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1. Considerações preliminares
O país vem assistindo, nos últimos anos, a uma escalada da violência, com a
criminalidade de há muito atingindo índices inaceitáveis, principalmente nas capitais e
grandes cidades, a exemplo do Rio de jáneiro, São Paulo, Vitória e Recife. A exclusão
social, o tráfico e o uso de entorpecentes, o comércio e o porte de armas, a
desestruturação da faml1ia, o baixo nível da educação e a impunidade estão,
seguramente, entre as principais causas dessa criminalidade.
Sabendo-se que a não punião dos infratores da Lei, por sua vez, está em boa parte
associada a dificuldade ou a impossibilidade da produção de prova pela acusação,
especialmente da prova testemunhal, reveste-se, pois, de fundamental importância a
existência dos programas de proteção de que trata a lei em referência, instrumentos
postos ao alcance da Polícia Judiciária, do Ministério Público e do Judiciário para a
realização da justiça penal.
Um programa ou sistema de proteção a vítimas e testemunhas, por um lado,
interessa ao Estado-Juiz, pois representa importante instrumento destinado ao efetivo
exercício do direito de punir, e, por outro, constitui garantia do direito a incolumidade
* Promotor de Justiça de Promoção e Defesa dos direitos Humanos (Recife/PE). Coordenador do Centro de Apoio
Operacional das Promotorias de JusTiça de Defesa da Cidadania, do Ministério Público de Permanbuco. Membro
do Conselho Deliberativo do PROVITA/PE
física do cidadão que, em razão de seu testemunho colabora com a Justiça.
Sobre os depoimentos das testemunhas, afirma Tourinho Filho que "a prova
testemunhal, principalmente no Processo Penal, é de valor extraordinário, pois,
dificilmente, e só em hipóteses excepcionais, provam-se as infrações com outros
elementos de prova. Comumente, as infrações penais só podem ser provadas, em
juízo, por pessoas que assistiram ao fato ou dele tiveram conhecimento", arrematando
que, por isso, "a prova testemunhal é uma necessidade e nela reside o seu
fundamento".5
Não obstante, assim como qualquer outro meio de prova, a prova testemunhal tem
valor relativo, contribuindo fatores de ordem diversa para a sua falibilidade, o interesse
de prestar depoimento falso, o medo da testemunha, a sua incapacidade para depor em
razão de imaturidade, ou por defeito sensorial, ou por anomalia psíquica, as imprecisões
e as alterações da percepção dos sentidos, a traição da memória, condições de sexo e
3 TORNAGHI, Hélio, Curso de Processo Penal. São Paulo: Saravia, 1987, volume 1, p.267
4 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1986, volume 3, p. 2o6
5 Op. cit.p. 263
idade servem para fundamentar tal conclusão.
Ademais, existem fatores outros que mais frequentemente contribuem para inibir
ou desestimular um depoimento verdadeiro, representando motivos diversos
correlacionados as emoções humanas, quais sejám: "proximidade física entre a
testemunha e o autor; potencial depoente não quis o resultado mais grave, todavia, de
qualquer forma, contribuiu para o seu desfecho; dissimulação de detratores pessoais;
ausência de fidúcia nos organismos de seguranc;a; ignorância da lei e dos mecanismos
da persecução judicial; liame ativo entre a testemunha e o autor do crime; ausência de
interesse no desfecho do inquérito ou do processo; posição que acarreta exposição
permanente ou vulnerabilidade maior a ação criminosa; propósito da promoção da
vingança privada; sugestionabilidade por terceiros. Extinção de vantagens pessoais da
testemunha coma efeito mediato ou imediato do depoimento; coação efetiva exercida
contra a testemunha.6
As declarações da vítima devem ser aceitas com reservas, porque, muito embora,
a primeira vista, pareça que, por ter sofrido a açãp criminosa, sejá a pessoa mais
capacitada a prestar os devidos esclarecimentos à Justiçaa, está o ofendido
contaminado pela paixao, pelo ódio, pelo ressentimento, pela emoção, prejudicando a
isenção. Por isso, a vítima não presta compromisso nem responde por falso testemunho.
Sua palavra deve ser confrontada com os demais elementos de convicção colhidos no
bojo do processo. Contudo, casos há em que se reveste de importância, como nos
denominados delitos clandestinos, perpetrados a distância da vista de terceiros, a
exemplo dos crimes contra os costumes.
6 BALDAN, Edson Luís. Justiça Criminal Moderna Proteção à Vítima e à Testemunha e a Prática Policial. São Paulo . RT
2ooo, volume 7, p. 386/394, citando LOCARD, Edmond.
deliberativo, estabeleceu que o mesmo será composto por representantes do Ministério
Público, do Poder Judiciário e de órgãos públicos e privados relacionados com a
segurança pública e a defesa dos direitos humanos (art. 4. 2, caput), dispondo também
que um dos órgãos representados no conselho deliberativo executará as atividades
necessárias ao programa, o que abre a possibilidade de a instituição poder exercer tais
funções (art.4. 2, § 1.2).
7 Leciona HUGO NIGRO MAZZILLI: No processo penal é contravertida a posição do Ministério Público: parte sui
generis (Manzine, Tornaghi); parte imparcial (De Marsico, Noronha); parte parcial (Carnelutti); parte material e
processual (Frederico Marques); parte formal, instrumental ou processual (Leone, olmedo, Tourinho); não é parte
(Otto Mayer, Petrocelli). “Manual do Promotor de Justiça. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 182
8 Op. cit., p.182-183.
Como fiscal da lei,9 incumbiu o Promotor de Justiça de opinar: no requerimento de
alteração do nome completo do protegido (art. 9º, § 2º);
9 A função de custos legis está relacionada, aqui, à atuação do Promotor de Justiça em matéria cível.
10 Nessas hipóteses, caberá aos órgãos de Segurança Pública adotar as medidas necessárias à preservação da
integridade física dos excluídos dos programas de proteção, conforme disposto na segunda parte do dispositivo
legal. Tal disposição não deve ser aplicada, porém, aos familiares, cônjuge, companheiro, ascendentes,
descendentes e dependentes do colaborador preso, aos quais, sob pena de resultarem inócuas as medidas
proterórias dirigidas àquele, é extensiva a proteção prevista no § 1º do artigo em referência.
da verdade real e não se apresentar como simples contribuição desprovida de valor
probatório, impressões ou conjecturas do colaborador sobre o fato criminoso investigado
ou perseguido em juízo. Exige-se que a colaboração sejá efetiva, capaz de proporcionar
a revelação de um evento delituoso até então desconhecido, o deslinde da autoria de
uma infração penal em investigação ou o fortalecimento da prova que colhida
anteriormente.
4. Conclusão
Referências Bibliográificas
BALDAN, Edson Luis. justiça Criminal Moderna proteção a Vitima e a Tesfemunha e a Prática Policial. São
Paulo: RT, 2000, v. 7.
MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do Promotor de justiça. São Paulo: Saraiva, 1991.
TORNAGHI, Hélio. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1987, v. 7.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraivcl, 1986, v. 3.
A experiência do Conselho Deliberativo
Rui Teles Calandrini Filho **
Histórico
Desse conceito, podemos destacar alguns pontos como o de dar o formato plural
ao Conselho, não o elevar ao patamar institucional como o das organizações que se
faziam representar nele e, por fim, definir seu caráter como sendo deliberativo e não
consultivo. Estabeleceram-se ainda, neste momento, duas metas fundamentais para a
formação e funcionamento do Conselho Deliberativo do PPT-RJ, quais sejam: a de
superar os entraves político institucionais que surgiriam para o Programa de Proteção em
função de ser uma parceria entre a Sociedade Civil e o Estado, e também a de sempre
que possível tomar as decisões em consenso.
2 Num primeiro momento, o Programa de Proteção a Testemunhas do Rio de Janeiro foi identificado como PPT-RJ,
pois foi dado à ONG entidade gestora o nome de Provita Rio.
3 ALMEIDA, Jorge Luiz, A função de um Conselho Deliberativo no Programa de Proteção, In: Segurança & Cidadania.
recife: GAJOP, 1997.
contar com a representação dos diversos programas estaduais de Proteção a
testemunhas, da Procuradoria da República, da Justiça e da Polícia Federal, além da
Secretaria Nacional de Direitos Humanos, a qual caberia presidir o Conselho. A esse
Conselho competiria a tarefa de receber e encaminhar os casos para apoio e Proteção, a
luz de uma legislação que defina os crimes contra os direitos humanos, bem com definir
as alternativas competentes a serem adotadas nos casos concretos de Proteção." 4
Definição Legal
A Legislação Estadual
4 LIMA JR., Jaime Benvenuto. GAJOP quer um Sistema Nacional de Proteção a Testemunhas, In: GAJOP Direitos
Humanos Especial, nº 1. Recife: GAJOP, 1999
5 Art. 4º da Lei Federal 9.807/99
O estado que apresenta legislação mais abrangente e o de São Paulo, que já
possui Decreto-Lei Estadual que confere amplos poderes ao Conselho Deliberativo, ao
estabelecer, como atribuições o de elaborar a proposta financeira anual do Programa
para inclusão no orçamento do Estado; acompanhar de forma permanente a situação
financeira do Programa; delegar poderes e prover os respectivos meios a diretoria e a
entidade operacional da sociedade civil para que adotem providencias urgentes para
garantir a Proteção de testemunhas; substituir a entidade operacional se descumprir os
termos dos convênios assinados com órgãos do Poder Público, assim como se
desobedecer as normas nacionais de supervisão adotadas pela Secretaria de Estado
dos Direitos Humanos, do governo federal; dentre outros: 6
A proposta de Decreto-Lei Estadual que vem sendo trabalhada no Rio de Janeiro
não e tão abrangente e específica, porque não dizer não tão taxativa, pois respeita o
equiíbrio entre as instituições que executam esta política pública, o Programa de
Proteção a Testemunhas, e procura não dar superpoderes a uma das partes, mas sim,
superar os entraves político-institucionais que surgirem para sua execução em função de
ser uma parceria entre a Sociedade Civil e o Estado, já que este modelo tem por órgão
executor a sociedade civil, através de entidades não governamentais que notadamente
tenham histórico de luta e defesa dos direitos humanos e, ousaria dizer, por não ter o
Estado legitimidade para tal fim.
As perspectivas futuras