RESPONSABILIDADE CIVIL E.3) Nexo de causalidade • Elemento imaterial ou espiritual que traduz relação de causa e efeito entre a conduta e o dano • Como entender, contudo, de que causa estamos falando? • Três principais teorias da causa na responsabilidade civil E.3.1) Teoria da equivalência das condições/do histórico dos antecedentes/da conditio sine qua non • Origem na Alemanha na segunda metade do século XIX • A causa é tudo o que tenha concorrido para o resultado danoso • Equivalência de todos os antecedentes (condições) que contribuíram para o resultado • Não distingue causa e condição • Maior relevância no Direito Penal (art. 13 do Código Penal) • Fórmula de eliminação hipotética: é causa todo antecedente que, se eliminado, faz o resultado desaparecer RESPONSABILIDADE CIVIL • Digressão infinita, com imputação do dever de reparar a muitas pessoas • Ex: poderia responsabilizar o marceneiro pela cama em que se consumou um adultério, se este gerasse responsabilização civil • Não é aceita na seara privada E.3.2) Teoria da causalidade adequada • Causa é apenas o antecedente abstratamente idôneo para que se produza um resultado danoso • É não apenas o antecedente necessário, mas também adequado à produção de referido resultado • Causa é apenas a condição determinante, desconsiderando-se as demais • Ex: A gera o atraso de B para pegar um ônibus e B acaba por falecer em razão de acidente do outro ônibus • Crítica: alto grau de discricionariedade do magistrado quanto à análise dos antecedentes • Dificuldade em estabelecer a causa entre as várias condições RESPONSABILIDADE CIVIL E.3.3) Teoria da causalidade direta ou imediata/interrupção do nexo causal/causalidade necessária • Causa é apenas o antecedente que, ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determine este como como uma consequência direta e imediata • Ex: A é ferido levemente por B e levado por C para um hospital. Se C provocar um acidente no carro em que transportava A e este vier a falecer, não há responsabilização de B • A desídia de C gera uma interrupção do nexo causal, quebrando-se a relação de causalidade anterior – por não ter relação direta e imediata com o dano – e surge uma nova relação de causalidade, diretamente ligada ao dano • Divergência acerca da teoria adotada pelo Direito Civil brasileiro EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL • Circunstâncias que afastam o dever de reparar o dano, por fulminarem, em regra, o nexo de causalidade • Incidem tanto na responsabilização subjetiva como na objetiva • Impossibilitam o adimplemento da obrigação em razão de fato superveniente, não imputável ao devedor 1) Estado de necessidade (art. 188, II, CC) • Não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição de coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente • CC/16 incluía apenas lesões patrimoniais • É preciso que as circunstâncias tornem a conduta estritamente necessária e que não haja excessos ao limite do indispensável para remoção do perigo • Para evitar um dano iminente, atinge-se a esfera jurídica alheia EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL • Deterioração ou destruição de bem jurídico alheio, de valor jurídico igual ou inferior ao interesse que se pretende proteger, quando as circunstâncias do ato não autorizarem outra forma de atuação • Proporcionalidade e razoabilidade. Ausentes, a conduta se torna ilícita, resultando em abuso de direito (responsabilidade objetiva) • O terceiro inocente deve ser indenizado pelo causador do dano (pessoa que estava em estado de necessidade), mas este tem direito de regresso face ao verdadeiro causador do dano • Trata-se de responsabilidade civil por ato lícito • Estado de necessidade defensivo: para preservar bem jurídico próprio ou alheio, o agente sacrifica bem pertencente ao causador da situação de perigo. Ex: João, atacado por um pitbull de José, acaba, sem outras opções, por matá-lo para sobreviver. Não há dever de indenizar. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL • Estado de necessidade agressivo: também com o objetivo de preservar bem jurídico próprio ou alheio, o agente sacrifica patrimônio de terceiro inocente. Ex: carro que bate em outro veículo para evitar atropelar uma criança. Há dever de indenizar. • Art. 65, CPP: a decisão penal que reconhecer estado de necessidade faz coisa julgada na seara cível – esse fato não exime o dever de indenizar se for agressivo, sem prejuízo do direito de regresso 2) Legítima defesa (art. 188, I, CC) • Justifica a conduta lesiva através da utilização dos meios necessários para repelir injusta agressão, atual ou iminente, contra si ou terceiros • Excesso: abuso de direito – responsabilidade civil objetiva • Se interesse de terceiro inocente for atingido, deve ser indenizado. Ex: erro na execução (aberratio ictus) - erro de pontaria, no exercício da legítima defesa, atingindo terceira pessoa ou seu patrimônio • Legítima defesa putativa não é admitida – pessoa age de forma violenta com base em percepção falsa da realidade, acreditando que está se defendendo de uma agressão iminente. Há dever de indenizar. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL • Admite a mesma distinção entre agressiva (ex: causar lesão corporal) e defensiva (ex: apenas segurar os braços do agressor) • Decisão penal que reconhece legítima defesa repercute na seara civil, mas não necessariamente exime o dever de indenizar 3) Exercício regular de direito (art. 188, I, CC) • Desempenho de atividade ou prática de uma conduta autorizada por lei • Quem age protegido pelo direito, não pode atuar em desrespeito a esse mesmo direito • Ex: autorização do Poder Público para desmatamento controlado em determinada área rural, cujo fim é o de permitir um plantio posterior; pequenas violações à integridade física em um jogo de futebol EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL • Se houver excesso no exercício do direito, remete-se novamente ao abuso de direito, que enseja uma responsabilidade objetiva (art. 187, CC) • Exemplos referendados pelo STJ: inscrição de nome de devedor em cadastros de restrição ao crédito; possibilidade de o empregador fiscalizar o e-mail corporativo do empregado e, inclusive, despedi-lo por justa causa; protesto de título por falta de pagamento • Se no exercício regular de um direito ocorre lesão a bem jurídico de terceiro, o agente deve indenizar o dano • O estrito cumprimento de dever legal (prática de ato em decorrência de dever imposto pela ordem jurídica) também é uma excludente de responsabilidade, apesar de não constar expressamente do art. 188, CC EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE CIVIL 4) Caso fortuito e força maior (art. 393, CC) • Divergência doutrinária quanto à conceituação • Código Civil não faz diferenciação entre ambos, disciplinando os mesmos efeitos jurídicos para a configuração de cada um • A maior parte da doutrina defende que ambos se relacionam à noção do inadimplemento sem culpa, figurando como excludentes de responsabilidade por afastamento do nexo causal • Também majoritariamente se diz que a força maior seria inevitável, ainda que eventualmente previsível, relacionando-se a eventos da natureza, como um terremoto • Já o caso fortuito decorreria de condutas humanas, imprevisíveis e inevitáveis, a exemplo de greve, motim e guerra • O que importa é investigar se a ocorrência deles implicará em afastamento da responsabilidade civil