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PROCEDIMENTO

A contagem dos prazos nos ritos regulados pelo ECA ocorre em dias CORRIDOS (não se aplica a regra dos
dias úteis do CPC/2015)

Segundo o texto expresso do ECA, em todos os recursos, salvo os embargos de declaração, o prazo será decenal
(art. 198, II) e a sua contagem ocorrerá de forma corrida, excluído o dia do começo e incluído o do vencimento,
vedado o prazo em dobro para o Ministério Público (art. 152, § 2º).
Desse modo, por força do critério da especialidade, os prazos dos procedimentos regulados pelo ECA são
contados em dias corridos, não havendo que se falar em aplicação subsidiária do art. 219 do CPC/2015, que prevê
o cálculo em dias úteis.
STJ. 6ª Turma. HC 475.610/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/03/2019 (Info 647).

CRIMES DO ECA
O delito do art. 240 do ECA é classificado como crime formal, comum, de subjetividade passiva própria,
consistente em tipo misto alternativo
Importante!!!

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (...)
• Crime formal (consumação antecipada): o delito se consuma independentemente da ocorrência de um
resultado naturalístico. Assim, a ocorrência de efetivo abalo psíquico e moral sofrido pela criança ou adolescente
é mero exaurimento do crime, sendo irrelevante para a sua consumação. De igual forma, se forem filmadas mais
de uma criança ou adolescente, no mesmo contexto fático, haverá crime único.
• Crime comum: o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
• Crime de subjetividade passiva própria: exige-se uma condição especial da vítima (no caso, exige-se que a
vítima seja criança ou adolescente).
• Tipo misto alternativo: o legislador descreveu duas ou mais condutas (verbos). No entanto, se o sujeito praticar
mais de um verbo, no mesmo contexto fático e contra o mesmo objeto material, responderá por um único crime,
não havendo concurso de crimes nesse caso. Logo, se o agente fotografou e filmou o ato sexual, no mesmo
contexto fático, haverá crime único.
STJ. 5ª Turma. PExt no HC 438.080-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/08/2019 (Info 655).

ADOÇÃO
A diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado, prevista no art. 42, § 3º do ECA, não é
absoluta e pode ser flexibilizada à luz do princípio da socioafetividade
Importante!!!

Segundo o § 3º do art. 42, do ECA, o adotante há de ser, pelo menos, 16 anos mais velho do que o adotando. Ex.:
se o adotando tiver 4 anos, o adotante deverá ter, no mínimo, 20 anos.
Assim, a diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado é requisito legal para a adoção. Vale
ressaltar, no entanto, que esse parâmetro legal pode ser flexibilizado à luz do princípio da socioafetividade.
A adoção é sempre regida pela premissa do amor e da imitação da realidade biológica, sendo o limite de idade
uma forma de evitar confusão de papéis ou a imaturidade emocional indispensável para a criação e educação de
um ser humano e o cumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar.
Dessa forma, incumbe ao magistrado estudar as particularidades de cada caso concreto a fim de apreciar se a
idade entre as partes realiza a proteção do adotando, sendo o limite mínimo legal um norte a ser seguido, mas
que permite interpretações à luz do princípio da socioafetividade, nem sempre atrelado às diferenças de idade
entre os interessados no processo de adoção.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.785.754-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 08/10/2019 (Info 658).
PODER FAMILIAR
A existência de vínculo familiar ou de parentesco não constitui requisito para a legitimidade ativa do
interessado na requisição da medida de perda ou suspensão do poder familiar

A existência de vínculo familiar ou de parentesco não constitui requisito para a legitimidade ativa do interessado
na requisição da medida de perda ou suspensão do poder familiar.
O art. 155 do ECA prevê o seguinte:
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do poder familiar terá início por provocação do Ministério
Público ou de quem tenha legítimo interesse.
O legislador ordinário não definiu o que seria esse “'legítimo interesse” nem fixou requisitos rígidos para a
legitimação ativa desta ação. Trata-se, portanto, de conceito jurídico indeterminado, preceito de lei comumente
chamado de “aberto”.
Não se trata de uma omissão do legislador, mas sim de uma consciente opção legislativa. O objetivo do legislador
foi o de permitir que o intérprete analise, no caso concreto, o princípio do melhor interesse da criança e sua
proteção integral.
Em virtude disso, o legítimo interesse para o pedido de perda ou suspensão do poder familiar, referido pelo art.
155 do ECA, deve ser analisado com prudência, a partir do caso concreto.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.203.968-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 10/10/2019 (Info 659).

PEDIDO DE GUARDA
Mãe biológica pode se opor à ação de guarda de sua filha mesmo que já tenha perdido o poder familiar
em ação proposta pelo MP com esse objetivo

A mãe biológica detém legitimidade para recorrer da sentença que julgou procedente o pedido de guarda
formulado por casal que exercia a guarda provisória da criança, mesmo se já destituída do poder familiar em
outra ação proposta pelo Ministério Público e já transitada em julgado.
O fato de a mãe biológica ter sido destituída, em outra ação, do poder familiar em relação a seu filho, não
significa, necessariamente, que ela tenha perdido a legitimidade recursal na ação de guarda.
Para a mãe biológica, devido aos laços naturais, persiste o interesse fático e jurídico sobre a criação e destinação
da criança, mesmo após destituída do poder familiar.
Assim, enquanto não cessado o vínculo de parentesco com o filho, através da adoção, que extingue
definitivamente o poder familiar dos pais biológicos, é possível a ação de restituição do poder familiar, a ser
proposta pelo legítimo interessado, no caso, os pais destituídos do poder familiar.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.845.146-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 19/11/2019 (Info 661).
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DOS PROGRAMAS DE RÁDIO E TV
Emissora de TV pode ser condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão
da exibição de filme fora do horário recomendado pelo Ministério da Justiça
Importante!!!

Segundo decidiu o STF, é inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do
ECA. Assim, o Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em determinados
horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar censura. O Poder
Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não
obrigatória) (STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016).
Vale ressaltar, no entanto, que a liberdade de expressão, como todo direito ou garantia constitucional, exige
responsabilidade no seu exercício, de modo que as emissoras deverão resguardar, em sua programação, as
cautelas necessárias às peculiaridades do público infanto-juvenil. Logo, a despeito de ser a classificação da
programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos daquele recomendado, cabe
ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à programação sadia, previsto no art. 221 da
CF/88.
Diante disso, é possível, ao menos em tese, que uma emissora de televisão seja condenada ao pagamento de
indenização por danos morais coletivos em razão da exibição de filme fora do horário recomendado pelo órgão
competente, desde que fique constatado que essa conduta afrontou gravemente os valores e interesses coletivos
fundamentais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.463-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663).

PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE


O art. 78 do ECA traz um dever que obriga todos os que integram a cadeia de consumo, abrangendo o
editor da revista ou publicação, o transportador, o distribuidor e o comerciante

O art. 78 do ECA prevê o seguinte:


Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão
ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas
sejam protegidas com embalagem opaca.
Esse dever de zelar pela correta comercialização de revistas pornográficas, em embalagens opacas, lacradas e
com advertência de conteúdo, não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende a todos os integrantes
da cadeia de consumo, inclusive aos transportadores e distribuidores.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.584.134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

ADOÇÃO
O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código Civil/1916 não pode ser alterado
para a inclusão dos nomes dos ascendentes dos pais adotivos

O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código Civil/1916 não pode ser alterado para a
inclusão dos nomes dos ascendentes dos pais adotivos.
O ordenamento jurídico vigente ao tempo em que realizada a adoção simples da peticionante por meio de
escritura pública (natureza contratual), previa que o parentesco resultante da adoção era meramente civil e
limitava-se ao adotante e ao adotado, não se estendendo aos familiares do adotante visto que mantidos os
vínculos do adotado com a sua família biológica.
Não se aplica o regime jurídico de adoção do ECA para este caso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.387-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em
11/02/2020 (Info 666).
INTERNAÇÃO
É legal a internação de adolescente gestante ou com o filho em amamentação, desde que assegurada
atenção integral à sua saúde, bem como as condições necessárias para que permaneça com seu filho
durante o período de amamentação

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde que
seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições necessárias para que a
adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade permaneça com o seu
filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº 12.594/12 - SINASE).
STJ. 5ª Turma. HC 543.279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

INTERNAÇÃO
Se a internação for aplicada sem termo, o cálculo do prazo prescricional deverá levar em consideração a
duração máxima da internação (3 anos)
Importante!!!

Tratando-se de medida socioeducativa aplicada sem termo, o prazo prescricional deve ter como parâmetro a
duração máxima da internação (3 anos), e não o tempo da medida, que poderá efetivamente ser cumprida até
que o socioeducando complete 21 anos de idade.
Assim, deve-se considerar o lapso prescricional de 8 anos previsto no art. 109, IV, do Código Penal,
posteriormente reduzido pela metade em razão do disposto no art. 115 do mesmo diploma legal, de maneira a
restar fixado em 4 anos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.856.028-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/05/2020 (Info
672).

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA


É válida a extinção de medida socioeducativa de internação quando o juízo da execução, ante a
superveniência de processo-crime após a maioridade penal, entende que não restam objetivos
pedagógicos em sua execução
Importante!!!

Exemplo: Adriano, de 20 anos, foi sentenciado a cumprir medida socioeducativa de internação em virtude de ato
infracional praticado quando ele era adolescente. A sentença transitou em julgado. Ocorre que o juízo da vara de
infância e juventude constatou que Adriano encontra-se preso em razão de crime de roubo cometido quando ele
já era adulto. Diante disso, o juízo da vara infracional extinguiu a execução da medida socioeducativa afirmando
que, tendo em vista a sua idade e o seu perfil pessoal agravado, não restam objetivos pedagógicos no
cumprimento da internação.
O STJ afirmou que a decisão foi acertada.
O art. 46, § 1º da Lei nº 12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê a seguinte faculdade para o julgador:
Art. 46 (...) § 1º No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder
a processo-crime, caberá à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da
decisão o juízo criminal competente.
STJ. 6ª Turma. HC 551.319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
COMPETÊNCIA
De quem é a competência para executar a verba honorária sucumbencial arbitrada pelo Juízo da Infância
e Juventude?

O juízo especializado da Justiça da Infância e da Juventude é competente para o cumprimento e a efetivação do


montante sucumbencial por ele arbitrado.
A partir da leitura dos arts. 148 e 152 do ECA, art. 24, § 1º, do Estatuto da Advocacia e art. 516, II, do CPC/2015,
conclui-se que, como regra, o cumprimento da sentença (o que inclui a imposição sucumbencial), deve ocorrer
nos mesmos autos em que se formou o correspondente título exequendo e, por conseguinte, perante o juízo
prolator do título.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.859.295-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

ASPECTOS CÍVEIS
Em ACP na qual se questiona acolhimento institucional de menor, não é admissível o julgamento de
improcedência liminar ou o julgamento antecipado do pedido, especialmente quando não há tese
jurídica fixada em precedente vinculante

Caso concreto: o MP/CE ajuizou contra o Município de Fortaleza 10 ações civis públicas nas quais alega que 10
diferentes crianças estão há mais tempo em acolhimento institucional do que prevê a lei. Diante disso, o MP
pediu que elas sejam encaminhadas à programa de acolhimento familiar e que sejam indenizadas por danos
morais. O juiz, invocando o art. 332, III, do CPC, julgou improcedente liminarmente o pedido (rectius: julgou
antecipadamente o pedido), ao fundamento de que se trataria de controvérsia repetitiva justamente por se
tratar de 10 ações civis públicas versando sobre o mesmo objeto.
No mérito, a sentença afirmou que: i) o acolhimento por prazo superior a 2 anos, conquanto ilegal, algumas vezes
indispensável porque, em muitas hipóteses, não há família adequada para recebê-lo; ii) não há prova de que o
Município teria agido de modo doloso, intencional ou negligente; iii) o problema do acolhimento institucional por
período superior a 2 anos é de natureza estrutural, eis que envolve a falta de recursos do Poder Público.
O STJ afirmou que não era admissível o julgamento de improcedência liminar ou o julgamento antecipado do
pedido.
Diferentemente do tratamento dado à matéria no revogado CPC/73, não mais se admite, no CPC/2015, o
julgamento de improcedência liminar do pedido com base no entendimento firmado pelo juízo em que tramita o
processo sobre a questão repetitiva, exigindo-se, ao revés, que tenha havido a prévia pacificação da questão
jurídica controvertida no âmbito dos Tribunais, materializada em determinadas espécies de precedentes
vinculantes, a saber: súmula do STF ou do STJ; súmula do TJ sobre direito local; tese firmada em recursos
repetitivos, em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção de competência.
Por se tratar de regra que limita o pleno exercício de direitos fundamentais de índole processual, em especial o
contraditório e a ampla defesa, as hipóteses autorizadoras do julgamento de improcedência liminar do pedido
devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo dar a elas amplitude maior do que aquela
textualmente indicada pelo legislador no art. 332 do novo CPC.
De igual modo, para que possa o juiz resolver o mérito liminarmente e em favor do réu, ou até mesmo para que
haja o julgamento antecipado do mérito imediatamente após a citação do réu, é indispensável que a causa não
demande ampla dilação probatória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.854.842/CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/06/2020 (Info 673).
ADOÇÃO
O risco de contaminação pela Covid-19 em casa de acolhimento pode justificar a manutenção da criança
com a família substituta

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) adota a chamada doutrina da proteção integral (art. 1º da Lei nº
8.069/90), segundo a qual deve-se observar o melhor interesse da criança.
Ressalvado o risco evidente à integridade física e psíquica, que não é a hipótese dos autos, o acolhimento
institucional não representa o melhor interesse da criança.
A observância do cadastro de adotantes não é absoluta porque deve ser sopesada com o princípio do melhor
interesse da criança, fundamento de todo o sistema de proteção ao menor.
O risco de contaminação pela Covid-19 em casa de acolhimento justifica a manutenção da criança com a família
substituta.
STJ. 3ª Turma. HC 572.854-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/08/2020 (Info 676).

ADOÇÃO
A redação literal do ECA proíbe a adoção avoenga (adoção do neto pelos avós); no entanto, o STJ admite
que isso ocorra em situações excepcionais
Importante!!!

O art. 42, § 1º proíbe que os avós adotem seu neto (“Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do
adotando”).
Essa regra proibitiva tem por objetivo:
• evitar inversões e confusões nas relações familiares - em decorrência da alteração dos graus de parentesco
• impedir a utilização do instituto com finalidade meramente patrimonial.
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ admite a sua mitigação (relativização) excepcional
quando:
a) o pretenso adotando seja menor de idade;
b) os avós (pretensos adotantes) exerçam, com exclusividade, as funções de mãe e pai do neto desde o seu
nascimento;
c) a parentalidade socioafetiva tenha sido devidamente atestada por estudo psicossocial;
d) o adotando reconheça os adotantes como seus genitores e seu pai (ou sua mãe) como irmão;
e) inexista conflito familiar a respeito da adoção;
f) não se constate perigo de confusão mental e emocional a ser gerada no adotando;
g) não se funde a pretensão de adoção em motivos ilegítimos, a exemplo da predominância de interesses
econômicos; e
h) a adoção apresente reais vantagens para o adotando.
Assim, é possível a mitigação da norma geral impeditiva contida no § 1º do art. 42 do ECA, de modo a se autorizar
a adoção avoenga em situações excepcionais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.969-SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/10/2014 (Info 551).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.587.477-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020 (Info 678).
PROTEÇÃO CÍVEL
É obrigatória a intervenção da FUNAI em ação de destituição de poder familiar que envolva criança cujos
pais possuem origem indígena

A intervenção da FUNAI nos litígios relacionados à destituição do poder familiar e à adoção de menores indígenas
ou menores cujos pais são indígenas é obrigatória e apresenta caráter de ordem pública.
O objetivo dessa intervenção é fazer com que sejam consideradas e respeitadas a identidade social e cultural do
povo indígena, os seus costumes e tradições, suas instituições, bem como que a colocação familiar ocorra
prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia.
As regras do art. 28, §6º, I e II, do ECA, visam conferir às crianças de origem indígena um tratamento
verdadeiramente diferenciado, pois, além de crianças, pertencem elas a uma etnia minoritária, historicamente
discriminada e marginalizada no Brasil, bem como pretendem, reconhecendo a existência de uma série de
vulnerabilidades dessa etnia, adequadamente tutelar a comunidade e a cultura indígena, de modo a minimizar a
sua assimilação ou absorção pela cultura dominante.
Nesse contexto, a obrigatoriedade e a relevância da intervenção obrigatória da FUNAI decorre do fato de se tratar
do órgão especializado, interdisciplinar e com conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas
indígenas, o que possibilita uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas
a propiciar o adequado acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores interesses, não
se tratando, pois, de formalismo processual exacerbado apenar de nulidade a sua ausência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).

GUARDA
Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família

Situação hipotética: um casal exerceu irregularmente a guarda de uma criança nos anos de 2014 e 2016. O juiz,
atendendo a pedido do Ministério Público, determinou que essa criança fosse levada a acolhimento institucional
em razão de burla ao cadastro de adoção. Houve trânsito em julgado dessa decisão que determinou o
afastamento da criança do convívio com essa família.
Ocorre que se passaram quatro anos e a criança permanece no “abrigo”, sem que tenha sido adotada.
Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de guarda alegando que existem vínculos socioafetivos entre
a criança e a família.
O STJ afirmou que é possível o deferimento do pedido.
As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são modificáveis com o tempo,
bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que justificaram a sua concessão, ou não, no passado.
Assim, transitada em julgado a sentença de procedência do pedido de afastamento do convívio familiar de que
resultou o acolhimento institucional da menor, quem exercia irregularmente a guarda e pretende adotá-la possui
interesse jurídico para, após considerável lapso temporal, ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a
modificação das circunstâncias fáticas que ensejaram o acolhimento, não lhe sendo oponível a coisa julgada que
se formou na ação de afastamento.
Em suma: o trânsito em julgado de sentença de procedência do pedido de afastamento do convívio familiar não é
oponível a quem exercia a guarda irregularmente e, após considerável lapso temporal, pretende ajuizar ação de
guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.878.043-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679).
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR
Processo em que foi decretada a destituição do poder familiar não pode ser anulado por falta de citação
de suposto pai com identidade ignorada

É juridicamente existente a sentença proferida em ação de destituição de poder familiar ajuizada em desfavor
apenas da genitora, no caso em que pretenso pai biológico não conste na respectiva certidão de nascimento do
menor.
Caso concreto: em ação proposta pelo Ministério Público, o juiz decretou a destituição do poder familiar da mãe
biológica e a sua adoção. Após o trânsito em julgado, o suposto pai biológico da criança ajuizou ação declaratória
de inexistência de sentença (querela nullitatis insanabilis) por meio da qual tentou anular a destituição do poder
familiar da mãe biológica.
O argumento principal do autor foi a falta de sua citação no processo de destituição. Ocorre que o STJ manteve
válido o processo porque concluiu que o homem era desconhecido na época do nascimento da criança, tanto que
não constou de seu registro civil.
Segundo os autos, a criança foi abandonada no hospital pela genitora horas após o parto, e o registro de
nascimento foi feito apenas com o nome da mãe, já que era ignorada a identidade do pai.
O ECA disciplinou de modo detalhado como deverão ser citados os réus na ação de destituição de poder familiar,
como forma de reduzir ao máximo a possibilidade de inexistência ou irregularidade na citação, especialmente pela
medida drástica que pode resultar dessa ação.
Entretanto, as hipóteses legais se referem a pais biológicos conhecidos – situação completamente distinta da
analisada nos autos, na qual o suposto genitor era absolutamente desconhecido na época da ação de destituição
ajuizada pelo Ministério Público.
Por essa razão, o pretenso pai que não mantinha relação jurídica de poder familiar com o menor não poderia ser
réu na ação em que se pretendia decretar a destituição desse poder.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.860-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).

COMPETÊNCIA
A competência para julgar ações envolvendo matrícula de crianças e adolescentes em creches ou escolas
é da Vara da Infância e da Juventude
Importante!!!

A Justiça da Infância e da Juventude tem competência absoluta para processar e julgar causas envolvendo
matrícula de menores em creches ou escolas, nos termos dos arts. 148, IV, e 209 da Lei nº 8.069/90.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.846.781/MS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/02/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 1058) (Info 685).
ADOÇÃO
Presentes os requisitos autorizadores da tutela antecipada, é cabível a inclusão de informações
adicionais, para uso administrativo em instituições escolares, de saúde, cultura e lazer, relativas ao
nome afetivo do adotando que se encontra sob guarda provisória
Importante!!!

Exemplo hipotético: Tayson Cardoso é filho de Maria. Desde os 7 meses de idade, Tayson mora com Regina
Carvalho e João Melo, que passou a cuidar do garoto como filho em razão de Maria tê-lo abandonado. Regina e
João iniciaram o processo de adoção e obtiveram a guarda provisória. Vale ressaltar que Regina e João sempre
chamaram “Tayson” de “Thiago”, sendo o nome por meio do qual o garoto é conhecido entre os amigos e
familiares do casal.
Tayson/Thiago tem agora 3 anos. O processo de adoção ainda não foi concluído. Regina e João vão matricular a
criança na escola. Ocorre que eles ficaram com receio de o menino ficar sendo chamado de Tayson na escola e
ficar confuso, considerando que o nome que conhece é Thiago.
Diante disso, eles peticionaram ao juiz da adoção pedindo que fosse concedida tutela antecipada para que fosse
autorizada a inclusão do nome social para uso administrativo em instituições escolares, de saúde, cultura e lazer,
relativas ao nome afetivo do adotando. Assim, nos cadastros da escola e demais instituições constará o nome
social do adotando: Thiago Carvalho Melo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.878.298/MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Mesmo que o adolescente, durante o procedimento para apuração da infração do art. 249 do ECA,
adquira a maioridade, ainda assim a multa poderá ser aplicada aos responsáveis

A multa instituída pelo art. 249 do ECA não possui caráter meramente preventivo, mas também punitivo e
pedagógico, de modo que não pode ser afastada sob fundamentação exclusiva do advento da maioridade civil da
vítima dos fatos que determinaram a imposição da penalidade.
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao pátrio poder familiar ou decorrente de
tutela ou guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: Pena - multa de três a
vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.653.405-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 02/03/2021 (Info 687).

ADOÇÃO
É possível a rescisão de sentença concessiva de adoção se a pessoa não desejava verdadeiramente ter
sido adotada e, após atingir a maioridade, manifestou-se nesse sentido
Importante!!!

É possível, mesmo ante a regra da irrevogabilidade da adoção, a rescisão de sentença concessiva de adoção ao
fundamento de que o adotado, à época da adoção, não a desejava verdadeiramente e de que, após atingir a
maioridade, manifestou-se nesse sentido.
A interpretação sistemática e teleológica do § 1º do art. 39 do ECA conduz à conclusão de que a irrevogabilidade
da adoção não é regra absoluta, podendo ser afastada sempre que, no caso concreto, verificar-se que a
manutenção da medida não apresenta reais vantagens para o adotado, tampouco é apta a satisfazer os princípios
da proteção integral e do melhor interesse da criança e do adolescente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.892.782/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/04/2021 (Info 691).
PROTEÇÃO CÍVEL
Demonstrado interesse jurídico e justificada a finalidade, é cabível a extração de cópias dos autos da
apuração de ato infracional, não se podendo utilizar os documentos obtidos para fins diversos do que
motivou o deferimento de acesso

O art. 143 do ECA estabelece, como regra geral, a vedação à divulgação de atos judiciais, policiais e
administrativos que digam respeito à apuração de atos infracionais. Esta disposição, em primeiro juízo, obsta o
acesso de terceiros aos referidos autos.
Todavia, a vedação contida no art. 143 não é absoluta, sendo mitigada, conforme se extrai do art. 144 do ECA.
Assim, presentes interesse e finalidade justificadas, deverá a autoridade judiciária deferir a extração de cópias ou
certidões dos atos do processo infracional.
No caso, a requerente comprovou seu interesse jurídico, pois é mãe da adolescente apontada como infratora e foi
vítima do ato infracional imputado à filha. Ademais, a requerente apresentou finalidade justificada ao pleitear o
seu acesso aos autos do processo de apuração do ato infracional, consignando a utilidade dos documentos nele
produzidos para servirem como provas em ação de deserdação.
STJ. 6ª Turma. RMS 65.046-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 01/06/2021 (Info 699).

ADOÇÃO
A diferença etária mínima de 16 anos entre adotante e adotado, prevista no art. 42, § 3º do ECA, não é
absoluta
Importante!!!

A regra que estabelece a diferença mínima de 16 (dezesseis) anos de idade entre adotante e adotando (art. 42, §
3º do ECA) pode, dada as peculiaridades do caso concreto, ser relativizada no interesse do adotando.
Art. 42 (...) § 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.338.616-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/06/2021 (Info 701).

ADOÇÃO
Atende ao melhor interesse da criança a adoção personalíssima intrafamiliar por parentes colaterais por
afinidade, a despeito da circunstância de convivência da criança com família substituta, também,
postulante à adoção
Importante!!!

Caso adaptado: Elisandra deu à luz Luan. Como ela já tinha outros cinco filhos, resolveu entregar Luan, com dias
de vida, aos cuidados de Carla e Francisco. Vale ressaltar que Elisandra é filha da irmã da cunhada de Francisco.
Importante ainda mencionar que o pai biológico de Luan é desconhecido. Diante desse cenário, poucos dias
depois de receberem a criança, Carla e Francisco ajuizaram ação de adoção cumulada com pedido de destituição
do poder familiar, por meio da qual pretendem regularizar a situação vivenciada e serem formalmente
considerados pais de Luan. Elisandra também assinou o pedido concordando com a destituição e com a adoção. O
juiz negou o pedido afirmando que haveria burla ao cadastro de adotantes e que não existiria parentesco entre o
casal adotante e a criança, razão pela qual não seria possível excepcionar o cadastro de adoção.
O STJ não concordou. Principais argumentos:
• a CF/88 rompeu com os paradigmas clássicos de família. O conceito de “família” adotado pelo ECA é amplo,
abarcando tanto a família natural como a extensa/ampliada, sendo a affectio familiae o alicerce jurídico imaterial
que pontifica o relacionamento entre os seus membros, essa constituída pelo afeto e afinidade que, por serem
elementos basilares do Direito das Famílias hodierno, devem ser evocados na interpretação jurídica voltada à
proteção e melhor interesse das crianças e adolescentes.
• o art. 50, § 13, II, do ECA, ao afirmar que podem adotar os parentes que possuem afinidade/afetividade para
com a criança, não promoveu qualquer limitação, a denotar, por esse aspecto, que a adoção por parente
(consanguíneo, colateral ou por afinidade) é amplamente admitida quando demonstrado o laço afetivo.
• em hipóteses como a tratada no caso, critérios absolutamente rígidos previstos na lei não podem preponderar,
notadamente quando em foco o interesse pela prevalência do bem estar, da vida com dignidade do menor.
• a ordem cronológica de preferência das pessoas previamente cadastradas para adoção não tem um caráter
absoluto, devendo ceder ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.911.099-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 29/06/2021 (Info 703).

PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE


O juízo da comarca de domicílio do adolescente pode conferir autorização para que ele participe de
apresentações artísticas inclusive em outras comarcas

A autorização judicial para participação de adolescente em espetáculo público em diversas comarcas deve ser
concentrada na competência do juízo do seu domicílio, que solicitará providências e informações aos demais
juízos, onde ocorra apresentação, quanto ao cumprimento das diretrizes previamente fixadas.
Caso concreto: Lucas, adolescente, realiza shows como DJ (disc-jockey) em várias cidades. Ocorre que, em cada
comarca que Lucas vai se apresentar, há a necessidade de uma nova autorização judicial (alvará judicial) para que
ele participe do espetáculo público. Nem sempre isso é rápido e tem atrapalhado as suas apresentações artísticas.
O STJ decidiu que:
• não é possível que seja concedida autorização judicial ampla, geral e irrestrita, para que o adolescente participe
de espetáculos públicos até que atinja a sua maioridade civil;
• por outro lado, não é necessário que o adolescente formule pedidos individuais, a serem examinados e decididos
em cada comarca em que ocorrerá a respectiva apresentação;
• é possível que o juízo da comarca do domicílio do adolescente (art. 147 do ECA), conceda uma autorização para
que o menor participe dos espetáculos públicos, inclusive em outras comarcas, estabelecendo previamente
diretrizes mínimas para a participação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.947.740-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/10/2021 (Info 714).

COMPETÊNCIA
Compete à Justiça da Infância e da Juventude processar e julgar causas envolvendo reformas de
estabelecimento de ensino de crianças e adolescentes

Caso concreto: o MP/SP ajuizou ACP contra o Estado pedindo a reforma do prédio onde funciona uma escola
pública estadual. Segundo alegou o Parquet, o estado do imóvel compromete a integridade física de todos os seus
frequentadores.
A competência para julgar ações envolvendo matrícula (acesso) de crianças e adolescentes em creches ou escolas é
da Vara da Infância e da Juventude, nos termos do art. 148, IV e art. 209 do ECA (STJ. 1ª Seção. REsp 1846781/MS,
Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/02/2021 – Tema 1058).
Esse precedente obrigatório sobre acesso (matrícula) ao ensino se aplica, portanto, a demandas que discutam
permanência, o que abrange reformas de estabelecimentos de ensino.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.840.462-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 15/03/2022 (Info 729).
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Na execução de medida socioeducativa, o período de tratamento médico deve ser contabilizado no
prazo de 3 anos para a duração máxima da medida de internação, nos termos do art. 121, § 3º, do ECA

O art. 121, § 3º do ECA afirma que “em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos”.
Se o adolescente está cumprindo medida socioeducativa de internação e sobrevém transtorno mental, ele será
submetido a tratamento médico. O período de tratamento deverá ser somado ao tempo em que ele ficou
cumprindo a medida de internação, não podendo ultrapassar 3 anos, nos termos do art. 121, § 3º do ECA.
A medida de segurança imposta ao apenado adulto que desenvolve transtorno mental no curso da execução, com
espeque no art. 183 da LEP, tem sua duração limitada ao tempo remanescente da pena privativa de liberdade. Esse
mesmo raciocínio deve ser aplicado aos adolescentes, por força do art. 35, I, da Lei nº 12.594/2012.
Se a contagem do prazo trienal previsto no art. 121, § 3º, do ECA fosse suspensa durante o tratamento médico
referido no art. 64 da Lei 12.594/2012 e até a alta hospitalar, a restrição da liberdade do jovem seria
potencialmente perpétua, hipótese inadmissível em nosso sistema processual.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.956.497-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 732).

ADOÇÃO
O risco real de contaminação pela Covid-19 em casa de abrigo justifica a manutenção de criança de tenra
idade com a família substituta, apesar da suposta irregularidade/ilegalidade dos meios empregados para
a obtenção da guarda da infante

No caso concreto, a o juiz determinou que a criança ficasse em acolhimento institucional (“abrigo”) unicamente
pelo fato de estarem presentes indícios de que houve burla ao cadastro de adoção, não tendo sido cogitado
qualquer risco físico ou psicológico à criança.
Neste momento de situação pandêmica, apesar de aparentemente ter ocorrido a vedada “adoção à brasileira”, é
preferível e recomendada a manutenção da criança em um lar já estabelecido, com uma família que a deseja como
membro.
STJ. 3ª Turma. HC 735.525/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 21/6/2022 (Info 742).

INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
O juiz pode aplicar a multa do art. 249 do ECA abaixo do mínimo legal de três salários-mínimos

O art. 249 do ECA prevê, como infração administrativa:


Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou
guarda, bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: Pena - multa de três a vinte
salários de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
A situação de hipossuficiência econômica deve ser considerada como relevante para a fixação do valor da multa.
A multa imposta será revertida em favor de um fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança do
Adolescente do respectivo município (art. 214 do ECA). Além disso, esse dinheiro será pago pela mãe e,
obviamente, desfalcará o patrimônio da entidade familiar na qual está inserida a criança ou adolescente que se
pretende proteger.

Diante disso, é admissível a redução do valor da multa do art. 249 do ECA, inclusive aquém do mínimo legal de
três salários-mínimos, levando-se em consideração, de um lado, a gravidade das condutas e, de outro lado, a
hipossuficiência financeira ou a vulnerabilidade da família.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.780.008/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/08/2022 (Info 746).
CUMPRIMENTO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
A gravidade do ato infracional cometido, dissociada de elementos concretos colhidos no curso da
execução da medida socioeducativa, não é fundamento suficiente para, por si, justificar a manutenção
de adolescente em internação

Caso adaptado: Lucas, adolescente, praticou três atos infracionais análogos aos crimes de homicídio qualificado,
ocultação de cadáver e furto. Recebeu medida de internação. 6 meses depois, o juiz extinguiu a medida
socioeducativa porque entendeu que já havia cumprido a sua finalidade. O Tribunal de Justiça, contudo, reformou
a sentença e restabeleceu a medida de internação com base na gravidade concreta dos atos infracionais
praticados. O TJ, contudo, deixou de apontar circunstâncias concretas, ocorridas no curso da execução da medida
socioeducativa, que demonstrassem a necessidade de manutenção da medida por tempo maior.
Para o STJ, contudo, esse não é um argumento idôneo.
A gravidade do ato infracional cometido, dissociada de elementos concretos colhidos no curso da execução da
medida socioeducativa, não é fundamento suficiente para, por si, justificar a manutenção do adolescente em
internação. A finalidade principal da aplicação das medidas previstas no ECA não é retributiva, mas reeducativa,
com vistas à proteção integral do adolescente.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 672.213/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 16/08/2022 (Info 749).

ADOÇÃO
A mãe pode adotar a sua filha biológica que havia sido adotada quando criança por um casal

Caso adaptado: Viviane teve uma filha (Laura). Nessa época, Viviane enfrentava inúmeras dificuldades pessoais e
financeiras e, em razão disso, ela entregou a criança para adoção. Laura, com 2 anos de idade, foi adotada por
João e Regina. Mesmo depois da adoção ter sido concretizada, Viviane visitava frequentemente Laura, mantendo
também uma boa relação com os pais adotivos da criança. Com o passar do tempo, Viviane e Laura foram se
aproximando cada vez mais e surgiu a vontade recíproca de se tornarem mãe e filha novamente. João e Regina
concordaram com isso. Diante desse cenário, Viviane ajuizou ação pedindo a adoção de sua filha biológica Laura
que, na época já estava com 18 anos de idade.
Juiz, contudo, negou o pedido argumentado que ele afrontaria a lei. O STJ não concordou com o magistrado.
A lei não traz expressamente a impossibilidade de se adotar pessoa anteriormente adotada. Em outras palavras, a
lei não proíbe que uma pessoa que já foi adotada anteriormente, seja novamente adotada.
Assim, o pedido de nova adoção formulado pela mãe biológica, em relação à filha adotada por outrem,
anteriormente, na infância, não se afigura juridicamente impossível, sob o argumento de ser irrevogável a
primeira adoção, porque o escopo da norma do art. 39, § 1º, do ECA é proteger os interesses do menor adotado,
vedando que os adotantes se arrependam da adoção efetivada.
Na ação não se postula a nulidade ou revogação da adoção anterior, mas o deferimento de outra adoção.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.293.137/BA, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/10/2022 (Info 754).

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Em processo de apuração de ato infracional, é inadmissível ação rescisória proposta pelo Ministério
Público visando a desconstituição de coisa julgada absolutória

O art. 152 do ECA prevê que estatui que as normas gerais da legislação processual são aplicáveis aos
procedimentos de apuração de ato infracional subsidiariamente.
No caso de processo para apuração de ato infracional, as regras subsidiárias a serem aplicadas ao ECA, são aquelas
relativas ao Código de Processo Penal que estabelece, em seus arts. 621 e 626, que a revisão criminal é cabível tão-
somente contra sentença condenatória e que o julgamento proferido na revisional nunca pode agravar a situação
do condenado.
A admissão de ação rescisória, proposta pelo Ministério Público, visando a rescisão da coisa julgada absolutória
formada no processo de apuração de ato infracional, colocaria o menor em situação mais gravosa do que o adulto,
o que não é admitido por esta Corte Superior.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.923.142/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 22/11/2022 (Info 759).
GUARDA COMPARTILHADA
É possível a modificação do lar de referência de criança sob guarda compartilhada para o exterior,
distinto daquele em que reside um dos genitores

A guarda compartilhada não se confunde com a guarda alternada, tampouco com o regime de visitas ou de
convivência, na medida em que a guarda compartilhada impõe o compartilhamento de responsabilidades, não se
confundido com a simples custódia física conjunta da prole ou com a divisão igualitária de tempo de convivência
dos filhos com os pais.
Diferentemente do que ocorre na guarda alternada, em que há a fixação de dupla residência na qual a prole
residirá com cada um dos genitores em determinado período, na guarda compartilhada é possível e desejável que
se defina uma residência principal para os filhos, garantindo-lhes uma referência de lar para suas relações da vida.
A guarda compartilhada não exige custódia física conjunta, tampouco implica, necessariamente, em tempo de
convívio igualitário, pois, diante de sua flexibilidade, essa modalidade de guarda comporta as fórmulas mais
diversas para sua implementação, notadamente para o regime de convivência ou de visitas, a serem fixadas pelo
juiz ou por acordo entre as partes em atenção às circunstâncias fáticas de cada família individualmente
considerada.
É admissível a fixação da guarda compartilhada na hipótese em que os genitores residem em cidades, estados ou,
até mesmo, em países diferentes, especialmente porque, com o avanço tecnológico, é plenamente possível que, à
distância, os pais compartilhem a responsabilidade sobre a prole, participando ativamente das decisões acerca da
vida dos filhos.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.038.760/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/12/2022 (Info 762).

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Tendo a medida socioeducativa atingido a sua finalidade, é inviável manter a execução apenas pela
menção genérica à insuficiência do tempo de acautelamento do adolescente

Caso concreto: o adolescente cumpria medida de internação. A equipe técnica deu parecer indicando que a medida
imposta já havia cumprido a sua finalidade. A despeito disso, o magistrado e o TJ mantiveram a internação por
entenderem que o período pelo qual se encontra acautelado o adolescente não foi suficiente para que ele
refletisse sobre os graves atos que cometeu. Ocorre que esse argumento não possui amparo legal. Além disso, a
alegada insuficiência do período em que acautelado não está ancorada em qualquer critério legal aferível,
controlável.
Desse modo, como esse fundamento invocado não tem previsão legal, torna-se arbitrária a manutenção da medida
de internação.
Considerando os postulados da brevidade e da excepcionalidade, que na execução da medida socioeducativa
restringem a intervenção do Estado ao necessário para atingimento da finalidade da medida, inviável manter a
execução apenas pela menção genérica à insuficiência do tempo, a despeito, ainda, da menção ao histórico
infracional do menor.
STJ. 6ª Turma. HC 789.465/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 7/2/2023 (Info 763).
APURAÇÃO DE ATOS INFRACIONAIS
A oitiva do representado deve ser o último ato da instrução no procedimento de apuração de ato
infracional

O art. 400 do CPP afirma que o interrogatório será realizado ao final da instrução criminal.
O art. 184 do ECA, diferentemente do CPP, prevê que a oitiva do adolescente infrator e de seus pais é o primeiro
ato.
Existe, portanto, uma antinomia aparente de segundo grau. Neste caso, em regra, deveria prevalecer o critério da
especialidade. Logo, seria aplicada a regra do ECA (oitiva em primeiro lugar).
Contudo, o STF tem aplicado a orientação firmada no HC 127.900/AM (interrogatório como último ato da
instrução) ao procedimento de apuração de ato infracional, sob o fundamento de que o art. 400 do CPP possibilita
ao representado exercer de modo mais eficaz a sua defesa. Logo, por essa razão, em uma aplicação sistemática do
direito, tal dispositivo legal deve suplantar o estatuído no art. 184 do ECA.
Diante disso, a oitiva do representado deve ser o último ato da instrução também no procedimento de apuração
de ato infracional.
Assim, o adolescente irá prestar suas declarações após ter contato com todo o acervo probatório produzido,
tendo maiores elementos para exercer sua autodefesa ou, se for caso, valer-se do direito ao silêncio, sob pena de
evidente prejuízo à concretização dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
A aplicação do art. 400 do CPP ao procedimento de apuração de ato infracional se justifica também porque o
adolescente não pode receber tratamento mais gravoso do aquele conferido ao adulto, de acordo com o art. 35, I,
da Lei nº 12.594/2012 (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) e o item 54 das Diretrizes das Nações
Unidas para a Prevenção da Delinquência Juvenil (Diretrizes de Riad).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 772.228/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/2/2023 (Info 766).

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