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CURSO PREPARATÓRIO PARA 1ª FASE DO 37º EXAME DA ORDEM DOS

ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)


Processo Penal
2 Ivan Jezler

APRESENTAÇÃO

Estimados Guerreiros e Guerreiras!

É com muita alegria que apresentamos o módulo de Processo Penal do preparatório para 37º exame
da Ordem dos Advogados do Brasil. Sejam todos muito bem-vindos!

Preparei esse roteiro pensando no seu exame e sabendo da importância desses temas para sua prova,
então, valerá a pena o nosso esforço durante essas aulas!

Nosso módulo não dispensa suas anotações pessoais e, principalmente, a leitura e os grifos dos
dispositivos específicos de cada assunto que abordaremos. Utilize, portanto, o seu Vade Mecum (1ª Fase
da OAB e Concursos) e vamos juntos!

Espero que vocês tenham um excelente proveito!

Receba o nosso sincero abraço!

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INQUÉRITO POLICIAL

1) CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
▪ Artigo 4º ao 23, do CPP: Trata da investigação criminal e polícia judicial.
o O STF suspendeu a eficácia dos artigos 3-A ao 3-F, introduzidos pelo Pacote Anticrime,
que tratam do Juiz de Garantias.
▪ Artigo 144, da CRFB/88: Trata da segurança pública.
▪ A Lei 12.830/2013 trata das atribuições da autoridade policial.

2) DIREITO PROCESSUAL PENAL:


▪ Conjunto de princípios e regras, sendo caminho necessário para apurar um fato, supostamente
criminoso.
▪ A persecução penal é o procedimento criminal brasileiro para apurar um fato.
o É formada pela I) fase investigatória, e pela II) fase processual/judicial penal.
- Em regra, a fase investigatória é o inquérito policial.

3) A POLÍCIA JUDICIÁRIA:
▪ A polícia judiciária é uma função, exercida no Brasil pela Polícia Federal ou pela Polícia Civil.
o No plano nacional, exercido pela Polícia Federal.
o Nos Estados, exercido pela Polícia Civil.
▪ A polícia judiciaria atua após a prática de um fato, de forma repressiva, cooperando com o
Ministério Público e o Poder Judiciário. Não há hierarquia, há cooperação (art. 144, CRFB/88).
o De forma excepcional, poderão exercer atividades preventivas.
▪ O fato de um crime dever ser investigado pela Polícia Federal, não quer dizer que será, de fato,
investigado pela respectiva justiça, podendo ser julgado por outra.

4) INQUÉRITO POLICIAL:
▪ O Inquérito Policial é a modalidade de investigação brasileira, por excelência.
o A natureza jurídica do inquérito é de um procedimento administrativo, não é processo.
o O IP é presidido por um delegado de polícia (civil ou federal). Lembre-se que, juiz e
promotor não podem presidir o inquérito.
o O IP tem finalidade de apurar a suposta prática de um crime e sua respectiva
autoria, para formar o convencimento do titular da ação penal (titular do direito
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potestativo de agir, do direito de provocar a jurisdição),


que será o Ministério Público ou Ofendido.
Observação: O titular da ação penal pode decidir pelo processo, ou pelo
não-processo (pelo arquivamento das peças de informação).
▪ O inquérito não possui partes, ele é unidirecional, ou seja, é um instrumento utilizado para
apurar os fatos.
▪ A Lei 10.446/02 trata das atribuições do Delegado de Polícia Federal.

Ministério
Crime Publico
Procedimento Delegado
Administrativo de Ou
Polícia
Autoria Ofendido

 Ação

 Arquivamento

▪ O inquérito policial também serve de abrigo para imposição de medidas cautelares, reais ou
pessoais, que exigem ordem judicial fundamentada, nos moldes do art. 13 do CPP.
o Ex.: Prisão preventiva (pode ser decretada no inquérito ou na fase judicial), sequestro
de bens (decretado na fase de inquérito), prisão temporária (só cabe na fase
investigatória, e não cabe na fase judicial), busca e apreensão de coisas (cabe na fase
de inquérito), etc. → Por isso, o Juiz de Garantias é importante.

A função do Juiz de Garantias era atuar na fase investigatória até o


recebimento da denúncia, ou rejeição; até a existência efetiva de um
processo penal. Isto porque, só existe processo penal quando a
denúncia é recebida. Então, esse Juiz de Garantias, ele seria um juiz
diferente daquele que vai julgar a instrução criminal.

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▪ Conforme o art. 107 do CPP, não se admite uma exceção de


suspeição da autoridade policial (delegado), justamente porque o inquérito não é contraditório,
contudo, nada impede que, pelos princípios que regem a Administração Pública, o delegado se
dê por suspeito de ofício.
▪ O STF, ao julgar a ADIN 444, considerou inconstitucional a condução coercitiva do investigado
para efeito de oitiva.
▪ Na fase policial, não existe interrogatório, existe a oitiva do investigado > art. 6º, inciso V, do
CPP.
▪ O Ministério Público pode denunciar alguém antes do encerramento do inquérito policial com
base em outras peças de informação.
o Art. 39, §5º do CPP: diz que, se a vítima faz uma representação no Ministério Público, e
este entende que já tem elementos para denunciar, para a ação penal, não se terá a
investigação criminal (delatio criminis postulatória).
o Delatio criminis postulatória pode ser feita com Defensor Público, que pode oferecer
queixa-crime.
▪ Súmula 234 do STJ: a participação do membro ministerial na fase investigatória não o torna
suspeito para atuar no processo.
▪ O art. 155 do CPP prevê o Princípio do Livre Convencimento Motivado, onde o juiz pode
decidir, unicamente, com base nas provas antecipadas, nas provas cautelares e nas provas
irrepetíveis. Nesses casos existirá um contraditório diferido, superveniente.
o Art. 315, CPP: veda qualquer espécie de sentença, decisão ou acórdãos genéricos no
processo penal. A fundamentação tem que ser concreta, empírica.
o O juiz não pode decidir exclusivamente com base no inquérito policial, mas o inquérito
policial pode ser o que se chama de “obter dictum”, ou seja, um argumento de reforço
para uma verdade construída em juízo.
▪ É cabível a absolvição em fase de inquérito, pois, justifica-se que não existem elementos
suficientes de materialidade do delito.

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▪ Exceção à regra de condenação com base somente no inquérito:


a) Provas cautelares: Sofrem risco de perecimento, por exemplo, a oitiva de uma
testemunha em estágio terminal.
b) Provas irrepetíveis (não-repetíveis): Não pode mais ser reproduzida em juízo, por
exemplo, o laudo cadavérico.
c) Provas antecipadas: Surgem no contraditório, por exemplo, a oitiva.

Observação: O art. 14-A do CPP dispõe que nos casos em que servidores
vinculados às instituições dispostas no art. 144 da CF/88 figurarem como
investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais
procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de fatos
relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma
consumada ou tentada, o indiciado poderá constituir defensor.

o Introduzido pelo Pacote Anticrime, impõe-se a exigência do contraditório


e ampla defesa obrigatórios para os prepostos de segurança,
indiciados pelo uso de força letal, como exceção à regra do contraditório.

4.1. CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL: *

a) Dispensável:
• O inquérito é um procedimento facultativo ou dispensável.
• Não é um procedimento indispensável, o que é indispensável são os indícios
suficientes de autoria, isto porque, existem outras formas de investigação além
desse procedimento administrativo.
- A Súmula 234, do STF, permite a investigação direta por parte do
Ministério Público. Não trata-se de inquérito, mas sim, de investigação
direta pelo MP (promotoria).
• Nas infrações de menor potencial ofensivo, o inquérito policial será substituído
por um termo circunstanciado e o auto de prisão em flagrante será substituído
por um termo de compromisso, salvo na Lei Maria da Penha.
• O que é indispensável no processo penal não é o inquérito, é a justa causa para
ação penal.
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o Exemplo: CPI. O que é inalienável no


processo penal é o fumus commissi delicti (a fumaça da prática do
crime), ou seja, os indícios suficientes de autoria e a materialidade > de
que forma será alcançado é outra história.

b) Inquisitivo:
• O IP é um procedimento inquisitorial / inquisitivo.
• Na fase judiciária, o processo penal brasileiro é acusatório. Tem inúmeras
violações, mas na essência, o sistema é acusatório.
Lembre-se: O inquérito não é um processo, mas um
procedimento!

Inquérito Policial > Inquisitivo


Processo Penal Brasileiro > Acusatório

• O modelo acusatório é Tripartite/Triangular, com a devida divisão das funções


processuais do juiz, do MP e do réu.
• O IP é inquisitório, porque não há obrigatoriedade do contraditório e da ampla
defesa, apesar de poder acontecer.
o Art. 14-A, CPP: prevê um contraditório obrigatório para prepostos de
segurança pública.
Observação: A autodefesa é cabível em sede de Inquérito
Policial.
- Art. 5º, LXIII, da CF/88, que trata do direito ao
silêncio.
- Art. 8º, ‘2’, ‘g’, do Decreto 678/92 (Pacto de São José
da Costa Rica), que diz respeito ao direito do
investigado não apenas se calar, mas também não
produzir provas contra si.
Cuidado: O Código de Processo Penal prevê a Teoria dos
Frutos da Árvore envenenada, a Teoria da Contaminação.
Existem provas que podem nascer no inquérito e,
eventualmente, expandir os seus efeitos até a fase judicial. Aí
tudo será invalidade, mas não quer dizer que a fase judicial
seja imprestável como um todo.
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• Art. 14 e 184, do CPP. Além de ser inquisitorial,


o inquérito policial é discricionário. O delegado pode indeferir uma diligência
requerida pela vítima ou pelo investigado. Ele só não pode indeferir se a
diligência for pela realização de exame de corpo e delito, nas infrações que
deixam vestígios.
o O STJ e o STF, principalmente o STJ, tem relativizado essa
obrigatoriedade, entendendo que outros elementos podem comprovar
a materialidade do fato, quando desaparecerem os vestígios do fato.

c) Indisponibilidade:
• O art. 17, do CPP, trata da indisponibilidade do IP.
• O delegado não pode abandonar ou desistir das investigações, não podendo
mandar arquivar os autos do IP de ofício.
• Em alguns casos, o delegado poderá optar por não instaurar o IP, mas se
instaurar, terá que levá-lo até o final.
• O delegado não pode arquivar o IP de ofício.
o O arquivamento do IP se dá com o parecer do MP e ordem judicial, com
pedido do promotor e determinação do juiz.
- O juiz poderá discordar do arquivamento e enviar o caso para
o PGJ (art. 28, CPP).
o A decisão de arquivamento do IP é formal, só fazendo coisa julgada
formal (art. 18, CPP + súmula 524/STF).
- Admite-se o desarquivamento do IP em caso de novas provas.
- Enquanto o crime não prescrever, o IP poderá ser
desarquivado.

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d) Sigiloso:
• O inquérito é um procedimento sigiloso, principalmente, para assegurar o
sucesso das investigações e proteger a figura do investigado.
• Art. 20, CPP. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
o Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes a
instauração de inquérito contra os requerentes.
• Súmula Vinculante 14. É direito do defensor, no interesse do representado, ter
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária,
digam respeito ao exercício do direito de defesa.
o Mediante procuração, é direito do advogado do investigado, o acesso
aos atos de investigação já documentados e que digam respeito ao seu
cliente (nexo situacional).

e) Oficiosidade:
• Art. 5º, do CPP. *
o O art. 5º, caput, do CPP, indica as formas de instauração do inquérito
policial, fazendo menção aos crimes de ação pública.
• A oficiosidade significa que há obrigatoriedade da autoridade policial de
instauração do inquérito “ex officio”, em regra, independente de provocação,
nos casos de crime de ação penal pública incondicionada ou condicionada a
representação.
• Instauração não se confunde com Indiciamento.
o O inquérito pode iniciar e terminar sem um suspeito formal, já que,
objetivamente, visa apurar um fato (unidirecional).
o O art. 2, da Lei 12.830/13, conceitua o Indiciamento como uma
manifestação técnica e fundamentada do delegado, que torna alguém o
destinatário/suspeito formal das investigações.
• Nos crimes mais graves (ação penal pública incondicionada) o IP será
instaurado de ofício pela autoridade policial (delegado), tendo a Portaria como
primeira peça.

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• O delegado tem liberdade na condução das


investigações, nas diligencias que irá determinar.
o Os artigos 6 e 7 do CPP dispõem as diligencias que poderão ser
determinadas pelo delegado.
• O delegado poderá indeferir uma diligencia requerida pelo investigado ou pela
vítima.

VEJAMOS AS FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO:

Como o inquérito começa nos crimes Como o inquérito começa nos Como o inquérito
de ação penal pública incondicionada? crimes de ação penal pública começa nos crimes
condicionada? de ação penal
privada?
I. O IP poderá começar DE OFÍCIO > O MP I. O IP será instaurado por - Quem promove a
é titular da provocação do estado juiz, de REPRESENTAÇÃO DO ação é a própria
forma incondicionada, ou seja, o MP não OFENDIDO/ VÍTIMA > art. 39, vítima, através do
precisa de autorização de terceiro. CPP. advogado, por meio
II. O IP poderá ser instaurado POR - Embora deva ser ajuizada pelo da QUEIXA-CRIME.
REQUISIÇÃO do juiz ou do MP > ou seja, MP, depende da representação - A vítima tem prazo
ordem legal, que não pode ser indeferida. da vítima, ou seja, a vítima tem decadencial de 6
III. O IP poderá ser instaurado por que querer que o autor do crime meses para ingressar
REQUERIMENTO DO seja denunciado > está com a queixa, a partir
OFENDIDO/VÍTIMA > o requerimento condicionado a autorização do do conhecimento da
poderá ser indeferido pela autoridade ofendido, excluindo a autoria do fato.
policial > do indeferimento, cabe recurso oficiosidade! - Poderá ter Inquérito
para o delegado chefe. - A vítima tem prazo decadencial Policial > art. 5, CPP.
IV. O IP também poderá ser instaurado de 6 meses para representar, a - Exceção a
mediante NOTÍCIA CRIME, de qualquer partir do conhecimento da oficiosidade.
pessoa do povo. autoria do fato.

• Outra exceção a oficiosidade do IP são as hipóteses dos casos de prerrogativa de


função, onde o IP só se iniciará com autorização do Tribunal.

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Observação: O inquérito policial pode ser iniciado mediante a


lavratura do Auto de Prisão em Flagrante (APF), em todas as
modalidades de ações.

f) Oficial:
• Procedimento presidido por um delegado de polícia, que é uma autoridade
oficial do Estado.

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4.2. PRAZO DO INQUÉRITO POLICIAL:


• O IP possui um prazo razoável para terminar.
• Art. 5º, LXXVIII, CRFB/88.

CPP LEI 11.343/2006

- Prazo da justiça civil > estadual > crimes de - Se o investigado estiver


competência estadual. preso, o IP tem prazo de 30
- Investigação feita pela polícia civil. dias, podendo ser prorrogado
- Se o investigado estiver preso, por força de por mais 30 dias.
flagrante ou preventiva > O IP tem prazo de 10 dias - Se o investigado estiver
para terminar, improrrogáveis. solto, o IP tem prazo de 90
- Se o investigado estiver solto, o prazo é de 30 dias, dias, podendo ser prorrogado
podendo ser prorrogado (art. 10, CPP). por mais 90 dias.
- Se o prazo acabar e o sujeito permanecer preso, o
juiz terá que relaxar a prisão.

4.3. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL:


• A última peça do IP é o Relatório do delegado de polícia.
• O relatório é encaminhado ao Ministério Público, onde o promotor pode oferecer a
denúncia, propor acordo de não persecução penal (art. 28-A, CPP) ou pedir o
arquivamento.
• Em regra, o arquivamento do IP só faz coisa julgada formal.
o Excepcionalmente pode fazer coisa julgada material, nas hipóteses de:
i. inquérito arquivado pela atipicidade do fato; ou
ii. inquérito arquivado pela existência de uma causa de extinção de
punibilidade.

Nesses casos, o desarquivamento não é


possível, mesmo diante de prova nova.

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• Súmula 524, do STF. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a


requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas
provas.
• Art. 18, CPP. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a
novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.
• Admite-se o desarquivamento do IP, em caso de surgimento de nova prova.

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AÇÃO PENAL

1) INTRODUÇÃO:
➢ Do art. 100 ao 106 do CP + art. 24 ao 62 do CPP.
➢ Do art. 63 ao 68 do CPP, temos a ação civil ex delito (em decorrência de um crime).
➢ Ação e Processo são coisas distintas > é possível ter ação sem ter processo.
o Ação é um direito constitucional de provocar o juiz, buscando aplicação da lei penal no
caso concreto.
- Não se admite ação penal de ofício (art. 129, I, CF/88)!

2) CLASSIFICAÇÃO SUBJETIVA:
▪ O Ministério Público, em regra, é o legitimado para promover a Ação Penal.
▪ A ação penal poderá ser:
a) Pública: O MP é titular. A ação poderá ser pública Incondicionada (plena) ou Condicionada
(semiplena). A denúncia é a petição inicial/peça inaugural endereçada ao judiciário (art. 41
do CPP). Enquanto o crime não prescrever, o MP poderá oferecer a denúncia, tendo em vista
que o prazo é prescricional (art. 109, CPP).
o A ação penal pública incondicionada é titularizada pelo Ministério Público e prescinde
de manifestação de vontade da vítima ou de terceiros para ser exercida.
o A ação penal pública semiplena está condicionada à Representação da
vítima/ofendido, seu representante legal ou sucessor, ou condicionada à Requisição
do Ministro da Justiça.
i. A representação é uma manifestação de vontade da vítima > autorização do
ofendido para o MP agir (art. 39 do CPP). Peça informal, com prazo de 6 meses.

- Em regra, a representação é retratável, até o oferecimento da denúncia


(art. 25 do CPP). Nos moldes da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha), o art.
16 disciplina que a vítima poderá se retratar até o recebimento da denúncia,
mediante audiência.
- A doutrina admite a retratação da retratação, desde que dentro do prazo.
- O art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/05 trata-se de uma composição
civil dos danos do JECRIM, que é equivalente a uma retratação da
representação.
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ii. A requisição do MJ é ato de natureza política,


através do qual o Ministro da Justiça autoriza a propositura da ação penal por
parte do MP.
- Não possui retratação.
- Prazo prescricional.
b) Privada: Em regra, o titular é o ofendido/vítima, chamado de querelante. A peça
inaugural/petição inicial é a queixa-crime (art. 41 e 44 do CPP) > a queixa-crime exige
procuração com poderes especiais. A ação penal privada poderá ser:
i. Comum (simples) – Modalidade mais usual. O legitimado é a vítima, mas cabe a
representação legal ou do sucessor. Prazo de 6 meses, a partir do conhecimento da
autoria do fato. Tal condição já é diretamente prevista na legislação.
ii. Subsidiária da pública (art. 29 do CPP) – Diversamente das ações penais privadas
exclusivas, a lei não prevê a ação como privada, mas sim como pública (condicionada
ou incondicionada). Ocorre que, o MP, enquanto titular da ação, fica inerte, não
adotando nenhuma medida. O MP tem um prazo que varia em regra de 5 dias para réu
preso a 15 dias para réu solto, e não se manifestando (ficando inerte) nesse prazo,
abre-se a possibilidade para que o ofendido, seu representante legal ou seus
sucessores, ingressem com a ação penal privada subsidiária da pública. Isso tem
previsão constitucional (artigo 5º., LIX, CF) e ordinária (artigos 100, § 3º., CP e 29,
CPP).
iii. Personalíssima – Somente o ofendido pode atuar e, em caso de morte ou declaração
de ausência, ninguém poderá substituí-lo. Operar-se-á a extinção de punibilidade pela
decadência, acaso a queixa – crime ainda não houver sido intentada porque ninguém
mais poderá fazê-lo, ou por perempção acaso o processo já esteja instaurado, pois
ninguém poderá prosseguir (inteligência do artigo 107, IV, CP). Resta apenas um único
exemplo de ação penal privada personalíssima, no art. 236 do CP, tratando do crime
de “induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento” ao casamento.

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3) PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL:

Ação Penal Pública Ação Penal Privada


I. Princípio da Obrigatoriedade – O MP possui o I. Princípio da Discricionariedade – A ação
dever legal de oferecer a denúncia. penal é regida pela oportunidade. A vítima não
Possui algumas exceções > art. 28-A do CPP, está obrigada a oferecer a queixa. Caberá a
transação penal (art. 76, Lei 9099/95) e a delação renúncia e a decadência.
premiada (art. 4, Lei 12.850/13).
II. Princípio da Disponibilidade – A vítima pode
II. Princípio da Indisponibilidade (art. 42 e desistir da ação, por meio do perdão processual
576 do CPP) – O MP não pode desistir da ação ou (bilateral), ou abandonar o processo, mediante
abandonar o processo. perempção.

III. Princípio da Divisibilidade – A acusação III. Princípio da Indivisibilidade – A ação penal


pública pode ser fracionada. Admite-se o deve ser proposta contra todos os autores e
aditamento de denúncia, acrescentando mais partícipes do delito. Não é possível o aditamento
réus. da queixa para incluir réus.

→ Ambas são regidas pelo Princípio da Intranscendência ou Responsabilidade Subjetiva, em que


apenas a pessoa sentenciada poderá responder pelo crime que praticou.

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PRISÃO CAUTELAR E OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES

1) INTRODUÇÃO:
→ A Lei 12.403/11 mudou de forma significativa o tema Prisão.
→ A Lei 13.954/19 (pacote anticrime) trouxe ainda mais modificações.
→ O tema Prisão está localizado do art. 282 ao 350, do CPP.
→ A Prisão Cautelar é a privação de liberdade, a segregação anterior ao trânsito em julgado de
uma sentença condenatória.
o Possibilidade de executar pena somente após o trânsito em julgado da condenação, ou
seja, quando não couber mais recursos, vez que fez coisa julgada material.
o Esse conceito é decorrente do princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5,
LVII, da CRFB/88, onde ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em
julgado de uma sentença condenatória.
- A Súmula Vinculante 11, do STF, veda o uso de algemas de maneira desnecessária
no processo penal > regra de tratamento, fruto da presunção de inocência.
- A presunção de inocência possui dois efeitos importantes:
i) Com base na CF/88 e no CPP, o ônus da prova é de quem alega. Com base
no princípio da presunção de inocência, o ônus da prova é da acusação.
ii) O efeito sobre a prisão cautelar, vedando a execução antecipada da pena.
→ No Brasil, a regra é não admitir a execução antecipada da pena.
o A prisão cautelar não é um instituto penal de sanção.
o O art. 492 do CPP, que trata de condenação no tribunal do júri (15 anos ou mais), é
hipótese em que se admite a execução provisória da pena, sendo uma exceção a
impossibilidade de execução antecipada da pena.

2) MODALIDADES DE PRISÕES CAUTELARES:


2.1. PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 301 AO 310, CPP)
▪ Questão de segurança pública.
▪ Medida pré-cautelar, basicamente de cunho administrativa.
o Em regra, não exige ordem judicial e qualquer pessoa poderá prender em
flagrante.

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▪ Em tese, os agentes de polícia devem prender em


flagrante (flagrante obrigatório), enquanto que os particulares podem prender em
flagrante (flagrante facultativo), com dispensa da ordem judicial.
o O art. 53 da Lei 11.343/06 (Lei de Drogas) trata de uma exceção, conhecido como
flagrante diferido, que exige ordem judicial fundamentada.
▪ Desde a expedição do diploma, os deputados federais e senadores não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável.
▪ O Auto de Prisão em Flagrante (APF) deverá se lavrado antes das 24h após à prisão do
indiciado, contendo assinatura de todos os que participarem da sua lavratura, conforme
o art. 304 do CPP.
o Quando houver apresentação espontânea, não se admite prisão em flagrante.
▪ O CPP, prevê as situações de flagrante. O CPP prevê espécies de Flagrante (art. 302,
CPP), quais sejam:
a) Flagrante Obrigatório: Realizado pelos propostos de polícia, que são obrigados a
prender em estiver em estado de flagrância. O policial atua em estrito cumprimento
de um dever legal (art. 23, CP).
b) Flagrante Facultativo: Os particulares podem exercer e prender em flagrante,
atuando por exercício regular de direito (art. 23, CP).
c) Flagrante Próprio, Propriamente Dito ou Real: Art. 302, incisos I e II, CPP. O agente
é surpreendido no instante em que está praticando a infração ou quando acaba de
cometê-la. O sujeito é preso na cena da situação do fato.
o O art. 303, do CPP, trata do flagrante nos crimes permanentes.
d) Flagrante Impróprio ou Quase Flagrante: Art. 302, inciso III, CPP. O agente é
perseguido (não é preso na cena do crime), logo após cometer o ilícito, em situação
que faça presumir ser ele o autor do crime
o Essa situação pode durar dias.
o Não existe prisão em flagrante por apresentação espontânea.
e) Flagrante Presumido ou Ficto: Art. 302, inciso IV, CPP. Está em flagrante presumido
o sujeito que é encontrado encontrado “logo depois”, com instrumentos, armas,
objetos, papéis ou elementos que façam presumir ser ele o autor da infração.
o O sujeito não é perseguido, mas sim, encontrado logo depois.
f) Flagrante Esperado: Trata-se de uma forma de flagrante válido, regular e incidental,
em que agentes da autoridade, cientes, por qualquer razão, de que um crime poderá
ser cometido em determinado local e horário, sem que tenha havido qualquer
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19 Ivan Jezler

preparação ou induzimento, deixam que o suspeito


aja, ficando à espreita para prendê-lo em flagrante.
g) Flagrante Preparado: Modalidade ilegal, em que a polícia provoca o sujeito a praticar
um crime e, simultaneamente, impede que o delito seja cometido.
o A Súmula 145, do STF, determina que não há crime se a preparação do flagrante
torna a execução do crime impossível.
h) Flagrante Diferido, Controlado ou Retardado: A prisão em flagrante é adiada com
o objetivo de conseguir maiores informações sobre outros ilícitos. A autoridade
policial atua de forma controlada, podendo retardar a operação para identificar e
responsabilizar o maior número de sujeitos ou operações ilícitas (art. 52, II, CPP e
parágrafo único da Lei de Drogas).
o Nesse flagrante, o delegado representa, o promotor opina e para ocorrer,
precisa de ordem judicial, de forma excepcional.
▪ Após a prisão em flagrante, dá-se a condução até a autoridade competente para lavratura
do auto de prisão em flagrante (APF), nos moldes do art. 304 e 306, do CPP.
o Lavrado do APF, num prazo máximo de 24h será entregue Nota de Culpa ao preso,
mediante recibo.
o Em 24h, o APF será encaminhado para o magistrado/ juiz competente (é comum
ser o juiz da vara de audiência de custódia > art. 310, CPP). A prisão também
precisa ser comunicada ao MP e a DPE, no mesmo prazo.
▪ O flagrante tem que durar no máximo 48h, dividido em 24h para enviar o APF para o juiz,
e mais 24h para o juiz realizar a audiência de custódia.
▪ Na audiência de custódia, os moldes do art. 310 do CPP, o juiz poderá:
I) proceder com o relaxamento da prisão, quando for ilegal ou
viciada;
II) proceder com a conversão da prisão em preventiva, quando for
legal, mas necessária sua manutenção;
III) proceder com a liberdade provisória, vez que o flagrante é legal,
mas a manutenção da prisão é desnecessária.
o A prisão ilegal deve ser relaxada de ofício pelo juiz.
o Somente admite-se concessão de liberdade provisória se não estiverem presentes
os elementos da Prisão Preventiva.
o A liberdade provisória pode ser com ou sem fiança, conforme os artigos 322 e 323,
do CPP.
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2.2. PRISÃO PREVENTIVA (ART. 311 AO 316, CPP)


▪ Cabimento na fase do inquérito policial e na fase judicial, sendo a única modalidade que
cabe em ambas as fases.
▪ Nos moldes do princípio da homogeneidade, a preventiva só é cabível para crimes dolosos
de maior potencial ofensivo, pois, a medida cautelar não pode ser mais grave do que a
pena que, talvez, será imposta.
o Excepcionalmente, se o sujeito for reincidente em crime doloso, poderá ser preso,
mesmo que a pena máxima não supere quatro anos. A prisão também é possível
se a preventiva for necessária para assegurar medidas protetivas que foram
descumpridas.
▪ Modalidade que exige ordem judicial fundamentada.
▪ O delegado, MP ou querelante poderão representar pela prisão preventiva na fase policial
(IP).
▪ O MP, o assistente de acusação e o querelante poderão representar pela prisão preventiva
na fase judicial (processo). O delegado não é mais parte legítima.
▪ Caso o delegado encaminhe o APF sem pedir a conversão da prisão em flagrante em
preventiva, o juiz não poderá conceder de ofício.
▪ Prisão preventiva só cabe mediante provocação e com decisão fundamentada (art. 315 do
CPP).
▪ Hipóteses de cabimento da preventiva (art. 313, CPP):
I. Em crimes dolosos, com pena máxima superior a 4 anos;
II. Em caso de reincidência, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64
do Decreto-Lei 2.848/1940, do CP;
III. No caso de o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência.
- Aplicação direta nos casos da Lei Maria da Penha, independentemente do
tempo ou prazo.
▪ A prisão preventiva é tida como “ultima ratio”. O juiz só poderá decretar preventiva se
não for possível aplicar outras medidas cautelares (art. 319 e 320 do CPP).
▪ Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil
da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo
o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra
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hipótese recomendar a manutenção da medida > o CPP


traz em seu art. 313, § 1º, hipótese de preventiva para identificação criminal,
datiloscópica e fotográfica.
▪ Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de
cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da
apresentação ou recebimento de denúncia (art. 313, § 2º, CPP).
▪ Requisitos da preventiva:
i. “Fumus comissi delicti” (fumaça da prática de um crime): Indícios suficientes
de autoria ou participação + materialidade, se o crime deixar vestígios ou prova
da existência do fato;
ii. “Periculum libertatis” (risco que a liberdade do sujeito investigado apresenta):
Análise sobre a necessidade da prisão do sujeito (garantia da ordem pública ou
econômica, aplicação da lei penal, ou conveniência para instrução criminal >
pode ser cumulativo);
iii. Contemporaneidade do fato: Hipótese admitida pelo pacote anticrime para
admissão da preventiva.
▪ O art. 316, parágrafo único, do CPP, prevê que a cada 90 dias, o juiz deve reanalisar os
fundamentos da prisão decretada, sob pena de ilegalidade da prisão.
o A maioria do STF entende que o prazo de 90 dias não acarreta automaticamente a
revogação da prisão preventiva e, consequentemente, a concessão de liberdade
provisória. Para a maioria dos ministros, o prazo legal de 90 dias trazido pelo
pacote anticrime não acarreta revogação automática da prisão preventiva.

2.3. PRISÃO TEMPORÁRIA (LEI 7.960/89)


▪ Cabível nos crimes mais graves, expressamente previstos no art. 1º, inciso III, da Lei
7.960/89.
▪ A prisão temporária é cabível somente na fase da investigação criminal (IP).
o Não é cabível na fase processual.
▪ Única modalidade prisional cautelar com prazo previsto em lei.
o A cada 90 dias, o juiz precisa revisar os fundamentos da prisão temporária.
o Nos crimes comuns, possui prazo de 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias.
o Nos crimes hediondos e equiparados (TTT), possui prazo de 30 dias, prorrogáveis
por mais 30 dias, se houver necessidade.
▪ Hipóteses de cabimento para prisão temporária (art. 1):
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22 Ivan Jezler

i. Quando imprescindível para as investigações


do IP;
ii. Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos
necessários ao esclarecimento de sua identidade;
iii. Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na
legislação penal, de autoria ou participação do indiciado > “fumus comissi
delicti”.
▪ Não se admite prisão temporária de ofício, somente mediante decisão fundamentada.
o Em regra, o delegado representa, o MP opina e o juiz decide.
▪ Os presos temporários devem ser mantidos, obrigatoriamente, separados dos demais
detentos.
▪ Única prisão cautelar com prazo previsto em Lei, quais sejam, art. 2º da Lei 7.960/89, e
art. 2º, parágrafo 4º, da Lei de Crimes Hediondos.

Crimes Comuns > Prazo de 5 dias, prorrogáveis por mais


5 dias.
Crimes Hediondos e Equiparados > Prazo de 30 dias, prorrogáveis por
mais 30 dias.

Ambos precisam de nova decisão prorrogando pelo mesmo prazo. Não é


possível a decretação da soma na mesma decisão.
 Lembre-se: Conta-se o 1º dia e exclui o último. Feriados e finais de
semana são contabilizados na contagem.

Observação:
→ A Prisão Domiciliar é tratada do art. 317 ao 318-
A do CPP.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Após ser instaurado inquérito policial para apurar a prática de um crime de lesão corporal culposa
praticada na direção de veículo automotor (Art. 303 da Lei nº 9.503/97 – pena: detenção de seis meses

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a dois anos), foi identificado que o autor dos fatos seria Carlos, que, em
sua Folha de Antecedentes Criminais, possuía três anotações referentes a condenações, com trânsito
em julgado, pela prática da mesma infração penal, todas aptas a configurar reincidência quando da
prática do delito ora investigado. Encaminhados os autos ao Ministério Público, foi oferecida denúncia
em face de Carlos pelo crime antes investigado; diante da reincidência específica do denunciado
civilmente identificado, foi requerida a decretação da prisão preventiva. Recebidos os autos, o juiz
competente decretou a prisão preventiva, reiterando a reincidência de Carlos e destacando que essa
circunstância faria com que todos os requisitos legais estivessem preenchidos. Ao ser intimado da
decisão, o(a) advogado(a) de Carlos deverá requerer
A) a liberdade provisória dele, ainda que com aplicação das medidas cautelares alternativas.
B) o relaxamento da prisão dele, tendo em vista que a prisão, em que pese ser legal, é
desnecessária.
C) a revogação da prisão dele, tendo em vista que, em que pese ser legal, é desnecessária.
D) o relaxamento da prisão dele, pois ela é ilegal.

2) Durante as investigações de um crime de associação criminosa (Art. 288 do CP), a autoridade policial
representa pela decretação da prisão temporária do indiciado Jorge, tendo em vista que a medida seria
imprescindível para a continuidade das investigações. Os autos são encaminhados ao Ministério
Público, que se manifesta favoravelmente à representação da autoridade policial, mas deixa de requerer
expressamente, por conta própria, a decretação da prisão temporária. Por sua vez, o magistrado, ao
receber o procedimento decretou a prisão temporária pelo prazo de 10 dias, ressaltando que a lei
admite a prorrogação do prazo de 05 dias por igual período. Fez o magistrado constar, ainda, que Jorge
não poderia permanecer acautelado junto com outros detentos que estavam presos em razão de
preventivas decretadas. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Jorge, ao ser
constituído, deverá alegar que
A) o prazo fixado para a prisão temporária de Jorge é ilegal.
B) a decisão do magistrado de determinar que Jorge ficasse separado dos demais detentos é
ilegal.
C) a prisão temporária decretada é ilegal, tendo em vista que a associação criminosa não está
prevista no rol dos crimes hediondos e nem naquele que admite a decretação dessa espécie de
prisão.
D) a decretação da prisão foi ilegal, pelo fato de ter sido decretada de ofício, já que não houve
requerimento do Ministério Público.

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3) No dia 15 de maio de 2017, Caio, pai de um adolescente de 14 anos,


conduzia um veículo automotor, em via pública, às 14h, quando foi solicitada sua parada em uma blitz.
Após consultar a placa do automóvel, os policiais constataram que o veículo era produto de crime de
roubo ocorrido no dia 13 de maio de 2017, às 09h. Diante da suposta prática do crime de receptação,
realizaram a prisão e encaminharam Caio para a Delegacia. Em sede policial, a vítima do crime de roubo
foi convidada a comparecer e, em observância a todas as formalidades legais, reconheceu Caio como o
autor do crime que sofrera. A autoridade policial lavrou auto de prisão em flagrante pelo crime de roubo
em detrimento de receptação. O Ministério Público, em audiência de custódia, manifesta-se pela
conversão da prisão em flagrante em preventiva, valorizando o fato de Caio ser reincidente, conforme
confirmação constante de sua Folha de Antecedentes Criminais. Quando de sua manifestação, o
advogado de Caio, sob o ponto de vista técnico, deverá requerer
A) liberdade provisória, pois, apesar da prisão em flagrante ser legal, não estão presentes os
pressupostos para prisão preventiva.
B) relaxamento da prisão, em razão da ausência de situação de flagrante.
C) revogação da prisão preventiva, pois a prisão em flagrante pelo crime de roubo foi ilegal.
D) substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, pois Caio é responsável pelos
cuidados de adolescente de 14 anos.

4) Paulo foi preso em flagrante pela prática do crime de corrupção, sendo encaminhado para a
Delegacia. Ao tomar conhecimento dos fatos, a mãe de Paulo entra, de imediato, em contato com o
advogado, solicitando esclarecimentos e pedindo auxílio para seu filho. De acordo com a situação
apresentada, com base na jurisprudência dos Tribunais Superiores, deverá o advogado esclarecer que
A) diante do caráter inquisivo do inquérito policial, Paulo não poderá ser assistido pelo advogado
na delegacia.
B) a presença da defesa técnica, quando da lavratura do auto de prisão em flagrante, é sempre
imprescindível, de modo que, caso não esteja presente, todo o procedimento será considerado
nulo.
C) decretado o sigilo do procedimento, o advogado não poderá ter acesso aos elementos
informativos nele constantes, ainda que já documentados no procedimento.
D) a Paulo deve ser garantida, na delegacia, a possibilidade de assistência de advogado, de modo
que existe uma faculdade na contratação de seus serviços para acompanhamento do
procedimento em sede policial.

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5) Douglas responde a ação penal, na condição de preso cautelar, pela


prática do crime de furto qualificado, sendo ele triplamente reincidente específico. No curso do
processo, foi constatado por peritos que Douglas seria semi-imputável e que haveria risco de reiteração.
O magistrado em atuação, de ofício, revoga a prisão preventiva de Douglas, entendendo que não
persistem os motivos que justificaram essa medida mais grave, aplicando, porém, a medida cautelar de
internação provisória, com base no Art. 319 do Código de Processo Penal. Diante da situação narrada, o
advogado de Douglas poderá requerer o afastamento da cautelar aplicada, em razão:
A) da não previsão legal da cautelar de internação provisória, sendo certo que tais medidas estão
sujeitas ao princípio da taxatividade.
B) de somente ser cabível a cautelar quando os peritos concluírem pela inimputabilidade, mas
não pela semi-imputabilidade.
C) de o crime imputado não ter sido praticado com violência ou grave ameaça à pessoa.
D) de não ser cabível, na hipótese, a aplicação de medida cautelar de ofício, sem requerimento
pretérito do Ministério Público.

GABARITO
1) D 2) A 3) B 4) D 5) C

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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA CRIMINAL

1) INTRODUÇÃO:
▪ Do art. 69 ao 91, do CPP.
o Os artigos 84, 86 e 87, do CPP, não são mais válidos.
▪ Jurisdição é o poder estatal de dizer o direito no caso concreto, aplicando a da lei penal num
determinado caso concreto.
o Em regra, esse poder demanda investidura (concurso público).
o Una e indivisível.
▪ Competência é uma fração da jurisdição. Instrumento que operacionaliza a jurisdição, visando
conferir eficácia a atividade jurisdicional.

2) PRINCÍPIOS:
2.1. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL
• Existência de juízo adequado para o julgamento de determinada demanda, conforme as
regras de fixação de competência, e à proibição de juízos extraordinários ou tribunais de
exceção constituídos após os fatos.
• Não admite-se juiz ou tribunal de exceção > aquele escolhido para um caso penal.
• Funciona como uma garantia de imparcialidade.
• O juiz natural é aquele que tem a sua parcela de jurisdição previamente definida em lei, antes
da prática do crime.
o No incidente de deslocamento de competência (IDC), a PGR solicita ao STJ o deslocamento
para o juízo federal, se houver grave violação de direitos humanos e uma ineficácia dos
órgãos estaduais, com risco de sanções internacionais ao Brasil pelos pactos dos quais é
signatário.

2.2. PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ (ART. 399, § 2º, CPP)


• O juiz que presidir a audiência, deve julgar o caso penal.
o Não é absoluto.
• Busca, em síntese, a vinculação do magistrado que conduziu o feito e participou efetivamente
da sua instrução, à prolação da sentença, de molde a privilegiar, ao máximo possível, o
processo cognitivo desenvolvido ao longo do iter processual.

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3) CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA:


3.1. COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
• Conhecida como “foro privilegiado”.
• Prerrogativa absoluta, por conta da possibilidade de arguir a qualquer tempo, e o juiz pode
reconhecer de oficio.
• Alguns sujeitos, por conta da relevância de sua função, terão direito de ser julgados por um
Tribunal > julgados originariamente por um Tribunal.
• Existe enquanto o sujeito estiver no exercício da função.
o O STF declarou a inconstitucionalidade dos §1 e §2 do art. 84 do CPP, e também do
art. 86 e 87 do CPP.
• O STF entende que, só existe prerrogativa de função quando o sujeito pratica o crime após a
diplomação e com nexo funcional.
o Algumas súmulas foram atingidas e relativizadas pelo posicionamento do STF, a
exemplo:
- Súmula 704/STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do co-
réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
- A Súmula 702/STF: A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos
restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.
- A Súmula 721/STF se tornou a Súmula Vinculante 45/STF: A competência
constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual (art. 38,
XXXVIII, d, CF/88).

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3.2. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA


• Também chamada de competência “ratione materiae”.
• Prerrogativa absoluta > possibilidade de arguir a qualquer tempo, e o juiz pode reconhecer
de oficio.
• Em termos de justiça penal, temos:
I. Justiça Especial: No âmbito Penal, é a Militar e a Eleitoral.
- A justiça militar julga somente os crimes militares. Não julga crimes conexos.
- Crimes dolosos praticados por militares contra civis são julgados pela justiça
comum.
- A justiça eleitoral julga os crimes eleitorais e os conexos.
- Se o crime não for de competência especial, é de competência comum.
II. Justiça Comum: No âmbito Penal, é a Justiça Federal e a Estadual.
- A justiça comum é residual (Súmula 122/STJ).
- Caso ocorra um conflito de competência, a competência será da justiça federal
(art. 109, CF/88).
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- Os crimes políticos, os crimes praticados


contra o sistema financeiro nacional, os crimes praticados contra bens,
serviços e interesses, são julgados pela justiça federal.
- Os crimes praticados contra índios são de competência da justiça estadual
(Súmula 104/STJ).

3.3. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TERRITÓRIO


• Conhecida também como competência “ratione loci”.
• Prerrogativa relativa > caso ninguém alegue e o juiz não reconheça de oficio, prorroga-se e
ele continua competente.
• Aplica-se a Teoria do Resultado > quero encontrar o local da consumação do crime (art. 70
do CPP).
o Busca-se o princípio da verdade real.
• O JECRIM competente é aquele do local onde a infração foi praticada. Ou seja, aplica-se a
Teoria da Atividade > art. 63 da Lei 9099/95.
• Nos crimes permanentes praticados em mais de um território, a competência será definida
pela prevenção (art. 73 do CPP).
• Em caso de crime tentado, a competência é definida pelo local em que foi praticado o último
ato de execução (art. 70 do CPP).
• Caso o local de consumação seja desconhecido, a competência é definida pelo domicilio do
réu (art. 72 e 73 do CPP).
• Se o réu tem mais de uma residência ou não sei onde é, a competência é definida pela
prevenção (critério subsidiário).
o Súmula 706/STF: A competência processual penal possui regras bem definidas. Sua
inobservância acarretará nulidade processual. Tal nulidade pode ser absoluta ou
relativa.
• Súmula 151/STJ: A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou
descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.

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TEORIA GERAL DA PROVA

1) INTRODUÇÃO:
▪ A Lei 11.690/2008 alterou substancialmente o CPP em matéria de prova > do art. 155 ao 250
do CPP.
▪ Do art. 155 ao 250 do CPP temos as provas em espécie, no âmbito criminal.

2) PROVAS:
▪ As provas são os faróis que iluminam o caminho do juiz até a verdade.
▪ As provas penais são dados e elementos, produzidos pelas partes ou de oficio pelo juiz, em
contraditório judicial, e que tem por destinatário o magistrado/julgador/juiz.
• São elementos na busca da verdade processual, que muitos entendem como a verdade
real.
▪ O que é produzido no Inquérito Policial são atos de investigação que devem ser renovados na
presença do juiz, em regra, não possuindo natureza de prova (art. 155, CPP).
• Exceto:
i. Provas cautelares: Essas provas não podem esperar ou não podem ser repetidas
em Juízo. Por conta disso, são produzidas na fase do IP, mas com natureza de
prova, e não mero ato de investigação.
Em regra, é possível condenar com base nessas provas.
Ex.: Busca e apreensão, interceptação telefônica, etc.
ii. Provas antecipadas: O objetivo antecipar determinados meios de provas diante
da impossibilidade de a parte aguardar o momento oportuno para sua produção.
Ex.: Risco de pessoa internada, que é testemunha, vir a óbito.
iii. Provas não-repetíveis: Aquelas que, uma vez realizadas, não podem ser refeitas.
Ex.: Perícia de local, perícia de roupa, exame de corpo delito, etc.
▪ O juiz, eventualmente, poderá produzir provas de ofício, em nome do princípio da verdade real
> ouvir testemunhas além das arroladas pelas partes, determinar interceptação sem pedido das
partes, etc.

3) SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DA PROVA:


3.1. Sistema da Íntima Convicção
• O juiz aprecia o fato livremente, sem precisar fundamentar sua decisão.
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31 Ivan Jezler

o Oportunidade de o julgador decidir segundo suas


próprias convicções, decisão esta que não necessita de fundamentação ou até
mesmo amparo legal.
o Admite-se tese extralegal.
• O sistema da íntima convicção pode ser aplicado a título de exceção no âmbito do Tribunal
do Júri > único resquício desse sistema no Brasil.
• No ordenamento jurídico brasileiro, a regra é o sistema do livre convencimento motivado.

3.2. Sistema da Prova Tarifada ou Legal


• Sistema hierarquizado, no qual o valor de cada prova é predefinido, não existindo,
portanto, uma valoração individualizada, de acordo com cada caso concreto.
o Cada prova tem uma pontuação, um valor, antecipadamente previsto.
• Alguns consideram que o art. 158, 167 e 564, III, b, do CPP são resquícios desse sistema,
por conta da imposição em relação a algumas provas, sem possibilidade de substituição
por outras.

3.3. Sistema da Persuasão Racional ou do Livre Convencimento Motivado (art. 155, CPP)
• O juiz deverá julgar a prova constante nos autos em concomitância com a lei e de acordo
com sua convicção, ou seja, o juiz irá indicar as razões de suas convicções diante da prova
demonstrada nos autos.
o O juiz é livre para decidir, contudo, precisa ser de forma fundamentada.
• O magistrado tem liberdade quando da avaliação das provas produzidas no processo
desde que fundamente o porquê chegou àquele resultado.
• O juiz poderá contrariar o laudo pericial, tamanha sua liberdade > art. 182 do CPP.

4) PRINCÍPIOS:
4.1. Vedação aos meios ilícitos de prova (art. 157, CPP + art. 5, LVI, CF/88)
• No processo são inadmissíveis as provas obtidas por meios ilegais.
• As Provas Ilegais possuem os meios de provas:
I. Provas ilícitas: Prova colhida violando direito material e fundamental,
previsto no art. 5, da CF/88 > dano maior. Geralmente, quando se produz
prova ilícita, também incide em crime.
II. Provas ilegítimas: Prova obtida com desrespeito ao direito processual (CPP,
leis infraconstitucionais) > dano menor.
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• A prova ilegal deve ser desentranhada dos autos do


processo penal > consequência.
• O CPP adotou a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada (art. 157, CPP) > se a prova
original está envenenada, as que surgirem em decorrência da mesma, também estarão
envenenadas (nexo causal entre as provas).
o Exceções à Teoria:
i. A ausência de nexo causal entre as provas.
ii. Quando houver possibilidade da prova ser obtida por uma fonte
independente.
iii. Descoberta inevitável.
• Caso seja meio necessário para comprovar a inocência do réu, a prova ilícita pode ser
utilizada.
o Não poderá ser utilizado em favor da acusação.

5) PROVAS EM ESPÉCIE:
5.1. Declarações do Ofendido (art. 201, CPP)
• Não se pode condenar só com base na palavra da vítima. Porém, em alguns crimes, a
palavra da vítima tem força probatória maior, como nos casos da Lei Maria da Penha
e nos crimes contra dignidade sexual.

5.2. Prova Testemunhal (a partir do art. 202, CPP)


• Art. 202, CPP: Toda pessoa, em tese, poderá ser testemunha.
• Art. 203, CPP: A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade
do que souber e Ihe for perguntado.
• Art. 204, CPP: O depoimento será prestado oralmente, não sendo permitido à
testemunha fazê-lo por escrito.
• Art. 206, CPP: A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão,
entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o
cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado,
salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato
e de suas circunstâncias.
• Art. 207, CPP: São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte

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33 Ivan Jezler

interessada, quiserem dar o seu testemunho >


advogado, pastor, padre e contador, por exemplo.
• Art. 209, CPP: O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além
das indicadas pelas partes.
• Art. 212, CPP: As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha,
não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.
o Sobre pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.
• Art. 217, CPP: Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação,
temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que
prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e,
somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo
na inquirição, com a presença do seu defensor.
• Art. 221, CPP: O Presidente da República e o Vice, os senadores e deputados federais,
os ministros de Estado, os governadores de Estados e Territórios, os secretários de
Estado, os prefeitos do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias
Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros e juízes dos
Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do
Tribunal Marítimo serão inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre
eles e o juiz.
• Primeiro são ouvidas as testemunhas de acusação e, posteriormente, as de defesa.
• Em 2008, as testemunhas passaram a ser inquiridas diretamente pelas partes na
audiência.
o O juiz fiscaliza e complementa a inquirição.
o Inquirição cruzada > art. 212, CPP.

5.3. Prova Pericial (art. 158 ao 184, CPP)


• Do art. 158-A ao 158-F trata-se da cadeia de custódia das provas.
• Art. 159, CPP: O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.
o Desde 2008, a prova pericial será feita por apenas um perito oficial.
o Na falta de perito oficial, dois sujeitos com curso superior e conhecimento
especifico na área objeto do exame prestarão o compromisso de realizá-lo.

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34 Ivan Jezler

o Excepcionalmente, caso o objeto da perícia seja


complexo, poderá ocorrer a nomeação de mais de um perito.
• Art. 167, CPP: Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
• Art. 168, CPP: Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da autoridade
policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido
ou do acusado, ou de seu defensor.
o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal (§
3).
• Art. 175, CPP: Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados para a prática da
infração, a fim de se lhes verificar a natureza e a eficiência.

5.4. Reconhecimento de Pessoa ou Coisa (art. 226 ao 228, CPP)


• O reconhecimento fotográfico não tem previsão legal.
o Não é vedado. O que é vedado é a condenação com base apenas no
reconhecimento fotográfico da delegacia.
• Art. 226, CPP: Requisitos para um reconhecimento válido.
O procedimento do reconhecimento acontecerá da seguinte forma:
I. A pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a
pessoa que deva ser reconhecida;
II. A pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao
lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se
quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III. Se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento,
por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da
pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta
não veja aquela;
- Não terá aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de
julgamento > feito na delegacia.
IV. Do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela
autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por
duas testemunhas presenciais.

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5.5. Acareação (art. 229, CPP)


• Objetivo de sanar dúvidas entre depoimentos.
• Acareação com o réu costuma ser infrutífera, já que ele pode se manter em silencio.
• O juiz não é obrigado a determinar a acareação > ato discricionário, buscando sanar
dúvidas.

5.6. Interrogatório do Réu (art. 185 ao 196, CPP)


• O interrogatório deve ser o último ato da solenidade/audiência/instrução criminal,
em qualquer crime.
• É possível o interrogatório por videoconferência (art. 185, CPP) > medida excepcional.
• Em qualquer espécie de interrogatório, inclusive o policial, deverá ser assegurado o
direito ao silêncio.
o O direito ao silencio diz respeito ao mérito da acusação e não a qualificação do
réu.
o Não há direito ao silêncio no tocante à qualificação.
• No interrogatório judicial, deve ser assegurado uma entrevista prévia entre o
advogado e o réu, e o acompanhamento do defensor.
• Art. 187, CPP: O interrogatório será constituído de duas partes > sobre a pessoa do
acusado e sobre os fatos.
• Para prova, o interrogatório tem natureza mista, ou seja, é meio de defesa e meio de
prova.
• Na delação premiada, o delator abdica do direito ao silêncio.

Observações: Os artigos 197 e 198 do CPP tratam da


Confissão do Acusado.

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36 Ivan Jezler

PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS

➢ Disposto a partir do art. 394, do CPP.


➢ Esse tema foi modificado por três Leis, quais sejam, as Leis 11.689, 11.690 e 11.719, todas de 2008,
responsáveis por modificações substanciais no CPP.
o Lei 11.689/08: Alternou o procedimento do Tribunal do Júri.
o Lei 11.690/08: Alterou o tema das Provas.
o Lei 11.719/08: Alterou o procedimento comum.
➢ O procedimento é a forma do processo penal, é a moldura processual.
o No processo penal, a forma é uma garantia para o réu.
➢ No âmbito penal, o procedimento pode ser especial ou comum. O procedimento comum se divide
em ordinário, sumário e sumaríssimo (JECRIM). Basicamente, o procedimento será tratado pela
quantidade de pena máxima aplicada para cada crime
o Quando a pena máxima privativa de liberdade aplicada no tipo penal for igual ou superior a
4 anos, o procedimento a ser empregado é o ordinário.
o Teremos, também, os procedimentos especiais, como na Lei Maria da Penha, Lei de Drogas,
etc.

1) PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO (art. 394, §1, I, CPP):

I. Denúncia ou queixa;
II. Recebimento ou rejeição (art. 395, CPP);
III. Citação (art. 351 e ss. + 372, CPP);
IV. Resposta à acusação (art. 396 c/c 396-A, CPP);
V. Absolvição sumária (art. 397, CPP);
VI. Audiência.

▪ Aplicado aos crimes que tenham pena máxima de quatro ou mais anos.
o Rito mais comum.
▪ Caso tenha lacuna em determinado rito, esse procedimento é aplicado subsidiariamente
em todos os processos do primeiro grau.
▪ Em qualquer crime, em qualquer procedimento/rito, o interrogatório do réu deve ser o
último ato probatório da audiência.
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▪ Procedimento será ordinário quando a pena máxima em


abstrato do crime cometido for maior ou igual a 4 anos.
▪ O recebimento da inicial é a primeira causa interruptiva da prescrição (art. 117, I, CP).
▪ Não cabe recurso contra o despacho ou decisão que recebe a petição inicial e instaura o
processo penal.
▪ O habeas corpus é cabível para trancar o inquérito policial ou processo penal > HC é ação
autônoma de impugnação e um remédio constitucional (não é recurso).
- HC não serve somente para libertar.
- Caberá HC quando não houver justa causa para medida.
- Súmulas 693 e 695 do STF.
- Não cabe HC se não houver risco à liberdade, ainda que visando trancar processo.
▪ O juiz pode receber ou rejeitar a inicial.
o A rejeição é a extinção do processo, sem julgamento de mérito (art. 395, CPP) >
inépcia, ausência de pressuposto processual ou ausência de justa causa.
- Contra decisão que rejeita, cabe recurso em sentido estrito (art. 581, I,
CPP).
- No JECRIM, contra rejeição, cabe apelação, com prazo de 10 dias (art. 82,
Lei 9.099/95).
o A denúncia/queixa só pode ser recebida se existirem indícios suficientes de
autoria/participação e materialidade.
▪ Após receber, o juiz cita o réu para apresentação de defesa.
o A regra é que o réu seja citado pessoalmente, para apresentar sua defesa.
- Os prepostos de segurança pública envolvidos em alegações criminosas
pelo uso de força letal terão direito à ampla defesa desde o inquérito, sendo
citados para apresentar sua defesa escrita (art. 14-A, CPP).
- É nula a citação por edital de réu preso > súmula 351/STF.
- O art. 66 da Lei 9.099/95 veda a citação por edital no JECRIM > não há
vedação na regra geral.
▪ Após apresentação da defesa, o juiz poderá absolver ou designar audiência.
▪ Neste procedimento as partes poderão arrolar até 8 testemunhas.
▪ A audiência deverá ocorrer no prazo de 60 dias e, em regra, haverá uma única audiência. Há
exceções prescritas em lei.
▪ Algumas provas em espécie serão produzidas na audiência.
▪ Após as alegações finais, o juiz irá proferir a sentença absolutória ou condenatória.
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2) PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO (ART. 531, CPP):


▪ Aplicado aos crimes com pena máxima maior do que dois e menor que quatro. Ou seja, o
procedimento será sumário quando a pena em abstrato for superior a 2 anos e inferior a 4
anos.
▪ Podem ser arroladas até 5 testemunhas.
▪ O procedimento sumário ocorrerá da mesma forma que o ordinário, respeitando as mesmas
regras processuais, com exceção do prazo para a realização da audiência, que deverá ocorrer
em 30 dias.

3) PROCEDIMENTO COMUM SUMARÍSSIMO:


▪ Aplicado às infrações de menor potencial ofensivo (pena máxima de até dois anos).
▪ Procedimento adotado para o julgamento de infrações penais de menor potencial
ofensivo, ou seja, quaisquer contravenções penais ou crimes cujas penas máximas em
abstrato não ultrapassem 2 anos.
▪ Competência para o julgamento do Juizado Especial Criminal (JECRIM).
▪ Este procedimento está previsto na Lei 9.099/1995.
▪ Não se aplica aos casos da Lei Maria da Penha, mesmo que seja de menor potencial ofensivo.
▪ Suas diferenças ocorrem desde antes do surgimento da ação penal, pois, se o sujeito for preso
em flagrante, será lavrado um termo circunstanciado.
o Se logo após o crime comparecer imediatamente ao juizado e assinar termo de
compromisso, informando que irá comparecer em audiência em data e local
marcados, ao agente não será imposta prisão nem se exigirá fiança.
▪ Na primeira audiência haverá, primeiramente, uma tentativa de conciliação que poderá ser
de duas formas:
I. Composição Civil: Acordo entre a vítima e o acusado, visando reparar o dano
causado.
II. Transação Penal: Acordo entre o acusado e o MP, visando estabelecer pena
alternativa.
- Se o acusado cumprir o acordo, o MP deixará de propor ação penal.
- Se o acusado não cumprir o acordo, a situação inicial retornará e o MP dará
início a ação penal.
▪ Caso a conciliação seja infrutífera, será oferecida a denúncia, de forma oral.

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▪ O número de testemunhas não está estipulado em lei, sendo


adotado de modo geral até 5 testemunhas, e em casos mais complexos pode vir a ser aceito
até 8 testemunhas. Algumas correntes defendem que por ser um procedimento mais célere,
o número máximo deva ser de 3 testemunhas.
▪ Oferecida a denúncia, será designada audiência de instrução e julgamento (audiência uma).
A defesa oferecerá a defesa prévia, que será apreciada pelo juiz.
o Caso o juiz rejeite a denúncia, caberá recurso de apelação, no prazo de 10 dias.
o Caso o juiz aceite a denúncia, haverá a oitiva das testemunhas, interrogatório, debates
orais (20 minutos, prorrogáveis por mais 10). Neste procedimento não há previsão
legal para substituição dos debates por memoriais.
▪ Dada a audiência, o juiz proferirá sentença condenatória ou absolutória, recorrível por
apelação, no prazo de 10 dias, ou poderão ser oferecidos embargos de declaração no prazo
de 5 dias.

4) PROCEDIMENTOS ESPECIAIS:
▪ Os procedimentos ou ritos especiais são previstos em legislação especial (Lei de Drogas, por
exemplo) ou em regras específicas no próprio Código de Processo Penal, como nos crimes
falimentares ou de responsabilidade de funcionários públicos

4.1. PROCEDIMENTO/RITO FUNCIONAL


 Previsão nos artigos 513 ao 518, do CPP.
 Responsáveis por apurar os crimes previstos nos artigos 312 ao 326, do CPP. Aplicável
também ao crime do art. 3, da Lei 8.137/90.
 Estrutura do Rito:
I. Denúncia/Queixa (art. 513, CPP);
II. Notificação;
III. Defesa preliminar (art. 514, CPP);
IV. Receber ou Rejeitar (art. 516, CPP);
V. Citação;
VI. Resposta;
 Procedimento que se inicia através da petição inicial (denúncia ou queixa). A
denúncia/queixa precisa lastrear a inicial com documentos que comprovem ou tragam
indícios da suposta pratica do delito.
o A jurisdição não atua de ofício > precisa de provocação.
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 Oferecida a denúncia ou queixa, o juiz notificará o


funcionário denunciado, para apresentar uma defesa preliminar, com prazo de 15
dias.
o Ocorre notificação para defesa, e não citação.
o A defesa preliminar ocorre antes da existência do processo penal.
 Somente após a defesa do acusado é que o juiz poderá receber ou recusar a
denúncia/queixa.
o O juiz poderá rejeitar a inicial caso a ação seja improcedente ou o crime inexistente
(art. 516, CPP).
 Caso o juiz receba a denúncia/queixa (inicial), a ação prosseguirá pelo rito comum
ordinário.
 Caso ocorra concurso de crimes, o rito comum ordinário será o aplicado > procedimento
mais amplo.

4.2. PROCEDIMENTO/RITO DA LEI DE DROGAS


 Previsão na Lei 11.343/2006.
 O rito da lei de drogas será aplicado aos crimes previstos nesta lei, mas que não sejam de
menor potencial ofensivo.
o Se forem de menor potencial ofensivo, aplicar-se-á o procedimento sumaríssimo
(JECRIM).
 Estrutura do rito:
I. Oferecimento da denúncia/queixa (art. 54);
II. Notificação do acusado;
III. Defesa preliminar, no prazo de 10 dias (art. 55);
IV. Juiz poderá rejeitar a inicial (art. 395, CPP), receber ou absolver sumariamente
(art. 397, CPP);
V. Audiência (art. 56, §2);
VI. Sentença.
 O oferecimento da denúncia exige a elaboração de um laudo de constatação da droga,
se houver apreensão.
o Admite-se laudo provisório para oferecer denúncia, mas não para condenar. A
condenação exige laudo elaborado por perito oficial (art. 50).
- O laudo provisório é condição para lavratura do auto de prisão em
flagrante, sob pena de ilegalidade da prisão.
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 Após a denúncia, o suspeito será notificado para


apresentar sua defesa preliminar.
 Na defesa prévia de drogas, o denunciado apresenta o rol de testemunhas (máximo de 5
testemunhas), sob pena de preclusão.
 Após a defesa prévia, o juiz decide se recebe ou rejeita a denúncia.
o Caso o juiz receba a inicial, a audiência será marcada.
 Pela lei, o interrogatório é o primeiro ato da audiência, porém, o STF entendeu que é
inconstitucional, devendo primeiramente o delator falar, e posteriormente, o
delatado/réu, tornando o interrogatório do réu o último ato.
 Após a audiência (interrogatório, testemunhas, debates), o juiz irá proferir a sentença
condenatória ou absolutória.

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TRIBUNAL DO JURI

1) CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
▪ Disposto no art. 5, XXXVIII, CF/88.
▪ O júri julga os crimes dolosos contra a vida e os conexos (art. 74, §1, 78, CPP).

Observação: Latrocínio é competência do juiz singular (art. 603).

2) ESTRUTURA DO RITO:
1) Sumário (art. 406 ao 421, do CPP): Juízo de admissibilidade da acusação dolosa contra a
vida.
2) Mérito (judicium causae): Juiz e Jurados.

3) DECISÕES DO JÚRI:
a) Pronuncia (art. 413 do CPP): Decisão interlocutória
 O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato
e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação.
§ 1. A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato
e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz
declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e especificar as
circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.
§ 2. Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a concessão ou
manutenção da liberdade provisória.
§ 3. O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção, revogação ou
substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade anteriormente decretada e,
tratando-se de acusado solto, sobre a necessidade da decretação da prisão ou
imposição de quaisquer das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.

b) Impronuncia (art. 414, do CPP): Ausência de provas só faz coisa julgada formal.
 Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de
autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade, poderá ser
formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova.
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c) Absolvição sumária (art. 415 CPP): Faz coisa julgada material.


 O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.

d) Desclassificação (art. 418 e 419, CPP): Emendatio Libelli > pode ser feito de oficio.
 O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação, embora o
acusado fique sujeito a pena mais grave.
 Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da existência de crime diverso
dos referidos no § 1o do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento,
remeterá os autos ao juiz que o seja.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Maicon, na condução de veículo automotor, causou lesão corporal de natureza leve em Marta,
desconhecida que dirigia outro automóvel, que inicialmente disse ter interesse em representar em face
do autor dos fatos, diante da prática do crime do Art. 303, caput, do Código de Trânsito Brasileiro. Em
audiência preliminar, com a presença de Maicon e Marta acompanhados por seus advogados e pelo
Ministério Público, houve composição dos danos civis, reduzida a termo e homologada pelo juiz em
sentença. No dia seguinte, Marta se arrepende, procura seu advogado e afirma não ter interesse na
execução do acordo celebrado.
Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Marta deverá:
A) interpor recurso de apelação da sentença que homologou a composição dos danos civis.
B) esclarecer que o acordo homologado acarretou renúncia ao direito de representação.
C) interpor recurso em sentido estrito da sentença que homologou composição dos danos civis.
D) esclarecer que, sendo crime de ação penal de natureza pública, não caberia composição dos
danos civis, mas sim transação penal, de modo que a sentença é nula.

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2) Luiz foi condenado, em primeira instância, pela prática de crime de


homicídio qualificado em razão de recurso que dificultou a defesa da vítima. Durante seu interrogatório
em Plenário, Luiz confessou a prática delitiva, mas disse que não houve recurso que dificultou a defesa
da vítima, tendo em vista que ele estava discutindo com ela quando da ação delitiva. Insatisfeito com o
reconhecimento da qualificadora pelos jurados, já que, diferentemente do que ocorreu em relação à
autoria, não haveria qualquer prova em relação àquela, o advogado apresentou, de
imediato, recurso de apelação. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Luiz
deverá buscar, em sede de recurso,
A) o reconhecimento de nulidade, com consequente realização de nova sessão de julgamento.
B) o reconhecimento de que a decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos
autos em relação à qualificadora, com consequente realização de nova sessão de julgamento.
C) o afastamento da qualificadora pelo Tribunal de 2ª instância, com imediata readequação, pelo
órgão, da pena aplicada pelo juízo do Tribunal do Júri.
D) o afastamento da qualificadora pelo Tribunal de 2ª instância, com baixa dos autos, para que o
juízo do Tribunal do Júri aplique nova pena.

3) Durante audiência de instrução e julgamento em processo em que é imputada a José a prática de um


crime de roubo majorado pelo concurso de agentes, Laís e Lívia, testemunhas de acusação, divergem
em suas declarações. Laís garante que presenciou o crime e que dois eram os autores do delito; já Lívia
também diz que estava presente, mas afirma que José estava sozinho quando o crime foi cometido. A
vítima não foi localizada para prestar depoimento. Diante dessa situação, poderá o advogado de José
requerer:
A) a realização de contradita das testemunhas.
B) a realização de acareação dastestemunhas.
C) a instauração de incidente de falsidade.
D) a suspensão do processo até a localização da vítima, para superar divergência.

GABARITO
1) B 2) B 3) B

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45 Ivan Jezler

FASE RECURSAL

Artigo 574 e seguintes, do CPP.


Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos,
em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz:
I) da sentença que conceder habeas corpus;
II) da que absolver desde logo o réu com fundamento na
existência de circunstância que exclua o crime ou isente o
réu de pena, nos termos do art. 411.

1) CONSIDERAÇÕES INICIAIS:
▪ Prolongamento do processo originário.
▪ O HC e a revisão criminal não são recursos e sim ações autônomas de impugnação.

2) PRINCÍPIOS:
2.1. Proibição da Reformatio in Pejus (Art. 617 CPP)
i. Direta incide para os tribunais
ii. Indireta incide para juiz originário
• O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e
387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o
réu houver apelado da sentença.
• Essa proibição não se aplica para o júri.
• Em novo júri pelo mesmo processo o conselho de sentença deve ser totalmente renovado.

2.2. Reformatio in Mellius (Art. 50, CPP)


• Possibilidade de melhorar a situação do réu.
• No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto
por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente
pessoal, aproveitará aos outros.

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46 Ivan Jezler

3) MODALIDADES:
A) RECURSO EM SENTINDO ESTRITO - RESE (ART. 581 CPP): Em regra vai atacar decisões
interlocutórias.
• Sentença que julga o HC vai ser impugnada por recurso em sentido estrito.
• O RESE o ataca decisões de primeiro grau.

Observação: Somente anulação, RESE, carta


testemunhável e agravo em execução atacam decisões
de 1º grau.

B) RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL – ROC: Contra sentença que extingue ou que não
extingue a punibilidade.

C) AGRAVO EM EXECUÇÃO (ART. 197 LEP): Qualquer decisão da VEC admite agravo da LEP,
sem efeito suspensivo, o único que tem efeito suspensivo desinternação do inimputável (art.
179 LEP).

D) EXECUÇÃO PENAL – Sumula 192, 439, 441, 471, 493, 520, 526 do STJ.

3.1. Forma do Agravo e RESE


• Interposição – 5 dias (art. 585 CPP e 700 STF)
• Razões e contrarrazões (2 dias)

Apelação Carta Embargos


- Só ataca decisão em 1º grau; - Serve para destrancar o - Declaração – art. 382 e 383
- Interposição em 5 dias; RESE, e o RESE serve para da Lei 9099/95, e o art. 619
- Razões e Contrarrazões em 8 dias; destrancar a Apelação; do CPP;
- Súmulas 705 e 708 do STF; - 1º grau; - Infrigentes e Nulidade (Art.
- A renúncia ao direito de apelar deve - Art. 639 do CPP; 609 §1, CPP) – 10 dias.
ser fruto da vontade mutua do réu e - 48h – Escrivão.
do seu defensor.

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47 Ivan Jezler

REVISÃO CRIMINAL

➢ Cabe revisão criminal também para buscar uma reparação de danos por parte do estado
➢ Só cabe em favor do réu.

1) CABIMENTO (ART. 621 CPP):


→ Lei; Autos – I
→ Nova Prova – III
→ Falsidade – II

Observação: TJ e TRF revisam suas próprias decisões.

2) HABEAS CORPUS:
1) Art. 647 e 648 CPP e Art. 5, LXVIII, CRFB/88
• Art. 647, CPP. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência
de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição
disciplinar.
• Art. 648, CPP. A coação considerar-se-á ilegal:
I. quando não houver justa causa;
II. quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III. quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV. quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V. quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a
autoriza;
VI. quando o processo for manifestamente nulo;
VII. quando extinta a punibilidade.
• Art. 5º, CRFB/88. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder.

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48 Ivan Jezler

QUESTÕES PARA TREINO:

1) Vitor foi denunciado pela prática de um crime de peculato. O magistrado, quando da análise da inicial
acusatória, decide rejeitar a denúncia em razão de ausência de justa causa. O Ministério Público
apresentou recurso em sentido estrito, sendo os autos encaminhados ao Tribunal, de imediato, para
decisão. Todavia, Vitor, em consulta ao sítio eletrônico do Tribunal de Justiça, toma conhecimento da
existência do recurso ministerial, razão pela qual procura seu advogado e demonstra preocupação com
a revisão da decisão do juiz de primeira instância. Considerando as informações narradas, de acordo
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o advogado de Vitor deverá esclarecer que
A) o Tribunal não poderá conhecer do recurso apresentado, tendo em vista que a decisão de
rejeição da denúncia é irrecorrível.
B) o Tribunal não poderá conhecer do recurso apresentado, pois caberia recurso de apelação, e
não recurso em sentido estrito.
C) ele deveria ter sido intimado para apresentar contrarrazões, apesar de ainda não figurar como
réu, mas tão só como denunciado.
D) caso o Tribunal dê provimento ao recurso, os autos serão encaminhados para o juízo de
primeira instância para nova decisão sobre recebimento ou não da denúncia.

2) Vanessa foi condenada pela prática de um crime de furto qualificado pela 1ª Vara Criminal de
Curitiba, em razão de suposto abuso de confiança que decorreria da relação entre a vítima e Vanessa.
Como as partes não interpuseram recurso, a sentença de primeiro grau transitou em julgado. Apesar de
existirem provas da subtração de coisa alheia móvel, a vítima não foi ouvida por ocasião da instrução
por não ter sido localizada. Durante a execução da pena por Vanessa, a vítima é localizada, confirma a
subtração por Vanessa, mas diz que sequer conhecia a autora dos fatos antes da prática delitiva. Vanessa
procura seu advogado para esclarecimento sobre eventual medida cabível. Considerando apenas as
informações narradas, o advogado de Vanessa deve esclarecer que:
A) não poderá apresentar revisão criminal, tendo em vista que a pena já está sendo executada,
mas poderá ser buscada reparação civil.
B) caberá apresentação de revisão criminal, sendo imprescindível a representação de Vanessa
por advogado, devendo a medida ser iniciada perante o próprio juízo da condenação.
C) não poderá apresentar revisão criminal em favor da cliente, tendo em vista que a nova prova
não é apta a justificar a absolvição de Vanessa, mas tão só a redução da pena.

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49 Ivan Jezler

D) caberá apresentação de revisão criminal, podendo Vanessa


apresentar a ação autônoma independentemente de estar assistida por advogado, ou por meio
de procurador legalmente habilitado.

3) Miguel foi denunciado pela prática de um crime de extorsão majorada pelo emprego de arma e
concurso de agentes, sendo a pretensão punitiva do Estado julgada inteiramente procedente e aplicada
sanção penal, em primeira instância, de 05 anos e 06 meses de reclusão e 14 dias multa. A defesa técnica
de Miguel apresentou recurso alegando:
(i) preliminar de nulidade e m razão de violação ao princípio da correlação entre acusação e sentença;
(ii) insuficiência probatória, já que as declarações da vítima, que não presta compromisso legal de dizer
a verdade, não poderiam ser consideradas;
(iii) que deveria ser afastada a causa de aumento do emprego de arma,uma vez que o instrumento
utilizado era um simular ao de arma de fogo, conforme laudo acostado aos autos.
A sentença foi integralmente mantida. Todos os desembargadores que participaram do julgamento
votaram pelo não acolhimento da preliminar e pela manutenção da condenação. Houve voto vencido de
um desembargador, que afastava apenas a causa de aumento do emprego de arma. Intimado do teor do
acórdão, o(a) advogado(a) de Miguel deverá interpor:
A) embargos infringentes e de nulidade, buscando o acolhimento da preliminar, sua absolvição
e o afastamento da causa de aumento de pena reconhecida.
B) embargos infringentes e de nulidade, buscando o acolhimento da preliminar e o afastamento
da causa de aumento do emprego de arma, apenas.
C) embargos de nulidade, buscando o acolhimento da preliminar, apenas.
D) embargos infringentes, buscando o afastamento da causa de aumento do emprego de arma,
apenas.

4) Marcus, advogado, atua em duas causas distintas que correm perante a Vara Criminal da Comarca de
Fortaleza. Na primeira ação penal, Renato figura como denunciado em ação penal por crime de natureza
tributária, enquanto, na segunda ação, Hélio consta como denunciado por crime de peculato.
Entendendo pela atipicidade da conduta de Renato, Marcus impetra habeas corpus, perante o Tribunal
de Justiça, e m busca do “trancamento” da ação penal. Já em favor de Hélio, impetra mandado de
segurança, também perante o Tribunal de Justiça, sob o fundamento de que o magistrado de primeira
instância, de maneira recorrente, não estava permitindo o acesso aos autos do processo. Na mesma data
são julgados o habeas corpus e o mandado de segurança por Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do
Ceará, sendo que a ordem de habeas corpus não foi concedida por maioria de votos, enquanto o
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mandado de segurança foi denegado por unanimidade. Intimado da


decisão proferida no habeas corpus e no mandado de segurança, caberá a Marcus apresentar, em busca
de combatê-las,
A) Recurso Ordinário Constitucional, nos dois casos.
B) Recurso em Sentido Estrito e Recurso Ordinário Constitucional, respectivamente.
C) Embargos infringentes, nos dois casos.
D) Embargos infringentes e Recurso Ordinário Constitucional, respectivamente.

5) No âmbito de ação penal, foi proferida sentença condenatória e m desfavor de Bernardo pela suposta
prática de crime de uso de documento público falso, sendo aplicada pena privativa de liberdade de cinco
anos. Durante toda a instrução, o réu foi assistido pela Defensoria Pública e respondeu ao processo em
liberdade. Ocorre que Bernardo não foi localizado para ser intimado da sentença, tendo o oficial de
justiça certificado que compareceu em todos os endereços identificados. Diante disso, foi publicado
edital de intimação da sentença, com prazo de 90 dias. Bernardo, ao tomar conhecimento da intimação
por edital 89 dias após sua publicação, descobre que a Defensoria se manteve inerte, razão pela qual
procura, de imediato, um advogado para defender seus interesses, assegurando ser inocente.
Considerando apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) deverá esclarecer que:
A) houve preclusão do direito de recurso, tendo em vista que a Defensoria Pública se manteve
inerte.
B) foi ultrapassado o prazo recursal de cinco dias, mas poderá ser apresentada revisão criminal.
C) é possível a apresentação de recurso de apelação, pois o prazo de cinco dias para interposição
de apelação pelo acusado ainda não transcorreu.
D) é possível apresentar medida para desconstituir a sentença publicada, tendo em vista não ser
possível a intimação do réu sobre o teor de sentença condenatória por meio de edital.

GABARITO
1) C 2) D 3) D 4) A 5) C

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PACOTE ANTICRIME – LEI 13.964/2019

➢ Sancionada em 24 de dezembro de 2019, e entrou em vigor em 23 de janeiro de 2020. Com a


nova lei, diversos dispositivos do Código Penal (CP) e do Código de Processo Penal (CPP), além de
outras leis, como a Lei 7.210/84 (LEP), foram revogados, alterados ou acrescentados.
➢ Destarte, nosso CPP sofreu alterações significativas no que diz respeito à prisão e às medidas
cautelares.

➢ Art. 282, parágrafo 2º, do CPP.


As medidas cautelares podem ser decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no
curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento
do Ministério Público. Note bem: Agora, o juiz não pode mais decretá-la de ofício. Portanto, caso
o magistrado assim venha a fazer, verificar-se-á ilegalidade, podendo a defesa requerer o
afastamento da medida aplicada.

➢ O parágrafo 3º, do CPP. Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de ineficácia da medida, o


juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, determinará a intimação da parte contrária e, agora,
deve abrir prazo de 5 dias. Nos casos de urgência ou de perigo, deverão ser justificados e
fundamentados em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifiquem essa medida
excepcional. Dessa forma, caso o juiz deixe de abrir o prazo determinado pela nova lei ou deixe de
justificar e fundamentar a decisão nos casos de urgência/perigo, a decisão será manifestamente
nula.

➢ A Lei 13.964/19 acrescentou o inciso V ao artigo 564 do CPP, que, agora, expressamente prevê
que é nula toda decisão carente de fundamentação.

➢ Tratando do artigo 282 do CPP, foi acrescentado, no parágrafo 6º que o não cabimento de aplicação
da medida cautelar em substituição à decretação da prisão preventiva deve ser justificado de forma
fundamentada nos elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada. Essa
determinação vai de encontro à nossa CRFB/88 (artigo 93, IX). A prisão, como é cediço, é
excepcional, ultima ratio, e, agora, como prevê expressamente o parágrafo 6º do artigo 282 do CPP,

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a sua decretação exige fundamento de acordo com o caso concreto,


de forma individualizada, sob pena de nulidade (CPP, artigos 315, parágrafo 2º e 564, inciso V).

➢ A Lei 13.964/19 revogou o parágrafo único do artigo 312 do CPP, que trata da decretação da
prisão preventiva e, acrescentou dois parágrafos. O parágrafo 2, que dispõe da obrigatoriedade da
motivação e do fundamento da decisão que decretar a prisão preventiva em decorrência de receio
de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
medida adotada.

➢ Antes da sanção do Pacote Anticrime, não havia em nosso ordenamento jurídico um prazo máximo
de prisão cautelar. Assim, não era fácil demonstrar, por exemplo, um excesso de prazo da prisão
para se requerer um relaxamento da cautelar. Agora, com a sanção da Lei 13.964/19, foi introduzido
o parágrafo 6º ao artigo 316 do CPP, que determina ao órgão emissor da decisão que decretou a
prisão preventiva revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. Vale lembrar que a necessidade em que
trata o legislador deve ser atual, na forma do artigo 312, parágrafo 2º, do CPP aqui já vislumbrado.
Imperioso ressaltar ainda que essa decisão deve ser proferida de ofício pelo juiz, sob pena de
ilegalidade, e, logo, relaxamento da prisão, quer seja se não for proferida dentro do prazo, quer seja
por ausência da devida fundamentação. Por fim, por se tratar de norma processual, a sua aplicação
é imediata e, dessa forma, o prazo em questão conta-se desde a decretação da prisão preventiva.

➢ Entre as inovações trazidas pela Lei 13.964/19, está o acordo de não persecução penal, incluído
no CPP, notadamente na alínea "a" do artigo 28, além de retificar o conteúdo contido no caput do
referido dispositivo.

➢ Por derradeiro, é importante trazer à baila as hipóteses de não cabimento do acordo de não
persecução penal (artigo 28-A, §2º, incisos I a IV CPP).

➢ Antes da vigência da lei anticrime, o estelionato era ação penal pública incondicionada. Ou seja,
não havia dependência de representação do ofendido, bastando que o Ministério Público tomasse
ciência do delito para oferecer denúncia. A única exceção a esta antiga regra era a chamada
"imunidade relativa", prevista no artigo 183 do CP. Agora, o delito de estelionato passou a ser ação
penal pública condicionada à representação do ofendido (§5º). Isto é, para instaurar-se a persecução
penal, faz-se necessário que a vítima represente em face do suposto autor dos fatos. Vale registrar
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que essa é a regra, tendo por exceção quando a vítima for


Administração Pública direta ou indireta, criança ou adolescente, deficiente mental ou pessoas
acima de 70 anos ou incapazes (nesses casos a ação será pública incondicionada).

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PARABÉNS PELO EMPENHO!

NÓS ACREDITAMOS
EM VOCÊ!!

Família CEJAS: Líderes em aprovação em todo o Brasil!

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