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8) CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE

São causas que rompem o nexo de causalidade, ou seja, não haverá dever
de indenizar, não haverá responsabilidade civil.
São elas:

a) Estado de necessidade
O estado de necessidade está previsto no art. 188, inciso II, do CC.

CC, Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a


fim de remover perigo iminente.

Conceito
O estado de necessidade é a conduta de deterioração ou destruição de bem
jurídico alheio, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente.

O ato apenas será considerado legítimo quando as circunstâncias o tornarem


absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a
remoção do perigo, nos termos do parágrafo único do art. 188 do CC. Não
pode haver excesso.

Doutrina: a agressão deve ter por objeto bem jurídico de valor igual ou
inferior àquele que se pretende proteger.

E se tiver agido com excesso?


Resposta:
A conduta deve ser proporcional, assim, caso haja excesso, restará
configurado o abuso de direito, ocasionando responsabilidade objetiva.

E se atingir bem de terceiro inocente?


Resposta: o terceiro inocente deverá ser indenizado por aquele que agiu
sob o manto da excludente, cabendo-lhe ação de regresso em face do
verdadeiro causador do perigo. (arts. 929 e 930 do CC).

CC, art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II


do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à
indenização do prejuízo que sofreram.

CC, art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa
de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.

Exemplo: condutor, para não atropelar criança, colide com um muro. O


proprietário do muro deverá ser ressarcido pelo condutor, tendo este ação de
regresso em face dos ascendentes do menor. Trata-se de dever de indenizar
pela prática de um ato lícito. Tal responsabilidade demanda análise de culpa.

Ataque de um animal?
Resposta: se o animal não estiver sob o comando de algum humano para
fazer o ataque, é estado de necessidade.

Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho explicam:


A diferença entre estado de necessidade da legítima defesa, reside no fato
de que “o agente não reage a uma situação injusta, mas atua para subtrair
um direito seu ou de outrem de uma situação de perigo concreto”.

Seguindo a influência do direito penal, há quem realize distinção entre estado


de necessidade defensivo e agressivo. No defensivo, o agente, com o
escopo de preservação de bem jurídico próprio ou alheio, sacrifica bem
pertencente ao causador da situação de perigo. Já no agressivo, o agente,
com o escopo de preservação de bem jurídico próprio ou alheio, sacrifica
patrimônio de terceiro.

Importante: A decisão penal que haja reconhecido a prática da conduta em


estado de necessidade faz coisa julgada no cível.

CP, Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter
sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

CP, Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação
civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente,
reconhecida a inexistência material do fato.

b) Legítima defesa

A legítima defesa está prevista no art. 188, inciso I, do CC.

CC, art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito


reconhecido;
CP, Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente
dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem.

Assim, ocorre quando o agente, usando moderadamente dos meios


necessários, reage a uma agressão injusta, atual ou iminente, a direito
próprio ou alheio.

E se agir com excesso?

Resposta: O excesso resulta no dever de indenizar, caracterizando abuso de


direito e acarretando responsabilidade objetiva.

Tanto no estado de necessidade como na legitima defesa, se for atingido


interesse de terceiro inocente, deverá este ser indenizado por quem agiu
amparado pela excludente, o qual terá ação de regresso em face do
verdadeiro causador do dano. Tal responsabilidade demanda análise de
culpa.

CC, art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa
de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.

Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem


se causou o dano (art. 188, inciso I).

E a legitima defesa putativa?


Legitima defesa putativa é aquela defesa que a pessoa imagina, acredita
estar diante de um ataque, erro na apreciação dos fatos. Não isenta o seu
autor da obrigação de indenizar.

Ataque de animal é estado de necessidade ou legítima defesa?


Resposta: depende.

Se no criminal for reconhecida a legitima defesa, esta influencia no cível, isto


é, faz coisa julgada no cível.

CP, Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter
sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

c) Exercício regular de um direito


Trata-se de excludente de responsabilidade prevista no art. 188, inciso I, do
CC.
Exemplos: pequenas violações à integridade física em função de práticas
esportivas autorizadas.

CC, art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito


reconhecido;

E se agir com excesso?


Resposta: O excesso caracterizará abuso de direito, gerando
responsabilidade objetiva.
E se atingir terceiro?
No exercício regular de um direito, o agente causar lesão a bem jurídico de
terceiro, haverá dever de indenizar.

E o estrito cumprimento de um dever legal?


Não está no artigo 188 do CC, mas é aceito é aceito por doutrina e
jurisprudência como causa excludente da ilicitude.
CP, art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

d) Caso fortuito e força maior


O caso fortuito e a força maior excluem a responsabilidade civil porque, em
ambas as hipóteses, “inexiste relação de causa e efeito entre a conduta do
agente e o resultado danoso. (Segundo Sílvio de Salvo Venosa)

CC, art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato


necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Pontos importantes:
- O Código Civil não fez distinção entre os dois institutos, não importa defini-
los, o importante e que um ou outro excluem o nexo causal
- Há grande divergência doutrinária acerca da conceituação de um ou outro
(tema Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho sustentam inexistir
importância pragmática na diferenciação).
- professor Eli adota entendimento do Pablo Stoze.
- Alguns doutrinadores tentam explicar:
força maior seria inevitável, ainda que previsível, relacionando-se a eventos
da natureza.
caso fortuito seria imprevisível ao homem médio, decorrendo de condutas
humanas.
- Tal diferenciação não tem importância.

Requisitos para configuração do caso fortuito e da força maior:

Doutrina: Fato não culposo, superveniente, inevitável e irresistível.

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