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I. Princípio da legalidade
I.
O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Nullum crimen, nulla poena sine lege
1. NULLUM CRIME SINE LEGE
A punição requer descrição e imposição de uma sanção como consequência jurídica.
Liszt: o direito penal constitui uma magna Charta do criminoso (para o agente mais hábil, refinado e rico e
poderoso).
2. NULLA POENA SINE LEGE
29º3: “Não podem ser aplicadas penas ou medidas de segurança que não estejam expressamente
ominadas em lei anterior”.
Veda ao juiz a criação de instrumentos sancionatórios criminais que não se encontrem estritamente
previstos em lei anterior.
3. Lei
ARTIGO 29.º CRP
(Aplicação da lei criminal)
1. Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior que declare
punível a acção ou a omissão, nem sofrer medida de segurança cujos pressupostos não
estejam fixados em lei anterior.
2. O disposto no número anterior não impede a punição, nos limites da lei interna, por acção
ou omissão que no momento da sua prática seja considerada criminosa segundo os princípios
gerais de direito internacional comummente reconhecidos.
3. Não podem ser aplicadas penas ou medidas de segurança que não estejam expressamente
cominadas em lei anterior.
4. Ninguém pode sofrer pena ou medida de segurança mais graves do que as previstas no
momento da correspondente conduta ou da verificação dos respectivos pressupostos,
aplicando-se retroactivamente as leis penais de conteúdo mais favorável ao arguido.
5. Ninguém pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime.
6. Os cidadãos injustamente condenados têm direito, nas condições que a lei prescrever, à
revisão da sentença e à indemnização pelos danos sofridos.
Artigo 1.º CP
Princípio da legalidade
1 - Só pode ser punido criminalmente o facto descrito e declarado passível de pena por lei
anterior ao momento da sua prática.
2 - A medida de segurança só pode ser aplicada a estados de perigosidade cujos pressupostos
estejam fixados em lei anterior ao seu preenchimento.
3 - Não é permitido o recurso à analogia para qualificar um facto como crime, definir um
estado de perigosidade ou determinar a pena ou medida de segurança que lhes corresponde.
Não pode haver crime, nem pena, que não resultem de uma lei prévia, escrita, estrita e
certa.
4. Fundamentos
5. Âmbito de aplicação
Matéria que fundamenta ou agrava a responsabilidade do agente.
Não abrange as causas de justificação nem as causas de exclusão da culpa.
6. Âmbito da fonte
Exigência de lei formal [AR/GOV autorizado] para definir o regime dos crimes, das
penas, e das medidas de segurança e seus pressupostos.
9. Proibição da analogia
Casos De Equiparação
1. Competência geral pela organização do mundo, da qual deriva a responsabilidade
pelo risco.
Atribuição do processo danoso à organização do sujeito
2. Estatuto pessoal de que decorre uma específica competência para a proteção dos
bens jurídicos
Steps
1. Verificar se o comportamento aparentemente omissivo é tipicamente equiparável
ao comportamento ativo na perspetiva de uma ação socialmente significativa.
2. Não inclusão da omissão no tipo legal construído para um conceito de ação que o
não incluiria verificação de um estatuto especial condição da imputação
penal e da extensão de tipicidade
FERNANDA PALMA
Setores em que o agente tem um dever especial de organização do mundo exterior
Vg. Equiparação do médico responsável pelo doente ligado à máquina que desliga ou que
simplesmente não a volte a ligar – para Jackobs omissão por fazer.
Utilizando uma teoria não naturalista sobre a ação, não se pode praticar uma distinção entre
ação e omissão naturalista ou implicitamente naturalista para o efeito de aplicação do art.
10º2CP [remetendo-lhe os não fazeres físicos].
A teoria social da ação faz o facto típico absorver comportamentos não puramente positivos e
não fisicamente causais.
ART. 10º2
Cláusula restritiva Cláusula extensiva
Delimitação da omissão como restrição da Critério da ação social cláusula extensiva da
tipicidade tipicidade
Genérica equiparação da ação à omissão, em que a voluntariedade é a evitabilidade fundada na
possibilidade da ação que impediria o resultado prescindência de um requisito comportamental mínimo.
IV.
OMISSÃO PURA VS OMISSÃO IMPURA
Crimes Excluídos
Aqueles cuja execução exige, para a
tipicidade, certas modalidades da ação
132º2g, 146º, 154º, 217º1 (numa interpretação
telológica)
1. IMPUTAÇÃO OBJETIVA
①
Produção do resultado típico
Falta 22º1 tentativa face à resolução do sujeito não evitar o resultado
②
Não execução da ação fisicamente possível de evitar o resultado 10º1
Impossibilidade é causa de atipicidade do comportamento
a. Incapacidade corpórea/física de ação;
b. Distância física;
c. Incapacidade técnica;
d. Falta de conhecimentos;
e. Falta de meios de auxílio;
③
Causalidade da omissão – imputação do resultado ao omitente
Conexão de risco: a ação devida é a que teria diminuído o risco de verificação do resultado típico.
ROXIN: o resultado é imputável à imissão se a diminuição do risco aparecer como possível segundo
uma consideração ex ante e ex post.
Não há omissão se ex post se comprovar que o comportamento lícito alternativo em nada teria servido para o
resultado; E se a dúvida permanecer, também não há omissão, por força do in dúbio pro reo.
ANTÓNIO VELOSO: a ação devida e omitida teria certamente evitado o resultado o critério do
aumento do risco aplicado às omissões, na perspetiva moderna, imputa quando se pode afirmar que a
ação devida teria diminuído o risco de produção do resultado.
④
Posição de garante de quem omite 10º2
Dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar esse resultado fundamentos do dever
A. Teoria formal
a. Lei
b. Contrato
c. Ingerência atuação precedente geradora de perigos
d. Estreita comunidade de vida e de perigos
B. Teoria Material
Liga a infração dos deveres a um sentido de ilicitude material, fundamentando os deveres na
1) Função de guarda de um bem jurídico em concreto
a. Dever de proteção
b. Dever de assistência
2) Função de vigilância de uma fonte de perigo
c. Dever de segurança
d. Dever de controlo
2. IMPUTAÇÃO SUBJETIVA
CAVALEIRO FERREIRA
a única fonte possível do dever de garante é a lei penal, sob pena de clara violação do
princípio da legalidade.
CÓDIGO ESPANHOL
Concepção tripartida tradicional: enumera taxativamente as concretas fontes do dever jurídico
de atuar.
1. Lei
2. Contrato
3. Ingerência
FIGUEIREDO DIAS
Iure Condito
Recebe a doutrina alemã de doutrina das posições de garante, aceite a partir de planos que
complementam os tipos.
Liga-se o dever de garantia à proximidade do agente com certos bens jurídicos e
determinadas fontes de perigo – antes que diretamente à lei, ao contrato e à ingerência
{fundamentos positivos}. Esta posição tem abrigo na lei através do vocábulo pessoalmente
no art. 10º2.
Função propulsora ou promocional de bens jurídicos, radicada no étimo ser com os outros.
Iure Condendo
Até hoje não se conseguiu ainda ser mais preciso na via de determinabilidade dos tipos de
comissão por omissão, nomeadamente, criando tipos paralelos aos dos crimes de resultado
em todos e cada um dos casos em que se entende que a comissão por omissão deve ser
punida.
Uma tal criação seria todavia indispensável – para além de quaisquer lucubrações
teoréticas e construtivas – para oferecer ao crime de comissão por omissão a mesma
determinabilidade que possuem os crimes de comissão por ação. Não sendo assim, parece
que devemos resignar-nos à medida de relativa indeterminação nesta matéria
inevitavelmente reinante – como noutras de resto, máxime, em certos “delitos de dever” e,
de um modo geral, em todos os “tipos abertos” ou necessitados de completação judicial – e
considerar que ela ainda é compatível com o princípio jurídico-constitucional da legalidade
e suportável à luz do seu sentido garantístico essencial. Ponto é que se alcance uma
determinação rigorosa dos concretos deveres de garantia; e que, consequentemente, o seu
catálogo seja o mais estrito e determinado possível, devendo recursar-se que aí reentrem
ainda uma vez cláusulas gerais mais ou menos indeterminadas; ou mesmo uma exagerada
funcionalização do catálogo que faça perder o conteúdo material de que justamente se
pretende ver dotada a doutrina dos deveres de garante como forma de salvaguardar a sua
constitucionalidade.
Satisfeitas estas exigências, tudo se tornará questão de hermenêutica do específico tipo
legal de ação, em conjugação com a cláusula de equiparação do art. 10º. É, afinal, o próprio
legislador que encaminha o aplicador para um percurso lógico-interpretativo por si mesmo
estabelecido, reconhecendo, pragmaticamente, que a profunda diversidade das situações
subsumíveis à comissão por omissão encontre num regime como o previsto aquele que menos
escolhos oferece ao domínio da matéria.
BACIGALUPO
A proximidade é dada pela relação social que o agente mantém com o titular do bem jurídico
ANDRÉ LEITE
Estas Categorias são já hoje susceptíveis de definição legal e deverão, por isso, no futuro,
constar – de forma esgotante ou sob forma de uma espécie de exemplos-padrão – do texto do
art. 10º2.
FIGUEIREDO DIAS: esta proposta parece-nos de aplaudir, constituindo uma contribuição
importante para uma realização mais plena do princípio nullum crimen sine lege nesta
matéria.