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Assunto Especial – Doutrina

Namoro Qualificado

O Superior Tribunal de Justiça e a Tese do Namoro Qualificado:


Afastando a Hipótese de União Estável
FELIPE CUNHA DE ALMEIDA
Mestre em Direito Privado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Especialista em
Direito Civil e Direito Processual Civil com ênfase em Direito Processual Civil, Professor de
diversos cursos de especialização, extensão e prática jurídica, Advogado em Porto Alegre/RS.

RESUMO: O presente artigo analisou decisão do Superior Tribunal de Justiça que afastou a hipótese
de configuração de união estável por entender que a relação mantida entre o casal, antes do período
do casamento, era a de namoro qualificado, em que pese a existência coabitação, mas não caracte-
rizado o requisito de constituição de família.

PALAVRAS-CHAVE: Namoro; namoro qualificado; união estável; constituição de família.

ABSTRACT: This article analyzed decision of the Superior Court dismissed the stable configuration
hypothesis to understand that the relationship maintained between the couple before the wedding
period, was qualified dating, despite the existence cohabiting, but not characterized the family cons-
titution requirement.

KEYWORDS: Dating; dating qualified; stable; family building.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Família e o direito de família; 2 União estável; 2.1 Namoro, namoro qualifica-
do e contrato de namoro; 2.2 O namoro qualificado segundo o STJ; Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO
As relações afetivas entre as pessoas costumam ser complexas quando se
cogita da hipótese do seu devido enquadramento no ordenamento, no sentido
de saber quais os efeitos jurídicos que delas irradiam-se. Excetuando-se a hipó-
tese do casamento, instituto esse solene e formal, cuja manifestação de vontade
perante o Estado deve ser inequívoca, somada a outros requisitos, temos, tam-
bém, o namoro, o namoro qualificado e a união estável.
As relações são dinâmicas e, muitas vezes, as intenções individuais do
casal não estão totalmente em sintonia. Em certos casos, um deles manifesta ao
outro a intenção de casar, mas este outro não aceita, e a vida segue e o casal
continua sua vida e, com muita frequência, ocorrem hipóteses como morar
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junto, adquirir as vezes patrimônio, ter ou não filhos, elaborar o denominado


contrato de namoro. Até que chega um dado período em que um não tem mais
a intenção de continuar a relação. Neste momento, muitas ações batem às por-
tas do Poder Judiciário buscando o reconhecimento e a dissolução de união
estável com a incidência das inafastáveis consequências que tal vínculo, quan-
do reconhecido, traz. Mas, por outras vezes, o(a) interessado(a) não comprova
tais requisitos, não passando a relação de um namoro ou, no máximo, de um
namoro qualificado, como será objeto de análise deste artigo.
Dadas as considerações acima, nossa intenção é a de aclarar os pontos
centrais que distinguem o namoro do namoro qualificado, e da união estável,
à luz da doutrina e da jurisprudência, dada a relevância que cerca a temática.

1 FAMÍLIA E O DIREITO DE FAMÍLIA


Afirma Álvaro Villaça Azevedo que o direito de família “repousa suas
bases em sua mais cara instituição, a família”. Várias teorias buscam explicar
a origem da família; todavia, o autor salienta ser tarefa quase impossível em
termos de uma real certeza1.
Segundo Pontes de Miranda, a palavra família era cercada de uma di-
versidade de conceitos, em especial no direito romano. Poderia ser usada em
relação às coisas no sentido de designar o patrimônio ou a totalidade dos escra-
vos de determinado senhor. Mas a acepção também englobava o pai, a mãe, os
filhos e os parentes em geral. Poderia dar, também, a ideia de uma reunião de
pessoas sobre o pátrio poder, ou então de um chefe único2.
Em continuidade de suas lições, o mestre acima referido, ao ensinar so-
bre direito de família, afirma que o seu objeto é a exposição de princípios jurídi-
cos que regem as relações familiares, seja a influência dessas relações sobre as
pessoas, seja sobre os seus bens. Quanto à divisão do direito de família, este se
configura em duas partes: a) a que estuda a sociedade conjugal (capacidade, ce-
lebração, chefia etc.) e em suas consequências morais, pessoais e patrimoniais:
sucessão do cônjuge, por exemplo; b) a que se destina ao estudo da sociedade
parental: normas sobre a fixação dos parentescos, tutela, curatela, ausência etc.3
A finalidade da legislação em matéria de direito de família é a de regular e pro-
teger a vida dos casais, assegurar a procriação dentro dos limites da lei, fixar o
que é parentesco jurídico4.

1 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03.
2 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial. In: ALVES,
Vilson Rodrigues (Atual). São Paulo: Bookseller, v. 1, 2001. p. 58.
3 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial. In: ALVES,
Vilson Rodrigues (Atual.). 1. ed. Campinas: Bookseller, v. 1, 2001. p. 75.
4 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito matrimonial. In: ALVES,
Vilson Rodrigues (Atual.). 1. ed. Campinas: Bookseller, v. 1, 2001. p. 81.
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A ideia que vigorava no passado sobre a natureza jurídica da família era
a de que formava uma pessoa jurídica. E a base de tal raciocínio fundava-se no
aspecto de que a família era a detentora de direitos extrapatrimoniais, como
o nome e o então pátrio-poder (atualmente, de acordo com o Código Civil de
2002, o poder familiar). Todavia, esse posicionamento foi superado, eis que,
segundo a doutrina, muito impreciso o conceito5.
Eduardo Espínola afirmava que, em uma “acepção ampla, a palavra famí-
lia compreende as pessoas unidas pelo casamento, as provenientes dessa união,
as que descendem de um tronco ancestral comum e as vinculadas por adoção”.
Já em um sentido mais restrito, a família compreende apenas os cônjuges e os
filhos, da mesma maneira que o direito romano regulava. Ainda, a família sub-
siste em todos os países, sendo considerada pelos sistemas legislativos “como
instituição necessária”, cujos fatores inspirados pela religião e pela moral são
notados6.
Carlos Alberto Bittar ensinava que, dentro os diversos grupos sociais, a
família ocupa o lugar central, além de ser o berço, o núcleo formador da pessoa,
“onde ela recebe educação, sustento e assistência, que lhe permite desenvolver
a personalidade e estruturar-se para a consecução dos seus objetivos”7. Flávio
Tartuce, ao discorrer sobre o princípio da função social da família, ensina que
esta é a celula mater da sociedade e que, apesar de expressão antiga, revela-se
apropriada e atual. Menciona o autor, para reforçar tal argumento, o caput do
art. 2268 da Constituição Federal. Ainda, aduz também, em referência a Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona, que a família não é mais um fim em si
mesmo, mas sim o meio social para a busca da felicidade nas relações com os
outros9.
A família, atualmente, é tida como a base da sociedade, inclusive consti-
tucionalmente, e teve a sua formação inicial desde os primórdios da humanida-
de. Assim, desde então foi necessária a adoção de regras e de comportamentos
com o objetivo de disciplinar e preservar a vida, as funções, as garantias, os
direitos e os deveres da célula familiar e daqueles que a constituíam e inte-
gravam10.

5 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de família. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 7.
6 ESPÍNOLA, Eduardo. A família no direito civil brasileiro. Atualizado por Ricardo Rodrigues Gama. Campinas:
Bookseller, 2001. p. 11-12.
7 BITTAR, Carlos Alberto. Novos rumos do direito de família. In: BITTAR, Carlos Alberto (Coord.). O direito de
família e a Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 02.
8 “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.”
9 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 3. ed. São Paulo: Gen/Método, 2013.
p. 1064-1065.
10 NORONHA, Carlos Silveira. As contribuições da canonística às instituições jurídicas estatais (Dir.). Revista da
Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre: Sulina, v. 30, p. 84, nov. 2012.
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Como ensina Carlos Silveira Noronha, analisando e discorrendo sobre


a evolução da família, perante o Direito divino e o direito canônico, aquela é
considerada pelas Escrituras como entidade de divino, e tem origem exclusiva-
mente no casamento. A finalidade, também, é a de santificar a união indisso-
lúvel do homem e da mulher. O caráter sacramental do matrimônio (casamen-
to religioso) foi reafirmado, pela Igreja, no Concílio de Trento, realizado entre
1545 e 1563 – de tal sorte que o casamento é solidificado na cellula mater11.
O direito canônico também é referido por Arnaldo Rizzardo, haja vista o co-
mentário do autor no sentido de que “é fora de dúvida que o nosso direito de
família teve ampla influência do direito canônico, o que se justifica pela própria
tradição do provo brasileiro, formado, inicialmente, de colonizadores lusos”12.
Acerca das teorias sobre a origem da família, Álvaro Villaça Azevedo
apresenta-nos as seguintes, iniciando desta forma13:
[...] a família assenta seus fundamentos no sistema poligâmico, em que um indi-
víduo possui muitos cônjuges ao mesmo tempo (um homem e várias mulheres,
isto é, poligamia, organizando-se a família sob a forma patriarcal, ou uma mulher
e vários homens, ou seja, a poliandria, organizando-se a família sob o tipo de
matriarcado), entendendo outros tenha a família se constituído sob a base mono-
gâmica, formada pelo par andrógino (um homem e uma mulher).

Contudo, há teoria que diga, ou melhor, “[...] que negue a própria exis-
tência da família nos primeiros tempos, pregando, como realidade inicial, a pro-
miscuidade entre os seres humanos”; todavia, tal assertiva é considerada como
improvável, seja pela ciência, seja pela sociologia. A justificativa, para tanto, é
que, mesmo nos primórdios, registrou-se que “a família primitiva surgiu organi-
zada em patriarcado, isto é, num sistema de mulheres, filhos e cervos, sujeitos
todos ao limite do pai”14. Mas relevante é o que justifica a teoria15:
[...] as mais antigas sociedades são inspiradas no respeito e no medo pelo homem
sadio mais forte, e todo homem forte na luta pela existência é impelido pelo zelo
sexual e se apodera da mulher com exclusão dos outros: a promiscuidade dos se-
xos e a poliandria são, pois, pouco verossímeis, ainda mesmo junto aos homens
primitivos.

Paulo Lôbo ensina que a família foi alvo de profundas modificações acer-
ca de sua função, natureza, composição e também de concepção, especialmen-
te no século XX, através do Estado social. No plano constitucional, a progressiva

11 NORONHA, Carlos Silveira. Fundamentos e evolução histórica da família na ordem jurídica. Direito & Justiça,
v. 20, a. XXI, p. 58-60, 1999.
12 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 7.
13 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03.
14 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03.
15 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas, 2013. p. 03-04.
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tutela da família deu-se pelo interesse do Estado em decorrência de sua evolu-
ção, em que pese a sua anterior ausência, de tal sorte que16:
A família patriarcal, que a legislação civil brasileira tomou como modelo, desde
a Colônia, o Império e durante boa parte do século XX, entrou em crise, cul-
minando com sua derrocada, no plano jurídico, pelos valores introduzidos na
Constituição de 1988.

O autor segue ensinando que, como a crise ocasiona a perda de funda-


mentos de um paradigma em virtude de um advento de outro, “a família atual
está matizada em paradigma que explica sua função atual: a afetividade”17.
O Superior Tribunal de Justiça também eleva a família como a base da
sociedade, nos termos do referido art. 226 da Constituição Federal: “A Consti-
tuição Federal consagra o princípio da proteção à família como base da socie-
dade brasileira e dever do Estado (art. 226)”18.
Portanto, a família é, sim, objeto da mais alta proteção de nosso ordena-
mento.

2 UNIÃO ESTÁVEL
Inicialmente, vamos às previsões normativas acerca da união estável.
Constitucionalmente, encontra-se o instituto no § 3º do art. 22619; infracons-
titucionalmente, o Código Civil, entre os arts. 1.72320 1.727, dispõe sobre a
matéria.

16 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 15.
17 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 15.
18 “Administrativo. Agravo regimental no recurso especial. Servidor público. Remoção para acompanhar cônjuge.
Deslocamento no interesse da Administração. Requisito não preenchido. 1. A Constituição Federal consagra
o princípio da proteção à família como base da sociedade brasileira e dever do Estado (art. 226). Contudo, a
tutela à família não é absoluta. O deslocamento do servidor, nos casos em que a pretensão for negada pela
Administração, exige a comprovação do atendimento às hipóteses taxativamente previstas pela legislação.
2. O art. 36, III, a, da Lei nº 8.112/1990 ampara o deslocamento para acompanhar cônjuge ou companheiro
que também seja servidor e que tenha sido deslocado no interesse da Administração, não sendo este o caso
da recorrente. 3. A servidora em questão, quando da posse no cargo de Agente de Polícia Federal, tinha
ciência de que poderia não ser lotada no Estado onde seu cônjuge exercia atividade, sendo inviável agora
requerer direito não amparado por lei. 4. Incide à presente espécie o disposto na Súmula nº 83/STJ: ‘Não se
conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido da
decisão recorrida’. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (BRASIL. STJ, AgRg-REsp 643001/CE,
6ª T., Rel. Min. Og Fernandes, J. 15.08.2013. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_
Documento.asp?sSeq=1255331&sReg=200400301231&sData=20130830&formato=HTML>. Acesso
em: 29 mar. 2014)
19 “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. [...] § 3º Para efeito da proteção do
Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento. [...]”
20 “Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
14 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

Maria Berenice Dias bem aprofunda o estudo da união estável, dizendo


que, “apesar do nítido repúdio do legislador, vínculos afetivos fora casamento
sempre existiram”. O revogado Código de 1916, além de omisso às relações
extraconjugais, as punia, proibindo, por exemplo, doações e instituição de se-
guros à concubina, bem como vedando àquela ser beneficiária de testamento. A
proteção, portanto, daquela codificação, vinha no sentido de “proteger a família
constituída pelos sagrados laços do matrimônio”21.
Paulo Lôbo atenta para o início da união estável, dada a extrema rele-
vância que tal merece. Diferente do casamento, “[...] que tem início em ato
jurídico certo e público, a união estável, relação jurídica derivada de estado de
fato, apresenta reais dificuldades em identificá-la” – de tal sorte que o termo ini-
cial, ou seja, a sua importância, vai fixar os deveres e a exigibilidade inerentes
à união estável. Vejamos o aprofundamento de tais lições, segundo as palavras
do mestre em referência22:
O início da união estável é o início da convivência dos companheiros. A dificul-
dade é reduzida quando se pode provar o início da convivência sob o mesmo
teto. São inúmeras as possibilidades de prova: a aquisição de imóvel para a mo-
radia, a aquisição de imóveis para guarnecerem a moradia, o contrato de aluguel
do imóvel, o testemunho de vizinhos, de amigos, de colegas de trabalho, o pa-
gamento de contas do casal, a correspondência recebida no endereço comum.
O nascimento de filho pode ser posterior à convivência como pode ser a causa
da convivência.

Mas também pode acontecer da ausência de convivência sob o mesmo


teto. Contudo, tal circunstância não impede, somadas aos outros requisitos, de
que venha a ser caracterizada a união estável, devendo, isto sim, que o interes-
sado comprove “[...] o tempo em que os companheiros passaram a se apresen-
tar como se casados fossem perante suas relações sociais [...]”, servindo como
meios de prova correspondências, fotos de viagens, o pagamento de responsa-
bilidade das despesas de um pelo outro23.
Podemos observar a discussão acima trazida acerca do marco inicial da
união estável a partir de julgamento proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul. Uma das partes afirmava que a relação iniciou a partir de 1994,
quando adquiriram juntos determinado imóvel. Porém, a Corte manteve sen-
tença no sentido de declarar o início da união a partir de 1995 e, igualmente,
diferenciou partilha de condomínio, relativos à aquisição do bem24:

21 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 167.
22 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 157-158.
23 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 158.
24 “Apelação. Intempestividade. Inocorrência. União estável. Marco inicial. Aplicação financeira. Juros e
correção monetária. O apelo foi interposto poucos dias antes do recesso forense de final de ano. Contando
o prazo, com desconto dos dias de suspensão em função do recesso, verifica-se a tempestividade do apelo.
A sentença fixou adequadamente o marco inicial para a união estável havida entre os litigantes, inexistindo
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Quanto ao mais, convém destacar que a leitura das razões recursais mostra que
a apelante pede o recuo do marco inicial da união estável para o início de 1994,
apenas para que com isso seja determinada a partilha do imóvel de matrícula
nº 10.488, adquirido pelo apelado em dezembro/1994.
É bem de ver, porém, que a leitura atenta da fundamentação recursal revela que,
na realidade, para fazer tal postulação, a apelante em verdade não alega, de for-
ma tão efetiva e concreta como deveria, a existência de prova de existência de
união estável antes de 1995.
O que ela alega, em realidade, é que, desde antes de 1995, as partes já estariam
contribuindo especificamente, com aportes financeiros dos dois, para a aquisição
e construção da casa.

Veja-se, em especial, o que a apelante alegou na fl. 629:


“Reitera-se que o primeiro imóvel do casal foi adquirido em 06.12.1994, com
recursos de ambas as partes, que trabalhavam e economizavam no objetivo de
adquirir um imóvel.” (grifos nossos)
Ora, eventual contribuição específica de cada uma das partes para a aquisição
do imóvel, mas, antes do início da união estável, não enseja comunicabilidade
ou partilha.
Pode ensejar, se ficar bem provada a contribuição específica, o reconhecimento
de condomínio, postulação que, se for do interesse da parte apelante, deverá ser
feita em ação própria, perante o juízo competente, na esteira da jurisprudência
desta Corte.

Ilustra:
“Apelação. Sobrepartilha. Aquisição anterior ao casamento. [...]. Caso no qual
restou provado nos autos que a área de terra que a apelante pretende seja so-
brepartilhada em verdade foi adquirida pelo apelado antes do casamento havido
entre as partes. Antes do casamento não há comunhão, razão pela qual não há

nos autos qualquer prova, oral ou documental, a dar conta de que a união teria começado em data anterior.
Bem imóvel adquirido pelo apelado antes da união é exclusivo dele. Eventual contribuição específica da
apelante, mas antes do início da união, não enseja comunicabilidade ou partilha. Pode ensejar, se for o caso,
o reconhecimento de condomínio, questão a ser perseguida em ação própria, perante o juízo competente,
se for do interesse da parte. Precedentes. A ruptura da união estável põe termo ao regime de bens. Logo,
nenhum ganho (ou mesmo perda) de capital, advinda em momento posterior à ruptura, pode ser objeto de
partilha. Adequada a determinação de partilha dos valores depositados em aplicação financeira do apelado,
considerados os valores existentes na data da separação. Tais valores, a serem indenizados à apelante,
deverão ser corrigidos monetariamente desde a data da ruptura, e acrescidos de juros de mora a contar
da citação para a presente demanda. Rejeitada a preliminar, deram parcial provimento.” (BRASIL. TJRS,
AC 70069092948, 8ª C.Cív., Rel. Des. Rui Portanova, J. 28.07.2016. Disponível em: <http://www.tjrs.
jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comar
ca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_
comarca%3D700%26num_processo_mask%3D70069092948%26num_processo%3D700690929
48%26codEmenta%3D6880542+uni%C3%A3o+est%C3%A1vel+e+marco+inicial++++&proxys
tylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-8&lr=lang_pt&site=ementario&access=p&oe=UTF-
8&numProcesso=70069092948&comarca=Comarca%20de%20Campo%20Bom&dtJulg=28/07/2016&re
lator=Rui%20Portanova&aba=juris>. Acesso em: 22 ago. 2016)
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falar ou cogitar em presunção de esforços conjuntos ou mesmo em comunicabili-


dade. Eventual aquisição anterior ao casamento pode, se for o caso, dar ensejo ao
reconhecimento de existência de condomínio, questão a ser perseguida em ação
própria perante o juízo competente, se for do interesse das partes. Precedentes.
Negaram provimento.” (TJRS, AC 70063803829, 8ª C.Cív., Rel. José Pedro de
Oliveira Eckert, J. 23.04.2015)
Por isso, no ponto o apelo vai desprovido.

Outros requisitos caracterizadores da união estável trazidos pela doutrina


podem ser verificados no âmbito das discussões do Superior Tribunal de Justiça
a respeito da matéria25:
É o que, claramente, se constata dos seguintes excertos do aresto proferido na
origem:
[...] para que a união seja alçada à condição de entidade familiar, valorizada e
em várias situações equiparada ao casamento, é exigido atendimento a quatro

25 “Embargos de declaração. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Ação de reconhecimento de


união estável. Improcedência, na origem. Ausência de demonstração da presença dos requisitos legais
necessários à configuração da união estável (convivência pública, contínua, duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família), cujo ônus incumbia à demandante. 1. Negativa de prestação jurisdicional.
Não reconhecimento. Acórdão embargado que não padece de qualquer vício de julgamento. 2. Pretensão
de revolvimento da matéria fático-probatória. Verificação. Impossibilidade. 3. Dissídio jurisprudencial. Não
comprovação. 4. Aclaratórios com finalidade de prequestionamento para viabilizar futuro manejo de recurso
extraordinário. Descabimento. 5. Embargos de declaração rejeitados. 1. O Tribunal de origem, valendo-se do
acervo probatório reunido nos autos – considerado como um todo, e não apenas a partir de determinado excerto
do depoimento de uma ou outra testemunha –, reconheceu não restar demonstrado nos autos a presença
concomitante dos requisitos previstos em lei para a configuração de união estável, cujo ônus cabia à parte
demandante. 1.1. A Corte local, em atenção ao próprio depoimento pessoal da autora, assim como à prova
testemunhal produzida nos autos, concluiu ser ‘insuficiente para demonstrar a existência de convivência more
uxore duradoura e notória entre a apelada e o companheiro de molde a permitir o reconhecimento da união
estável’. Especificamente sobre o requisito subjetivo para a configuração da união estável (relacionamento
estabelecido com o objetivo de constituição da família), a Corte estadual, também com base no acervo
probatório reunido nos autos, não identificou ‘qualquer prova documental a respeito da convivência revestida
de affectio maritalis’. 1.2. A fundamentação, nestes termos, exarada pelo Tribunal não encerra omissão ou
contradição, tal como sugere a ora embargante. Por conseguinte, o acórdão ora embargado, ao reconhecer a
inexistência de negativa de prestação jurisdicional, de igual modo, não padece de qualquer vício de julgamento.
2. Sem respaldo nos autos a argumentação tecida pela ora embargante de que o acórdão recorrido teria
conferido interpretação restritiva ao art. 1.723 do Código Civil, pois a constatação da ausência de coabitação
consubstanciou, apenas, mais um elemento de convicção, a corroborar a conclusão de não preenchimento
dos requisitos legais necessários para a configuração da união estável. O reconhecimento da caracterização
da união estável, nos termos deduzidos pela ora embargante, demanda, de fato, o revolvimento da matéria
fático-probatória estabelecida nos autos, proceder vedado pelo Enunciado nº 7 da súmula do STJ. 3. O
acórdão embargado, igualmente, não merece censura quanto à não comprovação do dissídio jurisprudencial
nos moldes exigidos pelo art. 541 do CPC, pois, além de a recorrente não ter efetuado o necessário cotejo
analítico, a evidenciar a similitude fática dos arestos confrontados, cujas decisões seriam díspares, é certo
que o acórdão embargado não alçou a ‘coabitação’ a requisito legal, para a configuração da união estável, tal
como sustenta a embargante. 4. Na esteira da uníssona jurisprudência desta Corte de Justiça, os embargos
de declaração não constituem instrumento adequado ao prequestionamento, com vistas à futura interposição
de recurso extraordinário, razão pela qual, para tal escopo, também não merecem prosperar. 5. Embargos de
declaração rejeitados.” (BRASIL. STJ, EDcl-AgRg-AREsp 517436/RJ, 3ª T., Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
J. 21.05.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=
ITA&sequencial=1409962&num_registro=201401157410&data=20150612&formato=HTML>. Acesso
em: 9 mar. 2016)
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requisitos fundamentais, quais sejam, que a convivência seja duradoura, pública,
contínua e, finalmente, que tenha o objetivo de constituir família.
[...]
Assim não é qualquer relação que nosso ordenamento jurídico admite como
união estável, ainda que revestida de afeto, como são a amizade, o namoro, o
noivado.
Exige-se, pois, convivência duradoura, pública, contínua e, finalmente, que te-
nha o objetivo de constituir família.
No caso concreto, contudo, a prova testemunhal se apresenta insuficiente para
demonstrar a existência de convivência more uxore duradoura e notória entre
a apelada e o companheiro de molde a permitir o reconhecimento de união
estável.
A própria testemunha arrolada pela apelada, [...], que há 16 anos trabalha como
porteiro no edifício em que residia [...], não soube afirmar se este último e a re-
corrida mantinham relacionamento de “marido e mulher”.
[...]
Além disso, a própria apelada presta informações contraditórias, ora afirmando
que residia com o companheiro, ora que residia com sua irmã, ressaltando que
a maior parte de seus pertences estava na casa da irmã e que não retornou à
residência de seu companheiro depois da morte deste, sendo certo que não se
encontrava presente por ocasião de seu falecimento e sepultamento.
[...], testemunha arrolada pela recorrida, apesar de assegurar que “fez, durante
vários anos, o imposto de renda do Dr. Djalma” e afirmar que “Djalma convivia
com a autora”, nada detalhou acerca deste relacionamento, sendo certo que, ao
final, ressaltou “que nunca esteve na residência do casal” (cf. fls. 65).
Como se vê, a prova testemunhal não demonstra a existência de relacionamento
característico da união estável.
Em se analisando o feito, também não se vislumbra qualquer prova documental
a respeito da convivência revestida de affectio maritalis entre [...] e [...], não
convencendo o argumento de que o companheiro não gostava de tirar fotos, ine-
xistindo qualquer registro das “muitas” viagens realizadas por ambos.
Inexistindo prova capaz de conduzir a um juízo de certeza, mostra-se incabível o
reconhecimento da união estável.

A coabitação também não é requisito automático para a configuração da


união estável26. Importante, também, o alerta sobre a Súmula nº 07 do STJ, que

26 “Agravo regimental no agravo em recurso especial. União estável. Ausência de provas do intuito de constituir
família. Revisão. Impossibilidade. Súmula nº 7/STJ. 2. Agravo improvido. 1. Nos termos do art. 1º da Lei
nº 9.278/1996, bem assim da jurisprudência desta Casa, a coabitação não constitui requisito necessário
para a configuração da união estável, devendo encontrarem-se presentes, obrigatoriamente, outros relevantes
elementos que denotem o imprescindível intuito de constituir uma família. Precedentes. 2. Na espécie,
18 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

veda, em sede de recurso especial, o reexame da prova. Portanto, em sendo


reconhecida, ou não, a união estável, no Tribunal de origem, não cabe à Corte
a revisão da decisão, no ponto27.
Por fim, mas importantíssimo sempre lembrar, o Superior Tribunal de
Justiça, valorizando e ressaltando a jurisprudência do Supremo Tribunal Fede-
ral, considerando a Constituição Federal de 1988, em relação às uniões entre
pessoas do mesmo sexo28:

concluíram as instâncias de origem não se encontrarem presentes os requisitos necessários para a configuração
de união estável. A coabitação foi reconhecida como ato de mera conveniência, ostentando as partes apenas
um relacionamento de namoro. Para derruir as premissas firmadas, necessário o reexame de fatos e provas,
providência vedada nos termos do Enunciado nº 7 da súmula do Superior Tribunal de Justiça. Precedentes.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.” (BRASIL. STJ, AgRg-AREsp 649786/GO, 3ª T., Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, J. 04.08.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ITA&sequencial=1423817&num_registro=201500046037&data=20150818&for
mato=HTML>. Acesso em: 9 mar. 2016)
27 “Processual civil e civil. Agravo regimental no agravo em recurso especial. Apreciação de todas as questões
relevantes da lide pelo Tribunal de origem. Ausência de afronta ao art. 535 do CPC. União estável. Presença
dos requisitos. Reexame do conjunto fático-probatório dos autos. Inadmissibilidade. Incidência da Súmula
nº 7/STJ. Decisão mantida. 1. Inexiste afronta ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido analisou
todas as questões pertinentes para a solução da lide, pronunciando-se, de forma clara e suficiente, sobre a
controvérsia estabelecida nos autos. 2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem
revolvimento do contexto fático-probatório dos autos (Súmula nº 7 do STJ). 3. No caso concreto, o Tribunal
de origem examinou a prova dos autos para concluir que foram preenchidos os requisitos para caracterização
de união estável. Alterar tal entendimento demandaria nova análise dos elementos fáticos, inviável em recurso
especial. 4. ‘A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que a existência de casamento válido
não obsta o reconhecimento da união estável, quando há separação de fato ou judicial entre os casados’
(AgRg-EDcl-AgRg-AREsp 710.780/RS, 4ª T., Rel. Min. Raul Araújo, J. 27.10.2015, DJe 25.11.2015).
5. Agravo regimental a que se nega provimento.” (BRASIL. STJ, AgRg-AREsp 64546/RJ, 4ª T., Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, J. 15.12.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/
mediado/?componente=ITA&sequencial=1475666&num_registro=201102408036&data=20151218&for
mato=HTML>. Acesso em: 9 mar. 2016)
28 “Direito de família e processual civil. União entre pessoas do mesmo sexo (homoafetiva) rompida. Direito
a alimentos. Possibilidade. Art. 1.694 do CC/2002. Proteção do companheiro em situação precária e de
vulnerabilidade. Orientação principiológica conferida pelo STF no julgamento da ADPF 132/RJ e da ADIn
4.277/DF. Alimentos provisionais. Art. 852 do CPC. Preenchimento dos requisitos. Análise pela instância de
origem. 1. No Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, são reiterados os julgados dando
conta da viabilidade jurídica de uniões estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo, sob a égide
do sistema constitucional inaugurado em 1988, que tem como caros os princípios da dignidade da pessoa
humana, a igualdade e repúdio à discriminação de qualquer natureza. 2. O Supremo Tribunal Federal, no
julgamento conjunto da ADPF 132/RJ e da ADIn 4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002
interpretação conforme à Constituição para dele excluir todo significado que impeça o reconhecimento da
união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta
como sinônimo perfeito de família; por conseguinte, ‘este reconhecimento é de ser feito segundo as mesmas
regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva’. 3. A legislação que regula a união
estável deve ser interpretada de forma expansiva e igualitária, permitindo que as uniões homoafetivas tenham
o mesmo regime jurídico protetivo conferido aos casais heterossexuais, trazendo efetividade e concreção
aos princípios da dignidade da pessoa humana, da não discriminação, igualdade, liberdade, solidariedade,
autodeterminação, proteção das minorias, busca da felicidade e ao direito fundamental e personalíssimo
à orientação sexual. 4. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à
autoafirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias, sendo o alicerce jurídico para
a estruturação do direito à orientação sexual como direito personalíssimo, atributo inseparável e incontestável
da pessoa humana. Em suma: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se for garantido o
direito à diferença. 5. Como entidade familiar que é, por natureza ou no plano dos fatos, vocacionalmente
amorosa, parental e protetora dos respectivos membros, constituindo-se no espaço ideal das mais duradouras,
afetivas, solidárias ou espiritualizadas relações humanas de índole privada, o que a credenciaria como base
da sociedade (ADIn 4277/DF e ADPF 132/RJ), pelos mesmos motivos, não há como afastar da relação de
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 19
[...] são reiterados os julgados dando conta da viabilidade jurídica de uniões
estáveis formadas por companheiros do mesmo sexo, sob a égide do sistema
constitucional inaugurado em 1988, que tem como caros os princípios da dig-
nidade da pessoa humana, a igualdade e repúdio à discriminação de qualquer
natureza. [...].

2.1 NAMORO, NAMORO QUALIFICADO E CONTRATO DE NAMORO


Vimos, então, no tópico anterior, os requisitos que devem ser compro-
vados pela parte que busca o reconhecimento da união estável, esta, inclusive,
como forma de família. Todavia, o debate continua, desta vez em sede do na-
moro e de suas definições e consequências na vida dos interessados.
Os estudos de Rolf Madaleno elucidam bem a questão sobre o signi-
ficado do namoro. Na verdade, tal condição revela, sim, o envolvimento de
determinado casal, mas de forma recente, além de “[...] baseado em pouco ou
nenhum conhecimento um do outro, tratando-se, de realidade, de um período
experimental, que, posteriormente, nas gerações que ficaram para trás, era subs-
tituído pelo noivado [...]”29.
Mas a relação pode evoluir ou então chegar a um outro nível, estágio,
sem, contudo, caracterizar-se como união estável. É o que a doutrina denomina
de namoro estável ou qualificado (conforme abaixo analisaremos decisão do
STJ neste sentido) e que vem neste sentido:
[...] reservado para aqueles pares que querem ter o direito de não assumirem
qualquer compromisso entre eles e muito menos tencionam constituir família,

pessoas do mesmo sexo a obrigação de sustento e assistência técnica, protegendo-se, em última análise,
a própria sobrevivência do mais vulnerável dos parceiros. 6. O direito a alimentos do companheiro que se
encontra em situação precária e de vulnerabilidade assegura a máxima efetividade do interesse prevalente,
a saber, o mínimo existencial, com a preservação da dignidade do indivíduo, conferindo a satisfação de
necessidade humana básica. O projeto de vida advindo do afeto, nutrido pelo amor, solidariedade,
companheirismo, sobeja obviamente no amparo material dos componentes da união, até porque os alimentos
não podem ser negados a pretexto de uma preferência sexual diversa. 7. No caso ora em julgamento, a
cautelar de alimentos provisionais, com apoio em ação principal de reconhecimento e dissolução de união
estável homoafetiva, foi extinta ao entendimento da impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que ‘não há
obrigação legal de um sócio prestar alimentos ao outro’. 8. Ocorre que uma relação homoafetiva rompida pode
dar azo ao pensionamento alimentar e, por conseguinte, cabível, em processo autônomo, que o necessitado
requeira sua concessão cautelar com a finalidade de prover os meios necessários ao seu sustento durante a
pendência da lide. 9. As condições do direito de ação jamais podem ser apreciadas sob a ótica do preconceito,
da discriminação, para negar o pão àquele que tem fome em razão de sua opção sexual. Ao revés, o exame
deve-se dar a partir do ângulo constitucional da tutela da dignidade humana e dos deveres de solidariedade
e fraternidade que permeiam as relações interpessoais, com o preenchimento do binômio necessidade do
alimentário e possibilidade econômica do alimentante. 10. A conclusão que se extrai no cotejo de todo
ordenamento é a de que a isonomia entre casais heteroafetivos e pares homoafetivos somente ganha plenitude
de sentido se desembocar no igual direito subjetivo à formação de uma autonomizada família (ADIn 4277/DF
e ADPF 132/RJ), incluindo-se aí o reconhecimento do direito à sobrevivência com dignidade por meio do
pensionamento alimentar. 11. Recurso especial provido.” (BRASIL. STJ, REsp 1302467/SP, 4ª T., Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, J. 03.03.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/me
diado/?componente=ITA&sequencial=1386766&num_registro=201200026714&data=20150325&forma
to=HTML>. Acesso em: 9 mar. 2016)
29 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1222.
20 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

embora estejam sempre juntos em viagens e principalmente em finais de semana,


e que rotineiramente pernoitam na habitação um do outro, e frequentam as festas
familiares em comum.

A definição deve ser vista atentamente, afinal, somada à hipótese acima,


se não há entre o casal contas conjuntas e, por consequência, endereços pró-
prios e individuais, dependência, por exemplo, na previdência social e ausência
da vontade de ter filhos, mesmo considerando que o namoro seja prolongado
“[...] e com congresso íntimo, não induz ao estabelecimento de uma união es-
tável”, esta que exige pressupostos mais sólidos. O namoro, portanto, é projeto
de vida30.
Pela leitura, podemos perceber que, tanto para a configuração de união
estável como para a configuração do namoro qualificado, o que importa, na
verdade, é a realidade, o comportamento do casal31. Assim, tal debate, como
não poderia deixar, gira em torno do denominado contrato de namoro.
Maria Berenice Dias alerta que, “desde a regulamentação da união está-
vel, levianas afirmativas de que simples namoro ou relacionamento fugaz po-
dem gerar obrigações de ordem patrimonial provocaram pânico”. Ocorro que,
tendo em vista situações de insegurança, os casais de namorados começaram a
realizar os contratos de namoro
[...] para assegurar ausência de comprometimento recíproco e a incomunicabili-
dade do patrimônio presente e futuro. A consequência deste tipo de pactuação,
contudo, é a ausência de qualquer valor bem como a monetarização, de forma
singela, à relação de afeto.32

O que acontece, o objetivo, na elaboração destes contratos de namoro


é a vontade de se evitar ou de se afastar os efeitos jurídicos da relação. O que
ocorre, portanto, é que tais efeitos do próprio comportamento entre o casal que
vem a viver como se marido e mulher fosse, e não de um contrato. Portanto, em
preenchidos os requisitos do art. 1.723 do Código Civil, a realidade apresenta,
sim, uma união estável e que se sobrepõe ao pacto33.
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho também analisam o
contrato de namoro e, no mesmo sentido da doutrina aqui trazida, referem que
o objetivo de tal pactuação é o de afastar a incidência das normas do direito de
família e, neste sentido, são suas relevantes lições34:

30 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1223.
31 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1223.
32 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 186.
33 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1224.
34 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 21
E, precisamente por conta do receio de caírem na malha jurídica da união es-
tável, muitos casais brasileiros convencionaram celebrar, em livro de notas de
Tabelião, o denominado “contrato de namoro”, negócio jurídico firmado com o
nítido propósito de afastarem o regramento do direito de família.
Mas, conforme já observado [...], a união estável é um fato da vida e, como tal, se
configurada, não será uma simples declaração negocial de vontade instrumento
hábil para afastar o regramento de ordem pública que rege este tipo de entidade
familiar.

Os autores acima citados, analisando mais a fundo as eventuais conse-


quências do contrato de namoro, ponderam no sentido de não desconsiderá-lo
completamente, eis que tal instrumento pode servir, pode auxiliar o Magistrado
“[...] a investigar o animus das partes envolvidas, mas não é correto considerá-
-lo, numa perspectiva hermética e absoluta, uma espécie de salvo-conduto dos
namorados”35.
Esse debate já chegou ao Tribunal de Justiça de São Paulo e, como mere-
ce destaque a controvérsia, trazemos a decisão da Corte neste sentido. O debate
girou em torno de pedido de homologação e dissolução de contrato de namoro.
Resumidamente, o Tribunal entendeu por extinguir o feito sem a resolução do
mérito em decorrência da impossibilidade jurídica do pedido que cerca tal pac-
to, tal como pode ocorrer para as hipóteses de uniões estáveis36:
No caso, o pedido posto na inicial é de ação de reconhecimento e dissolução
de contrato de namoro consensual. Essa pretensão não encontra amparo no or-
denamento jurídico, não podendo ser posta em juízo para solução pelo Poder
Judiciário. Como bem salientou o il. Magistrado: “[...] A impossibilidade jurídica
do pedido decorre da ausência de previsão legal que reconheça o denominado
‘contrato de namoro’. Ademais, a hipótese não se assemelha ao reconhecimento
e dissolução de sociedade de fato para que os autos possam ser encaminhados
a uma das Varas de Família da comarca, haja vista que se trata de ‘contrato’,
diga-se, não juntado aos autos, parecendo se tratar de contrato verbal [...]. A
preocupação dos requerentes, notadamente a do autor, no sentido de encerrar
a relação havida de modo a prevenir outras demandas, o que o requerente não
quer que ocorra ‘em hipótese nenhuma’ (sic) (último parágrafo de fl. 2) não bas-
ta para pedir o provimento jurisdicional, desnecessário para o fim colimado”.
(fl. 14). Portanto, correta a sentença que deve ser mantida por seus próprios e
jurídicos fundamentos.

35 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
36 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
“Ação de reconhecimento e dissolução de contrato de namoro consensual. Falta de interesse de agir e
impossibilidade jurídica do pedido. Inicial indeferida. Processo julgado extinto. Sentença mantida. Recurso
desprovido.” (BRASIL. TJSP, AC 1025481-13.2015.8.26.0554, 3ª CDPriv., Rel. Des. Beretta da Silveira,
J. 28.06.2016. Disponível em: < https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=9559002&cdForo=
0&vlCaptcha=fysjv>. Acesso em: 19 ago. 2016)
22 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

2.2 O NAMORO QUALIFICADO SEGUNDO O STJ


A importância sobre o conceito de união estável e os seus pressupostos
são muito importantes para que se trace um paralelo com o instituto do namoro
qualificado, tese que foi defendida e acolhida pelo Superior Tribunal de Justi-
ça, conforme se observa da leitura do REsp 1454643/RJ. A discussão girou em
torno de pedido de reconhecimento e dissolução de união estável anterior ao
casamento. O namoro qualificado é que restou caracterizado, eis que, para a
união estável e segundo o entendimento do ministro, deve-se, entre outros, ter
presente o intuito de constituição de família, e não para o futuro, não meras
expectativas. Merece, portanto, a transcrição de parte do julgado, neste ponto,
eis que esclarecedor37:

37 “Recurso especial e recurso especial adesivo. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável,
alegadamente compreendida nos dois anos anteriores ao casamento, c/c partilha do imóvel adquirido nesse
período. 1. Alegação de não comprovação do fato constitutivo do direito da autora. Prequestionamento.
Ausência. 2. União estável. Não configuração. Namorados que, em virtude de contingências e interesses
particulares (trabalho e estudo) no exterior, passaram a coabitar. Estreitamento do relacionamento, culminando
em noivado e, posteriormente, em casamento. 3. Namoro qualificado. Verificação. Repercussão patrimonial.
Inexistência. 4. Celebração de casamento, com eleição do regime da comunhão parcial de bens. Termo a
partir do qual os então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por bem consolidar, consciente
e voluntariamente, a relação amorosa vivenciada, para constituir, efetivamente, um núcleo familiar, bem
como comunicar o patrimônio haurido. Observância. necessidade. 5. Recurso especial provido, na parte
conhecida; e recurso adesivo prejudicado. 1. O conteúdo normativo constante dos arts. 332 e 333, II, da lei
adjetiva civil, não foi objeto de discussão ou deliberação pela instância precedente, circunstância que enseja
o não conhecimento da matéria, ante a ausência do correlato e indispensável prequestionamento. 2. Não se
denota, a partir dos fundamentos adotados, ao final, pelo Tribunal de origem (por ocasião do julgamento dos
embargos infringentes), qualquer elemento que evidencie, no período anterior ao casamento, a constituição
de uma família, na acepção jurídica da palavra, em que há, necessariamente, o compartilhamento de
vidas e de esforços, com integral e irrestrito apoio moral e material entre os conviventes. A só projeção da
formação de uma família, os relatos das expectativas da vida no exterior com o namorado, a coabitação,
ocasionada, ressalta-se, pela contingência e interesses particulares de cada qual, tal como esboçado pelas
instâncias ordinárias, afiguram-se insuficientes à verificação da affectio maritalis e, por conseguinte, da
configuração da união estável. 2.1 O propósito de constituir família, alçado pela lei de regência como requisito
essencial à constituição da união estável – a distinguir, inclusive, esta entidade familiar do denominado
‘namoro qualificado’ –, não consubstancia mera proclamação, para o futuro, da intenção de constituir uma
família. É mais abrangente. Esta deve se afigurar presente durante toda a convivência, a partir do efetivo
compartilhamento de vidas, com irrestrito apoio moral e material entre os companheiros. É dizer: a família
deve, de fato, restar constituída. 2.2. Tampouco a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma
união estável (ainda que possa vir a constituir, no mais das vezes, um relevante indício), especialmente se
considerada a particularidade dos autos, em que as partes, por contingências e interesses particulares (ele,
a trabalho; ela, pelo estudo) foram, em momentos distintos, para o exterior, e, como namorados que eram,
não hesitaram em residir conjuntamente. Este comportamento, é certo, revela-se absolutamente usual nos
tempos atuais, impondo-se ao Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se à realidade social. 3. Da
análise acurada dos autos, tem-se que as partes litigantes, no período imediatamente anterior à celebração
de seu matrimônio (de janeiro de 2004 a setembro de 2006), não vivenciaram uma união estável, mas sim
um namoro qualificado, em que, em virtude do estreitamento do relacionamento projetaram para o futuro – e
não para o presente –, o propósito de constituir uma entidade familiar, desiderato que, posteriormente, veio
a ser concretizado com o casamento. 4. Afigura-se relevante anotar que as partes, embora pudessem, não se
valeram, tal como sugere a demandante, em sua petição inicial, do instituto da conversão da união estável
em casamento, previsto no art. 1.726 do Código Civil. Não se trata de renúncia como, impropriamente,
entendeu o voto condutor que julgou o recurso de apelação na origem. Cuida-se, na verdade, de clara
manifestação de vontade das partes de, a partir do casamento, e não antes, constituir a sua própria família.
A celebração do casamento, com a eleição do regime de comunhão parcial de bens, na hipótese dos autos,
bem explicita o termo a partir do qual os então namorados/noivos, maduros que eram, entenderam por bem
consolidar, consciente e voluntariamente, a relação amorosa vivenciada para constituir, efetivamente, um
núcleo familiar, bem como comunicar o patrimônio haurido. A cronologia do relacionamento pode ser assim
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 23

Conforme se denota do excerto inicialmente reproduzido, o Tribunal de origem,


ao julgar os embargos infringentes, entendeu por bem reconhecer a existência
de união estável durante o período imediatamente anterior ao casamento de M.
A. B. e P. A. de O. B., basicamente porque demonstrado, no aludido interregno,
que o relacionamento entabulado entre eles, além de público, duradouro e con-
tínuo, deu-se sob a mesma residência. Segundo a fundamentação adotada pela
Corte estadual, ainda, o intuito de constituir família teria restado evidenciado,
em especial, pela mensagem, via e-mail, encaminhada por M. aos pais de P., “de
que estariam apostando no futuro”, bem como pela confirmação, no depoimento
pessoal do requerido, de que, em tal período, efetivamente coabitaram.
Permissa venia, o propósito de constituir família, alçado pela lei de regência
como requisito essencial à constituição da união estável – a distinguir, inclusive,
esta entidade familiar do denominado “namoro qualificado” –, não consubstan-
cia mera proclamação, para o futuro, da intenção de constituir uma família. É
mais abrangente. Esta deve se afigurar presente durante toda a convivência, a
partir do efetivo compartilhamento de vida, com irrestrito apoio moral e material
entre os companheiros. É dizer: a família deve, de fato, restar constituída.
No ponto, oportuno citar o escólio de autorizada doutrina, que, em comentário
ao “objetivo de constituir família”, como requisito para a constituição da união
estável, bem elucida a necessidade da efetiva concretização da família – e não a
mera projeção desta para o futuro –, bem como, em muitos casos, a irrelevância
da coabitação.

Paulo Lôbo acentua a preocupação sobre se identificar se determinada


relação caracteriza-se como namoro ou união estável, dadas as consequências
para a vida do casal. Inclusive, ressalta o mestre que a hipótese de namoro não
se enquadra como entidade familiar. Portanto, o namoro permanece apenas
no mundo dos fatos, não criando deveres e direitos, tal e qual ocorre para a
hipótese de união estável38. Do mesmo modo, percebemos que, para a hipótese
de namoro qualificado, como utilizada pelo STJ, afasta a incidência do ordena-
mento jurídico.
Em decorrência da importância ímpar que tem a união estável e suas
consequências é que passou a ganhar relevo e também proteção da ordem ju-

resumida: namoro, noivado e casamento. E, como é de sabença, não há repercussão patrimonial decorrente
das duas primeiras espécies de relacionamento. 4.1 No contexto dos autos, inviável o reconhecimento da
união estável compreendida, basicamente, nos dois anos anteriores ao casamento, para o único fim de
comunicar o bem então adquirido exclusivamente pelo requerido. Aliás, a aquisição de apartamento, ainda
que tenha se destinado à residência dos então namorados, integrou, inequivocamente, o projeto do casal de,
num futuro próximo, constituir efetivamente a família por meio do casamento. Daí, entretanto, não advém à
namorada/noiva direito à meação do referido bem. 5. Recurso especial provido, na parte conhecida. Recurso
especial adesivo prejudicado.” (BRASIL. STJ, REsp 1454643/RJ, 3ª T., Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
J. 03.03.2015. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=
ITA&sequencial=1385925&num_registro=201400677815&data=20150310&formato=HTML>. Acesso
em: 8 mar. 2016)
38 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 157.
24 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

rídica. Por tal razão, Arnoldo Wald e Priscila Corrêa da Fonseca ressaltam que
tal instituto não pode ser objeto de banalização “[...] a ponto de ter seus efeitos
estendidos aos casos de namoro”, estes que diferem diametralmente da posse
de estado de casados e da intenção de constituição de família39.

CONCLUSÃO
Os requisitos configuradores da união estável são trazidos pelo ordena-
mento, como pudemos analisar neste artigo, tanto à luz da doutrina como da ju-
risprudência. Contudo, a existência de relações, ou seja, o caso concreto é que
deve ser analisado detalhadamente no sentido de sabermos o real significado e
extensão que a relação terá, no sentido de ser entendida e protegida como enti-
dade familiar, como nos casos de união estável, ou então de afastar a exigência
de direitos e deveres, eis que caracterizada a união como namoro, mesmo que
qualificado, incluída aí a coabitação.
A vontade de um dos integrantes da relação pode ser irrelevante para a
não caracterização de uma união estável, por exemplo, se os fatos provarem em
sentido contrário.
Assim como ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho,
confrontando os requisitos da união estável com a condição de namoro, afir-
mam, para os primeiros, o essencial objetivo de constituição de família, que
difere da instabilidade que gira em torno do namoro40. Portanto, temos de ana-
lisar cuidadosa e objetivamente o caso concreto no sentido de verificação dos
requisitos autorizadores da união estável, objetivando a adequação das normas
protetivas do direito de família, sob pena de desvirtuamento do namoro em face
das entidades familiares.
O tema está lançado e, evidentemente, não temos a intenção de esgotá-
-lo, e sim de contextualizá-lo, tendo em vista a decisão do STJ trazida e anali-
sada.

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. São Paulo: Atlas,
2013.
BITTAR, Carlos Alberto. Novos rumos do direito de família. In: BITTAR, Carlos Alberto
(Coord.). O direito de família e a Constituição de 1988. São Paulo: Saraiva, 1989.

39 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, v. 5, 2013. p. 400.
40 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 434.
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 25
BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. DF, 1º jan. 2002. Dis-
ponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>.
______. Constituição da República Federativa do Brasil. 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 5
fev. 2014.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos
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ESPÍNOLA, Eduardo. A família no direito civil brasileiro. Atualizado por Ricardo
Rodrigues Gama. Campinas: Bookseller, 2001.
LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
NORONHA, Carlos Silveira. As contribuições da canonística às instituições jurídicas
estatais (Dir.). Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre: Sulina, v. 30,
nov. 2012.
______. Fundamentos e evolução histórica da família na ordem jurídica. Direito &
Justiça, v. 20, a. XXI, 1999.
PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias
em perspectiva constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de direito de família: direito
matrimonial. In: ALVES, Vilson Rodrigues (Atual). São Paulo: Bookseller, v. 1, 2001.
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 3. ed. São Paulo:
Gen/Método, 2013.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de família. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família.
18. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5, 2013.
Assunto Especial – Doutrina
Namoro Qualificado

Namoro Simples, Namoro Qualificado e União Estável: o Requisito


Subjetivo de Constituir Família
MARIA CABRAL
Advogada, Pós-Graduada em Direito de Família e Sucessões e Direito Processual Civil, Atua-
ção nas áreas Cível, de Direito de Família e Sucessões, Administrativa e de Mudança de Nome
(Retificação de Registros Públicos).

Na sociedade moderna, alguns costumes e valores foram alterados, como


o namoro, que atualmente vem sofrendo mudanças. Podemos verificar que o
namoro atual, em muitos casos, permite a prática sexual e a convivência, desde
encontros casuais até relacionamentos mais sérios com intenção de constituir
família.
Nesse sentido, o namoro simples se enquadra em um relacionamento
aberto, às escondidas ou sem compromisso, e não se confunde com a união
estável. Já o namoro qualificado é aquele com convivência contínua e sólida
perante a sociedade, que se confunde muito com a união estável pelos mes-
mos requisitos objetivos, quais sejam, ausência de impedimentos matrimoniais
e convivência duradoura, pública e contínua.
A diferença existente entre o namoro qualificado e a união estável é o
requisito subjetivo, ou seja, a vontade de constituir família, a qual deverá ser
consumada, pois, além da existência da afetividade, esta se concretiza com a
mútua assistência em que o casal seja referência de família no meio social.
Vale ressaltar que a união estável é uma forma de constituição de família,
conforme reza o Código Civil:
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem
e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabe-
lecida com o objetivo de constituição de família.

Já o namoro não é considerado uma entidade familiar, pois não existe


a affectio maritalis, que é a afeição conjugal ou o fito de se constituir família,
embora neste tipo de relacionamento estejam presentes algumas características
como estabilidade, intimidade e convivência.
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 27
Para diferenciar a união estável do namoro qualificado, é necessário que
seja avaliado cada caso em especial, sendo necessária a presença concomitante
de todos os requisitos para reconhecer a união estável, pois, exteriormente, am-
bos se assemelham muito. Deve-se atentar não apenas ao vínculo afetivo, mas,
principalmente, ao elemento interno do animus, que é a vontade de constituir
família, por meio de características externas e públicas, como os compromissos
assumidos na vida e no patrimônio, a coabitação e, em tese, o pacto de fideli-
dade, em que se demonstra o entrelaçamento de interesses e de vidas. Não é
apenas o ânimo interno, mas também a aparência em fatos e atos da vida em
comum. Essa é a linha tênue que separa o namoro da união estável.
As diferenças que norteiam ambos causam consequências, ou seja, na
união estável, os companheiros têm direito a alimentos, meação de bens e he-
rança, enquanto no namoro não existe esta possibilidade, exceto quando exista
alguma contribuição financeira no futuro do casal que, com o fim do namoro,
cause algum prejuízo de ordem material, podendo existir ressarcimento.
Assunto Especial – Doutrina
Namoro Qualificado

Diferenciação entre Namoro Qualificado e União Estável


PRISCILA DE ARAÚJO SATIL
Advogada.

SUMÁRIO: Introdução; 1 Diferença entre namoro qualificado e união estável; 2 Requisitos para ca-
racterização da união estável; 2.1 Visão doutrinária e jurisprudencial; 3 Eficácia jurídica do contrato
de convivência; 4 Consequência jurídica decorrente do reconhecimento de um ou outro instituto;
Conclusão; Referências.

INTRODUÇÃO
A união estável é um instituto que ganhou novos contornos a partir da
Constituição da República de 1988, em que aparece como entidade familiar, e
depois o Código Civil veio tratar do tema, mas em poucos artigos.
O reconhecimento da união traz reflexos imediatos e até mesmo retroati-
vos, tanto patrimoniais quanto pessoais, na vida do casal, por isso, é tão impor-
tante estabelecer a distinção entre namoro qualificado e união estável, uma vez
que a diferença entre os dois institutos é muito tênue, e o reconhecimento de
um ou de outro traz consequências diferentes para a vida do par.
Serão abordados, no presente trabalho, os requisitos que envolvem a
união estável como entidade familiar, bem como as decisões jurisprudenciais e
a visão dos doutrinadores a respeito do tema e a possibilidade da existência de
um contrato de convivência para regularização de tal instituto.

1 DIFERENÇA ENTRE NAMORO QUALIFICADO E UNIÃO ESTÁVEL


Primeiramente, namoro é a relação entre pessoas, considerado sob o
ponto de vista jurídico como relacionamento amoroso informal, que tem como
objetivo a troca de experiências. É uma convivência com o outro muito inferior
ao matrimônio. É a etapa que antecede o casamento e a união estável, incapaz,
por si só, de produzir efeitos entre seus pares, ainda que dure anos, vez que
nenhum dos envolvidos perde sua individualidade e liberdade perante o outro,
tanto que, para namorar, basta o simples consentimento do outro.
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 29
O namoro qualificado é uma relação em que, para que seja caracteri-
zada, é necessário que estejam presentes a publicidade, a continuidade e a
durabilidade, não importando a quantidade de anos, como foi salientado an-
teriormente, e não traz nenhuma vinculação patrimonial, pois o par não tem o
objetivo de constituir uma família.
Já a união estável é reconhecida pela Constituição Federal, em seu
art. 226, § 3º, como entidade familiar, juntamente com o casamento e a famí-
lia monoparental, e os requisitos para sua caracterização estão presentes no
art. 1.723 do Código Civil. É um instituto que está sujeito a várias transforma-
ções, mas tentando defini-la, talvez pudesse se dizer que seria a convivência de
fato entre um homem e uma mulher, (ou pessoas do mesmo sexo), convivência
esta que deve ser pública, contínua e duradoura, vivendo ou não sob o mesmo
teto, sem vínculo matrimonial, estabelecido com o objetivo de constituição de
família, desde que possa ser convertida em casamento, por não haver impedi-
mento legal.
O casamento possui um termo inicial para sua caracterização, que é a
celebração do matrimônio, e é composto de direitos e deveres diferentes da
união estável, qual sejam eles: o Código Civil de 2002 exige para o casamento
deveres de fidelidade recíproca, vida em comum no domicilio conjugal, a mú-
tua assistência e respeito (art. 1.566 do CC); já para a união estável, prevê os
deveres da lealdade, respeito e assistência (art. 1.724) e, em comum, a obriga-
ção de sustento, guarda e educação dos filhos.
Portanto, o namoro qualificado difere da união estável porque naquele
não existe a intenção de formar família e o par não quer assumir compromisso
formal; chamou-se de qualificado justamente por estarem presentes quase todas
as características da convivência marital de fato, exceto a ausência do objetivo
de constituição de família. Já a união estável difere do casamento por ser uma
relação de pessoas que optam por viverem juntas sem solenidades legais, que
nasce da convivência e não tem um termo inicial pré-estabelecido. Enquanto o
casamento se inicia com a celebração do casamento, a união é um casamento
de fato, que produz efeitos típicos de uma relação familiar, obtendo a mes-
ma proteção que for dispensada a qualquer núcleo familiar. Na união estável,
tem-se a mesma conduta pública e privada, a mesma comunhão de vida e as
mesmas expectativas afetivas do casamento. Até mesmo porque tudo o que um
casamento pretende é ser uma união estável, diferenciando-se apenas pela exi-
gência de solenidade para a constituição.

2 REQUISITOS PARA CARACTERIZAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL


A Constituição Federal, no art. 226, prevê a união estável, o casamento
e a família monoparental como entidades familiares que se configuram quando
presentes as características da afetividade (finalidade da união, baseada no afeto
30 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

entre os pares), da estabilidade (deve perdurar para constituir vida em comum,


afastando a temporariedade) e da ostensibilidade (notoriedade e publicidade da
união).
A união estável é regulada por duas leis, a de nº 8.971/1994, que prevê
direito aos alimentos e sucessão aos companheiros, não reconhecias as união
das pessoas separadas de fato, fixando prazo de 5 anos para sua caracterização
ou a existência de prole em comum; e a de nº 9.278/1996, que não estabeleceu
prazo para caracterização, reconheceu a união das pessoas separadas de fato,
gerou a presunção de que os bens adquiridos onerosamente na constância da
relação pertencem ao par e utilizou a expressão “conviventes”.
O art. 1.723 do Código Civil de 2002 prevê os requisitos para que se
caracterize a união estável, de onde se extrai, in verbis: “É reconhecida como
entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na
convivência pública contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família”.
Portanto, segundo o artigo supracitado, para sua configuração, devem
estar presentes os seguintes requisitos:
– convivência pública: a convivência não pode ser em segredo, devem
se apresentar como se casados fossem, bastando sua notoriedade en-
tre os círculos de amizade, vizinhança e familiares, não se exige uma
ampla publicidade para sua caracterização, mas deve revelar uma
comunhão de interesses;
– continuidade: a relação deve perdurar no tempo, deve ser contínua,
para que possa dar ensejo à existência de uma convivência, pois a
precariedade da relação não é apta para o reconhecimento da união
estável;
– durabilidade: não existe prazo, nem termo inicial para que possa se
configurar; todavia, deve ter existido pelo menos um certo tempo
para que se possam ter caracterizados os demais requisitos;
– objetivo de constituição de família: é o intuito dos pares de formar
uma família.
Portanto, ausente qualquer um dos requisitos exigidos pelo texto legal,
o relacionamento desconfigura-se de união estável para namoro qualificado.
A união estável inicia-se com o afeto.

2.1 VISÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL


Referente aos requisitos apresentados no tópico supra, alguns doutrina-
dores divergem a respeito, estabelecendo, além dos requisitos do art. 1.723 do
Código Civil, outros para que haja sua caracterização.
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 31
Segundo o Professor Dimas Messias de Carvalho, em seu livro Direito
de Família, para que se configure a união estável, devem estar presentes os
seguintes elementos essenciais, em que, na falta de um destes, a união estável
é desqualificada para um simples namoro: a dualidade de sexos (homem e mu-
lher), a ausência de matrimônio civil válido entre os parceiros ou com terceiros
(pois, nesse caso, seriam casados), a convivência duradoura e contínua (perdu-
rar por lapso de tempo com permanência e estabilidade na convivência), a hon-
rabilidade (respeito entre os conviventes), a notoriedade de afeições recíprocas
(pública), a fidelidade presumida (exigência de fidelidade), a coabitação (vida
em comum no mesmo domicílio) e a inexistência de impedimentos absolutos
(exigidos para o casamento).
Quanto aos elementos apresentados pelo doutrinador Dimas Messias de
Carvalho, a jurisprudência já se manifestou nesse sentido, defendendo que a
coabitação não é elemento essencial para que haja a caracterização da união
estável, mas é forte indício desta. Veja o julgado do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais:
APELAÇÃO CÍVEL – RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL – REQUISITOS –
ART. 1.723 DO CC – ÔNUS DA PROVA – AUTOR – NAMORO SÉRIO X UNIÃO
ESTÁVEL – INEXISTÊNCIA DO REQUISITO “OBJETIVO DE CONSTITUIÇÃO DE
FAMÍLIA” – COABITAÇÃO – FORTE INDÍCIO – Para a configuração da união
estável, são indispensáveis alguns requisitos, quais sejam, dualidade de sexos,
convivência duradoura e contínua, honrabilidade (respeito entre os conviventes),
notoriedade de afeições recíprocas, fidelidade presumida, coabitação (no senti-
do de não aceitar o simples namoro ou relação passageira) e, principalmente, o
objetivo de constituir família. A coabitação não é elemento essencial para a ca-
racterização de união estável, mas normalmente é um indício importante, sendo
que admitem-se situações em que os conviventes não residem sob o mesmo teto,
quando há um relevante motivo que impeça a concretização de tal circunstância.
Na ausência de motivo relevante, a não coabitação entre um casal jovem, livre
e desimpedido durante anos afigura-se como indício de inexistência de união
estável. O namoro sério é muitas vezes confundido com união estável, sendo o
requisito “objetivo de constituição de família” o elemento diferenciador entre os
dois, que deve ser aferido em cada caso, de acordo com suas circunstâncias es-
pecíficas. (Processo nº 1.0145.99.001607-6/001(1), Rel. Dárcio Lopardi Mendes,
J. 27.11.2008, Data da Publicação: 10.12.2008)

Em idêntico sentido o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:


APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL – INTELIGÊN-
CIA DO ART. 1.723 DO CCB – Considerando que a prova coligida nos autos
reflete a configuração da união estável, já que presentes todos os requisitos do
art. 1.723 do Código Civil, e que inexiste exigência legal de convivência sob o
mesmo teto, deve ser reconhecida a relação havida entre a apelante e o de cujus.
Deram provimento ao recurso.
32 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

Com relação à dualidade de sexos, veja julgado do Tribunal de Justiça


do Rio de Janeiro:
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL
CUMULADA COM PEDIDO DE RECEBIMENTO DE PENSÃO POR MORTE – RE-
LACIONAMENTO HOMOAFETIVO – POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO – JUÍ-
ZO COMPETENTE – PEDIDOS COMPATÍVEIS – ADOÇÃO DO PROCEDIMEN-
TO COMUM ORDINÁRIO – RECURSO PROVIDO – 1. É possível a cumulação
de pedidos de reconhecimento de união homoafetiva e de recebimento da cor-
respondente pensão por morte, pois há compatibilidade entre eles, o rito adotado
para regular a demanda é o comum ordinário e o juízo escolhido é o competente
para conhecer de todos os pedidos. 2. Recurso provido. (Agravo de Instrumento,
Processo nº 0065011-59.2009.8.19.0000, 17ª C.Cív., Des. Elton Leme, Julga-
mento: 02.02.2010)

Em idêntico sentido o Tribunal de Justiça de Minas Gerais se manifestou,


equiparando por analogia a união homoafetiva à união estável:
AÇÃO ORDINÁRIA – UNIÃO HOMOAFETIVA – ANALOGIA COM A UNIÃO
ESTÁVEL PROTEGIDA PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – PRINCÍPIO DA
IGUALDADE (NÃO DISCRIMINAÇÃO) E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMA-
NA – RECONHECIMENTO DA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA DE UM PARCEIRO
EM RELAÇÃO AO OUTRO, PARA TODOS OS FINS DE DIREITO – REQUISITOS
PREENCHIDOS – PEDIDO PROCEDENTE – À união homoafetiva, que preen-
che os requisitos da união estável entre casais heterossexuais, deve ser conferido
o caráter de entidade familiar, impondo-se reconhecer os direitos decorrentes
desse vínculo, sob pena de ofensa aos princípios da igualdade e da dignidade
da pessoa humana. O art. 226 da Constituição Federal não pode ser analisado
isoladamente, restritivamente, devendo observar-se os princípios constitucionais
da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Referido dispositivo, ao declarar
a proteção do Estado à união estável entre o homem e a mulher, não pretendeu
excluir dessa proteção a união homoafetiva, até porque, à época em que entrou
em vigor a atual Carta Política, há quase 20 anos, não teve o legislador essa pre-
ocupação, o que cede espaço para a aplicação analógica da norma a situações
atuais, antes não pensadas. A lacuna existente na legislação não pode servir como
obstáculo para o reconhecimento de um direito. (Processo nº 1.0024.06.930324-
6/001(1), Relª Heloisa Combat, Data do Julgamento: 22.05.2007, Data da Publi-
cação: 27.07.2007)

A jurisprudência, portanto, tem distinguido a união estável do namoro


qualificado quando presentes os requisitos do art. 1.723 do Código Civil, em
que o mais importante deles, talvez o que os difere, é o objetivo que o par tem
de constituir uma família.
Se essa visão fosse diferente, tornaria impossível a existência de namoro
e prejudicaria aqueles que só querem curtir a vida e ser feliz sem que tenham
que usar a “camisa de força” de divisão automática de patrimônio e impor aos
namorados uma condição que eles próprios jamais desejaram.
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 33
Neste sentido, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu seu parecer:
DIREITO DE FAMÍLIA – RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL – IMPOS-
SIBILIDADE – RELACIONAMENTO AFETIVO QUE SE CARACTERIZA COMO
NAMORO – AUSÊNCIA DE OBJETIVO DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA – RE-
CURSO NÃO PROVIDO – Não é qualquer relacionamento amoroso que se ca-
racteriza em união estável, sob pena de banalização e desvirtuamento de um
importante instituto jurídico. Se a união estável se difere do casamento civil, em
razão da informalidade, a união estável vai diferir do namoro, pelo fato de aquele
relacionamento afetivo visar à constituição de família. Assim, um relacionamento
afetivo, ainda que público, contínuo e duradouro, não será união estável, caso
não tenha o objetivo de constituir família. Será apenas e tão apenas um namoro.
Este traço distintivo é fundamental, dado ao fato de que as formas modernas de
relacionamento afetivo envolvem convivência pública, contínua, às vezes dura-
doura, com os parceiros, muitas vezes, dormindo juntos, mas com projetos para-
lelos de vida, em que cada uma das partes não abre mão de sua individualidade
e liberdade pelo outro. O que há é um eu e um outro e não um nós. Não há nesse
tipo de relacionamento qualquer objetivo de constituir família, pois para haver
família o eu cede espaço para o nós. Os projetos pessoais caminham em prol do
benefício da união. Os vínculos são mais sólidos, não se limitando a uma ques-
tão afetiva ou sexual ou financeira. O que há é um projeto de vida em comum,
em que cada um dos parceiros age pensando no proveito da relação. Pode até
não dar certo, mas não por falta de vontade. Os namoros, a princípio, não têm
isso. Podem até evoluir para uma união estável ou casamento civil, mas, muitas
vezes, se estagnam, não passando de um mero relacionamento pessoal, funda-
dos em outros interesses, como sexual, afetivo, pessoal e financeiro. Um supre a
carência e o desejo do outro. Na linguagem dos jovens, os parceiros se curtem.
(Processo nº 1.0145.05.280647-1/001(1), Relª Maria Elza, Data do Julgamento:
18.12.2008, Data da Publicação: 21.01.2009)

3 EFICÁCIA JURÍDICA DO CONTRATO DE CONVIVÊNCIA


Na união estável, no silêncio das partes prevalece o regime da comunhão
parcial de bens entre os companheiros, que é o mesmo regime legal previs-
to no Código Civil também para os casados; portanto, reconhecida a união,
estendem-se-lhes as mesmas limitações quanto ao patrimônio do casal ao ca-
samento.
Aos casais que moram juntos sem serem casados há a possibilidade de, a
qualquer tempo, antes, durante ou até mesmo depois de extinta a união, regular
sua convivência por meio de contrato escrito entre os companheiros, agregando
efeito retroativo.
O contrato não altera o estado civil das pessoas, mas permite a escolha
do regime de bens a ser adotado e dá brecha para que outros assuntos possam
ser tratados, como questões de ordem patrimonial e pessoal, gerando uma infi-
nita possibilidade de acordos, favorecendo a livre escolha do casal.
34 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

O contrato é uma forma de civilidade no presente e de garantia de tran-


quilidade no futuro e deve ter concordância bilateral, espontânea e concomi-
tantemente da vontade dos companheiros.
Pode ser feito tanto por meio de escrito particular ou de escritura pública,
que poderá ou não ser levado à inscrição, registro ou averbação. O contrato
poderá ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos, que servirá para
conservar o documento, ou registrado no Cartório Registro Civil ou averbado no
Cartório de Registro Imobiliário dos bens do casal.
O registro é importante por tornar público o seu conteúdo, necessário
para evitar que se prejudiquem o companheiro e os filhos e até mesmo para
resguardar diretos de terceiros.
Entende a doutrina que seu registro é necessário para resguardar os di-
reitos e a boa-fé dos que se utilizam dos registros imobiliários para que saibam
de sua existência, uma vez que a lei que previu o contrato de convivência é de
1996 e a Lei de Registros Públicos é de 1973, portanto, impossível que deter-
minasse sua inscrição.
Embora não seja expressamente previsto o registro do contrato, uma vez
registrado, é aceito para inclusão do companheiro como dependente de clube,
de convênio médico, além de facilitar liberação de seguro de vida em caso de
morte do companheiro.
É importante salientar que o contrato de convivência não cria a união
estável e sua eficácia jurídica depende da caracterização da união; para res-
tar configurada a união, ela depende do preenchimento dos requisitos legais
previstos no art. 1.723 do Código Civil, e não da assinatura do contrato. Este
poderá ser questionado judicialmente, mas já é forte indício de que existe a
união estável.
O contrato poderá a qualquer tempo ser modificado ou revogado, desde
que a vontade seja bilateral.

4 CONSEQUÊNCIA JURÍDICA DECORRENTE DO RECONHECIMENTO DE UM OU OUTRO INSTITUTO


O namoro qualificado é incapaz de produzir efeitos jurídicos entre seus
pares, uma vez que há a ausência de comprometimento. Somente irá produzi-lo
quando resultante do esforço comum, mas somente há essa relativização para
evitar o enriquecimento ilícito por uma das partes.
Aos companheiros que vivem juntos regidos pelo instituto da união es-
tável são previstos os mesmos direitos e deveres do casamento. Ao cônjuge e
ao companheiro deve ser preservada uma situação igualitária e não de supe-
rioridade de um em relação ao outro, devendo haver equiparação de direitos e
deveres.
Vejamos a produção de alguns efeitos jurídicos dados aos companheiros:
RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ............................................................................................................. 35
– a possibilidade de escolha do regime de bens a ser adotado, firmado
por meio de contrato de convivência;
– permite ao companheiro(a) poder adotar o nome do outro;
– permite pleitear alimentos para viver de modo compatível com sua
condição social, inclusive para atender às necessidades de sua edu-
cação;
– direitos sucessórios do companheiro;
– a possibilidade de adotar, desde que comprovada a estabilidade da
família e um deles tenha completado dezoito anos, ou adoção por
companheiros;
– permite ao filho propor ação de investigação de paternidade se a mãe
ao tempo era sua companheira e reconheceu os filhos havidos fora
do casamento;
– companheira vítima de acidente de trabalho, desde que declarada
beneficiária na carteira profissional;
– atribuir à companheira de presidiário de poucos recursos econômi-
cos o produto da renda de seu trabalho na cadeia pública e, ainda,
o direito de visita ao companheiro preso ou de sair para enterro do
falecido companheiro;
– benefício da pensão deixada por servidor público;
– administração do patrimônio comum;
– foro privilegiado da mulher na ação tendente a dissolver a união es-
tável;
– constituir bem de família e o vínculo de parentesco por afinidade en-
tre um convivente e os parentes do outro, sendo que na linha reta tal
vínculo não se extinguirá com a dissolução da união estável, gerando
impedimento patrimonial;
– pleitear a conversão da união estável em casamento;
– deveres recíprocos entre companheiros e a dispensa de coabitação;
– exercício da curatela pelo companheiro na interdição e na ausência;
– sub-rogação e retomada na locação de imóvel urbano;
– impedimento para testemunhar;
– retificação na certidão dos filhos, caso o companheiro adote sobre-
nome do outro;
– não exige limitação do regime de bens aos maiores de 60 anos.
36 .........................................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA

CONCLUSÃO
A diferença entre os institutos do namoro qualificado e da união estável
está basicamente no preenchimento dos requisitos do art. 1.723 do Código Ci-
vil, quais sejam: conivência pública, contínua e duradoura, sendo o principal
elemento para que se encontre a diferenciação o objetivo de constituição de
família,
O Direito e a Justiça vão se adaptando aos novos sistemas de casamento
criados pela sociedade para abrigar todos sob o manto da lei.
Não pode o Estado estabelecer como união estável um simples namoro,
em que os namorados não perdem sua individualidade e são independentes um
perante o outro, e imputar-lhes uma condição jamais desejada pelo par.
É a velha história de quando “meu bem” passa a ser “meus bens”, que
ocorre geralmente com o término de uma relação. As pessoas precisam prever
que pode ocorrer uma futura separação, e o contrato de convivência é feito
justamente para elas que não querem entrar na divisão forçada dos seus bens.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1998.
______. Lei nº 10.406 (Código Civil).
CARVALHO, Dimas Messias. Direito de família, direito civil. 2. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2009.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. rev., atual. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. 23. ed.
São Paulo: Saraiva, v. 5, 2008.
______. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
v. 5, 2009.
FERREIRA, Diogo Ribeiro. Amor, contrato e regime de bens. Estado de Minas, 2010.
LINHARES, Juliana. Assim eu assino. Revista Veja, Edição 2102, Editora Abril, p. 94-95,
2009.
POFFO, Mara Rubia Cattoni. Inexistência de união estável em namoro qualificado.
Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=601>.
ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves. Manual de direito das famílias.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

SITES
http://www.tjrj.jus.br/scripts/weblink.mgw
http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=juris
http://www.tjmg.jus.br/
Assunto Especial – Em Poucas Palavras
Namoro Qualificado

Namoro Qualificado
JONES FIGUEIRÊDO ALVES
Desembargador decano do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Diretor Nacional do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), Coordenador da Comissão de Magistratura de Fa-
mília.

Recente julgamento do Superior Tribunal de Justiça envolveu profunda


análise da figura jurídica do “namoro qualificado” no efeito de sua necessária
distinção em face da união estável (STJ, REsp 1.454,643/RJ, 3ª T., Rel. Min.
Marco Aurélio Belizze, DJe 10.03.2015).
Afirmou-se que, nesta última hipótese, o propósito de constituir família,
alçado pela lei de regência como requisito essencial, não consubstancia mera
proclamação para o futuro, apresentando-se mais abrangente por se afigurar
presente durante toda a convivência, “a partir do efetivo compartilhamento de
vidas, com irrestrito apoio moral e material entre os companheiros”. É dizer: a
família deve, de fato, restar constituída.
A Corte de Justiça entendeu que o comportamento de namorados não
hesitarem em morar juntos revela-se usual nos tempos atuais, “impondo-se ao
Direito, longe das críticas e dos estigmas, adequar-se à realidade social”. Entre-
tanto, não é qualquer relação amorosa que caracteriza a união estável.
A doutrina tem enfrentado bem o tema, chamada a intervir na reportada
decisão pretoriana. Na união estável, que se diferencia do “namoro qualifica-
do”, faz-se “absolutamente necessário que entre os conviventes, emoldurando
sua relação de afeto, haja esse elemento espiritual, essa affectio maritalis, a deli-
beração, a vontade, a determinação, o propósito, enfim, o compromisso pessoal
e mútuo de constituir família” (Zeno Veloso).
Com efeito, anota-se que,
no namoro qualificado, por outro lado, embora possa existir um objetivo futuro
de constituir família, não há ainda essa comunhão de vida. Apesar de se esta-
belecer uma convivência amorosa pública, contínua e duradoura, um dos na-
morados, ou os dois, ainda preserva sua vida pessoal e sua liberdade. Os seus
interesses particulares não se confundem no presente, e a assistência moral e
material recíproca não é totalmente irrestrita. (MALUF, Carlos Alberto Dabus;
MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. Curso de direito de família. São
Paulo: Saraiva, 2013. p. 371-374)
38 ......................................................................................RDF Nº 98 – Out-Nov/2016 – ASSUNTO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS

A jurisprudência, a seu turno, já tem enfrentado essa distinção, sob o


axioma de que
não se pode compreender como entidade familiar uma relação em que não se
denota posse do estado de casado, qualquer comunhão de esforços, solidarie-
dade, lealdade (conceito que abrange “franqueza, consideração, sinceridade,
informação e, sem dúvida, fidelidade”. (STJ, REsp 1157273/RN, Relª Min. Nancy
Andrighi, DJe 07.06.2010)

De fato. A distinção, por certo, haverá de centrar-se, sempre e exclu-


sivamente, na valoração jurídica dos fatos, a tanto que tem sido entendido,
também, que “tampouco a coabitação, por si, evidencia a constituição de uma
união estável (ainda que possa vir a constituir, no mais das vezes, um relevante
indício)”.
No caso agora julgado, a questão envolveu um casal que optou pelo
casamento após período de relacionamento de namoro, mantido ainda que sob
a mesma residência, deixando de converter a suposta união estável em casa-
mento (art. 1.726 do Código Civil) sob o regime de comunhão parcial de bens
(art. 1.658 do CC). Assim, o ato encerraria “manifestação de vontade sobre os
bens que cada um adquiriu antes do casamento” (art. 1.659, I, do CC), nada po-
dendo mais ser discutido a respeito de eventual meação. Demais disso, anotou-
-se que as partes, por contingências e interesses particulares (ele, a trabalho; ela,
pelo estudo) foram, em momentos distintos, para o exterior e, como namorados
que eram, não hesitaram em residir conjuntamente. No ponto, controvérsias a
mais são indicadas à hipótese, a saber:
(i) se o casamento celebrado posteriormente (sem converter a união es-
tável em casamento) implicaria, inexoravelmente, desconfigurar uma
eventual união estável anterior, mercê da simples falta da conversão
de uma por outra entidade familiar?
(ii) operado o divórcio do casal, haveria ou não espaço à discussão
quanto aos bens adquiridos antes do matrimônio, sob a égide da en-
tão existência de união estável? O julgado entendeu que não, por-
quanto a meação do bem adquirido em momento anterior ao casa-
mento somente poderia ser viabilizada caso houvesse a eleição do
regime da comunhão de bens ou a conversão da suposta união está-
vel em casamento, providências não levadas a efeito, de modo livre
e consciente, pelas partes, o que caracterizaria, inclusive, renúncia
de direito.
Fica aqui a boa nota. O namoro qualificado não configura nenhuma en-
tidade familiar. Acaso esta exista, pela união estável, a sua formalização deverá,
sim, exigir, a um só tempo, convertê-la em casamento, sem divisores patrimo-
niais. O propósito de constituir família é realidade instante, palpitante da vida
a dois.

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