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Caderno de Juliana Moreno da Silva Sales - Direito Penal II

Prof. Daniela Portugal - 2022.1

Aulas 1 e 2 (16 e 23 de março)


Anotações baseadas no resumo de ambas as aulas feito pela professora

CONCEITO DE CRIME

◾ Conceito Legal
DECRETO-LEI Nº 3.914, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1941
Lei de introdução do Código Penal (decreto-lei n. 2.848, de 7-12-940) e da Lei das Contravenções
Penais (decreto-lei n. 3.688, de 3 outubro de 1941).

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

➯ Conceito bipartido de infração penal → A infração se desdobra em duas


espécies: Crimes (ou delitos) e contravenções
✬ Em alguns sistemas, como o Francês, crimes, delitos e contravenções são conceitos distintos. Já
outros como Brasil, Alemanha ou Itália, utilizam o critério bipartido de infração penal.

➯ No Art. 1° da LICP → Não há diferença substancial/ontológica entre crime e


contravenção → A diferença estará na consequência jurídica definida pelo
legislador
↪ Logo, nada impede que um crime se torne contravenção, ou que uma
contravenção se torne crime. Ex: Porte de arma → Era contravenção penal e
passou a ser crime em 1997.

◾ Conceito Formal
Crime é todo o fato humano proibido pela lei penal.

◾ Conceito Material
Crime é a conduta que viola, de maneira significativa, os bens jurídicos mais
importantes.

➯ Conceito construído a partir da teoria do bem jurídico


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◾ Conceito analítico ou estratificado


Crime é ação típica (tipicidade), antijurídica ou ilícita (ilicitude) e culpável
(culpabilidade) → Conceito tripartido (hoje majoritário)
* Mas há também outros, como: Conceito bipartido: Crime = Fato típico + Ilicitude/Antijuridicidade (influenciou a
redação do código penal brasileiro) - Culpabilidade como mero pressuposto de aplicação da pena; conceito
quadripartido: Crime = Fato típico + Ilicitude/Antijuridicidade + Culpabilidade + Punibilidade

➯ Conceito direcionado a analisar cada um dos elementos constitutivos do delito,


decompondo-o em partes menores (sem, claro, deixar de considerar o crime como
um todo unitário e indivisível).

Fato Típico (Tipicidade) Ilicitude/Antijuridicidade Culpabilidade

▸ Conduta Excludentes de ilicitude ▸ Imputabilidade


▸ Resultado (tornam a conduta lícita) ▸ Potencial consciência
▸ Nexo de causalidade da ilicitude
▸ Tipicidade ▸ Estado de necessidade ▸ Exigibilidade de conduta
▸ Legítima defesa diversa
▸ Estrito cumprimento de
um dever legal
▸ Exercício regular de um
direito

▸ Consentimento do
Ofendido (Causa
supralegal/extralegal de
exclusão de ilicitude)

◾ Evolução do conceito analítico de crime


✿ Causalismo, teoria causal-naturalista (ou positivista-naturalista, teoria clássica,
teoria naturalística ou teoria mecânica) - Sistema clássico:

➥ Início do século XIX


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➥ Panorama científico marcado pelos ideais positivistas → No âmbito científico:


Valorização do método empregado pelas ciências naturais → Leis da causalidade
(relação causa-efeito).

➥ Direito deve atender a exatidão das ciências naturais → Resultando numa


concepção clássica de conduta, tida como mero processo causal destituído de
finalidade (querer interno).

➥ Causalismo → Busca ver o conceito de conduta despido de qualquer valoração


→ Neutro (ação ou omissão voluntária e consciente que exterioriza movimentos
corpóreos) → Dolo e culpa situados na culpabilidade
↪ Manifestação de vontade → Toda conduta voluntária → Ação concebida em seu
aspecto natural, axiologicamente neutra.

➥ Culpabilidade → A relação subjetiva ou psicológica entre a ação e o autor →


Culpabilidade agrega a presença da imputabilidade, dolo (normativo) e culpa
(concepção psicológica da culpabilidade).

➥ Causa → É o que permite deduzir o efeito → A ação se exaure na simples


produção do resultado.

Fato Típico Antijuridicidade Culpabilidade

▸ Conduta (sem ▸ Formal: Presença ou ▸ Imputabilidade


finalidade) não de causa excludente ▸ Dolo ou culpa (espécies
▸ Resultado de vínculo psicológico)
▸ Nexo causal
▸ Tipicidade

➥ Críticas ao causalismo
✱ Não explica de maneira adequada os crimes omissivos e os delitos sem
resultado (formais e mera conduta)
✱ Não há como negar a presença de elementos normativos e/ou subjetivos no tipo
penal.
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✱ Ao fazer a análise do dolo e culpa no momento da culpabilidade, não há como


distinguir, apenas pelos sentidos, a lesão corporal da tentativa de homicídio, já que
a finalidade do agente não é analisada na pesquisa da conduta.
✱ Inadmissível imaginar a ação humana como um ato de vontade sem finalidade.
Toda ação é dirigida a um fim.

✿ Neokantismo, teoria causal-valorativa - Sistema neoclássico:


➥ Conceito valorativo de ação → Conduta humana como atuação da vontade no
mundo exterior.

➥ Não deixou de ser um conceito causal

➨ Delito → Ação tipicamente antijurídica, visto que a tipicidade não constitui um


elemento independente da antijuridicidade.
↪ Ação vem a ser uma causalidade juridicamente relevante, consistente em atuar no
sentido de um resultado (socialmente útil ou danoso), juridicamente relevante →
Construção de uma culpabilidade psicológica-normativa.

➥ Teoria neokantista → Base causalista → Desenvolvida nas primeiras décadas do


século XX → Visão neoclássica marcada pela superação do positivismo, através da
inclusão da introdução da racionalização do método → Reação contra o positivismo,
tendo como lema a volta à metafísica e aos valores.

➥ Delito passou a incorporar a teoria dos valores e a preocupação central do


neokantismo foi a de dotar cada um dos requisitos do delito de conteúdo material
(valorativo) → Mundo dos valores foi introduzido no direito penal

➥ O conceito analítico do delito não alterou, mas cada uma dessas categorias
passou a estampar conteúdo diferente.
↪ É típico o fato valorado negativamente pelo legislador
↪ A antijuridicidade não é só formal, visto que é também material
↪ A culpabilidade não é só psicológica, é também normativa
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▸ Foi enriquecida → Reinhart Frank fez inserir à teoria psicológico-normativa dolo


e culpa como elementos autônomos deste substrato, ao lado da imputabilidade e da
exigibilidade de conduta diversa → Culpabilidade compreendida não apenas como
um vínculo entre o agente e o resultado, mas também como um juízo de reprovação
ou censurabilidade.

↪ A conduta permanece sendo elemento do fato típico, porém mais abrangente,


aparecendo não somente como ação, mas como comportamento, englobando assim
a omissão.

Fato Típico Antijuridicidade Culpabilidade

▸ Conduta (sem ▸ Formal: Presença ou ▸ Imputabilidade


finalidade) não de causa excludente ▸ Exigibilidade de conduta
▸ Resultado diversa
▸ Nexo causal ▸ Aspecto material: ▸ Dolo (elemento
▸ Tipicidade (com Danosidade social normativo: Consciência
elementos descritivos, atual da ilicitude -
normativos e especial fim intenção de prática
de agir) conduta ilícita)
▸ Culpa

➥ Críticas ao neokantismo:
✱ Ser contraditória ao reconhecer elementos subjetivos do tipo (pois o dolo está na
culpabilidade).
✱ Permanecer considerando o dolo e a culpa como elementos da culpabilidade.

✿ Finalismo

➥ Verdadeira evolução na análise da conduta e dos elementos do crime

➥ Hans Welzel → Meados do século XX (1930-1960)

➥ Concebe a conduta como comportamento humano voluntário psiquicamente


dirigido a um fim → Transformará a ação num ato de vontade com conteúdo, ao
partir da premissa de que toda conduta é orientada por um querer.
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↪ Conduta deve ser valorada, porque se trata de um juízo de realidade, e não


fictício → Deslocou o dolo e a culpa da culpabilidade para o fato típico → Conduta é
a ação ou omissão voluntária e consciente, que se volta a uma finalidade.

➥ Essa doutrina é a responsável pela inclusão do dolo (sem o elemento normativo


da consciência da ilicitude) e da culpa nos tipos de injusto (doloso/culposo) →
Passa a trabalhar com uma culpabilidade puramente normativa.

➥ Finalistas entendem o crime como fato típico, antijurídico e culpável


↪ O tipo: Passa a ter duas dimensões:
1. Dimensão objetiva (conduta, resultado, nexo e adequação típica).
2. Dimensão subjetiva, representada pelo dolo ou culpa. → Como o dolo é
deslocado da culpabilidade para o fato típico, ele perde seu elemento
normativo. No finalismo, o dolo é natural (despido de valoração), é o dolus
bonus, contrapondo-se à perspectiva causalista do dolo normativo, dolus
malus.
↪ Teoria normativa pura da culpabilidade → Passa a representar meramente um
juízo de reprovação, uma valoração que se faz sobre a conduta típica e ilícita do
agente, cujos elementos serão a imputabilidade, a consciência (potencial) da
ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.

➥ Críticas ao finalismo:
↪ O finalismo concentrou sua teoria no desvalor da conduta, ignorando o desvalor
do resultado.
↪ A teoria não explica no contento o crime culposo, pois não se concebe ação
dirigida a um fim quando o resultado naturalístico é involuntário.

✿ Concepções funcionalistas

➥ Nascem da percepção de que o Direito Penal tem necessariamente uma missão


e que os seus institutos devem ser compreendidos de acordo com ela.
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➥ Teorias funcionalistas constroem o direito penal a partir da função que lhe é


conferida → Conduta, portanto, deve ser compreendida de acordo com a missão
conferida ao direito penal.

➥ Funcionalismo Teleológico ou Moderado (Roxin)


↪ Função do direito penal é a proteção de bens jurídicos.
↪ Funcionalismo rompe com o finalismo.
↪ Se a missão do direito penal é proteger os valores essenciais à convivência social
harmônica, a intervenção mínima deve nortear a sua aplicação, consagrando como
típicos apenas os fatos materialmente relevantes. Além disso, a teoria do delito deve
ser reconstruída com lastro em critérios políticos criminais.
↪ O funcionalismo teleológico ou moderado propõe que se entenda a conduta como
comportamento humano voluntário causador de relevante e intolerável lesão ou
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal.

➥ Funcionalismo Sistêmico ou Normativista (Jakobs)


↪ Renormatização penal, deixando o legislador absolutamente livre, sem vinculação
a nenhuma estrutura prévia à normação jurídica
↪ Delito é visto como um indício da falta de fidelidade ao direito, que põe em perigo
a vigência do sistema normativo, derivando daí a resposta penal, como reafirmação
daquele. Ao direito penal cabe restabelecer no plano comunicativo a vigência
perturbada da norma, por meio da pena que, como resposta, confirma a norma.
↪ Direito Penal está determinado pela função que cumpre no sistema social, e
inclusive o próprio Direito Penal é um sistema autônomo, autorreferente, e
autopoiético, dentro do sistema mais amplo da sociedade. Tem suas regras próprias
e a elas se submete.
↪ O funcionalismo sistêmico repousa sua preocupação na higidez das normas
estabelecidas para a regulação das relações sociais. Assim, havendo a frustração
da norma pela conduta do agente, impõe-se a sanção penal, uma vez que a missão
do direito penal é assegurar a vigência do sistema. Sob esta ótica, conduta será
considerada como comportamento humano voluntário causador de um resultado
evitável, violador do sistema, frustrando as expectativas normativas.
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↪ Jakobs recoloca a culpabilidade o terceiro substrato do conceito analítico de


crime. Assim, crime, no seu pensar, é fato típico, antijurídico e culpável. A
culpabilidade tem como elementos a imputabilidade, a potencial consciência da
ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.
↪ Teoria do Direito Penal do Inimigo

✿ Funcionalismo Reducionista ou Contencionista (Zaffaroni)

➥ Estado de Direito não significa outra coisa que contenção do Estado de polícia.

➥ O ideal seria existir apenas o primeiro. Mas não existe nenhum país do mundo
em que não convivam os dois. Quanto maior é a contenção do segundo, mais o
primeiro se aproxima do ideal. A função do Direito penal, como instrumento do
Estado de Direito, consiste em reduzir a violência do Estado de polícia.

➥ Quando mais criminalização se admite, mais arbitrário é o sistema penal,


sobretudo em razão da seletividade. Também é tarefa do Direito penal alcançar a
plena realização de um poder punitivo estatal menos irracional. Sua função consiste
em reduzir e conter o poder punitivo dentro dos limites menos irracionais possíveis

Anotações de Daniela durante a aula:


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Pesquisa:

✶ Teoria Constitucionalista do Delito


A teoria constitucionalista do delito visa abordar a teoria do delito fundamentada em
bases constitucionais. Em suma, essa teoria entende que as finalidades do direito
penal são condicionadas aos valores, princípios e regras estabelecidas pela
Constituição, ou seja, o modelo de Estado vigente, que no caso do Brasil é o Estado
constitucional e democrático de direito está diretamente direcionado à teoria do
delito.

Nas palavras do professor Luiz Flávio Gomes uma das consequências mais
notáveis dessa visão constitucionalista consiste em admitir que o delito só pode ter
existência quando o bem jurídico protegido pela norma (que, além de imperativa, é
também valorativa) for concretamente afetado (lesado ou posto em perigo). Já não
basta, para a tipicidade penal, somente sua concretização formal (que se esgota
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nas clássicas categorias da conduta, resultado naturalístico nos crimes materiais -,


nexo de causalidade e adequação típica formal).

✶Teoria social da ação


A teoria social da ação foi desenvolvida por Johannes Wessels e tem como principal
adepto Hans-Heinrich Jescheck. A pretensão desta teoria não é substituir as teorias
clássica e finalista, mas sim acrescentar-lhes uma nova dimensão, a relevância ou
transcendência social.

Deste modo, a conduta, para a teoria social, é o comportamento humano voluntário


psiquicamente dirigido a um fim socialmente reprovável. A reprovabilidade social
passa a integrar o conceito de conduta, na condição de elemento implícito do tipo
penal (comportamentos aceitos socialmente não seriam típicos).

Dolo e culpa, para esta teoria, integram o fato típico, mas seriam novamente
analisados quando do juízo de culpabilidade.

Os adeptos desta teoria sustentam seu valor na capacidade que tem de adequar a
realidade jurídica à realidade social, pois um fato não pode ser considerado
tipicamente penal ao mesmo tempo em que a sociedade lhe é indiferente e o
resultado de eventual conduta, consequentemente não tem relevância social.

A principal crítica que se faz à teoria social da ação é a vagueza do conceito de


transcendência ou relevância social.

Aula 3 (30 de março)

FATO TÍPICO

1. CONDUTA (Finalismo: Hans Welzel)


+ Vai dizer que há comportamento humano voluntário nos crimes dolosos e
culposos
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◾ Conceito
➯ Comportamento humano voluntário
➯ Comissivo ou omissivo
➯ Direcionado a determinado fim

◾ Causas de exclusão de conduta (ausência absoluta de voluntariedade)


*Se não há conduta, não há fato típico, sem ele não há crime.

➯ Atos reflexos → Impulsos orgânicos incontroláveis, Obs: ≠ Crime de ímpeto;


ações em curto circuito
Ex: Garoto com epilepsia, durante uma crise, morde o dedo de X - que o ajudava
a não morder a própria língua - e o arranca.
➯ Atos de inconsciência → Sonambulismo; hipnose.
➯ Atos de força irresistível (força física ou da natureza)
▸ Ou força física → Coação física irresistível
Coação física irresistível ≠ Coação moral irresistível
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* Exclui 100% a voluntariedade → Não te deixa escolha ➨ Ausência de conduta


→ Exclui fato típico.
* Psicológica ➨ Exclui culpabilidade.
▸ Ou força da natureza

Responsabilidade penal da pessoa jurídica


◾ Teoria da ficção jurídica (Savigny - 1779 - 1861) *tratando sobre a responsabilidade civil

➯ Pessoa jurídica → Ficção humana

◾ Teoria da realidade (Otto Gierke - 1841 - 1921) *tratando sobre a responsabilidade civil

➯ Pessoa jurídica → É uma realidade → Sujeito de direito → Consequentemente


sujeito de obrigações e deveres.

◾ Pena
➯ Pena privativa de liberdade → Principal
➯ Restritiva de direitos
➯ Multa
▸ Como aplicar a uma pessoa jurídica uma pena privativa de liberdade? Não tem
como.

◾ Tradição romano-germânica x Tradição anglo-saxônica


➯ Romano-germânica (civil law) → societas delinquere non potest → A pessoa
jurídica não pode praticar crimes nem ser responsabilizada penalmente → Grande
resistência em admitir a responsabilidade penal da pessoa jurídica
➯ Anglo-saxônica (common law) → Pioneiros em admitir a responsabilidade penal
da pessoa jurídica.

◾ Argumentos favoráveis
➯ Necessidade do direito penal se adaptar a uma nova realidade.
➯ Existem pessoas jurídicas que são criadas para cometer crimes.
➯ Direito penal possui penas além da privativa de liberdade.
➯ Punição da pessoa jurídica não exclui a possibilidade de punição da pessoa
física.
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➯ Prescrição do crime X Dificuldade de apuração da pessoa física.


➯ Fim à denúncia genérica
*Denúncia genérica é a que deixa de apontar claramente a conduta praticada pelos agentes
envolvidos no crime. Há ausência de individualização das condutas. Relaciona-se com crimes
praticados por mais de uma pessoa, sendo exemplo os crimes societários.

➯ Acredita que protege-se mais o bem jurídico.

◾ Argumentos desfavoráveis
➯ Direito penal na contramão da história.
➯ Pessoa jurídica servir de escudo para pessoa física.
➯ Punir apenas a pessoa jurídica é inútil → Sanção meramente simbólica → Muito
simbólica → Pouca ação.
➯ Possibilidade de transcendência da pena → Punindo pessoas inocentes.
➯ Protegendo menos, na verdade, o bem jurídico

◾ Responsabilidade penal da pessoa jurídica é prevista no Brasil


➯ Fundamentos constitucionais
Constituição Federal de 1988, art. 225, § 3º:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.

➯ Lei 9605/1998 - Lei de crimes ambientais


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm
Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
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➯ Pessoa jurídica:
▸ Sujeito ativo → Apenas nos crimes ambientais
▸ Sujeito passivo → Sempre que houver compatibilidade com sua natureza
Ex: Não tem como uma pessoa jurídica ser vítima de homicídio, não é compatível
com sua natureza.
* Obs: Sujeito ativo X Sujeito passivo
Sujeito ativo é aquele que comete a conduta criminosa descrita na lei.
Sujeito passivo é a vítima, aquele que teve um bem jurídico lesado.

➯ Possibilidades de denúncia para o Ministério Público nos crimes ambientais:


▸ Pode denunciar só a pessoa física

▸ Pode denunciar a pessoa física + a pessoa jurídica


➥ Concurso necessário → Concurso Necessário é aquele que em sua própria
natureza jurídica devem estar presentes dois ou mais agentes, ou seja, só podem
ser cometidos por duas ou mais pessoas → Crimes plurissubjetivos.
➥ Dupla imputação não é mais obrigatória:
Informativo nº 566 do STJ
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. DESNECESSIDADE DE DUPLA
IMPUTAÇÃO EM CRIMES AMBIENTAIS.
É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia
em seu nome. Conforme orientação da Primeira Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da
Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica
por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese
responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária
dupla imputação" (RE 548.181, Primeira Turma, DJe 29/10/2014). Diante dessa
interpretação, o STJ modificou sua anterior orientação, de modo a entender que é
possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia
em seu nome. Precedentes citados: RHC 53.208-SP, Sexta Turma, DJe 1º/6/2015;
HC 248.073-MT, Quinta Turma, DJe 10/4/2014; e RHC 40.317-SP, Quinta Turma,
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DJe 29/10/2013. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 6/8/2015, DJe 13/8/2015.

▸ Pode denunciar só a pessoa jurídica


➥ Para denunciar a pessoa jurídica há requisitos cumulativos - Art. 3º da Lei
9605/98
◈ Ordem criminosa foi decisão do representante legal, contratual ou órgão
colegiado da empresa
◈ Crime cometido no interesse/benefício da pessoa jurídica

Aula 4 (06 de abril)

FATO TÍPICO

2. RESULTADO
◾ Art. 14, Código Penal
Art. 14 - Diz-se o crime:
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente.

Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.

➯ Explicando o parágrafo único: A tentativa funcionará como causa de diminuição


de pena, exceto nos casos em que a figura tentada caracterizar tipo incriminador
autônomo.

◾ Iter Criminis
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➯ Conceito só se aplica a crimes dolosos


➯ Um crime doloso não precisa reunir necessariamente todas as fases do iter
criminis

➯ Cogitação: Fase toda mental → Ela por si só é um indiferente penal


➯ Atos preparatórios (Ante Factum): Um momento anterior à execução do crime
→ Vai se cercar de meios que irão viabilizar a realização do delito (uma prática
futura)
▸ Em regra não são puníveis os atos meramente preparatórios, salvo se elas forem
criminalizados
Exemplo: Petrechos para falsificação de moeda
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à
falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
➯ Atos executórios: Começo da execução do crime
➯ Consumação: Crime consumado
➯ Exaurimento (Post Factum): Tudo aquilo que se faz depois de já ter consumado
o crime
▸ Em regra, impunível
➥ Em alguns casos, há acréscimo de aumento de pena → Qualificadora;
agravante. *Tecnicamente, não poderia
➥ Em alguns casos inaugura-se um novo Iter Criminis
Ex: Ocultação de cadáver, após homicídio.

🔴 Certa incerteza doutrinária sobre quando termina os atos preparatórios e quando


começa os atos executórios → Como diferenciar?
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Teoria objetiva: O começo da execução é marcado pela prática do verbo nuclear


do tipo incriminador.
Teoria do bem jurídico: O começo da execução se dá quando expõe-se o bem
jurídico a um perigo concreto de lesão.

◾ Consumação
● Todo tipo incriminador tutela algum bem jurídico
● Todo crime que se consuma produz, ao menos, um resultado jurídico

Resultado jurídico = Lesão ao bem jurídico (análise no plano metafísico)

➯ Crimes materiais: A consumação depende da produção de um resultado


naturalístico (para além do resultado jurídico).
▸ Resultado naturalístico → Alteração do mundo exterior
Exemplo: Homicídio (Art. 121, CP)
Lesão do bem jurídico vida → Resultado jurídico
O corpo morto → Resultado naturalístico
Nos crimes materiais, a consumação gera os dois resultados.

➯ Crimes formais (ou crimes de consumação antecipada): Consumam-se com a


produção do resultado jurídico. O resultado naturalístico, se houver, será mero
exaurimento.
Exemplo: Crime de extorsão (Art. 158, CP) - Constranger alguém, mediante
violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:
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➯ Crimes de mera conduta: Consumam-se com a simples prática da conduta


descrita no tipo incriminador.
Exemplo: Art. 150, CP - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente,
ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em
suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

◾ Tentativa
➯ Iniciada a execução
➯ O crime não se consuma
➯ Por circunstâncias alheias → “Quero prosseguir, mas não posso” → Continua
desejando a consumação, o agente apenas não conseguiu
➯ À vontade do agente → Crime doloso
*Não se confunde tentativa com desistência voluntária ou arrependimento eficaz.

Aula 5 (13 de abril)

◾ Crimes que não admitem tentativa


➯ Contravenções → Art. 4º da Lei de Contravenções Penais
Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.

➯ Crimes habituais
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▸ Um/Alguns atos → Atipicidade


▸ Hábito do ato → Tipicidade (Conduta que se encaixa no tipo incriminador) →
Consumado
➥ Ou consumou ou é atípico, não existe meio termo.

➯ Preterdolosos

▸ O crime preterdoloso ou preterintencional é aquele no qual coexistem os dois


elementos subjetivos: dolo na conduta antecedente e culpa no resultado
consequente. Existe um crime inicial doloso e um resultado final culposo. Na
conduta antecedente, o elemento subjetivo é o dolo, uma vez que o agente quis o
resultado.
Exemplo: Lesão Corporal (dolo) seguida de morte (culpa) → ≠ homicídio
doloso ou culposo

➯ Culposos
▸ Querer fundado em erro

➯ Tentativa como crime autônomo - Quando o crime previsto já é uma tentativa.


Não há como tentar uma tentativa.
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Exemplo: Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a


medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena -
detenção, de 3 (três) meses a (um) ano, além da pena correspondente à violência.

➯ Unissubsistentes

Crimes plurissubsistentes X Crimes unissubsistentes


▸ Plurissubsistentes = A existência do crime pode ser fracionada; admitem
tentativa, desistência voluntária e arrependimento eficaz.

▸ Unissubsistentes = O oposto. Ex: Injúria, calúnia e difamação desde que


verbais.

➯ Omissivos próprios ou puros


▸ Núcleo descreve um não fazer, deixar de.
Exemplo: Omissão de socorro - Art. 135, CP - Deixar de prestar assistência,
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou
à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não
pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis
meses, ou multa.

◾ Espécies de tentativa
➯ Tentativa perfeita → “Crime falho”
➯ Tentativa imperfeita → Algo indesejado vai interromper a execução

➯ Tentativa vermelha → “Cruenta” → Atingiu, ainda que parcialmente, o objeto do


crime.
➯ Tentativa branca → “Incruenta” → Não atingiu o objeto do crime, mas causou um
perigo concreto.

➯ Tentativa idônea → Perigo concreto de lesão ao bem jurídico → Tentativa punível


➯ Tentativa Inidônea → Sinônimo de “crime impossível” → Tentativa impunível
▸ Art. 17, CP - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Exercícios
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Prof. Daniela Portugal - 2022.1

1. X dispara 3 tiros contra Y para matar. Chega a atingir a vítima, mas é


interrompido por um policial que o prende em flagrante.
R: Tentativa imperfeita, vermelha e idônea.

2. X, excelente atirador, pretende matar Y com tiro à distância e leva consigo


somente um projétil. Ao disparar, todavia, não atinge Y, que sobrevive.
R: Tentativa perfeita, branca e idônea.

3. X deseja furtar Y e chega a arrebatar seu colar, mas de imediato é atacado


pelo cão de guarda da vítima. Acabando por não lograr êxito na subtração.
R: Tentativa imperfeita, vermelha e idônea.

4. X, desejando matar Y, compra veneno e coloca na bebida da vítima. A vítima


sobrevive, o réu confessa o crime, mas a investigação constata que
venderam a X água, invés de veneno.
R: Tentativa inidônea.

5. X, ciente da sua gravidez, toma remédio abortivo. O feto, entretanto,


sobrevive, descobrindo-se posteriormente que X por engano tomou pílula de
farinha.
R: Tentativa inidônea.

◾ Desistência voluntária e arrependimento eficaz


➯ Doutrina costuma chamar de “tentativa abandonada” → Mas não é uma espécie
de tentativa.
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Exercícios

1. X desejando matar Y, compra veneno e coloca na bebida de Y. Após Y beber


o veneno, X muda de ideia e lhe oferece outra bebida, dessa vez com o
antídoto. Y bebe o antídoto.
R: Arrependimento eficaz

2. X atira em Y com intenção de matar. Ciente de que a vítima estava


desacordada, porém viva, X liga para seu advogado dizendo que irá terminar
o serviço. O advogado porém insiste no telefone para que X deixe o local e
só a convence ao assegurar que X não responderá por tentativa de
homicídio. X deixa o local e a vítima sobrevive.
R: Desistência voluntária; X responde por lesão corporal consumada.

3. X entra na casa de Y para furtar. Já dentro do local, escuta sirene de polícia


de uma viatura que coincidentemente passava. X deixa o local sem levar
nada, pois achou que a sirene era pra ele.
R: Tentativa imperfeita

Como diferenciar uma tentativa imperfeita de uma desistência voluntária?


Fórmula de Frank
Tentativa Imperfeita: Quero prosseguir, mas não posso
Desistência voluntária: Posso prosseguir, mas não quero

4. X dispara contra Y para matá-lo, mas logo em seguida se arrepende, levando


a vítima para o hospital a fim de salvá-la. A vítima, todavia, não resiste aos
ferimentos e morre.
R: Homicídio doloso consumado.

◾ Arrependimento posterior
➯ Só é cabível para crimes sem violência ou grave ameaça.
➯ Critérios cumulativos:
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➥ Repara o dano ou restitui a coisa


➥ + Voluntariamente (não precisa de espontaneidade)
➥ + Antes do recebimento da denúncia ou queixa

Pesquisa
● Crime impossível e flagrante preparado
⤷ Flagrante preparado: flagrante provocado, crime de ensaio, delito de experiência
■ ocorre por ação do chamado “agente provocador” – que induz, convence
alguém a praticar suposto delito e, ao mesmo tempo, toma providências para
impedir a consumação.

⤷ Súmula 145 do STF - Não há crime, quando a preparação do flagrante pela


polícia torna impossível a sua consumação.
⤷ STJ reconhece crime impossível por flagrante preparado -
https://www.migalhas.com.br/quentes/269588/stj-reconhece-crime-impossivel-por-fla
grante-preparado
■ Costuma-se dizer que o flagrante não seria válido por dois motivos:
a) impossibilidade de consumação do crime;
b) vício na vontade do agente → O agente é estimulado, artificiosamente, a
cometer uma conduta típica; a sua atividade não se desenvolve espontaneamente,
e, por isso, não existiria nela qualquer autenticidade. Crime é, antes de mais nada,
conduta. Para efeito de flagrante provocado, é justamente o vício na conduta que
desnaturaria o crime.

Obs: Tráfico de drogas


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Ex: Imagine a seguinte situação: um policial militar à paisana se dirige a um sujeito


suspeito de ser um grande traficante da região. O policial finge interesse em adquirir
drogas em poder do agente e, no momento em que ocorreria a entrega da
substância, identifica-se como miliciano e realiza a prisão em flagrante do traficante.
Indaga-se: a prisão em flagrante é válida? Ou se está diante de flagrante preparado
e, portanto, de crime impossível?

→ Há o entendimento jurisprudencial que o núcleo do tipo do crime é misto ou


alternativo - Art. 33, Lei 11.343/2006 - “Importar, exportar, remeter, preparar,
produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:”

→ A consumação do crime se dá pela prática de qualquer um das ações descritas


no tipo penal.

→ Daniela discorda desse entendimento, por conta da teoria dos frutos da árvore
envenenada → “A doutrina dos frutos da árvore envenenada é uma metáfora que
faz comunicar o vício da ilicitude da prova obtida com violação a regra de direito
material a todas as demais provas produzidas a partir daquela. Aqui tais provas são
tidas como ilícitas por derivação”.

Obs²: No flagrante esperado, inexiste agente provocador, embora chegue à polícia a


notícia de que um crime será praticado em determinado lugar, colocando-se de
guarda. É possível que consiga prender os autores em flagrante, no momento de
sua prática. Como regra, não se trata de crime impossível, tendo em vista que o
delito pode consumar-se, uma vez que os agentes policiais não armaram o crime,
mas simplesmente aguardaram a sua realização, que poderia acontecer de modo
totalmente diverso do esperado.
⤷ Não descartamos, no entanto, que o flagrante esperado se torne delito
impossível, caso a atividade policial seja de tal monta, no caso concreto, que torne
absolutamente inviável a consumação da infração penal.
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● Crime impossível e furto em ambientes monitorados por sistema de


vigilância
⤷ Súmula 567/STJ - Não há crime impossível pelo fato de existirem dispositivos de
segurança que dificultem a subtração: "Sistema de vigilância realizado por
monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de
estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime
de furto".
■ Percebe-se, pois, que, não obstante a existência de vigilância, o próprio
acusado confessou que adentrou no estabelecimento e lá permaneceu um tempo,
tendo comido um chocolate e um salgado. Ademais, a vítima relatou que já existiam
mercadorias separadas para subtração, inclusive no telhado, o que demonstra que
era plenamente possível a consumação do delito nos moldes planejados pelo réu, o
que não aconteceu por circunstâncias alheias à sua vontade.

Quanto ao tema, a jurisprudência é pacífica no sentido de que a existência de


sistema de segurança - eletrônico ou por meio de fiscais - não torna impossível a
subtração dos bens.

Na espécie,o fato de o réu ter sido monitorado desde o momento que entrou na loja,
por si só, não caracteriza a absoluta ineficácia do meio, pois a presença de sistema
de monitoramento no estabelecimento comercial não afasta o risco, ainda que
mínimo, de que o agente logre êxito na consumação do furto e cause prejuízo à
vítima.

Assim, não há que se falar em crime impossível pela ineficácia absoluta do meio.

⤷ Entendimento divergente do STF em um caso concreto


■ SP: STF reconhece crime impossível em caso de tentativa de furto em ambiente
monitorado, após recurso da Defensoria

A Defensoria Pública de SP obteve uma decisão da 2ª Turma do Supremo Tribunal


Federal (STF) que reconheceu como crime impossível a tentativa de furto de três
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peças de picanha de um supermercado monitorado por sistema de vigilância. A


decisão é de agosto de 2017, porém foi divulgada apenas nesta semana.

O habeas corpus para os acusados foi feito pelo Defensor Público César Augusto
Luiz Leonardo, que atua em Marília. Segundo consta no processo, duas pessoas
tentaram furtar três peças de picanha, avaliadas em R$ 100,60. No entanto, devido
ao monitoramento realizado através de câmeras de vigilância, elas foram abordadas
pelos seguranças do estabelecimento, o que impediu a consumação do crime.

Para o Ministro Dias Toffoli, relator do acórdão no STF, "a forma específica
mediante a qual os funcionários do estabelecimento vítima exerceram a
vigilância direta sobre a conduta, acompanhando ininterruptamente todo o iter
criminis, tornou impossível a consumação do crime, dada a ineficácia
absoluta do meio empregado”.

O Ministro Dias Toffoli observou, no entanto, que esse entendimento pela


caracterização de "crime impossível" não conduz, automaticamente, à atipicidade de
toda e qualquer subtração em estabelecimento comercial que tenha sido monitorada
pelo corpo de seguranças ou pelo sistema de vigilância. "O infrator, não obstante
todo esse aparato, pode vir a lograr êxito no intento delituoso, o que permitiria
concluir que o meio empregado para a consecução do crime não seria ineficaz ao
ponto de tornar o crime impossível". E alertou: "É de bom tom deixar consignado
que a conclusão pela atipicidade, tal como se deu na espécie, dependerá da análise
individualizada das circunstâncias de cada caso concreto".

O Ministro Ricardo Lewandowski acolheu o voto do relator e disse que, no caso,


também incidia o princípio da bagatela penal. Ele consignou que concordava com o
voto do relator “quando se trata de um grande supermercado, com câmeras de
vigilância, com guardas, não só nas entradas, mas nas saídas. Penso que, nesse
caso, realmente, o crime não se pode consumar, é absolutamente impossível.
Porém, há casos em que esses furtos são feitos contra pequenos estabelecimentos
comerciais sem essa parafernália tecnológica e sem qualquer tipo de empregados
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que possam fazer uma vigilância mais constante sobre os consumidores. Há casos
e casos”.

Os Ministros Edson Fachin e Celso de Mello, por outro lado, concordaram com a
concessão do habeas corpus pela atipicidade penal das condutas, mas
fundamentaram seus votos exclusivamente na incidência do princípio da
insignificância penal.
Aula 6 (20 de abril)

◾ Crime impossível
➯ Art. 17, CP - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou
por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
➯ O resultado jamais poderia se consumir → Situação que naquelas
circunstâncias, nunca se consumaria.
➯ Absoluta ineficácia do meio → Meio = Caminho eleito para prática do crime →
Completamente (100%) inócuo/inofensivo.
Exemplo: Tentativa de homicídio por envenenamento com substância inócua ou
com a utilização de revólver desmuniciado.
➯ Absoluta impropriedade do objeto → Objeto = Pessoa/coisa sobre qual recai a
conduta criminosa → O objeto atingido não se enquadra no tipo incriminador.
Exemplo: Manobras abortivas praticadas por mulher que não está grávida, no
disparo de um revólver contra um cadáver.
➯ Teorias:
▸ Subjetiva → Enfoque na vontade
➥ O crime impossível sempre será punível

▸ Objetiva → Enfoque no resultado


➥ Objetiva pura → Nunca será punível, já que a ineficácia do meio ou a
impropriedade do objeto impediram a consumação.
➥ Objetiva temperada (adotada pelo código brasileiro) → Depende
a) ABSOLUTA ineficácia do meio/impropriedade do objeto → o agente não
responde
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Exemplo: Mulher que tenta abortar com pílula de farinha → ABSOLUTA


ineficácia do meio.
b) RELATIVA ineficácia do meio/impropriedade do objeto → o agente responde
Exemplo: Mulher que tenta abortar com pílula abortiva vencida.

Obs: Flagrante esperado X Flagrante preparado


⋆ Esperado: Crime possível → O agente responde, pois cometeu crime.
⋆ Preparado: Meio absolutamente ineficaz para consumar o delito → Crime
impossível O agente será absolvido → Não comete crime.

3. NEXO DE CAUSALIDADE
◾ Conceito

◾ Teorias
➯ Teoria da causalidade adequada: Causa é o evento suficientemente idôneo/apto
à produção do resultado

➯ Teoria da equivalência dos antecedentes causais (teoria da “conditio sine qua


non” → condição sem a qual não)
▸ Causa é a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido, tal qual
ocorreu.
▸ Tudo o que reverberou, de algum modo, no resultado, equivale ao status de
“causa”.
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Exemplo do Habibs

➥ Técnica para identificar uma causa para essa teoria → “Juízo hipotético de
eliminação” (Thyren)
1. Suprime-se mentalmente/abstratamente/hipoteticamente um evento
2. Se o resultado (em tese) se altera, trata-se de uma causa

▸ Crítica → Regresso ao infinito


➥ O referido regresso ao infinito criado pela teoria acima é resolvido não pela
própria teoria, mas sim quando do exame da tipicidade subjetiva (dolo x culpa).

▸ É a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro → Art. 13 do CP - O resultado, de


que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa.
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

➯ Teoria da imputação objetiva (Claus Roxin) *Não é dele, ele só reuniu as teorias
▸ Teoria → São várias teorias sistematizadas em uma só
▸ Da imputação → Na verdade não imputa nada, mas cria filtros à imputação → o
objetivo é excluir a imputação.
▸Objetiva → O termo “objetiva” induz ao erro, pois não é uma teoria que se opõe ao
princípio da responsabilidade subjetiva (dolo/culpa).
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➥ Análise do risco → Risco permitido X Risco proibido → Passível de


responsabilização penal.
⋆ A identificação do risco proibido se dá através da prognose póstuma objetiva:
Uma ação será perigosa ou criadora de risco se o juiz, levando em conta os fatos
conhecidos por um homem prudente no momento da prática ação, concluir que esta
ação gera uma possibilidade real de lesão a determinado bem jurídico.

Prognose, porque é um juízo formulado de uma perspectiva ex ante, levando em


conta apenas dados conhecidos no momento da prática da ação.

Objetiva, porque a prognose parte dos dados conhecidos por um observador


objetivo, por um homem prudente, cuidadoso – e não apenas por um homem médio
– pertencente ao círculo social em que se encontra o autor.

Póstuma, porque, apesar de tomar em consideração apenas os fatos conhecidos


pelo homem prudente no momento da prática da ação, a prognose não deixa de ser
realizada pelo juiz, ou seja, depois da prática do fato.

Aula 7 (27 de abril)

▸ Filtros de imputação → Não vão sofrer imputação:


➥ Risco juridicamente relevante → Não se pode imputar crime a aquele que não
causar risco juridicamente relevante
Exemplo: A mulher que sabe que o marido vai viajar de avião e deseja que o
avião caia e que o marido morra.

➥ Risco para diminuição de risco


Exemplo: X sofre um acidente de carro. O carro capota, ele fica com o braço
preso nas ferragens e a qualquer momento o veículo pode explodir. Para salvar a
vida de X, Y amputa o braço de X, tirando-o do veículo. → Y não vai sofrer
imputação.

➥ Aumento do risco permitido


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Exemplo: Z, indústria de pincel, infringindo o dever de cuidado, entrega a seus


trabalhadores matéria prima - pelo de animais - não desinfetada. Uma bactéria
presente nos pelos infecta quatro dos trabalhadores, que morrem por conta da
infecção. Durante a perícia, constata-se que mesmo com a desinfecção, a bactéria
continuaria viva, o que não teria eliminado a possibilidade de morte desses quatro
empregados. → Não há imputação.

➥ Âmbito de proteção da norma → Não se pune situações que estão fora do


âmbito da proteção da norma.

➥ Autocolocação em perigo → Não se pune criminalmente


⋆ O auxílio a autolesão é punível.

◾ Concausas
➯ Absolutamente independentes: São concausas que não se relacionam entre si,
não possuem um vínculo de origem.
▸ O resultado derivou ou de uma ou de outra concausa. Identifica-se a concausa
responsável pelo resultado, imputando-se a ela a consumação e a todas as demais
concausas, imputa-se no máximo a tentativa.

➯ Relativamente independentes: São concausas que se relacionam entre si. Elas


são conectadas através de um vínculo de origem de modo que podemos dizer que o
resultado não deriva de uma ou outra isoladamente, mas uma soma de esforços.
▸ Todas as concausas serão somadas, imputando-se a todas elas conjuntamente a
consumação
Obs: O legislador, entretanto, prevê excepcionalmente a possibilidade, no caso
das concausas relativamente independentes supervenientes, de ruptura do nexo
de causalidade, ocasião em que não será possível imputar a consumação ao
agente, mas tão somente a tentativa.
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Momento Absolutamente Relativamente


Independentes independentes

Preexistente 1. X responde por 4. X responde por crime


tentativa consumado

Concomitante 2. X responde por 5. X e Y respondem por


tentativa crime consumado.

6. Explicação dessa
concausa → Houve
ruptura do nexo?

7. Não rompeu o nexo


Superveniente 3. X responde por X responde por crime
tentativa consumado.

8. Rompeu o nexo
X responde por
tentativa

1. X atira em Y com a intenção de matar. Y morre, mas a perícia constata que a


causa mortis foi envenenamento, pois coincidentemente Y havia tomado um
veneno a fim de suicidar-se.
R: X responde por tentativa de homicídio → O veneno é uma concausa
absolutamente independente preexistente ao tiro, sendo assim X
responde por tentativa.

2. X e Y coincidentemente desejam causar a morte de Z. Disparam, também por


coincidência, no mesmo momento. O tiro de X acerta o pé da vítima, o de Y
acerta a cabeça. A perícia constata que a causa da morte foi hemorragia
cerebral.
R: Y responde por homicídio doloso consumado, enquanto que X por
tentativa de homicídio. → A conduta de Y é uma concausa absolutamente
independente concomitante ao tiro de X.

3. X envenena Y com intenção de matar. Coincidentemente sem saber que já


havia tomado veneno, Y dispara contra si próprio, suicidando-se. A perícia
confirma que a morte foi causada por disparo de arma de fogo.
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R: X responde por tentativa de homicídio → O suícidio é uma concausa


absolutamente independente superveniente ao envenenamento.

4. X ciente de que Y é hemofílico, atira na perna da vítima com intenção de


matar. Y morre, e a perícia confirma que o referido tiro jamais mataria uma
pessoa não hemofílica.
R: X responderá por homicídio doloso consumado → A hemofilia é uma
concausa relativamente independente preexistente ao tiro → Soma-se as
duas, a condição preexistente (que X tinha conhecimento) + o tiro.

5. X e Y combinam de causar juntos a morte de Z. Cada um ministra 2mg de


veneno na bebida da vítima, que ao ingerir o líquido morre instantaneamente.
A perícia constata a morte por envenenamento, ressaltando que a dose
mínima letal era de 3 mg.
R: X e Y respondem por homicídio doloso qualificado (com emprego de
veneno) consumado → O emprego de veneno dos dois são concausas
relativamente independentes concomitantes.

6. Concausas relativamente independentes supervenientes


Essa foi a única hipótese de concausa tratada pelo código penal brasileiro:
Art. 13 do CP - O resultado, de que depende a existência do crime, somente
é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão
sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Superveniência de causa independente
§ 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a
imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores,
entretanto, imputam-se a quem os praticou.
→ O legislador previu que a concausa relativamente independente
superveniente romperá o nexo de causalidade quando ficar provado que ela
“por si só produziu o resultado”. Nesse caso, em decorrência da ruptura, o
agente responderá somente pela tentativa.
→ Falaremos em ruptura do nexo sempre que a concausa relativamente
independente superveniente estiver completamente fora de uma linha de
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desdobramento comum/usual/razoavelmente provável. Por isso,


reconhecendo-se a ruptura, o agente responde pela tentativa.
→ Diferentemente se o desdobramento superveniente é razoavelmente
comum, não romperá o nexo e o agente responderá pelo delito na sua forma
consumada.

7. X com a intenção de matar Y, o golpeia com uma facada no pescoço. Y


chega a ser levado ao hospital com vida, mas vem a óbito durante o
procedimento de retirada da faca, pois era impossível conter a hemorragia.
* Um pequeno erro médico e infecção hospitalar → Decisões que dizem que não rompem o
nexo causal.

R: X responderá por homicídio doloso consumado → A hemorragia com


a retirada da faca é uma concausa relativamente independente
superveniente onde o nexo causal não é rompido, logo X responderá pela
forma consumada do crime.

8. X com a intenção de matar Y, dispara contra Y e acaba atingido sua barriga.


A SAMU chega ao local e encontra Y com vida, colocando-o na ambulância.
A caminho do hospital, o motorista se distrai, causando um acidente e todos
no veículo morrem.
R: X responderá por tentativa de homicídio → O acidente com a
ambulância é uma concausa relativamente independente superveniente
onde o nexo causal é rompido, logo X responderá pela forma tentada do
crime.

Aula 8 (04 de maio)

◾ Garantidores
➯Omissão penalmente relevante → Crimes omissivos
▸Omissivos próprios ou puros
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➥ O tipo incriminador descreve um não fazer


➥ O agente que comete a omissão descrita pratica crime
➥ Não admitem tentativa
Exemplo: Art. 135 do CP - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou
ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade pública.

▸ Omissivos impróprios ou comissivos por omissão

➥ Sujeito ativo é um garantidor, que se omitiu quando podia e devia agir.


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➯ Garantidor ou garante → Podia e devia agir


▸ Podia agir → Valorar no caso concreto (razoabilidade)
▸ § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir
para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
▸ O garantidor que podendo agir nada faz será punido como se tivesse
comissivamente causado o resultado.
Exemplo: Mãe que podendo alimentar o filho, intencionalmente nada faz, e ele
falece, responde por homicídio doloso omissivo impróprio ou comissivo por omissão
→ Nexo de não impedimento

Exemplo 2: Policial vê um estupro acontecendo e nada faz, responde por estupro


omissivo impróprio.

Exercícios
1. Salva-vidas e X observam Y se afogando até a morte, e mesmo podendo
agir, nada fazem.
R: O salva-vidas responde por homicídio doloso omissivo impróprio; X
responde por omissão de socorro (uma omissão própria ou pura).

2. Considere na questão 1 que o salva-vidas e X não percebem Y se afogando.


R: O salva-vidas responde por homicídio culposo omissivo impróprio; X não
responde.

3. Considere que na questão 1 que Z nota o ocorrido e consegue salvar Y com


vida.
R: O salva-vidas responde por tentativa de homicídio omissiva imprópria; X
responde por omissão de socorro.
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4. Salva-vidas e X conversam enquanto Y se afoga. Somente X nota Y se


afogando, mas nada faz pois deseja secretamente a morte de Y, que é seu
grande inimigo.
R: O salva-vidas responde por homicídio culposo omissivo impróprio; X
responde por omissão de socorro.

4. TIPICIDADE
◾ Tipo incriminador pode ser:
➯ Dolosos (regra geral)
➯ Culposos (exceção legal)
➯ Preterdolosos (exceção; espécie do gênero crime qualificado pelo resultado)

◾ Tipicidade → Enquadramento; encaixe; subsunção do fato à norma.

◾ Causalistas e Neokantistas
➯ Tipicidade = Conceito que se restringia a tipicidade objetiva → Conduta e
norma. Se a conduta se encaixa no tipo incriminador é um fato típico.

◾ Finalistas (Hans Welzel) *adotada pelo ordenamento brasileiro

➯ Tipicidade = tem que agregar tipicidade objetiva e subjetiva → Tipicidade


objetiva explicada acima, e a subjetiva seria dolo ou culpa.

Exercício
1. X pediu a Y um computador emprestado e já de posse do aparelho
eletrônico, por pleno descuido, acabou deixando o computador cair,
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ocasionando a completa inutilização da coisa. Diante disso, Y


pugnou/pleiteou para que X fosse processado pelo crime descrito no Art. 163
do Código Penal.
R: Trata-se de conduta atípica, pois muito embora exista tipicidade objetiva,
falta tipicidade subjetiva, uma vez que o tipo doloso do art. 163, não poderá
ser imputado à conduta culposa de X.
Pleno descuido → Conduta culposa
Art. 163 → Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de
um a seis meses, ou multa.

➯ Tipicidade formal → Enquadramento objetivo (conduta que encaixa no tipo


incriminador) e subjetivo (dolo e culpa).

➯ Tipicidade material → Efetiva lesão a um bem jurídico (princípio da insignificância


ou bagatela → Causa de exclusão de tipicidade (da tipicidade material).
*Princípio da insignificância: Mínima ofensividade da conduta (conduta), reduzido grau de
reprovabilidade do agente (sujeito ativo), inexpressividade da lesão (sujeito passivo) e ausência de
periculosidade social (social) → Requisitos cumulativos.

Exercício
2. X entrou em um supermercado de grande porte e intencionalmente subtraiu
um shampoo avaliado em R$ 7,50. O Ministério Público ofereceu denúncia
contra X, imputando-lhe o Art. 155 do Código Penal. Acertou o promotor?
R: Trate-se de conduta atípica, uma vez que, embora apresente tipicidade
formal, falta no caso tipicidade material, dada a aplicação, no caso, do
princípio da insignificância ou bagatela.

Aula 9 (11 de maio)


1ª Avaliação

Aula 10 (18 de maio)

◾ Teoria da tipicidade conglobante (Zaffaroni)


Obs: Não é adotada pelo código brasileiro
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➯ “Tipicidade”
▸ Não podemos olhar só para o direito penal
▸ Necessário um olhar conglobante para todo o ordenamento jurídico
▸ Em um mesmo ordenamento jurídico não pode coexistir mandamentos
contraditórios

➯ Para Zaffaroni, Tipicidade = Tipicidade Formal + Tipicidade Conglobante


▸ Tipicidade Conglobante = Tipicidade Material (Roxin) + Antinormatividade
(Zaffaroni) → Conduta que se opõe ao ordenamento jurídico como um todo.
▸ Tudo o que o ordenamento jurídico manda ou estimula funcionarão como
excludente de tipicidade por ausência de normatividade.
➥ Por exemplo, o estrito cumprimento de um dever legal e o exercício regular de
um direito, para Zaffaroni são excludentes de tipicidade.
➥ O estado de necessidade e a legítima defesa são práticas toleradas, não
incentivadas pelo ordenamento jurídico.

◾ Teoria dos elementos negativos do tipo


Obs¹: Não é adotada por nós → Se ampara na Teoria da Ratio essendi
Obs²: Teoria da Ratio cognoscendi (majoritária → teoria finalista → adota essa
premissa) X Teoria da Ratio essendi
→ Ratio cognoscendi: Tipicidade é indiciária (indício) da ilicitude
→ Ratio essendi: Ilicitude é a própria essência da tipicidade
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Tipicidade = Tipicidade Formal + Tipicidade Material → Majoritário

Tipos penais (tipicidade subjetiva)


◾ Dolo
➯ Conceito
Art. 18 - Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

▸ Teorias
➥ Teoria da vontade → Quis → Dolo é querer o resultado
➥ Teoria do assentimento → Assumiu o risco
➥ *Teoria da representação → Não foi contemplada pelo Código Penal Brasileiro
Não diferencia dolo eventual e culpa consciente

▸ Elementos do dolo
➥ Elemento volitivo → Vontade
➥ Elemento cognitivo → Consciência (do fato)
Dolo = Vontade + Consciência (do fato)

➯ Dolus bonus X Dolus malus


▸Dolus bonus → A partir do finalismo até hoje → Dolo natural → Dolo = Vontade +
Consciência (do fato)
▸Dolus malus → Dolo normativo → Dolo = Vontade + Consciência (Do fato + da
ilicitude → Elemento normativo) → Ficava dentro da culpabilidade.(causalistas)

➯ Dolo genérico X Dolo específico


▸Genérico: Se satisfaz com a simples vontade e consciência de praticar a conduta
típica descrita no tipo incriminador.
▸ Específico: O legislador na descrição do tipo incriminador vincula o verbo nuclear
a um especial fim de agir → Para; com fim de; com o objetivo de;
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➥ Se restar, for ausente, o fim de agir → Conduta subjetiva atípica → Atipicidade


subjetiva.

Exemplo: João, caseiro de uma fazenda, aproveitou um fim de semana em que o


patrão estava ausente para usar o carro do seu empregador em uma viagem breve
à cidade vizinha. Desde o início a intenção era somente utilizar e devolver o veículo
sem danos, com a mesma quantidade de combustível, como de fato ocorreu. O
patrão toma conhecimento do fato e acusa o empregado de furto (art. 155 do
Código Penal). Examine a tipicidade subjetiva da conduta de João.

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.

R: Falta vontade de assenhoramento, de se apoderar da coisa alheia móvel → para


si ou para outrem.
Furto → Dolo específico
Furto de uso → Conduta atípica → Subjetivamente atípica.

Aula 11 (25 de maio)


➯ Demais espécies
▸Dolo direto X Dolo indireto
➥ Direto → “Querer”
→ 1º Grau: Ex: Quero matar X e mato X.
→ 2º Grau (dolo necessário): Ex: Quero matar X, mas para isso precisarei matar
Y. → Dolo direto de 2º grau.

➥ Indireto → “Tanto faz”


→ Eventual: Ex: Assume o risco de matar X (prevê o resultado e o aceita) →
Sentimento de indiferença.
→ Alternativo:
a) Objetivo → Ex: Quero matar ou lesionar X, tanto faz
b) Subjetivo → Ex: Quero matar X ou Y, tanto faz.
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● Obs: Dolo eventual X Culpa Consciente

Dolo eventual Culpa consciente

→ Prevê o resultado e o aceita. → Prevê o resultado e o afasta


→ O agente pouco se importa com a → O agente acredita sinceramente
ocorrência ou não do resultado que não irá produzir o resultado.
→ Sentimento de indiferença → Sentimento de super confiança

“f*da-se” “f*deu”

◾ Culpa
➯ Elementos da culpa
▸Tipo culposo → Exceção legal
▸Resultado → Objeto de imputação → Não cabe tentativa
▸Nexo de causalidade
➥ Inobservância do dever de cuidado ➞ Resultado
(Nexo)

▸Previsibilidade objetiva do resultado, pouco importando se havia ou não


previsibilidade subjetiva
➥ Previsibilidade objetiva → “o resultado era previsível” (homem médio)
➥ Previsibilidade subjetiva → o sujeito da conduta efetivamente previu o resultado
➥ Se o resultado era objetivamente imprevisível, não haverá crime culposo.

▸Inobservância de um dever* de cuidado


*dever de atenção que todos nós devemos ter
➥ Imprudência e/ou (fazer)
➥ Negligência e/ou (não fazer)
➥ Imperícia (só se aplica para o profissional)
→ Inaptidão temporária
→ Domínio imperfeito da técnica

Aula 12 (01 de junho) e Aula 13 (08 de junho)


*Juntando as aulas para melhor organizar as anotações de “erro de tipo”
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➯ Espécies de culpa
▸Culpa consciente X Culpa inconsciente
➥ Consciente: Culpa com previsão (previsibilidade subjetiva) → O agente previu o
resultado
➥ Inconsciente: Sem previsão subjetiva → O agente não previu o resultado

▸Culpa própria X Culpa imprópria


➥ Própria: Sem vontade (Geralmente está associada à culpa inconsciente)
➥ Imprópria (Descriminantes putativas por erro de tipo vencível): Com vontade

▸Culpa temerária → Culpa gravíssima → Marcada por um excesso de descuido

"A culpa temerária expressa uma especial intensificação da culpa, é uma conduta
praticada de modo especialmente perigoso. O resultado, no contexto de uma culpa
temerária, apresenta-se como altamente provável. A previsibilidade é patente. A
atitude do agente na culpa temerária é altamente censurável, chega mesmo à
leviandade, por isso que justifica maior nível de reprovação (cf. SANTANA, Selma
Pereira de, A culpa temerária, São Paulo: RT, 2005).

A legislação penal brasileira sempre descuidou da denominada culpa temerária. Na


jurisprudência encontram-se julgados que fazem expressa referência à culpa grave
ou gravíssima. Emblemático foi o caso bateau mouche (STF, HC 70.362). Outras
decisões que adotaram a culpa gravíssima como base para o agravamento da pena:
STF, HC 44.485 e STF, HC 58.350"

◾ Preterdolosos
➯ Tipo penal incongruente → dolo < resultado → Transforma o resultado em uma
qualificadora do tipo incriminador.
Exemplo: Lesão corporal seguida de morte - Art. 129, § 3º → Lesão corporal
qualificada pelo resultado morte
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*Obs: Não admitem tentativa

➯ Tipos preterdolosos → Espécie de crime qualificado pelo resultado


▸ Crime qualificado pelo resultado (gênero)
➥ Conduta antecedente + Resultado consequente (qualificadora) → Admite outras
configurações além Dolo (conduta antecedente) + Culpa (resultado consequente).
Exemplo: Dolo + dolo, culpa + culpa
1. Latrocínio → Admite dolo + culpa e também dolo + dolo.
2. Estupro seguido de morte → Admite dolo + culpa e também dolo + dolo

▸Preterdolosos (espécie) → APENAS dolo + culpa


Exemplo: Lesão corporal qualificada pelo perigo de vida - Art. 129, § 1º, II do
Código Penal

◾ Erro de tipo
➯ Má interpretação dos fatos
➯ Tipos de erro de tipo:
1. Erro de tipo essencial
▸Má interpretação das circunstâncias fáticas que compõem a estrutura
essencial do tipo incriminador (estruturas elementares do tipo)
Exemplo:
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a) Erro de tipo essencial vencível (ou evitável, injustificável, inescusável)


→ Vencível (aquilo que era possível vencer) = evitável (possível evitar)
= (logo) injustificável = (logo também) inescusável
➥ Exclui dolo, mas é punido por culpa, se tipo culposo houver. →
Se não houver, não responde.
b) Erro de tipo essencial invencível (ou inevitável, justificável, escusável)
→ Invencível (aquilo que não era possível vencer) = inevitável
(impossível evitar) = (logo) justificável = (logo também) escusável
➥ Exclui dolo e culpa

2. Erro de tipo acidental


▸Exemplo: Achou que mataria A, quando matava B
▸ Via de regra, o erro acidental não excluirá a responsabilidade penal do
agente, pois o tipo incriminador foi preenchido → Vai acarretar outras
consequências jurídicas
▸Espécies de erro de tipo acidental
*Aberratio = Error = Erro

Erro sobre a Erro sobre a Resultado Erro sobre o Erro sobre a


pessoa execução diverso do objeto causa
pretendido

Error in Aberratio Aberratio Error in Aberratio


persona ictus criminis objecto causae
ou
Aberratio
delicti

Art. 20, §3º Art. 73 do Art. 74 do


do Código Código Penal Código Penal 一 一
Penal

Quer atingir Quer atingir Quer atingir Quer atingir Quer


pessoa, mas pessoa, mas coisa, mas coisa, mas alcançar
atinge atinge atinge atinge coisa resultado por
pessoa pessoa pessoa. diversa um meio,
diversa diversa mas alcança
por meio
diverso

Errou porque Errou porque Errou porque Errou porque Errou porque
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confundiu houve houve confundiu o houve


as vítimas acidente no acidente no objeto ou acidente no
curso da curso da houve curso da
execução execução acidente execução

Responderá Responderá Responderá


como se como se pela forma Responderá Responderá
tivesse tivesse culposa do normalmente normalmente
atingido a atingido a crime contra pelo crime pelo crime
vítima vítima a pessoa
pretendida pretendida

Exercícios
1. Identifique nas questões abaixo se o erro é de tipo essencial ou
acidental, especifique (se essencial é vencível ou invencível; se
acidental, qual erro) e qual a consequência jurídica.

a) João ao sair do aeroporto pega sua mala e vai para casa.


Somente ao chegar percebe sua desatenção: A própria etiqueta
da bagagem indicava que era pertencente a Pedro. Pedro
acusa João de furto (art. 155 do Código Penal)

R: Erro de tipo essencial vencível


Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel
→ Não sabia que era coisa alheia
Vencível = Desatenção
Responderia, mas como não há forma culposa para o crime d
e furto, ele não responde

b) João conhece Maria que lhe diz ter 15 anos. Ambos praticam
relação sexual consensual. Os pais de Maria o acusam de
estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal), uma vez
que a jovem tinha, em verdade, 13 anos.

R: Erro de tipo essencial invencível


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Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato


libidinoso com menor de 14 (catorze) anos. → Não sabia que
ela tinha menos de 14.
Invencível = A questão não indicava que tinha alguma forma
dele saber disso. Ela disse que tinha 15 anos.
Não responde.

c) João assalta Maria (art. 157 do Código Penal) com o objetivo de


roubar seu colar de ouro. Consumada a subtração leva a jóia
para ourives descobrindo se tratar de uma bijuteria barata.

R: Erro de tipo acidental → Erro sobre o objeto


Responderá normalmente pelo crime de roubo.

d) João, pescador, dispara lança a fim de matar peixe que fisgou o


anzol. Somente após o disparo, descobre se tratar de um
mergulhador, ocasião em que toma conhecimento de sua
desatenção. (art. 121 do Código Penal) *obs

R: Erro de tipo essencial vencível


Art. 121. Matar alguém → Não sabia que estava matando
uma pessoa.
Vencível = Desatenção
Como é um erro de tipo vencível, exclui-se o dolo e o
pescador responderá por homicídio culposo.

*obs: Como diferenciar nesse caso se seria um erro de tipo


essencial vencível ou um Aberratio criminis (resultado diverso
do pretendido - erro de tipo acidental - quando se quer atingir
coisa, mas se atinge pessoa)?
→ O erro tá no tipo incriminador, no elemento essencial do
tipo. Ele sabia que estava matando, mas não sabia que era
alguém.
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2. Identifique nas questões abaixo qual é o tipo de erro acidental e qual a


consequência jurídica nesses casos.

a) João na intenção de matar Pedro por afogamento, empurra a


vítima de uma ponte. Pedro, entretanto, morre de traumatismo
craniano no instante em que seu corpo toca uma pedra no mar.

R: Erro sobre a causa. João vai responder por homicídio doloso


consumado.

b) Felipe, objetivando subtrair a aliança de ouro de Sérgio, retira à


força o anel da vítima. Ao avaliar o item descobre se tratar de
bijuteria barata.

R: Erro sobre o objeto. Felipe vai responder pelo crime de


roubo.

c) Leonardo com o objetivo de matar Ana, sua esposa, dispara à


distância 3 tiros contra a vítima. Os tiros acertam o amigo da
vítima, que morre e Ana fica ilesa.

R: Erro sobre a execução. Leonardo vai responder por


feminicídio.

d) Rafael, policial, objetivando salvar Thiago, refém de assalto,


atira contra o assaltante para matar. O tiro, todavia, atinge e
mata a própria refém.

R: Erro sobre a execução. Rafael não responde → Excludente


de ilicitude (próximo assunto) → Legítima defesa de terceiro.
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e) Caio, caminhando na madrugada, atira pedra contra vitrine, pelo


mero prazer de causar o dano. O objeto, todavia atinge e
lesiona Maria, vendedora que estava no local organizando
estoque.

R: Resultado diverso do pretendido. Caio responderá por lesão


corporal culposa.

3. Erro de tipo determinado por terceiro


Código Penal - Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o
erro.

4. Descriminante putativa por erro de tipo


Também chamada de erro de tipo permissivo, trata-se de uma situação
análoga ao erro de tipo essencial, que irá gerar, portanto, as mesmas
consequências jurídicas (sendo invencível, exclui dolo e culpa; sendo
vencível, exclui-se o dolo, punindo-se a culpa, se tipo culposo houver).
Putativo significa imaginário, ilusório. Portanto nas descriminantes putativas o
agente supõe estar vivenciando uma situação que se de fato existisse
tornaria sua ação agressiva legítima.
Trata-se pois de um erro de fato, uma má interpretação da realidade, que
recai sobre as circunstâncias fáticas que ensejam as excludentes de ilicitude.
Exemplo: Legítima defesa putativa; estado de necessidade putativo.

Pesquisa
Culpa imprópria admite tentativa?

TENTATIVA NOS CRIMES CULPOSOS:


Os CRIMES CULPOSOS estão entre as infrações que NÃO ADMITEM
tentativa, sendo incompatíveis porque o agente não busca resultado algum.
Ou seja, como não se pode tentar o que não se quer, é INADMISSÍVEL a
aplicação da tentativa nesse tipo de delito.
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TENTATIVA NA CULPA IMPRÓPRIA:


Porém, devemos ter bastante atenção para a chamada “CULPA IMPRÓPRIA”
(ou crimes impropriamente culposos), pois nesta, apesar de ser aplicada a
pena como se o crime fosse culposo, por questão de política criminal, trata-se
de conduta dolosa, sendo, então, PASSÍVEL da aplicação da tentativa.

Podemos encontrar a culpa imprópria no art. 20, §1º, parte final, do CP:

“CP, art. 20, § 1º – É isento de pena quem, por erro plenamente justificado
pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. NÃO HÁ ISENÇÃO de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.”

Aula 14 (15 de junho)

EXCLUDENTES DE ILICITUDE

Regramento legal
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
* Rol não taxativo. Exemplo: Aborto legal (anencefalia fetal, ou seja, má formação
do cérebro do feto; gravidez que coloca em risco a vida da gestante; gravidez que
resulta de estupro).

Regramento supralegal ou extralegal


Consentimento do ofendido

Excesso punível
O excesso sempre será punível, seja ele doloso ou culposo - Art. 23, parágrafo
único do Código Penal.
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Requisitos
◾ Código penal: Requisitos objetivos
◾ Doutrina/Jurisprudência: Agrega um requisito subjetivo → Conhecimento da
situação justificante → Desejo do atuar lícito do agente.
Exemplo: Maria invade a casa de Ana com a intenção de subtrair para si uma
caixa de jóias. No entanto, ao entrar na casa, se depara com um início de incêndio
na cozinha e o apaga. → Nesse caso, não há como falar em excludente de ilicitude,
pois falta o requisito subjetivo. O desejo de Maria era ilícito, ela não invadiu a casa
com a intenção de apagar o incêndio, mas para cometer um delito.

Excludentes em espécie

1. ESTADO DE NECESSIDADE
Atua em estado de necessidade quem pratica a conduta para salvar a si ou a
terceiro de um perigo atual que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar
◾ Salvar a si ou a terceiro
◾ Perigo: Risco a um bem jurídico decorrente de pessoa, animal ou coisa.
➯ Pessoa: Qualquer conduta, desde que não se trate de uma injusta agressão →
Injusta agressão ensejaria legítima defesa, não estado de necessidade.
➯ Animal: Desde que não seja um ataque ordenado por um humano → Ataque
ordenado → Legítima defesa contra o humano.
◾ Atual: Precisa estar acontecendo naquele momento.
◾ Não provocou por sua vontade: Não pode ter agido com dolo.
◾ Nem podia de outro modo evitar: Não havia uma solução menos gravosa.
➯ A fuga, caso ela seja possível, se impõe
*Obs: Garantidores não poderão fugir alegando estado de necessidade.

◾ Proporcionalidade entre o bem jurídico protegido e o bem jurídico sacrificado


Bem jurídico protegido ≥ Bem jurídico sacrificado

➯ Teorias
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▸ Teoria unitária → Estado de necessidade justificante → Bem jurídico protegido >


Bem jurídico sacrificado.
➥ O estado de necessidade só possui uma natureza jurídica → A de excludente
da ilicitude
➥ O código penal adotou essa teoria, mas ampliou sua interpretação, permitindo
a exclusão da ilicitude por estado de necessidade nos casos de Bem jurídico
protegido = Bem jurídico sacrificado, vida e vida, por exemplo.

▸ Teoria diferenciadora → Adotada pelo código penal militar


➥ Diferencia duas espécies de estado de necessidade:
1. Estado de necessidade justificante → Exclui ilicitude → Bem jurídico
protegido > Bem jurídico sacrificado; Exemplo: Vida > Patrimônio
2. Estado de necessidade exculpante → Exclui culpabilidade → Bem jurídico
protegido ≤ Bem jurídico sacrificado; Exemplo: Patrimônio > Vida; Vida =
Vida.

*Obs: Estado de necessidade defensivo X Estado de necessidade agressivo


➯ Defensivo: Quem age em estado de necessidade pratica conduta sacrificando
bem jurídico pertencente ao indivíduo causador do perigo.
➯ Agressivo: Quem atua em estado de necessidade sacrifica bem jurídico de
sujeito que não provocou ou sequer está relacionado ao perigo.

2. LEGÍTIMA DEFESA
Atua em legítima defesa aquele que utiliza moderadamente dos meios para
repelir uma injusta agressão atual ou iminente contra direito próprio ou de
terceiro.
◾ Meios moderados → Não poderá alegar legítima defesa quem atuou em excesso
◾ Repelir → Fazer cessar
◾ Injusta agressão → Causada por uma pessoa
◾ Atual ou iminente → Está acontecendo naquele exato momento ou prestes a
acontecer (futuro muito próximo).
◾ Direito → Qualquer bem jurídico, desde que haja proporcionalidade
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➯ Obs: No que diz respeito ao homicídio, na ADPF 779 → Não poderá ser
suscitada no tribunal do júri a tese de legítima defesa da honra para justificar crimes
dolosos contra vida.
◾ Próprio ou de terceiro
◾ Proporcionalidade entre ação x reação
Estado de necessidade Legítima defesa

Perigo → Pessoa, animal, coisa Injusta agressão → Pessoa

Atual Atual ou iminente

Fuga preferencial Fuga facultativa

Proporcionalidade entre os bens Proporcionalidade entre ação e reação


jurídicos envolvidos (mas não precisa ser matemática).

a) Legítima defesa X Legítima defesa → Não é possível falar em legítimas


defesas simultâneas, pois se pressupõe ao menos uma agressão injusta. A
referida simultaneidade, todavia, será possível se um dos agentes atuar de
forma putativa.

b) Legítimas defesas sucessivas → Trata-se de situação perfeitamente


aceitável, que se verifica quando a vítima se excede em sua reação e aquele,
inicialmente agressor, passa a agir em defesa contra o excesso empregado.

c) Legítima defesa X Estado de necessidade → Trata-se de situação polêmica


na doutrina.
Exemplo: Uma embarcação está naufragando e só X possui colete salva
vidas. Diante disso, X é agredido por Y, que tenta lhe tirar o colete e acaba
matando Y, a fim de se manter com o colete.
Y → Ao agredir X agiu em estado de necessidade.
X → Ao matar Y agiu em estado de necessidade → Não há como classificar
em legítima defesa, pois não foi uma injusta agressão.

3. ESTRITO CUMPRIMENTO DE UM DEVER LEGAL


◾ Estrito → Rigorosamente dentro dos limites da lei
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◾ Dever → Obrigação; imposição.


◾ Legal → Lei em sentido amplo.
◾ Agentes públicos → Exemplo: Policial.
4. EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO
◾ Regular → Exercício amparado no ordenamento jurídico
◾ Direito → Faculdade amparada em lei (lei em sentido amplo).
◾ Particulares
Exemplo: Art. 301 do Código de Processo Penal. Qualquer do povo poderá e as
autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja
encontrado em flagrante delito.
Qualquer do povo poderá ➞ Exercício regular de um direito
Autoridades policiais e seus agentes deverão ➞ Estrito cumprimento de um
dever legal

*Obs: Art. 207 do Código de Processo Penal. São proibidas de depor as pessoas
que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo,
salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho.
➞ Estrito cumprimento de um dever legal imposto a particulares

*Obs: Ofendículos, ofendicalas ou ofensaculus → São aparatos predispostos de


defesa
Exemplo: Cerca elétrica, arame farpado, cacos de vidro no muro ou cães de guarda.
➞ A doutrina diverge quanto à natureza jurídica. Para Aníbal Bruno trata-se de
exercício regular de um direito. Para Nelson Hungria trata-se de legítima defesa
preordenada. Para Damásio a natureza é mista. Quando instalados são exercício
regular de um direito. Já quando efetivamente entram em ação, assumem a
natureza de legítima defesa.
→ São excludentes de ilicitude.

Pesquisa
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1. Policial mata alguém em uma troca de tiros ➞ Estrito cumprimento de


um dever legal? Legítima defesa própria ou de terceiros?

Nenhum policial tem o dever de matar, não faz parte da sua competência, e
por isso não existe estrito cumprimento legal de causar a morte de quem quer
que seja, mas sim, existe não só o direito, como o dever legal de usar dos
meios necessários (moderados à medida da intensidade que o fato concreto
exigir), de cessar uma injusta agressão contra si (o próprio policial) ou de
outrem (a refém).

Assim, entendemos que o policial pratica legítima defesa, seja própria, seja
de terceiros, quando defende algum colega ou outra pessoa.

2. Pais que batem nos filhos ➞ Exercício regular de um direito?

Polêmico → Existe o direito de bater?


Segundo a pesquisa, pais baterem nos filhos é um exercício regular de
direito, pois condizentes com o poder familiar, desde que presente o animus
corrigendi - Animus corrigendi: intenção de corrigir (pode, em certos casos,
afastar o crime de maus tratos. Configurado o excesso, entretanto, haverá o
crime) - que é o elemento subjetivo específico para justificar a utilização da
excludente.
Porém, entrou em vigor a Lei 13.010/2014, denominada Lei da Palmada,
vedando qualquer espécie de castigo físico a crianças ou adolescentes.
Portanto, o denominado exercício regular de direito diminuiu
consideravelmente o seu alcance.
→ Meio-termo há de ser aplicado. Os pais continuam responsáveis pela
educação de seus filhos menores, podendo castigá-los. No entanto, o cenário
de tais castigos estreitou-se, sem ter sido eliminado.

Consentimento do ofendido
◾ Tema polêmico na doutrina
◾ Causa supralegal ou extralegal de exclusão da ilicitude
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◾ Lesão praticada mediante anuência do respectivo titular do bem jurídico


◾ Requisitos
➯ Bem jurídico disponível
▸ Bem jurídico disponível é aquele exclusivamente de interesse privado (que a lei
protege somente se é atingido contra a vontade do interessado).
▸ “Alguns bens jurídicos são facilmente identificados pela doutrina, em geral, como
sendo disponíveis (ex.: patrimônio) ou indisponíveis (ex.: vida). Outros, no entanto,
causam certa polêmica. Cite-se, por exemplo, a integridade física ou corporal.
Fragoso entende tratar-se de bem indisponível. Já Rogério Greco diverge,
sustentando “que a integridade física é um bem disponível desde que as lesões
sofridas sejam consideradas de natureza leve. Caso as lesões sejam graves ou
gravíssimas, o consentimento do ofendido não terá o condão de afastar a ilicitude
da conduta levada a efeito pelo agente””

➯ Titular do bem jurídico precisa ser capaz


▸ O Direito penal não trabalha com o conceito de capacidade, mas sim de
imputáveis ou inimputáveis → Capaz: Conceito do direito civil.
▸ Nesse sentido, são dotados de capacidade genérica para consentir os maiores
de 18 anos mentalmente hígidos.

➯ Livre de vícios (sem erro, dolo, coação, fraude etc) → Forma livre
▸ Novamente conceitos do direito civil.
▸ Necessário que não tenha havido coação, fraude ou qualquer outro vício que
possa inquinar de nulidade a manifestação de vontade da vítima.

➯ Anterior ou no máximo concomitante a lesão


▸ O consentimento deve sempre ser anterior ou, no máximo, contemporâneo à
conduta do agente; nunca posterior. O fato de a vítima, após a conduta criminosa,
anuir com a sua prática, não tem o condão de afastar a tipicidade ou a ilicitude do
fato.

➯ Não pode contrariar a moral e os bons costumes


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◾ Revogável
◾ Objeto → Se ultrapassar o objeto caracteriza-se excesso → Todo excesso é
punível.
◾ Forma → Livre
*Obs: Para Roxin → Exclusão da tipicidade.

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