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TARCÍSIO MEIRELLES PADILHA

A Filosofia da Esperança em prol da dignidade da pessoa

Ele é um pensador interessado, empenhado na luta pelo homem humano. Esse é


o cerne de seu pensamento. Uma filosofia da pessoa humana, não no sentido estrito e
político do personalismo, mas na linha da simples valorização do ser humano como
liberdade.
Esperança, eis a palavra-chave... esperança como totalidade. A esperança como
vocação do homem. Pois o homem é um animal capaz de esperança.
A sociedade não deixa espaço para a criação do homem. A tendencia é limitá-lo,
conduzi-lo a estandardizar tudo. Se criar uma coisa nova não terá possibilidade de criar
outra, pois será obrigado a massificar sua criação. Temos que restituir ao homem sua
dignidade pessoal. Hoje em dia a grande crise por que passa o homem é a
desvalorização da pessoa.
Para definir o erro fundamental da sociedade contemporânea, Tarcísio criou a
palavra “economelatria”, que quer dizer “o culto da economia”. Para o filósofo,
desenvolvimento não quer dizer apenas avanço econômico, quer dizer muito mais. E é
isso que o homem está impedido de ver.
O homem está sendo agredido pelo excesso de comunicação, de informação, e
não há tempo de lazer. A tarefa do filósofo consiste exatamente em despertar a
consciência do homem para sua dignidade humana. É preciso que todos entendam que o
desenvolvimento é um processo e não um fim. O fim é tudo o que leva ao bem-comum.
O homem é esmagado pela sociedade tecnológica. Sem solução, apela para o
escapismo. Caminho das drogas, perversão sexual, corrida do ouro. O homem acaba se
perdendo. E nós precisamos fazer, antes de mais nada, com que o homem se reencontre,
porque somente a partir daí ele poderá ter um diálogo com Deus. De acordo com a
concepção cristã, Deus é uma Pessoa, e assim é possível um diálogo. É através da
oração que Deus nos mostra as coisas mais belas da vida. Mas a oração só ocorrerá
quando o homem se reencontrar.
A filosofia exige que nunca possamos estar satisfeitos para podermos sempre
procurar alcançar pontos mais altos da sabedoria.
Padilha é considerado “a figura mais representativa do pensamento católico
brasileiro”.
Nasceu aos 17 de abril de 1928, filho de Raymundo Delmiriano Padilha, político
influente que foi governador do Estado do Rio de Janeiro, e Mayard Meirelles Padilha,
casou-se com Ruth Maria Fortuna Padilha, com quem teve seis filhos.
Curriculum vitae extenso.
Nunca descrente do futuro do Brasil e de sua gente, embora lhe questionasse
desde a sua juventude os problemas e as necessidades, encontra-se ele constantemente
empenhado em apontar novos caminhos e soluções divergentes das rotinas de um
passado marcado pela exaustão e pelas insuficiências multiformes.
O que Padilha defende, no correr do seu filosofar, é o deixar fluir uma
linguagem construtiva num mundo em que os arautos da destruição vêm encontrando
terreno fértil às suas arremetidas. Se à nossa volta pululam situações-limite, cumpre-nos
delas colher a suprema lição de que a esperança cicatriza as feridas da alma e prepara o
homem para a plenitude de seu existir.
TEXTO NA ÍNTEGRA
Uma filosofia da esperança é um pequeno grande livro de 115 páginas que apresenta
oito artigos:
1. “Participação e esperança”;
2. “Dialogue métaphysique et monologue idéologigue”;
3. “Las raices metafisicas de la angustia”;
4. “O primado da existência”;
5. “A existência segundo Miguel Unamuno”;
6. “Cultura e civilização”;
7. “Pour une éthique de l’espérance”;
8. Negociação, conflito e democracia”.
É oportuno frisar que, enquanto indivíduo, o homem é parte dos mundos biológico e
físico e do todo social e está sujeito às limitações impostas pelas normas de convivência
da comunidade e pelas leis naturais. Como pessoa, o homem se alça acima do Estado,
uma vez que seus fins são superiores ao Estado. Cada ser humano é um projeto pessoal
e intransferível. Ao Estado e à sociedade cabe proporcionar ao homem todas as
condições de auto-realização pessoal.
Ao distinguir o mundo das coisas do mundo do mundo das pessoas, o então cardeal
Karol Wojtyla sentenciou: “o homem é objetivamente alguém e é aí que se situa a sua
distinção dos outros seres do mundo visível, os quais, objetivamente, não são jamais
senão algo. Esta distinção simples, elementar, revela todo o abismo que separa o mundo
das pessoas do mundo das coisas... Não nos basta definir o homem como indivíduo da
espécie homo (nem mesmo quando dizemos homo sapiens). O termo persona foi
escolhido para sublinhar que o homem não se deixa reduzir à classificação “indivíduo
da espécie”, que há nele algo mais, uma plenitude e uma perfeição que não se pode
designar de outro modo, a não ser com a palavra persona”.
A pergunta “quem é o homem” só a filosofia apresenta condições de viabilizar uma
resposta.
A história registra com frequência o fenômeno ideológico, mas jamais houve uma
época em que ele estivesse tão presente e atuante, como nos últimos duzentos anos.
Cada ideologia surgiu como uma resposta às esperanças e necessidades de uma época,
sendo modificada ou substituída por outras à luz de subsequentes experiencias.
O progresso transformou em dois séculos toda a vida humana.
O erro das ideologias é serem utópicas. A ideologia surge como uma dádiva divina,
a garantir um futuro risonho, que acaba por exorcizar até mesmo a base objetiva de
apreciação adequada dos fatos econômicos e sociais, gerando por vezes uma euforia
vizinha da loucura coletiva. O remédio contra as ideologias seria a filosofia.
É a carência de uma tradição filosófica que facilita a inoculação do germe
ideológico. Se dermos à filosofia o posto que lhe compete na cultura nacional,
estaríamos anulando os focos ideológicos dando uma dimensão superior a vida humana,
fundando-a na fonte única de inteligibilidade e de bondade: Deus.
A democracia de modo algum se inclui entre as ideologias. Ela poderá
eventualmente assumir caráter ideológico num determinado contexto, mas por
deficiência de seus cultores, nunca por sua natureza. Democracia é antes de tudo onde a
liberdade e a dignidade da pessoa humana recebem o devido realce.
O que Padilha condena nas ideologias, certamente, é o seu caráter passional,
irrefletido, que redunda em fanatismo.
Há em todo o homem um abismo entre o que é o e o que deveria ser, entre vocação e
o destino. Cumpre à educação a tarefa de desenvolver todas as potencialidades de cada
homem, aproximando a vocação do destino. E cada pessoa, ao se realizar como ser
humano, enriquece a comunidade e, portanto, a nação.
Um dos aspectos mais típicos do homem moderno é a violência, que o filósofo
estuda num dos seus trabalhos, nos quais analisa a gênese da violência individual e da
violência coletiva, a natureza da violência, as formas de violência e a violência na atual
conjuntura, internacional e nacional.
O trabalho de Padilha sobre violência realça mais as causas filosóficas do que
psicológicas e sociais que a geram. Sustenta que “seria pueril pretender explicar o
fenômeno da violência unicamente a luz da psicologia. Nem seria legitimo adstringi-lo a
um povo, a uma raça determinada, ou mesmo a um período histórico.
O certo, contudo, é que a agressividade nasce da frustração e esta está prefigurada
na pletora de aspirações artificialmente criadas pelos recursos de comunicação social
que a tecnologia pois à disposição do homem contemporâneo.
A distinção que Padilha faz entre massa e povo é fundamental para que se entenda o
fenômeno sob regimes totalitários ou sob as asas acolhedoras da democracia. Massa
pressupõe ausência de critérios racionais, traduz abulia completa ou parcial. Povo indica
a presença da razão, a participação consciente dos cidadãos nos negócios públicos. A
massa se deixa facilmente lograr, enquanto que o povo julga os governantes e não é
necessariamente por eles conduzido. Os regimes autocráticos se servem das massas. Só
o regime democrático conta com o povo.
A violência se limita ao homem ou pervaga todo o domínio da natureza?
A atuação dos seres na natureza mineral, vegetal ou mesmo animal obedece a
determinadas leis. Violência traduz um ato humano, o desdobramento de uma tomada de
consciência seguida de um ato livre. É, pois, apenas à luz do humano que o conceito de
violência ganha significado.
Padilha nos adverte que não se deve confundir a força empregada para o
restabelecimento da ordem com violência. Ele passa a descrever as diversas formas de
violência, como a tortura física, o aprisionamento, o assassínio, concluindo que a
violência é o “câncer de um mundo em mutação radical”.
Os mercados livreiros estão inundados de livros subversivos e até livros escolares
eliminam claramente quaisquer referências à família, à moral e à religião.
Para reduzir o impacto de violência que hoje observamos, cumpre reforçar as
resistências morais dos homens e dos povos, dando-lhes o alimento espiritual tão
esquecido e tão necessário. Devemos incentivar o idealismo e a generosidade da
juventude, dando-lhe oportunidade de participar do processo do desenvolvimento.
A filosofia do séc. 20 teve nítida consciência da necessidade de um retorno à
ontologia, embora por vezes esta assertiva possa parecer desmentida por alguns
excessos do método fenomenológico. Assim é que, paralelamente, Heidegger, Hartmann
e Lavelle, para citar somente os mais importantes, buscam estruturar novamente a
ontologia.
Oriunda do platonismo, a filosofia de Lavelle acrescentou-lhe toda a problemática
do pensamento contemporâneo, dando aso a uma síntese vigorosa que continua a
filosofia clássica no que ela tem de mais autêntico, confrontando outrossim o homem
angustiado do s. 20, com uma mensagem de otimismo consciente. Por isso, diante da
incerteza do presente, Lavelle repete a palavra de Platão: “É Deus e não o homem a
medida de todas as coisas”.
Vulgarmente costumamos repetir sem pensar que a minha liberdade termina quando
a tua começa. Trata-se de uma visão geométrica e espacial da liberdade que não conhece
o ilimitado de seu horizonte. Não há limites para a liberdade. Ou melhor, o limite da
liberdade consiste em não ter limites. Por ela, o homem configura sua essência,
porquanto é afirmando no cotidiano a sua liberdade que o homem constrói o seu ser
pessoal, e em consequência o seu destino. A liberdade em si mesma, filosoficamente
falando, não tem fronteiras, como não a tem o homem em seu itinerário marcado pela
perfectibilidade, isto é, pela busca da perfeição na contingência seu ser. O que há de ter
limites é a atuação do homem na sociedade. Aí emergem com gritante força normas que
restringem a ação do homem, a fim de que em seu agir não possa inviabilizar outros
projetos pessoais e a vida comunitária como um todo. As limitações se expressam mercê
de regras morais que o homem respeitará ou não, uma vez que o Criador lhe deu até a
possibilidade de lhe negar a existência.
O “filósofo da esperança” como que nos transmite um pouco do seu otimismo, de
suas esperanças, da sua liberdade, do seu voltar-se para um absoluto que, afinal de
contas, se reduz a um Deus capaz de diálogo conosco.

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