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Aula 05 - NEXO DE

CAUSAL
Prof. Tadeu Jr
O que é o nexo de causalidade?

▪ três as principais teorias que tentam explicar o nexo de causalidade:


▪ a) teoria da equivalência de condições;
▪ b) a teoria da causalidade adequada;
▪ c) a teoria da causalidade direta ou imediata (interrupção do nexo
causal).
Teoria da equivalência das condições
(conditio sine qua non)

▪ Elaborada pelo jurista alemão VON BURI na segunda metade do século XIX, esta teoria
não diferencia os antecedentes do resultado danoso, de forma que tudo aquilo que
concorra para o evento será considerado causa.
▪ Por isso se diz “equivalência de condições”: todos os fatores causais se equivalem, caso
tenham relação com o resultado.
▪ CAIO MÁRIO apresenta o seguinte entendimento: “em sua essência, sustenta que, em
havendo culpa, todas as condições’ de um dano são ‘equivalentes’, isto é, todos os
elementos que, ‘de uma certa maneira concorreram para a sua realização, consideram-
se como ‘causas’, sem a necessidade de determinar, no encadeamento dos fatos que
antecederam o evento danoso, qual deles pode ser apontado como o que de modo
imediato provocou a efetivação do prejuízo”
Teoria da equivalência das condições
(conditio sine qua non)
▪ Esta teoria é de bem difundida, considerando elemento causal todo antecedente que
haja participado da cadeia de fatos que desembocaram no dano.
▪ É, inclusive, a teoria adotada pelo Código Penal brasileiro, segundo a interpretação
dada pela doutrina ao seu art. 13, caput:
▪ “Art. 13. O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa. Considera-se a causa a ação ou omissão sem a qual o resultado
não teria ocorrido”.
▪ Ex: Imagine, pois, um sujeito que arremessa, bêbado, uma garrafa contra um
transeunte, causando-lhe a morte. Se nós abstrairmos a conduta antecedente
(arremesso da garrafa), a morte desaparecerá.
Teoria da equivalência das condições
(conditio sine qua non)
▪ Grande parte dos penalistas adotou-a, sustentando que a análise do dolo ou da culpa do
infrator poderia limitá-la, vale dizer, os agentes que apenas de forma indireta
interferiram na cadeia causal por não terem a necessária previsibilidade (dolo ou culpa)
da ocorrência do dano, não poderiam ser responsabilizados.
▪ OBS: No entanto esta teoria não é majoritária no CC.
Teoria da causalidade adequada
▪ Esta teoria, desenvolvida a partir das ideias do filósofo alemão VON KRIES, posto não seja
isenta de críticas, é mais refinada do que a anterior, por não apresentar algumas de suas
inconveniências.
▪ SERGIO CAVALIERI, “causa, para ela, é o antecedente, não só necessário, mas, também
adequado à produção do resultado. Logo, nem todas as condições serão causa, mas apenas
aquela que for mais apropriada para produzir o evento”.

▪ ANTUNES VARELA, exemplifica: “Se alguém retém ilicitamente uma pessoa que se apressava
para tomar certo avião, e teve, afinal, de pegar um outro, que caiu e provocou a morte de
todos os passageiros, enquanto o primeiro chegou sem incidente ao aeroporto de destino, não
se poderá considerar a retenção ilícita do indivíduo como causa (jurídica) do dano ocorrido,
porque, em abstrato, não era adequada a produzir tal efeito, embora se possa asseverar que
este (nas condições em que se verificou) não se teria dado se não fora o ilícito. A ideia
fundamental da doutrina é a de que só há uma relação de causalidade adequada entre o fato e
o dano quando o ato ilícito praticado pelo agente seja de molde a provocar o dano sofrido pela
vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência comum da vida”.
imediata

▪ Também denominada teoria da interrupção do nexo causal ou teoria da causalidade


necessária, menos radical do que as anteriores, foi desenvolvida, no Brasil, por
AGOSTINHO ALVIM, em sua clássica obra Da Inexecução das Obrigações e suas
Consequências.
▪ Causa, para esta teoria, seria apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de
necessariedade ao resultado danoso, determinasse este último como uma consequência
sua, direta e imediata.
imediata

▪ Caio é ferido por Tício (lesão corporal), em uma discussão após a final do campeonato de
futebol. Caio, então, é socorrido por seu amigo Pedro, que dirige, velozmente, para o
hospital da cidade. No trajeto, o veículo capota e Caio falece. Ora, pela morte da vítima,
apenas poderá responder Pedro se não for reconhecida alguma excludente em seu favor.
Tício, por sua vez, não responderia pelo evento fatídico, uma vez que o seu
comportamento determinou, como efeito direto e imediato, apenas a lesão corporal.
▪ Note-se, portanto, que a interrupção do nexo causal por uma causa superveniente, ainda
que relativamente independente da cadeia dos acontecimentos (capotagem do veículo)
impede que se estabeleça o elo entre o resultado morte e o primeiro agente Tício, que não
poderá ser responsabilizado.
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO

▪ O Código Civil brasileiro adotou a teoria da causalidade direta ou imediata (teoria da


interrupção do nexo causal), na vertente da causalidade necessária.
▪ E a essa conclusão chegamos ao analisarmos o art. 403 do Código Civil de 2002, que
dispõe:
▪ “Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só
incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes, por efeito dela direto e imediato, sem
prejuízo do disposto na lei processual”.
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO

▪ CARLOS ROBERTO GONÇALVES, seguindo a mesma linha de pensamento, é


contundente ao afirmar que “das várias teorias sobre o nexo causal, o nosso Código
adotou, indiscutivelmente, a do dano direto e imediato, como está expresso no art. 403; e
das várias escolas que explicam o dano direto e imediato, a mais autorizada é a que se
reporta à consequência necessária”.
CAUSAS CONCORRENTES

▪ Quando a atuação da vítima também favorece a ocorrência do dano, somando-se ao


comportamento causal do agente, fala-se em “concorrência de causas ou de culpas”, caso
em que a indenização deverá ser reduzida, na proporção da contribuição da vítima.

▪ Neste caso de culpa concorrente, cada um responderá pelo dano na proporção em que
concorreu para o evento danoso, o que tem de ser pesado pelo órgão julgador quando da
fixação da reparação, uma vez que somente há condenação pela existência da
desproporcionalidade da culpa.
CAUSAS CONCORRENTES

▪ O vigente Código Civil brasileiro, em regra sem equivalência na codificação anterior,


adotou expressamente a culpa concorrente como um critério de quantificação da
proporcionalidade da indenização, conforme se verifica do seu art. 945:
▪ “Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a
do autor do dano”.
CAUSAS CONCORRENTES

▪ O vigente Código Civil brasileiro, em regra sem equivalência na codificação anterior,


adotou expressamente a culpa concorrente como um critério de quantificação da
proporcionalidade da indenização, conforme se verifica do seu art. 945:
▪ “Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua
indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a
do autor do dano”.
CAUSAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
CIVIL E CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

▪ São as seguintes excludentes:


▪ 1. Estado de necessidade.
▪ 2. Legítima defesa.
▪ 3. Exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal.
▪ 4. Caso fortuito e força maior.
▪ 5. Culpa exclusiva da vítima.
CAUSAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
CIVIL E CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

▪ Estado de necessidade
▪ O estado de necessidade tem assento legal no inciso II do art. 188 do CC/2002, conforme
se vê abaixo:
▪ “Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
▪ II — a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover
perigo iminente.
▪ Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo”.
CAUSAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
CIVIL E CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

▪ O estado de necessidade consiste na situação de agressão a um direito alheio, de valor


jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo iminente,
quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de atuação.
▪ Diz-se, comumente, na hipótese, haver uma “colisão de interesses jurídicos tutelados”.

▪ É o caso do sujeito que desvia o seu carro de uma criança, para não atropelá-la, e atinge o
muro da casa, causando danos materiais. Atuou, neste caso, em estado de necessidade.
CAUSAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
CIVIL E CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

▪ Legítima defesa
▪ Também excludente de responsabilidade civil, a legítima defesa tem fundamento no
mesmo art. 188 do Código Civil, inciso I, primeira parte:
▪ “Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I — os praticados em legítima defesa ou no
exercício regular de um direito reconhecido;(...)”
▪ Diferentemente do estado de necessidade, na legítima defesa o indivíduo encontra-se
diante de uma situação atual ou iminente de injusta agressão, dirigida a si ou a terceiro,
que não é obrigado a suportar.
▪ No caso desta excludente de ilicitude, a doutrina não recomenda a fuga como a conduta
mais razoável a se adotar, uma vez que considera legítima a defesa de um interesse
juridicamente tutelado, desde que o agente não tenha atuado com excesso
CAUSAS EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
CIVIL E CLÁUSULA DE NÃO INDENIZAR

▪ A legítima defesa real (art. 188, I, primeira parte, do CC/2002) pressupõe a reação
proporcional a uma injusta agressão, atual ou iminente, utilizando-se moderadamente
dos meios de defesa postos à disposição do ofendido. A desnecessidade ou imoderação
dos meios de repulsa poderá caracterizar o excesso, proibido pelo Direito.
▪ Vejamos os arts. 929 e 930 do CC/2002:
▪ “Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
▪ Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao
lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o
dano (art. 188, inciso I)”.
Exercício regular de direito e estrito
cumprimento do dever legal

▪ Não poderá haver responsabilidade civil se o agente atuar no exercício regular de um


direito reconhecido (art. 188, I, segunda parte). Isso é muito claro. Se alguém atua
escudado pelo Direito, não poderá estar atuando contra este mesmo Direito.
▪ Tal ocorre quando recebemos autorização do Poder Público para o desmatamento
controlado de determinada área rural para o plantio de cereais. Atua-se, no caso, no
exercício regular de um direito.
▪ Da mesma forma, quando empreendemos algumas atividades desportivas, como o
futebol e o boxe, podem surgir violações à integridade física de terceiros, que são
admitidas, se não houver excesso
Caso fortuito e força maior

▪ Dentre as causas excludentes de responsabilidade civil, poucas podem ser elencadas


como tão polêmicas quanto a alegação de caso fortuito ou força maior.
▪ Tal afirmação se respalda até mesmo na profunda cizânia doutrinária para tentar definir a
diferença entre os dois institutos, havendo quem veja nessa diferença questão
“meramente acadêmica”, uma vez que se trataria de “sinônimos perfeitos”.
▪ O Código Civil de 2002, em regra específica, condensou o significado das expressões em
conceito único, consoante se pode depreender da análise do seu art. 393:
“Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou de força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir”.
Culpa exclusiva da vítima

▪ A exclusiva atuação culposa da vítima tem também o condão de


quebrar o nexo de causalidade, eximindo o agente da
responsabilidade civil.
▪ Imagine a hipótese do sujeito que, guiando o seu veículo segundo as
regras de trânsito, depara-se com alguém que, visando suicidar-se,
arremessa-se sob as suas rodas. Neste caso, o evento fatídico,
obviamente, não poderá ser atribuído ao motorista (agente), mas
sim, e tão somente, ao suicida (vítima).

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