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1. António foi absolvido num processo de condenação intentado por Bernardo. Dado que a
absolvição foi baseada na apresentação de documentação falsa, António quer agora cumprir
a sua dívida. Como é credor de Bernardo pela mesma importância, poderá fazer uma
compensação? Não havendo compensação, poderá António consignar em depósito a
prestação?
2. Ana, Luís e Clara vincularam-se a pagar 600€ a Dora no regime menos favorável à credora.
Ana, demandada para o pagamento da totalidade da dívida, foi absolvida com fundamento
em coação moral. Dora dirige-se a Luís pedindo o pagamento dos 600€. Poderá fazê-lo?
Tendo sido convencionado o regime mais favorável para Dora, que direito poderá exercer o
cumpridor Luís, sabendo-se que Dora só podia pedir a Clara a sua parte na dívida e que
Ana foi absolvida? A resposta seria a mesma no caso de Ana estar apenas insolvente?
3. Em março de 2012, Abel, produtor de vinho, ficou obrigado a entregar a Camilo 1.000
litros de vinho tinto. Ficou estipulado que o lugar de cumprimento seria a quinta de Abel e
que este colocaria o vinho à disposição de Camilo em certa data a combinar. Logo que
separou os 1.000 litros, Abel comunicou a Camilo que o poderia buscar a partir de 1 de
Abril. Camilo não veio buscar o vinho e no dia 4 um incêndio fortuito destrói os 1.000
litros. Terá Abel de preparar outros 1.000 litros? E se o incêndio tivesse ocorrido antes de 1
de Abril, desaparecendo todo o vinho tinto de Abel?
SOLUÇÃO: A obrigação contraída por Abel é uma obrigação genérica (será de género
ilimitado se chegarmos à conclusão que Camilo não está apenas interessado no vinho tinto
de Abel). A obrigação genérica pode estar inserida ou não numa compra e venda (cfr., a
este propósito o art. 918º). Tendo Abel várias qualidades de vinho tinto, por aplicação do
art. 539º irá escolher uma delas, devendo ainda, para ser efetuada a concentração, cumprir
o acordo das partes. Abel não deixou de o fazer, tanto mais que fora convencionada uma
“dívida de procura” (ver o nº 15 das Lições). Camilo vai incorrer em mora do credor,
ocorrendo o incêndio num momento em que a propriedade do vinho já é de Camilo (cfr. o
art. 408º em conjugação com o disposto no art. 541º). Em rigor, a concentração dá-se com
a colocação do vinho à disposição de Camilo. A mora do credor apenas reforça e agrava
uma situação jurídica já definida. Se Camilo tivesse vindo no dia 1, teria vindo buscar o
que já era dele. Abel está, pois, exonerado de cumprir novamente. Se o incêndio ocorresse
antes do dia 1, teríamos que aplicar o regime do art. 540º. Abel teria de cumprir, adquirindo
o vinho noutro produtor (caso a obrigação não fosse de género limitado) e mesmo que essa
aquisição resultasse em prejuízo para ele.
4. Por contrato celebrado, em 2006, entre António e Berto, este ficou obrigado a pagar ao
primeiro 1.000€. O cumprimento ocorreria em meados de 2009. Poderia António exigir
uma atualização da obrigação, tendo em conta a desvalorização da moeda ocorrida entre
2006 e 2009? Suponha que António emprestou a Ricardo 4.000€, por cinco anos, com juros
anuais de 8% e sem prestação de qualquer garantia. Mutuante e mutuário acordaram que os
juros que não fossem pagos no termo de cada ano seriam imediatamente capitalizados. É
válida esta estipulação?
Caso 1
Ana é credora de Beatriz, Carlota, Delfina e Ester, em virtude de uma indemnização em que
estas foram condenadas, em Janeiro de 2012, no valor de €60.000,00. Sendo Ana amiga de
Beatriz há muitos anos, decide perdoar-lhe a dívida afirmando contudo que isso não prejudica a
sua faculdade de exigir a totalidade dessa quantia às restantes devedoras. Entretanto, Ana falece
e Carlota sucede-lhe como única herdeira.
a) Diga que direitos assistem a Carlota no plano das relações internas e no plano das
relações externas.
Tendo em conta que A faleceu, sucedendo-lhe C, como única herdeira, a dívida extingue-se
por confusão própria (art. 868º) relativamente a esta. Nos termos do art. 869º as demais
obrigadas ficam exoneradas apenas na parte relativa a essa devedora. C passa a ser credora
de B, de D e de E em partes iguais e pelo valor de €15.000 em relação a cada uma delas.
Todavia, A havia exonerado B, embora por remissão própria (artigo 864º, n.º 2), o que
significa que C apenas pode exigir de D e de E; qualquer uma destas, se pagar, pode
exercer o seu direito de regresso em relação aos outros, incluindo B, pela parte que lhe
compete.
b) Imagine agora, em alternativa à alínea anterior, que Ana não faleceu e que, em
Setembro de 2015, contacta Carlota exigindo-lhe o pagamento desse valor. Carlota
considera a atitude de Ana despropositada e diz-lhe que nada pagará, pois a dívida
encontra-se prescrita. Terá razão?
O prazo de prescrição desta dívida é de três anos (art. 498º, n.º 1), pelo que C terá razão. A
prescrição tem de ser invocada para que a dívida civil se transforme numa obrigação natural
(303º). Efeitos da obrgação natural (artigo 304º).
Caso 2
Trata-se ainda de uma obrigação de género limitado (“determinado tecido feito em seda” –
o género está circunscrito a um objecto com certas características.
Nesta obrigação genérica tem de haver concentração, na medida em que o dever de prestar o
direito da contraparte não incide sobre todo o género mas sobre a quantidade que for
considerada (artigo 541º).
b) Suponha que no dia 20 de Dezembro de 2014, Sérgio propõe-se entregar o tecido a Tiago,
que recusa, dizendo que tem o estabelecimento cheio de encomendas para o Natal e não tem
espaço para armazenar o tecido. A recusa será legítima?
Função do prazo acordado pelas partes – trata-se aqui de um prazo certo ou termo essencial
A essencialidade do termo resultou de acordo expresso entre as partes – trata-se de um
termo essencial subjectivo absoluto – artigo 777º.
Regra geral, o cumprimento antecipado é eficaz.
Mas, neste caso, o devedor pretende antecipar o cumprimento e o credor recusa – esta
antecipação colide com o princípio da pontualidade (prazo existente a favor do credor),
provocando prejuízos ao destinatário da prestação, sendo legítima a recusa na aceitação da
antecipação – artigo 779º.
c) Imagine agora que, no dia combinado, Sérgio se apresenta para fazer a entrega mas, em
virtude de uma falha técnica, apenas consegue entregar 100 metros de tecido e não a
quantidade que havia sido combinada. Tiago recusa a encomenda. Quid iuris?