Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
Sobre a escolha do regime de bens que vigorará no casamento, o Código Civil estabelece
a necessidade de pacto antenupcial quando a escolha do casal for de regime de bens
diverso do legal. O regime legal no Brasil desde a lei do divórcio, que entrou em vigor
em 27/12/77, é a comunhão parcial de bens, podendo ser o caso também de a lei
estabelecer a separação obrigatória de bens.
Ambos, comunhão parcial de bens e separação obrigatória de bens são regimes que
decorrem da lei, logo, dispensam o pacto, devendo ainda ser considerado que, para o
maior de 70 anos de idade, poderá ser lavrado pacto antenupcial ou escritura ou termo
declaratório de união estável afastando o regime da separação de bens, tendo em vista o
Tema 1.236 da repercussão geral do STF.2
O Código Civil determina que poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por
qualquer regime de bens, sendo que, quanto à forma, será reduzida a termo a opção pela
comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública nas demais
escolhas. Já no art. 1.653, o Código estabelece que é nulo o pacto antenupcial se não for
feito por escritura pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento.
O tema abordado neste artigo envolve a conversão da união estável em casamento,
procedimento no qual a celebração é dispensada e que tem por fundamento legal o
disposto no art. 226, § 3º, da Constituição da República, segundo o qual, para efeito da
proteção do Estado, é reconhecida a união estável como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento. A determinação constitucional foi regulamentada
pelo art. 8º da lei 9.278/96 e pelo art. 1.726 do Código Civil.
Foi esclarecido pelo Provimento do CNJ que somente será exigido pacto antenupcial
quando na conversão for adotado "novo regime, salvo se o novo regime for o da
comunhão parcial de bens, hipótese em que se exigirá declaração expressa e específica
dos companheiros nesse sentido". Entendemos que a mesma regra da comunhão parcial
se aplica aos casos de separação obrigatória de bens, ou seja, os nubentes manifestarão
ciência, em termo, de que o regime legal está sendo aplicado.
O Provimento do CNJ ordena que o regime de bens a ser indicado no assento de conversão
de união estável em casamento, quando a opção for por manter o mesmo regime escolhido
quando da união estável e esse regime for diverso do legal, deverá ser o mesmo
consignado em um dos títulos a seguir indicados: I - sentenças declaratórias do
reconhecimento da união estável; II - escrituras públicas declaratórias de reconhecimento
da união estável; III - termos declaratórios de reconhecimento de união estável
formalizados perante o oficial de registro civil das pessoas naturais. Assim, desde a
publicação do Provimento 141/CNJ, cujas disposições atualmente estão o Provimento
149/CNJ, somente esses três títulos são hábeis a definir o regime de bens na união estável
e, muito importante ressaltar, esses títulos têm força de pacto antenupcial quando o regime
de bens escolhido na convivência tiver sido diverso do regime legal e os nubentes optarem
pela manutenção do regime no casamento.
Somente se houver opção, após a conversão da união estável em casamento, por outro
regime, diferente, pois, daquele que vigorou na união estável, deverá ser lavrado pacto
antenupcial, sendo recomendada pelo provimento a partilha de bens.
Caso concreto foi apresentado à exma. sra. juíza da Vara de Registros Públicos de Belo
Horizonte. Um casal que já vivia em união estável e que já tinha, por escritura pública,
definido que o regime naquela união seria o da separação consensual de bens, requereu
que, na conversão, fosse mantido o mesmo regime, sem apresentar pacto antenupcial. Foi
suscitada dúvida pelo Registrador Civil, posto que o atual Código de Normas de Minas
Gerais ainda exige o pacto antenupcial. A MMª juíza, em decisão publicada em 20/6/23,
interpretando o Provimento do CNJ, proferiu a seguinte sentença3:
Todavia, não há como ignorar que, em face da edição da lei 14.382/22, que tratou da
conversão da união estável em casamento, o CNJ publicou o recente Provimento 141,
justificando-o, dentre outros motivos, para "facilitar aos companheiros a declaração de
existência da união estável, a sua conversão em casamento", estabelecendo, de forma
clara e objetiva que:
§ 2º Quando na conversão for adotado novo regime, será exigida a apresentação de pacto
antenupcial, salvo se o novo regime for o da comunhão parcial de bens, hipótese em que
se exigirá declaração expressa e específica dos companheiros nesse sentido.
Ora, a regulamentação previu que somente será exigido pacto antenupcial no caso de
conversão de união estável em casamento "se for adotado novo regime" e se não for ele
o legal - comunhão parcial de bens. No caso em tela, os nubentes firmaram escritura de
união estável em 11/4/23 e nela estabeleceram como regime da relação deles o da
separação e bens, pretendendo, agora, manter o mesmo regime, de modo que, nos termos
daquele Provimento, não se faz mesmo necessário firmar o pacto, já que não estão
alterando o regime anteriormente estabelecido.
Aliás, seria mesmo muito preciosismo e um ônus desnecessário para o cidadão, obrigá-lo
a firmar escritura pública para nela estabelecer o que já está estabelecido em idêntico
instrumento.
É certo que a ausência do pacto poderia acarretar problemas futuros em especial no caso
de transação imobiliária pelos nubentes, mas, para tal, basta a informação no assento de
casamento de que o pacto foi suprido, nos termos do art. 9º-D, do Provimento 141/23 do
CNJ, pela escritura pública de união estável.
CONCLUSÃO
--------------------------------
4 Os títulos qualificados são: sentença judicial, escritura pública lavrada por tabelião de
notas ou termo declaratório lavrado perante registrador civil das pessoas naturais.