Você está na página 1de 286

EB70-CI-11.

466

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES

CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NA SELVA

1ª Edição
2022
EB70-CI-11.466
EB70-CI-11.466

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES

CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NA SELVA

1ª Edição
2022
EB70-CI-11.466
EB70-CI-11.466

PORTARIA COTER / C Ex Nº 170, DE 6 DE ABRIL DE 2022.


EB: 64322002593/2022-11

Aprova o Caderno de Instrução Sobrevivên-


cia na Selva (EB70-CI-11.466), 1ª Edição,
2022 e dá outras providências.

O COMANDANTE DE OPERAÇÕES TERRESTRES, no uso da


atribuição que lhe conferem os incisos II e XI do art. 10 do Regulamento do Comando
de Operações Terrestres (EB10-R-06.001), aprovado pela Portaria do Comandante
do Exército nº 914, de 24 de junho de 2019, e de acordo com o que estabelece os Art.
5º, 12º e 44º das Instruções Gerais para as Publicações Padronizadas do Exército
(EB10-IG-01.002), aprovadas pela Portaria do Comandante do Exército nº 770, de
7 de dezembro de 2011, e alteradas pela Portaria do Comandante do Exército nº
1.266, de 11 de dezembro de 2013, resolve:

Art. 1º Fica aprovado o Caderno de Instrução Sobrevivência na


Selva (EB70-CI-11.466), 1ª Edição, 2022, que com esta baixa.

Art. 2º Ficam revogadas as Instruções Provisórias IP 21-80 - So-


brevivência na Selva, 2ª Edição, 1999, aprovadas pela Portaria nº 078-EME, de
9 de setembro de 1999.

Art. 3º Esta portaria entrará em vigor e produzirá efeitos a partir


de 02 de maio de 2022.

Gen Ex Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira


Comandante de Operações Terrestres

(Publicada no Boletim do Exército nº 015, de14 de abril de 2022)


EB70-CI-11.466
EB70-CI-11.466

FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÕES (FRM)

NÚMERO ATO DE PÁGINAS


DATA
DE ORDEM APROVAÇÃO AFETADAS
EB70-CI-11.466
EB70-CI-11.466

ÍNDICE DOS ASSUNTOS


Pag

CAPÍTULO I - ÁREAS DE SELVA


1.1 Introdução……………………………………...…………….......……............ 1-1
1.2 Considerações Gerais…………...………...……………............…….......... 1-1
1.3 Selva Amazônica……….....…………………...…………......………............ 1-3

CAPÍTULO II - CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS


2.1 Introdução ………………………………...…………………………............. 2-1
2.2 Conservação da Saúde ........................................................................... 2-2
2.3 Primeiros Socorros …………………………………..........………………....2-13

CAPÍTULO III - ANIMAIS PEÇONHENTOS E VENENOSOS


3.1 Peçonha……….....…………………...……………................……............… 3-1
3.2 Ofídios……….....……...................……………...………………….........….. 3-4
3.3 Aranhas.……….....…………………...…………………........................…....3-24
3.4 Escorpiões.………..………………...…………………........................….....3-28
3.5 Formigas.……….....…………………...…………………......................…....3-29
3.6 Outros Insetos e Escolopendras (Lacraias).…….............….....................3-32
3.7 Sapinhos Venenosos.………...................…………........................…........3-33

CAPÍTULO IV - DESLOCAMENTOS NA SELVA


4.1 Introducão.………...........................................................................…....... 4-1
4.2 Orientação.……….....…………………...…………………........................….. 4-1
4.3 Navegação.……….....…………………...………………….......................... 4-6
4.4 Sinalização................................................................................................4-19

CAPÍTULO V - PROTEÇÃO NA SELVA


5.1 Abrigos.……….....…………………...…………………........................…..... 5-1
5.2 Vestuário e Equipamentos.……...........…………........................…...........5-23
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO VI - ALIMENTAÇÃO NA SELVA
6.1 Introdução.………............................................................................…...... 6-1
6.2 Água.……….....…………………...…………………...............................…. 6-1
6.3 Fogo.……….....…………………...…………….......……........................…. 6-5
6.4 Alimentos de Origem Vegetal.....................................................…...........6-14
6.5 Alimentos de Origem Animal.…................………........................…..........6-55
6.6 Caça..……….....…………………...…………………...............................…6-95
6.7 Pesca.……….....………….....………...…………………........................…6-122

CAPÍTULO VII - TRATO COM INDÍGENAS


7.1 Introdução..….................................…………………........................…...... 7-1
7.2 Algumas Características dos Indígenas.………..................….................. 7-1
7.3 Procedimentos para Tratar com o Índio.……….....................….............. 7-4

CAPÍTULO VIII - TRATO COM O AMAZÔNIDA


8.1 Introdução.……....................................….....………........................…...... 8-1
8.2 Caracterização do Amazônida - As Populações Tradicionais e Ribeirinhas... 8-1
8.3 Procedimentos Para Tratar Com o Amazônida..……...................…......... 8-5
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO I
ÁREAS DE SELVA

1.1 INTRODUÇÃO
1.1.1 O presente caderno de instrução tem por finalidade divulgar conhecimentos
gerais, técnicas e processos que poderão contribuir para a sobrevivência na selva,
particularmente na Selva AMAZÔNICA, de indivíduos isolados ou em grupos, seja
em tempo de paz, seja no curso de operações militares.
1.1.2 Contudo, somente em situações muito especiais, deve ser adotada a
possibilidade de conduzir operações militares e sobreviver simultaneamente. A
sobrevivência pressupõe tempo para obter e preparar alimentos e, ainda, entre
outras tarefas, construir abrigos.
1.1.3 Devido às dificuldades enfrentadas, os indivíduos isolados ou em pequenos
grupos estarão se sustentando abaixo de suas necessidades normais normal-
mente. Tudo isso dificulta, quando não inviabiliza, realizar marchas e combater
o inimigo com eficiência.

1.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS


1.2.1 LOCALIZAÇÃO GERAL
1.2.1.1 As áreas geográficas com características de selva situam-se, em sua
quase totalidade, na zona tropical, limitada pelos paralelos de CÂNCER e de
CAPRICÓRNIO (Fig 1).

Fig 1 - Florestas tropicais do mundo

1-1
EB70-CI-11.466
1.2.1.2 Assim, no continente americano, encontram-se a Selva AMAZÔNICA, a
mais vasta do mundo, abrangendo porções territoriais do BRASIL, GUIANA FRAN-
CESA, SURINAME, GUIANA, VENEZUELA, COLÔMBIA, PERU, EQUADOR e
BOLÍVIA, e a Selva da AMÉRICA CENTRAL.
1.2.1.3 Na ÁFRICA, encontram-se as grandes florestas das bacias dos Rios NÍ-
GER, CONGO e ZAMBEZE, a da costa oriental e a da ilha MADAGÁSCAR. Na
ÁSIA, as florestas do sul da ÍNDIA e do sudeste do continente. Na OCEANIA, as
ilhas, em geral, são cobertas por vegetação com características de selva.
1.2.2 SELVAS TROPICAIS
1.2.2.1 Não há tipo de selva que se possa chamar de padrão comum. A sua
vegetação depende do clima e, até certo ponto, da influência humana exercida
através dos séculos.
1.2.2.2 Algumas árvores tropicais levam mais de 100 anos para atingir a sua ma-
turidade e somente nas florestas primitivas, virgens (não tocadas pelo homem)
encontram-se em completo crescimento.
1.2.2.3 Essa selva primitiva, por sua abundância de árvores gigantescas, torna-
-se facilmente identificável. Possui uma cobertura densa, formada pelas copas
de árvores que, por vezes, atingem mais de 30 m de altura, e sob as quais há
pouca luz e densa vegetação, o que não impede a progressão através da mesma.
1.2.2.4 A vegetação, nas florestas primitivas, tem sido destruída para permitir o
cultivo em algumas áreas. Posteriormente, essas áreas, deixando de ser cultiva-
das, propiciam o crescimento de uma vegetação densa, cheia de enredadeiras,
constituindo a floresta secundária, muito mais difícil de atravessar do que a selva
primitiva.
1.2.2.5 Em quaisquer desses tipos de selva, são encontradas grande diversidade
de plantas, frutas nativas, aves, mamíferos, répteis e abundante variedade de
insetos.
1.2.3 ÁREAS DE SELVA NO BRASIL
1.2.3.1 No Brasil, encontram-se áreas cobertas com vegetação característica
das grandes florestas. A principal e a maior do mundo é a Floresta Amazônica ou
Selva Amazônica, como já é conhecida internacionalmente. As outras, bastante
limitadas, quer pelas extensões que ocupam, quer pelas condições de povoa-
mento e consequente existência de núcleos populacionais e de estradas, quer
ainda pelas diferentes condições climáticas, topográficas e de vegetação, são
encontradas formando os conjuntos florestais que se desenvolvem a sudoeste do
estado do Paraná, a noroeste do estado de Santa Catarina e próximo ao litoral,
sendo conhecida por Mata Atlântica.
1.2.3.2 Outras áreas de florestas existem, embora possam ser consideradas
pequenas manchas se comparadas com as já supracitadas. Entretanto, dentro

1-2
EB70-CI-11.466
da finalidade a que se propõe este manual, não serão consideradas, porquanto
não justificam apreciações especiais relacionadas quer com sobrevivência, quer
com operações militares na selva.
1.2.3.3 As próprias áreas florestais Paraná – Santa Catarina e a Mata Atlântica -
não serão apreciadas em particular, uma vez que aquilo que for dito para a Selva
Amazônica terá aplicação, feitos os devidos ajustamentos. Entretanto, sobreviver
e operar militarmente nelas será menos difícil do que na Selva Amazônica, não só
porque as condições de clima, de topografia e de vegetação são diferentes, como
também pelo progresso decorrente da ação do homem sobre a área.

1.3 SELVA AMAZÔNICA


1.3.1 DELIMITAÇÃO
1.3.1.1 O bioma Amazônia estende-se do oceano Atlântico às encostas orientais
da Cordilheira dos Andes, até aproximadamente 600 m de altitude, contendo
parte de nove países da América do Sul, sendo 69% dessa área pertencente ao
Brasil. Esse bioma abrange os estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Goiás,
Mato Grosso, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, totalizando 4.871.000 km2.
1.3.1.2 O Brasil possui 41% de todas as florestas restantes classificadas como
“floresta pluvial tropical”. Entretanto, nessa imensidão, a densidade populacional
não atinge a quatro habitantes por quilômetro quadrado. Em tais dados, não estão
computadas as porções florestais que se estendem pelos países vizinhos, quer
ao norte, quer a oeste, onde predominam também as mesmas características de
vegetação.
1.3.2 TIPOS DE VEGETAÇÃO
1.3.2.1 Generalidades
1.3.2.1.1 Do ponto de vista dos tipos de vegetação, a Região Amazônica pode ser
caracterizada, em linhas gerais, como uma área constituída, em quase toda sua
extensão, isto é, acima de 80%, pela Floresta Equatorial, com árvores de grande
porte, como as samaumeiras, folhas perenes e grande densidade.
1.3.2.1.2 Em pequenas proporções, encontram-se ainda a floresta de palmeiras,
a faixa costeira de vegetação hidrófila (mangues), as manchas campestres dis-
seminadas no âmbito da floresta e da vegetação secundária.
1.3.2.2 Descrição
1.3.2.2.1 A Floresta Equatorial
a) Conhecida também por Hiléia, constitui, sem dúvida, a característica dominante
da área, tornando-a uma das grandes regiões fitogeográficas do mundo. Entre-
tanto, essa floresta não apresenta um aspecto uniforme.

1-3
EB70-CI-11.466
b) Assim, poderá ser comumente dividida em dois tipos principais, com base no
critério fisionômico: matas de terra firme e matas de planície de inundação (ter-
minologia regional - mata de várzea e mata de igapó), além de outras formações
como o cerrado e a floresta semiúmida.
1.3.2.2.2 Floresta de terra firme (Fig 2)
a) também conhecida por floresta das terras altas, ocupa as áreas que se acham
fora do alcance das águas das cheias e constitui a floresta amazônica típica, com
árvores de grande porte, lianas, cipós e epífitas, onde as copas se entrelaçam,
impedindo a penetração dos raios solares e permitindo o aparecimento de outros
estratos de vegetação, densos, e que recobrem solos humosos.
b) Abaixo desse maciço vegetal, o ambiente é úmido e sombrio, o que favorece o
desenvolvimento da intensa vida microbiana que transforma rapidamente todos os
detritos vegetais e continuamente são lançados ao solo. Essa floresta estende-se
pelos Estados do Amapá, Pará, Amazonas e Acre, noroeste do Maranhão, norte
do Mato Grosso, norte de Rondônia e sul de Roraima; reveste aproximadamente
3 milhões e 500 mil quilômetros quadrados da área amazônica.

Fig 2 - Floresta de terra firme

c) As espécies que predominam nos estratos superiores são o castanheiro, o


acapu, a macaúba, a andiroba, a sapucaia, a tatajuba, etc. As variações das con-
dições do solo, do relevo e mesmo do clima, nessa imensa área, não permitem

1-4
EB70-CI-11.466
generalizar, caracterizando em função de uma espécie principal, a vegetação da
floresta de terra firme, mesmo porque a maior parte da área é desconhecida em
seu interior.
d) Pode-se, entretanto, citar como características gerais desse tipo de floresta:
1) a existência de vários estratos, os quais, a partir do solo, são constituídos
por uma cobertura de gramínea mais ou menos rarefeita, por elementos de porte
subarbustivo e, por fim, de aspecto arbóreo;
2) o alto porte das árvores que compõem o estrato superior; e
3) a diversificação das espécies.
1.3.2.2.3 Floresta de terras inundáveis
a) também conhecida por floresta de várzea alagadiça ou floresta pantanosa,
caracteriza-se pela vegetação que se desenvolve nas imediações das margens
do Rio AMAZONAS e seus principais afluentes, alcançando, por vezes, 100 qui-
lômetros de largura. Em suma, é a vegetação arbórea dos leitos dos principais
rios da Planície Amazônica.
b) Nela a denominação catival ou carrascal (Fig 3) aplica-se à vegetação em que
predominam árvores de grande porte, que crescem em detrimento de espécies
menores. Em seu interior o terreno é relativamente limpo, não prejudicando o
movimento a pé. Ela se desenvolve, normalmente, nas partes mais altas dos
terrenos, sujeitos aos alagamentos e se constitui no que vulgarmente se chama
mata de várzea (Fig 4) e mata de igapó (Fig 5).
c) Na primeira, a seringueira e o pau-mulato formam o estrato mais alto; é
abundante o número e espécies de palmáceas e lianas, enquanto que, no chão,
desenvolvem-se plantas herbáceas. Por vezes, acompanhando os cursos dos rios,
estreitas faixas mais elevadas de aluvião, raramente invadidas pelas águas - as
chamadas restingas (Fig 6) apresentam um desenvolvimento vegetal semelhante
ao da terra firme, no que tange às espécies encontradas.
d) Na mata de igapó, a vegetação apresenta-se mais densa e bastante variada em
espécies, porém o porte das árvores é menor que o das de terra firme e de várzea.
1) A distinção entre esses dois tipos de mata, de várzea e de igapó, não é fácil,
inclusive para os próprios habitantes da região.
2) Para esses habitantes, mata de várzea é a que ocupa os terrenos periodica-
mente recobertos pela água, enquanto a de igapó é aquela que recobre terreno
lodoso (em decorrência do acúmulo de matéria orgânica).
e) Contudo, a mata de igapó é o trecho da floresta onde a água, após a enchente
dos rios, fica por algum tempo estagnada, enquanto a mata de várzea deixa a
descoberto o solo tão logo ocorra a vazante dos rios. É justificável, até o momento,
a existência dessas concepções variadas, porquanto a gigantesca floresta ainda

1-5
EB70-CI-11.466
não foi palmilhada em seu âmago; muito há que se ver e estudar sobre a Selva
Amazônica. Até aqui, porém, pode-se generalizar: é na terra firme, na várzea ou
no igapó que se constata a pujança da floresta.

Fig 3 - Catival ou carrascal

Fig 4 - Mata de várzea

1-6
EB70-CI-11.466

Fig 5 - Mata de igapó

Fig 6 - Restinga

1-7
EB70-CI-11.466
1.3.2.2.4 Floresta de Palmeiras
a) A mais caracterizada no BRASIL é aquela conhecida como zonados cocais e
situa-se na parte oriental da Região Norte, prolongando-se para leste em direção
às caatingas nordestinas. Por isso mesmo constitui uma região de transição entre
aquela que é úmida e florestal - a amazônica - e aquela semiárida da caatinga - a
nordestina. Para o sudoeste, atinge a Ilha do Bananal, no Estado de Tocantins.
b) A palmeira de maior porte e valor econômico é o babaçu. Além dessa, existem a
carnaúba, o açaí, o patauá, etc. Todas servindo para caracterizar individualmente
o palmeiral.
c) Um palmeiral, apesar da natural mesclagem com outros tipos de vegetação,
não constitui obstáculo de vulto à transitabilidade.
d) É interessante lembrar que palmeiras de inúmeras espécies são encontradas
também nas matas de terra firme, de várzea ou de igapó, não constituindo um
aglomerado individualizado e distinto. Sua existência é dispersa naqueles con-
juntos florestais e tem grande significação em se tratando de sobrevivência, uma
vez que fornecem palmitos, frutos, folhagem para cobertura, fibras e não raro
indicam a existência de água nas proximidades.
1.3.2.2.5 Mangues
a) Mangue ou mangal (Fig 7) - é uma formação vegetal de regiões alagadiças e
ocorre apenas em regiões tropicais ou subtropicais no encontro entre o rio e o mar.
b) É facilmente reconhecido pelas árvores com raízes expostas e solo lamacento,
são encontrados bordejando o litoral dos estados do Amapá, Pará e Maranhão,
realizando incursões variáveis para o interior, particularmente ao longo das mar-
gens de alguns rios que sofrem influência da água salgada das marés.
c) Sua vegetação é inconfundível e apresenta características muito especiais:
vive em ambiente salgado ou salobro, tem grande capacidade de reprodução e
invade zonas lodosas, para cuja consolidação concorre.
d) As três variações, vermelho, branco e preto, sucedem-se nesta ordem, geral-
mente a partir da linha da baixa-mar para o interior, ocupando as duas primeiras
à frente, e a terceira, à retaguarda.
e) A vegetação do mangue vermelho - o mangueiro - e do mangue preto - a siriúba
- alcança alturas de até 20 m e algumas vezes apresenta um emaranhado denso
e bastante largo; é mais comum, entretanto, constituir uma faixa de uns 20 m de
largura, ao longo dos cursos de água ou beira-mar.
f) O mangueiro é caracterizado pela massa compacta de raízes aéreas que partem
dos galhos em direção a água e, em conjunto, constitui obstáculo a vencer; já a
siriúba, com o tronco mais ereto, não apresenta esse aspecto.
g) É frequente encontrar-se misturada à vegetação de mangue, uma outra deno-

1-8
EB70-CI-11.466
minada matagal litorâneo, onde podem sobressair diversas espécies de plantas,
entre elas as palmeiras ou coqueiros esparsos, como o meriti, o açaí, o jupati, a
aninga, a samaúma, etc.

Fig 7 - Mangue

1.3.2.2.6 Manchas Campestres


a) As ocorrências campestres na região apresentam desenvolvimento espacial
reduzido em comparação com a área ocupada pela floresta. Não ocorrem em
grandes extensões contínuas, mas sim constituindo verdadeiras manchas isoladas
na vastidão da selva, com contornos geralmente bem definidos.
b) São também provocadas pela retirada da vegetação, pelo crescimento de loca-
lidades, abertura de estradas, queimadas, derrubadas de árvores para formação
de pasto ou qualquer outro tipo de atividade econômica.
c) Abrangem:
1) campos limpos;
2) campos cerrados;
3) campos de várzeas;
4) campinaranas;
5) campos artificiais; e
6) caatingas.
d) Campos limpos e cerrados - (Fig 8) são compostos por gramíneas e outras
ervas altas, muitas vezes com algumas árvores esparsas.
1-9
EB70-CI-11.466
1) Os cerrados (Fig 9) existentes não se diferenciam muito daqueles das demais
regiões brasileiras; nota-se apenas que há uma redução no número de espécies
que os compõem, naturalmente em decorrência das características do solo. O
capim barba-de-bode, chamado pelos locais de rabo-de-burro, é a gramínea que
reveste a maior parte do solo atapetado, encontrando-se, esparsamente, árvores
de galhos retorcidos, de folhagem pouco desenvolvida.

Fig 8 - Campos limpos

2) Esses campos são encontrados no estado do Amapá, em uma faixa que


ocorre paralelamente à costa e após a faixa de vegetação litorânea dos man-
gues, no Estado de Roraima, onde ocupam toda a porção nordeste, no Estado
de Rondônia, no estado de Tocantins e em parte do sudoeste maranhense, como
prolongamento dos cerrados do centro-oeste, que buscam um contato com a
Floresta Amazônica e com a Zona dos Cocais.
3) Outras manchas bem menores são encontradas entre as localidades de
Humaitá e Lábrea, no estado do Amazonas, e ao norte da linha Monte Alegre-
-Alenqueróbidos, no Estado do Pará.
4) De modo geral, os campos limpos e os cerrados apresentam-se associados.

1-10
EB70-CI-11.466

Fig 9 - Cerrado

e) Campinaranas - não são mais do que os campos limpos e os cerrados que se


encontram nos limites da sua transição para a vegetação de matas. Apresentam
maior número de árvores do que as campinas.
f) Campos de várzeas (Fig 10) - são os que surgem ao longo dos rios, geralmente
como faixas paralelas estreitas, não raramente múltiplas, separadas por elevações
ou tesos revestidos de mata.
1) São, portanto, manchas perdidas na vastidão da floresta de várzea, sujeitas
ao alagamento, o que os diferenciam dos demais tipos de campos, além de serem
de duração efêmera e consequentes à sedimentação resultante das águas das
cheias.
2) Vasta área desses campos é encontrada na parte leste da Ilha de Marajó,
onde são conhecidas como campos inundáveis e, ao contrário da regra geral,
permanentes.
3) Tal fato se deve, possivelmente, à formação sedimentar permanente, antiga
e ao resultado da conjugação de três fatores:
− a topografia plana e baixa;
− a grande quantidade de argila, que torna o solo impermeável à pequena
profundidade; e

1-11
EB70-CI-11.466
− a intensa precipitação, local que encontrando solo de difícil drenagem,
encharca-o durante vários meses do ano.explorar a pecuária ou agricultura,
provoca o desmatamento e substituição da floresta por outro tipo de vegetação.

Fig 10 - Campos de várzea

g) Campos artificiais (Fig 11) - são aqueles que resultam da ação do homem que,
visando explorar a pecuária ou agricultura, provoca o desmatamento e substituição
da floresta por outro tipo de vegetação.

Fig 11 - Campos artificiais

1-12
EB70-CI-11.466
- Ocorrem com maior frequência nas lavouras e pastos dos estados de Ron-
dônia, do Mato Grosso e do Tocantins, do sul do estado do Pará e do oeste do
Maranhão.
h) Caatinga (Fig 12) - é a vegetação que predomina no Nordeste do Brasil e está
inserida no contexto do clima semiárido.
1) Os índios, primeiros habitantes da região, chamavam-na assim porque na
estação seca, a maioria das plantas perde as folhas, prevalecendo na paisagem
a aparência clara e esbranquiçada dos troncos das árvores, por isso o nome Ca-
atinga (caa: mata e tinga: branca) que significa “mata ou floresta branca” no tupi.
Porém, no período chuvoso a paisagem muda de esbranquiçada para variados
tons de verdes.

Fig 12 - Caatinga

2) As caatingas amazônicas são semelhantes às do Nordeste e ocorrem em


terras altas, de terrenos silicosos recobertos por uma camada de humo preto ácido.
3) São variáveis em estrutura, aparecendo ora com árvores baixas e arbustos,
ora com árvores altas de permeio, ora ainda com arbustos e árvores anãs, de
altura mais ou menos uniforme. As plantas lenhosas geralmente possuem folhas
persistentes.

1-13
EB70-CI-11.466
4) Entretanto, ao contrário do que ocorre com a caatinga nordestina, a amazôni-
ca situa-se em áreas de intensa pluviosidade, onde as chuvas são bem distribuídas
durante o ano inteiro, razão pela qual a flora e a ecologia diferem daquela. Há,
pois, semelhança, mas não igualdade.
5) Situam-se em algumas áreas da bacia do Rio Negro e nas proximidades da
localidade de São Paulo De Olivença, no Rio Solimões, no Estado do Amazonas.
1.3.2.2.7 Vegetação Secundária
a) É a vegetação decorrente do impacto da ação humana sobre a selva; em con-
sequência, é encontrada nos arredores das localidades, nas margens das rodovias
e ferrovias e nas adjacências de clareiras indígenas, onde a luz solar atinge o
solo. Entretanto, não é só a ação humana a responsável por ela, os cursos de
água, as quedas de árvores gigantes, lagos ou lagoas também contribuem para
a existência de grandes vazios, ao redor dos quais, consequente à penetração
solar, desenvolve-se a vegetação secundária.
b) Em se tratando de sobrevivência ou operações militares, essa vegetação
tem grande significado, pois o homem, ao se defrontar com ela identificada pela
coloração verde-clara de suas folhagens, em comparação com a verde-escura
da selva, terá sempre a esperança de encontrar, a seguir, uma localidade, uma
estrada, clareiras, rios ou lagos. É claro que o encontro de uma localidade ou de
uma estrada significa, na quase totalidade dos casos, a salvação. Porém, clarei-
ras, rios ou lagos, muitas vezes são acidentes perdidos na imensidão da selva,
os quais, à primeira vista, poderão parecer sem significado para quem procura
livrar-se da floresta.
c) Assim sendo, o encontro com um acidente desses, na realidade, pode ser
considerado também como a salvação, pois dele é muito mais fácil a ligação ter-
ra - ar. Essa é a importância da vegetação secundária, sem esquecer, contudo,
que a selva amazônica é imensa e o seu desconhecimento ainda é quase total,
razão pela qual as surpresas poderão apresentar-se a cada passo, de modo a
confundir ou mesmo anular as primeiras esperanças de um sobrevivente ou de
um grupo operacional militar.
1.3.3 RELEVO
1.3.3.1 Em linhas gerais, o relevo brasileiro pode ser caracterizado pelo amplo
predomínio das superfícies planas/onduladas. Naturalmente, estas formas de
relevo estão situadas a alturas variáveis e possuem estruturas geológicas que as
diferenciam umas das outras. No território brasileiro, cerca de 5/8 são de terras
altas, isto é, planaltos, enquanto 3/8 são de planícies.
1.3.3.2 A grande Região Amazônica é caracterizada, do ponto de vista topográ-
fico e dentro da terminologia moderna, por um imenso baixo-platô, abrangendo
as áreas das terras firmes, por uma planície, englobando as áreas das terras
alagadiças de várzeas e pelas encostas de dois planaltos: o brasileiro ao sul e o

1-14
EB70-CI-11.466
guianense ao norte.
1.3.3.3 A planície prolonga-se para o oeste, ultrapassando o âmbito nacional até
atingir os sopés andinos. Desde sua penetração em fronteiras brasileiras, agora
vinda do Oeste, essa planície vai até o Atlântico com fraca declividade, uma vez
que a mais de mil quilômetros do litoral, em Tabatinga, a altitude é de apenas 65
metros.
1.3.3.4 A densa cobertura vegetal amazônica não permitiu, até hoje, que se tenha
noção exata do seu relevo. Entretanto, pode-se afirmar, com base nas observações
feitas, particularmente a militar, que no interior da selva, 500 m não são percor-
ridos, sem que se encontre uma subida ou uma descida, na maioria das vezes
íngremes. A impressão dada a quem se desloca através da selva é que o relevo
é totalmente ondulado (Fig 13). Somando-se a essa topografia as dificuldades
impostas pela vegetação e pelas condições climáticas, pode-se ter uma ideia de
como poderá ser penoso um deslocamento sob tais condições.

Fig 13 - Relevo ondulado da selva

1.3.3.5 Sob o aspecto didático, as seguintes apreciações sobre a topografia


da área amazônica podem ser feitas:
1.3.3.5.1 Baixo Platô
a) São as áreas de terras firmes que, em direção ao norte, vão ligar-se às garupas
meridionais do sistema guiano, e, em direção ao sul, confinam com os bordos
setentrionais do planalto brasileiro.
b) Dentro da monótona paisagem, aparentemente plana, distinguem-se vários
níveis de terraço, entre os quais se sobressaem:

1-15
EB70-CI-11.466

1) os de Belém, Icoraci e Gurupá, entre 6 e 8 metros;


2) o nível de 15 a 20 metros, correspondente às terras mais altas de Marajó,
às terras altas das vizinhanças de Belém, às da ilha Caviana, ao terraço de San-
tarém e ao da região de Ponta Pelada, onde se encontra a base área de Manaus;
3) o nível entre 35 e 40 metros, correspondente ao platô de Manaus, às terras
firmes entre o baixo Rio Negro e o baixo Solimões, e
4) a maior parte dos platôs entre o Tocantins e o Madeira, e finalmente encon-
tra-se o nível mais elevado, de 110 metros, que ocorre nas áreas de Parintins,
Humaitá, Belterra e no platô de Santarém.
1.3.3.5.2 Planície de inundação
a) Por ela é responsável o Rio Amazonas- Solimões, bem como os cursos infe-
riores de seus afluentes. Constitui a menor porção da Amazônia.
b) As principais áreas aluviais são as do Solimões, do Javari, do Purus, do Ma-
deira, do Amazonas, dos furos de Breves, das partes oeste e sul da ilha de MA-
RAJÓ e do vale do Tocantins.
c) Nela encontram-se:
1) as várzeas - terreno alcançado pelas águas apenas na época das cheias;
2) os igapós (Fig 14) - terreno inundável durante grande parte do ano;

Fig 14 - Igapó

1-16
EB70-CI-11.466
3) os lagos - reservatórios naturais que recebem o excesso das águas dos rios
durante as enchentes; e
4) os tesos - pequenas elevações não atingidas pelas águas das cheias.
1.3.3.5.3 Encosta guianense - a delimitação entre o baixo platô e as encostas
meridionais do sistema guianense é feita usualmente pelas primeiras corredeiras
que aparecem no leito dos afluentes do Amazonas-Solimões. Essas encostas
pertencem às duas grandes massas orográficas que constituem o sistema: serras
ocidentais e serras orientais, que são separadas pela depressão do Rio Branco
e que também servem de divisor de águas entre os rios que vertem para a bacia
Amazônica e os que correm para o litoral norte da América do Sul. A leste da
localidade de Cucuí, encontra-se o ponto culminante do BRASIL, o Pico da Ne-
blina, com mais de 3.000 m de altura. No estado de Roraima, a grande área que
constitui os campos situa-se em uma planície.
1.3.3.5.4 Encosta setentrional do planalto central brasileiro - o relevo sobe grada-
tivamente na direção do sul até chegar ao nível dos chapadões que constituem o
relevo típico do planalto central. As cotas de 500 m dão a essas encostas algum
vulto e são comuns. Os leitos dos rios sofrem desníveis que são responsáveis
pelas inúmeras cachoeiras encontradas nos tributários do Amazonas-Solimões,
como o Tapajós, o Xingu, o Madeira e outros. As massas orográficas são repre-
sentadas pela serra do Cachimbo, no sudoeste do Pará, pela Serra do Norte,
a noroeste de Mato Grosso e pelas chapadas dos Parecis e Pacaás Novos, as
quais penetram no Estado de Rondônia.
1.3.4 HIDROGRAFIA
1.3.4.1 Cursos de água
1.3.4.1.1 A bacia amazônica possui área que ultrapassa os 6 milhões de quilô-
metros quadrados, dos quais cerca de 70% encontram-se em solo brasileiro e os
restantes estão distribuídas por solos peruano, boliviano, equatoriano, colombiano,
venezuelano e guiano.
1.3.4.1.2 O Rio Amazonas é o representante principal da bacia amazônica. Os
tributários da margem sul são bem mais extensos que os da margem norte. Ela
interliga-se com a bacia do Orinoco, pelo canal Cassiquiare e há condições de
unir-se com as bacias do Madalena e do Prata, além de outras.
1.3.4.1.3 Na terminologia regional, alguns rios, em função da coloração de suas
águas, são conhecidos como rios brancos, rios negros e rios de águas claras:
a) os rios brancos (ou barrentos) transportam sedimentos em grande quantidade,
o que dá às águas um tom fracamente amarelado, consequente da existência da
argila em suspensão. Se chamados amarelos, haveria mais coerência. Outra das
características é a instabilidade dos leitos, decorrente da erosão das margens
que, na época das cheias, provoca o incidente das terras caídas, uma das fontes

1-17
EB70-CI-11.466
de material argiloso em suspensão nas águas.
- São rios deste tipo o próprio Amazonas, o Madeira, o Trombetas, o Purus, o
Branco e outros;
b) os rios negros, ou pretos, ou de águas pretas como também são chamados,
em compensação, justificam plenamente a denominação. As águas, em grande
massa, são realmente muito escuras, o que decorre da forte dissolução do ácido
provindo da decomposição da matéria orgânica vegetal (húmus) que recobre o
chão das florestas situadas nas planícies de inundação das margens e nas dos
afluentes. Típico exemplo é o Rio Negro.
- Fenômeno interessante é o chamado encontro das águas, nas proximidades
de Manaus, quando as águas brancas do Rio Solimões recebem as águas nedo
Rio NEGRO (Fig 15);

Fig 15 - O encontro das águas (Rios Negro e Solimões)

c) os rios de águas claras são aqueles em que as mesmas apresentam um tom


verde-oliva nos trechos profundos e verde-esmeralda nas partes rasas e o leito
de areias brancas, essas constituindo o principal material de sedimentação, razão
da existência de praias e baixios arenosos.
d) São ricos representantes desse tipo o Tapajós, famoso pelas praias de areia
branca, o Juruena, o Teles Pires, o Verde, o Xingu e outros.

1-18
EB70-CI-11.466
1.3.4.1.4 Ainda de acordo com a terminologia regional, alguns elementos hídricos,
responsáveis pela diversificada drenagem na bacia, são conhecidos por Paraná,
Furo e Igarapé (Fig 16).
a) Paraná - é um extenso (largo e caudaloso) braço de um rio, como se formasse
uma grande ilha, isto é, sai e retorna ao mesmo rio, geralmente é navegável.
b) Furo - é um canal geralmente estreito que comunica um lago com um rio ou
que estabelece ligação entre dois rios. É digna de menção, pela sua grande área
geográfica, a extensa rede de furos existente a oeste da Ilha de Marajó, que
estabelece a comunicação entre os rios Amazonas e Pará, e na qual sobressai
o chamado furo de Breves, inclusive navegável.
c) Igarapé - é um estreito e sinuoso curso de água que se intromete sob a copa
das árvores das matas de várzea e que significa “caminho da água”, com essa
denominação também são conhecidos aqueles cursos de água que, pelo seu
porte relativamente menor, não merecem o designativo de rio, reservado na região
àqueles realmente grandes, corresponde ao ribeirão, do sul do Brasil.

Fig 16 - Exemplos de Paraná, Furo e Igarapé

1.3.4.2 Lagos
- Distinguem-se dois tipos principais de lagos amazônicos: os de várzea e os de
terra firme:

1-19
EB70-CI-11.466
1.3.4.2.1 Os lagos de várzea ocupam as depressões da planície aluvial, isto é,
as áreas ainda não preenchidas pelo limo das enchentes. São geralmente rasos,
alguns mesmo temporários, transformando-se em brejos na época da vazante.
As margens são baixas, planas e, às vezes, prestam-se a campos e pastagens.
- São bons pesqueiros, pois grande parte dos peixes, neles refugiados por ocasião
das cheias, não conseguem retornar aos rios de onde vieram. São, por excelência,
o habitat do Tucunaré e do Pirarucu.
1.3.4.2.2 os lagos de terra firme são as massas de água encontradas nas depres-
sões consequentes da erosão, nas terras altas. As margens são mais elevadas e
matosas e as praias são de areia branca. Neles vão desaguar geralmente vários
pequenos rios.
1.3.4.3 Pororoca
1.3.4.3.1 É um fenômeno peculiar na Região Amazônica, mas não exclusivo, pois
ocorre também na França, no Rio Sena (mascaret), e na Índia, no Rio Ganges
(bore). Tem lugar também nos rios que deságuam na costa amapaense e em
outros já no interior da bacia amazônica.
1.3.4.3.2 A denominação “pororoca” refere-se ao estrondeante e repetido ruído
que acompanha o fenômeno e que o aborígene batizou de “poroc-poroc” para
significar “arrebentar seguidamente”.
1.3.4.3.3 É um fenômeno de maré e não é restrito ao estuário do grande rio.
1.3.4.3.4 As consequências são, antes de tudo, destruidoras. São prejudiciais à
navegação, impossibilitando, inclusive, a precisão dos levantamentos hidrográ-
ficos, uma vez que acarretam modificações constantes no fundo dos rios onde
tem lugar o fenômeno.
1.3.5 CLIMATOLOGIA
1.3.5.1 Ventos e Massas Frias
1.3.5.1.1 Os ventos dominantes na região são os alísios de SE e NE, que se fa-
zem sentir mais na foz e no trecho inferior do baixo Amazonas. Penetrando pelo
NE carregados de umidade, os alísios são responsáveis pelas chuvas da região
litorânea guianense, atingindo o baixo Amazonas já transformados em ventos
secos e quentes.
- Vindos do SE, porém, eles agem no território brasileiro da Amazônia trocando
calor por umidade e chuva.
1.3.5.1.2 Na região da foz, durante parte do ano, sopra um vento N ou NE que
refresca o litoral belenense. No baixo Amazonas, com bom tempo, é comum
soprar de terra, perpendicularmente ao grande rio, um vento noturno que torna
agradável a temperatura.

1-20
EB70-CI-11.466
1.3.5.1.3 A penetração de massas frias faz-se no extremo oeste da planície, avan-
çando para o norte, entre os Andes e o maciço brasileiro, através da depressão
mato grossense e até o Alto Amazonas. Isso provoca, em casos excepcionais de
intensidade, o chamado fenômeno das friagens, que ultrapassa praticamente o
Equador, atingindo a Colômbia.
1.3.5.1.4 Essas massas frias atingem ainda a Amazônia a leste, e, na trajetória
marítima, vão juntar-se aos alísios de SE, que elas resfriam e saturam, indo,
em consequência, provocar grandes chuvas e trovoadas em todo o litoral norte-
-oriental até Belém.
- Se, entretanto, os alísios de SE resistem à invasão, as massas frias permane-
cem no sul.
1.3.5.2 Chuvas
1.3.5.2.1 A quantidade média anual de chuva apresenta na região um índice muito
elevado e sua distribuição geográfica está intimamente ligada à ação das massas
de ar, principalmente à equatorial continental, que ocupa grande parte do território
durante largo período do ano, provocando precipitações abundantes.
1.3.5.2.2 A pluviosidade média varia de 1.097mm (Barra do Corda, no MARA-
NHÃO) a 3.496 mm (alto vale do Rio Negro), igualmente elevado é o índice
apresentado em Clevelândia, no Amapá.
1.3.5.2.3 Resumidamente, existem dois núcleos chuvosos bem distintos: um em
que predomina a massa equatorial continental, que abrange quase a totalidade
dos Estados do Amazonas e de Rondônia, o “SW do Pará” e “N do Mato Grosso”;
e outro, na zona do litoral, abrangendo o Estado do Amapá, a Zona de Marajó
e ilhas, e o “L Paraense”, onde há predomínio da massa equatorial norte e das
calmarias, com chuvas quase diárias.
- Esses núcleos se separam por uma faixa de menor pluviosidade, que se estende
do Estado de Roraima aos campos do Pará, na direção geral NW - SE.
1.3.5.2.4 As consequências, além de outras, fazem-se sentir sobre as proteções
utilizadas pelo homem, à base de lonas impermeabilizadas, que após certo tempo
se tornam imprestáveis, aconselhando, em substituição, a utilização de plásticos,
inclusive para proteção de materiais e víveres.
1.3.5.2.5 Calçados de couro não resistem e deverão ser substituídos por outros
confeccionados com lona, solado de borracha e cordões de nylon.
1.3.5.2.6 O mofo e a ferrugem atacam, em pequeno espaço de tempo, qualquer
tipo de material, em contato com o solo permanentemente úmido. A própria na-
vegação apresenta problemas de transporte na fase de estiagem, pois o regime
dos rios depende, em grande parte, da pluviosidade.

1-21
EB70-CI-11.466

1.3.5.2.7 É fácil navegar nas enchentes e pode haver dificuldade, até mesmo
impossibilidade, nas estiagens, devido aos obstáculos que estão fixados no fundo
dos cursos de água.
1.3.5.2.8 O regime de chuvas na Bacia Amazônia é diferente nos afluentes da
margem esquerda e da margem direita, pois a margem esquerda é influenciada
pelo deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e a margem
direita pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), ou seja, a precipitação
máxima nos afluentes da margem direita ocorre dois meses antes, em dezembro-
-janeiro-fevereiro, da precipitação máxima na calha principal, que ocorre em
fevereiro-março-abril e 6 meses mais cedo do que sobre os afluentes da margem
esquerda, em junho-julho-agosto.
1.3.5.2.9 Já a precipitação mínima nos afluentes da margem direita ocorre em
junho-julho-agosto. Seis meses mais cedo do que o mínimo no extremo norte dos
afluentes da margem esquerda, que é em janeiro-fevereiro-março.
1.3.5.2.10 Além da preocupação com o desmatamento e as queimadas na Ama-
zônia, tem-se os eventos extremos, os fenômenos meteorológicos, como o El
Niño, que provocam a seca e os incêndios florestais na maior parte da Amazônia.
1.3.5.3 Temperatura
1.3.5.3.1 A temperatura média na grande região é de 27º C e a variação da amplitu-
de é mínima, apesar da continentalidade, e se constitui, no caso, na característica
essencial do regime térmico.
1.3.5.3.2 A temperatura média diária varia no correr do ano do seguinte modo: no
verão ela cresce de 26,9º C a 31,0º C e no inverno varia entre 24,5º C a 29,4° C.
1.3.5.3.3 Aliás, a variação da temperatura, em geral, faz-se mais em função do
regime de chuvas do que das estações do ano, sendo o máximo térmico corres-
pondente ao mês de novembro (um dos de menor precipitação), no clima super
úmido do alto Amazonas e em Belém, e ao fim do período seco (variando de
agosto a dezembro), nas áreas de chuvas de verão-outono.
1.3.5.3.4 Mais para o sul, nas zonas de influência da massa equatorial atlântica,
a temperatura já sofre a influência da altitude acima referida, diminuindo os va-
lores térmicos à proporção que aumentam as cotas altimétricas em direção ao
planalto central.
1.3.5.3.5 O mês mais quente ocorre na primavera, variando de setembro a novem-
bro, sendo a média mais elevada a que corresponde ao mês de outubro, quando
já é grande o aquecimento e as chuvas que o reduzem ainda não são abundantes.
1.3.5.3.6 As médias mais baixas de temperatura ocorrem no inverno, no período
de junho a julho, em toda a Amazônia, exceção feita ao vale do grande rio, em que
o mês mais frio corresponde a fevereiro e o mais quente, no final da primavera,
coincidindo o decréscimo de temperatura com o máximo pluviométrico.

1-22
EB70-CI-11.466

1.3.5.3.7 Da apreciação e comparação desses dados com aqueles que se re-


gistram no Nordeste, chega-se à conclusão de que, naquela região e não na
Amazônia, é que ocorrem as temperaturas médias mais elevadas no Brasil, ao
contrário do que pode parecer à primeira vista.
1.3.5.3.8 Todavia, foi na estação meteorológica de Tefé que se registrou a maior
“máxima absoluta” de todo o país: 44,2º C, em 30 de janeiro de 1930. As “mínimas
absolutas” atingem valores muito baixos a “W” da grande região, onde chegam os
ventos frios da massa polar Atlântica Sul, que investem durante o inverno, causan-
do quedas bruscas da temperatura, ou seja, a friagem, já anteriormente referida.
1.3.5.3.9 Há um fato característico das áreas equatoriais, que como tal, não deixa
de ocorrer na Amazônia: variação significativa entre as temperaturas do dia e da
noite. Assim, a título de ilustração, em Sena Madureira, a amplitude da variação
chega a 13,5º C; em Belém, a 9,6 º C; e em Manaus, a 8,7º C.
1.3.5.3.10 À medida que se vai afastando da margem do rio-mar, subindo o curso
de um dos seus afluentes e chegando a terrenos mais elevados, menos distan-
tes ao norte do rio do que do lado sul, o calor geralmente diminui e, sobretudo,
aumenta a diferença de temperatura entre o dia e a noite.
1.3.5.4 Umidade
1.3.5.4.1 A Amazônia é a região brasileira que apresenta a maior porcentagem
anual de umidade relativa. Os valores variam entre 73% a 94%, quase totalidade
da região possui índice superior a 80%.
1.3.5.4.2 Existem dois núcleos de maior índice de umidade relativa, que se locali-
zam: o primeiro, no litoral, onde chegam os alísios de “NE” carregados da umidade
do oceano; e o segundo, no interior, a oeste, abrangendo todo o Estado do Acre e
a quase totalidade do Amazonas, onde predomina a massa equatorial continental.
1.3.5.4.3 O maior índice registrado foi o de Sena Madureira, 94%, o que indica
um estado de quase saturação. Fato que contribui em alto grau para agravar a
friagem que aí ocorre no período do inverno.
1.3.5.4.4 Interessante ressaltar que, em contraposição às consequências de-
teriorantes da umidade sobre materiais e víveres, há uma benéfica sobre o ser
humano: a umidade, absorvendo parte das radiações solares, reduz a possibili-
dade de insolação.
1.3.5.5 Efeitos dos Fatores Meteorológicos sobre o Clima da Amazônia
1.3.5.5.1 Estações do ano
a) São duas, reguladas mais pela distribuição das chuvas do que por outros mo-
tivos. O período de maior precipitação pluvial corresponde ao verão boreal, para
a área acima da linha do Equador e, ao sul dessa, corresponde ainda ao verão
austral (23 Dez a 22 Mar) e parte do outono (23 Mar a 22 Jun), pois até o mês de

1-23
EB70-CI-11.466

abril as descargas pluviais são intensas.


b) Na região esse período chuvoso é denominado “inverno”, correspondendo ao
período de novembro a abril quando as chuvas são violentas e caracterizam os
aguaceiros. O período mais seco é chamado de “verão”.
1.3.5.5.2 Tipo e subtipos climáticos
a) O tipo de clima é “úmido tropical, sem estação fria, e com temperatura média
do mês menos quente acima de l8º C”.
b) Dentro do território amazônico, com perto de 5 milhões de quilômetros qua-
drados de área, não seria possível a uniformidade climática, o que é fácil de
compreender, caso, se atente para as variações que apresentam os fatores me-
teorológicos constitutivos do clima, ainda mais numa região que se estende por
18º de latitude e 28º de longitude.
c) Considere-se ainda o diminuto e precário número de estações meteorológicas
existentes, as quais, entretanto, a despeito da insuficiência de dados, permitiram
distinguir uma distribuição climática à base de subtipos, na grande região.
1.3.5.5.3 Assim, encontram-se três subtipos de clima quente e úmido (Fig 17):
a) Clima quente e úmido caracterizado pela inexistência de estação seca verda-
deira e delimitado por um mínimo de pluviosidade no mês mais seco, próprio das
regiões equatoriais.
1) Corresponde ao tipo de florestas tropicais e ocorre no Alto Amazonas, na
área que se estende do limite do estado do Amazonas com o de Roraima, até 6º
de latitude S. O limite a leste não atinge a cidade de Manaus.
2) São dominantes durante o ano os ventos fracos e as calmarias causadoras
de abundantes e constantes chuvas. Essas e as temperaturas sofrem pequena
variação anual, mantendo-se sempre em nível bem elevado.
3) Embora não haja estação seca verdadeira, há uma época menos úmida
correspondente aos meses de inverno e um longo período muito chuvoso, que
se estende da primavera ao outono, com uma ligeira diminuição da pluviosidade
em fevereiro.
4) Pode-se dizer, devido a isso, que no Alto Amazonas predomina uma dupla
época de chuvas, isto é, aparecem duas estações chuvosas ao ano, devido às
quais o nível do grande rio sobe e baixa duas vezes. A grande enchente começa
em março e dura até junho, e a segunda, denominada repiquete, menor que a
primeira, vai de outubro a janeiro.
5) Na Amazônia a palavra repiquete é também usada no caso do crescimento
repentino do nível das águas, ocasionado pelas chuvas em uma região específica,
mesmo que em pouco tempo retorne ao estado anterior. A porcentagem dos dias
chuvosos nos meses de “inverno” é de 70% ao mês e nos de “verão” é de 40%.

1-24
EB70-CI-11.466

6) No inverno tem lugar a friagem com quedas baixas e violentas de temperatura,


que não perdura por mais de quatro dias, em média. O mês mais quente ocorre
em outubro ou novembro (mais frequentemente), e o mais frio, em junho ou julho.
b) Clima quente e úmido caracterizado por precipitações muito elevadas, cujo
total anual compensa a ocorrência de uma estação seca, permitindo a existência
da floresta tropical.
1) Quanto ao regime de temperatura, é semelhante ao subtipo anterior, mas a
altura de chuvas no mês mais seco é inferior.
2) Abrange uma enorme área que se estende do estado do Acre ao do Mara-
nhão, e do extremo norte do estado do Amapá ao de Mato Grosso, sendo seu limite
S uma linha que segue aproximadamente a direção geral SWNE, acompanhando
a encosta setentrional do planalto brasileiro no estado de Rondônia e norte de
Mato Grosso e passando a SE do PARÁ e W do Maranhão.
3) Nessa área predominam, na maior parte do ano, as massas equatoriais
continentais e norte que são responsáveis pelas abundantes chuvas sob o regime
dos alísios de NE e das grandes calmarias. A porcentagem dos dias chuvosos
nos meses de “inverno” é de cerca de 60% ao mês, e no período de “verão”, 25%.
4) A umidade relativa varia de 81% a 94%, sendo o último o valor extremo
na Amazônia, registrado em Sena Madureira. O mês mais quente corresponde
sempre ao fim do período seco, variando de agosto a outubro nas áreas de seca
de inverno, de novembro a dezembro nas de seca de primavera e de setembro
a novembro nas de seca de inverno primavera.
5) O período mais frio ocorre em junho-julho, nas áreas de seca de inverno
(sub-região do Solimões e zonas do Alto Madeira, Aripuanã e rio Madeira), onde
chegam os ventos frios da massa polar Atlântica Sul que acarretam nessas regiões
uma extraordinária queda de temperatura.
6) No extremo ocidental da enorme área, há também a friagem, nos meses
de maio, junho, julho e agosto, quando o sol está no hemisfério norte, tornando
assim mais fácil a queda de temperatura à noite, sob o menor aquecimento diurno.
c) Clima quente e úmido caracterizado por uma estação seca bem acentuada no
período do inverno, tendo pelo menos um mês com uma altura de chuvas ainda
inferior à do primeiro subtipo.
1) A média anual das temperaturas é sempre elevada. Ocorre no extremo
meridional da área amazônica, numa faixa contínua, desde a fronteira BRASIL-
-BOLÍVIA, no estado de Mato Grosso até o extremo leste da área, e também nos
campos do Estado de Roraima.
2) As chuvas abundantes ocorrem de outubro a março, com o máximo em
janeiro, fevereiro ou março. Mais de 80% de precipitação anual corresponde a
este período, sendo comuns as chuvas de trovoadas e os fortes aguaceiros no

1-25
EB70-CI-11.466
verão. Na estação seca a estiagem é muito rigorosa, sendo pequena ou nula a
precipitação nos meses de junho ou julho.
3) A distribuição do número de dias do ano dá uma média de 16 dias de chuva
para cada um dos meses compreendidos entre outubro e março. Entretanto, no
limite leste da área abrangida pelo subtipo de clima ora apreciado, ou seja, no
Maranhão o regime de chuvas sofre ligeira modificação: as chuvas iniciam em
dezembro ou janeiro, atingindo o máximo no outono, sendo o mês de março o
mais chuvoso.
4) A umidade relativa oscila mensalmente, em virtude da estação seca muito
rigorosa. A média anual é inferior a 80%. É essa estação seca pronunciada, as-
sociada à variação da temperatura em função do relevo, a principal responsável
pelo aparecimento da cobertura florística de transição entre a floresta e os cer-
rados, nos estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, e entre a floresta e
os campos, em Roraima.

Fig 17 - Clima quente e úmido

1-26
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO II
CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS

2.1 INTRODUÇÃO
2.1.1 A capacidade de sobrevivência residirá, basicamente, numa atitude mental
adequada para enfrentar situações de emergência e na posse de estabilidade
emocional, a despeito de sofrimentos físicos decorrentes da fadiga, da fome, da
sede e de ferimentos, por vezes graves.
2.1.2 Se o indivíduo ou o grupo de indivíduos não estiver preparado psicologi-
camente para vencer todos os obstáculos e aceitar os piores reveses, as
possibilidades de sobreviver estarão sensivelmente reduzidas.
2.1.3 Em casos de operações militares, essa preparação avultará então de valor.
O conhecimento das técnicas e dos processos de sobrevivência constituirão em
requisitos essenciais na formação do indivíduo destinado a viver na selva, quer
em operações militares, quer por outra circunstância qualquer.
2.1.4 Conservar a saúde em bom estado será requisito de especial importância
quando alguém se encontrar em situação de só poder contar consigo mesmo
para se salvar ou para auxiliar um companheiro. Da saúde dependerão,
fundamentalmente, as condições físicas individuais.
2.1.5 Na selva saber defender-se contra o calor e o frio, saber encontrar água e
alimento, saber prestar os primeiros socorros, em proveito próprio ou alheio, serão
tarefas de grande importância para a preservação da saúde.
2.1.6 O ambiente da selva certamente agravará o estresse psicológico a que
já são submetidos os homens em combate, ou em sobrevivência, aumentando
a possibilidade de ocorrência de baixas psiquiátricas. Assim, é necessário um
acompanhamento mais cerrado aos que demonstrarem alguma característica
a fim de, com oportunidade, identificar e resolver casos dessa natureza. Uma
adequada preparação psicológica anterior deverá atenuar esse fator adverso e
desenvolver o autodomínio e o respeito à selva, de modo a torná-la uma aliada.
2.1.7 A perspectiva de combater e viver na selva ocasiona fortes tensões de medo
condicionado nos militares não familiarizados com o meio ambiente amazônico.
A aparência da selva, o seu aspecto monótono e ilusoriamente sempre igual, o
calor opressivo, a umidade e a depressiva sensação de solidão que qualquer
pessoa experimenta ao penetrar no seu interior agravam o já existente receio do
desconhecido.
2.1.8 O homem perdido na selva sofre violentas reações psicológicas, que
ultrapassam o medo e levam-no geralmente ao pânico.

2-1
EB70-CI-11.466
2.2 CONSERVAÇÃO DA SAÚDE
2.2.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO CALOR
2.2.1.1 Do conjunto de regras que se pode utilizar para a conservação da saúde,
algumas não poderão ser aplicadas na selva ou serão seguidas sofrendo as
injunções do momento, enquanto outras deverão ser observadas à risca sob
pena da sanção imediata. Assim, visando a sobreviver nas melhores condições
possíveis, cada indivíduo de per si ou grupos de indivíduos deverão observar as
seguintes regras:
2.2.1.2 Poupar forças
2.2.1.2.1 A fadiga em excesso deverá ser evitada. Quando se estiver realizando
algum trabalho que exija esforço físico ou um deslocamento através da selva,
deverá ser estabelecido um tempo para descanso; 10 ou 15 minutos para cada
hora de trabalho físico poderá, em princípio, ser uma base de partida. Nas horas
mais quentes do dia, o repouso deverá realizar-se nos locais mais cômodos que
se apresentarem no momento. Se possível, o homem aliviar-se-á de toda carga
que por ventura transportar e deverá deitar-se.
2.2.1.2.2 Durante os repousos maiores, mormente à noite, procurará dormir.
Mesmo que não consiga, a princípio, conciliar o sono, o simples ato de deitar e
relaxar os músculos e a mente causará efeitos recuperadores. Não permitir que
a aflição decorrente da situação por que se passa concorra para o desequilíbrio
emocional. Deve-se pensar com calma e pesar todas as possibilidades favoráveis.
O calor na selva equatorial é constante e implica, para o ser humano, em sudação
excessiva. Em consequência, se não houver a observância de repouso frequente,
a par de uma complementação abundante de água e sal, alguns efeitos poderão
advir em prejuízo do indivíduo.
2.2.1.2.3 Esses efeitos são:
a) Síncope - causada pelo calor e a perda da consciência quando o indivíduo
permanece por longo período exposto ao calor. A síncope ocorre devido a uma
diminuição da pressão arterial. O indivíduo deve ser conduzido a um ambiente
fresco, permanecer em repouso e ingerir líquidos, assim que possível. Em caso
de queda, é importante avaliar se houve alguma lesão, realizando os cuidados
necessários;
b) Exaustão - resultará da excessiva perda de água e de sal pelo organismo,
consequência da forte transpiração. Os sintomas são palidez, pele úmida, pegajosa
e fria, náuseas, tonteiras e desmaios. O socorro a ser prestado consistirá em fazer
com que o indivíduo se deite em área sombreada, mantendo-lhe os pés em plano
mais elevado que o resto do corpo e as roupas afrouxadas, dando-lhe de beber
água fria e salgada. Para isso, dissolver 2 tabletes de sal ou um quarto de colher
de chá, ou equivalente, de sal puro, em um cantil de água, na quantidade de 3
2-2
EB70-CI-11.466
a 5 cantis no espaço de 12 horas. A solução salina deverá ser ministrada aos
goles, a intervalos regulares (2 a 3 minutos entre cada gole ou ingestão), pois, se
tomada de vez, poderá ocasionar vômitos, estabelecendo-se um círculo vicioso:
vômitos – desidratação;
c) Câimbras - resultarão de um esforço físico continuado que implique em
demasiada sudação, sem que se tenha tomado uma quantidade suplementar de
sal preventivamente. Elas poderão atingir qualquer parte muscular do corpo, sendo
mais comuns nas pernas, nos braços e na parede abdominal. Frequentemente
haverá vômitos e enfraquecimento. O socorro será o mesmo indicado para a
exaustão, à base de ingestão de água salgada em grande quantidade;
d) Insolação e internação - os mecanismos de dissipação do calor não estão
funcionando. Aumenta a temperatura corporal e isto acarreta risco de vida para
o indivíduo se não for tratado com urgência. São situações graves, com alta taxa
de mortalidade, além da elevação da temperatura do corpo, normalmente leva à
inconsciência. Os sintomas são pele quente e seca, com ausência do suor, dor
de cabeça, náuseas, rosto congestionado e possíveis delírios. O mais simples e
importante objetivo no socorro é o abaixamento da temperatura do corpo, o mais
rapidamente possível. O melhor modo de consegui-lo é mergulhá-lo em um banho
de água fria, gelada inclusive, se possível. Caso contrário, o paciente deverá ser
mantido à sombra, com a roupa removida, derramando-se então bastante água
sobre ele. Este resfriamento deverá ser continuado, mesmo durante a evacuação.
Se consciente, o indivíduo deverá beber água fria, salgada (como nos casos
de exaustão ou câimbras). Se inconsciente, idêntico procedimento deverá ser
observado, tão logo volte a si;
e) desses efeitos fisiológicos do calor, os mais comuns são a exaustão e as
câimbras; a insolação e a intermação, apesar de mais perigosos, na selva
equatorial quase não se fazem sentir porquanto o corpo, normal e constantemente,
estará submetido a um processo de refrigeração, quer pelo próprio suor, quer
pela água das chuvas, quer ainda pela água dos igarapés, igapós ou chavascais.
f) será normal, pois, e mesmo agradável, o indivíduo permanecer, durante o dia,
com o corpo molhado. A par disso, a elevada umidade do ar concorre para a
proteção contra a insolação; e
g) para proteção contra esses efeitos, algumas regras deverão serem observadas.
Assim:
1) beber bastante água mesmo que não se sinta sede, uma vez constatado
o excesso de suor, deve-se beber água constantemente, para isso o cantil deve
ser regularmente recompletado;
2) aclimatar-se. Essa regra não terá aplicação para o indivíduo que de uma hora
para outra, por acidente, encontrar-se numa selva equatorial. Haveria, no caso,
uma aclimatação forçada, independente da vontade. O processo de aclimatação
2-3
EB70-CI-11.466
possui quatro características principais:
- começa no 1º dia e poderá estar bem desenvolvido no 4º;
- haverá um aumento na quantidade de suor, aumentando assim a perda
de sal;
- poderá ser acelerado com a realização de exercícios físicos; e
- as condições de aclimatação poderão ser retidas por cerca de uma ou duas
semanas após a saída da área afetada pelo calor;
3) usar sal em quantidade extra nos alimentos e na água;
4) não se alimentar em excesso;
5) vestir-se adequadamente - é uma regra difícil de ser seguida. Se o tecido
for leve, estará sujeito a ser rasgado pela vegetação e, se grosso, aumentará a
sudação, embaraçará os movimentos e criará sensação de desconforto. Se a
vestimenta proteger em demasia, dos pés à cabeça, dificultará a ventilação e, caso
contrário, facilitará o ataque dos animais miúdos (formigas, mosquitos e outros)
e os arranhões pela vegetação. Enfim, será, em última instância, um problema
a mais de adaptação;
6) trabalhar à sombra - regra fácil de seguir, pois a selva é sombreada;
7) compreender o calor - é uma regra para a mente, que trará benefícios
psicológicos com reflexos imediatos no corpo humano. O conhecimento dos
efeitos que o calor poderá produzir e dos processos para evitá-los ou, no mínimo,
atenuá-los, poderá salvar vidas e é de grande importância, em particular, para o
combatente de selva; e
8) o frio na selva equatorial, por estranho que pareça, também se faz sentir.
Não requer, entretanto, medidas especiais adotadas em regiões de clima frio. Na
Selva Amazônica há o fenômeno da friagem que atinge algumas áreas e, mesmo
em outras, onde ele não ocorre, são comuns as quedas de temperatura à noite.
Uma manta de lã proporcionará suficiente proteção. Efeitos tais como “pé de
trincheira” e congelamento de partes do corpo não terão oportunidade de ocorrer,
a não ser nas regiões andinas.
2.2.1.3 Precaver-se contra distúrbios mentais
2.2.1.3.1 A sensação de medo é normal em homens que se encontram em
situação de perigo. E perigo existe na selva. Entretanto, é bom lembrar que outros
já sentiram medo e, a despeito disso, conseguiram sair-se bem das dificuldades
e perigos.
2.2.1.3.2 A fadiga e o esgotamento resultantes de grandes privações poderão
muitas vezes conduzir a distúrbios mentais, manifestados sob as formas de
temores graves, cuidados excessivos, depressão ou superexcitamento. O melhor
modo de evitá-los será procurando dormir e descansar o máximo possível. Todavia,
2-4
EB70-CI-11.466
alguma atividade deverá ser mantida. Além disso, o bom humor será um tônico
real, pois é contagiante.
2.2.1.3.3 Maiores atenções deverão ser dedicadas àqueles que se encontrarem
física ou fisiologicamente doentes a fim de evitar o trauma emocional. Um mau
discernimento da situação, causado por distúrbio mental, poderá ser tão fatal
quanto um tiro do inimigo ou uma picada de serpente peçonhenta. Para quem
quer sobreviver, será fundamental evitar o pânico, e esse representará o pior
inimigo a vencer na selva.
2.2.2 OUTRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
2.2.2.1 Cuidar dos Pés
2.2.2.1.1 Na selva, em princípio, só será possível andar a pé. Longas caminhadas,
por terreno permanentemente ondulado, será a regra geral. Daí a importância
dos cuidados com os pés, os quais deverão ser mantidos limpos, lavando-os
e secando-os com a frequência possível. Entretanto, andar na selva com os
pés secos será praticamente impossível, pois o suor, a chuva e as águas dos
igarapés, igapós e chavascais não o permitirão, por isso, tais cuidados deverão
ser observados, particularmente durante as paradas para descanso prolongado.
2.2.2.1.2 As meias não deverão estar rasgadas nem cerzidas e o calçado deverá
estar sendo constantemente examinado; o uso de meias finas de algodão
é recomendável, pois elas absorvem a umidade, permitem a evaporação,
apresentam pouca deformação após secarem e, assim, protegem melhor os pés
do que as meias grossas de algodão, de lã ou de nylon.
2.2.2.1.3 Calos ou calosidades não deverão ser cortados, para evitar infecção.
2.2.2.1.4 Mantendo-se as unhas limpas e curtas, poder-se-á evitar a unha
encravada e a proliferação de microrganismos entre elas e a pele.
2.2.2.1.5 Caso haja atrito entre o calçado e a pele deverá ser aplicado esparadrapo
na parte afetada. Se houver formação de bolhas, estas deverão ser perfuradas
na base, com o máximo de desinfecção possível e protegendo-se depois o local
com esparadrapo ou gaze.
2.2.2.2 Proteger os olhos e os ouvidos
2.2.2.2.1 Os olhos estarão permanentemente sujeitos à ação de pequenos insetos
e de partículas diversas. A proteção ideal seria com o uso de óculos de um tipo
especial. Entretanto, a capacidade de ver seria um pouco afetada, o que não é
aconselhável na selva, onde é fundamental saber enxergar. Constituiria, por outro
lado, mais um incômodo e uma preocupação.
2.2.2.2.2 Os ouvidos estarão, do mesmo modo, sujeitos àquela mesma ação e
uma boa proteção para eles seria a colocação de algodão; porém, isto reduziria
a capacidade auditiva e, na selva, também é fundamental saber ouvir.

2-5
EB70-CI-11.466
2.2.2.2.3 Em consequência, para evitar que esses órgãos sejam afetados, o melhor
será manter-se atento, preventivamente, no interior da floresta. Será mais uma
preocupação, mas compensará.
2.2.2.3 Precaver-se contra infecções cutâneas
2.2.2.3.1 A epiderme constitui a primeira linha de defesa contra a infecção. Por
isso, qualquer arranhão, corte, picada de inseto ou queimadura, por menor e
mais inofensivo que pareça, merecerá cuidado, qualquer antisséptico deverá
ser aplicado preventivamente. As mãos não deverão tocar a parte afetada. Será
suficiente a aplicação do curativo individual se houver. Se não, o ferimento deverá
ser mantido protegido da melhor forma possível ou, em último caso, exposto
mesmo ao ar livre.
2.2.2.4 Conservar limpos o corpo, a roupa e o local de estacionamento
2.2.2.4.1 A limpeza do corpo é a principal defesa contra os germes infecciosos. As
unhas devem ser mantidas cortadas para evitar o desenvolvimento de parasitas
entre elas e a pele.
2.2.2.4.2 Um banho diário - hábito fácil de adquirir-se na selva - com sabão, ou
mesmo sem ele, dedicando-se especial atenção à higiene das partes dobradas e
pudendas, será ideal. Se esse banho não for possível, a limpeza na maior parte do
corpo deverá ser mantida, particularmente das mãos, rosto, axilas, virilhas e pés;
2.2.2.4.3 Após as refeições, dentes e boca deverão ser limpos;
2.2.2.4.4 As peças do vestuário, mantidas limpas, ajudarão a proteger contra
infecções cutâneas e parasitas. Em caso de dificuldade de lavá-las, deverão
elas, sempre que possível, ser sacudidas e expostas ao ar livre. O uso de cuecas
justas deve ser evitado, pois nas proximidades das virilhas e partes pudendas
poderá provocar assaduras pela umidade acumulada que favorecem a ação
de microrganismos. Esses procedimentos concorrerão para uma sensação de
conforto.
2.2.2.4.5 No caso de um grupo, será interessante que os indivíduos se inspecionem
mutuamente, corpo e roupa.
2.2.2.4.6 Um local de estacionamento na selva deverá ser naturalmente um lugar
limpo, no qual não haja acúmulo das águas das chuvas ou da presença de animais
e insetos. A manutenção desse estado será simples, bastando uma fossa para
lixo e outra para dejetos, suficientemente afastadas, sempre cobertas com terra
após o uso e distantes da fonte de água quando houver.
2.2.2.4.7 Essa fonte será, normalmente, um igarapé e para sua boa utilização
deverá ser dividido em seções: a montante, água para beber e cozinhar. A seguir,
água para banho, água para lavagem de roupa e, por fim, água para qualquer
outro uso, a jusante.

2-6
EB70-CI-11.466
2.2.2.5 Evitar doenças intestinais
2.2.2.5.1 Doenças intestinais são aquelas causadas por germes existentes nas
fezes e urina ou por alimentos contaminados. Normalmente os agentes causais
são eliminados do corpo pelas fezes e urina. Geralmente eles são transmitidos
por alimentos e água contaminada que, por sua vez, são levados pelas mãos
ou utensílios de rancho. As principais doenças intestinais são as disenterias
(amebiana e bacilar), a diarreia, a cólera, as intoxicações e infecções alimentares,
as infestações helmínticas (vermes) e as febres (tífica, paratífica e ondulante).
Para evitar essas doenças, deverão ser observadas as seguintes medidas:
a) Proteção e Purificação da Água - toda fonte de água deverá ser cuidadosamente
protegida da contaminação pelos detritos humanos ou animais, a qual poderá
ocorrer pela drenagem de superfície ou pela drenagem de subsolo.
1) As fossas ligadas às latrinas e às cozinhas deverão ser localizadas de modo
tal que a infiltração e a drenagem se processem afastadas e sem perigo para as
fontes de água. Normalmente o igarapé será a fonte mais comum e, nesse caso,
deverá ser dividido em seções, conforme exposto linhas atrás.
2) A purificação da água na selva raramente será feita como em outras áreas, a
não ser que o grupo esteja aparelhado com o material necessário e vá permanecer
por espaço de tempo relativamente longo em um estacionamento. Sempre que
possível, proceder-se-á a purificação de água do cantil que for obtida no interior
da selva, mesmo aquela colhida dos igarapés, pois esses também são fontes de
água para os animais que podem contaminá-los com fezes e urina. Além disso,
vegetais em decomposição nas margens e no leito de cursos de água e, ainda,
o uso humano a montante desses podem, também, contaminá-los.
3) Ainda assim, caso se deseje purificar essa água ou mesmo a proveniente
de outras fontes, deverão ser usados os comprimidos para esse fim destinados,
os de Hipoclorito (Halazone e outros a base de cloro), na dose de um ou dois por
cantil, esperando-se cerca de 30 minutos para, então, poder ser bebida. Outro
processo de purificação será o de ferver a água e depois fazer uma aeração. Um
minuto de ebulição e a passagem de um recipiente a outro, ao ar livre, serão o
suficiente. Não só a água para beber, mas também a utilizada em bochechos e
limpeza da boca (escovar os dentes) deverá ser purificada pela fervura ou pelo
comprimido de hipoclorito.
4) Deve ser evitada a utilização de água obtida em fontes paradas, pois este é
um ambiente propício ao desenvolvimento de amebas de vida livre que não são
combatidas pelos purificadores de hipoclorito distribuídos à tropa.
b) Inspeção e Proteção dos Alimentos
1) Todo alimento deverá sofrer inspeção, no que respeita à sua aptidão para
consumo. Esta inspeção deverá ser feita também nos gêneros que, após terem
permanecido guardados, venham a ser novamente utilizados. Quando guardados,

2-7
EB70-CI-11.466

deverão ser protegidos convenientemente.


2) Os sacos plásticos prestar-se-ão bem a esse fim. Será necessário sempre
muita atenção com aqueles passíveis de perecimento.
3) Vários processos existem para se guardar alimentos: imersos em água
corrente, enterrados, pendurados em galhos de árvore, dependendo do tipo do
alimento, do tempo de permanência no local, das condições de segurança contra
animais e da quantidade ou volume dos alimentos.
4) Como será normal na selva cada militar conduzir sua própria alimentação,
essas medidas de inspeção e proteção terão mais aplicação para o caso de grupos
e quando houver permanência mais duradoura nos locais de estacionamento.
c) Higiene do Rancho - não será normal, em se tratando de sobrevivência na
selva, a existência de instalações de rancho de campanha, na acepção genérica
do termo. Elas existirão quando do desenvolvimento de operações militares na
selva e, nesse caso, aplicar-se-ão todas as medidas de higiene preconizadas pelos
manuais. Isto quer dizer que, em sobrevivência, não haverá rancho organizado, o
que, entretanto, não invalidará a aplicação dessas medidas, sempre que possível,
quando se tratar de alimentação.
1) Para a missão de preparar e distribuir a alimentação, não deverão ser
designados indivíduos portadores de moléstias transmissíveis, com inflamações
cutâneas, feridas ou quaisquer outras lesões. Esses indivíduos, se existirem no
grupo, deverão ser alvo de atenção e cuidados especiais.
2) Os utensílios de rancho, tais como marmitas, talheres e copos, tão logo
tenham sido usados, deverão ser limpos e lavados antes de guardados. Os restos
de alimentos deverão ter o destino geral dos detritos.
d) Destino dos Detritos - dar destino adequado aos detritos, quaisquer que
sejam suas origens, é medida fundamental quando se tratar de um grupo em
estacionamento mais ou menos estável. Na selva, entretanto, não será normal
a execução dessa medida dentro do preceituado pelas regras de higiene, pelo
simples fato de que faltará o material necessário, ainda mais em se tratando de
sobrevivência. Será suficiente que os detritos sejam enterrados, evitando-se,
assim, que insetos e outros pequenos animais tornem-se veículos de doenças
intestinais.
- Os locais selecionados para enterrá-los deverão ficar afastados daqueles em
que a presença do homem será normal.
e) Controle de Moscas - considerando que a mosca, para sua reprodução, escolhe
os locais de detritos, necessita de calor e umidade e sente atração pelo cheiro,
é fácil concluir que o controle será simples, dando-se o destino conveniente aos
detritos e protegendo-se os alimentos que desprendam cheiro, já que não será
possível deixar de existir calor e umidade na selva equatorial.

2-8
EB70-CI-11.466

f) Controle do Pessoal Doente - atribuir especial cuidado a um companheiro que


venha a sofrer de doenças intestinais, principalmente os acometidos de diarreia. A
rigorosa higiene será necessária para evitar que outros possam ser contaminados,
para tanto, os procedimentos a seguir serão suficientes:
- defecar em lugar apropriado e o mais longe possível do local de estacionamento
da fonte de água, cobrindo os dejetos com terra para evitar a contaminação por
insetos (buraco de gato);
- manter asseio corporal rigoroso; e
- ingerir bastante água para evitar a desidratação e, caso seja disponível, utilizar
remédio específico (soro para reidratação oral, tais como REIDRAT e outros) ou
fazer o soro caseiro, a mistura de sal, açúcar e água na proporção de uma colher
de açúcar e uma “pitada” de sal para cada cantil.
2.2.2.6 Evitar outras doenças transmissíveis
2.2.2.6.1 Além das doenças intestinais, merecem atenção especial aquelas
transmitidas por insetos e parasitas, as contagiosas e outras.
2.2.2.6.2 Doenças transmitidas por insetos e parasitas - são aquelas em que um
inseto ou um parasita, sugador do sangue de animais ou de pessoas infectadas, é
o agente transmissor. Destacam-se entre elas: a malária, transmitida pelo mosquito
“Anófele” (mosquito prego) e de várias espécies; a febre amarela urbana, pelo
Aedes aegypty (Fig 18); a febre amarela silvestre, pelo Haemagogus; a dengue,
pelos Aedes aegypty e Aedes albopictus; a filariose, pelo Culex; a tularemia, por
moscas, percevejos, piolhos, pulgas e pelo contato com material contaminado; a
febre recorrente por piolhos e percevejos; o tifo, pelos piolhos do corpo e pulgas;
a Leishmaniose, pelo Flebotomus.
2.2.2.6.3 Generalidades sobre as doenças transmitidas por mosquitos
a) As mais comuns na selva equatorial são a malária, a filariose, a leishmaniose,
protozooses e parasitoses. Elas não existirão se forem exterminados os
mosquitos transmissores, mas esse combate só poderá ser feito, cuidadosa e
frequentemente, em locais em que haja recursos para isso, o que não acontecerá
na selva, onde a existência da água em abundância propiciará a proliferação. O
perigo da transmissão dessas doenças pelos insetos ronda as proximidades dos
núcleos populacionais e neles reside, pois os mosquitos não têm capacidade de
voo além dos 1.500 m, ou um pouco mais se ajudados pelo vento. Tais apreciações,
contudo, não deverão ser consideradas com segurança total para quem está
na selva, porquanto o ser humano poderá ser apenas o portador da doença,
abrigando-a e podendo transmiti-la, sem, entretanto, apresentar os sintomas.
Por outro lado, os animais silvestres poderão ser os hospedeiros intermediários,
no lugar do homem.

2-9
EB70-CI-11.466

b) Em consequência, a seguir são relacionadas algumas medidas que deverão


ser adotadas contra as picadas de insetos:
1) o uso de mosquiteiros para dormir ou proteger as partes expostas do corpo
será útil, bem como o de luvas e de repelentes;
2) estacionar em locais altos, afastados principalmente de águas paradas;
3) dormir vestido, colocando as extremidades das calças para dentro dos ca-
nos das meias ou bocas do calçado, será mais um meio de evitar picadas;
4) se forem utilizados tapiris, cabanas, choças ou palhoças, deverá ser feita
antes uma inspeção minuciosa nas frestas, onde costuma agasalhar-se o “bar-
beiro”, transmissor da doença de Chagas;
5) as picadas dos insetos provocarão comichão e será preciso muito controle
para não coçá-los, o que é aconselhável para evitar sangrar e, desse modo, difi-
cultar a propagação dos germes;
6) é sabido que os mosquitos atacam ao entardecer e durante a noite, mas na
selva, permanentemente escura e sombria, eles atuam também durante o dia.
Sendo assim, as medidas de proteção tendem naturalmente a ser relaxadas se
tiverem de ser cumpridas por espaços de tempo muito longos. Primeiro, pela ne-
cessidade de grande estoque de repelentes. Segundo, porque os mosquiteiros
perturbam a visão e engancham na vegetação e as luvas diminuem a refrigera-
ção das mãos, tiram o tato e gastam-se ou são extraviadas. Permanecer sempre
vestido, protegendo ao máximo o corpo, concorre para o aumento da sudação;
7) todas essas nuanças conduzirão o homem na selva, ora a observar rigo-
rosamente as medidas protetoras, ora a relaxá-las. O fato, entretanto, é que
algumas delas poderão e deverão ser seguidas com prioridade como: usar mos-
quiteiro para dormir, estacionar em local afastado de águas paradas para passar
a noite ou para proporcionar descanso prolongado durante o dia e examinar
abrigos antes de ocupá-los;
8) outras medidas de expediente poderão também ser seguidas, como untar
as partes expostas do corpo (mãos, rosto e pescoço) com lama (em casos ex-
tremos), em substituição a repelentes e luvas e acender fogueiras no interior dos
abrigos. Poderão, inclusive, ser adotados os processos usados pelos habitantes
da área para proteção contra mosquitos como a aplicação de óleo de copaíba;
9) no caso da malária, atualmente, não se aplica mais o uso de pastilhas quí-
micas à base de quinina, cloroquina, primaquina e merfloquina como tratamento
preventivo contra a malária, devido aos efeitos colaterais para o organismo e
pelo mascaramento durante o período de incubação provocado por Plasmodiuns
de naturezas diversas, contra todos os quais nenhum dos produtos acima possui
eficiência comprovada;

2-10
EB70-CI-11.466
10) o reconhecimento do anofelino transmissor da malária poderá ser feito
observando-se que ele pousa com a parte posterior bastante mais elevada que
a anterior, formando com o plano de pouso um ângulo aproximado de 45º, e que
em suas asas existem manchas escuras (Fig 18 e 19). A doença é conhecida
também com os nomes de maleita, impaludismo e febre intermitente; e
11) atualmente, recomenda-se para região a vacinação antiamarílica, obriga-
tória contra febre amarela silvestre.

Fig 18 - Mosquito da malária (Anófele)

Fig 19- Mosquito da dengue (Aedes aegypti)

2-11
EB70-CI-11.466
2.2.2.6.4 Generalidades sobre as doenças transmitidas por parasitas:
a) a tularemia, a febre recorrente e os vários tipos de tifo constituem um grupo de
doenças transmitidas pelos piolhos, pulgas, percevejos e carrapatos;
b) diagnosticado o mal, o tratamento caberá ao médico. Preventivamente, o que
se poderá fazer, será procurar destruir esses vetores. Assim, os piolhos, que
transmitem o tifo epidêmico (ou exantemático), a febre das trincheiras e a febre
recorrente - e que pertencem a três espécies: piolho do corpo (principal respon-
sável pelas doenças), piolho da cabeça e piolho do púbis (chato) - deverão ser
evitados e destruídos, se for o caso, pela execução de um conjunto simples de
medidas que constituem o despiolhamento. Os homens tomarão banho com sa-
bão frequentemente. Quando necessário, rasparão os cabelos das várias partes
do corpo, além da utilização de pós inseticidas. Pentes finos deverão ser passa-
dos na cabeça. O pó inseticida também deverá ser usado nas roupas, particular-
mente nas costuras e dobras. Quando não se dispuser desses materiais, o que
será normal em sobrevivência, as medidas preventivas terão de se reduzir ao
banho e às inspeções para a cata do piolho, quer nos militares, quer nas roupas
ou equipamento;
c) as pulgas, vetores do tifo endêmico e da peste bubônica, têm por veículos o
rato e outros roedores de pequeno porte, e mesmo o cão e o gato. Portanto, a
primeira medida preventiva será a eliminação desses animais. Se algum for con-
siderado de estimação, deverá ser banhado frequentemente com água e sabão.
No caso dos ratos, eles poderão ser apanhados por meio de armadilhas. As
outras são semelhantes as do despiolhamento;
d) os carrapatos são responsáveis pelo chamado tifo de carrapato ou tifo exante-
mático, como também se denomina o mal. Sua destruição será difícil, se não im-
praticável, pois eles serão encontrados em grande número de animais silvestres,
tais como esquilos, coelhos, antas, gambás (mucuras), bem como nas áreas,
particularmente nas trilhas, onde vivem esses animais. A vistoria da roupa e do
corpo será o melhor modo de encontrar e destruir o carrapato. Caso ele já esteja
encravado na pele, deverá ser arrancado, para isso, usar uma pinça ou instru-
mentos que tenham as pontas mais finas possíveis, isso dará maior precisão ao
procedimento. Se o ferrão se separar do corpo, permanecendo na pele, para
extirpá-lo bastará que se retire com qualquer objeto pontiagudo, previamente
desinfetado; e
e) os percevejos poderão existir em quaisquer lugares em que possam viver em
íntima associação com o homem. Escondem-se em locais que lhes possam ofe-
recer proteção e disfarce; alimentam-se à noite e serão capazes de sobreviver
por seis meses sem alimento algum. São responsáveis por um tipo de febre re-
corrente. A fumigação e o uso de inseticidas líquidos, gasolina, querosene, água
fervente serão processos para destruir o parasito. Para a falta desses, restarão
as inspeções visuais.

2-12
EB70-CI-11.466
2.2.2.6.5 Doenças contagiosas - Muitas doenças, como a gripe comum, a tu-
berculose e a pneumonia são contraídas pelo contato com elementos enfermos
portadores dessas doenças. Deve-se, por isso, ter especial cuidado nos aglome-
rados humanos por onde se tenha de passar em busca da sobrevivência.
2.2.2.6.6 Doenças diversas
a) Existem, ainda, outras enfermidades encontradas na Região Amazônica, me-
recendo ser citadas: a lepra, a bouba, a pinta e a esquistossomose. Essa última
é transmitida por caracóis (caramujos encontrados nas águas).
b) Finalmente, apesar de não ser propriamente uma doença, o tétano é resultan-
te da contaminação de feridas e escoriações. A prevenção repousa no emprego
da vacina antitetânica. Os não vacinados, portanto, deverão ter bastante cuidado
com os ferimentos na pele, os quais, tão logo verificados, deverão ser desinfeta-
dos e mantidos higienicamente.
2.2.2.6.7 A Rabdomiólise - é uma síndrome clínico-laboratorial que decorre
da destruição de células musculares esqueléticas (miólise), com liberação de
substâncias intracelulares para a circulação sanguínea, o que pode provocar
danos em alguns órgãos do corpo, principalmente nos rins. Ela pode ser causada
por diferentes fatores, como consumo excessivo de álcool e traumas. Porém, no
meio militar, está mais relacionada com a atividade física intensa em condições
climáticas desfavoráveis. O assunto é tratado de maneira mais aprofundada nas
Normas para Procedimento Assistencial em Rabdomiólise no Âmbito do Exército
(EB30-N20.002), publicadas por meio da Portaria n° 325 - DGP, de 23 Dez 2019,
na Separata ao BE n° 01/2020, de 3 Jan 2020. Deve-se dar grande atenção a
essa síndrome, devido às peculiares do ambiente de selva, pois ela pode levar
ao óbito em casos graves.

2.3 PRIMEIROS SOCORROS


2.3.1 INTRODUÇÃO
2.3.1.1 Neste tópico constam algumas medidas que deverão ser adotadas em face
de vários acidentes passíveis de acontecer na selva. Se aplicadas, possibilitarão
a sobrevivência, aumentando a capacidade de permanecer no ambiente, quer
individualmente, quer em grupo.
2.3.1.2 Algumas medidas não constam em manuais e outras poderão ser
complementadas pelo Manual de Campanha EB70-MC-10.343 Atendimento Pré-
Hospitalar (APH) Básico, 1ª Edição, 2020.
2.3.1.3 Identificação das Prioridades
2.3.1.3.1 Como prioridade, uma avaliação da cena deverá ser realizada. O local
do incidente será verificado, para averiguar se ainda há risco para as vítimas e a

2-13
EB70-CI-11.466

equipe de socorro. Se houver, a situação será controlada para que o atendimento


aos feridos possa ser iniciado.
2.3.1.3.2 Posteriormente, os socorristas avaliarão cada vítima, verificando lesões
potencialmente fatais, lesões que possam levar à perda de um membro e todas
as outras lesões em que não haja risco de vida ou de perda de um membro.
2.3.1.3.3 Após esse reconhecimento, os socorristas iniciarão os procedimentos
para manutenção da vida, estabilização clínica e transporte se possível.
2.3.1.3.4 Esse processo deverá ocorrer no menor tempo possível, com o objetivo
de aumentar a chance de sobrevivência da vítima. Atualmente, esse período crítico
pode e deve ser menor que uma hora, denomina-se “Período de Ouro”.
2.3.1.4 Avaliação Primária
2.3.1.4.1 A avaliação primária começa com o exame global da vítima e dos
sistemas respiratório, circulatório e neurológico, assim como a identificação de
deformações, hemorragias e amputações. Ao aproximar-se da vítima e perguntar
coisas simples, como seu nome, é possível verificar se ela está consciente, lúcida
e respirando eficazmente.
− Se as respostas forem coerentes, torna-se possível avaliar a permeabilidade
das vias aéreas, avaliar se o aporte de sangue e oxigênio para órgãos e tecidos
é satisfatório e se há déficit neurológico.
2.3.1.4.2 A avaliação primária é facilitada pelo método mnemônico XABCDE (sigla
em inglês), que foi feito na ordem de prioridade para o exame e o tratamento,
conforme a sequência abaixo:
a) X (exsanguinating hemorrhage) - Hemorragia exsanguinante que necessita
de torniquete;
b) A (airway) - Tratamento da via aérea e estabilização da coluna cervical;
c) B (breathing) - Ventilação;
d) C (circulation) - Circulação e hemorragia;
e) D (disability) - Disfunção neurológica; e
f) E (exposure) - Exposição/Ambiente.
2.3.2 EXAUSTÃO, CÂIMBRAS, INSOLAÇÃO E INTERMAÇÃO
2.3.2.1 Na falta de sal comum ou de pastilhas de sal, usar-se-á cinza proveniente
das madeiras queimadas em fogueira, em grande quantidade. Poderá, também,
ser obtido sal após cortar em tiras as moelas das aves e colocá-las para ferver
com água.
2.3.2.2 Após a evaporação total da água, retiram-se os pedaços da moela e no
fundo do recipiente (normalmente um caneco ou lata) existirá um sal grosseiro

2-14
EB70-CI-11.466

em condições de uso.
2.3.3. FERIMENTOS DE MODO GERAL
2.3.3.1 Os regionais recomendam os seguintes tratamentos, que devem ser
considerados alternativos e somente utilizados na carência de recursos mais
apropriados.
2.3.3.2 Aplicar:
a) cinza;
b) o picumã, que é a teia de aranha enegrecida pela fuligem;
c) o raspado, que é o limo das árvores;
d) a folha morna da Capeba;
e) óleo de Copaíba ou de Andiroba;
f) o sumo da casca do Matamatá; e
g) o pó da casca do Juá ou Juazeiro.
2.3.3.3 Lavar:
a) com chá da casca do cajueiro e aplicar óleo de Copaíba; e
b) com água de mangaba brava extraída da casca, torrar a casca, socá-la até
virar pó e aplicá-la no ferimento.
2.3.4 QUEIMADURAS
2.3.4.1 A vítima de queimadura também será considerada como uma vítima de
trauma. Portanto, o método XABCDE será utilizado. Nessa situação, o exame
e a permeabilidade da via aérea são de extrema importância, pois a vítima de
queimadura esteve em contato com o calor e isso pode causar edema da via aérea
superior, dificultando, ou até impedindo, a passagem de ar para os pulmões. A
via aérea deve ser reavaliada constantemente, pois uma via aérea pérvia pode,
em minutos, tornar-se obstruída.
2.3.4.2 Uma preocupação comum refere-se às queimaduras circunferenciais em
tórax. O tecido, quando queimado, endurece e contrai, dificultando a expansão
torácica na inspiração.
2.3.4.3 Em seguida, a vítima deverá ser despida e molhada com água em
temperatura ambiente. Adereços como joias, relógios e acessórios são retirados e
a inspeção das lesões é realizada. A retirada das roupas e dos objetos interrompe o
processo de queimadura, pois esses itens retêm calor. Além disso, anéis, alianças
e relógios funcionam como “torniquete” quando houver edema das extremidades.
2.3.4.4 As áreas queimadas devem ser cobertas com curativos estéreis, não
aderentes e bandagens. O paciente deve ser coberto com manta ou cobertor

2-15
EB70-CI-11.466

para controlar a temperatura corporal.


2.3.4.4.1 Os regionais recomendam os seguintes tratamentos alternativos, que
só devem ser utilizados em situação de carência dos recursos mais adequados.
2.3.4.4.2 Aplicar:
a) o raspado (limo da árvore);
b) banha de anta ou de veado;
c) óleo de Pequiá;
d) óleo das sementes de Andiroba;
e) Cobrir com qualquer gordura; e
f) Colocar leite de bananeira.
2.3.5 FERIMENTOS INFECCIONADOS
2.3.5.1 As feridas são portas de entrada para microrganismos e podem
desencadear um processo inflamatório bem sério, se não cuidada a tempo e
com atenção. As condições no interior da selva propiciam a rápida infecção de
qualquer ferimento, o que exige a aplicação dos primeiros socorros com presteza,
limpando e protegendo rigorosamente as partes afetadas.
2.3.5.2 Os regionais recomendam os seguintes tratamentos alternativos, que
só devem ser utilizados em situação de carência dos recursos mais adequados.
2.3.5.3 Aplicar:
a) pasta do fruto de Juá;
b) mingau frio da massa de Macaxeira;
c) cataplasma da raiz de Abutua, leite de Amapá e infusão da casca de Andiroba;
d) óleo de Andiroba ou de Copaíba; e
e) folha morna de Capeba.
2.3.6 HEMORRAGIAS
2.3.6.1 Durante a avaliação primária, a hemorragia externa é identificada e
controlada. Esse controle pode ser suficiente com pressão direta na ferida, em
sangramentos leves, podendo haver a necessidade do uso de torniquete, em caso
de sangramentos intensos ou amputações traumáticas de membros.
2.3.6.2 A seguir, serão citados os tipos de hemorragias externas (capilares,
venosas e arteriais) e os tipos de condutas para o controle dessas hemorragias.
As hemorragias de vasos intracranianos e das cavidades torácica e abdominal
são abordadas de outra maneira.
2-16
EB70-CI-11.466
2.3.6.3 Tipos de Hemorragias Externas
2.3.6.3.1 Hemorragia capilar
a) Capilares - são vasos sanguíneos de pequeno calibre.
b) Escoriações e abrasões na superfície da pele podem lesionar os capilares,
causando um sangramento de pequena monta que pode cessar espontaneamente
ou ser controlado com uma leve pressão direta no local.
2.3.6.3.2 Hemorragia venosa:
a) As veias são vasos sanguíneos de maior calibre que conduzem o sangue para
o coração. A lesão de uma veia leva a um sangramento de maior vulto e contínuo.
b) Para o controle, são necessários uma pressão direta moderada no local e um
curativo compressivo; e
2.3.6.3.3 Hemorragia arterial:
a) as artérias são os vasos que conduzem o sangue do coração para os órgãos
e tecidos do organismo.
b) o fluxo sanguíneo nas artérias é mais forte que nas veias. O sangue jorra da
ferida com a periodicidade dos batimentos cardíacos.
c) é um sangramento intenso e contínuo, fazendo com que a hemorragia
proveniente da lesão de uma artéria seja de difícil controle, aumentando a
gravidade do quadro.
d) no caso de lesão em uma grande artéria de membros, é mister que essa
hemorragia seja contida em menos de um minuto para que o paciente não evolua
para choque e óbito.
2.3.6.4 Tipos de Condutas para Controle das Hemorragias
2.3.6.4.1 Pressão direta é uma pressão digital, seguida do uso de um curativo.
O socorrista encontra o local da hemorragia e pressiona com os dedos até que
esta seja controlada. A força utilizada e o tempo de ação serão determinados
pelo tipo de lesão e intensidade do sangramento, assim como o tipo de curativo,
que pode variar desde uma gaze até compressas hemostáticas, se disponíveis,
e bandagens elásticas.
a) O dispositivo deve ser ajustado até parar o sangramento e até que haja
ausência do pulso distal desse membro.
b) Caso o sangramento permaneça após a aplicação do torniquete, outro
dispositivo deve ser colocado imediatamente ao lado do primeiro.
c) Os torniquetes são usados com segurança em um período de até duas horas.
Portanto, é necessário escrever o horário em que foi colocado.

2-17
EB70-CI-11.466
- É importante saber que os torniquetes improvisados funcionam pior e têm mais
chances de falha do que os fabricados. Para fazer um torniquete improvisado, o
militar precisará de faixa de algum tipo para envolver em torno da extremidade.

Fig 20 - Torniquete fabricado

Exemplo: bandagem triangular, crepon ou peça de roupa/pano; e uma haste,


um objeto rígido para torcer a faixa. Exemplo: bastão, galho, cabo de vassoura,
canivete (lâmina fechada), mosquetão ou baioneta.2.3.6.4.3 Na falta de um
torniquete fabricado, é possível criar um torniquete improvisado, a partir de itens
comuns.

Fig 21 - Torniquete improvisado

2-18
EB70-CI-11.466
2.3.7 FRATURAS
2.3.7.1 Fratura é uma solução de continuidade no osso que pode ser completa
quando há a divisão do osso em duas ou mais partes, ou incompleta, quando há
uma fissura ou rachadura no osso. A fratura deve ser estabilizada, se possível, e
o membro deve ser imobilizado para o transporte.
2.3.7.2 Sinais de um Osso Fraturado
a) sensação dolorosa sobre a lesão, com intensificação de dor aos movimentos;
b) incapacidade de mover a parte afetada;
c) aspecto anormal (deformação) da região; e
d) intumescimento e descoloração da pele no local.
2.3.7.3 Uma fratura pode, ou não, apresentar todos esses sinais. Em caso de
dúvida, deve-se creditar ao ferido a vantagem da incerteza e tratar a lesão como
se fosse uma fratura.
2.3.7.4 Tipos de Fraturas

Fig 22 - Tipos de fratura

2.3.7.4.1 Fratura fechada: é a fratura de osso sem lesões na pele que o envolve.
2.3.7.4.2 Fratura exposta: o osso fraturado está exposto à contaminação através
de uma ruptura da pele. As fraturas expostas podem ser causadas por pontas de
ossos quebrados que rompem a pele ou por projéteis que atravessam o tecido

2-19
EB70-CI-11.466
e lesam os ossos.
2.3.7.5 Se houver probabilidade de fratura na vítima, esta deve ser manipulada
com o máximo cuidado para minimizar a dor e lesões secundárias. Além disso,
as extremidades fraturadas podem seccionar os músculos, vasos sanguíneos,
nervos e pele. Não se deve movimentar o ferido portador de fratura, a menos que
seja absolutamente necessário.
- Ao ferimento com fratura aplica-se o curativo do mesmo modo que nos outros
ferimentos e imobiliza-se o membro. Caso a hemorragia não cesse após a
realização do curativo, o torniquete deve ser colocado na raiz do membro.
2.3.7.6 Utilização de Talas
2.3.7.6.1 Todas as fraturas requerem colocação de talas. Os pacientes com fraturas
de ossos longos, ossos da bacia, coluna ou pescoço devem ser imobilizados no
próprio local, antes de iniciar qualquer transporte.
a) A correta aplicação das talas alivia grandemente a dor de uma fratura e,
frequentemente, evita ou reduz o perigo do choque.
b) A fixação dos fragmentos quebrados do osso, por meio de talas, evitará que as
agudas arestas do osso quebrado lesem vasos sanguíneos e nervos.
c) O adequado entalamento de uma fratura fechada evitará que ela se torne uma
fratura exposta, evitando a ocorrência de lesões subsequentes.

Fig 23 - Utilização de Talas

2.3.7.6.2 Os primeiros socorros em campanha podem exigir que se improvisem


talas a partir de qualquer espécie de material que o socorrista tenha à mão (por
exemplo: galhos de árvores, varas, fuzis, cartolina, jornais ou revistas enrola-
das).
2-20
EB70-CI-11.466

a) Deve-se providenciar para que as talas sempre sejam recobertas com


material macio, especialmente nos pontos de proeminências ósseas, tais como
o cotovelo, punho, joelho e as articulações.
b) Podem ser usadas folhas de árvores para suplementar as tiras de pano
usadas para acolchoamento das talas.
2.3.7.6.3 Pode-se improvisar uma maca para o transporte do ferido com:
a) duas gandolas e duas varas, ou com duas varas e um cobertor;

Fig 24 - Maca improvisada

b) introduzir as varas pelas mangas das gandolas; ou


c) dobrar meio cobertor sobre as duas varas dispostas paralelamente, deitar o
paciente e recobri-lo com a outra metade do cobertor.

Fig 25 - Maca improvisada

2.3.8 TORCEDURAS
2.3.8.1 Colocar as ataduras e manter em descanso a parte afetada. A aplicação
imediata de frio, no lugar afetado, poderá evitar a inchação.

2-21
EB70-CI-11.466
2.3.8.2 Após diminuir a inchação (entre 6 ou 8 horas), a aplicação de calor aliviará
a dor. Pôr a extremidade machucada em nível mais alto.
2.3.8.3 Se o uso do membro machucado for de todo necessário, imobilizar a
articulação afetada por meio de forte enfaixamento.
2.3.8.4 Não havendo ossos fraturados, poder-se-á fazer uso do membro afetado
até o limite permitido pela dor.

2-22
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO III
ANIMAIS PEÇONHENTOS E VENENOSOS
 

3.1 PEÇONHA
3.1.1 GENERALIDADES
3.1.1.1 Introdução
3.1.1.1.1 Na selva existem inúmeros animais que poderão causar acidentes ao
homem, tais como serpentes, insetos, sapos ou mesmo peixes, como arraias,
bagres, dentre outros.
3.1.1.1.2 Caso o indivíduo não esteja capacitado para evitá-los a fim de debelar
os malefícios que poderão decorrer da sua peçonha, ou do seu veneno, ou mesmo
para realizar os procedimentos de primeiros socorros, podem levar à morte do
militar em operações de selva.
3.1.1.2 Animal Peçonhento
3.1.1.2.1 É aquele que pode inocular substâncias tóxicas, produzidas por glândulas
especializadas do corpo, com o fim especial de serem utilizadas como arma de
caça ou de defesa.
3.1.1.2.2 Possuem órgãos especiais para a sua inoculação, como dentes,
aguilhões e espinhos.
3.1.1.2.3 Portanto, para que haja uma vítima, é necessário que a peçonha seja
introduzida por este órgão especializado, dentro do organismo da vítima.
3.1.1.3 Animal Venenoso
3.1.1.3.1 É aquele que, para produzir efeitos prejudiciais ou letais, ministra suas
secreções passivamente, normalmente através da pele, quando tocado, ou por
meio da ingestão involuntária dessas substâncias.
3.1.1.3.2 Todos os sapos, sem exceção são venenosos.  
3.1.1.3.3 Como exemplo, citam-se o sapo Cururu (Fig 26), sapos Flecha da
Amazônia (Fig 27) e o peixe Baiacu.

3-1
EB70-CI-11.466

 
Fig 26 - Sapo Cururu

Fig 27 - Diversidade de sapos Flecha da Amazônia

3-2
EB70-CI-11.466
3.1.2 FUNÇÃO DA PEÇONHA
- Possui uma dupla ação: paralisante e digestiva. Em virtude da reduzida
mobilidade das serpentes, principalmente de serpentes filhotes, estes animais
necessitam de um meio para deter os movimentos da sua vítima, de modo a poder
ingeri-la. Daí a função paralisante da peçonha. A digestão nos ofídios, como nos
demais animais, faz-se por decomposição dos alimentos que é facilitada pela
inoculação da peçonha, rica em enzimas para degradação de proteínas, anterior
à ingestão da vítima.
3.1.3 AÇÃO PATOGÊNICA DA PEÇONHA
- Vários fatores interferem na ação patogênica da peçonha. E  sua combinação
redundará em uma maior ou menor letalidade nas vítimas.
a) Local da Picada
1) No caso dos gêneros Crotalus (cascavel - não ocorre na região de Manaus)
e Micrurus (coral), cujas peçonhas têm ação neurotóxica, quanto mais próxima
dos centros nervosos a picada, maior a gravidade para a vítima.
2) E, também, no caso da picada de qualquer ofídio peçonhento, se a região
atingida for muito vascularizada, maior será a velocidade de absorção e os efeitos
serão mais precoces. 
b) Agressividade - a Surucucu-Pico-de-Jaca e a Urutu, em razão do grande porte,
possuem a glândula da peçonha também avantajada e são as mais agressivas,
trazendo maior perigo para a vítima. 
c) Quantidade inoculada – é de acordo com o intervalo entre uma picada e outra,
sendo que a quantidade inoculada sempre é superior na primeira picada, haja
vista as glândulas levarem em média 15 dias para se completarem. 
d) Toxidez da peçonha
1) As serpentes mais venenosas são os elapídios (corais), que possuem veneno
letal neurotóxico.
2) A peçonha crotálica (cascavel) é mais tóxica do que a botrópica (jararacas). 
e) Receptividade do animal ou ser humano picado - a receptividade à peçonha
ofídica depende do animal haver sido picado anteriormente, desenvolvendo
imunidade, ou não.
1) Estudos recentes comprovaram que o gambá não é exceção à regra, existindo
dúvidas com relação ao urubu.
2) Contudo, os animais que foram tratados com soro antiofídico ao receberem
nova dosagem possuem maior probabilidade de apresentar uma reação anafilática,
que pode levar ao choque, pois o organismo conta com uma memória imunológica
contra a proteína equina contida no medicamento. 

3-3
EB70-CI-11.466
f) Peso do Animal ou ser humano picado - a gravidade do caso será proporcional
a uma maior ou menor diluição da peçonha no sangue. Quanto maior o animal,
mais diluída estará a peçonha e menos grave será a sua ação.

3.2 OFÍDIOS
3.2.1 GENERALIDADES
- Entre os animais peçonhentos, são os ofídios aqueles que mais chamam
a atenção, seja pelas dimensões avantajadas que podem alcançar, ou pela
quantidade de peçonha que podem inocular e, consequentemente, pelo grande
número de acidentes fatais que a picada pode motivar. 
3.2.2 CLASSIFICAÇÃO 
3.2.2.1 Taxonomia Animal - no BRASIL, são classificadas como principais as
seguintes famílias e gêneros ofídicos, sendo os ofídios das famílias Viperideae
e Elapidae peçonhentos.

FAMÍLIA GÊNERO NOME POPULAR


CROTALUS CASCAVEL
JARARACA
VIPERIDAE BOTHROPS
JARARACUÇU
LACHESIS SURUCUCU-PICO-DE-JACA
ELAPIDAE MICRURUS CORAL
BOA JIBOIA
BOIDAE
EUNECTES CORALUS SUCURI OU ARAMBOIA
Tab 1 - Classificação dos ofídios

3.2.2.2 Disposição Dentária (Fig 28) - Os ofídios podem ainda ser classificados
quanto o tipo de dentição, cujo conhecimento é importante, porquanto permite
reconhecer se o animal é, ou não, peçonhento. As características são:
a) Áglifas - todos os seus dentes são iguais, inclusive os maxilares, maciços e
retrógrados, servindo para auxiliar a impelir a presa para trás. São consideradas
não peçonhentas. Exemplo: família BOIDAE (jiboias, sucuris e aramboias).
b) Opistóglifas – possuem dois pares de dentes na região posterior da arcada
dentária superior, com sulcos por onde escorre o veneno.
- Apesar do aparelho inoculador ser mais aperfeiçoado que nas áglifas, sua
localização e ranhura não muito perfeita dificultam a inoculação e favorecem a
dispersão da peçonha. A mordida pode ter consequências leves a moderadas,
como febre e inchaço local, ou graves, como morte em crianças.  Exemplo: cobra-
papagaio, falsa corais.

3-4
EB70-CI-11.466
c) Proteróglifas – as cobras proteróglifas possuem duas presas pequenas na
região anterior do maxilar superior, sulcadas e imóveis. No Brasil, esse é um tipo
de dentição exclusivo das Cobras-Corais dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus,
que produzem veneno neurotóxico capaz de causar morte em humanos. No caso
de corais verdadeiras, possuem o veneno mais letal entre as serpentes brasileiras,
o número de acidentes com esses animais é baixo, pois não dão bote, somente
ocorre acidentes em caso de alguém tentar tocá-las ou mesmo pisar no animal. 
d) Solenóglifas
- As cobras solenóglifas possuem presas grandes, localizadas na região anterior
da boca, que se deslocam pela movimentação do osso maxilar durante um bote.
- Com a boca fechada, as presas ficam retraídas. No interior dessas presas
existe um canal, como uma agulha de injeção, por onde o veneno é escoado.
- Essas presas são encontradas em cobras da família Viperidae (Jararaca-
Bothrops atrox, e pela Surucucu-Pico-de-Jaca- Lachesis muta.
- No caso da Jararaca, 80% dos acidentes na Amazônia são de causados por
essas espécies; e
- já a Surucu, somente 10% dos acidentes registrados, este é um animal muito
agressivo e com bote muito preciso, mais facilmente encontrada em mata fechada. 

Fig 28 - Disposição dentária dos ofídios

3-5
EB70-CI-11.466
OBSERVAÇÃO: toda solenóglifa é peçonhenta. Geralmente em bote em humanos,
o animal pode perder a dentição e no local da picada pode conter somente um
furo, como se fosse perfuração por espinho.

ATENÇÃO PARA CASO DE HEMORRAGIA LOCAL

3.2.3 CARACTERÍSTICAS 
3.2.3.1 Órgãos Sensoriais
a) Visão - ao contrário da sabedoria popular, os ofídios têm boa visão, exceto,
quando trocam a pele. Porém a posição relativa, normalmente próxima ao solo,
reduz o campo visual.
b) Olfato - é utilizado pelos ofídios para perseguir as presas e para a reprodução,
à procura do par para o acasalamento. Utiliza a língua para captação de odores.
c) Detectores térmicos
- Em alguns ofídios são identificados certos detectores térmicos, denominados
escamas supralabiais, na Família Boidae; e
- Fossetas loreais, na Família Viperidae, servindo ainda para captar vibrações do
ar.
3.2.3.2 Movimentos
- Os ofídios podem realizar os seguintes movimentos:
a) deslizar (reptar);
b) projetar-se sobre a presa (bote);
c) saltar;
d) escalar alturas em planos inclinados ou verticais;
e) mergulhar tanto na água como na areia; e
f) nadar. 
3.2.3.3 Vivenda
- Os ofídios podem ter hábitos:
a) subterrâneos. Exemplo: Micrurus (corais);
b) terrestres. Exemplo: Crotalus (cascavel);
c) aquáticos. Exemplo: serpentes marinhas;
d) arborícolas. Exemplos: Sucururu-de-Patioba e Jiboia; e
e) terrestres. Aquáticos e arborícolas, exemplo: Sucuri. 

3-6
EB70-CI-11.466
3.2.3.4 Presença dos Ofídios
3.2.3.4.1 Na selva as serpentes não são encontradas tão facilmente, como
popularmente se admite.
3.2.3.4.2 Cumpre lembrar que elas surgem em maior número numa determinada
área, em decorrência do aparecimento do próprio homem que, após instalado,
trata de prover a subsistência mediante o cultivo do milho, da macaxeira, da
batata doce, etc.
3.2.3.4.3 A existência de alimentos atrai os roedores, como cutias, mucuras,
cutiaras e pacas que, por sua vez, atrairão os ofídios. Daí, a incidência maior
destes nos campos e cerrados.  
3.2.4 DIFERENCIAÇÃO (Fig 29) 
3.2.4.1 Não Peçonhentos:
a) cabeça estreita, alongada, coberta por placas;
b) olhos grandes com pupilas redondas;
c) corpo coberto por escamas achatadas e lisas;
d) cauda longa, afinando gradual e lentamente;
e) quando perseguidos, fogem;
f) movimentos rápidos;
g) hábitos diversos; e
h) ovíparos (põem ovos). 
3.2.4.2 Peçonhentos:
a) cabeça triangular, bem destacada do corpo e coberta por escamas, à
semelhança do corpo;
b) olhos pequenos, com pupilas em fenda vertical;
c) existência de fosseta loreal entre os olhos e as narinas;
d) escamas ásperas, em forma de quilha (carinadas);
e) cauda curta, afinando bruscamente;
f) hábitos noturnos;
g) movimentos lentos;
h) quando instigados, tomam posição de ataque; e
i) ovovivíparos - os ovos são incubados no interior do organismo materno e,
posteriormente, os filhotes são expelidos vivos. 

3-7
EB70-CI-11.466
3.2.4.3 Essas características são regras a serem observadas, contudo, jamais
poderão representar a certeza de ser um ofídio peçonhento, ou não, principalmente
no caso do Gênero Micrurus (corais), que foge totalmente a tais regras, e das
jiboias e sucuris que possuem várias características de peçonhentas e não o são.

Fig 29 - Distinções (gerais e possíveis) entre ofídios venenosos e não venenosos

3.2.5 FAMÍLIA VIPERIDAE 
3.2.5.1 Gênero Crotalus  - Compreende várias espécies de CASCAVÉIS, entre
elas, a Crotalus durissus terrificus e a Crotalus terrificus terrificus (Fig 30).

3-8
EB70-CI-11.466

a) Características:
1) cabeça triangular coberta por escamas;
2) possui fosseta loreal;
3) presença do chocalho (guizo) na extremidade da cauda;
4) desenhos em forma de losangos marrom-escuros com frisos amarelo-pálidos,
ao longo da coluna vertebral;
5) solenóglifas; e
6) hábitos diuturnos.

Fig 30 - Cascavel

b) Habitat
1) Vive em lugares secos e arenosos, não há grande ocorrência na região
Norte, como no Nordeste e Sul e Sudeste do Brasil.
2) Entretanto, sabe-se que a presença de serpentes numa área é consequência
da própria presença do homem, nos campos dos estados de Roraima, de

3-9
EB70-CI-11.466
Rondônia, Pará e do Sul do Amazonas (Região de Humaitá), já foram identificadas
cascavéis.
c) Ação da peçonha - todos os sintomas serão sempre proporcionais ao grau de
empeçonhamento:
1) a peçonha crotálica é hemolítica (destrói os glóbulos vermelhos), neurotóxica
e miotóxica;
2) dor local pouco frequente e geralmente fraca, a não ser que a picada tenha
atingido uma região muito sensível, como a extremidade dos dedos;
3) a região fica normal ou com pequeno aumento de volume, sem formação
de edema, com a sensação de adormecimento (parestesia);
4) dores musculares generalizadas ou localizadas na nuca;
5) perturbações na visão: obnubilação seguida de ptose palpebral (queda da
pálpebra), a qual determinará a gravidade do caso e que regredirá, gradualmente,
até 10 dias após a picada;
6) a ação hemolítica faz-se sentir gradativamente, podendo acarretar a morte
após um período de anúria (diminuição ou supressão da secreção urinária), que
será decorrente do acúmulo de substâncias tóxicas no organismo, pela destruição
do parênquima renal;
7) raramente ocorre hipotensão ou hipertermia; e
8) 4 a 6 horas após a picada, já existe grande quantidade de peçonha no sangue.
3.2.5.2 Gênero Bothrops - Compreende todas às espécies e variedades de
serpentes, vulgarmente englobadas sob a denominação de JARARACAS (Fig 31).
a) Características:
1) cabeça de forma triangular bem acentuada, sendo em algumas quase
biogival, coberta de escamas;
2) presença de fosseta loreal;
3) desenhos de forma e cores variadas;
4) solenóglifas, com dentição muito proeminente; e
5) hábitos noturnos.
b) Habitat
1) As serpentes deste gênero não vivem em lugares específicos, mas a maioria
é encontrada em locais úmidos e alagadiços. Dentre as Bothrops mais comuns,
citam-se as seguintes espécies que existem na Amazônia, de acordo com seus
habitats:

3-10
EB70-CI-11.466
(a) Bothrops jararaca - não vive em lugares específicos;

Fig 31 - Jararaca

(b) Bothrops athrox - partes baixas e alagadiças da selva. É a mais encontrada


na AMAZÔNIA. Nome popular: CAIÇACA, JARARACA DO NORTE (Fig 32); e

Fig 32 - Caiçaca

3-11
EB70-CI-11.466
(c) Bothrops moonjeni - vive na selva, em locais úmidos. Nome popular:
Surucucu-de-Facão.
2) Acompanhando a migração (e a expansão agrícola) que vem ocorrendo na
direção Sul-Norte, nos estados do Mato Grosso, de Rondônia, do Tocantins e ao
sul do Estado do Pará existem relatos da presença das espécies abaixo:
(a) Bothrops jararacuçu (Fig 33) - vive nas proximidades de água e em
lugares úmidos;

Fig 33 - Jararacuçu

(b) Bothrops alternatus - montes de paus ou pedras, baixios ou alagadiços.


Nome popular: Urutu ou Urutu Cruzeiro (Fig 34); e
(c) Bothrops itapetiningae - vive nos campos. Nome popular: Cotiarinha.
c) Ação da peçonha:
1) proteolítica e coagulante, o sangramento não estanca;
2) dor local que pode ser muito intensa;
3) edema duro, que vai aumentando, aparecendo manchas róseas ou cianóticas
(coloração azulada devido à presença de alto teor de hemoglobina);

3-12
EB70-CI-11.466
4) a ação coagulante é quase imediata e local;
5) com a ação da peçonha na circulação, lentamente, destruindo a fibrina, o
sangue torna-se incoagulável, daí o aparecimento de hemorragias (epistaxe,
hematúria, gastrorragia, melena);
6) a ação de necrose dá-se por destruição das proteínas dos tecidos da área
picada;
7) a coagulação impede a peçonha de circular rapidamente, agravando a
necrose;
8) dificilmente há aparecimento de fenômenos gerais no organismo; e 
9) aparecimento de febre quando a lesão local for intensa.

Fig 34 - Urutu

3.2.5.3  Bothrops bilineatus - encontrada nas selvas da Amazônia e o nome


popular é Jararaca verde ou Surucucu de patioba (Fig 35), por ser nesta palmeira
em que mais se abriga.
a) Características:
1) cabeça de forma triangular bem acentuada, coberta de escamas vermelhas; 
2) presença de fosseta loreal;

3-13
EB70-CI-11.466

3) coloração verde com pequenas manchas em forma de estrelas 


4) solenóglifas; e
5) hábitos noturnos) 

Fig 35 - Jararaca verde ou surucucu de patioba

b) Habitat - As serpentes deste gênero são encontradas em galhos de árvores e,


em particular nas palmeiras, entre estas, a da Patioba.
c) Ação da peçonha (idêntica as do gênero Bothrops):
1) proteolítica e coagulante;
2) dor local que pode ser muito intensa;
3) edema duro, que vai aumentando, aparecendo manchas róseas ou cianóticas
(coloração azulada devido à presença de alto teor de hemoglobina);
4) a ação coagulante é quase imediata e local;

3-14
EB70-CI-11.466
5) com a ação da peçonha na circulação, lentamente, destruindo a
fibrina, o sangue torna-se incoagulável, então ocorre o aparecimento de
hemorragias (epistaxe, hematúria, gastrorragia, melena); 
6) a ação de necrose dá-se por destruição das proteínas dos tecidos da área
picada;
7) a coagulação impede a peçonha de circular rapidamente, agravando a
necrose;
8) dificilmente há aparecimento de fenômenos gerais no organismo; e 
9) aparecimento de febre quando a lesão local for intensa.
3.2.5.4 Gênero Lachesis - compreende duas subespécies: Lachesis muta muta
e Lachesis muta noctivoga. A primeira é mais comum na Amazônia Brasileira e
é conhecida como Surucucu-Pico-de-Jaca (Fig 36), a segunda é encontrada na
parte mais ocidental com maior incidência no Peru e no Equador. 

Fig 36 - Surucucu-pico-de-jaca

a) Características:
1) cabeça triangular, coberta por escamas, possuindo fosseta loreal; 
2) desenhos em forma de losangos irregulares pretos sobre fundo amarelo; 
3) solenóglifas;

3-15
EB70-CI-11.466
4) hábitos noturnos;
5) muito agressivas, podendo picar a vítima mais de uma vez, ou fazer mais
de uma vítima;
6) escamas bem proeminentes, assemelhando-se a picos de jaca;
7) atingem porte bastante avantajado, já tendo sido encontrados exemplares
de 4 metros; e
8) quando se projeta sobre a presa, o bote pode atingir 50% do comprimento
do corpo, as demais serpentes atingem apenas 30%.
b) Habitat - vivem nas partes altas da selva, em tocas de tatu e ocos de pau,
enrodilhadas atrás de árvores caídas e embaixo de montes de palha, pois são
tanto arborícolas como terrestres.
c) Ação da Peçonha:
1) a peçonha é altamente concentrada e seu efeito é um misto da Crotalus e
da Bothrops, isto é, hemolítico, neurotóxico e proteolítico (capaz de decompor
os proteídeos);
2) dor local mais ou menos intensa;
3) edema local que vai aumentando e se cianosando, tendendo para a necrose;
4) perturbação da visão, com imagens turvas ou duplas;
5) queda da pálpebra (ptose palpebral); e
6) poderá haver uremia aguda)
3.2.6 FAMÍLIA ELAPIDAE
3.2.6.1 A família elapidae é constituída pelas serpentes pertencentes ao Gênero
Micrurus que fogem totalmente das características normais das peçonhentas.
Fazem parte deste Gênero todas as corais (Fig 37), tanto as peçonhentas ou
corais verdadeiras (peçonhentas) e algumas falsas corais (não peçonhentas).
Algumas falsas corais podem não pertencer ao gênero micrurus.
3.2.6.2 Devido à grande dificuldade em estabelecer uma diferenciação entre elas
devemos considerar toda coral peçonhenta. 
a) Características:
1) cabeça não triangular, coberta por placas, praticamente não se destacando
do corpo;
2) não possuem fosseta loreal;
3) desenhos em cores amarela, vermelha, preta, branca e azul nem sempre
em anéis completos;

3-16
EB70-CI-11.466
4) podem ser opistóglifas e proteróglifas;
5) pupila redonda;
6) não picam, elas mordem; e
7) hábitos noturnos.

Fig 37 - Diversidade de cobras corais da Amazônia

b) Habitat - as corais possuem vivenda subterrânea e, sendo de hábitos noturnos,


são identificadas comumente ao amanhecer, ou ao cair da tarde. Os acidentes
com corais geralmente ocorrem com aqueles que manipulam a terra. 
c) Ação da Peçonha:
1) neurotóxica e bloqueadora neuromuscular;
2) o local da picada permanece normal, apenas com o sinal das presas; 

3-17
EB70-CI-11.466
3) sensação de dormência, que progride gradativamente pelo membro atingido,
pelo tronco, até atingir as terminações nervosas;
4) há uma sensação de constrição na faringe, com salivação abundante e
espessa;
5) dificuldade respiratória;
6) já as perturbações visuais são as mesmas que as do empeçonhamento crotálico;
7) pressão, pulso e temperatura normais; e
8) a morte pode ocorrer em poucas horas por asfixia, devido à paralisação do
diafragma e músculos do tórax.
3.2.7 FAMÍLIA BOIDAE
3.2.7.1 Compreende vários gêneros, com inúmeras variedades, onde as dimensões
variam de 50 centímetros até 12,5 metros.
- Nenhuma é peçonhenta, mas se movimentam com agilidade, sendo o bote
rapidíssimo e já preparado para enrodilhar e constringir a vítima. Não possuindo
peçonha, matam por constrição, realizada pela musculatura extraordinariamente
desenvolvida.
3.2.7.2 Em consequência das variedades que comporta a Família Boidae, também
são diversas as vivendas da mesma, sendo algumas aquáticas, arborícolas ou
mesmo, simultaneamente, aquáticas e terrestres ou terrestres e arborícolas. 

Fig 38 - Sucuri

3-18
EB70-CI-11.466
a) Gênero Eunects (Fig 38) - as serpentes deste gênero são conhecidas como
sucuris e apresentam as seguintes características:
1) possuem escamas supralabiais;
2) manchas arredondadas, bem nítidas, dispostas em duas fileiras sobre a
coluna vertebral;
3) vida semiaquática;
4) procuram suas vítimas à margem de cursos de água;
5) bote rapidíssimo;
6) musculatura poderosa; e
7) podem atingir 12,50 m de comprimento.
b) Gênero Boa - Conhecida como Jiboia (Fig 14), pode atingir até 4 metros de
comprimento.
- Quando irritada, emite prolongado silvo.
- Possui musculatura com grande poder de constrição.
- A vivenda pode tanto ser arborícola como terrestre ou mesmo aquática.

Fig 39 - Jiboia

c) Coralus caninus - exemplo: cobra-papagaio (Fig 40), que tem vivenda arborícola
e só é encontrada no norte do BRASIL.
3-19
EB70-CI-11.466
- Na Amazônia é tida como peçonhenta pelo nativo, apesar de não ser, por
parecer com a Surucucu-de- Patioba.

Fig 40 - Cobra papagaio, comumente confundida com Jararaca verde

d) Spilotes pullatus - exemplo: caninana (Fig 41). É também arborícola e, quando


irritada, infla o pescoço e investe com agressividade, embora não ofereça risco.
Possui dorso escuro manchado de amarelo e ventre amarelo com faixas negras
transversais.

Fig 41 - Caninana

3-20
EB70-CI-11.466
3.2.7 FAMÍLIA COLUBRIDAE
3.2.7.1 Philodryas sp - A este gênero pertence a cobra-cipó ou parelheira (Fig 42).

Fig 42 - Cobra-cipó

3.2.7.2 Ela é opistóglifa ofiófaga, devorando principalmente corais, arborícola,


fina e totalmente esverdeada, não atingindo mais de 1,5 m.
3.2.8 PRIMEIROS SOCORROS 
3.2.8.1 Generalidades
3.2.8.1.1 O Soro antiofídico é o antídoto ao veneno de cobra, elaborado a partir
do próprio veneno extraído de cobras vivas. 
- O tratamento da vítima de envenenamento ofídico é apenas a aplicação do soro
antiofídico, que anula o efeito da peçonha, quando aplicado precocemente. No
entanto, somente poderá ser realizado por pessoal habilitado e dotado com o
equipamento específico, pois as complicações que podem advir da soroterapia
poderão ser potencialmente mais fatais que a própria peçonha inoculada no
indivíduo.
3.2.8.1.2 Somente uma equipe de saúde habilitada poderá reverter as
complicações, que são comuns na administração de soro antiofídico, através
de procedimentos médicos específicos (intubação endotraqueal, utilização de
adrenalina, corticoides etc).

3-21
EB70-CI-11.466

3.2.8.1.3 Entre essas complicações está o choque anafilático que engloba:


a) edema de glote;
b) alteração de consciência;
c) hipertensão;
d) braquicardia;
e) apneia, etc.
3.2.8.1.4 O tratamento médico realizado até seis horas após o acidente com
ofídios, normalmente, não deixa sequelas e não é fatal em seres humanos
(exceto nos debilitados e nos que possuem pequeno peso corporal, como
as crianças).
- Se a inoculação da peçonha ocorrer em local muito vascularizado, os riscos
serão maiores, pois os efeitos serão mais precoces.
3.2.8.1.5 Para cada tipo de peçonha há um soro específico, com aplicação
intravenosa ou subcutânea, conforme o caso. “Normalmente” a via de admi-
nistração do soro antibotrópico e o anticrotálico recomendada é a intravenosa,
mas poderá ser feita a aplicação subcutânea se assim for indicado na bula do
medicamento.
3.2.8.1.6 Como orientação emergencial estão apresentados, a seguir, os mo-
dos e locais de aplicação.

Fig 43 - Locais de aplicação

3-22
EB70-CI-11.466

Fig 44 - Aplicação de soro por via subcutânea

3.2.8.1.7 Os soros antibotrópico e anticrotálico específicos, não devem “nunca”


ser utilizados em acidentes causados por serpentes do gênero Lachesis (surucucu
pico-de-jaca) ou Micrurus (corais).
3.2.8.2 Ações Imediatas numa Situação de Sobrevivência
a) Manter o acidentado em repouso.
b) Limpar o local da picada com água e sabão.
c) Elevar o membro afetado (visando reduzir a possibilidade de necrose local).
d) Não romper lesões bolhosas (que surgem, normalmente, após seis a 12 horas da
picada), pela possibilidade de gerar uma infecção secundária de origem bacteriana.
e) Não garrotear o membro afetado (para evitar a necrose na região).
f) Não sugar o ferimento, exceto se a picada ocorreu até 30 minutos antes (após
isto, a picada já estará na corrente sanguínea do indivíduo e não mais no local).
g) Não fazer sangria, pois a peçonha altera o tempo de coagulação e poderá
provocar uma grande hemorragia, gerando um choque anafilático.

3-23
EB70-CI-11.466
h) Pode ser administrada água ao vitimado.
i) Simultaneamente ao atendimento deve ser procurado, por outros elementos,
identificar e, se possível, capturar o ofídio causador do acidente conduzindo-o à
equipe médica que realizará o tratamento.
j) Havendo a possibilidade de evacuar, em até seis horas, o indivíduo acidentado
até um local onde possa receber tratamento médico especializado, isto deverá
ser feito de imediato.
k) Não havendo condições de evacuar o acidentado até um centro médico no prazo
de seis horas, ele deverá continuar bebendo água. Caso não haja a expectativa de
resgaste ou evacuação em menos de 12 horas e não tenha náuseas ou vômitos,
o indivíduo poderá consumir alimentos leves, visando fortalecê-lo. 
l) Se o vitimado sentir fortes dores, poderá receber analgésico: Dipirona por via
oral, intramuscular ou endovenosa, em ordem crescente de gravidade, ou Tylenol
(Paracetamol) por via oral.

ATENÇÃO

Não deve ser administrado ácido acetilsalicílico (Aspirina, AAS, Melhoral) e


anti-inflamatórios (Voltaren, Cataflan, Biofenac, Fenilbutazona), pois agravam
o quadro hemorrágico (interno ou externo).
m) De qualquer forma, mesmo que tenha passado o prazo de seis horas, todos
os esforços devem ser feitos no sentido de evacuar o acidentado para um Centro
Médico. 
 
3.3 ARANHAS 
3.3.1 GENERALIDADES 
3.3.1.1 As aranhas venenosas, no Brasil, pertencem a vários gêneros, com mais
de 50 espécies, espalhadas por todo o território, com predominância nos Estados
do Sul. Os principais são: Phounetria (armadeira), Loxosceles (aranha marrom),
Latrodectus (viúva negra), Lycosa (aranha-de-grama) e Eurypelma (tarantula). 
3.3.1.2 A armadeira coloca-se em posição de ataque quando surpreendida,
apoiando-se nas pernas traseiras, ergue as dianteiras e procura picar. A picada
causa dor imediata, inchaço local, formigamento e suor no local da picada.
- Deve-se combater a dor com analgésicos e observar rigorosamente novos
sintomas, como vômitos, aumento da pressão arterial, dificuldade respiratória,
tremores, espasmos musculares, caracterizando acidente grave. Assim, há
necessidade de internação hospitalar e aplicação de soro específico.

3-24
EB70-CI-11.466
3.3.1.3 A picada da aranha marrom provoca menos acidentes, por ser pouco
agressiva. Na hora da picada a dor é fraca e despercebida, após 12 a 24 horas
podem surgir dor local com inchaço, náuseas, mal estar geral, manchas, bolhas
e até morte das células (necrose) no local picado. Nos casos graves, a urina fica
de cor marrom escura. Deve-se procurar atendimento médico para avaliação.
3.3.1.4 A picada da Tarântula (aranha que vive em gramados ou jardins) pode
provocar pequena dor local e necrose. Utilizam-se analgésicos para alívio da
dor e não há tratamento com soro específico, assim como para as picadas de
caranguejeiras. 
3.3.2 CARACTERÍSTICAS 
a) Frequência - o maior número de acidentes ocorre nos meses frios durante
as horas quentes do dia, e 50% dentro das habitações, sendo 63% dos casos
atribuídos à Phoneutria fera e 9% à Lycosa.
b) Hábitos - as aranhas peçonhentas, em geral, não vivem em teias, e quando as
fazem, são irregulares e não em forma geométrica. Constituem exemplos mais
comuns:
1) Armadeira (Phoneutria fera - Fig 45) - encontrada em montes de telhas, tijolos
ou tábuas velhas. São agressivas. Os machos possuem menores dimensões.

Fig 45 - Armadeira

3-25
EB70-CI-11.466
2) Tarântula (Lycosa - Fig 46) - aranhas encontradas em jardins, debaixo de
paus podres, pedras ou capim alto e que picam ao serem tocadas.

Fig 46 - Tarântula

3) Viúva-negra (Latrodectus Fig 47) - vive em vegetação rasteira, nas


proximidades de areia. É a mais perigosa, por ter sua peçonha ação neurotóxica,
provocando os mesmos sintomas ocorridos com a picada da Phoneutria.

Fig 47 - Viúva-Negra

3-26
EB70-CI-11.466
4) Caranguejeira (Eurypelma) (Fig 48) - Aranha cabeluda encontrada nas regiões
tropicais. Atinge até 25 cm de comprimento.
- Alimenta-se de lagartixas e rãs e sua picada produz dor local que pode
perdurar por 48 horas, além de sintomas nervosos.

Fig 48 - Caranguejeira

3.3.3 AÇÃO DA PEÇONHA 
3.3.3.1 A ação da peçonha das Lycosas (Tarântulas) é proteolítica. A dor no local
da picada praticamente não existe, mas causa necrose da pele (ação dermotóxica)
em cerca de 30% dos casos. As Lycosas são as menos perigosas.
3.3.3.2 A peçonha dos demais aracnídeos mencionados tem uma ação neurotóxica,
atuando sobre os centros nervosos.
3.3.3.3 No local da picada, os aracnídeos deixam como vestígio um sinal puntiforme
ou uma erosão epidérmica.
3.3.3.4 Dificilmente fazem vítimas fatais e, no caso, somente em indivíduos em más
condições físicas, em crianças, ou ainda em pessoas de pequena massa corporal.
- Entre 24 e 48 horas após a picada ou a aplicação da terapêutica analgésica, os
sintomas desaparecem.
3.3.4 PRIMEIROS SOCORROS 
3.3.4.1 A exemplo do tratamento com ofídios, a aplicação de soros antictênicos
só poderá ser administrada por uma equipe de saúde, pois as complicações que
podem advir são potencialmente mais fatais que a picada das aranhas.

3-27
EB70-CI-11.466
3.3.4.2 A dor, que é o principal sintoma, deve ser combatida energicamente com
analgésicos e sedativos.
3.3.4.3 Os anti-histamínicos são indicados na proporção de uma ampola (50 mg)
de Prometazina (Fenergan) para reduzir os efeitos da picada.
3.3.4.4 Quando houver necrose e infecção, sintomas muito raros, poderão ser
administrados antibióticos sob prescrição médica.
3.3.4.5 Compressas quentes devem ser utilizadas, visando reduzir a dor e a
inflamação local.
3.3.4.6 Sempre que possível, o acidentado deverá ser evacuado e conduzido a
um centro médico a fim de receber o tratamento indicado.

3.4 ESCORPIÕES
3.4.1 GENERALIDADES 
- Há cerca de 150 espécies de escorpiões no Brasil. Dentre elas as mais comuns
são o Tityus serrulatus, no Sul, o Tityus bahiensis, no Centro Sul e o Tityus
cambridgei, na AMAZÔNIA e NE.
3.4.2 CARACTERÍSTICAS
3.4.2.1 O maior número de acidentes ocorre nos meses quentes e 70% dos casos
devem-se ao Tityus bahiensis, também chamado de escorpião preto.
- O Tityus cambridgei (Fig 49) também preto, porém de porte menor, é o único
encontrado na Amazônia e o acidente que provoca é de menor intensidade que
o Tityus serrulatus.

Fig 49 – Escorpião, Tityus cambridgei, espécie dos mais peçonhentos


3-28
EB70-CI-11.466
3.4.2.2 Hábitos - ocultam-se em lugares sombrios e frescos, debaixo de paus,
tábuas, pedras e picam ao serem molestados. Na Selva Amazônica é comum
serem encontrados em plenas áreas inóspitas, chegando a causar surpresa pelo
seu número.
3.4.3 AÇÃO DA PEÇONHA
- Predominantemente neurotóxica, deixando no local da picada apenas um sinal
puntiforme, sem reação. Provoca dor muito intensa, leve hipotensão arterial,
taquicardia e sudorese (suor).
3.4.4 PRIMEIROS SOCORROS
3.4.4.1 A exemplo dos acidentes com ofídios e aranhas, o soro antiescorpiônico
só deverá ser administrado por uma equipe de saúde, pois exige procedimentos
médicos que se não forem respeitados poderão causar o óbito, o que a picada
do escorpião raramente causaria.
3.4.4.2 Devem ser administrados sedativos e analgésicos, pois a dor, é o principal
sintoma, deverá ser combatida. Anti-histamínicos terão efeitos coadjuvantes.
3.4.4.3 Compressas quentes devem ser utilizadas, visando reduzir a dor e a
inflamação local.
3.4.4.4 Sempre que possível o acidentado deverá ser evacuado e conduzido a
um centro médico a fim de receber o tratamento indicado.

3.5 FORMIGAS
3.5.1 GENERALIDADES
3.5.1.1 As formigas (Fig 50) são insetos sociais pertencentes à ordem Hymenoptera
(do grego hymen = membrana e pteron = asa). Algumas espécies são portadoras
de um aguilhão abdominal ligado a glândulas de veneno. A picada pode ser muito
dolorosa e pode provocar complicações tais como anafilaxia, necrose e infecção
secundária.
3.5.2 CARACTERÍSTICAS
3.5.2.1 Formiga Tucandeira - A subfamília Ponerinae inclui a formiga tocandira
(Paraponera clavata) ou tucandeira, como é conhecida na Amazônia. Essa
formiga é capaz de atingir 3 cm de comprimento e é encontrada nas regiões Norte
e Centro-Oeste, principalmente na região Amazônica. Sua picada é extremamente
dolorosa e pode provocar inchaço e manchas vermelhas no local, ocasionalmente
acompanhada de fenômenos sistêmicos (calafrios, sudorese, taquicardia).
3.5.2.1.1 Também é conhecida como formiga-bala, por ter uma picada
consideravelmente forte, causando dor semelhante à dor de quem é baleado,
por isso, o apelido de “formiga-bala”.

3-29
EB70-CI-11.466
3.5.2.1.2 O veneno da tocandira é composto pela neutrotoxina poneratoxina, que
afeta rapidamente as terminações nervosas, provocando tremores, náuseas,
vômito, além de uma dor excruciante. Estima-se que a dor provocada pela picada
dure entre 12h e 24h ininterruptamente.

Fig 50 - Formiga tocandira, tucandeira ou formiga-bala

3.5.2.2 Formigas de correição - gênero Eciton (subfamília Dorilinae), também


ocorrem na selva amazônica, são carnívoras e se locomovem em grande número,
predando pequenos seres vivos. Sua picada é pouco dolorosa.
3.5.2.3 Formigas-de-fogo ou lava-pés (gênero Solenopsis) - tornam-se
agressivas e atacam em grande número se o formigueiro for perturbado. Possui
uma ferroada extremamente dolorosa e capacidade de ferroar 10-12 vezes,
fixando suas mandíbulas na pele e ferroando repetidamente em torno desse eixo,
o que leva a uma pequena lesão dupla no centro de várias lesões pustulosas. As
espécies mais comuns são, a formiga lava-pés vermelha (Solenopsis invicta) e
a formiga lava-pés preta (Solenopsis richteri).
3.5.2.6 Formiga de fogo - As ações do veneno da formiga de fogo, geralmente,
são muito intensas. Este é produzido em uma glândula conectada ao ferrão e
cerca de 90% é constituído de substâncias de efeito citotóxico, ou seja, causam
danos e lesões às células, que levam à morte.
3.5.2.7 Formigas saúvas (gênero Atta) - encontradas também na região
Amazônica, podem produzir cortes na pele humana com as potentes mandíbulas
e injetam veneno com propriedades tóxicas, que provoca dor intensa. Além de
dolorida, o seu ataque provoca bolhas, alergias e até choque anafilático.
3.5.3 PRIMEIROS SOCORROS
3.5.3.1 O quadro clínico é observado logo após a picada, formando-se uma pápula
(lesão sólida da pele, elevada, com menos de 1 cm de diâmetro) no local. A dor,
com o passar das horas, cede e o local pode se tornar pruriginoso (coceira). Cerca
3-30
EB70-CI-11.466
de 24 horas após, a pápula dá lugar a uma pústula (pequenas “bolhinhas” com
pus), que é reabsorvida em sete a dez dias. Pode haver infecção secundária das
lesões, causada pelo rompimento da pústula pelo ato de coçar. As complicações
são devido aos processos alérgicos em diferentes graus que podem ocorrer, sendo
inclusive causa de óbito. O paciente atópico (predisposição alérgica hereditária)
é mais sensível.

Fig 51 - Formigas comuns na região amazônica: (A) formiga tucandeira, (B) formiga de correição
(C) formiga de fogo, (D) formiga saúva

3.5.3.2 No caso específico da tucandeira, destaca-se que o primeiro passo é


remover a formiga responsável pelo ataque do local e lavar bem a região. O tra-
tamento do acidente para picada da espécie (e das demais) deve ser feito pelo
uso imediato de compressas frias locais, seguido da aplicação de corticóides
tópicos (cremes, pomadas, gel ou loções utilizados para tratar reações alérgicas
ou doenças na pele) se necessário. A analgesia (alívio da dor) pode ser feita com
paracetamol e há sempre a indicação do uso de anti-histamínicos por via oral.
Acidentes maciços ou complicações alérgicas têm indicação do uso de predni-
sona, 30 mg, por via oral, diminuindo-se 5 mg a cada três dias, após a melhora
3-31
EB70-CI-11.466
das lesões. Anafilaxia ou reações respiratórias do tipo asmático são emergências
que devem ser tratadas prontamente, vide acidente por abelhas. Entretanto, os
efeitos da picada também podem desaparecer sozinhos, mas isso leva em média
24h. O uso de anti-histamínicos também ajuda.

3.6 OUTROS INSETOS E ESCOLOPENDRAS (LACRAIAS) 


3.6.1 GENERALIDADES
- Abelhas, vespas e lacraias (Fig 52) podem produzir acidentes dolorosos pela
inoculação de peçonha através do “ferrão” que produz no organismo a liberação
de agentes alérgenos que, por sua vez, provocarão a liberação de histamina.
a) As reações locais são a sensação de ardência ou queimadura e a formação
de edemas.
b) As reações gerais podem ser determinadas por picadas múltiplas, principalmente
na face, no pescoço e na cabeça.
d) A gravidade do caso estará na dependência do número de picadas ou de ter
a vítima se tornado alérgica por picadas anteriores.
c) Nesses casos, o quadro clínico rapidamente se agravará com o estado de
choque anafilático e a morte por edema de glote. Quase todos os casos mortais
são devidos a tais manifestações.

Fig 52 - Lacraia ou centopeia

3-32
EB70-CI-11.466
3.6.2 TRATAMENTO
3.6.2.1 O tratamento em geral consiste em retirar o “ferrão” com uma agulha
esterilizada, incidindo na base daquele, projetando-o para cima.
3.6.2.2 Não deve ser pressionado o “ferrão” para evitar a inoculação adicional de
veneno no organismo do indivíduo.
3.6.2.3 Para atenuar os sintomas locais podem ser administrados analgésicos e
anti-histamínicos na proporção de uma ampola (50 mg) de Prometazina (Fener-
gan) por indivíduo.
3.6.2.5 O acidentado deverá ser acompanhado periodicamente para verificar a
evolução do quadro clínico.

3.7 SAPINHOS VENENOSOS


3.7.1 Os sapos venenosos são animais pertencentes a seis espécies, sendo a
mais letal a do Dendrobates que mede de 1,5 a 6,2 cm.
3.7.2 Existem na Amazônia e se apresentam em cores muito vivas (vermelho,
azul e amarelo).

Fig 53 - Diversidade de Sapos flecha da Amazônia (DENDROBATES).

3-33
EB70-CI-11.466
3.7.3 Possuem glândulas com produtos alcaloides que, em contato com outro
ser vivo, secretam (liberam) o veneno que tem penetração ativa sobre a pele, as
mucosas e afetam o sistema nervoso do predador, levando-o à morte.
3.7.4 Alimentam-se de pequenos animais peçonhentos, especialmente da formiga
Tucandeira, e potencializam seus venenos produzindo material altamente letal
que é armazenado em suas glândulas secretoras.
3.7.5 Já se registraram casos letais com seres humanos e até o momento não
existe antídoto conhecido.

3.8 RECOMENDAÇÕES GERAIS


3.8.1 MEDIDAS PREVENTIVAS
- As seguintes regras poderão ser utilizadas a fim de evitar as picadas de ofídios,
aranhas, escorpiões e lacraias:
a) andar sempre com uma vara ou forquilha, batendo-a, quando necessário, nas
árvores e galhos; o ruído espantará os animais e a própria forquilha poderá servir
como defesa para imobilização animal quando se tratar de ofídio.
b) antes de sentar ou deitar, verificar o local com a vara ou com os pés; evitar
sentar sobre toros ou árvores caídas, sem antes examinar à sua volta, pois são
locais preferidos pelo frescor e pela sombra para abrigos de serpentes.
c) ao se vestir, verificar se não há animais peçonhentos que tenham vindo abrigar-
se nas peças de roupa, bastando sacudi-las.
d) examinar os coturnos antes de calçá-los, virando-os e batendo na sola, pois
são locais preferidos para abrigo de aranhas e escorpiões.
e) jamais colocar as mãos em tocos de árvores em decomposição ou tocas de
tatus, que também servem de abrigos para ofídios.
f) ter cuidado ao mexer em folhas de Palmeira (Surucucu-de-Patioba), montes de
folhas ou palhas (aranhas e serpentes) e paus ou tábuas empilhadas (escorpiões).
g) jamais ingerir sapos, nenhuma forma de consumo é recomendada, haja vista
que a inativação da toxina do veneno em alguns casos não é termolábil, ou seja,
são substâncias que não inativam no calor.
h) evitar sempre andar isolado na selva. Quando possível, deslocar-se, no mínimo,
em grupos de três pessoas.
i) Em caso de acidente, evacuar o ferido mais rápido possível para que ocorra os
primeiros socorros e a aplicação de soro antiofídico.

3-34
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO IV
DESLOCAMENTOS NA SELVA

4.1 INTRODUCÃO
4.1.1 GENERALIDADES
4.1.1.1 A vasta Floresta Amazônica é caracterizada por uma vegetação bastante
densa, tornando a selva “uniforme” e com repetição contínua, o que dificulta a
visão de pontos nítidos em seu interior.
a) A copa das árvores, muito fechada em algumas regiões, não permitirá que se
observe o sol ou o céu, a não ser que se esteja em uma clareira ou próximo a
cursos d’água, o que limita extremamente o emprego de processos convencionais
de orientação.
b) Em outras regiões é possível orientar-se utilizando o sol ou a lua como ponto
de referência.
4.1.1.2 A repetição monótona e contínua da floresta fechada, os incontáveis
obstáculos encontrados, tais como troncos caídos e densas galhadas, a limitada
visão que permite ver no máximo 20 metros à frente durante o dia e a nenhum
palmo à frente do nariz à noite e a forte adversidade que envolve a situação na
selva, restringe a velocidade dos deslocamentos e criam dificuldades de se fazer
as próximas visadas.
4.1.1.3 no interior da selva à noite nada se vê, nem a própria mão a um palmo
dos olhos.
4.1.1.4 O luar, quando houver, poderá atenuar um pouco essa escuridão, sem,
contudo, entusiasmar o deslocamento noturno. Por isso, pode-se dizer que estes
deslocamentos serão lentos e penosos.

4.2 ORIENTAÇÃO
4.2.1 PROCESSOS DE ORIENTAÇÃO 
4.2.1.1 Orientação pelo Sol
4.2.1.1.1 Nascendo a leste e pondo-se a oeste, a perpendicular mostrará a direção
norte-sul (Fig 54).
4.2.1.2.2 Devido à inclinação variável do globo terrestre nas várias estações do
ano (Fig 55), esse processo deverá ser utilizado somente para se obter uma

4-1
EB70-CI-11.466
“direção geral” de deslocamento.

Fig 54 - Região do sol nascente

Fig 55 - Direção norte-sul

4.2.1.2.3 Será utilizado normalmente quando em áreas abertas ou em


deslocamentos fluviais, nos leitos dos rios.

4-2
EB70-CI-11.466
4.2.1.2 Orientação pela sombra
a) Crave uma vara no chão. Quanto maior a vara, mais rápido poderá definir as
direções a seguir.
b) Marque o ponto inicial onde fica a sombra da ponta da vara. Espere alguns
minutos e marque o segundo ponto.
c) Em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora do dia, a primeira marca fica
sempre a oeste e a segunda marca fica sempre para leste.
d) Após traçar uma linha reta entre os pontos Leste-Oeste, basta traçar uma
linha perpendicular à linha anterior, que indicará, aproximadamente, a direção
norte-sul (Fig 56).

Fig 56 - Orientação pela sombra

4.2.1.3 Orientação pelo relógio


a) Colocando-se a linha 6-12 horas voltada para o sol, a direção norte será obtida
com a bissetriz do ângulo formado pela linha 6-12 horas e o ponteiro das horas,
utilizando o menor ângulo formado com a direção 12 horas (Fig 57).
b) No caso do hemisfério norte, a linha a ser voltada para o sol será a do ponteiro
das horas, e a bissetriz do ângulo desta linha com a linha 6-12 horas dará a
direção sul.

4-3
EB70-CI-11.466
c) Trata-se de um processo que apresenta consideráveis alterações nas estações
do verão e inverno austrais devido à inclinação do globo terrestre e a direção em
que o sol incide sobre ele, também nas regiões próximas ao Equador, que é o
caso da maior parte da Amazônia Brasileira.
d) Porém, pode ser utilizado, sem maiores restrições, nas estações da primavera
e outono se o indivíduo ou grupo souber em qual hemisfério se encontra.

Fig 57 - Orientação pelo relógio

4.2.1.4 Orientação pela carta - as cartas do interior da selva são produzidas


a partir de fotografias aéreas que, ao se basear nas copas das árvores, não
apresentam a mesma fidelidade obtida em outras regiões. Porém, é possível
ao indivíduo ou grupos se orientarem por cartas com escala igual ou inferior a
1/50.000. Especial atenção deve ser dada na observação das depressões do
terreno, porém, para longos deslocamentos é conveniente utilizar este processo
aliado à orientação pela bússola.
4.2.1.5 Orientação pela bússola - será o processo que se mostrará mais eficaz,
mesmo à noite. Por isso a recomendação: “quando se penetra em área de selva
por via terrestre ou aérea, não esquecer de incluir no equipamento uma bússola
protegida por plástico”. Ela poderá vir a ser a salvação do sobrevivente, e talvez
a única. Por ela, de dia ou de noite, saber-se-á sempre onde fica o Norte.
a) Se em seu limbo houver luminosidade, inclusive a navegação noturna será
possível, porém, o deslocamento será penoso e geralmente pouco compensador.

4-4
EB70-CI-11.466
b) A técnica de emprego é a conhecida. Entretanto, quando houver mais de um
homem, um deles substituirá o ponto de referência, será o homem-ponto, enquanto
aquele que ficar manejando o instrumento será o homem - bússola. 
4.2.1.6 Orientação pelas estrelas (Cruzeiro do Sul, Fig 58 e 59)
- No hemisfério sul, prolongando-se 4 vezes e meia o braço maior da cruz, ter-
se-á o Sul no pé da perpendicular baixada, desta extremidade, sobre o horizonte.

Fig 58 - Cruzeiro do Sul

Fig 59 - Direção geral Sul

4-5
EB70-CI-11.466
4.2.1.7 Construção de abrigos pelos animais - os animais, de modo geral,
procuram construir os abrigos com a entrada voltada para o norte, protegendo-se
dos ventos frios do Sul e recebendo diretamente o calor e a luz do sol. No interior
da selva amazônica, devido à proteção que ela proporciona barrando os ventos
frios, este processo de orientação não apresenta grande confiabilidade.
4.2.1.8 Orientação pelo Global Position Sistem (GPS) - A orientação pelo GPS
dependerá da potência do sinal recebido dos satélites. No interior da selva, a
recepção deste sinal é prejudicada pela cobertura vegetal ficando a utilização do
GPS restrita às áreas de céu aberto. O GPS poderá ser utilizado para auxiliar na
orientação e navegação na Amazônia, principalmente quando em rios, igarapés
e regiões descampadas. O GPS além de fornecer coordenadas geográficas do
local, uma vez registrado um azimute, também permite navegar seguindo aquela
direção, pois ao se afastar da mesma emitirá um aviso sonoro.

4.3 NAVEGAÇÃO 
4.3.1 GENERALIDADES 
4.3.1.1 Navegação é o termo que se emprega para designar qualquer movimento
terrestre ou fluvial, diurno ou noturno, através da selva.
4.3.1.2 Não se dispondo de bússola, a navegação terá de ser feita como for
possível. Se houver um guia, normalmente chamado “mateiro”, conhecedor da
região, não haverá maiores problemas, caso contrário, a navegação será difícil. 
4.3.1.3 Quando for encontrada uma trilha aberta por um ser humano, essa
poderá conduzir a um local seguro. Se a trilha for de animal, provavelmente
conduzirá a um local de água (bebedouro). Se esse bebedouro for um igarapé,
poder-se-á segui-lo na direção da corrente, fato que deverá conduzir a um curso
de água maior e, por sua vez, a um local que permita a sinalização terra-ar, ou
onde haja habitante ribeirinho. Caso o curso de água desemboque em lagoa ou
lago, do mesmo modo haverá melhores condições para a sinalização.
4.3.1.4 Se um elemento se perder do grupo, poderá ser encontrado lançando
mão de sinais sonoros, tais como apitos:
a) Se possuir arma, poderá efetuar tiros em direção neutra, de acordo com a
necessidade poderá também bater com qualquer pedaço de pau em certas
raízes expostas de árvores (sapopemas), o que produzirá um som que reboará
até determinada distância.
b) Se tentar uma navegação em busca do grupo, deverá, à medida que se deslocar,
ir marcando o caminho percorrido, para isso, fará marcas com facão, faca ou
canivete nas árvores, ou irá quebrando galhos da vegetação baixa, de modo que
as pontas fiquem apontando para a direção seguida.

4-6
EB70-CI-11.466
4.3.1.5 Todos esses recursos, ou quaisquer outros, serão fundamentais em se
tratando de sobrevivência na selva.
4.3.2 ORIENTAÇÃO TERRESTRE DIURNA
4.3.2.1 Equipe de navegação
4.3.2.1.1 A equipe de navegação é aquela responsável pela orientação de um
grupo de homens, que poderá ser a própria patrulha. É constituída por:
a) chefe da equipe - coordena a atuação dos demais elementos, colocando homens
aptos em cada função.
- Chefe de equipe é quem informa ao Comandante da patrulha o ponto estação
e pode acumular outra função, de preferência a de homem-carta.
b) homem-bússola - responsável pela direção a seguir através dos azimutes.
Utiliza-se do auxílio do homem-ponto. Após a leitura da bússola, ocupará a posição
em que estava o homem-ponto para maior precisão.
c) Homem-passo: elemento com o passo aferido e responsável pelo controle da
distância percorrida ou a percorrer.
- Levará consigo o passômetro para auxiliá-lo na contagem dos passos. Sempre
que possível essa função será designada a mais de um elemento. 
d) Homem-carta/GPS: será o que conduzirá a carta/GPS.
1) Tem a missão de prestar informações ao chefe da equipe sobre a rota a ser
seguida, preparar o GPS com as rotas e pontos locados e auxiliar na identificação
de pontos de referência, ao mesmo tempo que lançará outros que mereçam ser
locados.
2) É interessante que o homem-carta procure sempre o deslocamento através
da “linha seca”, pois isso evitará o desgaste próprio e/ou do grupo no sobe e
desce dos socavões.
e) Homem-ponto ou baliza: trabalha cerradamente com o homem-bússola.
1) Desloca-se à frente da equipe, mantendo contato visual, com o homem-
bússola e obedecendo o comando deste para colocar-se na posição correta e
servir como referência a determinado azimute.
2) Utiliza-se de um bastão, tomando cuidado para que seja diferente da
vegetação local e à noite empregará uma lanterna com pequeno ponto luminoso
ou fita fosforescente. Pode-se dobrar a função para que os homens tomem
posições sucessivas, enquanto uma baliza a direção, o outro coloca-se mais à
frente no alinhamento.
3) O homem ponto deverá, de preferência, utilizar uma bússola para se deslocar
à frente na direção geral de marcha (RUMO).

4-7
EB70-CI-11.466

4.3.2.2 Observações:
a) Caso não exista carta, a equipe de navegação será reduzida a três homens.
Existindo apenas 2, um será o homem-ponto e o outro acumulará as funções do
homem-bússola com as do homem-passo.
b) Será interessante e muito aconselhável que todos os homens que integram
um grupo tenham conhecimentos do emprego da bússola e possuam o passo
aferido, o que possibilitará o rodízio de funções.
c) O uso do facão de mato será restrito quando não se quiser deixar pistas. 
4.3.3 AFERIÇÃO DO PASSO
4.3.3.1 É o método mais empregado para determinar qual a distância percorrida
em um deslocamento. Para empregar este método, é necessário que o homem
conheça qual a medida de seus passos, simples e duplo, e quantos passos dá
no intervalo de 100m.
- Para a área de selva, onde existem inúmeros obstáculos, é mais indicado a
utilização do PASSO SIMPLES para reduzir o erro.
4.3.3.2 Técnica
4.3.3.2.1 A técnica para aferição do passo consiste em realizar um deslocamento
em uma pista de 200m de comprimento, sendo 100m em terreno plano e 100m
em terreno inclinado (Fig 60).

Fig 60 - Aferição do passo

4-8
EB70-CI-11.466
- Este mesmo percurso deverá ser feito em sentido contrário ao que foi realizado
na primeira vez (subindo 100m e depois 100m no plano) a fim de que o elemento,
ao terminar o percurso, possa determinar a média aritmética do número de passos
dados nos quatro trechos.
4.3.3.2.2 Contagens
a) contagem 1 - 100m (plano) A p/ B: “X “passos simples;
b) contagem 2 - 100m (descendo) B p/ C: “ Y” passos simples;
c) contagem 3 - 100m (subindo) C p/ B : “K” passos simples;
d) contagem 4 - 100m (plano) B p/ A: “Z” passos simples;
e) Soma: (X+Y+K+Z); e
f) Média: (X+Y+K+Z)/4= 150 passos simples em 100m.
Significa que 1 passo simples = 100/[(X+Y+K+Z)/4].
4.3.3.3 Exemplo de cálculo 1:
a) contagem 1: 100m (plano) A p/ B = 139 passos simples;
b) contagem 2: 100m (descendo) B p/ C =168 passos simples;
c) contagem 3: 100m (subindo) C p/ B = 159 passos simples;
d) contagem 4: 100m (plano) B p/ A= 134 passos simples;
e) soma: 600 passos; e
f) Média= 600: 4= 150 passos simples em 100m.
Significa que 1 passo simples =(100: 150)= 0,66 m
4.3.3.4 Obtida a medida de 1 passo simples, pode-se confeccionar uma tabela
de conversão, com a finalidade de, a qualquer momento, transformar o número
de passos dados em metros.
4.3.3.5 Exemplo de cálculo 2:
a) 1 passo = 0,7 m;
b) 10 passos = 10 x 0,7 = 7 m;
c) 50 passos = 50 x 0,7 = 35 m;
d) 100 passos = 100 x 0,7 = 70 m; e
e) 150 passos = 150 x 0,7 = 105 m
4.3.3.6 Exemplo de cálculo 3:
a) 100m = 150 passos simples;
b) 10m = 15 passos simples;

4-9
EB70-CI-11.466
c) 50m = 75 passos simples; e
d) 150m = 225 passos simples.
4.3.4 AFERIÇÃO DO DESVIO
4.3.4.1 Nota-se que o homem na selva, mesmo evitando ao máximo sofrer a ação
dificultosa dos obstáculos encontrados em sua progressão com bússola, tende a
desviar-se, variando esse desvio de homem para homem.
- O motivo desse desvio ainda não está comprovado, no entanto, um dos fatores
que concorre para sua existência é a “PARALAXE”, fenômeno que ocorre devido
ao ângulo de visada da bússola.
4.3.4.2 Como foi dito anteriormente, cada homem apresenta um desvio
característico que poderá ser para a direita ou para a esquerda, no entanto, tem-se
observado que a grande maioria dos homens apresenta desvio para a esquerda.
A prática tem mostrado que para um deslocamento de 1000 m é aceitável um
desvio de até 150 m. Desvios acima deste valor são fruto do emprego errado das
técnicas de navegação.
4.3.4.3 A fim de descobrir qual o desvio do militar é feito uma pista em dupla, com
1000 metros de comprimento e 800 metros de largura.
- Nas duas frentes que distam 1000 metros uma da outra, as quais serão paralelas,
estarão dispostas placas com números ou letras para que o militar anote a placa
de início da pista e a placa de término da pista.
- Para o retorno, o outro militar da dupla retornará, tendo esta placa agora como
de partida. As placas estarão dispostas com um intervalo de 25 metros entre elas
(Fig 61).

Fig 61 - Pista do desvio

4-10
EB70-CI-11.466
4.3.6 TÉCNICAS DE NAVEGAÇÃO
4.3.6.1 O deslocamento através da selva é bastante penoso e dificultado pela
semelhança da vegetação. Por isso, é fundamental que seja empregada uma
técnica correta de navegação.
- Elas se dividem em duas: azimute desconhecido e azimute e distância.
4.3.6.2 Azimute desconhecido
4.3.6.2.1 Caso um grupo esteja perdido e não conheça nenhum ponto de referência
ou direção a ser seguida, este grupo deverá constituir uma equipe de navegação
e determinar um azimute a ser seguido a fim de evitar ficar andando em círculos.
4.3.6.2.2 Os militares deverão permanecer contando os passos para que, caso
decidam retornar para o ponto de origem, obtenham êxito e iniciem uma navegação
para uma nova direção.
4.3.6.2.3 Quer seja azimute ou contra azimute, a técnica será:
a) o homem-bússola lançará o homem-ponto à frente, na direção do azimute, até
o limite da visibilidade; por deslocamentos comandados “um pouco para a direita”,
ou “mais à esquerda”, etc. O homem-bússola determinará, com precisão, o local
onde o homem-ponto deve parar. Estando este parado, aquele se deslocará até ele
e o fará dar um novo lance à frente, na direção do azimute de marcha, repetindo
as operações anteriores. Será, portanto, uma navegação por lanços.
b) o homem-ponto será comandado pelo homem - bússola; enquanto ele se
deslocar, irá usando o facão para abrir picada e melhorar a visibilidade para os
que vêm à retaguarda.
c) o homem-passo seguirá aqueles dois, contando o número de passos; à medida
que atingir 100 ou quantos passos convencionar, irá anotando-os em um cordão
por meio de nós, pequenos galhos, folhas ou outro meio qualquer, de modo que
a qualquer momento, possa converter passos em metros e saber quanto andou.
d) Tal procedimento será necessário porque poderá haver necessidade de retorno
ao ponto de partida e, nesse caso, será sempre útil saber que distância ter-se-á
de marchar até ele; será, pois, fator de controle. Além do mais, caso haja uma
carta e surjam acidentes dignos de serem locados, essa distância será necessária. 
d) O homem-carta, se houver carta, procederá como foi descrito anteriormente.
4.3.6.1 Azimute e distância
4.3.6.1.1 O azimute e a distância aproximada do objetivo são conhecidos; será o
normal de um grupo em operações militares, mas poderá também ser o caso em
que esses dados (azimute e distância) sejam fornecidos a um grupo perdido, por
meio do rádio ou de uma ligação qualquer de avião para terra.

4-11
EB70-CI-11.466
4.3.6.1.2 Qualquer que seja a situação, a técnica será a mesma anterior. O que
poderá acontecer é que o objetivo seja uma área pequena e perdida na imensidão
da selva, o que exigirá uma outra técnica especial para a sua busca e localização.
Isso porque será muito provável que tenha havido desvios na direção de marcha,
bem como imprecisão na contagem das distâncias, fato aliás muito comum em
se tratando de deslocamento na selva.
4.3.6.1.3 A técnica referida engloba quatro processos diferentes para a busca e
localização de objetivos.
4.3.6.1.4 1º Processo – Quadrado - Crescente (Fig 62):
a) chegado ao ponto A (ponto inicial), escolhe-se um azimute, segundo o qual, 100
metros (medidos a passos), por exemplo, serão percorridos, chegando-se a B.
b) Do ponto B outros 100 metros serão percorridos segundo um azimute, tal que
o ângulo B seja igual a 90º (reto), chegando-se a C. Do ponto C mais 200 metros
serão vencidos segundo um outro azimute tal que o ângulo C seja reto, chegando-
se a D. De D, mais 200 metros, ângulo D, reto, chegando-se a E.

Fig 62 - Quadrado-Crescente (metros ou passos)

c) De E, agora, 300 metros, ângulo E, reto, e chegando-se a F. De F, outros 300


metros até G, sendo o ângulo F reto.
d) Assim se prosseguirá, aumentando as distâncias de 100 em 100 metros, duas
vezes seguidas, de modo que se irá envolvendo o ponto inicial A por meio de uma
figura que, convencionalmente, se denominará quadrado crescente.
e) Serão grandes as probabilidades de se localizar o objetivo; as distâncias da
marcha envolvente serão escolhidas naturalmente após um estudo de situação.
Os ângulos formados por duas direções sucessivas de marcha é que deverão
4-12
EB70-CI-11.466
ser sempre retos.
f) Este processo simples de guardar e fácil de executar, deverá ser aquele que
todo sobrevivente, ou grupo, deverá adotar porque fatalmente pelo menos um
igarapé deverá ser encontrado.
4.3.6.1.5 2º Processo - Retangular (Fig 63)
a) Chegado ao ponto A (ponto inicial), escolhe-se um azimute segundo o qual
serão percorridos, por exemplo, 200 metros (medidos a passo), e chega-se a B.
b) Em seguida, progredir apenas 100 metros segundo um azimute tal que o ângulo
B seja igual a 90o (reto), e chega-se a C.
c) De C, mais 200 metros segundo o contra-azimute daquele com que se marchou
de A para B, e chega-se a D. De D, mais 100 metros, segundo o mesmo azimute
que se marchou de B para C (azimute paralelo), e chega-se a E. De E, mais 200
metros, segundo o mesmo azimute com que se marchou de A para B (azimute
paralelo), e chega-se a F.
d) E assim se prosseguirá até encontrar o objetivo, ficando-se sempre em
condições de retornar, se necessário, ao ponto inicial A, pois poderá ser preciso
tentar uma outra direção inicial, que não a de A para B, segundo um outro azimute
e uma outra distância a percorrer.

Fig 63 - Retangular (metros ou passos)

e) Tal processo terá grande aplicação se for iniciado a partir de uma linha base
(A-D-E-H-I-M) coincidente com um curso de água, uma estrada, uma picada,
mesmo que não sejam retos, o que será normal na selva.
4.3.6.1.6 3º Processo - Off-Set (Fig 64) - Este processo é muito usado pelos pilotos
de aeronaves e terá aplicação, também, na navegação terrestre na selva. Apenas
é um pouco particular, pois não se empregará em qualquer situação. Assim, o
quadro inicial para sua execução será o seguinte:

4-13
EB70-CI-11.466
a) a equipe de busca encontra-se no ponto A e deseja deslocar-se para P,
conhecendo o azimute da direção AP, bem como a distância D entre eles; o ponto
P, sabe-se, está localizado à margem de um curso de água ou estrada;
b) se a equipe marchar diretamente de A para P segundo o azimute conhecido,
poderá acontecer que se desvie, o que será comum, e chegar ao curso de água
ou estrada, à direita ou à esquerda do ponto P; tal fato obrigará a uma busca, sem
se saber por onde começá-la, se pela direita, se pela esquerda;
c) o conhecimento da distância D também é necessário, porquanto durante o
deslocamento poderão ser encontrados cursos de água ou estradas que não sejam
os que passam por P, isto é, estarão aquém do ponto buscado; então, tendo-se
noção da distância, a dúvida não ocorrerá;
d) para evitar esses inconvenientes, a equipe aplicará o processo do seguinte
modo: partirá de A, não com o azimute conhecido, mas com ele acrescido ou
diminuído de 2, 3... 6 graus (um estudo de situação aconselhará qual o número
a adotar);

Fig 64 - Off-Set

e) conforme tenha sido adotado o acréscimo ou a diminuição, atingir-se-á a


margem do curso de água ou estrada à direita ou à esquerda do ponto P, em B ou
C; restará, então, deslocar-se para P, acompanhando aquele acidente do terreno.
4.3.6.1.7 4º Processo - Leque (Fig 65) - Este processo é de difícil execução em área
de selva devido ao tipo de terreno (muito acidentado), dificuldade de coordenação
e a necessidade de um alto grau de adestramento individual e coletivo da tropa
a executá-la.
a) Deve-se confeccionar um croqui, contendo os azimutes e distâncias dos
itinerários das equipes e as mesmas deverão conduzi-lo;

4-14
EB70-CI-11.466

b) partindo-se de um PI, lançar as equipes de vasculhamento em diferentes


azimutes, devendo as mesmas retornarem ao PI após percorrerem o setor
designado. O planejamento deve ser feito de modo que não haja encontro de
equipes no itinerário;
c) no PI ficará uma equipe para segurança ao retorno das outras equipes e, caso
a situação permita, manter comunicação constante com elas.

Fig 65 - Leque

4.3.6.1.8 5º Processo - dos azimutes paralelos (Fig 14) - Processo dos azimutes


paralelos - Técnica muito semelhante à técnica do leque, e também é de difícil
execução em um ambiente operacional de selva em virtude do relevo acidentado.
a) Nessa modalidade de vasculhamento, a patrulha ocupará uma Zona de Reunião
e enviará equipes de militares (o efetivo irá variar de acordo com a quantidade de
homens disponíveis e a área a ser batida) para vasculhar a região.
b) Todas as equipes irão receber o mesmo azimute e a mesma distância a ser
percorrida, porém o seu ponto de liberação estará distando de 50 a 100 metros.
c) Cada equipe irá percorrer seu itinerário e quando chegar no limite do
deslocamento irá realizar uma curva de 90 graus (ângulo reto) para a direita,
percorrerá de 25 a 50 metros, realizará uma nova curva de 90 graus e retornará
para a Z Reu utilizando a distância e o contra azimute inicial.

4-15
EB70-CI-11.466

Fig 66 - Processo dos azimutes paralelos

4.3.6.1.9 6º Processo - “Pente Fino” (Fig 67) - Processo dos azimutes paralelos
- Técnica bastante utilizada e amplamente difundida.
a) Nesta técnica a tropa estará disposta no terreno em linha, e tal qual a técnica do
leque e a técnica dos azimutes paralelos, ela será dividida em equipes. A grande
diferença é que todo o efetivo irá se deslocar junto, saindo junto de uma Z Reu
e ocupando uma nova Z Reu do outro lado, igualmente de maneira simultânea.

Fig 67 - Processo Pente Fino

b) Esta técnica requer um alto nível de planejamento, caso o existe a possibilidade


de contato com o inimigo. Para isso, será confeccionado um croqui, destinando

4-16
EB70-CI-11.466

azimutes e distâncias distintas para cada equipe percorre até alcançar a linha
base do processo. Essa linha pode ser uma linha nítida no terreno (é ideal que
seja), mas caso não disponham desse conhecimento ou não exista uma linha
nítida ela poderá ser imaginária e as equipes saberão que alcançaram tal linha
pelo processo do azimute e passo simples.
c) Ultrapassada a linha base as equipes poderão, dependendo do planejamento,
percorrer uma distância “X” em uma direção perpendicular a linha base para
depois convergir ao centro e se deslocar até alcançar a nova Z Reu; ou alcançada
a linha base, já de imediato convergem para o centro em busca da nova Z Reu.
4.3.6.1.10 7º Processo do trevo (Fig 16)
a) Nesse processo de vasculhamento, semelhante ao processo do leque, a
patrulha ocupará uma base ou uma Z Reu em um dispositivo central e, após isso,
irá montar quatro equipes de vasculhamento.

Fig 68 - Processo do trevo

b) Cada equipe receberá um azimute a ser seguido e percorrerá um quadrado


até retornar para o centro do dispositivo.

4-17
EB70-CI-11.466

4.3.7 NAVEGAÇÃO TERRESTRE NOTURNA


4.3.7.1 Equipe de Navegação
4.3.7.1.1 Será válido aqui tudo o que foi dito para a navegação diurna. Apenas
alguns pontos terão que ser chamados à atenção. Assim:
a) o homem-ponto deverá ficar com algum objeto luminoso e velado para servir
de ponto de visada do homem bússola para que este possa corrigir a sua posição
e navegar corretamente no azimute.
b) o homem-bússola deverá portar uma bússola luminosa e tanto ele como todos
os outros do grupo deverão estar bem familiarizados com seu uso, porque, à
noite, o manejo será diferente e, conforme o tipo do instrumento, até a audição
terá de ser empregada.
- Será o caso da bússola que possui anel serrilhado móvel, que gira para a direita
e para a esquerda, fazendo um barulho característico - o clique - que representará
um certo número de graus, conforme o tipo do aparelho.
c) As mesmas identificações luminosas deverão ser portadas pelo homem-bússola
(podendo ser lanternas veladas) para guiar os homens da retaguarda.
- Além disso, os lanços do homem-ponto deverão ser muito bem controlados
pelo homem-bússola (ensaiar sinais e gestos a fim de corrigir o homem ponto
durante a navegação), uma vez que, durante a noite, a visibilidade restringir-se-á
a uns 3 ou 4 metros com referência a sinais luminosos.
d) o homem-passo, durante a noite, será mais importante que durante o dia.
1) Deverá deslocar-se junto ao homem-bússola para não se perder e observará
que a contagem de passos tornar-se-á uma operação monótona.
2) Portará também referências luminosas.
e) O homem-carta, sem visibilidade, não atuará; limitar-se-á a confrontar as
distâncias percorridas com os acidentes geográficos encontrados e concorrer ao
rodízio de funções, o que será muito importante na navegação noturna.
4.3.7.1.2 Toda a equipe de navegação, ou grupo que a enquadra, deverá procurar
deslocar-se com seus elementos mais próximos uns dos outros; todos deverão
portar identificações luminosas, bem como ter estabelecido entre si um código
simples de sinais.
- Terão que redobrar os cuidados para não perder objetos ou equipamentos
quaisquer. Se houver lampiões, lanternas ou lamparinas, as condições de marcha
melhorarão sensivelmente.
4.3.7.2 Sentidos humanos na navegação noturna:
a) com exceção do paladar, os demais sentidos serão bastante solicitados à noite; 

4-18
EB70-CI-11.466
b) a vista, mesmo após adaptada à escuridão, sentir-se-á cansada ante o esforço
duplicado para enxergar;
c) o tato a todo momento estará em função, esquadrinhando o espaço à frente e
dos lados, identificando possíveis obstáculos à progressão;
1) os pés sondarão o terreno para a execução de um simples passo à frente
ou para os lados;
2) as mãos, por vezes, com o homem acocorado, realizarão as mesmas
sondagens, inclusive acima da cabeça;
3) caso se pretenda sentar ou deitar, a busca terá então de ser mais detalhada
e demorada para evitar surpresas;
4) a falta de um objeto exigirá um tateamento em todas as direções e alturas;
5) para ir balizando a direção de marcha terão que ser procurados ramos
frágeis e quebradiços;
d) o olfato procurará identificar possíveis odores que sirvam para auxiliar a busca
de um objetivo como os de cigarro aceso, de cozinha, de fumaça produzida por
lenha de fogueiras etc; e
e) a audição procurará identificar os sons comuns, bem como as distâncias em que
são produzidos; poderão ocorrer ilusões, pois a selva afeta a noção de distância.
4.3.7.4 Após essas considerações, e por experiências vividas, fácil é chegar à
conclusão de que os deslocamentos noturnos não serão compensadores, sendo
inclusive, perigosos.
- Entretanto, se necessários, poderão ser executados, pois sua técnica será a
mesma que a da navegação diurna, tendo-se, porém, que levar em conta as
observações anteriores.

4.4 SINALIZAÇÃO
4.4.1 Generalidades
4.4.1.1 O que mais interessa a um sobrevivente ou grupo de sobreviventes é ser
encontrado, quer por socorro terrestre ou fluvial, quer por socorro aéreo.
4.4.1.2 Portanto, se for utilizado um processo qualquer para sinalização, poderá
haver possibilidades amplas de sucesso, desde que esse processo seja o mais
adequado para a ocasião ou situação.
4.4.2 PROCEDIMENTO GERAL:
4.4.2.1 Se o grupo for composto por indivíduos, militares ou civis, que partiram de
uma base de operações para o cumprimento de uma missão na selva, via terrestre

4-19
EB70-CI-11.466
ou fluvial, será natural que conduzam consigo os meios materiais necessários ao
bom desempenho da missão.
4.4.2.2 Nesse caso, se perdidos e tendo de sobreviver até serem encontrados,
o problema não se revestirá de perspectivas sombrias, pois o escalão superior
saberá o que estão fazendo e onde poderão estar. Haverá, portanto, uma base
segura para a partida do socorro.
a) Em matéria de sinalização, por outro lado, um código já teria sido estabelecido
entre eles, restando, portanto, pô-lo em execução.
b) Os processos mais simples e comuns serão: por apito, por tiros, por batidas
em sapopemas (as grandes raízes) ou qualquer outro à base da acústica, uma
vez que os visuais surtirão pouco efeito por causa da vegetação, e as fogueiras
e lanternas, mesmo à noite, serão percebidas só de muito perto, quando os
acústicos já surtiram efeito.
c) A fumaça, produzida por queima de vegetais e outros materiais disponíveis
(pneus, borracha, etc), poderá ser vista à distância por indivíduos embarcados
em aeronaves.
- Contudo, se a fumaça for clara, poderá ser confundida com a névoa que é
comum nas primeiras horas da manhã na Amazônia.
d) Se o elemento decidir, por sua vez, tentar a navegação, não deverá esquecer
de ir balizando o percurso.
- Para isso, além de sinalizar por meios acústicos a espaços de tempo regulares,
irá assinalando sua passagem pela quebra de pequenos galhos, de marcas nas
árvores, de objetos ou parte deles deixados pendurados, etc.
4.4.3 DESASTRE AÉREO
4.4.3.1 Se a necessidade de sobreviver for decorrente de um desastre de aviação
na selva, as condições que cercarão os sobreviventes serão possivelmente
diferentes.
4.4.3.1.1 Mortos e feridos, alguns destes sem condições de locomover-se, servirão
para agravar o problema.
4.4.3.1.2 Se a aeronave não se incendiar, ainda que toda destruída, provavelmente
fornecerá muitos meios a serem utilizados pelos que se salvarem, particularmente
alimentos, medicamentos, bússola, armas, ferramentas, espelhos, cordas, fios
elétricos, etc, tudo isso será alenta dor, mesmo diante do provável quadro adverso.
4.4.3.1.3 Restará saber aproveitar o que for possível, porquanto, ainda que tenha
havido incêndio, alguma coisa restará que possa ser utilizada.
4.4.3.2 Será óbvio que a aeronave decolou de algum lugar e com um destino
conhecido; a dúvida ficará no quando e onde se deu o acidente. Portanto, a base

4-20
EB70-CI-11.466
de partida para as buscas, quer seja a inicial, quer outras suplementares montadas
como auxiliares, serão os processos peculiares de busca e salva mento; e,
enquanto isto estiver ocorrendo, os que se salvaram terão de lutar para sobreviver.
Seus pensamentos e esperanças serão conduzidos para o socorro, e esse, em
casos semelhantes, apresentar-se-á, vindo pelos ares, na grande maioria das
vezes. Mas será preciso cooperar, mesmo em situação precária.
- Será aí, então, o momento em que a sinalização de terra para o ar representará
papel preponderante.
4.4.3.3 De início, não se deverá abandonar as imediações do local da queda
do avião:
a) primeiro, pela fonte de recursos que o aparelho poderá representar;
b) segundo, porque geralmente a ação da queda destrói a vegetação, abrindo
uma clareira, o que poderá ser uma ótima referência para quem sobrevoa a área;
c) terceiro, porque o próprio aparelho poderá servir de abrigo, particularmente
contra a chuva; e
d) quarto, porque: “ir para onde?”. É mais fácil localizar do ar os destroços da
aeronave do que um grupo de homens no interior de selva.
4.4.3.4 O máximo que se poderá tentar, no caso de decidido um deslocamento,
será a busca de uma clareira, um lago ou um curso de água, locais que facilitarão
a sinalização terra-ar.
- Ainda assim, a tentativa deverá revestir-se de todas as medidas de segurança
possíveis, com a preocupação sempre presente de que esses locais deverão
estar a céu aberto, porquanto avistar, do ar, um homem ou um grupo perdido na
floresta, mesmo sinalizando, será tarefa dificílima.
4.4.3.5 Atualmente muitas aeronaves possuem transmissores localizadores de
emergência que foram desenvolvidos para auxiliar a localização daquelas em
caso de acidentes.
a) Um dos sistemas - NARCO ELT -10 - emite sinais por sete dias nas frequências
alerta internacional 121,5 MHz e 243,0 MHz e cobertura mundial na frequência
406 MHz.
b) Normalmente é localizado na altura da cabeça do copiloto e parece com um
pequeno transmissor portátil. Seu sinal somente será ouvido no local se o receptor
da aeronave estiver funcionando, porém será captado por satélite que o devolverá
à estação terrestre do INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS, em
Cachoeira Paulista-SP, com informações das prováveis coordenadas do local
emissor do sinal, bem como poderá ser captado pelas aeronaves de busca.

4-21
EB70-CI-11.466

4.4.4 PROCESSOS DE SINALIZAÇÃO


- De terra para o ar a sinalização terá de ser visual. Vários são os recursos dos
quais se poderá lançar mão para sinalizar. Alguns serão apresentados a seguir:
a) Fumaça
1) A fumaça só será usada durante o dia. De nada adiantará fazer fumaça sob
o copado fechado; primeiro, porque ela não vencerá a altura desse copado e
segundo, porque mesmo que o vença, será facilmente confundida com a fumaça
ou nevoeiro que comumente existe na floresta, em consequência da evaporação
das águas.
2) As fumaças nas cores amarela ou vermelha serão as mais visíveis, mas
dependerão da existência de artifícios pirotécnicos para produzi-las, os quais só
deverão ser empregados quando se avistar ou ouvir o ruído de aeronaves.
- A fumaça branca poderá ser obtida de uma fogueira, na qual, serão lançadas
folhas e ramos verdes, limo das árvores ou simplesmente salpicando água; e
- A fumaça preta resultará da queima de óleo, borracha, estopa embebida
em óleo, materiais que poderão ser obtidos, se for o caso, no avião acidentado.
b) Chama - A chama, quer das fogueiras, quer obtida pela queima de materiais
fosfóricos, será o recurso para sinalizar durante a noite.
- Apesar de, normalmente, as buscas se efetuarem à luz do dia, poderá
acontecer que qualquer outra aeronave passe pelo local e observe o sinal.
c) Espelhos - Na falta de outros meios, poderão ser usados quaisquer objetos que
possuam superfície polida (tampas de lata, pedaços da aeronave), que produzam
reflexos contra o sol.
- Serão usados dirigindo-se esses reflexos na direção de onde vem o ruído
de motores, mesmo que não se aviste a aeronave e mesmo em dias nublados.
d) Diversos - Se existirem painéis, deverão ser hasteados e balançados; se houver
tinta fosforescente, poderá ser derramada uma pequena quantidade num lago,
lagoa ou curso de água, que ela se espalhará rapidamente por uma grande área.
O local de permanência deverá ser “desarrumado” o mais possível, procurando
quebrar a aparência normal e monótona da vegetação de selva.
4.4.5 CÓDIGOS DE SINAIS VISUAIS
- A selva fornecerá o material necessário para a sinalização com base no código
de sinais apresentado (Fig 69). Seria aconselhável que uma cópia desse Código,
em um pequeno cartão, acompanhasse sempre aqueles que, por qualquer motivo,
correm o risco de se encontrar em uma situação difícil na selva.

4-22
EB70-CI-11.466

Fig 69 - Códigos de sinais visuais terra-ar

4-23
EB70-CI-11.466
4.6 ULTRAPASSAGEM DE OBSTÁCULOS
4.6.1 Será normal em um deslocamento na selva encontrar os mais diversos
obstáculos naturais, como troncos caídos, galhadas, chavascais, igarapés
(estreitos e largos, de forte e fraca correnteza), rios, entre outros. Visando a essa
necessidade há processos para realizar a transposição dos mesmos sem perder
a direção que estava sendo seguida.

Fig 70 - Desvio de um obstáculo pelo processo da compensação com passos e ângulos retos

a) Processo do ponto de referência nítido: chegando ao obstáculo, escolhe-se


um ponto bem nítido no lado oposto para servir de referência. Efetua-se o desvio
necessário, chega-se ao ponto e a marcha é reiniciada. Entretanto, o processo
raramente terá aplicação prática quando se tratar de obstáculos de grandes
dimensões, pois mais difícil na selva será encontrar aquele ponto nítido. Por isso,
quando sair de um ponto em busca de outro, não esquecer de deixá-lo, antes,
muito bem marcado para facilitar o retorno em caso de insucesso.
b) Processo da compensação com passos e ângulos retos: marche na direção
amarrada pelo azimute de marcha até o ponto “A”, frente ao obstáculo. Em “A”
some ou diminua 90º ao azimute de marcha e desloque contando os passos até
atingir um ponto que desborde o obstáculo, ponto “B”. Em “B”, retorne ao azimute
original de marcha e desloque até ultrapassar o obstáculo, ponto “C”. Em “C”,
desloque no contra-azimute do deslocamento realizado entre os pontos “A” e “B”
da mesma distância, atingindo o ponto “D, onde deverá retornar para o azimute
inicial de marcha.
4-24
EB70-CI-11.466
4.6.2 BARREIRAS VERTICAIS: a ação erosiva das chuvas e dos cursos de água
(inclusive igarapés que dão vau de uma hora para outra, por ação de chuvas,
transformam-se em profundas correntes velozes), frequentemente criando nas
encostas das elevações verdadeiros precipícios, quase verticais, que se anteporão
a uma direção de marcha. Sempre que possível, tais obstáculos deverão ser
evitados. Entretanto, nem sempre isso será possível, havendo necessidade de
serem transpostos, às vezes, com 5, 10, 20 ou mais metros de altura. Para vencê-
los, a solução será procurar um caminho melhor e mais fácil, que não requeira
meios materiais e técnica especial. Porém, será necessário não esquecer que,
vencido o obstáculo, ter-se-á que reiniciar a marcha na direção original.

4-25
EB70-CI-11.466

4-26
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO V
PROTEÇÃO NA SELVA

5.1 ABRIGOS
5.1.1 GENERALIDADES
5.1.1.1 O combatente na selva, esteja ele em uma situação de sobrevivência ou
até mesmo em operações, necessita de proteção contra o meio adverso para
manter a saúde do corpo, o bom estado do seu material e a manutenção do
estado psicológico.
5.1.1.2 A utilização de um abrigo eficiente, limpo, de bom aspecto e que proporcione
um mínimo de conforto dará ao combatente além de melhores condições físicas,
condições psicológicas favoráveis para obter um rendimento máximo nas ações.
5.1.2 DEFINIÇÃO
- No contexto de sobrevivência na selva, abrigos são construções preparadas pelo
combatente, com os meios que a selva e o próprio equipamento lhe oferecem
para a proteção contra as intempéries e os animais selvagens.
5.1.3 CLASSIFICAÇÃO
5.1.3.1 De acordo com o material utilizado na construção e com o tempo de
ocupação do abrigo podemos classificá-los em três tipos, abrigos permanentes,
semipermanentes e temporários.
5.1.3.2 Abrigos permanentes
- Construídos com material da região mesclado com material industrializado e
destinados a permitir uma ocupação contínua por período indeterminado.

Fig 71 – Exemplo de abrigo permanente

5-1
EB70-CI-11.466
5.1.3.3 Abrigos semipermanentes
- Construídos com o material exclusivo da região e destinados a permitir a ocu-
pação por um longo período de tempo.
5.1.3.3.1 Tapiri simples: construído para alojar o pessoal. O modelo e as dimen-
sões dependem do efetivo que vai alojar-se no interior.

Fig 72 – Tapiri simples

Fig 73 – Exemplo de tapiri simples

5-2
EB70-CI-11.466
5.1.3.3.2 Tapiri para cozinha: abrigo semipermanente construído para ser utilizado
como cozinha nos estacionamentos da tropa.

Fig 74 – Exemplo de tapiri para cozinha

- Possui em seu interior um balcão, construído com material nativo, para ser
utilizado como mesa, guardar utensílios e gêneros alimentícios, além de abrigar
a linha de servir.
5.1.3.3.3 Tapiri nativo: é um abrigo semipermanente muito utilizado como moradia
pelos caboclos da Amazônia.

Fig 75 – Exemplo de tapiri nativo

5-3
EB70-CI-11.466
- Confecciona-se um assoalho de madeira e, nas laterais colocam-se traves que
se unem na parte superior formando uma pirâmide. Logo após, reveste-se as
laterais com palha deixando-se uma pequena entrada na parte anterior.
5.1.3.3.4 Tapiri duas águas: é um abrigo semipermanente muito utilizado pelos
regionais para moradia. O abrigo não possui assoalho, porém o homem constrói,
no seu interior, camas improvisadas para dormir afastado do solo.

Fig 76 – Exemplo de tapiri duas águas

5.1.3.3.5 Tapiri uma água: é um abrigo semipermanente semelhante ao duas


águas, entretanto, como o nome já diz, só possui uma água.

Fig 77 – Exemplo de tapiri uma água

5-4
EB70-CI-11.466
5.1.3.3.6 Rabo de mutum: abrigo muito utilizado como cobertura da rede trançada
do tipo tarrafa ou de nylon. Constrói-se uma trave e na sua parte superior colocam-
-se várias palhas pretas amarradas. Na sua lateral colocam-se traves limitadoras
para segurar as laterais da palha.

Fig 78 – Exemplo de Rabo de Mutum

5.1.3.3.7 Japá: é um abrigo semipermanente muito utilizado pelos regionais como


cobertura em pequenas embarcações.

Fig 79 – Exemplo de Japá

5-5
EB70-CI-11.466
- A confecção é difícil e requer prática na confecção da palha trançada. Colocam-
-se várias palhas pretas uma ao lado da outra trançando-se de maneira que se
obtenha uma espécie de um colchão, em seguida, confeccionam-se dois arcos
com um cipó grosso e flexível. Feito isso, coloca-se a palha trançada por cima
dos dois arcos.
5.1.3.4 Abrigos temporários: são construídos com o material da região ou utili-
zando peças do equipamento individual e destinados a permitir a ocupação por
curtos períodos de tempo.
5.1.3.4.1 Rabo de jacu: é um abrigo temporário de fácil construção, muito utilizado
para a proteção do fogo e material. Quando construído para proteger o combatente
deve possuir um assoalho, construído com madeira, palhas ou folhas de palmeira
passadas na chama da fogueira como medida preventiva contra carrapato. Para
colocação das palhas deve-se colocar as primeiras 5 palhas com a calha voltada
para cima visando uma melhor impermeabilização e o restante com a calha vol-
tada para baixo para não acumular água e fazer peso sobre a madeira. Um bom
Rabo de Jacu utiliza de 15 a 20 palhas.

Fig 80 – Exemplo de Rabo de Jacu

5.1.3.4.2 Rede de Selva: é um abrigo temporário que faz parte do equipamento in-
dividual e dotação do combatente de selva. Muito empregada em todas operações
constitui-se em um abrigo de fácil montagem. Sua grande vantagem é o conforto e
a segurança já que possui um mosquiteiro que protege contra ação de mosquitos.
Sua grande desvantagem está no volume e no peso de aproximadamente 3,5 Kg.

5-6
EB70-CI-11.466

Fig 81 – Exemplo de rede de selva

5.1.3.4.3 Abrigo improvisado com poncho: é um abrigo temporário de fácil mon-


tagem pela simplicidade e pelo fato de todo militar possuir poncho no apronto
operacional, entretanto, não é aconselhável a utilização no interior da selva pelo
fato do militar ficar em contato com o solo

Fig 82 – Exemplo de abrigo improvisado com um poncho

5-7
EB70-CI-11.466

Fig 83 – Exemplo de abrigo improvisado com dois ponchos

Fig 84 – Exemplo de abrigo improvisado com um poncho

5-8
EB70-CI-11.466

Fig 85 – Abrigo improvisado com dois ponchos para dois homens

5.1.3.4.4 Abrigo improvisado com rede e poncho: é um abrigo temporário de


fácil confecção. Consiste basicamente em construir uma rede de selva impro-
visada utilizando um poncho como telheiro e uma rede de nylon ou uma rede
trançada tipo tarrafa no lugar da maca.

Fig 86 – Exemplo de abrigo improvisado com rede e poncho

- A vantagem é a diminuição do volume e do peso e a grande desvantagem é o


conforto e a falta de mosquiteiro que facilita a ação de mosquitos.

5-9
EB70-CI-11.466

5.1.3.4.5 Poncho ou telheiro da rede de selva como saco de dormir: apesar de


ser possível, NÃO é aconselhável a utilização no interior da selva pelo fato do
militar ficar em contato com o solo.

Fig 87 - Saco de dormir improvisado com poncho

5.1.4 TIPOS DE MATERIAL


5.1.4.1 Madeiras: utilizadas na construção da estrutura e assoalho dos abrigos.
São encontradas em toda a área e devem ser utilizadas de acordo com a neces-
sidade do abrigo e do material disponível para apanha desta madeira.
5.1.4.2 Palhas e Folhas de Palmeiras
5.1.4.2.1 Palha branca
a) É a palha nova do Babaçú, extraído do olho da Palmeira.
b) É a mais utilizada na cobertura de abrigos por ser uma palha nova e apresen-
tar uma resistência maior, é também utilizada no balizamento de itinerários por
facilitar a observação durante a noite.
c) A grande desvantagem da utilização desta palha é devido ao fato de todo palheiro
possuir apenas uma palha branca e as características dificultam a camuflagem
no interior da selva.

5-10
EB70-CI-11.466

- Por ocasião da retirada, deve-se cortar deixando um filete para não matar a
Palmeira.

Fig 88 – Palha branca

5.1.4.2.2 Palha preta (de Babaçu)

Fig 89 – Palha preta

a) É a palha do Babaçu madura ou no estado adulto.


b) Também utilizada na confecção de tetos, as folhas também apresentam uma
boa impermeabilização.
c) As folhas não apresentam ranhuras e são equidistantes e simétricas bem
próximas umas das outras, mostrando-se bem características e a coloração
apresenta-se verde claro na frente e à retaguarda.

5-11
EB70-CI-11.466

d) A palha preta é a melhor palha para a confecção do rabo de Jacú.


5.1.4.2.3 Palha de Patauá

Fig 90 – Palha de Patauá

a) Semelhante à palha preta, as folhas são simétricas, entretanto, a distância


entre elas apresenta-se maior.
b) As folhas são esverdeadas na frente e esbranquiçadas à retaguarda apresen-
tando ranhuras longitudinais.
5.1.4.2.4 Palha de Bacaba

Fig 91 – Palha de Bacaba

a) Diferente da palha Preta e do Patauá, na palha da Bacaba, as suas folhas


apresentam-se em forma de agrupamentos de folhas de maneira não simética
(Ex: 5 folhas para um lado 3 para o outro, 2 para um lado e 4 para o outro).
b) A coloração é verde escuro na frente e esbranquiçada à retaguarda, além de
apresentarem ranhuras longitudinais.
c) O talo é avermelhado por possuir uma espécie de limo que cede ao atrito.

5-12
EB70-CI-11.466
5.1.4.2.5 Palha de Inajá

Fig 92 – Palha de Inajá

a) A exemplo da palha de bacaca, as folhas apresentam-se em agrupamentos


que, entretanto, são simétricos( Ex: 3 para um lado, 3 para o outro, 2 para um
lado 2 para o outro).
b) Sua coloração é esverdeado tanto na frente como na retaguarda e não apre-
senta ranhuras.
c) Seu talo é resistente e cortante muito utilizado em armadilhas sendo necessário
cuidado no manuseio.
5.1.4.2.6 Palha de Bacabinha

Fig 93 – Palha de Bacabinha

a) A palha é pequena e apesar das folhas serem distribuídas uniformementes ao


longo do talo.
b) Diferentemente da Bacaba apresenta algumas características semelhantes
àquela palha como a coloração esverdeada à frente e esbranquiçada à retaguarda,
além das ranhuras longitudinais.

5-13
EB70-CI-11.466
5.1.4.2.7 Palha de Açaí:

Fig 94 – Palha de açaí

- É uma palha pequena, bastante parecida com a bacabinha, entretanto, diferente


daquela, suas folhas são esverdeadas à frente e à retaguarda e não apresentam
ranhuras.
5.1.4.2.8 Palha de Buriti

Fig 95 - Palha de Buriti

5-14
EB70-CI-11.466
a) É uma palha bem característica com uma configuração parecida com um cocar
de um índio, onde apresenta um longo talo roliço e na sua extremidade a palha
parecendo uma mão aberta.
b) Uma característica importante do buriti é o fato de o mesmo ser encontrado
sempre em regiões alagadiças.
5.1.4.2.9 Folha de Sororoca
a) Muito parecida com a folha da bananeira diferindo apenas por ser menor, pode
ser utilizada na cobertura de abrigos, mas pouco indicada por ser quebradiça,
entretanto, por apresentar uma boa impermeabilização, é utilizada para reforçar
cumeeiras.
b) Pode-se utilizar como assoalho macerando o talo e forrando-o para aumento
do conforto técnica esta chamada de tarimba.
c) Deve-se ter cuidado em sua utilização por servir de alimento para formiga saúva.

Fig 96 - Folha de Sororoca

5.1.4.3 Cipós
5.1.4.3.1 Cipó Ambé
a) Utilizado nas amarrações, é resistente e flexível.
b) Encontrado na mata de terra firme e às margens dos igarapés.

5-15
EB70-CI-11.466

c) A casca apresenta pseudo-espinhos, é muito resistente, podendo ser utilizada,


inclusive para amarrações.
d) Devido à espessura ser maior que a do cipó Titica pode ser repartido em até
quatro partes e quando cortado apresenta cheiro de goiaba.

Fig 97 – Cipó Ambé

5.1.4.3.2 Cipó Titica

Fig 98 – Cipó Titica

a) Comum na mata de terra firme é resistente e flexível, a bitola é menor que


a do cipó ambé podendo ser partido em apenas duas partes e a casca é lisa e
apresenta nós em toda sua extensão.
b) Muito usado nas amarrações e na confecção de cestos e cadeiras pelos
regionais.

5-16
EB70-CI-11.466
5.1.4.3.3 Cipó Escada de Jabuti

Fig 99 – Cipó escada de jabuti

- Recebe este nome devido à aparência com o casco do jabuti além de ser
encontrado próximo a outras árvores se assemelhando a uma escada.
5.1.4.4 Envira
a) É a fibra encontrada na casca das árvores. Sendo assim, toda árvore possui
envira. Entretanto, nem todas são utilizadas devido à resistência e à continuidade.
São retiradas da segunda camada da casca de certas árvores que se caracterizam
por possuir fibras longas.
b) Deve-se ter cuidado ao retirar a envira para não extrair a casca da árvore em
toda sua circunferência, impedido o transporte de nutrientes da raiz às demais
partes da planta levando-a ao falecimento.
5.1.4.4.1 Envira Branca

Fig 100 – Envira Branca

5-17
EB70-CI-11.466
a) Retirada da árvore conhecida como Matá-Matá é muito utilizada pela sua
resistência e continuidade.
b) Apresenta cheiro característico de óleo de linhaça, utilizado para calafetar
embarcações e impermeabilização de quadros e couro.
5.1.4.4.2 Envira Preta

Fig 101 – Envira Preta

a) Retirada da árvore conhecida como Envireira.


b) Não apresenta cheiro característico. Entretanto, sua coloração é mais escura
que a Envira Branca, por isso é conhecida como Envira Preta.
5.1.5 LOCAL DE CONSTRUÇÃO
5.1.5.1 Para a construção do abrigo, deverá ser selecionado um lugar alto, em
terreno ligeiramente inclinado e relativamente limpo, afastado de chavascais e,
se possível, próximo de água potável.
5.1.5.2 Ao iniciar a construção do abrigo, deverá ser verificado se as árvores onde
serão feitas as amarrações estão firmes e não possuem galhos secos, pois, caso
contrário, poderão cair provocando acidentes.
5.1.5.3 O abrigo não deve estar próximo ou embaixo de árvores secas.

5-18
EB70-CI-11.466
5.1.6 PREPARAÇÃO DO MATERIAL
5.1.6.1 Processos de Preparação das Palhas
5.1.6.1.1 Palha aberta
a) Processo utilizado na preparação (“abrir” a palha) da palha branca. Neste
processo a palha deve ser chacoalhada para que as folhas se soltem do talo e
facilite a preparação, em seguida, segura-se a palha ao lado do corpo com o talo
das folhas voltadas para baixo

.
Fig 102 - Palha aberta

b) Feito isso, traciona-se a folha para a retaguarda e, em seguida, realiza-se uma


torção para frente e para baixo.
c) Executa-se o processo em ambos os lados e, após isso, unem-se a parte mais
fina de uma e a mais grossa de outra para melhorar a impermeabilização.
5.1.6.1.2 Palha partida

Fig 103 - Palha partida

5-19
EB70-CI-11.466

a) Utilizado na preparação da palha preta, patauá, bacabinha e açaí. Primeiro


deve-se achar o “olho” da palha localizado na parte mais fina e com cuidado
inicia-se a separação.
b) Feita a separação inverte-se o talo colocando-se a parte mais fina com a parte
mais grossa e coloca-se no teto com a calha voltada para baixo.
c) Caso a palha venha a quebrar durante a separação, pode-se utilizar o terçado
para conduzir a separação da palha.
5.1.6.1.3 Palha riscada

Fig 104 - Palha riscada

a) Processo utilizado na preparação da palha preta e patauá. Deve-se ter o cui-


dado na hora de riscar a palha.
b) Coloca-se a palha com a calha voltada para cima e procede-se um risco pró-
ximo ao talo nas folhas, tendo-se o cuidado de não riscá-la com muita força para
não separar as folhas.
c) A parte riscada deve ficar voltada para baixo de maneira que as folhas riscadas
não fiquem soltas.

5-20
EB70-CI-11.466

5.1.6.1.4 Palha torcida

Fig 105 - Palha torcida

a) Processo utilizado na preparação da palha de Bacaba e Inajá que apresentam


agrupamentos de folhas.
b) Deve-se apanhar os agrupamentos de folhas e torcê-los, feito isso, gira-se
para baixo.
c) Este processo é pouco utilizado por não proporcionar uma boa impermeabilização,
entretanto, na falta de outra palha pode-se utilizá-lo.
5.1.6.1.5 Palha trançada

Fig 106 - Palha trançada

a) Processo artesanal que requer prática e habilidade utilizado na preparação da


Palha Branca, Palha Preta, Patauá, Bacabinha e Açaí.
5-21
EB70-CI-11.466

b) Consiste basicamente em trançar as folhas da palha formando-se uma espécie


de estrado muito conhecido, como “jacaré” muito utilizado em ornamentações e
cobertura de Cumeeiras.
5.1.6.2 Processos de Preparação dos Cipós
5.1.6.2.1 Cipó ambé
a) O primeiro passo para a preparação do cipó é a separação da casca evitando
que a mesma acumule umidade e apodreça o cipó mais rapidamente.
b) Pode-se descascar o cipó simplesmente tracionando a casca ou raspando com
o auxílio do terçado.
c) Após descascado o Cipó Ambé, pode ser partido em até quatro partes, para
isso, faz-se uma cruz na extremidade e inicia-se a separação.
5.1.6.2.2 Cipó titica
- Executa-se o mesmo processo do cipó ambé, porém, devido à menor bitola,
deve ser partido em duas partes.
5.1.6.2.3 Cipó escada de jabuti
- Deve-se macerar o cipó com força até que se soltem as fibras. Feito isso, o cipó
está pronto para a amarração.
5.1.6.3 Processos de Preparação de Enviras
a) Faça uma pequena incisão (corte) na casca, a 10 cm de uma das pontas, de
modo que não haja a separação total da casca e Envira.
b) Inverta a posição de modo que o corte fique voltado para baixo e a casca para
cima.
c) Coloque o facão de mato transversalmente à envira paralelo ao corte e prenda-
-o ao solo com os pés.
d) Em seguida, puxe para cima e para trás a ponta de 10 cm que sobrou após o
corte, com isso, a Envira separar-se-á da casca.
e) Bata a Envira em uma madeira ou tronco de árvore e separe as fatias do ta-
manho desejado. A Envira está pronta para ser utilizada.
5.1.7 OUTRAS PROVIDÊNCIAS
5.1.7.1 É necessário construir um abrigo (rabo-de-jacu, por exemplo) para a
fogueira, para a lenha, para alimentos, etc, pois as chuvas são fortes e quase
sempre inesperadas.
- O fogo não deve ser aceso debaixo do abrigo de dormir por motivos óbvios e,
ainda, porque o calor atrai serpentes e outros animais perigosos.
5-22
EB70-CI-11.466

5.1.7.2 É imprescindível que todos os detritos sejam enterrados numa fossa, o


que evita companhias indesejáveis (roedores, serpentes, formigas, etc). Essa
observação inclui a utilização de latrinas.
5.1.7.3 Um terçado (facão) é o equipamento suficiente para a construção de um
abrigo.
5.1.7.4 Não devem ser dados nós em cipós (exceção feita ao nó de porco ou de
barqueiro), as pontas devem ser enroladas nas voltas dadas nas vigas.
5.1.7.5 Têm ainda grande utilidade na selva
5.1.7.5.1 Uma rede de nylon é leve, resistente, não encharca e é pouco volumosa
para transporte, embora não ofereça proteção contra os mosquitos.
5.1.7.5.2 Vinte metros de corda de nylon de um centímetro de espessura para
amarrar as duas alças da rede, ao mesmo tempo que, esticada entre essas duas,
servirá para suportar o plástico.
5.1.7.5.3 Um plástico de 3 a 4 metros de comprimento para ser usado como co-
bertura da rede, apoiado na corda de nylon; o plástico servirá também de cobertor
contra o frio.
5.1.7.5.4 Todo esse equipamento representará um volume pequeno e leve.
5.1.7.5.5 A chamada “rede de selva” engloba parcialmente todo esse conjunto.

Fig 107 - Rede de selva (nacional)

5.2 VESTUÁRIO E EQUIPAMENTOS


5.2.1 GENERALIDADES
5.2.1.1 Na falta do gorro de selva, a cabeça deverá ser protegida por uma cobertura
de pano ou de palha, aconselhável, particularmente, àqueles que forem à frente,
abrindo picadas a facão. O tipo “de pano” deverá ser constantemente molhado
para ajudar a refrescar. A de palha, por ser leve, estará sujeito a cair muito. Enfim,

5-23
EB70-CI-11.466

haverá vantagens e desvantagens nos usos, por isso, não há uma única regra.
Poderão também ser improvisadas coberturas de palmas.
5.2.1.2 Para a proteção do tórax, há conveniência de uma vestimenta grossa,
de mangas compridas e gola alta, o que evitará mosquitos, partículas vegetais
e espinhos; deverá ser usada por fora das calças para facilitar o arejamento.
As costuras deverão ser duplas para resistir melhor aos movimentos bruscos
e às normais perdas de equilíbrio. No mínimo 4 bolsos deverão existir a fim de
distribuir a carga equilibradamente e também para aliviar o volume a transportar,
normalmente nas costas.
5.2.1.3 Para proteção da bacia e dos membros inferiores, o uso de calças, também
de tecido grosso e com costuras duplas, será o recomendável. A calça não deverá
ser justa e os bolsos nas pernas deverão ser grandes e ter a mesma serventia
que os da peça anterior.
5.2.1.4 Deverá ser usado calçado tipo coturno nos pés, com o cano mais alto
que o normal, para melhor proteção da perna contra as picadas de serpentes,
principalmente. O solado deverá ser de borracha, o que protegerá um pouco
contra a umidade permanente do solo, e com travas, para não escorregar na
lama. O cano desse coturno deverá ser de lona, que proporciona flexibilidade.
Se o calçado for apenas o sapato, poderão ser improvisados os canos, usando-
se qualquer material que possa ser enrolado nas pernas. Com cascas de certas
árvores ou peles de animais, poderão ser improvisados calçados, amarrados
com cipós. O couro não resiste muito na selva e os cadarços deverão ser de
nylon. Meias deverão ser sempre usadas para evitar o atrito do calçado contra a
pele; não é recomendável usá-las furadas ou remendadas. As meias compostas
por poliamida e elastano darão bons resultados suavizando o atrito, secando
com maior facilidade, permitindo a evaporação da umidade natural dos pés e a
acumulada nas regiões alagadas por onde for necessário passar.
5.2.1.5 Um capote impermeável protegerá contra a chuva, mas se rasgará
facilmente de encontro à galharia. O melhor será usar o plástico, o mesmo
que servirá de cobertura para a rede. Todas as peças do vestuário deverão ser
mantidas limpas, na medida do possível. O ideal é que se possa dispor de uma
roupa de muda, particularmente para trocá-la na hora de dormir. Mas, se apenas
possuir a do corpo, ela deverá ser constantemente lavada e posta a secar junto
a uma fogueira.
5.2.1.7 Não sendo vestuário, mas dele fazendo parte como equipamento, deverá
ser usado um invólucro para transporte de material: a mochila. Vários tipos poderão
ser usados, desde a de lona até a improvisada de palha ou cipó; o mais comum
será o tipo chamado Jamaxi ou Paneiro, de saco de 60 quilos, cuja técnica de
emprego todo amazônida conhece.

5-24
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO VI
ALIMENTAÇÃO NA SELVA

6.1 INTRODUÇÃO
6.1.1 Sobreviver significa resistir e escapar. A sobrevivência em plena selva estará
em íntima ligação com o tempo em que nela se permanecer. Para tanto, o homem
deverá estar altamente capacitado para dosar as energias e lançar mão de todos
os meios ao alcance a fim de não pôr em risco a sua vida. Essa capacidade
envolve conhecimentos especializados, invulgares ao homem comum, onde o uso
da imaginação, o empenho, o bom senso e o moral elevado, além do intrínseco
instinto de conservação, são fatores preponderantes.
6.1.2 Quem pensa que é tarefa fácil sobreviver em plena selva, à custa exclusiva
dos recursos naturais, equivoca-se. Pequenos grupos, quando devidamente
preparados, poderão, entretanto, fazê-lo. Boa comida e água são encontradas,
desde que o homem esteja apto a saber onde, como e quando procurá-las.
6.1.3 Assim, em qualquer situação, deverá considerar como condições primordiais
para uma sobrevivência as necessidades de água, fogo e alimentos.

6.2 ÁGUA
6.2.1 Cerca de 70% do peso corporal do ser humano é formado por água,
variando para mais dentre crianças e para menos dentre os idosos. Essa água
em constante movimento no nosso corpo é responsável por hidratar, manter um
equilíbrio térmico, transportar nutrientes, eliminar toxinas e repor energias. Dentro
das pesquisas do homem, em outros planetas, o primeiro dado a ser investigado
é saber se existe ou existiu água neste planeta para deduzir a possibilidade de
existência de vida.

POR ESSES MOTIVOS, A ÁGUA É CONSIDERADA O ELEMENTO MAIS


IMPORTANTE PARA SOBREVIVÊNCIA

6.2.2 Apesar do enorme caudal hidrográfico representado pela abundância de


cursos de água e do alto índice pluviométrico da Amazônia, haverá situações em
que não será fácil a obtenção de água. Sendo a primeira das necessidades para
a sobrevivência do homem, abastecer-se dela deve constituir uma preocupação
constante.
6.2.3 O ser humano pode resistir vários dias sem alimento, estando, entretanto,
com menores possibilidades de sobreviver se faltar a água. Essa resistência estará

6-1
EB70-CI-11.466
condicionada à capacidade orgânica e às condições físicas do indivíduo, as quais
estarão sempre aquém das possibilidades normais deste mesmo indivíduo na
selva.
6.2.4 Na selva equatorial, o que mais ressalta de importância é a necessidade
constante da água, por sofrer o organismo sudação excessiva com eliminação de
sais minerais que, quando demasiada e constante, poderá acarretar a exaustão.
Torna-se vital a manutenção do equilíbrio hídrico do organismo.
6.2.5 De modo algum deverá o sobrevivente, à falta absoluta da água, lançar
mão de outros líquidos, como álcool, gasolina, urina. Tal procedimento, além
de trazer consequências funestas, diminuirá as possibilidades de sobreviver,
revelando indícios da proximidade do pânico que, quando não dominado, será fatal.
Portanto, saber onde há água e estar sempre abastecido dela é importantíssimo
e fundamental.
6.2.6 FONTES DE ÁGUA
- O equilíbrio da natureza põe à disposição do ser humano recursos variados para
suprir a grande necessidade de água. Os principais são:
6.2.6.1 Águas Correntes
- Rios, igarapés e olhos d’água, devendo a água ser recolhida do fundo, evitando
desmoronar as margens ou revolver os leitos. Quando necessário, serão
demarcados locais para banho, cozinha e colheita de água potável. Sempre que
possível, deve ser purificada, pois normalmente contém impurezas, tais como:
coliformes fecais humanos ou de animais, resíduos de material orgânico em
decomposição, entre outros.
6.2.6.2 Águas Paradas
- Lagos, igapós, pântanos e charcos, devendo o uso ser feito após a purificação.
Outro recurso, de fácil prática, é colhê-la de um buraco cavado a uma distância
de 5 metros da fonte de água, o qual, após algum tempo, pela porosidade do solo,
encher-se-á de água filtrada.
6.2.6.3 Água das Chuvas e Orvalho
- Poderão ser colhidas diretamente em recipientes, em buracos ou com o emprego
do telheiro da rede de selva, poncho ou plástico. Quando houver troncos pelos
quais ela escorra, para colhê-la, bastará interromper o fluxo com um pano, cipó ou
folhagem, canalizando-a para qualquer vasilhame. Na falta de outro material, as
próprias roupas poderão ser expostas à chuva e, uma vez encharcadas e torcidas,
a água delas resultante deverá ser purificada pela fervura.
6.2.6.4 Partes Baixas do Terreno
- Será comum na selva cruzar-se com ravinas temporariamente secas, mas
que poderão transformar-se, devido às chuvas, em leitos de igarapés ou igapós.

6-2
EB70-CI-11.466
Nestas ravinas poderá ser procurada a água em fossos cavados próximos aos
tufos de vegetação viçosa.
6.2.6.5 Vegetais
- Vários são os que poderão fornecer água ou indicar a sua presença. Os principais
são:
6.2.6.6.1 Cipó d’água: parasita de uns 10 cm de diâmetro, cor marrom-arroxeada e
casca lenhosa, estando pendurado entre a galharia e o solo, em grandes árvores.
Bastará cortá-lo, primeiro em cima, ou onde mais alto se possa alcançar, e
depois embaixo, de modo a ter, no mínimo, 1 m de cipó. Deixa-se que pela parte
inferior escorra a água. Pela quantidade que fluir e pela facilidade com que o cipó
é encontrado na selva, poder-se-á sempre estar suprido de água.

Fig 108 - Cipó d’água

6.2.6.6.2 Bambu: poderá ser encontrada água no interior dos gomos do bambu,
principalmente do velho e amarelado. Pelo barulho, ao ser sacudido, sabe-se
da presença, ou não, de água e para a utilização bastará fazer um furo junto
à base dos nós.
- Na Selva Amazônica, os bambus somente são encontrados em locais que já
foram ocupados pelo homem.
6.2.6.6.3 Buriti: palmácea que vinga somente onde há água. A presença de um
buritizal numa área será indicativa da presença também de água. Caso não haja

6-3
EB70-CI-11.466
igarapé próximo ao buritizal, basta cavar junto ao a ele que a pouca profundidade
obter-se-á água.
6.2.6.6.4 Plantas Escamosas: algumas plantas de folhas resistentes, que se
sobrepõem como escamas, poderão conter apreciada quantidade de água das
chuvas. Bastará eliminar possíveis impurezas, por meio de filtragem e purificação,
e utilizá-la.
6.2.6.6.5 Umbaúba: junto às raízes ou dentro dos gomos, conforme a época do ano,
poderá ser encontrada pequena quantidade de água. Cabe ressaltar o papel da
Embaúba como protetora da floresta: após o desmatamento, é comum no local
o aparecimento de Embaúbas (semeadas pelas fezes do pássaro seringueiro)
que preservarão as espécies vegetais da Amazônia, do sol causticante e das
intempéries. Após essas espécies crescerem e ultrapassarem a Embaúba, ela
morre.
- Como a Embaúba cresce em qualquer local desmatado, provavelmente somente
as que cresceram em locais baixos terão água. Ainda é interessante lembrar que
algumas espécies são mais propícias a armazenar água do que outras.
6.2.6.4 Trilhas de Animais:
- Seguindo as trilhas de animais, quando identificadas, invariavelmente
conduzirão a fontes de água.
6.2.7 PURIFICAÇÃO DA ÁGUA
6.2.7.1 Considerações sobre processos de purificação
- As águas colhidas diretamente das chuvas ou cipós d’água não necessitam
serem purificadas para o consumo. Entretanto, se for o caso, elas e as provenientes
de igarapés ou de outras fontes poderão sofrer um dos vários processos de
purificação que se seguem:
a) Pela fervura durante cinco minutos no mínimo.
b) Pelo comprimido de Hipoclorito ou Clorin, na dose de um por cantil (um litro)
aguardando-se 30 minutos para bebê-la.
c) Pelo adicionamento de 8 a 10 gotas de tintura de iodo ou de 3 gotas de Hidrostéril
em cantil (um litro), aguardando-se 30 minutos para o consumo.
d) Pela água sanitária (sem soda cáustica), na dose de uma gota por cantil,
esperando 30 minutos para bebê-la. No caso de 1000 litros, usar uma tampa de
cantil, misturar no cantil com água e depois depositar no recipiente contendo os
1000 litros.
6.2.7.2 Servindo apenas para a filtração, poderão ser seguidos os seguintes
processos:
a) Filtro de Areia: em um recipiente perfurado na base, coloca-se a areia através
da qual a água será filtrada.
6-4
EB70-CI-11.466
b) Fazendo-se o líquido passar através de um coador improvisado com um pano
qualquer, mesmo peças limpas de roupas.

6.3 FOGO
6.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
6.3.1.1 Apesar de não ter o nível de importância da água, o fogo também é
necessário, principalmente para se prolongar a sobrevivência.
6.3.1.2 Será mais um valioso recurso para aumentar e melhorar as condições de
vida na selva, pois através dele se conseguirá purificar a água, cozinhar, secar a
roupa, aquecer o corpo, sinalizar, iluminar e fazer uma segurança noturna.
6.3.2 PREPARAÇÃO E ACENDIMENTO DO FOGO
6.3.2.1 Local: será sempre conveniente limpar a área onde será feito o fogo. Mesmo
que o chão esteja seco, o que não será normal, é vantajoso que seja forrado
com um estrado de troncos de árvores, os quais poderão servir, também, para
alimentar o fogo. Quando a permanência no local for prolongada, será indispensável
a construção de um abrigo para o fogo, do tipo Tapiri.
6.3.2.2 Isca: convenciona-se denominar de isca ao amontoado inicial de folhas
secas, papéis, palhas, gravetos finos, cascas de árvores, sobre os quais operamos
para a obtenção inicial do fogo. Na selva, existem árvores como a Mombaca ou
o Marajá e outras palmáceas que, mesmo verdes ou molhadas, pela raspagem
de seus caules dão uma espécie de maravalhas que facilitam a obtenção inicial
do fogo. Outro de que se pode obter maravalha é do vegetal chamado Guaruma
ou Aruma. Outro auxílio para a isca é o emprego do breu vegetal. Resina extraída da
árvore do breu que, além de aceitar facilmente o fogo, ainda a conserva por muito
tempo. Além disso, é aromático e espanta os mosquitos. Sempre que se dispuser
de querosene, gasolina, fluido para isqueiro e pólvora, eles serão úteis na tentativa
de obter fogo.
6.3.2.3 Acendimento da Isca
6.3.2.3.1 Por processos convencionais: os fósforos e os isqueiros poderão ser
economizados com o emprego de uma vela, se houver, ou de uma tocha de
galhos secos. Ao se aproximar a chama da isca, soprando-se suavemente,
poder-se-á facilitar a obtenção do fogo inicial, ao qual serão adicionados,
progressivamente, pequenos gravetos secos, com o cuidado de não o abafar.
Sendo a combustão uma queima de oxigênio, é preciso deixar o fogo ventilado,
colocando os gravetos maiores e a lenha grossa paulatinamente. É comum,
obtido o início do fogo, haver uma precipitação em se colocar lenha grossa em
quantidade, o que, geralmente, contribui para apagá-lo.

6-5
EB70-CI-11.466
6.3.2.3.2 Por processos de fortuna: não será fácil conseguir o fogo por tais
processos; muita prática será necessária para fazê-lo. Os mais comuns são:
a) Lentes: a chama poderá ser obtida fazendo-se incidir na isca os raios solares
através de uma lente de binóculo, de câmera fotográfica, de luneta ou de
lanterna.

Fig 109 - Fogo com lentes

b) Pedra dura:golpeando uma pedra dura com uma faca ou pedaço de aço resultarão
faíscas que, atingindo a isca, produzirão o fogo.

Fig 110 - Pedra dura e metal

c) Pólvora de munição: o processo da pedra poderá ser melhorado colocando-se


pólvora de cartucho na base da isca e um pouco na pedra. Aproximando-se da
isca e atritando as duas pedras, ou a pedra com o aço, a pólvora incendiar-se-á.
d) Madeira: é o processo mais empírico. É o fogo obtido através do atrito de
dois bastões, um de madeira mole e um de âmago, ou ainda, de um pedaço de
6-6
EB70-CI-11.466
madeira macia e plana e um bastão de âmago. Abre-se uma pequena cavidade na
madeira plana, enquanto no bastão é feita uma ponta. Colocada a isca ao redor
da cavidade da madeira plana e inserido o bastão na cavidade será obtido fogo
na isca pelo atrito.
e) Tira ou arame: abre-se um galho pelo meio, colocando-se uma cunha na
extremidade aberta. Na inserção dos ramos abertos do galho coloca-se a isca,
sobre a qual se produzirá o atrito com o auxílio de uma tira de couro, uma corda
de qualquer fibra ou arame.

Fig 111 – Fazendo fogo com tira

f) Arco e pau: as madeiras que se atritam deverão estar bem secas e ser bem duras.
A chama é obtida fazendo-se o pauzinho rodar por uma volta de corda do arco.

Fig 112 - Arco e pau para fazer fogo

6-7
EB70-CI-11.466
g) Pilhas ou baterias: um pedaço de “bombril” ou de outro material semelhante, de
fraca resistência, ligado aos polos de duas pilhas de lanterna ou de uma bateria,
incendiar-se-á facilmente.
h) Tiro de Arma de Caça: retiram-se os balins de chumbo do cartucho. Coloca-se
uma estopa ou tecido desfiado seco no mesmo local.
- Após introduzir o cartucho na câmara, apontando a arma para cima, realiza-
se o disparo, e o material combustível será projetado apresentando fagulhas
que podem dar início ao fogo.
6.3.3 CONSERVAÇÃO DO FOGO
6.3.3.1 Obtido o início do fogo através do acendimento da isca, bastará ir
adicionando madeira, a princípio, o mais seca possível.
6.3.3.2 Uma vez firmado o fogo, poderá ser usada também lenha verde.
6.3.3.3 Dependendo da permanência no local e do uso que se fará da fogueira,
dever-se-á ir reunindo junto a ela o máximo de lenha possível para que vá secando
caso esteja úmida ou verde.
6.3.4 TRANSPORTE DE ISCAS
6.3.4.1 As iscas deverão ser transportadas tomando-se a preocupação de
impermeabilizá-las com sacos plásticos, tubos de filmes, etc.
6.3.4.2 Outra forma de preparar o transporte de iscas à base de tecido de algodão
é queimando-o até carbonizá-lo. Deve-se tomar o cuidado para não o desmanchar.
6.3.4.3 Feito isso, deve-se acondicioná-lo na forma descrita anteriormente.
6.3.5 FOGUEIRAS E FOGÕES
6.3.5.1 Obtido o início do fogo através do acendimento da isca, bastará ir
adicionando madeira, a princípio, a mais seca possível. Uma vez firmado o fogo,
poderá ser usada lenha verde.
6.3.5.2 Dependendo da permanência no local e do uso que se fará da fogueira,
dever-se-á reunir junto a ela o máximo de lenha possível para que vá secando,
caso esteja úmida ou verde.
6.3.6 CONSELHOS ÚTEIS E PRÁTICOS
a) Não desperdiçar fósforos nem isqueiro, tentando acender uma fogueira com
isca mal preparada.
b) Não esbanjar esses meios para acender cigarros ou outras fogueiras, caso já
exista uma; utilizar brasas ou tições.
c) Antes que se acabem os fósforos ou o fluido do isqueiro, dever-se-á tentar
aprender a praticar o acendimento pelo meio de fortuna que achar mais viável.

6-8
EB70-CI-11.466
d) Guardar bem protegido o material para a isca; o isqueiro e os fósforos deverão
ser colocados dentro de um saco plástico a fim de evitar a grande umidade que
impera na selva.
e) Por onde se andar, se houver material para isca, este deverá ser recolhido e
guardado para o futuro.
f) Boa lenha para o fogo será a obtida de árvores secas e em pé.
g) Para manter um braseiro em condições de futura utilização, bastará cobri-lo
com cinzas e, sobre essas, uma camada de terra seca.
h) Para transportar fogo de um local para outro, bastará levar um tição ou brasas
de bom tamanho e colocá-los sob a nova fogueira, atiçando o fogo.
6.3.7 TIPOS DE FOGÃO
6.3.7.1 Obtido o fogo, sua utilização obviamente estará relacionada com as
necessidades do sobrevivente e, principalmente, com sua permanência no local.
Podem ser improvisados os seguintes tipos:
6.3.7.1.1 Fogão de Espeto
a) É aquele feito unicamente com um espeto, tendo de preferência uma forquilha
na ponta.
b) No próprio espeto, coloca-se a caça a ser assada e, na forquilha, pode-se
pendurar o caneco ou outra vasilha para purificar a água ou cozinhar outro
alimento.

Fig 113 - Fogão de Espeto

6-9
EB70-CI-11.466
6.3.7.1.2 Fogão de Assar: duas forquilhas colocadas uma de cada lado do fogo
sustentam o espeto com a caça e a vasilha para cocção, podendo esta última
também ser colocada junto ao fogo, no solo.

Fig 114 - Fogão de Assar

6.3.7.1.3 Fogão de Moquém ou de Moquear


a) Para este tipo de fogão são necessárias três ou quatro forquilhas. Uma vez
dispostas em triângulo ou quadrado envolvendo o fogo, arma-se com varas um
estrado, sobre o qual será depositada a caça a ser moqueada.

Fig 115 - Fogão de Moquém ou Moquear

b) É o processo ideal para assar peixes. Entretanto, para se ter um cozimento


mais uniforme convém, sobre o estrado, fazer uma cobertura com folhas largas,
antes de lançar os peixes.

6-10
EB70-CI-11.466
c) O moquém é utilizado para o preparo de carnes para um consumo posterior.
Todavia, para se obter um moqueado uniforme e mais rápido convém que as postas
de carne não tenham uma espessura superior a dois dedos; com isso, a desidratação
será mais completa e rápida e, consequentemente, a conservação da carne será
muito maior, podendo durar uma semana.
d) Se o sobrevivente dispuser de tempo e a caça tiver sido abundante, poderá ainda
salgar as peças antes de moqueá-las, pois, sendo o sal um elemento higroscópico,
a retirada da água (desidratação) será bem mais eficiente e a conservação pelo
sal poderá fazê-las durar até um mês.
6.3.7.1.4 Fogão Móvel
a) É o fogão feito com três varas de aproximadamente um metro e vinte, amarradas
no alto formando um vértice, enquanto suas pontas no solo formam um triângulo
equilátero.

Fig 116 - Fogão móvel

b) A 1/3 de sua altura, três estacas são amarradas horizontalmente com cipó a
fim de fixar o conjunto e permitir ainda a armação de uma grelha.
c) Com este tipo de fogão, poderá o fogo ser deslocado para diferentes locais,
estando ele sempre pronto e, inclusive, com a grelha podendo ser utilizada para
moquear.
6.3.7.1.5 Fogão de Fosso: o fogo é feito numa depressão do terreno ou num fosso
cavado, onde, como melhoria, podem ser colocados lateralmente dois toros de
lenha no sentido longitudinal.

6-11
EB70-CI-11.466
- Obtém-se assim uma maior profundidade, evitando-se a ação do vento.
6.3.7.1.6 Fogão de Chapa: o fogo é feito numa depressão do terreno ou num fosso
cavado, onde, como melhoria, pode ser colocado lateralmente dois toros de lenha
no sentido longitudinal. Obtém-se assim uma maior profundidade, evitando-se
ainda a ação do vento. Acrescenta-se a este fogão uma chapa obtida de uma
fuselagem de aeronave.

Fig 117 - Fogão de Chapa

6.3.7.1.7 Fogão de Tabatinga:


a) Este é feito montando uma armação de madeira, em seguida, colocando-se
barro de tabatinga por cima; possui um suspiro na parte de cima; existe apenas
uma entrada.

Fig 118 - Fogão de Tabatinga

6-12
EB70-CI-11.466
b) O fogo é feito e, em seguida, a brasa é colocada dentro do fogão.
c) Após verificar que a parte interna está quente, retiram-se as brasas e coloca a
caça ou a pesca para ser preparada envolvida com folha e tabatinga. Em seguida,
fecha-se a entrada com tabatinga.
d) Após verificar as rachaduras no fogão é que o sobrevivente saberá que a caça
ou a pesca esteja já em condições de consumo.
6.3.7.1.8 Fogão de pressão
a) O fogo é feito fora e, em seguida, a brasa é colocada dentro do fogão.
b) Este fogão consiste em um buraco de mais ou menos um palmo de profundidade,
sendo colocado barro de Tabatinga em suas laterais, pedras e uma vara de
madeira no centro.

Fig 119 - Fogão de pressão/fosso

c) Após aquecer as pedras retiram-se as brasas, cobrem-se as pedras com areia,


coloca-se o material de consumo em cima da areia e envolvido por folhas de
sororoca ou similar para evitar o contato direto da carne com a areia.
d) A vareta servirá para derramar água para produzir mais vapor.
6.3.7.1.9 Fogão de trempe:
a) É o fogão feito com três varas de aproximadamente um metro e vinte, amarradas
no alto formando um vértice, enquanto as pontas no solo formam um triângulo
equilátero.
b) No vértice é amarrada com cipó uma vareta com um gancho invertido.

6-13
EB70-CI-11.466
c) Com este tipo de fogão, poderá o fogo ser deslocado para diferentes locais,
estando ele sempre pronto e, inclusive, com o gancho, podendo ser utilizado
para moquear.

Fig 120 - Fogão de Trempe

6.4 ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL


6.4.1 GENERALIDADES
6.4.1.1 Existem catalogados no mundo inteiro, aproximadamente umas 300.000
espécies de vegetais silvestres. Considerando as áreas de selva existentes
no mundo e que a selva amazônica é a maior delas, inclusive cobrindo 57%
do território brasileiro, pode-se dizer que uma grande parte desses vegetais
encontram-se em solo brasileiro.
6.4.1.2 É, portanto, de fundamental importância que o combatente de selva
conheça, pelo menos, os vegetais mais comuns da área, usados pelos nativos para
a sua subsistência. Dessa forma, quando em uma situação real de sobrevivência,
terá mais uma opção para nutrir o organismo e manter um bom estado psicológico
para suportar a adversidade dessa situação.
6.4.1.3 Por outro lado, deve-se levar em consideração que a alimentação animal
nem sempre será uma fonte de alimentação fácil de ser obtida. Os animais de
sangue quente são astutos, ardilosos e sagazes, pois se encontram em seu
habitat natural, com isso não se deixam abater com facilidade, dificultando ao
sobrevivente nutrir-se com esse tipo de alimentação.

6-14
EB70-CI-11.466
6.4.2 REGRAS GERAIS
6.4.2.1 O consumo de frutas silvestres desconhecidas é visto por muitos como
uma atividade arriscada, devido ao perigo de envenenamento. Isso devido aos
vegetais desenvolverem defesas contra seus predadores, os herbívoros. Essas
defesas são chamadas de defesa química, que é a toxidez natural do vegetal.
Ex: Mandioca brava, com altos teores de cianureto, porém dela extrai-se a farinha
através de pressão e tostagem e o Tucupi, que se torna inócuo após prolongada
fervura.
6.4.2.2 Os animais que não possuem a capacidade natural de passar por cima
desta defesa química, contornam a toxidez ingerindo pequenas quantidades de
espécies diferentes.
6.4.2.3 As sementes que não possuem a defesa química para assegurar a
continuidade da espécie, possuem uma defesa mecânica para evitar sua predação,
tais como: as palmeiras com os seus cocos, ou o pequi com os seus espinhos.
Porém, é difícil encontrar uma planta que combine a proteção química com a
mecânica.
6.4.2.4 Além disso, tem-se ainda diversos processos para verificar a possibilidade
de ingerir determinado alimento, tais como:
6.4.2.5 Sigla C A L
6.4.2.5.1 Cabeludo, Amargo e Leitoso: é o processo mnemônico que se utiliza
para verificar a possibilidade de ingerir um determinado vegetal.
- Caso apresente alguma dessas características, deve ser investigado melhor
para depois serem consumidos.
6.4.2.5.2 Mesmo levando em conta essa regra, existem algumas exceções, tais
como: Abiu, Sapoti, Maçaranduba, mamão, etc.
6.4.2.6 Cozimento dos vegetais: raciocinando com a defesa mecânica dos
vegetais, o processo mais utilizado para suprimir a nocividade ou a letalidade do
vegetal é o seu cozimento. Dessa forma, cozinhe-o durante 5 minutos, realizando
uma troca da água, realizando essa mesma operação por duas ou três vezes.
Após isso, o vegetal poderá ser consumido.
- Com exceção dos cogumelos, que têm efeito alucinógeno.
6.4.2.7 Uso do paladar: no caso de encontrar alimento estranho e não dispuser
de fogo para sua cocção, retire uma pequena quantidade ou pequeno pedaço do
vegetal ou fruto, mastigue-o e conserve-o pelo período de 5 a 10 minutos na boca.
- Se passado esse tempo o paladar não estranhar o gosto da porção, o restante
poderá ser consumido.

6-15
EB70-CI-11.466
6.4.2.8 Vegetais consumidos pelos animais: os vegetais e frutos consumidos
pelos animais poderão ser consumidos pelo homem, em pequena quantidade.
Os animais contornam a toxidez dos alimentos ingerindo pequenas quantidades,
pois seus metabolismos são capazes de lidar com pequenas doses de substância
tóxica, talvez por apresentarem uma variada flora bacteriana no intestino.
6.4.3 REGRAS ESPECÍFICAS
6.4.3.1 Hábitos alimentares: o combatente oriundo das regiões urbanas,
naturalmente tendo que consumir vegetais, irá mudar de forma brusca seus hábitos
alimentares. Assim sendo, quando da ingestão de alimentos de origem vegetal,
deverá fazê-lo de forma moderada para que seu organismo se acostume à nova
dieta. Essa conduta é muito importante para que sejam evitados os distúrbios
estomacais ou intestinais. Preservar a saúde é uma das preocupações constantes
do combatente em situação de sobrevivência.
6.4.3.2 Cursos dos igarapés: nos cursos dos igarapés são encontrados os mais
variados tipos de palmeiras. Dessas pode-se retirar o fruto e o palmito. Todos os
frutos de palmeiras são comestíveis.
6.4.3.3 Distribuição geográfica: os alimentos vegetais dependem da área
geográfica. Apresentam restrições quanto à frutificação ou até mesmo à existência.
Assim sendo, somente em determinadas áreas e épocas do ano, como veremos
a seguir, podem-se encontrar algumas espécies de vegetais.
6.4.3.4 Época do ano: influi diretamente na frutificação dos vegetais. Dessa
forma, não se deve partir da ideia falsa de que os vegetais são encontrados com
facilidade em todos os meses do ano.
6.4.4 APRESENTAÇÃO, PREPARO E CONSUMO DOS VEGETAIS SILVESTRES
E CULTIVADOS
6.4.4.1 Frutos
6.4.4.1.1 Açaí
a) O açaizeiro é uma das palmeiras mais típicas do Pará, onde seguramente
tem sua origem. Em razão de sua importância alimentar, especialmente entre as
classes média e baixa, vem sendo disseminado por todo o país.
b) No Amazonas, sobretudo na bacia do Solimões, o Açaí-do-Pará é bastante
cultivado, sendo também chamado de Açaí-de-Planta, significando não ser da
região.
c) Do açaizeiro pode ser retirado não só o fruto do açaí, do qual extrai-se o vinho,
como também o palmito, bastante apreciado por toda a região amazônica.
d) O açaí é um alimento essencialmente energético, com um valor calórico superior
ao do leite, com alto teor de minerais, cálcio, fósforo e ferro.

6-16
EB70-CI-11.466
e) Pode ser consumido na forma de vinho, para isso retira-se do cacho a
quantidade necessária de frutos. Coloca-se a água no forno para amornar, e nesta
condição, coloca-se os frutos de forma a amolecer a casca.
f) O tempo de permanência do fruto na água morna é de aproximadamente 15
minutos. Após isso, joga-se a água fora e, com auxílio de um porrete de madeira,
macera-se o açaí, separando a polpa e a casca do caroço. Coloca-se água na
quantidade necessária para o consumo imediato e obtém-se o vinho do açaí.
g) A cor do vinho é semelhante ao vinho da uva.

Fig 121 - Fruto açaí

Fig 122 - Palmeira de açaí

6-17
EB70-CI-11.466

6.4.4.1.2 Miriti (Buriti):


a) Ao lado do açaí o miriti ou o buriti é uma das palmeiras mais típicas da região
amazônica, de onde, sem dúvida, é nativa.
b) Seu habitat são os alagados, igapós, beira de rios e igarapés, onde
frequentemente é encontrado em grandes concentrações, com parte do tronco
imerso na água por longos períodos, sem que isso lhes cause danos.
c) Inúmeros produtos úteis do buritizeiro são aproveitados pelas populações
ribeirinhas, na sua alimentação ou em outras necessidades diárias: bebida natural
ou fermentada, óleo e doces dos frutos, açúcar do estipe, sabão caseiro etc.

Fig 123 - Palmeira de Miriti (Buriti)

d) Do fruto prepara-se o vinho do buriti e para isso, os frutos são previamente


amolecidos em água morna, o que poderá ser feito, também, abafando-os em
folhas durante 3 a 4 dias, dando melhor resultado em termos de sabor, segundo
algumas pessoas. O preparo e consumo do vinho são semelhantes ao do açaí.
e) Diz-se ainda que, perfurando o tronco da palmeira, recolhendo a seiva (numa
média por árvore de 8 a 10 litros) que, tratada como o caldo de cana, produz
açúcar amarelo-claro com forte poder de adoçar bebidas.
f) Nos troncos imersos e apodrecidos desenvolvem-se grandes larvas, conhecidas
pelo nome de “Turu”, que são comidas cruas, tendo um alto valor proteico.

6-18
EB70-CI-11.466

g) Os frutos podem ser encontrados de janeiro a julho, algumas vezes a partir de


novembro a dezembro.

Fig 124 – Miriti (Buriti)

6.4.4.1.4 Bacaba
a) Palmeira nativa da Amazônia dispersa pelo norte do continente, sendo mais
frequente no Pará e Amazonas, tendo como habitat ideal a mata virgem alta de
terra firme e também de várzea.

Fig 125 - Fruto bacaba

b) Pelo mesmo processo usado para o açaí, prepara-se o vinho da bacaba, de


cor creme-leitoso, consumido com a farinha de mandioca e açúcar. É um vinho
de sabor realmente agradável, mas com um teor de óleo bastante elevado, o que
faz recomendar comedimento no seu consumo.

6-19
EB70-CI-11.466
c) Esse óleo, semelhante ao da oliva, pode ser separado do vinho por processos
caseiros, e utilizado em frituras.
d) A época da produção da bacabeira coincide com o período mais chuvoso, isto
é, de janeiro a abril, diferentemente do açaizeiro.

Fig 126 - Palmeira bacaba

6.4.4.1.5 Bacabinha

Fig 127 - Palmeira de bacabinha

6-20
EB70-CI-11.466
a) Esta palmeira ocorre somente no alto Amazonas e em alguns países do norte
da América do Sul e da América Central.
b) Seus frutos fornecem vinho igual ao da bacabeira, diferindo apenas em tamanho.
6.4.4.1.6 Patauá
a) O patauá distribui-se por todo o norte da América do Sul até o Panamá. Ocorre
em toda a Amazônia com maior incidência nas matas de várzeas do estuário, no
Pará, mais precisamente na parte central-oeste de Marajó.
b) A polpa fornece o “vinho de Patauá”, muito parecido com o da Bacaba, sendo
o preparo e o consumo iguais ao dessa e do açaí.
c) É muito apreciado esse vinho, porém deve ser ingerido em quantidade moderada
devido ao elevado teor em óleo nos frutos.
d) Safra entre outubro e março do ano seguinte.

Fig 128 – Palmeira de Patauá

6.4.4.1.7 Pupunha
a) Desde a época do descobrimento do Novo Mundo, conforme relatam os antigos
historiadores, a pupunheira tem sido cultivada pelas populações indígenas que
nela encontraram uma das mais importantes fontes alimentares e essa importância
passou a ser reconhecida através das celebrações festivas com que muitas tribos
6-21
EB70-CI-11.466
marcavam o início da colheita.

Fig 129 - Fruto pupunha

b) Os frutos, depois de cozidos com sal, são consumidos com mel, ou açúcar,
porém com café é a forma mais usual. Ressalta-se ainda o aproveitamento do
palmito, que é de boa qualidade, e de outras partes da planta.

Fig 130 - Palmeira de pupunha

6-22
EB70-CI-11.466
c) É importante ressaltar que os frutos são ricos em proteínas, carboidratos e
vários elementos minerais, como cálcio, ferro, fósforo, entre outros, em um alto
teor de vitamina A.
d) O aparecimento dos frutos inicia-se, quase regularmente, no mês de novembro,
prolongando-se até junho do ano seguinte.
e) O clímax da safra está entre março e maio.
6.4.4.1.8 CAMU-CAMU (caçari ou araçá d’água)

Fig 131 - Fruto Camu-Camu

a) É um arbusto ou pequena árvore, disperso em quase toda a Amazônia,


encontrado no estado silvestre nas margens dos rios e lagos, geralmente de
água preta.
b) Apesar do alto teor nutritivo, especialmente em vitamina C (2.606 mg/100 g
do fruto contra 1.790 mg da acerola), o mesmo é praticamente ignorado pelos
caboclos da região, os quais quando muito, a utilizam como tira-gosto ou isca
para peixe, sendo este o principal dispersor das sementes.
c) Dada a elevada acidez, dificilmente são consumidos na forma natural. Podem
ser utilizados para o preparo de sucos.
d) A produção se dá normalmente entre os meses de novembro a março, porém
há também a produção ainda que menor, nos meses de abril a julho.
6.4.4.1.9 Araçá-Boi
a) É um arbusto com cerca de 3 metros de altura, com ramos desde o solo,
usualmente cultivada no Brasil, Peru e Bolívia.
b) Com a planta bem nutrida e adequado suprimento de água, floresce e frutifica
continuamente o ano inteiro.
6-23
EB70-CI-11.466
c) A polpa do fruto é mole e sucosa, de cheiro agradável e de sabor ácido, podendo
ser aproveitada para sucos.

Fig 132 - Fruto Araçá-Boi

6.4.4.1.10 Abiu
a) É cultivado em quase todo o Brasil e comumente encontrado no estado silvestre
por toda a Amazônia. Nessa forma é, às vezes, conhecido pelo nome de “Abiurana”.

Fig 133 - Fruto Abiu

b) O número elevado de abieiros encontrados em estado selvagem na Floresta


Amazônica leva a supor sua origem nessa região. É uma das frutas mais comuns
nos quintais e pomares domésticos da região e quase sempre presente nas
malocas indígenas.

6-24
EB70-CI-11.466
c) Apesar de muito popular é, às vezes, depreciado por conter na casca um leite
branco e viscoso que adere aos lábios. A forma de consumo é in natura.
d) Pode ser encontrado a partir de setembro até abril.
6.4.4.1.11 Abiurana: semelhante ao Abiu, porém na forma silvestre.
6.4.4.1.12 Amapá: o amapazeiro é uma espécie típica da Amazônia brasileira,
especialmente do Pará. O fruto é comestível, doce e até agradável, mas constitui,
sobretudo, um alimento de sobrevivência na floresta. O leite branco, abundante,
que escorre da casca ao ser cortada, é reputado como valioso remédio contra a
fraqueza em geral, a tuberculose e as doenças intestinais.

Fig 134 - Fruto Amapá

6.4.4.1.13 Araçá: é encontrado em toda a Amazônia, cultivado ou no estado


espontâneo em áreas descampadas, capoeiras, cerrados, campo limpo, pastos,
etc. Devido à pronunciada acidez os frutos quase não são consumidos ao natural,
mas em forma de suco. Floresce de junho a dezembro e frutifica de outubro a
março.

Fig 135 - Araçá

6-25
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.14 Araçá-de-Anta (Goiaba de Anta): é uma espécie tropical dispersa por
toda a Amazônia, chegando quase ao sul do Brasil, ocorrendo geralmente na
vegetação secundária e algumas vezes na mata primária. Da abertura da flor até
a maturação completa dos frutos ocorre um período muito curto, razão porque
a planta é comumente encontrada com flores e frutos verdes ao mesmo tempo,
o que ocorre entre agosto e outubro, principalmente. Em situação de escassez
alimentar na floresta, os frutos, adocicados e de sabor suave, podem constituir
um bom suprimento. Consome-se ao natural.

Fig 136 - Araçá-de-Anta

6.4.4.1.15 ATA (Pinha ou fruta do conde):é uma planta de origem americana,


provavelmente das Antilhas, de onde se espalhou, sob cultura, por todas as três
Américas e países asiáticos. No Brasil encontrou, nos estados do Nordeste,
as melhores condições climáticas para o desenvolvimento onde, até hoje, é
largamente cultivada. É um fruto de sabor incomparável pela delicadeza e doçura,
consumido essencialmente no estado natural, isto é, como fruta fresca. Frutifica
nos meses de março a maio.

Fig 137 - ATA (Pinha ou Fruta do Conde)

6-26
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.16 Bacuri Coroa: em toda a Amazônia a área de maior concentração do
bacurizeiro é o estuário do grande rio, com ocorrência mais acentuada na região
do Salgado e na Ilha de Marajó. Nesses locais, prolifera com bastante facilidade,
chegando, em alguns casos, a ser considerado uma praga invasora. No estado do
Amazonas, a raridade indica que foi mínima a expansão desta planta. O Bacuri é
uma das frutas mais populares no Pará, o maior produtor. Os frutos são variáveis
não só no tamanho e cor, como também no nível de acidez. Alguns são bastante
doces, logo, preferidos para o consumo ao natural. Os frutos bastante ácidos são
empregados nos sucos. O bacurizeiro floresce regularmente entre junho e julho.
A queda de frutos maduros tem início em dezembro, prolongando-se até maio
do ano seguinte.

Fig 138 - Bacuri Coroa

6.4.4.1.17 Bacuri ou Bacuri Liso: espécie de provável origem amazônica, dispersa


por todo o norte da América do Sul abrangendo quase todo o território brasileiro
até o Paraguai. Em estado silvestre habita a mata de terra firme ou de várzea,
igapós, capoeiras, etc, sendo, entre todos os bacuris, o mais cultivado por toda
a região. Os frutos são consumidos no estado natural e são muitas vezes bem
apreciados. Floração entre os meses de junho e novembro, com frutos maduros
a partir de agosto até fevereiro do ano seguinte.

Fig 139 - Bacuri Liso

6-27
EB70-CI-11.466

6.4.4.1.18 Biribá: acredita-se que o Biribá tenha a sua origem na região fronteira
da Amazônia brasileira com o Peru e daí se espalhou por todo o resto da dita
região até o nordeste brasileiro e para o norte sua dispersão alcançou as Antilhas
e outras partes do Caribe. O Biribá é uma das frutas mais populares e mais
cultivadas nos pomares domésticos de toda região. A polpa do Biribá é de sabor
suave e adocicado, sendo consumida essencialmente no estado natural, embora
ocasionalmente seja utilizado na fabricação de sucos. Tem sua floração de julho
a setembro e frutificação de novembro a maio.

Fig 140 - Biribá

6.4.4.1.19 Cacau: o cacaueiro é, sem dúvida, uma planta americana, porém,


como muitas outras, deixa uma interrogação quanto à sua área de origem na
América. As classes populares o utilizam ainda como simples fruta, consumindo
a polpa in natura ou em forma de refresco, licor, ou preparando das sementes,
e por processos rudimentares, um chocolate caseiro. O cacau é da maior
expressão econômica, porquanto suas amêndoas são mundialmente conhecidas
e empregadas na fabricação de vários produtos, principalmente o chocolate, um
alimento de alto valor nutritivo.

Fig 141 - Cacau


6-28
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.20 Cacauí: cresce de preferência na mata de terra firme não inundável,
sendo bastante dispersa, mas não frequente e pouco cultivada. Difere do cacau
pelo tamanho.

Fig 142- Cacauí

6.4.4.1.21 Cajarana: espécie originária das Ilhas Sociedade e Fiji no Sul do


Pacífico e atualmente cultivada em quase todos os países tropicais do mundo.
Introduzida no Brasil, supostamente, através de Caiena. É uma fruteira pouco
cultivada nos pomares domésticos. Na plena maturidade os frutos, tem sabor
doce-acidulado, bem atrativo, consumido normalmente no estado natural. Frutos
maduros de julho a dezembro.

Fig 143 - Cajarana

6.4.4.1.22 Caju: é originário do litoral atlântico da América tropical, incluindo as


Antilhas. Sua reputação como fruta de alto valor na dieta alimentar e de grande
importância econômica, fez com que logo se espalhasse por todo o mundo tropical
onde, em muitas regiões do Novo e Velho Mundo, escapando das culturas,
tornou-se espontâneo. A planta encontrou no Nordeste as melhores condições de
crescimento. Apesar de fornecer uma gama de produtos de importância econômica,

6-29
EB70-CI-11.466
destaca-se o pedúnculo, em forma natural, e a castanha assada e salgada. A casca
do tronco e os galhos são usados, em infusão, contra tumores e inflamação da
garganta. Tem a reputação como revigorante do organismo humano e tem sua
frutificação de outubro a janeiro, com um pico em novembro/dezembro, fim da
estação seca. Contudo, há variedades que frutificam até março, e ainda outras,
com frutos fora dessa época.

Fig 144 - Caju

6.4.4.1.23 Cajuí: espécie nativa, de cor avermelhada e castanha menor que a


do caju, dispersa na Amazônia desde o Maranhão até Mato Grosso e Guianas.
Habita na mata alta de terra firme ou de várzea, sendo raramente cultivada. O cajuí
contém alta quantidade de suco, agridoce, de cor rósea e sabor agradável, sendo
por isso consumido, de preferência, in natura. A frutificação tem início geralmente
em dezembro, prolongando-se mais ou menos até abril.

Fig 145 - Cajuí

6.4.4.1.24 Carambola: a caramboleira é nativa da Ásia tropical, contudo, deve


ser nativa do continente americano e, para outros, das moluscas. O certo é que,

6-30
EB70-CI-11.466
no Brasil foi introduzida no ano de 1817. É uma planta de certa forma atrativa,
especialmente pela forma incomum dos seus frutos produzida em quantidade
apreciável por cada árvore. Não raro, a caramboleira é cultivada nos pomares
domésticos. Seus frutos, apesar de bastante ácidos, e com elevado teor de oxalato
de cálcio, são ocasionalmente consumidos na forma natural, sendo mais comum
o uso no preparo de sucos.

Fig 146 - Carambola

6.4.4.1.25 Castanha-do-Pará (Castanha do Brasil): a Castanheira é, sem dúvida,


nativa da Amazônia. Sua área de distribuição abrange quase toda a região e partes
amazônicas da Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela e Guianas. Tem por habitat
natural a mata virgem alta de terra firme. A Castanha-do-Pará é uma essência
vegetal de alto valor alimentar e de expressão no comércio internacional.

Fig 147 – Castanha-do-Pará

6.4.4.1.26 Cupuaçu: o cupuaçu é espécie nativa do Pará, onde pode ser ainda
encontrado em estado silvestre na mata virgem alta de várias localidades do
Amazonas. Apresenta um cheiro característico forte. Come-se o Cupuaçu de várias

6-31
EB70-CI-11.466

maneiras, sendo a menos preferida o consumo da polpa, diretamente in natura.


O uso mais popular é em forma de refresco, ou ainda, misturado com farinha
de mandioca. As sementes contêm 48% de uma gordura branca e aromática,
prestando-se para fabricação de chocolate, também chamado de cupulate.
Frutificação no primeiro semestre do ano com o pico nos meses de fevereiro a abril.

Fig 148 - Fruto Cupuaçu

6.4.4.1.27 Cupuaçu-do-Mato (Cupurana): espécie silvestre pouco conhecida,


encontrada pela primeira vez no rio Canumã, afluente do Madeira. É utilizado
pelos habitantes da região na forma de vinho preparado do mesmo modo como o
do Cupuaçu cultivado. Não apresenta o mesmo cheiro forte do cupuaçu. Floresce
em novembro, com frutos maduros a partir de maio.

Fig 149 - Fruto Cupurana

6.4.4.1.28 Cupui: espécie dispersa desde o Pará até a área amazônica dos
países vizinhos da região. Habita geralmente na mata das terras altas, de
preferência às margens úmidas dos igarapés. Semelhante ao Cupuaçu, diferindo

6-32
EB70-CI-11.466

no tamanho (menor), polpa mais adocicada e casca mais fina. Os frutos são
bastante apreciados, servindo a polpa no preparo de refresco. São também muito
procurados pelos macacos. Frutifica nos meses de fevereiro a maio.

Fig 150 - Fruto Cupui

6.4.4.1.29 Cutite: algumas formas selvagens do Cutite têm sido encontradas na


bacia amazônica sendo, portanto, muito provável que daí se originaram as formas
hoje cultivadas, desde o nordeste brasileiro ao Mato Grosso, norte da América
do Sul, América Central e possivelmente até a Guatemala. O cutizeiro é uma
fruteira tipicamente doméstica e já foi, em tempos passados, muito cultivado. A
consistência e a cor da polpa dos frutos são bastante parecidas com a gema do ovo
cozido e tem sabor agradável e cheiro bem pronunciado o que, a princípio, parece
enjoativo para algumas pessoas. Em geral, o cutizeiro frutifica em abundância e
algumas vezes a carga é tão excessiva que os galhos mais fracos não resistindo
ao peso dos frutos vêm abaixo. Frutos maduros de outubro a fevereiro.

Fig 151 - Fruto Cutite

6-33
EB70-CI-11.466

6.4.4.1.30 Fruta-Pão: é originária de certas ilhas do sul do Pacífico, hoje espalhada


por todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo. Há algumas citações que
dizem: “a fruta-pão é um dos mais importantes frutos alimentares do mundo”.
“Por seu alto conteúdo em carboidrato é um alimento energético de primeira
ordem”. “Como alimento é superior ao pão branco comum”. Tais conceitos não
parecem válidos ou são desconhecidos da população, que só ocasionalmente
comem a fruta. Os frutos, colhidos pouco antes da maturação e assados em forno,
ou cozidos, tem o sabor e a consistência do pão fresco de trigo, substituindo-o
perfeitamente. Suas sementes, depois de cozidas, têm sabor idêntico ao da
castanha europeia. Frutifica geralmente na segunda metade do ano.

Fig 152 – Fruta-Pão

6.4.4.1.31 Gogó-de-Guariba: a planta é um cipó grande da mata ou beira de rios.


Espécie bastante rara, encontrada muito esporadicamente, contudo, é ótima fruta
de sobrevivência.

Fig 153 - Fruto Gogó-de-Guariba

6-34
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.32 Graviola: a graviola é atualmente cultivada em várias partes do mundo,
desde o sul da Flórida (EUA) até a China, África e Austrália, e foi uma das primeiras
frutas levadas do Novo Mundo para outras regiões tropicais. Essa dispersão
mundial da graviola é naturalmente uma decorrência do excelente sabor e aroma
de seus frutos tão atrativos que já recebeu elogios de “insubstituível para sorvetes e
bebidas”. Os frutos podem ser consumidos in natura, porém há grande preferência
pelo sorvete e pelo suco e, nessa forma, é largamente industrializado em toda
parte do mundo. Suas folhas têm emprego na medicina caseira e ultimamente
tem sido muito procurada e utilizada em forma de chá para baixar o teor de açúcar
no sangue. É, contudo, uma automedicação arriscada por não se conhecerem
os princípios ativos e dosagens. Os frutos podem ser encontrados praticamente
durante o ano inteiro, com maior abundância entre julho e setembro. Em Manaus
o período de frutificação corresponde aos meses de janeiro, fevereiro e março.

Fig 154 - Fruto Graviola

6.4.4.1.34 Guaraná: arbusto escandente ou cipó lenhoso. Em cultura a céu


aberto, com um tutor, tem porte reduzido enquanto no estado espontâneo na
mata, cresce como um cipó vigoroso até alcançar o extrato superior. O Guaraná
é uma planta nativa da Amazônia, de cultura pré-colombiana tão antiga que a
forma verdadeiramente espontânea, selvagem, não é mais conhecida. A primeira
notícia do uso do Guaraná pelos nativos da Amazônia foi dada em 1669, falando de
grande força, ausência de fome, diurética, tira febres, dores de cabeça e câimbras.
Após pesquisas, foram levantadas as seguintes características medicinais do
Guaraná: antitérmico, antineurálgico e antidiarreico, é estimulante poderoso
comparável à cola africana; é analgésico comparável, nos efeitos, a aspirina,

6-35
EB70-CI-11.466

tendo sobre essa a vantagem de não deprimir o coração, nem comprometer o


funcionamento do fígado e rins; é antigripal eficiente. O processo tradicional de
beneficiamento do Guaraná é aquele, legado pelos Maués, ainda hoje em uso,
porém mais aperfeiçoado. Após a colheita do fruto, as sementes são separadas
da casca e deixadas em repouso até a fermentação do arilo, o que facilita sua
remoção. A seguir são torradas em forno de chapa e removido o tegumento da
amêndoa. Este é o produto vendido no comércio, conhecido como Guaraná em
rama. Para se obter o Guaraná em pó, basta ralar a rama na língua do Pirarucu
(extremidade do osso hioide desse peixe) ou, utilizando nos tempos modernos,
a “grosa”. A partir de julho tem início a floração, que vai até setembro e, já em
novembro começa a amadurecer os primeiros frutos.

Fig 155 - Fruto Guaraná

6.4.4.1.34 Inajá: encontra-se em toda a Amazônia e países circunvizinhos. A


maior incidência é no Pará e mais precisamente no estuário amazônico, onde
parece ter a sua origem, chegando até o Maranhão. É uma das palmeiras mais
comuns da terra firme de solo areno-argiloso, preferindo as áreas de vegetação
aberta ou mesmo os campos. Os frutos são consumidos quase sempre no estado
natural, acompanhados de farinha de mandioca. Após a retirada da casca, a polpa
é raspada com colher, ou faca, ou então roída, o que é mais comum. A polpa
de sabor levemente doce é, algumas vezes, usada no preparo de mingau, com
farinha ou amido, que é administrado as pessoas em estado de fraqueza geral. Um
excelente palmito pode ser obtido do inajazeiro, contudo, é exigido considerável
esforço para sua retirada devido à grande espessura do estipe. Durante o primeiro

6-36
EB70-CI-11.466
semestre do ano, ou até um pouco mais além, o inajá tem sua frutificação.

Fig 156 - Fruto Inajá

6.4.4.1.35 Ingá: o gênero Ingá é atualmente representado na Amazônia brasileira


por aproximadamente 180 espécies e deste número só um pequeno grupo de 4
a 5 espécies tem expressão como fruta comestível, cabendo, indiscutivelmente,
o primeiro lugar pela sua maior popularidade, ao Ingá-Cipó, numa forma já
melhorada pela cultura.

Fig 157 - Fruto Ingá

6.4.4.1.36 Ingá-Cipó: o ingazeiro tem uma larga distribuição na América do Sul,


abrangendo todo o Brasil, provavelmente excetuando o extremo Sul. O ingá-cipó é

6-37
EB70-CI-11.466

uma das árvores frutíferas mais populares em toda a região. A polpa que envolve
as sementes é consumida no estado natural e não consta haver outra forma de
consumo. Sua frutificação pode ocorrer três vezes ao ano, contudo, é entre os
meses de agosto/ setembro que tem seu maior pico.

Fig 158 - Fruto Ingá-cipó

6.4.4.1.37 Ingá-Açú: é nativo da Amazônia brasileira e sua distribuição geográfica


estende-se até às Guianas. É comum no estado silvestre nas várzeas marginais
do rio Amazonas desde o estuário até o Peru, bem como nos rios Madeira e
Purus até o Acre. É bastante cultivada no Pará e Amazonas. A polpa que envolve
as sementes é consumida no estado natural e não consta haver outra forma de
consumo, igual ao ingá-cipó. Os frutos são encontrados em grande quantidade
nos meses de março a maio e algumas vezes em novembro e dezembro.

Fig 159 - Fruto Ingá-Açú

6-38
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.38 INGÁ-COSTELA: espécie nativa da Amazônia frequente na mata úmida
de terra firme e margens inundáveis de rios do estuário, rio Tocantins e baixo
Amazonas, no Pará; também nos rios Negro e Madeira, Amazonas; citada ainda
para a Guiana Francesa e Venezuela.

Fig 160 - Fruto Ingá-costela

6.4.4.1.39 Ingá-Xixica: esta espécie é largamente espalhada e frequente por


toda Amazônia, até o Brasil Central e países vizinhos, chegando a América
Central. Comum nas capoeiras e capoeirões de terra firme arenosa ou argilosa,
rara na mata primária. O conteúdo comestível (polpa) é extremamente escasso,
resumindo-se no diminuto suco adocicado que as pessoas se limitam apenas em
sugá-lo. Frutificação entre agosto e setembro.

Fig 161 - Fruto Ingá-Xixica

6-39
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.40 INGAPÉUA: difere dos outros pelo fato do fruto apresentar o pericarpo
revestido de pelos amarelos levemente ásperos. Encontrada, sobretudo, em solo
fértil humo-argiloso, úmido, mas não inundável. A época de maior floração situa-se
entre os meses de julho e outubro, com frutos maduros a partir de janeiro até abril;
contudo, não raro, encontram-se plantas com flores e frutos ao mesmo tempo.
6.4.4.1.41 JACA: a jaqueira, originária da Índia, é cultivada em todos os Países
Tropicais do mundo. Foi introduzida no Brasil por volta do século XVIII através da
Bahia e, por essa razão, algumas vezes denominada de Jaca-da-Bahia. Cultiva-se
a jaqueira em toda a Amazônia e, pela facilidade com que germinam as sementes
ela prolifera espontaneamente por toda parte, sendo comum a ocorrência de
pequenas concentrações da planta em áreas de antigas habitações. As partes
comestíveis da jaca são os frutículos, resultantes dos ovários das flores, que
se tornaram carnosos durante o crescimento, constituindo os “bagos” de cor
amarelada, sabor doce, cheiro forte e característico. Os “bagos” podem ser de
consistência endurecida ou um pouco mole e daí a distinção de duas variedades
muito conhecidas da jaca: “jaca dura” e “jaca mole”; nessa, geralmente menor,
distingue-se o tipo “manteiga”, muito apreciado pelo sabor mais doce e delicado
dos “bagos”. As sementes podem ser consumidas após assadas ou cozidas e,
comenta-se, são ligeiramente afrodisíacas. Os frutos iniciam a maturação a partir
de outubro, prolongando-se até mais ou menos abril do ano seguinte.

Fig 162 - Fruto Jaca

6-40
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.42 Jambo: o jambeiro é originário da Malásia, região de Malaca e atualmente
cultivado em todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, principalmente
como planta decorativa e para sombreamento de logradouros públicos.

Fig 163 - Fruto Jambo

- Na Amazônia o jambeiro, assim como a mangueira, é uma das plantas exóticas


mais difundida e popularmente conhecida, não só nas capitais, mas em todo o
interior distante, como cidades, vilas, povoados e até em aldeias indígenas e,
não raro, em estado subespontâneo no meio da vegetação natural em lugares de
antigas habitações. Pelo tamanho e cor externa, os frutos do jambeiro parecem
muito atraentes, porém seu sabor é quase medíocre, contudo, muito consumido
no estado natural, pela sua polpa refrescante, rica em água que não deixa de
ser agradável para muitas pessoas. Há referências de consumo do fruto cozido,
em conserva ou em forma de vinho. Já foi observada produção de frutos durante
o ano inteiro, podendo haver, num mesmo ano, dois períodos de abundância,
geralmente de abril a maio e outro de agosto ou setembro, até novembro.
6.4.4.1.43 Jenipapo: o jenipapeiro é, com certeza, uma planta originária do norte
da América do Sul onde é encontrado tanto no estado selvagem como cultivado,
desde os tempos pré-colombianos. É comum em toda a Amazônia brasileira, em
estado espontâneo e cultivado, principalmente nas várzeas ao longo dos rios de
águas claras e lugares de antigas habitações indígenas. O fruto do jenipapeiro
só deve ser consumido bem maduro, quando o pericarpo se apresenta amolecido
e deformando-se com o manuseio. Para o consumo in natura deve-se adicionar
açúcar à polpa para suavizar a acidez. Mas o consumo tradicional do jenipapo é,
sobretudo, na forma de licor, muito apreciado, prestando-se ainda para refrescos,
xaropes e doces cristalizados. Os frutos começam a amadurecer, sempre a partir

6-41
EB70-CI-11.466

do mês de fevereiro, até maio, e depois da colheita surgem novas flores (no
Nordeste).

Fig 164 - Fruto Jenipapo

6.4.4.1.44 Mapati: espécie nativa da parte Ocidental do Amazonas (alto rio


Negro e Solimões), muito cultivada pelos índios e civilizados daquela região,
principalmente nas fronteiras com o Peru e Colômbia, “abundantíssima nos
arredores de Iquitos”. Fora dessa área é pouco conhecida e menos cultivada.
Na Bahia recebe a denominação de “Tararanga Preta”. Os frutos do Mapati são
muito parecidos com a uva comum e até o próprio cacho é semelhante, embora
não tenha a delicadeza daquela. Comem-se os frutos do mesmo modo (in natura),
sugando a polpa e atirando-se fora as cascas e as sementes. Frutificação entre
setembro e fevereiro do ano seguinte.

Fig 165 - Fruto Mapati

6-42
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.45 Maracujá: é abundantemente cultivado na Amazônia. Encontra-se
espalhado por todos os países tropicais do mundo, com cerca de 400 espécies,
sendo a forma de frutos roxos bastante comum na Austrália, Havaí, Mediterrâneo,
África do Sul e outros países, em que têm considerável importância econômica. O
maracujá é utilizado de muitas maneiras, sobretudo, como refresco. A frutificação
ocorre durante quase o ano inteiro notando-se uma redução no fim da estação
chuvosa (maio a julho), motivada pela ausência de insetos polinizadores no
período chuvoso.

Fig 166 - Fruto Maracujá

6.4.4.1.46 Maracujá-Suspiro (Maracujá-do-Mato): espécie de maracujá silvestre,


comestível, disperso por todo o Norte da América do Sul. É comum por toda a
Amazônia, crescendo espontaneamente na vegetação secundária (capoeira
baixa), beira de rios, de estradas, ou em qualquer outro local mais ou menos
descampado com suficiente iluminação solar. Os frutos, embora sem um aroma
capaz de ser percebido é, entretanto, doce sem nenhuma acidez, prestando-se
para o consumo no estado natural como o fazem, de fato, muitas pessoas, ao
encontrá-los no mato. Frutifica entre os meses de abril e agosto.

Fig 167 - Fruto Maracujá-Suspiro

6-43
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.47 Marimari: espécie dispersa por quase todo o Pará e Amazonas,
com ocorrência bastante acentuada, do baixo Amazonas até Manaus, onde
provavelmente tem o centro de origem. É planta silvestre característica de
ambientes úmidos ou alagados, como sejam: matas de igapó, de várzeas
inundáveis, lagos, igarapés, etc. É cultivada algumas vezes fora de seu ambiente.
O período de maior floração está entre os meses de julho a setembro, com frutos
maduros a partir do início do ano ou um pouquinho antes.

Fig 168 - Fruto Marimari

6.4.4.1.48 Murici: muitas outras espécies conhecidas pelo mesmo nome ocorrem
no estado silvestre na Amazônia. Isso sugere que esse gênero tenha aí o centro
de origem e dispersão. A Murici é planta típica de áreas campestres, dunas,
capoeiras rarefeitas, savanas, etc, sempre em solos arenosos. No geral, os
frutos não são consumidos ao natural, sendo a forma mais simples o refresco,
às vezes misturado com farinha de mandioca. A época de frutificação tem início
em novembro/dezembro, estendendo-se até abril/maio do ano seguinte quando
os frutos são encontrados em abundância.

Fig 169 - Fruto Murici

6-44
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.49 Pajurá: esta espécie é nativa da bacia amazônica e distribuída desde
a parte central até as Guianas. Muito frequente no estado silvestre em matas de
terra firme e bastante cultivado em Manaus e arredores, em pomares domésticos.
Os frutos do Pajurá são consumidos no estado natural; o mesocarpo (única parte
comestível) é de cheiro atrativo, sabor doce e agradável, porém considerado
“pesado”, em razão do que nem sempre é consumido todo um fruto de uma só
vez. Em Manaus é bastante comum, com a frutificação de setembro a maio.

Fig 170 - Fruto Pajurá

6.4.4.1.50 Piquiá: espécie distribuída por toda a Hileia, desde a faixa atlântica, entre
o noroeste do Maranhão e a Guiana Francesa, até o alto Amazonas, disperso na
mata alta de terra firme, com maior concentração na região do grande estuário. O
piquiá é muito, e mais apreciado pelas classes populares, que se deliciam com o
sabor e cheiro incomuns de sua polpa, comestível depois de cozida. Separados
da casca, os caroços (e a sua polpa ) são levados ao fogo juntamente com o
feijão cozido ou o arroz; a polpa é consumida pura ou com farinha, que pode ser
acompanhada de café, ou ainda com o arroz no qual foi cozida. A amêndoa é
também, oleosa e comestível, porém geralmente desprezada devido à trabalhosa
remoção dos espinhos. Frutos maduros em abundância podem ser encontrados
nos meses de março a maio ou até junho.

Fig 171 - Fruto Piquiá

6-45
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.51 Pitomba: a pitombeira é originária da parte Ocidental da Amazônia
onde provavelmente ainda ocorre no estado selvagem. Atualmente encontra-se
cultivada ou propagada espontaneamente em quase todo o território brasileiro,
desde o Amazonas até o Rio de Janeiro e também no Paraguai e Bolívia. O
conteúdo comestível do fruto é o arilo que envolve as sementes, o qual, embora
escasso, é doce, acidulado e de sabor bastante agradável, consumido apenas
no estado natural. O período de frutos maduros vai de dezembro até fevereiro,
aproximadamente.

Fig 172 - Fruto Pitomba

6.4.4.1.52 Sapoti (ou sapotilha): o sapoti é supostamente originário de uma região


entre o Sul do México e Costa Rica, sendo atualmente cultivado em várias regiões
tropicais do Novo e Velho Mundo. Há tempos o sapotilheiro vem sendo cultivado
não somente pelos seus deliciosos frutos, mas também como principal fonte da
matéria prima (chicle) para a fabricação da goma de mascar (Chewing Gum)
obtida através de incisões no tronco. No Brasil a planta tem valor como frutífera,
cultivada somente para tal. A melhor forma de consumo dessa fruta é, sem dúvida,
no estado natural. Os frutos são encontrados durante quase todo o ano.

Fig 173 - Fruto Sapoti

6-46
EB70-CI-11.466
6.4.4.1.53 Sapucaia: supõe-se que seja originária da parte central-leste da
Amazônia onde é bastante frequente, embora a dispersão estenda-se até às
Guianas e provavelmente à Colômbia. É razoavelmente comum no estado silvestre
nas matas de várzea e de terra firme habitando, de preferência, nas margens
de rios e em áreas de vegetação pouco densa, e ocasionalmente cultivada. As
amêndoas da sapucaia são tão saborosas quanto às da Castanha-do-Pará e
contém cerca de 51% de óleo comestível. Um dos fatores negativos para sua
comercialização é o desprendimento espontâneo do opérculo, libertando, com
isso, as sementes; essas se dispersam por entre a vegetação, dificultando a sua
colheita. Logo a seguir, são avidamente devoradas pelos animais roedores da
floresta. A floração ocorre geralmente entre maio e agosto, com frutos maduros
cerca de 8 a 10 meses depois.

Fig 174 - Fruto Sapucaia

6.4.4.1.54 Sorvinha (ou sorva): Espécie nativa do Amazonas, frequente no estado


espontâneo especialmente no alto rio Negro, rio Japurá, Solimões e região de
Manaus onde é ocasionalmente cultivada em sítios domésticos. Os frutos da
sorveira são muito apreciados, consumidos somente no estado natural, às vezes
com a casca e as sementes, o que nem sempre é aconselhável. As sorveiras são
também exploradas para a fabricação de goma de mascar. Regionalmente o leite
da sorva é empregado na calafetagem de pequenas embarcações e, nos lugares
mais afastados, costumam misturá-lo - na medida de três (água) para uma (leite
da sorva) - com café, ou então pode ser utilizado em forma de mingau com outros
ingredientes. A frutificação se dá entre junho e novembro, ou de março a agosto.

6-47
EB70-CI-11.466

Fig 175 - Fruto Sorvinha

6.4.4.1.55 Tamarindo: Espécie originária do Velho Mundo, provavelmente da


Índia. Encontra-se hoje cultivado e naturalizado em todas as regiões tropicais
e subtropicais do mundo inteiro, não somente pelos seus frutos comestíveis e
medicinais, mas também como arborização de logradouros públicos e de excelente
qualidade. Os frutos são empregados na fabricação de sorvetes e refrescos. São
vistos nos meses de julho a dezembro, muitas vezes em quantidade apreciável,
procedentes de algumas cidades interioranas mais próximas onde ainda existem
algumas plantações.

Fig 176 - Fruto Tamarindo

6.4.4.1.56 Taperebá (Cajá no Nordeste-Cajamirim no Sul): a origem do Taperebá


é, com certeza, americana, porém não se pode precisar a região de sua origem,
embora alguns indícios fazem supor que seja na Amazônia onde ele ocorre em
estado silvestre em maior proporção do que cultivado. Na Amazônia encontra-se
na mata de terra firme e de várzea, sendo comum em lugares habitados, porém em
estado subespontâneo. O fruto do Taperebá é um dos mais apreciados na região,
principalmente o refresco, o sorvete e o picolé, dele fabricados. Quando maduros,
os frutos devem ser consumidos logo porque se deterioram em pouco tempo, além
6-48
EB70-CI-11.466
de serem bastante sensíveis ao manuseio. Aparecem durante uma boa parte do
ano, porém com mais frequência e abundância nos meses de dezembro a junho.

Fig 177 - Fruto Taperebá

6.4.4.1.57 Tucumã-do-Pará: espécie é nativa do norte da América do Sul,


possivelmente do Estado do Pará, onde tem o centro de dispersão, até a
Guiana Francesa e Suriname. É palmeira característica da terra firme alta, de
cobertura vegetal baixa, ou mesmo do campo limpo. Os frutos são consumidos
no estado natural, algumas vezes como vinho. Ocasionalmente são empregados
na fabricação de licor e de sorvete. O Tucumã tem ainda outras utilidades que
beneficiam o interiorano ou o silvícola. As folhas devidamente tratadas dão fibras
finas e resistentes, usadas na confecção de cordas para arco, fabricação de
redes, de pescar e de dormir (rede de Tucum). Em quantidade apreciável, os
frutos aparecem durante a primeira metade do ano.

Fig 178 - Fruto Tucumã-do-Pará

6.4.4.1.58 Tucumã do Amazonas: este Tucumã parece ser nativo do Amazonas


onde é muito frequente, dispersando-se por outras áreas (Guianas, Peru e
Colômbia) e, ao que parece, não chega ao Estado do Pará. É comum na vegetação
secundária (capoeira) ou nos descampados em solos pobres e degradados.

6-49
EB70-CI-11.466

Diferencia-se do Tucumã-do-Pará por ser menos fibroso e consequentemente de


melhor qualidade para o consumo in natura. Os frutos e outras partes da planta
têm praticamente os mesmos usos do Tucumã paraense. Sua frutificação se dá
nos meses de janeiro a abril.

Fig 179 - Fruto Tucumã do Amazonas

6.4.4.1.59 Uxi: o uxizeiro é indígena no Pará e Amazonas; é espécie tipicamente


silvestre da mata primária de terra firme. A polpa do uxi é oleosa, de sabor e
cheiro peculiares, muito agradáveis; é consumida no estado natural, pura ou com
farinha de mandioca, constitui um importante complemento na alimentação das
classes populares. Quando cai da árvore, o fruto ainda não está em condições de
ser consumido; deve-se esperar de 3 a 5 dias, quando a casca e polpa cedem à
pressão dos dedos, sinal de que está maduro. A frutificação inicia regularmente
em dezembro terminando definitivamente em junho.

Fig 180 - Fruto Uxi

6.4.4.1.60 Uxicuruá: espécie rara, limitada à região do baixo Amazonas até


Manaus. Os frutos são consumidos no estado natural ou cozidos. A frutificação
se dá de janeiro a abril.

6-50
EB70-CI-11.466

Fig 181 - Fruto Uxicuruá

6.4.4.2 Chás
6.4.4.2.1 Castanha do Pará: inflamação no ovário, cólica intestinal, hepatite.
6.4.4.2.2 Carapanaúba (CASCA): cortar lascas pequenas e colocá-las em uma
vasilha (panela) com água fresca ou morna e deixar imersa durante 15 a 20
minutos, tomar ao natural (poderá ser filtrado). Anti-inflamatório. Utilizado na
região para febre, dor de barriga, fígado, rins e malária.

Fig 182 - Árvore Carapanaúba

6.4.4.2.3 Cravo (CIPÓ): mostra a “Cruz de Malta” na secção transversal. Corta-se o


cipó descascado em lascas. Coloca-se em uma vasilha (panela) com água morna
e deixar imerso de 15 a 20 minutos. Quanto mais lascas, mais forte ficará o chá,
proporcionando um gosto semelhante ao do cravo-da-índia. Deve ser mantido

6-51
EB70-CI-11.466

em um lugar fresco quando secar não servirá mais para fazer o chá. Consumo ao
natural ou acrescentando açúcar. Utilizado na região como diurético e antidiarreico.

Fig 183 – Cipó de cravo

6.4.4.2.3 Xexuá (Cipó): cipó estriado com nervuras esverdeadas e quando raspada
a sua casca apresenta uma cor amarela. Ao ser seccionado, aparecerão círculos
vermelhos concêntricos. Corta-se o cipó descascado em lascas. Coloca-se em uma
vasilha (panela) com água morna e deixar imerso de 15 a 20 minutos. Conservar
por duas a três semanas, quando começará a secar. Deve ser consumido natural
ou acrescentando açúcar. Utilizado na região contra anemia (guardando as lascas
na aguardente por 15 dias e depois consumir) e como afrodisíaco.

Fig 184 - Cipó de xexuá

6-52
EB70-CI-11.466

6.4.4.2.3 Saracura-mirá (cerveja da selva): limpa-se a raiz (parte vermelha que


fica soterrada), raspa-se esta parte em um recipiente com água fresca; bate-se
com um pedaço de graveto ou a própria raiz até espumar quando estará pronta.
Tomar ao natural. Deve retirar o vegetal somente quando for consumir. Utilizado
na região contra febre e eficaz contra a malária. Tomar no máximo um caneco,
em excesso tem efeito narcótico.

Fig 185 - Raiz de Saracura Mirá

Fig 186 - Raiz de Saracura Mirá Raspada

6.4.4.3 A relação acima não esgota o assunto. Conforme a área da Região


Amazônica, novas plantas e frutos poderão enriquecer esta lista ou, no mínimo,
suplementá-la com novidades ou denominações locais.

6-53
EB70-CI-11.466
6.5 ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL
6.5.1 GENERALIDADES
- Normalmente se obterá carne através da caça e da pesca. A carne tem um valor
energético muito maior que os vegetais, pela quantidade de calorias que possui.
Entretanto, é mais difícil de ser conseguida na selva, devendo o homem, para
isso, estar altamente capacitado, conhecendo os hábitos diurnos e noturnos dos
animais, os habitats, os rastros e os locais de comedia, onde possa ser feita uma
espera ou colocada uma armadilha para caça.
6.5.2 PREPARAÇÃO DA CAÇA
6.5.2.1 Processos
6.5.2.1.1 Esfolamento ou descamisamento
a) Uma vez abatido o animal, deve-se proceder a esfola. Pendura-se o animal
pelos membros posteriores, abrindo-os para facilitar o trabalho.
b) Faz-se uma incisão transversal na parte mais alta dos mesmos, abaixo dos
tornozelos, e outra longitudinal até as entrepernas, descendo este corte pela “linha
branca” do ventre do animal.
c) Com a ponta da faca inicia-se o esfolamento, liberando a pele do músculo e
de uma fina camada de gordura ali existente.
6.5.2.1.2 Sapecar
a) Este processo poderá ser utilizado em animais com pouca quantidade de pelos
ou penas ou como processo auxiliar em um animal sumariamente raspado ou
despenado.
b) Do mesmo modo que a ave, o animal é chamuscado no fogo e, em seguida,
é feita a raspagem do pelo com uma faca ou objeto cortante até a pele ficar
esbranquiçada.
6.5.2.1.3 Fervura
a) Processo muito utilizado em paca, cutia e cutiara que tem a pele muito saborosa.
b) Consiste em jogar água quente em cima do animal e simultaneamente se faz
a raspagem do pelo até a pele ficar esbranquiçada.
c) Deve-se ter o cuidado para o couro não encruar (endurecimento da carne
devido ao resfriamento).
d) Para tal, deve-se jogar água somente nas partes que serão imediatamente
raspadas.
6.5.2.1.4 Evisceração
a) Após utilizar qualquer dos processos vistos acima, seja o animal grande ou

6-54
EB70-CI-11.466
pequeno, será o mesmo aberto pelo peito para a evisceração.
b) Nesta operação, há que se ter cuidado com a vesícula biliar (fel) e a bexiga.
c) Para isso, coloca-se a ponta da faca protegida pelo indicador tracionando-se
para frente e para baixo.
6.5.2.1.5 Cocção: depois de eviscerado e lavado, o animal deverá ser consumido
imediatamente ou moqueado para consumo posterior.
6.5.2.2 Para efeito do preparo, utilização e conservação, convenciona-se dividir a
caça em animais de pelo, aves, peixes e animais de terra.
6.5.2.3 Animais de pêlo
6.5.2.3.1 Antas, onças, veados, macacos, pacas, cutias, cutiaras, capivaras, etc.
6.5.2.3.2 Uma vez abatido o animal, deve-se proceder a esfola.
a) Pendura-se o animal pelos posteriores, abrindo-os para facilitar o trabalho.
b) Faz-se uma incisão transversal na parte mais alta dos mesmos, abaixo dos
joelhos, e outra longitudinal até as entrepernas.

Fig 187 - Esfola de animal abatido

6-55
EB70-CI-11.466
c) Com a ponta da faca inicia-se o esfolamento, liberando a pele do músculo de
uma fina camada de gordura ali existente.
d) Procede-se com os demais membros da mesma forma.
6.5.2.3.3 Existem alguns animais, como os macacos, que permitem ser
descamisados, isto é, uma vez feitas as incisões transversais e longitudinais,
pela simples tração, o couro será destacado do músculo.
6.5.2.3.4 Após esfolado ou descamisado, o animal será aberto pela linha do peito
(linha branca) para a evisceração. Nesta operação dever-se-á ter um duplo
cuidado: com a bexiga e com o fel. Para isso, coloca-se a ponta da faca protegida
pelo indicador e, tracionando-se para a frente e para baixo, o animal estará aberto
sem se correr o risco de perfurar a bexiga ou a bolsa biliar. Nos grandes animais,
nenhuma parte das vísceras deverá ser aproveitada.
6.5.2.3.5 Alguns animais possuem glândulas subaxilares que, se não forem
retiradas corretamente, poderão comprometer a carne e causar doenças
(exemplos: mucura e cutia).
6.5.2.3.6 Eviscerado e lavado, o animal estará pronto para a cocção que poderá
ser para consumo imediato ou moqueado para uso posterior.
6.5.2.3.7 A pele dos animais poderá ser aproveitada para abrigar, colher água ou
simples adorno. Para isso, deverá ser estaqueada e posta a secar ao sol ou fogo.
6.5.2.3.8 As carnes devem ser muito bem cozidas ou fritas para reduzir a
possibilidade de transmissão de Toxoplasmose. Para tanto, devem ser cortadas
com pequena espessura visando destruir possíveis cistos.
6.5.2.3.9 O sangue dos animais não deverá ser consumido in natura, pois
poderá transmitir Toxoplasmose. Poderá ser fervido e usado como tempero e
complemento calórico após estar totalmente desidratado.
6.5.2.4 Aves: mutuns, jacus, nhambus-galinha, jacamins, papagaios, ciganas,
socós, garças etc.
6.5.2.4.1 Abatida a ave, estando ela ainda quente, será fácil a retirada das penas.
Outro processo para depenar é o caseiro, com o emprego da água quente, mas
difícil de ser realizado em plena selva, além de moroso. Pode-se ainda retirar as
penas juntamente com a pele, pelo descamisamento; embora seja um processo
rápido, haverá a perda da pele como alimento que possui grande quantidade
de calorias.
6.5.2.4.2 O processo do barro é eficiente, porém demorado; consiste em ser a ave
levada ao fogo envolta no barro; pelo calor haverá a desidratação e o tijolo assim
obtido quando partido, liberará a ave sem as penas.
6.5.2.4.3 Das vísceras das aves podem ser aproveitados o coração, o fígado e a
moela, sendo que desta pode-se extrair uma pequena quantidade de sal. Para

6-56
EB70-CI-11.466
isso, após bastante picada, é posta a ferver com água e, com a evaporação, restará
uma pequena porção de sal em depósito. A quantidade assim obtida, embora
insuficiente para salgar a ave, servirá para dar um paladar melhor à carne.
6.5.2.4.4 Os ovos, tanto os das aves como os dos quelônios, podem ser
conservados até 30 dias, quando cozidos em água e guardados em salmoura, ou
então, após cozidos, esfarelados e postos ao sol para uma melhor desidratação.
6.5.2.5 Peixes
6.5.2.5.1 Podem ser escamados, sempre da cauda para a cabeça, no sentido
contrário ao das escamas.
6.5.2.5.2 Há peixes, entretanto, cujo couro pode ser retirado juntamente com as
escamas, numa operação mais rápida e higiênica. Escamado o peixe ou dele retirado
o couro, cortam-se as barbatanas (dorsais e ventrais) e as nadadeiras e, pelo ventre,
faz-se a evisceração. Das vísceras dos peixes, somente são aproveitáveis as ovas.

Fig 188 - Limpeza de peixes

6.5.2.6 Animais de Terra


6.5.2.6.1 Enquadram toda a variedade de lacertídeos, quelônios, ofídios e jacarés.
6.5.2.6.2 Não devem ser consumidos lacertídeos que se deixem apanhar com
facilidade ou que estejam doentes.

6-57
EB70-CI-11.466
6.5.2.6.3 Dos ofídios, quer sejam peçonhentos ou não, faz-se um corte longitudinal
pelo ventre e pode ser esfolado ou descamisado pela tração; retira- se um palmo a
partir da cabeça e um a partir da cauda; feita a retirada das vísceras abdominais
(evisceração), todo o ofídio pode ser consumido, sem qualquer outra preocupação.
6.5.2.6.4 Nos lacertídeos e jacarés, a carne mais indicada para o consumo é a
da cauda. Ao preparar para o corte, deve-se amarrar a boca e tomar cuidado
com a cauda, mesmo depois da morte do animal, pois as contrações musculares
e reflexos poderão gerar surpresas.
6.5.2.6.5 Os quelônios (jabutis, tracajás, tartarugas, etc) podem ser levados inteiros
ao fogo. Entretanto, convém bater com o facão nas laterais da carapaça ventral e,
rompendo-a, pode o animal ser eviscerado, e das vísceras apenas aproveitados
os ovos, quando houver. O próprio casco pode servir de vasilha para a cocção
do quelônio.
6.5.2.6.6 Não esquecer que a fome sobrepuja toda repugnância.
6.5.3 TEMPEROS
6.5.3.1 Quando do preparo de alimentos, a falta de temperos na selva constituirá
um outro problema, embora alguns vegetais possuam pequena salinidade.
6.5.3.2 Na selva o sal poderá ser encontrado:
6.5.3.2.1 Nas cinzas que possuem pequeno teor salino.
6.5.3.2.2 No caruru, planta que secada ao sol, queimada e lavada fornecerá como
resíduo um sal grosseiro.
6.5.3.2.3 Na moela das aves que, após picada e fervida até a evaporação da água,
por várias vezes, deixará um pequeno depósito com certo teor de sal.
6.5.3.2.4 No sangue que, posto a ferver até secar, também fornecerá sal.
6.5.4 CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS
6.5.4.1 As carnes deverão ser cortadas em fatias finas, de no máximo 2 dedos de
espessura e submetidas a uma desidratação pela defumação, salga ou moquém.
6.5.4.2 Por períodos de até 8 horas as carnes que não forem desidratadas,
defumadas, salgadas ou moqueadas poderão ser conservadas se forem
armazenadas e protegidas no interior de igarapés, cujas águas são normalmente
mais frias.
6.5.4.3 O sal, elemento higroscópico, auxiliará de qualquer modo a desidratação
e a conservação das carnes.
6.5.4.4 Para maior proteção das carnes, elas deverão ser guardadas envoltas
em panos, papel ou folhas. Caso acumulem mofo, bastará raspá-las ou lavá-las
antes de serem preparadas para consumo.

6-58
EB70-CI-11.466
6.5.4.5 Os ribeirinhos conservam os alimentos, normalmente peixes, através
do processo conhecido por mixira, que consiste em derreter o óleo do animal
(banha) em um recipiente, e com aquele ainda quente, imergir totalmente a carne
cozida ou frita. No caso de pedaços espessos, a carne deverá ser cozida. Após o
óleo solidificar-se, o alimento continuará em condições de ser consumido durante
o período de até 12 meses.

Fig 189 - Conservação de alimentos (mixira)

6.5.5 CLASSIFICAÇÃO DOS ANIMAIS


6.5.5.1 Classificados dentro de uma sistemática, de acordo com suas características,
hábitos e vivendas, estão relacionados a seguir os principais animais da rica
fauna brasileira, principalmente da Região AMAZÔNICA, os quais interessam à
sobrevivência na selva. No reino animal, o ramo dos vertebrados compreende as
classes dos: mamíferos, aves, répteis, batráquios e peixes.
6.5.5.2 Classe dos Mamíferos
6.5.5.2.1 São animais que alimentam as crias com o leite das mamas. Têm pele
frouxa e fina e o corpo mais ou menos coberto de pelos.
6.5.5.2.2 Compreende as ordens dos:
a) Desdentados
1) Tatu - Apesar de classificado como desdentado, o tatu possui dentes,
porém situados no fundo da boca. Morando em tocas profundas, prefere sair à
noite para a procura de alimentos. Sua proteção é a carapaça óssea, em forma de
placas, que o envolve, desde a cabeça até a própria cauda. Os tatus são onívoros
e apresentam as seguintes espécies: Tatu-Canastra ou Tatuaçu, que chega a

6-59
EB70-CI-11.466
pesar 50 quilos; Tatu-Peludo ou Tatupeba, até 10 quilos; Tatu-de-Rabo-Mole, até
10 quilos; Tatu-Bola ou A par, que se enclausura dentro da carapaça como
defesa e mede uns 40 cm de comprimento.

Fig 190 - Tatu

2) Tamanduá - São desdentados que se alimentam de formigas, cupins e


ovos de aves, frutos, folhas e seivas. Não são agressivos e, se ameaçados,
limitam-se a fugir ou a se defender com as unhas. Variedades: Tamanduá-
Bandeira, que chega a medir 1,20 m de comprimento mais a cauda de tamanho
equivalente, que lhe serve de cobertor; Tamanduá-Mirim, de porte menor, também
conhecido como Tamanduá-de-Colete, pela disposição de sua pelagem.

Fig 191 - Tamanduá-Mirim

6-60
EB70-CI-11.466

3) Tamanduaí - Possui garras semelhantes às da preguiça. É pequeno, 25 cm no


máximo, gosta de morar em Umbaúbas e prefere sair à cata de alimento à noite.

Fig 192 – Tamanduaí

b) Roedores - são mamíferos que possuem os incisivos grandes.


1) Capivara - é o maior roedor conhecido no mundo, pois chega a ter um metro
e vinte de comprimento por 60 centímetros de altura, pesando até 80 quilos. Vive
próximo à água e prefere alimentar-se à noite. Possui pelos sedosos e híspidos,
pardo-avermelhados ou amarelados, cabeça alongada, crânio achatado e orelhas
pequenas. Sua carne é apreciada, mas um pouco gordurosa.

Fig 193 - Capivara

2) Cutia - roedor de corpo grosso, com 50 a 60 cm de comprimento e 3 a


5 quilos de peso, sem cauda, pelos ásperos, pardos, amarelos e negros. Vive
nas matas e tem hábitos diuturnos, geralmente faz sua toca entre as raízes das
6-61
EB70-CI-11.466
árvores. Alimenta-se de frutos e sementes e sua carne é muito saborosa, devendo,
no entanto, ao ser preparada, serem retiradas as glândulas subaxilares anteriores
e posteriores e a subcaudal. Existem mais de dez espécies diferentes.

Fig 194 - Cutia

3) Cutiaia - roedor menor que a cutia, que tem hábitos idênticos a essa, apresenta
um pelo pardo-avermelhado e uma pequena cauda de uns 8 cm. É também
conhecida por Cutia-de-Rabo.

Fig 195 - Cutiaia

4) Paca - mamífero roedor, de pelagem marrom-chocolate ou marrom-


avermelhada, com manchas brancas. De hábitos noturnos, passa o dia dormindo
na toca, saindo à noite para se alimentar de frutas e raízes. Sua carne é muito
apreciada, podendo também ser aproveitado o seu couro.

6-62
EB70-CI-11.466

Fig 196 - Paca

5) Cuandu ou Ouriço-Cacheiro - mede uns 60 cm de corpo e uns 50 cm de cauda.


Tem o corpo recoberto de espinhos de até 10 cm de comprimento. Animal de
hábitos noturnos, vive em tocas e ocos de pau e se alimenta de preferência de
frutos: goiabas, bananas, ameixas, etc. Sua defesa consiste em liberar os espinhos
quando atacado, contudo, ele não é capaz de arremessá-los.

Fig 197 - Cuandu

6) Quatipuru - pequeno roedor de pelo vermelho vivo e cauda felpuda


mais comprida que o corpo. É essencialmente arborícola, sendo comumente
encontrado em todo o BRASIL, pois está representado por cerca de 21 espécies.
É também conhecido por esquilo, quatipuru e caxinguelê.

6-63
EB70-CI-11.466

Fig 198 - Quatipuru

7) Ratos do mato - são inúmeras as espécies de roedores com feitio de rato,


seus comprimentos variam de 5 a 20 cm sem computar a cauda. Vivem em ocos
de pau ou moitas de capim, a beira dos rios, lagos e igapós. Em sua maioria,
possuem hábitos noturnos.

Fig 199 - Rato-do-mato

c) Ungulados - são mamíferos terrestres, de grande porte, geralmente herbívoros


e cujos membros terminam em cascos, contínuos ou fendidos em duas partes.
1) Anta - é o maior mamífero terrestre da fauna brasileira, chegando a medir
2 m de comprimento por 1,10 de altura e peso de até 300 kg. Tem o corpo maciço
e a cabeça é grande, volumosa e triangular quando vista de perfil; as orelhas são
grandes, os olhos pequenos, o pescoço curto e o focinho em forma de pequena

6-64
EB70-CI-11.466

tromba móvel. Seu pelo é cinza-escuro. É encontrada geralmente nos “barreiros”.


Sua carne é boa. É conhecida também por tapir.

Fig 200 - Anta

2) Veado ou Veado-Mateiro - Mamífero ruminante muito veloz e tímido.


Alimenta-se de frutos e leguminosas. Atinge 1,40 m de comprimento por 0,65
metros de altura e tem a cor castanho-ferrugem. Devido à troca dos chifres, os
machos poderão estar, em determinados períodos, sem nenhum. As fêmeas não
possuem cornos. Sua carne é muito apreciada. O veado pode atingir 40 quilos.

Fig 201 - Veado-Mateiro

3) Caititu - espécie de porco-do-mato, com cerca de 90 cm de comprimento e 30


a 40 cm de altura. Tem cauda curta, pernas delgadas e cerdas rijas de cor cinza-
escura com salpicos brancos, com uma coleira esbranquiçada no pescoço, do

6-65
EB70-CI-11.466

peito às costas. Anda em varas de 5 a 10 elementos e é menos agressivo que


o Queixada. É também denominado cateto, coleira-branca ou tateto.

Fig 202 - Caititu

4) Queixada - morfologicamente, assemelha-se ao Caititu, mas é um pouco


maior, atingindo mais de 1(um) metro de comprimento. Apresenta pequena mancha
branca no queixo e é mais feroz que o caititu, inclusive por andar em varas bem
mais numerosas. São agressivos e perigosos, possuem presas afiadas e investem
sobre a vítima em grande número. Normalmente a solução para não ser atacado
consiste em subir em uma árvore, aguardando lá até que a vara se afaste. Sua
carne é desprovida de gordura, porém muito apreciada pelos caçadores.

Fig 203 – Queixada

d) Carnívoros - São mamíferos que se caracterizam principalmente por possuírem


os caninos avantajados.

6-66
EB70-CI-11.466
1) Jaguatirica- Mamífero da AMÉRICA DO SUL que atinge 85 cm de comprimento
(corpo) e 50 cm de altura e tem a cor amarelada, com numerosas manchas
arredondadas, orladas de preto. Vive nas matas, nada bem e trepa em árvores
com facilidade. Alimenta-se de aves e mamíferos.

Fig 204 - Jaguatirica

2) Gato Maracajá - Parecido com a Jaguatirica, porém menor, raramente


atinge 0,30 metros de altura. Possui olhos grandes que, no escuro, podem ser
confundidos com os de uma onça. Possui grande habilidade, é capaz de saltar de uma
árvore para outra e também de fixar-se a um galho com apenas um dos membros
anteriores. Alimenta-se de pássaros e pequenos mamíferos.

Fig 205 - Gato Maracajá

6-67
EB70-CI-11.466

3) Onça-Pintada - mamífero felídeo, encontrado do MÉXICO à PATAGONIA.


É vigorosa, atinge 1,20 m de comprimento sem a cauda, por 0,85 metros de
altura e tem a pelagem amarelo-ruiva, com cinco séries de rosetas pretas nos
lados. Dificilmente ataca o homem, preferindo os porcos do mato, as capivaras e
os veados.

Fig 206 - Onça Pintada

4) Suçuarana - habita o continente americano e tem o corpo delgado, embora seu


porte atinja 1,20 m de comprimento por 0,70 de altura, e cerdas de tom vermelho-
queimado, mais escuro no dorso. Caça de noite, atacando geralmente todos
os animais, mostrando-se, entretanto, tímida em relação ao homem. É também
chamada onça-parda, onça-vermelha e puma.

Fig 207 - Suçuarana

6-68
EB70-CI-11.466

5) Cachorro-do-Mato - mamífero carnívoro de cor pardo-cinzenta, de orelhas


curtas e focinho denegrido. Mede, aproximadamente, 70 cm de comprimento.
Vive nas matas e se alimenta de pequenos mamíferos e aves.

Fig 208 - Cachorro do Mato

6) Jupará - Carnívoro, que tem cerca de 0,80 metros de altura, encontrado


no Norte do BRASIL. Devido a uma cauda que permite agarrar é confundido com
os macacos. Caça à noite e alimenta-se de pássaros e pequenos roedores.
Devido às características citadas é confundido com o Macaco-da-Noite.

Fig 209 – Jupará

7) Lontra - carnívoro de comprimento em torno de 70 cm e mais 30 cm de


cauda. De cor geralmente marrom-café, alimenta-se de peixes e aves aquáticas

6-69
EB70-CI-11.466
e é um pouco menor que a ariranha. Prefere sair à noite e passar o dia entocada
nos barrancos de rios e igarapés.

Fig 210 - Lontra

8) Irara - É encontrada em todo o Brasil. Carnívoro de corpo baixo e longo,


cauda curta, num total de 1,10 m de comprimento, tem a cor pardacenta e
habita as matas, costuma caçar à noite de preferência aves, pequenos mamíferos,
ovos, frutas e mel.

Fig 211 - Irara

9) Quati - Pequeno carnívoro de hábito arborícola que mede cerca de 70 cm de


comprimento e 50 cm de cauda. A cor geral é cinzento-amarelada. Percorre a
selva de dia, alimentando-se de pássaros, ovos, insetos e frutos. Revolve com o
focinho o humo à procura de vermes e larvas, vive em família, é muito inteligente
e valente.

6-70
EB70-CI-11.466

Fig 212 - Quati

e) Primatas - são mamíferos que possuem os pés quase semelhantes às mãos.


1) Macaco-Prego - símio pequeno, conhecido em outras regiões como mico.
Sua cor varia do amarelo-palha ao marrom; vive em bandos e seu grito parece
um assobio. Familiariza-se com o cativeiro.

Fig 213 - Macaco Prego

6-71
EB70-CI-11.466
2) Macaco-Caiarara - Espécie de macaco da AMAZÔNIA, de pelo amarelado
e mãos brancas.

Fig 214 - Macaco Caiarara

3) Macaco-Barrigudo - m ede 60 a 70 cm de comprimento, mais a cauda que


é extensa. A pelagem é densa e lanosa, de cor cinzento-escura e a cauda pode
agarrar objetos. É um macaco gordo, pesado, ventrudo e comilão.

Fig 215 - Macaco Barrigudo

4) Guariba - t ipo do macaco conhecido pelo poderio da voz, devido ao grande


desenvolvimento do osso hioide, que funciona como caixa de ressonância.

6-72
EB70-CI-11.466

Fig 216 - Macaco Guariba

- São corpulentos, porém ágeis e têm a cabeça maciça, o queixo barbado


nos machos e pelos ruivo-afogueados. Vivem em bandos, alimentam-se de frutos
e sementes e movimentam-se pelas copas das árvores.
5) Cuatá ou Macaco-Aranha - comum na Amazônia, chega a atingir 1,50 m de
comprimento. Caracteriza-se pelas extremidades e cauda muito longas, sendo
essa quase igual ao seu comprimento total. Tem pelagem preta e é facilmente
domesticável. Sua carne é reputada como a melhor da Amazônia.

Fig 217 - Macaco Aranha

6) Mico-de-Cheiro ou Jurupixuna ou Boca-Preta - o nome vem da mancha


preta ao redor da boca, vive em pequenos bandos.

6-73
EB70-CI-11.466

Fig 218 - Mico de Cheiro

7) Existem outras dezenas de espécies, tais como: Macaco-Leão, Parauaçu,


Macaco-Duas-Cores, Cuxiú, entre outros.
f) Marsupiais - mamíferos que possuem bolsa cutânea no ventre.
1) Mucura - mamífero marsupial de hábito noturno, do porte de um gato e de
pelagem cinza-avermelhada. Dentro da bolsa marsupial acham-se as tetas, onde
se agarram os filhotes. Alimenta-se de frutos, vermes e larvas. Se bem preparada,
sua carne é saborosa.

Fig 219 - Mucura

2) Gambá - m arsupial de porte menor que a mucura, de hábitos noturnos,


preferindo aves, frutos e pequenos animais para sua alimentação. Seu pelo é

6-74
EB70-CI-11.466
composto de cerdas longas, pretas e brancas, mescladas. Retirando-se a glândula
fétida dos gambás, sua carne é tenra e saborosa como a de galinha.

Fig 220 - Gambá

6.5.5.3 Classe das Aves


6.5.5.3.1 São vertebrados ovíparos, de corpo coberto de penas e membros
anteriores transformados em asas.
6.5.5.3.2 Compreendem as ordens:
a) Rapinantes (Falconiformes) - têm bicos aduncos e garras terminadas em unhas
possantes, possuem hábitos diurnos. São as aves conhecidas como águias ou
gaviões. Têm os pés nus providos de garras fortes e afiadas. Só se alimentam
de animais. As espécies mais comuns da Amazônia são: Gavião-Real ou Harpia,
Uiraçu-Falso, Gavião-Carijó, Gavião-Pega-Macaco, Gavião-Pedrês e Gavião-
Caboclo.

Fig 221 – Gavião Real

6-75
EB70-CI-11.466

Fig 222 – Uiraçu-Falso

Fig 223 - Gavião-Carijó Fig 224 - Gavião-Pega-Macaco

Fig 225 - Gavião-Pedrês Fig 226 - Gavião-Caboclo

b) Corujas (Strigiformes) - são aves de bicos aduncos e curtos, bastante afiados,


olhos grandes localizados na frente e no centro do rosto, além de garras bastante

6-76
EB70-CI-11.466
afiadas. Existem espécies de hábitos diurnos e outras de hábitos noturnos. As
espécies mais comuns na Amazônia são Suindara ou Coruja-das-Igrejas, Corujinha-
do-Mato, Corujinha-Orelhuda, Murucututu, Coruja-Preta e Caburé.

Fig 227 - Coruja Suindara Fig 228 - Corujinha do Mato

Fig 229 - Corujinha Orelhuda Fig 230 – Coruja Murucututu

Fig 231 - Coruja Preta Fig 232 - Coruja Caburé

6-77
EB70-CI-11.466

c) Papagaios e Araras (Psittaciformes) - são aves de bicos aduncos e grandes,


com mobilidade tanto na parte superior quanto inferior, pés com dois dedos
voltados para frente e dois para trás. Possuem colorido muito variado e vozes
bastante estridentes. Esta ordem reúne as araras, papagaios, curicas, periquitos e
semelhantes. Alimentam-se de frutos e sementes e têm hábitos diurnos. Existem
centenas de espécies entre as mais conhecidas podem ser citadas: Arara-Canga,
Arara-Canindé, Papagaio-do-Mangue, Papagaio-Moleiro; Papa-Cacau, Maracanã,
Guaruba, Periquito-Rei e Marianinha.

Fig 233 - Araracanga

Fig 234- Arara-Canindé

6-78
EB70-CI-11.466
d) Tucanos e Pica-paus (Piciformes) - são aves de bicos grandes e pés com dois
dedos voltados para frente e dois para trás. Nesta ordem encontram-se pica-pau,
joão-bobo, araçaris e tucano. Na floresta as espécies mais comuns são Capitão-
do-Mato, Rapazinho-Carijó, João-Bobo, Pica-Pau-Anão, Pica-Pau-de-Cabeça-
Amarela, Araçari-Miudinho, Araçari-de-Bico-Marrom, Tucano-de-Bico-Preto e
Tucano-Açu.

Fig 235 – Capitão-do-Mato

Fig 236 – Pica-Pau-Anão

6-79
EB70-CI-11.466

Fig 237 - Pica-Pau-de-Cabeça-Amarela

Fig 238 - Tucano-Açu (Esq) e Tucano de Bico Preto (Dir)

e) Galináceos (Galiformes) - São aves corpulentas de bico curto, semelhantes


à galinha e ao peru. Alçam voos curtos, alimentam-se de grãos e larvas. Dentre
as aves são as que têm a carne mais apreciada. Entre as diversas espécies, são
comuns na Amazônia: Aracuã Pintado, Jacupemba, Jacu, Jacumirim, Mutum-Fava,
Mutum-Poranga, Mutum-de-Penacho e Urumutum

Fig 239 - Mutum-Fava Fig 240 - Jacu

6-80
EB70-CI-11.466
f) Garças (Ciconiformes) - são aves esbeltas de pernas e dedos compridos,
pescoço fino e bico longo e pontiagudo. Esta ordem reúne as garças e socós. Na
Amazônia pode-se encontrar: Socó-Grande, Garça-Branca-Grande, Garça-Azul,
Garça-Vaqueira, Socozinho, Garça-Real, Socó-Boi (Arapapá, Maguari e Jaburu).

Fig 241 - Socó-Boi Fig 242 – Garça-Azul

g) Patos e Marrecos (Anseriformes) - são aves que apresentam bicos achatados,


as pernas são curtas e nos pés observam-se os dedos unidos por uma membrana
natatória. Estão sempre próximas à água. São elas: as marrecas, os patos e os
cisnes. Na Amazônia podem-se encontrar: Marreca-Caneleira, Marreca-Cabloca
ou Asa-Branca, Pato-Corredor, Ananaí, Pato-de-Crista e Pato-do-Mato.

Fig 243 – Ananaí Fig 244 – Marreca-Caneleira

h) Passarinhos (Passeriformes) - são aves pequenas de bicos e pernas curtas,


geralmente cantam harmoniosamente. São animais muito raros de serem vistos

6-81
EB70-CI-11.466
na floresta normalmente apenas são ouvidos. As mais conhecidas da Amazônia são:
Uirapuru, Corneteiro-da-Mata, Papa-Formigas, Chororó, Rouxinol-do-Rio-Negro,
Sabiá-Ferrugem, Sabiá-Poca, Saíras, Sanhaços, Tem-Tens e Tiés.

Fig 245 – Tiê Sangue Fig 246 – Uirapuru

i) Pombas (Columbiformes) - s ão aves de corpo pesado e cabeça pequena,


conhecidas como pombas, rolas ou jurutis. As mais comuns da Amazônia são
Pomba-Carijó, Pomba-Galega, Pomba-Amargosa, Juriti e Pariri.

Fig 247 – Juriti Fig 248 – Pomba Carijó

6.5.5.4 Classe dos répteis


6.5.5.4.1 São vertebrados de corpo alongado e se locomovem por movimentos de
reptação. São ovíparos e têm o corpo coberto de escamas.
6.5.5.4.2 A classe reúne três ordens:
a) Quelônios - possuem notável carapaça óssea dorsal e ventral, protegendo
todo o corpo.

6-82
EB70-CI-11.466
1) Tartaruga-Grande-do-Amazonas - Habita os rios da Bacia Amazônica. Atinge
1 metro de comprimento por 60 cm de largura, de cor preto-cinzenta, sua carne é
muito apreciada, bem como seus ovos.

Fig 249 – Tartaruga-Grande-do-Amazonas

2) Tracajá - q uelônio de pequeno porte, com cerca de 40 cm de comprimento


por 30 de largura, cuja carne e ovos são muito apreciados.

Fig 250 – Tracajás

3) Jabuti – mede 30 a 40 cm até 1 m (Jabutiaçu) de comprimento. Alimenta-se


de frutas caídas. Prefere as encostas próximas aos cursos de água. Sua carne
e ovos são considerados excelentes.

6-83
EB70-CI-11.466

Fig 251 - Jabuti

4) Outras variedades de quelônios: Matamatá, Iaçá, Cabeçuda, etc.

Fig 252 - Matamatá

b) Sáurios - compreendem duas famílias: Lacertídeos e Ofídios.


1) Lacertídeos - firmam-se em 4 membros e são ágeis.
(a) Jacuraru - lacertídeo de grande porte, pode atingir até 80 cm de
comprimento. É frugívoro, insetívoro e carnívoro. Tem cor geral olivácea, com
exceção da cabeça que é amarelada, cauda longa e achatada e gosta de viver
próximo à água.

6-84
EB70-CI-11.466

Fig 253 - Jacuraru

(b) Calango - tipo de lagarto também conhecido como Taraguira. Vive no


chão e é de colorido azul na frente e verde atrás, com linhas negras.

Fig 254 - Calango

(c) Lagartos - existem 2.500 espécies de lagartos. Possuem grande


capacidade de regeneração dos tecidos. Alimentam-se de vermes, insetos e
alguns moluscos. Têm vida longa (mais de 20 anos).
2) Ofídios – conforme 3.2 OFÍDIOS.
c) Crocodilianos - São répteis de porte avantajado, de dentes cônicos e implantados
nas mandíbulas. São muito temidos. No Brasil há 6 espécies de jacarés, distribuídos
por 3 gêneros. Os mais conhecidos são:

6-85
EB70-CI-11.466
1) Jacaré-de-Papo-Amarelo - muito arisco e agressivo, é encontrado no
Pantanal.

Fig 255 - Jacaré-de-Papo-Amarelo

2) Jacaretinga - de menor porte.

Fig 256 – Jacaretinga

3) Jacaré-Açu - a gressivo, de cor preta com listras amarelas, de grande


porte, atingindo até 5 metros de comprimento.

6-86
EB70-CI-11.466

Fig 257 - Jacaré-açú

6.5.5.5 Classe dos anfíbios


6.5.5.5.1 São vertebrados de sangue frio e dupla respiração, branquial e pulmonar.
a) Sapo - batráquio desdentado e temido, abrange inúmeras famílias, das quais
os exemplares mais conhecidos são: Sapo-Cururu, Sapo-Boi e Sapo-Ferreiro.

Fig 258 – Sapo-Cururu

b) Salamandra - tem o corpo desprovido de escamas e pele macia e úmida. Vive


em terra firme, preferindo lugares úmidos e escuros.

6-87
EB70-CI-11.466

Fig 259 - Salamandra

c) Rã - batráquio que, após sua evolução na água, passa a viver na beira de charcos,
lagos ou rios. A rã possui dentes, atinge 15 cm de comprimento e normalmente tem
cor parda. Como alimento, sua carne é bastante apreciada.

Fig 260 - Rã

6.5.5.6 Classe dos peixes


6.5.5.6.1 São vertebrados adaptados essencialmente à vida aquática. Tem os
corpos alongados, providos de barbatanas ou nadadeiras para locomoção. São
ovíparos e de respiração branquial.
6.5.5.6.2 Das espécies de água doce as principais variedades são:
a) Pirarucu - o chamado bacalhau brasileiro é o maior peixe de água doce da
Amazônia; atinge mais de 2 metros e há exemplares com 100 quilos de peso. É
uma espécie importante, pelo grande desenvolvimento que adquire e por servir à
nutrição de grande parte da população amazônica.

6-88
EB70-CI-11.466

Fig 261 – Pirarucu

b) Tucunaré - peixe que alcança 8 quilos. Sua coloração é viva, onde se misturam
o vermelho, o amarelo, o verde e o negro; apresenta dois ocelos, de cada lado da
cauda, em ouro-gema sobre fundo negro. Faz ninho no chão e ali desova. Habita
águas claras, como as do Rio Branco, e águas negras, como as do Rio Urubu,
afluente da margem esquerda do Amazonas, sendo encontrado ainda em toda a
Bacia Amazônica. Sua carne, um tanto seca, mas delicada e rica em elementos
nutritivos, é muito apreciada.

Fig 262 - Tucunaré

c) Jundiá – é o mesmo peixe conhecido no sul do país como jundiá. É um bagre


dos mais procurados, pela carne delicada, onde uma fina camada de gordura
empresta-lhe incomparável sabor.

6-89
EB70-CI-11.466

Fig 263 - Jundiá

d) Pirapitinga - peixe de vasta distribuição geográfica na A, é frugívoro e um pouco


menor que o Tambaqui, ao qual é semelhante, desde as espinhas grandes ao
sabor da carne.

Fig 264 - Pirapitinga

e) Piraíba - tipo de bagre que atinge 3 metros de comprimento por 1,40 m de


circunferência. De focinho achatado e cor bronzeada, dá enormes saltos fora d’água,
mostrando todo o corpo. Sua carne é muito procurada, principalmente a dos filhotes.

6-90
EB70-CI-11.466

Fig 265 - Piraíba

f) Sarapó - peixe de larga distribuição em toda a Amazônia. De colorido variado e


de maxilares proeminentes e dentes cônicos, chegam a 3 palmos de comprimento.
Possui carne tenra e de ótimo sabor. São suas variedades: Tuvira e Ituí.

Fig 266 – Tuvira e Ituí

g) Matrinchã - peixe de águas amazônicas, de cor geralmente oliváceo-dourada e


de corpo alongado, atingindo 50 cm de comprimento. Sua carne é boa.

6-91
EB70-CI-11.466

Fig 267 - Matrinchã

h) Aracu - peixe da Amazônia que corresponde à piava do Sul. De tamanho


médio (um palmo) e 300 g de peso, sua carne não é das melhores, mas, pela
abundância, sua pesca é rendosa.

Fig 268 - Aracu

i) Jaraqui - peixe de escamas, vulgar na Amazônia, vivendo entre detritos de


madeiras submersas e no lodo. Sua carne é excelente, apesar das espinhas no
lombo, que são numerosas.

Fig 269 - Jaraqui

6-92
EB70-CI-11.466
j) Tambaqui - Peixe que atinge mais de um metro de comprimento e ultrapassa
30 quilos. É frugívoro e sua carne é muito apreciada, sendo encontrado em
toda a região Amazônica.

Fig 270 - Tambaqui

l) Poraquê - semelhante a uma enguia (de ambiente marinho) ou Muçum,


carnívoro ou frugívoro, é largamente conhecido pelos choques fulminantes que
dá em suas vítimas.

Fig 271 – Poraquê

6.6 CAÇA
6.6.1 REGRAS GERAIS
6.6.1.1. A maior parte dos animais de sangue quente e com pelos são cautelosos e
difíceis de se deixarem apanhar. Para caçá-los será preciso habilidade e paciência,
o melhor método será o chamado de “ESPERA”, cujo tipo, altura e comodidade
ficarão a critério do caçador.
6-93
EB70-CI-11.466

- Os locais mais indicados para uma espera serão uma trilha, um bebedouro ou
um comedouro.
6.6.1.2 O caçador deverá construir sua espera segundo a direção do vento, isto é, o
vento deverá levar ao caçador o cheiro da caça, e não o contrário.
6.6.1.3 O silêncio será fundamental. Se o caçador quiser seguir uma caça, poderá
fazê-lo, mas terá que caminhar lentamente e com segurança; o vento terá de
soprar, durante todo o tempo da perseguição, no sentido do animal para o homem.
- Só deverá avançar quando o animal estiver comendo ou olhando para outro
lado que não o do caçador, devendo este permanecer imóvel, se o animal levantar
a cabeça em sua direção.
6.6.1.4 Os períodos mais recomendáveis para caçar serão entre 4h e 6h e entre
18h e 21h.
6.6.1.5 A caça deverá ser mais abundante e fácil de ser encontrada nas
proximidades de água e nas clareiras. Ao caminhar, observar com atenção o
terreno a fim de descobrir sinais de caça: trilhas, vegetação rasteira pisoteada,
excrementos ou restos de comida e, mesmo, ruídos característicos. Quando se
estiver percorrendo uma trilha, essa atenção deverá ser redobrada, pois o animal
poderá surgir a qualquer momento.

Fig 272 - Um tipo de “espera”

6-94
EB70-CI-11.466

6.6.1.6 Muitas espécies de animais vivem em buracos, nos ocos das árvores
ou no chão. No primeiro caso, para pegá-los, tampam-se todos eles, menos um, o
qual será remexido com uma vara comprida e flexível, ou enchido de água, para
forçar a saída do animal.
- Quando isso se der, uma pancada forte na cabeça será suficiente.
6.6.1.7 A caça noturna geralmente dará bom resultado, pois a maior parte dos
animais se movimenta à noite. A luz de uma lanterna ou de um archote, projetada
nos olhos do animal, torná-lo-á parcialmente cego, o que permitirá maior
aproximação do caçador que, se não possuir arma de fogo, procurará abatê-lo
com uma lança (pau com ponta afiada) ou mesmo com uma paulada.
- Os chamados “olhos sem corpo” não deverão perturbar o caçador, pois serão
apenas o resultado dos reflexos da luz nos olhos de aranhas e insetos.
6.6.1.8 Animais de grande porte, quando feridos ou quando protegem os filhotes,
são perigosos.
- Antes da aproximação para recolher a caça abatida, será conveniente certificar-
se bem de que ela esteja realmente morta.
6.6.1.9 Rãs existirão de todos os tamanhos; à noite, na beira das águas, poderão
ser pegas com as mãos, após focá-las com lanternas ou archote; de dia, com um
caniço fino, espetando-as.
- Não devem ser confundidas com os sapinhos venenosos ou com o Sapo-Cururu
(Ver Capítulo III).
6.6.1.10 Cobras também serão comestíveis, para pegá-las, poderá ser usada
uma vara comprida com forquilha na ponta, com a qual se prenderá o “pescoço” do
ofídio, matando-o, em seguida, com uma pancada na cabeça, de preferência, a fim
de economizar munição.
6.6.1.11 Lagartos também poderão ser laçados ou fisgados com vara.
6.6.1.12 Tartarugas vivem na água, mas costumam vir a terra, quando, então,
serão presas fáceis. Após capturadas, deverão ser viradas de pernas para o ar, em
lugares onde não haja pontos de apoio que permitam que se desvirem por si. Será
necessário, apenas, ter cuidado com a boca e as garras do animal. Quando elas
fugirem para a água, irão esconder-se pousando na areia do fundo; neste momento,
poderão ser fisgadas ou arpoadas. Até com anzol, tendo como isca pedaços de
palmito, poder-se-ão pegá-las.
- Existem várias espécies de tartaruga; tracajá e viração são as mais encontradas,
sendo a segunda, de grande porte, somente encontrada em grandes rios ou lagos,
onde existem boas praias.
6.6.1.13 O jabuti, chamado “a tartaruga do seco”, aprecia toda e qualquer
variedade de frutas, além de comer ervas e carnes. Costuma viver em troncos ocos

6-95
EB70-CI-11.466
de árvores caídas. Para caçá-lo, bastará fazer fogo em uma das bocas do tronco
ou fustigá-lo com uma vara comprida. Não morde, nem arranha.
6.6.1.14 Os pássaros não deverão ser desprezados como futuros alimentos.
Para caçá-los, a melhor arma será a atiradeira (bodoque, baladeira, lançadeira,
estilingue), pois não valerá à pena gastar munição.
6.6.1.15 Aves grandes, como Mutum, Jacu, Jacamim, Uru e Nhambu poderão ser
caçadas a tiro ou por meio de arapucas. Serão encontradas, normalmente, nas
árvores frutíferas, próximas das águas. Seus ninhos, quando encontrados,
poderão fornecer ovos, todos eles comestíveis.
6.6.1.16 As trilhas serão os caminhos normais percorridos pelos animais da
floresta.
a) Sobre o solo deverão ser procurados ratos, porcos-espinhos porcos- do-mato,
pacas, veados, tatus, antas, cutias etc.
b) Onças, gatos-maracajás e jaguatiricas raramente serão avistados, mas, se o
forem, fornecerão também caça para alimentação.
c) Nas árvores serão procurados macacos, morcegos, esquilos, quatis e ratos.
6.6.2 ARMADILHAS
6.6.2.1 Engenho ou artifício para apanhar qualquer animal; cilada; trapaça.
Armadilhas são construções feitas pelo homem com recursos que a selva lhe
oferece ou com equipamento e armamento individual para capturar aves, animais
de pelo, de casco e peixes.
6.6.2.2 Regras para Construção e Utilização
6.6.2.2.1 As armadilhas deverão ser montadas em locais de passagem ou
permanência da caça, tais como trilhas (nas partes estreitas), bebedouros e
comedias. Aproveitando-se assim o período claro do dia, antes do cair da noite,
para não atrapalhando o hábito do animal, bem como para evitar de deixar
vestígios/rastros para o animal.
6.6.2.2.2 Canalizar a caça para o interior da armadilha, por meio de túneis, troncos
ou cercas.
6.6.2.2.3 Manter o terreno com seu aspecto natural (camuflagem), evitando
descaracterizar a selva de forma natural, dificultando a percepção da armadilha
por parte do animal. O material utilizado na confecção da armadilha deve ser
obtido em local diferente ao de sua construção (lembrar que o local da armadilha
faz parte do habitat natural do animal).
- É interessante também que se utilizem açoites vivos (qualquer vara de vergar
“in natura”, para isso, utiliza-se a própria árvore nas proximidades da armadilha,
evitando o corte e a fixação ao solo uma vara de vergar morta.

6-96
EB70-CI-11.466
6.6.2.2.4 Após a confecção da armadilha, procurar retirar o cheiro humano
macerando folhas de árvores e misturando com água. Aplicar a solução no local
da armadilha. Esta conduta evitará que a caça perceba a armadilha pelo olfato.
6.6.2.2.5 Toda a equipe deverá saber a localização das armadilhas, para que essas
não se tornem armadilhas anti-pessoal, principalmente aquelas que empregam
armamento ou estacas panji. Se possível, confeccionar um croqui.
6.6.2.2.6 As horas mais recomendáveis para caça serão entre 0400 e 0600 h e
entre 1800 e 2100 h, por ser este o horário da troca de hábito entre os animais
de hábito diurno e noturno.
- Lembrar que a lua influencia neste horário, quanto mais clara a noite, mais
arriscos ficam as presas.
6.6.2.2.7 Os locais em que forem carneadas as caças poderão atrair outros
animais, nestes, portanto, será aconselhável e vantajoso colocar armadilhas. As
vísceras poderão também servir para a pesca.
6.6.2.2.8 Gatilhos são estruturas confeccionadas com material natural, ou artificial,
que visam iniciar o funcionamento da armadilha por meio da ação da caça. Os
gatilhos deverão ser simples e eficientes, além disso, deverão ser camuflados e
feitos com material in natura da selva, pois a paca, por exemplo, percebe o açoite
artificial e desborda a armadilha.
- Evitar fio da linha de pesca (naylon).
6.6.2.2.9 Deve-se “adoçar” o gatilho para que o mesmo acione com facilidade.
6.6.2.2.10 Alguns animais possibilitam a utilização de iscas. Podem ser vivas
para aguçar o instinto de matar dos mais predadores, carne, frutas e sementes.
As iscas deverão ser adequadas ao animal procurado.
6.6.2.2.11 As armadilhas devem ter dimensões e consistência adequadas ao
animal.
6.6.3 GATILHOS
6.6.3.1 Os gatilhos utilizados para acionar armadilhas devem permitir o seu
acionamento pelo homem, caça ou peixe de maneira simples e eficiente.
a) O cipó que melhor permite a montagem de gatilho é o cipó ambé.
b) Na prática, o melhor cipó é o titica por ser mais fácil de manusear e de ser
encontrado na região, porém o cipó ambé suporta mais peso.
6.6.3.2 Os gatilhos classificam-se quanto:
a) ao acionamento
1) Tração
2) Pressão
6-97
EB70-CI-11.466
3) Desequilíbrio
4) Misto
b) ao funcionamento
1) Peso
2) Açoite
c) à utilização
1) Ponto
2) Área
6.6.3.3 Tipos de Gatilhos
6.6.3.3.1 Gatilho com Entalhes Múltiplos (4 invertido)
a) Confeccionam-se dois entalhes a 22 cm um do outro em um suporte de madeira
(fincado ao solo) ou árvore de cerca de 06 cm de diâmetro (suporte “A” da figura
273).

Fig 273 - “4 invertido”

b) Em um suporte “B” com 23 cm de comprimento confeccionam-se outros dois


entalhes com as mesmas características.

6-98
EB70-CI-11.466
c) Achatam-se as pontas de uma vareta de 1,5 cm de diâmetro por 11 cm de
comprimento para fazer oposição de esforços nos entalhes de cada um dos
suportes.
d) O funcionamento deste gatilho ocorre quando o suporte “B” é tracionado,
liberado a vareta onde está ancorado o cordel e em consequência acionando a
armadilha.
6.6.3.3.2 Gatilho com Trave e Vareta Vertical (Pára-tatu)
a) Confecciona-se uma trave com cerca de 40 cm de altura utilizando duas varetas
verticais de 5 cm de diâmetro fincadas ao solo e amarrando-se uma travessa
ligando as pontas.
b) Coloca-se uma vareta vertical estaqueada ao solo, com 35 cm de altura e a 20
cm do centro da trave. Na ponta é feito um entalhe.
c) Prepara-se uma vareta pequena com 3 cm de diâmetro e 25 cm de comprimento,
achatando-se as pontas.
d) A vareta pequena é sustentada pela trave e pelo entalhe existente na ponta
da vareta vertical. Em seu centro, amarra-se um cordão ligado à armadilha e
mantendo-a puxada para cima.
e) O acionamento do gatilho ocorre quando traciona-se a vareta vertical
desfazendo o equilíbrio.

Fig 274 - Armadilha Pára-Tatu

6-99
EB70-CI-11.466
6.6.3.3.3 Gatilho com Trave e Vareta Móvel (H Duplo)
a) Confecciona-se uma trave com 40 cm de altura idêntica à anterior.
b) A 10 cm do solo, amarra-se uma vareta na horizontal com aproximadamente
03 cm de diâmetro.
c) Prepara-se uma vareta horizontal móvel de 34 cm de comprimento para deslizar
sobre as duas traves.

Fig 275 - Armadilha H Duplo

d) Uma vareta “A” de 20 cm de comprimento por 2 cm de diâmetro é preparada para


ancorar um cordel e ligar-se a uma armadilha, mantendo o sistema em equilíbrio.

6-100
EB70-CI-11.466
e) Um cordão ou cipó é preso ao centro da vareta horizontal móvel para puxá-
la deslizando na vertical. O cordão passa por baixo da vareta inferior da trave,
atravessa a trilha ou caminho, sendo, em seguida, fixada a um ponto.
f) Ao puxar o cordão ou o cipó por meio de tração ou tropeço, faz com que a
vareta móvel seja puxada para baixo, liberando a vareta “A” e em consequência
a armadilha.
g) O acionador poderá ser de tração ou pressão.
h) A variação deste gatilho é o “H” simples, para construí-lo basta retirar o suporte
horizontal mais baixo da armação da trave e inverter o sentido de entrada do cipó
que liga ao açoite.

Fig 276 - Armadilha H Simples

6-101
EB70-CI-11.466
6.6.3.3.4 Unha de Gato
- Gatilho de tração confeccionado utilizando-se dois âmagos pequenos, onde
será talhado em uma das pontas de cada âmago uma espécie de gancho,
assemelhando-se a “unha de gato”.

Fig 277 - Gatilho unha de gato

6.6.3.3.5 Gatilho com Forquilha Invertida e Travessa (Gatilho “V” invertido)


a) Fixar uma ponta do cipó de tropeço e distendê-lo transversalmente à trilha. Na
outra, dividi-lo ao meio transformando-a em duas pontas.
b) Preparar vareta com 10 cm de comprimento, amarrar a dupla ponta do cipó
nas extremidades da mesma.
c) Obter madeira em forquilha, enterrando-a invertida na posição em que o cipó
de tropeço permaneça distendido próxima da vareta.
d) Preparar uma vareta de 1,5 cm de diâmetro por 11 cm de comprimento
achatando as pontas.
e) Em uma das pontas, fixar cipó que ligará o gatilho à armadilha.
f) Passar a vareta por dentro da forquilha e por sobre a primeira vareta, obtendo-
se equilíbrio.

6-102
EB70-CI-11.466

Fig 278 - Gatilho “V” invertido

6.6.3.3.6 Gatilho de Travessa Vertical (Gatilho do Mateiro)


a) Fixar uma ponta do cipó de tropeço e distendê-lo transversalmente à trilha. Na
outra ponta, prendê-la a uma travessa vertical flexível fixada no solo, com 20 cm
de comprimento (“A”).
b) Preparar uma vareta de 1,5 cm de diâmetro com comprimento suficiente para
escorar na travessa vertical e, ao mesmo tempo, no tarugo de sustentação da arma.
c) Em uma das pontas fixar o cipó (“B”) que ligará o gatilho ao açoite, que fará a
arma disparar.

Fig 279 - Gatilho do mateiro

6-103
EB70-CI-11.466

6.6.3.3.7 Gatilho em Equilíbrio (acionamento por animal de pouco peso – aves)


a) Três tarugos de madeira com entalhes que são montados e postos em equilíbrio,
de modo que o animal (geralmente ave) ao tocar em qualquer uma destas madeiras
irá causar o desequilíbrio e, por conseguinte, acionar a armadilha. Para aumentar
a área de atuação, coloca-se varetas na travessa horizontal.

Fig 280 - Tarugo de madeira em equilíbrio

b) Dois tarugos com entalhes em “L”, sendo que um deles possui uma pequena
reentrância para que seja colocado o cipó a fim de aumentar a área de atuação
e sobre este varetas.

Fig 281 - Tarugo com entalhe em “L”

c) Forquilha com cipó e travessa fina: no lado externo da armadilha, coloca-se


uma forquilha. Passando um cipó por dentro do “V” da forquilha e encostada

6-104
EB70-CI-11.466
na parte inferior da forquilha, tendo o movimento barrado por uma vareta. Para
aumentar a área de atuação, colocam-se outras pequenas varetas apoiadas na
vareta limitadora do cipó.

Fig 282 – Gatilho em equilíbrio de forquilha com cipó

6.6.4 ARMADILHAS COM ARMAS DE FOGO


6.6.4.1 Finalidade de utilização: animais que utilizam passagens obrigatórias
(trilhas, acessos à fonte d’água), comedias e bebedouros canalizados.
6.6.4.2 Material: arma de fogo, acessórios, madeira e cipó.
6.6.4.3 Construção: escolhe-se um local, preferencialmente plano, e instala-se
a arma perpendicularmente ao eixo de progressão.
6.6.4.4 Objetivo: este tipo de armadilha é comumente empregado para agir no
gatilho do armamento disparando-o.
- Sempre que for ouvido o disparo, imediatamente ir até o local para verificar e,
apanhar a caça, caso contrário, os predadores poderão comer a caça.
6.6.4.5 Montagem:
a) O armamento (fuzil, pistola ou arma de caça) é fixado na horizontal a duas
estacas verticais na altura desejada, batendo a provável direção de aproximação
do caça.
b) Na fixação do armamento, deve-se ter cuidado de não impedir o movimento
de seu mecanismo.

6-105
EB70-CI-11.466

c) A aproximadamente 30 cm (importante esta distância pois se for mais perto


poderá não acionar o gatilho) ao lado do armamento na altura do gatilho e na
direção perpendicular à do armamento, fixa-se ao solo, na vertical, um suporte
para fixar a ponta de outra vara mais fina, com aproximadamente 2 cm de diâmetro
e passando à frente do gatilho pelo interior do guarda mato.
d) A vara que passa pelo guarda mato do gatilho deve ultrapassá-lo cerca de
30 cm. Uma vara de vergar flexível fincada ao solo, próxima ao gatilho, com a
inclinação de 70° a 80º. Em sua ponta, amarra-se uma linha ligada a um sistema
de gatilho (unha de gato, trave ou qualquer outro gatilho).
e) A vara de vergar é flexionada de maneira que, ao soltar o cordel, o seu
flexionamento é desfeito bruscamente, fazendo com que bata na vareta colocada
à frente do gatilho, pressionando-o e disparando o armamento.
6.6.4.6 Deve-se evitar ao máximo andar na trilha do animal, principalmente na
“área de matar”.
6.6.4.7 Tendo como referência o tipo da trilha, bem como as pegadas do animal,
serão adotadas as medidas auxiliares para que se possa ter uma noção onde
apontar.
6.6.4.8 O local ideal para se abater uma caça é na parte anterior sobre as patas
(patela). Assim sendo, recomenda-se que seja usada a arma de caça devido aos
balins (bate área, não ponto).
6.6.4.9 O armamento deverá ser posicionado de acordo com a altura do tipo
do animal que será caçado. Para isso usa-se o seguinte macete:
a) Paca, tatu e cutia
- Medida pequena auxiliar: “chave”.

Fig 283 – Medida para animal de pequeno porte

6-106
EB70-CI-11.466

b) Veado de pequeno porte, caititu, jaguatirica e outros


- Medida média auxiliar: do cotovelo à ponta do dedo médio distendido.

Fig 284 – Medida para animal de pequeno porte

c) Veado grande, anta adulta, onça adulta e outros


- Medida grande auxiliar: na posição de pé, mão colada à coxa, da ponta do
dedo médio ao solo (linha de terra).

Fig 285/A – Medida para animal de médio porte

6-107
EB70-CI-11.466

Fig 285/B – Medida para animal de médio porte

6.6.4 10 Cordão de tropeço: o acionamento do gatilho deverá ser realizado com


cipó, pois alguns animais (a paca, por exemplo) ao pressentirem o cordão de
material estranho à selva, pulam ou contornam, ficando fora da “área de matar”.
6.6.4.11. Teste: após a construção da armadilha deve ser realizado um teste em
seco, ou seja, sem munição. Antes de adotar uma medida auxiliar, identificar o
rastro do animal e avaliar seu porte.
6.6.4.12 Armadilha com Pistola

Fig 286/A - Armadilha com pistola

6-108
EB70-CI-11.466

a) açoite (ligado ao cipó de tropeço) – A;


b) travessa horizontal de ponta livre para pressionar o gatilho da arma (dentro do
guarda-mato da arma) - B;
c) suporte da travessa – C;
d) fixação da arma (preservar partes móveis) – D.

Fig 286/B - Armadilha com pistola

6.6.4.13 Armadilha com fuzil


a) utiliza-se a bandoleira para fixar a coronha.
b) atenção deve ser tomada na amarração da parte anterior da arma. O cipó não
deve impedir a realização da linha de mira.
6.6.4.14 Armadilha com arma de caça
- A amarração anterior poderá ser semelhante ao do fuzil. Cuidado devido ao
carregamento desta arma.
6.6.5 ARMADILHAS PARA ANIMAIS DE PELO E/OU DE CASCO E AVES
- Todo o material utilizado tem que possuir as características mais naturais
possíveis.

6-109
EB70-CI-11.466
6.6.5.1 Chiqueiro para onça
a) Finalidade: onça.
b) Comedias: animais vivos (preferencialmente), animais mortos ou vísceras.
c) Material: toros de madeira.

Fig 287 - Foto geral e interna do chiqueiro da onça

d) Construção: cortam-se troncos de madeira de 1,80 m por 8 cm de diâmetro. A


paxiuba é a madeira ideal, por ser dura. Constrói-se um retângulo com os troncos
cortados, tendo 10 cm de largura por 70 cm de altura.
e) Em um dos lados menores do retângulo, prepara-se uma trave de 1,90 m de
altura com 40 cm de comprimento, para sustentar uma tábua que o feche quando
a caça entrar.
f) A tábua é suspensa por um cordel que passe por cima de uma travessa horizontal
fixada na ponta da trave. Este cordel vai para um gatilho no interior do chiqueiro.
g) No local que a porta deslizante cai, deve ser colocado um batente para impedir
que o animal empurre a tábua e saia.
h) Para utilização de animais como iscas, deve ser construída uma repartição
para evitar que acione o gatilho da armadilha prematuramente. Neste caso, o
6-110
EB70-CI-11.466
chiqueiro terá 1,90 m de comprimento.

Fig 288 - Foto geral e interna do chiqueiro da onça (tipo de gatilho)

6.6.5.2 Chiqueiro para gato maracajá


a) Finalidade: gato maracajá.
b) Comedias: vísceras de animais.
c) Material: toros de madeiras.
d) Construção:
1) semelhante ao chiqueiro da onça, não necessita de compartimento;
2) para aprisionar o gato maracajá, há necessidade de se fazer um assoalho
para impedir que fuja cavando o solo; e
3) o gatilho ideal para ser utilizado para aprisionar este animal é o que funcione
por tração, já que este animal tem o costume de arrastar sua presa para consumi-
la em local seguro.

6-111
EB70-CI-11.466

Fig 289 - Foto geral, interna (assoalho) e à retaguarda do chiqueiro do gato maracajá

Fig 290 - Gatilho do chiqueiro do gato maracajá

6.6.5.3 Arapuca
a) Finalidade: jacu, jacamim, mutum galinha, etc.
b) Comedias: patauá, buriti, açaí, larvas, etc. 
c) Construção:
1) cortam-se duas varetas de madeira de 50 cm por uma polegada de diâmetro;
2) unem-se as pontas da vareta por cordão, cipó ou arame, de aproximadamente

6-112
EB70-CI-11.466

60 cm de comprimento; e
3) após a amarração das varetas pelo cordão, essas são giradas formando um
“x”. Sobre a base em figura de “X”, coloca-se por dentro do cordão de ligação,
varetas perpendiculares, duas a duas, até fechar a arapuca por completo.

Fig 291 - Foto de armadilha arapuca

6.6.5.4 Laços
a) Finalidade: paca, cutia e veado.
b) Material: madeira para cerca, madeira para o gatilho, vara de vergar, cadarço
de nylon ou cipó.
c) Comedias: buriti, uixi, piquiá (paca e cutia), flor de piquiá (veado).
d) Construção:
1) corta-se uma vara flexível, de preferência o matá-matá, com 8 ou 10 m de
comprimento. A 2 m de uma árvore ou suporte, fixa-se a ponta da vara ao solo.
Amarra-se a vara na árvore a cerca de 1,5 m de altura;
2) a outra ponta da vara fica elevada do solo, cerca de 4 m, devendo fixar-se
um cordel de 3 m de comprimento e 5 mm de diâmetro. No prolongamento da
vertical que desce da ponta da vara, confecciona-se um cercado em meia lua,
de 60 a 80 cm de altura; e
3) na abertura do cercado, posiciona-se o gatilho da armadilha. O laço é
colocado no centro da meia lua e na ponta do cordel que flexiona a vara apoiando-
se no sistema de gatilho.

6-113
EB70-CI-11.466

Fig 292 – Exemplo de laço e gatilho

Fig 293 – Exemplo de laço e gatilho

Fig 294 – Exemplo de laço e gatilho

6-114
EB70-CI-11.466

6.6.5.6. Fosso
a) Finalidade: qualquer tipo de animal.
b) Local: trilhas e locais onde há indícios.
c) Material: ferramentas de sapa e estacas panji.
d) Construção: faz-se a escavação de um buraco proporcional ao tamanho do
animal que se deseja aprisionar. Normalmente, utilizam-se as dimensões: 1,5 m
x 1,5 m por 2 m de profundidade. As paredes devem ser verticais e lisas, sem
sulcos que facilitam a saída do animal. Poderão ser colocadas estacas invertidas
nas paredes, para dificultar a fuga após a queda no fosso.

Fig 295 - Exemplo de fosso com estacas

6-115
EB70-CI-11.466

6.6.5.7 Mundéu
a) Finalidade: qualquer tipo de tatú.
b) Material: tora pesada, madeira para gatilho, cadarço e cipó.
c) Local: trilha.
d) Comedia: uixi, piquiá, buriti.
e) Construção: corta-se uma tora pesada: 2,5 m x 0,2 m diâmetro. Constrói-se
uma trave de 0,8 a 1 m de altura, fixando em sua ponta uma travessa horizontal.
O tronco é suspenso entre duas traves por um cordel que passa por cima da
travessa horizontal. Este cordel vai para um sistema de gatilho, normalmente uma
trave. Várias estacas de 0,8 m são fixadas ao solo para canalizar o movimento da
presa e acionar o gatilho quando a caça estiver embaixo do tronco de madeira.

Fig 296 - Foto armadilha mundéu

Fig 297 - Exemplo de mundéu

6-116
EB70-CI-11.466

Fig 298 - Mundéu associado a laço

6.6.5.8 Quebra-cabeça

Fig 299 - Foto armadilha quebra-cabeça

6-117
EB70-CI-11.466
a) Finalidade: gambá, mucura, etc.
b) Material: vara de vergar, madeira para o cercado, tarugos de madeira para o
gatilho e para o cadarço.
c) Comedias: ovos de aves, frutas, vermes (mucura); rã, frutas e aves (gambá).
d) Construção: utiliza-se uma vara de 8 a 10 cm de diâmetro por 4 a 5 m de
comprimento.
e) O princípio de funcionamento do quebra-cabeça é o mesmo do mundéu,
sendo que neste, o efeito não é causado pelo peso da tora que faz cair, mas sim
o desflexionamento da vara de vergar. A vara de vergar deve ter sua ponta mais
fina ancorada ao solo.
f) A aproximadamente 1 m deste ponto é feita outra ancoragem. A ponta mais
grossa da vara é utilizada para atingir o animal. Uma trave, à semelhança do
mundéu, flexiona a vara de vergar para cima através de um cordão ligado a um
sistema de gatilho.
g) A isca deve ser colocada numa posição que direcione a caça para baixo da
vara de vergar, para isso, constrói-se um cercado em forma de “meia-lua” com
varas de 80 cm, onde se coloca a isca.
6.6.5.9 Esparrela

Fig 300 - Foto armadilha esparrela

6-118
EB70-CI-11.466
a) Finalidade: aves em geral.
b) Comedias: frutas e larvas.
c) Material: uma vara de vergar, dois tarugos e um pedaço de cadarço ou cipó.
d) Construção:
1) utiliza-se uma vara de vergar, dois tarugos e um pedaço de cadarço ou
cipó. Confecciona-se dois entalhes em uma árvore: (“A” e “B”), a um palmo de
distância um do outro;
2) prepara-se um tarugo ”C” com 25 cm de comprimento, prendendo-lhe uma
folha com talo para permitir a abertura do laço e o pouso da ave para comer as
iscas;
3) achata-se as pontas de um tarugo de 12 cm de comprimento por 1 cm de
diâmetro para facilitar a sua fixação nos entalhes, onde é ancorado um cordão
que vai para uma vara de vergar.
6.6.5.10 Gamboa
a) Finalidade: aves de pequeno porte.
b) Comedias: larvas e frutas.
c) Material: varetas de madeira com aproximadamente 1 cm de diâmetro, cipó.
d) Construção: utilizam-se varetas de madeiras com 2 cm de diâmetro e 1,90 m de
comprimento. Constrói-se um cercado fechado em forma de triângulo utilizando-se
estas varas, como exemplo de dimensões: 2 m de comprimento por 1,30 m de
largura e 1,20 m de altura. Coloca-se um “jiqui” em cada lateral.

Fig 301 - Foto armadilha gamboa

6-119
EB70-CI-11.466
6.6.5.11 Tarranga (utilizada quando se possui uma tarrafa)
a) Finalidade: aves de pequeno porte.
b) Comedias: milho, arroz, frutas, larvas (tapuru e broca), etc.
c) Material: tarrafa, tronco, varetas de madeira.
d) Local: próximo a indícios de caça.
e) Construção: estende-se a tarrafa deixando-a aberta e elevada 1 m do solo, em
seu centro, por uma vara de madeira. As laterais da tarrafa ficam fixas ao solo.
Em volta da tarrafa é feito uma ou duas aberturas onde se coloca uma sangra de
jiqui – espécie de cone de palha.

6.7 PESCA
6.7.1 REGRAS GERAIS
6.7.1.1 Não há normas que sirvam para distinguir os peixes desejáveis dos
indesejáveis para a alimentação; uns terão a carne mais dura, outros, mais tenra;
uns possuirão mais espinhas que outros; os de uma mesma espécie, às vezes,
diferem entre si, devido ao local em que vivem e à alimentação que conseguem.
O certo é que o cozimento os tornará todos iguais, em termos de alimentação.
- Apenas as vísceras, quando se tratar de peixe desconhecido, não deverão ser
aproveitadas para comida, apenas para isca.
6.7.1.2 Os melhores locais para pescar são os poços profundos, ao pé das
cachoeiras, no final das corredeiras rápidas ou entre rochedos. Em correntes
muito velozes, os peixes costumam chegar mais para as margens.
6.7.1.3 À noite a pescaria poderá tornar-se mais produtiva que de dia, caso se
disponha de lanternas ou archotes, ocasião em que, até com pauladas ou varas
pontiagudas, será possível matar os peixes.
6.7.1.4 Pescar dependerá, às vezes, de paciência; por isso, deverão ser tentadas
todas as águas, profundas e rasas, rápidas, vagarosas e estacionárias, claras e
turvas, utilizando-se vários tipos de iscas nos vários materiais para pesca.
6.7.1.5 Caranguejos, siris, caramujos e mariscos poderão ser encontrados sob
rochedos, troncos e moitas de arbustos que se prendem sobre os cursos de água
ou no fundo lodoso.
6.7.1.6 Os peixes mais comumente encontrados na água doce serão os bagres,
os mandis, as piranhas, os baiacus e as arraias, entre aqueles que poderão
oferecer mais periculosidade, quer devido à ferocidade, quer aos sistemas de
defesa que possuem.
6.7.1.7 Os que regionalmente são mais apreciados são o tucunaré, a pescada, a

6-120
EB70-CI-11.466
traíra, o tambaqui, o pirarucu (bacalhau brasileiro), o pacu, o acará, o jaraqui, a
matrinchã, a pirapitinga, o surubim e vários outros encontrados nos cursos de água.
6.7.1.8 No litoral, de água salgada ou salobra, ou nos mangues, serão encontradas
a tainha, a cavala, a corvina, etc, e crustáceos, como o camarão e o caranguejo.
6.7.2 ISCAS, ANZÓIS E LINHAS
6.7.2.1 O material mais prático para se usar em pescaria será a linha com anzol.
6.7.2.2 Como iscas, poderão ser usados insetos, minhocas, carnes e vísceras de
quaisquer animais. Caso se consiga descobrir o que comem os peixes no local
em que se está, a pescaria será mais fácil.
- Iscas artificiais poderão ser confeccionadas com pedaços de panos coloridos,
com penas de cores vivas, com fragmentos de algum metal brilhante ou com
pequenos objetos.
6.7.2.3 Anzóis poderão ser improvisados, assim, poderão ser confeccionados
anzóis de osso e de prego, anzóis de espeto de madeira e anzóis de madeira.

Fig 302 - Anzóis improvisados e de osso e de prego

6.7.2.4 As melhores linhas serão as de nylon e barbante; também poderão ser


improvisadas de cipós, de tecimento de fios tirados de um tecido de pano, pedaços
de arame, enfim, daquilo que a imaginação e ahabilidade condicionarem fazer.
6.7.2.5 Se os peixes se mostrarem indiferentes a todos esses artifícios, o melhor
será fisgá-los com varas compridas e pontiagudas, ou procurar encravar o próprio
anzol nos seus corpos, quando passarem perto.

6-121
EB70-CI-11.466

Fig 303- Anzol de espeto de madeira

Fig 304 - Anzóis de madeira

Fig 305 – Outros tipos de anzóis de madeira

6-122
EB70-CI-11.466

6.7.3 ARMADILHA PARA PESCA


6.7.3.1 Os peixes, de modo geral, são excelentes fontes de nutrientes. Apenas
as vísceras dos peixes não devem ser aproveitadas.
6.7.3.1.1 Os melhores locais para colocação de armadilhas para peixes são os
poços profundos, ao pé das cachoeiras, no final das corredeiras e entre pedras.
6.7.3.1.2 Nos rios da Amazônia, pode-se aprisionar: tucunarés, traíras, acará,
jaraqui, tambaqui, surubim, etc.
6.7.3.2 Anzol Automático: amarra-se uma linha de 2 a 3 m de comprimento
ligando a ponta de uma vara de vergar a um gatilho, colocando na ponta da linha
um anzol que fique no mínimo a 30 cm de profundidade dentro d’água. Quando
o peixe comer a isca e acionar o sistema de gatilho, a vara de vergar é solta,
puxando o anzol e fisgando o peixe.
6.7.3.3 Jiqui ou covo: constrói-se um cilindro com 1,5 m de diâmetro por 1,80
m de altura, usando-se varetas colocadas à pequena distância uma da outra ou
também pode-se confeccionar uma armação em forma cilindro e envolvê-la com
uma rede, tela de arame, etc.
- Em volta do cilindro, confecciona-se uma ou mais abertura, onde se coloca um
jiqui para que o peixe entre e não consiga sair.

Fig 306 – Armadilha Jiqui

6.7.3.4 Curral: em rios estreitos e pouco profundos pode-se fechar o curso d’água
com uma cerca de estacas de madeira, deixando-se frestas para que passe
somente a água, impedindo a passagem do peixe.

6-123
EB70-CI-11.466

Fig 307 – Armadilha curral

- As estacas de madeira devem ficar com uma ponta sobrando de 15 a 20 cm acima


do nível d’água (exemplos de peixes que saltam fora d’água: aruanã/sulampa/
macaco d’água, peixe voador e outros). Em uma das laterais ou centro, constrói-
se uma entrada em forma de funil para que um pequeno compartimento. O funil
deve permitir a entrada do peixe, aprisionando-o em seu interior para posterior
apanha, também pode ser utilizado a sanga como um processo de entrada.
6.7.3.5 Matapi: constrói-se um cercado com estacas de madeira em forma de
seta, fincando-as na água à semelhança do “curral”.
- A ponta da seta deve ficar apontada para a montante do rio. Nas bases da seta,
ocorre remanso, onde se acumulam os materiais comestíveis para os peixes.
Estes entram no interior da seta através da abertura afunilado.

6-124
EB70-CI-11.466

Fig 308 – Armadilha matapi

6.7.3.6 Cacuri: a construção do cacuri é semelhante à do curral, tendo a


particularidade não fazer a ligação de margem a margem. O cercado deve ser
feito com a abertura voltado para a correnteza. Esta abertura será afunilada para
impedir o retorno dos peixes.

Fig 309 – Armadilha cacuri

6-125
EB70-CI-11.466
6.7.3.7 Sanga (entrada das armadilhas de pesca): a sanga servirá de bloqueio à
saída do peixe de dentro da armadilha.
- É necessário colocar um pedaço de madeira que servirá de peso e tranca
permitindo a entrada do peixe e impedindo a sua saída. As pontas desse pedaço
de madeira vão se apoiar na estrutura da armadilha cessando o movimento de
retorno da sanga após a entrada do peixe.

Fig 310 – Armadilha sanga

6-126
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO VII
TRATO COM INDÍGENAS

7.1 INTRODUÇÃO
- O sobrevivente ou grupo de sobreviventes na selva não estará livre de
um encontro com indígenas que vivem na Região Amazônica. Este contato
representará a salvação, desde que se esteja familiarizado com os seus hábitos
ou se tenha conhecimento de certas regras de conduta a serem observadas
durante o tratamento recíproco a manter.

7.2 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DOS INDÍGENAS


7.2.1 Os indígenas da Amazônia, em sua maioria, já tiveram e/ou mantiveram
contato com não-indígenas, o que os fizeram assimilar costumes da civilização e
aproximar-se das vilas e das cidades. Muitos índios, inclusive, prestam o Serviço
Militar, o que se pode observar nos Pelotões de Fronteira situados nas reservas
indígenas ou próximos destas.
7.2.2 ESTRUTURA FAMILIAR
- A estrutura familiar é muito considerada pelos índios. No trabalho, pode-se
observar o seguinte:
7.2.2.1 Ao homem cabe combater, caçar, pescar, manufaturar instrumentos de
madeira e preparar o terreno para a roça.
7.2.2.2 À mulher cabe o suprimento d’água, os encargos da mãe (normalmente
até que os filhos completem sete anos), o transporte de fardos, o preparo dos
alimentos, a manufatura de utensílios de cerâmica, a tecelagem, os trabalhos na
roça e a colheita.
7.2.2.3 Os homens tomam banho separados das mulheres.
7.2.2.4 O namoro é respeitoso (só há beijos na testa).
7.2.2.5 Há casamentos endogâmicos (dentro da aldeia) e exogâmicos (fora da
aldeia). Casamentos de viúvo(a) com cunhada(o) são frequentes.
7.2.2.6 Entre os YANOMAMI, o infanticídio é consentido pela mãe quando esta
não possui condições para criar o filho. É comum o uso de ervas abortivas entre
as mulheres YANOMAMI.
7.2.2.7 O Estado Brasileiro estabelece que criança é até 12 anos e adolescente
é até 18. Na concepção indígena, na maioria dos povos, após os 12 anos, a
criança passa para a fase adulta, mas isso varia de povo para povo e varia de

7-1
EB70-CI-11.466
idade também.
7.2.3 EM TERMOS DE HABITAÇÃO, O QUE MAIS SE OBSERVA:
7.2.3.1 Geralmente os índios vivem em malocas construídas à base de barro,
madeira e palha.
7.2.3.2 Essas malocas normalmente englobam várias famílias.
7.2.3.3 Como curiosidade: os YANOMAMI vivem em malocas de até 300 índios,
denominadas SHABONÓ ou YANOS.
7.2.4 O idioma português é conhecido pela maioria das etnias. Algumas
comunidades indígenas possuem escolas com professores bilíngues que praticam
o ensino da língua portuguesa.
7.2.4.1 O povo Tikuna, habitante no Amazonas, em números absolutos, foi o que
apresentou o maior número de falantes do idioma português. Em segundo lugar,
em número de indígenas, ficou o povo Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul
e, em terceiro lugar, os Kaingang da região Sul do Brasil.
7.2.5 Os povos indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil, sendo
que a Região Norte é aquela que concentra o maior número de indivíduos e o
Amazonas o estado que engloba a maior parte desses povos.

Fig 311 – Principais etnias indígenas brasileiras

7-2
EB70-CI-11.466
7.2.5.1 Um dado importante foi o aumento da proporção de indígenas desaldeado.
O contato com a sociedade nacional majoritária permitiu esse avanço da zona
rural para zona urbana, dessa forma, o sobrevivente dificilmente será o primeiro
contato do não-índio com a tribo indígena.
7.2.5.2 Contudo, é importante salientar que podem existir etnias de indígenas
isolados ou de pouco tempo de contato com a sociedade majoritária e, nesse
caso, geralmente são arredios e agressivos durante contatos imprevistos com
não-indígenas, como é o caso dos Kawahivas, uma tribo nômade de caçadores-
coletores que tendem a fugir para dentro da floresta por ocasião da aproximação
de estranhos em seu território, e os Korubos, mais conhecidos como índios
“caceteiros” que historicamente estão ligados a diversos eventos de conflitos com
indígenas e não-indígenas.
7.2.6 Por conhecer bem a região onde vive e estar a ela perfeitamente adaptado,
o índio constitui-se em um valioso aliado na obtenção de dados sobre a região,
nas operações e nas ações rotineiras da Força.
7.2.7 Em uma tribo, existe a figura de um responsável pela solução de todas as
pendências. O índio, individualmente, não assume os problemas. Pela dimensão
do nosso território, diversas são as tribos e as etnias com suas respectivas
lideranças:
7.2.7.1 No alto Rio Negro, as lideranças em maior nível hierárquico nas aldeias,
geralmente, são chamadas de “Capitão”.
7.2.7.2 Em Roraima, essas lideranças são chamadas de “Tuxaua”.
7.2.7.3 No Pará, Amapá, Rondônia, Acre e algumas regiões do Estado do
Amazonas o líder máximo das aldeias, geralmente, é chamado de “Cacique”.
7.2.7.4 O processo sucessório, na maioria das tribos, é hereditário. Em algumas
comunidades mais avançadas, há um processo de eleição entre os chefes das
famílias.
7.2.10 Outra figura importante é o pajé, o responsável pela assistência médico-
espiritual da tribo.
7.2.11 Os principais conflitos existentes entre os índios geralmente envolvem
questões de terra e mulher. Normalmente, as desavenças intertribais são
facilmente esquecidas, desde que surja um problema maior.
7.2.12 A Funai considera “de recente contato” aqueles povos ou grupos indígenas
que mantêm relações de contato permanente e/ou intermitente com segmentos da
sociedade nacional e que, independentemente do tempo de contato, apresentam
singularidades em sua relação com a sociedade nacional e seletividade
(autonomia) na incorporação de bens e serviços. São, portanto, grupos que
mantêm fortalecidas suas formas de organização social e suas dinâmicas coletivas
próprias, e que definem sua relação com o Estado e a sociedade nacional com

7-3
EB70-CI-11.466
alto grau de autonomia.
7.2.13 A denominação “povos indígenas isolados” se refere especificamente a
grupos indígenas com ausência de relações permanentes com as sociedades
nacionais ou com pouca frequência de interação, seja com não-índios, seja com
outros povos indígenas.
7.2.14 Atualmente, no Brasil, existem cerca de 114 registros da presença de índios
isolados em toda a Amazônia Legal. Estes números podem variar conforme a
evolução dos trabalhos indigenistas em curso realizados pela Funai. Dentre estes
114 registros, existem:
7.2.14.1 Os “grupos indígenas isolados”, com os quais a Funai desenvolveu
trabalhos sistemáticos de localização geográfica, que permitem não só comprovar
sua existência, mas obter maiores informações sobre seu território e suas
características socioculturais;
7.2.14.2 As “referências de índios isolados”, que são os registros onde há fortes
evidências da existência de determinado grupo indígena isolado, devidamente
inseridos e qualificados no banco de dados, porém sem um trabalho sistematizado
por parte da Coordenação-Geral de Índios Isolados da Funai que possa comprová-
la; e
7.2.14.3 As “informações de índios isolados”, que são as informações sobre a
existência de índios isolados devidamente registradas na Funai, ou seja, que
passa por um processo de triagem, porém sem ter ainda recebido um estudo de
qualificação.

7.3 PROCEDIMENTOS PARA TRATAR COM O ÍNDIO


7.3.1 Deixar que os índios se aproximem, não penetrando em seu meio como um
intruso. Regra geral, eles deverão mostrar-se amigáveis. São conhecedores da
área em que vivem e, portanto, poderão indicar trilhas, cursos de água ou alguma
comunidade ribeirinha, bem como onde encontrar água potável e alimentos.
7.3.2 Procurar entrar em entendimento com o chefe da tribo ou com quem, no
momento do encontro, parecer como tal a fim de pleitear o que se deseja. Dever-
se-á pedir auxílio e nunca o exigir. Durante o contato, o indivíduo em melhores
condições psicológicas e de preparo do grupo será quem deve conduzir a conversa,
e não um qualquer, pois o índio poderá ofender-se; deverá aproximar-se só, falar
pausadamente de forma clara e em tom normal (algumas etnias se ofendem com
falas altas), e ser paciente na tentativa de conversação.
7.3.3 Não demonstrar receio. Aproximar-se desarmado e não ameaçar de modo
algum. Não deverá fazer movimentos bruscos de modo a assustá-los, pois tal
fato poderá torná-los hostis.

7-4
EB70-CI-11.466
7.3.4 Enquanto o indivíduo mais preparado estiver em conversação, os demais
elementos do grupo de sobreviventes deverão manter vigilância, durante todo o
período do contato para evitar surpresas.
7.3.5 Ao se aproximar de uma aldeia de índios ou de um grupo deles, dever-se-á
fazê-lo devagar, com calma, antes de iniciar o contato, verbal ou por mímica, parar
e sentar. Não deverá haver precipitação, pois será normal que os indígenas se
mostrem acanhados e inacessíveis no princípio e fujam a aproximação. Se fugirem,
não insistir seguindo-os; deve-se parar e, no local, colocar “presentes” no chão;
afastar-se em seguida e aguardar o resultado, pois geralmente eles voltarão para
apanhá-los. Não se preocupar, pensando que eles se foram de vez, pois estarão
vigiando. Essa demonstração facilitará a amizade futura.
7.3.6 Caso o grupo tenha conseguido aproximar-se sem ser pressentido, o que
será difícil, deverá bater palmas ou chamar em voz alta para atrair a atenção,
deixando a iniciativa das atitudes para eles.
7.3.7 Bons recursos para iniciar uma amizade será realizar qualquer habilidade
(truques, cantos, jogos), fazer trocas, oferecendo aquilo que se tiver, como sal,
cigarros, moedas, ou mostrar qualquer coisa que possa servir de identificação do
sobrevivente perante o indígena, como cartão de identidade, emblemas, bandeiras,
distintivos etc. As tentativas de entendimento por meio de gestos com as mãos
serão recomendáveis, pois é hábito entre eles mesmos.
7.3.8 Dar ideia de que, tão logo se consiga o que quer, pretende-se ir embora,
pois os índios não gostam de intrusos.
7.3.9 Tratar os indígenas como seres humanos, não demonstrando desprezo, não
zombando, não rindo deles, nem procurando impor sua vontade. A violação destes
conselhos poderá acarretar consequências desagradáveis, de dia ou de noite.
7.3.10 Cumprir o que prometer.
7.3.11 Respeitar os costumes e usos locais, mesmo que possam parecer
incompreensíveis ou absurdos. Não esquecer que para os índios sobreviventes
serão estranhos e, às vezes, figuras bizarras.
7.3.12 Não fazer perguntas que possam ser respondidas com um simples sim.
Perguntando-se: “Esta trilha leva ao rio?”, o indígena pensará que se quer
realmente que a trilha conduza até o rio e responderá, para ser agradável, que
sim. As perguntas deverão ser, por exemplo: “Qual é o caminho mais curto para
chegar ao rio?”; “Como é que se vai ao rio?”; “Onde vai dar esta trilha?”, etc.
7.3.13 NECESSIDADE DE CONVIVER
- Se houver necessidade de conviver certo tempo no âmbito de uma tribo, não
esquecer de:

7-5
EB70-CI-11.466
7.3.13.1 respeitar a mulher índia em qualquer circunstância.
7.3.13.2 respeitar moradias e lugares íntimos. só penetrar nelas se for convidado.
Se precisar falar com alguém que se encontre em um interior, solicitar a um
do lado de fora que o chame. Poderão existir áreas consideradas sagradas ou
religiosas (tabus).
7.3.13.3 não sacrificar nenhum animal sem antes de saber se é considerado
sagrado pelos indígenas. Jamais maltratar os animais domesticados, procurar
conviver em harmonia com eles.
7.3.13.4 construir um abrigo em separado, por medida de higiene.
7.3.13.5 evitar contatos físicos, com diplomacia. entretanto, se alguém quiser
abraçar ou pegar nas mãos, não demonstrar repulsa.
7.3.13.6 preparar a alimentação em separado. se for perguntado por que faz isto
ou aquilo, deverá ser respondido que é o costume entre “seu povo”. os índios
compreenderão e respeitarão esse costume.
7.3.13.7 procurar aprender algumas palavras do idioma local, o que agradará ao
índio que, inclusive, auxiliará a aprendizagem.
7.3.13.8 não se ofender com as brincadeiras. pelo contrário, dever-se-á retribuí-
las e participar das distrações gerais.
7.3.13.9 procurar aprender o máximo que puder sobre como se beneficiar da
selva, principalmente na obtenção de água e alimentos, pois poderá ser o caso
de se prosseguir em marcha sem o auxílio de um guia.
7.3.13.10 não utilizar alimentação ou água da tribo sem que haja permissão dos
indígenas.
7.3.13.11 informar-se sobre a existência de outras tribos nas vizinhanças, com as
quais poder-se-á encontrar; aceitar tais informações com reservas.
7.3.13.12 cuidado para não ferir suscetibilidades ou depreciar líderes locais
(capitão, tuxaua, cacique, pajé, agente indígena de saúde, professor indígena,
etc.).
7.3.13.13 quando necessitar de ajuda, solicite à liderança local que determine quem
deverá e poderá ajudá-lo. O recrutamento de colaboradores, sem autorização das
lideranças, pode ser entendido como um desrespeito à autoridade local.
7.3.13.14 todas as suas atitudes devem primar pela discrição, naturalidade,
honestidade e sinceridade e o relacionamento com a comunidade seja baseado
na confiança e na cooperação mútua.
7.3.13.15 demonstre interesse pelos saberes indígenas, como os ritos e as danças
tradicionais. Tenha cuidado para não depreciar a cultura local involuntariamente.
7-6
EB70-CI-11.466

7.3.13.16 Insira-se aos poucos no cotidiano local (coleta, roçado, saúde, educação,
lazer, etc.). se convidado, não se negue a participar das cerimônias, reuniões e
partidas de futebol.
7.3.13.17 não demonstre interesse pelas mulheres e, mesmo que se aproximem,
jamais estabeleça um relacionamento íntimo com as mesmas. Também jamais
ofereça bebida alcoólica.
7.3.13.18 não adentre aos domicílios sem o consentimento prévio da liderança
familiar, se as mulheres e crianças estiverem sozinhas, solicite a presença de
alguém da aldeia.
7.3.13.19 não trate o indígena como analfabeto ou ignorante. Lembre-se de que
cultura e grau de instrução são conceitos distintos.
7.3.13.19 não se negue a experimentar alimento oferecido de bom grado.
7.3.13.20 seja sincero ao agradecer algo que lhe for doado e, na medida do
possível, retribua, mas não banalize as trocas para evitar que elas se tornem a
base da relação.
7.3.14 Finalmente, procurar deixar a melhor impressão possível na mente dos
índios, com o que se tornará mais fácil a situação futura de outros que, por ventura,
se vejam nas mesmas contingências de sobrevivência; tal atitude em muito
adiantará para facilitar os contatos de nosso pessoal, cuja missão é sobremodo
importante e imprescindível para a integração da AMAZÔNIA.

7-7
EB70-CI-11.466

7-8
EB70-CI-11.466
CAPÍTULO VIII
TRATO COM O AMAZÔNIDA

8.1 INTRODUÇÃO
8.1.1 Amazônida é o termo utilizado para designar o indivíduo que é natural ou
habitante da Amazônia, também denominado de Amazoniano.
8.1.2 Em uma situação de sobrevivência, o indivíduo ou grupo de indivíduos se
movimentará em busca de salvação, que pode ser materializada no encontro
de algum habitante local. É importante conhecer as principais características da
população nativa e os procedimentos a serem tomados para garantir um contato
mais proveitoso.

8.2 CARACTERIZAÇÃO DO AMAZÔNIDA - AS POPULAÇÕES TRADICIONAIS


E RIBEIRINHAS
8.2.1 A região amazônica é ocupada por diversos grupos étnicos e populações
tradicionais que ao longo da história foram constituídos a partir dos processos de
colonização e miscigenação.
8.2.1.1 O intercâmbio de diferentes povos e etnias possibilitou ao amazônida
a expressão de um extenso leque de manifestações socioculturais, que são
observadas na sua vida cotidiana quando analisamos as crenças, os costumes,
os hábitos alimentares, a cultura folclórica, as relações de trabalho, etc.
8.2.1.2 Dentre os conhecimentos compartilhados pelas comunidades tradicionais
que vivem na Amazônia, predominam os costumes e hábitos herdados dos povos
indígenas.
8.2.2 OS POVOS E AS COMUNIDADES TRADICIONAIS
8.2.2.1 Os povos e as comunidades tradicionais são grupos que possuem
cultura diferenciada, têm sua própria forma de organização social e utilizam os
conhecimentos e práticas transmitidos pela tradição. Desse modo, entende-se
que o os ribeirinhos constituem comunidades tradicionais e são possuidores de
uma relação particular com a natureza e com os ecossistemas nos quais estão
inseridos.
8.2.2.2 As comunidades tradicionais ribeirinhas possuem uma relação muito íntima
com o rio, tendo em vista que este lhes oferece alimentos e garante a fertilidade
das margens, o que é essencial para o cultivo dos vegetais.
8.2.2.3 Como forma de retribuição, o amazônida oferece proteção aos rios através
do culto às lendas folclóricas como a mãe d’água, a cobra grande, entre outros

8-1
EB70-CI-11.466
mitos, que intimidam aqueles que não respeitam a natureza. Além dessas crenças,
as práticas e concepções religiosas são variadas, o que é decorrente da influência
indígena, africana e portuguesa.
8.2.3 MODO DE VIDA
8.2.3.1 As comunidades ribeirinhas fundamentam seu modo de vida na utilização
dos recursos naturais disponíveis, tais como: agricultura, criações de pequenos
animais, pesca, caça de animais silvestres e extrativismo vegetal.
8.2.3.2 A produção agrícola é baseada principalmente no cultivo da mandioca e
seus derivados, que são obtidos através de processos artesanais e utilizados para
subsistência, por serem alimentos bastante apreciados pela população nativa e
também para comercialização.
8.2.3.3 A pesca é a principal fonte de obtenção de alimentos de origem animal,
tendo como referência os hábitos indígenas, herdados pelos amazônidas. Dentre
os métodos existentes, destacam-se: a malhadeira, a tarrafa, a zagaia, o anzol
o timbó (tingui e titim) e o cunambi – mistura de origem vegetal que causa efeito
narcótico nos peixes. A pesca é praticada tanto na cheia, quanto na vazante dos
rios, ao passo que a caça ganha maior importância na época de cheia.

Fig 312 - Cipó Timbó

8-2
EB70-CI-11.466
8.2.4 GRUPOS FAMILIARES DE COMUNIDADES RIBEIRINHAS
- As comunidades ribeirinhas geralmente são compostas por grandes grupos
familiares, que usam a terra de forma coletiva e têm seus recursos básicos regidos
por normas específicas, de maneira consensual, permitindo a criação de laços
solidários de ajuda mútua entre os moradores.
8.2.4.1 Entre a população é comum o surgimento de lideranças comunitárias, que
estão vinculadas às práticas tradicionais passadas de geração em geração e são
desenvolvidas nas atividades dos grupos domésticos familiares e nas atividades
comunitárias, como reuniões, festas etc.
8.2.4.2 Essas lideranças são responsáveis por representar a população das
comunidades, reivindicar os seus anseios e solucionar os problemas sociais que
possam surgir.
8.2.4.3 São exemplos de lideranças comunitárias o presidente da comunidade,
presidente de associações, líderes religiosos, donos de comércio e os chefes
das famílias.
8.2.5 CASAS DE MADEIRA
- As famílias costumam residir em pequenas casas de madeira, construídas com
recursos da floresta, que se estendem ao longo das margens dos rios.
8.2.5.1 É muito frequente a utilização de palafitas: construções sobre estacas de
madeira que se adequam à dinâmica dos rios, que sofrem drásticas variações
anuais do nível da água.

Fig 313 - Casa de ribeirinho às margens do Rio Madeira

8-3
EB70-CI-11.466

Fig 314 - Casa tipo palafita na comunidade de Vila Brasil, às margens do Rio Oiapoque

8.2.5.2 Usualmente a energia elétrica das comunidades é fornecida por geradores,


devido à distância das áreas urbanas, no entanto, há que se observar a existência
de um número considerável de amazônidas sem acesso à energia. Segundo o
Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), esse número chega a quase um
milhão de pessoas.
8.2.6 Com base no último censo demográfico e as estimativas do IBGE, na
Amazônia Legal vivem em torno de 28,1 milhões de habitantes em 2020, o que
representa cerca de 13% da população brasileira. Apesar disso, a densidade
demográfica na região é baixa, girando em torno de 5,6 habitantes por km².
8.2.6.1 O estado mais populoso é o Pará, com 8,8 milhões de habitantes, seguido
pelo Maranhão (5,9 milhões) e Amazonas (4,2 milhões).
8.2.6.2 Em contrapartida, o Amapá (862 mil) e Roraima (631 mil) são os estados
menos populosos da região.
8.2.7 Ainda segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) da Amazônia Legal
registrado foi de R$ 613,3 bilhões em 2018, que corresponde a 8,7% do PIB do
Brasil.

8-4
EB70-CI-11.466
8.3 PROCEDIMENTOS PARA TRATAR COM O AMAZÔNIDA
8.3.1 O amazônida em sua essência é conhecedor das técnicas de sobrevivência
na selva, além disso, poderá indicar os caminhos que levam às zonas urbanas,
fornecer água e alimentos para o consumo e oferecer abrigo temporariamente.
Dessa forma, é imprescindível que o sobrevivente ou grupos de sobreviventes
faça contato com os habitantes locais ao avistá-los.
8.3.2 As comunidades ribeirinhas mais interiores vivem isoladas e não costumam
receber visitantes, logo, é importante atrair a atenção dos moradores durante a
aproximação para não causar impressões errôneas.
8.3.3 Durante o contato, o indivíduo deve buscar o encontro com alguma liderança
comunitária, já que essas estão mais familiarizadas com os diálogos externos
às comunidades. Caso esteja em grupo, deve-se eleger um representante para
realizar o contato a fim de causar uma impressão menos hostil. O estabelecimento
de uma relação amigável facilitará a oferta de ajuda dos moradores.
8.3.4 É importante respeitar as normas vigentes na comunidade e de maneira
alguma desprezar ou desdenhar dos costumes, crenças e hábitos dos moradores.
8.3.5 O amazônida é receptivo e gosta de compartilhar os seus saberes. É
interessante ser atencioso nesse aspecto.
8.3.6 CONDUTAS
- Caso haja necessidade, permanecer por mais tempo entre os habitantes locais,
buscar seguir algumas condutas:
8.3.6.1 Aprender a obter seu próprio alimento para não se fazer inconveniente
naquele ambiente.
8.3.6.2 Evitar criar relacionamentos íntimos com os moradores ou demonstrar
interesse. As famílias tradicionalmente já são constituídas e isso pode gerar atritos.
8.3.6.3 Construir seu próprio abrigo ou moradia, ainda se tratando da ideia de
não se fazer inconveniente.
8.3.6.4 Respeitar a privacidade dos moradores: é comum que inexistam muros,
cercas ou paredes que limitem as áreas das casas e das posses das famílias;
portanto, deve-se evitar a estadia nesses locais, exceto se for convidado. Nesse
caso, é oportuno aceitar o convite e se mostrar cortês.
8.3.6.5 Procurar aprender ou aprimorar as técnicas de sobrevivência de modo
efetivo, pois pode ocorrer a necessidade de prosseguir no deslocamento através
selva. Nesse caso, é interessante reunir água, alimentos e ferramentas a serem
conduzidas durante a navegação. É válido solicitar às lideranças locais o auxílio
de um guia.

8-5
EB70-CI-11.466

8.3.6.6 A criação de uma relação mútua de confiança e respeito com os habitantes


locais é essencial para o bom convívio durante a sua estadia. Em virtude disso,
é importante afeiçoar-se aos costumes do amazônida, participando de suas
cerimônias religiosas, reuniões, festas, atividades de lazer e também do trabalho.
8.3.7 Em síntese, o povo brasileiro tem como característica marcante a
hospitalidade e com os habitantes da Hileia Amazônica não é diferente. Em
situação de sobrevivência, o amazônida jamais negará apoio. Cabe ao indivíduo
ou grupo que estabelecer contato com esses povos retribuir os favores aprendendo
e compartilhando essa rica cultura.

8-6
EB70-CI-11.466

COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES


Brasília, DF, 14 de abril de 2022
https://portaldopreparo.eb.mil.br

Você também pode gostar