Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Apesar do Estatuto do Índio ser tratado enquanto uma segurança jurídica aos índios, é um
instrumento extremamente falho em sua proposta, possivelmente pela época de sua
aprovação: regime militar. Essa visão é corroborada por Cabral Júnior e Véras Neto:
Diante do enfoque dado pelo multiculturalismo e pelo interculturalismo,
constata-se que o Estatuto do Índio assenta a “incapacidade” indígena,
baseando-se no eurocentrismo e no colonialismo que conformam o Estado
brasileiro. Urge um giro decolonial visando à eliminação da subalternidade
dos povos indígenas e à construção de uma cidadania material indígena.
(JÚNIOR; NETO, 2018, p. 123)
A própria noção de que um direito estatal uno pode satisfazer e permitir a continuidade das
culturas (sim, culturas no plural, uma vez que o próprio tratamento dos indígenas enquanto
um só povo carrega uma carga de preconceito) já exclui a convivência com os diversos
direitos de cada uma das tribos, a saber:
As relações de família, propriedade, sucessão, casamento e crime, são,
numa sociedade indígena, nitidamente reconhecidas por toda a
comunidade, de tal forma que se estabelece um sistema jurídico complexo,
com normas e sanções. A variedade de sanções corresponde a
importâncias da transgressão e a legitimidade da forma e da sanção não é
questionada, porque não deriva de um poder acima da comunidade, mas da
própria comunidade que as estabelece no processo social, de acordo com
as necessidades do grupo. (SOUZA FILHO, 1992, p. 147)
Considerando toda a discussão proposta até aqui, além de pressupor a identidade indígena
enquanto a condição de existência desses povos e a necessidade de reconhecimento de
seus direitos que permitam a permanência enquanto comunidade, é preciso ampliar as
discussões que assegurem o respeito a tais culturas e, principalmente, respaldar as
instituições que possam contribuir para tal, uma vez que a institucionalização permite a
manutenção dos direitos ao longo do tempo e apesar das condições políticas de um
determinado tempo. O desafio, portanto, é vencer as premissas de crescimento econômico
a qualquer custo, como é feito pela bancada do boi no Congresso.
Referências:
ALESSI, Gil. Bancada da Bala, Boi e Bíblia impõe ano de retrocesso para mulheres e
indígenas: Ala conservadora do Congresso aproveitou situação delicada de Temer para
barganhar apoio para suas pautas. El País, São Paulo,17 dez. 2017.
CABRAL JÚNIOR, L. R. G., & Véras Neto, F. Q. (2018). Cidadania indígena e pluralismo
jurídico: crítica ao estatuto do índio. Revista De Direitos E Garantias Fundamentais, 19(2),
123-148. https://doi.org/10.18759/rdgf.v19i2.1024