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® O tipo de ilícito penal contempla duas dimensões: (1) o tipo de ilícito objetivo; (2) o tipo de ilícito subjetivo;
® Tipo objetivo: engloba todos os aspetos que se têm de verificar independentemente da vontade do sujeito, ou seja, o sujeito, o objeto da ação, das
modalidades de execução do facto, o processo causal e o resultado.
® Tipo subjetivo: corresponde aos aspetos da direção da vontade do sujeito que revelem as espécies de dolo ou as especiais intencionalidades exigidas pelo
tipo legal de crime;
A RELEVÂNCIA DA IMPUTAÇÃO
Equiparar o facto concreto aos aspetos descritos no tipo penal não é, apenas, uma análise comparativa
Esta atribuição é bidimensional (supra): implica uma imputação objetiva e uma imputação subjetiva.
O QUE É A IMPUTAÇÃO?
Consiste na atribuição do facto à esfera de controlo ou poder do agente [Fernanda Palma].
A IMPUTAÇÃO OBJETIVA
TEORIAS DA IMPUTAÇÃO CONTEÚDO PROBLEMAS
1. Casos de causalidade hipotética: se a vitima vier a morrer na sequência de um disparo de A, embora estivesse condenada a morrer
envenenada, por ter ingerido o veneno, pouco tempo demais, a causalidade poderia ser afastada. Problema: o resultado morte deve-se à
conduta de A (outra solução seria atribuir relevância negativa/excluir a responsabilidade em virtude da causa virtual).
a. Só faz sentido excluir a responsabilidade em virtude de uma causa virtual quando a proibição se afigure como inútil.
2. Casos de interrupção do nexo causal: se a vítima morrer porque fica ferida e a caminho do hospital tem um desastre de ambulância, persiste
a causalidade. Problema: a morte deveu-se a uma circunstância imprevisível para o agente.
3. Casos de características especiais da vítima: se a vítima ao ser empurrada cai e morre por ter uma fragilidade óssea (e apenas por isso), a
teoria da conditio também afirmaria a causalidade. Problema: a doença é imprevisível para o agente.
4. Casos de causas paralelas: se a vítima morre devido a ter bebido um copo de leite envenenado em que A e B introduziram doses letais de
veneno, esta fórmula afasta a causalidade de ambas as condutas. Problema: é uma solução absurda.
5. Casos de causas imprevisíveis ou não habituais: no convite para o passeio de mota em que se sofre de um acidente, a teoria levaria a
afirmar a causalidade de um comportamento integrado num contexto social irrelevante para a responsabilidade penal.
6. Casos de intervenção dolosa de outrem: se o agente fere a vítima, mas esta morre porque alguém impede o seu salvamento, a teoria da
conditio afirma a causalidade. Problema: registou-se um facto superveniente decisivo.
TEORIAS DA IMPUTAÇÃO CONTEÚDO PROBLEMAS
(*) Roxin vem melhorar a teoria da causalidade adequada. Propõe uma teoria da imputação. Escrito de homenagem a Richard Ronnie (judeu – período de
proibida a citação a autores judeus). Não se procura rejeitar a causalidade – não se rejeita, sequer, a causalidade adequada. Acrescenta, no entanto, um novo
raciocínio noutro plano.
Caso da viagem de avião: o A que oferece a viagem terá realizado o tipo objetivo de proibição de matar?
Não faz sentido imputar, porque não é proibido oferecer viagens de avião. São casos em que não se verifica a violação da norma que proibida (a conduta em si não
é proibida).
CRITÉRIOS DA CONEXÃO DO RISCO
• (2) Tese do âmbito de proteção da norma;
1. Aos requisitos da teoria do risco, haveria que acrescer o requisito do âmbito do tipo (tendo em conta já a norma penal típica e não tão-somente a
norma de cuidado violada pelo agente);
2. Requisito adicional: se o fim de proteção da norma típica não cobre resultados da espécie daquele que efetivamente se verificou então, em última
instância, há que se negar a imputação objetiva.
3. Casos típicos propostos por Roxin (FD não demonstra total aderência à sistematização, em resultado do excessivo casuísmo):
a. Colaboração na autocolocação em risco dolosa: quando A e B se lançam, por aposta, numa corrida perigosíssima de motos na estrada e
B, em virtude de um erro de condução, perde o domínio do veículo e sofre lesões físicas graves.
b. Heterocolocação em perigo livremente aceite: quando C, a pedido do passageiro D, aumenta de forma proibida a velocidade do automóvel
e em consequência se despista, sofrendo D lesões físicas graves;
c. Imputação a um âmbito de responsabilidade alheio: quando E provoca um incêndio na sua habitação e F, um dos bombeiros chamados,
para salvar outro habitante da casa sofre lesões físicas graves.
Figueiredo Dias: perante esta proposta de Roxin, FD tece algumas críticas, em virtude do excessivo
formalismo e casuísmo; critica, em especial a pretensão aparente de Roxin de criar um novo critério de
imputação (eventualmente, desnecessário). Entende, em última instância, que estes casos podem ser
resolvidos através de várias dimensões: (1) como problemas da parte especial do Código Penal e não como
problemas da parte geral; (2) através do princípio da autorresponsabilidade, como tendo função delimitadora
e definidora dos âmbitos de responsabilidade; (3) Roxin resolve em termos de imputação objetiva questões
que deviam ser resolvidas por intermédio de comparticipação – confusão dos problemas.
• Comportamento lícito alternativo: procurando perceber se, nos casos de dúvida sobre a imputação, o comportamento lícito alternativo
(cumprimento do dever/motivação pela norma) teria sido inútil ou útil na produção do resultado – se fosse útil, então estaria verificada a imputação
objetiva;
o Em caso de dúvida (Roxin): mantém-se a imputação; só não se imputa em caso de certeza;
§ Funcionalismo teleológico: as normas tutelam diminuindo os riscos para os bens jurídicos; se se paralisa, a norma não cumpre a
finalidade de motivação; no limite, a nenhum dos casos de erro médico seria imputável o resultado;
§ Problema (argumentos MFP): viola o princípio in dúbio pro reu; o principio da legalidade – imputar significa dizer que ele matou,
ou seja, implica uma conexão, se não tenho a certeza que o comportamento licito alternativo evitava, então há base para sustentar
a conexão de risco; o principio do direito penal do facto, porque se não se consegue dizer que matou, nós não sabemos se a
imputação existia em termos normativos. Crítica final: está a transforma, Roxin, os casos de crime de homicídio, em caso de dúvida,
em crimes de perigo.
§ MFP: em caso de dúvida razoável afasta-se a imputação objetiva.
• Princípio da confiança: a confiança na conduta de outrem pode permitir negar a conexão do risco;
o Útil para o tráfico rodoviário
o O B não respeita o direito de prioridade, colidem e B morre: o A causou a morte ao B, mas não criou o risco; tendo o direito de prioridade,
pode partir do princípio que as pessoas vão cumprir as normas também. Só se tivesse indícios objetivos em contrário é que seria admissível
a imputação.
Distinguir comportamento lícito alternativo de causalidade hipotética: uma causa é virtual quando for comportamento de terceiro ou um evento da natureza.
NOTA: se não há conexão de risco, não significa que o agente não seja punível de todo.
Casos de Causalidade Cumulativa: como se delimita a imputação objetiva nas situações em que uma pluralidade de causas concorre num evento?
São as situações em que se agir de determinada forma contribuo conjuntamente com vários outros para determinado resultado, mas o meu pequeno ato, isoladamente,
não provocará dano nenhum.
A responsabilidade, ou seja, a imputação, nestes casos, passa por uma restrição em função de algum critério de delimitação de esferas de responsabilidade ou de
repartição de competências na vida social.
Causalidade cumulativa ou princípio da confiança? Caso da mãe e do automobilista. Se o passeio era ingreme a mãe não pode dizer que confiava que os carros
iam andar devagar. A mãe teria de contar com o comportamento dos condutores.
Jurisprudência: através do critério de uma razoável previsibilidade pelo agente de uma das causas cumulativos do comportamento ilícito do terceiro. Sempre que o
comportamento ilícito e negligente seja previsível para o outro agente, a violação do dever de cuidado, ou seja, o comportamento negligente ilícito abrange a
potenciação causal do outro comportamento e é essa potenciação que se concretiza no resultado. A dimensão objetiva de uma potenciação de um perigo é articulada
com uma dimensão subjetiva de previsibilidade desse efeito.
Partir das teorias da causalidade, nomeadamente, da causalidade adequada (pressuposta nos arts. 10º e 22º). As teorias do risco passam a funcionar como um
critério corretivo e limitativo dos resultados da causalidade adequada.
Elemento Intelectual: o agente sabe, representa, tem consciência que preenche o tipo de ilícito objetivo
Porquê? Garantir que o agente conhece tudo quanto é necessário a orientar a sua consciência ética para o desvalor jurídico que concretamente se liga à ação
intentada.
• Reporta a situações típicas de encobrimento, ou • Figueiredo Dias: perceber se o • Premissa: conceito de ação de final de
Erro Sobre Qual seja, o agente pratica o facto típico, no entanto, risco que se concretiza no resultado Welzel;
Dos Factos o resultado não se chega a verificar, julgado o pode ainda reconduzir-se ao
• Critério da unidade de ação: se a conduta
Gera o agente que sim; com o intuito de encobrir o esquema de riscos criados pela
do agente é composta por apenas uma
Resultado crime, pratica determinados atos que acabam primeira ação.
decisão (já projetava, de antemão, o
(dollus por gerar o resultado típico. • Se a resposta for afirmativa: encobrimento), deve ser punido por crime
generalis) • Alguma doutrina – solução: punição pela responsabilidade pelo crime consumado (há um dolo geral que engloba
tentativa (primeiro facto) e responsabilidade consumado. toda a conduta do agente);
penal por negligência (se existir para aquele • Se a resposta for negativa: • Se não houver unidade de ação: se a
crime, relativamente ao segundo facto). responsabilidade pela tentativa e, se conduta do agente é composta por duas
existir, negligência. decisões (não projetava, de antemão, o
• Doutrina dominante: entende que estamos
encobrimento/segunda conduta), deve ser
perante um crime consumando.
punido por tentativa + negligência
(relativamente à decisão de 2º ação não se
pode falar em dolo);
• Quando haja uma identidade entre o projetado e o atingido (julgava ser uma pessoa e é outra): é irrelevante para efeitos de responsabilidade.
Erro sobre a No limite, pode servir para excluir o dolo do tipo qualificado, transferindo a responsabilidade nos termos do tipo de ilícito fundamental.
Identidade da
Pessoa a Atingir • Quando o agente erra sobre as qualidades tipicamente relevantes do objeto (exemplo: acha que é um animal mas é uma pessoa): é punido
pela tentativa e, cumulativamente se existir, por negligência;
• A realização do facto típico é o verdeiro fim da conduta do agente (art. 14º/1). Figueiredo Dias fala em dolo direto
Dolo direto intencional ou de primeiro grau.
• A realização do facto típico surge como pressuposto ou estádio intermédio necessário para o agente atingir o seu fim
– meio necessário à realização do fim.
• Dolo necessário ou de segundo grau, no qual a realização do facto típico é uma consequência
Dolo
Dolo Necessário inultrapassável/necessária/inevitável da conduta do agente (art. 14º/2).
• É, por assim dizer, não um meio mas um efeito colateral.
Negligência
Negligência
• A realização do tipo objetivo de ilícito não é nem representada pelo agente (art. 15º/b).
Inconsciente
TEORIAS QUE DISTINGUEM O DOLO EVENTUAL DA NEGLIGÊNCIA CONSCIENTE
MARIA FERNANDA PALMA – CONCEÇÃO EXTROVERTIDA DA VONTADE
® Premissa – filosofia da ação: rejeita a teoria causal naturalista de ação, aderindo à teoria da unidade de ação.
o A teoria causal naturalista de ação reconhece que deve sempre existir um impulso para a ação através de um momento de consciência
cronologicamente anterior à ação. Assim, e sendo a identificação deste impulso crucial para a análise do momento volitivo, esta teoria preconiza uma
separação entre a consciência e a mente.
o Adere à teoria da unidade da ação (filosofia contemporânea), entendendo os comportamentos voluntários e intencionais como uma unidade incindível
entre o comportamento exterior e o processo causal. Assim, a identificação dos estados mentais deixa de exigir uma separação/identificação de um
momento anterior ao comportamento exterior, para se deslocar para um problema concetual, linguístico e comunicacional. A intenção corresponderá
assim a um modo de atribuição e compreensão do significado dos atos.
® A partir desta premissa, o objetivo é criar uma espécie de analogia entre o Dolo Eventual e as outras espécies de Dolo.
o Entre o dolo direto e o dolo necessário há algo em comum, que respeita à aceitação do resultado como inultrapassável.
o No caso do dolo eventual a proximidade é relativamente distinta: está em causa a aceitação inevitável do risco, numa lógica de homem de negócio,
ou seja, aceita ganhar, quer o risco se efetive, quer o risco se não efetive.
o Distinção: no dolo eventual, o agente apenas aceita a inevitabilidade dos riscos.
® Critério: implica a apreciação objetiva da inevitabilidade de um risco intenso, próxima de um juízo de causalidade adequada. Conforme entende a Sr. Prof.,
a inevitabilidade do risco implicará, interna e necessariamente, a consideração séria pelo agente.
o A pergunta que deve ser feita: podia ou não podia não ter considerado a inevitabilidade dos riscos que decorriam da sua conduta?
o Observar a vontade do agente numa perspetiva de linguagem social: ou seja, como se percepciona socialmente a vontade do agente. Mas é a
linguagem social em que o agente se insere. Procurar situações em que o interesse sobrevaloriza o seu interessa ao interesse de tutela do bem
jurídico.
o Alguns critérios:
§ Perceber se o agente é um verdadeiro homem de negócios (sobreposição do interesse aos riscos – lógica empresarial, lógica de
jogo) ou um jogador amador;
§ Apreender o contexto motivacional do agente, que implica já uma antecipação do juízo de culpa – pistas: contexto de leviandade, festejo,
glória, etc, que comprove uma incongruência entre a conduta do agente e o resultado.
® Professor João Matos Viana
o Primeiro - aferição do grau de probabilidade de um ponto de vista objetivo. Analisar se naquela situação era provável que tal efeito se
desencadeasse.
o Segundo - medidas de precaução que o agente tomou para evitar o resultado
o Terceiro - perceber se mesmo assim, num contexto de controlo motivacional, o agente sobrevalorizou os seus interesses pessoais acima da tutela
dos bens jurídicos.
O PROBLEMA DA RESPONSABILIDADE POR NEGLIGÊNCIA – REQUISITOS
Concluída a não existência de dolo do tipo, haverá que equacionar a verificação da negligência:
® Previsão da punibilidade por negligência: art. 13º.
® Punibilidade, concreta, na Parte Especial, da negligência: menção à norma que sustenta a punição por negligência.
® Violação de um dever de cuidado que deveria ter sido observado pelo agente, tendo havido condições para observar o respetivo dever – verificação in casu.