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RESPONSABILIDADE CIVIL

Prof. Dr. Caio Morau


RESPONSABILIDADE CIVIL
E.2.4) Responsabilidade subjetiva contratual
• Regra geral do ordenamento jurídico
 Teoria da culpa  comprovação da culpa lato sensu (dolo ou
negligência/imprudência/imperícia);
Presença de duas barreiras distintas  Ônus

• Ônus 1  Culpa;
• Ônus 2  Dano;
Ausência da primeira barreira  responsabilidade objetiva;
 Ausência da segunda barreira  in re ipsa.
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E.2.4) Responsabilidade subjetiva contratual
• Art. 186, CC (cláusula geral de ilicitude culposa): “Aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.”
• Art. 389, CC: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor
por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogados.”
• Boa-fé objetiva – art. 422, CC: “Os contratantes são obrigados a
guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé.”
• As partes devem agir de boa-fé tanto na fase pré-contratual,
como durante a execução do contrato e após a sua execução
(pós-eficácia das obrigações)
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• Responsabilidade pré-contratual: uma parte pode ter gerado à
outra, além da expectativa legítima de que o contrato seria
concluído, efetivo prejuízo material (ex: esponsais)
• Responsabilidade que não decorre apenas da vontade
efetivamente declarada, mas da conduta induzida, da
expectativa criada, da realidade negocial efetiva
• Boa-fé objetiva é um standard, um padrão de conduta, reta,
leal de colaboração
• Atual Código: cláusula geral no aspecto objetivo (padrão de
conduta, independentemente das percepções interiores,
íntimas)
• Relacionada com os deveres anexos ou laterais de conduta,
que fazem parte de todo e qualquer negócio jurídico, ainda
que não haja previsão expressa
RESPONSABILIDADE CIVIL
• Deveres anexos

• Dever de cuidado em relação à outra parte


• Dever de respeito
• Dever de informação
• Dever de agir de acordo com a confiança depositada
• Dever de lealdade
• Dever de colaboração
• Dever de agir com honestidade
• Dever de agir conforme a razoabilidade, equidade e boa razão

• O direito processual, com o novo CPC, passa também a


exigir uma atuação digna dos litigantes
RESPONSABILIDADE CIVIL
E.2.5) Responsabilidade objetiva contratual
• Sistema subsidiário do CC/02, já que o sistema geral é o da
responsabilidade civil subjetiva
• Art. 927, p. único: “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
• Lógica: quem se beneficia dos bônus, arca com os ônus da atividade
• Identificação de um responsável e não de um culpado
• O autor do dano é quem exerce atividade (empresarial ou negocial),
empresário ou não, fornecedor de serviços ou produtos ou qualquer
ente despersonalizado que aufere vantagem com a atividade
• Não se exige que a atividade seja de risco, mas sim que haja um risco
pela atividade (ex: mineração, transporte, energia)
• Proteção individual (da vítima), mas também do interesse da
sociedade
RESPONSABILIDADE CIVIL
 Teoria do Risco:
a) Administrativo  art. 37, §6º, da Constituição Federal (PJs de
Direito Público e de Direito Privado prestadoras de serviço
público);
b) Criado  o agente cria o risco, decorrente de outra pessoa ou
coisa. Ideia de risco perde o seu aspecto econômico/profissional.
Ex: art. 938 do CC: “Aquele que habitar prédio, ou parte dele,
responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou
forem lançadas em lugar indevido.”
c) Da Atividade  art. 927, parágrafo único, do CC;
d)Integral  não admite excludentes de responsabilidade
(atentados terroristas, danos ambientais, danos nucleares).
RESPONSABILIDADE CIVIL
• Atividade de risco normalmente desempenhada pelo autor do dano, o que é a
consagração da cláusula geral de responsabilidade objetiva;
• Vítimas do dano podem ser insumidores, consumidores, empresários, entes
despersonalizados e quaisquer sujeitos de direito
• A responsabilidade objetiva ocorre também quando a lei determinar. Ex:
responsabilidade civil indireta - rol do art. 932, CC (pessoas que respondem
independentemente de culpa), apresentando hipóteses contratuais e
extracontratuais:
a) os pais, com relação aos filhos menores sob sua autoridade e em sua
companhia;
b) o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, nas mesmas condições;
c) os empregadores, por seus empregados no exercício do trabalho ou em razão
dele;
d) os donos de hotéis e hospedarias pelos seus hóspedes (ex: danos provocados
por hóspedes a terceiros ou a outros hóspedes);
e) os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia (trata-se, em verdade, de dever de reembolso que evita o
enriquecimento sem causa)
RESPONSABILIDADE CIVIL
• Para que tais pessoas respondam (pais, empregadores, etc.), é
necessário provar a culpa daqueles pelos quais são responsáveis
 responsabilidade objetiva INDIRETA
• Obrigações de resultado, se claramente confirmadas no contrato
celebrado, atraem a responsabilidade objetiva
• Art. 187 CC: “Também comete ato ilícito o titular de um direito
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.”
• Nesses casos, é dispensada a análise quanto à culpa do agente,
bastando que o agente tenha exercitado um direito de forma
excessiva, em prejuízo da boa-fé, dos bons costumes ou da
função econômico-social
• Basta averiguar a proporcionalidade entre o ato realizado e a
finalidade pretendida
RESPONSABILIDADE CIVIL
• Bases do abuso de direito: a) titularidade de um direito subjetivo;
b) utilização nos limites objetivos traçados pela lei; c) choque
entre entre o elemento pessoal e o social
• O abuso não reside na culpabilidade, mas no desvio do Direito de
sua finalidade ou função social
• Motivos ilegítimos na atuação do titular do direito.
Aparentemente, o comportamento atende o Direito, mas o seu
exercício implica violação de ordem material
• “Exercê-lo”: conduta omissiva também pode caracterizar abuso
de direito (ex: deixar de fazer uma notificação prévia)
• “Manifestamente”: é possível afirmar que um ato pode ser muito
ou pouco abusivo?
• A exigência de culpa tornaria a regra inócua. Não à toa, o
legislador bipartiu a categoria dos ilícitos em dois artigos
sequenciais (186 e 187, CC)
RESPONSABILIDADE CIVIL
• Para a configuração do abuso de direito, não é necessário dano
indenizável
• Ex: prática reiterada no passado de inquilinos que pagavam os
alugueis apenas em juízo, para que pudessem purgar a mora. Em razão
disso, os proprietários tinham de ajuizar sucessivas ações de despejo.
• Possibilidade de abuso mitigada pelo legislador: art. 62, p. único da Lei
do Inquilinato: não é possível a emenda da mora se essa faculdade já
foi utilizada nos 24 meses anteriores à propositura da ação
• “Fim econômico ou social”: função social dos contratos, livre
concorrência, etc.
• “Boa-fé”: slides anteriores
• “Bons costumes”: difícil definição; substrato constitucional, modo de
proceder, interpretação dos atos de autonomia existencial, enquanto
os de autonomia patrimonial seguem vinculados à boa-fé e à função
social

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