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ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE PRÁTICA JURÍDICA CÍVEL I E II

MATERIAL DE APOIO – AÇÃO DE DIVÓRCIO

 CONTEXTOS HISTÓRICOS - Para entender a razão dos empecilhos historicamente impostos


ao fim do casamento, é necessário atentar ao conceito de família, valorada como um bem em si mesmo. A ideia
de família sempre esteve ligada à de casamento. Vínculos extramatrimoniais eram reprovados socialmente e
punidos pela lei.
Sob a égide de uma sociedade conservadora e fortemente influenciada pela igreja, o casamento era
uma instituição sacralizada. Quando da edição do Código Civil de 1916, o casamento era indissolúvel. A única
possibilidade legal de romper com o matrimônio era o desquite, que, no entanto, não o dissolvia. Permanecia
intacto o vínculo conjugal e a obrigação de mútua assistência, a justificar a permanência do encargo alimentar
em favor do cônjuge inocente e pobre. Cessavam os deveres de fidelidade e de manutenção da vida em comum
sob o mesmo teto, mas não havia a opção de novo casamento.
Tal restrição, porém, não impedia que as pessoas - desquitadas ou somente separadas de fato -
constituíssem novos vínculos afetivos, que, pejorativamente, eram chamados de concubinato.
Após a aprovação da Lei do Divórcio (Lei 6.515/77), algumas concessões foram feitas. O desquite
foi denominado de separação, com idênticas características: pôr fim à sociedade conjugal, mas não dissolver
o vínculo matrimonial.
Para a obtenção do divórcio, eram impostos vários entraves. Primeiro as pessoas precisavam se
separar. Só depois é que podiam converter a separação em divórcio. A dissolução do vínculo conjugal era
autorizada uma única vez. Nitidamente, a intenção era admiti-lo somente para quem se encontrava separado de
fato há mais de cinco anos, quando da emenda constitucional de 28 de junho de 1977. Era necessário o
atendimento cumulativo de três pressupostos:
a) estarem as partes separadas de fato há cinco anos;
b) ter esse prazo sido implementado antes da alteração constitucional; e
c) ser comprovada a causa da separação.
A jurisprudência aos poucos emprestou interpretação mais elástica a esse dispositivo. E, não teve
jeito, os avanços foram de tal ordem que obrigaram a Constituição de 1988 a institucionalizar o divórcio direto.
Houve a redução do prazo de separação para dois anos e foi afastada a necessidade de identificação de uma
causa para a sua concessão (art.226 §6º da CF).
Ainda assim, sobreviveu a separação, instituto que guardava em suas entranhas a marca de um
conservadorismo injustificável.
O primeiro passo que limitou o intervencionismo do Estado foi a possibilidade de a separação e o
divórcio consensual serem feitos administrativamente por meio de escritura pública. Para isso, além de haver
pleno consenso entre os cônjuges, indispensável que não existam filhos menores ou incapazes.
Demorou até se desmistificar a fantasia de que o divórcio iria acabar com o casamento, e que era
desnecessária a prévia separação judicial e sua posterior conversão em divórcio.
A Emenda Constitucional 66/2010, ao dar nova redação ao § 6.º do art. 226 da CF, com um só
golpe alterou o paradigma de todo o Direito das Famílias. A dissolução do casamento sem a necessidade
de implemento de prazos ou identificação de culpados dispõe também de um efeito simbólico: deixa o
Estado de imiscuir-se na vida das pessoas, tentando impor a mantença de vínculos jurídicos quando não
mais existem laços afetivos.
Agora o sistema jurídico conta com uma única forma de dissolução do casamento: o divórcio.
Desapareceu o desarrazoado período de tempo em que os separados judicialmente não eram mais
casados, mas não podiam casar novamente. O casamento estava rompido, não havia deveres matrimoniais, mas
não tinha acabado. Como estavam impedidas de casar, as pessoas viviam em união estável, sem ter como
atender à recomendação constitucional de transformar a união estável em casamento (art. 226 §3º da CF).
Com o fim da separação, toda a teoria da culpa esvaiu-se, e o entendimento majoritário da
doutrina é no sentido de que não mais é possível trazer para o âmbito da justiça qualquer controvérsia
sobre a postura dos cônjuges durante o casamento.

 EXTINÇÃO DA SEPARAÇÃO - A Emenda Constitucional nº 66/2010, ao dar nova redação


ao § 6.º do art. 226 da CF, realizou uma verdadeira revolução no instituto do divórcio, pondo fim à separação
judicial e eliminando qualquer prazo para a dissolução do vínculo matrimonial:
Art. 226, § 6º, CF/88 Art. 226, § 6º, CF/88
Redação original Redação atual
O casamento civil pode ser dissolvido pelo O casamento civil pode ser dissolvido pelo
divórcio, após prévia separação judicial por divórcio.
mais de um ano nos casos expressos em lei,
ou comprovada separação de fato por mais
de dois anos.

- Após a EC 66/2010 o instituto da separação ainda persiste? Há divergência doutrinária.

1ª corrente: Em síntese, com a nova disciplina normativa do divórcio, encetada pela Emenda
Constitucional, perdem força jurídica as regras legais sobre separação judicial, instituto que passa a ser
extinto no ordenamento jurídico, por revogação tácita (entendimento consolidado no STF).
- A tese da manutenção da separação de direito remete a um Direito Civil burocrático, distante da
Constituição Federal, muito teórico, pouco efetivo.

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2ª corrente: A Constituição Federal apenas afastou a exigência prévia de separação para o
divórcio, mas não repeliu expressamente a previsão infraconstitucional da separação e do restabelecimento da
sociedade conjugal.

Entendimento majoritário: a separação foi banida do direito brasileiro, permanecendo apenas o


divórcio, SEM A ANÁLISE DE CULPA OU PRAZO MÍNIMO para se pleitear o divórcio. Os Tribunais têm
reconhecido que o pedido de separação se tornou juridicamente impossível.
O anacrônico instituto da separação mostra-se incompatível com a ideia de liberdade
matrimonial.
Separação judicial: mecanismo pelo qual os cônjuges põem fim à SOCIEDADE CONJUGAL,
sem dissolverem o vínculo do casamento. (arts. 1.575 e 1.576 do CC).
- O Código de Processo Civil/15 reafirmou a separação de direito, a englobar a separação judicial
e a extrajudicial, em vários de tais comandos. – Arts. 731 a 734. Assim, é possível a propositura de ações de
separação, litigiosas ou consensuais, porque previstas no CPC, mas sem qualquer efeito prático decorrente,
qualquer vantagem para a parte.
 Sociedade conjugal: é o complexo de direitos e obrigações que formam a vida em comum dos
cônjuges; compreende o regime de bens e deveres recíprocos do casamento; é dissolvida pela separação
judicial.
- Art. 1.577, CC e Art. 46, 6.515/77 – é lícito restabelecer a sociedade a qualquer tempo.
 Vínculo matrimonial: é o casamento válido, o liame jurídico, que somente é dissolvido pelo
divórcio e pela morte de um dos cônjuges. É o contrato, ato solene. Art. 1.571, §1º
- Art. 33, Lei 6.515/77

Com a EC 66/10, conclui-se que a dissolução do casamento pelo DIVÓRCIO – única forma
admitida – engloba as duas hipóteses: dissolução da sociedade conjugal e do vínculo matrimonial – art. 1.571 a
1.582, CC + art. 5º e 34, Lei 6.515/77.
A única ação dissolutória do casamento é a de divórcio, que não mais exige a indicação da
causa de pedir. Eventuais controvérsias sobre causas, culpas ou prazos, deixam de integrar o objeto da
demanda. Não subsiste a necessidade do decurso de um ano do casamento para a obtenção do divórcio
(CC 1.574). O avanço foi significativo. Afinal, se não há prazo para casar, nada justifica a imposição de
prazo para o casamento acabar.

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 SEPARAÇÃO DE FATO - Não obstante a dissolução da sociedade conjugal ocorrer com o
divórcio, é a separação de fato que, realmente, põe um ponto final no casamento. Todos os efeitos decorrentes
da nova situação fática passam a fluir da ruptura da união.
Quando cessa a convivência, o casamento não gera mais efeitos, faltando apenas a chancela estatal.
O fim da vida em comum leva à cessação do regime de bens - seja ele qual for -, porquanto já ausente o ânimo
socioafetivo, real motivação da comunicação patrimonial. Esse é o momento de verificação dos bens para
efeitos de partilha.
Ocorrendo a separação de fato, cessam também os direitos sucessórios. Afinal, o casamento acabou.
Dessa forma, após a separação de fato, embora não decretada a separação de corpos nem oficializado o
divórcio, os bens adquiridos por um dos cônjuges só a ele pertence, ainda que se mantenha legalmente na
condição de casado, prevenindo o enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).

 SEPARAÇÃO DE CORPOS - Todas as ações que envolvem vínculos afetivos desfeitos


carregam grande dose de ressentimentos e mágoas. Sempre a tendência é culpar o outro pelo fim do sonho do
amor eterno. Assim, não é difícil imaginar o surgimento de conflitos, que possam comprometer a vida ou a
integridade física dos cônjuges e também da prole, quando um deles revela a intenção de se separar. Esse é o
motivo autorizador do pedido de separação de corpos (art. 1.562 do CC), mesmo antes de intentada a ação de
divórcio.
A separação de corpos é a alternativa para quem deseja pôr fim aos deveres conjugais e ao regime
de bens, mas não quer dissolver o casamento. Muitas vezes, os cônjuges invocam até razões de ordem religiosa
para não se divorciarem. Com a separação de corpos, os cônjuges se mantêm no estado de casados, mas o
casamento está rompido, cessando os deveres de coabitação e fidelidade. Do mesmo modo, acaba a
comunicabilidade patrimonial. Qualquer um pode constituir união estável. A chancela judicial concedida à
separação de corpos serve de prova do fim do casamento, apesar de não o dissolver.
Sendo consensual o fim do convívio, os cônjuges podem lavrar, perante o tabelião, escritura de
separação de corpos.

 DIVÓRCIO - O divórcio é uma das causas do término da sociedade conjugal (art. 1.571 IV do
CC), além de ter o condão de dissolver o casamento (art.1.571 §1º do CC). Com o advento da EC 66/10, este é
o único modo de dissolver o casamento, quer consensualmente, quer por meio de ação litigiosa. E, se os
cônjuges não tiverem pontos de discordância nem filhos nascituros ou incapazes, podem obter o divórcio sem a
intervenção judicial, perante um tabelião (art. 733 do CPC), de forma extrajudicial.
O divórcio pode ser requerido a qualquer tempo. No mesmo dia ou no dia seguinte ao casamento.
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O Código de Processo Civil dedica um capítulo às ações de família, no qual indica as normas
aplicáveis a ação de divórcio contencioso (art. 693 a 699 do CPC) e outro ao divórcio consensual (art. 731
a 734 do CPC).
Apesar de os alimentos serem irrenunciáveis (art. 1.707 do CC), a obrigação alimentar entre os
cônjuges pode ser dispensada quando do divórcio. Também é necessária a deliberação a respeito do nome, se
um dos cônjuges havia adotado o sobrenome do outro quando do casamento. No silêncio, presume-se que o
nome permanece inalterado. Mas a qualquer momento, mesmo depois do divórcio, sempre é possível buscar o
retorno ao nome de solteiro, por meio de um singelo procedimento administrativo perante o registro civil.
A depender do regime de bens, é impositivo o arrolamento do patrimônio a partilhar. Essa
providência só é dispensável no regime da separação total de bens. Não havendo acordo sobre a partilha, a
divisão pode ser levada a efeito depois do divórcio (art. 1.581 do CC e art. 731 parágrafo único do CPC).
Existindo filhos incapazes, é indispensável a participação do Ministério Público (arts. 178, II, e 698
do CPC), mas não é necessária a realização de audiência de ratificação.
Decretado o divórcio, após o trânsito em julgado da sentença, é extraído mandado ao Cartório do
Registro Civil para averbação nos assentos de casamento e de nascimento de ambos os cônjuges. Fazendo as
partes jus ao benefício da assistência judiciária, a isenção de pagamento das custas estende-se também aos atos
extrajudiciais de averbação da dissolução do casamento. Após, são extraídos formais de partilha para fim de
averbação no registro de imóveis.

 MODALIDADES DE DIVÓRCIO

Consensual Jurisdição Voluntária Ambos os cônjuges deduzem os pedidos


Art. 731, CPC + Art. 40, §2º, em petição comum.
Lei 6.515/77
Contencioso/ Procedimento comum Um dos cônjuges ajuíza ação em face
Litigioso* Art. 40, §3º, Lei 6.515/77 de outro, que será citado e poderá
oferecer contestação.
Extrajudicial Escritura pública (i) Ausência de nascituro ou filhos
Art. 733, CPC incapazes. (ii) Consenso das partes.
* É possível conflito sobre a partilha de bens, a guarda dos filhos, o regime de visitação, os
alimentos... a ação passará a submeter-se ao procedimento comum, permitindo a cumulação de pedidos.

a) DIVÓRCIO CONSENSUAL (CC 731 + art. 40, §2º da Lei 6.515/77) - Quando de comum
acordo os cônjuges decidem dissolver o casamento. Havendo nascituro ou filhos incapazes, o divórcio precisa
ser buscado por meio de ação judicial, não sendo possível o uso da via extrajudicial (art. 733 do CPC).

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A homologação do divórcio consensual deve ser requerida por petição firmada por ambos os
cônjuges, na qual deve constar (art. 731 do CPC): I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens
comuns; II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges (art.1.694 do CC); III - o acordo
relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas (arts. 1.583, 1.584 e 1.589 do CC); e IV - o valor
da contribuição para criar e educar os filhos (arts. 1.696 do CC). Ou seja, além da demanda de divórcio, é
indispensável o acertamento de questões outras, o que leva a uma cumulação de ações.
A ação precisa ser instruída com a certidão de casamento, a certidão de nascimento dos filhos e o
pacto antenupcial, se existente. Também devem ser juntados os documentos referentes ao patrimônio comum.

b) DIVÓRCIO CONTENCIOSO/LITIGIOSO (art. 40, §3º da Lei 6.515/77 + art. 693 e


seguintes do CPC) – É possível existir conflito sobre a partilha de bens, a guarda dos filhos, o regime de
visitação e os alimentos.
O divórcio contencioso/litigioso ocorre quando um dos cônjuges ajuíza ação em face de outro, que
será citado e poderá oferecer contestação. A ação passará a submeter-se ao procedimento comum, permitindo a
cumulação de pedidos.
Se o único objeto da ação é o divórcio, como o réu não pode se opor, não existe lide. Tratando-se de
direito potestativo, cabe ao juiz decretar o divórcio.
- Direito potestativo é o direito sobre o qual não recaí qualquer discussão, ou seja, ele é
incontroverso, cabendo a outra parte apenas aceitá-lo, sujeitando-se ao seu exercício. Desta forma, a ele não
se contrapõe um dever, mas uma sujeição.
Portanto, se não existe consenso entre as partes, questões sobre guarda, visitas, partilha e alimentos
precisam ser solvidas na demanda litigiosa. Nesta hipótese, à ação de divórcio são cumuladas outras demandas.
Ainda que concorde com o divórcio, o réu pode, em sede de contestação, buscar que sejam solvidas
questões referentes ao direito de convivência aos filhos, alimentos e à partilha de bens.
Caso exista alguma controvérsia sobre filhos ou partilha de bens, o processo prossegue quanto a
estas questões. É juridicamente possível que o casal obtenha o divórcio, enquanto ainda tramita o
procedimento para o julgamento final dos demais pedidos cumulados.
A lei admite o que passou a ser chamado de sentença parcial (art. 356 do CPC). Nada mais do
que a apreciação de algumas das demandas cumuladas, prosseguindo a ação quanto aos demais. Deste modo,
possível sucessivos julgamentos parciais.
Na tentativa de obter a solução consensual, deve o juiz valer-se do auxílio de profissionais de outras
áreas do conhecimento (art. 694 do CPC). Por isso, ao despachar a inicial, após decidir sobre o pedido de tutela
provisória, o réu é citado para comparecer à audiência de mediação e conciliação (art. 695 do CPC).
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Caso o réu não compareça à audiência ou não conteste a ação, ocorre a revelia, a ser decretada pelo
juiz. No entanto, sobre as deliberações referentes aos filhos, não ocorrem os efeitos confessórios e a presunção
de veracidade dos fatos afirmados na inicial.
A competência é o do domicílio do guardião do filho incapaz, do último domicílio do casal ou
do domicílio do réu (art. 53 do CPC). Ao contrário da regra geral, que determinada preferentemente a citação
pelo correio (art. 246, I, do CPC), nas ações de família o réu deve ser citado pessoalmente (art. 695, §3º do
CPC). Encontrando-se em lugar incerto e não sabido, deve ser citado por edital. Ainda que o autor afirme não
saber do seu paradeiro, o juiz deve diligenciar sua localização antes de determinar a citação editalícia. Não
encontrado o réu, mesmo assim deve ser decretado o divórcio, que não depende da sua concordância.
A ação de divórcio pode ser cumulada com pedido de alimentos a favor do cônjuge que deles
necessite.
Não é necessário (art. 1.581 do CC), mas é de todo recomendável, que na ação fiquem solvidas as
questões patrimoniais. Assim, conveniente que, juntamente com a inicial, venha a descrição dos bens e a
pretensão de partilha para ser homologada com a sentença. De qualquer sorte, decretado o divórcio, prossegue a
ação quanto à partilha.

c) DIVÓRCIO EXTRAJUDICIAL (art. 733 do CPC) – Por inexistir conflito entre as partes, há a
possibilidade de a dissolução do casamento ocorrer extrajudicialmente, por pública escritura perante o tabelião.
Quando não existe nascituro ou filhos incapazes, sendo o divórcio consensual, totalmente
dispensável que sua dissolução ocorra pela via judicial.
Portanto, os requisitos são a (i) ausência de nascituro ou filhos incapazes e (ii) consenso das partes.
Da escritura devem constar estipulações sobre pensão alimentícia, partilha dos bens, mantença do
nome de casado ou retorno ao nome de solteiro. Nada sendo referido a respeito do nome, presume-se que o
cônjuge que adotou o sobrenome do outro vai assim permanecer. Porém, a qualquer tempo pode buscar a
exclusão, por meio de declaração unilateral, em nova escritura pública, não sendo necessária a via judicial. A
alteração deve ser comunicada ao registro civil.
As partes precisam ser assistidas por advogado ou defensor público, sendo que o mesmo
profissional pode representar a ambos.
Nada obsta a que as partes estabeleçam na escritura outros ajustes - doações recíprocas; instituição
de usufruto, uso ou habitação em favor de um deles ou de terceiros; cessão de bens - ou que assumam obrigação
de qualquer ordem.

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Os cônjuges podem escolher livremente o tabelionato, não havendo qualquer regra que fixe
competência. Depois de lavrada e assinada a escritura, deve ser encaminhado o traslado ao registro civil para a
devida averbação no assento de casamento e de nascimento dos ex-cônjuges.
Não só o divórcio, também a separação de corpos consensual pode ser formalizada por escritura.
Obs.: Divórcio indireto é aquele precedido por uma separação judicial ou extrajudicial, ou por uma
medida cautelar de separação de corpos. A EC 66/2010 aboliu o divórcio indireto ou por conversão. Não se
exige prazo mínimo.

 NOVIDADES TRAZIDAS PELO CPC/15


a) Regras gerais sobre ações de família – art. 693 ss
b) Solução consensual da controvérsia – art. 694
c) Réu será citado para comparecer à audiência de conciliação – art. 695, caput
- No procedimento comum, a audiência de conciliação e mediação pode não ocorrer quando ambas as
partes se opuserem à sua realização. Nas ações de família, entretanto, o silêncio do art. 695 permite a
conclusão de que nessas ações a audiência é obrigatória, independentemente da vontade das partes.

d) Mandado de citação desacompanhado da contrafé, assegurado ao Réu o direito de examinar seu


conteúdo a qualquer tempo – art. 695, § 1º
- Diminuição da litigiosidade entre as partes, a fim de evitar o tom de conflito entre as partes, dentro
da ideia da cultura de paz; tomou-se o cuidado de facultar ao réu o exame dos autos em cartório ou
pelo meio eletrônico.

e) Citação pessoal do réu – art. 695, §3º


f) Partes obrigatoriamente acompanhadas por advogado na audiência de conciliação – art. 695, §4º
- É questionável que uma audiência realizada sem a presença de advogado/defensor seja NULA. Deve-
se aplicar o princípio da instrumentalidade das formas, não sendo decretada a nulidade se não ficar
devidamente comprovado o prejuízo da parte diante da ausência de advogado.

g) Intervenção do MP – art. 698 (interesse de incapaz E homologação do acordo)


h) Depoimento pessoal do incapaz – art. 699.
- A Recomendação 33/2010 do CNJ aconselha a realização de depoimento pessoal especial, que deverá
ser realizado em ambiente separado da sala de audiências, com a participação de profissional
especializado, devendo estar os participantes do ato capacitados para o emprego de técnica do
depoimento pessoal, usando os princípios básicos da entrevista cognitiva, também chamada de
depoimento sem dano.

i) Segredo de justiça – art. 189, II – os processos que versam sobre casamento, separação de corpos,
divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes correrão sob
segredo de justiça.

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ESTRUTURA DA PEÇA

1. Competência – art. 53, I

2. Legitimidade / Partes
Os cônjuges. Em caso de incapacidade de um deles, será legitimado o curador, ascendente ou irmão (art. 1.582,
p. único + art. 24, parágrafo único da Lei 6.515/77).

3. Nome da ação: AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO/CONSENSUAL

4. Fundamento legal da peça


- Art. 226 § 6º, CF e LEI 6.515/77

5. Requerimentos Preliminares (se couber)

6. Fatos
Relação: casamento
Causa: impossibilidade de manutenção da vida em comum
Consequência: divórcio

7. Fundamentos jurídicos e legais – DIREITO


a) DIVÓRCIO
Sempre contextualizar antes de citar qualquer dispositivo legal.
- Art. 226, §6, CF
- Art. 24, caput, Lei 6.515/77
- Art. 1.511 (comunhão plena), 1.566 (deveres conjugais) e 1.573, CC (impossibilidade da comunhão) – (artigo
coringa)
- Art. 1.571, IV, CC a art. 1.582, CC
- Art. 693 a 699, CPC/15 e 731 a 734, CPC/15
- Art. 20 e 24, Lei 6.515/77

b) PARTILHA

 Partilha de bens: Art. 1.581, CC; Art. 1.640; Art. 1.658 a 1.688, CC (se couber)*
- citar todos os bens detalhadamente, inclusive os valores;
- falar sobre o percentual a ser partilhado.
c) NOME

 Manutenção ou alteração do nome: Art. 1.565, §1º, CC; 1.571, §2º, CC; art. 1.578, CC e art. 17, §2º, Lei
6.515/77 (se couber)*
- falar sobre a vontade do(a) requerente em voltar a utilizar o nome de solteiro ou não;
- falar como quer que fique o nome após o divórcio.

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d) ALIMENTOS
 Alimentos para o cônjuge: Arts. 1.694 e §1º, CC e 1.704, CC + art. 19, Lei 6.515/77 (se couber)*
- falar sobre a vida do(a) requerente, por exemplo, se nunca trabalhou por ter se dedicado aos cuidados com
a família;
- já tem idade avançada para o trabalho;
- falar sobre as atividades profissionais do(a) requerido(a);
- especificar o percentual da pensão alimentícia pretendida de um cônjuge ao outro, quando um deles não
possui condições suficientes para de manter;
- especificar por quanto tempo os alimentos devem ser prestados. Alimentos transitórios.

e) GUARDA

 Guarda e regulamentação de visitas: Art. 1.579, CC + Art. 1.584, CC (se couber)*


- se o caso falar sobre filhos falar sobre a guarda e o regime de convivência.
 Tutela Provisória de Urgência: Art. 300, CPC (se couber)*
- divórcio/alimentos.
* Só abrir tópico se o enunciado apresentar informações pertinentes.

8. Pedidos e requerimentos
a) Gratuidade de Justiça (se couber)
b) Procedência do pedido para:
- Litigioso: decretação do divórcio, com expedição de ofício ao Cartório de Registro Civil.
- Consensual: procedência do pedido para homologação do pedido, expedindo o competente ofício para
averbação no Cartório de Registro Civil.

c) Citação do réu para comparecer em audiência de conciliação – art. 695, caput


d) Intimação do MP – art. 698

*Pontos específicos (a depender do enunciado)


- Nome: Requer seja o nome alterado para... / Seja o nome mantido...
- Partilha de bens: Requer a partilha dos bens, nos termos do plano apresentado anteriormente.
- Alimentos: Requer a fixação de alimentos na quantia de R$...
- Guarda e visitas: Requer seja deferida a guarda compartilhada, tendo como lar de referência o da Requerente.

e) Condenação em sucumbência – art. 85


f) Produção de provas – art. 369

9. Valor da causa – art. 291 e 292


- se não houver partilha de bens, nem alimentos: valor de alçada
- se houver apenas bens a partilhar: soma dos valores desses bens
- se houver apenas alimentos: 12x o valor pleiteado
- se houver partilha + alimentos: valos dos bens + 12x o valor dos alimentos.
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 Peça prático-profissional
José dos Santos Simões e Alice Simões contraíram matrimônio, pelo regime de comunhão parcial
de bens, no dia 18/03/1992, na cidade de Taguatinga – DF. Desta união foram gerados, Gabriel Simões, nascido
em 18/12/1993, e Júlia Simões, nascida em, 22/09/2012. Gabriel deixou o lar dos pais após contrair casamento
com Juliana, em 03/09/2017.
Na constância do casamento, adquiriram um imóvel situado na SHIS QI 09, Conjunto 03, Casa 12,
Lago Sul, Brasília – DF, avaliado em R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), onde viviam com os filhos, e ainda,
dois veículos, sendo um HONDA/Civic, ano 2014/2015, avaliado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), e um
VW/Jetta, ano 2016/2017, avaliado R$ 55.000,00 (cinquenta e cinco mil reais). Há, ainda, um lote de obras de
arte avaliado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
Não obstante o bom padrão de vida mantido pela família, o Sr. José jamais auferiu renda suficiente
para a manutenção da residência do casal com o seu labor de artista plástico, com ganhos aproximados de R$
1.500,00 (um mil e quinhentos reais). Já Alice é servidora da Câmara dos Deputados e tem rendimentos na casa
dos R$ 35.000,00 (trinta e cinco mil reais). Desta forma, a obrigação de José na sociedade conjugal
basicamente era a manutenção da residência e o cuidado diário com os filhos (alimentação, educação, saúde,
lazer etc.).
Insatisfeito com os rumos tomados pela vida em comum, o Sr. José procurou o seu escritório
desejando pôr fim à relação, informou que gostaria de manter o nome de casado, afirmando para tanto que a Sr.ª
Alice abandonou a residência do casal, deixando para trás a filha, Júlia dos Santos. Nesta condição, produza a
peça processual pertinente.

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ESTUDO DIRIGIDO - DIVÓRCIO

1. Conceitue e faça a distinção entre sociedade conjugal e vínculo matrimonial.


2. Qual foi a inovação introduzida pela EC nº 66/2010?
3. Em razão do advento da EC nº 66/2010, a diferença entre dissolução da sociedade conjugal e do vínculo
matrimonial ainda persiste? Por quê?
4. Quais são as hipóteses de casamento nulo e anulável?
5. É possível cumular ação anulatória de casamento com divórcio?
6. As pessoas já separadas ao tempo da promulgação da EC 66/2010 podem ser consideradas divorciadas? Após
a referida Emenda, subsiste o divórcio por conversão?
7. Quais as modalidades de divórcio e que documento comum é exigido?
8. Em quais hipóteses o procedimento administrativo poderá ser adotado?
9. No divórcio, o cônjuge que acrescentou o sobrenome do outro é obrigado a retirar?
10. Maria, casada em regime de comunhão parcial de bens com José por 3 anos, descobre que ele não havia lhe
sido fiel, e a vida em comum se torna insuportável. O casal se separou de fato, e cada um foi residir em nova
moradia, cessando a coabitação. Da união não nasceu nenhum filho, nem foi formado patrimônio comum. Após
dez meses da separação de fato, Maria procura um advogado, que entra com a ação de divórcio direto, alegando
que essa era a visão moderna do Direito de Família, pois, ao dissolver uma união insustentável, seria facilitada
a instituição de nova família. Após a citação, João contesta, alegando que o pedido não poderia ser acolhido,
uma vez que ainda não havia transcorrido o prazo de dois anos da separação de fato exigidos pelo artigo 40 da
Lei 6.515/77.
Diante da hipótese apresentada, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e
a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) Nessa situação é juridicamente possível que o magistrado decrete o divórcio, não obstante não exista
comprovação do decurso do prazo de dois anos da separação de fato como pretende Maria, ou João está
juridicamente correto, devendo o processo ser convertido em separação judicial para posterior conversão em
divórcio?
b) Caso houvesse consenso, considerando as inovações legislativas, o ex-casal poderia procurar via alternativa
ao Judiciário para atingir o seu objetivo ou nada poderia fazer antes do decurso dos dois anos da separação de
fato?

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Material de apoio

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