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Atividade Sexual Precoce na Adolescência: a importância da

educação sexual nas escolas.

Claudia Leila Belisse*

RESUMO: A iniciação sexual ainda na adolescência está ocorrendo cada vez mais
cedo. Isso tem gerado muitos problemas na escola, na sociedade e no projeto de
vida de muitos adolescentes que acabam engravidando ou contraindo alguma
Doença Sexualmente Transmissível. Este artigo apresenta os resultados de um
Projeto de Intervenção Pedagógica obtidos através da aplicação de um questionário
a um grupo de alunos com idades entre 14 e 20 anos, matriculados no Ensino
Fundamental e Médio do Colégio Estadual São Carlos do Ivaí, município de São
Carlos do Ivaí, Paraná. O objetivo foi propiciar aos alunos a aquisição de
conhecimentos relevantes sobre os riscos e consequências da iniciação sexual
precoce. A partir da verificação dos dados coletados realizou-se: pesquisas
bibliográficas relacionadas à sexualidade dos adolescentes, debates, palestra,
análise de filme e propagandas com apelo sexual, levantamento de dados junto ao
serviço de saúde do município, entre outras atividades. Percebeu-se ao longo desse
processo a aquisição de conhecimentos relacionados a sexualidade nos jovens
participantes, os quais compreenderam a importância e necessidade da adoção de
práticas do sexo seguro.
PALAVRAS-CHAVE: Iniciação sexual. Educação sexual. Adolescência. Gravidez.
DST. AIDS.

ABSTRACT: The sexual initiation in adolescence is occurring increasingly earlier.


This has generated many problems in the school, in the society and in the life of
many teenagers who become pregnant or contracting a sexually transmitted disease.
This article presents the results of an Educational Intervention Project obtained
through from the application of a questionnaire to a group of students aged between
14 and 20 years enrolled in elementary and high school in State College São Carlos
do Ivaí, City the São Carlos do Ivaí, Paraná. The objective was to provide students
the acquisition of relevant knowledge about the risks and consequences of early
sexual initiation. Upon verification of the data collected were performed: researches
in the literature related to adolescent sexuality, discussions, lecture, analysis of film
and advertisements with sex appeal, survey of data together the health service in the
city, among other activities. It was noticed during this process the acquisition of
knowledge related to sexuality in the young participants, who understood the
importance and need to adoption safe sex practices.
KEY WORDS: Sexual initiation. Sexual education. Adolescence. Pregnancy. STD.
AIDS.
_____________
* Professora de Ciências/Biologia da Rede Estadual de Educação do Paraná. Participante
do Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDE) desenvolvido pela SEED/PR.
2

INTRODUÇÃO

É muito comum ouvirmos frases relacionando o adolescente com


sexualidade, a sexo. Dá-se a impressão que a sexualidade surge somente a partir
do momento que um indivíduo se torna adolescente.
Na verdade, desde que nascemos estamos manifestando nossa sexualidade.
Ela faz parte da nossa existência, sendo assim, ela nos acompanha no construir de
nossa história.
Na adolescência as manifestações da sexualidade parecem estar mais
evidentes e nessa fase a atração sexual começa revelar-se de forma forte e
marcante. E é aqui que surgem os primeiros problemas, pois nossos jovens não
sabem, muitas vezes, lidar direito com esse novo fenômeno que está ocorrendo em
suas vidas: de um lado o desejo de descobrir tudo de uma vez o que ainda não se
conhece, do outro a incompreensão de tantas transformações físicas, psíquicas,
emocionais, o que acaba os colocando em um grupo de risco devido a sua
vulnerabilidade. É comum nessa idade os jovens terem problemas não só com sua
sexualidade, mas também com o tabaco, com as drogas e com as bebidas.
Nos dias atuais, percebemos um grande número de jovens que iniciam as
atividades sexuais ainda na adolescência, mesmo não sendo admitido por muitos
pais esse tipo de comportamento. Isso tem gerado muitos problemas na escola, na
sociedade e no projeto de vida de muitos adolescentes que acabam engravidando
ou contraindo uma Doença Sexualmente Transmissível (DST). Frequentemente
essas doenças, são tratadas de forma inadequadas acarretando problemas de
saúde graves no futuro.
Ainda nos dias de hoje, em muitas famílias brasileiras, há uma grande
barreira quando o assunto é falar sobre sexo. Os pais, em muitos casos, não
possuem informação necessária para instruir os seus filhos ou não deixam claro
quais os valores da família para eles. Outros sequer conseguem estabelecer um
diálogo com os mesmos.
Para Ramos (1993) as mudanças físicas, biológicas e emocionais que
ocorrem na adolescência são universais, mas o papel que os adolescentes devem
desempenhar na sociedade varia conforme a cultura de um país e até mesmo o
meio social onde esse indivíduo vive.
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Diante disso, percebe-se que o comportamento de um adolescente pode


variar muito dependendo do meio onde ele está inserido. Percebemos que a idade
na qual se dão as primeiras relações sexuais podem ser diferentes de um lugar para
outro no mundo. O que se tem claro, hoje, é que essa idade está diminuindo.
Quando um adolescente inicia sua atividade sexual precoce e não tendo
todas as informações necessárias, para que esse início seja saudável, e maturidade
para administrá-las, ele acaba se expondo a grandes perigos imediatos como a
gravidez indesejada, as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), abortos
clandestinos, Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida (AIDS) e problemas futuros
como o câncer de colo de útero, provocado, muitas vezes, pelo papilomavírus
humano (HPV), relacionamentos instáveis e até mesmo, o não funcionamento
correto dos órgãos sexuais, o que não é raro acontecer com homens que não
tiveram uma iniciação sexual correta.
Os dados de 2003 do Plano Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde
[s.d.] são assustadores com relação às Doenças Sexualmente Transmissíveis e
AIDS no Brasil. Cerca de 1.967.200 pessoas contraíram a clamídia, doença de
transmissão sexual que aparece em primeiro lugar no ranking de contaminação das
estimativas de 2003, seguida pela gonorréia com 1.541.800 de contaminados, a
sífilis apresentou 937.000 casos, o HPV com 685.400 e o herpes genital com
640.900 pessoas atingidas.
A AIDS, por sua vez, atinge segundo estimativas de pesquisa de abrangência
nacional realizada em 2004 e divulgada pelo do Ministério da Saúde [2007?], cerca
de 593 mil brasileiros entre 15 e 49 anos e destes muitos contraíram a doença na
adolescência.
Quanto à gravidez precoce, os dados não são dos melhores. Há um aumento
considerável desse fato entre as meninas de 10 a 14 anos, pois como a primeira
menstruação está ocorrendo cada vez mais cedo, a maturidade sexual ocorre bem
antes da maturidade de uma vida adulta. Cerca de um milhão de adolescentes
engravidaram em 1996 (LUNARDELLI, 2002).
Inúmeras pesquisas realizadas com adolescentes indicam que os mesmos
não usam preservativos em todas as suas relações sexuais. Um desses estudos foi
realizado por Borges e Schor (2005) com 406 adolescentes entre 15 e 19 anos,
constatou-se que quase a metade deles já havia iniciado sua vida sexual e desses
só 61% tinham usado algum método contraceptivo na primeira relação.
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Isso revela que além de uma gravidez indesejada eles estão sujeitos à
contaminação por inúmeras doenças, pois praticam o sexo sem proteção.
Além disso, uma adolescente não possui maturidade necessária para criar e
educar uma criança, já que a mesma também se encontra em processo de formação
não só físico, mas emocional. Muitas entrarão em crise, pois terão que renunciar a
muitas práticas comuns da adolescência em nome desse filho.
Embora a gravidez na adolescência afete todas as camadas sociais, são as
mais pobres que acabam sofrendo as piores consequências, uma delas é o
abandono da escola com sérios prejuízos no projeto de vida dessas meninas. Com
menos grau de instrução, certamente, não terão empregos que garantam bons
salários o que fará com que não melhorem seu nível sócio econômico e assim
continuem fazendo parte das camadas mais marginalizadas da sociedade. Não
terão, também, condições de orientar seus filhos, quando estes crescerem, sobre
questões relacionadas à sexualidade, pois elas, quando eram adolescentes, também
não receberam orientação adequada.
Sobre essa questão Soares (2003, p. 55), diz:

A adolescente de áreas mais carentes inicia um ciclo que, em muitos


casos, reproduz o comportamento da mãe e da avó, levando-a para
um caminho de mais dificuldades que se projetará ao longo de sua
vida, e que começa, em geral, pelo afastamento imediato da escola,
com repercussões no seu processo de construção de cidadania e da
sociedade como um todo.

Verificamos que há necessidade de começarmos a trabalhar com educação


sexual antes mesmo da menarca surgir, lembrando que educação sexual não é só
falar de sexo, métodos contraceptivos, AIDS, gravidez, etc., mas também da
importância ao respeito que um ser humano deve ter com o seu semelhante,
respeito aos sentimentos dos outros e consigo mesmo.
Mas o que leva os jovens a iniciarem tão precocemente a vida sexual e sem
nenhuma proteção?
Com certeza as causas são diversas e complexas de responder.
Para Soares (2003) os jovens de nossa sociedade sofrem grande influência
da mídia no processo de sua formação e que esta tornou o sexo mostrado em sua
programação um produto de exposição muito lucrativo.
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Ferreira (2001, p. 169) corrobora com as idéias de Soares (2003),


quando afirma que: “[...] a mídia também contribui para uma visão equivocada do
sexo: as imagens transmitidas são de sexo aliado ao prazer, à excitação, ao perigo,
à aventura e à violência. Os riscos da atividade sexual desprotegida e suas
consequências, a mídia não os divulga [...]”.
Notamos, assim, muitos adolescentes querendo exercer na vida real o papel
que seu ídolo na televisão desempenha. Onde o sexo é permitido sem nenhum
problema, sem nenhum risco e consequências, pois tudo acaba com um final feliz.
Mas quando esses jovens se dão conta, sua vida está terrivelmente complicada.
Nossa sociedade que estimula com clareza as práticas sexuais entre os
jovens, não deixa evidente para os mesmos a responsabilidade que eles devem ter
frente a esse novo comportamento.
Para Santos et al. (2001), na adolescência os jovens possuem um
pensamento mágico de proteção e invulnerabilidade, daquele tipo que comigo não
ocorre, mas que geralmente traz consequências desagradáveis e desastrosas, não
só para eles.
Os pais que também são bombardeados pela mídia ficam sem saber ao certo
como educar seus filhos, mesmo àqueles que não admitem relações sexuais
precoces para os jovens se vêem na contramão frente à poderosa força
manipuladora dos meios de comunicação que acabam “ensinando” ao contrário dos
valores e normas da própria família.
Antigamente os pais sabiam muito bem o que permitir aos filhos, já os filhos
tinham com clareza o que podiam fazer. Hoje ambos se encontram perdidos frente
às mudanças de valores da sociedade, muitas famílias já não sabem direito o que é
certo ou errado quando o assunto se refere à sexualidade. E, na dúvida, não dão a
orientação necessária que seus filhos precisam para desempenhar seus papéis
sexuais, pois muitos não conseguem manter um diálogo aberto sobre sexualidade
com eles.
Para Saito e Leal (2000) as pesquisas demonstram a importância da
educação sexual na escola, não que essa fará com que os adolescentes adiem suas
primeiras relações, pois se eles se sentirem preparados para tê-las não será a
família ou a escola que os deterá. Mas, com certeza, elas ocorrerão de uma forma
mais segura, já que jovens mais informados tendem a se prevenir mais. Elas
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acreditam também, que é só através da educação sexual que a gravidez na


adolescência será controlada.
A saúde sexual adulta depende muito da iniciação sexual adequada e
ajustada à personalidade de uma pessoa (RODRIGUES JÚNIOR et al., 1991).
Pensando assim, é que ocorreu o desenvolvimento deste projeto, o qual teve
como objetivo promover aos alunos a aquisição de conhecimentos relevantes sobre
os riscos e consequências da iniciação sexual precoce ainda na adolescência. Com
a finalidade de que os mesmos compreendam a importância e necessidade da
adoção de práticas do sexo seguro.

METODOLOGIA

Este projeto foi desenvolvido com 95 alunos, sendo que 27 pertenciam à 8ª


série do Ensino Fundamental, 37 à 3ª série do Ensino Médio, ambas do período
matutino. Também participaram 31 alunos da 3ª série do Ensino Médio do período
noturno. Sendo que 27 deles tinham 14 anos de idade e os demais entre 17 e 20
anos. Todos estavam matriculados no Colégio Estadual São Carlos do Ivaí, único
colégio do município de São Carlos do Ivaí – Paraná.
Foi um estudo descritivo, utilizando-se da pesquisa-ação para o seu
desenvolvimento, a qual incorporou métodos quanti-qualitativos com procedimentos
estatísticos. Para Barros e Lehfeld (2000, p. 77) na pesquisa-ação, “o pesquisador
não permanece só em nível de levantamento de problemas, mas procura
desencadear ações e avaliá-las em conjunto com a população envolvida”.
Após a apresentação da proposta do projeto aos alunos participantes, foi
aplicado um questionário (Anexo A) com dezesseis questões fechadas que
abordaram assuntos ligados a sexualidade e quais conhecimentos eles tinham sobre
o assunto em questão. Essa opção se deu por ser o questionário um meio rápido e
eficiente para coletar várias informações dos sujeitos envolvidos.
Das questões contidas no questionário foram consideradas quatorze que
serão trazidas para discussão.
A partir do levantamento de dados e análise dos resultados obtidos foram
realizadas as seguintes atividades:
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- levantamento de dados, no serviço de saúde do município sobre o número de


adolescentes grávidas ou que tiveram seu primeiro filho ainda na adolescência nos
últimos cinco anos;
- verificação do número de óbitos do município relacionados com a AIDS e também
o número de pessoas contaminadas com o HIV;
- abordagem em sala de aula pelo professor de questões relacionadas à gravidez,
Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS;
- discussão do filme “JUNO” que abordou questões relacionadas à gravidez na
adolescência, aborto, adoção de crianças e o mito adolescente de que “comigo isso
não ocorre”;
- análise de propagandas e de programas de televisão para identificação do possível
apelo sexual utilizado pelos meios de comunicação;
- confecção de murais apresentando os dados e informações obtidas durante o
desenvolvimento do projeto;
- pesquisas bibliográficas e em sites especializados para levantamento de
informações;
- palestra informativa com médico do município sobre a gravidez na adolescência,
DSTS e AIDS;
- aplicação do material didático trazendo textos e atividades relacionadas com o
trabalho desenvolvido durante o projeto.

RESULTADOS

Dos 95 alunos que responderam ao questionário, 27 (10 meninos e 17


meninas) eram do Ensino Fundamental e 68 (30 meninos e 38 meninas) eram do
Ensino Médio.
Em primeiro lugar, os alunos acreditam que muitos programas da televisão
acabam influenciando os adolescentes e jovens a terem relações sexuais precoces
(ainda na adolescência), 70% dos alunos do Ensino Fundamental e 82% do Médio
tiveram essa opinião.
Cerca de 85% dos alunos do Ensino Fundamental e 98% do Médio acreditam
que adolescentes e jovens podem engravidar na 1ª relação sexual.
Quando questionados sobre se seus pais ou seus responsáveis conversavam
com eles sobre assuntos relacionados à sexualidade, sexo ou prevenção, 63% dos
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alunos do Ensino Fundamental e 57% do Ensino Médio disseram que há em casa


esse tipo de orientação.
A tabela 1 mostra com quem os alunos aprenderam a maior parte das
informações que sabem sobre sexualidade/sexo.

Ensino Fundamental Ensino Médio


Com seus pais ou 33% 19%
responsáveis.
Com seus amigos e 33% 41%
amigas.
Na escola durante 34% 40%
as aulas das
diferentes
disciplinas.
Tabela 1: Declaração dos jovens sobre com quem aprenderam a maior parte das
informações que eles/elas sabem sobre sexualidade/sexo.

Os alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio possuem opiniões


semelhantes quando questionados sobre os motivos de uma adolescente ficar
grávida (Quadro 1).

Ensino Fundamental Ensino Médio


Ela não conhecia os 7% 3%
métodos para se evitar a
gravidez.
Ela conhecia os métodos, 30% 40%
mas possuía aquele
pensamento mágico que
com ela isso (gravidez)
nunca iria acontecer.
Conhecia os métodos, 63% 57%
sabia que poderia
engravidar e mesmo assim
preferiu ter a relação
sexual e arriscar uma
possível gravidez.
Quadro 1: Por que, segundo os alunos, uma garota fica grávida na adolescência.

Os alunos conhecem perfeitamente quais atitudes e posturas sua família


deseja que eles tenham quanto ao seu comportamento sexual. Isso fica evidente
nos números da tabela 2.
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Alunos do Ensino Alunos do Ensino


Fundamental Médio
Sim, minha família deixa 37% 35%
muito claro para mim que
comportamento eu tenho
que ter quanto a minha
sexualidade/vida sexual.
Não, minha família não 11% 5%
deixa claro o que eu posso
ou não posso fazer
quando o assunto é sexo.
Mesmo não falando 52% 60%
abertamente o que eu
posso ou não fazer, eu sei
perfeitamente o que meus
pais desejam em relação a
minha postura frente a
assuntos relacionados a
sexo.
Tabela 2: De acordo com os alunos, a família deixa claro quais atitudes e posturas esperam
que eles tenham frente ao comportamento sexual/sexo.

A maioria dos alunos acreditam conhecer bem as formas de transmissão e


prevenção das DSTs (Figura 1).

ALUNOS DO ENSINO ALUNOS DO ENSINO


FUNDAMENTAL MÉDIO

NÃO
21%
NÃO
41%

SIM
59% SIM
79%

Figura 1: Opinião dos alunos sobre conhecer bem ou não as formas de contaminação e
prevenção das DSTs.

Sobre já terem relações sexuais, 22% dos alunos/alunas do Ensino


Fundamental e 59% do Médio afirmaram que sim contra 78% do Fundamental e
41% do Médio que afirmaram que não mantiveram ainda relações sexuais (Figura
2).
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ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

50 sim /m édio
59%
40 não/m édio
não/fund. 41%
30
78%
20
sim /fund.
10 22%

Figura 2: Número de alunos que mantiveram ou não relações sexuais.

Verificou-se que 50% dos alunos que já tiveram relação sexual no Ensino
Fundamental (14 anos) não usaram preservativos. Já no Ensino Médio (17 a 20
anos) essa porcentagem cai para 30%.
A grande maioria dos alunos, tanto do Ensino Fundamental como do Médio,
num total de 93%, acreditam que os valores morais dos jovens estão se perdendo,
pois para eles não é correto os adolescentes terem inúmeras relações sexuais só
porque acham que não podem perder a oportunidade.
Os alunos do Ensino Fundamental se dividem na opinião de achar que o
grupo de amigos e amigas podem incentivar o adolescente a ter suas primeiras
relações sexuais. Já entre a maioria dos alunos do Ensino Médio (72%) essa
influência, segundo eles, é maior (Figura 3).

Figura 3: Opinião dos alunos do Ensino Fundamental e Médio quanto ao grupo de amigos
poder ou não incentivar o adolescente a ter sua primeira relação sexual.
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Os alunos do Ensino Fundamental, 67%, crêem que os jovens do sexo


masculino acabam tendo mais relações sexuais que as meninas, por sofrerem
menos discriminação que as mesmas. Os alunos do Ensino Médio também possuem
essa opinião, 79% responderam que realmente a sociedade pensa diferente nesse
assunto quando envolve os dois sexos.
Os métodos contraceptivos e como usá-los são bem conhecidos entre os
alunos do Ensino Médio com apenas 37% de dúvidas, mas 67% dos alunos da 8ª
série têm muitas dúvidas de como funciona a maioria deles.
Na opinião de 89% dos alunos que participaram desse projeto, o códon
(preservativo) é o melhor método contraceptivo para os jovens e adolescentes
(Figura 4).

ALUNOS DO ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO

NÃO =
11%

SIM =
89%

Figura 4: Opinião dos alunos no que diz respeito ao preservativo ser ou não o melhor
método contraceptivo para os jovens.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento desse projeto não oportunizou somente o acréscimo de


informações/conhecimentos aos alunos participantes, mas também trouxe
informações importantes de como os jovens pensam a respeito do comportamento
sexual manifestado pela sua própria geração, de como está o envolvimento dos pais
com seus filhos nesses assuntos, das diferenças e particularidades nas opiniões dos
alunos de faixa etárias diferentes (mesmo pertencendo a mesma comunidade).
Nota-se que os pais precisam vencer seus tabus e mitos e assumir seu papel
frente a educação de seus filhos nesse assunto. A escola, por sua vez, precisa
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realmente ser democratizadora de conhecimento e instruir seus alunos a esse


respeito, já que a família, muitas vezes, está falhando. Só assim os jovens terão
fontes seguras para superar suas dúvidas e ter uma iniciação sexual saudável. Não
se trata de motivá-los para tal ato, mas a partir do momento que eles obtiverem um
conhecimento de qualidade a esse respeito poderão decidir o que será melhor para
si, se estão preparados ou não para iniciar sua vida sexual.
Frente a isso, nós professores também necessitamos vencer nossos
preconceitos, medos, tabus e até mesmo falta de conhecimento sobre o tema e nos
conscientizar da importância do nosso papel frente às questões abordadas.
Precisamos discutir a educação sexual com nossos alunos, mas não meramente
conceitos biológicos de anatomia e fisiologia dos órgãos reprodutores, mas questões
ligadas ao interesse dos mesmos, da sua vivência e suas dúvidas.
A escola deve realizar atividades educativas de prevenção para que os
adolescentes conheçam os riscos a que estão sujeitos e, assim, a partir do
conhecimento, possam mudar seu comportamento e atitudes, podendo também
ajudar com essas informações corretas outros adolescentes do seu grupo. É só
através do conhecimento que eles poderão tomar consciência de seus atos e mudar
sua prática social, melhorando, assim, sua qualidade de vida.
Professores e alunos possuem um lugar privilegiado para essas discussões,
pois é na escola que encontramos adolescentes de todas as faixas etárias e vindos
das mais diversas camadas sociais. Cada um com uma ampla diversidade de
indagações, o que enriquecerá ainda mais o trabalho pedagógico.

REFERÊNCIAS

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um guia para a iniciação científica. 2 ed. ampl. São Paulo: Makron Books, 2000.

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em:<http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0102311X2005000200016&script=sci_
arttext&tlng=ptpt>. Acesso em: 15 abr. 2008.
13

BRASIL. Ministério da Saúde. AIDS no Brasil. Brasília, DF, [2007?]. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS13F4BF21PTBRIE.htm>. Acesso em: 5
jun. 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. DST em números. Brasília, DF, [s.d.]. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISD1F318A3PTBRIE.htm>. Acesso em: 5
jun. 2008.

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v. 38, n. 8, p. 381-387, 2002.

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das Disfunções Sexuais Masculinas. Revista Brasileira de Pesquisa em
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SAITO, M. I.; LEAL, M. M. Educação Sexual na Escola. 2000. Disponível em:


<http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/html/451/body/07.htm>. Acesso em: 15
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SANTOS, M. L. M. et al. Sexualidade na Adolescência. Psikhê, São Paulo, v. 6, n. 2,


p. 30-37, 2001.

SOARES, G. F. Sexualidade: o que os jovens esperam da escola. Momento, Rio


Grande, v. 16, p. 51-62, 2003.
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ANEXO A – Modelo de questionário aplicado aos alunos participantes do


Projeto de Intervenção Pedagógica.

QUESTIONÁRIO:

1) Você é do sexo: ( ) mesmo não falando abertamente o que eu


( ) masculino ( ) feminino. posso ou não fazer, eu sei perfeitamente o que meus
pais desejam em relação a minha postura frente a
2) Assinale a alternativa que corresponde à assuntos relacionados a sexo.
série que você estuda:
( ) 8ª série ( ) 3º ano diurno ( ) 9) Nós sabemos que as DSTs são as doenças
3º ano noturno transmitidas nas relações sexuais. Você acredita
conhecer bem as formas de contaminação e prevenção
3) Você acredita que muitos programas da dessas doenças?
televisão acabam influenciando os adolescentes ( ) sim ( ) não
e jovens a terem relações sexuais precoces
(ainda na adolescência)? 10) Você já teve relações sexuais?
( ) sim ( ) não ( ) sim ( ) não

4) As adolescentes e jovens podem engravidar 11) Na última relação sexual, se você já teve alguma,
na 1ª relação sexual? você usou preservativo (camisinha)?
( ) sim ( ) não ( ) sim ( ) não ( ) nunca tive
relações sexuais
5) Seus pais (mãe ou pai) ou seus responsáveis
conversam com você sobre assuntos 12) Sobre o comportamento sexual dos
relacionados à sexualidade/sexo/prevenção? jovens/adolescentes de hoje, você acredita que:
( ) sim ( ) não ( ) estão no caminho certo, pois não vejo
problema nenhum em ter várias relações sexuais com
6) A maior parte das informações que você sabe quantas pessoas eu quiser, mesmo não as conhecendo
sobre sexualidade/sexo, hoje, você aprendeu: direito.
( ) com seus pais ou responsáveis. ( ) seus valores morais estão se perdendo
( ) com seus amigos e amigas. infelizmente, pois não acho correto um
( ) na escola durante as aulas das adolescente/jovem sair por aí tendo inúmeras relações
diferentes disciplinas. sexuais com quem achar que deve.

7) Em sua opinião, quando uma garota fica 13) O grupo de amigos e amigas pode incentivar o
grávida na adolescência é porque, na maioria adolescente a ter suas primeiras relações sexuais:
das vezes: ( ) não, o grupo de amigos/amigas não interfere
( ) ela não conhecia os métodos para se nesse tipo de decisão.
evitar a gravidez. ( ) sim, o grupo de amigos/amigas interfere
( ) ela conhecia os métodos, mas muito nesse tipo de decisão.
possuía aquele pensamento mágico que com
ela isso (gravidez) nunca iria acontecer. 14) Em sua opinião, os meninos podem ter diversas
( ) conhecia os métodos para evitar a relações sexuais na adolescência, já as meninas
gravidez, sabia que poderia engravidar e devem ser mais recatadas, ou seja, elas não podem
mesmo assim preferiu ter a relação sexual e querer fazer como os homens fazem, pois isso as
arriscar uma possível gravidez. desmoralizariam perante a sociedade.
( ) concordo com a afirmativa acima.
8) Alguns pais deixam claro para os filhos que ( ) não concordo com a afirmativa acima, pois
sexo é só depois do casamento, outras famílias hoje a sociedade está mais aberta e não vê problema
desde cedo já orientam os filhos a usarem algum nas mulheres solteiras que levam uma vida
preservativos – liberando/permitindo, de certa sexual ativa como a maioria dos homens solteiros
forma, as relações sexuais ainda na levam.
adolescência. E sua família, deixa claro para
você quais as atitudes e posturas que espera 15) Sobre os métodos que evitam a gravidez você
que você adote frente ao comportamento acredita que:
sexual/sexo? ( ) conhece todos muito bem e saberia usá-los
( ) sim, minha família deixa muito claro sem problema algum.
para mim que comportamento eu tenho que ter ( ) tem dúvidas de como usar a maioria deles.
quanto a minha sexualidade/vida sexual.
( ) não, minha família não deixa claro o 16) O preservativo (camisinha) é o melhor método para
que eu posso ou não posso fazer quando o os jovens e adolescentes.
assunto é sexo. ( ) não ( ) sim
15

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