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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO
CURSO DE DIREITO

GABRIELA FONTANA SARTOR

Namoro qualificado ou união estável? Análise da distinção baseada no elemento


affectio maritalis

FLORIANÓPOLIS
2022
GABRIELA FONTANA SARTOR

Namoro qualificado ou união estável? Análise da distinção baseada no elemento


affectio maritalis

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em


Direito do Centro de Ciências Jurídicas da
Universidade Federal de Santa Catarina como
requisito para a obtenção do título de Bacharel em
Direito.

Orientadora: Profa. Dra. Renata Raupp Gomes.

FLORIANÓPOLIS
2022
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, agradeço a Deus por estar presente em todos os momentos


da minha vida, ser a Luz que me guia e me ampara.
À minha família por ser minha primeira escola, aos meus pais Hildebrando e
Neuza pelo dom da vida, em especial a minha mãe por ser fonte de apoio e inspiração
em todas as fases da minha caminhada.
Aos meus nonnos Santos e Antinízia por representarem o aconchego e
carinho na minha vida.
Aos meus afilhados Luan, Gabrielle e Anthony que me mostram o significado
do amor e da esperança em um futuro melhor.
Aos meus amigos, preciosos, que deixam essa caminhada terrena mais leve
e feliz. Ressalto a importância da Raquel Varela na parceria acadêmica na faculdade
de Direito, bem como de amigos que levarei comigo e que fui agraciada de conhecer
nesse período.
Faço um agradecimento carinhoso e grato à minha professora e orientadora
Renata, a qual admiro muito como profissional e pessoa rara que é.
Por fim, porém não menos importante, agradeço à Dra. Juíza Vânia
Petermann e gabinete por todo apoio e ensinamentos no início da minha prática
jurídica, bem como ao Dr. Procurador Pedro Steil e sua equipe maravilhosa por ser o
melhor ambiente em que eu poderia finalizar minha graduação.
RESUMO

Este trabalho tem como objetivo examinar as diferenças entre namoro qualificado e
união estável. Inicialmente apresenta-se uma análise histórica breve referente à
evolução da família, bem como sobre seu conceito atual. Em seguida, adentra-se na
contextualização histórica e conceitual dos institutos da união estável e do namoro
qualificado, com especial atenção ao requisito diferenciador da affectio maritalis,
levando-se em consideração os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais
vigentes. Após, aborda-se as diferentes repercussões jurídicas dos relacionamentos
afetivos. Por fim, discorre-se sobre a decisão paradigmática proferida pelo Superior
Tribunal de Justiça, a qual abordou a conceituação da modalidade de namoro
qualificado e sua diferenciação da união estável com fundamento no ânimo de
constituir família, bem como sobre a relevância da atuação dos magistrados em
identificar a affectio maritalis nos casos concretos. A pesquisa utiliza-se do método
dedutivo e tem como fonte doutrinas, livros, artigos, leis e jurisprudências.

Palavras-chave: união estável; namoro qualificado; entidade familiar; ânimo de


constituir Família.
ABSTRACT

This monograph has the study objective verifying the differences between common
law and romantic and qualified romantic relationships. Initially, It presents a curt
examination history of the family´s evolution and your concept. After, get into the
historical and conceptual contextualization about common law relationship and
qualified romantic relationship with special attention to requirement affectio maritalis,
considering doctrinal understanding and jurisprudential research. Afterwards, it
portrays the different legal repercussions of affective relations discussed. Ultimately,
explores a paradigmatic decision rendered by the Superior Court of Justice that brings
up the name qualified romantic relationship and its distinction from the common law
relationship based in the aim of family formation, also about the importance judge's job
to identify the affectio maritalis in the specific case. The research method is deductive
and its source is doctrines, books, articles, laws and jurisprudence.

Key-words: common law relationship; qualified romantic relationship; family entity;


family formation aim.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E O CONCEITO DE FAMÍLIA ............................ 10

2.1. ORIGEM DA FAMÍLIA .................................................................................. 10

2.2. CONCEITO ATUAL DE FAMÍLIA ................................................................. 16

3 NAMORO QUALIFICADO OU UNIÃO ESTÁVEL?..................................... 18

3.1. UNIÃO ESTÁVEL ......................................................................................... 18

3.1.1. Requisitos legais .......................................................................................... 22

3.1.1.1. Convivência more uxorio .............................................................................. 23

3.1.1.2. Affectio Maritalis - ânimo de constituir família ............................................... 25

3.1.1.3. Diversidade de sexo ..................................................................................... 28

3.1.1.4. Publicidade ................................................................................................... 29

3.1.1.5. Estabilidade .................................................................................................. 30

3.1.1.6. Continuidade ................................................................................................ 30

3.1.1.7. Inexistência de impedimentos matrimoniais e a não incidência de causa


suspensiva ................................................................................................................ 31

3.2. NAMORO QUALIFICADO ............................................................................ 32

3.2.1. Conceito de namoro e seu desenvolvimento ............................................... 33

3.2.2. As modalidades de namoro: simples e qualificado ...................................... 36

3.2.3. Affectio Maritalis - A importância e o desafio de identificá-la ....................... 37

3.3. REPERCUSSÕES JURÍDICAS ESPECÍFICAS DA UNIÃO ESTÁVEL E DO


NAMORO QUALIFICADO ......................................................................................... 41

3.3.1. Os deveres recíprocos entre os companheiros ............................................ 42

3.3.2. Os efeitos patrimoniais da união estável ...................................................... 44

3.3.3. Os (não) efeitos patrimoniais do namoro ..................................................... 49

4 CASO PARADIGMÁTICO: RECURSO ESPECIAL n. 1.454.643/RJ .......... 52


5 CONCLUSÃO .............................................................................................. 53

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 55
10

1 INTRODUÇÃO

A família sempre teve um papel importante na sociedade com ela se


relacionando, é e sempre será o primeiro ambiente socializador do ser humano. No
entanto, o conceito de família altera-se constantemente, de acordo com o tempo e o
espaço em cada tecido cultural. Igualmente acontece com as formas de se relacionar
afetivamente, que ganham nova óptica conforme as mudanças que se sucedem no
contexto histórico vivenciado.
Na sociedade pós-moderna valoriza-se as mais diversas formas de
relacionamento, sendo o matrimônio uma dessas modalidades e não apenas o único
instituto merecedor de tutela jurídica.
Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 constitui um marco para a
concepção de família, vez que adotou o conceito de entidade familiar, reconhecendo
outras formas de se relacionar afetivamente, bem como elevou o concubinato puro à
condição de união estável.
Por conseguinte, o Código Civil de 2002, fomentando a ideia plural trazida
pela Carta Magna, dedicou um título específico à união estável, conceituando esse
instituto e, apontando seus requisitos caracterizadores, especificamente em seus
artigos 1.723 a 1.727.
No entanto, diante das constantes mudanças de costumes e valores
socioafetivos, quadro evolutivo atrelado ao próprio avanço do homem e da sociedade,
novas modalidades de conjugalidade surgiram, destacando-se a figura do namoro
qualificado.
Essas duas formas de relacionamento apresentam grandes similaridades, em
razão do namoro qualificado conter todos os requisitos exigidos na configuração da
união estável ausente apenas o elemento subjetivo affectio maritalis, criando-se,
assim, uma tênue linha entre eles.
Desse modo, a diferenciação entre o instituto da união estável e o namoro
qualificado cinge-se à verificação da existência da affectio maritalis, que nada mais é
que a intenção de constituir família. Em uma primeira análise pode parecer tarefa
simples distingui-las, entretanto, a identificação desse requisito é bastante desafiadora
por se tratar de conceito abstrato e inexistindo delimitação objetiva.
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Percebe-se, ainda, que em tempos de pandemia e de isolamento social


vivenciados nos últimos dois anos, seja por opção ou contingência da vida, casais
optaram por coabitarem, aumentando a complexidade de distinção.
Por conseguinte, vislumbra-se a importância do tema em razão das
consequências jurídicas e patrimoniais entre os institutos da união estável e namoro
qualificado demonstrarem-se bastante distintas, vez que aquela é considerada
entidade familiar e, portanto, acarreta tais repercussões aos conviventes e o namoro
qualificado ser identificado como uma mera construção social.
Sob essa perspectiva, inicialmente a pesquisa busca apresentar brevemente
a evolução histórica da família, bem como seu conceito atual. Em seguida, discorre
sobre o instituto da união estável, apresentando a evolução do concubinato puro à
entidade familiar e seus elementos caracterizadores. Em um segundo momento, faz-
se necessária a análise das modalidades de namoro, classificados em simples e
qualificado, distinguindo-os do instituto anteriormente abordado. Além disso, comenta-
se sobre o desafio de identificar a presença da affectio maritalis nas relações
apresentadas no cotidiano. Ademais, busca-se demonstrar as diferentes
consequências jurídicas previstas em cada situação específica.
Por fim, fez-se necessária a análise do REsp n. 1.454.643/RJ, considerado o
caso paradigmático, por se tratar do julgado que inaugurou o conceito de namoro
qualificado nos tribunais brasileiros.
Destarte, o método utilizado na pesquisa tratou-se do dedutivo e o assunto foi
aprofundado por meio da técnica de documentação indireta, utilizando-se para tanto
doutrinas, livros, artigos, legislações e julgados.
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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E O CONCEITO DE FAMÍLIA

A configuração da família, bem como sua função, transforma-se com o passar


do tempo. Desse modo, seu conceito se adapta conforme os valores sociais de
determinado momento histórico. Identifica-se, portanto, que a ideia de família está em
permanente processo de mudança.
Atualmente, na sociedade contemporânea, o fenômeno familiar assume
“concepção múltipla, plural, podendo dizer respeito a um ou mais indivíduos, ligados
por traços biológicos ou socioafetivos, com intenção de estabelecer, eticamente, o
desenvolvimento da personalidade de cada um” (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 41).
No entanto, nem sempre foi assim.
Destarte, conhecer as nuances e particularidades da compreensão de família
na cronologia histórica, ainda que brevemente, demonstra-se importante, vez que a
essencial diferenciação entre os institutos afetivos do namoro qualificado e união
estável reside no elemento do objetivo de constituir família – affectio maritalis.

2.1. ORIGEM DA FAMÍLIA

A história da família é longa e já sofreu diversas rupturas. Isso porque é


preciso compreender que, por diversos fatores, o modelo familiar relaciona-se com os
movimentos que constituem as relações sociais em determinado tempo histórico.
Nesse sentido, Luiz Edson Fachin (1999, p. 11) esclarece ser:

Inegável que a família, como realidade sociológica, apresenta, na sua


evolução histórica, desde a família patriarcal romana até a família nuclear da
sociedade industrial contemporânea, íntima ligação com as transformações
operadas nos fenômenos sociais (FACHIN, 1999, p. 11).

Vale ressaltar, antes de adentrar na análise da família a partir de um passado


mais recente, que na época da sociedade primitiva os povos não identificavam o grupo
familiar com as mesmas características presentes atualmente, já que predominavam
as relações sexuais livres em detrimento das relações individuais, as quais poderiam
acontecer entre os diversos membros da tribo (VENOSA, 2017, p.19).
Friedrich Engels (2021, p. 37) explica que “pelo sistema de parentesco que
chegou historicamente até os nossos dias, podemos concluir que existiu uma forma
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de família a ele correspondente e hoje extinta”, acrescentou que esses sistemas de


parentescos e as formas de família diferem dos de hoje essencialmente no seguinte
fato: cada filho tinha vários pais e mães.
Calha à espécie a observação de Engels (2021, p. 37) no sentido de que ao
analisar esse período primitivo os estudiosos se defrontam com uma série de formas
de família que estão em contradição direta com as até agora admitidas como únicas
válidas. Assim, explica que “o estudo da história primitiva revela um estado de coisas
em que os homens praticam a poligamia e suas mulheres a poliandria e em que, por
consequência, os filhos de uns e de outros tinham que ser considerados comuns”
(2021, p. 37).
Destarte, percebe-se que já se concebeu a família com características
endogâmica, poligâmica e poliândrica, algo bastante distante da realidade atual,
mormente no ocidente, diante da prevalente cultura da monogamia.
Cumpre ainda registrar que, “disso decorria que sempre a mãe era conhecida,
mas se desconhecia o pai, o que permite afirmar que a família teve de início um caráter
matriarcal, porque a criança ficava sempre junto a mãe, que a alimentava e educava”
(VENOSA, 2017, p. 19).
Por outro lado, leciona Gonçalves (2017, p. 34) que, durante o Império
Romano a família possuía como estrutura típica a patriarcal, concentrando um grande
poder na figura do pai de família. O pater familias exercia um poder soberano sobre
os filhos, podendo, inclusive, vendê-los, castigá-los, abandoná-los e até mesmo ceifar-
lhes a vida (jus vitae et necis). Nessa perspectiva, a figura da mulher exercia um papel
irrelevante na família, vez que se subordinava à autoridade marital, além de poder ser
repudiada por ato unilateral do marido.
Nesse sentido, o fundamento para a figura paterna ganhar destaque no núcleo
familiar é a essa organização ser orientada pelas crenças religiosas, ou seja, pela
autonomia privada ao invés das leis das cidades. Explica Coulanges (2006, p. 61) que
“em casa há algo que está acima do próprio pai: é a religião doméstica, é esse deus
que os gregos chamam de lar-chefe, estia despoina, e que os latinos denominam lar
familiae pater.”
Desse modo, quem exercia a mais alta função no âmbito religioso era o
homem, o que resultava em sua supremacia. Assim, esclarece Coulanges (2006, p.
61) que:
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O pai é o primeiro junto ao lar: ele o alumia e conserva; é seu pontífice. Em


todos os atos religiosos, ele exerce a mais alta função; degola a vítima; sua
boca pronuncia a fórmula de oração, que deve atrair para si e para os seus a
proteção dos deuses. A família e o culto se perpetuam por seu intermédio;
representa, sozinho, toda a série dos descendentes. Sobre ele repousa o
culto doméstico; quase pode dizer como o hindu: “Eu sou o deus.” — Quando
a morte chegar, será um ser divino, que os descendentes invocarão
(COULANGES, 2006, p. 61).

Em relação a mulher, a religião a coloca no papel de coadjuvante, a qual


participa dos atos religiosos, mas não era a senhora do lar. Antes de fazer parte da
família do marido, cultiva a religião do seu pai e, posteriormente, a do cônjuge. Além
disso, a função reprodutiva tem especial destaque, em razão da crença de que a
felicidade na vida futura dependia dos cultos prestados pelos familiares vivos, os quais
ficavam sob responsabilidade do varão. Nessa lógica, a continuidade dos
descendentes era imperiosa, bem como a figura masculina, já que era o homem que
teria permissão para realizar os cultos e fazer oferendas.
Desse modo, a mulher era dependente da figura masculina desde sua criação:

O direito grego, o direito romano, o direito hindu, que se originam dessas


crenças religiosas, todos concordam em considerar a mulher como menor.
Jamais pode ter seu próprio lar, jamais será chefe de um culto. Em Roma
recebe o título de mater familias, mas perde-o por morte do marido. Não tendo
nunca um lar que lhe pertença, nada possui que lhe dê autoridade na casa.
Jamais dá ordens, jamais é livre, ou senhora de si mesma, sui juris. Sempre
está ao lado do lar de outro, repetindo a oração de outro; para todos os atos
da vida religiosa é-lhe necessário um chefe, e para todos os atos da vida civil
um tutor (COULAUGES, 2006, p. 62).

Depreende-se, portanto, que o pai exercera o papel de pontífice e soberano


nas antigas instituições. Da mesma forma, as leis das cidades romanas, revestidas
dos princípios religiosos, reforçaram o poder ilimitado do homem, podendo ser
catalogado em três categorias: “o pai de família como chefe religioso, como senhor da
propriedade ou como juiz” (COULAUGE, 2006, p. 64).
Outro marco importante no entendimento de família foi no governo do
Imperador Constantino IV d.C, quando se tem grande influência do Cristianismo
interferindo na concepção de família, vez que o casamento passou a ser concebido
como um sacramento e não apenas um acordo de vontade entre as partes. Diante da
forte influência da cultura cristã durante o período medieval, as relações familiares
passaram a ser regidas exclusivamente pelo direito canônico, sendo o matrimônio
religioso o único conhecido. Portanto, prevalecia o pensamento de indissolubilidade
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da união por meio do divórcio, imperando a regra: quod Deus conjunxit homo non
separet. Esse pensamento se opunha ao entendimento dos romanos, vez que a
affectio era necessária não só no momento de sua celebração, mas também durante
o relacionamento (GONÇALVES, 2017, p. 34-35).
É fato que os contornos do conceito de família vão se alterando conforme as
mudanças socioculturais da época. À vista disso, com o marco histórico da Revolução
Industrial a família passou a ser compreendida como unidade de produção, realçados
os laços patrimoniais. Assim, esclarecem Farias e Rosenvald que:

As pessoas se uniam em família com vistas à formação de patrimônio, para


sua posterior transmissão aos herdeiros, pouco importando os laços afetivos.
Daí a impossibilidade de dissolução do vínculo, pois a desagregação da
família corresponderia à desagregação da própria sociedade. Era o modelo
estatal de família, desenhado com os valores dominantes naquele período da
Revolução Industrial (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 37).

Nesse período, diante da demanda de mão de obra, essencialmente nas


atividades terciárias, fez com que a mulher deixasse de lado as atividades domésticas
para ingressar no mercado de trabalho ocupando os cargos destinados aos homens.
Deixou, portanto, o homem de ser a única fonte de subsistência da família, passando
essa a ser nuclear, restrita ao casal e sua prole (DIAS, 2011, p. 28).
Surge uma nova concepção familiar, a qual passou a se pautar na intimidade
e privacidade, deixando de ser centrada na figura masculina, tampouco cingia-se em
seu caráter meramente produtivo e reprodutivo. Isso porque houve um movimento
migratório do campo para as cidades, passando a se conviver em espaços cada vez
menores, o que levou à aproximação de seus membros. Desse modo, o vínculo afetivo
ganhou espaço no seio familiar prevalecendo uma nova concepção de família formada
por laços afetivos de amor, de carinho. Igualmente, surge a ideia de que cessado o
afeto, está ruída a base de sustentação familiar, e a dissolução do vínculo é o único
modo de garantir a dignidade da pessoa (DIAS, 2011, p. 28).
Assim, destaca Madaleno (2020, p. 114) que a transformação da família
patriarcal para a concepção de um núcleo familiar mais restrito permite que o afeto e
a realização individual sejam atingidos, sobressaindo a formação natural e
espontânea da família em detrimento da ideia pautada na antiga aura sagrada e dos
tabus referentes à maternidade e à paternidade.
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Portanto, depreende-se que a família sofre modificações conforme o próprio


avanço do homem e da sociedade, vez que a vida é dinâmica e abarca novas
conquistas e descobertas da humanidade, não sendo crível que esteja vinculada e
sujeitada a ideias estáticas, presas a valores pertencentes a um passado distante,
tampouco a suposições incertas de um futuro remoto (FARIAS; ROSENVALD, 2022,
p. 37).
Logo, a família caracteriza uma realidade presente, a qual se transforma de
acordo com as circunstâncias de tempo e lugar, adaptando-se aos valores vigentes a
época, porquanto, estando em permanente processo de mudança e evolução.

2.2. CONCEITO ATUAL DE FAMÍLIA

Quando se fala em família ainda pode-se trazer à mente o modelo


convencional que por muito tempo foi considerado o único, no qual se tem um homem
na figura de pai, uma mulher representando a mãe, complementada por seus filhos e
unidos pelo matrimônio. Todavia, esse perfil tradicional vem perdendo espaço para as
outras modalidades de família como as monoparentais, homoafetivas, recompostas,
reconhecendo sua pluralidade. No entanto, independentemente de sua formação,
tem-se que a família é o primeiro centro socializador do ser humano. É e sempre será
o núcleo básico e essencial de qualquer sociedade.
Etimologicamente, a palavra família deriva do vocábulo osco famel (da raiz
latina famul), que significa propriamente "escravo" ou “servo”.' Daí resultou a palavra
latina famulus, de igual significado, e que persiste no português ("fâmulo"), com o
sentido de criado ou serviçal (FARIAS e ROSENVALD, 2022, p. 41).
Explicam os autores supra que:

Em sua origem, pois, a família não tinha um significado idealístico, assumindo


uma conotação patrimonial, dizendo respeito à propriedade, designando os
escravos pertencentes a alguém, a sua casa, a sua propriedade. Não é
despiciendo lembrar que a própria Bíblia Sagrada, no Gênesis (Capítulo 8,
versículo 19), narra a afirmação do Eterno a Noé: “vem tu com toda tua casa
(família) à arca" (FARIAS e ROSENVALD, 2022, p. 41).

Com efeito, o conceito de família vem se transformando com o passar do


tempo, assumindo, nos dias atuais, uma concepção múltipla, plural, podendo dizer
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respeito a um ou mais indivíduos, ligados por traços biológicos ou sociopsicoafetivos,


objetivando estabelecer o desenvolvimento da personalidade de cada integrante
(FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 41).
Para Gonçalves (2017, p. 16) “lato sensu, o vocábulo família abrange todas
as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco
ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção”. Afirma,
também, compreender os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. No âmbito
legislativo a família é considerada numa perspectiva mais restrita, a qual compreende
os pais e sua prole (caso haja filhos, não sendo requisito essencial a sua
configuração), denominando-se a “pequena família”, “correspondendo ao que os
romanos chamavam de domus”.
Por sua vez, Madaleno (2020, p. 101) esclarece que:

A família extensa envolvia todas as pessoas ligadas pelo vínculo de sangue


e oriundas de um tronco ancestral comum. Já a família stricto sensu
compreende os consanguíneos em linha reta e os colaterais sucessíveis até
o quarto grau, enquanto a família em sentido mais restrito, e modelagem mais
frequente no atual entorno social, respeita ao grupo formado pelos pais e por
seus filhos, cada vez em menor número de componentes (MADALENO, 2020,
p. 101).

Já Dias (2011, p. 42) assevera que não é fácil encontrar uma definição de
família de forma a dimensionar o que, no contexto social dos dias de hoje, se insere
nesse conceito. Entretanto, afirma ser o principal papel da família moderna o suporte
emocional do indivíduo, em que há flexibilidade e, indubitavelmente, mais intensidade
no que diz respeito a laços afetivos. Para a autora, a função desse núcleo social é a
formação de um espaço onde seus membros consigam integrar sentimentos,
esperanças e valores, a fim de concretizar seu projeto de felicidade. Ainda, anota que
por se tratar de uma construção cultural, a família natural nem sempre vai encontrar-
se representada pela família juridicamente regulada.
Conclui-se, portanto, que o conceito de família está em permanente processo
de mudança, evolução, não se restringindo a um único formato. No entanto, pode-se
dizer que a família pós-moderna tem em comum a sua base fundante, seja em sua
feição jurídica ou sociológica, no afeto, na ética, na solidariedade entre seus membros
e na preservação da dignidade.
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3 NAMORO QUALIFICADO OU UNIÃO ESTÁVEL?

3.1. UNIÃO ESTÁVEL

Para que se possa entender de forma abrangente o instituto da união estável,


necessária se faz uma análise, mesmo que breve, de sua evolução histórica.
O instituto da união estável nem sempre foi reconhecido como entidade
familiar merecedora da tutela estatal. Pelo contrário, predominou por muitos anos a
figura do concubinato, que além de restar à margem da proteção jurídica possuía
conotação imoral e discriminatória. Entretanto, formas de relacionamentos afetivos
informais, como o concubinato, sempre existiram e, intui-se, sempre existirão.
A história mostra que entre diversos povos da Antiguidade já se concebia a
união entre homem e mulher fora do casamento. Tem-se relatos de que, na Antiga
Grécia, Sócrates conviveu simultaneamente com Xântipe e Myrto, corroborando a fala
de Rodrigo da Cunha Pereira (2001, p. 13) de que “a velha história grega está crivada
de concubinatos célebres”.
Também em Roma, no início do Império, o concubinato era fato habitual, o
que resultou na concepção da Lex Julia de Adulteris, a qual impôs restrições ao
referido tipo de relacionamento (RIZZARDO, 2005, p. 895).
Diante da forte influência da crença cristã, a qual institui o casamento como
um sacramento, os relacionamentos extraconjugais foram combatidos e condenados
pela Igreja, especialmente com a realização do Concílio de Trento realizado entre
1545 e 1563. Todavia, a união livre não deixou de existir apesar do forte desprestígio
religioso.
Vale lembrar que no Brasil, para além da influência cristã “que possuía um
significativo papel na regulação das uniões formais, além de metodizar as informais,
pois controlava os impulsos através da moral e da ética” (BARBOSA, 2020, p. 54), as
questões econômicas e socioculturais tiveram grande participação na formação das
uniões extraconjugais, vez que a história nacional é marcada por um longo período
colonial e de escravidão.
Assim sendo, o casamento não era para todos, mas apenas para aqueles que
possuíam condições financeiras e interesses patrimoniais a resguardar, já que era
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preciso de aporte econômico para realização da cerimônia e oficialização da relação.


Tinha-se, também, o matrimônio como forma de perpetuação e conservação das
posses, consoante o acordo entre as respectivas famílias, geralmente do mesmo
estrato social, desconsiderando, ou ainda, ficando em segundo plano, a vontade e
escolha dos cônjuges. Segundo Del Priori (2015, p. 22) “a racionalidade devia
marginalizar a paixão ou atração física”, o que resultava em casamento por interesse.
Dessa forma, grande parte da população, formada por pessoas pobres e
escravizadas, não se encaixava nos padrões socialmente impostos e nos preceitos
religiosos da época, o que resultava nas uniões afetivas informais. Mesmo após o fim
da escravidão, a situação permaneceu inalterada, em razão das dificuldades
socioeconômicas dessa camada social e o alto custo do matrimônio, predominando,
portanto, o concubinato como forma de conjugalidade (BARBOSA, 2020, p. 55).
Com o advento da República, e na passagem do século XIX para o século XX,
somando à revolução tecnológica, inicia-se um caminho de transformações em que
os indivíduos começaram a ousar “se libertar da influência da religião, da família, da
comunidade ou das redes sociais estabelecidas pelo trabalho” (Del Priori, 2015, p.
131). Esse período histórico abarca uma grande transformação social e econômica,
influenciando o modo de viver e pensar, “provocando, no meio do século XX, uma
fenomenal ruptura ética na história das relações entre homens e mulheres (Del Priori,
2015, p. 131-132).
No Código Civil de 1916 a visão patrimonialista do casamento dava a base de
sustentação para a “família legítima”, sendo o único instituto jurídico reconhecido
como entidade familiar, excluídas da consideração legal as relações
extramatrimoniais. Assim, “naquela ambientação, o casamento era a única forma de
constituição da chamada ‘família legítima', sendo, portanto, 'ilegítima' toda e qualquer
forma familiar, ainda que marcada pelo afeto” (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 485).
Desse modo, as pessoas que viviam maritalmente com alguém, mas que
optavam por não se casar ou mesmo que não podiam formalizar a relação conjugal
por ausência de divórcio, por exemplo - lembrando que o casamento era indissolúvel
até 1977 -, passavam a viver em entidades chamadas de concubinato.
Outrossim, qualquer vínculo afetivo que não possuísse o selo do matrimônio
válido e formal era classificado como concubinato. Além dessa forma de união não ter
sido regulamentada no antigo código, resultando em total desamparo legal no
20

momento da dissolução, Maria Berenice Dias (2011, p. 167) afirma que o legislador
ainda restou por puni-las, já que vedou doações e a instituição de seguro em favor da
concubina, que também não podia ser beneficiada por testamento.
No entanto, a tentativa de impor um único modo de se relacionar legalmente
reconhecido não impediu que, diante da complexidade da vida e da diversidade de
vínculos afetivos, demandas desse viés começassem a chegar ao Judiciário.
No início, as primeiras decisões judiciais, as quais são da década de 1960 e
que compeliram a formação de um regramento concubinário, tinham por intuito
somente deliberar sobre os efeitos patrimoniais triviais que evitassem maiores
injustiças sociais.
Nessa toada, as relações extramatrimoniais começaram a ser reconhecidas
pelo Poder Judiciário como “sociedades de fato” em que os companheiros eram
considerados “sócios”, dividindo-se, por conseguinte, os “lucros” para que não
houvesse enriquecimento ilícito de uma das partes, geralmente em detrimento da
figura feminina (DIAS, 2011, p. 168).
Esse entendimento ensejou o surgimento, inclusive, da súmula 380 do STF
que exprimia a seguinte regra: comprovada a existência de sociedade de fato entre
os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum. Com Farias e Rosenvald (2022, p. 486) vale lembrar
que se tratava “ de uma maneira efetiva e concreta de conceder algum tipo de direito
às pessoas que, por lei, não teriam direito a nada”.
Todavia, para que se reconhecesse o direito à divisão dos bens adquiridos na
constância do casamento, era exigida a prova da contribuição financeira efetiva de
cada parceiro, o que dificultava e muito o recebimento de algum direito, por parte
sobretudo das mulheres, já que naquele contexto histórico o seu papel principal era
cuidar da casa, ser “do lar”. Da mesma forma, os concubinos não faziam jus aos
alimentos, passando-se a reconhecer-lhes o direito à “indenização por serviços
domésticos” prestados (DIAS, 2011, p. 168).
Apesar de o concubinato não ser tratado no âmbito do Direito das Famílias,
mas somente no âmbito do Direito Obrigacional, sendo reconhecido como sociedade
de fato, vale lembrar que foi conquistando reconhecimento de direitos por parte da
jurisprudência, que não podia negar tais relações afetivas e seus desdobramentos nas
consequências fáticas cotidianas, representando significativo avanço para aquele
21

tempo e retirando um pouco da clandestinidade existente em tal forma de


conjugalidade.
Nesse contexto de reconhecimento de direitos jurídicos às relações
concubinárias pelos tribunais, mesmo sendo tratado à margem da legislação de 1916,
explica Farias e Rosenvald (2022, p. 487) que:

[...] naquele desenho, a doutrina se encarregou de diferenciar o concubinato


em duas categorias: (i) o concubinato puro (composto por pessoas que
poderiam casar, mas preferiam não fazê-lo); (ii) o concubinato impuro
(formado por pessoas que não poderiam casar, como, por exemplo, as
pessoas casadas, caracterizando o típico e conhecido exemplo das
“amantes”. Era o concubinato adulterino ou incestuoso) (FARIAS;
ROSENVALD, 2022, p. 487).

Sendo um divisor de águas, a Constituição Federal de 1988 surge para


desconstituir velhas concepções e incluir uma cláusula geral de inclusão por meio do
termo entidade familiar. Por conseguinte, o concubinato (puro), agora digno de
proteção jurídica - a mesma dispensada ao casamento -, passou a ser intitulado união
estável, objetivando retirar o estigma da dupla conotação abarcada pela palavra
concubinato.
Igualmente, a união estável transitou do Direito das Obrigações para do Direito
de Família (art. 226, §3º, CF). Assim, “união estável foi a nova terminologia
empregada para indicar as relações afetivas decorrentes da convivência entre homem
e mulher, com intuito de constituir família, mas despida das formalidades exigidas para
o casamento" (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 488).
Dando continuidade às transformações legislativas, editou-se a Lei nº
8.971/94, a qual teve por intuito assegurar o direito aos alimentos e à sucessão.
Todavia, assevera Dias (2011, p. 169) que conservava ainda certo ranço
preconceituoso, ao reconhecer como união estável a relação entre pessoas solteiras,
judicialmente separadas, divorciadas ou viúvas, deixando de fora, injustificadamente,
os separados de fato. Além disso, a norma exigia um período mínimo de convivência
que foi estipulado em 5 (cinco) anos ou a existência de prole para que se
reconhecesse, assim, como estáveis as relações.
Já em 1996, a Lei 9.278/96 expandiu a garantia de direitos, vez que eliminou
os requisitos acima mencionados e incluiu as relações entre pessoas separadas de
fato. Assim, passou a considerar a “união estável como a entidade familiar de
22

convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida


com o objetivo de constituição de família, afastando, de vez por todas, a exigência
temporal” (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 488).
O Código Civil de 2002, incorporou princípios básicos das aludidas leis,
prescindindo de período mínimo de convivência e reeditando os requisitos da
publicidade, continuidade, durabilidade e intuito de formação de família para a
caracterização da união estável (art. 1.723). Assim, a união estável foi incluída no
Livro de Família e assentada em cinco artigos (1.723 a 1.727), além de disposições
esparsas em outros capítulos quanto a certos efeitos, como no caso da obrigação
alimentar (art. 1.694) e da sucessão (art. 1.829 após o STF reconhecer a
inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC/02).
Por certo, percebe-se que a evolução do instituto da união estável tanto no
âmbito jurídico, por meio da colaboração da jurisprudência e da própria legislação,
como no âmbito social - desconstrução do conceito preconceituoso e estigmatizado -
, resultou na especial proteção do Estado, considerando-a uma entidade familiar,
tutelada pelo estado tal qual o casamento.

3.1.1. Requisitos legais

Como já mencionado anteriormente, com o advento da Constituição Federal


de 1988, reconheceu-se outras formas de relacionamento afetivo para além do
casamento, bem como foi encampado o conceito abrangente de entidade familiar, na
qual se insere a união estável (art. 226, § 3º).
Por seu turno, o Código Civil de 2002, em seu art. 1.723, dispõe que:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o


homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
§ 1º A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art.
1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada
se achar separada de fato ou judicialmente.
§ 2º As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da
união estável.

Apesar da Lei não imprimir contornos precisos, na medida em que uma das
características da união estável é a ausência de formalismo para a sua constituição,
23

é possível inferir do dispositivo legal requisitos essenciais para a caracterização da


união estável, os quais podem ser diferenciados em objetivos e subjetivos. Os
pressupostos subjetivos dizem respeito à a) convivência more uxorio e b) affectio
maritalis: ânimo ou objetivo de constituir família. E, como de ordem objetiva: c)
diversidade de sexos; d) estabilidade; e) publicidade; f) continuidade; g) ausência de
impedimentos matrimoniais.

3.1.1.1. Convivência more uxorio

É consabido que a união estável e o casamento são institutos jurídicos


distintos, vez que são concebidos de formas diferentes, porém, equiparados. Nesse
sentido, um dos requisitos essenciais caracterizadores daquela é a convivência
marital, chamada na relação de companheirismo de convivência “more uxorio”, ou
seja, conviver como se casados fossem.
Trata-se, portanto, da intenção firme de comunhão de vidas, no sentido
material e imaterial, correlato ao casamento. Acentua Carlos Roberto Gonçalves
(2017, p. 800) que a convivência “more uxorio” pode ser reconhecida por meio da
mútua assistência material, moral e espiritual, bem como pela soma de interesses da
vida em conjunto, atenção e gestos de carinho, isto é, a relação afetiva é alicerçada
pela somatória de componentes materiais e espirituais inerentes à entidade familiar.
À vista disso, a convivência marital, principalmente numa visão mais
conservadora, pode estar relacionada com a coabitação ou vida comum sob o mesmo
teto. Nesse sentido é o posicionamento do doutrinador Carlos Roberto Gonçalves
(2017, p. 800) que considera tal elemento como “uma das mais marcantes
características da união estável”. Acrescenta, ainda, que “é difícil, no entanto, imaginar
que o casal tenha a intenção de constituir família se não tem vida em comum sob o
mesmo teto” (GONÇALVES, 2017, p. 800), excepcionando essa convivência em
separado em situações de necessidade profissional ou contingência pessoal.
Data vênia e com profundo respeito ao mestre supracitado, não se pode negar
as profundas e velozes transformações contemporâneas das formas de se relacionar,
sendo cada dia mais comum os casais residirem em casas separadas, consagrada,
por vezes, como o segredo da durabilidade da relação. Da mesma forma, não se pode
inferir falta de intimidade apenas por essa situação, pelo contrário, ainda que residindo
24

em moradias diferentes, é plausível vislumbrar a vida em comum e a mútua


assistência, bem como os outros pressupostos adjacentes como notoriedade,
estabilidade, continuidade, affectio maritalis, vivendo, assim, como se casados
fossem.
Ressalta-se, ainda, que não foi exigido pela norma um lapso temporal mínimo
para a caracterização da união estável - como dispunha a lei nº 8.971/94 -, tampouco
a convivência sob o mesmo teto. Nesse sentido, o enunciado da súmula 382 de
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal determina que “a vida em comum sob o
mesmo teto more uxorio, não é indispensável à caracterização do concubinato”.
Apesar de ter sido editada em tempos de reconhecimento dos direitos da concubina,
mostra-se bastante atual considerando a vida afetiva pós-moderna. Contemplando
dessa mesma visão, Rodrigo da Cunha Pereira (2001, p. 30) aduz que:

O Direito Brasileiro já não toma o elemento da coabitação como requisito


essencial para caracterizar ou descaracterizar o instituto da união estável,
mesmo porque, hoje em dia, já é comum haver casamentos em que os
cônjuges vivem em casas separadas, talvez como uma fórmula para a
durabilidade das relações (PEREIRA, 2001, p. 30).

Com efeito, esse tem sido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

CIVIL. FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. AUSÊNCIA DE


COABITAÇÃO DAS PARTES. DESNECESSIDADE. VIOLAÇÃO AO ART.
1.723 DO CC NÃO CONFIGURADA. PARTILHA. IMÓVEL ADQUIRIDO COM
RECURSOS PROVENIENTES DO SALÁRIO DO VARÃO. SUB-ROGAÇÃO.
VIOLAÇÃO AO ART. 1.659, II, DO CC.
1. É pacífico o entendimento de que a ausência de coabitação entre as
partes não descaracteriza a união estável. Incidência da Súmula
382/STF.
2. Viola o inciso II do art. 1.659, do CC a determinação de partilhar imóvel
adquirido com recursos provenientes de diferenças salariais havidas pelo
convivente varão em razão de sua atividade profissional, portanto de natureza
personalíssima.
3. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.
(REsp 1096324/RS, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado
em 02/03/2010, DJe 10/05/2010) (Grifo da autora).

Igualmente, é o entendimento do nosso egrégio Tribunal de Justiça de Santa


Catarina:
25

APELAÇÕES CÍVEIS. RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO


ESTÁVEL. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. NEGATIVA DA
PARTILHA, COM A AUTORA, DE IMÓVEL REGISTRADO EM NOME DO
REQUERIDO. INSURGÊNCIA DAS PARTES. APELO DA AUTORA PARA
VER RECONHECIDA A UNIÃO ESTÁVEL DESDE MOMENTO ANTERIOR
A CONSTRUÇÃO DA RESIDÊNCIA. ACOLHIMENTO. DESNECESSIDADE
DO REQUISITO DA COABITAÇÃO PARA A CONFIGURAÇÃO DA UNIÃO
ESTÁVEL. PARTES QUE EDIFICARAM CASA COM O OBJETIVO DE
RESIDIREM JUNTOS COMO CONVIVENTES. MEAÇÃO DO IMÓVEL
DEVIDA. EVIDÊNCIAS PROBATÓRIAS. APELO DO REQUERIDO
ALMEJANDO TÃO SOMENTE A RETIRADA DE AVERBAÇÃO JUDICIAL DA
MATRÍCULA DO IMÓVEL. PREJUDICADO. AVERBAÇÃO QUE DEVE
PERMANECER ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO.
RECURSOS CONHECIDOS, APELO DA AUTORA PROVIDO E APELO DO
REQUERIDO DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0301369-
42.2016.8.24.0004, de Araranguá, rel. Rodolfo Cezar Ribeiro Da Silva
Tridapalli, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 27-09-2018). (Grifo da autora).

Ainda, ratificando o entendimento de que a ausência de coabitação não


pressupõe falta de comunhão de vidas, já decidiu o TJSC:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. RECONHECIMENTO DE UNIÃO


ESTÁVEL POST MORTEM C/C PETIÇÃO DE HERANÇA. PROCEDÊNCIA
NA ORIGEM. CONVIVÊNCIA PÚBLICA, DURADOURA, COM ÂNIMO
FAMILIAR. FARTA PROVA TESTEMUNHAL E DOCUMENTAL A
CORROBORAR A PRETENSÃO DA DEMANDANTE. COMPANHEIRO
SEPARADO DE FATO DE SUA ESPOSA. AUSÊNCIA DE ÓBICE AO
RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL. VARÃO QUE LABORAVA EM
OUTRO ESTADO DA FEDERAÇÃO. AUSÊNCIA DE MORADIA SOB O
MESMO TETO COM A COMPANHEIRA. DESNECESSIDADE.
PRECEDENTES DA CORTE E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
COMUNHÃO DE VIDA MATERIAL E IMATERIAL QUE SUPLANTA A
NECESSIDADE DE COABITAÇÃO. FRÁGIL PROVA PRODUZIDA PELOS
APELANTES (ESPOSA E FILHOS DO CONVIVENTE) QUE NÃO DERRUI
OS CONTUNDENTES ELEMENTOS TRAZIDOS PELA AUTORA
(COMPANHEIRA DO DE CUJUS). SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 2015.057832-7, de Canoinhas, rel.
Jairo Fernandes Gonçalves, Quinta Câmara de Direito Civil, j. 29-10-2015).
(Grifo da autora).

Com efeito, resta pacificado o entendimento jurisprudencial de que a


convivência sob o mesmo teto não se configura como pressuposto essencial para a
caracterização da união estável.

3.1.1.2. Affectio Maritalis - ânimo de constituir família


26

A affectio Maritalis, também chamada de intuitu familiae, é o requisito principal


para a caracterização da união estável. Trata-se da intenção de criar laços familiares,
vivendo como se casados fossem, objetivando a constituição de família.
Explica Dias (2011, p. 173) que o fundamento para esse requisito está ligado
à proibição outrora das uniões extramatrimoniais, vez que o par tinha por intenção
casa, bem como o objetivo de constituir família, não consolidando o intento por
restarem impedidos legalmente.
Nesse contexto, a affectio maritalis diz respeito ao “tratamento recíproco como
esposos, integrantes de um mesmo núcleo familiar, com objetivos comuns a serem
alcançados em conjunto”. (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 503)
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 803) além de ser
necessário o afeto, é de suma importância que haja o elemento espiritual
caracterizador do ânimo de constituir uma família - affectio maritalis.
No entanto, tendo atuação sine qua non na caracterização da união estável,
o intuitu familiae, por se tratar de um pressuposto subjetivo, em muitos casos pode
ser dificultoso se provar a intenção de constituir família, sobretudo quando um dos
pares a nega.
Farias e Rosenvald (2022, p. 503) ressaltam que para além do
reconhecimento no meio social do casal convivente identificados pelos mesmos sinais
exteriores de um casamento, é possível identificar a união estável, dentre outras
possibilidades:

Através da soma de projetos afetivos, pessoais e patrimoniais, de


empreendimentos financeiros com esforço comum, de contas conjuntas
bancárias, declarações de dependência em Imposto de Renda, em planos de
saúde e em entidades previdenciárias, a frequência a eventos sociais e
familiares, eventual casamento religioso (o chamado casamento eclesiástico)
etc. (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 503).

Mister destacar que, com a evolução da sociedade e a presença marcante do


princípio da autonomia privada, alguns elementos que antes eram considerados
essenciais para caracterizar união estável hoje já não entram mais no rol trazido pelos
doutrinadores ou pela lei, dentre eles a existência de filhos havidos na união. Todavia,
no entendimento de Gonçalves (2017, p. 803) a presença de prole em comum seria
um dos indícios veementes dessa situação de vida à moda conjugal.
27

Entretanto, deve-se ter cautela quanto ao elemento filho como um dos


indicativos de união estável, sobretudo nos tempos modernos em que descendentes
deixaram de ser tidos como resultado de relacionamentos sólidos, bem como um meio
para a manutenção do relacionamento. Nesse sentido é o entendimento predominante
da jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE RECONHECIMENTO E


DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C PARTILHA DE BENS E
ALIMENTOS COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA. AUSÊNCIA DE
INTIMAÇÃO PESSOAL DO REQUERIDO PARA COMPARECER À
AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO. DESNECESSIDADE.
RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL COM BASE APENAS NA
EXISTÊNCIA DE FILHOS COMUNS DO SUPOSTO CASAL.
FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. NECESSIDADE DE INSTRUÇÃO DO
FEITO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO E
PERSUASÃO RACIONAL. IMPRESCINDIBILIDADE DA PRODUÇÃO DE
PROVAS PARA O JULGAMENTO SEGURO DA QUESTÃO. ANULAÇÃO DA
SENTENÇA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.
DECISÃO UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 201800723618 Nº único: 0000639-
30.2015.8.25.0031 - 1ª CÂMARA CÍVEL, Tribunal de Justiça de Sergipe -
Relator(a): Elvira Maria de Almeida Silva - Julgado em 04/02/2019) (Grifo da
autora).

De outro vértice, não descaracteriza a affectio maritalis o fato de o casal


possuir uma relação aberta, estabelecida a partir de um código da afetividade próprio
(FARIAS e ROSENVALD, 2022, p. 504). Isso porque é irrelevante para a
caracterização da união estável a existência de acordo mútuo sobre a participação de
terceiros no relacionamento, seja com ou sem afeto.
Dessa forma, o intuitu familiae não se descaracteriza em razão dos indivíduos
determinarem suas próprias regras no campo da intimidade conjugal, até porque o
aludido espaço é manifestamente privado, não cabendo a ingerência do Estado.
Rodrigo da Cunha Pereira (2017) é cirúrgico quando aborda esse tema,
afirmando que: “quem deve ditar as regras e economia do desejo de cada casal é o
próprio casal”, pois “na esfera de intimidade da conjugalidade, só, e somente só, o
casal é que deve decidir sobre suas práticas sexuais”.
Mostrando-se atual com as transformações socioafetivas, Farias e Rosenvald
(2022, p. 505) cita decisão do nosso Tribunal de Justiça Catarinense em que
assegurou o entendimento de que eventual pacto permissivo de relacionamentos com
terceiros não descaracteriza o animus inerente a uma união estável de natureza
28

familiar (TJ/SC, Ac. 1ª Câmara Cível, ApCív. 0026473.20108.24.0023, rel. Des. Jorge
Luís Costa Beber).
À vista disso, reforça-se que a affectio maritalis é a protagonista na
caracterização da união estável, bem como na diferenciação do referido instituto com
outras relações, em especial, com o namoro qualificado.

3.1.1.3. Diversidade de sexo

O primeiro requisito objetivo posto na norma infraconstitucional (art. 1.723,


CC), seguindo a redação da Constituição Federal (art. 226, § 3º), refere-se à exigência
de diversidade de sexo decorrente do termo “homem e mulher”.
Contudo, para os doutrinadores Farias e Rosenvald (2022, p. 505) esse
elemento encontra-se superado. Isso porque é incompatível com os princípios
defendidos pela Carta Magna, ou seja, restringir o reconhecimento da união estável
apenas a casais heterossexuais afronta os preceitos igualitários e humanistas
assegurados no texto constitucional.
Entretanto, há ainda quem defenda a interpretação literal da norma,
porquanto, não reconhecendo a união de pessoas do mesmo sexo como entidade
familiar. Nesse entender, o relacionamento homoafetivo é tratado no âmbito do Direito
Obrigacional, reconhecendo ali uma sociedade de fato, sendo o parceiro um sócio.
Felizmente, a corrente que se consolidou como majoritária na doutrina e na
jurisprudência nacional foi a de que se caracteriza sim uma família aquela
consubstanciadas por pessoas do mesmo sexo. Esse pensamento foi encabeçado por
Maria Berenice Dias que defende a incidência das mesmas regras da união estável,
por meio da analogia (TARTUCE, 2016, p. 375).
Farias e Rosenvald (2022, p. 505) são categóricos em dizer que “sem dúvidas,
essa exigência da diversidade de sexos apresentava-se conectada a padrões morais
de outros tempos”, restando cristalina a inadmissibilidade dessa limitação no atual
momento do direito familiarista no país.
Isso porque a união estável pauta-se nos princípios do afeto e solidariedade,
independentemente se o casal é heteroafetivo ou homoafetivo, configurando um
retrocesso considerar apenas a literalidade da norma. Ainda mais quando se tem
vigente uma Constituição Federal que promulga a igualdade, isonomia, dignidade da
29

pessoa humana, bem como o desenvolvimento do indivíduo em todas as áreas da


vida.
Sob essa lente, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 4.277, conferindo
interpretação conforme a Constituição, reconheceu a união homoafetiva como
entidade familiar, sendo regida pelas regras da união estável, cessando
definitivamente eventual dúvida sobre o assunto.
Os autores supracitados fazem uma importante e necessária reflexão sobre o
tema, sendo cirúrgicos neste apontamento:

A opção sexual poderia implicar a perda de garantias fundamentais e da


imprescindível dignidade humana? Daí ser lícita a conclusão de que o
reconhecimento da possibilidade de uniões estável hétero ou homoafetivas é
um imperativo constitucional, não sendo possível violar a dignidade do
homem, por apego absurdo a formalismos legais, sob pena de um
amesquinhamento das garantias fundamentais constitucionais (FARIAS e
ROSENVALD, 2022, p. 508).

3.1.1.4. Publicidade

Outro requisito objetivo que a lei exige para o reconhecimento da união estável
é que essa relação seja “pública”, no sentido de não clandestinidade. O vocábulo
“público” não deve ser interpretado de forma exagerada, mas sim no sentido de
notoriedade, reconhecimento pelo meio social, fazendo o contraponto ao sigilo,
segredo.
Nesse sentido, assevera Dias (2011, p. 173) que a publicidade deve ser
entendida como a notoriedade da relação no meio social frequentado pelos pares, por
conseguinte, afastando da definição de entidade familiar os relacionamentos menos
compromissados em que não é possível identificar a condição de como casados
fossem.
Igualmente, explica o doutrinador Rolf Madaleno (2020, p. 1935) que a
notoriedade se trata de:

[...] relação conhecida no meio social dos conviventes, perante seus vizinhos,
amigos, parentes e colegas de trabalho, afastada qualquer conotação de
clandestinidade, ou segredo da união, em relação oculta aos olhos da
sociedade, dissimulada, como se fossem amantes em relação precária e
passageira e não estáveis parceiros afetivos (MADALENO, 2020, p. 1935).
30

Por conseguinte, o reconhecimento pela sociedade, família e amigos da


união entre os companheiros, fazendo alusão a vivência de como se casados fossem,
demonstra-se essencial para contar com a proteção legislativa conferida à união
estável.

3.1.1.5. Estabilidade

Como o próprio nome sugere, o relacionamento convivencial deve ter um


caráter estável. Assim, exige-se que a relação entre os conviventes seja duradoura,
não apresentando um aspecto acidental ou fugaz.
Já houve tentativa de estipulação de prazo mínimo para a configuração da
união convivencial pela Lei n. 8.971/94, que previa o tempo de cinco anos, todavia
logo foi derruído pela vigência da Lei n. 9.278/96. Na atual legislação não há exigência
de lapso temporal mínimo, rechaçando-se essa possibilidade, vez que a
caracterização da união estável depende da conjuntura apresentada em cada caso
concreto.
Nesse sentido, afirma Farias e Rosenvald (2022, p. 508) que a estipulação de
tempo mínimo para a configuração da união estável “não guarda qualquer pertinência
com o equilíbrio emocional das partes envolvidas, que decorre muito mais da
personalidade de cada um do que da efetiva intenção de manter uma relação familiar”.
Ainda, ressalta que essa estabilidade pode ser auferida por meio da convivência
prolongada no tempo, suportando os bons e maus momentos, repartindo alegrias e
tristezas, bem como a expectativa de concretizar planos comuns, sendo tais situações
um meio de “estabilizar” a convivência.
Logo, não tendo a lei estipulado um tempo mínimo de convivência, recai sobre
os magistrados a incumbência de verificar se a relação perdura por tempo suficiente
a caracterizar estabilidade familiar, o que por se tratar de uma aferição subjetiva pode-
se gerar certa dúvida na prática.

3.1.1.6. Continuidade
31

Esse requisito está intrinsecamente ligado ao anterior, vez que a própria


noção de estabilidade acompanha a necessidade de continuidade da relação afetiva.
Dessa forma, o relacionamento deve perdurar no tempo, não sofrendo
interrupções constantes, elemento esse que trata de verificar a força do vínculo.
No entanto, esse requisito não significa ausência de conflitos e
desentendimentos entre o casal, seja durante a união estável, casamento, até mesmo
no namoro, vez que são naturais na vida em comum (FARIAS; ROSENVALD, 2022,
p. 509)
Assim, assevera Farias e Rosenvald (2022, p. 509) que não é qualquer
interrupção que compromete a constituição da entidade familiar. A instabilidade será
fruto de rupturas constantes, da quebra da vida em comum, o que, sem dúvidas,
retirará das partes, naturalmente, a intenção de viver como casados, além de afetar,
eventualmente, aos interesses de terceiros.
Portanto, a quebra do vínculo afetivo é constatada quando se tem uma ruptura
séria do elo afetivo, a qual afeta a continuidade da relação, bem como a intenção de
continuar comprometido com a outra pessoa.

3.1.1.7. Inexistência de impedimentos matrimoniais e a não incidência de causa


suspensiva

O Código Civil de 2002 estabelece em seu art. 1.723, §1º, a existência de


impedimentos matrimoniais (previstos no art. 1.521) que impedem a constituição da
união estável.
Conforme o dispositivo legal, incidem sobre a união estável os impedimentos
matrimoniais - os quais são óbices à celebração do casamento -, com exceção do
inciso VI.
Desse modo, não podem viver em união estável (I) os ascendentes com os
descendentes, seja o parentesco natural ou civil; os afins em linha reta; (II) os afins
em linha reta; (III) o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem
o foi do adotante; (IV) os irmãos, unilaterais ou bilaterais e demais colaterais, até o
terceiro grau inclusive; (V) o adotado com o filho adotante; bem como, (VII) o cônjuge
sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 511).
32

Depreende-se da análise das regras do art. 1.723, §1º, que não predomina a
incidência do inciso VI do art. 1.521, demonstrando um grande avanço para no âmbito
legislativo, isso porque reconhece o direito à união estável daqueles que permanecem
civilmente casados, porém separados de fato, prevalecendo o fundamento do afeto.
Assim, uma pessoa casada, mas que se encontra separada de fato há algum
tempo e passa a manter um relacionamento estável, está apta a configurar uma nova
entidade familiar fazendo que se cesse, automaticamente, os efeitos da união anterior.
Todavia, caso mantenha simultaneidade de núcleos familiares ou esteja submetido a
um dos outros impedimentos matrimoniais caracteriza-se o concubinato em
detrimento da união estável (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 511).
Outrossim, menciona o §2º do referido art. 1.723 que as causas suspensivas
previstas no art. 1.523 “não impedirão a caracterização da união estável”. Assevera
Farias e Rosenvald (2022, p. 511) que de algum modo essa disposição legal pode
gerar uma certa perplexidade, vez que:

pessoas que celebram casamento com inobservância das causas


suspensivas ficam submetidas, obrigatoriamente, ao regime da separação de
bens, enquanto que aquelas que constituem união estável com inobservância
das mesmas causas suspensivas não sofrem da mesma restrição patrimonial
(FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 511).

Entretanto, tratando-se de regra limitadora, não caberia invocá-la já que a


própria lei não a determina.

3.2. NAMORO QUALIFICADO

A diferenciação entre as formas de relacionamento afetivo, namoro e união


estável, não é das mais fáceis. Essa dificuldade repercute tanto no âmbito da vida
social, a qual reflete as mudanças dos modos de se relacionar contemporâneos em
que os vínculos afetivos se estabelecem e se desfazem com muita velocidade, quanto
na seara jurídica.
Essa distinção se mostra de suma importância, vez que o reconhecimento da
união estável, que foi reconhecida como entidade familiar pelo texto constitucional,
traz reflexos imediatos na esfera patrimonial e pessoal para os companheiros.
33

Por conseguinte, novos conceitos são estabelecidos pelos julgadores no


intuito de diferenciação do instituto da união estável das demais relações que, por
vezes, são sérias e duradouras, porém não apresentam o requisito essencial para sua
configuração: a affectio maritalis, caso esse do namoro qualificado.

3.2.1. Conceito de namoro e seu desenvolvimento

É possível encontrar o significado de namoro nos dicionários como “manter


relacionamento amoroso estável, fundamentado na atração mútua e nos interesses
comuns”1, ou ainda, “aproximação física e psíquica entre duas pessoas em um
relacionamento, fundamentado na atração recíproca, que aspira continuidade para o
futuro”2.
Para Satil (2011) o namoro “é a relação entre pessoas, considerado sob o
ponto de vista jurídico, como relacionamento amoroso informal, que tem como objetivo
a troca de experiências”, vale dizer, em suas palavras que “é uma convivência com o
outro muito inferior ao matrimônio”.
Já o professor Euclides de Oliveira (2005), em seu brilhante artigo sobre a
“escalada do afeto”, esclarece que existem fases que compõem o trajeto do afeto rumo
à formação da família, sendo o namoro uma delas.
Dessa forma, o namoro pode ser localizado na linha crescente do
relacionamento como uma etapa posterior ao encontro despretensioso entre duas
pessoas que se sentiram atraídas, trocaram afetos e despenderam momentos juntas,
conjuntura essa também conhecida pela gíria “ficada”, a qual pode se estender no
tempo, todavia mantendo sempre a ideia de informalidade, ocasionalidade e
desapego entre os participantes.
O namoro apresenta-se como a etapa posterior à “ficada” ou “paquera”,
significando um passo importante na relação de afeto, consolidando-se como um
vínculo entre o casal revestido de seriedade e que acarreta certas responsabilidades
que não existiam no momento anterior, durante a fase da simples paquera. Contudo,

1 Michaelis Online. Namorar. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/busca?id=aKLBl. Acesso


em: 10 fev. 2022.
2 HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999, p.

1993.
34

ainda se localiza em momento anterior à união estável ou ao noivado, este que é


marcado de determinadas convenções sociais e símbolos – como anel e
comemoração.
Nesse sentido, afirma Oliveira (2005) que:

passo importante na escalada do afeto ocorre se o encontro inicial revela o


início de uma efetiva relação amorosa. Dá-se então, o namoro, já agora um
compromisso assumido entre homem e mulher que se entendem gostar um
do outro. Pode ser paixão à primeira vista, embora nem sempre isso
aconteça, pois o amor vai se consolidando aos poucos, com os encontros e
desencontros do casal embevecido (OLIVEIRA, 2005).

Portanto, o namoro pode ser compreendido como um período de


experienciação da relação, oportunizando o conhecimento mútuo dos pares, bem
como oportunidade de identificar suas afinidades e divergências para então decidir
dar um passo avante no desenrolar do relacionamento afetivo se assim for o querer
dos participantes.
No entanto, a forma de se conhecer o parceiro e de se relacionar dentro da
etapa do namoro foi se transformando rapidamente e acompanhando as mudanças
socioculturais, basta comparar como se namorava outrora e como atualmente se
consubstancia o namoro.
Antigamente, havia freios morais e religiosos sobre os desejos genuínos do
relacionamento, refletidos, consequentemente, na forma de se namorar. Segundo
Oliveira (2005):

o namoro à moda antiga se fazia cauteloso e era até difícil chegar aos beijos
e abraços, o que só acontecia depois de certo tempo de espera e da
aprovação familiar (era comum o namoro incipiente no sofá da sala dos pais
da moça, sob olhares críticos e vigilantes dos donos da casa) (OLIVEIRA,
2005).

Na sociedade pós-moderna muitas dessas amarras foram quebradas e o


namoro passou a corresponder a uma maior intimidade entre os parceiros, podendo
significar, inclusive, relacionamento sexual sem que se traduza em algo além do
namoro. Esclarece Oliveira (2005) que “hoje é sabidamente mais aberta a relação,
que logo se alteia para os carinhos mais ardentes e com boa margem de liberalidade
(fim de semana a sós, viagens, sexo quase declarado) ”.
35

Nesse contexto, diante de tantas mudanças sociais, não é fácil uma definição
apriorística do que se entende por namoro e sua diferenciação de outras formas de
relacionamento afetivo. Isso porque “com a evolução dos costumes, a queda do tabu
da virgindade, a enorme velocidade com que se estabelecem os vínculos afetivos,
ficou difícil identificar se o relacionamento não passa de um simples namoro” (DIAS,
2021, p. 618).
Somado a isso, destaca-se que não há uma definição da relação de namoro
pelo ordenamento jurídico, porquanto, não possui requisitos definidos em lei, o que
pode emaranhar, por vezes, a definição do relacionamento afetivo que se apresente
no caso concreto.
Com efeito, apesar de o namoro ter acompanhado as transformações sociais
do seu tempo, fato é que algumas características dessa fase permanecem constantes,
como a ideia de ser um período de conhecimento mútuo, de constância da relação,
apresentação da pessoa amada aos familiares e amigos, bem como a noção de
fidelidade (RAVACHE, 2011), como também sustenta Euclides Oliveira (2005):

Do latim in amore, o namoro sinaliza situação mais séria de relacionamento


afetivo. Tende a se tornar de conhecimento da família, dos amigos, da
sociedade. Surge entre os enamorados uma cumplicidade no envolvimento
porque passam a ter interesses comuns e um objetivo ainda que longínquo
de formarem uma vida a dois (OLIVEIRA, 2005).

Importante destacar que a ideia de fidelidade pode ser relativizada, ou ainda,


revestir-se de outro aspecto diante da frequente crescente dos relacionamentos tidos
como “abertos”. Isso porque a fidelidade pode ser entendida como respeito às regras
estabelecidas entre os parceiros, não havendo quebra de lealdade e respeito. “Ao
revés, as pessoas estabelecem um código próprio de conduta e afetividade, na
medida em que inexiste um modelo fixo” (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 499).
Defende Farias e Rosenvald (2022, p. 504) que:

Não descaracteriza a affectio maritallis a existência de uma relação aberta


entre o casal, estabelecida a partir de um código de afetividade próprio.
Significa que é irrelevante para a caracterização de uma união estável (e para
explicitar a intenção de viver como se casados fossem) se há um
consentimento às partes para eventual manutenção de relações com
terceiras pessoas, com envolvimento afetivo, ou sem, com a participação
direta do outro, ou não. Não se descaracteriza o animus pela opção de
exteriorização da afetividade pelo casal. Até porque o aludido espaço é
visivelmente privado, não estando permitida uma ingerência pelo Estado, a
36

partir da teoria da intervenção mínima do Estado nas relações familiares


(Direito de Família mínimo) (FARIAS; ROSENVALD, 2005, p. 504).

À vista disso, o namoro pode ser entendido como um relacionamento amoroso


informal, o qual pressupõe um nível menor de comprometimento entre o casal quando
comparados com outras formas de relacionamento afetivo, sendo um espaço propício
de conhecimento mútuo e de troca de experiências. Destaca-se, ainda, que
dependendo do objetivo dos pares, pode ser compreendido como um ensaio de uma
possível futura vida a dois.

3.2.2. As modalidades de namoro: simples e qualificado

Diante das diversas transformações sociais que influenciaram e influenciam


diretamente a maneira de se relacionar amorosas, a doutrina tratou de classificar o
namoro em simples e qualificado.
Isso porque o namoro – entendido como uniões livres-, atualmente, “tende a
ter requisitos muito próximos, para não dizer idênticos aos da união estável, com
intimidade ímpar, comunhão de leitos e publicidade exacerbada” (DIAS, 2021, p. 617).
Por conseguinte, há uma tentativa de gradação e aferição do grau de vínculo em
âmbito de namoro, vez que este também abarca não só os namoros longínquos como
também os fugazes.
Luciano Figueiredo (apud DIAS, 2021, p. 619) diz que o namoro qualificado é
uma relação que goza de publicidade, continuidade e durabilidade, inclusive animus
de constituir família, requisitos igualmente identificados na união estável, entretanto
esse animus projeta-se para o futuro e não na realidade presente, sendo o grande
diferenciador desses institutos.
No dizer de Flávio Tartuce (2018):

Tais critérios também servem para diferenciar a união estável do chamado


namoro qualificado, aquele que se prolonga por muito tempo, mas não chega
a apresentar todos os requisitos essenciais para que a família presente esteja
configurada (TARTUCE, 2018).

Já o namoro simples não se confunde com a união estável, vez que sequer
possui os requisitos básicos para a configuração da união convivencial. Trata-se,
37

portanto, de uma ligação afetiva entre duas pessoas, sem qualquer outro requisito ou
elemento caracterizador, em que os vínculos criados são mais superficiais e, apesar
do compartilhamento de intimidades e afeto, não há qualquer efeito jurídico incidente,
como direito patrimonial ou indenizatório (MELO; FERREIRA, 2020).
Desse modo, depreende-se que o namoro qualificado se assemelha à união
estável, todavia, com ela não se confunde em razão da ausência do objetivo imediato
de constituir família. Isto é, durante a permanência do relacionamento, o casal pode
experimentar conjugalidade de vidas, viagens, eventos sociais, encontros amorosos
constantes, relações sexuais frequentes, mas não assume a condição de conviventes
por não objetivarem a formação de família, ausente, portanto, a affectio maritalis.
Assim sendo, afirma Poffo (2010) que:

Na relação de namoro qualificado os namorados não assumem a condição


de conviventes porque assim não desejam, são livres e desimpedidos, mas
não tencionam naquele momento ou com aquela pessoa formar uma entidade
família. Nem por isso vão querer se manter refugiados, já que buscam um no
outro a companhia alheia para festas e viagens, acabam até conhecendo um
a família do outro, posando para fotografias em festas, pernoitando um na
casa do outro com freqüência, ou seja, mantêm verdadeira convivência
amorosa, porém, sem objetivo de constituir família (POFFO, 2010).

Ainda, Dias (2021, p. 619) faz dura crítica ao afirmar que se passou a falar em
namoro qualificado na tentativa de desfigurar a união estável, blindar patrimônio e
excluir direitos. Criou-se, portanto, um terceiro gênero entre namoro e união estável
visando “tão só subtrair efeitos patrimoniais de relacionamentos afetivos em que há
coabitação, há aquisição de bens, mas não se identifica a affectio maritalis” (DIAS,
2021, p. 619).
Com efeito, as semelhanças entre a união estável e o namoro qualificado são
muitas e sua diferenciação reside na prioridade dada ao relacionamento pelos
participantes, ou seja, se há a intenção de construção de um projeto familiar ou se
resume a nutrir suas aspirações e expectativas pessoais.

3.2.3. Affectio Maritalis – a importância e o desafio de identificá-la


38

Como anteriormente visto, a affectio maritalis, também conhecida como intuito


familiae ou objetivo de constituição de família, é o elemento distintivo entre o namoro
qualificado e a união estável.
Assim, estando todos os demais requisitos objetivos presentes, tanto na união
estável quanto no namoro qualificado, o que os diferencia é somente a presença ou
não do elemento subjetivo affectio maritalis, ou seja, o animus de constituir família.
Nesse sentido, Zeno Veloso (2016) afirma que:

ao lado desse elemento objetivo, vem o elemento subjetivo, interno, moral: a


intenção de constituir família, a convicção de que se está criando uma
entidade familiar, assumindo um verdadeiro e firme compromisso, com
direitos e deveres pessoais e patrimoniais semelhantes aos que decorrem do
casamento, o que tem de ser aferido e observado em cada caso concreto,
verificados os fatos, analisados o comportamento, as atitudes, consideradas
e avaliadas as circunstâncias (VELOSO, 2016).

Entretanto, pressuposto em exame exige a efetiva constituição de família no


presente. Nesse norte, Tartuce (2018) diz que “se há um projeto futuro de constituição
de família, estamos diante de namoro. Se há uma família já constituída, com ou sem
filhos, ou seja, se ela já existe no presente, há uma união estável”.
Assim, o animus familiae diz respeito à intenção do casal de estar vivendo
como se casados fossem - convivência more uxorio. Porquanto, o affectio maritalis
pode caracterizar-se pelo tratamento recíproco como esposos, integrantes de um
mesmo núcleo familiar, com objetivos comuns a serem alcançados em conjunto.
Também em sede jurisprudência já se deliberou que o companheirismo é qualificado
pela “dedicação, colaboração e aplicação do homem e mulher nas tarefas da
comunhão de vida, e que a sua ausência impede a caracterização da união estável,
mesmo que presente outros requisitos” (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 503).
Nesse passo, depreende-se ser fundamental para a configuração de um ou
outro instituto “o objetivo de constituição de família, o que é retirado do comportamento
das partes envolvidas e do reconhecimento social de haver no relacionamento uma
família presente” (TARTUCE, 2018).
Todavia, não se pode negar que por tratar-se de um elemento subjetivo, cria-
se uma tênue fronteira entre o namoro qualificado e a união estável. É o que assevera
Zeno Veloso (2019, p. 296) ao mencionar que nem sempre é fácil distinguir a união
39

estável do namoro por esse também se apresentar informalmente no meio social.


Explica que:

Numa feição moderna, aberta, liberal, especialmente se entre pessoas


adultas, maduras, que já vêm de relacionamentos anteriores (alguns bem-
sucedidos, outros nem tanto), eventualmente com filhos dessas uniões
pretéritas, o namoro implica, igualmente, convivência íntima – inclusive,
sexual –, os namorados coabitam, frequentam as respectivas casas,
comparecem a eventos sociais, viajam juntos, demonstram para os de seu
meio social ou profissional que entre os dois há uma afetividade, um
relacionamento amoroso. E quanto a esses aspectos, ou elementos externos,
objetivos, a situação pode se assemelhar – e muito – a uma união estável.
Parece, mas não é! Pois falta um elemento imprescindível da entidade
familiar, o elemento interior, anímico, subjetivo: ainda que o relacionamento
seja prolongado, consolidado, e por isso tem sido chamado de 'namoro
qualificado', os namorados, por mais profundo que seja o envolvimento deles,
não desejam e não querem – ou ainda não querem – constituir uma família,
estabelecer uma entidade familiar, conviver numa comunhão de vida, no nível
do que os antigos chamavam de affectio maritalis (VELOSO, 2019, p. 296).

Como dispõe Zeno Veloso (2019), a aproximação de vidas encontra-se cada


vez mais intensa nos relacionamentos afetivos atuais, tornando-se corriqueiro
vivências como o compartilhamento de projetos futuros, coabitação ou frequente
estadia na casa de seu par, a exteriorização do afeto perante a sociedade e amigos,
viagens e publicações de fotos em redes sociais, encontros familiares em datas
festivas, bem como a criação de animais de estimação em conjunto, o que pode levar
a crer tratar-se de uma união estável quando, na verdade, não é.
Assim, asseguram Farias e Rosenvald (2022, p. 503) que frequentemente a
prova da intenção de constituir família pode se apresentar de difícil caracterização,
especialmente quando um dos conviventes vier a negá-la. Sobre esse aspecto,
ressalta ainda Zeno Veloso (2016) que “se apenas um deles entende assim, ou só um
está convicto disso, o elemento não está cumprido, pois não pode ser unilateral”,
lembrando, por outro lado, que, por se tratar de “pressuposto interno, anímico, é de
verificação tormentosa, intrincada, e de dificílima comprovação”.
Por isso, afirmam Farias e Rosenvald (2022, p. 503) que para além da
demonstração do intuitu familiae decorrer da comprovação da existência de vida
comum e do reconhecimento no meio social como marido e mulher, identificados pelos
mesmos sinais exteriores de um casamento, é possível identificar a união estável por
meio de práticas vivenciais como empreendimentos financeiros com esforço comum,
declarações de dependência em Imposto de Renda, inclusão em plano de saúde,
40

frequente aparições em eventos sociais e familiar, bem como eventual casamento


religioso.
Desse modo, por se tratar de um pressuposto altamente subjetivo e amplo,
muitos casais de namorados apostam no chamado contrato de namoro para delimitar
o tipo de envolvimento afetivo, bem como para evitar riscos e impedir as
consequências jurídicas advindas de uma união estável.
Explica Veloso (2016) que o contrato de namoro é, substancialmente:

Uma declaração bilateral em que pessoas maiores, capazes, de boa-fé, com


liberdade, sem pressões, coações ou induzimento, confessam que estão
envolvidas num relacionamento amoroso, que se esgota nisso mesmo, sem
nenhuma intenção de constituir família, sem o objetivo de estabelecer uma
comunhão de vida, sem a finalidade de criar uma entidade familiar, e esse
namoro, por si só, não tem qualquer efeito de ordem patrimonial, ou conteúdo
econômico (VELOSO, 2016).

Todavia, por se tratar de um ato-fato jurídico, uma situação fática, segundo


entendimento doutrinário majoritário, um documento não tem o condão de afastar o
reconhecimento da união estável, presentes os requisitos caracterizadores desse
instituto. Assim, sustenta Gonçalves (2017, p. 835) que:

O denominado “contrato de namoro” tem, todavia, eficácia relativa, pois a


união estável é, como já enfatizado, um fato jurídico, um fato da vida, uma
situação fática, com reflexos jurídicos, mas que decorrem da convivência
humana. Se as aparências e a notoriedade do relacionamento público
caracterizarem uma união estável, de nada valerá contrato dessa espécie que
estabeleça o contrário e que busque neutralizar a incidência de normas
cogentes, de ordem pública, inafastáveis pela simples vontade das partes
(GONÇALVES, 2017, p. 835).

Dessa maneira, “não há como previamente afirmar a incomunicabilidade


futura, principalmente quando segue longo período de vida em comum, no qual são
amealhados bens pelo esforço comum”, bem como poderia dar causa ao
enriquecimento ilícito caso tivesse o contrato de namoro eficácia garantida. (DIAS,
2011, p. 186).
Assim, comprovada a união estável na realidade fática, o decantado contrato
de namoro não produzirá efeitos, tampouco os produzirá se o superficial, singelo e
fugaz namoro, na pureza de sua essência persistir (VENOSA, 2017, p.445).
Sob essa perspectiva, Farias e Rosenvald (2022, p. 504) ressaltam que “um
bom critério a ser utilizado para a comprovação do intuitu familiae é a teoria da
41

primazia da realidade”, porquanto, tem mais importância o tratamento real e concreto


dispensado entre as partes do que a existência de contratos celebrados.
No entanto, é compreensível a tentativa de precaução dos namorados, na
medida em que a constatação de união estável irá acarretar responsabilidades
patrimoniais bastantes diferentes do que em um simples namoro, ainda que seja um
namoro qualificado de longa data. Por esse motivo, a identificação da affectio maritalis
se mostra tão importante no relacionamento, constituindo uma espécie de baliza
jurídica para determinar a evolução do namoro para a união estável. Sobre os efeitos
jurídicos de cada instituto se ocupa o próximo tópico da pesquisa.

3.3. REPERCUSSÕES JURÍDICAS ESPECÍFICAS DA UNIÃO ESTÁVEL E DO


NAMORO QUALIFICADO

A distinção entre o instituto da união estável e o namoro qualificado, apesar


das dificuldades envolvidas nesse intento, faz-se de extrema relevância, em razão das
diferentes consequências jurídicas e patrimoniais entre as duas relações afetivas.
Isso porque a união estável, sendo equiparada ao casamento, irradia suas
consequências em diferentes campos, projetando-se nas relações patrimoniais, de
índole econômica, e também nas relações pessoais, domiciliadas no âmbito interno
da relação mantida pelo casal (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 515).
Por outro lado, consistindo o relacionamento afetivo em namoro, seja ele
simples ou qualificado, ao contrário da união estável, não há que se falar em direitos
e deveres jurídicos, principalmente de ordem patrimonial entre os namorados,
porquanto, não se discute sobre regime de bens, alimentos, pensão, direitos
sucessões, por exemplo.
Por conseguinte, tratando-se de união estável, para além dos efeitos jurídicos
de índole econômica, tem-se também os referentes à esfera da vida pessoal do casal,
sem qualquer conotação econômica patrimonial, gerando direitos e deveres
recíprocos.
42

3.3.1. Os deveres recíprocos entre os companheiros

Dispõe o Código Civil, em seu artigo 1.724, que aos companheiros recai
direitos e deveres recíprocos, revelando essencialmente os efeitos pessoais próprios
da união estável. Por conseguinte, os integrantes do relacionamento afetivo devem
observar os deveres “de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e
educação dos filhos”.
Dessa forma, identifica-se que, como no casamento, a legislação civil estipula
direitos e deveres pessoais entre os companheiros. Nesse sentido, assevera Farias e
Rosenvald (2022, p. 518) que:

Percebe-se uma grande semelhança entre os direitos e deveres recíprocos


do casamento (CC, art. 1.566) e aqueles da união estável (CC, art. 1.724). A
pequena diferença diz respeito à dispensa da coabitação como requisito para
a caracterização da união estável e não exigência de fidelidade recíproca
(FARIAS; ROSENVALD, p. 2022, p. 518).

Quanto ao tema da coabitação, já anteriormente discorrido, o entendimento


jurisprudencial predominante, há muito, é da desnecessidade da morada sob o
mesmo teto na união estável. Inclusive, esse entendimento já foi sedimentado pelo
Supremo Tribunal Federal na Súmula 382: “A vida em comum sob o mesmo teto more
uxorio, não é indispensável à caracterização”.
Apesar de ter sido editada quando se falava em concubinato, em 1964, a
sabedoria da Súmula supracitada se mostra bastante servente na atualidade, em
razão de ser cada vez mais frequente a manutenção de seus lares pelos
companheiros. Nesse sentido, aduzem Farias e Rosenvald (2022, p. 519) que a opção
de morar em casas separadas pelos companheiros não pode ser compreendida como
um minus à intenção de conviver. “Máxime nos dias de hoje, quando é comum
encontrar casais que vivem em casas distintas como uma tentativa de garantir a
durabilidade de suas relações amorosas” (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 519).
Por conseguinte, o distanciamento físico não pode ser mais relacionado ao
distanciamento afetivo, sendo possível encontrar parceiros que morem em domicílios
distintos, mas possuem maior grau de intimidade e conjugalidade do que aqueles que
coabitam e estabelecem um afastamento afetivo embaixo do mesmo teto. Nesse caso,
“desde que, apesar do distanciamento físico, haja entre a affectio societatis, a efetiva
43

convivência, representada por encontros frequentes, mútua assistência e vida social


comum, não há como negar a existência da entidade familiar” (GONÇALVES, 2017,
p. 801).
Sobre o tema, Dias (2021, p. 601) assevera que na união estável inexiste a
imposição da vivência no mesmo domicílio, não sendo elemento essencial para a
caracterização da união convivencial. Inclusive, não era exigida sequer para o
reconhecimento do concubinato.
Dessa forma, por diversos motivos os companheiros podem residir em
residências distintas, todavia, deve prevalecer a efetiva convivência e participação
mútua de vidas.
Em relação ao dever jurídico de fidelidade recíproca, apesar de não ter sido
positivado no texto codificado, encontra-se, perfeitamente, inserido no conceito de
lealdade e respeito recíprocos. Aliás, lealdade e respeito constituem gênero do qual a
fidelidade é uma de suas espécies (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 519). Tal dever
veda a manutenção de relações fora da união estável, mesmo que eventuais.
Entretanto, cabe a ressalva dos ditos relacionamentos “abertos” que de alguma forma
mantêm o dever de fidelidade ao código de fidelidade próprio.
Interessante questionamento faz Farias e Rosenvald (2022, p. 520) sobre o
tema fidelidade que cabe aqui sua transcrição:

De qualquer modo, convém suscitar um importante questionamento acerca


da natureza da fidelidade. Seria ela um dever jurídico ou moral? Poderia o
sistema jurídico exigir de alguém (com consequências jurídicas
sancionatórias) o dever de fidelidade? Haveria interesse público na
exigibilidade da fidelidade alheia? Ou se trata, em verdade, de uma questão
de foro íntimo, presa, fundamentalmente, aos contornos afetivos e éticos de
cada relacionamento humano? A nós, parece não haver interesse público,
enfeixando-se nas latitudes e longitudes do interesse privado, transbordando
a exigibilidade jurídica (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 520).

Em relação ao dever de respeito entre os companheiros esse se refere ao


respeito à individualidade do outro, bem como a não ofender os direitos da
personalidade do companheiro, como os concernentes à liberdade, à honra, à
intimidade, à dignidade (GONÇALVES, 2017, p. 816).
Constitui, ainda, dever mútuo entre os companheiros a assistência, a qual se
caracteriza pela ajuda em todos os âmbitos da vida conjunto. Assim, afirma Gonçalves
44

(2017, p. 816) que “inclui a recíproca prestação de socorro material, como também
assistência moral e espiritual”, envolvendo, pois, o desvelo próprio do companheirismo
materializado no auxílio entre os pares, especialmente nos momentos difíceis.
Ainda, menciona o aludido artigo 1.724 os deveres quanto à “guarda, sustento
e educação dos filhos”, assemelhando-se aos respectivos deveres dos cônjuges (art.
1.566, IV). Desse modo, a guarda é dever e direito dos pais e ocorrendo a separação
desses sem haver acordo quanto à guarda dos filhos, será ela atribuída “a quem
revelar melhores condições para exercê-la”, conforme dispõe o art. 1.584 do Código
Civil (GONÇALVES, 2017, p. 817).
Já a obrigação de sustentar os filhos menores, que engloba apoio moral e
educacional, persiste tanto na constância do relacionamento, quanto na sua
dissolução. Da mesma forma, fornecer educação aos descendentes inclui as
responsabilidades com os aprendizados escolares, bem como com o cuidado para
que tenham formação ampla e se desenvolvam em ambiente sadio.

3.3.2. Os efeitos patrimoniais da união estável

Além dos deveres pessoais, o reconhecimento de uma união estável gera


efeitos de ordem patrimonial, que por vezes possuem grande impacto na vida dos
integrantes do relacionamento afetivo já que, segundo fala popular, o órgão mais
sensível do ser humano é o bolso.
Farias e Rosenvald (2022, p. 528) afirmam que por se tratar de uma
comunidade afetiva, tendente a uma comunhão de vida, com propósito de servir à
plena realização fisiopsíquica da pessoa humana, a união estável projeta
consequências referentes à pessoa dos companheiros e ao seu patrimônio. Isso
porque os companheiros assumem encargos e despesas comuns em prol da
manutenção da família, do lar, sendo previsível a incidência das relações jurídicas de
ordem econômica.
Dentre os efeitos patrimoniais da união estável sabe-se que alguns decorrerão
de sua dissolução em vida, enquanto outros serão consequentes da sua dissolução
por morte. Assim, da primeira hipótese decorrem o direito aos alimentos e à meação.
Já na extinção da relação por morte de um dos companheiros, o outro poderá pleitear
o direito à herança, sem prejuízo de eventual meação, caso o regime de bens permita
45

a comunicação, aos eventuais benefícios previdenciários, podendo-se mencionar,


ainda, a possível sub-rogação no contrato de locação de imóvel urbano (FARIAS;
ROSENVALD, 2022, p. 528).
O Código Civil sedimentou o entendimento, em seu art. 1.694, de que “podem
os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para
atender às necessidades de sua educação”.
Dessa forma, conferindo o mesmo tratamento dispensando ao casamento,
porquanto, respeitando a igualdade constitucional, o Diploma Civil conferiu o direito
alimentar aos companheiros, amparados no dever mútuo de assistência e de
solidariedade conjugal (art. 1.724).
Outrossim, impende fazer o registro de que na relação convivencial, assim
como nas demais hipóteses, os alimentos exigem a comprovação do binômio
“necessidade de quem recebe e capacidade de quem presta” (art. 1.695) (FARIAS;
ROSENVALD, 2022, p. 543).
Ressalta-se ainda que o dever de prestar alimentos cessa com a formação de
uma nova entidade familiar, ou seja, com o novo casamento ou união estável do ex-
companheiro, bem como com o concubinato do credor da obrigação alimentícia (art.
1.708 do Código Civil).
Em relação ao direito à meação, seguindo as mesmas regras do casamento,
haverá também na união estável o direito à divisão dos bens adquiridos por esforço
comum, sendo esse presumido, durante a convivência, excetuados os bens
provenientes de sucessão hereditária e doação, bem como os bens adquiridos antes
da convivência (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 529)
Seguindo essa linha, o Código Civil ampliou essa regra em seu art. 1.725
dispondo que “na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-
se às relações patrimoniais, no que couber, o regime de comunhão parcial de bens”.
Daí que se infere também a importância do reconhecimento do pressuposto
affectio maritalis na relação afetiva, já que o dispositivo legal toma como modelo os
efeitos patrimoniais do casamento, aplicando, como regra geral, o regime de
comunhão parcial de bens à união estável. Nesse sentido, dispõem Farias e
Rosenvald (2022, p. 529) que “os bens adquiridos onerosamente, na constância da
relação, pertencem a ambos os companheiros, não havendo, sequer, necessidade de
46

comprovação do esforço comum (colaboração recíproca) que é presumido, de forma


absoluta, pela lei”.
Assevera Gonçalves (2017, p.822) sobre o tema:

[...] não celebrando os parceiros contrato escrito estabelecendo regra diversa,


aplicar-se-á à união por eles constituída o regime da comunhão de bens
abrangendo os aquestos, ou seja, os bens que sobrevieram na constância do
casamento, permanecendo como bens particulares de cada qual os
adquiridos anteriormente e os sub-rogados em seu lugar, bem como os
adquiridos durante a convivência a título gratuito, por doação ou herança.
Aplicam-se à união estável, pois, os arts. 1.659, 1.660 e 1.661 do Código Civil
(GONÇALVES, 2017, p. 822).

Observam, em tempo, Farias e Rosenvald (2022, p. 530) que a colaboração


não precisa necessariamente ser material, decorrendo da simples convivência, no
âmbito interno do lar, o que implicará em comunhão de vida, criando-se um clima
propício para a aquisição do patrimônio, porquanto, pode ser uma ajuda imaterial,
decorrendo da própria comunhão de vidas.
Todavia, essa presunção absoluta de colaboração recíproca, segundo os
autores mencionados, pode cessar em algumas situações, nas quais se demonstre a
inexistência de ajuda mútua entre o casal, sob pena de enriquecimento sem causa: i)
quando as partes estipularam contrato de convivência em sentido contrário; ii) se a
aquisição ocorreu durante a convivência, mas em sub-rogação de bens adquiridos
anteriormente; iii) na hipótese de aquisição após a separação de fato (FARIAS;
ROSENVALD, 2022, p. 531).
Igualmente, dispõe o diploma civilista, em seu art. 1.725, que “no que couber”
aplica-se o regime da comunhão parcial de bens às relações patrimoniais dos
companheiros, podendo inferir-se que a administração do patrimônio comum é de
responsabilidade de ambos os conviventes, ficando os bens particulares a cargo da
administração do próprio titular (art. 1.633, CC).
Cumpre ressaltar, ainda, que no regime legal os eventuais frutos resultantes
de bens particulares de um dos companheiros, como no caso daqueles que foram
adquiridos anteriormente à relação, integram a comunhão patrimonial do casal. Por
conseguinte, os aluguéis de um imóvel, que pertence com exclusividade a somente
um dos companheiros, são comuns (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 532).
47

De modo idêntico, destacam Farias e Rosenvald (2022, p. 530) que a


jurisprudência vem entendendo que integram a comunhão de bens, salvo disposição
contratual em contrário, as verbas provenientes de indenização trabalhista e FGTS,
referentes ao que se conquistou durante a constância da relação.
Por outro lado, não se comunicam os bens adquiridos gratuitamente, antes ou
durante a união estável. Os bens recebidos por doação ou herança não integram o
patrimônio do casal, até mesmo aqueles doados por um dos companheiros ao outro
não se comunicam no regime da comunhão parcial de bens.
Outra situação merecedora de atenção é a (des)necessidade de
consentimento do convivente para a alienação ou oneração de bens imóveis, assim
como para a fiança e o aval (art. 1.647, CC).
Para o doutrinador Gonçalves (2017, p. 824), a outorga do companheiro é
necessária para a alienação ou oneração imobiliária, sendo a união estável regida
pela comunhão parcial de bens, há de ser observado o disposto no art. 1.647, I, do
Código Civil, que trata da aludida autorização. Corroborando essa visão, Dias (2011,
p. 180) afirma que a constituição da união estável leva à perda da disponibilidade dos
bens adquiridos, revelando-se indispensável a expressa manifestação de ambos os
proprietários para o aperfeiçoamento de todo e qualquer ato de disposição do
patrimônio comum.
Nesse sentido, esclarece Zeno Veloso (2017, p. 144-145) que:

Tratando-se de imóvel adquirido por título oneroso na constância da união


estável, ainda que só em nome de um dos companheiros, o bem entra na
comunhão, é de propriedade de ambos os companheiros, e não bem próprio,
privado, exclusivo, particular. Se um dos companheiros vender tal bem sem
a participação no negócio do outro companheiro, estará alienando – pelo
menos em parte – coisa alheia, perpetrando uma venda a non domino,
praticando ato ilícito. O companheiro, no caso, terá de assinar o contrato, nem
mesmo porque é necessário seu assentimento, mas, sobretudo, pela razão
de que é, também, proprietário, dono do imóvel (VELOSO, 2017, p. 144-145).

No entanto, deve-se ter em mente que a união estável é um ato-fato jurídico,


dispensando registros públicos, ou quaisquer outras formalidades para
consubstanciar a sua existência. Logo, “não há como vincular terceiros, motivo pelo
qual a outorga não pode ser exigida em nome da proteção do adquirente de boa-fé,
resolvendo-se o problema entre os companheiros, através da responsabilidade civil”
(FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 534).
48

Nessa direção é o posicionamento de Dias (2011, p. 180) que afirma trazer


incertezas e inseguranças aos terceiros a falta de melhor regulamentação, bem como
esses não podem ser prejudicados, dado que deve ser prestigiada tanto a boa-fé do
adquirente como a veracidade do registro público. A propósito, aduz que:

A problemática envolve duas vítimas: o companheiro que não teve o nome


inserido no registro e o terceiro que celebrou o negócio, cuja aparência o fez
crer tratar-se o vendedor do único proprietário do imóvel. Estabelece-se um
conflito entre o direito de terceiro de boa-fé e o direito do companheiro
coproprietário que não figura no título de propriedade. Como o sistema
jurídico tutela o interesse do terceiro para garantir a segurança do tráfico
jurídico, é valorizada a publicidade registral. A tendência é reconhecer a
higidez do negócio, assegurado ao companheiro direito indenizatório a ser
buscado contra o terceiro (DIAS, 2011, p.180-181).

Portanto, se o imóvel pertencente ao casal é alienado (ou onerado) por um


dos companheiros, estando o registro somente em seu nome, sem o consentimento
de seu parceiro, tem-se que o terceiro de boa-fé, adquirente, está protegido e não há
falar em anular o negócio jurídico. Nesse caso, o companheiro preterido poderá
reclamar a sua meação por meio de ação dirigida contra o seu comunheiro/alienante,
nada podendo reclamar contra o terceiro (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 535).
Com efeito, a fim de se evitar dissabores futuros, o ideal é que os conviventes
providenciem o registro do imóvel adquirido na constância da união estável em nome
de ambos ou, consoante recentes entendimentos da Corte Superior, providenciem a
averbação da união estável junto ao Cartório do Registro de imóveis.
Dando continuidade às repercussões jurídicas da união estável, tem-se que a
sistemática pertinente ao direito sucessório do companheiro tratada no código civil
atual é inconstitucional e demonstra-se um retrocesso social.
Isso porque no sistema do art. 1.790 do Código Civil o companheiro somente
tinha direito à herança daqueles bens adquiridos onerosamente na constância da
união estável. Ainda, o direito sucessório ficou restrito a uma cota igual à que fosse
atribuída ao descendente do falecido, na ocasião de concorrência com os filhos
comuns (inciso I), ou à metade da cota, se estivesse concorrendo com filhos apenas
do autor da herança (inciso II); concorrendo com outros parentes, o que o colateral
até o 4º grau engloba – irmãos, sobrinhos, tios e primos -, teria direito a um terço dos
bens (inciso III) (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 545).
49

Desse modo, o companheiro somente teria a possibilidade de receber a


totalidade da herança na ocasião em que não houvesse parente algum (inciso IV),
direito esse que era mais amplo, inclusive, na Lei n. 8.971/94 que garantia o
recebimento total do patrimônio na hipótese de falta dos descendentes ou
ascendentes (GONÇALVES, 2017, p. 830).
Farias e Rosenvald (2022, p. 545-546) afirmam que a regra se mostrava tão
absurda que:

Admitindo a formação de uma entidade familiar estável por uma pessoa (que
já possuísse um vasto patrimônio, mas que após o início da convivência, não
mais adquirisse qualquer bem), vindo a falecer após dez ou quinze anos de
relacionamento, o companheiro sobrevivente ficaria rigorosamente sem
qualquer direito, pois não faria jus à meação (uma vez que nada foi adquirido)
e tampouco à herança (cujo direito depende da existência de bens adquiridos
a título oneroso) (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 545-546).

Somado a isso, a possibilidade de o companheiro receber a totalidade dos


bens se tornava uma realidade bastante distante, vez que os colaterais até o 4º grau
do de cujus possuíam preferência em detrimento daquele.
Entretanto, situação diversa se encontrava o direito sucessório dos cônjuges
positivado no art. 1829 do mesmo Diploma.
Acatando, pois, as duras críticas doutrinárias, a Suprema Corte, no
julgamento do Recurso Extraordinário n. 878.694, reconheceu a inconstitucionalidade
do art. 1.790 do Código Civil de 2002, equiparando as regras sucessórias da união
estável as do casamento. Com isso, a partir de 2017, a sucessão dos companheiros
passa a estar parametrizada pelas regras de sucessão do cônjuge (FARIAS;
ROSENVALD, 2022, p. 547)
À vista disso, o companheiro deixa de concorrer com os colaterais até o quarto
grau tornando-se herdeiro necessário e figurando em terceiro lugar na ordem de
vocação hereditária. Igualmente, tem a garantia da quarta parte da herança, quando
concorrer com filhos comuns, e o direito real de habitação, assim como o cônjuge
sobrevivo, aplicando-se, portanto, as mesmas regras sucessórias ao casamento e à
união estável.

3.3.3. Os (não) efeitos patrimoniais do namoro


50

Conforme visto anteriormente, a caracterização da união estável acarreta


diversas repercussões jurídicas, vez que é considerada entidade familiar. Todavia, em
sentido oposto, encontra-se o namoro, entendido como mera prática social. Nesse
ponto reside, essencialmente, a importância da análise distintiva entre os institutos
afetivos.
Em se tratando de namoro, bem como noivado – relações afetivas tidas como
livres – são desprovidos de efeitos de ordem familiar, não produzindo qualquer
consequência no âmbito do Direito das Famílias. Desse modo, namorados não podem
exigir deveres matrimoniais, tampouco se submetem à presunção de colaboração na
aquisição de bens (FARIAS; ROSENVALD, 2022, p. 490).
Diversamente do que ocorre com os companheiros, os ex-namorados não
possuem direito à herança, alimentos ou qualquer tipo de meação de bens. Isso se dá
em razão de não se configurar uma entidade familiar.
Nesse sentido já decidiu a Corte Superior:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. NAMORO. AFFECTIO


MARITALIS. INEXISTÊNCIA. AQUISIÇÃO PATRIMONIAL. BEM
PARTICULAR. INCOMUNICABILIDADE. CAUSA PRÉ-EXISTENTE.
CASAMENTO POSTERIOR. REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL
DIVÓRCIO. IMÓVEL. PARTILHA. IMPOSSIBILIDADE. ARTIGOS 1.661 E
1.659 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. INCIDÊNCIA.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. Nos termos dos artigos 1.661 e 1.659 do Código Civil de 2002, não se
comunicam, na partilha decorrente de divórcio, os bens obtidos com valores
aferidos exclusivamente a partir de patrimônio pertencente a um dos ex-
cônjuges durante o namoro
3. Na hipótese, ausente a affectio maritalis, o objeto da partilha é
incomunicável, sob pena de enriquecimento sem causa de outrem.
4. Eventual pagamento de financiamento remanescente, assumido pela
compradora, não repercute em posterior partilha por ocasião do divórcio,
porquanto montante estranho à comunhão de bens.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1841128/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 23/11/2021, DJe 09/12/2021) (Grifo da
autora).

Todavia, é possível que se estabeleça nas uniões livres, sejam elas afetivas
ou não, uma sociedade de fato em razão das partes envolvidas adquirirem, por esforço
comum, patrimônio. Assim, evitando o enriquecimento ilícito de uma das partes, deve-
se proceder à partilha dos bens adquiridos a título oneroso (FARIAS; ROSENVALDO,
51

2022, p. 491). Entretanto, não se confunde ação de dissolução de união estável com
a de sociedade de fato.
Dias (2021, p. 137) ressalta que o término do namoro pode originar
responsabilidade por dano moral, quando se fala de ressarcimento pela dor do fim de
um sonho desfeito.
Destarte, já decidiu o eminente Tribunal de Justiça de Santa Catarina
reconhecer a incidência de dano moral em término de namoro que teve consequências
indesejáveis dignas de tutela jurisdicional:

DANO MORAL. TÉRMINO DE NAMORO. CONSTANTES AMEAÇAS E


PERSEGUIÇÕES APÓS O FIM DA RELAÇÃO AMOROSA. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA, SOB O ARGUMENTO DE MERO DISSABOR. APELO
DA AUTORA. TRANSTORNOS QUE DESBORDAM A NOÇÃO DE SIMPLES
ABORRECIMENTOS. CONDUTA VINGATIVA DO DEMANDADO
EVIDENCIADA NOS TELEFONEMAS COM INTUITO DESABONADOR AO
SUPERIOR HIERÁRQUICO DA OFENDIDA E A SEU NOVO NAMORADO.
PROMESSAS DE VINGANÇA CAUSADORAS DE APREENSÃO E MEDO,
CAPAZES DE INTERFERIR NA PSIQUÊ E NO COTIDIANO DA PARTE.
REVELAÇÃO DE INTIMIDADES DO CASAL, INCLUSIVE DE ASPECTOS
SEXUAIS, A COLEGA DE TRABALHO. OFENSA À INTIMIDADE E
PRIVACIDADE, ENSEJADORA DE DANO MORAL RESSARCÍVEL.
QUANTUM BALIZADO CONSOANTE PONDERAÇÃO DOS CRITÉRIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE, SEM OLVIDAR DO INTUITO
PUNITIVO, COMPENSATÓRIO E PEDAGÓGICO DO DANO ANÍMICO.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Do contexto processual, evidencia-
se a inconfundível intenção do ofensor de magoar, ferir, difamar e assustar a
lesada, privando-a da tranquilidade imprescindível à plena saúde física e
mental, o que, por óbvio, merece não só o repúdio judicial, mas também a
devida reparação. É certo que o fim de um relacionamento por vezes acarreta
mágoas e até mesmo orgulho ferido, todavia essa circunstância não pode
servir de escusa ao vilipêndio de direitos da personalidade, tais como
privacidade, intimidade, honra e boa-fama. De outro vértice, ainda que se
defenda a tese da intervenção mínima do Estado na vida amorosa dos
jurisdicionados, tal interferência mostra-se necessária quando se verifica
conduta exorbitante de uma das partes, normalmente incorformada com o
término da relação, violadora dos direitos fundamentais da outra. (TJSC,
Apelação Cível n. 2013.088791-4, de Joinville, rel. Ronei Danielli, Sexta
Câmara de Direito Civil, j. 11-02-2014). (Grifo da autora).

Dessa feita, tem-se que o relacionamento afetivo namoro, independentemente


de sua modalidade: simples ou qualificado, não promove consequências jurídicas
como os contemplados na união estável. Por consequente, o namoro restringe-se a
gerar obrigações de cunho moral que podem ensejar a busca por indenização. Além
disso, é possível o reconhecimento da dissolução de sociedade de fato quando
52

comprovado a aquisição de bens pelo esforço comum durante o relacionamento


afetivo.
Logo, ressalta-se a importante tarefa dos magistrados em identificar,
cuidadosamente, qual instituto afetivo se trata no caso concreto, vez que toma
caminhos bastantes distintos a depender da decisão, podendo atribuir ou retirar
direitos.

4 CASO PARADIGMÁTICO: RECURSO ESPECIAL N. 1.454.643/RJ

Depreende-se do que foi estudado que o namoro qualificado apresenta todos


os requisitos também presentes na união estável, restando diferenciados apenas pelo
pressuposto subjetivo que é o objetivo de constituir família. À primeira vista pode
parecer que se trata de uma simples análise, no entanto, diante das peculiaridades do
caso concreto essa tarefa se torna bastante desafiadora, já que cada vez mais os
relacionamentos afetivos estão permeados de maior intimidade e entrosamento de
vidas.
Desse modo, em razão da dificuldade de se precisar o que é união estável e
o que é namoro, tem-se delegado ao Poder Judiciário essa, por vezes, difícil decisão
que se vê na contingência de proceder a um estudo particular e minucioso diante dos
fatos.
Confirmando esse entendimento, Madaleno (2020, p. 1.138) aduz que:

Possivelmente, a pesquisa do ato volitivo de querer constituir família seja a


maior tarefa do julgador quando enfrenta uma demanda declaratória de união
estável, sendo impossível reconhecer qualquer formação de entidade familiar
quando a relação se ressente desse livre e consciente objetivo de seus
partícipes. Devem os conviventes realmente pretender formar família, à
semelhança do casamento e em plena comunidade de vida, e realizarem,
uníssonos, o propósito de viverem um pelo outro, despojados de outras
relações (MADALENO, 2020, p. 1.138).

Balizando a noção do que seria o namoro qualificado, bem como sua distinção
da união estável, tem-se que o requisito essencial diferenciador é, de fato, a affectio
maritalis, como demonstra o importante julgamento do Recurso Especial nº 1.454.643
– RJ (2014/0067781-5), sob relatoria do Ministro Marco Aurélio Bellizze.
53

Para que se possa fazer uma análise mais profunda da decisão, essencial a
transcrição da ementa:

RECURSO ESPECIAL E RECURSO ESPECIAL ADESIVO. AÇÃO DE


RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL,
ALEGADAMENTE COMPREENDIDA NOS DOIS ANOS ANTERIORES AO
CASAMENTO, C.C. PARTILHA DO IMÓVEL ADQUIRIDO NESSE
PERÍODO. 1. ALEGAÇÃO DE NÃO COMPROVAÇÃO DO FATO
CONSTITUTIVO DO DIREITO DA AUTORA. PREQUESTIONAMENTO.
AUSÊNCIA. 2. UNIÃO ESTÁVEL. NÃO CONFIGURAÇÃO. NAMORADOS
QUE, EM VIRTUDE DE CONTINGÊNCIAS E INTERESSES
PARTICULARES (TRABALHO E ESTUDO) NO EXTERIOR, PASSARAM A
COABITAR. ESTREITAMENTO DO RELACIONAMENTO, CULMINANDO
EM NOIVADO E, POSTERIORMENTE, EM CASAMENTO. 3. NAMORO
QUALIFICADO. VERIFICAÇÃO. REPERCUSSÃO PATRIMONIAL.
INEXISTÊNCIA. 4. CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO, COM ELEIÇÃO DO
REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. TERMO A PARTIR DO
QUAL OS ENTÃO NAMORADOS/NOIVOS, MADUROS QUE ERAM,
ENTENDERAM POR BEM CONSOLIDAR, CONSCIENTE E
VOLUNTARIAMENTE, A RELAÇÃO AMOROSA VIVENCIADA, PARA
CONSTITUIR, EFETIVAMENTE, UM NÚCLEO FAMILIAR, BEM COMO
COMUNICAR O PATRIMÔNIO HAURIDO. OBSERVÂNCIA.
NECESSIDADE. 5. RECURSO ESPECIAL PROVIDO, NA PARTE
CONHECIDA; E RECURSO ADESIVO PREJUDICADO.
1. O conteúdo normativo constante dos arts. 332 e 333, II, da lei adjetiva civil,
não foi objeto de discussão ou deliberação pela instância precedente,
circunstância que enseja o não conhecimento da matéria, ante a ausência do
correlato e indispensável prequestionamento.
2. Não se denota, a partir dos fundamentos adotados, ao final, pelo Tribunal
de origem (por ocasião do julgamento dos embargos infringentes), qualquer
elemento que evidencie, no período anterior ao casamento, a constituição de
uma família, na acepção jurídica da palavra, em que há, necessariamente, o
compartilhamento de vidas e de esforços, com integral e irrestrito apoio moral
e material entre os conviventes. A só projeção da formação de uma família,
os relatos das expectativas da vida no exterior com o namorado, a coabitação,
ocasionada, ressalta-se, pela contingência e interesses particulares de cada
qual, tal como esboçado pelas instâncias ordinárias, afiguram-se insuficientes
à verificação da affectio maritalis e, por conseguinte, da configuração da
união estável.
2.1 O propósito de constituir família, alçado pela lei de regência como
requisito essencial à constituição da união estável - a distinguir, inclusive, esta
entidade familiar do denominado "namoro qualificado" -, não consubstancia
mera proclamação, para o futuro, da intenção de constituir uma família. É
mais abrangente. Esta deve se afigurar presente durante toda a convivência,
a partir do efetivo compartilhamento de vidas, com irrestrito apoio moral e
material entre os companheiros. É dizer: a família deve, de fato, restar
constituída.
2.2. Tampouco a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma união
estável (ainda que possa vir a constituir, no mais das vezes, um relevante
indício), especialmente se considerada a particularidade dos autos, em que
as partes, por contingências e interesses particulares (ele, a trabalho; ela,
pelo estudo) foram, em momentos distintos, para o exterior, e, como
namorados que eram, não hesitaram em residir conjuntamente. Este
comportamento, é certo, revela-se absolutamente usual nos tempos atuais,
impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se à
realidade social.
54

3. Da análise acurada dos autos, tem-se que as partes litigantes, no período


imediatamente anterior à celebração de seu matrimônio (de janeiro de 2004
a setembro de 2006), não vivenciaram uma união estável, mas sim um
namoro qualificado, em que, em virtude do estreitamento do relacionamento
projetaram para o futuro - e não para o presente -, o propósito de constituir
uma entidade familiar, desiderato que, posteriormente, veio a ser
concretizado com o casamento.
4. Afigura-se relevante anotar que as partes, embora pudessem, não se
valeram, tal como sugere a demandante, em sua petição inicial, do instituto
da conversão da união estável em casamento, previsto no art. 1.726 do
Código Civil. Não se trata de renúncia como, impropriamente, entendeu o
voto condutor que julgou o recurso de apelação na origem. Cuida-se, na
verdade, de clara manifestação de vontade das partes de, a partir do
casamento, e não antes, constituir a sua própria família.
A celebração do casamento, com a eleição do regime de comunhão parcial
de bens, na hipótese dos autos, bem explicita o termo a partir do qual os
então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por bem
consolidar, consciente e voluntariamente, a relação amorosa vivenciada para
constituir, efetivamente, um núcleo familiar, bem como comunicar o
patrimônio haurido. A cronologia do relacionamento pode ser assim resumida:
namoro, noivado e casamento.
E, como é de sabença, não há repercussão patrimonial decorrente das duas
primeiras espécies de relacionamento.
4.1No contexto dos autos, inviável o reconhecimento da união estável
compreendida, basicamente, nos dois anos anteriores ao casamento, para o
único fim de comunicar o bem então adquirido exclusivamente pelo requerido.
Aliás, a aquisição de apartamento, ainda que tenha se destinado à residência
dos então namorados, integrou, inequivocamente, o projeto do casal de, num
futuro próximo, constituir efetivamente a família por meio do casamento.
Daí, entretanto, não advém à namorada/noiva direito à meação do referido
bem.
5. Recurso especial provido, na parte conhecida. Recurso especial adesivo
prejudicado.
(REsp 1454643/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 10/03/2015) 3

O caso versou sobre a possibilidade de reconhecimento e dissolução de


união estável no período antecedente ao casamento, o qual foi celebrado em 2006,
porquanto, requereu-se a meação dos bens adquiridos nesse período, mais
especificamente de um apartamento.
Em síntese, o casal começara a namorar em 2002 quando, um ano depois, o
requerido recebeu uma proposta de trabalho que exigiu sua mudança de moradia para
Polônia, Varsóvia, a qual foi aceita e resultou na viagem em 2003. Logo em seguida,
no início do ano de 2004, a mulher comprou passagens de ida e volta e foi ao encontro
do seu amado planejando realizar um curso de inglês. Já estando na Polônia e
residindo juntos, a requerente iniciou seus estudos no mestrado, razão pela qual não

3BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial. Resp 1454643 RJ 2014/0067781-


514.454.634. Terceira Turma. Relator: Min. Marco Aurélio Bellize. Brasília, 03 de março de 2015.
Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp Acesso em: 20 fev. 2022.
55

retornou para o Brasil na data programada. Nesse mesmo ano houve o pedido de
noivado no exterior e, em seguida, o homem adquiriu com seus recursos financeiros
próprios um apartamento no Rio de Janeiro, o qual viriam a residir quando casados.
A união matrimonial ocorreu em setembro de 2006, momento em que foi adotado de
modo livre e voluntário o regime de comunhão parcial de bens. Todavia, em 2008
sobreveio o divórcio, dois anos após o enlace.
De um lado, a versão apresentada pela mulher é que se mudou para a Polônia
tendo por intuito a concretização do propósito, por ambos manifestados, de constituir
família, razão pela qual pleiteava o reconhecimento da união estável compreendida
no período em que morou com o requerido até o momento do casamento. Arguiu
também que, em outubro de 2004, o homem externou a intenção de casar,
formalizando, assim, a união que já viviam.
Noutro lado, o demandado narrou que a mulher se mudou para Polônia com
o objetivo primordial de estudar e que a relação dos dois se consubstanciava apenas
em namoro, tratando-se, portanto, de união informal. Por conseguinte, não havia que
se falar em meação do apartamento, vez que seria resultado exclusivo do seu
trabalho.
Com efeito, o cerne da litigância residiu no reconhecimento ou não do intuito
de formar família, da affectio maritalis, o que gerou diferentes interpretações no âmbito
do próprio Poder Judiciário.
Destarte, em instância da Corte Superior, o Ministro relator debruçou-se a
analisar se no caso concreto, “diante do estreitamento do convívio entre as partes no
período em que antecedeu o casamento e que coabitavam” estaria presente o
propósito de constituir família, não se tratando de uma projeção futura, identificando,
assim, o pressuposto subjetivo da união estável (BRASIL, 2015).
Diferentemente do que concluiu o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (em
embargos infringentes), bem como o juízo de primeira instância, o ilustre Ministro
Marco Aurélio Bellizze entendeu que não havia elementos suficientes que
demonstrasse a presença da affectio maritalis entre o período de 2004 a 2006 do
relacionamento afetivo em questão, mas que se tratava apenas de um namoro
qualificado. Porquanto, não se reconheceu o direito da mulher à meação do imóvel
adquirido pelo demandado com seus próprios recursos por entender que, antes do
56

matrimônio, os litigantes não viviam como se casados fossem, consequentemente,


não houve a caracterização da união estável.
Como fundamento para tal decisão, o Ministro Marco Aurélio pontuou que a
ida da mulher à Polônia tinha por objetivo seus estudos e não se tratava da
concretização do intuito de constituir família, salientando o fato da compra da
passagem de retorno. Igualmente, asseverou que a viagem se deu, em momentos
distintos, por contingências e interesses particulares (ele a trabalho, ela em razão dos
estudos) e que como namorados que eram, não hesitaram em residir conjuntamente.
Destacou que “este comportamento, é certo, afigura-se absolutamente usual nos
tempos atuais, impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se
à realidade social” (BRASIL, 2015).
Igualmente, acentuou que a coabitação, por si só, não evidencia a formação
de união estável, por mais que possa servir de indício, todavia, no caso em questão
considerou a moradia sob o mesmo teto como uma circunstância da vida.
Afirmou que o propósito de constituir família é precisamente o elemento
diferenciador da união estável e do namoro qualificado, no entanto, não basta a mera
projeção futura, a concretização da família tem que se dar no presente. Assim,
considerou que a affectio maritalis é alcançada por meio do efetivo compartilhamento
de vida, com irrestrito apoio moral e material entre os pares.
Aduziu também que se compreende como indício da inexistência de união
estável a própria celebração do casamento, esclarecendo que se a entidade familiar
já estivesse constituída, optar-se-ia pela conversão da união estável em casamento.
Nesse mesmo sentido, entendeu que os ex-cônjuges escolheram livremente o regime
de comunhão parcial de bens, inferindo como marco da comunicabilidade do
patrimônio adquirido o casamento. Por conseguinte, o eminente Relator decidiu pelo
não reconhecimento da união estável no período anterior ao matrimônio.
Todavia, alguns detalhes utilizados para a formação de convicção quanto a
(não) caracterização da instituição familiar chamam a atenção. Isso porque, como bem
utilizado nas decisões anteriores que reconheceram a união estável naquele caso, a
mulher carreou aos autos, no intuito de corroborar sua tese, um e-mail do requerido
enviado ao seu pai dizendo que “estamos nós dois apostando no nosso futuro, na
nossa vida....", podendo-se inferir uma certa conjugalidade de vidas.
57

Outrossim, ao coabitarem pelo período que estavam morando na Polônia, o


requerido afirmou que seu amigo, com o qual dividia a moradia, saíra para que
restassem apenas o casal no imóvel. Ora, se o objetivo da viagem se resumisse
apenas aos estudos e trabalho, por que não morar todos juntos, inclusive o amigo, já
que é bastante comum a divisão de imóveis na fase de estudos e trabalho?
Além disso, não há como se admitir que a opção pelo casamento importe na
renúncia quanto à união estável. Da mesma forma, a opção do regime de comunhão
parcial de bens como marco da comunicabilidade do patrimônio pode assim não ser
reconhecido, vez que a escolha do regime da comunhão universal engloba outras
nuances que talvez não interessem aos pares, como a comunicabilidade de bens
recebidos em doação.
À vista disso, conclui-se por esse julgado paradigmático que nem sempre é
fácil delimitar as fronteiras entre namoro qualificado e união estável, o que resultou,
nesse caso, em diferentes decisões quando analisadas desde a primeira instância do
Poder Judiciário. Isso porque o único elemento diferenciador dos institutos é a
comprovação da intenção de constituir família e é um elemento bastante subjetivo.
No entanto, retira-se do julgado a preocupação em não banalizar a
caracterização da união estável, sendo defendida a ideia da necessidade de uma
comunhão integral e irrestrita de vidas e de esforços, bem como da constituição da
família no presente e não como mero planejamento futuro.
Assim, o julgamento do Superior Tribunal de Justiça em 2015 trouxe
delimitações mais precisas quando a figura do namoro qualificado, auxiliando em
decisões posteriores, bem como evidenciando o árduo e importante trabalho dos
magistrados na análise minuciosa dos diferentes elementos de cada caso concreto
para que se decida com a maior justeza, já que os caminhos escolhidos possuem
direções opostas em suas consequências.
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5 CONCLUSÃO

O conceito de família transforma-se conforme as mudanças temporais e


sociais. Não diferente, as formas de se relacionar afetivamente evoluem de acordo
com valores e costumes de cada época.
Nesse sentido, na sociedade pós-moderna, a família tem por princípio jurídico
norteador a afetividade, bem como o sujeito, sendo seu primeiro ambiente
socializador. Por conseguinte, a atual concepção de família passou a ser
multifacetada, não permitindo fixar um modelo único e uniforme.
Como marco desse novo modelo familiarista, a Constituição Federal de 1988
ampliou o arcabouço entendido por família, momento em que o concubinato puro
passou a ser intitulado de união estável, porquanto, restando merecedor de tutela
jurídica. Corroborando os avanços da Carta Magna, o Código Civil de 2002 destinou
um título específico para a união estável e apresentou seus requisitos
caracterizadores, sendo um deles a affectio maritalis.
Nesse passo, devido as velozes mudanças socioculturais e do modo como os
relacionamentos amorosos se configuram, bem como diante do estreitamento dos
vínculos afetivos, houve a necessidade de se criar a figura do namoro qualificado.
Destarte, o namoro qualificado assemelha-se à união estável, podendo com
ela se confundir, em razão de abarcar todos os elementos caracterizadores como
publicidade da relação, continuidade e durabilidade, com exceção do intuito familiae.
No entanto, a distinção entre esses institutos afetivos reside essencialmente
na identificação ou não do objetivo de constituir família, a qual pode ser caracterizada
pela comunhão plena de vidas, tanto no âmbito material quando no âmbito imaterial.
Assim, não basta que a affectio maritalis seja um objetivo para o futuro, mas deve
estar caracterizada no momento atual. Depreende-se, portanto, que na união estável
a família é presente, enquanto no namoro qualificado é mera projeção futura.
Assim, o intuito de constituir família se mostra como principal requisito para a
caracterização da união estável e diferenciador do namoro qualificado, entretanto, por
se tratar de um requisito subjetivo, por vezes, sua identificação não é tarefa fácil.
Nesse sentido, cada vez mais se é demandado a tutela jurisdicional nos casos
concretos, atuando o magistrado no reconhecimento ou não da existência da affectio
maritalis no caso concreto. Esse papel torna-se bastante importante na medida em
59

que uma decisão judicial pode fazer incidir repercussões jurídicas quando findado o
relacionamento sob análise. Isso porque caso fique caracterizada a união estável,
haverá consequências jurídicas de ordem patrimonial e pessoal, vez que é
compreendida como entidade familiar em detrimento do namoro que é mera prática
social.
Nesse aspecto, o REsp n. 1.454.643/RJ, julgado analisado nesse trabalho em
razão da sua relevância para o mundo jurídico, tornou-se referência em matéria de
namoro qualificado por delimitar e esclarecer sua diferenciação da união estável.
Com efeito, vislumbra-se que ao ser reconhecida como entidade familiar com
o advento da Constituição Federal de 1988, a configuração da união estável gera
diversas consequências jurídicas e patrimoniais para os companheiros, similares ao
do matrimônio (direito à meação, alimentos, herança). Por outro lado, o namoro
qualificado, também conhecido como namoro prolongado, apesar de apresentar
diversas características semelhantes, não gera efeitos jurídicos diretos. Exerce,
portanto, papel fundamental a affectio maritalis na distinção dos ditos relacionamentos
afetivos.
Logo, emerge a importância da atuação dos magistrados não somente no
estudo criterioso de todas as peculiaridades de um relacionamento afetivo
apresentado no caso concreto para decidir de maneira mais justa, como também na
delimitação, por meio da atuação jurisprudencial, do namoro qualificado.
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