa: de uma carta. “Cada um revelou uma abordando um de
conhecimento regional, histórico e lin- motivação: aprender a cozinhar e não ter dois eixos temáticos:
regional ou afetivo.
guístico, pensamento científico, crítico e tempo para isso, seguir carreira na área
criativo, autoconhecimento, autocontrole ou aprender a fazer os quitutes da famí- OBJETIVO
e autocuidado, cooperação, responsabili- lia”, conta Ellen. Conhecer as razões da Fomentar o interesse
dade e cidadania, empatia, autonomia e turma e entender os gostos e preferências dos estudantes
trabalho em equipe. foi essencial para organizar as aulas. Ela pelas quatro áreas
do conhecimento
Para organizar a eletiva, primeiro El- conta que esse hábito foi aprendido com
(Linguagens,
len pesquisou bastante. Descobriu apenas seu mentor na faculdade, que sempre a Ciências da Natureza,
material sobre nutrição ou cultivo de hor- incentivou ir em busca de suas vontades Ciências Humanas e
ta e pouca coisa que relacionasse receitas e paixões. Apesar de ter aberto 20 vagas Matemática) por meio
à Matemática. Então, resolveu pensar por para a eletiva em 2017, a professora não da gastronomia.
si mesma quais as relações do fazer culi- deixou de fora nenhum dos 25 adolescen-
ONDE
nário com os conteúdos curriculares e as tes interessados. Campo Grande.
competências socioemocionais da Base De certa forma, os 4 Ps da aprendiza-
Nacional Comum Curricular (BNCC). gem criativa fizeram parte do projeto desde QUEM PARTICIPA
Depois, buscou o apoio de colegas – os a concepção. A começar pela paixão, que Estudantes do Ensino
Médio de tempo
primeiros a abraçar a ideia foram as pro- move a iniciativa e incentiva a participação.
integral de escolas
fessora de Biologia e Pedagogia e o pro- O projeto, que antes compunha a estrutu- da capital da rede
fessor de Matemática –, e conversou com a ração da disciplina eletiva, hoje pode-se di- estadual de Mato
coordenação e a direção da escola. zer que está no cerne das criações realizadas Grosso do Sul.
TÁ NA MESA
Mais que o produto final,
o importante é o processo
de aprendizagem
PONTOS DE VISTA
Quilombolas
fotografam as próprias
comunidades
U
ma imagem guarda lembranças do segundo ciclo do Ensino Fundamental
e ajuda a valorizar o que passou e a importância da fotografia como registro
projetar o futuro. Dessa maneira se histórico. O projeto desenvolvido por Rai-
constrói, de forma coletiva, a história con- mundo e Talita Barbosa, da ONG Centro
tada de uma comunidade. É em rodas de de Documentação e Comunicação Popular
memórias, em escolas públicas, como as da (CECOP) e da Rede Potiguar de Televisão
comunidade quilombola Agrovila Picada, Educativa e Cultural, é realizado em par-
em Ipanguaçu, a mais de 200 quilômetros ceria com a Secretaria de Estado da Educa-
de Natal, que se apresenta para os alunos ção e da Cultura do estado. Alia educação,
O OLHAR DO OUTRO
Costumes e saberes
quilombolas são
registrados em fotos
PROJETO
Fotografia,
Memória e
Identidade
CLIQUES CRIATIVOS
Os alunos da rede O QUE É
pública exploram a Articulando fotografia,
linguagem fotográfica memória e identidade
e o uso das TIC,
Fotos: Acervo CECOP dá ênfase
ao protagonismo
de crianças,
nidade da Agrovila Picada para a temática adolescentes
da memória local usando a fotografia como e jovens de
forma de registro, preservação e difusão do escolas públicas
cotidiano das pessoas e da cidade. e comunidades
Num primeiro momento, o projeto foi quilombolas.
desenvolvido com jovens (alguns deles ex- OBJETIVO
-alunos da escola) e adultos da comunidade. Trabalhar a produção
O trabalho resultou na documentação dos e difusão do
costumes e saberes quilombolas. A segunda conhecimento de
novas tecnologias de informação e comuni- parte aconteceu na única escola pública do forma colaborativa
para incentivar a
cação (TIC) a ações que contribuem para o lugar. Lá, o projeto estimulou práticas ino- formação integral
fortalecimento de organizações populares, vadoras e criativas, organizadas em conjun- e mão na massa dos
como as comunidades quilombolas. “É um to com professores das disciplinas de Artes, participantes e a
processo educativo e cultural. Consegui- Língua Portuguesa, História, Geografia e criação de museus
mos, em 2016, fortalecer a Rede de Pontos Ciências. As crianças do 6o ano trabalha- comunitários.
de Memória e Museus Comunitários do Rio ram com a identidade cultural africana e, ONDE
Grande do Norte”, conta Raimundo. O Ce- antes de passar à fotografia, fizeram vi- Rio Grande do Norte.
cop também foi reconhecido e premiado em vências de pintura corporal e produção de
2017 pela experiência comunitária do Mu- turbantes. A iniciativa rendeu a exposição QUEM PARTICIPA
seu Nísia Floresta. No projeto enviado ao fotográfica Beleza Negra e Identidade Cultural. Alunos do segundo
ciclo do Ensino
DAC Brasil 2018, Raimundo e Talita apre- “Em paralelo, os jovens da comunidade Fundamental,
sentaram uma metodologia que já haviam foram convidados a registrar os costumes professores de escolas
utilizado com sucesso em outras comuni- e os saberes quilombolas, com câmeras e públicas e membros
dades potiguares. Dessa vez, o intuito era celulares, fazendo valer o ponto de vista de comunidades
sensibilizar e mobilizar a escola e a comu- deles”, conta Raimundo, que é professor e quilombolas.
RAZÃO PEDAGÓGICA
Fotografia é ferramenta
de investigação e de
conhecimento
Fotos: Acervo Cecop
CENAS DO PRESENTE
Narrativas das histórias
locais fortalecem a
identidade cultural
Raimundo Melo
FORMAÇÃO ACADÊMICA
Graduado em Letras
Fotos: Acervo Cecop
e pós-graduado em
Ciências Sociais
seguir uma foto de acordo com o objetivo, Começamos a espalhar fotos no chão, para
PAPEL NO PROJETO que tudo pode ser melhorado e vale a pena propor outro jeito de iniciar a montagem
Idealizador e
ouvir críticas e contribuir para o trabalho de uma história”, relata Talita. Na meto-
coordenador
dos outros. “Quando sabem que o erro é dologia, procuraram enfatizar a experi-
parte da aprendizagem, e que se busca o mentação e criaram situações para que
processo de aperfeiçoamento, de conheci- os adolescentes se expressassem de forma
mento e de experiência, passam a brincar livre – em linguagem visual, falada ou es-
e a interagir”, diz Raimundo. crita, buscando um desenvolvimento mais
Fazem parte do projeto o acesso a bens integral. Por meio do DAC Brasil, Talita
culturais e TICs, além de um processo e Raimundo, acostumados à exigência de
educativo mais dinâmico, prazeroso e planejamento escolar, perceberam que ele
que faça sentido para os estudantes. “O não precisa ser seguido à risca e vai sendo
próprio processo, quando se constrói, modificado pelas interações dos alunos.
tem o propósito concreto de montar uma Outra consequência da participação no
exposição”, diz Raimundo. Em alguns ca- DAC 2018 foram os festivais de invenção
sos, a comunidade cria espaços de memó- e criatividade (FIC), da Rede Brasileira de
ria. “Na Agrovila Picada será construído Aprendizagem Criativa. “Realizamos dois
Talita Barbosa
um museu com o material das oficinas em menos de seis meses”, conta Raimun-
de Souza
de fotografia e um acervo de objetos do- do. Ele considera que os FIC trazem mais
FORMAÇÃO ACADÊMICA ado pela comunidade”, diz Talita. A ação ações e atores para a aprendizagem criativa
Graduada em Nutrição revela como o projeto acontece de forma e articula iniciativas. De certa forma, tan-
e pós-graduanda colaborativa, nascido na escola e benefi- to os FIC como as exposições – a feita pela
em Nutrição Clínica ciando e valorizando a comunidade. comunidade quilombola Negros do Ria-
Funcional
Depois da visita a Boston, a dupla passou cho foi exposta na Pinacoteca do Estado
a dar mais atenção ao espaço físico, com – são maneiras de sistematizar e socializar
PAPEL NO PROJETO
vistas a criar um ambiente descontraído, a experiência e incentivar a continuidade.
Idealizadora e
coordenadora lúdico e menos formal, que estimule di- O desafio é que as práticas sejam incorpo-
nâmicas. “Colocamos os alunos para con- radas ao cotidiano e cheguem a outras es-
versar entre eles, favorecendo a interação. colas e comunidades.
Lembranças cheias
de descobertas e insights
O universo da aprendizagem criativa revela ser
só a ponta do iceberg quando os fellows contam
e refletem sobre tudo o que vivenciaram
A
TURMA CRIATIVA
Os educadores o compartilhar experiências no fellowship, conhecer
brasileiros
repensaram
cases de educação formal e não formal e visitar o Life- Foto: Divulgação / Rede Brasileira
de Aprendizagem Criativa
seus projetos long Kindergarten, os 12 educadores brasileiros vence-
dores de 2018 do Desafio Aprendizagem Criativa Brasil (DAC
Brasil) tomaram mais consciência de suas iniciativas. Também
tiveram chance de revisar conceitos. As conversas com pessoas que
trabalham no MIT Media Lab ainda renderam para que todos se
apropriassem de teorias e exemplos que mostram ser possível fazer
muito com simplicidade e dando autonomia para os aprendizes.
MÃO NA MASSA
Os fellows enfrentaram
desafios de
aprendizagem criativa
É hora de buscar
novos horizontes
Bastante trabalho para os fellows de 2018 e para a turma
do Desafio Aprendizagem Criativa Brasil 2019
M
uito aconteceu com os educadores do DAC 2018 Valente, coordenadora do Desafio Aprendizagem Criativa
desde que se reuniram pela primeira vez em São Brasil, logo no início é fundamental que os fellows com-
Paulo, no início do ano. Dúvidas pairavam no ar, preendam que todos os projetos estão em andamento e pre-
e a responsabilidade e o peso de ser um fellow do MIT eram cisam ser repensados para melhorar. “Eles continuam em
grandes. Com o passar do tempo, o grupo estreitou laços e evolução, a troca de ideias é preciosa”, explica. “Ao mesmo
aprendeu que, independentemente do contexto de cada par- tempo os fellows refletem sobre isso e caminham fazendo
ticipante, todos tinham muito a aprender uns com os outros mudanças e aprimoramentos, contribuem com a equipe que
e os projetos desenvolvidos. “O fellowship é um momento organiza o DAC. Eles abrem fronteiras sobre o que é apren-
rico para o amadurecimento das propostas selecionadas dizagem criativa, já que cada um vem de um lugar, apresenta
no DAC e para descobrir mais a fundo o que é aprendiza- uma realidade, um contexto diferente, vivido por uma po-
gem criativa, como ela pode ser usada para trabalhar com pulação ímpar”, ressalta Ann.
os alunos”, diz Leo Burd, diretor do Programa Lemann A generosidade e a coragem dos fellows em compartilhar
de Aprendizagem Criativa do MIT. Segundo Ann Berger experiências em transformação é fundamental para disse-
IDEIAS COLORIDAS
Em mais de 100 post-its,
os fellows registraram
o que aprenderam
durante o fellowship
www.media.mit.edu/projects/
creative-learning-in-brazil/ www.aprendizagemcriativa.org learn.media.mit.edu/lcl/
ABRIL 2019
Aprendizagem
criativa
NA PRÁTICA