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CONCEITO DE CRIME

a) Formal: adequação da conduta ao modelo descrito no tipo penal.


b) Material: lesão ou perigo concreto de lesão ao bem jurídico protegido.
c) Analítico: fato típico + antijurídico + culpabilidade. fato típico = conduta - resultado
– nexo de causalidade; antijurídico ou ilícito = contrário a norma penal;
culpabilidade = juízo de reprovação da conduta.

EVOLUÇÃO DA TEORIA DO CRIME

1 – CAUSALISMO: a base do causalismo encontra-se na conduta humana que era


considerada apenas como ato voluntário. Não havia nenhum tipo de valoração da
conduta, sendo o tipo penal puramente objetivo. A análise quanto ao dolo e a culpa,
pertencia a culpabilidade.
A maior crítica a essa teoria encontra-se no fato de que não conseguia explicar os crimes
omissivos, vez que nestes não há ato voluntário.
Teoria
Psicológica
CRIME

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE


CONDUTA DOLO/CULPA
RESULTADO
NEXO CAUSAL

2 – NEOKANTISMO: nesta teoria, a base ainda continua sendo a conduta, porém esta já
é não mais é entendida apenas objetivamente, apenas como um ato voluntário, começa-
se a ver a tipicidade como algo valorativamente negativo para o legislador.
Entretanto, ainda existiam problemas sem solução, como por exemplo aquele que
coagido comete um ilícito (falsifica a assinatura em um documento sob a ameaça de um
revólver na cabeça).
Na culpabilidade a imputabilidade passou a ser elemento; o dolo e culpa continuaram
como elementos; incluiu-se a exigibilidade de conduta diversa (Frank); a culpabilidade
passou a ser psicológica normativa, juízo de reprovação jurídica do ato que recai sobre o
autor, sendo-lhe exigível atuação de outra forma.
O dolo foi entendido como: normativo composto de: vontade, representação e consciência
da ilicitude.
Teoria Psicológica-
normativa
CRIME

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE


CONDUTA IMPUTABILIDADE
RESULTADO DOLO/CULPA
NEXO CAUSAL

3 – FINALISMO: novo conceito de ação= conduta humana finalisticamente dirigida ou o


exercício de atividade final; ótima explicação para os delitos dolosos; modelo adotado na
Reforma de 1984 do CP brasileiro, segundo a doutrina; transporte do dolo e da culpa para
o fato típico; o dolo deixou para trás a consciência da ilicitude; dolo passa a ser natural
(composto de vontade e representação do resultado, sem a presença da consciência da
ilicitude); culpa foi para o fato típico também.
Permite um juízo de tipicidade material vinculado à realidade (aqui reside uma diferença
quanto à teoria funcionalista); princípio da adequação social; Conceito de Dolo (Welzel)=
vontade de atingir o resultado e planejar o meio eficaz para sua realização. O finalismo,
com seu conceito de ação, apresenta dificuldades para sistematizar o crime culposo,
principalmente a omissão culposa.
Fato típico- Entre os elementos está a conduta que é formada de ação/omissão (dolo
natural; na culpa há de previsibilidade objetiva- critério do homem médio, hoje criticado).
Culpabilidade- juízo de censura que incide sobre o agente por ter praticado um fato
contrário ao direito quando poderia agir de forma diversa. Elementos da culpabilidade no
finalismo: imputabilidade; potencial consciência da ilicitude, exigibilidade de conduta
diversa. Adoção da teoria normativa pura da culpabilidade.

Teoria Normativa
pura
CRIME

FATO TÍPICO ILICITUDE CULPABILIDADE


CONDUTA IMPUTABILIDADE
DOLO/CULPA POTENCIAL
TIPICIDADE: CONSCIÊNCIA DA
FORMAL E ILICITUDUDE DO
MATERIAL FATO
RESULTADO EXIGIBILIDADE DE
NEXO CAUSAL CONDUTA
DIVERSA
4 – FUNCIONALISMO: há duas principais correntes, a de Jakobs e a de Roxim. Nos
deteremos a de Roxim.
Para Roxim, a dogmática penal, até então fechada se flexibiliza para aceitar as
orientações da Política criminal.
Cria o conceito de tipicidade conglobante e, por conseguinte, a imputação objetiva: do tipo
penal passou a fazer parte a imputação objetiva (dimensão normativa do tipo), que se
expressa numa dupla exigência:
(a) só é penalmente imputável a conduta que cria ou incrementa um risco proibido
(juridicamente desaprovado);
(b) só é imputável ao agente o resultado que é decorrência direta desse risco.

5 – CONSTITUCIONALISTA: para essa teoria, em síntese, para haver responsabilidade


penal deverá ser analisado os seguintes pressupostos:
(a) tipicidade formal + (b) tipicidade material ou normativa (que implica dois juízos
valorativos diversos) + (c) tipicidade subjetiva (nos crimes dolosos).
• Os dois juízos valorativos que compõem a tipicidade material são:
1º) juízo de valoração (desaprovação) da conduta (cabe ao juiz verificar o desvalor da
conduta, ou seja, se o agente, com sua conduta, criou ou incrementou um risco proibido
relevante);
2º) juízo de valoração (desaprovação) do resultado jurídico (isto é, desvalor do resultado
que consiste na ofensa desvaliosa ao bem jurídico).
O resultado jurídico, por seu turno, é desvalioso (há desvalor do resultado) quando (a
ofensa é): (a) real ou concreta; (b) transcendental; (c) grave; (d) intolerável; (e)
objetivamente imputável ao risco criado ou incrementado e (f) que esteja no âmbito de
proteção da norma.
Conceito analítico de crime
CRIME
INJUSTO PENAL
FATO TÍPICO ANTIJURÍDICO/ILÍCITO CULPÁVEL
Conduta - dolosa/culposa Estado de necessidade Imputabilidade
comissiva/omissiva
Legítima defesa Potencial consciência da
Resultado – material/jurídico ilicitude do fato
Estrito cumprimento do
Nexo causal dever legal Exigibilidade de conduta
diversa
Tipicidade – formal/material e Exercício regular de
coglobante direito
CONDUTA

A conduta é o primeiro elemento integrante do fato típico, e por ela podemos


entender como sendo uma um comportamento humano voluntário, dirigido a um
determinado fim (teoria finalista da ação).

Dessa forma a conduta pode ser dolosa ou culposa; comissiva ou omissiva.

CONDUTA DOLOSA

Podemos definir como sendo a vontade consciente da produção de um


resultado; ou mesmo quando o agente assume o risco na produção do resultado.

O dolo em nosso ordenamento jurídico é a regra como prevê o art. 18 do CP.

Principais espécies de dolo

Dolo direto: quando o agente quer cometer a conduta descrita no tipo penal.

Dolo direito de 1º grau: é o dolo propriamente dito = dolo direto;


Dolo direto de 2º grau: o autor quer cometer a conduta sem com isso preocupar-
se haverá efeitos colaterais. (quer matar A, porém, para isso mata outras pessoas a seu
redor).

Dolo eventual: quando o agente assume o risco da produção do resultado.

Dolo geral: fala-se em dolo geral quando o agente acredita ter realizado o seu objetivo,
mas este somente ocorre por meio de uma ação posterior. (quando acreditando ter
matado A, o joga do abismo, vindo ele a falecer em virtude da queda).

Teorias do dolo: da vontade, da representação e do assentimento.

CONDUTA CULPOSA

Quando o agente, mesmo sem querer o resultado acaba por produzi-lo, agindo
de forma imprudente, imperita ou negligente.

Sublinha-se que para que haja um crime culposo deve haver expressa previsão
legal.
Ademais, sua caracterização dependerá da verificação das seguintes
hipóteses:
a) Conduta humana;
b) Inobservância de um dever objetivo de cuidado (imprudência, imperícia e
negligência);
c) Resultado lesivo não querido, tampouco assumido pelo agente;
d) Nexo causal entre a conduta e o resultado;
e) Previsibilidade; e
f) Tipicidade.

Cumpre definir-se, então, o que seja imprudência, imperícia e negligência.

Imprudência: conduta positiva, sem observância do dever objetivo de cuidado. Ex.


trafegar em velocidade acima da permitida.

Negligência: conduta negativa pela qual se deixa de tomar providências necessárias, o


agente não é diligente. Ex. não faz a verificação dos freios do veículo em que se sabe
com problemas.

Imperícia: esta se relaciona ao ofício, o sujeito não está naquele momento apto ao
exercício de um determinado ofício. Ex. médico sem formação em cirurgia plástica e a
realiza.
Diferença entre culpa consciente e inconsciente:

Reside na previsibilidade. Enquanto na culpa inconsciente o resultado não é


previsível, na culpa consciente o agente o prevê, embora, acredite efetivamente que o
resultado não irá se produzir, pois confia em sua não-ocorrência.

Diferença entre dolo eventual e culpa consciente:

A diferença reside no fato de que no dolo eventual, o agente prevendo o


resultado, assume o risco de produzi-lo. Na culpa consciente, embora ele também o
preveja, acredita sinceramente que não irá ocorrer.

Por fim, duas observações devem ser feitas, primeira: não há em direito penisal
compensação e concorrências de culpas, assim, se duas pessoas agem de forma culposa
uma com a outra, ambas responderão por suas condutas.

Segunda: não se pode cogitar em presunção de culpa. Por ser o tipo penal
para o crime culposo considerado aberto, isto é, não descreve a conduta, o juiz deve, na
análise do caso concreto, valorar a conduta do agente para verificar se agiu com culpa ou
não.

Em conclusão, vale ressaltar que, não há que se falar em tentativa nos crimes
culposos.

AUSÊNCIA DE CONDUTA

Há situações em que não se considera haver sequer conduta. Nelas o agente


não poderá ser responsabilizado penalmente. São elas:

a) Força irresistível;
b) Movimentos reflexos; e
c) Estados de inconsciência.

Cumpre observar quando aos movimentos reflexos que se houver por parte do
agente previsibilidade haverá responsabilidade penal.

CONDUTA COMISSIVA/OMISSIVA

A conduta é comissiva quando praticada por uma ação. Já quando o agente


se abstém da realização de uma conduta imposta por lei diz-se que esta é omissiva.

Crimes omissivos

Omissivos próprios: quando a lei determina uma determinada conduta e o agente deixa
de praticá-la. Não há necessidade de nenhum resultado naturalístico. Ex. arts. 135 -
Omissão de socorro; 244 – abandono de incapz.

Omissivos impróprios ou comissivos por omissão: há nesses delitos a figura do


garante, do garantidor; pessoa legalmente ou contratualmente (onerosa ou gratuitamente)
incumbida do dever objetivo de cuidado. Ex. salva-vidas, pais, babá, ou até mesmo
àquelas pessoas que se dispõe cuidar gratuitamente.

Obs: nesses crimes não há prévia descrição típica, cabe ao julgador fazer um juízo de
adequação verificando a posição de garantidor do agente, e se efetivamente podia ele
naquela circunstância realmente agir.
Nexo causal

Nexo causal é o liame, a ligação entre a conduta e o resultado. É dizer que


aquela determinada conduta deu causa ao resultado.

Para determinarmos se há ou não nexo causal nosso ordenamento jurídico-penal adotou


a teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditiio sine qua non) adotada. Por
sessa teoria considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria
ocorrido.

Para determinarmos se a ação ou omissão foi ou não causa da produção do resultado


utilizamos o processo hipotético de eliminação de Thyrén. Este consiste em mentalmente
eliminarmos certas ações do agente a fim de ver se ela é ou não relevante à ocorrência
do resultado.

Ex. Manoel, saiu de sua casa, comprou uma arma, passou no bar, lá bebeu uma birita e
após dirigiu-se a casa de seu desafeto onde efetuou 3 disparos contra ele, levando-o a
morte.

Se suprimirmos a ação de Manoel ir ao bar tomar uma birita, ela seria relevante a
ocorrência do resultado, ou seja, sem essa ação o resultado não ocorreria? A resposta é
negativa, essa ação de Manoel é irrelevante. Entretanto, a ação de comprar uma arma é
relevante, se não houvesse comprado o resultado não ocorreria, ao menos da maneira
como aconteceu, disparos de arma de fogo.

Não obstante, essa teoria levaria a uma cadeia infinita de “culpados”, pois se não
houvesse o vendedor da arma, o crime não ocorreria, bem como, se a mãe e o pai do
vendedor da arma não existissem o vendedor também não existiria... e assim por diante.

Dessa forma, limitamos a teoria até o momento de quem não teve mais dolo ou culpa pela
produção do resultado.

Portanto, as condições do nexo de causalidade passam por 02 condições: as concausas


absolutamente independentes e as concausas relativamente independentes, que por sua
vez podem ser: Preexistentes/concomitantes/supervenientes
Concausas absolutamente independente

São espécies de concausas absolutamente independentes:

A) Preexistente: A causa efetiva antecede o comportamento concorrente.

EX: Maria, por volta das 20 h, serve, insidiosamente, veneno para João, seu marido. Uma
hora depois, João é atingido por um disparo efetuado por Antônio, seu desafeto.
Socorrido, a vítima morre na madrugada do dia seguinte em razão dos efeitos do veneno.
Neste caso, a pessoa que envenenou responde pelo homicídio consumado, já o atirador,
não foi causa do resultado. Eliminando seu comportamento, a vítima morreria
envenenada do mesmo modo. Deve então responder por tentativa de homicídio.

B) Concomitante: a causa efetiva é simultânea ao comportamento concorrente.

EX: Maria, por volta das 20h, serve, insidiosamente, veneno para seu marido. Na mesma
hora, coincidentemente, a vítima é alvo de um disparo efetuado por Antônio, seu desafeto,
vindo a morrer. Antônio responde por homicídio consumado. A esposa, que ministrou o
veneno, responde por tentativa de homicídio. É que, eliminando seu comportamento, a
morte de João ocorreria como ocorreu.

C) Superveniente: a causa efetiva é posterior ao comportamento concorrente.

Ex: Maria, por volta das 20h, serve, insidiosamente, veneno para seu marido João. Antes
mesmo do veneno fazer efeito, cai um lustre na cabeça de João, que descansava na sala,
causando sua morte por traumatismo craniano. Maria responde por tentativa de
homicídio, pois, eliminando seu comportamento do processo causal, a morte de João
ocorreria do mesmo modo.

O que podemos observar então nas concausas absolutamente independente: não importa
a espécie (preexistente, concomitante ou superveniente) o comportamento paralelo será
sempre punido de forma tentada.

Concausas Relativamente independentes que também podem ser:

A) Preexistentes: a causa efetiva é anterior à causa concorrente.

EX: João, portador de hemofilia, é vítima de um golpe de faca executado por Antônio. O
ataque efetuado para matar, isoladamente considerado, em razão da sede e da natureza
da lesão, não geraria a mote da vítima que, entretanto, tendo dificuldade de estancar o
sangue dos ferimentos, acaba morrendo. Antônio, responsável pelo ataque (com intenção
de matar), responderá por homicídio consumado, pois eliminando seu comportamento do
processo causal, João não morreria.

B) Concomitante: a causa efetiva ocorre simultaneamente à outra causa.

EX: Antônio, com intenção de matar, atira em João, mas não atinge o alvo. A vítima,
entretanto, assustada, tem um colapso cardíaco e morre. Antônio responderá por
homicídio consumado, pois, se não tivesse atirado, a vítima não sofreria a violenta
perturbação emocional que gerou o colapso cardíaco.
C) Supervenientes: a causa efetiva acontece após a causa concorrente. Está previsto no
artigo 13 p.1º. CP que anuncia a causalidade adequada. O que importa aqui é se há nexo
normal atrelando o atuar do agente, como causa, ao resultado, como efeito.

Deve ser um desdobramento da conduta anterior do agente.

É possível reconhecer duas hipóteses envolvendo concausa relativamente independente:


a causa efetiva que NÃO POR SI SÓ e a que POR SI SÓ produziu o resultado.

Na NÃO POR SI SÓ, a causa efetiva (superveniente) se encontra na mesma linha de


desdobramento causal (normal) da causa concorrente, tratando-se de evento previsível.

EX: João é vítima de um disparo de arma de fogo efetuado por Antônio, que age com
intenção de matar. Levado ao hospital, João morre em decorrência de erro médico
durante a cirurgia. O atirador (que tinha a intenção de matar) responderá por homicídio
consumado. O médico, conforme o caso, homicídio culposo.

Na concausa relativamente independente superveniente QUE POR SI SÓ produz o


resultado, a conclusão é outra:

EX: Antônio, com vontade de matar, desfere um tiro em João, que segue em uma
ambulância até o hospital. Quando está convalescendo, todavia, o nosocômio pega fogo,
matando o paciente queimado. Antônio responderá por tentativa, estando o incêndio no
hospital fora da linha de desdobramento causal de um tiro e, portando imprevisível.

Tipicidade

O conceito analítico de crime exige que para a caracterização de um delito


estejam presentes 03 tipos de tipicidade, quais sejam:

Tipicidade formal: é a subsunção da conduta do agente a conduta descrita no


tipo penal.

Tipicidade conglobante: é a exigência de que aquela conduta seja proibida


por todo nosso ordenamento jurídico. Caso haja uma norma proibitiva, mas exista uma
permissiva, não haverá tipicidade conglobante, e, por consequência, não haverá crime.

Tipicidade material: é aquela que exige uma lesão ou um concreto perigo de


lesão ao bem jurídico tutelado.

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