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Namoro Qualificado
RESUMO: O presente artigo analisou decisão do Superior Tribunal de Justiça que afastou a hipótese
de configuração de união estável por entender que a relação mantida entre o casal, antes do período
do casamento, era a de namoro qualificado, em que pese a existência coabitação, mas não caracte-
rizado o requisito de constituição de família.
ABSTRACT: This article analyzed decision of the Superior Court dismissed the stable configuration
hypothesis to understand that the relationship maintained between the couple before the wedding
period, was qualified dating, despite the existence cohabiting, but not characterized the family cons-
titution requirement.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Família e o direito de família; 2 União estável; 2.1 Namoro, namoro qualifica-
do e contrato de namoro; 2.2 O namoro qualificado segundo o STJ; Conclusão; Referências.
INTRODUÇÃO
As relações afetivas entre as pessoas costumam ser complexas quando se
cogita da hipótese do seu devido enquadramento no ordenamento, no sentido
de saber quais os efeitos jurídicos que delas irradiam-se. Excetuando-se a hipó-
tese do casamento, instituto esse solene e formal, cuja manifestação de vontade
perante o Estado deve ser inequívoca, somada a outros requisitos, temos, tam-
bém, o namoro, o namoro qualificado e a união estável.
As relações são dinâmicas e, muitas vezes, as intenções individuais do
casal não estão totalmente em sintonia. Em certos casos, um deles manifesta ao
outro a intenção de casar, mas este outro não aceita, e a vida segue e o casal
continua sua vida e, com muita frequência, ocorrem hipóteses como morar
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1 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03.
2 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial. In: ALVES,
Vilson Rodrigues (Atual). São Paulo: Bookseller, v. 1, 2001. p. 58.
3 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial. In: ALVES,
Vilson Rodrigues (Atual.). 1. ed. Campinas: Bookseller, v. 1, 2001. p. 75.
4 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial. In: ALVES,
Vilson Rodrigues (Atual.). 1. ed. Campinas: Bookseller, v. 1, 2001. p. 81.
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A ideia que vigorava no passado sobre a natureza jurídica da família era
a de que formava uma pessoa jurídica. E a base de tal raciocínio fundava-se no
aspecto de que a família era a detentora de direitos extrapatrimoniais, como
o nome e o então pátrio-poder (atualmente, de acordo com o Código Civil de
2002, o poder familiar). Todavia, esse posicionamento foi superado, eis que,
segundo a doutrina, muito impreciso o conceito5.
Eduardo Espínola afirmava que, em uma “acepção ampla, a palavra famí-
lia compreende as pessoas unidas pelo casamento, as provenientes dessa união,
as que descendem de um tronco ancestral comum e as vinculadas por adoção”.
Já em um sentido mais restrito, a família compreende apenas os cônjuges e os
filhos, da mesma maneira que o direito romano regulava. Ainda, a família sub-
siste em todos os países, sendo considerada pelos sistemas legislativos “como
instituição necessária”, cujos fatores inspirados pela religião e pela moral são
notados6.
Carlos Alberto Bittar ensinava que, dentro os diversos grupos sociais, a
família ocupa o lugar central, além de ser o berço, o núcleo formador da pessoa,
“onde ela recebe educação, sustento e assistência, que lhe permite desenvolver
a personalidade e estruturar-se para a consecução dos seus objetivos”7. Flávio
Tartuce, ao discorrer sobre o princípio da função social da família, ensina que
esta é a celula mater da sociedade e que, apesar de expressão antiga, revela-se
apropriada e atual. Menciona o autor, para reforçar tal argumento, o caput do
art. 2268 da Constituição Federal. Ainda, aduz também, em referência a Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona, que a família não é mais um fim em si
mesmo, mas sim o meio social para a busca da felicidade nas relações com os
outros9.
A família, atualmente, é tida como a base da sociedade, inclusive consti-
tucionalmente, e teve a sua formação inicial desde os primórdios da humanida-
de. Assim, desde então foi necessária a adoção de regras e de comportamentos
com o objetivo de disciplinar e preservar a vida, as funções, as garantias, os
direitos e os deveres da célula familiar e daqueles que a constituíam e inte-
gravam10.
5 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de família. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 7.
6 ESPÍNOLA, Eduardo. A família no direito civil brasileiro. Atualizado por Ricardo Rodrigues Gama. Campinas:
Bookseller, 2001. p. 11-12.
7 BITTAR, Carlos Alberto. Novos rumos do direito de família. In: BITTAR, Carlos Alberto (Coord.). O direito de
família e a Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 02.
8 “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.”
9 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 3. ed. São Paulo: Gen/Método, 2013.
p. 1064-1065.
10 NORONHA, Carlos Silveira. As contribuições da canonística às instituições jurídicas estatais (Dir.). Revista da
Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre: Sulina, v. 30, p. 84, nov. 2012.
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Contudo, há teoria que diga, ou melhor, “[...] que negue a própria exis-
tência da família nos primeiros tempos, pregando, como realidade inicial, a pro-
miscuidade entre os seres humanos”; todavia, tal assertiva é considerada como
improvável, seja pela ciência, seja pela sociologia. A justificativa, para tanto, é
que, mesmo nos primórdios, registrou-se que “a família primitiva surgiu organi-
zada em patriarcado, isto é, num sistema de mulheres, filhos e cervos, sujeitos
todos ao limite do pai”14. Mas relevante é o que justifica a teoria15:
[...] as mais antigas sociedades são inspiradas no respeito e no medo pelo homem
sadio mais forte, e todo homem forte na luta pela existência é impelido pelo zelo
sexual e se apodera da mulher com exclusão dos outros: a promiscuidade dos se-
xos e a poliandria são, pois, pouco verossímeis, ainda mesmo junto aos homens
primitivos.
Paulo Lôbo ensina que a família foi alvo de profundas modificações acer-
ca de sua função, natureza, composição e também de concepção, especialmen-
te no século XX, através do Estado social. No plano constitucional, a progressiva
11 NORONHA, Carlos Silveira. Fundamentos e evolução histórica da família na ordem jurídica. Direito & Justiça,
v. 20, a. XXI, p. 58-60, 1999.
12 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 7.
13 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03.
14 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03.
15 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03-04.
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tutela da família deu-se pelo interesse do Estado em decorrência de sua evolu-
ção, em que pese a sua anterior ausência, de tal sorte que16:
A família patriarcal, que a legislação civil brasileira tomou como modelo, desde
a Colônia, o Império e durante boa parte do século XX, entrou em crise, cul-
minando com sua derrocada, no plano jurídico, pelos valores introduzidos na
Constituição de 1988.
2 UNIÃO ESTÁVEL
Inicialmente, vamos às previsões normativas acerca da união estável.
Constitucionalmente, encontra-se o instituto no § 3º do art. 22619; infracons-
titucionalmente, o Código Civil, entre os arts. 1.72320 1.727, dispõe sobre a
matéria.
16 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 15.
17 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 15.
18 “Administrativo. Agravo regimental no recurso especial. Servidor público. Remoção para acompanhar cônjuge.
Deslocamento no interesse da Administração. Requisito não preenchido. 1. A Constituição Federal consagra
o princípio da proteção à família como base da sociedade brasileira e dever do Estado (art. 226). Contudo, a
tutela à família não é absoluta. O deslocamento do servidor, nos casos em que a pretensão for negada pela
Administração, exige a comprovação do atendimento às hipóteses taxativamente previstas pela legislação.
2. O art. 36, III, a, da Lei nº 8.112/1990 ampara o deslocamento para acompanhar cônjuge ou companheiro
que também seja servidor e que tenha sido deslocado no interesse da Administração, não sendo este o caso
da recorrente. 3. A servidora em questão, quando da posse no cargo de Agente de Polícia Federal, tinha
ciência de que poderia não ser lotada no Estado onde seu cônjuge exercia atividade, sendo inviável agora
requerer direito não amparado por lei. 4. Incide à presente espécie o disposto na Súmula nº 83/STJ: ‘Não se
conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da
decisão recorrida’. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (BRASIL. STJ, AgRg-REsp 643001/CE,
6ª T., Rel. Min. Og Fernandes, J. 15.08.2013. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_
Documento.asp?sSeq=1255331&sReg=200400301231&sData=20130830&formato=HTML>. Acesso
em: 29 mar. 2014)
19 “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 3º Para efeito da proteção do
Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento. [...]”
20 “Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
14 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
21 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 167.
22 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 157-158.
23 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 158.
24 “Apelação. Intempestividade. Inocorrência. União estável. Marco inicial. Aplicação financeira. Juros e
correção monetária. O apelo foi interposto poucos dias antes do recesso forense de final de ano. Contando
o prazo, com desconto dos dias de suspensão em função do recesso, verifica-se a tempestividade do apelo.
A sentença fixou adequadamente o marco inicial para a união estável havida entre os litigantes, inexistindo
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Quanto ao mais, convém destacar que a leitura das razões recursais mostra que
a apelante pede o recuo do marco inicial da união estável para o início de 1994,
apenas para que com isso seja determinada a partilha do imóvel de matrícula
nº 10.488, adquirido pelo apelado em dezembro/1994.
É bem de ver, porém, que a leitura atenta da fundamentação recursal revela que,
na realidade, para fazer tal postulação, a apelante em verdade não alega, de for-
ma tão efetiva e concreta como deveria, a existência de prova de existência de
união estável antes de 1995.
O que ela alega, em realidade, é que, desde antes de 1995, as partes já estariam
contribuindo especificamente, com aportes financeiros dos dois, para a aquisição
e construção da casa.
Ilustra:
“Apelação. Sobrepartilha. Aquisição anterior ao casamento. [...]. Caso no qual
restou provado nos autos que a área de terra que a apelante pretende seja so-
brepartilhada em verdade foi adquirida pelo apelado antes do casamento havido
entre as partes. Antes do casamento não há comunhão, razão pela qual não há
nos autos qualquer prova, oral ou documental, a dar conta de que a união teria começado em data anterior.
Bem imóvel adquirido pelo apelado antes da união é exclusivo dele. Eventual contribuição específica da
apelante, mas antes do início da união, não enseja comunicabilidade ou partilha. Pode ensejar, se for o caso,
o reconhecimento de condomínio, questão a ser perseguida em ação própria, perante o juízo competente,
se for do interesse da parte. Precedentes. A ruptura da união estável põe termo ao regime de bens. Logo,
nenhum ganho (ou mesmo perda) de capital, advinda em momento posterior à ruptura, pode ser objeto de
partilha. Adequada a determinação de partilha dos valores depositados em aplicação financeira do apelado,
considerados os valores existentes na data da separação. Tais valores, a serem indenizados à apelante,
deverão ser corrigidos monetariamente desde a data da ruptura, e acrescidos de juros de mora a contar
da citação para a presente demanda. Rejeitada a preliminar, deram parcial provimento.” (BRASIL. TJRS,
AC 70069092948, 8ª C.Cív., Rel. Des. Rui Portanova, J. 28.07.2016. Disponível em: <http://www.tjrs.
jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comar
ca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_
comarca%3D700%26num_processo_mask%3D70069092948%26num_processo%3D700690929
48%26codEmenta%3D6880542+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+e+marco+inicial++++&proxys
tylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF-
8&numProcesso=70069092948&comarca=Comarca%20de%20Campo%20Bom&dtJulg=28/07/2016&re
lator=Rui%20Portanova&aba=juris>. Acesso em: 22 ago. 2016)
16 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
26 “Agravo regimental no agravo em recurso especial. União estável. Ausência de provas do intuito de constituir
família. Revisão. Impossibilidade. Súmula nº 7/STJ. 2. Agravo improvido. 1. Nos termos do art. 1º da Lei
nº 9.278/1996, bem assim da jurisprudência desta Casa, a coabitação não constitui requisito necessário
para a configuração da união estável, devendo encontrarem-se presentes, obrigatoriamente, outros relevantes
elementos que denotem o imprescindível intuito de constituir uma família. Precedentes. 2. Na espécie,
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concluíram as instâncias de origem não se encontrarem presentes os requisitos necessários para a configuração
de união estável. A coabitação foi reconhecida como ato de mera conveniência, ostentando as partes apenas
um relacionamento de namoro. Para derruir as premissas firmadas, necessário o reexame de fatos e provas,
providência vedada nos termos do Enunciado nº 7 da súmula do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.” (BRASIL. STJ, AgRg-AREsp 649786/GO, 3ª T., Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, J. 04.08.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ITA&sequencial=1423817&num_registro=201500046037&data=20150818&for
mato=HTML>. Acesso em: 9 mar. 2016)
27 “Processual civil e civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Apreciação de todas as questões
relevantes da lide pelo Tribunal de origem. Ausência de afronta ao art. 535 do CPC. União estável. Presença
dos requisitos. Reexame do conjunto fático-probatório dos autos. Inadmissibilidade. Incidência da Súmula
nº 7/STJ. Decisão mantida. 1. Inexiste afronta ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido analisou
todas as questões pertinentes para a solução da lide, pronunciando-se, de forma clara e suficiente, sobre a
controvérsia estabelecida nos autos. 2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem
revolvimento do contexto fático-probatório dos autos (Súmula nº 7 do STJ). 3. No caso concreto, o Tribunal
de origem examinou a prova dos autos para concluir que foram preenchidos os requisitos para caracterização
de união estável. Alterar tal entendimento demandaria nova análise dos elementos fáticos, inviável em recurso
especial. 4. ‘A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a existência de casamento válido
não obsta o reconhecimento da união estável, quando há separação de fato ou judicial entre os casados’
(AgRg-EDcl-AgRg-AREsp 710.780/RS, 4ª T., Rel. Min. Raul Araújo, J. 27.10.2015, DJe 25.11.2015).
5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (BRASIL. STJ, AgRg-AREsp 64546/RJ, 4ª T., Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, J. 15.12.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ITA&sequencial=1475666&num_registro=201102408036&data=20151218&for
mato=HTML>. Acesso em: 9 mar. 2016)
28 “Direito de família e processual civil. União entre pessoas do mesmo sexo (homoafetiva) rompida. Direito
a alimentos. Possibilidade. Art. 1.694 do CC/2002. Proteção do companheiro em situação precária e de
vulnerabilidade. Orientação principiológica conferida pelo STF no julgamento da ADPF 132/RJ e da ADIn
4.277/DF. Alimentos provisionais. Art. 852 do CPC. Preenchimento dos requisitos. Análise pela instância de
origem. 1. No Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, são reiterados os julgados dando
conta da viabilidade jurídica de uniões estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo, sob a égide
do sistema constitucional inaugurado em 1988, que tem como caros os princípios da dignidade da pessoa
humana, a igualdade e repúdio à discriminação de qualquer natureza. 2. O Supremo Tribunal Federal, no
julgamento conjunto da ADPF 132/RJ e da ADIn 4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002
interpretação conforme à Constituição para dele excluir todo significado que impeça o reconhecimento da
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta
como sinônimo perfeito de família; por conseguinte, ‘este reconhecimento é de ser feito segundo as mesmas
regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva’. 3. A legislação que regula a união
estável deve ser interpretada de forma expansiva e igualitária, permitindo que as uniões homoafetivas tenham
o mesmo regime jurídico protetivo conferido aos casais heterossexuais, trazendo efetividade e concreção
aos princípios da dignidade da pessoa humana, da não discriminação, igualdade, liberdade, solidariedade,
autodeterminação, proteção das minorias, busca da felicidade e ao direito fundamental e personalíssimo
à orientação sexual. 4. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à
autoafirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias, sendo o alicerce jurídico para
a estruturação do direito à orientação sexual como direito personalíssimo, atributo inseparável e incontestável
da pessoa humana. Em suma: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se for garantido o
direito à diferença. 5. Como entidade familiar que é, por natureza ou no plano dos fatos, vocacionalmente
amorosa, parental e protetora dos respectivos membros, constituindo-se no espaço ideal das mais duradouras,
afetivas, solidárias ou espiritualizadas relações humanas de índole privada, o que a credenciaria como base
da sociedade (ADIn 4277/DF e ADPF 132/RJ), pelos mesmos motivos, não há como afastar da relação de
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[...] são reiterados os julgados dando conta da viabilidade jurídica de uniões
estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo, sob a égide do sistema
constitucional inaugurado em 1988, que tem como caros os princípios da dig-
nidade da pessoa humana, a igualdade e repúdio à discriminação de qualquer
natureza. [...].
pessoas do mesmo sexo a obrigação de sustento e assistência técnica, protegendo-se, em última análise,
a própria sobrevivência do mais vulnerável dos parceiros. 6. O direito a alimentos do companheiro que se
encontra em situação precária e de vulnerabilidade assegura a máxima efetividade do interesse prevalente,
a saber, o mínimo existencial, com a preservação da dignidade do indivíduo, conferindo a satisfação de
necessidade humana básica. O projeto de vida advindo do afeto, nutrido pelo amor, solidariedade,
companheirismo, sobeja obviamente no amparo material dos componentes da união, até porque os alimentos
não podem ser negados a pretexto de uma preferência sexual diversa. 7. No caso ora em julgamento, a
cautelar de alimentos provisionais, com apoio em ação principal de reconhecimento e dissolução de união
estável homoafetiva, foi extinta ao entendimento da impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que ‘não há
obrigação legal de um sócio prestar alimentos ao outro’. 8. Ocorre que uma relação homoafetiva rompida pode
dar azo ao pensionamento alimentar e, por conseguinte, cabível, em processo autônomo, que o necessitado
requeira sua concessão cautelar com a finalidade de prover os meios necessários ao seu sustento durante a
pendência da lide. 9. As condições do direito de ação jamais podem ser apreciadas sob a ótica do preconceito,
da discriminação, para negar o pão àquele que tem fome em razão de sua opção sexual. Ao revés, o exame
deve-se dar a partir do ângulo constitucional da tutela da dignidade humana e dos deveres de solidariedade
e fraternidade que permeiam as relações interpessoais, com o preenchimento do binômio necessidade do
alimentário e possibilidade econômica do alimentante. 10. A conclusão que se extrai no cotejo de todo
ordenamento é a de que a isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude
de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família (ADIn 4277/DF
e ADPF 132/RJ), incluindo-se aí o reconhecimento do direito à sobrevivência com dignidade por meio do
pensionamento alimentar. 11. Recurso especial provido.” (BRASIL. STJ, REsp 1302467/SP, 4ª T., Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, J. 03.03.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/me
diado/?componente=ITA&sequencial=1386766&num_registro=201200026714&data=20150325&forma
to=HTML>. Acesso em: 9 mar. 2016)
29 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1222.
20 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
30 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1223.
31 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1223.
32 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 186.
33 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1224.
34 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
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E, precisamente por conta do receio de caírem na malha jurídica da união es-
tável, muitos casais brasileiros convencionaram celebrar, em livro de notas de
Tabelião, o denominado “contrato de namoro”, negócio jurídico firmado com o
nítido propósito de afastarem o regramento do direito de família.
Mas, conforme já observado [...], a união estável é um fato da vida e, como tal, se
configurada, não será uma simples declaração negocial de vontade instrumento
hábil para afastar o regramento de ordem pública que rege este tipo de entidade
familiar.
35 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
36 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
“Ação de reconhecimento e dissolução de contrato de namoro consensual. Falta de interesse de agir e
impossibilidade jurídica do pedido. Inicial indeferida. Processo julgado extinto. Sentença mantida. Recurso
desprovido.” (BRASIL. TJSP, AC 1025481-13.2015.8.26.0554, 3ª CDPriv., Rel. Des. Beretta da Silveira,
J. 28.06.2016. Disponível em: < https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=9559002&cdForo=
0&vlCaptcha=fysjv>. Acesso em: 19 ago. 2016)
22 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
37 “Recurso especial e recurso especial adesivo. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável,
alegadamente compreendida nos dois anos anteriores ao casamento, c/c partilha do imóvel adquirido nesse
período. 1. Alegação de não comprovação do fato constitutivo do direito da autora. Prequestionamento.
Ausência. 2. União estável. Não configuração. Namorados que, em virtude de contingências e interesses
particulares (trabalho e estudo) no exterior, passaram a coabitar. Estreitamento do relacionamento, culminando
em noivado e, posteriormente, em casamento. 3. Namoro qualificado. Verificação. Repercussão patrimonial.
Inexistência. 4. Celebração de casamento, com eleição do regime da comunhão parcial de bens. Termo a
partir do qual os então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por bem consolidar, consciente
e voluntariamente, a relação amorosa vivenciada, para constituir, efetivamente, um núcleo familiar, bem
como comunicar o patrimônio haurido. Observância. necessidade. 5. Recurso especial provido, na parte
conhecida; e recurso adesivo prejudicado. 1. O conteúdo normativo constante dos arts. 332 e 333, II, da lei
adjetiva civil, não foi objeto de discussão ou deliberação pela instância precedente, circunstância que enseja
o não conhecimento da matéria, ante a ausência do correlato e indispensável prequestionamento. 2. Não se
denota, a partir dos fundamentos adotados, ao final, pelo Tribunal de origem (por ocasião do julgamento dos
embargos infringentes), qualquer elemento que evidencie, no período anterior ao casamento, a constituição
de uma família, na acepção jurídica da palavra, em que há, necessariamente, o compartilhamento de
vidas e de esforços, com integral e irrestrito apoio moral e material entre os conviventes. A só projeção da
formação de uma família, os relatos das expectativas da vida no exterior com o namorado, a coabitação,
ocasionada, ressalta-se, pela contingência e interesses particulares de cada qual, tal como esboçado pelas
instâncias ordinárias, afiguram-se insuficientes à verificação da affectio maritalis e, por conseguinte, da
configuração da união estável. 2.1 O propósito de constituir família, alçado pela lei de regência como requisito
essencial à constituição da união estável – a distinguir, inclusive, esta entidade familiar do denominado
‘namoro qualificado’ –, não consubstancia mera proclamação, para o futuro, da intenção de constituir uma
família. É mais abrangente. Esta deve se afigurar presente durante toda a convivência, a partir do efetivo
compartilhamento de vidas, com irrestrito apoio moral e material entre os companheiros. É dizer: a família
deve, de fato, restar constituída. 2.2. Tampouco a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma
união estável (ainda que possa vir a constituir, no mais das vezes, um relevante indício), especialmente se
considerada a particularidade dos autos, em que as partes, por contingências e interesses particulares (ele,
a trabalho; ela, pelo estudo) foram, em momentos distintos, para o exterior, e, como namorados que eram,
não hesitaram em residir conjuntamente. Este comportamento, é certo, revela-se absolutamente usual nos
tempos atuais, impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se à realidade social. 3. Da
análise acurada dos autos, tem-se que as partes litigantes, no período imediatamente anterior à celebração
de seu matrimônio (de janeiro de 2004 a setembro de 2006), não vivenciaram uma união estável, mas sim
um namoro qualificado, em que, em virtude do estreitamento do relacionamento projetaram para o futuro – e
não para o presente –, o propósito de constituir uma entidade familiar, desiderato que, posteriormente, veio
a ser concretizado com o casamento. 4. Afigura-se relevante anotar que as partes, embora pudessem, não se
valeram, tal como sugere a demandante, em sua petição inicial, do instituto da conversão da união estável
em casamento, previsto no art. 1.726 do Código Civil. Não se trata de renúncia como, impropriamente,
entendeu o voto condutor que julgou o recurso de apelação na origem. Cuida-se, na verdade, de clara
manifestação de vontade das partes de, a partir do casamento, e não antes, constituir a sua própria família.
A celebração do casamento, com a eleição do regime de comunhão parcial de bens, na hipótese dos autos,
bem explicita o termo a partir do qual os então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por bem
consolidar, consciente e voluntariamente, a relação amorosa vivenciada para constituir, efetivamente, um
núcleo familiar, bem como comunicar o patrimônio haurido. A cronologia do relacionamento pode ser assim
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resumida: namoro, noivado e casamento. E, como é de sabença, não há repercussão patrimonial decorrente
das duas primeiras espécies de relacionamento. 4.1 No contexto dos autos, inviável o reconhecimento da
união estável compreendida, basicamente, nos dois anos anteriores ao casamento, para o único fim de
comunicar o bem então adquirido exclusivamente pelo requerido. Aliás, a aquisição de apartamento, ainda
que tenha se destinado à residência dos então namorados, integrou, inequivocamente, o projeto do casal de,
num futuro próximo, constituir efetivamente a família por meio do casamento. Daí, entretanto, não advém à
namorada/noiva direito à meação do referido bem. 5. Recurso especial provido, na parte conhecida. Recurso
especial adesivo prejudicado.” (BRASIL. STJ, REsp 1454643/RJ, 3ª T., Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
J. 03.03.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=
ITA&sequencial=1385925&num_registro=201400677815&data=20150310&formato=HTML>. Acesso
em: 8 mar. 2016)
38 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 157.
24 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
rídica. Por tal razão, Arnoldo Wald e Priscila Corrêa da Fonseca ressaltam que
tal instituto não pode ser objeto de banalização “[...] a ponto de ter seus efeitos
estendidos aos casos de namoro”, estes que diferem diametralmente da posse
de estado de casados e da intenção de constituição de família39.
CONCLUSÃO
Os requisitos configuradores da união estável são trazidos pelo ordena-
mento, como pudemos analisar neste artigo, tanto à luz da doutrina como da ju-
risprudência. Contudo, a existência de relações, ou seja, o caso concreto é que
deve ser analisado detalhadamente no sentido de sabermos o real significado e
extensão que a relação terá, no sentido de ser entendida e protegida como enti-
dade familiar, como nos casos de união estável, ou então de afastar a exigência
de direitos e deveres, eis que caracterizada a união como namoro, mesmo que
qualificado, incluída aí a coabitação.
A vontade de um dos integrantes da relação pode ser irrelevante para a
não caracterização de uma união estável, por exemplo, se os fatos provarem em
sentido contrário.
Assim como ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho,
confrontando os requisitos da união estável com a condição de namoro, afir-
mam, para os primeiros, o essencial objetivo de constituição de família, que
difere da instabilidade que gira em torno do namoro40. Portanto, temos de ana-
lisar cuidadosa e objetivamente o caso concreto no sentido de verificação dos
requisitos autorizadores da união estável, objetivando a adequação das normas
protetivas do direito de família, sob pena de desvirtuamento do namoro em face
das entidades familiares.
O tema está lançado e, evidentemente, não temos a intenção de esgotá-
-lo, e sim de contextualizá-lo, tendo em vista a decisão do STJ trazida e anali-
sada.
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39 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, v. 5, 2013. p. 400.
40 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 434.
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18. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5, 2013.
Assunto Especial – Doutrina
Namoro Qualificado
SUMÁRIO: Introdução; 1 Diferença entre namoro qualificado e união estável; 2 Requisitos para ca-
racterização da união estável; 2.1 Visão doutrinária e jurisprudencial; 3 Eficácia jurídica do contrato
de convivência; 4 Consequência jurídica decorrente do reconhecimento de um ou outro instituto;
Conclusão; Referências.
INTRODUÇÃO
A união estável é um instituto que ganhou novos contornos a partir da
Constituição da República de 1988, em que aparece como entidade familiar, e
depois o Código Civil veio tratar do tema, mas em poucos artigos.
O reconhecimento da união traz reflexos imediatos e até mesmo retroati-
vos, tanto patrimoniais quanto pessoais, na vida do casal, por isso, é tão impor-
tante estabelecer a distinção entre namoro qualificado e união estável, uma vez
que a diferença entre os dois institutos é muito tênue, e o reconhecimento de
um ou de outro traz consequências diferentes para a vida do par.
Serão abordados, no presente trabalho, os requisitos que envolvem a
união estável como entidade familiar, bem como as decisões jurisprudenciais e
a visão dos doutrinadores a respeito do tema e a possibilidade da existência de
um contrato de convivência para regularização de tal instituto.
CONCLUSÃO
A diferença entre os institutos do namoro qualificado e da união estável
está basicamente no preenchimento dos requisitos do art. 1.723 do Código Ci-
vil, quais sejam: conivência pública, contínua e duradoura, sendo o principal
elemento para que se encontre a diferenciação o objetivo de constituição de
família,
O Direito e a Justiça vão se adaptando aos novos sistemas de casamento
criados pela sociedade para abrigar todos sob o manto da lei.
Não pode o Estado estabelecer como união estável um simples namoro,
em que os namorados não perdem sua individualidade e são independentes um
perante o outro, e imputar-lhes uma condição jamais desejada pelo par.
É a velha história de quando “meu bem” passa a ser “meus bens”, que
ocorre geralmente com o término de uma relação. As pessoas precisam prever
que pode ocorrer uma futura separação, e o contrato de convivência é feito
justamente para elas que não querem entrar na divisão forçada dos seus bens.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1998.
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CARVALHO, Dimas Messias. Direito de família, direito civil. 2. ed. Belo Horizonte:
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Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=601>.
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SITES
http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw
http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris
http://www.tjmg.jus.br/
Assunto Especial – Em Poucas Palavras
Namoro Qualificado
Namoro Qualificado
JONES FIGUEIRÊDO ALVES
Desembargador decano do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Diretor Nacional do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), Coordenador da Comissão de Magistratura de Fa-
mília.