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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Factores determinantes para o início precoce da actividade sexual em


adolescentes do bairro Chamanculo

Rachel Judas Guambe, cód. 708201298

Curso: Administração Pública


Disciplina: Antropologia Cultural
Ano de Frequência: 2º
Docente: dr. Egídio Macuácua

Maputo, Junho de 2021


Índice

1. Introdução...............................................................................................................................1

1.1. Descrição do cenário em pesquisa.......................................................................................2

1.2. Motivações da escolha do tema e do grupo-alvo.................................................................4

1.3. Descrição do local de pesquisa............................................................................................5

1.4. Definição de objectivos........................................................................................................6

1.4.1. Objectivo geral..................................................................................................................6

1.4.2. Objectivos específicos......................................................................................................6

2. Sexualidade e/ou actividade sexual........................................................................................6

3. O processo de recolha de dados e das observações................................................................7

4. Referências bibliográficas.......................................................................................................8
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1. Introdução

A sexualidade é um fenómeno presente no ser humano desde o seu nascimento e prolonga-se


até ao fim da vida da pessoa. A expressão afectiva, emocional e erótica do adolescente
reflecte a expressão do seu comportamento sexual, que é construído no seio familiar desde a
mais tenra idade. Nesse processo, os pais têm um papel fundamental, pois eles são os
primeiros a auxiliar a criança a interpretar o ambiente em que vivem, e são a primeira
referência para a criança que passa a mimetizar suas acções.Do ponto de vista social, a
influência grupal, o nível económico, a pouca escolaridade e a violência nos seus vários
contextos estão relacionados à baixa idade nas primeiras relações sexuais, ao número de
parceiros e às atitudes de protecção às doenças sexualmente transmissíveis. A actividade
sexual precoce não é um fenómeno isolado e frequentemente ocorre quando há envolvimento
com drogas ou álcool e, às vezes, comportamento delinquente (Bayley, 1999 citado em
Taquette, Vilhena & Paula, 2004). Os modelos sociais de sexo masculino e feminino também
exercem poderosa influência sobre os jovens, aumentando sua vulnerabilidade a factores de
risco à saúde.

Este trabalho descreve um cenário etnográfico vivenciado no bairro do Chamanculo,


localizado na Cidade de Maputo, em Moçambique. Trata-se do início precoce da actividade
sexual verificado nos adolescentes deste bairro, em rapazes como nas raparigas. O diagnóstico
foi realizado por meio de uma observação participante feita ao bairro, seguida de algumas
entrevistas realizadas com cerca de dez (10) pais/encarregados de educação e quatro (4)
adolescentes, com foco no grupo familiar, considerando a moradia e o entorno da vizinhança.
A amostragem foi aleatória e estratificada.
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1.1. Descrição do cenário em pesquisa

A adolescência é para alguns autores uma fase da vida compreendida entre 10 e 19 anos de
idade, caracterizada por conflitos e descobertas. Praticamente é nessa fase que os adolescentes
começam a viver suas primeiras experiências sexuais, podendo apresentar comportamentos
com risco de infecções por DST/SIDA, os quais podem ser: início precoce da vida sexual e
uso inconsistente de preservativo.

Na realidade moçambicana, de acordo com a Estratégia Nacional de Prevenção e Combate


dos Casamentos Prematuros em Moçambique (2016-2019), aponta-se que Moçambique seja o
décimo país do mundo, (…) em que 14% das mulheres, entre os 20 e 24 anos de idade,
casaram antes dos 15 anos de idade e, 48% casaram antes dos 18 anos de idade uma situação
que segundo o Governo requer uma intervenção coordenada dos vários sectores da sociedade.
Entretanto, alguns autores encontram associação entre iniciação sexual precoce e
comportamento sexual de risco, uma vez que a iniciação sexual precoce expõe o adolescente a
um contexto de vulnerabilidade à infecção por HIV, pois o mesmo terá um período maior de
actividade sexual e, com isso, terá mais parceiros sexuais até chegar aos relacionamentos
monogâmicos estáveis e duráveis (Ma et al., 2009; Tenkorang, 2008; Custódio, 2009 citado
emSilva et al., 2015).

Segundo uma análise do Ministério da Saúde (2001), referia existirem poucos dados
estatísticos sobre a saúde do adolescente disponíveis e há uma deficiente avaliação das
intervenções a ele direccionadas, e dos dados disponíveis com relação a isto, indicam que os
adolescentes enfrentam múltiplos e graves desafios. Em 1997, o Inquérito Demográfico e de
Saúde (IDS), indicava que a idade média na primeira relação sexual era de 16 anos para as
raparigas e de 18 anos para os rapazes. Já um estudo levado ao cabo em 1995 na Cidade do
Maputo, entre adolescentes do ensino secundário de ambos os sexos e com idade entre os 13 e
os 19 anos, revelou que 73% dos adolescentes inquiridos eram já sexualmente activos. Sendo
a idade média da primeira relação sexual, 13 anos para os rapazes e de 15 anos para as
raparigas. E actualmente segundo dados da UNICEF, indicam que aos 14 anos, um terço das
crianças moçambicanas, tornam-se sexualmente activas, mas o conhecimento sobre métodos
de prevenção do HIV é ainda baixo.

Não obstante, estima-se que a prática da actividade sexual precoce, tem estado intimamente
ligada ao casamento prematuro e ao abandono escolar pois dados do MICS (2008) apontavam
que 40% das jovens de 20-24 anos tiveram filhos antes dos 18 anos e a mesma fonte revelou
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que 18% deste grupo etário têm se casado antes de 15 anos de idade e que também 52%
casavam antes de completar 18 anos. Desta maneira, torna-se difícil perceber quais são os
factores que levam a que os adolescentes, sobretudo, as meninas comecem a sua vida sexual
de forma precoce e isso levar-nos também a uma série de questões. Será a falta de diálogo
entre os pais e seus filhos adolescentes? Ou a escola não tem abordado as questões sobre a
sexualidade nas aulas? A prática precoce da actividade sexual em jovens será devido a falta de
informações relacionadas com a sexualidade? E qual deveria ser o papel da escola frente as
transformações que ocorrem nos adolescentes?

Um trabalho realizado no bairro do Chamanculo permitiu constatar que grande parte dos
adolescentes, sobretudo os adolescentes na faixa dos 13 a 18 anos já se encontra activas
sexualmente. Quando foi levada a cabo uma conversa com algumas adolescentes foi possível
perceber que os adolescentes buscam modelos externos nas Mídias sociais influenciados
através de imagens o que traz certas atitudes a adoptar em casos de relacionamentos
amorosos. Parece que os diferentes discursos em forma de propagandas ou anúncios em
revistas, jornais, cartazes de músicas, sítios de internet de relacionamentos, em diferentes
suportes e meios de comunicação, quando o assunto é sexualidade, mostram frequentemente
alto teor de erotismo nas mensagens/imagens que influencia bastante as atitudes dos
adolescentes.

Muitas adolescentes referem que já estarem crescidas para ter um parceiro/namorado, pois
ficar sem um, estariam a perder o que acontece no mundo, e já que estamos no séc. XXI, as
coisas estão em mudanças cada dia que passa, e ficar ultrapasso seria estar na antiguidade.
Aquando das conversas, cinco adolescentes referiram que a primeira relação sexual é das mais
interessantes e consideraram um marco na sua vida reprodutiva. Igualmente constatou-se que
muitas iniciaram ou tiveram a sua primeira relação sexual com pessoas um pouco mais velhas,
ou seja, muitas disseram que era melhor envolver-se uma pessoa experiente. Tendo por base
estas premissas, no presente projecto foi elaborada a seguinte pergunta de partida:

1.2. Motivações da escolha do tema e do grupo-alvo

As motivações/justificações que levaram a estudante a escolher este tema explicita-se, pelo


facto de a estudante ter contactos diários com este problema: o início precoce da actividade
sexual em adolescentes. Em grande parte, este facto deriva da falta de diálogo entre pais e
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filhos adolescentes sobre as questões da sexualidade, sobretudo quando deve-se iniciar a


actividade sexual ou qual a idade para ter um parceiro/a. Trata-se de uma realidade que afecta
muitas adolescentes junto as suas famílias, e muitas vezes termina com uma gravidez precoce,
o que faz com que Moçambique seja considerado como o décimo (10º) país com níveis mais
altos de casamentos prematuros, porque os adolescentes iniciam a actividade sexual de forma
precoce. É a mesma razão, que faz com que grande parcela da população e de entidades
estatais do nosso país invista cada vez mais na educação da rapariga.

Por outro lado, a escolha do tema foi influenciada pelo percurso académico, uma vez que, no
decurso das aulas a estudante ter posto em prática um projecto sobre o início precoce da
actividade sexual em adolescentes, projecto que abordou uma das escolas secundárias da
cidade de Maputo. Assim sendo, a necessidade de aprofundar a temática e a problemática
acima enunciada surgiu. A par disto, despontou a curiosidade de compreender os factores
determinantes do início precoce da actividade sexual em adolescentes.

Ademais, um outro dos motivos que levou a estudante a escolher este tema foi que houve um
interesse real em trabalhar com os adolescentes para ouvir os pensamentos destes acerca do
que pensam sobre o tema, isto por se tratar de um tema pertinente, (embora não muito actual)
mas preocupante. Cada vez mais se ouve falar, nos meios de comunicação, da criação de
projectos de retenção da rapariga na escola, o que torna provável a inserção de alguns (ou
mesmo todos) membros do grupo num desses projectos. Os adolescentes são considerados
como um grupo de risco nesta área e são o alvo de actuação prioritária em acções de
prevenção dos casamentos prematuros que conforme nos referimos, muitas vezes é influenciar
por actividade sexual precoce.

Numa perspectiva social a escolha deste tema deve-se ao facto de se tornar visível nos dias
que correm, a propensão galopante e assustadora para o início precoce da actividade sexual.
Esta está acarretar, no nosso ponto de vista, um conjunto de fenómenos sociais que
prejudicam muitas raparigas que acabam ficando grávidas muito cedo por não saber como
agir nesta fase da adolescência. Ou seja, este é um tema que diz respeito a toda a sociedade,
desde os jovens aos próprios pais e acreditamos que, para combater o início precoce da
actividade sexual, é necessário o envolvimento de toda a sociedade, quer através de planos de
prevenção, quer através do investimento do diálogo familiar sobre o assunto, quer até mesmo
da forma como é visto e vivido pela sociedade este flagelo que é a sexualidade. Com este
estudo espera-se contribuir para uma melhoria da qualidade nas respostas frente a situação em
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destaque, mas também contribuir para um conhecimento mais profundo e rigoroso da


importância de compreender os factores determinantes do início precoce da actividade sexual
em adolescentes.

Por fim em termos académicos, acreditamos que este tema permitirá dar conhecimento a
estudantes e profissionais que iniciem os seus trabalhos e/ou intervenções na área da rapariga,
dando a conhecer as alternativas/soluções para reduzir a existência de gravidez precoces
influenciadas pelo início precoce da actividade sexual precoce. Por conseguinte, achamos que
esta investigação dará uma visão específica de quais as soluções são viáveis, em especial
pelos Assistentes Sociais, neste tipo de intervenção, ajudando os adolescentes a confiarem
mais nos seus encarregados de educação do que nas redes sociais ou as influencias de grupo
de amigos.

Em termos do grupo-alvo escolhido para o estudo, a escolha prendeu-se, pelo facto de o tema
tratar especificamente de adolescentes, e mais uma vez, pelo facto de a estudante terem um
grande contacto com adolescentes que já começou a actividade sexual muito cedo, que muitas
vezes não têm consciência dos malefícios que isto acarreta.

1.3. Descrição do local de pesquisa

O bairro Chamanculo está localizado no Distrito Municipal Nlhamankulu. É um dos bairros


mais extensos da cidade de Maputo, e também muito problemático. Os moradores queixam-se
das condições de saneamento, do parcelamento, da criminalidade e da degradação de valores
ético-morais. Os crimes não largam este bairro. Todos os dias existem assaltos, até em plena
luz do dia. Chamanculo não é o melhor local para criar uma criança. O comportamento grupal
é negativo.Em algumas ocasiões o ambiente e a falta de condições financeiras influenciam os
moradores a não irem à escola.
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1.4. Definição de objectivos

1.4.1. Objectivo geral

 Compreender os factores determinantes do início precoce da actividade sexual em


adolescentes.

1.4.2. Objectivos específicos

 Explorar as percepções dos pais/encarregados de educação e adolescentessobre o seu


conhecimento em matéria da sexualidadee saúde sexual e reprodutiva;

 Identificar os factores determinantes para o início precoce da actividade sexual em


adolescentes do bairro Chamanculo;

 Propor estratégias para alternância do comportamento dos adolescentes frente ao


início precoce da actividade sexual.

2. Sexualidade e/ou actividade sexual

A sexualidade segundo Carrara (2009) refere-se às elaborações culturais sobre os prazeres e


os intercâmbios sociais e corporais que compreendem desde o erotismo, o desejo e o afecto
até noções relativas à saúde, à reprodução, ao uso de tecnologias e ao exercício do poder na
sociedade.

A concepção da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002) é que “A sexualidade é uma


energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no
modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo
tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso,
influencia também a nossa saúde física e mental”. Esta definição, apesar de todas as suas
fragilidades, limitações e contornos pouco claros, é certamente considerada uma das mais
divulgadas de todas as definições de sexualidade.

Pontes (s/d) afirma que em 2002 a Organização Mundial de Saúde fez uma consulta alargada
a diversos técnicos no sentido de obter definições para o sexo, sexualidade, saúde sexual e
direitos sexuais. Os resultados foram depois revistos por um grupo de experts de diferentes
partes do mundo.
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No caso do conceito de sexualidade a definição elaborada é muito mais abrangente, sendo que
a Organização Mundial da Saúde não a reconhece como representando a sua perspectiva
oficial. A definição de sexualidade resultante deste processo é a seguinte:

“A sexualidade é um aspecto central do ser humano ao longo da vida e inclui o sexo, género,
identidades e papéis, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A
sexualidade é experienciada e expressa através de pensamentos, fantasias, desejos, crenças,
atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relações. Embora a sexualidade possa
incluir todas estas dimensões, nem sempre elas são todas experienciadas ou expressas. A
sexualidade é influenciada pela interacção de factores biológicos, psicológicos, sociais,
económicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais” (Pontes,
s/d).

As definições actuais da sexualidade abarcam, nas ciências sociais, significados, ideais,


desejos, sensações, emoções, experiências, condutas, proibições, modelos e fantasias que são
configurados de modos diversos em diferentes contextos sociais e períodos históricos. Trata-
se, portanto, de um conceito dinâmico que vai evolucionando e que está sujeito a diversos
usos, múltiplas e contraditórias interpretações, e que se encontra sujeito a debates e a disputas
políticas.

Nesta perspectiva, através das definições apresentadas, podemos entender que a sexualidade
são comportamentos que têm a ver com o desejo sexual das pessoas. Significa, no entanto,
sentir atracção pelo individuo do sexo oposto.

3. O processo de recolha de dados e das observações

Neste tipo de situação apresentado neste trabalho e de acordo com as observações prévias
realizadas no campo, embora num curto espaço de tempo, achou-se ser necessário o uso de
uma entrevista semi-estruturada, visto esta ser a mais adequada para o fenómeno identificado
uma vez que vai permitir uma conversação entre a pesquisadora com os intervenientes.
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4. Referências bibliográficas

Araújo, L.& Pereira, M. E. (2009).Género e diversidade na escola: formação de


professoras/es em Género, orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. CEPESC; Rio
de Janeiro, Brasília: SPM.

Carrara, S.Educação, diferença, diversidade e desigualdade. In: BARRETO, A.;


Desenvolvimento Psicossexual na Adolescência: Implementação e Avaliação de um
Programa de Intervenção em Meio Escolar. (Dissertação). Instituto de Ciências
Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto.

Moçambique. Ministério da Saúde. (2001).Política e Estratégia de Saúde Sexual.

Pontes, Â. F. (s/d). Sexualidade: vamos conversar sobre isso? Promoção do


Reprodutiva de Adolescentes. Maputo, Novembro.

Silva, A. S. et al., (2015). Início da vida sexual em adolescentes escolares: um


estudo transversal sobre comportamento sexual de risco em Abaetetuba, Estado do Pará,
Brasil. Artigo. RevPan-Amaz Saúde v.6 n.3 Ananindeua set.

Taquette, S. R. et al.,(2004). Factores associados à iniciação sexual genital: estudo


transversal com adolescentes no Rio de Janeiro. Adolescência & Saúde volume 1, nº 3,
Setembro.

WorldHealthOrganization. (2002). Growing in Confidence: Programming for Adolescent


healthandDevelopment – Lessonsfromeight countries.
DepartmentofChildandAdolescentHealthandDevelopment.

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