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AO JUÍZO DE DIREITO DA 28ª VARA CÍVEL DA CAPITAL – INFÂNCIA

E JUVENTUDE

LEANDRO JOSÉ PONTES COSTA FILHO, menor, brasileiro,


portador de RG nº 4393830-2 SSP/AL, inscrito sob o CPF nº
142.099.594-48, neste ato representado por sua genitora
MARIA CLARA AMORIM DE MORAES OLIVEIRA, brasileira,
solteira, estudante, portadora do RG nº 3852923-8 SSP/AL,
inscrita no CPF sob o nº 099.898.374-81, ambos residentes e
domiciliados na Rua Industrial Climério Sarmento, nº 114,
Edf. Blue Tower, Apto. 604, Jatiúca, Maceió/AL, CEP:
57.036-590, neste caso o genitor advoga em causa própria,
vem perante Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO COMINATÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADO

Em face do MUNICÍPIO DE MACEIÓ, pessoa jurídica de


direito público, inscrita no CNPJ nº 12.200.135/0001-80,
representada pela Procuradoria Geral do Município,
localizada na Rua Dr. Pedro Monteiro, nº 291, Centro,
Maceió/AL, CEP 57020-380, expondo, para tanto, os
argumentos de fato e direito abaixo.

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1. PRELIMINARMENTE:
1.1 DA COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA VARA DA INFÂNCIA E DA
JUVENTUDE.

O Estatuto da Criança e do adolescente dispõe em seu


capítulo VII acerca da proteção judicial dos interesses
individual, difusos e coletivos da criança e do
adolescente. Dentro esses interesses se encontram o
atendimento educacional especializado aos portadores de
deficiência e o acesso às ações e serviços de saúde,
vejamos:

Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei


as ações de responsabilidade por ofensa aos
direitos assegurados à criança e ao
adolescente, referente ao não fornecimento ou
oferta irregular:
[...]
II – de atendimento educacional especializado
aos portadores de deficiência;
VII – de acesso à ações e serviços de saúde;

Em razão disso as ações que abrangem discussão acerca


do direito à educação da criança e do adolescente (como
ocorre no caso em comento) devem tramitar na Vara de
Infância e Juventude do local onde ocorreu a referida ação
ou omissão

Eis a previsão constante na Lei nº 8.069/90 (Estatuto


da Criança e do Adolescente):

Art. 148. A Justiça da infância e da juventude


é competente para:
[...]
IV – conhecer de ações civis fundadas em
interesseis individuais, difusos ou coletivos
afetos à criança e ao adolescente, observado o
disposto no art. 209;
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo
serão propostas no foro do local onde ocorreu
ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo
terá competência absoluta para processar a
causa, ressalvadas a competência da Justiça
Federal e a competência originária dos
tribunais superiores.

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Outrossim, cumpre ressaltar que a competência da Vara
da Infância e Juventude é absoluta por se tratar de
competência exclusiva em razão da matéria, motivo pelo qual
se mostra inderrogável.

Sobre o tema, eis o entendimento do Tribunal de


Justiça de Alagoas:

ACÓRDÃO N.º 1.1330/2011 EMENTA: AGRAVO


REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL.
PROCESSUAL CIVIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE. ELEIÇÃO PARA CONSELHO TUTELAR.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA VARA DA INFÂNCIA E DA
JUVENTUDE DA CAPITAL EM RAZÃO DA MATÉRIA. ART.
148 DO ECA. QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA. EFEITO
TRANSLATIVO. CONHECIMENTO DE OFÍCIO. AGRAVO
REGIMENTAL CONHECIDO E DESPROVIDO. DECISÃO
MONOCRÁTICA MANTIDA. UNANIMIDADE. 1. O agravo
de instrumento opera, dentre seus atributos
recursais, os efeitos devolutivo e
translativo, os quais autorizam o órgão
julgador ad quem a apreciar, de ofício,
matéria de ordem pública, como é o caso da
competência jurisdicional definida em razão da
matéria. 2. Segundo a ampla jurisprudência dos
tribunais estaduais: O processo de escolha dos
conselheiros tutelares envolve interesses
difusos das crianças e dos adolescentes e,
sendo assim, a competência para julgamento da
ação mandamental é do Juízo de Infância e
Juventude, nos termos do artigo 148, inciso
IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente.
3. A competência da Justiça da Infância e da
Juventude, por ser fixada em razão de sua
natureza (matéria), é absoluta. 4. Remessa dos
autos ao juízo competente e decretação da
nulidade de todos os atos decisórios
praticados, preservando-se as diligências
meramente procedimentais já efetuadas. Redação
do art. 113, § 2º, CPC. 5. Agravo regimental
conhecido e, no mérito, desprovido. Decisão
unânime. Manutenção da decisão monocrática
proferida pelo relator. (TJ-AL - AGV:
00007127620118020000 AL 0000712-
76.2011.8.02.0000, Relator: Des. Tutmés Airan
de Albuquerque Melo, 1ª Câmara Cível, Data de
Publicação: 19/10/2011). – Destacamos.

Destarte, caso este processo seja distribuído para


vara diversa daquela cuja competência é privativa/absoluta
para julgar esta lide, qual seja, uma das Varas da

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Infância e da Juventude da Capital , requer-se, desde já,
sejam os autos remetidos ao juízo cometente.

1.2 DA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA.

Consoante o parágrafo único do art. 2º da Lei nº


1.060, de 5 de fevereiro de 1950, “Considera-se
necessitado, para fins legais, toda aquele cuja situação
econômica não lhe permita pagar às custas do processo e os
honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou
da família”.

Ademais, o caput do art. 4º desse mesmo diploma legal


reza que “A parte gozará dos benefícios da assistência
judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição
inicial, de que não está em condições de pagar as custas do
processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio
ou de sua família”.

O Autor não reúne qualquer condição de custear as


mínimas despesas decorrentes do processo (declaração em
anexo), motivo pelo qual se vale da legislação referida
para requerer lhe sejam concedidos os benefícios da justiça
gratuita.

Eis que o Demandante é portador de paralisia cerebral


forma diatônica com comprometimento motor, sendo que todos
os valores que seus genitores auferir são utilizados não só
para o sustento de sua família, mas também (e de maneira
menos importante), na tentativa de disponibilização do
tratamento de saúde caríssimo que o autor necessita, não
sendo possível o pagamento das custas processuais sem que o
sustento da família e/ou o tratamento imprescindível para o
desenvolvimento do Autor sejam prejudicados, motivo pelo
qual o genitor do Demandante se declara pobre nos termos do
art. 4º, §1º da Lei nº 1.060/50 bem como do art. 1º da Lei
7.115/83.

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Desta forma, requer o Autor lhe seja deferido o
benefício da justiça gratuita, pelos motivos já alinhavados
e, ainda, por ser a única forma de lhe proporcionar o mais
amplo acesso ao poder judiciário, garantia essa que a
Constituição Federal elegeu no inciso LXXIV, do artigo 5º.

1.3 DA PRIORIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.

A lei nº 13.146/2015 - Estatuto Da Pessoa Com


Deficiência (EDP) ou Lei Brasileira de Inclusão (LBI)
estabeleceu em favor das pessoas com deficiência o direito
à prioridade na efetivação dos seus direitos. Vejamos o que
dispõe o art. 8º da referida legislação:

Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da


família assegurar à pessoa com deficiência, com
prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à
paternidade e à maternidade, à alimentação, à
habitação, à educação, à profissionalização, ao
trabalho, à previdência social, à habilitação e
à reabilitação, ao transporte, à
acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao
turismo, ao lazer, à informação, à comunicação,
aos avanços científicos e tecnológicos, à
dignidade, ao respeito, à liberdade, à
convivência familiar e comunitária, entre
outros decorrentes da Constituição Federal, da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das
leis e de outras normas que garantam seu bem-
estar pessoal, social e econômico.

Nesta mesma linha, o Art. 9º, VII da referida lei


enfoca que:

Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a


receber atendimento prioritário, sobretudo com
a finalidade de: (...) 
VII - tramitação processual e procedimentos
judiciais e administrativos em que for parte ou
interessada, em todos os atos e diligências.

Portanto reforça-se o pleito de TRAMITAÇÃO


PRIORITÁRIA desta causa, visto que a condição de pessoa com
deficiência.

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2. DA EXPOSIÇÃO FÁTICA.

O Demandante, atualmente com quatro anos de idade


(nascido em 01/01/2017), fora diagnosticado como portador
de PARALISIA CEREBRAL mista, com espasticidade e componente
diatônico, (CID: G80.9), dependendo completamente de
terceiros em tempo integral para seus cuidados, bem como
assistência nas atividades diárias e rotineiras (tais como
comer, vestir-se, tomar banho etc.)

Tal fato resta relatado por sua médica (doc. em


anexo):

Leandro José Pontes Costa Filho, 1 ano e 9


meses, apresenta quadro de Paralisia
Cerebral mista, com espasticidade e
componente distonico. Tem boa interação,
compreende ordens simples, porém pela
dificuldade motora, não consegue dar função
aos membros superiores. Iniciando controle
cervical, sem controle de tronco.

(...)

Está indicado iniciar escola no próximo


ano, deve ser incluído em escola normal,
com adaptações para sua deficiência física.
Necessita auxiliar pedagógico, durante o
período da aula e necessita adaptação de
cadeira de rodas e cadeira ou cantinho de
posicionamento. (...) (Dra. Vanessa Van der
Linden – CRM/PE 10642).

Pois bem.

O Autor necessita frequentar escola regular, com


adaptações para sua deficiência física, a qual deve ter

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capacidade pedagógica e de estrutura para receber o
Demandante.

Ocorre Excelência que é de conhecimento de toda


população que infelizmente o Município de Maceió, ora Réu,
o qual tem a responsabilidade de fornecer educação de
qualidade, não cumpre o seu papel de forma satisfatória e
esperada.

Tendo os genitores fracassados na tentativa de


conseguir local indicado pelo Réu que pudesse educar o
Demandante de maneira inclusiva, com estrutura física,
adaptações, próximo da residência do Demandante e com
profissionais especializados, sem colocar em risco o seu
desenvolvimento e a sua integridade física – e pela
impossibilidade de os genitores arcarem com os diversos
tratamentos que o Autor precisa, e ao mesmo tempo, pagar
escola particular que forneça tal serviço (as escolas
inclusivas são muito caras e os pais não possuem condições
financeiras para custear a referida despesa) – os genitores
do Demandante precisam com urgência matricular o menor em
escola inclusiva (e que possua profissionais
especializados) tendo em vista que conforme ressaltado pela
neuropediatra do genitor, devido a plasticidade neuronal, o
tratamento precoce tem uma resposta melhor, podendo
modificar a história natural da doença, e por outro lado,
retardar o início do tratamento pode ter impacto negativo
na evolução e consequentemente piora do prognóstico do
demandante, conforme laudo em anexo:

Está indicado iniciar escola no próximo


ano, deve ser incluído em escola normal,
com adaptações para sua deficiência física.
Necessita auxiliar pedagógico, durante o
período da aula e necessita adaptação de

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cadeira de rodas e cadeira ou cantinho de
posicionamento.

É importante ressaltar que, devido a


plasticidade neuronal, o tratamento precoce
tem uma resposta melhor, podendo modificar
a história natural da doença e, por outro
lado, retardar o início do tratamento pode
ter impacto negativo na evolução e
consequentemente piora do prognóstico.
(...) (Dra. Vanessa Van der Linden – CRM/PE
10642).

Logo, percebe-se que, com os recursos admitidos pelos


genitores do Demandante, resta impossível a realização do
seu tratamento completo e da sua educação efetiva, restando
hialino o prejuízo do menor em comento, razão pela qual se
ajuíza a presente ação, buscando a garantia do direito a
educação do Demandante, com a imposição ao Município de
Maceió custeio da educação do Autor em escola especializada
que possibilite o seu desenvolvimento e que seja de acordo
com as necessidades do menor.

3. DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA.
3.1 DO INEXISTENTE ACESSO À EDUCAÇÃO PÚBLICA ESPECIALIZADA
– IMPRESCINDIBILIDADE DE FINANCIAMENTO EDUCACIONAL EM
ESCOLA PARTICULAR INCLUSIVA.

A Constituição Federal prevê em seu art. 6º, a


educação como um direito social, integrante de um rol
mínimo de direitos necessários a uma vida digna, de modo
que a ausência de sua efetividade torna-se ofensa, também,
à dignidade da pessoa humana, violando um dos fundamentos
basilares da República brasileira. Vejamos:

Art. 6º São direito sociais a educação, a


saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, a

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lazer a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Ao mesmo tempo, o artigo 205 da Carta Magna determina


que: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação
para o trabalho.”

Demais disto, o dever dos entes estatais de


disponibilizar adequado acesso à educação (direito de todos
e dever do Estado que deve ser assegurado em caráter
universal) vem expresso no artigo 23 da Constituição
Federal, e é compartilhado pela União, pelos Estados e
pelos Municípios, sendo todos solidariamente responsáveis.
Vejamos o texto legal:

Art. 23 É competência comum da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
V – proporcionar os meios de acesso à cultura,
à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa
e à inovação; - Destacamos.

Já no que condiz à efetivação do dever do Município


com a educação, prevista no art. 211 da Carta Magna
brasileira, tem-se que esta apenas ocorrerá com a garantia
de atendimento educacional especializado, necessário
àqueles portadores de deficiência:

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios organizarão em regime
de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no
ensino fundamental e na educação infantil.

A Constituição Alagoana, por sua vez, reconhece a


educação como direito de todos, prevendo inclusive, o amplo
acesso para pessoas com deficiência, nos seguintes termos:

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Art. 2º É finalidade do Estado de Alagoas,
guardadas as diretrizes estabelecidas na
Constituição Federal, promover o bem-estar
social, calcado nos princípios de liberdade
democrática, igualdade jurídica, solidariedade
e justiça, cumprindo-lhe especificamente:
V – promover e estimular, com a colaboração da
sociedade, amplas oportunidades de educação,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa
humana, ao seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho;
Art. 198. O dever do Estado e do Município com
a educação será efetivada com guarda dos
seguintes princípios:
IV – atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiências, preferencialmente
na rede regular de ensino, garantindo-se-lhes
recursos humanos e equipamentos públicos
adequados;
Art. 232. O Estado promoverá ações permanentes
de prevenção de deficiência física, sensorial e
mental, bem assim desenvolverá programas de
assistência aos portadores de deficiência,
objetivando integrá-los plenamente no convivo
social, mediante a abertura de oportunidades de
educação e de trabalho e a facilitação do
acesso aos espaços públicos e aos transportes
coletivos.

Outrossim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao


disciplinar o direito á educação da criança e do
adolescente, ressaltando a necessidade de atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito


à educação, visando ao pleno desenvolvimento de
sua pessoa, preparo para o exercício da
cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-se-lhes:
I – igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola;
II – direito de ser respeitado por seus
educadores;
III – direito de contestar critérios
avaliativos, podendo recorrer às instâncias
escolares superiores;;
IV – direito de organização e participação em
entidades estudantis;
V – acesso à escola pública e gratuita próximo
de sua residência.
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança
e ao adolescente:
[...]

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III – atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino;

Destarte, visando à consagração do direito magno à


educação, é razoável a intervenção do Poder Judiciário a
fim de determinar o custeio por parte do Demandado, da
educação especializada do Demandante em escola inclusiva
particular, principalmente ao se levar em consideração que
o Estado não possui capacidade de receber e educar o
Demandante.

Ressalta-se, ainda, que uma das poucas (se não a


única) escola particular do Município de Maceió que recebe
crianças com deficiência física – proporcionando a sua
verdadeira inclusão – é o Centro Pedagógico Educar e
Construir Ltda. (Escola CPEC), localizada na Avenida
Empresário Carlos da Silva Nogueira, nº 700, Jatiúca,
Maceió, Alagoas, (82) 3235-4034.

Incontestável, outrossim, resaltar que educação a ser


ofertada pelo Município não deve ser apenas admissão do
Demandante em qualquer escola da rede pública ou particular
de ensino, mas sim em uma escola que possa oferecer a
educação inclusiva especializada nas nuances da enfermidade
em comento – consoante destacado pela médica que acompanha
a criança. Eis que algumas escolas se negam a admitir o
Autor como aluno, outros até admitem, mas não dispõem de
meios que possam lhe proporcionar a educação inclusiva à
qual possui direito.

Cabe pontuar que os genitores do Demandante não


possuem condições financeiras para ofertar a educação deste
em uma escola regular com a necessidade de pagamento de um
mediador ou em uma escola inclusiva particular, motivo pelo
qual se faz necessário o custeio da educação especializada
do Autor por parte do Município de Maceió.

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Sobre o tema, o Ministro Herman Benjamin, do Superior
Tribunal de Justiça, explicou em seu voto o seguinte:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 663.112 - SP


(2015/0033931-2) RELATOR : MINISTRO HERMAN
BENJAMIN AGRAVANTE : FAZENDA DO ESTADO DE SÃO
PAULO PROCURADOR : RITA DE CÁSSIA GIMENES
ARCAS E OUTRO (S) AGRAVADO : MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO DECISÃO Trata-
se de Agravo de decisão que inadmitiu Recurso
Especial (art. 105, III, a e c, da CF)
interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo cuja ementa é a
seguinte: Ação civil pública julgada
procedente impondo ao Estado o dever de
contratar profissional cuidador. Apelação e
recurso oficial. Alunos da rede pública de
ensino com necessidades especiais. Ditames
legais previstos na Constituição Federal e 110
Estatuto da Criança e do Adolescente. Direito
não efetivado com a edição do denominado
"Projeto Cuidadores". Ausência de violação ao
princípio da separação dos poderes.
Precedentes. Recursos oficial e voluntário
improvidos. [...] Ademais, o Tribunal local
consignou que "não há qualquer comprovação da
existência de cuidadores nas escolas públicas
da Comarca de Brotas": Com efeito, a presente
demanda foi proposta justamente em razão da
omissão do Estado na implementação da política
pública necessária para atender as crianças
portadores de especialidades. O mencionado
projeto não traduz efetividade do direito
postulado, pois trata apenas de ações futuras
e ainda não colocadas em práticas. Ora,
exatamente pelo fato de não ter o Poder
Público garantido o direito fixado pela Carta
Maior e pela Lei Ordinária, inviável acolher a
tese de que a apelante já promove ações no
sentido de estabelecer padrões de atendimento
do quanto pleiteado. Ademais, a apelante não
trouxe qualquer elemento de convicção no
sentido de demonstrar que, na prática, promove
o atendimento necessário às crianças
matriculadas na rede pública e que são
portadoras de especialidades . O autor, por sua
vez, trouxe com a inicial prova da necessidade
de contratação de cuidador para atender a
criança Marcelo (fls.26/29), portador de
autismo e matriculado na rede regular de
ensino estadual. Os documentos acostados aos
autos são suficientes para a comprovação do
direito da criança à prestação positiva do
Estado, restando clara a necessidade de
auxílio de terceiros para que tenha garantido

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o acesso à educação. Assim, não há como
sustentar que o Poder Público tem promovido o
direito à educação das crianças portadoras de
necessidades especiais, uma vez que não há
qualquer comprovação da existência de
cuidadores nas escolas públicas da Comarca de
Brotas. A insurgente não infirma tal
fundamento. [...] Brasília (DF), 20 de março
de 2015. MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator (STJ
- AREsp: 663112 SP 2015/0033931-2, Relator:
Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de Publicação:
DJ 17/04/2015). – Destacamos.

Resta evidente, assim a obrigação do Município de


Maceió em proporcionar ao Demandante educação inclusiva com
meios para a efetivação de seu ensino especial e a
procedência da presente ação é a única via a ser trilhada,
com condenação do Ente Público Municipal a custear a
educação do Demandante em escola partícula inclusiva, mais
precisamente, na Escola CPEC, localizada em Maceió, que
apresenta profissionais especializados nos termos
destacados pela médica do Autor, mormente em decorrência
deste não ter conseguido encontrar escola pública municipal
que atendesse as necessidades do Demandante.

3.2 DA DESCESSIDADE DE ESGOTAMENTO DAS VIAS


ADAMINISTRATIVAS.

No que concerne ao argumento da imprescindibilidade de


prévio pedido administrativo, é inconteste que o Autor
necessita de imediato começar a frequentar a escola para
que possa ter uma melhora no seu estado psicossocial, bem
como, em razão da plasticidade neuronal da criança, pode-se
mudar a história natural da doença.

Ademais, é cediço que, em razão dos princípios


constitucionais do livre acesso à justiça e da
inafastabilidade da tutela jurisdicional, previsto no art.
5º, XXXV, da CF/88, o esgotamento das vias administrativas

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para ajuizamento de ação judicial não é medida
imprescindível.

No presente caso está plenamente comprovado o


interesse de agir da autora, pela demonstração clara do
binômio necessidade e utilidade, respectivamente na
necessidade de obter tutela judicial para garantia da
educação do requerente.

Ademais, a jurisprudência é pacífica no sentido de ser


desnecessário o requerimento administrativo antes do
ajuizamento da ação, conforme se demonstra:

APELAÇAO CÍVEL. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.


DESNECESSIDADE DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA UNIÃO, DOS
ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS.
COMPETÊNCIA COMUM EM MATÉRIA DE SAÚDE. AUSÊNCIA
DE VIOLAÇAO DO PRINCÍPIO DA SEPARAÇAO DOS
PODERES. CONDENAÇAO DO MUNICÍPIO AO PAGAMENTO
DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS AO
FUNDO DE APARELHAMENTO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO:
POSSIBILIDADE. APELAÇAO CONHECIDA
EIMPROVIDA.1. Inexiste carência de ação, por
ausência de interesse de agir, pelo simples
fato de a demanda em que se pretende a
condenação do Município ao fornecimento de
medicamentos não haver sido precedida de
requerimento na esfera administrativa.2. Não se
afigura necessário o chamamento do Estado do
Espírito Santo ao processo, em se tratando de
demanda referente ao dever de fornecimento de
medicamentos. Afinal, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios têm
competência comum em matéria de saúde, sendo
solidária a responsabilidade de todos os entes
políticos no tocante a tal mister (art. 23,
III, da CF/88).23IIICF/883. Face ao direito à
saúde (art. 196 da CF/88), o princípio da
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da
CF/88) e ao direito à vida (art. 5º,caput, da
CF/88), deve ser mantida a sentença que condena
o Estado ao fornecimento do medicamento a que
faz jus a apelada, por tempo
indeterminado.196CF/881ºIIICF/885ºCF/884.
Inocorre violação ao municipal ao fornecimento
de remédios. Em primeiro lugar, decorre a
condenação da garantia da inafastabilidade do

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controle jurisdicional (art. 5º, XXXV, da
CF/88), invocado, no caso, para a tutela do
direito constitucional à saúde. Até porque, no
conflito entre, de um lado, a separação dos
poderes e, de outro, a dignidade humana e o
direito à saúde, devem estes últimos
prevalecer.5ºXXXVCF/885. Embora se reconheça a
impossibilidade de condenação de Estado ao
pagamento de honorários advocatícios em causas
patrocinadas pela Defensoria Estadual (a fim de
evitarse a confusão patrimonial), o mesmo não
ocorre quando a condenação recai sobre
Município. Nessa segunda hipótese, é possível a
condenação ao pagamento da verba sucumbencial
em favor do Fundo de Aparelhagem da Defensoria
Pública do Estado do Espírito Santo, ante a
inocorrência de confusão patrimonial.6.
Apelação conhecida e improvida. (11070183675 ES
011070183675, Relator: RONALDO GONÇALVES DE
SOUSA, Data de Julgamento: 14/10/2008, TERCEIRA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 29/10/2008)

FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTO. AUSÊNCIA


DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. DESNECESSIDADE.
LEGITIMIDADE PASSIVA DO MUNICÍPIO E DO ESTADO
DE SANTA CATARINA. SOLIDARIEDADE ENTRE OS ENTES
FEDERADOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA.
IRRELEVÂNCIA. DIREITO À PRESERVAÇÃO DA SAÚDE E
DA VIDA. (305186 SC 2008.030518-6, Relator:
Newton Janke, Data de Julgamento: 31/05/2010,
Segunda Câmara de Direito Público, Data de
Publicação: Apelação Cível n. 2008.030518-6, de
Itajaí).

Com base no exposto, temos comprovado no presente caso


o interesse necessidade do Autor em buscar junto ao Poder
Judiciário o que lhe é de direito.

4. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA.

De acordo com o artigo 300 do Código de Processo


Civil, o juiz concederá a tutela antecipada se verificar
elementos que evidenciem a probabilidade do direito – fumus
boni iuris - e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo, senão vejamos:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida


quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo.

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(...)
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia.

Pois bem.

No caso em comento imprescindível se apresenta a


concessão de uma tutela antecipada para conter os meios de
coerção ilegal que acarretarão severos prejuízos ao
Demandante até que esta lide venha a ser julgada de maneira
definitiva – restam comprovadas nestes autos todos os
requisitos necessários à concessão da tutela antecipada,
senão vejamos.

Quanto ao fumus boni iuris, existe prova inequívoca


nos autos (mediante documentação anexa) de que o Demandante
é portador de paralisia cerebral forma diatônica com
comprometimento motor (CID – G80.9) e que apresente
dificuldade na ganha de peso, até porque, Excelência,
ninguém vem a Juízo, com um quadro de tamanha gravidade,
por mera graciosidade ou brincadeira. O caso existe e exige
solução rápida, devendo o Poder Judiciário agir de forma
célere na questão que lhe é posta, sob pena de ser
responsabilizado pela inércia.

Demonstrando, pois, com clareza solar, que o Autor


está tendo seu direito à educação violados ante a omissão
do Demandado em não fornecer educação especializada. Tudo o
que fora alegado pelo Demandante resta comprovado
inequivocamente, estando, assim, preenchido o primeiro dos
requisitos necessários à concessão da antecipação da
tutela.

Quanto ao periculum in mora, resta demonstrado visto


que com o passar do tempo, o seu cognitivo fica cada vez
mais comprometido, motivo pelo qual ele precisa frequentar
escola inclusiva (e que possua profissionais

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especializados) com urgência, consoante explica a médica
especialista que acompanha o demandante (doc. anexo):

Está indicado iniciar escola no próximo


ano, deve ser incluído em escola normal,
com adaptações para sua deficiência física.
Necessita auxiliar pedagógico, durante o
período da aula e necessita adaptação de
cadeira de rodas e cadeira ou cantinho de
posicionamento.

É importante ressaltar que, devido a


plasticidade neuronal, o tratamento precoce
tem uma resposta melhor, podendo modificar
a história natural da doença e, por outro
lado, retardar o início do tratamento pode
ter impacto negativo na evolução e
consequentemente piora do prognóstico.
(...) (Dra. Vanessa Van der Linden – CRM/PE
10642).

Sendo assim, percebe-se claramente que a não


concessão da tutela antecipada vindicada, a demora na
prolação de sentença de mérito, implicará num ônus
insuportável para o Demandante, qual seja, ao de ver
violada a sua garantia à educação – garantias estas
previstas na Constituição Federal e estabelecida como dever
do Município em prestá-las.

Cabe pontuar que, em caso análogo ao do Demandante, a


28º Vara Cível da Capital (Processo 0737851-
13.2014.9.02.0001) decidiu nos seguintes termos:

Neste esteio, requer o Demandante que lhe SEJA DE


IMEDIATO CONCEDIDA A TUTELA ANECIPADA VINDICADA, inaudita
alters parts, para obrigar o Demandando a proporcionar ao
Demandante a educação em escola particular inclusiva, mais

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precisamente, na Escola CEPC, localizada em Maceió, que
apresenta profissionais especializados nos termos
destacados pela médica do Autor, mormente em decorrência do
Estado não possuir local adequado para receber o menor.

Caso não o Ente público não cumpra com a determinação


judicial que certamente concederá a tutela antecipada
vindicada, requer-se, desde já, o bloqueio de verbas
públicas municipais, a fim garantir o montante necessário
ao financiamento da educação inclusiva (durante o período
mínimo de 6 (seis) meses).

Importante ressaltar que a Jurisprudência pátria é


sólida quanto à possibilidade de tal bloqueio, quando da
inércia do ente estatal na disponibilização do tratamento
médico e de educação, por ser este o meio eficaz de
realização e efetivação do direito do cidadão à saúde e à
educação. Vejamos:

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO


REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. SÚMULA N.
182/STJ. CUSTEIO DE MEDICAMENTO. DIREITO À VIDA
E À SAÚDE. BLOQUEIO DE VALORES EM CONTAS
PÚBLICAS. POSSIBILIDADE. ART. 461, § 5º, DO
CPC. 1. "É inviável o agravo do art. 545 do CPC
que deixa de atacar especificamente os
fundamentos da decisão agravada" (Súmula n. 182
do STJ). 2. A Constituição Federal excepcionou
da exigência do precatório os créditos de
natureza alimentícia, entre os quais incluem-se
aqueles relacionados à garantia da manutenção
da vida, como os decorrentes do fornecimento de
medicamentos pelo Estado. 3. É lícito ao
magistrado determinar o bloqueio de valores em
contas públicas para garantir o custeio de
tratamento médico indispensável, como meio de
concretizar o princípio da dignidade da pessoa
humana e do direito à vida e à saúde. Nessas
situações, a norma contida no art. 461, § 5º,
do Código de Processo Civil deve ser
interpretada de acordo com esses princípios e
normas constitucionais, sendo permitida,
inclusive, a mitigação da impenhorabilidade dos
bens públicos. 4 - Agravo regimental não-
provido.(STJ - AgRg no REsp: 795921 RS
2005/0184942-7, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO

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DE NORONHA, Data de Julgamento: 14/03/2006, T2
- SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ
03/05/2006 p. 189). – Destacamos.

5. DOS PEDIDOS.

Antes o exposto, o Demandante requer, que Vossa


Excelência se digne a:

a) Acolher todas as preliminares, quais sejam:

a.1) Que estes autos sejam remetidos a uma das Varas


da Infância e Juventude da Capital (competência
privativa/absoluta), caso este processo seja
distribuído para vara diversa daquela;

a.2) Conceder ao Demandante o benefício da justiça


gratuita, em razão da impossibilidade de pagamento
das custas processuais sem que o sustento da família
do Demandante e/ou tratamento imprescindível para o
seu desenvolvimento seja ainda mais prejudicados, e
por ser a única forma de lhe proporcionar o mais
amplo acesso ao poder judiciário, garantia essa que a
Constituição Federal elegeu no inciso LXXIV, do
artigo 5º;

a.3) Garanta prioridade na tramitação, haja vista o


Demandante ser criança com deficiência, nos termos do
Art. 9º, VII, lei nº 13.146/2015;

b) Que seja CONCECIDA A TUTELA ANTECIPADA VINDICADA, inaudita


altera pars, expedindo-se mandado judicial, em caráter de
extrema urgência, determinando que o Município de Maceió
patrocine (diante da impossibilidade dos genitores do
Autor) a educação do Demandante, devendo para tanto
realizar matrícula do Demandante (e mensalidades) em escola
particular inclusiva, mais precisamente, na Escola CPEC,
localizada em Maceió, que apresenta profissionais
especializados nos termos destacados pela médica do Autor,

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mormente em decorrência de o Réu não fornecer escola
especializada. Em caso de descumprimento do Demandado (após
sua devida intimação) da tutela antecipada que certamente
será concedida, que seja arbitrada por Vossa Excelência,
multa diária em cumprimento do artigo 645, do CPC, sem
prejuízo da responsabilização por outros danos a serem
causados pela recursa injustificada do Réu.

c) A citação do Município de Maceió por meio do seu


representante legal, para, querendo, contestar a presente
demanda, sob pena de revelia;

d) No mérito, que seja JULGADA PROCEDENTE A PRESENTE AÇÃO com


vistas a determinar que o Município de Maceió, forneça
educação inclusiva que o Demandante precisa, nos termos
acima transcritos, pelo tempo necessário em que ocorrer a
prescrição médica, mediante relatório circunstanciado da
sua necessidade, condenando o requerido em todos os ônus da
sucumbência, honorários advocatícios, periciais e demais
cominações legais.

Protesta o Demandante provar o alegado por todos os


meios da prova admitidos em direito.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.100,00 (mil e cem


reais), meramente para efeitos fiscais.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Maceió/AL, 12 de fevereiro de 2021.

Alberto Jorge Barreto Queiroz Neto


OAB/AL 16.565

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