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O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Marcos - 341.412.418-14, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua
reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
PC-SP
Polícia Civil de São Paulo
Noções de Direito
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PIRATARIA
É CRIME!
Todos os direitos autorais deste material são reservados e
protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial
ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por
escrito da Nova Concursos.
com pena de até um ano de prisão, além de multa (art. 180 do CP).
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NOÇÕES DE DIREITO...........................................................................................................5
CÓDIGO PENAL..................................................................................................................................... 5
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NOÇÕES DE DIREITO
CÓDIGO PENAL
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
Trataremos neste tópico dos crimes contra a vida, que estão incorporados nos arts. 121 ao
128, do Código Penal. Eles tutelam o bem jurídico mais relevante que temos: a vida, nas suas
modalidades intrauterina ou extrauterina. Os crimes contra a vida poderão ser dolosos ou
culposos, sendo que os primeiros poderão ter conduta comissiva ou omissiva.
Homicídio
� Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, sem que necessite de quaisquer
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condições especiais;
2.
� Crime de forma livre: pode ser praticado com qualquer modo de execução (a tiros, faca-
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� Crime plurissubsistente: pode ser praticado por meio de um ou mais atos de execução;
NOÇÕES DE DIREITO
É importante que você saiba as classificações aqui descritas, já que elas são bastante cobra-
das em provas.
O crime de homicídio é dividido em:
z Homicídio Doloso:
z Homicídio Simples
Tanto o sujeito ativo quanto o sujeito passivo do homicídio simples podem ser qualquer
pessoa. A conduta é praticada mediante dolo (vontade consciente do sujeito). O crime se con-
sumará quando ocorrer a efetiva morte da vítima. Admite-se a forma tentada.
Ele é bastante difícil de ser configurado, já que dificilmente ocorre este crime sem que
alguma qualificadora (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos entender, então, que o
homicídio simples é residual, ou seja, será simples o homicídio quando ele não for qualificado.
Sobre o homicídio simples, a informação mais importante é que, em regra, ele não é crime
hediondo; entretanto, se for praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, será crime hediondo.
O homicídio simples só será crime hediondo quando praticado em atividade típica de gru-
po de extermínio, ainda que cometido por um só agente, conforme a primeira parte do inciso
I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990.
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
8-
que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V,
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2.
Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990, com redação dada
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z Homicídio Privilegiado
Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias legais específicas, vinculadas ao tipo penal
incriminador, provocadoras da diminuição da faixa de aplicação da pena, em patamares pré-
via e abstratamente estabelecidos pelo legislador, alterando o mínimo e o máximo previstos
para o crime.
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Para fins do nosso estudo, vamos entender o homicídio privilegiado como uma modalida-
de mais branda do crime de homicídio.
O homicídio privilegiado está previsto no § 1º, art. 121, e configura-se quando o agente
comete o crime amparado por uma das seguintes situações:
Relevante valor social: é aquele crime que atende aos interesses da coletividade, ou
seja, a sociedade o entende como possível e compreensível. Ex.: Indivíduo acaba com a
vida de malfeitor em prol da sociedade;
Relevante valor moral: referente ao valor moral individual, leva-se em conta os inte-
resses do agente. Temos como exemplos ações movidas por compaixão, beneficiação,
amparo. Ex.: Eutanásia;
Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da víti-
ma: como o próprio nome diz, a ação tem que ter acontecido logo após o ato, e o agente
estando sob condições de grandes emoções. O agente deve estar completamente domi-
nado pela situação. Ex.: O marido chega em casa e pega sua companheira em flagrante
com outro indivíduo; dominado pela raiva, sem pensar, e sem controle, acaba matando
o indivíduo.
Importante!
� O agente deve estar sob o domínio de violenta emoção;
� A ação deve ocorrer logo em seguida, ou seja, imediatamente após à injusta provocação;
� Trata-se de repelir injusta provocação e não injusta agressão, vez que, se conside-
rarmos uma injusta agressão, estaríamos frente a uma excludente de ilicitude (legítima
defesa);
� A injusta provocação deve ser da vítima e não de terceiros.
Atenção: as bancas examinadoras costumam alterar o termo domínio por influência!
pode reduzir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
8-
Sobre o homicídio privilegiado, algumas considerações são muito importantes para a sua
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prova:
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cado, não é considerado crime hediondo. Para que seja considerado um crime hedion-
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Exemplo: o crime de homicídio é cometido por dois agentes (Vicente e Gabriel). Gabriel o
pratica sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima;
Vicente, não. Nesta hipótese, Gabriel responderá por homicídio privilegiado e Vicente, por
homicídio.
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z Homicídio Qualificado
No homicídio qualificado, o agente estará submetido a uma pena maior, mais grave. As
qualificadoras são fatores que tornam a conduta praticada pelo agente, de alguma forma,
mais reprovável por parte da sociedade. O Código Penal, no § 2º, art. 121, estabelece as
seguintes qualificadoras:
Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.092, de 1990, com redação dada
por meio da Lei nº 13.964, de 2019, diz que será hediondo o homicídio qualificado em todas
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as hipóteses dos incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII, do § 2º, art. 121, do CP.
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Agora, vamos esclarecer cada um dos incisos do § 2º, art. 121, do CP:
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Se o homicídio é cometido:
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§ 2º [...]
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A 6ª Turma do STJ entende que a comunicabilidade da qualificadora “mediante paga ou
promessa de recompensa” não é automática, tratando-se de qualificadora de natureza pes-
soal, que não irá se comunicar automaticamente ao mandante do crime, respondendo este
na modalidade qualificada, se torpe for o motivo que o levou a pagar pela morte da vítima.1
Importante!
A comunicabilidade da qualificadora ao mandante do crime não é automática e depende-
rá da apuração da motivação de cada um dos agentes.
Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a intenção de matar um desafeto, chamado
Antoniel, pagar R$ 1.000,00 (mil reais) a Fabrício para que este mate Antoniel, a qualificadora
será aplicada a Fabrício; já para Alessandro, o mandante, o homicídio não será necessaria-
mente qualificado.
Motivo torpe refere-se a algo repugnante, nojento, abjeto. Ex.: Matar o pai para ficar com
sua herança. O STJ2 entende que o ciúme, por si só, sem outras circunstâncias, não caracteriza
o motivo torpe.
Temos aqui uma qualificadora de natureza objetiva, relacionada aos meios empregados
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pelo agente para praticar o crime, que podem estar relacionados a meios insidiosos (empre-
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go de veneno), cruéis (asfixia, tortura) ou que possam resultar em perigo comum (fogo,
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explosivo).
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irá se configurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o veneno sem saber que o fazia.
Caso a vítima saiba que está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser aplicada, a de
NOÇÕES DE DIREITO
meio cruel.
Importante: no Direito Penal, o agente é punido, em regra, pelo crime que queria praticar.
Assim, caso o agente queira torturar, mas se exceda e acabe matando a vítima, irá responder
por tortura qualificada pelo resultado morte. Se o agente queria matar e usa a tortura como
meio para atingir a sua finalidade, irá responder por homicídio qualificado pela tortura.
1 STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1681816/GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 03/05/2018.
2 HC 123.918/MG e AgRg no AREsp 569047/PR. 9
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Art. 121 [...]
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;
Nesta forma qualificada, o agente pratica o homicídio para, de alguma forma, garantir
uma vantagem relacionada a um outro crime. Trata-se de uma qualificadora de natureza
subjetiva. A doutrina chama esta qualificadora de conexão instrumental, que pode ser teleo-
lógica ou consequencial.
Conexão instrumental teleológica assegura a execução futura de um outro crime (Homi-
cídio + Crime: garantir a execução de outro crime).
Conexão instrumental consequencial assegura a ocultação, a impunidade ou vantagem
de outro crime, praticado anteriormente (Crime + Homicídio: assegurar a ocultação, impuni-
dade ou vantagem).
Segundo a doutrina majoritária, o crime anterior ou posterior pode ter sido praticado por
uma outra pessoa, não existindo a obrigatoriedade de que seja o próprio autor do homicídio.
Atente-se, pois as bancas examinadoras costumam confundir o candidato ao afirmar que
nesta qualificadora o agente pratica o homicídio para, de alguma forma, garantir uma vanta-
gem relacionada a uma contravenção penal. A qualificadora é relacionada a outro crime
e não contravenção penal. O Direito Penal não admite analogia in malam partem.
Fique atento, pois este dispositivo tem grande incidência em provas de concursos públi-
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Você acertará todos os itens correspondentes quando entender que nem toda morte de
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mulher será considerada feminicídio, mas sim a morte de mulher praticada em razão da
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O Código Penal estabelece que se deve considerar razões de condição de sexo feminino
quando a morte da mulher envolver violência doméstica ou familiar ou menosprezo ou dis-
criminação à condição de mulher. Vejamos:
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O feminicídio ficará configurado com a morte da mulher devido à violência de gênero e
não quando ocorrer a morte da mulher em qualquer situação.
Importante!
Informativo 625 STJ3 Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de
motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação
de violência doméstica e familiar.
Isso ocorre porque o feminicídio é uma qualificadora de natureza objetiva, enquanto o
motivo torpe é uma qualificadora de natureza subjetiva. Sendo assim, é possível o reco-
nhecimento da qualificadora de motivo torpe e do feminicídio ao mesmo tempo, quando
o homicídio for praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar.
Ademais, é importante ressaltar que a pena do feminicídio será aumentada de 1/3 até a
metade em casos de ser cometido nas hipóteses do § 7º, do art. 121. Vejamos:
Grave bem as hipóteses de aumento de pena, pois são cobradas recorrentemente em pro-
vas de concurso público.
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§ 2º [...]
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VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, inte-
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3 HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018. 11
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Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a sua prova que não é a morte de qual-
quer dos agentes ou autoridades citados que irá qualificar o homicídio, mas sim se a morte
deles for praticada no exercício da função (enquanto eles trabalham) ou em razão da função
(devido ao cargo que eles ocupam ou função que eles exercem).
A qualificadora também será aplicada se o homicídio for praticado contra o cônjuge, com-
panheiro ou parente consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos agentes ou autoridades que
vimos, também motivado pela função que os agentes ou autoridades exercem.
Dica
É possível que o homicídio seja privilegiado e qualificado ao mesmo tempo?
Sim, é possível, porém, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva, ou seja,
relacionada aos meios empregados pelo agente para executar o crime.
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio privilegiado-qualificado não será considera-
do hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez.
Trata-se de uma qualificadora de natureza objetiva e deve ser interpretada de acordo com
o Estatuto do Desarmamento e demais normas complementares.
z Homicídio Culposo
O homicídio culposo é aquele em que o agente não quer como o resultado a morte, nem
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assume o risco de realizá-lo, mas acaba causando a morte de alguém por imprudência,
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negligência ou imperícia.
2.
A imprudência fica configurada quando o agente é afoito, praticando conduta não reco-
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mendada pela vida em sociedade. Exemplo: João realiza ultrapassagem em local proibido e
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A negligência, por sua vez, fica configurada quando o agente é omisso ou relapso. Ele não
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Ex.: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia, ao fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bis-
turi dentro do paciente, que vem a óbito.
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Neste caso Adolfo irá responder por homicídio culposo por negligência. Observe que ele é
médico cirurgião, logo, tem perícia para a realização de cirurgias, mas foi omisso ao esquecer
o equipamento dentro do paciente.
Ex.: Teobaldo é médico clínico geral em período de residência. Ele vai fazer uma cirur-
gia renal, erra no procedimento e a vítima morre.
Teobaldo irá responder por homicídio culposo por imperícia, já que faltava a ele aptidão
necessária para realizar perícias.
No caso do homicídio culposo, é possível a aplicação do instituto do perdão judicial, pre-
visto no § 5º, art. 121, do CP:
Você pode entender a aplicação do perdão judicial ao seguinte caso: pai que, por impru-
dência, provoca um acidente de trânsito e mata o próprio filho. Neste caso, as consequências
da infração penal (homicídio) atingem o pai de forma tão grave (a morte de seu filho) que é
desnecessária a aplicação de sanção penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos casos de homicídio culposo.
Falaremos agora das causas de aumento de pena aplicadas ao homicídio.
z Homicídio Majorado
As causas de aumento de pena estão previstas nos § § 4º, 6º e 7º, art. 121. Vejamos:
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou
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foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3
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60 (sessenta) anos.
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4 STJ. 5ª Turma. HC 269038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554). 13
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Já no homicídio doloso, a pena é aumentada de 1/3 quando:
Nos casos do § 6º, a causa de aumento de pena é aplicável tanto ao homicídio simples,
quanto ao homicídio qualificado.
Já quanto ao feminicídio, conforme já vimos, o aumento será de 1/3 até metade, quando
praticado nas circunstâncias do § 7º, art. 121.
No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autolesão, ou seja, uma pessoa não será punida
penalmente caso provoque mal somente a si própria.
O tipo penal que iremos estudar não pune o suicídio, que consiste na eliminação da pró-
pria vida, mas sim a conduta daquele que induz, instiga ou auxilia a prática de um suicídio
ou a automutilação.
Inicialmente, devemos entender o que significa cada um dos verbos que configuram o tipo
penal:
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8-
z Induzir: criar uma ideia que não existe. A vítima nunca pensou em se suicidar e o agente
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2.
z Instigar: reforçar uma ideia que já existe. A vítima pensa ou já pensou em se suicidar e o
41
z Auxiliar: o agente presta auxílio material à vítima. Por exemplo, emprestando uma arma,
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É importante destacar que a consumação do crime do art. 122 dá-se com o mero induzi-
mento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação, ou seja, trata-se de um crime
formal. O crime não depende da ocorrência do resultado morte, mas ocorrendo, acarretará
no reconhecimento de qualificadoras.
Com o advento da Lei nº 13.968, de 2019, na hipótese de a automutilação ou de a tentativa
de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos § § 1º e
2º, art. 129, do CP, a pena cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
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Art. 122 [...]
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, nos termos dos § § 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Essa redação (§ 1º, art. 122, do CP) citada põe fim à discussão sobre a possibilidade de ten-
tativa para o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
Hoje, a lei diz que o crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio e, agora, à
automutilação, admite tentativa. Porém, em caso de consumação do suicídio ou de a automu-
tilação resultar morte, a pena prevista é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
z Forma Qualificada
Com a redação da Lei nº 13.968, de 2019, a pena para o crime de induzimento, instigação e
auxílio ao suicídio e de automutilação é duplicada em dois casos. Vejamos:
Nestes casos, a vítima deve possuir uma capacidade mínima de resistência. Caso a vítima
seja menor, com capacidade de discernimento, o crime praticado será o de homicídio ou
lesão corporal, conforme veremos no § 6º do art. 122.
z Aumento de Pena
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§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computa-
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virtual.
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Caso a conduta seja praticada contra alguém sem qualquer discernimento, por exemplo, uma
criança de 10 anos de idade, não estaremos diante do crime de induzir, instigar ou auxiliar a
prática de suicídio, mas sim diante do crime de homicídio.
Infanticídio
Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
O infanticídio é classificado pela doutrina como crime bipróprio, já que ele exige qualida-
des especiais tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo.
É necessário que o sujeito ativo — quem pratica a conduta — seja a própria mãe e que o
sujeito passivo — quem é ameaçado pela conduta criminosa — seja o próprio filho, para que
este tipo penal fique configurado.
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São outros requisitos que devem estar presentes para configuração do crime de infanticídio:
8-
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2.
O estado puerperal é uma alteração emocional pela qual passam algumas mães durante o
s
período correspondente ao parto. Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou na juris-
co
O Código Penal adota, para o crime de infanticídio, critério fisiológico, também denomina-
do biopsicológico ou fisiopsicológico, afastando-se do sistema psicológico, que exigia o moti-
vo de honra. O simples estado puerperal é apto ao reconhecimento do infanticídio.
Estado puerperal é o conjunto das perturbações psíquicas e fisiológicas sofridas pela
mulher em razão do fenômeno do parto. Diversos fatores como, por exemplo, sofrimento, a
perda de sangue, a angústia, a inquietação ou outros podem levar a parturiente a sofrer um
colapso do senso moral, uma liberação de impulsos maldosos, chegando por isso a matar o
próprio filho.
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A influência do estado puerperal normalmente acontece em qualquer parto, havendo,
inclusive, julgados dispensando a prova pericial para comprová-lo.
O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo após, ou seja, logo em seguida ao par-
to, sem intervalo. Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e se não ocorrer logo
após o parto, será homicídio.
A expressão “logo após o parto” compreende todo o período em que permanecer a influên-
cia do estado puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que predomina o instinto mater-
no, cessa a influência do estado puerperal. Se, não permanecendo o estado puerperal, a mãe
matar o filho, não estaremos diante do crime de infanticídio, mas de homicídio.
O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou eventual.
Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em estado puerperal, logo após o parto, cul-
posamente matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo.
Há certos casos em que a mulher, após o parto, vê-se acometida da chamada psicose puer-
peral, que é uma doença mental que lhe tira totalmente o poder de autodeterminação. Nesta
hipótese, a mãe é considerada absolutamente inimputável, conforme o caput do art. 26, do
CP.
Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência do estado puerperal, tiver outra causa
de semi-imputabilidade, consistente em perturbação da saúde mental, que não lhe retire a
inteira capacidade de entendimento ou autodeterminação, deverá ser aplicada a regra do
parágrafo único, art. 26, do CP, ou seja, a pena do infanticídio poderá ser reduzida de um a
dois terços, ou poderá ser substituída por medida de segurança.
HOMICÍDIO
A parturiente mata o filho sem estar influen-
Homicídio, art. 121, do CP
ciada pelo estado puerperal
INFANTICÍDIO
A parturiente mata o filho sob a influência do
Infanticídio, art. 123, do CP
estado puerperal
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A parturiente mata o filho influenciada pelo Infanticídio, art. 123, combinado com o pará-
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estado puerperal e por apresentar alguma ou- grafo único, do art. 26, do CP
2.
tra causa que lhe tire a plenitude do poder de Redução da pena de um a dois terços, ou me-
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culpabilidade
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NOÇÕES DE DIREITO
Aborto
O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes contra a vida. É tutelado o nascituro
desde a concepção.
O Código Penal não define o aborto. Cabe à jurisprudência e à doutrina defini-lo. De acor-
do com termos relacionados à medicina, aborto é a expulsão do produto da concepção.
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O aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Dessa
definição sobressaem os seguintes elementos necessários à constituição do delito:
O crime de aborto admite tentativa, na hipótese em que se emprega meios abortivos, mas
não sobrevém a morte do feto por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Vejamos as hipóteses de aborto:
z Autoaborto
Art. 124 Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
O autoaborto é o praticado pela própria gestante. Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela
executa diretamente a conduta criminosa. Trata-se de crime de mão própria ou de atuação
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pessoal, pois só pode ser cometido pela gestante em pessoa. O sujeito ativo é a própria ges-
8-
Neste caso temos um crime de mão própria, ou seja, somente pode ser praticado pela ges-
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Importante!
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O crime de aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante é uma exce-
ção a teoria monista adotada pelo Direito Penal. Trata-se da adoção da Teoria Pluralista,
em que a cada agente será atribuído um tipo penal.
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O art. 125, do CP, comina pena de reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos ao aborto provocado
sem o consentimento da gestante.
O não consentimento da gestante é o elemento essencial à configuração do delito e pode
ser:
expresso;
presumido.
Expresso, também conhecido como real, ocorre quando a gestante se opõe ao aborto,
mas é vencida pela violência física, grave ameaça e fraude, ou seja, como exemplos, temos,
respectivamente: chute na barriga, ameaça de matar a gestante se ela não abortar e colocar
substância abortiva na alimentação da gestante, sem consentimento da vítima, mãe.
Presumido é quando a gestante está incapaz de consentir nas formas previstas no pará-
grafo único, art. 126, do CP:
Observe que neste delito do art. 125 o sujeito ativo é o terceiro, aquele que realiza o aborto.
As vítimas, sujeitos passivos, são a gestante e o feto.
Já no art. 126, do CP, o crime de aborto é praticado por terceiro, mas com o consentimento
da gestante. Aqui, temos na condição de sujeito ativo o terceiro e a gestante, e a vítima, sujeito
passivo, apenas o feto.
14
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
1
.4
ameaça ou violência.
-3
s
co
O aborto consentido ocorre quando a gestante permite que outrem o provoque. É essen-
ar
M
consentimento da gestante;
execução do aborto por terceiro.
Observe-se, porém, desde logo, que o aborto consentido é crime bilateral, exigindo a pre-
sença de duas pessoas: a gestante e o terceiro executor.
O terceiro responde pelo art. 126, do CP (aborto consensual), enquanto a gestante, pela 2ª
parte, do art. 124, do CP (aborto consentido).
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O aborto consentido é crime de mão própria ou de atuação pessoal, podendo ser cometido
apenas pela gestante. Mas, evidentemente, admite a presença do partícipe, consistente na
conduta acessória do terceiro que se limita a induzir, instigar ou auxiliar a gestante a con-
sentir na realização do aborto.
z Aborto Qualificado
Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobre-
vém a morte.
As lesões graves são aquelas tipificadas nos § § 1º e 2º, art. 129, do CP.
Dica
Os dois resultados qualificativos do delito, isto é, a morte e a lesão grave, devem ser
imputados ao agente a título de culpa. Estamos diante de hipótese de crime preterdoloso:
o agente age com dolo em relação ao aborto e culpa em relação ao resultado.
Agora, se o agente atua com dolo em relação à morte ou lesão grave, responde por aborto
em concurso formal com o crime de homicídio ou crime de lesão corporal.
z Aborto Legal
14
O art. 128, do CP, estabelece duas modalidades em que o aborto não constitui delito, desde
8-
41
Aborto necessário
s
co
Exclui-se a antijuridicidade, uma vez que a norma penal permite expressamente o aborta-
mento, estabelecendo a licitude do fato.
A doutrina divide o aborto legal da seguinte forma: Aborto necessário ou terapêutico ou
profilático; Aborto sentimental ou humanitário ou ético.
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Aborto necessário é o praticado por médico, se não há outro meio de salvar a vida da ges-
tante, conforme o inciso I, art. 128, do CP, desde que presentes três requisitos:
Perigo real à vida da gestante;
Não haver outro meio de salvar-lhe a vida;
Execução por médico.
O aborto necessário exige perigo à vida, e não à saúde, da gestante.
Quando chamado de terapêutico, tem efeito curativo, e quando profilático, preventivo.
Importante!
ADPF 54 (feto anencéfalo): de acordo com o entendimento do STF, é possível a gestante se
submeter à antecipação terapêutica de parto em caso de anencefalia, desde que diagnos-
ticado por profissional habilitado. O ministro Gilmar Mendes entende que não se deve punir
o aborto praticado por médico, com consentimento da gestante, se o feto é anencéfalo5.
Podemos entender lesão corporal como qualquer alteração ou ofensa provocada na inte-
41
2.
A lesão corporal é comum, material, instantânea e de forma livre; portanto, pode ser prati-
41
cada por qualquer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins de consumação, a condu-
-3
ta não se prolonga no tempo e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas, pauladas,
s
co
As lesões corporais estão previstas no art. 129, do Código Penal, e podem ser divididas da
seguinte forma:
NOÇÕES DE DIREITO
A lesão leve, também chamada de simples, prevista no caput do art. 129, é residual, ou seja,
teremos configurada tal modalidade de lesão, caso não se configure nenhuma das outras.
A lesão corporal qualificada está prevista nos parágrafos 1º, 2º e 3º, do art. 129.
z Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias. É necessário que
a incapacidade dure mais de 30 (trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso contrário, a
14
lesão corporal não será grave. A incapacidade está relacionada a qualquer ocupação habi-
8-
z Perigo de vida;
1
.4
z Aceleração do parto.
s
co
ar
M
Atente-se à seguinte tabela, elaborada para evitar confusões quanto às lesões grave e
gravíssima:
O Código Penal não divide as lesões em graves ou gravíssimas. Para o Código Penal Brasi-
leiro (CPB), todas elas são graves. Esta divisão é uma construção doutrinária.
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
12.
A lesão corporal seguida de morte dar-se-á quando ficar configurado que o agente não
ar
queria o resultado morte (dolo direto no resultado morte) ou assumiu o risco de produzi-lo
M
Se o agente quer matar, ele responderá pelo homicídio. Porém, caso o agente queira apenas
causar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe se excedendo, provocando a morte da
vítima, ele irá responder por lesão corporal seguida de morte, desde que fique evidenciado
que ele não quis nem assumiu o risco de produzir o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um crime preterdoloso, ou seja, é um cri-
me qualificado pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial e culpa no resultado
produzido.
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Lesão Corporal Culposa
A lesão corporal culposa é aquela em que o agente não quer causar lesão corporal na víti-
ma, mas a produz por ter sido imprudente, negligente ou imperito.
É importante compreender que não há gradações na lesão corporal culposa, ou seja, ela
não se divide em leve, grave ou gravíssima, mas tão somente será lesão corporal culposa.
No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o instituto do perdão judicial, podendo o juiz
deixar de aplicar a pena se as consequências da infração penal atingirem o agente de forma
que a aplicação de sanção penal torne-se desnecessária.
Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão corporal culposa.
Os motivos que levam o agente a praticar a lesão corporal privilegiada são os mesmos do
homicídio privilegiado. Como consta no § 4°, art. 129,
Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
14
Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão privilegiada ou nos casos de lesão recíproca
41
(duas pessoas lesionam-se umas às outras), o juiz poderá ainda substituir a pena de detenção
12.
.4
pela de multa.
41
-3
ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
O Código Penal traz disposições específicas para os casos de lesão corporal praticada no
âmbito de violência doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais grave, estando ele
submetido a auto de prisão em flagrante, e não somente a mero termo circunstanciado (salvo
nos casos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte).
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência doméstica se praticada contra as
seguintes pessoas ou nos seguintes casos:
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z ascendente;
z descendente;
z cônjuge ou companheiro;
z quem conviva ou tenha convivido.
É importante mencionar que, caso a vítima seja mulher, teremos a aplicação da Lei
Maria da Penha e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação penal será pública
incondicionada.
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime de lesões corporais. Há diversas cau-
sas de aumento de pena para este crime, portanto, leia-as com bastante atenção.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se:
z Se a lesão corporal for praticada por milícia privada, sob o pretexto de prestação de servi-
41
2.
z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente das forças armadas (Marinha, Exér-
ar
M
cito ou Aeronáutica), das forças de segurança pública (Polícia Federal, Polícia Rodoviária
Federal, Polícia Ferroviária Federal, Policiais Civis, Polícias Militares ou Corpo de Bombei-
NOÇÕES DE DIREITO
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DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Furto
z Furto Simples
O primeiro crime contra o patrimônio é o furto simples, disposto no caput do art. 155, do
CP.
Em síntese, o crime de furto é definido por ser a subtração de coisa alheia móvel para si
ou para outrem.
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, passando-a ao poder do agente. Pode
ocorrer por apoderamento direto, quando o agente apreende a coisa manualmente, ou por
apoderamento indireto, na hipótese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal.
Para entendê-lo, dividiremos o conteúdo em duas partes:
z Subtrair (verbo): consiste no ato de se apossar de propriedade de outra pessoa, seja para
si ou para outra pessoa. Por exemplo, o agente subtrai para si uma bicicleta que estava
estacionada próximo à lanchonete;
z Coisa alheia móvel: é necessário que o objeto material do crime de furto seja coisa móvel
e que pertença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou seja objeto que pertença ao pró-
prio autor, não configurará furto. Exemplo: o agente que, aproveitando da distração da
vítima, subtrai o aparelho celular.
É importante destacar que no delito de furto não há emprego de violência nem grave
ameaça à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de roubo.
14
z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa (por exemplo: o agente sub-
1
.4
z Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, exceto o próprio proprietário do bem;
-3
z Sujeito passivo: qualquer pessoa (ex.: o proprietário, o possuidor ou detentor da coisa legí-
s
co
tima). Neste aspecto, a pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo do crime de furto;
ar
M
z É crime material, que exige a ocorrência do resultado naturalístico para fins de consuma-
ção, ou seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo subtrai a coisa móvel (por exemplo,
quando o agente subtrai a bicicleta);
z O furto só se pratica dolosamente;
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do agente para praticar o furto é fracionada
em diversos atos que, somados, consumam o delito. Portanto, admite a tentativa quando o
agente, por motivos alheios à sua vontade, pratica alguns atos e não ocorre a consumação
do delito. Por exemplo, o agente, com animus de furtar objetos eletrônicos de uma casa,
pula o muro para ingressar no interior da residência, mas o proprietário da casa acorda e
26 acende a luz, momento em que o agente deixa de praticar os demais atos;
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z A coisa sem dono não é objeto de furto;
z Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a subtração de coisa própria, mesmo que
em poder de terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito no art. 346, do CP, ou o
crime de furto de coisa comum (art. 156, do CP);
z Não há furto de coisa abandonada, pois não integra o patrimônio de ninguém;
z Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode configurar o crime do inciso II, do pará-
grafo único, do art. 169, do CP;
z De acordo com a doutrina majoritária, os bens que possuem o valor afetivo ou sentimental
também pode ser objeto material de furto.
A lei tutela a propriedade e a posse. A simples detenção não configura o crime de furto.
Sobre a consumação deste crime, é importante conhecer o posicionamento adotado pelas
cortes superiores (STF e STJ).
Os tribunais superiores adotam a teoria da apprehensio, também chamada de amotio, que
considera consumado o crime de furto com a posse da res furtiva, ainda que por breve espaço
de tempo e seguida de perseguição do agente, sendo prescindível (dispensável) a posse man-
sa e pacífica ou desvigiada do bem furtado.6
Um questionamento oportuno é verificar se o bem subtraído deve ter valor econômico, ou
seja, se o objeto material pode ser negociável.
Vejamos os bens que integram o patrimônio:
z Bens corpóreos, com existência material (por exemplo, um veículo) e incorpóreos, com
existência abstrata (por exemplo, um direito autoral, de valor econômico);
z Bens de valor afetivo ou sentimental (por exemplo, cartas e fotografias);
z Bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor econômico ou sentimental (por exem-
plo, folha de cheque em branco e cartão de crédito).
Portanto, vimos que não se pode restringir o patrimônio às coisas de valor econômico.
Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode ser qualquer pessoa, pois trata-se de crime
14
8-
comum ou geral.
41
Entretanto, existem algumas exceções quando o crime de furto é praticado por pessoas
12.
.4
z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previsto no inciso II, § 4º, do art. 155; por ser
s
co
crime próprio, o agente é aquela pessoa em que a vítima confia (por exemplo: o furto pra-
ar
M
ceiro, não responderá por furto, mas sim pelo crime de exercício arbitrário das próprias
razões (arts. 345 ou 346, do CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima);
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa, o condômino que a subtrair responderá
pelo delito de furto de coisa comum (art. 156, do CP). Por exemplo, um dos condôminos
furta cadeiras da área de uso comum do condomínio;
6 STJ. 3ª Seção. REsp 1524450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info
572). 27
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z O funcionário público que subtrai bem público responderá por peculato-furto (§ 1º, do
art. 312, do CP), desde que a função pública tenha facilitado a subtração, pois, se em nada
facilitou, o delito será de furto (art. 155, do CP).
Funcionário público que subtrai bem particular que se encontra sob a guarda ou custó-
dia da Administração Pública, desde que a função tenha facilitado a subtração, respon-
derá por peculato-furto. Por exemplo: policial rodoviário que subtrai veículo que estava
apreendido no pátio do posto de fiscalização da Polícia Rodoviária;
Funcionário público que subtrai bem particular que não estava sob a guarda ou cus-
tódia da Administração Pública ou estava, mas a função em nada facilitou a subtra-
ção, responderá por furto. Por exemplo: policial rodoviário que subtrai um bem que
se encontrava no porta-malas de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não estava
apreendido, cometerá o crime de furto.
z Furto de coisas ilícitas: podem ser objeto de furto. Por exemplo, responde por furto quem
subtrai mercadoria contrabandeada e, neste caso, a vítima responderá pelo crime de con-
trabando. Por outro lado, as coisas ilícitas não podem ser objeto de furto se constituírem
elemento de outro crime; por exemplo, a subtração de droga é crime do art. 33, da Lei nº
11.343, de 2006; a subtração de arma de fogo é crime do art. 16, da Lei nº 10.826, de 2003;
z Algumas partes naturais do corpo humano: podem ser objeto de furto se passíveis de
figurarem em uma relação jurídica; por exemplo, subtração do cabelo com o fim de obter
lucro. Portanto, a subtração de um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão corpo-
ral grave ou homicídio consumado ou tentado;
z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois constitui delito do art. 211, do CP — destruição,
subtração ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver tem valor econômico, por exem-
plo, sendo pertencente à Faculdade de Medicina, haverá furto. Se houver o furto de algum
objeto que foi sepultado junto ao cadáver (por exemplo, arcada dentária de ouro), o crime
14
8-
z Energia elétrica: discutia se constituía ou não coisa móvel. O legislador penal tipificou o
12.
.4
furto de energia elétrica no § 3º, do art. 155, do CP, equiparando-se a coisa móvel à energia
41
elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico, por exemplo, energia radioativa,
-3
energia cinética, energia atômica, energia genética etc. Porém, a energia deve ser susce-
s
co
tível de apossamento, ou seja, deve poder ser separada da coisa que a produz. Assim, não
ar
M
Furto Qualificado
O furto qualificado é aquele no qual as penas são modificadas nos patamares mínimos e
máximo, aumentando consideravelmente.
Trata-se de qualificado por ter pena própria e não mera causa de aumento de pena. Pode-
mos exemplificar com o caso de o agente furtar objetos eletrônicos de uma casa utilizado
chave falsa para abrir o portão e a porta da casa.
O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:
Destruir é desfazer, demolir. Por exemplo, o agente destrói algo para subtrair a coisa, a
exemplo daquele que arromba o portão de uma casa para entrar e subtrair uma televisão.
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, serrar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o
agente abre a porta da casa com um pé de cabra para entrar e subtrair uma televisão.
Importante: nos termos do art. 171, do Código de Processo Penal, é exigido a realização
de exame pericial para reconhecer a qualificadora. Nos dois casos (destruição e rompimen-
to), o delito deixa vestígios, sendo imprescindível o exame de corpo delito. Caso os vestígios
14
8-
permitirem a confecção do laudo, o exame pericial poderá ser substituído por outros meios
12.
.4
probatórios.
41
O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado, por força do princípio da subsidiarie-
-3
dade implícita.
s
co
Atenção! A destruição e o rompimento são formas de violência que devem ser praticadas
ar
M
contra obstáculo, e não sobre a pessoa. Caso a violência for direcionada à pessoa, estará con-
figurado o crime de roubo.
NOÇÕES DE DIREITO
Obstáculo é aquilo que protege a coisa para dificultar a sua subtração, por exemplo, matar
o cão de guarda da residência, destruir as telhas para adentrar na residência ou, mesmo, cor-
tar os fios do alarme do automóvel ou da cerca eletrificada.
A mera remoção de obstáculo, quando destituída da danificação, não qualifica o furto (por
exemplo, desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da corda que prende a canoa).
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z Com Abuso de Confiança, ou Mediante Fraude, Escalada ou Destreza
No abuso de confiança, o agente se vale de uma relação prévia de confiança entre ele e o
dono, o que faz com que este diminua a vigilância sobre a coisa. O agente utiliza essa confian-
ça para se apoderar da coisa. Podemos citar como exemplo o furto cometido pela empregada
doméstica que, por possuir confiança do dono, detém cópias da chave da casa do patrão e
aproveita essa confiança para subtrai bens no interior da casa.
O uso de fraude fica configurado quando o agente usa de artifício para enganar a vítima
para subtrair a coisa, a exemplo do agente que se passa por funcionário de empresa de tele-
fonia para conseguir entrar em uma casa e subtrair um aparelho celular que nela estava.
Dica
Não confunda o furto mediante fraude com o estelionato.
No furto mediante fraude, o agente usa a fraude sobre a vítima para subtrair a coisa.
No estelionato, o agente emprega a fraude para ludibriar a vítima e fazer com que ela
mesma entregue a coisa.
No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a entrada em um local dá-se por um
meio anormal, que exige do agente esforço físico incomum. Para a doutrina majoritária, não
é relevante se ocorre por cima ou por baixo, desde que o agente não pratique nenhuma for-
ma de destruição ou rompimento de obstáculo, quando aplicaremos outra qualificadora ao
fato. Nos termos do art. 171, do CPP, esta é uma prática que exige perícia para que possa se
configurar a qualificadora.
No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso de alguma habilidade especial, que é
empregada para que a subtração do bem se dê sem que a vítima perceba. Segundo a doutri-
na, o exemplo clássico é o batedor de carteira.
Não há a qualificadora quando a vítima percebe a subtração. Em tal situação, o agente
responde por tentativa de furto simples, ou furto simples consumado, caso consiga arrebatar
14
o objeto.
8-
41
2.
No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o agente faz uso de chave distinta da cha-
s
co
ve original ou de objeto capaz de abrir cadeado ou fechadura (por exemplo, gazuas, pedaço
ar
de arame, micha, clips etc.). Anote-se que a chave falsa pode ou não ter formato de chave. A
M
jurisprudência entende que no caso de furto de veículos realizado por “ligação direta”, não é
possível aplicar a qualificadora do inciso III, § 4º, do art. 155, vez que inexiste o emprego de
instrumentos.
A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicitamente pelo agente, não caracteriza chave
falsa.
A cópia da chave verdadeira, quando obtida licitamente, não é chave falsa. Se, no entanto,
for tirada clandestinamente, incide a qualificadora do crime de furto.
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z Mediante Concurso de 2 (duas) ou mais Pessoas
O § 4º-A, do art. 155, do CP, foi introduzido por meio da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que:
É o único furto que é crime hediondo (inciso IX, do art. 1º, da Lei 8072, de 1990, com reda-
8-
O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo, torna o fato mais grave, justificando-se o
1
.4
Meio explosivo é o que causa estrondo, como, por exemplo, dinamite, pólvora.
-3
Importante destacar que o tipo penal, ao contrário do art. 251, do CP, não se refere à subs-
s
co
tância explosiva, mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utilizado para explodir caixas
ar
M
A Lei nº 14.155, de 2021, incluiu no art. 155, do CP, o § 4º-B, que consiste em modalidade
de furto qualificado (pena de reclusão de 4 a 8 anos, e multa) se o furto é cometido mediante
fraude eletrônica, isto é, se realizado:
malicioso;
12.
Importante!
Para que se configure a modalidade qualificada de furto mediante fraude por meio eletrô-
nico não é necessário que o dispositivo esteja conectado à internet.
A Lei nº 14.155, de 2021, incluiu, também, no § 4º-C, causas de aumento de pena que se
aplicam especialmente ao furto qualificado mediante fraude, previsto no § 4º-B. São duas as
majorantes que consideram a relevância do resultado gravoso:
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z Aumento de 1/3 a 2/3 se o crime for praticado mediante a utilização de servidor mantido
fora do território nacional (dada a dificuldade de repressão a tal crime);
z Aumento de 1/3 ao dobro se o crime for praticado contra idoso ou vulnerável.
Atenção: o § 4º-C prevê o aumento de pena quando a vítima é idosa ou vulnerável. Víti-
ma idosa, para fins penais, é aquela com idade igual ou superior a 60 anos (interpretação
extensiva mais benéfica ao sujeito passivo). Por sua vez, o dispositivo não mencionou quem é
vulnerável para os fins de aplicação da majorante, devendo-se, neste caso, utilizar o conceito
previsto no art. 217-A (menor de 14 anos; ou pessoa que, em razão de enfermidade ou defi-
ciência mental, não tem o discernimento necessário para a prática de certos atos).
z Furto de Veículo Automotor que Venha a Ser Transportado para outro Estado ou para
o Exterior
Já o § 5º, do art. 155, trata de outra importante qualificadora, que ocorre quando há o fur-
to de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.
Vejamos:
Não basta para a incidência da qualificadora, porém, o furto de veículo automotor, pois
ainda se exige o efetivo transporte para outro Estado ou para o exterior. Ou seja, para a con-
sumação do crime, é necessária a efetiva transposição dos limites geográficos.
Veículo automotor engloba, por exemplo, carros, motos, lanchas, aviões etc., porém, a qua-
lificadora é somente aplicável em caso de transposição de veículos e não abrange a transpo-
sição de partes deste (ex.: porta, motor).
14
Não é necessário que o transporte para outro Estado ou exterior seja realizado pelo pró-
8-
prio agente. Basta que o agente saiba da intenção de eventual receptador de transportar o
41
2.
Quem realiza o transporte após a consumação do furto responde pelo crime de recepta-
41
ção. Por consequência, o agente que é contratado para realizar o transporte responde pelo
-3
furto, se o contrato for anterior à subtração, e por receptação, se só foi contratado após a
s
co
consumação.
ar
M
A mera condução do veículo para outro Estado ou exterior, com o intuito de retornar ao
local de origem, é insuficiente para a caracterização da qualificadora.
Admite-se a tentativa quando o agente realiza a subtração e é preso em flagrante, próximo
à transposição da fronteira, antes de obter a posse pacífica. Sabemos que a jurisprudência
considera o furto consumado como o simples apossamento do bem, independentemente da
posse pacífica. Porém, a tentativa tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do
bem, o furto já se consuma nas modalidades anteriores, ainda que o agente seja preso próxi-
mo à fronteira.
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z Furto de Semovente Domesticável
Por semovente domesticável podemos entender os animais — como bovinos, suínos, equi-
nos, caprinos, aves — criados com o fim de abate, exploração, procriação ou comercialização.
Não se incluem nesse crime os animais domésticos, não voltados para reprodução.
O animal, para caracterizar esta qualificadora, pode ser furtado tanto vivo quanto abatido,
ainda que em partes, no local da subtração.
O bem jurídico primário é o patrimônio do produtor e, o secundário é a saúde pública.
Isso porque o animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem que haja fiscalização do
poder público, principalmente sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na condição de
patrimônio lesado.
Na prática, dificilmente esta qualificadora será aplicada, pois este tipo de delito geralmen-
te é praticado por mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá a qualificadora do inciso IV, §
4º, do art. 155, do CP, que é mais grave.
Com efeito, presente uma das qualificadoras do § 4º, exclui-se a incidência da qualifica-
dora em apreço, pois sua pena é mais branda, podendo funcionar, nesse caso, como circuns-
tância judicial do art. 59, do CP, servindo de parâmetro apenas para dosagem da pena-base.
Entretanto, existe outra corrente mais favorável ao réu que, com base no princípio da espe-
cialidade, afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de semovente domesticável de pro-
dução, impondo-se, nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, considerando-a novatio
legis in melius.
O objeto material é o animal domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em
partes no local da subtração.
Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a definição desse elemento normativo é com-
plementada pelo juiz.
14
8-
Para a incidência da qualificadora, é necessário que o agente subtraia o animal por inteiro
41
ou na sua essência. O tipo penal refere-se à subtração de semovente, e não de partes dele, de
12.
modo que, quando o animal já estava abatido ou dividido em partes, a incidência da qualifi-
.4
41
Na hipótese de o agente deixar no local apenas as patas do boi e subtrair o restante, per-
s
co
siste a qualificadora. Não teria cabimento, por exemplo, qualificar o delito pelo furto de uma
ar
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z Subtração de Substâncias Explosivas ou de Acessórios que, Conjunta ou Isoladamen-
te, Possibilitem sua Fabricação, Montagem ou Emprego
Furto Majorado
O furto será majorado quando a ele for aplicada a causa de aumento de pena prevista no
14
8-
Sobre o repouso noturno, considere que, segundo o STJ (jurisprudência atual), a causa de
ar
M
As duas teorias são aceitas, mas devemos compreender que incide o aumento de um terço
não só em furtos de residência, mas também em bancos, joalherias, casas comerciais, bem
como de automóveis estacionados na rua, de gado (abigeato).
Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o local seja área comercial ou local
desabitado.
Furto Privilegiado
Na verdade, trata-se de crime com diminuição de pena, uma vez que diminui a pena em
uma porcentagem ou aplica somente a pena de multa (para ser privilegiado, o tipo deveria
fixar novos valores mínimos e máximos de pena).
Está previsto no § 2º, do art. 155, do CP. Ocorre, por exemplo, no caso de agente, primário,
que subtraiu uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é inferior ao salário mínimo.
São características do furto privilegiado:
z réu primário;
z coisa furtada de pequeno valor (segundo a jurisprudência, até 1 salário mínimo).
No caso do furto privilegiado, o juiz poderá adotar uma das seguintes medidas:
14
8-
41
Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilégio para o furto simples ou para o furto qua-
ar
lificado; entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser de natureza objetiva (emprego
M
O termo “pequeno valor da coisa” é entendido, pela jurisprudência, como o valor não exce-
dente ao valor do salário mínimo. É necessário o auto de avaliação. É claro que o referencial
do salário mínimo não é tão rígido, admitindo-se o privilégio quando a coisa excede modica-
36 mente esse valor.
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Considera-se “ordem subjetiva” a hipótese de furto qualificado por abuso de confiança.
Deve-se identificar a confiança da vítima para com o agente. Por isso, não se trata de furto
privilegiado.
A regra é que as qualificadoras do crime de furto são objetivas, por exemplo, emprego de
chave falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto qualificado.
Furto de Uso
Esta conduta não exige a intenção de se apoderar, para si ou para outra pessoa, da coisa
alheia móvel que foi subtraída.
O furto de uso é fato atípico; tal instituto não se aplica ao crime de roubo.
Por exemplo, se o agente subtrai a coisa com a intenção de usar e devolver depois, não
cometerá o crime de furto.
Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta, devolvendo-a após dar uma volta no
quarteirão, não se configura crime de furto.
O reconhecimento do furto de uso necessita da presença de dois requisitos:
z Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o uso duradouro constitui crime de furto.
Tratando-se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso momentâneo seguido da pronta
restituição exclui o delito;
z Restituição imediata e integral da coisa. Nesta hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do
furto de uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a subtraiu ou nas proximidades.
Art. 156 Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitima-
mente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
14
§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que
41
Acabamos de dizer que é necessário que a coisa seja alheia no crime de furto. Entretanto,
-3
O furto de coisa comum irá se configurar quando o agente for condômino, coerdeiro ou
ar
M
sócio, e subtrair, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, coisa comum.
Temos aqui um crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo condômino, coer-
NOÇÕES DE DIREITO
deiro ou sócio.
É crime de ação penal pública condicionada à representação.
O Código Penal é expresso ao fixar que, se a coisa comum for fungível (substituível por
outra da mesma espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a sua subtração caso o
valor não exceda a quota a que tem direito o agente.
Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego sejam sócios. A sociedade é avaliada no valor
de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). As partes na sociedade são iguais. Assim, caso
Alessandro subtraia R$ 50.000,00 (cinquenta mil), não cometerá crime, já que o valor subtraí-
do não é superior à sua quota. 37
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Dica
O furto de coisa comum não é tão cobrado em provas de concursos públicos. Porém,
quando cobrado, tentam misturar suas características com as características do furto
tradicional.
Outras Hipóteses
Não há furto na hipótese de o credor subtrair bens do devedor para ressarcir-se, pois se
trata de um crime específico, previsto no art. 345, do CP, exercício arbitrário das próprias
razões. Vejamos: “A” deve uma quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o valor
da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la.
O furto famélico é aquele em que o agente busca saciar a fome, não é estado de necessi-
dade, salvo se a subtração for o único meio de se alimentar. Por exemplo, a mãe, diante da
necessidade de alimentar o filho, subtrai uma maçã de uma barraca de feira para alimentá-lo.
O furto em estado de precisão, aquele em que o agente está desempregado e subtrai ali-
mentos, eletrodomésticos etc., constitui crime. Exemplo: o pai, estando desempregado e sem
condições de manter o sustento da família, subtrai alimentos e eletroportáteis de um hiper-
mercado para suprir o sustento do lar.
ROUBO E EXTORSÃO
Roubo
O roubo pode ser simples, majorado ou qualificado. Vejamos neste momento o roubo sim-
8-
41
z Roubo Simples
-3
s
co
Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
ar
resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
O objeto material do crime de roubo é a coisa alheia móvel, ou seja, somente os bens
móveis e corpóreos podem ser objeto material do roubo. Em regra, o bem deve possuir valor
econômico.
Vamos falar das características do crime de roubo:
Súmula n° 582 (STJ) Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à persegui-
ção imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.
Roubo próprio: antes ou durante a subtração da coisa móvel, o agente emprega violên-
cia ou grave ameaça. Ex.: Tício, fazendo uso de arma de fogo para intimidar a vítima,
anuncia um assalto e subtrai a mochila de Mévio — temos aqui o roubo próprio;
Roubo impróprio: o agente subtrai a coisa móvel, em seguida, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro, emprega violên-
cia contra pessoa ou grave ameaça.
Ex.: Tício subtrai uma garrafa de vinho caro em um supermercado. Ao sair, verifica que o
.4
41
segurança está vindo em sua direção. Nesse momento, Tício, para poder fugir com a garrafa
-3
de vinho, desfere um soco no rosto do segurança, que cai — temos aqui o roubo impróprio.
s
co
ar
M
Dica
NOÇÕES DE DIREITO
Roubo com violência imprópria: o agente subtrai coisa móvel alheia, depois de haver,
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade a resistência.
Ex.: Tício conhece Mévia em uma festa. Os dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero
na bebida dela, que entra em sono profundo; em seguida, o agente subtrai todos o dinheiro
existente na carteira de Mévia — temos aqui o roubo com violência imprópria.
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Há duas definições às quais devemos ter atenção: arrebatamento inopino e trombada.
No arrebatamento, que é o ato de arrancar com violência a coisa que está em poder da
vítima ou no corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar do pescoço da vítima. A
doutrina divide-se. Alguns defendem a tese de que a arrebatamento caracteriza violência
contra coisa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há quem defenda que se trata de
violência contra pessoa, configurando crime de roubo, teoria mais aceita.
A trombada contra a vítima tem suas divergências na jurisprudência. Há quem afirma
que se trata de furto, exceto quando reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, quan-
do então configurará roubo. Outra parte defende que sempre se enquadrará na hipótese de
roubo, visto que o ato tem violência física. Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que
se trata de furto.
z Roubo Majorado
O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o agente, sabendo que a vítima está pres-
tando serviço de transporte de valores, subtrai, mediante violência, os malotes que a vítima
portava.
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis ao crime de roubo.
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A terceira majorante consiste na subtração de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou Exterior
A expressão “veículo automotor” abrange, do mesmo modo que estudamos no
TERCEIRA
crime de furto, aeronaves, automóveis, motocicletas, lanchas
MAJORANTE
Para a incidência do aumento da pena, é necessário que o veículo seja efeti-
(IV)
vamente transportado para outro Estado ou Exterior. Isso porque o transporte
diminui a possibilidade de recuperação do bem, facilitando ainda a adulteração
e negociação do veículo, envolvendo, muitas vezes, terceiros de boa-fé
A quarta majorante ocorre quando o agente mantém a vítima em seu poder,
QUARTA restringindo a sua liberdade. Viola-se a liberdade pessoal de locomoção. A res-
MAJORANTE trição da liberdade da vítima deve se dar por tempo juridicamente relevante,
(V) mas que seja somente durante o tempo para a subtração dos bens, diferente-
mente do que ocorre no sequestro
QUINTA A quinta majorante acontece se a subtração for de substâncias explosivas
MAJORANTE ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
(VI) montagem ou emprego. Trata-se de um crime hediondo
A sexta majorante ocorre quando a violência ou ameaça é exercida com o em-
SEXTA
prego de arma branca. Por arma branca entendemos qualquer objeto que pos-
MAJORANTE
sa ser utilizado para atacar ou defender alguém, mas que, pela natureza do
(VII)
objeto, não tenha essa finalidade (ex.: facas)
z Emprego é a utilização.
12.
.4
41
A última causa de aumento de pena é a violência ou grave ameaça exercida com emprego
-3
de arma branca.
s
co
Abrange as armas impróprias, que são os instrumentos que servem para ataque ou defesa,
ar
embora não seja essa a sua finalidade, como tesoura, faca de cozinha, pedaço de pau, caco de
M
vidro etc., bem como as armas próprias que não sejam de fogo, que são os instrumentos cuja
NOÇÕES DE DIREITO
finalidade específica é o ataque ou a defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês e outros.
Importante!
Em relação à causa de aumento de pena referente ao concurso de duas ou mais pessoas,
entende o STJ, em se tratando de hipótese de associação criminosa, que os agentes
respondem pelo roubo com aumento de pena e pelo crime de associação criminosa, em
concurso material.
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O roubo praticado com restrição da liberdade é aquele em que o agente mantém a vítima
em seu poder, restringindo a sua liberdade. Por exemplo, imagine que Tiago, portando uma
faca, anuncie um assalto para subtrair o veículo de Diego. O autor subtrai o veículo, coloca a
vítima no porta-malas e o leva por 10 quilômetros, liberando-o em seguida.
No exemplo dado, será aplicada a causa de aumento de pena a Tiago, já que ele restringiu
a liberdade de Diego, vítima do roubo.
Aqui estamos diante de três majorantes do roubo com emprego de arma de fogo. São elas:
ARMA DE Aquela cujo porte é passível de obtenção. Neste caso, a pena é aumentada
FOGO DE USO de 2/3 (dois terços), por força do inciso I, § 2º-A, do art. 157, do CP, introdu-
PERMITIDO zido pela Lei nº 13.654, de 2018
ARMA DE Aquela cujo porte é restrito a determinadas pessoas. Neste caso, a pena é
FOGO DE USO dobrada, nos termos do § 2º-B, do art. 157, do CP, introduzido pela Lei nº
RESTRITO 13.964, de 2019
ARMA DE
Aquela cujo porte é vedado. A pena também é dobrada, nos termos do § 2º-
FOGO DE USO
B, do art. 157, do CP, introduzido pela Lei nº 13.964, de 2019
PROIBIDO
Justifica-se a majorante em razão da maior potencialidade lesiva do fato, que cria risco de
morte à vítima.
O porte velado, oculto, não majora a pena do roubo, porque a lei exige o emprego da arma,
14
8-
consistente no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide a majorante quando a violên-
41
Observe que o roubo majorado absorve o delito de arma de fogo, previsto na legislação
.4
41
Quanto à arma de brinquedo, não funciona como causa de aumento de pena, pois não se
s
co
trata de arma de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execução de um roubo simples.
ar
Quanto à arma descarregada, também não majora a pena do roubo; falta-lhe potencialida-
M
de ofensiva e, portanto, não se trata de arma, respondendo o agente por roubo simples.
Já quanto à arma não apreendida, compete ao agente exibi-la em juízo para que seja peri-
ciada, sob pena de incidência da majorante diante da presunção de potencialidade ofensiva.
Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo — causa de aumento
de pena acrescida pela Lei n° 13.654, de 2018 — devemos observar o seguinte:
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca antes da Lei nº 13.654, de 2018, não terá
incidência de majorante;
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca depois da Lei nº 13.654, de 2018, e antes
42 do Pacote Anticrime não terá incidência de majorante;
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca depois do Pacote Anticrime terá a inci-
dência da majorante de 1/3 a 1/2;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso permitido antes da Lei nº 13.654,
de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso permitido depois da Lei nº
13.654, de 2018, terá a incidência da majorante de 2/3;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso restrito ou proibido antes da Lei
nº 13.654, de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a1/2;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso restrito ou proibido depois da
Lei nº 13.654, de 2018, e antes do Pacote Anticrime terá a incidência da majorante de 2/3;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso restrito ou proibido depois do
Pacote Anticrime terá pena em dobro.
Vamos estudar agora o roubo majorado pela destruição ou rompimento de obstáculo com
emprego de explosivo.
Observa-se que a qualificadora do § 4-A, do crime de furto, tem incidência ainda que não
haja destruição ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego de explosivo ou de artefa-
to que cause perigo comum, ao passo que, no roubo, a majorante em análise depende, além
do explosivo ou artefato que cause perigo comum, que haja ainda destruição ou rompimento
de obstáculo.
Roubo Qualificado
z morte — latrocínio.
41
-3
A doutrina majoritária entende que a lesão corporal grave e a morte não precisam ser
s
co
praticadas intencionalmente pelo agente, ou seja, é possível que o roubo seja qualificado pelo
ar
M
resultado, mesmo se o resultado tiver sido provocado pelo agente culposamente, quando ele
faz uso de violência.
NOÇÕES DE DIREITO
Súmula n° 610 (STF) Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.
Importante!
Caso o agente mate o seu comparsa, após a prática do roubo, para ficar com a vantagem
do crime somente para si, não há que se falar, neste caso, em crime de latrocínio.
14
A palavra “latrocínio” não se encontra no atual Código Penal. Trata-se de uma expressão
8-
tradicional.
41
2.
Extorsão
Art. 158 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pes-
-3
soa. Observe que o funcionário público também pode cometer extorsão. A doutrina ilustra a
s
co
hipótese de escrivão de polícia que exige dinheiro de uma pessoa para influenciar o delegado
ar
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica, inclusive a que sofre constran-
NOÇÕES DE DIREITO
É importante não confundir o crime de extorsão com o crime de roubo, que acabamos de
estudar:
ROUBO EXTORSÃO
O agente emprega a violência ou grave ameaça
para determinar um comportamento da vítima
O agente emprega a violência ou grave ameaça,
e obter indevida vantagem econômica
visando à subtração. A participação da vítima é
A participação da vítima é indispensável; sem
dispensável
ela, o autor não consegue obter a indevida van-
tagem econômica
z Extorsão Qualificada
14
§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a
2.
Dispõe o § 1º, do art. 158, do CP, que, se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, ou
s
Por exemplo: dois agentes chantageiam uma mulher, ameaçando de morte a sua mãe,
M
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Extorsão Qualificada pelo Resultado
Veja que o § 2º, do art. 158, do CP, dispõe que será aplicado à extorsão praticada mediante
violência o disposto no § 3º, do artigo anterior, ou seja, do crime de roubo.
Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocorre quando, em razão da violência, resulta
a lesão corporal de natureza grave ou morte.
Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de 7 a 15 anos, além de multa; no caso de
morte, reclusão de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
Observe que a lesão grave ou a morte deve decorrer de violência física, podendo ocorrer a
título de dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando resultar de grave ameaça.
Dispõe o § 3º, do art. 158, do CP, que se o crime é cometido mediante restrição da liberdade
da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 a 12 anos, além de multa. Se resultar lesão corporal grave ou morte, aplicam-se
as penas previstas nos § 2º e 3º, do art. 159, respectivamente.
Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio veículo, sendo coagida a percorrer
caixas eletrônicos para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o código secreto de seu
cartão bancário magnético.
14
8-
direito de ir, vir e ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se, destarte, à extorsão
12.
.4
mediante sequestro.
41
Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o resultado morte ou o resultado lesão cor-
poral de natureza grave, o agente será punido com as mesmas penas aplicadas ao crime de
extorsão mediante sequestro qualificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos, respectivamente).
z Extorsão Hedionda
Por exemplo, o agente restringe a liberdade da vítima, com o emprego de violência a sua
8-
Art. 159 Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
s
co
A extorsão mediante sequestro, prevista no art. 159, do Código Penal, será configurada
quando o agente sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço de resgate.
Neste crime, temos a restrição da liberdade da vítima (mediante sequestro ou cárcere pri-
vado), só que o agente possui uma finalidade específica (exige-se dolo específico): obter qual-
quer vantagem (segundo a doutrina, deve ser vantagem indevida e de natureza patrimonial),
como condição ou preço de resgate.
Características da extorsão mediante sequestro:
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z É crime comum — qualquer pessoa pode cometê-lo;
z É crime complexo — junção de 2 (dois) crimes: extorsão mais sequestro ou cárcere privado;
z É crime permanente, já que sua conduta se protrai (prolonga) — atenção à aplicação da
Súmula 711, do STF;
z É crime formal, que se consuma com a restrição da liberdade, desde que motivada pela
obtenção de condição ou preço de resgate;
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite tentativa.
É importante mencionar que o agente deve sequestrar “pessoa”. Caso seja um animal (pare-
ce bobo, mas já foi cobrado em prova), não haverá o crime de extorsão mediante sequestro.
É importante mencionar, também, um entendimento defendido pela doutrina majoritá-
ria: no resultado “morte”, não é necessário que a pessoa morta seja a vítima do sequestro,
podendo ser qualquer pessoa que morra em decorrência da extorsão mediante sequestro.
Assim, por exemplo, se um empregado for ao local combinado com os sequestradores, a pedi-
do de seus patrões, entregar o resgate e for morto pelos autores, a qualificadora será aplicada
da mesma forma (observe que o empregado não é vítima do crime — não foi sequestrado
nem pagou o resgate).
A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão mediante sequestro, segundo entendimento
doutrinário dominante, quando dela for exigida a vantagem correspondente ao resgate.
A extorsão mediante sequestro traz em suas disposições a possibilidade de aplicação do
instituto da delação premiada.
A delação será aplicada no caso de o crime ser cometido em concurso de pessoas, ao con-
corrente que denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado.
Neste caso, o concorrente que denunciou terá a pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços).
Há quatro qualificadoras:
co
ar
M
Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima da liberdade, colocando-a sob vigilância
em um cativeiro; em seguida, visando obter vantagem, exige de familiares da vítima o preço
do resgate. Entretanto, devido a um impasse com os familiares, o agente mata a vítima.
O § 2º, do 159, do CP, dispõe que, se o fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena
cominada é de reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, do 159, do CP, dispõe que, se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
14
Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos,
41
A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como
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Não há necessidade de que a morte seja provocada por violência física ou grave ameaça. O
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A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:
Se o crime
é cometido
por bando ou Se do fato
Se o sequestro é
Se o sequestro quadrilha (agora resultar lesão
menor de 18 anos Se do fato resultar
durar mais de é associação corporal de
ou maior de 60 a morte
24 horas criminosa - natureza
anos
responde pelos 2 grave
crimes)
investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado cumulativa-
41
mente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima com sua integridade física
12.
Presentes apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3,
-3
independentemente da primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.
s
co
ar
M
Extorsão Indireta
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, docu-
mento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando
o agente exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, docu-
mento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.
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Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de
1 (um) a 3 (três) anos, enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a
reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo
penal (exigir ou receber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que
um agiota, aproveitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita
um empréstimo, já que o filho deste se encontra internado em estado grave e ele precisa do
dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que possa dar causa a procedimento cri-
minal — pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abusou da condição
da vítima.
No verbo “exigir”, este crime é formal, consumando-se com a exigência do documento.
Já no verbo “receber”, é crime material, consumando-se com o efetivo recebimento do
documento.
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter criminis fracionado.
É crime comum, já que não se exige qualquer condição especial do sujeito.
USURPAÇÃO
Alteração de Limites
Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha
divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
área do agente.
1
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41
Temos, por exemplo, como hipótese que não configura crime, o fato de um agricultor reti-
ar
M
rar a cerca que divide as terras com outro proprietário apenas para reformá-la.
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser praticado pelo vizinho do imóvel, quer na
zona urbana, quer na rural.
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só pode ser o vizinho, dono ou possuidor
do imóvel.
Consuma-se no exato instante em que o agente suprime ou desloca o marco divisório, ain-
da que a vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a parte de que foi tolhida.
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado iniciando a supressão ou deslocamento
e é impedido de prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já mencionado, o crime está
consumado, ainda que a vítima retome posteriormente a parte a que faz jus.
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Usurpação de Águas
Neste delito, a lei resguarda as águas públicas ou particulares que passem por determi-
nado local, evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso alguém queira desviar o seu
curso ou represá-las, sem autorização para tanto.
Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja desviado ou represado pelo agente,
alterando, portanto, seu fluxo pela propriedade.
Dica
Não configura crime de usurpação de águas, mas crime de furto, quando se trata de água
retirada de água represada pelo dono para criação de peixes.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum.
O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que pode sofrer dano em decorrência do desvio
ou represamento.
Consuma-se o crime no instante em que o agente efetua o desvio ou represamento, ainda
que não obtenha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o texto legal se refere. A
tentativa é possível.
Esbulho Possessório
Veja que o crime de esbulho possessório tem por objeto jurídico o patrimônio, no tocante à
1
.4
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Pressupõe-se, neste crime, a invasão de propriedade imóvel alheia, edificada ou não, des-
ar
de que o fato se dê mediante emprego de violência ou grave ameaça a pessoa, bem como
M
É possível que o agente invada a propriedade alheia sozinho ou em concurso com apenas
mais uma pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça. Nesse caso, o fato é atípico.
Não obstante, o § 1º, do art. 1.210, do Código Civil, permite que o dono retome a posse, desde
que o faça imediatamente, por meio do chamado desforço imediato.
Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica, o invasor empregar violência para se
manter na posse quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo desforço imediato,
haverá a configuração do delito.
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O crime só existe se a invasão se dá com o fim específico de esbulho possessório, ou seja, a
retirada forçada do legítimo possuidor, desde que o agente queira excluir a posse da vítima
para passar a exercê-la ele próprio.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o dono.
Trata-se de crime comum.
O dono que invade imóvel alugado não incorre no tipo penal em análise, que exige expres-
samente que o bem seja alheio.
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em crime de violação de domicílio (art. 150) ou
retirada de coisa própria do poder de terceiro (art. 346, do CP).
Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imóvel invadido.
Consuma-se no momento da invasão.
É possível tentativa quando a invasão não se aperfeiçoe em razão da oposição apresentada
pelo dono, possuidor ou por terceiro.
Observe que, se o agente comete o esbulho com emprego de violência, responde também
pelas lesões corporais causadas, ainda que leves, nos termos do § 2º, do art. 161, do CP, e as
penas serão somadas.
A ação penal será, em regra, pública incondicionada; porém, caso não ocorra o emprego
de violência, a ação penal passa a ser privada e só se procede mediante queixa.
Art. 162 Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indi-
cativo de propriedade:
14
8-
Para a prática deste crime, é necessário que não tenha havido prévio furto ou apropriação
-3
indébita dos animais, pois, nesses casos, o agente só será punido pela conduta anterior, sendo
s
co
DANO
O crime de dano, previsto no art. 163, do CP, poderá ser praticado mediante a execução das
seguintes condutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina estabelece sobre cada um dos verbos):
Dano Qualificado
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-3
s
O dano será praticado na modalidade qualificada se for cometido em uma das hipóteses a
co
seguir:
ar
M
Art. 164 Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de
direito, desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de introduzir ou deixar animais em pro-
priedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que do fato resulte prejuízo.
Pena — detenção, de 15 dias a 6 meses, ou multa.
Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra o dano causado por animais.
O objetivo primordial da lei é a proteção da propriedade rural, onde o delito é comumente
cometido. Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade urbana, tendo em vista que a
lei não restringiu a existência do delito à propriedade rural.
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor, titulares do patrimônio ofendido.
Consuma-se com a danificação total ou parcial da propriedade alheia, isto é, com o efetivo
prejuízo ao terceiro.
Este crime somente se procede mediante queixa.
O proprietário comete o delito de dano ambiental, previsto no art. 62, da Lei nº 9.605,
de 1998, e não do art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quando se tratar de coisa
14
de valor artístico, arqueológico, histórico ou outro bem especialmente protegido por lei, ato
8-
administrativo ou decisão judicial, pois nesse tipo penal não se exige que a coisa seja alheia.
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12.
.4
Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605, de 1998, que dispõe ser crime a conduta de alterar
s
co
o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato adminis-
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M
trativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico,
histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da
autoridade competente ou em desacordo com a concedida.
A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa.
Ação Penal
Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.
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A ação penal é privada no dano simples (caput do art.163, do CP) e no dano qualificado por
motivo egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inciso IV, § único, do art. 163, do CP).
Nas demais formas de dano qualificado, a ação é pública incondicionada.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Para compreender a apropriação indébita, é necessário saber que o agente já tem a posse
ou a detenção da coisa, passando, posteriormente, a agir como se fosse dono da coisa. Neste
crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel.
Não se deve confundir a apropriação indébita com o crime de estelionato. Veja a diferença:
A apropriação indébita é crime que decorre de uma relação de confiança entre o autor e a
vítima. Esta entrega a coisa móvel ao agente, devido à confiança que deposita nele.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas, depois (parte da doutrina chama de dolo
subsequente), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a agir como dono dela.
Veja as principais características da apropriação indébita:
z é crime material, que se consuma quando o agente inverte a posse da coisa alheia móvel.
12.
.4
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Aumento de Pena
-3
s
co
I - em depósito necessário;
NOÇÕES DE DIREITO
Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuin-
tes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
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O crime de apropriação indébita previdenciária é um crime omissivo próprio, pois só pode
ser praticado pelo substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as contribuições sociais
em nome do INSS para depois as repassar.
A consumação deste crime, por ser omissivo próprio, ocorre com a mera omissão do reco-
lhimento da contribuição previdenciária.
No caso do contribuinte individual, ele é o responsável por esse desconto das contribui-
ções e pelo repasse ao INSS, de modo que é ele que responderá pelo crime.
No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito ativo é a pessoa física que no âmbito da
empresa tem o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a contribuição arrecadada.
Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia federal, de modo que a competência
é da Justiça Federal, conforme o inciso IV, do art. 109, da Constituição Federal.
Logo, o sujeito passivo é o INSS.
Importante!
Consumação: ficará configurada quando o agente deixar de repassar à previdência social
as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional.
Observe que o tipo penal principal é praticado na modalidade omissiva, deixando o agen-
te de praticar uma conduta que deveria (repassar à previdência as contribuições recolhidas
após reter os valores).
Condutas equiparadas: receberá a mesma pena do crime principal o agente que deixar de:
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contá-
8-
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
1
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Trata-se de norma penal em branco, complementada em diversos dispositivos pela lei pre-
co
videnciária correspondente.
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M
z é crime omissivo, como dito, já que o agente não pratica a conduta que se espera dele
(repassar);
z não admite a modalidade culposa;
z deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o STF, não é necessário dolo específico
(especial fim de agir);
z não admite tentativa.
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O entendimento majoritário na doutrina é o de que a apropriação indébita previdenciária
é crime formal e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por parte do agente ou o
efetivo prejuízo ao erário.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o crime de apropriação indébita previ-
denciária é material, pois, quando o agente omitiu o repasse, configurou-se o enriquecimento
indevido e o consequente prejuízo ao erário.
Essa decisão corrobora com o entendimento exarado na Súmula Vinculante nº 24:
cia social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
NOÇÕES DE DIREITO
Apesar de o Código Penal estabelecer que a conduta do agente, para que sua punibilidade
seja extinta, seja praticada antes do início da ação fiscal, o STF e o STJ têm admitido a apli-
cação da exclusão da punibilidade com o pagamento efetuado a qualquer tempo, desde que
antes do trânsito em julgado (sentença definitiva).
Para encerrarmos o crime de apropriação indébita previdenciária, vamos verificar uma
hipótese de perdão judicial e de crime privilegiado.
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A Lei nº 13.606, de 2018, lei bastante atual, diga-se de passagem (importante atentar-se a
isso), acrescentou dispositivo ao Código Penal que estabelece que a faculdade atribuída ao
juiz de deixar de aplicar a pena ou de aplicar somente a pena de multa não se aplica aos casos
de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
estabelecido, administrativamente, como sendo mínimo para ajuizamento de suas execuções
fiscais.
Faculta-se ao juiz:
Essas situações poderão ocorrer se o agente for primário e de bons antecedentes, desde
que:
Art. 169 Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou
8-
força da natureza:
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Neste crime, a apropriação dá-se não devido à relação de confiança existente entre autor
-3
e vítima, mas, sim, porque a coisa chegou ao poder do agente por erro, caso fortuito ou força
s
co
da natureza.
ar
M
Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entregador de uma loja, uma televisão de 50 pole-
gadas. O agente apropria-se da coisa havida por erro.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas, posteriormente, altere a posse da coisa,
apropriando-se dela, cometerá o crime de apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito
ou força da natureza.
Entretanto, para configuração do delito, o agente não pode ter induzido nem mantido a
pessoa em erro no momento do recebimento da coisa, caso contrário, tendo em vista a frau-
de, haverá o crime de estelionato.
Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo do recebimento da coisa, o agente pro-
cede de boa-fé, não percebe o erro. Este é constatado após o recebimento da coisa.
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Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o agente recebe, identifica que não lhe
pertence, mas fica com o patrimônio.
O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a disponibilidade da coisa ao sujeito ativo.
É necessário que o agente não perceba o aludido erro.
Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e de quem recebe a coisa.
Quanto à distinção entre caso fortuito e força da natureza, uma parcela significativa
da doutrina considera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos estabelecer uma
diferenciação.
Força da natureza é o acontecimento de eventos físicos ou naturais, de índole ininteligen-
te, como o granizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto.
Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a greve, o motim, a guerra, a queda de um
avião etc.
No delito em apreço, a coisa chega ao agente através de um evento imprevisível.
Exemplo clássico: um vendaval lança as roupas do varal do vizinho ao quintal da casa de
“B” e este apropria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião, caindo na chácara de “C”,
que dela se apropria. Ainda, o animal de uma fazenda passa para a fazenda de “D”, que dele
se apropria.
Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao agente, originando-se o apossamento de
um acontecimento imprevisível.
Este crime não admite a modalidade culposa, podendo ser praticado apenas a título de
dolo.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
O STJ entende que se trata de crime permanente, ou seja, sua consumação se prolonga no
tempo.
O Código Penal apresenta duas hipóteses assemelhadas, punidas com a mesma pena: a
apropriação de tesouro e a apropriação de coisa achada.
Apropriação de Tesouro
14
8-
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem
-3
Irá praticar este crime o agente que achar tesouro em prédio alheio e se apropriar, no todo
M
Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha tesouro em prédio que pertence a outra
pessoa e se apropria da quota-parte que o proprietário do prédio tem direito, de acordo com
o Código Civil, que estabelece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre aquele que
achou e entre o proprietário do local em que ele foi achado.
O Código Civil conceitua tesouro como depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo
dono não haja memória.
O tipo penal não se caracteriza com o verbo “achar”. Atente-se ao fato de que quem acha
tesouro não comete crime algum. A conduta criminosa encontra-se no verbo “apropriar-se”,
quando o agente se apropria da parte a que tem direito o proprietário do prédio. 61
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Para que este crime se configure, é necessário que o tesouro tenha sido localizado em pré-
dio que possua proprietário.
O que dizer sobre “achado não é roubado”, ditado popular muito dito?
O crime de apropriação de coisa achada não é muito conhecido, mas existe.
Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia perdida e dela se apropriar, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à auto-
ridade competente, dentro do prazo de 15 (quinze) dias.
Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para sua consumação, exige que transcorra
determinado período (15 dias).
Sujeito ativo é aquele que acha a coisa perdida.
Trata-se de crime próprio, pois é praticado por aquele que acha a coisa perdida.
Na hipótese de o sujeito ativo emprestar a coisa à uma outra pessoa, vindo esta a se apro-
priar, não cometerá o delito em apreço, e sim o crime de apropriação indébita, previsto no
art. 168, do CP.
Se, por outro lado, o proprietário achar a própria coisa e deixar de restituí-la ao legítimo
possuidor, que a havia perdido, também não se configura o delito, porque o tipo penal exige
que a coisa seja alheia.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da coisa perdida.
O objeto material é coisa alheia perdida.
Trata-se de elemento normativo do tipo, cujo significado requer um juízo de valor do
14
8-
magistrado.
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No caso de coisa abandonada (res derelicta) ou coisa sem dono (res nullius), não haverá
-3
crime algum por parte de quem se apropriar. Este se torna dono da coisa.
s
co
Quanto à consumação, ocorre quando o agente deixa de restituir a coisa ao dono ou legí-
M
Por fim, o Código Penal estabelece a possibilidade de se aplicar aos crimes previstos no
capítulo da apropriação indébita os institutos aplicáveis ao furto privilegiado.
Logo:
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z se o criminoso é primário;
z se é de pequeno valor a coisa.
O juiz poderá:
Estelionato
Art. 171 Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
O crime de estelionato, art. 171, do CP, será praticado quando o agente obtiver, para si ou
para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
O agente altera, de modo consciente, a data de óbito de seu genitor, induzindo o tabe-
lião em erro para não pagar multa em procedimento extrajudicial de inventário (vantagem
econômica).
Observe que o crime fala em vantagem ilícita (segundo a doutrina majoritária, deve ser
vantagem de natureza patrimonial), podendo ser coisa móvel ou imóvel.
A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se utiliza de artificio ardil (método de enga-
nar) ou qualquer outro tipo de fraude.
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro e o agente o faz) ou mantém a vítima
14
em erro (ela estava em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela permaneça).
8-
No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido enganada, colabora com o agente, entre-
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2.
Esta condição, inclusive, é fator que serve para diferenciar o estelionato de outros tipos
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Art. 171 [...]
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena con-
forme o disposto no art. 155, § 2º.
Este crime está previsto no inciso I, § 2º, do art. 171, do CP, ou seja, o agente vende, per-
muta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria — disposição
de coisa alheia como própria. O agente, neste crime, faz com que coisa alheia se passe como
dele, enganando outrem.
Os verbos previstos no tipo são: vender, permutar (trocar), dar como pagamento, locação
ou garantia.
z Vender: a venda é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por dinheiro.
Aperfeiçoa-se com o acordo de vontades acerca da coisa e do preço, independentemente
da tradição. A tradição é necessária para a aquisição da propriedade, e não para a forma-
ção do contrato. Consuma-se o crime com a obtenção da vantagem e causação do prejuízo;
z Permutar (trocar): a permuta ou troca é o contrato pelo qual as partes assumem a obriga-
ção de dar uma coisa por outra. Aperfeiçoa-se também com o simples acordo de vontades,
independentemente da entrega do bem. Consuma-se o crime quando a vítima entrega ao
estelionatário a coisa, pois, nesse momento, opera-se o prejuízo e a obtenção da vantagem;
z Dar em pagamento: a dação em pagamento consiste na extinção de uma obrigação ven-
14
8-
cida pelo fato de o credor consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.
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z Locação: é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder a outra, por tempo deter-
-3
minado ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa retribuição. Consuma-se o
s
co
Defraudação de Penhor
Este crime está previsto no inciso III, § 2º, do art. 171, do CP, e consiste na conduta de
o agente defraudar, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado.
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização do credor. O consentimento deste exclui
o crime.
14
8-
A consumação ocorre com a efetiva defraudação, isto é, com a alienação, ocultação, aban-
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§ 2º [...]
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Este crime está previsto no inciso IV, § 2º, do art. 171, do CP, em que o agente defrauda
substância, qualidade ou quantidade, de coisa que deve entregar a alguém.
Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa que deve entregar a alguém”, pressupon-
do-se, portanto, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.
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A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratuita, como o comodato e a doação, desapa-
rece o delito, porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gratuitos, não se pode reclamar
sequer vício redibitório, de modo que o devedor não é sancionado nem na esfera cível.
Se não houver uma obrigação antecedente, a entrega de coisa defraudada pode configurar
o delito do caput do art. 171.
Este crime está previsto no inciso V, § 2º, do art. 171, do CP, em que o agente destrói, total
ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro.
O crime de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro, segundo a dou-
trina majoritária, é crime formal, que se consuma com a prática da conduta, independente-
mente de o agente conseguir ou não receber os valores referentes a indenização ou valor de
seguro.
Lembre-se de que o agente não é punido penalmente por causar mal somente a si mesmo,
sendo assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro, ele não será sujeito passivo do
crime.
O sujeito passivo será a seguradora.
§ 2º [...]
41
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
12.
pagamento.
.4
41
-3
Este crime está previsto no inciso VI, § 2º, do art. 171, do CP, e consiste no ato de o agen-
s
co
te emitir cheque, sem suficiente prisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustrar o
ar
M
pagamento.
Leve em consideração que, para configuração desta forma equiparada de estelionato, é
necessário que o agente saiba desde o início que não dispõe de fundos para cobrir o cheque,
não se englobando nesta modalidade criminosa os casos de não pagamento de cheque por
motivos cotidianos (sem má-fé).
É importante conhecer duas Súmulas do STF referentes ao crime de fraude no pagamento
por meio de cheque:
Súmula n° 521 (STF) O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelio-
nato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o local onde se
66 deu a recusa do pagamento pelo sacado.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Súmula n° 554 (STF) O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebi-
mento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.
Podemos concluir, pela leitura da Súmula n° 554, que, se o agente pagar os valores referen-
tes ao cheque emitido sem fundos antes do recebimento da denúncia, será impedido o início
da ação penal.
Vejamos também a Súmula n° 17, do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem
mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
Entenda da seguinte forma: se o uso do documento falso se exaurir (extinguir) na prática
do estelionato, este crime absorverá aquele.
Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois crimes em concurso formal.
Fraude Eletrônica
§ 2º-A A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com
a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio
de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 2º-B A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização
de servidor mantido fora do território nacional.
A Lei nº 14.155, de 2021, promoveu, ainda, mudanças no crime de estelionato, com a inclu-
são de uma forma qualificada, no § 2º-A, e novas causas de aumento de pena, nos §§ 2º-B e
4º, todos do art. 171, do CP. Houve alteração, também, na regra de competência relativa ao
estelionato, modificando-se o CPP, conforme se verá mais adiante.
O § 2º-A incluiu no estelionato a chamada fraude eletrônica, que consiste em forma qua-
lificada cuja pena é de reclusão de 4 a 8 anos, e multa, na hipótese em que a fraude é come-
tida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro
14
8-
por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou
41
Veja que o ponto em comum que une as formas previstas é a ocorrência delito sem que
.4
41
a vítima esteja presente (uma vez que se dá por meio de redes sociais, contatos telefônicos,
-3
e-mail fraudulento ou qualquer meio fraudulento análogo, como, por exemplo, por meio de
s
co
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z Em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assis-
tência social ou beneficência; é chamado de estelionato previdenciário.
O estelionato contra o idoso sofreu recentes alterações pela Lei nº 14.155, de 2021, e
aumenta a pena do estelionato de 1/3 ao dobro, quando cometido contra idoso ou vulnerável.
Vejamos a redação atual:
Em relação a este crime, havia previsão anterior que foi substituída pela nova redação do
§ 4º, que acabou por permitir a aplicação de pena menor do que era possível antes da mudan-
ça. Veja a comparação no quadro a seguir:
O critério para o juiz aplicar o aumento de 1/3 ao dobro, no caso do § 4º, deve ser a rele-
vância do resultado, que pode ser de menor ou maior importância (antes da modificação, o
14
Importante destacar também que essa majorante incide sobre todas as modalidades de
2.
estelionato.
1
.4
41
Em regra, a ação procede-se mediante representação, exceto nos casos previstos no § 5º,
-3
do art. 171.
s
co
ar
Duplicata Simulada
Art. 172 Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendi-
da, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
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Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escritura-
ção do Livro de Registro de Duplicatas.
O crime em tela é caracterizado pela consumação, que ocorre com a mera colocação da
duplicata em circulação, não sendo necessário o prejuízo a terceiros. Não há previsão de
forma culposa.
Abuso de Incapazes
Induzimento à Especulação
Fraude no Comércio
41
12.
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69
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Outras Fraudes
Art. 176 Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transpor-
te sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as cir-
cunstâncias, deixar de aplicar a pena.
A primeira conduta é tomar refeição em restaurante sem dispor de recursos para efe-
tuar o pagamento.
A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal forma que abrange lanchonetes, cafés,
bares e outros estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás, engloba a ingestão de bebidas.
Entende-se que o delito não se configura quando o agente é servido em sua própria residência.
A segunda conduta incriminada é alojar-se em hotel sem dispor de recursos para efetuar
o pagamento. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que ocorram em estabelecimen-
tos similares, como pensões ou pousadas.
A terceira e última conduta criminosa consiste em utilizar-se de meio de transporte (ôni-
bus, táxi, lotação, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar o pagamento.
O tipo penal expressamente exige que o agente realize as condutas típicas sem dispor de
recursos para efetuar o pagamento naquele instante.
É necessário (elementar do tipo penal) que o agente não tenha recursos para pagar a refei-
ção, o alojamento ou o meio de transporte.
Caso o agente tenha os recursos necessários, entretanto, recuse-se a efetuar o pagamento,
não cometerá o crime de outras fraudes.
Deve-se identificar a má-fé do agente quando da prática da conduta descrita no tipo penal.
Ele deve saber que não dispõe de recursos para pagar e mesmo assim utilizar os serviços
descritos. Caso ocorra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem saber, por exemplo,
ele não será responsabilizado penalmente.
Trata-se de crime promovido mediante ação penal pública condicionada à representação
14
8-
da vítima.
41
Art. 177 Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comu-
M
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista,
2.
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
-3
Observe-se que, em tal dispositivo, o legislador pune o diretor, o gerente e, em alguns casos,
NOÇÕES DE DIREITO
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Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou “Warrant”
Art. 178 Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa
Fraude à Execução
41
12.
.4
Art. 179 Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simu-
41
lando dívidas:
-3
O crime consiste na existência de uma sentença a ser executada ou de uma ação executiva
e mandamento.
O agente, com o fim de fraudar a execução, desfaz-se de seus bens por meio de uma das
condutas descritas na lei:
z alienando;
z desviando;
z destruindo ou danificando bens;
z simulando dívidas.
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Sujeito ativo é o devedor.
Se for empresário e as condutas forem perpetradas após decretada sua quebra, o ato carac-
terizará crime falimentar.
O sujeito passivo é o credor.
Trata-se de crime material que somente se consuma quando a vítima sofre algum prejuízo
patrimonial em consequência da atitude do agente.
A tentativa é possível quando o sujeito não consegue realizar a conduta típica pretendida.
A ação penal é privada.
Se a fraude atingir execução promovida pela União, Estado ou Município, a ação será
pública incondicionada.
RECEPTAÇÃO
z receptação simples;
z receptação qualificada;
z receptação culposa;
z receptação de animal.
Antes de iniciarmos a análise de cada uma das divisões feitas, é importante mencionar
que, segundo posicionamento doutrinário majoritário, confirmado pela jurisprudência do
STF, a coisa deve ser móvel.
É importante saber, também, que a receptação é punível ainda que desconhecido ou isen-
to de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
Logo, a punição da receptação não depende da punição do crime anterior, de que se obte-
ve a coisa.
14
Receptação Simples
8-
41
2.
Art. 180 Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
1
.4
coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
41
ou oculte:
-3
O crime de receptação, previsto no art. 180, do Código Penal, pratica-se quando o agente
adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
NOÇÕES DE DIREITO
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, como em relação ao sujeito passivo.
A doutrina divide a receptação simples em própria ou imprópria. Conheça tal divisão:
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A receptação é crime de tipo misto alternativo, podendo o agente ser responsabilizado
penalmente caso pratique qualquer um dos verbos descritos no tipo penal.
Receptação Qualificada
Receptação Culposa
há muita desproporção entre o valor da coisa e o preço pedido pelo agente, tendo ele elemen-
41
tos para presumir que a coisa foi obtida por meio criminoso.
12.
.4
primário.
s
co
agente seja primário e seja de pequeno valor a coisa, substituir a pena de reclusão pela pena
de detenção, reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa.
Em 2017, por meio da Lei n° 13.531, foi inserido importante dispositivo ao Código Penal,
que aumenta a pena do agente ao dobro.
A pena prevista para a receptação simples (própria ou imprópria) será aplicada em dobro,
tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou
de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos.
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Art. 180 [...]
§ 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município
ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.
Receptação de Animal
Art. 180-A Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com
a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Aqui, também é admitido o dolo eventual (que deve saber ser produto de crime).
Semovente domesticável de produção pode ser entendido como o animal de bando, como
bovinos e suínos, que constituem patrimônio de alguém, domesticados com finalidade
produtiva.
Ex.: Fulano adquire, no exercício do comércio em seu açougue, gado abatido após ser fur-
tado em uma fazenda, com a finalidade de comercializar a carne.
Fulano praticou o crime de receptação de animal.
DISPOSIÇÕES GERAIS
14
8-
z Imunidades;
s
co
ar
M
imunidades absolutas;
imunidades relativas ou processuais penais;
NOÇÕES DE DIREITO
z Exceções às imunidades.
Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
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As imunidades absolutas isentam de pena quem comete delito contra o patrimônio em
prejuízo de ascendente, descendente ou cônjuge, na constância da sociedade conjugal.
São autênticas escusas absolutórias, vedando inclusive a instauração do inquérito policial.
Trata-se de um perdão legal.
Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpável, há um impedimento legal da punibi-
lidade, que é excluída antes mesmo da prática do delito, distinguindo-se do perdão judicial,
que é concedido pelo juiz na sentença, após o devido processo legal.
A primeira causa de imunidade é o delito praticado em prejuízo de cônjuge, na constância
da sociedade conjugal; por exemplo, não se instaura sequer inquérito policial quando a espo-
sa furta o marido, ou vice-versa.
A imunidade subsiste na separação de fato.
Exclui-se a imunidade se por ocasião do delito eles estavam separados judicialmente.
A tendência é estender a imunidade à união estável, considerando-a equiparada ao
casamento.
Importante!
O inciso IV, do art. 7º, da Lei Maria da Penha, considera também violência doméstica o
atentado contra o patrimônio da mulher. Diante disso, uma corrente doutrinária sustenta
que não haveria mais imunidade nos crimes patrimoniais contra a mulher. Entretanto, o
STJ já decidiu pela manutenção da imunidade, à medida que a referida lei não a afastou
expressamente.
Art. 182 Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é come-
s
tido em prejuízo:
co
ar
Nas imunidades penais relativas, previstas no art. 182, do CP, o delito, de ação pública
incondicionada, transmuda-se para ação pública condicionada à representação da vítima ou
de seu representante legal.
Tratando-se de crime de ação privada, não há que se falar em imunidade processual, cuja
finalidade é beneficiar, ao invés de prejudicar.
A ação penal privada é mais vantajosa do que a ação penal pública condicionada à
representação.
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A primeira causa de imunidade processual consiste no fato de o delito ser praticado em
prejuízo de cônjuge judicialmente separado. Vejamos: marido furta esposa um tempo depois
de o casamento ser dissolvido; estão separados judicialmente. Neste caso, há imunidade
relativa.
Tratando-se de cônjuges divorciados ao tempo do crime, não há qualquer imunidade. Por
exemplo, após separados judicialmente, ex-esposa furta ex-marido.
A segunda causa, delito praticado em prejuízo de irmão, abrange os irmãos germanos ou
bilaterais (filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que podem ser consanguíneos
(filhos do mesmo pai) ou uterinos (filhos da mesma mãe).
É claro que a imunidade também se estende aos irmãos adotivos.
Observa-se o seguinte, se o agente comete delito de furto em prejuízo de cunhado:
A última causa de imunidade, delito praticado em prejuízo de tio ou sobrinho com quem o
agente coabita, pode se caracterizar ainda que o crime tenha sido praticado fora do local em
que eles vivem, como, por exemplo, em uma pescaria.
Se não houver coabitação, mas apenas relação de hospitalidade, moradia eventual, como
a que ocorre nas férias escolares em que o sobrinho vai passar alguns dias na casa de um tio,
não há que se falar em imunidade.
III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
41
12.
O art. 183, do CP, dispõe que as imunidades absolutas e relativas não se aplicam:
.4
41
-3
z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com violência imprópria, como a subtração
s
co
ocorrida após o ladrão hipnotizar a vítima; exclui-se a imunidade, pois a lei não abre qual-
ar
M
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DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS
O tipo penal do caput poderá ser praticado com a falsificação de quaisquer um dos docu-
mentos vistos acima, de duas formas: fabricando-os (neste caso, o agente cria um documento)
ou alterando-os (o agente altera documento já existente).
Existem formas equiparadas ao crime de falsificação de papéis públicos, incorrendo o
agente nas mesmas penas deste.
cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
8-
41
a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;
.4
41
b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de
-3
sua aplicação.
s
co
§ 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
ar
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O tipo penal do crime de falsificação de papéis públicos apresenta três modalidades em
que a pena será mais branda se comparada ao tipo penal principal e às formas equiparadas,
que têm como pena a reclusão de dois a oito anos e multa:
z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vistos anteriormente, quando legítimos,
com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutiliza-
ção, incorrerá na pena de reclusão de um a quatro anos e multa;
z Aquele que usar os papéis, depois de alterados (após a supressão de carimbo ou sinal indi-
cativo de inutilização, quando legítimos, com o fim de torná-los utilizáveis), incorrerá na
pena de reclusão de um a quatro anos e multa;
z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora recebido de boa-fé, qualquer dos papéis
falsificados ou alterados, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorrerá na pena
de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Qualquer forma de
comércio irregular ou
Equipara-se clandestino, inclusive
à atividade o exercido em vias,
comercial praças ou outros
logradouros públicos e
em residências
Petrechos de Falsificação
41
-3
Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
s
co
Sobre o crime de petrechos de falsificação, é importante que você saiba, para a sua prova,
as seguintes informações:
z é crime de ação múltipla, que poderá ser praticado mediante a execução de qualquer um
dos verbos previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar;
z é crime comum, que poderá ser praticado por qualquer agente;
z entretanto, caso o crime seja praticado por funcionário público, prevalecendo-se este do
cargo, a pena será aumentada da sexta parte (1/6).
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Art. 295 Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumen-
ta-se a pena de sexta parte.
A pena do crime de petrechos de falsificação será aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente
é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo.
z Assim como o crime de petrecho para falsificação de moeda, o objeto deve ser destinado
especialmente para falsificar os papéis previstos no art. 293; caso o objeto tenha outras
finalidades (tem outras utilidades e também serve para falsificar papéis), não há que se
falar na prática deste tipo penal;
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada;
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, protraindo-se a conduta no tempo.
Os crimes funcionais impróprios são aqueles que serão desclassificados para outras infra-
8-
ções penais caso não sejam praticados por funcionários públicos. Segundo a doutrina, neste
41
Já a conduta que define o crime de peculato-furto, praticada por meio do verbo subtrair,
41
será desclassificada para o crime de furto, caso não seja praticada por um funcionário público.
-3
O Código Penal, em seu art. 327, define o que é funcionário público. Vejamos:
s
co
ar
M
Art. 327 Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoria-
mente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capí-
tulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de
órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.
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Importante!
Para o Direito Penal, funcionário público é aquele que, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Como é possível de se observar,
o conceito de funcionário público é bastante amplo. No § 1º, art. 327, o Código Penal equi-
para a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraesta-
tal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para
a execução de atividade típica da Administração Pública.
O art. 327, do CP, faz menção a cargo público, emprego público e função pública. Vamos
distinguir:
z Cargo público é o criado por lei, com nomenclatura e número certo, junto à administra-
ção direta;
z Emprego público, por sua vez, é a função pública exercida em caráter temporário ou
extraordinário (por exemplo, diarista que presta serviço de faxina em uma repartição
pública). Assim, obtém-se por exclusão o conceito de emprego público como sendo todo
aquele que não se classifica como cargo público;
z Função pública é toda e qualquer atividade que realiza os fins próprios do Estado (por
exemplo, perito judicial, estagiário do Ministério Público ou da Defensoria Pública ou de
qualquer outro órgão público, juiz de direito, Presidente da República, Governador de
Estado, escreventes, Prefeitos, vereadores, faxineiros do fórum etc.).
Além dos dispositivos legais, é importante termos ciência de alguns julgados que estabele-
cem que são considerados funcionários públicos para fins penais:
Nestes termos, não são considerados funcionários públicos para fins penais os depositá-
-3
rios judiciais12.
s
co
No § 2º, do art. 327, o Código Penal apresenta uma causa de aumento de pena aplicável a
ar
todos os crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Observe:
M
A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quando os autores dos crimes praticados por
NOÇÕES DE DIREITO
7 STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).
8 STJ. 5ª Turma. AREsp 679.651/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/09/2018.
9 STJ. 5ª Turma. HC 264.459- SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
10 STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1101423/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2012.
11 STJ. 6ª Turma. REsp 1303748/AC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/06/2012.
12 STJ. 6ª Turma. HC 402949-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 623). 81
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É importante saber que a pena não será aumentada caso o funcionário público ocupe
cargo em comissão ou função de direção ou assessoramento em autarquias, por falta de pre-
visão legal. Lembre-se de que o nosso ordenamento jurídico não admite a analogia para pre-
judicar o agente.
Não podemos deixar de tratar do concurso de pessoas nos crimes funcionais.
Os crimes funcionais são crimes próprios, à medida que o autor deve ser funcionário
público e, em regra, não podem serem praticados por qualquer pessoa. Todavia, admitem a
participação e a coautoria, bem como a autoria mediata.
Os crimes funcionais são próprios, porém admitem a coautoria de particular, sendo possí-
vel que este venha a ser responsabilizado por delito funcional contra a Administração Públi-
ca, desde que pratique a infração penal em concurso com funcionário público e que tenha
conhecimento desta qualidade.
Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da ação, prevista nos arts. 29 e 30, do CP,
segundo a qual todo aquele que concorre para o crime responde para o mesmo crime.
Vamos exemplificar: José, funcionário público, convida seu amigo de infância, Jonas, para
juntos subtraírem um computador na repartição pública em que aquele trabalha.
O funcionário público obteria facilidades para praticar o crime, já que havia ficado com a
chave da repartição naquele período. No dia determinado, os agentes vão ao local e subtraem
o computador.
No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas responderão pelo crime de peculato
(vamos estudar suas características a seguir), já que praticaram a conduta em concurso de
pessoas e a condição de caráter pessoal (ser funcionário público) comunica-se aos demais
agentes (é necessário que eles conheçam a condição).
Vejamos agora cada um dos crimes funcionais:
Peculato
Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em
14
8-
§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinhei-
.4
41
ro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
-3
forma:
z Peculato próprio:
Peculato-apropriação;
Peculato-desvio.
z Peculato impróprio:
82 Peculato-furto.
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z Peculato culposo;
z Peculato mediante erro de outrem (peculato estelionato).
z Para que se configure, é necessário que o agente tenha a posse do bem em razão do seu
cargo;
z O bem pode ser público ou particular (imagine um objeto particular — notebook — apreen-
dido em uma delegacia de polícia);
z O sujeito passivo é a Administração Pública; contudo, no caso de bem particular, o dono do
bem também será sujeito passivo do delito.
Segundo Cleber Masson, o uso momentâneo de coisa infungível, sem a intenção de incor-
12.
.4
direito, é atípico.
-3
O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
ar
M
que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade.
É importante mencionar que é necessário, para que não seja típica a conduta do peculato
de uso, que o bem seja infungível e não consumível, a exemplo de um carro oficial ou de um
computador.
Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo do dinheiro, a conduta será típica.
Se a conduta relacionada ao peculato de uso for praticada por Prefeito, o fato será típico,
independentemente da natureza do bem, por expressa previsão legal no inciso II, art. 1º, do
Decreto-Lei nº 201, de 1967.
83
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Importante!
O administrador que desconta valores da folha de pagamento dos servidores públicos
para quitação de empréstimo consignado e não os repassa à instituição financeira pratica
peculato-desvio, sendo desnecessária a demonstração de obtenção de proveito próprio
ou alheio, bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo13. Deste modo, podemos
constatar que basta a destinação diversa daquela que deveria ter o bem para que se con-
sume o crime de peculato-desvio. A obtenção de vantagem indevida é mero exaurimento
do crime. Trata-se de crime formal.
z Para que se configure este crime, é necessário que o funcionário público não tenha a posse
da coisa;
z O primeiro é o verbo “subtrair”, que é o fato de o bem ser arrebatado pelo próprio funcio-
nário público;
z O segundo é o verbo “concorrer”, que significa induzir, instigar ou auxiliar uma outra pes-
soa a realizar a subtração (por exemplo, o funcionário público distrai os demais para que
o seu amigo, que é ladrão, ingresse na repartição para surrupiar os bens);
z Para que se configure o peculato-furto, é necessário que o ato seja doloso;
z A qualidade de funcionário público deve acarretar alguma facilidade para a subtração da
14
8-
coisa. Caso não haja facilidade, o agente responderá por furto normalmente.
41
12.
Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Certo dia, na hora de sair, valendo-se do fato de
-3
estar sozinho na repartição, Carlos subtrai um notebook do órgão público. Está certamente
s
co
13 APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, por
84 maioria, julgado em 06/11/2019, DJe 04/02/2020.
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z Admite a modalidade tentada, já que se trata de crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou
seja, o autor entra no local, o autor subtrai a coisa);
z O bem subtraído pode ser público ou particular;
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso o bem seja particular, também será sujei-
to passivo da infração penal o dono do bem;
z É crime material.
Peculato Culposo
O peculato culposo, previsto no § 2º, art. 312, configura-se quando o funcionário público
concorre culposamente para o crime de outrem.
Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, o peculato
é o único que prevê expressamente a possibilidade de ser cometido na modalidade culposa.
No peculato culposo, o funcionário público não tem intenção em praticar o crime, contu-
do, por culpa, acaba concorrendo para a subtração da coisa.
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato culposo podem ocorrer as seguintes
situações:
z um funcionário, por culpa, concorre para que outro funcionário cometa peculato (caput
ou § 1º);
z um funcionário, por culpa, concorre para que outro funcionário ou um particular come-
tam o fato;
z um funcionário, por culpa, concorre para que um particular cometa o fato (furto etc.).
14
Vejamos: José, agente de polícia legislativa, esquece, por omissão, já que queria assistir a
8-
um jogo de futebol, de trancar uma porta da Câmara Legislativa do Distrito Federal, ao qual
41
2.
somente ele tem acesso. No ambiente em que a porta se encontra, há vários objetos de valor
1
.4
considerável para o Poder Legislativo distrital. Simba, também policial legislativo, aprovei-
41
tando-se do fato de a porta estar aberta, ingressa no local e subtrai uma câmera fotográfica.
-3
Neste exemplo, José poderá ser responsabilizado criminalmente pelo crime de peculato
s
co
O agente foi omisso ao deixar de trancar a porta, fator que contribuiu para a prática da
subtração.
NOÇÕES DE DIREITO
Sobre o peculato culposo, é importante saber que o § 3º, do art. 312, do CP, dispõe que:
Art. 313 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu
por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
O peculato mediante erro de outrem está previsto no art. 313, do CP, configurando-se
quando o funcionário público se apropriar de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercí-
cio do cargo, recebeu por erro de outrem.
Parte da doutrina chama esta modalidade de peculato-estelionato.
Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro de outrem, toma posse de um bem
móvel, em razão da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que induz o funcionário a
apropriar-se do bem que recebeu por erro será partícipe deste delito de peculato mediante
erro.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente, isto é, posterior ao recebimento da
coisa.
Em um primeiro momento, o funcionário público toma posse do bem de boa-fé, sem cons-
tatar o erro alheio, mas, posteriormente, após detectar o erro, apropria-se da coisa.
É importante levar em consideração as seguintes características do crime de peculato
mediante erro de outrem:
z Parte da doutrina entende que se a pessoa for induzida a erro, configurar-se-á o crime de
41
estelionato, previsto no art. 171, do CP, sendo necessário, para caracterização do crime de
12.
peculato mediante erro de outrem, que a vítima entregue a coisa por erro próprio.
.4
41
-3
O crime de inserção de dados falsos em sistemas de informação está previsto no art. 313-A,
do CP:
Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Dica
“Inserção de dados falsos em sistemas de informação” é também chamado de peculato
eletrônico.
Sujeito ativo é apenas o funcionário público autorizado a inserir ou excluir dados do siste-
ma. Outros funcionários que não dispõem desta competência respondem pelo crime do art.
313-B, do CP. Trata-se de crime próprio.
A fraude no sistema informatizado ou em bancos de dados pelo funcionário competente,
para obter vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito em análise, sendo que o
estelionato, por ser um crime menos grave, é absorvido.
Para que este crime se configure, é necessário que as condutas descritas no tipo penal
sejam praticadas por funcionário público autorizado a operar os sistemas informatizados ou
bancos de dados da Administração Pública.
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal descreve vários verbos que podem ser
praticados para a sua configuração.
Condutas:
É necessário, para a tipificação do delito, que as condutas acima sejam realizadas em sis-
tema informatizado (computador) ou bancos de dados (fichários, livros ou outro meio físico)
da Administração Pública.
Objeto material:
z causar dano.
s
co
ar
O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico, que consiste no fim de obter vantagem
M
indevida para si ou para outrem ou causar dano à Administração Pública ou a uma terceira
NOÇÕES DE DIREITO
pessoa.
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar dano, haverá o crime do art. 313-B, do CP.
O crime consuma-se com a conduta, independentemente do resultado. Trata-se de crime
formal, que se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano almejado não se verifique.
Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser surpreendido antes de ultimar a condu-
ta, por exemplo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos dados corretos.
87
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Modificação ou Alteração Não Autorizada de Sistemas de Informação
Trata-se de crime próprio, sendo praticado somente por funcionário público, qualquer
que seja a sua função, estando autorizado ou não a manipular sistemas de informações ou
programas de informática.
A consumação deste crime se dá com a modificação ou alteração não autorizada do siste-
ma. Não é necessário um especial fim de agir.
Caso o funcionário público seja autorizado ou pratique a conduta por solicitação da auto-
ridade competente, o fato será atípico.
A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um terço) até metade caso da modificação ou
alteração resulte dano para a Administração Pública ou para o administrado.
Fique atento às diferenças entre os tipos penais do crime de inserção de dados falsos em
sistemas de informação e do crime de modificação ou alteração não autorizada de sistemas
de informação:
Exige dolo específico de obter vantagem inde- Não exige dolo específico
8-
Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do car-
go; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.
Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer desaparecer), sonegar (não apresentar) e
inutilizar (tornar imprestável).
Sobre este crime, é importante que você saiba:
z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvido quando o fato constitui crime mais gra-
ve), respondendo por ele, o funcionário público, apenas se não se configurar crime mais grave;
88
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z Não admite a modalidade culposa;
z Admite tentativa;
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser parciais ou totais.
Sujeito ativo é apenas o funcionário público responsável pela guarda do livro oficial ou
documento. Se a conduta for praticada por outro funcionário público, o crime será o previsto
no art. 337, do CP. Caso seja praticado por advogado ou procurador, que inutiliza documento
ou objeto do processo, o enquadramento será no art. 356, do CP.
O delito em estudo é subsidiário, pois só será aplicado se não houver outro crime mais grave.
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro para destruir livro ou documento res-
ponderá apenas pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave.
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos relativos a tributos, o funcionário que
tinha a guarda e praticou uma das condutas acima responderá pelo crime do inciso I, art. 3º,
da Lei nº 8.137, de 1990, quando o fato acarretar pagamento indevido ou inexato de tributo.
Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, respondendo este pelo crime previsto em
lei específica, o Decreto nº 201, de 1967.
Exige que o emprego irregular aconteça em benefício da própria Administração Pública,
contrariando a legislação, não podendo o agente desviar as verbas ou rendas em benefício
próprio, sob pena de responder por outro crime.
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do Município XYZ aprova a utilização de um
milhão de reais para construção de uma passarela. A autoridade pública competente utiliza
a verba mencionada para a construção de uma escola.
14
caso o emprego se dê devido a uma situação de perigo iminente (utilizou-se verba pública
s
co
destinada ao esporte para se construir um abrigo durante perigo de chuvas que desabriga-
ar
M
ram grande parte da população), o fato será típico, mas não será antijurídico.
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas públicas, é importante mencionar:
NOÇÕES DE DIREITO
z Este crime será praticado pelo funcionário público que tem poder de decisão sobre as ver-
bas ou rendas públicas, podendo delas dispor;
z Não exige nenhum fim específico;
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite a tentativa;
z Não exige a ocorrência de dano pela Administração Pública para a sua configuração.
Concussão 89
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Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for possível fracionar o iter criminis, a
41
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Excesso de Exação
O excesso de exação, previsto no § 1º, art. 316, do CP, é uma forma de concussão. Configu-
ra-se quando o funcionário público exige tributo ou contribuição social, que sabe ou deveria
saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a
lei não autoriza.
Importante!
São duas as formas de cometer este delito:
� Exigência indevida de tributo ou contribuição social;
� Cobrança devida de tributo ou contribuição social, mas de forma vexatória ou gravosa.
O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferentemente do crime de concussão, não significa
uma ameaça, mas sim a simples cobrança indevida.
A cobrança é indevida quando o tributo ou a contribuição social não existe ou então já foi
pago, bem como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em valor maior que o devido.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste no fato de o agente ter consciência, ou
dúvida, de que se trata de uma cobrança indevida.
Na segunda modalidade criminosa, cobrança vexatória ou gravosa, o tributo ou contri-
14
buição social é devido. O problema reside no “modus operandi” da cobrança, que é feita de
8-
41
forma vexatória, humilhante, ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas totalmente
2.
desnecessárias.
1
.4
Neste caso, o crime consuma-se com a simples cobrança vexatória ou gravosa, indepen-
41
-3
dentemente do recebimento.
s
mas, por circunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta antes que a vítima tomasse
M
conhecimento.
Vejamos: José, funcionário público da prefeitura do Município de Simplicidade, sabendo
NOÇÕES DE DIREITO
que seu vizinho, Márcio, deve dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca uma faixa enor-
me na entrada da rua, com a seguinte frase escrita: “Márcio, deixe de ser irresponsável e
pague os dez mil reais que você deve de tributo à prefeitura”.
No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo uso de meio vexatório, não autorizado
por lei, configurando-se, assim, o excesso de exação.
Sobre o excesso de exação, é importante mencionar:
91
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z Não admite a modalidade culposa, pois a expressão “que sabe” é dolo direto, e a expressão
“devia saber” é dolo eventual;
z Admite a tentativa quando for possível fracionar o iter criminis, a exemplo do excesso de
exação praticado mediante carta endereçada à vítima.
Corrupção Passiva
Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
A corrupção passiva, prevista no art. 317, do Código Penal, configurar-se-á quando o fun-
cionário público solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
14
8-
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
41
subsequente:
-3
s
co
z Própria: quando o funcionário público pratica os verbos do tipo penal para praticar ato
ar
M
ilícito (por exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para retardar o cumprimento do
mandado de citação);
z Imprópria: quando o funcionário público pratica os verbos do tipo penal para praticar ato
lícito (por exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a certidão seja expedida dentro
do prazo);
z Antecedente: quando a vantagem indevida é entregue ao funcionário público antes de
sua ação ou omissão (por exemplo, juiz recebe vantagem indevida para prolatar sentença
absolutória);
z Subsequente: quando a vantagem indevida é entregue ao funcionário público depois de
sua ação ou omissão (por exemplo, após retardar o processo até levá-lo à prescrição, o juiz
92 solicita vantagem indevida ao réu).
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Observe que a corrupção passiva pode ser direita ou indireta:
z Direta: quando é o próprio funcionário público que solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida;
z Indireta: quando uma interposta pessoa, em conluio com o funcionário público, solici-
ta, recebe ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse caso, tanto o “testa de ferro”
quanto o funcionário público responderão por corrupção passiva.
Entende a doutrina majoritária que o mero presente recebido pelo funcionário público,
por gratidão ou amizade (por exemplo, uma lembrancinha de natal) não configura o crime
de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento majoritário, não necessita ser patrimo-
nial, podendo ser qualquer outra vantagem.
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração que:
É importante realizar um breve paralelo com o crime de corrupção ativa, que será estu-
dado no tópico dos crimes cometidos por particulares contra a administração em geral, que
é aquela em que o particular oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público.
14
pelo funcionário público não pratica crime algum, por falta de tipicidade penal.
41
§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
NOÇÕES DE DIREITO
Observe que na corrupção passiva privilegiada o agente pratica a conduta não com a fina-
lidade de conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com a finalidade de ceder a pedido
ou influência de outro.
Trata-se de crime material e consuma-se quando o funcionário pratica, deixa de praticar
ou retarda o ato de ofício.
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Por outro lado, a pena da corrupção passiva será aumentada de 1/3 (um terço) se, em con-
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer
ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
Importante!
Não seja surpreendido por pegadinhas em prova: a corrupção passiva e a concussão
diferenciam-se nos verbos que configuram o tipo penal incriminador.
� Corrupção passiva: solicitar, receber ou aceitar promessa;
� Concussão: exigir.
Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descami-
nho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que significa viabilizar, tornar mais simples o contra-
1
.4
bando ou descaminho.
41
-3
Relembrando:
co
ar
M
z Dolo direto (determinado): ocorre quando o agente prevê determinado resultado, diri-
gindo sua conduta na busca de realizar esse mesmo resultado;
z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de resultados, porém dirige sua conduta na
realização de um deles. Quer um resultado, mas aceita o outro resultado.
Observa-se que o crime se consuma com a primeira conduta que facilita o contrabando ou
descaminho, ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída da mercadoria do território
nacional.
Trata-se de crime formal, pois se consuma com a conduta, independentemente da ocor-
rência do contrabando ou descaminho.
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Admite-se a tentativa quando o agente se empenha para realizar a conduta de facilitar o
contrabando ou descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la.
É possível extrair da leitura do tipo penal que o crime será praticado pelo funcionário públi-
co que tem o dever funcional de evitar a prática dos crimes de contrabando e descaminho.
A doutrina dominante entende que, caso o funcionário público não tenha o dever funcio-
nal de evitar a prática do contrabando ou descaminho, responderá como partícipe do crime
de contrabando ou do crime de descaminho.
Sobre este crime, é pertinente saber:
z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o funcionário indica uma forma de o
contrabandista desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o funcionário, ciente de
que há produto de descaminho em um compartimento, não o inspeciona, liberando as
mercadorias);
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a facilitação, independente ou não de o agente con-
seguir praticar o contrabando ou o descaminho;
z Admite a tentativa somente na forma comissiva, quando o funcionário público indica o
método de se desviar da fiscalização, mas outro servidor impede o desvio;
z A competência é da Justiça Federal.
Prevaricação
Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
-3
O crime em estudo não se confunde com a corrupção passiva privilegiada, em que o agen-
ar
M
Você pode entender interesse ou sentimento pessoal de diversas formas: vingança, com-
paixão, ódio, amizade, preguiça, entre outros.
Dica
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova:
� Não admite a forma culposa;
� Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou deixar de praticar) ou comissiva
(praticar);
� Admite tentativa apenas quando praticado de forma comissiva.
Tentativa na prevaricação:
� Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício: não admite tentativa;
� Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei: admite tentativa.
Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de
vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comu-
nicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
14
8-
41
público deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
1
.4
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
41
-3
Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo diretor de penitenciária ou pelo
s
funcionário público que tem o dever funcional de impedir que o preso tenha acesso a apare-
co
ar
Condescendência Criminosa
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Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que
cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
CORRUPÇÃO PASSIVA
.4
PRIVILEGIADA
-3
O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de ofí-
cio cedendo a pedido ou influência de cio para satisfazer sentimento ou in- cio (responsabilizar o subalterno) por
s
co
Advocacia Administrativa
NOÇÕES DE DIREITO
O crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321, do Código Penal, pode ser prati-
cado na modalidade simples ou qualificada.
Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração públi-
ca, valendo-se da qualidade de funcionário
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
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Modalidade simples: configura-se quando o funcionário público patrocinar, direta ou
indiretamente, interesse privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade
de funcionário.
É necessário que a condição de funcionário público proporcione alguma facilidade ao
sujeito ativo, que patrocina interesse de terceiro, pessoa privada; caso não haja facilidade
alguma proporcionada pelo cargo, o fato será atípico.
O agente pode praticar este crime de diversas maneiras, como, por exemplo, fazendo uma
petição, solicitando um benefício.
Modalidade qualificada: o crime de advocacia administrativa será qualificado caso o
interesse privado seja ilegítimo.
Violência Arbitrária
Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.
8-
41
2.
Este delito encontrava divergência quanto a sua aplicação, tendo em vista as edições reali-
1
.4
zadas pela Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869, de 2019). Esta discussão não mais pos-
41
sui fundamento, sendo que esta lei não tipificou o crime de violência arbitrária. Sendo assim,
-3
A prática da violência deve dar-se em razão da função pública, não havendo a exigência
ar
M
de que seja praticado no efetivo desempenho das funções do cargo, podendo, portanto, ser
praticada, por exemplo, por um funcionário público que se encontre de folga.
Sobre esse crime, leve em consideração os seguintes pontos:
z A violência arbitrária não admite a forma culposa, devendo ser praticada dolosamente;
z Admite tentativa;
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o administrado contra o qual é praticada a
violência arbitrária;
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, não se enquadrando neste tipo penal
as hipóteses de uso necessário e progressivo da força, admitidas em lei;
98 z O crime aperfeiçoa-se ainda que as vítimas da agressão não sofram lesões;
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Caso alguma das vítimas sofra lesão ou morra, o agente responderá por este crime e pelo
crime correspondente à violência praticada (lesões corporais ou homicídio).
Abandono de Função
Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
A conduta típica é: abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei.
O nome do crime é abandono de função, porém, o tipo penal fala em abandono de cargo
público. É importante que você saiba que o conceito de função pública é mais amplo que o de
cargo público (não há cargo sem função, mas há função sem cargo).
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero abandono de função pública (apesar do
nome) ou de emprego público, mas tão somente no caso de abandono de cargo público (não
se admite a analogia in malam partem).
Trata-se de um crime de mão própria, ou seja, só pode ser praticado pelo funcionário
público ocupante do cargo que foi abandonado. Este abandono deve ser por tempo juridica-
mente relevante.
De acordo com posicionamento doutrinário majoritário, as hipóteses de greve não confi-
guram este tipo penal.
As hipóteses em que o agente abandona o cargo público, admitidas em lei, não configuram
o crime de abandono de função.
O crime de abandono de função tem circunstâncias que o qualificam:
14
8-
41
Cabe destacar qualificadora do § 2º no que diz respeito à faixa de fronteira. Essa qualifica-
s
co
dora é uma norma penal em branco, visto que a definição da faixa de fronteira é fornecida
ar
M
pela Lei nº 6.634, de 1979, compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta) quilômetros
ao longo das fronteiras nacionais.
NOÇÕES DE DIREITO
99
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Dica
Sobre o crime de abandono de função, leve para a sua prova:
� É crime omissivo;
� Não admite tentativa;
� Só pode ser praticado dolosamente — não admite a culpa.
Art. 324 Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou con-
tinuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
ser praticado por funcionário público já nomeado, mas ainda sem ter cumprido todas as exi-
1
.4
41
gências legais (1ª parte), ou então pelo indivíduo que era funcionário público, porém deixou
-3
(parte final).
co
ar
gível, pois somente pode ser cometido pela pessoa expressamente indicada no tipo penal.
Se um particular entrar no exercício da função pública, a ele deverá ser imputado o crime
de usurpação de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante saber:
100
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Violação de Sigilo Funcional
O crime de violação de sigilo funcional encontra-se previsto no art. 325, do Código Penal:
Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segre-
do, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I - permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer
outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de
dados da Administração Pública;
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Este delito irá se configurar quando o agente público revelar fato de que tem ciência em
razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo;
z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer
em segredo.
É importante mencionar que o agente toma conhecimento do fato em relação ao qual deve
permanecer em segredo em razão do cargo que ocupa, não se exigindo que tenha sido no
efetivo desempenho das atribuições do cargo.
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o agente tomar conhecimento do fato durante
período de licença, mas em razão do cargo.
O Código Penal apresenta duas formas equiparadas do crime de violação de sigilo funcio-
14
8-
nal. Observe:
41
quer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou ban-
s
co
101
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Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência
Este tipo penal era previsto no art. 326, e foi revogado pelo art. 337-J também do Código
Penal.
Os crimes contra a administração da justiça têm como finalidade proteger uma regular
fruição da atividade judicial brasileira, incluindo atividades de natureza policial.
A atividade judicial é de fundamental importância para a sociedade, necessitando, assim,
de proteção por parte do Direito Penal.
Art. 338 Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da
pena.
Este crime, previsto no art. 338, do Código Penal, irá se configurar quando o estrangeiro
que foi expulso do Brasil reingressar ao território nacional.
Nos termos do art. 54, da Lei de Migração (Lei nº 13.445, de 2017), a expulsão consiste em
medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional,
conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.
14
Importante!
8-
41
2.
O agente será responsabilizado penalmente, podendo, ainda, sofrer nova expulsão do ter-
1
.4
ritório brasileiro.
41
-3
s
co
z É crime de mão própria, praticado pelo estrangeiro expulso, não podendo a figura típica
ser praticada por intermédio de terceira pessoa. O fato de o crime ser de mão própria não
exclui a possibilidade de concurso de pessoas na modalidade participação;
z É necessário, para configuração do crime, que o estrangeiro tenha ciência de que foi expul-
so do território brasileiro (prévia e oficial expulsão do estrangeiro, por meio de decisão
administrativa);
z Admite tentativa;
z É crime material, que se consuma com o devido reingresso ao território nacional, após ter
deixado o país em razão da expulsão. Não é necessário que o agente realize alguma con-
duta típica criminosa específica. Trata-se de crime instantâneo;
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z Trata-se de crime de competência da justiça federal;
z Não se tipifica o crime quanto o estrangeiro, após decretada sua expulsão, permanece
indevidamente no país.
Denunciação Caluniosa
Art. 339 Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração
de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra
alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
Tem como figura típica a seguinte conduta: dar causa direta ou indireta à instauração de
investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inqué-
rito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que
o sabe inocente.
Como é possível se extrair pela leitura da figura típica, o crime pode ser praticado mesmo
que o agente dê causa a outro procedimento, ainda que não seja processo judicial, a exemplo
de investigação policial ou administrativa. É importante compreender isso, pois muitas ques-
tões abordam esta situação.
Sobre o crime de denunciação caluniosa, é importante ficar atento ao seguinte:
z Só pode ser praticado dolosamente. Parte da doutrina não admite o dolo eventual neste
crime, já que o tipo penal exige que o agente saiba que o fato é imputado contra pessoa
inocente.
14
8-
A denunciação caluniosa poderá se configurar quando o agente imputa crime que real-
41
2.
mente aconteceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando imputa a alguém a prática
1
.4
de crime que não existiu (neste caso, não há dúvidas sobre a inocência da pessoa, já que o
41
z É necessário que o fato imputado seja crime ou contravenção penal (no caso de contra-
ar
M
venção penal, a pena será reduzida de metade), não se configurando este tipo penal caso o
agente impute infração administrativa ou civil;
NOÇÕES DE DIREITO
z É crime comum;
z Admite a forma tentada. Por exemplo, o agente narra ao delegado de polícia que o autor
de determinado crime foi a pessoa A, mas o delegado não inicia qualquer investigação
porque o verdadeiro autor do crime é B, que se apresenta e confessa ter cometido o delito
antes mesmo de a autoridade ter iniciado qualquer investigação;
z A pessoa contra quem se imputa o crime deve ser determinada, sendo ela, assim como o
Estado, o sujeito passivo da prática delituosa;
z Em regra, a denunciação caluniosa absorve o crime de calúnia.
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A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte), caso o agente se sirva de anonimato ou de
nome suposto.
No caso de denunciação caluniosa privilegiada, a pena será diminuída de metade, caso a
imputação seja de prática de contravenção penal.
Observe as principais diferenças entre a denunciação caluniosa e o crime de calúnia:
z Não admite a forma culposa. Assim, se o agente comunica à autoridade, sem intenção, crime
ou contravenção penal, provocando a ação desta, este tipo penal não estará configurado;
14
z É crime comum;
8-
41
z Admite tentativa;
2.
z Se o fato imputado for infração administrativa ou civil, não irá se configurar o crime;
1
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ilícito penal diverso do que realmente ocorreu, desde que o fato comunicado e o que real-
s
z Se o agente faz a comunicação falsa para tentar ocultar outro crime por ele praticado, res-
M
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Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Facebook relacionada a um aborto. De ime-
diato, ligou para uma delegacia de polícia e comunicou o crime ao delegado de polícia, que
iniciou as investigações sobre o fato. Entretanto, não sabia José Carlos que o aborto não exis-
tiu, já que a publicação se tratava de uma brincadeira por parte daquele que a realizou.
Não há que se falar em figura típica da comunicação falsa de crime, já que o agente não
teve dolo de comunicar falsamente o fato que não existiu.
Autoacusação Falsa
Art. 341 Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
z Crime não existente (a conduta criminosa sequer foi praticada, sequer existiu);
z Crime existente, mas praticado por outra pessoa (a conduta criminosa foi realmente reali-
zada, mas foi outro indivíduo que a praticou).
O crime de falso testemunho ou falsa perícia está previsto no art. 342, do Código Penal.
-3
s
co
Art. 342 Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,
ar
M
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser praticado mediante a execução de quais-
quer um dos verbos previstos no tipo penal.
Sua consumação ocorre com o encerramento do depoimento.
Sobre o crime de falso testemunha ou falsa perícia, é importante levar para a sua prova:
Importante!
�O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos verbos previstos no tipo penal não pra-
tica o crime de falso testemunho, já que ele não é testemunha;
� Os investigados ou acusados não cometem o crime de falso testemunho, pois não são
considerados testemunhas;
� As pessoas descompromissadas ou dispensadas de depor, bem como as pessoas proi-
bidas de depor, poderão ser responsabilizadas pelo delito em tela.
O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão a pena do agente. As penas aumentam-
-se de 1/6 (um sexto) a um terço, se o crime é:
z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal;
8-
41
z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo civil em que
2.
§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o
ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá ter extinta a punibilidade do crime, des-
de que isso:
z Seja realizado antes da sentença (ainda prevalece o entendimento de que se trata da sen-
tença recorrível);
z Seja realizado no processo em que ocorreu o ilícito (no processo em que se deu o falso e
não no processo referente ao falso).
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Não responderá pelo crime de falso testemunho a pessoa que praticar as condutas descri-
tas no tipo penal incriminador com a finalidade de não se autoincriminar.
Lembre-se de que ninguém será prejudicado por não produzir provas contra si mesmo.
Quando a testemunha mente por estar sendo ameaçada de morte ou algum outro mal gra-
ve, não responde pelo crime de falso testemunho.
Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, peri-
to, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em
depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.
O art. 343, do Código Penal, apresenta um outro tipo penal, chamado por parte da doutrina
de corrupção ativa de testemunha contador, perito, intérprete ou tradutor.
z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal;
8-
z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo civil em que
41
2.
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Coação no Curso do Processo
Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio
ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada
a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
z Suponha que André tenha praticado um crime de roubo a um supermercado, estando ele
sendo processado por isso. Thais, funcionária do supermercado, é testemunha, tendo sido
marcado um dia para que ela comparecesse em juízo para dar seu depoimento. André,
com a finalidade de favorecer seus próprios interesses, vai à casa de Thais e, utilizando-se
de uma arma de fogo para ameaçá-la, exige que ela diga que não foi ele quem praticou
o fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de coação no curso do processo, já que
empregou grave ameaça contra pessoa chamada a intervir em processo judicial;
z Aproveitando a mesma hipótese anterior, porém, agora André, sabendo sobre o que Thais
disse na inquirição, vai à casa dela e, utilizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
diz que irá matá-la por não dizer que foi outra pessoa que praticou o crime, por tê-lo incri-
minado. André, nesta hipótese, praticou o crime de ameaça, uma vez que empregou grave
ameaça contra a pessoa após o depoimento, exaurindo-se a participação daquela na ação.
Caso o agente se utilize de violência para praticar o crime de coação no curso do processo,
responderá por este, além da pena correspondente à violência.
Sobre a coação no curso do processo, fique atento às seguintes informações:
14
8-
z Pode ser praticado contra as autoridades responsáveis pela condução do processo, como
41
z Exige-se o dolo específico por parte do agente de favorecer interesse próprio ou alheio;
-3
z É crime formal, que se consuma com o uso de violência ou grave ameaça, independente-
s
co
z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser praticado por escrito e haver extravio.
Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo
quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de tercei-
ro por determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
No art. 346, do Código Penal, há uma outra figura típica, bastante parecida com o crime de
exercício arbitrário das próprias razões.
Sobre este tipo penal, é importante salientar:
14
8-
z É crime de ação múltipla, que irá se configurar com a prática de quaisquer um dos verbos
1
.4
z Trata-se de crime próprio. Exige-se que a coisa seja própria do agente que praticou a con-
-3
z O objeto deve estar em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção. Se for
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Fraude Processual
Com previsão legal no art. 347, do Código Penal, o crime de fraude processual configurar-
-se-á quando o agente inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administra-
tivo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
Aplica-se a pena em dobro se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal,
ainda que não indiciado o agente.
Exemplo: Carlos praticou o crime de homicídio, ao matar Cláudio, que lhe devia uma quan-
tia em dinheiro. Com a finalidade de simular uma hipótese de legítima defesa, para induzir
o perito a erro, Carlos coloca, fraudulentamente, nas mãos da vítima, uma arma de fogo,
modificando o estado de pessoa.
Carlos praticou o crime de fraude processual, respondendo pelo crime com a pena dobra-
da, já que inovou artificiosamente, na pendência de processo penal.
Sobre o crime de fraude processual, fique atento ao seguinte:
z É crime comum;
z Não admite a modalidade culposa;
z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou perito;
z É crime formal, que se consuma com a prática da conduta prevista no tipo penal, ainda
que não seja efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
z Admite a modalidade tentada.
14
Importante!
8-
41
Favorecimento Pessoal
Art. 348 Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é comina-
da pena de reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do crimi-
noso, fica isento de pena.
110 14 (STJ: HC 137.206/SP, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª Turma, j. 01.12.2009).
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O favorecimento pessoal, previsto no art. 348, do Código Penal, configurar-se-á quando o
agente auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada
pena de reclusão.
O crime consiste no apoio dado ao criminoso, seja dando refúgio, abrigo ou facilitando a
sua fuga. Neste crime, o auxílio dá-se após a prática do crime, o que difere da participação,
em que o auxílio é prestado antes ou durante o crime.
Este tipo penal pode gerar algumas dúvidas. Para esclarecê-las, vamos analisar alguns
exemplos:
Exemplo 1: Júnior pratica o crime de roubo. O delegado de polícia da região está a sua
procura. O autor do crime pede para se esconder do delegado na casa de Danilo, seu amigo.
Danilo, em sua casa, esconde Júnior. Júnior responderá pelo crime de roubo; Danilo, pelo
crime de favorecimento pessoal, já que auxiliou a se subtrair da ação de autoridade pública
autor de crime a que se comina pena de reclusão.
Exemplo 2: Francisco, Jefferson e César combinam um crime de roubo. Francisco e Jef-
ferson vão praticar o verbo descrito no tipo penal, César irá dar fuga aos agentes. O crime é
praticado, os policiais acabam tomando conhecimento da prática delituosa e vão atrás dos
criminosos, contudo, eles conseguem se evadir. Todos os agentes responderão apenas pelo
crime de roubo. Não se aplica a César, responsável pela fuga, o crime de favorecimento pes-
soal, porque, para que se configure este crime, não pode o agente ter participado do crime
anterior e nem pode haver liame subjetivo prévio entre os agentes, ou seja, ligação ou víncu-
lo psicológico e subjetivo entre os agentes do delito.
Este crime apresenta uma forma privilegiada, à qual se comina uma pena mais branda se
ao crime praticado não é cominada pena de reclusão (detenção, por exemplo).
Haverá isenção de pena (escusa penal absolutória) caso a conduta que configura o favore-
14
z ascendente;
1
.4
z descendente;
41
z cônjuge;
-3
z irmão.
s
co
ar
M
Art. 349 Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio
destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
Ao favorecimento real não se aplica a escusa penal absolutória mesmo que a conduta seja
praticada pelo ascendente, descendente, cônjuge ou irmão.
Sobre o favorecimento real, é importante mencionar que:
Há uma conduta típica, prevista no art. 349-A, do Código Penal, inserida no ano de 2009,
chamada por parte da doutrina de favorecimento real impróprio.
14
8-
Art. 349-A Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho tele-
41
2.
prisional.
41
Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser praticado mediante a execução de quais-
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Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder
Este crime, previsto no art. 350, do Código Penal, encontrava-se revogado tacitamente pela
Lei de Abuso de Autoridade, Lei n° 4.898, de 1965.
Com a Lei nº 13.964, de 2019, o crime foi expressamente revogado.
Art. 351 Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de
segurança detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Previsto no art. 351, do CP, este crime tem a seguinte figura típica: Promover ou facilitar a
fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva.
Como se pode observar pela leitura da figura típica, este tipo penal poderá ser praticado
de 2 (duas) formas:
z Forma qualificada:
Se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou internado,
1
.4
será crime próprio. Obs: Se a prisão for ilegal, não haverá a incidência deste crime, uma
41
Se o crime é praticado à mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrom-
s
co
z Forma culposa:
Na forma culposa, é crime próprio, que será praticado pelo funcionário incumbido da
guarda ou custódia da pessoa presa. 113
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Sobre o crime de fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança, é importante
levar em consideração:
z Pode ser praticado tanto intramuros (no interior de estabelecimento de natureza prisio-
nal) quando extramuros (durante procedimento de escolta ou condução);
z Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;
z Admite a forma culposa;
z É necessário, para configuração do crime, que a prisão a que está submetida a pessoa seja
legal;
z Trata-se de crime material, que se consuma com a efetiva fuga;
z Admite a forma tentada;
z Caso seja praticado mediante violência contra pessoa, responderá o agente também pela
violência.
z Trata-se de crime próprio, que só poderá ser praticado por pessoa presa ou submetida a
medida de segurança detentiva;
z Só pode ser praticado dolosamente;
z É crime de atentado ou de empreendimento, pois prevê expressamente em sua descrição
típica a conduta de tentar o resultado, por isso, não admite a tentativa;
z Exige-se o emprego de violência contra pessoa.
14
8-
Caso não haja emprego de violência ou se esta seja empregada contra coisa, não irá se
41
2.
z Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciária feminina, para fugir, emprega violência
-3
to de descuido dos agentes prisionais, quebra uma janela com um soco e foge do estabele-
cimento prisional;
z Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária feminina, ao verificar que os agentes
prisionais estão distraídos, foge, pulando o muro do estabelecimento prisional.
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Importante!
Se da violência resultarem lesões, ainda que leves, ou morte, o agente responderá pelos
dois crimes, e as penas serão somadas.
Arrebatamento de Preso
Art. 353 Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou
guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência.
Motim de Presos
14
8-
41
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
.4
41
-3
Amotinarem-se transmite a ideia de revolta coletiva dos presos com a ordem e a discipli-
s
co
Patrocínio Infiel
No art. 355, do CP, temos dois crimes distintos, com as seguintes condutas típicas: patrocí-
nio infiel no caput e patrocínio simultâneo ou tergiversação no parágrafo único.
É crime próprio, que só será praticado pelo advogado ou procurador que trair o dever
funcional;
É crime material, que se consuma quando se prejudicar o interesse do representado;
Não admite forma culposa;
Admite tentativa somente quando o advogado ou procurador pretende cometer o crime
14
na forma comissiva, uma vez que na forma omissiva não se admite a tentativa;
8-
É crime próprio;
41
2.
É crime doloso;
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Não admite a modalidade culposa;
A traição do advogado ou procurador deve produzir prejuízo relevante de qualquer
natureza, material ou moral, desde que lícito;
Admite tentativa;
A ação penal é pública incondicionada.
Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou obje-
to de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Previsto no art. 356, do CP, este crime se configura quando o agente inutilizar, total ou
parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que
recebeu na qualidade de advogado ou procurador.
Este crime pode ser praticado de duas formas:
z É crime próprio, que só pode ser praticado pelo advogado ou procurador que recebeu os
autos, documento ou objeto de valor probatório;
z Não é punido na modalidade culposa;
z A doutrina dominante admite a tentativa na modalidade comissiva — “inutilizar”, mas
não admite na modalidade omissiva — “deixar de restituir”.
14
8-
Exploração de Prestígio
41
12.
.4
Art. 357 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em
co
juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou
ar
M
testemunha:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
NOÇÕES DE DIREITO
Parágrafo único. As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinhei-
ro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.
Não se deve confundir este tipo penal com o crime de tráfico de influência, previsto no art.
332, do CP. Vejamos a diferença na tabela a seguir:
117
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EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO (ART. 357) TRÁFICO DE INFLUÊNCIA (ART. 332)
Crime contra a administração da justiça Crime contra a administração em geral
Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
utilidade, a pretexto de influir em outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a
pretexto de influir em
Juiz, jurado, órgão do Ministério Público, fun- Em ato praticado por funcionário público no
cionário de justiça, perito, tradutor, intérprete exercício da função
ou testemunha
A pena do crime de exploração de prestígio será aumentada de 1/3 (um terço) se o agente
alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina ao juiz, ao jurado, ao órgão
do ministério público, ao funcionário de justiça, ao perito, ao tradutor, ao intérprete ou à
testemunha.
Sobre o crime de exploração de prestígio, leve para a sua prova:
Art. 358 Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Art. 359 Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou pri-
vado por decisão judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
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Este crime está previsto no art. 359, do CP, e configurar-se-á quando o agente exercer fun-
ção, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão
judicial.
O crime de desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito, inserido
no Código Penal entre os crimes contra a administração da justiça, representa uma modali-
dade especial do delito de desobediência, capitulado no art. 329, do CP, entre os crimes prati-
cados por particular contra a administração em geral.
Há, nos dois delitos, o descumprimento de ordem legal emanada de funcionário público.
No entanto, o crime definido no art. 359, do CP, possui elementos especializantes, pois o agen-
te não desobedece a uma simples ordem legal emitida por qualquer funcionário público.
Neste crime, o agente vai além, exercendo função, atividade, direito, autoridade ou múnus
de que estava suspenso ou privado por decisão judicial.
Tutela-se a administração da justiça.
Quanto ao sujeito ativo, verifica-se que se trata de crime próprio ou especial, pois somente
pode ser praticado pela pessoa que, por decisão judicial, foi suspensa ou privada relativa-
mente ao exercício de determinada função, atividade, direito, autoridade ou múnus.
O sujeito passivo é o Estado.
Consuma-se com o simples exercício da função, atividade, direito, autoridade ou múnus
do qual o agente foi suspenso ou privado por decisão judicial, ainda que desta conduta não
seja produzido nenhum resultado naturalístico.
Basta a prática de um único ato capaz de afrontar a determinação emanada do Poder
Judiciário.
Sobre este crime, é importante que você leve em consideração as seguintes informações:
Os crimes contra as finanças públicas foram acrescidos ao Código Penal, em capítulo pró-
41
Dica
NOÇÕES DE DIREITO
Os crimes contra as finanças públicas são próprios, praticados por funcionário públi-
co (crimes funcionais), exigindo-se que este funcionário possa dispor sobre as finanças
públicas.
Parte considerável da doutrina entende ser possível que o particular seja sujeito ativo dos
crimes contra as finanças públicas, desde que, por força de lei, tenha disponibilidade sobre
elas. Entretanto, tal possibilidade é caso extremamente excepcional.
Todos os crimes contra as finanças públicas são processados mediante ação penal pública
incondicionada.
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Contratação de Operação de Crédito
Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, interno ou externo, sem prévia
autorização legislativa:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou realiza operação de crédito,
interno ou externo:
I - com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução do
Senado Federal;
II - quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizado por lei.
z Caso o agente pratique as condutas com autorização legislativa prévia, o fato será atípico,
41
Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar, de despesa que não tenha sido
previamente empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
z Empenho: ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de
pagamento pendente ou não de implemento de condição;
z Liquidação: consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os
títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito;
z Ordem de pagamento: despacho exarado por autoridade competente, determinando que
a despesa seja paga.
Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de
dezembro. Dessa forma, o tipo penal pune o administrador que:
Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser praticado pelo agente público dotado da atribui-
ção de ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o funcionário público praticar o ato
sem atribuição legal para tanto, este será passível de anulação pelo próprio Poder Público,
tornando atípica a conduta.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, a coletividade, em face do
prejuízo causado pelo abalo nas finanças públicas.
14
Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do
último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício
financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida
suficiente de disponibilidade de caixa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
O objeto material do crime é a obrigação assumida nos dois últimos quadrimestres do últi-
mo ano do mandato ou legislatura.
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Pode ser praticado de duas formas:
A prática do crime não está apenas relacionada ao mantado eletivo, mas também ao man-
dato decorrente de indicação.
Trata-se de crime próprio ou especial, por isso, somente agentes públicos titulares de man-
dato ou legislatura, representantes dos órgãos e entidades indicados no art. 20 da Lei Comple-
mentar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, podem ser o sujeito ativo, pois apenas
tais pessoas têm atribuição para assunção de obrigações.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, a coletividade, em face do
prejuízo causado pelo abalo nas finanças públicas.
Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou autoriza a assunção de obrigação, nos últi-
mos oito meses do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga naquele exercício
financeiro ou reste parte a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida suficiente para
tanto, independentemente da comprovação de prejuízo aos cofres públicos.
Sobre este crime, é importante ficar atento às seguintes disposições:
O crime de ordenação de despesa não autorizada está previsto no art. 359-D, do CP:
ar
M
Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que se realize a despesa pública, a qual
compreende os desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente às suas diversas respon-
sabilidades junto à sociedade.
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometi-
do pelo funcionário público com atribuição para ordenar despesas, conhecido como “orde-
nador de despesas”.
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O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”, compreendido como a pessoa que se
limita a cumprir ou executar a ordem expedida pelo ordenador.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo
do ente federativo prejudicado pela conduta criminosa, e, secundariamente, a coletividade,
em decorrência dos prejuízos causados pela ordenação de despesas públicas não autorizadas
em lei.
Consuma-se o crime quando o funcionário público ordena a realização da despesa sem
autorização legal, independentemente da comprovação de efetiva lesão ao erário.
Sobre este tipo penal, é importante mencionar que:
Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito sem que tenha sido constituída contraga-
rantia em valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
O tipo penal pune a conduta do funcionário público que presta garantia sem a observância
do requisito legal.
Quanto aos requisitos legais, devemos entender que “prestar” tem o sentido de conceder
ou autorizar garantia, e isso está em conformidade com o inciso IV, art. 29, da Lei Comple-
mentar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, que afirma que concessão de garantia
14
As condições para a concessão de garantia encontram-se no art. 40, da citada lei. Destaca-
1
.4
Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa total com
12.
.4
Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública ou a colocação no mercado finan-
1
.4
ceiro de títulos da dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou sem que estejam
41
Ordenar é determinar.
Autorizar equivale a permitir que algo seja feito.
NOÇÕES DE DIREITO
ANOTAÇÕES
14
8-
41
12.
.4
41
-3
s
co
ar
M
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