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Centro Universitário Jorge Amado AVA2

Discente: Lorena da Silva Mariano (2180114970)


Disciplina: Direito da Criança, do Adolescente e do Idoso

Adoção de crianças por casais homoafetivos

A adoção está fundamentada na ideia de criar a possibilidade de uma


pessoa humana ser inserida no núcleo familiar, de modo que seja assegurada
a ela a dignidade e que atenda a necessidade de desenvolvimento sob o
prisma da sua personalidade. Como menciona Farias e Rosenvald (2012), a
adoção é um gesto de amor, do mais puro afeto. 1 O processo de adoção ocorre
através de meios legais do qual uma criança e/ou adolescente se torna filho de
apenas um adulto ou de um casal, assim afirma Miranda (2001) que, adoção é
o ato solene pelo qual se cria entre o adotante e o adotando relação fictícia de
paternidade e filiação2, logo, adoção é o meio legal e também afetivo onde a
criança ou adolescente adotado cria um vínculo jurídico de filiação gerando o
parentesco civil, mas, sem laços de consanguinidade, com a principal
finalidade de oferecer o elemento necessário a criança ou adolescente, um
ambiente familiar favorável para o seu desenvolvimento.

Os critérios para a legitimação dos adotantes está estabelecido no artigo


42 do ECA, onde estabelece a idade mínima para adotar, qual seja, todas a
pessoas maiores de 18 anos, desde que, sejam capazes civilmente,
independentemente do seu estado civil. Salienta-se que, a diferença entre o
adotado e o adotante tem que ter um limite etário de pelo menos 16 anos entre
a idade de ambos. Nesse mesmo ângulo, é importante falar sobre a condição
da adoção ser no aspecto unilateral ou por duas pessoas, até porque, o
sistema jurídico adota a regra de que nenhuma criança ou adolescente pode
ser adotado por duas pessoas, o que em contrapartida, estabelece apenas a
adoção unilateral, todavia, há uma exceção no que há em se falar de adoção
por duas pessoas, Farias e Rosenvald (2012) declara que é, [...] admitida
adoção por duas pessoas que se revelar benéfica e vantajosa para o adotado.
Seria o exemplo da adoção pelo par homoafetivo [...]. 3 Portanto, em qualquer
caso a adoção sendo feita tanto unilateral como bilateralmente, o que deve ser
1
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Família, Salvador: Editora
JusPodivm, 4º ed., 2016, p. 1027.
2
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito de Família. Atualizado por Vilson Rodrigues Alves. Campinas:
Bookseller, v. III, 2001, p. 217.
3
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Família, Salvador: Editora
JusPodivm, 4º ed., 2016, p. 1038.
colocado em questão na decisão judicial é a comprovação de vantagens para
com o adotado, sempre priorizando o melhor interesse da criança.

É importante mencionar que a própria legislação, seja o Código Civil ou


Estatuto da Criança e do Adolescente, em nenhum momento menciona sobre a
proibição de adoção por casais homossexuais, segundo Farias e Rosenvald
(2012), a união homoafetiva é entidade familiar e conta com especial proteção
do Estado, a partir da compreensão do caput do art. 226 da Carta
Constitucional4. Não obstante, e tratando sobre a garantia constitucional da
união homoafetiva, tais sejam o direito fundamental à cidadania e o direito
fundamental à dignidade da pessoa humana, Fontanella (2006) explica que:

as identidades pessoas devem ser respeitadas não importando


as diferenças existentes na variedade de personalidades
individuais. Às pessoas devem ser atribuídos os mesmos
valores e consideradas as diversidades que fazem parte da
natureza e do ser humano.5

Nesse ínterim, pode-se afirmar que o instituto da família é o núcleo


básico de qualquer sociedade, e que é estruturada por diferentes modelos,
mas, seja de todo modo visando a função social da família que é tornar o
ambiente familiar propício para o desenvolvimento dos membros que compõe a
entidade familiar. Assim explica Farias e Rosenvald (2012), família é o
fenômeno humano em que se funda a sociedade, sendo impossível
compreendê-la senão à luz da interdisciplinaridade, máxime na sociedade
contemporânea, marcada por relações complexas, plurais, abertas,
multifacetárias e (porque não) globalizadas. 6 Como mencionado anteriormente,
a adoção é sinônimo de afeto, e este afeto é o fundamento principal das uniões
homoafetivas.

A aceitação da sociedade no que há em se falar de adoção de crianças


ou adolescentes por casais homoafetivos ainda é um grande tabu, por surgirem
questionamentos de discriminação no tocante a formação do adotado por conta
de alguma influência na condição dos pais ou mães serem homossexuais.

4
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Família, Salvador: Editora
JusPodivm, 4º ed., 2016, p. 1041.
5
FONTANELLA, Patrícia, cf. União homossexual no direito brasileiro: enfoque a partir do garantismo
jurídico, Florianópolis: OAB/SC, 2006, p. 116.
6
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Família, Salvador: Editora
JusPodivm, 4º ed., 2016, p. 39.
Acrescenta-se sobre o julgado do Supremo Tribunal Federal, em 2011, a
respeito do reconhecimento da natureza familiar das uniões homoafetivas 7,
trazendo com essa decisão o respeito do princípio da igualdade e dignidade da
pessoa humana. A entidade familiar formada por casais homoafetivos que
decidem adotar, sempre é alvo de discriminação e preconceito, dentro da sua
própria sociedade, a qual sempre indaga que este tipo de formação de família
estaria fora de cogitação, mas, como aponta um estudo e pesquisa da
Psicologia, trazido por Lôbo (2008) em sua obra, reafirma que, pesquisas e os
estudos nos campos da psicologia infantil e da psicanálise demonstraram que
as crianças que foram criadas na convivência familiar de casais homossexuais
apresentaram o mesmo desenvolvimento psicológico, mental e afetivo das que
foram adotadas por homem e mulher. 8 Inquestionavelmente, é nítido notar que
há uma certa discriminação de muitas pessoas ao abordar esse assunto, pois,
sempre volta a influência da condição da sexualidade, mas, o que tem que ser
salvaguardado sempre é o melhor interesse infanto-juvenil.

De certo modo, não há comprovação de modo algum a respeito de


impactos causado a crianças adotadas por casais homoafetivos. O Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), em seu artigo Adoção Homoafetiva
e os Desafios da Nova Concepção Familiar, trouxe em seu corpo textual
algumas pesquisas realizadas, indagando se a adoção de crianças e
adolescentes por casais homoafetivos acarreta algum prejuízo ao adotado, e
alguns entrevistados responderam que os prejuízos causados a crianças ou
adolescentes traria certos prejuízos, tais como:

“Falta de referência psicológica da mãe/pai” (sic); “Talvez,


Psicossociais. Por preconceitos e indiferenças de outras
pessoas” (sic); “Ele vai ser induzido a ser gay e Deus não
concorda com isso”; “Formação de um monstro”; “Interferência
na vida sexual e afetiva da criança ou adolescente”. 9

7
(STF, Ac.unân. Tribunal Pleno, ADIn 4277/DF, rel. Min. Carlos Ayres Britto, j. 5.5.11, DJe
14.10.11)
8
LÔBO, Paulo. Famílias, São Paulo: Saraiva, 2008, p. 258.
9
CAMPOS, Daniela Mara Silva; OLIVEIRA, Ana Aparecida de; RABELO, Raquel Santana;
Adoção Homoafetiva e os Desafios da Nova Concepção Familiar. IBDFAM, internet, junho,
2018. Disponível em: >https://ibdfam.org.br/artigos/1279/Ado
%C3%A7%C3%A3o+Homoafetiva+e+os+Desafios+da+Nova+Concep
%C3%A7%C3%A3o+Familiar<. Acesso em: 30/04/2023.
É possível notar que o único impacto que pode ser causado a uma
criança adotada por um casal homoafetivo é a discriminação e preconceito,
mesmo existindo uma legislação que resguarda os direitos relacionados ao
princípio da igualdade e da dignidade humana. Paralelamente a isso, os
princípios norteadores que fundamentam a adoção são basicamente dois,
princípio da proteção integral está pautado no art. 6º, 227 e 228 da
Constituição Federal de 1988, que assegura a criança e ao adolescente a
condição como sujeito de direitos fundamentais, e o princípio prioritário
interesse da criança, onde assegura que a Justiça fundamente suas decisões
acreditando no que é melhor para o menor, e não motivado no que os pais
desejam.

Em suma, ambos os princípios são basilares para servir de fundamento


em questões que envolvem menores, seja crianças e/ou adolescentes, que
estejam em situações de risco ou que estejam em processo de adoção ou
inserção em famílias.

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