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PC-SP
Polícia Civil de São Paulo

Noções de Direito
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PIRATARIA
É CRIME!
Todos os direitos autorais deste material são reservados e
protegidos pela Lei nº 9.610/1998. É proibida a reprodução parcial
ou total, por qualquer meio, sem autorização prévia expressa por
escrito da Nova Concursos.

Pirataria é crime e está previsto no art. 184 do Código Penal,


com pena de até quatro anos de prisão, além do pagamento
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de multa. Já para aquele que compra o produto pirateado


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sabendo desta qualidade, pratica o delito de receptação, punido


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com pena de até um ano de prisão, além de multa (art. 180 do CP).
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Não seja prejudicado com essa prática.


Denuncie aqui: sac@novaconcursos.com.br
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SUMÁRIO

NOÇÕES DE DIREITO...........................................................................................................5
CÓDIGO PENAL..................................................................................................................................... 5

DOS CRIMES CONTRA A VIDA............................................................................................................................5

DAS LESÕES CORPORAIS ................................................................................................................................21

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO............................................................................................................26

DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS..............................................................................................78

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO EM GERAL...........................................................................................................................80

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA............................................................................102

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NOÇÕES DE DIREITO

CÓDIGO PENAL
DOS CRIMES CONTRA A VIDA

Trataremos neste tópico dos crimes contra a vida, que estão incorporados nos arts. 121 ao
128, do Código Penal. Eles tutelam o bem jurídico mais relevante que temos: a vida, nas suas
modalidades intrauterina ou extrauterina. Os crimes contra a vida poderão ser dolosos ou
culposos, sendo que os primeiros poderão ter conduta comissiva ou omissiva.

Homicídio

O crime de homicídio consiste na supressão da vida extrauterina praticada por outrem.


Tem como ação a seguinte conduta: matar alguém.
A respeito do crime de homicídio, podemos levantar os seguintes pontos:

z Núcleo o tipo: matar;


z Sujeito ativo e sujeito passivo: qualquer pessoa;
z Objeto material: O alguém previsto na conduta necessariamente deve ser a pessoa humana;
z Consumação: o homicídio é consumado com a morte da vítima.

É um crime classificado de diversas modalidades. As principais classificações são:


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� Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa, sem que necessite de quaisquer
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condições especiais;
2.

� Crime material: para sua consumação, é exigida a ocorrência do resultado morte;


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� Crime de forma livre: pode ser praticado com qualquer modo de execução (a tiros, faca-
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das, pauladas, por meio de veneno, entre outros);


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� Crime instantâneo de efeitos permanentes: a conduta delituosa não se prolonga no tem-


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po e, após a consumação, os efeitos são irreversíveis;


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� Crime plurissubsistente: pode ser praticado por meio de um ou mais atos de execução;
NOÇÕES DE DIREITO

� Crime unissubjetivo: pode ser praticado por um ou mais agentes.

É importante que você saiba as classificações aqui descritas, já que elas são bastante cobra-
das em provas.
O crime de homicídio é dividido em:

z Homicídio Doloso:

„ Homicídio simples (caput do art. 121, do CP);


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„ Homicídio privilegiado (§ 1º, art. 121, do CP);
„ Homicídio qualificado (§ 2º, art. 121, do CP).

z Homicídio Culposo (§ 3º, art. 121, do CP).

Veremos a seguir cada um deles.

z Homicídio Simples

O homicídio simples está previsto no caput do art. 121:

Art. 121 Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Tanto o sujeito ativo quanto o sujeito passivo do homicídio simples podem ser qualquer
pessoa. A conduta é praticada mediante dolo (vontade consciente do sujeito). O crime se con-
sumará quando ocorrer a efetiva morte da vítima. Admite-se a forma tentada.
Ele é bastante difícil de ser configurado, já que dificilmente ocorre este crime sem que
alguma qualificadora (que veremos a seguir) seja aplicada. Podemos entender, então, que o
homicídio simples é residual, ou seja, será simples o homicídio quando ele não for qualificado.
Sobre o homicídio simples, a informação mais importante é que, em regra, ele não é crime
hediondo; entretanto, se for praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que
cometido por um só agente, será crime hediondo.
O homicídio simples só será crime hediondo quando praticado em atividade típica de gru-
po de extermínio, ainda que cometido por um só agente, conforme a primeira parte do inciso
I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990.

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no


2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
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I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda
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que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V,
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2.

VI, VII e VIII); [...]


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Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990, com redação dada
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por meio da Lei nº 13.964, de 2019, trata de hipóteses de homicídio qualificado.


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z Homicídio Privilegiado

Art. 121 [...]


§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou
sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Segundo Nucci, privilégios são circunstâncias legais específicas, vinculadas ao tipo penal
incriminador, provocadoras da diminuição da faixa de aplicação da pena, em patamares pré-
via e abstratamente estabelecidos pelo legislador, alterando o mínimo e o máximo previstos
para o crime.
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Para fins do nosso estudo, vamos entender o homicídio privilegiado como uma modalida-
de mais branda do crime de homicídio.
O homicídio privilegiado está previsto no § 1º, art. 121, e configura-se quando o agente
comete o crime amparado por uma das seguintes situações:

„ Relevante valor social: é aquele crime que atende aos interesses da coletividade, ou
seja, a sociedade o entende como possível e compreensível. Ex.: Indivíduo acaba com a
vida de malfeitor em prol da sociedade;
„ Relevante valor moral: referente ao valor moral individual, leva-se em conta os inte-
resses do agente. Temos como exemplos ações movidas por compaixão, beneficiação,
amparo. Ex.: Eutanásia;
„ Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da víti-
ma: como o próprio nome diz, a ação tem que ter acontecido logo após o ato, e o agente
estando sob condições de grandes emoções. O agente deve estar completamente domi-
nado pela situação. Ex.: O marido chega em casa e pega sua companheira em flagrante
com outro indivíduo; dominado pela raiva, sem pensar, e sem controle, acaba matando
o indivíduo.

Importante!
� O agente deve estar sob o domínio de violenta emoção;
� A ação deve ocorrer logo em seguida, ou seja, imediatamente após à injusta provocação;
� Trata-se de repelir injusta provocação e não injusta agressão, vez que, se conside-
rarmos uma injusta agressão, estaríamos frente a uma excludente de ilicitude (legítima
defesa);
� A injusta provocação deve ser da vítima e não de terceiros.
Atenção: as bancas examinadoras costumam alterar o termo domínio por influência!

Quando reconhecido o privilégio, no crime de homicídio, quais as consequências? O juiz


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pode reduzir a pena do agente de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
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Atente-se ao patamar de redução da pena.


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2.

Sobre o homicídio privilegiado, algumas considerações são muito importantes para a sua
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prova:
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„ A jurisprudência firmou entendimento que o homicídio privilegiado, ainda que qualifi-


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cado, não é considerado crime hediondo. Para que seja considerado um crime hedion-
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do, é necessário que a qualificadora seja de ordem objetiva (estudaremos a seguir);


„ Não se comunica para coautores ou partícipes.
NOÇÕES DE DIREITO

Exemplo: o crime de homicídio é cometido por dois agentes (Vicente e Gabriel). Gabriel o
pratica sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima;
Vicente, não. Nesta hipótese, Gabriel responderá por homicídio privilegiado e Vicente, por
homicídio.

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z Homicídio Qualificado

No homicídio qualificado, o agente estará submetido a uma pena maior, mais grave. As
qualificadoras são fatores que tornam a conduta praticada pelo agente, de alguma forma,
mais reprovável por parte da sociedade. O Código Penal, no § 2º, art. 121, estabelece as
seguintes qualificadoras:

Art. 121 [...]


§ 2º [...]
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou
cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou
torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104,
de 2015)
VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente con-
sanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015)
VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Atenção: a segunda parte do inciso I, art. 1º, da Lei nº 8.092, de 1990, com redação dada
por meio da Lei nº 13.964, de 2019, diz que será hediondo o homicídio qualificado em todas
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as hipóteses dos incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII, do § 2º, art. 121, do CP.
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Agora, vamos esclarecer cada um dos incisos do § 2º, art. 121, do CP:
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Se o homicídio é cometido:
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Art. 121 [...]


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§ 2º [...]
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I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;


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Trata-se de uma qualificadora de ordem subjetiva.


O homicídio praticado mediante paga ou promessa de recompensa é conhecido doutrina-
riamente como homicídio mercenário. Tal qualificadora se refere à motivação do agente,
sendo que a consumação do delito ocorre com a morte da vítima e pagamento da recompen-
sa é mero exaurimento do delito.
O homicídio mercenário fica configurado quando o agente pratica o crime motivado por
alguma recompensa (segundo a doutrina, deve ser de natureza econômica), que pode ser
anterior (na modalidade paga) ou posterior (na modalidade promessa de recompensa).

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A 6ª Turma do STJ entende que a comunicabilidade da qualificadora “mediante paga ou
promessa de recompensa” não é automática, tratando-se de qualificadora de natureza pes-
soal, que não irá se comunicar automaticamente ao mandante do crime, respondendo este
na modalidade qualificada, se torpe for o motivo que o levou a pagar pela morte da vítima.1

Importante!
A comunicabilidade da qualificadora ao mandante do crime não é automática e depende-
rá da apuração da motivação de cada um dos agentes.

Assim, por exemplo, se Alessandro, que tem a intenção de matar um desafeto, chamado
Antoniel, pagar R$ 1.000,00 (mil reais) a Fabrício para que este mate Antoniel, a qualificadora
será aplicada a Fabrício; já para Alessandro, o mandante, o homicídio não será necessaria-
mente qualificado.
Motivo torpe refere-se a algo repugnante, nojento, abjeto. Ex.: Matar o pai para ficar com
sua herança. O STJ2 entende que o ciúme, por si só, sem outras circunstâncias, não caracteriza
o motivo torpe.

Art. 121 [...]


II - por motivo fútil;

Motivo fútil refere-se a um motivo pequeno, desproporcional, banal. Há desproporciona-


lidade entre a conduta praticada e a motivação. Ex.: Homicídio motivado por dívida de uma
carteira de cigarro no valor de R$ 5,00.
Trata-se de uma qualificadora de natureza subjetiva.

Art. 121 [...]


III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel,
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ou de que possa resultar perigo comum;


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2.

Temos aqui uma qualificadora de natureza objetiva, relacionada aos meios empregados
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pelo agente para praticar o crime, que podem estar relacionados a meios insidiosos (empre-
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go de veneno), cruéis (asfixia, tortura) ou que possam resultar em perigo comum (fogo,
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explosivo).
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Em relação ao emprego de veneno, segundo a doutrina majoritária, tal qualificadora só


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irá se configurar se ficar comprovado que a vítima ingeriu o veneno sem saber que o fazia.
Caso a vítima saiba que está ingerindo veneno, outra qualificadora poderá ser aplicada, a de
NOÇÕES DE DIREITO

meio cruel.
Importante: no Direito Penal, o agente é punido, em regra, pelo crime que queria praticar.
Assim, caso o agente queira torturar, mas se exceda e acabe matando a vítima, irá responder
por tortura qualificada pelo resultado morte. Se o agente queria matar e usa a tortura como
meio para atingir a sua finalidade, irá responder por homicídio qualificado pela tortura.

1 STJ. 6ª Turma. AgInt no REsp 1681816/GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 03/05/2018.
2 HC 123.918/MG e AgRg no AREsp 569047/PR. 9
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Art. 121 [...]
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne
impossível a defesa do ofendido;

As qualificadoras mencionadas no inciso IV também estão relacionadas aos meios empre-


gados pelo agente. Trata-se de uma qualificadora de natureza objetiva.
Quando o agente comete um homicídio, praticando-o de forma que a defesa da vítima seja
dificultada ou se torne impossível, ele responderá na modalidade qualificada.

Art. 121 [...]


V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime;

Nesta forma qualificada, o agente pratica o homicídio para, de alguma forma, garantir
uma vantagem relacionada a um outro crime. Trata-se de uma qualificadora de natureza
subjetiva. A doutrina chama esta qualificadora de conexão instrumental, que pode ser teleo-
lógica ou consequencial.
Conexão instrumental teleológica assegura a execução futura de um outro crime (Homi-
cídio + Crime: garantir a execução de outro crime).
Conexão instrumental consequencial assegura a ocultação, a impunidade ou vantagem
de outro crime, praticado anteriormente (Crime + Homicídio: assegurar a ocultação, impuni-
dade ou vantagem).
Segundo a doutrina majoritária, o crime anterior ou posterior pode ter sido praticado por
uma outra pessoa, não existindo a obrigatoriedade de que seja o próprio autor do homicídio.
Atente-se, pois as bancas examinadoras costumam confundir o candidato ao afirmar que
nesta qualificadora o agente pratica o homicídio para, de alguma forma, garantir uma vanta-
gem relacionada a uma contravenção penal. A qualificadora é relacionada a outro crime
e não contravenção penal. O Direito Penal não admite analogia in malam partem.

Art. 121 [...]


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VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.


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Fique atento, pois este dispositivo tem grande incidência em provas de concursos públi-
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cos. Estamos falando do feminicídio, uma qualificadora de ordem objetiva.


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Você acertará todos os itens correspondentes quando entender que nem toda morte de
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mulher será considerada feminicídio, mas sim a morte de mulher praticada em razão da
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sua condição de sexo feminino.


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O Código Penal estabelece que se deve considerar razões de condição de sexo feminino
quando a morte da mulher envolver violência doméstica ou familiar ou menosprezo ou dis-
criminação à condição de mulher. Vejamos:

Art. 121 [...]


§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

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O feminicídio ficará configurado com a morte da mulher devido à violência de gênero e
não quando ocorrer a morte da mulher em qualquer situação.

Importante!
Informativo 625 STJ3 Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de
motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação
de violência doméstica e familiar.
Isso ocorre porque o feminicídio é uma qualificadora de natureza objetiva, enquanto o
motivo torpe é uma qualificadora de natureza subjetiva. Sendo assim, é possível o reco-
nhecimento da qualificadora de motivo torpe e do feminicídio ao mesmo tempo, quando
o homicídio for praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar.

Ademais, é importante ressaltar que a pena do feminicídio será aumentada de 1/3 até a
metade em casos de ser cometido nas hipóteses do § 7º, do art. 121. Vejamos:

Art. 121 [...]


§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com defi-
ciência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de
vulnerabilidade física ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e
III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Grave bem as hipóteses de aumento de pena, pois são cobradas recorrentemente em pro-
vas de concurso público.
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Art. 121 [...]


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§ 2º [...]
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VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, inte-
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grantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função


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ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até


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terceiro grau, em razão dessa condição.


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O homicídio será qualificado quando praticado contra os seguintes agentes ou autoridades:


NOÇÕES DE DIREITO

„ Integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército ou Aeronáutica);


„ Integrantes dos órgãos de segurança pública: Polícia Federal; Polícia Rodoviária Fede-
ral; Polícia Ferroviária Federal; Polícias Civis; Policiais Militares; Corpo de Bombeiros
Militares; Polícias Penais federal, estadual e municipal, Guardas Municipais, Agentes de
segurança viária, Força Nacional de Segurança Pública.

3 HC 433.898-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018. 11
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Mais uma vez, você deve ficar atento e levar para a sua prova que não é a morte de qual-
quer dos agentes ou autoridades citados que irá qualificar o homicídio, mas sim se a morte
deles for praticada no exercício da função (enquanto eles trabalham) ou em razão da função
(devido ao cargo que eles ocupam ou função que eles exercem).
A qualificadora também será aplicada se o homicídio for praticado contra o cônjuge, com-
panheiro ou parente consanguíneo até o 3º (terceiro) grau dos agentes ou autoridades que
vimos, também motivado pela função que os agentes ou autoridades exercem.

Dica
É possível que o homicídio seja privilegiado e qualificado ao mesmo tempo?
Sim, é possível, porém, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva, ou seja,
relacionada aos meios empregados pelo agente para executar o crime.
Segundo a doutrina majoritária, o homicídio privilegiado-qualificado não será considera-
do hediondo, porque o privilégio afasta a hediondez.

Art. 121 [...]


VIII - com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido;

Trata-se de uma qualificadora de natureza objetiva e deve ser interpretada de acordo com
o Estatuto do Desarmamento e demais normas complementares.

z Homicídio Culposo

Art. 121 [...]


§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.

O homicídio culposo é aquele em que o agente não quer como o resultado a morte, nem
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assume o risco de realizá-lo, mas acaba causando a morte de alguém por imprudência,
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negligência ou imperícia.
2.

A imprudência fica configurada quando o agente é afoito, praticando conduta não reco-
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mendada pela vida em sociedade. Exemplo: João realiza ultrapassagem em local proibido e
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atinge ciclistas que trafegam na rodovia.


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A negligência, por sua vez, fica configurada quando o agente é omisso ou relapso. Ele não
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faz algo que a vida em sociedade recomenda.


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Além disso, imperícia é a falta de aptidão técnica para o desempenho de determinada


atividade.
Nos exemplos a seguir, que a doutrina apresenta com mais frequência, poderemos ver a
diferença entre a negligência e a imperícia:

„ Ex.: Adolfo é médico cirurgião. Certo dia, ao fazer uma cirurgia renal, ele deixa um bis-
turi dentro do paciente, que vem a óbito.

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Neste caso Adolfo irá responder por homicídio culposo por negligência. Observe que ele é
médico cirurgião, logo, tem perícia para a realização de cirurgias, mas foi omisso ao esquecer
o equipamento dentro do paciente.

„ Ex.: Teobaldo é médico clínico geral em período de residência. Ele vai fazer uma cirur-
gia renal, erra no procedimento e a vítima morre.

Teobaldo irá responder por homicídio culposo por imperícia, já que faltava a ele aptidão
necessária para realizar perícias.
No caso do homicídio culposo, é possível a aplicação do instituto do perdão judicial, pre-
visto no § 5º, art. 121, do CP:

Art. 121 [...]


§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as conse-
qüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária.

Você pode entender a aplicação do perdão judicial ao seguinte caso: pai que, por impru-
dência, provoca um acidente de trânsito e mata o próprio filho. Neste caso, as consequências
da infração penal (homicídio) atingem o pai de forma tão grave (a morte de seu filho) que é
desnecessária a aplicação de sanção penal, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.
O instituto do perdão judicial se aplica apenas aos casos de homicídio culposo.
Falaremos agora das causas de aumento de pena aplicadas ao homicídio.

z Homicídio Majorado

As causas de aumento de pena estão previstas nos § § 4º, 6º e 7º, art. 121. Vejamos:

Art. 121 [...]


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§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de


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inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de


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prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou
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foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3
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(um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de


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60 (sessenta) anos.
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As causas de aumento de pena aplicáveis ao homicídio culposo merecem atenção espe-


NOÇÕES DE DIREITO

cial. Nestes casos, a pena é aumentada de 1/3, quando resultar:

„ Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício;


„ Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as con-
sequências de seu ato. (Nas hipóteses em que a vítima tiver morte instantânea, tal cir-
cunstância, por si só, não pode afastar a causa de aumento da pena, exceto quando o
óbito seja evidente a qualquer pessoa4);
„ Se o agente foge para evitar a prisão em flagrante.

4 STJ. 5ª Turma. HC 269038-RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 2/12/2014 (Info 554). 13
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Já no homicídio doloso, a pena é aumentada de 1/3 quando:

„ Crime praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos.

Art. 121 [...]


§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio.

Nos casos do § 6º, a causa de aumento de pena é aplicável tanto ao homicídio simples,
quanto ao homicídio qualificado.
Já quanto ao feminicídio, conforme já vimos, o aumento será de 1/3 até metade, quando
praticado nas circunstâncias do § 7º, art. 121.

Induzimento, Instigação ou Auxílio a Suicídio ou à Automutilação

No Direito Penal Brasileiro, não se pune a autolesão, ou seja, uma pessoa não será punida
penalmente caso provoque mal somente a si própria.
O tipo penal que iremos estudar não pune o suicídio, que consiste na eliminação da pró-
pria vida, mas sim a conduta daquele que induz, instiga ou auxilia a prática de um suicídio
ou a automutilação.

Art. 122 Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe


auxílio material para que o faça:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Inicialmente, devemos entender o que significa cada um dos verbos que configuram o tipo
penal:
14
8-

z Induzir: criar uma ideia que não existe. A vítima nunca pensou em se suicidar e o agente
41
2.

a induz fazendo com que tenha esta ideia;


1
.4

z Instigar: reforçar uma ideia que já existe. A vítima pensa ou já pensou em se suicidar e o
41

agente a apoia a realizar;


-3

z Auxiliar: o agente presta auxílio material à vítima. Por exemplo, emprestando uma arma,
s
co

uma corda, entre outras formas de auxílio.


ar
M

É importante destacar que a consumação do crime do art. 122 dá-se com o mero induzi-
mento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação, ou seja, trata-se de um crime
formal. O crime não depende da ocorrência do resultado morte, mas ocorrendo, acarretará
no reconhecimento de qualificadoras.
Com o advento da Lei nº 13.968, de 2019, na hipótese de a automutilação ou de a tentativa
de suicídio resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos § § 1º e
2º, art. 129, do CP, a pena cominada é de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

14
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Art. 122 [...]
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, nos termos dos § § 1º e 2º do art. 129 deste Código:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Essa redação (§ 1º, art. 122, do CP) citada põe fim à discussão sobre a possibilidade de ten-
tativa para o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio.
Hoje, a lei diz que o crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio e, agora, à
automutilação, admite tentativa. Porém, em caso de consumação do suicídio ou de a automu-
tilação resultar morte, a pena prevista é de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

z Forma Qualificada

Com a redação da Lei nº 13.968, de 2019, a pena para o crime de induzimento, instigação e
auxílio ao suicídio e de automutilação é duplicada em dois casos. Vejamos:

Art. 122 [...]


§ 3º A pena é duplicada:
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

Nestes casos, a vítima deve possuir uma capacidade mínima de resistência. Caso a vítima
seja menor, com capacidade de discernimento, o crime praticado será o de homicídio ou
lesão corporal, conforme veremos no § 6º do art. 122.

z Aumento de Pena
14
8-

Art. 122 [...]


41

§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computa-
12.
.4

dores, de rede social ou transmitida em tempo real.


41

§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede


-3

virtual.
s
co
ar
M

Não é caso de crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio e à automutilação


quando a vítima não tem algum discernimento para a prática do suicídio e da autolesão.
NOÇÕES DE DIREITO

Caso a conduta seja praticada contra alguém sem qualquer discernimento, por exemplo, uma
criança de 10 anos de idade, não estaremos diante do crime de induzir, instigar ou auxiliar a
prática de suicídio, mas sim diante do crime de homicídio.

Art. 122 [...]


§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos
ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qual-
quer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio,
nos termos do art. 121 deste Código. 15
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Neste sentido, o Código Penal, trata, com a inclusão da redação dada por meio da Lei nº
13.968, de 2019, da hipótese da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão cor-
poral de natureza gravíssima. Se for cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
agente pelo crime lesão corporal gravíssima.

Art. 122 [...]


§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gra-
víssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermi-
dade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo
crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código.

Por fim, se o crime de suicídio se consuma, ou se da automutilação resulta morte e a vítima


é menor de 14 (quatorze) anos, ou contra quem não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o
agente pelo crime de homicídio.

Infanticídio

Art. 123 Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

O infanticídio é classificado pela doutrina como crime bipróprio, já que ele exige qualida-
des especiais tanto do sujeito ativo quanto do sujeito passivo.
É necessário que o sujeito ativo — quem pratica a conduta — seja a própria mãe e que o
sujeito passivo — quem é ameaçado pela conduta criminosa — seja o próprio filho, para que
este tipo penal fique configurado.
14

São outros requisitos que devem estar presentes para configuração do crime de infanticídio:
8-
41
2.

z Que a mãe esteja sob a influência do estado puerperal


1
.4
41
-3

O estado puerperal é uma alteração emocional pela qual passam algumas mães durante o
s

período correspondente ao parto. Não existe prazo definido em lei, na doutrina ou na juris-
co

prudência, sobre quanto tempo dura o estado puerperal.


ar
M

z Que a conduta seja praticada durante ou logo após o parto

O Código Penal adota, para o crime de infanticídio, critério fisiológico, também denomina-
do biopsicológico ou fisiopsicológico, afastando-se do sistema psicológico, que exigia o moti-
vo de honra. O simples estado puerperal é apto ao reconhecimento do infanticídio.
Estado puerperal é o conjunto das perturbações psíquicas e fisiológicas sofridas pela
mulher em razão do fenômeno do parto. Diversos fatores como, por exemplo, sofrimento, a
perda de sangue, a angústia, a inquietação ou outros podem levar a parturiente a sofrer um
colapso do senso moral, uma liberação de impulsos maldosos, chegando por isso a matar o
próprio filho.
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A influência do estado puerperal normalmente acontece em qualquer parto, havendo,
inclusive, julgados dispensando a prova pericial para comprová-lo.
O infanticídio deve ocorrer durante o parto ou logo após, ou seja, logo em seguida ao par-
to, sem intervalo. Antes do início do parto, a morte do feto será aborto, e se não ocorrer logo
após o parto, será homicídio.
A expressão “logo após o parto” compreende todo o período em que permanecer a influên-
cia do estado puerperal. Sobrevindo a fase da bonança, em que predomina o instinto mater-
no, cessa a influência do estado puerperal. Se, não permanecendo o estado puerperal, a mãe
matar o filho, não estaremos diante do crime de infanticídio, mas de homicídio.
O delito só admite o dolo, que pode ser direto ou eventual.
Se houver a hipótese de a conduta de a mãe, em estado puerperal, logo após o parto, cul-
posamente matar o filho, estaremos diante de homicídio culposo.
Há certos casos em que a mulher, após o parto, vê-se acometida da chamada psicose puer-
peral, que é uma doença mental que lhe tira totalmente o poder de autodeterminação. Nesta
hipótese, a mãe é considerada absolutamente inimputável, conforme o caput do art. 26, do
CP.
Se, em outra hipótese, a mãe, além da influência do estado puerperal, tiver outra causa
de semi-imputabilidade, consistente em perturbação da saúde mental, que não lhe retire a
inteira capacidade de entendimento ou autodeterminação, deverá ser aplicada a regra do
parágrafo único, art. 26, do CP, ou seja, a pena do infanticídio poderá ser reduzida de um a
dois terços, ou poderá ser substituída por medida de segurança.

HOMICÍDIO
A parturiente mata o filho sem estar influen-
Homicídio, art. 121, do CP
ciada pelo estado puerperal

INFANTICÍDIO
A parturiente mata o filho sob a influência do
Infanticídio, art. 123, do CP
estado puerperal
14
8-

A parturiente mata o filho influenciada pelo Infanticídio, art. 123, combinado com o pará-
41

estado puerperal e por apresentar alguma ou- grafo único, do art. 26, do CP
2.

tra causa que lhe tire a plenitude do poder de Redução da pena de um a dois terços, ou me-
1
.4

autodeterminação dida de segurança


41
-3

Infanticídio, art. 123, combinado com o caput


s

A parturiente mata o filho por estar acometida do art. 26, do CP


co

de doença mental, psicose puerperal Absolvição sumária, causa excludente da


ar

culpabilidade
M

NOÇÕES DE DIREITO

O infanticídio admite tentativa.

Aborto

O crime de aborto, no Brasil, está no rol dos crimes contra a vida. É tutelado o nascituro
desde a concepção.
O Código Penal não define o aborto. Cabe à jurisprudência e à doutrina defini-lo. De acor-
do com termos relacionados à medicina, aborto é a expulsão do produto da concepção.
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O aborto consiste na interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Dessa
definição sobressaem os seguintes elementos necessários à constituição do delito:

z estado fisiológico da gravidez;


z emprego de meios dirigidos à provocação do aborto;
z morte do produto da concepção;
z dolo.

O aborto é crime de forma livre, admitindo uma infinidade de meios executórios.


Os meios abortivos mais citados são:

z Processos químicos: introdução de certas substâncias químicas no organismo, como o


fósforo, chumbo, álcool, ácido etc.;
z Processos físico-mecânicos: curetagem, jogos esportivos, quedas voluntárias etc.;
z Processos físico-térmicos: bolsas de água quente e bolsas de gelo;
z Processos psíquicos: susto, sugestão, induzimento de terror etc.

O crime de aborto admite tentativa, na hipótese em que se emprega meios abortivos, mas
não sobrevém a morte do feto por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Vejamos as hipóteses de aborto:

z Autoaborto

Art. 124 Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

O autoaborto é o praticado pela própria gestante. Sujeito ativo do delito é a gestante. Ela
executa diretamente a conduta criminosa. Trata-se de crime de mão própria ou de atuação
14

pessoal, pois só pode ser cometido pela gestante em pessoa. O sujeito ativo é a própria ges-
8-

tante e a vítima é o feto.


41
2.

Terceiros podem atuar como partícipes, mas não como coautores.


1
.4

Neste caso temos um crime de mão própria, ou seja, somente pode ser praticado pela ges-
41

tante, não admitindo a coautoria, somente admite-se a participação.


-3
s
co
ar

Importante!
M

O crime de aborto praticado por terceiro com o consentimento da gestante é uma exce-
ção a teoria monista adotada pelo Direito Penal. Trata-se da adoção da Teoria Pluralista,
em que a cada agente será atribuído um tipo penal.

z Aborto Praticado sem Consentimento da Gestante

Art. 125 Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de três a dez anos.

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O art. 125, do CP, comina pena de reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos ao aborto provocado
sem o consentimento da gestante.
O não consentimento da gestante é o elemento essencial à configuração do delito e pode
ser:

„ expresso;
„ presumido.

Expresso, também conhecido como real, ocorre quando a gestante se opõe ao aborto,
mas é vencida pela violência física, grave ameaça e fraude, ou seja, como exemplos, temos,
respectivamente: chute na barriga, ameaça de matar a gestante se ela não abortar e colocar
substância abortiva na alimentação da gestante, sem consentimento da vítima, mãe.
Presumido é quando a gestante está incapaz de consentir nas formas previstas no pará-
grafo único, art. 126, do CP:

„ A gestante não é maior de catorze anos;


„ A gestante é alienada mental (doente mental) ou débil mental (desenvolvimento mental
retardado).

Observe que neste delito do art. 125 o sujeito ativo é o terceiro, aquele que realiza o aborto.
As vítimas, sujeitos passivos, são a gestante e o feto.

z Aborto Consentido e Aborto Consensual

Já no art. 126, do CP, o crime de aborto é praticado por terceiro, mas com o consentimento
da gestante. Aqui, temos na condição de sujeito ativo o terceiro e a gestante, e a vítima, sujeito
passivo, apenas o feto.
14

Art. 126 Provocar aborto com o consentimento da gestante:


8-

Pena - reclusão, de um a quatro anos.


41
2.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
1
.4

anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave


41

ameaça ou violência.
-3
s
co

O aborto consentido ocorre quando a gestante permite que outrem o provoque. É essen-
ar
M

cial ao crime o concurso dos dois elementos:


NOÇÕES DE DIREITO

„ consentimento da gestante;
„ execução do aborto por terceiro.

Observe-se, porém, desde logo, que o aborto consentido é crime bilateral, exigindo a pre-
sença de duas pessoas: a gestante e o terceiro executor.
O terceiro responde pelo art. 126, do CP (aborto consensual), enquanto a gestante, pela 2ª
parte, do art. 124, do CP (aborto consentido).

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O aborto consentido é crime de mão própria ou de atuação pessoal, podendo ser cometido
apenas pela gestante. Mas, evidentemente, admite a presença do partícipe, consistente na
conduta acessória do terceiro que se limita a induzir, instigar ou auxiliar a gestante a con-
sentir na realização do aborto.

z Aborto Qualificado

Art. 127 As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se,
em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobre-
vém a morte.

O art. 127, do CP, estabelece duas hipóteses de aborto qualificado:

„ aborto qualificado pela morte = penas duplicadas;


„ aborto qualificado pela lesão corporal de natureza grave = aumento de 1/3.

As lesões graves são aquelas tipificadas nos § § 1º e 2º, art. 129, do CP.

Dica
Os dois resultados qualificativos do delito, isto é, a morte e a lesão grave, devem ser
imputados ao agente a título de culpa. Estamos diante de hipótese de crime preterdoloso:
o agente age com dolo em relação ao aborto e culpa em relação ao resultado.
Agora, se o agente atua com dolo em relação à morte ou lesão grave, responde por aborto
em concurso formal com o crime de homicídio ou crime de lesão corporal.

z Aborto Legal
14

O art. 128, do CP, estabelece duas modalidades em que o aborto não constitui delito, desde
8-
41

que praticado por médico. Vejamos:


12.
.4
41

Art. 128 Não se pune o aborto praticado por médico:


-3

Aborto necessário
s
co

I - Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;


ar

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro


M

II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante


ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Exclui-se a antijuridicidade, uma vez que a norma penal permite expressamente o aborta-
mento, estabelecendo a licitude do fato.
A doutrina divide o aborto legal da seguinte forma: Aborto necessário ou terapêutico ou
profilático; Aborto sentimental ou humanitário ou ético.

„ Aborto Necessário ou Terapêutico ou Profilático

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Aborto necessário é o praticado por médico, se não há outro meio de salvar a vida da ges-
tante, conforme o inciso I, art. 128, do CP, desde que presentes três requisitos:
Perigo real à vida da gestante;
Não haver outro meio de salvar-lhe a vida;
Execução por médico.
O aborto necessário exige perigo à vida, e não à saúde, da gestante.
Quando chamado de terapêutico, tem efeito curativo, e quando profilático, preventivo.

Importante!
ADPF 54 (feto anencéfalo): de acordo com o entendimento do STF, é possível a gestante se
submeter à antecipação terapêutica de parto em caso de anencefalia, desde que diagnos-
ticado por profissional habilitado. O ministro Gilmar Mendes entende que não se deve punir
o aborto praticado por médico, com consentimento da gestante, se o feto é anencéfalo5.

„ Aborto Sentimental ou Humanitário ou Ético

Aborto sentimental é aquele praticado para interromper a gravidez resultante do estupro.


Os requisitos necessários para a exclusão da ilicitude do aborto humanitário são:
Gravidez resultante de estupro;
Prévio consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal;
Execução por médico (se praticado por outras pessoas, respondem pelo crime).
A prova do estupro pode ser feita por todos os meios admissíveis em direito.
Para a prática do aborto humanitário, não é necessário processo (ação penal), autorização
judicial nem sentença condenatória.
Ação penal é pública incondicionada.

DAS LESÕES CORPORAIS


14
8-

Podemos entender lesão corporal como qualquer alteração ou ofensa provocada na inte-
41
2.

gridade corporal ou na saúde de uma pessoa.


1
.4

A lesão corporal é comum, material, instantânea e de forma livre; portanto, pode ser prati-
41

cada por qualquer pessoa, exige a ocorrência do resultado para fins de consumação, a condu-
-3

ta não se prolonga no tempo e pode ser praticada de qualquer maneira (pedradas, pauladas,
s
co

tiros, socos, chutes, arranhões etc.).


ar
M

As lesões corporais estão previstas no art. 129, do Código Penal, e podem ser divididas da
seguinte forma:
NOÇÕES DE DIREITO

z lesão corporal simples;


z lesão corporal grave;
z lesão corporal gravíssima;
z lesão corporal seguida de morte;
z lesão corporal culposa;
z lesão corporal privilegiada.

5 ADPF 54. Acordão. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.


jsp?docTP=TP&docID=3707334. Acesso em: 9 fev. 2022. 21
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As lesões corporais graves, gravíssimas e seguidas de morte compõem o grupo lesões cor-
porais qualificadas, segundo a doutrina penalista.
O crime de lesão corporal é classificado como delito não-transeunte, que é aquele que dei-
xa vestígios, sendo necessária a realização de exame de corpo de delito.

Lesão Corporal Leve (Simples)

Art. 129 Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

A lesão leve, também chamada de simples, prevista no caput do art. 129, é residual, ou seja,
teremos configurada tal modalidade de lesão, caso não se configure nenhuma das outras.
A lesão corporal qualificada está prevista nos parágrafos 1º, 2º e 3º, do art. 129.

Lesão Corporal Grave

Art. 129 [...]


§ 1º Se resulta:
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

A lesão corporal grave irá se configurar se resultar:

z Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 (trinta) dias. É necessário que
a incapacidade dure mais de 30 (trinta) dias, ou seja, a partir do 31º dia, caso contrário, a
14

lesão corporal não será grave. A incapacidade está relacionada a qualquer ocupação habi-
8-

tual, como estudo, treinos, rotinas domésticas, e não somente ao trabalho;


41
2.

z Perigo de vida;
1
.4

z Debilidade permanente de membro, sentido ou função (atenção, pois trata-se de debilida-


41

de e não perda ou inutilização de membro, sentido ou função);


-3

z Aceleração do parto.
s
co
ar
M

Lesão Corporal Gravíssima

Art. 129 [...]


§ 2º Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
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A lesão corporal gravíssima configurar-se-á se resultar:

z incapacidade permanente para o trabalho;


z enfermidade incurável;
z perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
z deformidade permanente;
z aborto.

Atente-se à seguinte tabela, elaborada para evitar confusões quanto às lesões grave e
gravíssima:

LESÃO GRAVE LESÃO GRAVÍSSIMA


Debilidade permanente de membro, sentido ou Perda ou inutilização do membro sentido
função ou função
Incapacidade para ocupações habituais, mais de
Incapacidade permanente para o trabalho
30 dias
Aceleração de parto
Aborto
Perigo de vida
Exemplo: órgãos duplos, rins — a perda de um Exemplo: Devido às lesões sofridas, a víti-
deles caracteriza debilidade da função excretora ma perde completamente a visão (embora
—, perda de um ou mais dentes — caracteriza de- ainda esteja fisicamente presente, o órgão
bilidade da função mastigatória ou membro é completamente inutilizável)

O Código Penal não divide as lesões em graves ou gravíssimas. Para o Código Penal Brasi-
leiro (CPB), todas elas são graves. Esta divisão é uma construção doutrinária.

Lesão Corporal Seguida de Morte


14
8-

Art. 129 [...]


41

§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
12.

assumiu o risco de produzi-lo:


.4
41

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.


-3
s
co

A lesão corporal seguida de morte dar-se-á quando ficar configurado que o agente não
ar

queria o resultado morte (dolo direto no resultado morte) ou assumiu o risco de produzi-lo
M

(dolo eventual no resultado morte).


NOÇÕES DE DIREITO

Se o agente quer matar, ele responderá pelo homicídio. Porém, caso o agente queira apenas
causar lesões corporais, mas, por algum motivo, acabe se excedendo, provocando a morte da
vítima, ele irá responder por lesão corporal seguida de morte, desde que fique evidenciado
que ele não quis nem assumiu o risco de produzir o resultado morte.
O crime de lesão corporal seguida de morte é um crime preterdoloso, ou seja, é um cri-
me qualificado pelo resultado, em que temos dolo na conduta inicial e culpa no resultado
produzido.

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Lesão Corporal Culposa

Art. 129 [...]


§ 6º Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

A lesão corporal culposa é aquela em que o agente não quer causar lesão corporal na víti-
ma, mas a produz por ter sido imprudente, negligente ou imperito.
É importante compreender que não há gradações na lesão corporal culposa, ou seja, ela
não se divide em leve, grave ou gravíssima, mas tão somente será lesão corporal culposa.
No caso de lesão corporal culposa, é aplicável o instituto do perdão judicial, podendo o juiz
deixar de aplicar a pena se as consequências da infração penal atingirem o agente de forma
que a aplicação de sanção penal torne-se desnecessária.
Aplica-se o perdão judicial ao crime de lesão corporal culposa.

Lesão Corporal Privilegiada

Os motivos que levam o agente a praticar a lesão corporal privilegiada são os mesmos do
homicídio privilegiado. Como consta no § 4°, art. 129,

Art. 129 [...]


§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de um sexto a um terço.

Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob
o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, o juiz pode
reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço).
14

É aplicável o instituto da substituição de pena nos casos de lesão corporal.


8-

Não sendo graves as lesões, nos casos de lesão privilegiada ou nos casos de lesão recíproca
41

(duas pessoas lesionam-se umas às outras), o juiz poderá ainda substituir a pena de detenção
12.
.4

pela de multa.
41
-3

Art. 129 [...]


s
co

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro,


ar
M

ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.

O Código Penal traz disposições específicas para os casos de lesão corporal praticada no
âmbito de violência doméstica. Neste caso, a pena do agente será mais grave, estando ele
submetido a auto de prisão em flagrante, e não somente a mero termo circunstanciado (salvo
nos casos de lesão grave, gravíssima ou seguida de morte).
Considera-se lesão corporal no âmbito de violência doméstica se praticada contra as
seguintes pessoas ou nos seguintes casos:
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z ascendente;
z descendente;
z cônjuge ou companheiro;
z quem conviva ou tenha convivido.

É importante mencionar que, caso a vítima seja mulher, teremos a aplicação da Lei
Maria da Penha e, mesmo que seja caso de lesão corporal leve, a ação penal será pública
incondicionada.
Agora, veremos as hipóteses majoradas do crime de lesões corporais. Há diversas cau-
sas de aumento de pena para este crime, portanto, leia-as com bastante atenção.
Nos casos de lesão corporal culposa:
A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se:

z o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício;


z o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima;
z o autor não procura diminuir as consequências do seu ato;
z o agente foge para evitar prisão em flagrante.

Nos casos de lesão corporal dolosa:


A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se:

z A vítima é menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos;


z For hipótese de lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de morte, praticada em quais-
quer dos casos de violência doméstica vistos;
z Se a vítima, enquadrada em um dos casos de violência doméstica vistos, for pessoa porta-
dora de deficiência.

A pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade:


14
8-

z Se a lesão corporal for praticada por milícia privada, sob o pretexto de prestação de servi-
41
2.

ço de segurança, ou por grupo de extermínio.


1
.4
41

A pena será aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços):


-3
s
co

z Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente das forças armadas (Marinha, Exér-
ar
M

cito ou Aeronáutica), das forças de segurança pública (Polícia Federal, Polícia Rodoviária
Federal, Polícia Ferroviária Federal, Policiais Civis, Polícias Militares ou Corpo de Bombei-
NOÇÕES DE DIREITO

ros Militares), integrantes do sistema prisional (agentes penitenciários) e da Força Nacio-


nal de Segurança Pública, no exercício da função ou em razão dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até o terceiro grau, em razão dessa condição.

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DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Furto

z Furto Simples

Art. 155 Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O primeiro crime contra o patrimônio é o furto simples, disposto no caput do art. 155, do
CP.
Em síntese, o crime de furto é definido por ser a subtração de coisa alheia móvel para si
ou para outrem.
Subtrair significa retirar a coisa da posse da vítima, passando-a ao poder do agente. Pode
ocorrer por apoderamento direto, quando o agente apreende a coisa manualmente, ou por
apoderamento indireto, na hipótese de o agente utilizar-se de terceiros ou de animal.
Para entendê-lo, dividiremos o conteúdo em duas partes:

z Subtrair (verbo): consiste no ato de se apossar de propriedade de outra pessoa, seja para
si ou para outra pessoa. Por exemplo, o agente subtrai para si uma bicicleta que estava
estacionada próximo à lanchonete;
z Coisa alheia móvel: é necessário que o objeto material do crime de furto seja coisa móvel
e que pertença a outra pessoa; caso seja coisa imóvel, ou seja objeto que pertença ao pró-
prio autor, não configurará furto. Exemplo: o agente que, aproveitando da distração da
vítima, subtrai o aparelho celular.

É importante destacar que no delito de furto não há emprego de violência nem grave
ameaça à pessoa, distinguindo-se, nesse aspecto, do delito de roubo.
14

O furto tem as seguintes características:


8-
41
2.

z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa (por exemplo: o agente sub-
1
.4

trai um aparelho celular);


41

z Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, exceto o próprio proprietário do bem;
-3

z Sujeito passivo: qualquer pessoa (ex.: o proprietário, o possuidor ou detentor da coisa legí-
s
co

tima). Neste aspecto, a pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo do crime de furto;
ar
M

z É crime material, que exige a ocorrência do resultado naturalístico para fins de consuma-
ção, ou seja, o crime só ocorre quando o sujeito ativo subtrai a coisa móvel (por exemplo,
quando o agente subtrai a bicicleta);
z O furto só se pratica dolosamente;
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime plurissubsistente, ou seja, a conduta do agente para praticar o furto é fracionada
em diversos atos que, somados, consumam o delito. Portanto, admite a tentativa quando o
agente, por motivos alheios à sua vontade, pratica alguns atos e não ocorre a consumação
do delito. Por exemplo, o agente, com animus de furtar objetos eletrônicos de uma casa,
pula o muro para ingressar no interior da residência, mas o proprietário da casa acorda e
26 acende a luz, momento em que o agente deixa de praticar os demais atos;
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z A coisa sem dono não é objeto de furto;
z Não configura o crime de furto (art. 155, do CP) a subtração de coisa própria, mesmo que
em poder de terceiro, embora possa caracterizar o delito descrito no art. 346, do CP, ou o
crime de furto de coisa comum (art. 156, do CP);
z Não há furto de coisa abandonada, pois não integra o patrimônio de ninguém;
z Se houver o apoderamento de coisa perdida, pode configurar o crime do inciso II, do pará-
grafo único, do art. 169, do CP;
z De acordo com a doutrina majoritária, os bens que possuem o valor afetivo ou sentimental
também pode ser objeto material de furto.

A lei tutela a propriedade e a posse. A simples detenção não configura o crime de furto.
Sobre a consumação deste crime, é importante conhecer o posicionamento adotado pelas
cortes superiores (STF e STJ).
Os tribunais superiores adotam a teoria da apprehensio, também chamada de amotio, que
considera consumado o crime de furto com a posse da res furtiva, ainda que por breve espaço
de tempo e seguida de perseguição do agente, sendo prescindível (dispensável) a posse man-
sa e pacífica ou desvigiada do bem furtado.6
Um questionamento oportuno é verificar se o bem subtraído deve ter valor econômico, ou
seja, se o objeto material pode ser negociável.
Vejamos os bens que integram o patrimônio:

z Bens corpóreos, com existência material (por exemplo, um veículo) e incorpóreos, com
existência abstrata (por exemplo, um direito autoral, de valor econômico);
z Bens de valor afetivo ou sentimental (por exemplo, cartas e fotografias);
z Bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor econômico ou sentimental (por exem-
plo, folha de cheque em branco e cartão de crédito).

Portanto, vimos que não se pode restringir o patrimônio às coisas de valor econômico.
Além disso, o sujeito ativo do crime de furto pode ser qualquer pessoa, pois trata-se de crime
14
8-

comum ou geral.
41

Entretanto, existem algumas exceções quando o crime de furto é praticado por pessoas
12.
.4

específicas ou em determinadas situações. Vejamos:


41
-3

z Furto qualificado pelo abuso de confiança, previsto no inciso II, § 4º, do art. 155; por ser
s
co

crime próprio, o agente é aquela pessoa em que a vítima confia (por exemplo: o furto pra-
ar
M

ticado por um empregado);


z Quanto ao proprietário, caso subtraia a própria coisa que se encontra em poder de ter-
NOÇÕES DE DIREITO

ceiro, não responderá por furto, mas sim pelo crime de exercício arbitrário das próprias
razões (arts. 345 ou 346, do CP, conforme a pretensão seja legítima ou ilegítima);
z Quando a coisa pertencer a mais de uma pessoa, o condômino que a subtrair responderá
pelo delito de furto de coisa comum (art. 156, do CP). Por exemplo, um dos condôminos
furta cadeiras da área de uso comum do condomínio;

6  STJ. 3ª Seção. REsp 1524450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info
572). 27
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z O funcionário público que subtrai bem público responderá por peculato-furto (§ 1º, do
art. 312, do CP), desde que a função pública tenha facilitado a subtração, pois, se em nada
facilitou, o delito será de furto (art. 155, do CP).

„ Funcionário público que subtrai bem particular que se encontra sob a guarda ou custó-
dia da Administração Pública, desde que a função tenha facilitado a subtração, respon-
derá por peculato-furto. Por exemplo: policial rodoviário que subtrai veículo que estava
apreendido no pátio do posto de fiscalização da Polícia Rodoviária;
„ Funcionário público que subtrai bem particular que não estava sob a guarda ou cus-
tódia da Administração Pública ou estava, mas a função em nada facilitou a subtra-
ção, responderá por furto. Por exemplo: policial rodoviário que subtrai um bem que
se encontrava no porta-malas de um veículo que ele foi vistoriar, mas que não estava
apreendido, cometerá o crime de furto.

Vejamos os pontos mais questionados sobre o crime de furto:

z Furto de coisas ilícitas: podem ser objeto de furto. Por exemplo, responde por furto quem
subtrai mercadoria contrabandeada e, neste caso, a vítima responderá pelo crime de con-
trabando. Por outro lado, as coisas ilícitas não podem ser objeto de furto se constituírem
elemento de outro crime; por exemplo, a subtração de droga é crime do art. 33, da Lei nº
11.343, de 2006; a subtração de arma de fogo é crime do art. 16, da Lei nº 10.826, de 2003;
z Algumas partes naturais do corpo humano: podem ser objeto de furto se passíveis de
figurarem em uma relação jurídica; por exemplo, subtração do cabelo com o fim de obter
lucro. Portanto, a subtração de um rim ou outro órgão vital não é furto, e sim lesão corpo-
ral grave ou homicídio consumado ou tentado;
z Cadáver: não pode ser objeto de furto, pois constitui delito do art. 211, do CP — destruição,
subtração ou ocultação de cadáver. Porém, se o cadáver tem valor econômico, por exem-
plo, sendo pertencente à Faculdade de Medicina, haverá furto. Se houver o furto de algum
objeto que foi sepultado junto ao cadáver (por exemplo, arcada dentária de ouro), o crime
14
8-

será furto e a vítima será o herdeiro do de cujus;


41

z Energia elétrica: discutia se constituía ou não coisa móvel. O legislador penal tipificou o
12.
.4

furto de energia elétrica no § 3º, do art. 155, do CP, equiparando-se a coisa móvel à energia
41

elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico, por exemplo, energia radioativa,
-3

energia cinética, energia atômica, energia genética etc. Porém, a energia deve ser susce-
s
co

tível de apossamento, ou seja, deve poder ser separada da coisa que a produz. Assim, não
ar
M

caracteriza furto o apossamento da energia física de animal;


z Instalação clandestina de TV a cabo: há duas correntes:

„ Primeira: trata-se de fato atípico, pois não há propriamente a subtração de energia e,


sim, o aproveitamento de um serviço. A energia se consome ou se reduz com o uso, e
isso não ocorre com a TV a cabo, cuja utilização não gera qualquer custo adicional para
a operadora. É um mero ilícito civil. Observe que o art. 35, da Lei nº 8.977, de 1995 dis-
põe que é “ilícito penal a interceptação ou a recepção não autorizada dos sinais de TV a
Cabo”, entretanto, não lhe cominou qualquer pena, sendo vedada a sua imposição pela
via da analogia;
28
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
„ Segunda: dominante no STJ, considera que há crime de furto. Argumenta-se que o sinal
de televisão se propaga por meio de ondas, o que, na definição técnica, enquadra-se como
energia radiante, que é uma forma de energia associada à radiação eletromagnética.

Furto Qualificado

O furto qualificado é aquele no qual as penas são modificadas nos patamares mínimos e
máximo, aumentando consideravelmente.
Trata-se de qualificado por ter pena própria e não mera causa de aumento de pena. Pode-
mos exemplificar com o caso de o agente furtar objetos eletrônicos de uma casa utilizado
chave falsa para abrir o portão e a porta da casa.
O furto será qualificado nas seguintes hipóteses:

Art. 155 [...]


§ 4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

z Com Destruição ou Rompimento de Obstáculo à Subtração da Coisa

Destruir é desfazer, demolir. Por exemplo, o agente destrói algo para subtrair a coisa, a
exemplo daquele que arromba o portão de uma casa para entrar e subtrair uma televisão.
Romper é abrir brecha, arrombar, arrebentar, serrar, forçar, rasgar etc. Por exemplo, o
agente abre a porta da casa com um pé de cabra para entrar e subtrair uma televisão.
Importante: nos termos do art. 171, do Código de Processo Penal, é exigido a realização
de exame pericial para reconhecer a qualificadora. Nos dois casos (destruição e rompimen-
to), o delito deixa vestígios, sendo imprescindível o exame de corpo delito. Caso os vestígios
14
8-

sejam inexistentes, o corpo de delito houver desaparecido ou as circunstâncias do crime não


41

permitirem a confecção do laudo, o exame pericial poderá ser substituído por outros meios
12.
.4

probatórios.
41

O delito de dano é absorvido pelo furto qualificado, por força do princípio da subsidiarie-
-3

dade implícita.
s
co

Atenção! A destruição e o rompimento são formas de violência que devem ser praticadas
ar
M

contra obstáculo, e não sobre a pessoa. Caso a violência for direcionada à pessoa, estará con-
figurado o crime de roubo.
NOÇÕES DE DIREITO

Obstáculo é aquilo que protege a coisa para dificultar a sua subtração, por exemplo, matar
o cão de guarda da residência, destruir as telhas para adentrar na residência ou, mesmo, cor-
tar os fios do alarme do automóvel ou da cerca eletrificada.
A mera remoção de obstáculo, quando destituída da danificação, não qualifica o furto (por
exemplo, desparafusar o farol do automóvel e desatar o nó da corda que prende a canoa).

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z Com Abuso de Confiança, ou Mediante Fraude, Escalada ou Destreza

No abuso de confiança, o agente se vale de uma relação prévia de confiança entre ele e o
dono, o que faz com que este diminua a vigilância sobre a coisa. O agente utiliza essa confian-
ça para se apoderar da coisa. Podemos citar como exemplo o furto cometido pela empregada
doméstica que, por possuir confiança do dono, detém cópias da chave da casa do patrão e
aproveita essa confiança para subtrai bens no interior da casa.
O uso de fraude fica configurado quando o agente usa de artifício para enganar a vítima
para subtrair a coisa, a exemplo do agente que se passa por funcionário de empresa de tele-
fonia para conseguir entrar em uma casa e subtrair um aparelho celular que nela estava.

Dica
Não confunda o furto mediante fraude com o estelionato.
No furto mediante fraude, o agente usa a fraude sobre a vítima para subtrair a coisa.
No estelionato, o agente emprega a fraude para ludibriar a vítima e fazer com que ela
mesma entregue a coisa.

No furto qualificado pela escalada, segundo o STJ, a entrada em um local dá-se por um
meio anormal, que exige do agente esforço físico incomum. Para a doutrina majoritária, não
é relevante se ocorre por cima ou por baixo, desde que o agente não pratique nenhuma for-
ma de destruição ou rompimento de obstáculo, quando aplicaremos outra qualificadora ao
fato. Nos termos do art. 171, do CPP, esta é uma prática que exige perícia para que possa se
configurar a qualificadora.
No furto qualificado pela destreza, o agente faz uso de alguma habilidade especial, que é
empregada para que a subtração do bem se dê sem que a vítima perceba. Segundo a doutri-
na, o exemplo clássico é o batedor de carteira.
Não há a qualificadora quando a vítima percebe a subtração. Em tal situação, o agente
responde por tentativa de furto simples, ou furto simples consumado, caso consiga arrebatar
14

o objeto.
8-
41
2.

z Com Emprego de Chave Falsa


1
.4
41
-3

No emprego de chave falsa, para subtrair a coisa, o agente faz uso de chave distinta da cha-
s
co

ve original ou de objeto capaz de abrir cadeado ou fechadura (por exemplo, gazuas, pedaço
ar

de arame, micha, clips etc.). Anote-se que a chave falsa pode ou não ter formato de chave. A
M

jurisprudência entende que no caso de furto de veículos realizado por “ligação direta”, não é
possível aplicar a qualificadora do inciso III, § 4º, do art. 155, vez que inexiste o emprego de
instrumentos.
A abertura com a chave verdadeira, obtida ilicitamente pelo agente, não caracteriza chave
falsa.
A cópia da chave verdadeira, quando obtida licitamente, não é chave falsa. Se, no entanto,
for tirada clandestinamente, incide a qualificadora do crime de furto.

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z Mediante Concurso de 2 (duas) ou mais Pessoas

O reconhecimento da qualificadora depende de pelo menos duas pessoas atuando. Dentre


essas, computam-se os inimputáveis (menores e doentes mentais) e os desconhecidos.
Atente-se: se o comparsa é menor de dezoito anos, o agente responderá por furto quali-
ficado em concurso material com o delito de corrupção de menores, previsto no art. 244-B,
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), desde que haja prova da efetiva corrupção do
menor.
Sobre a presença no local do crime, basta a simples participação, independentemente da
presença na fase da execução.
A absolvição do coautor nem sempre exclui a qualificadora. De fato, havendo prova da
pluralidade de agentes, a qualificadora deve ser reconhecida.
No delito de roubo, o concurso de pessoas gera aumento de pena de um terço até metade.
No furto, a pena dobra.
Há doutrina que sustenta a violação do princípio da proporcionalidade da pena, porque o
roubo é mais grave, de modo que o furto qualificado pelo concurso de pessoas deveria sofrer
apenas o aumento de um terço até metade.
O STJ editou a Súmula n° 442: “É inadmissível aplicar no furto qualificado pelo concurso de
agentes a majorante do roubo”.

z Furto Qualificado pelo Emprego de Explosivo

O § 4º-A, do art. 155, do CP, foi introduzido por meio da Lei nº 13.654, de 2018, e dispõe que:

Art. 155 [...]


§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explo-
sivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
14

É o único furto que é crime hediondo (inciso IX, do art. 1º, da Lei 8072, de 1990, com reda-
8-

ção dada pela Lei 13.964, de 2019).


41
2.

O meio utilizado, explosivo ou artefato análogo, torna o fato mais grave, justificando-se o
1
.4

rigor da reprimenda penal, em razão da provocação de perigo coletivo.


41

Meio explosivo é o que causa estrondo, como, por exemplo, dinamite, pólvora.
-3

Importante destacar que o tipo penal, ao contrário do art. 251, do CP, não se refere à subs-
s
co

tância explosiva, mas, sim, a meio explosivo. O meio explosivo utilizado para explodir caixas
ar
M

eletrônicos de agências bancárias para subtrair o dinheiro é um típico exemplo do § 4º-A, do


art. 155, do CP. Já no crime do art. 251, do CP, podemos trazer a hipótese de o agente que lança
NOÇÕES DE DIREITO

um artefato explosivo em um ponto de ônibus e que expõe as pessoas a risco.


O meio ou artefato explosivo, a que se refere a qualificadora em análise, abrange qualquer
explosão, seja ela oriunda de substância explosiva ou não explosiva, mas o assunto certa-
mente ensejará polêmica.
Sobre o artefato explosivo, trata-se de qualquer objeto confeccionado por trabalho mecâ-
nico ou à mão, por exemplo, as denominadas “bombas caseiras”.
Para a incidência da qualificadora, é preciso seja um explosivo ou artefato que cause
perigo comum, ou seja, que coloque em risco um número indeterminado de pessoas ou de
patrimônios. 31
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O agente que se utiliza de um explosivo com potencial para causar perigo comum que,
entretanto, mesmo diante da explosão, não se concretiza, responderá, em caso de destruição
ou rompimento de obstáculo, pelo furto qualificado do inciso I, § 4º, do art. 155, do CP, e não
pela qualificadora em análise, prevista no § 4º-A.
O explosivo geralmente é utilizado em furtos de caixas eletrônicos de bancos, sendo que,
diante do advento desta nova qualificadora, encerra-se o antigo debate travado acerca da
adequação típica, que dividia as opiniões entre o furto qualificado pela destruição ou rom-
pimento de obstáculo (inciso I, § 4º, do art. 155, do CP) e a explosão com intuito de obter
vantagem pecuniária (§ 2º, do art. 251, do CP). O enquadramento do § 4º-A, do art. 155, do CP,
absorve delitos de explosão e de dano, pois já funcionam como causa de aumento de pena,
aplicando-se o princípio da subsidiariedade tácita.

z Furto Mediante Uso de Dispositivo Eletrônico ou Informático (ou Furto Cibernético)

Art. 155 [...]


§ 4º-B A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude
é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de progra-
ma malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 4º-C A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:
I - aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização
de servidor mantido fora do território nacional;
II - aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.

A Lei nº 14.155, de 2021, incluiu no art. 155, do CP, o § 4º-B, que consiste em modalidade
de furto qualificado (pena de reclusão de 4 a 8 anos, e multa) se o furto é cometido mediante
fraude eletrônica, isto é, se realizado:

z Por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de compu-


14
8-

tadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa


41

malicioso;
12.

z Por qualquer meio fraudulento análogo.


.4
41
-3

Um típico exemplo de conduta que configura a forma qualificada do § 4º-B é a realização


s
co

de saques ou transferências bancárias indevidas por meio de clonagem de cartão/senha ou


ar

por meio de furto de cartão via internet.


M

Importante!
Para que se configure a modalidade qualificada de furto mediante fraude por meio eletrô-
nico não é necessário que o dispositivo esteja conectado à internet.

A Lei nº 14.155, de 2021, incluiu, também, no § 4º-C, causas de aumento de pena que se
aplicam especialmente ao furto qualificado mediante fraude, previsto no § 4º-B. São duas as
majorantes que consideram a relevância do resultado gravoso:
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z Aumento de 1/3 a 2/3 se o crime for praticado mediante a utilização de servidor mantido
fora do território nacional (dada a dificuldade de repressão a tal crime);
z Aumento de 1/3 ao dobro se o crime for praticado contra idoso ou vulnerável.

Atenção: o § 4º-C prevê o aumento de pena quando a vítima é idosa ou vulnerável. Víti-
ma idosa, para fins penais, é aquela com idade igual ou superior a 60 anos (interpretação
extensiva mais benéfica ao sujeito passivo). Por sua vez, o dispositivo não mencionou quem é
vulnerável para os fins de aplicação da majorante, devendo-se, neste caso, utilizar o conceito
previsto no art. 217-A (menor de 14 anos; ou pessoa que, em razão de enfermidade ou defi-
ciência mental, não tem o discernimento necessário para a prática de certos atos).

z Furto de Veículo Automotor que Venha a Ser Transportado para outro Estado ou para
o Exterior

Já o § 5º, do art. 155, trata de outra importante qualificadora, que ocorre quando há o fur-
to de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior.
Vejamos:

Art. 155 [...]


§ 5º A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que
venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

Não basta para a incidência da qualificadora, porém, o furto de veículo automotor, pois
ainda se exige o efetivo transporte para outro Estado ou para o exterior. Ou seja, para a con-
sumação do crime, é necessária a efetiva transposição dos limites geográficos.
Veículo automotor engloba, por exemplo, carros, motos, lanchas, aviões etc., porém, a qua-
lificadora é somente aplicável em caso de transposição de veículos e não abrange a transpo-
sição de partes deste (ex.: porta, motor).
14

Não é necessário que o transporte para outro Estado ou exterior seja realizado pelo pró-
8-

prio agente. Basta que o agente saiba da intenção de eventual receptador de transportar o
41
2.

veículo para outro Estado ou exterior.


1
.4

Quem realiza o transporte após a consumação do furto responde pelo crime de recepta-
41

ção. Por consequência, o agente que é contratado para realizar o transporte responde pelo
-3

furto, se o contrato for anterior à subtração, e por receptação, se só foi contratado após a
s
co

consumação.
ar
M

Consuma-se o transporte quando o veículo transpõe os limites das fronteiras do Estado ou


do país, com intuito de ali permanecer.
NOÇÕES DE DIREITO

A mera condução do veículo para outro Estado ou exterior, com o intuito de retornar ao
local de origem, é insuficiente para a caracterização da qualificadora.
Admite-se a tentativa quando o agente realiza a subtração e é preso em flagrante, próximo
à transposição da fronteira, antes de obter a posse pacífica. Sabemos que a jurisprudência
considera o furto consumado como o simples apossamento do bem, independentemente da
posse pacífica. Porém, a tentativa tornou-se impossível, pois, com o início da remoção do
bem, o furto já se consuma nas modalidades anteriores, ainda que o agente seja preso próxi-
mo à fronteira.
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z Furto de Semovente Domesticável

Art. 155 [...]


§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesti-
cável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração.

Por semovente domesticável podemos entender os animais — como bovinos, suínos, equi-
nos, caprinos, aves — criados com o fim de abate, exploração, procriação ou comercialização.
Não se incluem nesse crime os animais domésticos, não voltados para reprodução.
O animal, para caracterizar esta qualificadora, pode ser furtado tanto vivo quanto abatido,
ainda que em partes, no local da subtração.
O bem jurídico primário é o patrimônio do produtor e, o secundário é a saúde pública.
Isso porque o animal poderá ser comercializado pelo criminoso sem que haja fiscalização do
poder público, principalmente sanitária. Pode-se incluir o sistema tributário na condição de
patrimônio lesado.
Na prática, dificilmente esta qualificadora será aplicada, pois este tipo de delito geralmen-
te é praticado por mais de uma pessoa e, diante disso, incidirá a qualificadora do inciso IV, §
4º, do art. 155, do CP, que é mais grave.
Com efeito, presente uma das qualificadoras do § 4º, exclui-se a incidência da qualifica-
dora em apreço, pois sua pena é mais branda, podendo funcionar, nesse caso, como circuns-
tância judicial do art. 59, do CP, servindo de parâmetro apenas para dosagem da pena-base.
Entretanto, existe outra corrente mais favorável ao réu que, com base no princípio da espe-
cialidade, afasta a qualificadora do § 4º quando se tratar de semovente domesticável de pro-
dução, impondo-se, nesse caso, a qualificadora específica do § 6º, considerando-a novatio
legis in melius.
O objeto material é o animal domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em
partes no local da subtração.
Trata-se de um tipo penal aberto, porquanto a definição desse elemento normativo é com-
plementada pelo juiz.
14
8-

Para a incidência da qualificadora, é necessário que o agente subtraia o animal por inteiro
41

ou na sua essência. O tipo penal refere-se à subtração de semovente, e não de partes dele, de
12.

modo que, quando o animal já estava abatido ou dividido em partes, a incidência da qualifi-
.4
41

cadora estará condicionada à subtração do todo ou das partes substanciais.


-3

Na hipótese de o agente deixar no local apenas as patas do boi e subtrair o restante, per-
s
co

siste a qualificadora. Não teria cabimento, por exemplo, qualificar o delito pelo furto de uma
ar

picanha extraída de um animal já abatido. Também não incide a qualificadora quando o


M

próprio agente abate o animal, subtraindo-lhe apenas uma de suas partes.


Observa-se que, ao tempo da conduta, é necessário que o animal ainda pertença ao produ-
tor, posto que o intuito da lei foi protegê-lo.
A subtração, por exemplo, de um porco que se encontra no açougue não qualifica o delito.
Não há que se falar também no delito em estudo quando se subtrai o leite da vaca ou outro
bem produzido pelo animal, porquanto o tipo penal refere-se à subtração do semovente e
não dos bens que ele produz.
Nessas hipóteses, o furto será simples.

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z Subtração de Substâncias Explosivas ou de Acessórios que, Conjunta ou Isoladamen-
te, Possibilitem sua Fabricação, Montagem ou Emprego

O objeto material consiste em substâncias explosivas ou acessórios que possibilitem fabri-


cação, montagem ou emprego de substância explosiva.
O que é substância explosiva? Substância explosiva é a que causa estrondo, dissolvendo-se
com a arrebentação, como, por exemplo, pólvora ou dinamite.
Quanto aos acessórios, são os elementos que, em conjunto ou isoladamente, são capazes
de se transformar quimicamente em uma substância explosiva; aqui podemos exemplificar
com o estopim, a espoleta e o cordel detonante. São esses acessórios que possibilitam a fabri-
cação, montagem ou o emprego da substância explosiva.
A fabricação é a produção ou confecção.
Montagem é a junção dos componentes.
Emprego é a utilização.
O tipo penal não se refere aos maquinários e outros objetos que também são utilizados
para fabricar, montar ou utilizar os explosivos, mas tão somente aos acessórios que com-
põem a própria substância explosiva.
É bom lembrar que configura crime, nos termos do inciso III, § único, do art. 16, da Lei nº
10.846, de 2003, Estatuto do Desarmamento, possuir, deter, fabricar ou empregar artefato explo-
sivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Esse delito será absorvido pelo crime do § 7º, do art. 155, do CP, pois já funciona como
qualificadora.
A pena será de reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, se a subtração for de substân-
cias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
montagem ou emprego.

Furto Majorado

O furto será majorado quando a ele for aplicada a causa de aumento de pena prevista no
14
8-

§ 1º, do art. 155, do CP.


41
12.
.4

Art. 155 [...]


41

§ 1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno


-3
s
co

Sobre o repouso noturno, considere que, segundo o STJ (jurisprudência atual), a causa de
ar
M

aumento de pena se aplica ao furto simples e ao furto qualificado.


O furto majorado ocorre, por exemplo, quando o agente, aproveitando-se do repouso
NOÇÕES DE DIREITO

noturno, entra numa casa para furtar os eletroportáteis.


Há discussão sobre a necessidade de a casa estar habitada e os moradores, repousando,
para que incida o aumento de um terço.
Duas teorias tratam da discussão:

z Teoria subjetiva: a razão de ser do aumento da pena é a maior proteção à tranquilidade


dos que repousam, bem como à incolumidade da vítima, que se encontra dormindo e des-
protegida. Neste caso, restringe-se o aumento da pena ao furto cometido em casa habitada
com os moradores repousando; 35
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Teoria objetiva: o fundamento do aumento da pena é a proteção do patrimônio, que, nes-
se período, encontra-se vulnerável à subtração. A finalidade da lei visa proteger primor-
dialmente o patrimônio, e depois, a tranquilidade.

As duas teorias são aceitas, mas devemos compreender que incide o aumento de um terço
não só em furtos de residência, mas também em bancos, joalherias, casas comerciais, bem
como de automóveis estacionados na rua, de gado (abigeato).
Aplica-se a regra do repouso noturno mesmo que o local seja área comercial ou local
desabitado.

Furto Privilegiado

Na verdade, trata-se de crime com diminuição de pena, uma vez que diminui a pena em
uma porcentagem ou aplica somente a pena de multa (para ser privilegiado, o tipo deveria
fixar novos valores mínimos e máximos de pena).

Art. 155 [...]


§ 2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a
pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena
de multa.

Está previsto no § 2º, do art. 155, do CP. Ocorre, por exemplo, no caso de agente, primário,
que subtraiu uma pequena bolsa vazia de uma loja, cujo valor é inferior ao salário mínimo.
São características do furto privilegiado:

z réu primário;
z coisa furtada de pequeno valor (segundo a jurisprudência, até 1 salário mínimo).

No caso do furto privilegiado, o juiz poderá adotar uma das seguintes medidas:
14
8-
41

z substituir a pena de reclusão pela de detenção;


12.

z diminuir a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços);


.4
41

z aplicar somente a pena de multa.


-3
s
co

Segundo o STJ, é possível o reconhecer privilégio para o furto simples ou para o furto qua-
ar

lificado; entretanto, neste caso, as qualificadoras têm que ser de natureza objetiva (emprego
M

de chave falsa, por exemplo).

Súmula n° 511 (STJ) É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 o


CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente,
o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.

O termo “pequeno valor da coisa” é entendido, pela jurisprudência, como o valor não exce-
dente ao valor do salário mínimo. É necessário o auto de avaliação. É claro que o referencial
do salário mínimo não é tão rígido, admitindo-se o privilégio quando a coisa excede modica-
36 mente esse valor.
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Considera-se “ordem subjetiva” a hipótese de furto qualificado por abuso de confiança.
Deve-se identificar a confiança da vítima para com o agente. Por isso, não se trata de furto
privilegiado.
A regra é que as qualificadoras do crime de furto são objetivas, por exemplo, emprego de
chave falsa. Nesta regra, há compatibilidade com o furto qualificado.

Furto de Uso

Esta conduta não exige a intenção de se apoderar, para si ou para outra pessoa, da coisa
alheia móvel que foi subtraída.
O furto de uso é fato atípico; tal instituto não se aplica ao crime de roubo.
Por exemplo, se o agente subtrai a coisa com a intenção de usar e devolver depois, não
cometerá o crime de furto.
Na hipótese de o indivíduo subtrair uma bicicleta, devolvendo-a após dar uma volta no
quarteirão, não se configura crime de furto.
O reconhecimento do furto de uso necessita da presença de dois requisitos:

z Uso momentâneo de coisa infungível, ou seja, o uso duradouro constitui crime de furto.
Tratando-se de coisa fungível, como o dinheiro, nem o uso momentâneo seguido da pronta
restituição exclui o delito;
z Restituição imediata e integral da coisa. Nesta hipótese, o ladrão, para beneficiar-se do
furto de uso, deve deixar a coisa no mesmo lugar de onde a subtraiu ou nas proximidades.

Furto de Coisa Comum

Art. 156 Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitima-
mente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
14

§ 1º Somente se procede mediante representação.


8-

§ 2º Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que
41

tem direito o agente.


12.
.4
41

Acabamos de dizer que é necessário que a coisa seja alheia no crime de furto. Entretanto,
-3

agora estamos diante de um crime específico, o furto de coisa comum.


s
co

O furto de coisa comum irá se configurar quando o agente for condômino, coerdeiro ou
ar
M

sócio, e subtrair, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, coisa comum.
Temos aqui um crime próprio, que somente poderá ser praticado pelo condômino, coer-
NOÇÕES DE DIREITO

deiro ou sócio.
É crime de ação penal pública condicionada à representação.
O Código Penal é expresso ao fixar que, se a coisa comum for fungível (substituível por
outra da mesma espécie, a exemplo do dinheiro), não será punível a sua subtração caso o
valor não exceda a quota a que tem direito o agente.
Suponha que Alessandro, Fabrício e Diego sejam sócios. A sociedade é avaliada no valor
de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais). As partes na sociedade são iguais. Assim, caso
Alessandro subtraia R$ 50.000,00 (cinquenta mil), não cometerá crime, já que o valor subtraí-
do não é superior à sua quota. 37
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Dica
O furto de coisa comum não é tão cobrado em provas de concursos públicos. Porém,
quando cobrado, tentam misturar suas características com as características do furto
tradicional.

z Furto: coisa alheia, crime comum e ação penal incondicionada;


z Furto de coisa comum: coisa comum, crime próprio e ação penal condicionada.

Outras Hipóteses

Não há furto na hipótese de o credor subtrair bens do devedor para ressarcir-se, pois se
trata de um crime específico, previsto no art. 345, do CP, exercício arbitrário das próprias
razões. Vejamos: “A” deve uma quantia em dinheiro para “B”. “B”, cansado de cobrar o valor
da dívida, subtrai a bicicleta de “A” para quitá-la.
O furto famélico é aquele em que o agente busca saciar a fome, não é estado de necessi-
dade, salvo se a subtração for o único meio de se alimentar. Por exemplo, a mãe, diante da
necessidade de alimentar o filho, subtrai uma maçã de uma barraca de feira para alimentá-lo.
O furto em estado de precisão, aquele em que o agente está desempregado e subtrai ali-
mentos, eletrodomésticos etc., constitui crime. Exemplo: o pai, estando desempregado e sem
condições de manter o sustento da família, subtrai alimentos e eletroportáteis de um hiper-
mercado para suprir o sustento do lar.

ROUBO E EXTORSÃO

Roubo

O roubo é delito pluriofensivo, isto é, ofende mais de um bem jurídico.


A incriminação do roubo visa à tutela do patrimônio, da integridade fisiopsíquica, da saú-
de e da tranquilidade. Na forma qualificada como latrocínio, tutela-se também a vida.
14

O roubo pode ser simples, majorado ou qualificado. Vejamos neste momento o roubo sim-
8-
41

ples, previsto no caput do art. 157:


12.
.4
41

z Roubo Simples
-3
s
co

Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
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violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de


M

resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

O objeto material do crime de roubo é a coisa alheia móvel, ou seja, somente os bens
móveis e corpóreos podem ser objeto material do roubo. Em regra, o bem deve possuir valor
econômico.
Vamos falar das características do crime de roubo:

z É crime comum, já que pode ser praticado por qualquer pessoa;


z Sujeito ativo: pode ser praticado por qualquer pessoa;
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z Sujeito passivo: pode ser tanto a pessoa que sofre a violência física, moral e imprópria,
quanto aquela que sofre a lesão patrimonial. (Nada obsta que um dos criminosos execute a
violência para que o seu comparsa subtraia a coisa. Nesta hipótese, ambos serão coautores
de roubo). A pessoa jurídica também pode ser sujeito passivo do crime de roubo;
z No crime de roubo, a conduta do agente recai sobre a pessoa e coisa alheia móvel;
z É crime complexo, já que atinge mais de um bem jurídico penalmente relevante (há mais
de um crime configurando o tipo penal do crime de roubo): furto (+) ameaça ou violência;
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime material, que exige a ocorrência do resultado para fins de consumação;
z Para consumação, adota-se, assim como no furto, a teoria da apprehensio, ou amotio. Des-
te modo, tem-se em vista o que dispõe a Súmula 582, do STJ:

Súmula n° 582 (STJ) Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à persegui-
ção imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada.

O roubo, previsto no art. 157, do CP, é dividido em 3 (três) espécies:

„ Roubo próprio: antes ou durante a subtração da coisa móvel, o agente emprega violên-
cia ou grave ameaça. Ex.: Tício, fazendo uso de arma de fogo para intimidar a vítima,
anuncia um assalto e subtrai a mochila de Mévio — temos aqui o roubo próprio;
„ Roubo impróprio: o agente subtrai a coisa móvel, em seguida, a fim de assegurar a
impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro, emprega violên-
cia contra pessoa ou grave ameaça.

Art. 157 [...]


§ 1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra
pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa
14
8-

para si ou para terceiro.


41
12.

Ex.: Tício subtrai uma garrafa de vinho caro em um supermercado. Ao sair, verifica que o
.4
41

segurança está vindo em sua direção. Nesse momento, Tício, para poder fugir com a garrafa
-3

de vinho, desfere um soco no rosto do segurança, que cai — temos aqui o roubo impróprio.
s
co
ar
M

Dica
NOÇÕES DE DIREITO

Roubo próprio = Violência + subtração


Roubo impróprio = Subtração + Violência

„ Roubo com violência imprópria: o agente subtrai coisa móvel alheia, depois de haver,
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade a resistência.

Ex.: Tício conhece Mévia em uma festa. Os dois vão para a casa dela. Ele coloca sonífero
na bebida dela, que entra em sono profundo; em seguida, o agente subtrai todos o dinheiro
existente na carteira de Mévia — temos aqui o roubo com violência imprópria.
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Há duas definições às quais devemos ter atenção: arrebatamento inopino e trombada.
No arrebatamento, que é o ato de arrancar com violência a coisa que está em poder da
vítima ou no corpo dela, temos por exemplo o ato de puxar o colar do pescoço da vítima. A
doutrina divide-se. Alguns defendem a tese de que a arrebatamento caracteriza violência
contra coisa, constituindo o delito de furto. Por outro lado, há quem defenda que se trata de
violência contra pessoa, configurando crime de roubo, teoria mais aceita.
A trombada contra a vítima tem suas divergências na jurisprudência. Há quem afirma
que se trata de furto, exceto quando reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, quan-
do então configurará roubo. Outra parte defende que sempre se enquadrará na hipótese de
roubo, visto que o ato tem violência física. Aqui, no caso de trombada, a maioria entende que
se trata de furto.

z Roubo Majorado

O roubo majorado ocorre, por exemplo, quando o agente, sabendo que a vítima está pres-
tando serviço de transporte de valores, subtrai, mediante violência, os malotes que a vítima
portava.
Vejamos as causas de aumento de pena aplicáveis ao crime de roubo.

Art. 157 [...]


§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
I - (revogado);
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
VI - se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isola-
14
8-

damente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.


41

VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca;


12.
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41

Vejamos cada uma das majorantes:


-3
s
co

A primeira majorante, concurso de duas ou mais pessoas, justifica-se pela


ar

maior organização do delito, aumentando a possibilidade de consumação à


M

medida em que diminui a chance de defesa da vítima


PRIMEIRA
Os menores de 18 anos, os doentes mentais e os desconhecidos, participantes
MAJORANTE
da conduta criminosa, também são computados.
(II)
Atenção quanto à diferença entre o crime de furto e de roubo: no furto, o con-
curso de duas ou mais pessoas qualifica o crime; já no roubo, esse fato é uma
majorante
A segunda causa de aumento ocorre quando a vítima está em serviço de trans-
SEGUNDA porte de valores e o agente conhece tal circunstância
MAJORANTE Objetiva-se tutelar a segurança do transporte
(III) “Valores” abrange dinheiro, joias preciosas e qualquer outro bem passível de
ser convertido em pecúnia

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A terceira majorante consiste na subtração de veículo automotor que venha a
ser transportado para outro Estado ou Exterior
A expressão “veículo automotor” abrange, do mesmo modo que estudamos no
TERCEIRA
crime de furto, aeronaves, automóveis, motocicletas, lanchas
MAJORANTE
Para a incidência do aumento da pena, é necessário que o veículo seja efeti-
(IV)
vamente transportado para outro Estado ou Exterior. Isso porque o transporte
diminui a possibilidade de recuperação do bem, facilitando ainda a adulteração
e negociação do veículo, envolvendo, muitas vezes, terceiros de boa-fé
A quarta majorante ocorre quando o agente mantém a vítima em seu poder,
QUARTA restringindo a sua liberdade. Viola-se a liberdade pessoal de locomoção. A res-
MAJORANTE trição da liberdade da vítima deve se dar por tempo juridicamente relevante,
(V) mas que seja somente durante o tempo para a subtração dos bens, diferente-
mente do que ocorre no sequestro
QUINTA A quinta majorante acontece se a subtração for de substâncias explosivas
MAJORANTE ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
(VI) montagem ou emprego. Trata-se de um crime hediondo
A sexta majorante ocorre quando a violência ou ameaça é exercida com o em-
SEXTA
prego de arma branca. Por arma branca entendemos qualquer objeto que pos-
MAJORANTE
sa ser utilizado para atacar ou defender alguém, mas que, pela natureza do
(VII)
objeto, não tenha essa finalidade (ex.: facas)

Ainda sobre as majorantes, é importante ressaltar alguns pontos sobre a subtração de


substâncias explosivas ou acessórios:

z Substância explosiva é a que causa estrondo, dissolvendo-se com a arrebentação, como,


por exemplo, pólvora ou dinamite;
z Quanto aos acessórios, são os elementos que, em conjunto ou isoladamente, são capazes
de se transformar quimicamente em uma substância explosiva; aqui, podemos exemplifi-
car com o estopim, a espoleta e o cordel detonante. São esses acessórios que possibilitam a
fabricação, montagem ou emprego da substância explosiva;
z Fabricação é a produção ou confecção;
14

z Montagem é a junção dos componentes;


8-
41

z Emprego é a utilização.
12.
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A última causa de aumento de pena é a violência ou grave ameaça exercida com emprego
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de arma branca.
s
co

Abrange as armas impróprias, que são os instrumentos que servem para ataque ou defesa,
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embora não seja essa a sua finalidade, como tesoura, faca de cozinha, pedaço de pau, caco de
M

vidro etc., bem como as armas próprias que não sejam de fogo, que são os instrumentos cuja
NOÇÕES DE DIREITO

finalidade específica é o ataque ou a defesa, como o punhal, a espada, o soco inglês e outros.

Importante!
Em relação à causa de aumento de pena referente ao concurso de duas ou mais pessoas,
entende o STJ, em se tratando de hipótese de associação criminosa, que os agentes
respondem pelo roubo com aumento de pena e pelo crime de associação criminosa, em
concurso material.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O roubo praticado com restrição da liberdade é aquele em que o agente mantém a vítima
em seu poder, restringindo a sua liberdade. Por exemplo, imagine que Tiago, portando uma
faca, anuncie um assalto para subtrair o veículo de Diego. O autor subtrai o veículo, coloca a
vítima no porta-malas e o leva por 10 quilômetros, liberando-o em seguida.
No exemplo dado, será aplicada a causa de aumento de pena a Tiago, já que ele restringiu
a liberdade de Diego, vítima do roubo.

Art. 157 [...]


§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo;
II - se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de arte-
fato análogo que cause perigo comum.
§ 2º B Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito
ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

Aqui estamos diante de três majorantes do roubo com emprego de arma de fogo. São elas:

ARMA DE Aquela cujo porte é passível de obtenção. Neste caso, a pena é aumentada
FOGO DE USO de 2/3 (dois terços), por força do inciso I, § 2º-A, do art. 157, do CP, introdu-
PERMITIDO zido pela Lei nº 13.654, de 2018
ARMA DE Aquela cujo porte é restrito a determinadas pessoas. Neste caso, a pena é
FOGO DE USO dobrada, nos termos do § 2º-B, do art. 157, do CP, introduzido pela Lei nº
RESTRITO 13.964, de 2019
ARMA DE
Aquela cujo porte é vedado. A pena também é dobrada, nos termos do § 2º-
FOGO DE USO
B, do art. 157, do CP, introduzido pela Lei nº 13.964, de 2019
PROIBIDO

Justifica-se a majorante em razão da maior potencialidade lesiva do fato, que cria risco de
morte à vítima.
O porte velado, oculto, não majora a pena do roubo, porque a lei exige o emprego da arma,
14
8-

consistente no uso efetivo ou porte ostensivo. Assim, só incide a majorante quando a violên-
41

cia ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo.


12.

Observe que o roubo majorado absorve o delito de arma de fogo, previsto na legislação
.4
41

especial, que já funciona como causa de aumento de pena.


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Quanto à arma de brinquedo, não funciona como causa de aumento de pena, pois não se
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trata de arma de fogo, mas é suficiente para servir de meio de execução de um roubo simples.
ar

Quanto à arma descarregada, também não majora a pena do roubo; falta-lhe potencialida-
M

de ofensiva e, portanto, não se trata de arma, respondendo o agente por roubo simples.
Já quanto à arma não apreendida, compete ao agente exibi-la em juízo para que seja peri-
ciada, sob pena de incidência da majorante diante da presunção de potencialidade ofensiva.
Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo — causa de aumento
de pena acrescida pela Lei n° 13.654, de 2018 — devemos observar o seguinte:

z Quem praticou o crime de roubo com arma branca antes da Lei nº 13.654, de 2018, não terá
incidência de majorante;
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca depois da Lei nº 13.654, de 2018, e antes
42 do Pacote Anticrime não terá incidência de majorante;
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Quem praticou o crime de roubo com arma branca depois do Pacote Anticrime terá a inci-
dência da majorante de 1/3 a 1/2;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso permitido antes da Lei nº 13.654,
de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a 1/2;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso permitido depois da Lei nº
13.654, de 2018, terá a incidência da majorante de 2/3;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso restrito ou proibido antes da Lei
nº 13.654, de 2018, terá a incidência da majorante de 1/3 a1/2;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso restrito ou proibido depois da
Lei nº 13.654, de 2018, e antes do Pacote Anticrime terá a incidência da majorante de 2/3;
z Quem praticou o crime de roubo com arma de fogo de uso restrito ou proibido depois do
Pacote Anticrime terá pena em dobro.

Vamos estudar agora o roubo majorado pela destruição ou rompimento de obstáculo com
emprego de explosivo.
Observa-se que a qualificadora do § 4-A, do crime de furto, tem incidência ainda que não
haja destruição ou rompimento de obstáculo, bastando o emprego de explosivo ou de artefa-
to que cause perigo comum, ao passo que, no roubo, a majorante em análise depende, além
do explosivo ou artefato que cause perigo comum, que haja ainda destruição ou rompimento
de obstáculo.

Roubo Qualificado

Art. 157 [...]


§ 3º Se da violência resulta:
I - lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa;
II - morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.

O roubo será qualificado pelo resultado em duas hipóteses:


14
8-
41

z lesão corporal grave;


12.
.4

z morte — latrocínio.
41
-3

A doutrina majoritária entende que a lesão corporal grave e a morte não precisam ser
s
co

praticadas intencionalmente pelo agente, ou seja, é possível que o roubo seja qualificado pelo
ar
M

resultado, mesmo se o resultado tiver sido provocado pelo agente culposamente, quando ele
faz uso de violência.
NOÇÕES DE DIREITO

Iniciaremos o estudo do roubo qualificado pela lesão corporal.


Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito)
anos, e multa.
Entende-se por lesão grave, nesta qualificadora, tanto os resultados previstos no § 1º, do
art. 129, do CP (lesão corporal grave), quanto os previstos no § 2º, do art. 129, do CP (lesão
corporal gravíssima).
Se houver lesão leve, o roubo é simples.
Trata-se de crime qualificado pelo resultado.
43
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A lesão grave pode ocorrer a título de dolo ou culpa, sendo que, nessa última hipótese, o
delito será preterdoloso. Em ambos os casos, o delito de lesão corporal é absorvido, porque já
funciona como qualificadora.
Observe que se houver lesão grave consumada e subtração patrimonial tentada, para uns
autores haverá o crime da 1ª parte, § 3º, do art. 157, consumado; outros, porém, sustentam
que o delito seria tentado.
O roubo qualificado pelo resultado morte, o latrocínio, é um crime qualificado pelo resul-
tado morte.
Por incrível que pareça, não se trata de crime contra vida, mas sim de crime contra o
patrimônio.
Constitui crime hediondo.
Para compreendermos o momento de consumação do latrocínio, é necessário conhecer a
Súmula 610, do STF:

Súmula n° 610 (STF) Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não
realize o agente a subtração de bens da vítima.

SUBTRAÇÃO MORTE LATROCÍNIO


Consumada Tentada Latrocínio
Tentada Tentada tentado
Consumada Consumada Latrocínio
Tentada Consumada consumado

Importante!
Caso o agente mate o seu comparsa, após a prática do roubo, para ficar com a vantagem
do crime somente para si, não há que se falar, neste caso, em crime de latrocínio.
14

A palavra “latrocínio” não se encontra no atual Código Penal. Trata-se de uma expressão
8-

tradicional.
41
2.

O latrocínio pode ser próprio ou impróprio.


1
.4

O latrocínio próprio ocorre quando a morte acontece antes ou durante a subtração da


41

coisa; por exemplo, o agente mata o empregado de um estabelecimento comercial, subtrain-


-3

do em seguida o dinheiro do caixa.


s
co

No latrocínio impróprio, o agente primeiro se apodera da coisa, sem qualquer violência,


ar
M

matando a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar a subtração ou a impunidade.


Por exemplo, o agente, logo após subtrair um bem, mata o policial que o surpreende.
O sujeito passivo é tanto a pessoa que sofre a lesão patrimonial quanto aquela que é mor-
ta, podendo esta última ser até mesmo um policial ou terceiro.
Observe que estamos diante de crime pluriofensivo, que ofende mais de um bem jurídico,
quais sejam: o patrimônio e a vida.
Não há necessidade de que morra a vítima do patrimônio, sendo suficiente, para a carac-
terização do delito, a morte de qualquer outra pessoa.
Na hipótese de pluralidade de sujeitos passivos com unidade de subtração patrimonial,
haverá um só delito de latrocínio. Exemplo: O agente mata três empregados e em seguida
44 subtrai bens do patrão.
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O latrocínio é delito qualificado pelo resultado, tendo em vista a duplicidade de eventos.
A morte pode ocorrer a título de dolo ou culpa. Somente na hipótese de o latrocínio ser na
modalidade culposa é que o delito será preterdoloso.
A morte deve decorrer da violência física. Se decorrer de grave ameaça ou violência
imprópria, exclui-se o delito de latrocínio, respondendo o agente por roubo em concurso
com homicídio.
Por fim, para encerrarmos o crime de roubo, sobre o latrocínio, fique atento ao seguinte:
o latrocínio é o roubo qualificado pelo resultado da violência empregada pelo agente, resul-
tando-se uma morte.
Logo, se a morte resultar de outro elemento que não seja a violência empregada, não há
que se falar em latrocínio.
O emprego de arma de brinquedo não caracteriza a aplicação da causa de aumento de
pena; entretanto, pode contribuir para a configuração do crime de roubo, já que pode carac-
terizar a grave ameaça.

Extorsão

Art. 158 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça
ou deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Tutela-se a propriedade, a posse, a integridade física e fisiopsíquica, bem como a liberdade


pessoal. Trata-se de delito pluriofensivo, porque ofende mais de um bem jurídico.
O núcleo do tipo é o verbo constranger, que significa coagir, forçar, obrigar alguém a fazer,
deixar de fazer ou tolerar que se faça alguma coisa que a lei não lhe impõe.
O delito é punido a título de dolo. O agente visa conseguir da vítima uma ação ou omissão,
com o fim de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem econômica.
A finalidade específica é a intenção de obter uma vantagem indevida e econômica.
14
8-

A vantagem econômica pode consistir em bem móvel ou imóvel, diferentemente do roubo,


41

cuja vantagem se restringe ao bem móvel.


12.

A vantagem, além de econômica, deve ainda ser indevida, contrária ao direito.


.4
41

Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pes-
-3

soa. Observe que o funcionário público também pode cometer extorsão. A doutrina ilustra a
s
co

hipótese de escrivão de polícia que exige dinheiro de uma pessoa para influenciar o delegado
ar

de polícia a realizar o indiciamento.


M

Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica, inclusive a que sofre constran-
NOÇÕES DE DIREITO

gimento sem lesão patrimonial.


O crime de extorsão ocorre quando, por exemplo, o agente chantageia uma mulher e o
marido, ameaçando de morte o seu filho, objetivando a obtenção de vantagem econômica.
Neste crime, observe que não se fala em coisa móvel, mas sim em indevida vantagem eco-
nômica. Logo, para a configuração da extorsão, é possível que a vantagem econômica seja
coisa imóvel.
Características da extorsão:

z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa; 45


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z É crime complexo, já que tutela tanto o patrimônio quanto a liberdade individual;
z Não admite a modalidade culposa (só pode ser praticado dolosamente);
z A consumação do crime dá-se quando a vítima, depois de sofrer a violência ou grave amea-
ça, realiza o comportamento desejado pelo agente criminoso, ainda que este não venha a
receber a vantagem almejada. Trata-se de um crime formal, sendo que o recebimento da
vantagem indevida é mero exaurimento para o crime.

Súmula n° 96 (STJ) O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da van-


tagem indevida.

É importante não confundir o crime de extorsão com o crime de roubo, que acabamos de
estudar:

ROUBO EXTORSÃO
O agente emprega a violência ou grave ameaça
para determinar um comportamento da vítima
O agente emprega a violência ou grave ameaça,
e obter indevida vantagem econômica
visando à subtração. A participação da vítima é
A participação da vítima é indispensável; sem
dispensável
ela, o autor não consegue obter a indevida van-
tagem econômica

No delito de extorsão, há a presença dos seguintes elementos:

z Constrangimento para obter da vítima uma ação, omissão ou tolerância;


z Emprego de violência ou grave ameaça;
z Finalidade de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem econômica.

z Extorsão Qualificada
14

Art. 158 [...]


8-
41

§ 1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a
2.

pena de um terço até metade.


1
.4
41
-3

Dispõe o § 1º, do art. 158, do CP, que, se o crime for cometido por duas ou mais pessoas, ou
s

com o emprego de arma, aumenta-se a pena de 1/3 até a metade.


co
ar

Por exemplo: dois agentes chantageiam uma mulher, ameaçando de morte a sua mãe,
M

objetivando a obtenção de vantagem econômica.


Trata-se de causa de aumento de pena em quantidade fixa, que, em face da posição topo-
gráfica, é inaplicável à extorsão do § 2º, do art. 158.
São duas as majorantes da pena, vejamos:

„ Concurso de duas ou mais pessoas;


„ Emprego de arma. Observe que há emprego de qualquer arma, própria ou imprópria,
não necessita ser arma de fogo.

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z Extorsão Qualificada pelo Resultado

Art. 158 [...]


§ 2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior.

Veja que o § 2º, do art. 158, do CP, dispõe que será aplicado à extorsão praticada mediante
violência o disposto no § 3º, do artigo anterior, ou seja, do crime de roubo.
Assim, a extorsão qualificada pelo resultado ocorre quando, em razão da violência, resulta
a lesão corporal de natureza grave ou morte.
Na hipótese de lesão grave, a pena é de reclusão de 7 a 15 anos, além de multa; no caso de
morte, reclusão de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
Observe que a lesão grave ou a morte deve decorrer de violência física, podendo ocorrer a
título de dolo ou culpa, afastando-se a qualificadora quando resultar de grave ameaça.

z Extorsão Qualificada pelo Sequestro — Sequestro Relâmpago

Art. 158 [...]


§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é
necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12
(doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas
previstas no art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente.

Dispõe o § 3º, do art. 158, do CP, que se o crime é cometido mediante restrição da liberdade
da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 a 12 anos, além de multa. Se resultar lesão corporal grave ou morte, aplicam-se
as penas previstas nos § 2º e 3º, do art. 159, respectivamente.
Por exemplo, a vítima é conduzida, no seu próprio veículo, sendo coagida a percorrer
caixas eletrônicos para a retirada de dinheiro, revelando ao meliante o código secreto de seu
cartão bancário magnético.
14
8-

O bem jurídico protegido é o patrimônio e a liberdade pessoal de movimento, isto é, o


41

direito de ir, vir e ficar no local livremente escolhido, assemelhando-se, destarte, à extorsão
12.
.4

mediante sequestro.
41

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.


-3

É ainda crime permanente, viabilizando-se, enquanto não cessar o estado de permanên-


s
co

cia, a participação, a legítima defesa e a prisão em flagrante.


ar
M

O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa física ou jurídica.


Admite-se a presença de mais de um sujeito passivo. Por exemplo, o extorsionário realiza
NOÇÕES DE DIREITO

o sequestro relâmpago do dirigente de uma pessoa jurídica, obrigando-o a assinar cheques


da empresa.
Para sua tipificação, exige-se a presença dos elementos da extorsão fundamental: cons-
trangimento, por meio de violência ou grave ameaça, para se obter da vítima uma ação ou
omissão, com o fim de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem econômica.
Observe que, se a vantagem for absolutamente impossível de se obter, não há extorsão,
respondendo o agente apenas pelo delito de sequestro. Por exemplo, sequestro relâmpago
para obrigar menor impúbere a assinar nota promissória.
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Não se esqueça: além do constrangimento, por meio de violência ou grave ameaça, exige-
-se ainda a restrição da liberdade, isto é, um sequestro “relâmpago”, rápido.
Para que o sequestro relâmpago fique configurado, o Código Penal exige a restrição da liber-
dade da vítima e que essa condição seja necessária para a obtenção da vantagem econômica.
Ex.: “A”, criminoso conhecido na cidade, aborda “B”, apontando uma arma de fogo para
ela, ameaçando-a. Com a intenção de obter indevida vantagem econômica, “A” a conduz, for-
çadamente, em um veículo de origem duvidosa, ao banco, constrangendo a vítima, que saca
R$ 1.000,00 para o autor.
No exemplo visto, ficou configurado o crime de extorsão mediante restrição da liberdade.
Analise os elementos:

z emprego de grave ameaça;


z constrangimento à vítima;
z objetivo de obter indevida vantagem econômica;
z restrição da liberdade, que foi condição necessária para obtenção da vantagem.

Se, no caso de sequestro relâmpago, ocorrer o resultado morte ou o resultado lesão cor-
poral de natureza grave, o agente será punido com as mesmas penas aplicadas ao crime de
extorsão mediante sequestro qualificada (24 a 30 anos; 16 a 24 anos, respectivamente).

z Extorsão Hedionda

O delito de extorsão só é crime hediondo na situação do § 3º, do art. 158, do CP.


Esta hipótese foi introduzida pela Lei 13.964, de 2019.
Assim, dispõe o inciso III, do art. 1º, da Lei nº 8.072, de 1990, que é crime hediondo a extor-
são qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte.
A Lei nº 13.964, de 2019, em vez de manter como hediondo o § 2º, do art. 158, do CP, e
acrescentar o § 3º, do art. 158, do CP, em sua nova redação, só fez menção ao § 3º, do art. 158.
14

Por exemplo, o agente restringe a liberdade da vítima, com o emprego de violência a sua
8-

pessoa como forma de obter indevida vantagem econômica.


41
12.
.4

Extorsão Mediante Sequestro


41
-3

Art. 159 Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
s
co

como condição ou preço do resgate:


ar
M

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

A extorsão mediante sequestro, prevista no art. 159, do Código Penal, será configurada
quando o agente sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço de resgate.
Neste crime, temos a restrição da liberdade da vítima (mediante sequestro ou cárcere pri-
vado), só que o agente possui uma finalidade específica (exige-se dolo específico): obter qual-
quer vantagem (segundo a doutrina, deve ser vantagem indevida e de natureza patrimonial),
como condição ou preço de resgate.
Características da extorsão mediante sequestro:
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z É crime comum — qualquer pessoa pode cometê-lo;
z É crime complexo — junção de 2 (dois) crimes: extorsão mais sequestro ou cárcere privado;
z É crime permanente, já que sua conduta se protrai (prolonga) — atenção à aplicação da
Súmula 711, do STF;
z É crime formal, que se consuma com a restrição da liberdade, desde que motivada pela
obtenção de condição ou preço de resgate;
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite tentativa.

É importante mencionar que o agente deve sequestrar “pessoa”. Caso seja um animal (pare-
ce bobo, mas já foi cobrado em prova), não haverá o crime de extorsão mediante sequestro.
É importante mencionar, também, um entendimento defendido pela doutrina majoritá-
ria: no resultado “morte”, não é necessário que a pessoa morta seja a vítima do sequestro,
podendo ser qualquer pessoa que morra em decorrência da extorsão mediante sequestro.
Assim, por exemplo, se um empregado for ao local combinado com os sequestradores, a pedi-
do de seus patrões, entregar o resgate e for morto pelos autores, a qualificadora será aplicada
da mesma forma (observe que o empregado não é vítima do crime — não foi sequestrado
nem pagou o resgate).
A pessoa jurídica pode ser vítima de extorsão mediante sequestro, segundo entendimento
doutrinário dominante, quando dela for exigida a vantagem correspondente ao resgate.
A extorsão mediante sequestro traz em suas disposições a possibilidade de aplicação do
instituto da delação premiada.
A delação será aplicada no caso de o crime ser cometido em concurso de pessoas, ao con-
corrente que denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado.
Neste caso, o concorrente que denunciou terá a pena reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois
terços).

z Extorsão Mediante Sequestro Qualificada


14

Art. 159 [...]


8-

§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18


41
2.

(dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.


1
.4

Pena - reclusão, de doze a vinte anos.


41
-3
s

Há quatro qualificadoras:
co
ar
M

„ se o sequestrado é menor de 18 anos;


„ se o sequestro dura mais de 24 horas;
NOÇÕES DE DIREITO

„ se o sequestrado é maior de 60 anos;


„ se o crime é cometido por quadrilha ou bando.

A primeira encontra sua razão de ser na maior fragilidade emocional do sequestrado


menor de 18 anos, cuja personalidade se encontra ainda em formação.
A segunda qualificadora, o sequestro que dura mais de 24 horas, é um crime a prazo, por-
que o seu reconhecimento depende de um lapso de tempo. Quanto mais duradouro o seques-
tro, maior o sofrimento da vítima e dos familiares, daí a razão da qualificadora. Contam-se as
horas, minuto a minuto, a partir do início da privação da liberdade. 49
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A terceira qualificadora foi introduzida pelo Estatuto do Idoso. Ocorre quando o seques-
trado é maior de 60 anos. Se no início do sequestro era menor de sessenta, ao atingir esta
idade incide a causa de aumento, caso ainda esteja em poder dos sequestradores. Há tese que
afirma que a lei diz maior de 60 anos, motivo pelo qual não se aplica qualificadora.
A quarta qualificadora, crime cometido por quadrilha ou bando, justifica-se pela maior
organização dos sequestradores, aumentando as chances de êxito no delito. Quadrilha ou
bando é a associação estável ou permanente entre três ou mais pessoas, com o intuito de
cometer uma série indeterminada de delitos.

z Extorsão Mediante Sequestro Qualificada pelo Resultado

Art. 159 [...]


§ 2º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

A extorsão mediante sequestro é qualificada se do fato resulta:

„ lesão corporal de natureza grave;


„ morte.

Vejamos uma hipótese: o agente priva a vítima da liberdade, colocando-a sob vigilância
em um cativeiro; em seguida, visando obter vantagem, exige de familiares da vítima o preço
do resgate. Entretanto, devido a um impasse com os familiares, o agente mata a vítima.
O § 2º, do 159, do CP, dispõe que, se o fato resulta lesão corporal de natureza grave, a pena
cominada é de reclusão, de 16 a 24 anos.
E o § 3º, do 159, do CP, dispõe que, se resulta morte, a pena será reclusão de 24 a 30 anos.
14

A lesão grave e a morte podem ser dolosas ou culposas.


8-

Os delitos de homicídio e lesão corporal, sejam eles dolosos ou culposos, são absorvidos,
41

porque já funcionam como qualificadoras.


12.
.4

A extorsão mediante sequestro seguida de morte é o crime mais grave do CP, tendo como
41

pena mínima 24 anos de reclusão.


-3

Não há necessidade de que a morte seja provocada por violência física ou grave ameaça. O
s
co

suicídio do sequestrado, por exemplo, é suficiente para o reconhecimento da qualificadora,


ar
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porque em tal situação é evidente a culpa dos sequestradores.

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A EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO SERÁ QUALIFICADA NOS SEGUINTES CASOS:

Se o crime
é cometido
por bando ou Se do fato
Se o sequestro é
Se o sequestro quadrilha (agora resultar lesão
menor de 18 anos Se do fato resultar
durar mais de é associação corporal de
ou maior de 60 a morte
24 horas criminosa - natureza
anos
responde pelos 2 grave
crimes)

Reclusão de Reclusão de Reclusão de Reclusão de Reclusão de


12 a 20 anos 12 a 20 anos 12 a 20 anos 16 a 24 anos 24 a 30 anos

z Causa de Redução de Pena

Art. 159 [...]


§ 4º Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitan-
do a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facili-


tando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços, conforme
disposto no § 4º, do art.159, do CP.
Para que incida a redução da pena, a delação deve ter sido feita à autoridade, devendo
essa expressão ser tomada em sentido amplo para abranger qualquer agente encarregado do
combate à criminalidade, por exemplo, juiz, autoridade policial etc.
Quanto maior a contribuição, maior a redução da pena.
Trata-se de causa obrigatória de redução de pena.
O art. 13, da Lei nº 9.807, de 1999, dispõe sobre a extinção da punibilidade pelo perdão
judicial ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a
14
8-

investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado cumulativa-
41

mente a identificação dos demais agentes, a localização da vítima com sua integridade física
12.

preservada e a recuperação total ou parcial do produto do crime.


.4
41

Presentes apenas um desses requisitos, a pena ainda poderá ser reduzida de 1/3 a 2/3,
-3

independentemente da primariedade do réu, por força do art. 14, da Lei nº 9.807, de 1999.
s
co
ar
M

Extorsão Indireta
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 160 Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, docu-
mento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

A extorsão indireta constitui forma mais branda de extorsão, que se configurará quando
o agente exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, docu-
mento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.

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Como dito, é uma forma mais branda de extorsão, já que tem como pena a reclusão, de
1 (um) a 3 (três) anos, enquanto a extorsão, em sua modalidade simples, tem como pena a
reclusão de 4 (quatro) a 10 (anos).
É um crime que exige dolo específico, já que o agente pratica os verbos descritos no tipo
penal (exigir ou receber) como garantia de dívida.
É necessário que o agente abuse da condição de alguém, assim, por exemplo, suponha que
um agiota, aproveitando-se da condição de desespero pela qual se passa aquele que solicita
um empréstimo, já que o filho deste se encontra internado em estado grave e ele precisa do
dinheiro para pagar o tratamento, exija documento que possa dar causa a procedimento cri-
minal — pronto, teremos configurada a extorsão indireta, já que o agiota abusou da condição
da vítima.
No verbo “exigir”, este crime é formal, consumando-se com a exigência do documento.
Já no verbo “receber”, é crime material, consumando-se com o efetivo recebimento do
documento.
É admitida a tentativa, já que pode ter seu iter criminis fracionado.
É crime comum, já que não se exige qualquer condição especial do sujeito.

USURPAÇÃO

Alteração de Limites

Art. 161 Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha
divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

O objetivo da lei é resguardar a posse e a propriedade dos bens imóveis.


Esse tipo penal possui duas condutas típicas alternativas:
14

z supressão, ou seja, a total retirada do marco divisório;


8-

z deslocamento do marco divisório, afastando-o do local correto, de modo a aumentar a


41
2.

área do agente.
1
.4
41

É necessário que o agente tenha intenção de apropriar-se, no todo ou em parte, da proprie-


-3

dade alheia, por meio da supressão ou deslocamento do marco divisório.


s
co

Temos, por exemplo, como hipótese que não configura crime, o fato de um agricultor reti-
ar
M

rar a cerca que divide as terras com outro proprietário apenas para reformá-la.
Trata-se de crime próprio, somente podendo ser praticado pelo vizinho do imóvel, quer na
zona urbana, quer na rural.
Sendo assim, o sujeito passivo desse tipo penal só pode ser o vizinho, dono ou possuidor
do imóvel.
Consuma-se no exato instante em que o agente suprime ou desloca o marco divisório, ain-
da que a vítima posteriormente perceba o ocorrido e retome a parte de que foi tolhida.
É possível a tentativa, quando o agente é flagrado iniciando a supressão ou deslocamento
e é impedido de prosseguir. Se já o fez por completo, conforme já mencionado, o crime está
consumado, ainda que a vítima retome posteriormente a parte a que faz jus.
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Usurpação de Águas

Art. 161 [...]


§ 1º Na mesma pena incorre quem:
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;

Neste delito, a lei resguarda as águas públicas ou particulares que passem por determi-
nado local, evitando que o dono do terreno sofra prejuízo caso alguém queira desviar o seu
curso ou represá-las, sem autorização para tanto.
Exige-se que sejam águas correntes, cujo curso seja desviado ou represado pelo agente,
alterando, portanto, seu fluxo pela propriedade.

Dica
Não configura crime de usurpação de águas, mas crime de furto, quando se trata de água
retirada de água represada pelo dono para criação de peixes.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, pois, trata-se de crime comum.
O sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa que pode sofrer dano em decorrência do desvio
ou represamento.
Consuma-se o crime no instante em que o agente efetua o desvio ou represamento, ainda
que não obtenha a vantagem em proveito próprio ou alheio a que o texto legal se refere. A
tentativa é possível.

Esbulho Possessório

Art. 161 [...]


§ 1º Na mesma pena incorre quem: [...]
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de
14

duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.


8-
41
2.

Veja que o crime de esbulho possessório tem por objeto jurídico o patrimônio, no tocante à
1
.4
41

propriedade e, especialmente, à posse legítima de um imóvel, bem como a integridade física


-3

e a liberdade individual da pessoa humana atingida pela conduta criminosa.


s
co

Pressupõe-se, neste crime, a invasão de propriedade imóvel alheia, edificada ou não, des-
ar

de que o fato se dê mediante emprego de violência ou grave ameaça a pessoa, bem como
M

mediante concurso de duas ou mais pessoas.


NOÇÕES DE DIREITO

É possível que o agente invada a propriedade alheia sozinho ou em concurso com apenas
mais uma pessoa e sem emprego de violência ou grave ameaça. Nesse caso, o fato é atípico.
Não obstante, o § 1º, do art. 1.210, do Código Civil, permite que o dono retome a posse, desde
que o faça imediatamente, por meio do chamado desforço imediato.
Se, em outra hipótese, logo após a invasão pacífica, o invasor empregar violência para se
manter na posse quando o legítimo proprietário tentava retomá-la pelo desforço imediato,
haverá a configuração do delito.

53
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O crime só existe se a invasão se dá com o fim específico de esbulho possessório, ou seja, a
retirada forçada do legítimo possuidor, desde que o agente queira excluir a posse da vítima
para passar a exercê-la ele próprio.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o dono.
Trata-se de crime comum.
O dono que invade imóvel alugado não incorre no tipo penal em análise, que exige expres-
samente que o bem seja alheio.
Dependendo da hipótese, poderá incorrer em crime de violação de domicílio (art. 150) ou
retirada de coisa própria do poder de terceiro (art. 346, do CP).
Já o sujeito passivo é o dono ou possuidor do imóvel invadido.
Consuma-se no momento da invasão.
É possível tentativa quando a invasão não se aperfeiçoe em razão da oposição apresentada
pelo dono, possuidor ou por terceiro.
Observe que, se o agente comete o esbulho com emprego de violência, responde também
pelas lesões corporais causadas, ainda que leves, nos termos do § 2º, do art. 161, do CP, e as
penas serão somadas.

Art. 161 [...]


§ 2º Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede median-
te queixa.

A ação penal será, em regra, pública incondicionada; porém, caso não ocorra o emprego
de violência, a ação penal passa a ser privada e só se procede mediante queixa.

Supressão ou Alteração de Marca em Animais

Art. 162 Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indi-
cativo de propriedade:
14
8-

Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.


41
12.
.4

Este crime tutela a propriedade e a posse dos animais semoventes.


41

Para a prática deste crime, é necessário que não tenha havido prévio furto ou apropriação
-3

indébita dos animais, pois, nesses casos, o agente só será punido pela conduta anterior, sendo
s
co

a supressão ou alteração da marca impunível.


ar
M

A conduta típica consiste em apagar ou modificar o sinal indicativo de propriedade em


gado ou rebanho alheios.
Quando a lei se refere a gado, está protegendo a propriedade de animais de grande porte,
como bois ou cavalos, e quando se refere a rebanho, o faz em relação a animais de porte
menor, como porcos, ovelhas, cabras etc.
Marcas são feitas por ferro em brasa ou elementos químicos no couro do animal.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive quem possui animal que pertence a
terceiro.
O sujeito passivo é dono do animal.
Consuma-se com a simples supressão ou alteração da marca ou sinal, ainda que se dê ape-
54 nas em relação a um animal.
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É possível a tentativa quando o agente não consegue concretizar a remarcação iniciada,
pela repentina chegada de alguém ao local, ou até mesmo quando concretiza a remarcação,
porém a faz de tal forma que continua sendo possível identificar a marca do verdadeiro dono.

DANO

Art. 163 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

O crime de dano, previsto no art. 163, do CP, poderá ser praticado mediante a execução das
seguintes condutas: destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia.
Verbos do crime de dano (observe o que a doutrina estabelece sobre cada um dos verbos):

z Destruir: dano total da coisa alheia;


z Inutilizar: dano parcial, mas que torna a coisa alheia sem utilidade;
z Deteriorar: dano parcial da coisa alheia, que fica estragada, por exemplo.

Tutela-se a propriedade e a posse.


Trata-se de crime doloso.
O tipo penal fala em coisa alheia, sem exigir que seja móvel. Portanto, caso o agente des-
trua, por exemplo, uma casa, praticará o crime de dano.
Características do crime de dano:

z Crime comum — pode ser praticado por qualquer pessoa;


z Não admite a forma culposa. O dano culposo constitui ilícito de ordem civil;
z É crime material, que exige a ocorrência do resultado (destruição, inutilização ou
deterioração).
14

Consuma-se quando o agente destrói, inutiliza ou deteriora a coisa.


8-

A danificação parcial constitui crime consumado, enquadrando-se no verbo deteriorar.


41
12.
.4

Dano Qualificado
41
-3
s

O dano será praticado na modalidade qualificada se for cometido em uma das hipóteses a
co

seguir:
ar
M

Art. 163 [...]


NOÇÕES DE DIREITO

Parágrafo único. Se o crime é cometido:


I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais
grave
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autar-
quia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessio-
nária de serviços públicos;
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 55
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Caso o crime de dano seja praticado com violência à pessoa (forma qualificada vista acima),
o agente responderá pelo crime de dano em concurso com a pena correspondente à violência.
Das hipóteses vistas, com exceção da qualificadora por motivo egoístico ou com prejuízo
para a vítima (ação penal privada), nos demais casos, a ação penal será pública incondicionada.

Introdução ou Abandono de Animais em Propriedade Alheia

Art. 164 Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de
direito, desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.

Dispõe o art. 164, do CP, que é crime a conduta de introduzir ou deixar animais em pro-
priedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que do fato resulte prejuízo.
Pena — detenção, de 15 dias a 6 meses, ou multa.
Tutela-se a propriedade e a posse do imóvel contra o dano causado por animais.
O objetivo primordial da lei é a proteção da propriedade rural, onde o delito é comumente
cometido. Todavia, estende-se também a tutelar a propriedade urbana, tendo em vista que a
lei não restringiu a existência do delito à propriedade rural.
Trata-se de crime comum, pois pode ser cometido por qualquer pessoa.
Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor, titulares do patrimônio ofendido.
Consuma-se com a danificação total ou parcial da propriedade alheia, isto é, com o efetivo
prejuízo ao terceiro.
Este crime somente se procede mediante queixa.

Dano em Coisa de Valor Artístico, Arqueológico ou Histórico

O proprietário comete o delito de dano ambiental, previsto no art. 62, da Lei nº 9.605,
de 1998, e não do art. 165, do CP, que foi revogado pela citada lei, quando se tratar de coisa
14

de valor artístico, arqueológico, histórico ou outro bem especialmente protegido por lei, ato
8-

administrativo ou decisão judicial, pois nesse tipo penal não se exige que a coisa seja alheia.
41
12.
.4

Alteração de Local Especialmente Protegido


41
-3

Revogado pelo art. 63, da Lei nº 9.605, de 1998, que dispõe ser crime a conduta de alterar
s
co

o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato adminis-
ar
M

trativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico,
histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da
autoridade competente ou em desacordo com a concedida.
A pena é de reclusão, de um a três anos, e multa.

Ação Penal

Art. 167 Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede
mediante queixa.

56
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A ação penal é privada no dano simples (caput do art.163, do CP) e no dano qualificado por
motivo egoístico ou considerável prejuízo para a vítima (inciso IV, § único, do art. 163, do CP).
Nas demais formas de dano qualificado, a ação é pública incondicionada.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Art. 168 Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Para compreender a apropriação indébita, é necessário saber que o agente já tem a posse
ou a detenção da coisa, passando, posteriormente, a agir como se fosse dono da coisa. Neste
crime, exige-se que a coisa alheia seja móvel.
Não se deve confundir a apropriação indébita com o crime de estelionato. Veja a diferença:

APROPRIAÇÃO INDÉBITA ESTELIONATO


O agente recebe a coisa de boa-fé, depois, O agente já recebe a coisa de má-fé, com a in-
muda seu ânimo e passa a agir como se fosse tenção de ficar com ela desde o início
dono da coisa (passa a ter má-fé)

A apropriação indébita é crime que decorre de uma relação de confiança entre o autor e a
vítima. Esta entrega a coisa móvel ao agente, devido à confiança que deposita nele.
O agente recebe a coisa com boa intenção, mas, depois (parte da doutrina chama de dolo
subsequente), altera sua intenção, apropria-se da coisa e passa a agir como dono dela.
Veja as principais características da apropriação indébita:

z é crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


z não admite a forma culposa;
z não admite tentativa, conforme doutrina majoritária, tratando-se de crime unissubsisten-
te, ou seja, é o conjunto de um só ato, a realização da conduta esgota a concretização do
14

delito, por exemplo, apropriar-se de objeto de valor;


8-
41

z é crime material, que se consuma quando o agente inverte a posse da coisa alheia móvel.
12.
.4
41

Aumento de Pena
-3
s
co

Art. 168 [...]


ar

§ 1º A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:


M

I - em depósito necessário;
NOÇÕES DE DIREITO

II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depo-


sitário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

Apropriação Indébita Previdenciária

Art. 168-A Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuin-
tes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O crime de apropriação indébita previdenciária é um crime omissivo próprio, pois só pode
ser praticado pelo substituto tributário, que é a pessoa que recolhe as contribuições sociais
em nome do INSS para depois as repassar.
A consumação deste crime, por ser omissivo próprio, ocorre com a mera omissão do reco-
lhimento da contribuição previdenciária.
No caso do contribuinte individual, ele é o responsável por esse desconto das contribui-
ções e pelo repasse ao INSS, de modo que é ele que responderá pelo crime.
No caso de sociedade, para fins penais, o sujeito ativo é a pessoa física que no âmbito da
empresa tem o poder de fato para decidir se irá ou não sonegar a contribuição arrecadada.
Tutela-se o patrimônio do INSS, que é uma autarquia federal, de modo que a competência
é da Justiça Federal, conforme o inciso IV, do art. 109, da Constituição Federal.
Logo, o sujeito passivo é o INSS.

Importante!
Consumação: ficará configurada quando o agente deixar de repassar à previdência social
as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional.

Observe que o tipo penal principal é praticado na modalidade omissiva, deixando o agen-
te de praticar uma conduta que deveria (repassar à previdência as contribuições recolhidas
após reter os valores).
Condutas equiparadas: receberá a mesma pena do crime principal o agente que deixar de:

Art. 168-A [...]


§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social
que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do
público;
14

II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contá-
8-

beis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;


41
2.

III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido
1
.4

reembolsados à empresa pela previdência social.


41
-3
s

Trata-se de norma penal em branco, complementada em diversos dispositivos pela lei pre-
co

videnciária correspondente.
ar
M

Veja as características do crime de apropriação indébita previdenciária:

z é crime omissivo, como dito, já que o agente não pratica a conduta que se espera dele
(repassar);
z não admite a modalidade culposa;
z deverá ser praticado de forma dolosa. Segundo o STF, não é necessário dolo específico
(especial fim de agir);
z não admite tentativa.

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O entendimento majoritário na doutrina é o de que a apropriação indébita previdenciária
é crime formal e, por isso, dispensa-se o enriquecimento indevido por parte do agente ou o
efetivo prejuízo ao erário.
Contudo, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o crime de apropriação indébita previ-
denciária é material, pois, quando o agente omitiu o repasse, configurou-se o enriquecimento
indevido e o consequente prejuízo ao erário.
Essa decisão corrobora com o entendimento exarado na Súmula Vinculante nº 24:

Súmula Vinculante n° 24 Na linha da jurisprudência deste Tribunal Superior, o crime de


apropriação indébita previdenciária, previsto no art. 168-A, ostenta natureza de delito mate-
rial. Portanto, o momento consumativo do delito em tela corresponde à data da constituição
definitiva do crédito tributário, com o exaurimento da via administrativa (ut, (RHC 36.704/SC,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJe 26/02/2016). Nos termos do art. 111, I, do
CP, este é o termo inicial da contagem do prazo prescricional (AgRg no REsp 1.644.719/SP, DJe
31/05/2017).

Importante estudar também o tema do princípio da insignificância no crime de apropria-


ção indébita previdenciária.
Neste caso, a Portaria nº 296, de 2007, da Previdência Social diz que o INSS não executa,
não move, ação de execução fiscal por dívida de até R$ 10 mil, de modo que, se o indivíduo
pagasse débitos até esse valor a punibilidade estaria extinta pelo perdão judicial, obviamen-
te, desde que ele seja primário e de bons antecedentes.
Não se trata de aplicação do princípio da insignificância, porque a dívida tem um valor
significativo, mas se o valor for irrisório, por exemplo, R$ 100, R$ 200 ou R$ 300, ele poderá
ser absolvido pelo princípio da insignificância.
Quando o valor da dívida atinge uma cifra razoável de até R$ 10 mil, mas o INSS diz que
não é preciso mover a execução fiscal, nesse caso o réu poderá receber o perdão judicial ou
então ser condenado apenas na pena de multa, conforme o § 3º, do art. 168, do CP.
A pena deste crime poderá ser extinta (extinção da punibilidade), caso o agente, esponta-
14
8-

neamente, declare, confesse e efetue o pagamento das contribuições, importâncias ou valores


41

e preste as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamen-


12.

to, antes do início da ação fiscal.


.4
41
-3

Art. 168-A [...]


s
co

§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o paga-


ar

mento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdên-


M

cia social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.
NOÇÕES DE DIREITO

Apesar de o Código Penal estabelecer que a conduta do agente, para que sua punibilidade
seja extinta, seja praticada antes do início da ação fiscal, o STF e o STJ têm admitido a apli-
cação da exclusão da punibilidade com o pagamento efetuado a qualquer tempo, desde que
antes do trânsito em julgado (sentença definitiva).
Para encerrarmos o crime de apropriação indébita previdenciária, vamos verificar uma
hipótese de perdão judicial e de crime privilegiado.

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A Lei nº 13.606, de 2018, lei bastante atual, diga-se de passagem (importante atentar-se a
isso), acrescentou dispositivo ao Código Penal que estabelece que a faculdade atribuída ao
juiz de deixar de aplicar a pena ou de aplicar somente a pena de multa não se aplica aos casos
de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele
estabelecido, administrativamente, como sendo mínimo para ajuizamento de suas execuções
fiscais.
Faculta-se ao juiz:

z deixar de aplicar a pena (perdão judicial);


z aplicar somente a pena de multa (crime privilegiado).

Essas situações poderão ocorrer se o agente for primário e de bons antecedentes, desde
que:

Art. 168-A [...]


§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for
primário e de bons antecedentes, desde que:
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento
da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabe-
lecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamen-
to de suas execuções fiscais.

De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o valor mínimo para ajuizar


execuções fiscais por débito para com o fisco é de R$ 20 mil.

Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito ou Força da Natureza


14

Art. 169 Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou
8-

força da natureza:
41

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.


12.
.4
41

Neste crime, a apropriação dá-se não devido à relação de confiança existente entre autor
-3

e vítima, mas, sim, porque a coisa chegou ao poder do agente por erro, caso fortuito ou força
s
co

da natureza.
ar
M

Ex.: “A” recebe em sua casa, por erro do entregador de uma loja, uma televisão de 50 pole-
gadas. O agente apropria-se da coisa havida por erro.
Caso “A” tenha recebido a coisa de boa-fé, mas, posteriormente, altere a posse da coisa,
apropriando-se dela, cometerá o crime de apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito
ou força da natureza.
Entretanto, para configuração do delito, o agente não pode ter induzido nem mantido a
pessoa em erro no momento do recebimento da coisa, caso contrário, tendo em vista a frau-
de, haverá o crime de estelionato.
Na apropriação de coisa havida por erro, ao tempo do recebimento da coisa, o agente pro-
cede de boa-fé, não percebe o erro. Este é constatado após o recebimento da coisa.
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Necessário, portanto, o dolo subsequente, isto é, o agente recebe, identifica que não lhe
pertence, mas fica com o patrimônio.
O erro deve ser alheio, isto é, de quem concede a disponibilidade da coisa ao sujeito ativo.
É necessário que o agente não perceba o aludido erro.
Há uma duplicidade de erros, de quem entrega e de quem recebe a coisa.
Quanto à distinção entre caso fortuito e força da natureza, uma parcela significativa
da doutrina considera as expressões equivalentes. Mesmo assim, vamos estabelecer uma
diferenciação.
Força da natureza é o acontecimento de eventos físicos ou naturais, de índole ininteligen-
te, como o granizo, o raio, a inundação, a tempestade e o terremoto.
Caso fortuito deriva de fatos humanos, como a greve, o motim, a guerra, a queda de um
avião etc.
No delito em apreço, a coisa chega ao agente através de um evento imprevisível.
Exemplo clássico: um vendaval lança as roupas do varal do vizinho ao quintal da casa de
“B” e este apropria-se delas. Ou uma mala despenca de um avião, caindo na chácara de “C”,
que dela se apropria. Ainda, o animal de uma fazenda passa para a fazenda de “D”, que dele
se apropria.
Observe que a coisa não é entregue pela vítima ao agente, originando-se o apossamento de
um acontecimento imprevisível.
Este crime não admite a modalidade culposa, podendo ser praticado apenas a título de
dolo.
Trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa.
O STJ entende que se trata de crime permanente, ou seja, sua consumação se prolonga no
tempo.
O Código Penal apresenta duas hipóteses assemelhadas, punidas com a mesma pena: a
apropriação de tesouro e a apropriação de coisa achada.

Apropriação de Tesouro
14
8-

Art. 169 [...]


41

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. [...]


12.

Parágrafo único. Na mesma pena incorre:


.4
41

I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem
-3

direito o proprietário do prédio;


s
co
ar

Irá praticar este crime o agente que achar tesouro em prédio alheio e se apropriar, no todo
M

ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio.


NOÇÕES DE DIREITO

Aqui, pune-se a conduta do indivíduo que acha tesouro em prédio que pertence a outra
pessoa e se apropria da quota-parte que o proprietário do prédio tem direito, de acordo com
o Código Civil, que estabelece que o tesouro deve ser dividido igualmente entre aquele que
achou e entre o proprietário do local em que ele foi achado.
O Código Civil conceitua tesouro como depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo
dono não haja memória.
O tipo penal não se caracteriza com o verbo “achar”. Atente-se ao fato de que quem acha
tesouro não comete crime algum. A conduta criminosa encontra-se no verbo “apropriar-se”,
quando o agente se apropria da parte a que tem direito o proprietário do prédio. 61
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Para que este crime se configure, é necessário que o tesouro tenha sido localizado em pré-
dio que possua proprietário.

Apropriação de Coisa Achada

Art. 169 [...]


Parágrafo único. Na mesma pena incorre: [...]
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de
restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no
prazo de quinze dias.

O que dizer sobre “achado não é roubado”, ditado popular muito dito?
O crime de apropriação de coisa achada não é muito conhecido, mas existe.
Este crime será aplicado a quem achar coisa alheia perdida e dela se apropriar, total ou
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à auto-
ridade competente, dentro do prazo de 15 (quinze) dias.
Trata-se de crime a prazo, que é aquele que, para sua consumação, exige que transcorra
determinado período (15 dias).
Sujeito ativo é aquele que acha a coisa perdida.
Trata-se de crime próprio, pois é praticado por aquele que acha a coisa perdida.
Na hipótese de o sujeito ativo emprestar a coisa à uma outra pessoa, vindo esta a se apro-
priar, não cometerá o delito em apreço, e sim o crime de apropriação indébita, previsto no
art. 168, do CP.
Se, por outro lado, o proprietário achar a própria coisa e deixar de restituí-la ao legítimo
possuidor, que a havia perdido, também não se configura o delito, porque o tipo penal exige
que a coisa seja alheia.
Sujeito passivo é o proprietário ou possuidor da coisa perdida.
O objeto material é coisa alheia perdida.
Trata-se de elemento normativo do tipo, cujo significado requer um juízo de valor do
14
8-

magistrado.
41

Coisa perdida é a que se encontra em lugar público ou de uso público em circunstâncias


12.

indicativas do extravio, por exemplo, uma carteira exposta no meio da rua.


.4
41

No caso de coisa abandonada (res derelicta) ou coisa sem dono (res nullius), não haverá
-3

crime algum por parte de quem se apropriar. Este se torna dono da coisa.
s
co

O elemento subjetivo do tipo é o dolo, consistente na vontade de apropriar-se da coisa.


ar

Quanto à consumação, ocorre quando o agente deixa de restituir a coisa ao dono ou legí-
M

timo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de quinze dias.


O crime de apropriação de coisa achada poderá se configurar:

z se o agente deixa de restituir a coisa achada ao dono ou legítimo possuidor;


z se o agente deixa de entregar a coisa achada à autoridade competente.

Por fim, o Código Penal estabelece a possibilidade de se aplicar aos crimes previstos no
capítulo da apropriação indébita os institutos aplicáveis ao furto privilegiado.
Logo:
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z se o criminoso é primário;
z se é de pequeno valor a coisa.

O juiz poderá:

z substituir a pena de reclusão pela pena de detenção;


z diminuir a pena de 1/3 a 2/3;
z aplicar somente a pena de multa.

ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES

Estelionato

Art. 171 Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.

O crime de estelionato, art. 171, do CP, será praticado quando o agente obtiver, para si ou
para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro,
mediante artifício ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
O agente altera, de modo consciente, a data de óbito de seu genitor, induzindo o tabe-
lião em erro para não pagar multa em procedimento extrajudicial de inventário (vantagem
econômica).
Observe que o crime fala em vantagem ilícita (segundo a doutrina majoritária, deve ser
vantagem de natureza patrimonial), podendo ser coisa móvel ou imóvel.
A vantagem ilícita é obtida pelo agente, que se utiliza de artificio ardil (método de enga-
nar) ou qualquer outro tipo de fraude.
Ele induz a vítima em erro (ela não estava em erro e o agente o faz) ou mantém a vítima
14

em erro (ela estava em erro, o agente, de má-fé, faz com que ela permaneça).
8-

No estelionato, a vítima, devido ao fato de ter sido enganada, colabora com o agente, entre-
41
2.

gando-lhe, de alguma forma, a vantagem.


1
.4

Esta condição, inclusive, é fator que serve para diferenciar o estelionato de outros tipos
41

penais que com ele possam se confundir.


-3

Características do crime de estelionato:


s
co
ar
M

z Crime comum: não se exigem características específicas do sujeito ativo;


z Crime material: o crime consuma-se com a ocorrência do resultado obtenção da vanta-
NOÇÕES DE DIREITO

gem ilícita, acarretando prejuízo a terceiro;


z Não admite a forma culposa: só se pratica a título de dolo;
z Admite a modalidade tentada.

O estelionato privilegiado é aquele em que o agente é primário e o prejuízo é de pequeno


valor. Poderá o juiz, neste caso, substituir a pena de reclusão pela pena de detenção, diminuir
a pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa.

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Art. 171 [...]
§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena con-
forme o disposto no art. 155, § 2º.

Vejamos as formas equiparadas do crime de estelionato, que serão submetidas às mesmas


penas.

Disposição de Coisa Alheia como Própria

Art. 171 [...]


§ 2º Nas mesmas penas incorre quem:
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;

Este crime está previsto no inciso I, § 2º, do art. 171, do CP, ou seja, o agente vende, per-
muta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria — disposição
de coisa alheia como própria. O agente, neste crime, faz com que coisa alheia se passe como
dele, enganando outrem.
Os verbos previstos no tipo são: vender, permutar (trocar), dar como pagamento, locação
ou garantia.

z Vender: a venda é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por dinheiro.
Aperfeiçoa-se com o acordo de vontades acerca da coisa e do preço, independentemente
da tradição. A tradição é necessária para a aquisição da propriedade, e não para a forma-
ção do contrato. Consuma-se o crime com a obtenção da vantagem e causação do prejuízo;
z Permutar (trocar): a permuta ou troca é o contrato pelo qual as partes assumem a obriga-
ção de dar uma coisa por outra. Aperfeiçoa-se também com o simples acordo de vontades,
independentemente da entrega do bem. Consuma-se o crime quando a vítima entrega ao
estelionatário a coisa, pois, nesse momento, opera-se o prejuízo e a obtenção da vantagem;
z Dar em pagamento: a dação em pagamento consiste na extinção de uma obrigação ven-
14
8-

cida pelo fato de o credor consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.
41

Consuma-se o crime quando o estelionatário obtém a quitação da dívida, mediante a pro-


12.
.4

messa de entregar ao seu credor uma certa coisa;


41

z Locação: é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder a outra, por tempo deter-
-3

minado ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa retribuição. Consuma-se o
s
co

crime quando o estelionatário recebe o sinal ou o pagamento do primeiro aluguel;


ar
M

z Garantia: compreende o penhor, a hipoteca e a anticrese. Consuma-se o crime quando o


estelionatário obtém o empréstimo, dando em garantia uma coisa alheia.

Alienação ou Oneração Fraudulenta de Coisa Própria

Art. 171 [...]


§ 2º [...]
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de
ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em presta-
ções, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Este crime está previsto no inciso II, § 2º, do art. 171, do CP, que consiste no agente que ven-
de, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus
ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações,
silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias.
Temos que destacar que o objeto material do crime pode ser bem móvel ou imóvel. Vejamos:
Coisa própria inalienável — Os bens inalienáveis são: bem de família do Código Civil,
bem doado com cláusula de inalienabilidade e bem deixado por testamento com cláusula de
inalienabilidade.
Coisa própria gravada de ônus — Por exemplo: penhor, hipoteca, anticrese, enfiteuse,
servidão, superfície, uso, usufruto, habitação e superfície.
Coisa própria litigiosa — Bem sub-judice é aquele em que há uma ação judicial acerca da
titularidade da propriedade.
Imóvel próprio que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações.
Observa-se que a lei é omissa em relação a imóvel que prometeu vender a terceiro, median-
te pagamento à vista. Também é omissa sobre o compromisso que recai sobre bens móveis,
ainda que em prestações.

Defraudação de Penhor

Art. 171 [...]


§ 2º [...]
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia
pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;

Este crime está previsto no inciso III, § 2º, do art. 171, do CP, e consiste na conduta de
o agente defraudar, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a
garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado.
É essencial a fraude, isto é, a falta de autorização do credor. O consentimento deste exclui
o crime.
14
8-

A consumação ocorre com a efetiva defraudação, isto é, com a alienação, ocultação, aban-
41

dono etc. da coisa empenhada.


12.

A defraudação parcial é suficiente para a consumação, porque diminui a garantia do cre-


.4
41

dor, gerando prejuízo.


-3
s
co

Fraude na Entrega de Coisa


ar
M

Art. 171 [...]


NOÇÕES DE DIREITO

§ 2º [...]
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;

Este crime está previsto no inciso IV, § 2º, do art. 171, do CP, em que o agente defrauda
substância, qualidade ou quantidade, de coisa que deve entregar a alguém.
Vejamos, o tipo penal faz a seguinte alusão: “coisa que deve entregar a alguém”, pressupon-
do-se, portanto, uma obrigação de prestação de dar entre as partes.

65
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
A obrigação deve ser a título oneroso. Se for gratuita, como o comodato e a doação, desapa-
rece o delito, porque não há prejuízo ao credor. Nos negócios gratuitos, não se pode reclamar
sequer vício redibitório, de modo que o devedor não é sancionado nem na esfera cível.
Se não houver uma obrigação antecedente, a entrega de coisa defraudada pode configurar
o delito do caput do art. 171.

Fraude para Recebimento de Indenização ou Valor de Seguro

Art. 171 [...]


§ 2º [...]
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde,
ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor
de seguro

Este crime está previsto no inciso V, § 2º, do art. 171, do CP, em que o agente destrói, total
ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro.
O crime de fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro, segundo a dou-
trina majoritária, é crime formal, que se consuma com a prática da conduta, independente-
mente de o agente conseguir ou não receber os valores referentes a indenização ou valor de
seguro.
Lembre-se de que o agente não é punido penalmente por causar mal somente a si mesmo,
sendo assim, caso ele se lesione sem o fim de receber seguro, ele não será sujeito passivo do
crime.
O sujeito passivo será a seguradora.

Fraude no Pagamento por Meio de Cheque


14

Art. 171 [...]


8-

§ 2º [...]
41

VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o
12.

pagamento.
.4
41
-3

Este crime está previsto no inciso VI, § 2º, do art. 171, do CP, e consiste no ato de o agen-
s
co

te emitir cheque, sem suficiente prisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustrar o
ar
M

pagamento.
Leve em consideração que, para configuração desta forma equiparada de estelionato, é
necessário que o agente saiba desde o início que não dispõe de fundos para cobrir o cheque,
não se englobando nesta modalidade criminosa os casos de não pagamento de cheque por
motivos cotidianos (sem má-fé).
É importante conhecer duas Súmulas do STF referentes ao crime de fraude no pagamento
por meio de cheque:

Súmula n° 521 (STF) O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelio-
nato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o local onde se
66 deu a recusa do pagamento pelo sacado.
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Súmula n° 554 (STF) O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebi-
mento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Podemos concluir, pela leitura da Súmula n° 554, que, se o agente pagar os valores referen-
tes ao cheque emitido sem fundos antes do recebimento da denúncia, será impedido o início
da ação penal.
Vejamos também a Súmula n° 17, do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem
mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
Entenda da seguinte forma: se o uso do documento falso se exaurir (extinguir) na prática
do estelionato, este crime absorverá aquele.
Se não se exaurir, o agente responderá pelos dois crimes em concurso formal.

Fraude Eletrônica

§ 2º-A A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com
a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio
de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por
qualquer outro meio fraudulento análogo.
§ 2º-B A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização
de servidor mantido fora do território nacional.

A Lei nº 14.155, de 2021, promoveu, ainda, mudanças no crime de estelionato, com a inclu-
são de uma forma qualificada, no § 2º-A, e novas causas de aumento de pena, nos §§ 2º-B e
4º, todos do art. 171, do CP. Houve alteração, também, na regra de competência relativa ao
estelionato, modificando-se o CPP, conforme se verá mais adiante.
O § 2º-A incluiu no estelionato a chamada fraude eletrônica, que consiste em forma qua-
lificada cuja pena é de reclusão de 4 a 8 anos, e multa, na hipótese em que a fraude é come-
tida com a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro
14
8-

por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou
41

por qualquer outro meio fraudulento análogo.


12.

Veja que o ponto em comum que une as formas previstas é a ocorrência delito sem que
.4
41

a vítima esteja presente (uma vez que se dá por meio de redes sociais, contatos telefônicos,
-3

e-mail fraudulento ou qualquer meio fraudulento análogo, como, por exemplo, por meio de
s
co

aplicativos de mensagem, como o WhatsApp ou Telegram).


ar

As majorantes incluídas nos § 2º-B (servidor fora do território nacional) e § 4º (contra


M

idoso ou vulnerável) são idênticas às previstas no furto fraudulento eletrônico, valendo os


NOÇÕES DE DIREITO

comentários já feitos ao art. 155.

Art. 171 [...]


§ 3º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direi-
to público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado:

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z Em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assis-
tência social ou beneficência; é chamado de estelionato previdenciário.

A pena será aplicada em dobro:

Estelionato Contra Idoso

O estelionato contra o idoso sofreu recentes alterações pela Lei nº 14.155, de 2021, e
aumenta a pena do estelionato de 1/3 ao dobro, quando cometido contra idoso ou vulnerável.
Vejamos a redação atual:

Art. 171 [...]


§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é cometido contra idoso ou vul-
nerável, considerada a relevância do resultado gravoso.

Em relação a este crime, havia previsão anterior que foi substituída pela nova redação do
§ 4º, que acabou por permitir a aplicação de pena menor do que era possível antes da mudan-
ça. Veja a comparação no quadro a seguir:

REDAÇÃO ORIGINAL REDAÇÃO ATUAL


Art. 171 [...] Art. 171 [...]
Estelionato contra idoso Estelionato contra idoso ou vulnerável
§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao
cometido contra idoso. dobro, se o crime é cometido contra idoso ou
vulnerável, considerada a relevância do resulta-
do gravoso.

O critério para o juiz aplicar o aumento de 1/3 ao dobro, no caso do § 4º, deve ser a rele-
vância do resultado, que pode ser de menor ou maior importância (antes da modificação, o
14

juiz era obrigado a fixar no dobro).


8-
41

Importante destacar também que essa majorante incide sobre todas as modalidades de
2.

estelionato.
1
.4
41

Em regra, a ação procede-se mediante representação, exceto nos casos previstos no § 5º,
-3

do art. 171.
s
co
ar

Art. 171 [...]


M

§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:


I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Duplicata Simulada

Art. 172 Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendi-
da, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
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Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escritura-
ção do Livro de Registro de Duplicatas.

O crime em tela é caracterizado pela consumação, que ocorre com a mera colocação da
duplicata em circulação, não sendo necessário o prejuízo a terceiros. Não há previsão de
forma culposa.

Abuso de Incapazes

Art. 173 Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de


menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de
ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

O crime consuma-se independentemente de prejuízo causado, ou seja, trata-se de crime


formal.

Induzimento à Especulação

Art. 174 Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou infe-


rioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com
títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

O crime consuma-se independentemente da existência de prejuízo; trata-se de crime for-


mal. Uma situação peculiar é que o delito pode ser tanto realizado por meio de jogos ou apos-
tas lícitas quanto ilícitas.
14
8-

Fraude no Comércio
41
12.
.4

Art. 175 Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:


41

I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;


-3

II - entregando uma mercadoria por outra:


s
co

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.


ar
M

§ 1º Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no


mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por
NOÇÕES DE DIREITO

verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:


Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. [...]

No crime de fraude no comércio, se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa


furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
terços ou aplicar somente a pena de multa.

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Outras Fraudes

Art. 176 Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transpor-
te sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as cir-
cunstâncias, deixar de aplicar a pena.

A primeira conduta é tomar refeição em restaurante sem dispor de recursos para efe-
tuar o pagamento.
A lei refere-se genericamente a restaurante, de tal forma que abrange lanchonetes, cafés,
bares e outros estabelecimentos que sirvam refeição. Esta, aliás, engloba a ingestão de bebidas.
Entende-se que o delito não se configura quando o agente é servido em sua própria residência.
A segunda conduta incriminada é alojar-se em hotel sem dispor de recursos para efetuar
o pagamento. A punição, evidentemente, estende-se a fatos que ocorram em estabelecimen-
tos similares, como pensões ou pousadas.
A terceira e última conduta criminosa consiste em utilizar-se de meio de transporte (ôni-
bus, táxi, lotação, barco, trem) sem possuir recursos para efetuar o pagamento.
O tipo penal expressamente exige que o agente realize as condutas típicas sem dispor de
recursos para efetuar o pagamento naquele instante.
É necessário (elementar do tipo penal) que o agente não tenha recursos para pagar a refei-
ção, o alojamento ou o meio de transporte.
Caso o agente tenha os recursos necessários, entretanto, recuse-se a efetuar o pagamento,
não cometerá o crime de outras fraudes.
Deve-se identificar a má-fé do agente quando da prática da conduta descrita no tipo penal.
Ele deve saber que não dispõe de recursos para pagar e mesmo assim utilizar os serviços
descritos. Caso ocorra um imprevisto, o agente perde seu dinheiro sem saber, por exemplo,
ele não será responsabilizado penalmente.
Trata-se de crime promovido mediante ação penal pública condicionada à representação
14
8-

da vítima.
41

Admite-se a aplicação do instituto do perdão judicial, já que o juiz, conforme as circuns-


12.

tâncias, poderá deixar de aplicar a pena.


.4
41
-3

Fraudes e Abusos na Fundação ou Administração de Sociedade por Ações


s
co
ar

Art. 177 Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comu-
M

nicação ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou


ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia
popular.

Trata-se de crime em que o fundador da sociedade por ações (sociedade anônima ou


comandita por ações) induz ou mantém em erro os candidatos a sócios, o público ou presen-
tes à assembleia, fazendo falsa afirmação sobre circunstâncias referentes a sua constituição
ou ocultando fato relevante desta. Podem girar elas sobre falsa informação a respeito de subs-
70 crições ou entradas, de recursos técnicos da companhia, de nomes de pseudoinvestidores etc.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Na forma omissiva, pode o agente cometer o crime ocultando o nome dos fundadores, pro-
blemas técnicos etc., cujo conhecimento poderia prejudicar ou impedir a subscrição de ações
e a própria constituição da sociedade. A fraude pode constar de prospecto ou de comunicação
feita ao público ou em assembleia da empresa.
Trata-se de crime próprio em que o sujeito ativo é o responsável pela fundação da socie-
dade por ações.
Sujeitos passivos são as pessoas físicas ou jurídicas que subscreveram o capital ludibriadas.
É crime formal que se consuma no momento em que é lançado o prospecto ou o comunica-
do com a afirmação falsa ou contendo a omissão fraudulenta de informação relevante, ainda
que disso não decorra qualquer resultado lesivo.
Sobre a pena, é claro que as figuras do § 1º, do art. 177, do CP, são subsidiárias, ou seja,
cedem lugar quando o fato se enquadra como crime contra a economia popular da Lei nº
1.521, de 1951.

Art. 177 [...]


§ 1º Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular:
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, pare-
cer, balanço ou comunicação ao público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condi-
ções econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas
relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações
ou de outros títulos da sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de
terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembleia geral;
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emiti-
das, salvo quando a lei o permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução
ações da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balan-
14

ço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;


8-
41

VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista,
2.

consegue a aprovação de conta ou parecer;


1
.4
41

VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
-3

IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que


s

pratica os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.


co
ar
M

Observe-se que, em tal dispositivo, o legislador pune o diretor, o gerente e, em alguns casos,
NOÇÕES DE DIREITO

o fiscal e o liquidante, que incidam em fraude em afirmação referente à situação econômica


da empresa, realizem falsa cotação de ações, tomem emprestado ou usem indevidamente
bens ou haveres da sociedade, comprem ou vendam ilegalmente ações, prestem caução ou
penhor ilegais, distribuam lucros ou dividendos fictícios ou aprovem fraudulentamente con-
ta ou parecer. Todos esses crimes são próprios, pois só podem ser cometidos pelas pessoas
expressamente mencionadas no texto legal.

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Emissão Irregular de Conhecimento de Depósito ou “Warrant”

Art. 178 Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa

Trata-se de dispositivo fundamentado no Decreto nº 1.102, de 1903, que permite a emissão


do conhecimento de depósito e do warrant quando mercadorias são depositadas em arma-
zéns gerais.
Esses títulos, negociáveis por endosso, são entregues ao depositante, sendo que o primeiro
é documento de propriedade da mercadoria e confere ao dono o poder de disposição sobre a
coisa, enquanto o segundo confere ao portador direito real de garantia sobre as mercadorias.
Quem possui ambos tem a plena propriedade delas.
Delito é a circulação desses títulos em desacordo com disposição legal.
Trata-se de norma penal em branco, complementada pelo Decreto nº 1.102, de 1903.
De acordo com seus ditames, a emissão é irregular quando:

z a empresa não está legalmente constituída (art. 1º);


z inexiste autorização do Governo Federal para a emissão (arts. 2º e 4º);
z inexistem as mercadorias no documento especificadas;
z há emissão de mais de um título para a mesma mercadoria ou para os mesmos gêneros
especificados no título;
z o título não perfaz as exigências reclamadas no art. 15, do Decreto.

Sujeito ativo é o depositário da mercadoria.


Sujeito passivo é o endossatário ou portador que recebe o título sem saber da ilegalidade.
O crime consuma-se quando o título é colocado em circulação e a tentativa não é possível,
pois, ou o agente o coloca em circulação, consumando o crime, ou não o faz, sendo atípica a
conduta.
14
8-

Fraude à Execução
41
12.
.4

Art. 179 Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simu-
41

lando dívidas:
-3

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.


s
co

Parágrafo único. Somente se procede mediante queixa.


ar
M

O crime consiste na existência de uma sentença a ser executada ou de uma ação executiva
e mandamento.
O agente, com o fim de fraudar a execução, desfaz-se de seus bens por meio de uma das
condutas descritas na lei:

z alienando;
z desviando;
z destruindo ou danificando bens;
z simulando dívidas.
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Sujeito ativo é o devedor.
Se for empresário e as condutas forem perpetradas após decretada sua quebra, o ato carac-
terizará crime falimentar.
O sujeito passivo é o credor.
Trata-se de crime material que somente se consuma quando a vítima sofre algum prejuízo
patrimonial em consequência da atitude do agente.
A tentativa é possível quando o sujeito não consegue realizar a conduta típica pretendida.
A ação penal é privada.
Se a fraude atingir execução promovida pela União, Estado ou Município, a ação será
pública incondicionada.

RECEPTAÇÃO

O crime de receptação pode ser dividido em:

z receptação simples;
z receptação qualificada;
z receptação culposa;
z receptação de animal.

Antes de iniciarmos a análise de cada uma das divisões feitas, é importante mencionar
que, segundo posicionamento doutrinário majoritário, confirmado pela jurisprudência do
STF, a coisa deve ser móvel.
É importante saber, também, que a receptação é punível ainda que desconhecido ou isen-
to de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
Logo, a punição da receptação não depende da punição do crime anterior, de que se obte-
ve a coisa.
14

Receptação Simples
8-
41
2.

Art. 180 Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio,
1
.4

coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba
41

ou oculte:
-3

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.


s
co
ar
M

O crime de receptação, previsto no art. 180, do Código Penal, pratica-se quando o agente
adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
NOÇÕES DE DIREITO

sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.
É crime comum, tanto em relação ao sujeito ativo, como em relação ao sujeito passivo.
A doutrina divide a receptação simples em própria ou imprópria. Conheça tal divisão:

z Receptação Própria: adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime;
z Receptação Imprópria: influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte.

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A receptação é crime de tipo misto alternativo, podendo o agente ser responsabilizado
penalmente caso pratique qualquer um dos verbos descritos no tipo penal.

Receptação Qualificada

A receptação qualificada é aquela praticada no exercício de atividade comercial ou


industrial.

Art. 180 [...]


§ 1º Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar,
remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio,
no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

Receptação Culposa

Art. 180 [...]


§ 3º Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

Segundo entendimento doutrinário majoritário, a receptação será culposa quando o agen-


te adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e
o preço, ou pela condição de quem a oferece, presume-se que tenha sido obtida por meio
criminoso.
Ex.: Fulano adquire uma motocicleta, avaliada em R$ 10.000,00, de Ciclano, que pediu por
ela o valor de R$ 2.500,00. Fulano é abordado por policiais civis, identificando-se, posterior-
mente, que a motocicleta é objeto de furto.
É possível que Fulano seja responsabilizado criminalmente por receptação culposa, já que
14
8-

há muita desproporção entre o valor da coisa e o preço pedido pelo agente, tendo ele elemen-
41

tos para presumir que a coisa foi obtida por meio criminoso.
12.
.4

À receptação culposa aplica-se o instituto do perdão judicial, podendo o juiz deixar de


41

aplicar a pena, levando em consideração as circunstâncias do fato e caso o criminoso seja


-3

primário.
s
co

No caso de receptação dolosa, aplica-se o instituto do privilégio, podendo o juiz, caso o


ar
M

agente seja primário e seja de pequeno valor a coisa, substituir a pena de reclusão pela pena
de detenção, reduzir a pena de 1/3 a 2/3 ou aplicar somente a pena de multa.
Em 2017, por meio da Lei n° 13.531, foi inserido importante dispositivo ao Código Penal,
que aumenta a pena do agente ao dobro.
A pena prevista para a receptação simples (própria ou imprópria) será aplicada em dobro,
tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou
de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos.

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Art. 180 [...]
§ 6º Tratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município
ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo.

Receptação de Animal

Trata-se de um tipo autônomo de receptação e não de uma forma qualificada de recepta-


ção, já que se alteram os patamares mínimos e máximos da pena.
A receptação de animal (semovente domesticável de produção) tem a pena de reclusão, de
2 a 5 anos, e multa.
O crime de receptação de animal está previsto no art. 180-A, do Código Penal.
Foi inserido pela Lei nº 13.330, de 2016, sendo, portanto, um tipo penal bastante recente.

Art. 180-A Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com
a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda
que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Aqui, também é admitido o dolo eventual (que deve saber ser produto de crime).
Semovente domesticável de produção pode ser entendido como o animal de bando, como
bovinos e suínos, que constituem patrimônio de alguém, domesticados com finalidade
produtiva.
Ex.: Fulano adquire, no exercício do comércio em seu açougue, gado abatido após ser fur-
tado em uma fazenda, com a finalidade de comercializar a carne.
Fulano praticou o crime de receptação de animal.

DISPOSIÇÕES GERAIS
14
8-

Imunidades nos Crimes Contra o Patrimônio — Introdução


41
12.
.4

As disposições gerais dos crimes contra o patrimônio versam sobre as:


41
-3

z Imunidades;
s
co
ar
M

„ imunidades absolutas;
„ imunidades relativas ou processuais penais;
NOÇÕES DE DIREITO

z Exceções às imunidades.

Art. 181 É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.

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As imunidades absolutas isentam de pena quem comete delito contra o patrimônio em
prejuízo de ascendente, descendente ou cônjuge, na constância da sociedade conjugal.
São autênticas escusas absolutórias, vedando inclusive a instauração do inquérito policial.
Trata-se de um perdão legal.
Conquanto o fato seja típico, antijurídico e culpável, há um impedimento legal da punibi-
lidade, que é excluída antes mesmo da prática do delito, distinguindo-se do perdão judicial,
que é concedido pelo juiz na sentença, após o devido processo legal.
A primeira causa de imunidade é o delito praticado em prejuízo de cônjuge, na constância
da sociedade conjugal; por exemplo, não se instaura sequer inquérito policial quando a espo-
sa furta o marido, ou vice-versa.
A imunidade subsiste na separação de fato.
Exclui-se a imunidade se por ocasião do delito eles estavam separados judicialmente.
A tendência é estender a imunidade à união estável, considerando-a equiparada ao
casamento.

Importante!
O inciso IV, do art. 7º, da Lei Maria da Penha, considera também violência doméstica o
atentado contra o patrimônio da mulher. Diante disso, uma corrente doutrinária sustenta
que não haveria mais imunidade nos crimes patrimoniais contra a mulher. Entretanto, o
STJ já decidiu pela manutenção da imunidade, à medida que a referida lei não a afastou
expressamente.

A segunda causa de imunidade, crime contra o patrimônio praticado em prejuízo de ascen-


dente, incide também nos casos de adoção.
Porém, se o filho adotivo furta o pai biológico, responderá pelo delito, e vice-versa, pois a
adoção extingue os vínculos com a família de sangue.
Tratando-se de vínculo de afinidade, como sogro, sogra, genro, nora, padrasto, madrasta,
14

enteado e enteada, não há imunidade, tendo em vista a vedação da analogia.


8-
41

A última causa de imunidade absoluta, quando se pratica crime contra o patrimônio em


2.

prejuízo de descendente, é aplicada também nos casos de adoção.


1
.4
41
-3

Art. 182 Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é come-
s

tido em prejuízo:
co
ar

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;


M

II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;


III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Nas imunidades penais relativas, previstas no art. 182, do CP, o delito, de ação pública
incondicionada, transmuda-se para ação pública condicionada à representação da vítima ou
de seu representante legal.
Tratando-se de crime de ação privada, não há que se falar em imunidade processual, cuja
finalidade é beneficiar, ao invés de prejudicar.
A ação penal privada é mais vantajosa do que a ação penal pública condicionada à
representação.
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A primeira causa de imunidade processual consiste no fato de o delito ser praticado em
prejuízo de cônjuge judicialmente separado. Vejamos: marido furta esposa um tempo depois
de o casamento ser dissolvido; estão separados judicialmente. Neste caso, há imunidade
relativa.
Tratando-se de cônjuges divorciados ao tempo do crime, não há qualquer imunidade. Por
exemplo, após separados judicialmente, ex-esposa furta ex-marido.
A segunda causa, delito praticado em prejuízo de irmão, abrange os irmãos germanos ou
bilaterais (filhos dos mesmos pais) e os irmãos unilaterais, que podem ser consanguíneos
(filhos do mesmo pai) ou uterinos (filhos da mesma mãe).
É claro que a imunidade também se estende aos irmãos adotivos.
Observa-se o seguinte, se o agente comete delito de furto em prejuízo de cunhado:

z Se a sua irmã for casada no regime da comunhão universal, haverá imunidade;


z Se o regime for o da comunhão parcial, só haverá imunidade se o furto recaiu sobre bem
comum, isto é, comunicável em razão do casamento;
z Se o regime for o da separação de bens, não há que se falar em imunidade, pois os bens
não se comunicam.

A última causa de imunidade, delito praticado em prejuízo de tio ou sobrinho com quem o
agente coabita, pode se caracterizar ainda que o crime tenha sido praticado fora do local em
que eles vivem, como, por exemplo, em uma pescaria.
Se não houver coabitação, mas apenas relação de hospitalidade, moradia eventual, como
a que ocorre nas férias escolares em que o sobrinho vai passar alguns dias na casa de um tio,
não há que se falar em imunidade.

Art. 183 Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça
ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
14
8-

III - se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
41
12.

O art. 183, do CP, dispõe que as imunidades absolutas e relativas não se aplicam:
.4
41
-3

z Ao crime de roubo, ainda que o roubo seja com violência imprópria, como a subtração
s
co

ocorrida após o ladrão hipnotizar a vítima; exclui-se a imunidade, pois a lei não abre qual-
ar
M

quer exceção ao delito de roubo;


z Ao crime de extorsão, ainda que se trate da extorsão indireta, onde não há violência ou
NOÇÕES DE DIREITO

grave ameaça; exclui-se a imunidade;


z Aos delitos cometidos com emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
z Ao estranho que participa do crime, pois a imunidade é uma circunstância pessoal, logo,
incomunicável. Por exemplo, o terceiro que auxilia o marido a furtar a esposa responde
pelo crime de furto;
z Aos delitos praticados contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

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DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS

Falsificação de Papéis Públicos

Art. 293 Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:


I - selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal
destinado à arrecadação de tributo;
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabeleci-
mento mantido por entidade de direito público;
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de
rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por
Estado ou por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

O tipo penal do caput poderá ser praticado com a falsificação de quaisquer um dos docu-
mentos vistos acima, de duas formas: fabricando-os (neste caso, o agente cria um documento)
ou alterando-os (o agente altera documento já existente).
Existem formas equiparadas ao crime de falsificação de papéis públicos, incorrendo o
agente nas mesmas penas deste.

Art. 293 [...]


§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - usa, guarda, possui ou detém qualquer dos papéis falsificados a que se refere este artigo;
II - importa, exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda, fornece ou restitui à circu-
lação selo falsificado destinado a controle tributário;
III - importa, exporta, adquire, vende, expõe à venda, mantém em depósito, guarda, troca,
14

cede, empresta, fornece, porta ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no
8-
41

exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria:


12.

a) em que tenha sido aplicado selo que se destine a controle tributário, falsificado;
.4
41

b) sem selo oficial, nos casos em que a legislação tributária determina a obrigatoriedade de
-3

sua aplicação.
s
co

§ 2º Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los novamente
ar

utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização:


M

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.


§ 3º Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que se refere
o parágrafo anterior.
§ 4º Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsifica-
dos ou alterados, a que se referem este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou
alteração, incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1º, qualquer forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros
públicos e em residências.

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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O tipo penal do crime de falsificação de papéis públicos apresenta três modalidades em
que a pena será mais branda se comparada ao tipo penal principal e às formas equiparadas,
que têm como pena a reclusão de dois a oito anos e multa:

z Aquele que suprimir, em qualquer dos papéis vistos anteriormente, quando legítimos,
com o fim de torná-los novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutiliza-
ção, incorrerá na pena de reclusão de um a quatro anos e multa;
z Aquele que usar os papéis, depois de alterados (após a supressão de carimbo ou sinal indi-
cativo de inutilização, quando legítimos, com o fim de torná-los utilizáveis), incorrerá na
pena de reclusão de um a quatro anos e multa;
z Aquele que usar ou restituir à circulação, embora recebido de boa-fé, qualquer dos papéis
falsificados ou alterados, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorrerá na pena
de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

Qualquer forma de
comércio irregular ou
Equipara-se clandestino, inclusive
à atividade o exercido em vias,
comercial praças ou outros
logradouros públicos e
em residências

Sobre o crime de falsificação de papéis públicos, é importante levar em consideração o


seguinte:

z é crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


z só admite a modalidade dolosa — não pode ser praticado culposamente;
z caso a falsificação seja grosseira, haverá a atipicidade deste crime;
z admite a tentativa;
z se o papel for de emissão da União, será processado e julgado pela Justiça Federal;
z será de competência do Juizado Especial Criminal Federal nas hipóteses de crime privile-
14
8-

giado, definido no § 4º, art. 293, do CP.


41
12.
.4

Petrechos de Falsificação
41
-3

Art. 294 Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à
s
co

falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:


ar
M

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.


NOÇÕES DE DIREITO

Sobre o crime de petrechos de falsificação, é importante que você saiba, para a sua prova,
as seguintes informações:

z é crime de ação múltipla, que poderá ser praticado mediante a execução de qualquer um
dos verbos previstos no tipo penal: fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar;
z é crime comum, que poderá ser praticado por qualquer agente;
z entretanto, caso o crime seja praticado por funcionário público, prevalecendo-se este do
cargo, a pena será aumentada da sexta parte (1/6).
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Art. 295 Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumen-
ta-se a pena de sexta parte.

A pena do crime de petrechos de falsificação será aumentada de 1/6 (um sexto) se o agente
é funcionário público e comete o crime prevalecendo-se do cargo.

z Assim como o crime de petrecho para falsificação de moeda, o objeto deve ser destinado
especialmente para falsificar os papéis previstos no art. 293; caso o objeto tenha outras
finalidades (tem outras utilidades e também serve para falsificar papéis), não há que se
falar na prática deste tipo penal;
z Só poderá ser praticado dolosamente;
z Admite a modalidade tentada;
z No verbo guardar, trata-se de crime permanente, protraindo-se a conduta no tempo.

DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO


EM GERAL

Nos crimes contra a Administração Pública, o bem jurídico genericamente tutelado é a


moralidade ou probidade administrativa.
Tratam-se de crimes próprios, que exigem uma condição especial do sujeito ativo: ser fun-
cionário público.
Os crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral são chama-
dos de crimes funcionais. Os crimes funcionais são aqueles praticados contra a Administra-
ção Pública por indivíduo que se encontra investido em uma função pública. São divididos
em funcionais próprios, ou puros, e funcionais impróprios, ou impuros.
Os crimes funcionais próprios são aqueles que serão atípicos caso não sejam praticados
por funcionários públicos. Segundo a doutrina, neste caso, ocorrerá uma hipótese de atipici-
dade absoluta.
14

Os crimes funcionais impróprios são aqueles que serão desclassificados para outras infra-
8-

ções penais caso não sejam praticados por funcionários públicos. Segundo a doutrina, neste
41

caso, ocorrerá uma hipótese de atipicidade relativa.


12.
.4

Já a conduta que define o crime de peculato-furto, praticada por meio do verbo subtrair,
41

será desclassificada para o crime de furto, caso não seja praticada por um funcionário público.
-3

O Código Penal, em seu art. 327, define o que é funcionário público. Vejamos:
s
co
ar
M

Art. 327 Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoria-
mente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.
§ 2º A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capí-
tulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de
órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.

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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Importante!
Para o Direito Penal, funcionário público é aquele que, embora transitoriamente ou sem
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Como é possível de se observar,
o conceito de funcionário público é bastante amplo. No § 1º, art. 327, o Código Penal equi-
para a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraesta-
tal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para
a execução de atividade típica da Administração Pública.

O art. 327, do CP, faz menção a cargo público, emprego público e função pública. Vamos
distinguir:

z Cargo público é o criado por lei, com nomenclatura e número certo, junto à administra-
ção direta;
z Emprego público, por sua vez, é a função pública exercida em caráter temporário ou
extraordinário (por exemplo, diarista que presta serviço de faxina em uma repartição
pública). Assim, obtém-se por exclusão o conceito de emprego público como sendo todo
aquele que não se classifica como cargo público;
z Função pública é toda e qualquer atividade que realiza os fins próprios do Estado (por
exemplo, perito judicial, estagiário do Ministério Público ou da Defensoria Pública ou de
qualquer outro órgão público, juiz de direito, Presidente da República, Governador de
Estado, escreventes, Prefeitos, vereadores, faxineiros do fórum etc.).

Além dos dispositivos legais, é importante termos ciência de alguns julgados que estabele-
cem que são considerados funcionários públicos para fins penais:

z Diretor de organização social7;


z Administrador de Loteria8;
z Advogados dativos9;
14
8-

z Médico de hospital particular credenciado/conveniado ao SUS10;


41

z Estagiário de órgão ou entidade públicos11.


12.
.4
41

Nestes termos, não são considerados funcionários públicos para fins penais os depositá-
-3

rios judiciais12.
s
co

No § 2º, do art. 327, o Código Penal apresenta uma causa de aumento de pena aplicável a
ar

todos os crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. Observe:
M

A pena será aumentada de 1/3 (terça parte) quando os autores dos crimes praticados por
NOÇÕES DE DIREITO

funcionário público contra a administração em geral forem ocupantes de cargos em comissão


ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

7 STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).
8 STJ. 5ª Turma. AREsp 679.651/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/09/2018.
9 STJ. 5ª Turma. HC 264.459- SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
10 STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1101423/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/11/2012.
11 STJ. 6ª Turma. REsp 1303748/AC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/06/2012.
12 STJ. 6ª Turma. HC 402949-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/03/2018 (Info 623). 81
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
É importante saber que a pena não será aumentada caso o funcionário público ocupe
cargo em comissão ou função de direção ou assessoramento em autarquias, por falta de pre-
visão legal. Lembre-se de que o nosso ordenamento jurídico não admite a analogia para pre-
judicar o agente.
Não podemos deixar de tratar do concurso de pessoas nos crimes funcionais.
Os crimes funcionais são crimes próprios, à medida que o autor deve ser funcionário
público e, em regra, não podem serem praticados por qualquer pessoa. Todavia, admitem a
participação e a coautoria, bem como a autoria mediata.
Os crimes funcionais são próprios, porém admitem a coautoria de particular, sendo possí-
vel que este venha a ser responsabilizado por delito funcional contra a Administração Públi-
ca, desde que pratique a infração penal em concurso com funcionário público e que tenha
conhecimento desta qualidade.
Isso é decorrente da teoria monista ou unitária da ação, prevista nos arts. 29 e 30, do CP,
segundo a qual todo aquele que concorre para o crime responde para o mesmo crime.
Vamos exemplificar: José, funcionário público, convida seu amigo de infância, Jonas, para
juntos subtraírem um computador na repartição pública em que aquele trabalha.
O funcionário público obteria facilidades para praticar o crime, já que havia ficado com a
chave da repartição naquele período. No dia determinado, os agentes vão ao local e subtraem
o computador.
No exemplo apresentado, tanto José quanto Jonas responderão pelo crime de peculato
(vamos estudar suas características a seguir), já que praticaram a conduta em concurso de
pessoas e a condição de caráter pessoal (ser funcionário público) comunica-se aos demais
agentes (é necessário que eles conheçam a condição).
Vejamos agora cada um dos crimes funcionais:

Peculato

Art. 312 Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em
14
8-

proveito próprio ou alheio:


41

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.


12.

§ 1º Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinhei-
.4
41

ro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou
-3

alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.


s
co
ar

O crime de peculato, previsto no art. 312, do CP, é dividido doutrinariamente da seguinte


M

forma:

z Peculato próprio:

„ Peculato-apropriação;
„ Peculato-desvio.

z Peculato impróprio:

82 „ Peculato-furto.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Peculato culposo;
z Peculato mediante erro de outrem (peculato estelionato).

O peculato-apropriação configurar-se-á quando o funcionário público se apropriar de


dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo; por exemplo, vereador que se apropria de bens (aparelho de celular, note-
book) do qual tem posse em razão do cargo (eletivo) que ocupa.
É muito importante que você fique atento, em relação ao peculato-apropriação, ao seguinte:

z Para que se configure, é necessário que o agente tenha a posse do bem em razão do seu
cargo;
z O bem pode ser público ou particular (imagine um objeto particular — notebook — apreen-
dido em uma delegacia de polícia);
z O sujeito passivo é a Administração Pública; contudo, no caso de bem particular, o dono do
bem também será sujeito passivo do delito.

O peculato-desvio ocorrerá quando o funcionário público desviar, em proveito próprio


ou alheio, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular. O funcionário
público dá destinação diversa ao bem que está sob sua responsabilidade; esse desvio será
necessariamente em proveito próprio ou alheio.
Segundo posicionamento majoritário (apesar de algumas posições jurisprudenciais em
sentido contrário), para que se configure o peculato-desvio, é necessário que o bem seja des-
viado para integrar o patrimônio do próprio funcionário público ou de terceiros, não se con-
figurando o tipo penal caso ocorra mero desvio de finalidade.
Uma parte minoritária da doutrina defende que, para que se configure o peculato-desvio,
não é necessária a intenção de assenhoramento (apoderar-se) por parte do funcionário públi-
co, podendo se configurar com o mero uso irregular da coisa pública, em proveito próprio ou
alheio.
Com base no que foi exposto acima, é importante mencionar que o peculato de uso, em
14
8-

regra, é considerado figura atípica.


41

Segundo Cleber Masson, o uso momentâneo de coisa infungível, sem a intenção de incor-
12.
.4

porá-la ao patrimônio pessoal ou de terceiro, seguido da sua integral restituição a quem de


41

direito, é atípico.
-3

É necessário sabermos o que significa infungível.


s
co

O art. 85, do CC, dispõe que são fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da
ar
M

mesma espécie, qualidade e quantidade.


O Código Civil não define os bens infungíveis, mas podemos compreender que são os bens
NOÇÕES DE DIREITO

que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade.
É importante mencionar que é necessário, para que não seja típica a conduta do peculato
de uso, que o bem seja infungível e não consumível, a exemplo de um carro oficial ou de um
computador.
Caso o bem seja fungível e consumível, a exemplo do dinheiro, a conduta será típica.
Se a conduta relacionada ao peculato de uso for praticada por Prefeito, o fato será típico,
independentemente da natureza do bem, por expressa previsão legal no inciso II, art. 1º, do
Decreto-Lei nº 201, de 1967.
83
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Importante!
O administrador que desconta valores da folha de pagamento dos servidores públicos
para quitação de empréstimo consignado e não os repassa à instituição financeira pratica
peculato-desvio, sendo desnecessária a demonstração de obtenção de proveito próprio
ou alheio, bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo13. Deste modo, podemos
constatar que basta a destinação diversa daquela que deveria ter o bem para que se con-
sume o crime de peculato-desvio. A obtenção de vantagem indevida é mero exaurimento
do crime. Trata-se de crime formal.

O peculato-furto configurar-se-á quando o funcionário público, embora não tendo a pos-


se do dinheiro, valor ou bem, subtrai-lo ou, concorre para que ele seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se de facilidade proporcionada pela qualidade de funcionário.
O peculato-furto pode ser praticado de duas formas:

z subtraindo o dinheiro, valor ou bem;


z concorrendo para que seja subtraído o dinheiro, valor ou bem.

É importante mencionar que:

z Para que se configure este crime, é necessário que o funcionário público não tenha a posse
da coisa;
z O primeiro é o verbo “subtrair”, que é o fato de o bem ser arrebatado pelo próprio funcio-
nário público;
z O segundo é o verbo “concorrer”, que significa induzir, instigar ou auxiliar uma outra pes-
soa a realizar a subtração (por exemplo, o funcionário público distrai os demais para que
o seu amigo, que é ladrão, ingresse na repartição para surrupiar os bens);
z Para que se configure o peculato-furto, é necessário que o ato seja doloso;
z A qualidade de funcionário público deve acarretar alguma facilidade para a subtração da
14
8-

coisa. Caso não haja facilidade, o agente responderá por furto normalmente.
41
12.

Vamos trazer dois exemplos:


.4
41

Exemplo 1: Carlos é funcionário público. Certo dia, na hora de sair, valendo-se do fato de
-3

estar sozinho na repartição, Carlos subtrai um notebook do órgão público. Está certamente
s
co

configurado o crime de peculato-furto, já que a condição de funcionário público de Carlos foi


ar

uma facilidade para que ele subtraísse o bem.


M

Exemplo 2: Michele é funcionária pública de Tribunal Federal. Certo dia, ao passar em


frente a uma escola que se encontra próxima a sua casa, Michele percebe que o vigilante
esqueceu a porta dos fundos aberta, estando próximo um aparelho celular da escola. Michele
entra pela porta e subtrai o aparelho. Não há que se falar em peculato-furto, já que a qua-
lidade de funcionária pública de Michele em nada contribuiu para a prática da subtração,
podendo qualquer pessoa, na mesma situação, praticar a conduta delituosa apresentada pelo
exemplo. Michele responderá pelo crime de furto.
Observe que:

13 APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, por
84 maioria, julgado em 06/11/2019, DJe 04/02/2020.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Admite a modalidade tentada, já que se trata de crime plurissubsistente (atos múltiplos, ou
seja, o autor entra no local, o autor subtrai a coisa);
z O bem subtraído pode ser público ou particular;
z O sujeito passivo é a administração pública. Caso o bem seja particular, também será sujei-
to passivo da infração penal o dono do bem;
z É crime material.

Peculato Culposo

Art. 312 […]


§ 2º Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

O peculato culposo, previsto no § 2º, art. 312, configura-se quando o funcionário público
concorre culposamente para o crime de outrem.
Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, o peculato
é o único que prevê expressamente a possibilidade de ser cometido na modalidade culposa.
No peculato culposo, o funcionário público não tem intenção em praticar o crime, contu-
do, por culpa, acaba concorrendo para a subtração da coisa.
Neste sentido, Damásio ensina que no peculato culposo podem ocorrer as seguintes
situações:

z um funcionário, por culpa, concorre para que outro funcionário cometa peculato (caput
ou § 1º);
z um funcionário, por culpa, concorre para que outro funcionário ou um particular come-
tam o fato;
z um funcionário, por culpa, concorre para que um particular cometa o fato (furto etc.).
14

Vejamos: José, agente de polícia legislativa, esquece, por omissão, já que queria assistir a
8-

um jogo de futebol, de trancar uma porta da Câmara Legislativa do Distrito Federal, ao qual
41
2.

somente ele tem acesso. No ambiente em que a porta se encontra, há vários objetos de valor
1
.4

considerável para o Poder Legislativo distrital. Simba, também policial legislativo, aprovei-
41

tando-se do fato de a porta estar aberta, ingressa no local e subtrai uma câmera fotográfica.
-3

Neste exemplo, José poderá ser responsabilizado criminalmente pelo crime de peculato
s
co

culposo, já que concorreu culposamente para o crime de outrem (peculato-furto de Simba).


ar
M

O agente foi omisso ao deixar de trancar a porta, fator que contribuiu para a prática da
subtração.
NOÇÕES DE DIREITO

Art. 312 […]


§ 3º No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível,
extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Sobre o peculato culposo, é importante saber que o § 3º, do art. 312, do CP, dispõe que:

z Se a reparação do dano resultante do peculato culposo ocorrer antes de a sentença transi-


tar em julgado, extingue a punibilidade; 85
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Se a reparação do dano resultante do peculato culposo ocorrer após a sentença transitar
em julgado, a pena será reduzida da metade.

Art. 313 Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu
por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

O peculato mediante erro de outrem está previsto no art. 313, do CP, configurando-se
quando o funcionário público se apropriar de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercí-
cio do cargo, recebeu por erro de outrem.
Parte da doutrina chama esta modalidade de peculato-estelionato.
Sujeito ativo é o funcionário público que, por erro de outrem, toma posse de um bem
móvel, em razão da função, apropriando-se do mesmo. O terceiro que induz o funcionário a
apropriar-se do bem que recebeu por erro será partícipe deste delito de peculato mediante
erro.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo subsequente, isto é, posterior ao recebimento da
coisa.
Em um primeiro momento, o funcionário público toma posse do bem de boa-fé, sem cons-
tatar o erro alheio, mas, posteriormente, após detectar o erro, apropria-se da coisa.
É importante levar em consideração as seguintes características do crime de peculato
mediante erro de outrem:

z É crime material, que se consuma quando o agente inverte a propriedade do dinheiro ou


outra utilidade, sabendo que eles chegaram ao seu poder por erro de outra pessoa, passan-
do a agir como se dono fosse;
z Segundo a doutrina majoritária, admite a modalidade tentada;
z O funcionário público deve receber a coisa em razão do cargo que exerce;
z O sujeito passivo é a Administração Pública. Caso o bem seja particular, também será sujei-
to passivo o dono do bem;
14
8-

z Parte da doutrina entende que se a pessoa for induzida a erro, configurar-se-á o crime de
41

estelionato, previsto no art. 171, do CP, sendo necessário, para caracterização do crime de
12.

peculato mediante erro de outrem, que a vítima entregue a coisa por erro próprio.
.4
41
-3

Inserção de Dados Falsos em Sistemas de Informação


s
co
ar
M

O crime de inserção de dados falsos em sistemas de informação está previsto no art. 313-A,
do CP:

Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar
ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da
Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

86
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Dica
“Inserção de dados falsos em sistemas de informação” é também chamado de peculato
eletrônico.

Sujeito ativo é apenas o funcionário público autorizado a inserir ou excluir dados do siste-
ma. Outros funcionários que não dispõem desta competência respondem pelo crime do art.
313-B, do CP. Trata-se de crime próprio.
A fraude no sistema informatizado ou em bancos de dados pelo funcionário competente,
para obter vantagem para si ou para outrem, caracteriza o delito em análise, sendo que o
estelionato, por ser um crime menos grave, é absorvido.
Para que este crime se configure, é necessário que as condutas descritas no tipo penal
sejam praticadas por funcionário público autorizado a operar os sistemas informatizados ou
bancos de dados da Administração Pública.
Trata-se de crime plurinuclear, já que o tipo penal descreve vários verbos que podem ser
praticados para a sua configuração.
Condutas:

z inserir dados falsos;


z facilitar a inserção de dados falsos;
z alterar dados corretos;
z excluir indevidamente dados corretos.

É necessário, para a tipificação do delito, que as condutas acima sejam realizadas em sis-
tema informatizado (computador) ou bancos de dados (fichários, livros ou outro meio físico)
da Administração Pública.
Objeto material:

z sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública.


14
8-
41

Finalidade (dolo específico):


12.
.4
41

z obter vantagem indevida para si ou para outrem;


-3

z causar dano.
s
co
ar

O elemento subjetivo do tipo é o dolo específico, que consiste no fim de obter vantagem
M

indevida para si ou para outrem ou causar dano à Administração Pública ou a uma terceira
NOÇÕES DE DIREITO

pessoa.
Sem esta finalidade de obter vantagem ou causar dano, haverá o crime do art. 313-B, do CP.
O crime consuma-se com a conduta, independentemente do resultado. Trata-se de crime
formal, que se caracteriza ainda que a vantagem ou o dano almejado não se verifique.
Admite-se a tentativa na hipótese de o agente ser surpreendido antes de ultimar a condu-
ta, por exemplo, agente é flagrado quando iniciava a supressão dos dados corretos.

87
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Modificação ou Alteração Não Autorizada de Sistemas de Informação

O crime de modificação ou alteração não autorizada de sistemas de informação está pre-


visto no art. 313-B, do Código Penal.

Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de


informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou
alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.

Trata-se de crime próprio, sendo praticado somente por funcionário público, qualquer
que seja a sua função, estando autorizado ou não a manipular sistemas de informações ou
programas de informática.
A consumação deste crime se dá com a modificação ou alteração não autorizada do siste-
ma. Não é necessário um especial fim de agir.
Caso o funcionário público seja autorizado ou pratique a conduta por solicitação da auto-
ridade competente, o fato será atípico.
A pena deste crime será aumentada de 1/3 (um terço) até metade caso da modificação ou
alteração resulte dano para a Administração Pública ou para o administrado.
Fique atento às diferenças entre os tipos penais do crime de inserção de dados falsos em
sistemas de informação e do crime de modificação ou alteração não autorizada de sistemas
de informação:

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTE- MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTO-


MAS DE INFORMAÇÃO RIZADA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
Verbos: inserir, facilitar a inserção, alterar, ex- Verbos: modificar ou alterar
cluir indevidamente Se praticado por funcionário autorizado, será
Deve ser praticado por funcionário autorizado fato atípico
14

Exige dolo específico de obter vantagem inde- Não exige dolo específico
8-

vida ou de causar dano


41
12.
.4

Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou Documento


41
-3

Está previsto no art. 314, do Código Penal.


s
co
ar
M

Art. 314 Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do car-
go; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave.

Os núcleos do tipo são os verbos extraviar (fazer desaparecer), sonegar (não apresentar) e
inutilizar (tornar imprestável).
Sobre este crime, é importante que você saiba:

z Trata-se de crime subsidiário (o crime fica absorvido quando o fato constitui crime mais gra-
ve), respondendo por ele, o funcionário público, apenas se não se configurar crime mais grave;
88
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z Não admite a modalidade culposa;
z Admite tentativa;
z O extravio, a sonegação e inutilização podem ser parciais ou totais.

Sujeito ativo é apenas o funcionário público responsável pela guarda do livro oficial ou
documento. Se a conduta for praticada por outro funcionário público, o crime será o previsto
no art. 337, do CP. Caso seja praticado por advogado ou procurador, que inutiliza documento
ou objeto do processo, o enquadramento será no art. 356, do CP.
O delito em estudo é subsidiário, pois só será aplicado se não houver outro crime mais grave.
Assim, o funcionário público que recebe dinheiro para destruir livro ou documento res-
ponderá apenas pelo crime de corrupção passiva, que é mais grave.
Por fim, quando se tratar de livros ou documentos relativos a tributos, o funcionário que
tinha a guarda e praticou uma das condutas acima responderá pelo crime do inciso I, art. 3º,
da Lei nº 8.137, de 1990, quando o fato acarretar pagamento indevido ou inexato de tributo.

Emprego Irregular de Verbas ou Rendas Públicas

Art. 315 Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

Este crime não se aplica ao Prefeito Municipal, respondendo este pelo crime previsto em
lei específica, o Decreto nº 201, de 1967.
Exige que o emprego irregular aconteça em benefício da própria Administração Pública,
contrariando a legislação, não podendo o agente desviar as verbas ou rendas em benefício
próprio, sob pena de responder por outro crime.
Vamos exemplificar: a Câmara Legislativa do Município XYZ aprova a utilização de um
milhão de reais para construção de uma passarela. A autoridade pública competente utiliza
a verba mencionada para a construção de uma escola.
14

Pronto, configurou-se o crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas. O agen-


8-

te deu às verbas públicas destinação diversa daquela estabelecida em lei.


41

Observe que a destinação da verba ocorreu no interesse da administração, já que, caso se


12.
.4

dê em benefício próprio, o agente responderá por outro crime.


41

É importante mencionar a aplicação da excludente de ilicitude do estado de necessidade:


-3

caso o emprego se dê devido a uma situação de perigo iminente (utilizou-se verba pública
s
co

destinada ao esporte para se construir um abrigo durante perigo de chuvas que desabriga-
ar
M

ram grande parte da população), o fato será típico, mas não será antijurídico.
Sobre o emprego irregular de verbas ou rendas públicas, é importante mencionar:
NOÇÕES DE DIREITO

z Este crime será praticado pelo funcionário público que tem poder de decisão sobre as ver-
bas ou rendas públicas, podendo delas dispor;
z Não exige nenhum fim específico;
z Não admite a modalidade culposa;
z Admite a tentativa;
z Não exige a ocorrência de dano pela Administração Pública para a sua configuração.

Concussão 89
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Art. 316 Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função
ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

No crime de concussão, o funcionário público, valendo-se de sua autoridade, exige (con-


duta mais forte do que apenas pedir) o pagamento de vantagem não devida pela pessoa. O
particular, por temer qualquer represália por parte do funcionário público, pode ou não
pagar a vantagem indevida.
Vamos exemplificar: funcionário público, agente de trânsito, exige de particular a quantia
de R$ 2.000,00 para que libere o seu veículo, sob pena de levá-lo indevidamente ao pátio do
Detran.
A vantagem indevida, segundo posicionamento majoritário, não necessita ser patrimo-
nial, podendo ser qualquer outra vantagem.
É importante mencionar que a concussão ocorrerá em razão da função do agente público,
não se exigindo que o fato seja praticado no efetivo desempenho das atribuições do cargo.
Sendo assim, este crime pode ser cometido por funcionário público de férias e, segundo a
doutrina dominante, nomeado, mas não empossado (antes de assumir).
A violência ou grave ameaça (morte, prisão) não são elementos integrantes do crime de
concussão.
Se o funcionário público exigir o pagamento de vantagem indevida, mediante violência ou
grave ameaça, estará cometendo o crime de extorsão, previsto no art. 158, do Código Penal.
Sobre a concussão, é importante que você conheça as seguintes informações, frequente-
mente cobradas em prova:

z Não pode ser praticada na modalidade culposa;


z Trata-se de crime formal, que se consuma com a prática da exigência, sendo o recebimen-
to da vantagem mero exaurimento do crime;
z O particular, de quem se exigiu a vantagem indevida, é sujeito passivo secundário deste
crime. A Administração Pública é o sujeito passivo primário;
14
8-

z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for possível fracionar o iter criminis, a
41

exemplo da concussão praticada mediante carta endereçada à vítima;


12.

z É possível praticar a concussão indiretamente, quando, por exemplo, o funcionário públi-


.4
41

co exige a vantagem indevida por intermédio de outra pessoa.


-3
s
co

É importante diferenciar concussão e corrupção passiva:


ar
M

Tem no núcleo do tipo o verbo “exigir” — há um caráter intimidativo na conduta


CONCUSSÃO
O ato de exigir é algo impositivo
Tem os verbos “solicitar ou receber, ou aceitar”
CORRUPÇÃO Solicitar é pedir, o que, portanto, não pressupõe intimidação
PASSIVA Receber e aceitar pressupõem uma conduta ativa do particular, ou seja, além
de não ocorrer intimidação, há uma conduta inicial do terceiro

90
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Excesso de Exação

O excesso de exação, previsto no § 1º, art. 316, do CP, é uma forma de concussão. Configu-
ra-se quando o funcionário público exige tributo ou contribuição social, que sabe ou deveria
saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a
lei não autoriza.

Art. 316 [...]


§ 1º Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei
não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Exação significa correção, exatidão.

Importante!
São duas as formas de cometer este delito:
� Exigência indevida de tributo ou contribuição social;
� Cobrança devida de tributo ou contribuição social, mas de forma vexatória ou gravosa.

O núcleo do tipo é o verbo exigir que, diferentemente do crime de concussão, não significa
uma ameaça, mas sim a simples cobrança indevida.
A cobrança é indevida quando o tributo ou a contribuição social não existe ou então já foi
pago, bem como na hipótese em que a cobrança é excessiva, em valor maior que o devido.
O elemento subjetivo do tipo é o dolo, que consiste no fato de o agente ter consciência, ou
dúvida, de que se trata de uma cobrança indevida.
Na segunda modalidade criminosa, cobrança vexatória ou gravosa, o tributo ou contri-
14

buição social é devido. O problema reside no “modus operandi” da cobrança, que é feita de
8-
41

forma vexatória, humilhante, ou gravosa, vale dizer, com a imposição de medidas totalmente
2.

desnecessárias.
1
.4

Neste caso, o crime consuma-se com a simples cobrança vexatória ou gravosa, indepen-
41
-3

dentemente do recebimento.
s

Admite-se a tentativa quando a cobrança vexatória ou gravosa é realizada por escrito,


co
ar

mas, por circunstâncias alheias à vontade do agente, é descoberta antes que a vítima tomasse
M

conhecimento.
Vejamos: José, funcionário público da prefeitura do Município de Simplicidade, sabendo
NOÇÕES DE DIREITO

que seu vizinho, Márcio, deve dez mil reais em tributo, para cobrá-lo, coloca uma faixa enor-
me na entrada da rua, com a seguinte frase escrita: “Márcio, deixe de ser irresponsável e
pague os dez mil reais que você deve de tributo à prefeitura”.
No exemplo, José cobrou imposto devido, fazendo uso de meio vexatório, não autorizado
por lei, configurando-se, assim, o excesso de exação.
Sobre o excesso de exação, é importante mencionar:

91
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Não admite a modalidade culposa, pois a expressão “que sabe” é dolo direto, e a expressão
“devia saber” é dolo eventual;
z Admite a tentativa quando for possível fracionar o iter criminis, a exemplo do excesso de
exação praticado mediante carta endereçada à vítima.

Art. 316 […]


§ 2º Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente
para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Se o funcionário desviar, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevida-


mente para recolher aos cofres públicos, responderá por excesso de exação na modalidade
qualificada.
Quando observamos a forma qualificada do excesso de exação, é possível compreender
que o tipo penal não exige que o funcionário público tenha a intenção de ficar para si ou para
outro aquilo que recebeu. Caso o faça, responderá pelo crime na forma qualificada.
Na concussão propriamente dita, exige-se que o funcionário público pratique a conduta
visando obter a vantagem indevida para si ou para outrem, constituindo-se, assim, elemento
de distinção entre os tipos penais.

Corrupção Passiva

Art. 317 Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

A corrupção passiva, prevista no art. 317, do Código Penal, configurar-se-á quando o fun-
cionário público solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
14
8-

que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar
41

promessa de tal vantagem.


12.

A doutrina classifica a corrupção passiva em própria ou imprópria, antecedente ou


.4
41

subsequente:
-3
s
co

z Própria: quando o funcionário público pratica os verbos do tipo penal para praticar ato
ar
M

ilícito (por exemplo, oficial de justiça recebe dinheiro para retardar o cumprimento do
mandado de citação);
z Imprópria: quando o funcionário público pratica os verbos do tipo penal para praticar ato
lícito (por exemplo, escrevente solicita dinheiro para que a certidão seja expedida dentro
do prazo);
z Antecedente: quando a vantagem indevida é entregue ao funcionário público antes de
sua ação ou omissão (por exemplo, juiz recebe vantagem indevida para prolatar sentença
absolutória);
z Subsequente: quando a vantagem indevida é entregue ao funcionário público depois de
sua ação ou omissão (por exemplo, após retardar o processo até levá-lo à prescrição, o juiz
92 solicita vantagem indevida ao réu).
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Observe que a corrupção passiva pode ser direita ou indireta:

z Direta: quando é o próprio funcionário público que solicita, recebe ou aceita promessa de
vantagem indevida;
z Indireta: quando uma interposta pessoa, em conluio com o funcionário público, solici-
ta, recebe ou aceita promessa de vantagem indevida. Nesse caso, tanto o “testa de ferro”
quanto o funcionário público responderão por corrupção passiva.

Entende a doutrina majoritária que o mero presente recebido pelo funcionário público,
por gratidão ou amizade (por exemplo, uma lembrancinha de natal) não configura o crime
de corrupção passiva.
A vantagem indevida, segundo posicionamento majoritário, não necessita ser patrimo-
nial, podendo ser qualquer outra vantagem.
Sobre a corrupção passiva, leve em consideração que:

z Não pode ser praticada na modalidade culposa;


z Trata-se de crime formal, quando praticada por meio dos verbos solicitar e aceitar pro-
messa, que se consuma com a conduta, sendo o efetivo recebimento da vantagem mero
exaurimento do crime. Quando praticada por meio do verbo receber, é crime material,
que exige o efetivo recebimento para se consumar (§ 2º, art. 317, do CP);
z Em regra, não admite a tentativa, salvo quando for possível fracionar o iter criminis, a
exemplo da corrupção passiva praticada mediante emprego de carta;
z É possível praticar a corrupção passiva indiretamente, quando, por exemplo, o funcioná-
rio público exige a vantagem indevida por meio de outra pessoa.

É importante realizar um breve paralelo com o crime de corrupção ativa, que será estu-
dado no tópico dos crimes cometidos por particulares contra a administração em geral, que
é aquela em que o particular oferece ou promete vantagem indevida a funcionário público.
14

Atenção! Na corrupção passiva, o particular que paga a vantagem indevida solicitada


8-

pelo funcionário público não pratica crime algum, por falta de tipicidade penal.
41

O crime de corrupção, seja ativa ou passiva, é unilateral e formal — são independentes em


12.
.4

si. A comprovação de um dos crimes não pressupõe a do outro.


41

A corrupção passiva possui uma forma privilegiada.


-3
s
co

Art. 317 […]


ar
M

§ 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
NOÇÕES DE DIREITO

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Observe que na corrupção passiva privilegiada o agente pratica a conduta não com a fina-
lidade de conseguir alguma vantagem indevida, mas sim com a finalidade de ceder a pedido
ou influência de outro.
Trata-se de crime material e consuma-se quando o funcionário pratica, deixa de praticar
ou retarda o ato de ofício.

93
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Por outro lado, a pena da corrupção passiva será aumentada de 1/3 (um terço) se, em con-
sequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer
ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

Art. 317 […]


§ 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.

Importante!
Não seja surpreendido por pegadinhas em prova: a corrupção passiva e a concussão
diferenciam-se nos verbos que configuram o tipo penal incriminador.
� Corrupção passiva: solicitar, receber ou aceitar promessa;
� Concussão: exigir.

Facilitação de Contrabando ou Descaminho

O crime de facilitação de contrabando ou descaminho está previsto no art. 318, do CP.

Art. 318 Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descami-
nho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Configurar-se-á quando o funcionário público facilitar, com infração de dever funcional, a


prática de contrabando ou descaminho.
Contrabando é a exportação ou a importação do território nacional de uma mercadoria
proibida.
14

Descaminho é a exportação ou importação do território nacional de uma mercadoria


8-
41

lícita, mas mediante sonegação dos direitos ou impostos devidos.


2.

O núcleo do tipo é o verbo facilitar, que significa viabilizar, tornar mais simples o contra-
1
.4

bando ou descaminho.
41
-3

O elemento subjetivo é o dolo que pode ser direto ou eventual.


s

Relembrando:
co
ar
M

z Dolo direto (determinado): ocorre quando o agente prevê determinado resultado, diri-
gindo sua conduta na busca de realizar esse mesmo resultado;
z Dolo eventual: o agente prevê pluralidade de resultados, porém dirige sua conduta na
realização de um deles. Quer um resultado, mas aceita o outro resultado.

Observa-se que o crime se consuma com a primeira conduta que facilita o contrabando ou
descaminho, ainda que não haja efetivamente a entrada ou saída da mercadoria do território
nacional.
Trata-se de crime formal, pois se consuma com a conduta, independentemente da ocor-
rência do contrabando ou descaminho.
94
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Admite-se a tentativa quando o agente se empenha para realizar a conduta de facilitar o
contrabando ou descaminho, mas é surpreendido antes de concluí-la.
É possível extrair da leitura do tipo penal que o crime será praticado pelo funcionário públi-
co que tem o dever funcional de evitar a prática dos crimes de contrabando e descaminho.
A doutrina dominante entende que, caso o funcionário público não tenha o dever funcio-
nal de evitar a prática do contrabando ou descaminho, responderá como partícipe do crime
de contrabando ou do crime de descaminho.
Sobre este crime, é pertinente saber:

z Pode ser praticado de forma comissiva (quando o funcionário indica uma forma de o
contrabandista desviar-se da fiscalização), ou omissiva (quando o funcionário, ciente de
que há produto de descaminho em um compartimento, não o inspeciona, liberando as
mercadorias);
z Não admite a modalidade culposa;
z É crime formal, que se consuma com a facilitação, independente ou não de o agente con-
seguir praticar o contrabando ou o descaminho;
z Admite a tentativa somente na forma comissiva, quando o funcionário público indica o
método de se desviar da fiscalização, mas outro servidor impede o desvio;
z A competência é da Justiça Federal.

Prevaricação

Art. 319 Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra
disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

O crime de prevaricação é dividido em:


14

z Própria: prevista no art. 319, do Código Penal;


8-

z Imprópria: prevista no art. 319-A, do Código Penal.


41
12.
.4

A prevaricação própria configurar-se-á quando o funcionário público retardar ou deixar


41

de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
-3

satisfazer interesse ou sentimento pessoal.


s
co

O crime em estudo não se confunde com a corrupção passiva privilegiada, em que o agen-
ar
M

te age ou deixa de agir cedendo a pedido ou influência de outrem.


Na prevaricação não existe esse pedido ou influência. O agente toma a iniciativa de agir
NOÇÕES DE DIREITO

ou se omitir para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Assim, se um fiscal flagra um


desconhecido cometendo irregularidade e deixa de autuá-lo em razão de insistentes pedidos
deste, há corrupção passiva privilegiada, mas, se o fiscal deixa de autuar porque percebe que
a pessoa é um antigo amigo, configura-se a prevaricação.
A prevaricação poderá ser praticada de três formas diferentes:

z retardar indevidamente a prática de ato de ofício;


z deixar de praticar indevidamente ato de ofício;
z praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei. 95
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O crime de prevaricação exige um fim específico de agir: satisfazer interesse ou sentimen-
to pessoal. Não confundir com o crime de corrupção passiva privilegiada (estudado anterior-
mente). Vejamos a tabela a seguir para facilitar seu entendimento:

CORRUPÇÃO PASSIVA PRIVILEGIADA PREVARICAÇÃO


Praticar, deixar de praticar ou retardar
Retardar ou deixar de praticar ato de ofício
ato de ofício
Cedendo a pedido ou influência de Para satisfazer interesse ou sentimento pessoal
outrem (não há atuação de terceiro)

Você pode entender interesse ou sentimento pessoal de diversas formas: vingança, com-
paixão, ódio, amizade, preguiça, entre outros.

Dica
Sobre a prevaricação, leve para a sua prova:
� Não admite a forma culposa;
� Pode ser praticado de forma omissiva (retardar ou deixar de praticar) ou comissiva
(praticar);
� Admite tentativa apenas quando praticado de forma comissiva.

Tentativa na prevaricação:
� Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício: não admite tentativa;
� Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei: admite tentativa.

Art. 319-A Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de
vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comu-
nicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
14
8-
41

A prevaricação imprópria configurar-se-á quando o diretor de penitenciária e/ou agente


2.

público deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
1
.4

rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
41
-3

Trata-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelo diretor de penitenciária ou pelo
s

funcionário público que tem o dever funcional de impedir que o preso tenha acesso a apare-
co
ar

lho de comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.


M

Sobre a prevaricação imprópria, é importante ressaltar:

z não admite a forma culposa;


z não admite tentativa.

Condescendência Criminosa

A condescendência criminosa está prevista no art. 320, do Código Penal:

96
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Art. 320 Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que
cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao
conhecimento da autoridade competente:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Este crime pode ser praticado de duas formas:

z Quando o funcionário público, por indulgência, deixa de responsabilizar o subordinado


que cometeu infração no exercício do cargo;
z Quando o funcionário público, que não é competente para responsabilizar aquele que
cometeu infração no exercício do cargo, por indulgência, não levar o fato ao conhecimento
da autoridade competente.

A doutrina majoritária entende que o crime de condescendência criminosa só pode ser


praticado por superior hierárquico, que dolosamente, se omite. O funcionário que foi benefi-
ciado não responde pelo delito em tela.
Você pode entender indulgência como compaixão, pena, piedade, clemência.
Há um requisito que deve ser cumprido para a prática da condescendência criminosa:
uma infração funcional (que pode ser uma violação administrativa ou penal) praticada por
subordinado no exercício das atribuições do seu cargo.
A consumação dá-se quando o superior toma conhecimento da infração e não providencia
imediatamente a responsabilização do infrator ou não comunica o fato à autoridade competente.
Sobre a condescendência criminosa, fique atento:

z não admite a forma culposa;


z é crime omissivo;
z não admite tentativa.
14

Como é possível observar, os crimes de corrupção passiva privilegiada, prevaricação e


8-

condescendência criminosa possuem características similares. Vejamos as diferenças:


41
12.

CORRUPÇÃO PASSIVA
.4

PREVARICAÇÃO CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA


41

PRIVILEGIADA
-3

O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de ofí- O agente deixa de praticar ato de ofí-
cio cedendo a pedido ou influência de cio para satisfazer sentimento ou in- cio (responsabilizar o subalterno) por
s
co

outrem teresse pessoal indulgência


ar
M

Advocacia Administrativa
NOÇÕES DE DIREITO

O crime de advocacia administrativa, previsto no art. 321, do Código Penal, pode ser prati-
cado na modalidade simples ou qualificada.

Art. 321 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração públi-
ca, valendo-se da qualidade de funcionário
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa
Parágrafo único. Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
97
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Modalidade simples: configura-se quando o funcionário público patrocinar, direta ou
indiretamente, interesse privado perante a Administração Pública, valendo-se da qualidade
de funcionário.
É necessário que a condição de funcionário público proporcione alguma facilidade ao
sujeito ativo, que patrocina interesse de terceiro, pessoa privada; caso não haja facilidade
alguma proporcionada pelo cargo, o fato será atípico.
O agente pode praticar este crime de diversas maneiras, como, por exemplo, fazendo uma
petição, solicitando um benefício.
Modalidade qualificada: o crime de advocacia administrativa será qualificado caso o
interesse privado seja ilegítimo.

z Forma simples: interesse privado legítimo;


z Forma qualificada: interesse privado ilegítimo.

Sobre a advocacia administrativa, fique atento em sua prova:

z Não admite a modalidade culposa;


z É crime formal, que se consuma com a conduta, não se exigindo que se atinja o interesse
privado pleiteado;
z Segundo doutrina majoritária, admite tentativa quando for possível se fracionar o iter
criminis;
z É desnecessário que o fato ocorra na própria repartição em que trabalha o agente. Este
pode usar da sua qualidade de funcionário para pleitear favores em qualquer esfera da
Administração.

Violência Arbitrária

Art. 322 Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la.


14

Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.
8-
41
2.

Este delito encontrava divergência quanto a sua aplicação, tendo em vista as edições reali-
1
.4

zadas pela Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869, de 2019). Esta discussão não mais pos-
41

sui fundamento, sendo que esta lei não tipificou o crime de violência arbitrária. Sendo assim,
-3

o delito ainda esse encontra em vigor.


s
co

A prática da violência deve dar-se em razão da função pública, não havendo a exigência
ar
M

de que seja praticado no efetivo desempenho das funções do cargo, podendo, portanto, ser
praticada, por exemplo, por um funcionário público que se encontre de folga.
Sobre esse crime, leve em consideração os seguintes pontos:

z A violência arbitrária não admite a forma culposa, devendo ser praticada dolosamente;
z Admite tentativa;
z Segundo Rogério Greco, o objeto material será o administrado contra o qual é praticada a
violência arbitrária;
z A violência tem que ser praticada arbitrariamente, não se enquadrando neste tipo penal
as hipóteses de uso necessário e progressivo da força, admitidas em lei;
98 z O crime aperfeiçoa-se ainda que as vítimas da agressão não sofram lesões;
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Caso alguma das vítimas sofra lesão ou morra, o agente responderá por este crime e pelo
crime correspondente à violência praticada (lesões corporais ou homicídio).

Abandono de Função

O crime de abandono de função está tipificado no art. 323, do CP.

Art. 323 Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
§ 1º Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 2º Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

A conduta típica é: abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei.
O nome do crime é abandono de função, porém, o tipo penal fala em abandono de cargo
público. É importante que você saiba que o conceito de função pública é mais amplo que o de
cargo público (não há cargo sem função, mas há função sem cargo).
Sendo assim, não haverá crime se ocorrer mero abandono de função pública (apesar do
nome) ou de emprego público, mas tão somente no caso de abandono de cargo público (não
se admite a analogia in malam partem).
Trata-se de um crime de mão própria, ou seja, só pode ser praticado pelo funcionário
público ocupante do cargo que foi abandonado. Este abandono deve ser por tempo juridica-
mente relevante.
De acordo com posicionamento doutrinário majoritário, as hipóteses de greve não confi-
guram este tipo penal.
As hipóteses em que o agente abandona o cargo público, admitidas em lei, não configuram
o crime de abandono de função.
O crime de abandono de função tem circunstâncias que o qualificam:
14
8-
41

z se o fato resulta prejuízo público;


12.
.4

z se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira.


41
-3

Cabe destacar qualificadora do § 2º no que diz respeito à faixa de fronteira. Essa qualifica-
s
co

dora é uma norma penal em branco, visto que a definição da faixa de fronteira é fornecida
ar
M

pela Lei nº 6.634, de 1979, compreendendo um raio de 150 (cento e cinquenta) quilômetros
ao longo das fronteiras nacionais.
NOÇÕES DE DIREITO

O fundamento desta qualificadora é a proteção à soberania nacional que, nas fronteiras,


torna-se mais vulnerável.
Exige-se que o abandono se dê por um prazo relevante, apesar de o Código Penal não fixar
prazo determinado. Entende a doutrina que o prazo será fixado pelo estatuto a que estiver
submetido o funcionário público.
Em regra: o prazo será de 30 (trinta) dias — prazo previsto na maioria dos estatutos de
servidores públicos.

99
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Dica
Sobre o crime de abandono de função, leve para a sua prova:
� É crime omissivo;
� Não admite tentativa;
� Só pode ser praticado dolosamente — não admite a culpa.

Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado ou Prolongado

Este crime está previsto no art. 324, do CP.

Art. 324 Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou con-
tinuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido,
substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Tutela-se a Administração Pública, no tocante ao seu normal funcionamento, pois o exer-


cício ilegal de função pública afeta a prestação de serviços públicos.
Conduta típica: entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências
legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exone-
rado, removido, substituído ou suspenso:
Este crime pode ser praticado de duas formas:

z Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais;


z Continuar a exercer a função pública, sem autorização, depois de saber oficialmente que
foi exonerado, removido, substituído ou suspenso. É exigido que o funcionário público
tenha sido oficialmente comunicado sobre sua exoneração, remoção, substituição ou sus-
pensão. Neste aspecto, ressalta-se que o crime é instantâneo e prescinde de habitualidade
da conduta para sua consumação.
14
8-
41

Observe que o exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado somente pode


2.

ser praticado por funcionário público já nomeado, mas ainda sem ter cumprido todas as exi-
1
.4
41

gências legais (1ª parte), ou então pelo indivíduo que era funcionário público, porém deixou
-3

de sê-lo em razão de ter sido oficialmente exonerado, removido, substituído ou suspenso


s

(parte final).
co
ar

Em ambas as hipóteses, o crime é de mão própria, de atuação pessoal ou de conduta infun-


M

gível, pois somente pode ser cometido pela pessoa expressamente indicada no tipo penal.
Se um particular entrar no exercício da função pública, a ele deverá ser imputado o crime
de usurpação de função pública (art. 328 do CP).
Sobre o tipo penal em comento, é importante saber:

z não admite a forma culposa;


z admite tentativa.

100
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Violação de Sigilo Funcional

O crime de violação de sigilo funcional encontra-se previsto no art. 325, do Código Penal:

Art. 325 Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segre-
do, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I - permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer
outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de
dados da Administração Pública;
II - se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

Este delito irá se configurar quando o agente público revelar fato de que tem ciência em
razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação.
Este crime pode ser praticado de duas formas:

z Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo;
z Facilitar a revelação de fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer
em segredo.

É importante mencionar que o agente toma conhecimento do fato em relação ao qual deve
permanecer em segredo em razão do cargo que ocupa, não se exigindo que tenha sido no
efetivo desempenho das atribuições do cargo.
Logo, o crime pode ser praticado no caso de o agente tomar conhecimento do fato durante
período de licença, mas em razão do cargo.
O Código Penal apresenta duas formas equiparadas do crime de violação de sigilo funcio-
14
8-

nal. Observe:
41

Incorrerá nas mesmas penas o funcionário público que:


12.
.4
41

z Permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qual-


-3

quer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou ban-
s
co

co de dados da Administração Pública;


ar
M

z Utiliza-se, indevidamente, do acesso restrito.


NOÇÕES DE DIREITO

Forma qualificada: se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a


outrem.
Sobre este crime, fique atento:

z Só será praticado dolosamente — não admite forma culposa;


z Em regra, não admite tentativa, salvo casos excepcionais, a exemplo de ser praticado na
forma escrita.

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Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência

Este tipo penal era previsto no art. 326, e foi revogado pelo art. 337-J também do Código
Penal.

Art. 326 Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o


ensejo de devassá-lo:
Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Os crimes contra a administração da justiça têm como finalidade proteger uma regular
fruição da atividade judicial brasileira, incluindo atividades de natureza policial.
A atividade judicial é de fundamental importância para a sociedade, necessitando, assim,
de proteção por parte do Direito Penal.

Reingresso de Estrangeiro Expulso

Art. 338 Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da
pena.

Este crime, previsto no art. 338, do Código Penal, irá se configurar quando o estrangeiro
que foi expulso do Brasil reingressar ao território nacional.
Nos termos do art. 54, da Lei de Migração (Lei nº 13.445, de 2017), a expulsão consiste em
medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional,
conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.
14

Importante!
8-
41
2.

O agente será responsabilizado penalmente, podendo, ainda, sofrer nova expulsão do ter-
1
.4

ritório brasileiro.
41
-3
s
co

Sobre o crime de reingresso de estrangeiro expulso, é importante ficar atento ao seguinte:


ar
M

z É crime de mão própria, praticado pelo estrangeiro expulso, não podendo a figura típica
ser praticada por intermédio de terceira pessoa. O fato de o crime ser de mão própria não
exclui a possibilidade de concurso de pessoas na modalidade participação;
z É necessário, para configuração do crime, que o estrangeiro tenha ciência de que foi expul-
so do território brasileiro (prévia e oficial expulsão do estrangeiro, por meio de decisão
administrativa);
z Admite tentativa;
z É crime material, que se consuma com o devido reingresso ao território nacional, após ter
deixado o país em razão da expulsão. Não é necessário que o agente realize alguma con-
duta típica criminosa específica. Trata-se de crime instantâneo;
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z Trata-se de crime de competência da justiça federal;
z Não se tipifica o crime quanto o estrangeiro, após decretada sua expulsão, permanece
indevidamente no país.

Denunciação Caluniosa

A denunciação caluniosa está prevista no art. 339, do Código Penal:

Art. 339 Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração
de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra
alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

Tem como figura típica a seguinte conduta: dar causa direta ou indireta à instauração de
investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inqué-
rito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que
o sabe inocente.
Como é possível se extrair pela leitura da figura típica, o crime pode ser praticado mesmo
que o agente dê causa a outro procedimento, ainda que não seja processo judicial, a exemplo
de investigação policial ou administrativa. É importante compreender isso, pois muitas ques-
tões abordam esta situação.
Sobre o crime de denunciação caluniosa, é importante ficar atento ao seguinte:

z Só pode ser praticado dolosamente. Parte da doutrina não admite o dolo eventual neste
crime, já que o tipo penal exige que o agente saiba que o fato é imputado contra pessoa
inocente.
14
8-

A denunciação caluniosa poderá se configurar quando o agente imputa crime que real-
41
2.

mente aconteceu contra pessoa que sabe ser inocente ou quando imputa a alguém a prática
1
.4

de crime que não existiu (neste caso, não há dúvidas sobre a inocência da pessoa, já que o
41

fato sequer aconteceu);


-3
s
co

z É necessário que o fato imputado seja crime ou contravenção penal (no caso de contra-
ar
M

venção penal, a pena será reduzida de metade), não se configurando este tipo penal caso o
agente impute infração administrativa ou civil;
NOÇÕES DE DIREITO

z É crime comum;
z Admite a forma tentada. Por exemplo, o agente narra ao delegado de polícia que o autor
de determinado crime foi a pessoa A, mas o delegado não inicia qualquer investigação
porque o verdadeiro autor do crime é B, que se apresenta e confessa ter cometido o delito
antes mesmo de a autoridade ter iniciado qualquer investigação;
z A pessoa contra quem se imputa o crime deve ser determinada, sendo ela, assim como o
Estado, o sujeito passivo da prática delituosa;
z Em regra, a denunciação caluniosa absorve o crime de calúnia.
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A pena será aumentada de 1/6 (sexta parte), caso o agente se sirva de anonimato ou de
nome suposto.
No caso de denunciação caluniosa privilegiada, a pena será diminuída de metade, caso a
imputação seja de prática de contravenção penal.
Observe as principais diferenças entre a denunciação caluniosa e o crime de calúnia:

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA CALÚNIA


É crime contra a administração da justiça É crime contra a honra
A ação penal é pública incondicionada; discute-se A ação penal é privada
na doutrina e jurisprudência se o processo por de- Punida pelo fato de o agente ofender a honra obje-
nunciação caluniosa pode ser iniciado antes do des- tiva da vítima
fecho do procedimento ou ação originários É admitida a imputação falsa apenas de crime
Punida pelo fato de o agente movimentar falsamen-
te o aparato estatal, tentando prejudicar a vítima pe-
rante o Estado
É admitida a imputação falsa de crime ou contra-
venção penal

Comunicação Falsa de Crime ou Contravenção

Art. 340 Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contra-


venção que sabe não se ter verificado:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Ao contrário do que ocorre no crime de denunciação caluniosa, no crime de falsa comuni-


cação de crime ou contravenção o agente não individualiza o autor do fato que não existiu,
mas apenas comunica à autoridade crime ou contravenção penal que sabe não ter ocorrido.
Sobre este crime, é importante mencionar que:

z Não admite a forma culposa. Assim, se o agente comunica à autoridade, sem intenção, crime
ou contravenção penal, provocando a ação desta, este tipo penal não estará configurado;
14

z É crime comum;
8-
41

z Admite tentativa;
2.

z Se o fato imputado for infração administrativa ou civil, não irá se configurar o crime;
1
.4

z A maioria da doutrina, não se configura o crime quando o agente se limita a comunicar


41
-3

ilícito penal diverso do que realmente ocorreu, desde que o fato comunicado e o que real-
s

mente ocorreu sejam crimes da mesma natureza;


co
ar

z Se o agente faz a comunicação falsa para tentar ocultar outro crime por ele praticado, res-
M

ponde também pela comunicação falsa de crime.

COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU


DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA
CONTRAVENÇÃO
O agente não aponta pessoa certa e determinada
O agente aponta pessoa certa e determinada como
como autora da infração penal, mas apenas comu-
autora da infração penal
nica fato inexistente
Instaura inquérito policial, procedimento investigató-
Adota alguma ação com finalidade de apurar os rio criminal, processo judicial, processo administrati-
fatos vo disciplinar, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa

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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Exemplo: José Carlos viu uma publicação no Facebook relacionada a um aborto. De ime-
diato, ligou para uma delegacia de polícia e comunicou o crime ao delegado de polícia, que
iniciou as investigações sobre o fato. Entretanto, não sabia José Carlos que o aborto não exis-
tiu, já que a publicação se tratava de uma brincadeira por parte daquele que a realizou.
Não há que se falar em figura típica da comunicação falsa de crime, já que o agente não
teve dolo de comunicar falsamente o fato que não existiu.

Autoacusação Falsa

Art. 341 Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

É possível a configuração deste tipo penal quando o agente se acusar de:

z Crime não existente (a conduta criminosa sequer foi praticada, sequer existiu);
z Crime existente, mas praticado por outra pessoa (a conduta criminosa foi realmente reali-
zada, mas foi outro indivíduo que a praticou).

Sobre a autoacusação falsa, é importante levar em consideração:

z Só pode ser praticado dolosamente;


z Admite a modalidade tentada na forma escrita, quando a confissão falsa remetida se
extravia;
z Não se exige que seja praticado apenas perante a autoridade policial, mas pode ser na
presença de qualquer autoridade competente (delegado de polícia, membro do Ministério
Público, autoridade judicial etc.);
z Não se exige a prática de qualquer ato por parte da autoridade para a consumação do cri-
me, bastando a autoacusação falsa;
14

z O direito da autodefesa não permite que se impute falsamente crime a si mesmo.


8-
41
2.

Falso Testemunho ou Falsa Perícia


1
.4
41

O crime de falso testemunho ou falsa perícia está previsto no art. 342, do Código Penal.
-3
s
co

Art. 342 Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito,
ar
M

contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito poli-


cial, ou em juízo arbitral:
NOÇÕES DE DIREITO

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser praticado mediante a execução de quais-
quer um dos verbos previstos no tipo penal.
Sua consumação ocorre com o encerramento do depoimento.
Sobre o crime de falso testemunha ou falsa perícia, é importante levar para a sua prova:

z Não admite a forma culposa;


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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Sujeito ativo: É crime de mão própria, que só poderá ser praticado por uma das pessoas
previstas no tipo penal (testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete).

Importante!
�O ofendido (vítima) que praticar quaisquer dos verbos previstos no tipo penal não pra-
tica o crime de falso testemunho, já que ele não é testemunha;
� Os investigados ou acusados não cometem o crime de falso testemunho, pois não são
considerados testemunhas;
� As pessoas descompromissadas ou dispensadas de depor, bem como as pessoas proi-
bidas de depor, poderão ser responsabilizadas pelo delito em tela.

Segundo posicionamento doutrinário dominante:

z O falso testemunho não admite coautoria, mas é possível a participação;


z A falsa perícia admite coautoria e participação.

Causas de Aumento de Pena

Art. 342 [...]


§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante subor-
no ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou
em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

O tipo penal apresenta hipóteses que aumentarão a pena do agente. As penas aumentam-
-se de 1/6 (um sexto) a um terço, se o crime é:

z Praticado mediante suborno;


14

z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal;
8-
41

z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo civil em que
2.

for parte entidade da Administração Pública direta ou indireta.


1
.4
41
-3

Retratação — Causa Especial de Extinção da Punibilidade


s
co
ar

Art. 342 [...]


M

§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o
ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.

Se o agente se retratar ou falar a verdade poderá ter extinta a punibilidade do crime, des-
de que isso:

z Seja realizado antes da sentença (ainda prevalece o entendimento de que se trata da sen-
tença recorrível);
z Seja realizado no processo em que ocorreu o ilícito (no processo em que se deu o falso e
não no processo referente ao falso).
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Não responderá pelo crime de falso testemunho a pessoa que praticar as condutas descri-
tas no tipo penal incriminador com a finalidade de não se autoincriminar.
Lembre-se de que ninguém será prejudicado por não produzir provas contra si mesmo.
Quando a testemunha mente por estar sendo ameaçada de morte ou algum outro mal gra-
ve, não responde pelo crime de falso testemunho.

Corrupção Ativa de Testemunha ou Perito

Art. 343 Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, peri-
to, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em
depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação:
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.

O art. 343, do Código Penal, apresenta um outro tipo penal, chamado por parte da doutrina
de corrupção ativa de testemunha contador, perito, intérprete ou tradutor.

z Verbos: dar, oferecer ou prometer;


z Destinatário: testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete;
z Finalidade: fazer com que as pessoas façam afirmação falsa, neguem ou calem a verdade
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação.

Art. 342 [...]


Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o
fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que
for parte entidade da administração pública direta ou indireta.

As penas irão aumentar de 1/6 a 1/3 (um sexto a um terço), se o crime é:


14

z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal;
8-

z Cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo civil em que
41
2.

for parte entidade da Administração Pública direta ou indireta.


1
.4
41

Sobre o crime de corrupção ativa de testemunha contador, perito, intérprete ou tradutor,


-3

é importante ficar atento ao seguinte:


s
co
ar

z Não pode ser praticado culposamente;


M

z Nos verbos oferecer ou prometer, é crime formal;


NOÇÕES DE DIREITO

z No verbo dar, é crime material;


z Admite tentativa, quando for possível fracionar o iter criminis;
z O crime de corrupção ativa de testemunha ou perito deixa de ser punível se, antes da
sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade,
mas não se estende ao crime apurado no procedimento em que a testemunha faltou com
a verdade.

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Coação no Curso do Processo

Art. 344 Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio
ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada
a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

O crime de coação no curso do processo é aquele em que, para beneficiar a si ou a terceiro,


o agente emprega violência ou grave ameaça contra pessoas que participam do processo ou
juízo arbitral.
Observe as duas hipóteses:

z Suponha que André tenha praticado um crime de roubo a um supermercado, estando ele
sendo processado por isso. Thais, funcionária do supermercado, é testemunha, tendo sido
marcado um dia para que ela comparecesse em juízo para dar seu depoimento. André,
com a finalidade de favorecer seus próprios interesses, vai à casa de Thais e, utilizando-se
de uma arma de fogo para ameaçá-la, exige que ela diga que não foi ele quem praticou
o fato, mas outra pessoa. André praticou o crime de coação no curso do processo, já que
empregou grave ameaça contra pessoa chamada a intervir em processo judicial;
z Aproveitando a mesma hipótese anterior, porém, agora André, sabendo sobre o que Thais
disse na inquirição, vai à casa dela e, utilizando-se de uma arma de fogo para ameaçá-la,
diz que irá matá-la por não dizer que foi outra pessoa que praticou o crime, por tê-lo incri-
minado. André, nesta hipótese, praticou o crime de ameaça, uma vez que empregou grave
ameaça contra a pessoa após o depoimento, exaurindo-se a participação daquela na ação.

Caso o agente se utilize de violência para praticar o crime de coação no curso do processo,
responderá por este, além da pena correspondente à violência.
Sobre a coação no curso do processo, fique atento às seguintes informações:
14
8-

z Pode ser praticado contra as autoridades responsáveis pela condução do processo, como
41

juízes, promotores, delegados de polícia, entre outros;


12.
.4

z Só pode ser praticado dolosamente;


41

z Exige-se o dolo específico por parte do agente de favorecer interesse próprio ou alheio;
-3

z É crime formal, que se consuma com o uso de violência ou grave ameaça, independente-
s
co

mente de o coagido ceder;


ar
M

z Admite a forma tentada na hipótese de o crime ser praticado por escrito e haver extravio.

Exercício Arbitrário das Próprias Razões

Art. 345 Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo
quando a lei o permite:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.
Parágrafo único. Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

Observe a parte final da figura típica: salvo quando a lei o permite.


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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
Pode-se concluir que, quando houver permissão legal, o agente que fizer justiça com as
próprias mãos não será responsabilizado criminalmente. Assim, caso o agente mate alguém
em legítima defesa, não será ele responsabilizado criminalmente.
Observe o exemplo a seguir: Tício é proprietário de uma casa que se encontra alugada
para Mévio. O inquilino está devendo 6 (seis) meses de aluguel. Tício, indignado com a situa-
ção, vai até o local, troca todas as fechaduras e coloca os objetos pessoais de Mévio do lado
de fora. Neste caso, Tício praticou o crime de exercício arbitrário das próprias razões, já que
fez justiça com as próprias mãos, para satisfazer pretensão legítima (ele tinha o direito de
receber os valores correspondentes ao aluguel de seu imóvel).
A pretensão do agente deveria ter sido solucionada pelos meios legais pertinentes.
Sobre o exercício arbitrário das próprias razões, deve-se ficar atento ao seguinte:

z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


z Só poderá ser praticado dolosamente;
z É crime formal, consumando-se com o emprego ou uso do meio arbitrário, independente-
mente de o agente alcançar ou não a pretensão;
z Admite tentativa;
z Caso o agente pratique o crime com emprego de violência, responderá também por ela.

Subtração ou Dano de Coisa Própria Legalmente em Poder de Terceiro

Art. 346 Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de tercei-
ro por determinação judicial ou convenção:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

No art. 346, do Código Penal, há uma outra figura típica, bastante parecida com o crime de
exercício arbitrário das próprias razões.
Sobre este tipo penal, é importante salientar:
14
8-

z Só pode ser praticado dolosamente;


41
2.

z É crime de ação múltipla, que irá se configurar com a prática de quaisquer um dos verbos
1
.4

previstos no tipo penal: tirar, suprimir, destruir ou danificar;


41

z Trata-se de crime próprio. Exige-se que a coisa seja própria do agente que praticou a con-
-3

duta delituosa. Pode haver coautoria ou participação de terceiros;


s
co

z O objeto deve estar em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção. Se for
ar
M

por outro motivo, não se configurará este crime;


z Admite tentativa.
NOÇÕES DE DIREITO

Para consumação deste crime, existem duas correntes:

z o crime é formal e consuma-se quando o agente emprega o meio executório;


z o crime é material e só se consuma com a satisfação da pretensão visada.

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Fraude Processual

Art. 347 Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado


de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único. Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não
iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

Com previsão legal no art. 347, do Código Penal, o crime de fraude processual configurar-
-se-á quando o agente inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administra-
tivo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
Aplica-se a pena em dobro se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal,
ainda que não indiciado o agente.
Exemplo: Carlos praticou o crime de homicídio, ao matar Cláudio, que lhe devia uma quan-
tia em dinheiro. Com a finalidade de simular uma hipótese de legítima defesa, para induzir
o perito a erro, Carlos coloca, fraudulentamente, nas mãos da vítima, uma arma de fogo,
modificando o estado de pessoa.
Carlos praticou o crime de fraude processual, respondendo pelo crime com a pena dobra-
da, já que inovou artificiosamente, na pendência de processo penal.
Sobre o crime de fraude processual, fique atento ao seguinte:

z É crime comum;
z Não admite a modalidade culposa;
z Exige dolo específico: fim de induzir a erro juiz ou perito;
z É crime formal, que se consuma com a prática da conduta prevista no tipo penal, ainda
que não seja efetivamente induzido a erro o juiz ou o perito;
z Admite a modalidade tentada.
14

Importante!
8-
41

A respeito do direito à não autoincriminação, vejamos o entendimento do STJ: “O direito


12.

à não autoincriminação não abrange a possibilidade de os acusados alterarem a cena do


.4
41

crime, inovando o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, para, criando artificiosamente


-3

outra realidade, levar peritos ou o próprio Juiz a erro de avaliação relevante”14.


s
co
ar
M

Favorecimento Pessoal

Art. 348 Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é comina-
da pena de reclusão:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º Se ao crime não é cominada pena de reclusão:
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa.
§ 2º Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do crimi-
noso, fica isento de pena.

110 14 (STJ: HC 137.206/SP, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª Turma, j. 01.12.2009).
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O favorecimento pessoal, previsto no art. 348, do Código Penal, configurar-se-á quando o
agente auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada
pena de reclusão.
O crime consiste no apoio dado ao criminoso, seja dando refúgio, abrigo ou facilitando a
sua fuga. Neste crime, o auxílio dá-se após a prática do crime, o que difere da participação,
em que o auxílio é prestado antes ou durante o crime.

FAVORECIMENTO PESSOAL PARTICIPAÇÃO NO DELITO


Auxílio ao criminoso ocorre após a prática do Auxílio ao criminoso ocorre antes ou durante o
crime crime

Este tipo penal pode gerar algumas dúvidas. Para esclarecê-las, vamos analisar alguns
exemplos:
Exemplo 1: Júnior pratica o crime de roubo. O delegado de polícia da região está a sua
procura. O autor do crime pede para se esconder do delegado na casa de Danilo, seu amigo.
Danilo, em sua casa, esconde Júnior. Júnior responderá pelo crime de roubo; Danilo, pelo
crime de favorecimento pessoal, já que auxiliou a se subtrair da ação de autoridade pública
autor de crime a que se comina pena de reclusão.
Exemplo 2: Francisco, Jefferson e César combinam um crime de roubo. Francisco e Jef-
ferson vão praticar o verbo descrito no tipo penal, César irá dar fuga aos agentes. O crime é
praticado, os policiais acabam tomando conhecimento da prática delituosa e vão atrás dos
criminosos, contudo, eles conseguem se evadir. Todos os agentes responderão apenas pelo
crime de roubo. Não se aplica a César, responsável pela fuga, o crime de favorecimento pes-
soal, porque, para que se configure este crime, não pode o agente ter participado do crime
anterior e nem pode haver liame subjetivo prévio entre os agentes, ou seja, ligação ou víncu-
lo psicológico e subjetivo entre os agentes do delito.
Este crime apresenta uma forma privilegiada, à qual se comina uma pena mais branda se
ao crime praticado não é cominada pena de reclusão (detenção, por exemplo).
Haverá isenção de pena (escusa penal absolutória) caso a conduta que configura o favore-
14

cimento pessoal seja praticada por:


8-
41
2.

z ascendente;
1
.4

z descendente;
41

z cônjuge;
-3

z irmão.
s
co
ar
M

Sobre o favorecimento pessoal, leve para a sua prova o seguinte:


NOÇÕES DE DIREITO

z Não pode ser praticado culposamente;


z É crime comum;
z O crime consuma-se com o êxito na subtração do criminoso;
z Caso não ocorra êxito na subtração, haverá a modalidade tentada;
z É crime acessório, que exige a ocorrência de delito anterior;
z A infração penal cometida pelo agente deve constituir um crime. Se a infração for tipifica-
da como contravenção penal, o favorecimento será atípico;
z Não pratica o crime o agente que auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor
de contravenção penal. 111
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Favorecimento Real

Art. 349 Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio
destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

Requisitos do favorecimento real:

z Prestar auxílio a criminoso após a prática do crime;


z O auxílio é destinado a tornar seguro o proveito do crime (que já ocorreu) — não abrange
o provento de contravenção penal;
z Aquele que presta auxílio não pode ser coautor ou receptador do crime praticado anteriormente.

Ao favorecimento real não se aplica a escusa penal absolutória mesmo que a conduta seja
praticada pelo ascendente, descendente, cônjuge ou irmão.
Sobre o favorecimento real, é importante mencionar que:

z Não admite a culpa;


z Admite tentativa;
z O auxílio não pode ter sido combinado previamente pelos agentes; caso os agentes combi-
nem antes, o crime não será de favorecimento real, e sim haverá participação;
z É crime comum.

Favorecimento Real Impróprio ou Ingresso Não Autorizado de Aparelho Telefônico ou Similar


em Presídio

Há uma conduta típica, prevista no art. 349-A, do Código Penal, inserida no ano de 2009,
chamada por parte da doutrina de favorecimento real impróprio.
14
8-

Art. 349-A Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho tele-
41
2.

fônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento


1
.4

prisional.
41

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.


-3
s
co

Trata-se de crime plurinuclear, que poderá ser praticado mediante a execução de quais-
ar
M

quer um dos verbos descritos no tipo penal incriminador.


Sobre este crime, é importante levar para a sua prova:

z Não admite a culpa;


z Caso haja autorização legal para ingresso do aparelho, o fato será atípico;
z É crime comum;
z A pessoa que se encontra presa poderá responder por este tipo penal; contudo, caso ape-
nas utilize o aparelho que ingressou no estabelecimento prisional, não será punida por
este crime, cometendo apenas falta grave, de acordo com a Lei de Execuções Penais.

112
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Exercício Arbitrário ou Abuso de Poder

Este crime, previsto no art. 350, do Código Penal, encontrava-se revogado tacitamente pela
Lei de Abuso de Autoridade, Lei n° 4.898, de 1965.
Com a Lei nº 13.964, de 2019, o crime foi expressamente revogado.

Fuga de Pessoa Presa ou Submetida à Medida de Segurança

Art. 351 Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de
segurança detentiva:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

Previsto no art. 351, do CP, este crime tem a seguinte figura típica: Promover ou facilitar a
fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva.
Como se pode observar pela leitura da figura típica, este tipo penal poderá ser praticado
de 2 (duas) formas:

z com a promoção da fuga;


z com a facilitação da fuga.

z Forma qualificada:

Art. 351 [...]


§ 1º Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arromba-
mento, a pena é de reclusão, de dois a seis anos.
§ 2º Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à
violência.
§ 3º A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja
14

custódia ou guarda está o preso ou o internado.


8-
41
2.

„ Se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou internado,
1
.4

será crime próprio. Obs: Se a prisão for ilegal, não haverá a incidência deste crime, uma
41

vez que estará presente a legítima defesa de terceiro;


-3

„ Se o crime é praticado à mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrom-
s
co

bamento, a pena é de reclusão, de dois a seis anos;


ar
M

„ Se há emprego de violência contra a pessoa, o agente responderá também pelo crime


correspondente à violência.
NOÇÕES DE DIREITO

z Forma culposa:

Art. 351 [...]


§ 4º No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de
detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Na forma culposa, é crime próprio, que será praticado pelo funcionário incumbido da
guarda ou custódia da pessoa presa. 113
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Sobre o crime de fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança, é importante
levar em consideração:

z Pode ser praticado tanto intramuros (no interior de estabelecimento de natureza prisio-
nal) quando extramuros (durante procedimento de escolta ou condução);
z Em regra, trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;
z Admite a forma culposa;
z É necessário, para configuração do crime, que a prisão a que está submetida a pessoa seja
legal;
z Trata-se de crime material, que se consuma com a efetiva fuga;
z Admite a forma tentada;
z Caso seja praticado mediante violência contra pessoa, responderá o agente também pela
violência.

Evasão Mediante Violência Contra Pessoa

Art. 352 Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de


segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa:
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

Sobre este crime, é muito importante que você leve em consideração:

z Trata-se de crime próprio, que só poderá ser praticado por pessoa presa ou submetida a
medida de segurança detentiva;
z Só pode ser praticado dolosamente;
z É crime de atentado ou de empreendimento, pois prevê expressamente em sua descrição
típica a conduta de tentar o resultado, por isso, não admite a tentativa;
z Exige-se o emprego de violência contra pessoa.
14
8-

Caso não haja emprego de violência ou se esta seja empregada contra coisa, não irá se
41
2.

configurar este crime.


1
.4
41

z Exemplo 1: Michele, presa em uma penitenciária feminina, para fugir, emprega violência
-3

contra uma agente prisional, conseguindo, assim, evadir-se;


s
co

z Exemplo 2: Michele, presa em uma penitenciária feminina, aproveitando de um momen-


ar
M

to de descuido dos agentes prisionais, quebra uma janela com um soco e foge do estabele-
cimento prisional;
z Exemplo 3: Michele, presa em uma penitenciária feminina, ao verificar que os agentes
prisionais estão distraídos, foge, pulando o muro do estabelecimento prisional.

Apenas no exemplo 1 haverá a configuração do crime de evasão mediante violência contra


pessoa, já que no exemplo 2 a violência foi empregada contra coisa e no exemplo 3 não houve
emprego de violência.

114
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Importante!
Se da violência resultarem lesões, ainda que leves, ou morte, o agente responderá pelos
dois crimes, e as penas serão somadas.

Arrebatamento de Preso

Art. 353 Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou
guarda:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência.

Sobre este crime, são relevantes as seguintes informações:

z Não admite a modalidade culposa;


z Exige dolo específico: fim de maltratar o preso (aplicar-lhe uma surra, por exemplo);
z É crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa;
z O tipo penal diz preso, sem discriminar se a prisão é legal ou ilegal; por isso, o agente pode
cometer o crime mesmo que a prisão seja ilegal;
z O direito penal não permite a analogia, portanto, não haverá a incidência deste crime se o
ato é cometido contra pessoa internada por medida de segurança;
z O preso arrebatado é sujeito passivo secundário;
z É crime formal, que se consuma com o arrebatamento, independentemente de se conse-
guir maltratar o preso;
z Admite a forma tentada;
z Quando o agente empregar a violência em concurso com o arrebatamento de preso, seja
lesão corporal leve, grave ou gravíssima, mesmo que o resultado seja morte, o sujeito ativo
responderá pelos dois crimes (arrebatamento de preso e lesão corporal, por exemplo).

Motim de Presos
14
8-
41

Art. 354 Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão:


12.

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.
.4
41
-3

Amotinarem-se transmite a ideia de revolta coletiva dos presos com a ordem e a discipli-
s
co

na da prisão, provocando perturbação e alvoroço.


ar

Ordem diz respeito à tranquilidade do ambiente prisional.


M

Disciplina consiste no respeito e obediência às regras previamente estabelecidas.


NOÇÕES DE DIREITO

Sobre este crime, fique atento ao seguinte:

z É crime plurissubjetivo ou de concurso necessário, já que será praticado por “presos”;


z É crime próprio, que só poderá ser praticado por pessoas presas;
z Só pode ser praticado dolosamente;
z O Código Penal não faz referência ao número de presos que é necessário para a configura-
ção do tipo penal, mas deixa claro se tratar de um crime coletivo;
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Não é relevante, para fins de caracterização deste crime, se o interesse dos presos é legíti-
mo ou ilegítimo;
z Caso seja praticado com emprego de violência, responderão os agentes, também, por ela;
z Caso os agentes consigam evadir-se em decorrência da violência empregada para o motim,
responderão também pelo crime do art. 352, do CP;
z Admite a forma tentada.

Patrocínio Infiel

Art. 355 Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando


interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que defende
na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

No art. 355, do CP, temos dois crimes distintos, com as seguintes condutas típicas: patrocí-
nio infiel no caput e patrocínio simultâneo ou tergiversação no parágrafo único.

z Patrocínio Infiel: trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional,


prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado.

Sobre o crime de patrocínio infiel, é importante que você saiba que:

„ É crime próprio, que só será praticado pelo advogado ou procurador que trair o dever
funcional;
„ É crime material, que se consuma quando se prejudicar o interesse do representado;
„ Não admite forma culposa;
„ Admite tentativa somente quando o advogado ou procurador pretende cometer o crime
14

na forma comissiva, uma vez que na forma omissiva não se admite a tentativa;
8-

„ É crime próprio;
41
2.

„ Não admite a forma culposa;


1
.4

„ É crime formal, que não exige o prejuízo;


41
-3

z Patrocínio simultâneo ou tergiversação: defender, na mesma causa, o advogado ou pro-


s
co

curador judicial, simultânea (patrocínio simultâneo) ou sucessivamente (tergiversação ou


ar
M

patrocínio sucessivo), partes contrárias.

O patrocínio simultâneo configura-se quando o advogado patrocinar as partes contrárias


simultaneamente.
A tergiversação configura-se quando o advogado deixa de patrocinar o seu cliente para
patrocinar a parte contrária.

Sobre o crime de patrocínio simultâneo ou tergiversação, é importante saber que:

„ É crime doloso;
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„ Não admite a modalidade culposa;
„ A traição do advogado ou procurador deve produzir prejuízo relevante de qualquer
natureza, material ou moral, desde que lícito;
„ Admite tentativa;
„ A ação penal é pública incondicionada.

Sonegação de Papel ou Objeto de Valor Probatório

Art. 356 Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou obje-
to de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

Previsto no art. 356, do CP, este crime se configura quando o agente inutilizar, total ou
parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que
recebeu na qualidade de advogado ou procurador.
Este crime pode ser praticado de duas formas:

z Inutilizar, total ou parcialmente, autos, documento ou objeto de valor probatório (forma


comissiva);
z Deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório (forma omissiva).

Sobre este tipo penal, é importante ficar atento ao seguinte:

z É crime próprio, que só pode ser praticado pelo advogado ou procurador que recebeu os
autos, documento ou objeto de valor probatório;
z Não é punido na modalidade culposa;
z A doutrina dominante admite a tentativa na modalidade comissiva — “inutilizar”, mas
não admite na modalidade omissiva — “deixar de restituir”.
14
8-

Exploração de Prestígio
41
12.
.4

Está previsto no art. 357, do CP:


41
-3
s

Art. 357 Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em
co

juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou
ar
M

testemunha:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
NOÇÕES DE DIREITO

Parágrafo único. As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinhei-
ro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.

Não se deve confundir este tipo penal com o crime de tráfico de influência, previsto no art.
332, do CP. Vejamos a diferença na tabela a seguir:

117
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EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO (ART. 357) TRÁFICO DE INFLUÊNCIA (ART. 332)
Crime contra a administração da justiça Crime contra a administração em geral
Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para
utilidade, a pretexto de influir em outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a
pretexto de influir em
Juiz, jurado, órgão do Ministério Público, fun- Em ato praticado por funcionário público no
cionário de justiça, perito, tradutor, intérprete exercício da função
ou testemunha

A pena do crime de exploração de prestígio será aumentada de 1/3 (um terço) se o agente
alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina ao juiz, ao jurado, ao órgão
do ministério público, ao funcionário de justiça, ao perito, ao tradutor, ao intérprete ou à
testemunha.
Sobre o crime de exploração de prestígio, leve para a sua prova:

z É crime comum, que poderá ser praticado por qualquer pessoa;


z Só poderá ser praticado dolosamente;
z No verbo solicitar, é crime formal;
z No verbo receber, é crime material;
z Admite tentativa.

Violência ou Fraude em Arrematação Judicial

Art. 358 Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar
concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de
vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspondente à violência.

Arrematação judicial, também conhecida como leilão ou praça, é o ato de transferência


14

dos bens penhorados do devedor, em que um funcionário da justiça apregoa e um interessa-


8-
41

do os adquire, em hasta pública, pelo maior lance.


2.

Trata-se de atividade inerente ao Poder Judiciário, consistente em verdadeira expropria-


1
.4
41

ção destinada à satisfação de crédito não cumprido voluntariamente.


-3

Sobre este crime, é importante ficar atento ao seguinte:


s
co
ar

z É crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa;


M

z Não admite a forma culpada;


z Admite tentativa quando o agente não consegue, por circunstâncias alheias a sua vontade,
impedir, perturbar ou fraudar a arrematação judicial.
z No caso de emprego de violência, responderá o agente, também, por ela.

Desobediência a Decisão Judicial Sobre Perda ou Suspensão de Direito

Art. 359 Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou pri-
vado por decisão judicial:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.
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Este crime está previsto no art. 359, do CP, e configurar-se-á quando o agente exercer fun-
ção, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão
judicial.
O crime de desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito, inserido
no Código Penal entre os crimes contra a administração da justiça, representa uma modali-
dade especial do delito de desobediência, capitulado no art. 329, do CP, entre os crimes prati-
cados por particular contra a administração em geral.
Há, nos dois delitos, o descumprimento de ordem legal emanada de funcionário público.
No entanto, o crime definido no art. 359, do CP, possui elementos especializantes, pois o agen-
te não desobedece a uma simples ordem legal emitida por qualquer funcionário público.
Neste crime, o agente vai além, exercendo função, atividade, direito, autoridade ou múnus
de que estava suspenso ou privado por decisão judicial.
Tutela-se a administração da justiça.
Quanto ao sujeito ativo, verifica-se que se trata de crime próprio ou especial, pois somente
pode ser praticado pela pessoa que, por decisão judicial, foi suspensa ou privada relativa-
mente ao exercício de determinada função, atividade, direito, autoridade ou múnus.
O sujeito passivo é o Estado.
Consuma-se com o simples exercício da função, atividade, direito, autoridade ou múnus
do qual o agente foi suspenso ou privado por decisão judicial, ainda que desta conduta não
seja produzido nenhum resultado naturalístico.
Basta a prática de um único ato capaz de afrontar a determinação emanada do Poder
Judiciário.
Sobre este crime, é importante que você leve em consideração as seguintes informações:

z Só poderá ser praticado dolosamente;


z Admite a modalidade tentada;
z Exige-se que a suspensão ou privação se dê por decisão judicial. Caso se trate de decisão
administrativa, não se configurará este tipo penal.
14
8-

CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS


41
12.
.4

Os crimes contra as finanças públicas foram acrescidos ao Código Penal, em capítulo pró-
41

prio dos crimes contra a Administração Pública, no ano 2000.


-3

Estão previstos do art. 359-A ao art. 359-H.


s
co
ar
M

Dica
NOÇÕES DE DIREITO

Os crimes contra as finanças públicas são próprios, praticados por funcionário públi-
co (crimes funcionais), exigindo-se que este funcionário possa dispor sobre as finanças
públicas.

Parte considerável da doutrina entende ser possível que o particular seja sujeito ativo dos
crimes contra as finanças públicas, desde que, por força de lei, tenha disponibilidade sobre
elas. Entretanto, tal possibilidade é caso extremamente excepcional.
Todos os crimes contra as finanças públicas são processados mediante ação penal pública
incondicionada.
119
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Contratação de Operação de Crédito

Este crime se encontra previsto no art. 359-A, do CP:

Art. 359-A Ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, interno ou externo, sem prévia
autorização legislativa:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena quem ordena, autoriza ou realiza operação de crédito,
interno ou externo:
I - com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução do
Senado Federal;
II - quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizado por lei.

Conduta típica: ordenar, autorizar ou realizar operação de crédito, interno ou externo,


sem prévia autorização legislativa.
Trata-se de crime de ação múltipla, que poderá ser praticado mediante a execução de qual-
quer um dos verbos previstos no tipo penal. Responde por este crime aquele que praticar a
conduta típica.
Há formas equiparadas do crime de contratação de operação de crédito, incorrendo
nas mesmas penas aquele que ordena, autoriza ou realiza, operação de crédito, interno ou
externo:

z Com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei ou em resolução


do Senado Federal;
z Quando o montante da dívida consolidada ultrapassa o limite máximo autorizado por lei.

Sobre este crime, é importante levar em consideração que:


14

z Não admite a modalidade culposa;


8-

z Caso o agente pratique as condutas com autorização legislativa prévia, o fato será atípico,
41

mas, se ultrapassar os limites da lei, o fato será típico;


12.
.4

z Nos verbos ordenar e autorizar, o crime é formal;


41

z No verbo realizar, o crime é material.


-3
s
co

Inscrição de Despesas Não Empenhadas em Restos a Pagar


ar
M

Este crime está previsto no art. 359-B, do CP.

Art. 359-B Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar, de despesa que não tenha sido
previamente empenhada ou que exceda limite estabelecido em lei:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Configurar-se-á quando o agente ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar de


despesa que não tenha sido previamente empenhada ou que exceda limite estabelecido em
lei.
120 Pode ser praticado de duas formas:
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar de despesa que não tenha sido previa-
mente empenhada;
z Ordenar ou autorizar a inscrição em restos a pagar de despesa que exceda limite estabe-
lecido em lei.

Faz-se necessário compreender o que significa empenho, liquidação e ordem de pagamento:

z Empenho: ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de
pagamento pendente ou não de implemento de condição;
z Liquidação: consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base os
títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito;
z Ordem de pagamento: despacho exarado por autoridade competente, determinando que
a despesa seja paga.

Sobre os restos a pagar, trata-se das despesas empenhadas, mas não pagas até o dia 31 de
dezembro. Dessa forma, o tipo penal pune o administrador que:

z Inscreve em restos a pagar despesas que não foram previamente empenhadas;


z Inscreve em restos a pagar despesas previamente empenhadas, mas com excesso aos limi-
tes legais.

Quanto ao sujeito ativo, somente pode ser praticado pelo agente público dotado da atribui-
ção de ordenar ou autorizar a inscrição da despesa. Se o funcionário público praticar o ato
sem atribuição legal para tanto, este será passível de anulação pelo próprio Poder Público,
tornando atípica a conduta.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, a coletividade, em face do
prejuízo causado pelo abalo nas finanças públicas.
14

Consuma-se no momento da prática da conduta legalmente descrita (ordenar ou autorizar


8-

a inscrição em restos a pagar), independentemente da lesão ao erário.


41
2.

Sobre este crime, é importante levar em consideração:


1
.4
41

z Não admite a modalidade culposa;


-3

z Trata-se de crime de ação múltipla.


s
co
ar
M

Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato ou Legislatura


NOÇÕES DE DIREITO

Art. 359-C Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do
último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício
financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida
suficiente de disponibilidade de caixa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

O objeto material do crime é a obrigação assumida nos dois últimos quadrimestres do últi-
mo ano do mandato ou legislatura.
121
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Pode ser praticado de duas formas:

z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do últi-


mo ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício
financeiro;
z Ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último
ano do mandato ou legislatura, se restar parcela a ser paga no exercício seguinte, que não
tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa.

A prática do crime não está apenas relacionada ao mantado eletivo, mas também ao man-
dato decorrente de indicação.
Trata-se de crime próprio ou especial, por isso, somente agentes públicos titulares de man-
dato ou legislatura, representantes dos órgãos e entidades indicados no art. 20 da Lei Comple-
mentar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, podem ser o sujeito ativo, pois apenas
tais pessoas têm atribuição para assunção de obrigações.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, a coletividade, em face do
prejuízo causado pelo abalo nas finanças públicas.
Consuma-se quando o sujeito ativo ordena ou autoriza a assunção de obrigação, nos últi-
mos oito meses do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga naquele exercício
financeiro ou reste parte a ser paga no exercício seguinte, sem contrapartida suficiente para
tanto, independentemente da comprovação de prejuízo aos cofres públicos.
Sobre este crime, é importante ficar atento às seguintes disposições:

z Só pode ser praticado dolosamente;


z Este crime só se configura se as condutas típicas forem praticadas nos dois últimos qua-
drimestres (oito meses anteriores ao término do mandato) do último ano do mandato ou
legislatura;
z É crime de ação múltipla;
14
8-

z Admite a modalidade tentada, apesar de ser de difícil comprovação, segundo posiciona-


41

mento doutrinário majoritário.


12.
.4
41

Ordenação de Despesa não Autorizada


-3
s
co

O crime de ordenação de despesa não autorizada está previsto no art. 359-D, do CP:
ar
M

Art. 359-D Ordenar despesa não autorizada por lei:


Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Ordenar tem o sentido de mandar, determinar que se realize a despesa pública, a qual
compreende os desembolsos efetuados pelo Estado para fazer frente às suas diversas respon-
sabilidades junto à sociedade.
Sobre o sujeito ativo, trata-se de crime próprio ou especial, pois somente pode ser cometi-
do pelo funcionário público com atribuição para ordenar despesas, conhecido como “orde-
nador de despesas”.
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O tipo penal não alcança o “realizador de despesas”, compreendido como a pessoa que se
limita a cumprir ou executar a ordem expedida pelo ordenador.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo
do ente federativo prejudicado pela conduta criminosa, e, secundariamente, a coletividade,
em decorrência dos prejuízos causados pela ordenação de despesas públicas não autorizadas
em lei.
Consuma-se o crime quando o funcionário público ordena a realização da despesa sem
autorização legal, independentemente da comprovação de efetiva lesão ao erário.
Sobre este tipo penal, é importante mencionar que:

z Não admite a forma culposa;


z É crime de ação simples;
z Caso a despesa seja ordenada com autorização legislativa, o fato será atípico;
z É crime formal, segundo Nucci.

Prestação de Garantia Graciosa

Está prevista no art. 359-E, do CP:

Art. 359-E Prestar garantia em operação de crédito sem que tenha sido constituída contraga-
rantia em valor igual ou superior ao valor da garantia prestada, na forma da lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

O tipo penal pune a conduta do funcionário público que presta garantia sem a observância
do requisito legal.
Quanto aos requisitos legais, devemos entender que “prestar” tem o sentido de conceder
ou autorizar garantia, e isso está em conformidade com o inciso IV, art. 29, da Lei Comple-
mentar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, que afirma que concessão de garantia
14

é o compromisso de adimplência de obrigação financeira ou contratual assumida por algum


8-

ente da Federação ou entidade a ele vinculada.


41
2.

As condições para a concessão de garantia encontram-se no art. 40, da citada lei. Destaca-
1
.4

-se entre elas o oferecimento de contragarantia, em valor igual ou superior ao da garantia a


41

ser concedida, visando ao equilíbrio das finanças públicas.


-3

Sobre este crime, fique atento:


s
co
ar
M

z Este crime não admite a modalidade culposa;


z Não basta que seja constituída a contragarantia, exige-se que ela seja igual ou superior ao
NOÇÕES DE DIREITO

valor da garantia prestada;


z Caso a contragarantia seja inferior ou não seja prestada, este crime estará configurado.

Não Cancelamento de Restos a Pagar

Art. 359-F Deixar de ordenar, de autorizar ou de promover o cancelamento do montante de


restos a pagar inscrito em valor superior ao permitido em lei:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
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Deixar de ordenar é não determinar a terceiro que algo seja feito.
Deixar de autorizar é não permitir que terceira pessoa faça algo.
Deixar de promover equivale a não realizar diretamente alguma coisa.
O administrador público que se depara com restos a pagar inscritos em valor superior ao
limite permitido em lei tem o dever legal de autorizar, ordenar ou promover o seu cancela-
mento, sob pena de incorrer no crime de não cancelamento de restos a pagar.
O sujeito ativo é o funcionário público com atribuição para ordenar, autorizar ou pro-
mover o cancelamento do montante de restos a pagar indevidamente inscritos. Trata-se de
crime próprio ou especial. Com isso, o funcionário público que deixa o cargo será respon-
sabilizado pela “inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar” (art. 359-B), ao
passo que o funcionário público que assume o cargo deverá ser responsabilizado por não ter
determinado o “cancelamento do montante de restos a pagar” (art. 359-F), inscrito em valor
superior ao legalmente permitido.
Os dois agentes contribuem para o mesmo resultado, mas a eles serão imputados crimes
diversos, em face do especial tratamento conferido pela lei penal.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, a coletividade, em razão
dos prejuízos causados pelo não cancelamento de restos a pagar.
O crime consuma-se quando o sujeito ativo deixa de ordenar, de autorizar ou de promover
o cancelamento do montante de restos a pagar inscrito indevidamente, independentemente
de comprovação de lesão patrimonial ao erário.
A omissão que não ultrapassa os limites de restos a pagar não configura este crime.
Sobre este crime, fique atento ao seguinte:

z Só pode ser praticado dolosamente;


z É crime omissivo;
z Não admite tentativa.

Aumento de Despesa Total com Pessoal no Último Ano do Mandato ou Legislatura


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8-
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Art. 359-G Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa total com
12.
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pessoal, nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura:


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Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.


-3
s
co

Ordenar é determinar alguma coisa.


ar
M

Autorizar significa permitir que algo seja feito.


Executar traz a ideia de realizar ou concretizar algo.
Este crime tem como finalidade evitar que se aumente as despesas totais com pessoal,
concedendo aumentos, contratando, fazendo alterações na carreira, entre outras formas, nos
últimos dias do mandato ou legislatura, deixando para outro funcionário público a responsa-
bilidade de arcar com os compromissos.
A diferença entre o art. 359-G e o art. 359-C, do CP, é que o crime em estudo não se relacio-
na com a infração penal tipificada no art. 359-C, do CP, porque na assunção de obrigação no
último ano do mandato ou legislatura levam-se em conta despesas que não podem ser pagas
no mesmo exercício, ficando a obrigação de pagamento ao sucessor, sem ter disponibilidade
124 orçamentária para tanto.
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No art. 359-G, do CP, o aumento de despesa com pessoal é permanente, ou seja, ultrapas-
sará o exercício financeiro, atingindo anos futuros. Consequentemente, o orçamento do ente
federativo ou órgão público ficará inevitavelmente comprometido, deixando de propiciar ao
administrador público futuro condições para gerir adequadamente a máquina estatal.
Destaca-se que o elemento temporal do art. 359-G, do CP, está consubstanciado na expres-
são “nos cento e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura”.
Assim, fora do período legalmente indicado, não há que se falar na prática do delito, ainda
que exista ilegal aumento da despesa total com pessoal.
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo funcionário público com atribuição para
ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos
últimos 180 dias do mandato ou legislatura.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo afetado pela conduta criminosa, e, mediatamente, a coletividade, em razão
dos prejuízos causados pelo aumento de despesa total com pessoal no último ano do mandato
ou legislatura.
Consuma-se quando o agente público ordena, autoriza ou executa o ato de aumento de
despesa com pessoal, nos últimos 180 dias de mandato ou legislatura, independentemente da
comprovação de prejuízo econômico ao erário.
Sobre este crime, leve em consideração o seguinte:

z Só pode ser praticado dolosamente;


z É crime de ação múltipla;
z Para sua configuração, deve ser praticado nos 180 dias que antecedem o fim do mandato
ou legislatura. Caso realizado em outro período, não irá se configurar;
z Admite tentativa.

Oferta Pública ou Colocação de Títulos no Mercado

Este crime se encontra previsto no art. 359-H, do CP:


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8-
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2.

Art. 359-H Ordenar, autorizar ou promover a oferta pública ou a colocação no mercado finan-
1
.4

ceiro de títulos da dívida pública sem que tenham sido criados por lei ou sem que estejam
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registrados em sistema centralizado de liquidação e de custódia:


-3

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.


s
co
ar
M

Ordenar é determinar.
Autorizar equivale a permitir que algo seja feito.
NOÇÕES DE DIREITO

Promover traz a ideia de realizar, concretizar a oferta pública ou colocação de títulos no


mercado.
O objeto material do crime são os títulos da dívida pública. Nos termos do inciso II, art.
29, da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, considera-se dívida
pública mobiliária aquela representada por títulos emitidos pela União, inclusive os do Banco
Central do Brasil, Estados e Municípios.
O sujeito ativo somente pode ser praticado pelo funcionário público dotado da atribuição
para ordenar, autorizar ou promover oferta pública ou colocação no mercado financeiro de
títulos da dívida pública. 125
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reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.
O sujeito passivo é a União, os estados, os municípios ou o Distrito Federal, dependendo do
ente federativo atingido pela conduta criminosa, e, mediatamente, a pessoa física ou jurídica
prejudicada pela compra de títulos irregularmente emitidos.
Consuma-se o crime em estudo no momento em que o agente público ordena, autoriza ou
promove a oferta pública ou a colocação no mercado financeiro de títulos da dívida pública
sem que tenham sido criados por lei ou sem que estejam registrados em sistema centralizado
de liquidação e de custódia, independentemente de efetivo prejuízo ao erário.
Sobre este crime, é importante mencionar:

z Só pode ser praticado dolosamente;


z É crime de ação múltipla;
z Caso os títulos da dívida pública tenham sido criados por lei ou estejam registrados no sis-
tema centralizado de liquidação e de custódia, a prática da conduta prevista no tipo penal
será atípica.

ANOTAÇÕES

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