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Para Maria Fernanda Palma e Eduardo Correia, o erro sobre processo causal é irrelevante, exceto nos

crimes de execução vinculada, pois só nesses casos o processo causal constitui um elemento do tipo
Artigo 348º-A – Falsas declarações
objetivo de ilícito, e, por isso, uma circunstância do facto.
1. A teoria da causalidade adequada propõe que apenas sejam relevantes os comportamentos que passam
Existem outros casos, em que se entende que o desvio é irrelevante: casos em que o processo causal
pelo crivo do juízo de prognose póstuma feito pelo julgador.
concreto não dominado pelo agente não só poderia facilmente ser previsto como decorre em sequência do
2. Um comportamento será causa adequada sempre que, colocada uma pessoa média no lugar do agente,
processo posto em movimento pelo agente.
antes da prática do crime, seja previsível aquele resultado como consequência do seu comportamento.
Caso do agente que quer matar a vítima, atirando-a da ponte, concebendo que a mesma vai morrer do
3. Se for imprevisível, ainda que haja causalidade (ditada pelas leis da natureza), não há imputação.
embate na água, mas acontece que a vítima, ao ser atirada, morre logo por embater contra um pilar. Nestes
casos entende-se que este é um desvio irrelevante, porque ainda é o perigo típico contido no
Artigo 349º – Tirada de presos
comportamento do agente que atua para a verificação do resultado.
Adotando um critério de previsibilidade, esta teoria consegue resolver bem os casos de interrupção do nexo
causal e das características especiais da vítima.
Artigo 355º – Dolus generalis
O agente executa, sem o saber, o facto típico por um modo diverso do projetado ou representado, sem
Artigo 350º – Auxílio de funcionário à evasão
consciência disso, verificando-se o resultado em circunstâncias concretas de tempo, lugar ou modo
A teoria do risco conclui que a imputação objetiva não pode ser reduzida à causalidade, na medida em que
diversas.
o comportamento típico é apenas aquele que é juridicamente relevante entre os comportamentos causais
Maria Fernanda Palma segue a doutrina de Welzel: a) Nos casos de “homicídio encoberto” há uma unidade
relativamente ao resultado, isto é, suficientemente ameaçador para os bens jurídicos.
na sequência das duas ações e uma conexão de exclusividade entre a conduta representada e o concreto
processo causal que justifica observá-las apenas como a realização de um único facto típico com um desvio
Artigo 351º – Negligência na guarda
não essencial sobre o processo causal; o agente planeou todo o processo desde o início – erro não essencial,
1. O fator decisivo da imputação objetiva é a criação ou aumento do risco proibido.
não excludente de dolo. Este é o verdadeiro caso de dolus generalis.
2. Num crime de ação:
b) Nos casos em que a decisão de praticar a ação que redunda (inconscientemente) na morte da vida não
a) Situações em que o agente criou ou potenciou risco para o bem jurídico.
foi projetada como sequencial, mas foi fruto de uma decisão momentânea (posterior à ação que deveria
b) O risco é proibido (segundo uma norma de cuidado – o agente viola norma de cuidado). Não se inclui
produzir o resultado típico), a diferenciação entre uma ação dolosa tentada e uma ação negligente
o risco geral de vida: riscos de que não nos podemos desligar mesmo cumprindo as regras, por
consumada qualifica mais corretamente o comportamento do agente – exclui-se o dolo (agente pensa estar
exemplo, condução consoante as regras, mas devido a dilúvio perde-se o controlo do carro; caso se
a atirar um cadáver, não uma pessoa viva). A resposta depende de se o agente podia representar a morte
ultrapasse os limites de velocidade já não estamos dentro do risco geral de vida (Stratenwerth) que é
da vítima através do seu comportamento.
socialmente adequado.
c) O risco proibido criado concretizou-se no resultado.
Artigo 356º – Erro sobre a proibição legal
A ausência de conhecimento sobre uma proibição legal de que depende o ilícito típico esvazia o elemento
Artigo 352º – Evasão
intelectual do dolo e não coloca o agente perante as devidas condições e oportunidades de motivação de
1. Para Maria Fernanda Palma, para que possa haver imputação objetiva, a acusação tem de demonstrar
acordo com o comando emanado da norma penal.
que a criação do risco proibido se veio a desenvolver ao ponto de ser ele que explica o resultado. Tem
Isto é contrabalançado com o facto de existir uma espécie de responsabilidade especial do agente pela
de haver uma ação controlável pelo agente em sentido normativo.
autocolocação numa posição de ignorância perante o facto, tal como acontece nas situações de indiferença
2. Quando é claro que não existe a concretização do risco proibido criado/aumentado pelo agente no
perante o resultado típico. Nos casos de atividade profissional, a obtenção de informação sobre a proibição
resultado típico?
legal é condição do próprio reconhecimento e aceitação social dessa atividade.
d) Situações em que é o próprio fim da norma violada que revela que esse nexo não pode existir. Ex:
automóvel que, violando regras de velocidade, vem a bater num motociclista, fazendo-o projetar para
campo lateral, onde, por azar, vai cair dentro de um poço que não estava devidamente tapado.
e) Situações do comportamento lícito alternativo – verifica-se que, para além do comportamento do
agente, há outros comportamentos e fatores acidentais provocados pela própria vítima.

Artigo 353º – Erro na execução (aberratio ictus)


Uma pessoa quer matar outra, dirigindo o seu comportamento para tal, mas, por deficiência da execução
ou por um motivo exterior (ex: rajada de vento), vai atingir um terceiro.
Há uma falta de domínio/condução sobre a ação concreta que se veio a realizar.
Para Maria Fernanda Palma tem sentido excluir o dolo, pelo 16º/1 e qualificar o comportamento do agente
como tentativa porque o agente pratica uma ação controlada pela vontade que não consegue consumar e
consuma outra que não é controlada finalisticamente.

Artigo 354º – Erro sobre o processo causal


Por exemplo, o agente concebe matar outra pessoa com um disparo e a vítima, ferida, vem a morrer num
desastre a caminho do hospital devido ao acidente.

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