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ASPECTOS LEGAIS DA

INSP. DE EQUIPAMENTOS
CURSO DE FORMAÇÃO DE INSPETOR DE EQUIPAMENTOS
BLACK BULL COMPANY | TREINAEND - DEPARTAMENTO EDUCACIONAL
Este curso e material didático foram desenvolvidos pela TREINAEND.
A TREINAEND é o departamento educacional da BLACK BULL COMPANY que visa ao
aperfeiçoamento do profissional da indústria.
Prezado(a) estudante,

Você que está aqui, estudando para se tornar um(a) Inspetor(a) de Equipamentos,
como imagina ser uma grande indústria? Você vê grandes equipamentos e máquinas?
É claro que sim. A tecnologia é parte fundamental de qualquer indústria. O(A)
técnico(a) de Inspeção de Equipamentos é o(a) responsável por garantir a
continuidade, segurança operacional e integridade estrutural dos equipamentos e
instalações das indústrias onde atua.

Este(a) técnico(a) é o(a) responsável pela integridade estrutural e segurança


operacional dos diversos sistemas de uma indústria, tais como dutos, vasos, torres,
reatores, trocadores de calor, caldeiras e demais equipamentos nos mais diversos
tipos de instalações on ou off-shore. Também são atribuições deste(a) profissional a
execução ou testemunho de ensaios destrutivos, não destrutivos e metalográficos,
testes de pressão, calibração de instrumentos de inspeção, de cálculo de taxa de
corrosão e definição da vida residual dos sistemas.

Esta apostila faz parte do seu programa de estudos. Nela você vai adquirir
conhecimentos importantes na sua preparação profissional. Lembre-se o quanto é
importante a profissão de Inspetor(a) de Equipamentos, esta lembrança sempre será
incentivo ao seu estudo. Nosso maior tesouro é a educação, ela é a garantia de um
futuro honroso e promissor.

Desejamos a você um excelente aprendizado!

Black Bull Company | Treinaend


CURSO DE FORMAÇÃO DE INSPETOR DE EQUIPAMENTOS
MÓDULO DE CONHECIMENTOS BÁSICOS
DISCIPLINA: ASPECTOS LEGAIS DA INSPEÇÃO DE EQUIPAMENTOS

1. ASPECTOS LEGAIS DO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO


Há tempos atrás, as pessoas viam-se sem ter com quem e onde reclamar sobre
os abusos, as lesões ou práticas abusivas praticadas por pessoas físicas ou jurídicas,
estas últimas através dos seus agentes em decorrência da prestação e/ou
fornecimento de serviços.
Atualmente, e principalmente após a promulgação da Constituição da
República de 1988, com o advindo da Lei 8.078/90, muito conhecida como Código de
Defesa do Consumidor, e da Lei 9.099/95, que no âmbito estadual criou os Juizados
Especiais, a maioria das pessoas têm consciência de que podem procurar o Poder
Judiciário para dirimir os conflitos de qualquer extensão e natureza.
Vê-se com clareza e facilidade no dia a dia que a sociedade cobra o respeito aos
seus direitos daqueles que atuam fora de especificações pré-determinadas.
Na área da saúde, por exemplo, são inúmeros os casos, no Brasil, de ações
judiciais procedentes, condenando o médico que no exercício da profissão, causou
dano ao paciente. Reparação esta moral, estética e material, reparações
independentes entre si. Isto sem contar o processo penal que pode culminar com uma
condenação privativa de liberdade.
Os profissionais de inspeção de equipamentos, assim com os de END, também
estão sujeitos a serem responsabilizados pelos danos causados a alguém ou ao bem de
alguém.
É importante destacar que o Judiciário pode ser buscado no âmbito cível e/ou
âmbito penal, logo pode ser apurado o dano em duas ações separadas, que vão gerar
cada uma na sua área, uma espécie de condenação ao causador do dano.
Sem dúvida, submeter-se ao julgamento de qualquer um dos processos acima
mencionados é desagradável e desgastante, considerando que além destes, os
profissionais também serão submetidos a processo administrativo junto à entidade de
classe.
Em suma, verifica-se que o profissional que no seu agir ou na omissão causar
dano a alguém pode responder em três esferas independentes, mas não diferentes, eis
que todas vão apurar a conduta do agente causador do dano:
• Administrativa – pode perder o registro profissional;
• Cível – pode ser condenado à reparação, respondendo com seu
patrimônio pessoal;
• Criminal – tem como pena mais grave a condenação à pena privativa de
liberdade. Nas infrações de menor potencial ofensivo (previstas
legalmente) não há privação de liberdade, há o cumprimento de
obrigações, como veremos adiante.

1.1 Responsabilidade civil

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Significa a obrigação de reparar o dano, oriundo de um ato ilícito ou previsto


em lei.
No que tange os atos previstos em lei, o Código Civil no artigo 188 elenca os
atos que são lícitos, mas que podem gerar danos. Chamamos atenção: não é porque o
ato é lícito por força de lei que a vítima do dano não poderá pleitear indenização ao
seu causador. Este direito está previsto no artigo 927 deste mesmo diploma legal,
valendo transcrevê-lo:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.”
Para configuração de um ato ilícito e nascimento da responsabilidade civil, o artigo 186
exige a presença de quatro requisitos:

a) CONDUTA – é ela que causa o dano a alguém. Pode ser:


a.1) Comissiva: a ação causa o dano;
a.2) Omissiva: a pessoa tem o dever praticar um ato, mas deixa de cumpri-lo.
Esta omissão causa o dano.
b) DANO – é uma lesão a um bem jurídico.
Este bem pode ser moral, quando atingir a imagem, a honra, o nome, entre
outros e pode ser material, quando causar prejuízo patrimonial ou financeiro.
No primeiro, a reparação será por arbitramento do juiz e o segundo será o
pagamento no valor do prejuízo e do lucro cessante.
c) CULPA – judicialmente, será apurado se houve a intenção do agente
causador (dolo) em praticar o ato ou houve a inobservância de um dever de
cuidado, seja pela negligência, imperícia ou imprudência do agente.
c.1) Imprudência: Consiste na falta involuntária de observância de
medidas de precaução e segurança, de conseqüências previsíveis, que se
faziam necessárias para evitar um mal ou uma infração à lei.
Ex: falta de atenção
c.2) Imperícia: É a inaptidão especial, a falta de habilidade ou
experiência, ou mesmo de previsão, no exercício de determinada
atividade.
Ex: falta de qualificação para a execução de ensaios não destrutivos.
c.3) Negligência: Representa uma omissão voluntária de diligência ou
cuidados que o bom senso aconselha, em circunstâncias de
conseqüências previsíveis.
Ex: suprimir etapas de inspeção.
d) NEXO OU NEXO DE CAUSALIDADE – é a ligação entre a conduta e o dano
(como resultado).

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Verificados os requisitos para configuração da responsabilidade civil, veremos que esta


se divide em dois tipos distintos: responsabilidade objetiva e subjetiva.
1.1.1 Responsabilidade objetiva
É o tipo de responsabilidade na qual o agente causador do dano deverá repará-
lo sem que seja apurado ou até mesmo provado o elemento culpa (se teve ou não a
intenção de lesionar).
Respondem objetivamente pelo dano o fornecedor e o prestador de serviços,
ou seja, a empresa.
A jurisprudência predominante nos Tribunais indica que a empresa tem como
verdadeiro risco do empreendimento assumir a responsabilidade perante a vítima no
lugar daquele profissional incapaz de exercer adequadamente as suas funções, pois o
que é exposto no momento da lesão é o nome desta empresa, que é mais fácil de
identificar para a vítima.

1.1.2 Responsabilidade subjetiva


É aquela relativa ao profissional, à pessoa. Aqui sim, será apurado o elemento
culpa, ou seja, se a pessoa agiu ou deixou de agir da forma que deveria.
Importante ressaltar que o profissional liberal – engenheiros, advogados,
médicos, etc. – assume obrigação de meio, isto é, no decorrer do serviço prestado
utilizará todas as formas possíveis para atingir o objetivo final. Por isso, a culpa deverá
ser apurada e este profissional deverá comprovar que não agiu de forma ilícita
causando dano a alguém ou ao patrimônio de alguém.
1.1.3 Ação civil pública
Além da ação judicial que pode ser proposta individualmente, isto é, a própria
vítima do dano, procura o Estado. Representado pelo Juiz, conforme vimos acima, a
ação civil pública é uma ação é movida pelo Ministério Público que, em nome de um
grupo de pessoas ou da coletividade, que sofreu a lesão, visando garantir o direito
destes.
1.2 Responsabilidade criminal
Após o inquérito policial, que visa apurar a infração e qual é o autor, no Juízo
Criminal o profissional poderá ser obrigado a submeter-se às sanções determinadas na
lei.
Basicamente, a diferença entre crime e infração penal consiste em:
a) Crime: tem pena privativa de liberdade, previsto no artigo 18 do Código
Penal. Há diferença entre o crime doloso e o culposo, dentre outros, vale trazer
à baila a redação do artigo 132 deste que determina:
“Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente. Pena –
detenção de 03 meses a 01 ano, se o fato não constitui crime mais grave.”
b) Contravenção penal: é a prevista em lei, que cominará pena de prisão
simples ou de multa. Esta multa pode ser o pagamento de um valor, perda de

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um bem, prestação de serviços sociais gratuitos em benefício da comunidade


ou de alguma entidade pública, entre outras.

1.3 Processo por infração profissional


Poderá ainda o profissional da área de inspeção responder por processo de
infração profissional junto à entidade de classe, neste caso, ao CREA, pelo exercício
ilegal da profissão ou exercício profissional antiético, podendo ser enquadrado como
infração ao código de ética ou crime infamante.
As responsabilidades técnicas devem ser orientadas pela Lei N°5194 de 1966
que normaliza todas as atividades de Engenharia, delimitando o âmbito de seu
exercício e fixando as atribuições profissionais em linhas gerais.
Os preceitos éticos, por sua vez, foram relacionados na Resolução N°205/71 do
CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), que normaliza a
conduta que cerca o exercício da atividade do profissional com relação aos colegas,
aos seus subordinados, à sociedade e à técnica.

2. CONCLUSÃO
O acesso da população aos meios de comunicação (rádio, televisão, jornais,
entre outros) auxilia muito na conscientização dos seus direitos. Observa-se, também,
que o próprio Poder Judiciário nos últimos anos vem buscando facilitar o acesso à
prestação da atividade jurisdicional, tomando como exemplo, a criação dos Juizados
Especiais, na qual a própria pessoa, dependendo do caso, pode ingressar com uma
ação sem assistência de um advogado.
Por isso, a importância do profissional de qualquer área, inclusive o profissional de
engenharia trabalhar visando o êxito da sua atividade sem esquecer dos cuidados
necessários no exercício da profissão dia após dia, seja com os demais profissionais, no
uso dos equipamentos de segurança, seja com terceiros, que podem indiretamente,
estarem submetido a algum tipo de risco devido o trabalho executado.

A Constituição Federal

De todas atribuições de um presidente da República, uma das mais fundamentais é


zelar pela Constituição da República. O documento é um conjunto de regras de
governo que rege o ordenamento jurídico de um País. A versão em vigor atualmente --
a sétima na história do Brasil-- foi promulgada em 5 de outubro de 1988. O texto
marcou o processo de redemocratização após período de regime militar (1964 a 1985).

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Em países democráticos, a Constituição é redigida por uma Assembleia Constituinte,


formada por representantes escolhidos pelo povo. No Brasil, a Constituição de 1988 foi
elaborada pelo Congresso Constituinte, composto por deputados e senadores eleitos
democraticamente em 1986 e empossados em fevereiro de 1987. O trabalho,
concluído em um ano e oito meses, permitiu avanços em áreas estratégicas como
saúde (com a implementação do Sistema Único de Saúde), direito da criança e do
adolescente e novo Código Civil.

As normas previstas no texto consideradas irrevogáveis são chamadas cláusulas


pétreas (não podem ser alteradas por emendas constitucionais). Entre elas estão o
sistema federativo do Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação
dos Poderes; e os direitos e as garantias individuais. Mudanças pontuais no texto da
Constituição estão previstas e podem ser feitas através de emenda constitucional.
Após 22 anos em vigor, a Constituição brasileira recebeu mais de 60 alterações.

A Constituição deve regular e pacificar os conflitos e interesses de grupos que


integram uma sociedade. Para isso, estabelece regras que tratam desde os direitos
fundamentais do cidadão, até a organização dos Poderes; defesa do Estado e da
Democracia; ordem econômica e social.

Veja abaixo a estrutura da Constituição de 1988:

- Título I - Princípios Fundamentais


- Título II - Direitos e Garantias Fundamentais
- Título III - Organização do Estado
- Título IV - Organização dos Poderes
- Título V - Defesa do Estado e das Instituições
- Título VI - Tributação e Orçamento
- Título VII - Ordem Econômica e Financeira
- Título VIII - Ordem Social
- Título IX - Disposições Gerais

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Para explorar o conteúdo

Imagine a seguinte situação hipotética (adaptada do caso concreto):

José estava conduzindo normalmente seu veículo em uma via de mão dupla quando
foi “fechado” pelo carro de Paulo, que dirigia imprudentemente. Em razão desse fato,
o veículo de José entrou na contramão e atingiu Pedro, que pilotava uma moto.

Por conta do acidente, Pedro teve amputada uma das pernas.

Ação de indenização

Pedro ingressou com ação de indenização contra José cobrando danos materiais,
morais e estéticos. No que tange aos danos materiais, o autor pediu que o réu fosse
condenado a custear as despesas com o tratamento de saúde e a pagar uma pensão
mensal até o final da vida de Pedro.

Contestação

Em sua contestação, José alegou que:

a) Não foi o culpado pelo acidente, tendo agido com base em estado de necessidade;

b) Ainda que fosse culpado, não havia fundamento jurídico para que fosse condenado
a pagar uma pensão mensal à vítima;

c) Ainda que fosse condenado a pagar uma pensão mensal, esta deveria ser fixada até
o dia em que a vítima completasse 65 anos;

d) Não seria possível a cumulação de danos morais e estéticos, considerando que este
estaria necessariamente abrangido por aquele.

Responda as perguntas a seguir segundo a jurisprudência do STJ:

a) José tem o dever de indenizar a vítima, mesmo tendo agido sob estado de
necessidade?

SIM, persiste seu dever de indenizar.

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O ato praticado em estado de necessidade é lícito, conforme previsto no art. 188, II, do
CC:

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover


perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.

No entanto, mesmo sendo lícito, não afasta o dever do autor do dano de indenizar a
vítima quando esta não tiver sido responsável pela criação da situação de perigo. É o
que preconiza o art. 929 do CC:

Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram.

Desse modo, o causador do dano, mesmo tendo agido em estado de necessidade,


deverá indenizar a vítima e, depois, se quiser, poderá cobrar do autor do perigo aquilo
que pagou:

Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver
ressarcido ao lesado.

Logo, José, mesmo tendo agido em estado de necessidade, tem o dever de indenizar
Pedro, considerando que este não foi o autor do perigo. Após pagar a vítima, José
poderá ajuizar ação regressiva cobrando de Paulo o que pagou.

Repare que se trata de algo bem interessante: o autor do dano agiu de forma LÍCITA
uma vez que estava sob o manto do estado de necessidade, no entanto, mesmo assim
tem o dever de indenizar.

O Min. Sanseverino explica que o fundamento para essa opção legislativa é a


equidade, aplicando-se a chamada teoria do sacrifício, bem desenvolvida pelo
doutrinador português J.J. Gomes Canotilho (O problema da responsabilidade do
estado por actos lícitos. Coimbra: Almedina, 1974).

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Pela teoria do sacrifício, diante de uma colisão entre os direitos da vítima e os do autor
do dano, estando os dois na faixa de licitude (os dois comportamentos são lícitos), o
ordenamento jurídico opta por proteger o mais inocente dos interesses em conflito (o
da vítima), sacrificando o outro (o do autor do dano).

b) Há fundamento jurídico para que José seja condenado a pagar uma pensão mensal à
vítima?

SIM, havendo previsão no art. 950 do CC:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu
ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além
das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá
pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da
depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja


arbitrada e paga de uma só vez.

O art. 950 afirma que, a se lesão provocada reduzir ou impossibilitar a capacidade de


trabalho da vítima, o autor do dano deverá pagar como indenização:

• Despesas do tratamento de saúde;

• Lucros cessantes até ao fim da convalescença;

• Pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da


depreciação que ele sofreu.

c) Até quando essa pensão deverá ser paga? Até 65 anos, com base na expectativa de
vida da vítima?

NÃO. Não se considera para efeito de concessão da pensão a expectativa de vida do


ofendido, como ocorre no caso de homicídio:

Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:

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II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em


conta a duração provável da vida da vítima.

No caso de indenização por dano à saúde da vítima que gerou redução ou


impossibilidade permanente de trabalho, o fundamento para a indenização é o art.
950 do CC, que não estabelece limite de tempo para essa pensão. Logo, entende-se
que se trata de uma pensão vitalícia, ou seja, que perdurará até a morte do ofendido.

Trata-se de uma solução legal justa e lógica, considerando que, após atingir essa idade-
limite (65 ou 70 anos de idade), o ofendido continuará necessitando da pensão e talvez
de modo ainda mais agudo, em função da velhice e do incremento das despesas com
saúde.

d) É possível a cumulação de danos morais e estéticos?

Claro, trata-se de tema pacificado. Nesse sentido:

Súmula 387-STJ: É possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral.

As respostas para essa questão foram baseadas em um recente julgado da Terceira


Turma do STJ (REsp 1.278.627-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
18/12/2012).

Vale ressaltar, no entanto, que o enunciado da questão acima proposta foi apenas
inspirado no caso concreto julgado pelo STJ, possuindo algumas diferenças.

Questões comentadas - Responsabilidade do Estado

Questão 1:

Considerando a responsabilidade Civil do Estado e a aplicação da Responsabilidade


objetiva, é correto afirmar:

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a) Se o dano for causado por omissão e não por ação do agente, o Estado não está
obrigado a reparar o dano ou de indenizar o terceiro prejudicado.

b) O Estado só responderá por danos causados pelos seus agentes a terceiros, se


provado que aqueles agiram com dolo ou culpa.

c) O Estado só responderá por danos causados a terceiros se decorrentes de


fenômenos da natureza ou provocados por terceiros, porque a responsabilidade civil é
objetiva.

d) A culpa da vítima, mesmo que exclusiva, não exclui a responsabilidade civil do


Estado, porque essa é objetiva.

e) As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço


público responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, independentemente de prova de culpa no cometimento da lesão.

Comentário:

A) Errada. Afinal, tanto por ação quanto por omissão o estado será responsabilizado. A
diferença é que nos casos de ação a responsabilidade será objetiva (independente da
comprovação de dolo/culpa) e a por omissão será subjetiva (dependente da
comprovação da culpa).

B) Errada. Pois ele especificou demais e acabou deixando de lado a responsabilidade


objetiva (aquela que independe de dolo/culpa).

C) Errada. Ele misturou tudo. Lembre-se que: Caso Fortuito, Força Maior e Culpa
Exclusiva da vítima excluem a responsabilidade do Estado. Logo o Estado não
responderá. Além de generalizar: dizer que o estado só responderia em dois casos,
deixou de citar a outra hipótese, qual seja: Força Maior.

D) Errada. A Culpa Exclusiva da vítima exclui a responsabilidade do Estado.

E) Correta. Questão Auto-Explicativa.

Questão 2:

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Caso um servidor público de uma autarquia cause dano a terceiros, no exercício de


suas atribuições, o servidor estará submetido ao regime de responsabilidade civil:

a) objetiva, assim como a autarquia a que pertence.

b) subjetiva, assim como a autarquia a que pertence.

c) objetiva, enquanto a autarquia a que pertence, estará sujeita ao regime da


responsabilidade civil subjetiva.

d) objetiva ou subjetiva, conforme respectivamente a autarquia preste serviço público


ou não, valendo a mesma regra para a definição do regime da responsabilidade civil da
autarquia.

e) subjetiva, enquanto a autarquia a que pertence estará sujeita ao regime da


responsabilidade civil objetiva.

Comentário:

Lembre-se caso o servidor cause um dano no exercício de suas atribuições estará


representando a autarquia. E caso seu ato seja ilícito e gere dano ao ente para o qual
ele trabalha, o ente pode dele cobrar o custo da indenização.

Logo teremos a seguinte forma de cobrança:

1) O particular prejudicado cobrará do ente (Responsabilidade Objetiva - Ausência de


Dolo/Culpa).

2) o Ente cobrará do agente/funcionário (Responsabilidade Subjetiva - Comprovação


de Dolo/Culpa) Famosa: Ação de Regresso.

Gabarito: E

Questão 3:

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A responsabilidade civil objetiva da Administração Pública compreende os danos


causados aos particulares, até mesmo:

a) sem haver culpa ou dolo do seu agente, pelo ato ou fato danoso.

b) quando houver culpa do respectivo paciente.

c) sem nexo causal entre o fato e o dano.

d) quanto aos atos predatórios de terceiros e fenômenos naturais.

e) quando seu agente não agiu nessa condição, ao causa o dano.

Comentário:

Lembre-se: responsabilidade objetiva não há culpa nem dolo.

Gabarito: A

Questão 4:

Nas hipóteses de o servidor ser absolvido em processo criminal por ter sido negada a
autoria do fato que lhe era imputado, eventual sanção decorrente de responsabilidade
administrativa pelo mesmo fato:

a) dependerá de prévia autorização do juiz que presidiu o processo criminal.

b) somente será aplicada caso haja concomitante responsabilização civil.

c) poderá ser aplicada, haja ou não dano a ser ressarcido, independentemente da


absolvição criminal.

d) deverá ser aplicada para fins de ressarcimento de dano causado ao erário.

e) deverá ser afastada, por expressa determinação legal.

Comentário:

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A questão trata da comunicabilidade das instâncias (civil, administrativa e penal),


atente-se para as seguintes regras:

Regra: As instâncias são independestes e cumulativas, ou seja, a absolvição ou


condenação em uma delas não gera absolvição ou condenação em outra delas.

2) Devido à força da esfera penal, a condenação na esfera penal gera condenação nas
demais instâncias.

3) A absolvição na esfera penal apenas por Inexistência de Fato ou Negativa de Autoria


gera absolvição nas demais.

Gabarito: E

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