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MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES
CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NA SELVA
1ª Edição
2022
EB70-CI-11.466
EB70-CI-11.466
MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES
CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NA SELVA
1ª Edição
2022
EB70-CI-11.466
EB70-CI-11.466
1.1 INTRODUÇÃO
1.1.1 O presente caderno de instrução tem por finalidade divulgar conhecimentos
gerais, técnicas e processos que poderão contribuir para a sobrevivência na selva,
particularmente na Selva AMAZÔNICA, de indivíduos isolados ou em grupos, seja
em tempo de paz, seja no curso de operações militares.
1.1.2 Contudo, somente em situações muito especiais, deve ser adotada a
possibilidade de conduzir operações militares e sobreviver simultaneamente. A
sobrevivência pressupõe tempo para obter e preparar alimentos e, ainda, entre
outras tarefas, construir abrigos.
1.1.3 Devido às dificuldades enfrentadas, os indivíduos isolados ou em pequenos
grupos estarão se sustentando abaixo de suas necessidades normais normal-
mente. Tudo isso dificulta, quando não inviabiliza, realizar marchas e combater
o inimigo com eficiência.
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1.2.1.2 Assim, no continente americano, encontram-se a Selva AMAZÔNICA, a
mais vasta do mundo, abrangendo porções territoriais do BRASIL, GUIANA FRAN-
CESA, SURINAME, GUIANA, VENEZUELA, COLÔMBIA, PERU, EQUADOR e
BOLÍVIA, e a Selva da AMÉRICA CENTRAL.
1.2.1.3 Na ÁFRICA, encontram-se as grandes florestas das bacias dos Rios NÍ-
GER, CONGO e ZAMBEZE, a da costa oriental e a da ilha MADAGÁSCAR. Na
ÁSIA, as florestas do sul da ÍNDIA e do sudeste do continente. Na OCEANIA, as
ilhas, em geral, são cobertas por vegetação com características de selva.
1.2.2 SELVAS TROPICAIS
1.2.2.1 Não há tipo de selva que se possa chamar de padrão comum. A sua
vegetação depende do clima e, até certo ponto, da influência humana exercida
através dos séculos.
1.2.2.2 Algumas árvores tropicais levam mais de 100 anos para atingir a sua ma-
turidade e somente nas florestas primitivas, virgens (não tocadas pelo homem)
encontram-se em completo crescimento.
1.2.2.3 Essa selva primitiva, por sua abundância de árvores gigantescas, torna-
-se facilmente identificável. Possui uma cobertura densa, formada pelas copas
de árvores que, por vezes, atingem mais de 30 m de altura, e sob as quais há
pouca luz e densa vegetação, o que não impede a progressão através da mesma.
1.2.2.4 A vegetação, nas florestas primitivas, tem sido destruída para permitir o
cultivo em algumas áreas. Posteriormente, essas áreas, deixando de ser cultiva-
das, propiciam o crescimento de uma vegetação densa, cheia de enredadeiras,
constituindo a floresta secundária, muito mais difícil de atravessar do que a selva
primitiva.
1.2.2.5 Em quaisquer desses tipos de selva, são encontradas grande diversidade
de plantas, frutas nativas, aves, mamíferos, répteis e abundante variedade de
insetos.
1.2.3 ÁREAS DE SELVA NO BRASIL
1.2.3.1 No Brasil, encontram-se áreas cobertas com vegetação característica
das grandes florestas. A principal e a maior do mundo é a Floresta Amazônica ou
Selva Amazônica, como já é conhecida internacionalmente. As outras, bastante
limitadas, quer pelas extensões que ocupam, quer pelas condições de povoa-
mento e consequente existência de núcleos populacionais e de estradas, quer
ainda pelas diferentes condições climáticas, topográficas e de vegetação, são
encontradas formando os conjuntos florestais que se desenvolvem a sudoeste do
estado do Paraná, a noroeste do estado de Santa Catarina e próximo ao litoral,
sendo conhecida por Mata Atlântica.
1.2.3.2 Outras áreas de florestas existem, embora possam ser consideradas
pequenas manchas se comparadas com as já supracitadas. Entretanto, dentro
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da finalidade a que se propõe este manual, não serão consideradas, porquanto
não justificam apreciações especiais relacionadas quer com sobrevivência, quer
com operações militares na selva.
1.2.3.3 As próprias áreas florestais Paraná – Santa Catarina e a Mata Atlântica -
não serão apreciadas em particular, uma vez que aquilo que for dito para a Selva
Amazônica terá aplicação, feitos os devidos ajustamentos. Entretanto, sobreviver
e operar militarmente nelas será menos difícil do que na Selva Amazônica, não só
porque as condições de clima, de topografia e de vegetação são diferentes, como
também pelo progresso decorrente da ação do homem sobre a área.
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b) Assim, poderá ser comumente dividida em dois tipos principais, com base no
critério fisionômico: matas de terra firme e matas de planície de inundação (ter-
minologia regional - mata de várzea e mata de igapó), além de outras formações
como o cerrado e a floresta semiúmida.
1.3.2.2.2 Floresta de terra firme (Fig 2)
a) também conhecida por floresta das terras altas, ocupa as áreas que se acham
fora do alcance das águas das cheias e constitui a floresta amazônica típica, com
árvores de grande porte, lianas, cipós e epífitas, onde as copas se entrelaçam,
impedindo a penetração dos raios solares e permitindo o aparecimento de outros
estratos de vegetação, densos, e que recobrem solos humosos.
b) Abaixo desse maciço vegetal, o ambiente é úmido e sombrio, o que favorece o
desenvolvimento da intensa vida microbiana que transforma rapidamente todos os
detritos vegetais e continuamente são lançados ao solo. Essa floresta estende-se
pelos Estados do Amapá, Pará, Amazonas e Acre, noroeste do Maranhão, norte
do Mato Grosso, norte de Rondônia e sul de Roraima; reveste aproximadamente
3 milhões e 500 mil quilômetros quadrados da área amazônica.
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generalizar, caracterizando em função de uma espécie principal, a vegetação da
floresta de terra firme, mesmo porque a maior parte da área é desconhecida em
seu interior.
d) Pode-se, entretanto, citar como características gerais desse tipo de floresta:
1) a existência de vários estratos, os quais, a partir do solo, são constituídos
por uma cobertura de gramínea mais ou menos rarefeita, por elementos de porte
subarbustivo e, por fim, de aspecto arbóreo;
2) o alto porte das árvores que compõem o estrato superior; e
3) a diversificação das espécies.
1.3.2.2.3 Floresta de terras inundáveis
a) também conhecida por floresta de várzea alagadiça ou floresta pantanosa,
caracteriza-se pela vegetação que se desenvolve nas imediações das margens
do Rio AMAZONAS e seus principais afluentes, alcançando, por vezes, 100 qui-
lômetros de largura. Em suma, é a vegetação arbórea dos leitos dos principais
rios da Planície Amazônica.
b) Nela a denominação catival ou carrascal (Fig 3) aplica-se à vegetação em que
predominam árvores de grande porte, que crescem em detrimento de espécies
menores. Em seu interior o terreno é relativamente limpo, não prejudicando o
movimento a pé. Ela se desenvolve, normalmente, nas partes mais altas dos
terrenos, sujeitos aos alagamentos e se constitui no que vulgarmente se chama
mata de várzea (Fig 4) e mata de igapó (Fig 5).
c) Na primeira, a seringueira e o pau-mulato formam o estrato mais alto; é
abundante o número e espécies de palmáceas e lianas, enquanto que, no chão,
desenvolvem-se plantas herbáceas. Por vezes, acompanhando os cursos dos rios,
estreitas faixas mais elevadas de aluvião, raramente invadidas pelas águas - as
chamadas restingas (Fig 6) apresentam um desenvolvimento vegetal semelhante
ao da terra firme, no que tange às espécies encontradas.
d) Na mata de igapó, a vegetação apresenta-se mais densa e bastante variada em
espécies, porém o porte das árvores é menor que o das de terra firme e de várzea.
1) A distinção entre esses dois tipos de mata, de várzea e de igapó, não é fácil,
inclusive para os próprios habitantes da região.
2) Para esses habitantes, mata de várzea é a que ocupa os terrenos periodica-
mente recobertos pela água, enquanto a de igapó é aquela que recobre terreno
lodoso (em decorrência do acúmulo de matéria orgânica).
e) Contudo, a mata de igapó é o trecho da floresta onde a água, após a enchente
dos rios, fica por algum tempo estagnada, enquanto a mata de várzea deixa a
descoberto o solo tão logo ocorra a vazante dos rios. É justificável, até o momento,
a existência dessas concepções variadas, porquanto a gigantesca floresta ainda
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não foi palmilhada em seu âmago; muito há que se ver e estudar sobre a Selva
Amazônica. Até aqui, porém, pode-se generalizar: é na terra firme, na várzea ou
no igapó que se constata a pujança da floresta.
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Fig 6 - Restinga
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1.3.2.2.4 Floresta de Palmeiras
a) A mais caracterizada no BRASIL é aquela conhecida como zonados cocais e
situa-se na parte oriental da Região Norte, prolongando-se para leste em direção
às caatingas nordestinas. Por isso mesmo constitui uma região de transição entre
aquela que é úmida e florestal - a amazônica - e aquela semiárida da caatinga - a
nordestina. Para o sudoeste, atinge a Ilha do Bananal, no Estado de Tocantins.
b) A palmeira de maior porte e valor econômico é o babaçu. Além dessa, existem a
carnaúba, o açaí, o patauá, etc. Todas servindo para caracterizar individualmente
o palmeiral.
c) Um palmeiral, apesar da natural mesclagem com outros tipos de vegetação,
não constitui obstáculo de vulto à transitabilidade.
d) É interessante lembrar que palmeiras de inúmeras espécies são encontradas
também nas matas de terra firme, de várzea ou de igapó, não constituindo um
aglomerado individualizado e distinto. Sua existência é dispersa naqueles con-
juntos florestais e tem grande significação em se tratando de sobrevivência, uma
vez que fornecem palmitos, frutos, folhagem para cobertura, fibras e não raro
indicam a existência de água nas proximidades.
1.3.2.2.5 Mangues
a) Mangue ou mangal (Fig 7) - é uma formação vegetal de regiões alagadiças e
ocorre apenas em regiões tropicais ou subtropicais no encontro entre o rio e o mar.
b) É facilmente reconhecido pelas árvores com raízes expostas e solo lamacento,
são encontrados bordejando o litoral dos estados do Amapá, Pará e Maranhão,
realizando incursões variáveis para o interior, particularmente ao longo das mar-
gens de alguns rios que sofrem influência da água salgada das marés.
c) Sua vegetação é inconfundível e apresenta características muito especiais:
vive em ambiente salgado ou salobro, tem grande capacidade de reprodução e
invade zonas lodosas, para cuja consolidação concorre.
d) As três variações, vermelho, branco e preto, sucedem-se nesta ordem, geral-
mente a partir da linha da baixa-mar para o interior, ocupando as duas primeiras
à frente, e a terceira, à retaguarda.
e) A vegetação do mangue vermelho - o mangueiro - e do mangue preto - a siriúba
- alcança alturas de até 20 m e algumas vezes apresenta um emaranhado denso
e bastante largo; é mais comum, entretanto, constituir uma faixa de uns 20 m de
largura, ao longo dos cursos de água ou beira-mar.
f) O mangueiro é caracterizado pela massa compacta de raízes aéreas que partem
dos galhos em direção a água e, em conjunto, constitui obstáculo a vencer; já a
siriúba, com o tronco mais ereto, não apresenta esse aspecto.
g) É frequente encontrar-se misturada à vegetação de mangue, uma outra deno-
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minada matagal litorâneo, onde podem sobressair diversas espécies de plantas,
entre elas as palmeiras ou coqueiros esparsos, como o meriti, o açaí, o jupati, a
aninga, a samaúma, etc.
Fig 7 - Mangue
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Fig 9 - Cerrado
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− a intensa precipitação, local que encontrando solo de difícil drenagem,
encharca-o durante vários meses do ano.explorar a pecuária ou agricultura,
provoca o desmatamento e substituição da floresta por outro tipo de vegetação.
g) Campos artificiais (Fig 11) - são aqueles que resultam da ação do homem que,
visando explorar a pecuária ou agricultura, provoca o desmatamento e substituição
da floresta por outro tipo de vegetação.
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- Ocorrem com maior frequência nas lavouras e pastos dos estados de Ron-
dônia, do Mato Grosso e do Tocantins, do sul do estado do Pará e do oeste do
Maranhão.
h) Caatinga (Fig 12) - é a vegetação que predomina no Nordeste do Brasil e está
inserida no contexto do clima semiárido.
1) Os índios, primeiros habitantes da região, chamavam-na assim porque na
estação seca, a maioria das plantas perde as folhas, prevalecendo na paisagem
a aparência clara e esbranquiçada dos troncos das árvores, por isso o nome Ca-
atinga (caa: mata e tinga: branca) que significa “mata ou floresta branca” no tupi.
Porém, no período chuvoso a paisagem muda de esbranquiçada para variados
tons de verdes.
Fig 12 - Caatinga
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4) Entretanto, ao contrário do que ocorre com a caatinga nordestina, a amazôni-
ca situa-se em áreas de intensa pluviosidade, onde as chuvas são bem distribuídas
durante o ano inteiro, razão pela qual a flora e a ecologia diferem daquela. Há,
pois, semelhança, mas não igualdade.
5) Situam-se em algumas áreas da bacia do Rio Negro e nas proximidades da
localidade de São Paulo De Olivença, no Rio Solimões, no Estado do Amazonas.
1.3.2.2.7 Vegetação Secundária
a) É a vegetação decorrente do impacto da ação humana sobre a selva; em con-
sequência, é encontrada nos arredores das localidades, nas margens das rodovias
e ferrovias e nas adjacências de clareiras indígenas, onde a luz solar atinge o
solo. Entretanto, não é só a ação humana a responsável por ela, os cursos de
água, as quedas de árvores gigantes, lagos ou lagoas também contribuem para
a existência de grandes vazios, ao redor dos quais, consequente à penetração
solar, desenvolve-se a vegetação secundária.
b) Em se tratando de sobrevivência ou operações militares, essa vegetação
tem grande significado, pois o homem, ao se defrontar com ela identificada pela
coloração verde-clara de suas folhagens, em comparação com a verde-escura
da selva, terá sempre a esperança de encontrar, a seguir, uma localidade, uma
estrada, clareiras, rios ou lagos. É claro que o encontro de uma localidade ou de
uma estrada significa, na quase totalidade dos casos, a salvação. Porém, clarei-
ras, rios ou lagos, muitas vezes são acidentes perdidos na imensidão da selva,
os quais, à primeira vista, poderão parecer sem significado para quem procura
livrar-se da floresta.
c) Assim sendo, o encontro com um acidente desses, na realidade, pode ser
considerado também como a salvação, pois dele é muito mais fácil a ligação ter-
ra - ar. Essa é a importância da vegetação secundária, sem esquecer, contudo,
que a selva amazônica é imensa e o seu desconhecimento ainda é quase total,
razão pela qual as surpresas poderão apresentar-se a cada passo, de modo a
confundir ou mesmo anular as primeiras esperanças de um sobrevivente ou de
um grupo operacional militar.
1.3.3 RELEVO
1.3.3.1 Em linhas gerais, o relevo brasileiro pode ser caracterizado pelo amplo
predomínio das superfícies planas/onduladas. Naturalmente, estas formas de
relevo estão situadas a alturas variáveis e possuem estruturas geológicas que as
diferenciam umas das outras. No território brasileiro, cerca de 5/8 são de terras
altas, isto é, planaltos, enquanto 3/8 são de planícies.
1.3.3.2 A grande Região Amazônica é caracterizada, do ponto de vista topográ-
fico e dentro da terminologia moderna, por um imenso baixo-platô, abrangendo
as áreas das terras firmes, por uma planície, englobando as áreas das terras
alagadiças de várzeas e pelas encostas de dois planaltos: o brasileiro ao sul e o
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guianense ao norte.
1.3.3.3 A planície prolonga-se para o oeste, ultrapassando o âmbito nacional até
atingir os sopés andinos. Desde sua penetração em fronteiras brasileiras, agora
vinda do Oeste, essa planície vai até o Atlântico com fraca declividade, uma vez
que a mais de mil quilômetros do litoral, em Tabatinga, a altitude é de apenas 65
metros.
1.3.3.4 A densa cobertura vegetal amazônica não permitiu, até hoje, que se tenha
noção exata do seu relevo. Entretanto, pode-se afirmar, com base nas observações
feitas, particularmente a militar, que no interior da selva, 500 m não são percor-
ridos, sem que se encontre uma subida ou uma descida, na maioria das vezes
íngremes. A impressão dada a quem se desloca através da selva é que o relevo
é totalmente ondulado (Fig 13). Somando-se a essa topografia as dificuldades
impostas pela vegetação e pelas condições climáticas, pode-se ter uma ideia de
como poderá ser penoso um deslocamento sob tais condições.
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Fig 14 - Igapó
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3) os lagos - reservatórios naturais que recebem o excesso das águas dos rios
durante as enchentes; e
4) os tesos - pequenas elevações não atingidas pelas águas das cheias.
1.3.3.5.3 Encosta guianense - a delimitação entre o baixo platô e as encostas
meridionais do sistema guianense é feita usualmente pelas primeiras corredeiras
que aparecem no leito dos afluentes do Amazonas-Solimões. Essas encostas
pertencem às duas grandes massas orográficas que constituem o sistema: serras
ocidentais e serras orientais, que são separadas pela depressão do Rio Branco
e que também servem de divisor de águas entre os rios que vertem para a bacia
Amazônica e os que correm para o litoral norte da América do Sul. A leste da
localidade de Cucuí, encontra-se o ponto culminante do BRASIL, o Pico da Ne-
blina, com mais de 3.000 m de altura. No estado de Roraima, a grande área que
constitui os campos situa-se em uma planície.
1.3.3.5.4 Encosta setentrional do planalto central brasileiro - o relevo sobe grada-
tivamente na direção do sul até chegar ao nível dos chapadões que constituem o
relevo típico do planalto central. As cotas de 500 m dão a essas encostas algum
vulto e são comuns. Os leitos dos rios sofrem desníveis que são responsáveis
pelas inúmeras cachoeiras encontradas nos tributários do Amazonas-Solimões,
como o Tapajós, o Xingu, o Madeira e outros. As massas orográficas são repre-
sentadas pela serra do Cachimbo, no sudoeste do Pará, pela Serra do Norte,
a noroeste de Mato Grosso e pelas chapadas dos Parecis e Pacaás Novos, as
quais penetram no Estado de Rondônia.
1.3.4 HIDROGRAFIA
1.3.4.1 Cursos de água
1.3.4.1.1 A bacia amazônica possui área que ultrapassa os 6 milhões de quilô-
metros quadrados, dos quais cerca de 70% encontram-se em solo brasileiro e os
restantes estão distribuídas por solos peruano, boliviano, equatoriano, colombiano,
venezuelano e guiano.
1.3.4.1.2 O Rio Amazonas é o representante principal da bacia amazônica. Os
tributários da margem sul são bem mais extensos que os da margem norte. Ela
interliga-se com a bacia do Orinoco, pelo canal Cassiquiare e há condições de
unir-se com as bacias do Madalena e do Prata, além de outras.
1.3.4.1.3 Na terminologia regional, alguns rios, em função da coloração de suas
águas, são conhecidos como rios brancos, rios negros e rios de águas claras:
a) os rios brancos (ou barrentos) transportam sedimentos em grande quantidade,
o que dá às águas um tom fracamente amarelado, consequente da existência da
argila em suspensão. Se chamados amarelos, haveria mais coerência. Outra das
características é a instabilidade dos leitos, decorrente da erosão das margens
que, na época das cheias, provoca o incidente das terras caídas, uma das fontes
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de material argiloso em suspensão nas águas.
- São rios deste tipo o próprio Amazonas, o Madeira, o Trombetas, o Purus, o
Branco e outros;
b) os rios negros, ou pretos, ou de águas pretas como também são chamados,
em compensação, justificam plenamente a denominação. As águas, em grande
massa, são realmente muito escuras, o que decorre da forte dissolução do ácido
provindo da decomposição da matéria orgânica vegetal (húmus) que recobre o
chão das florestas situadas nas planícies de inundação das margens e nas dos
afluentes. Típico exemplo é o Rio Negro.
- Fenômeno interessante é o chamado encontro das águas, nas proximidades
de Manaus, quando as águas brancas do Rio Solimões recebem as águas nedo
Rio NEGRO (Fig 15);
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1.3.4.1.4 Ainda de acordo com a terminologia regional, alguns elementos hídricos,
responsáveis pela diversificada drenagem na bacia, são conhecidos por Paraná,
Furo e Igarapé (Fig 16).
a) Paraná - é um extenso (largo e caudaloso) braço de um rio, como se formasse
uma grande ilha, isto é, sai e retorna ao mesmo rio, geralmente é navegável.
b) Furo - é um canal geralmente estreito que comunica um lago com um rio ou
que estabelece ligação entre dois rios. É digna de menção, pela sua grande área
geográfica, a extensa rede de furos existente a oeste da Ilha de Marajó, que
estabelece a comunicação entre os rios Amazonas e Pará, e na qual sobressai
o chamado furo de Breves, inclusive navegável.
c) Igarapé - é um estreito e sinuoso curso de água que se intromete sob a copa
das árvores das matas de várzea e que significa “caminho da água”, com essa
denominação também são conhecidos aqueles cursos de água que, pelo seu
porte relativamente menor, não merecem o designativo de rio, reservado na região
àqueles realmente grandes, corresponde ao ribeirão, do sul do Brasil.
1.3.4.2 Lagos
- Distinguem-se dois tipos principais de lagos amazônicos: os de várzea e os de
terra firme:
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1.3.4.2.1 Os lagos de várzea ocupam as depressões da planície aluvial, isto é,
as áreas ainda não preenchidas pelo limo das enchentes. São geralmente rasos,
alguns mesmo temporários, transformando-se em brejos na época da vazante.
As margens são baixas, planas e, às vezes, prestam-se a campos e pastagens.
- São bons pesqueiros, pois grande parte dos peixes, neles refugiados por ocasião
das cheias, não conseguem retornar aos rios de onde vieram. São, por excelência,
o habitat do Tucunaré e do Pirarucu.
1.3.4.2.2 os lagos de terra firme são as massas de água encontradas nas depres-
sões consequentes da erosão, nas terras altas. As margens são mais elevadas e
matosas e as praias são de areia branca. Neles vão desaguar geralmente vários
pequenos rios.
1.3.4.3 Pororoca
1.3.4.3.1 É um fenômeno peculiar na Região Amazônica, mas não exclusivo, pois
ocorre também na França, no Rio Sena (mascaret), e na Índia, no Rio Ganges
(bore). Tem lugar também nos rios que deságuam na costa amapaense e em
outros já no interior da bacia amazônica.
1.3.4.3.2 A denominação “pororoca” refere-se ao estrondeante e repetido ruído
que acompanha o fenômeno e que o aborígene batizou de “poroc-poroc” para
significar “arrebentar seguidamente”.
1.3.4.3.3 É um fenômeno de maré e não é restrito ao estuário do grande rio.
1.3.4.3.4 As consequências são, antes de tudo, destruidoras. São prejudiciais à
navegação, impossibilitando, inclusive, a precisão dos levantamentos hidrográ-
ficos, uma vez que acarretam modificações constantes no fundo dos rios onde
tem lugar o fenômeno.
1.3.5 CLIMATOLOGIA
1.3.5.1 Ventos e Massas Frias
1.3.5.1.1 Os ventos dominantes na região são os alísios de SE e NE, que se fa-
zem sentir mais na foz e no trecho inferior do baixo Amazonas. Penetrando pelo
NE carregados de umidade, os alísios são responsáveis pelas chuvas da região
litorânea guianense, atingindo o baixo Amazonas já transformados em ventos
secos e quentes.
- Vindos do SE, porém, eles agem no território brasileiro da Amazônia trocando
calor por umidade e chuva.
1.3.5.1.2 Na região da foz, durante parte do ano, sopra um vento N ou NE que
refresca o litoral belenense. No baixo Amazonas, com bom tempo, é comum
soprar de terra, perpendicularmente ao grande rio, um vento noturno que torna
agradável a temperatura.
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1.3.5.1.3 A penetração de massas frias faz-se no extremo oeste da planície, avan-
çando para o norte, entre os Andes e o maciço brasileiro, através da depressão
mato grossense e até o Alto Amazonas. Isso provoca, em casos excepcionais de
intensidade, o chamado fenômeno das friagens, que ultrapassa praticamente o
Equador, atingindo a Colômbia.
1.3.5.1.4 Essas massas frias atingem ainda a Amazônia a leste, e, na trajetória
marítima, vão juntar-se aos alísios de SE, que elas resfriam e saturam, indo,
em consequência, provocar grandes chuvas e trovoadas em todo o litoral norte-
-oriental até Belém.
- Se, entretanto, os alísios de SE resistem à invasão, as massas frias permane-
cem no sul.
1.3.5.2 Chuvas
1.3.5.2.1 A quantidade média anual de chuva apresenta na região um índice muito
elevado e sua distribuição geográfica está intimamente ligada à ação das massas
de ar, principalmente à equatorial continental, que ocupa grande parte do território
durante largo período do ano, provocando precipitações abundantes.
1.3.5.2.2 A pluviosidade média varia de 1.097mm (Barra do Corda, no MARA-
NHÃO) a 3.496 mm (alto vale do Rio Negro), igualmente elevado é o índice
apresentado em Clevelândia, no Amapá.
1.3.5.2.3 Resumidamente, existem dois núcleos chuvosos bem distintos: um em
que predomina a massa equatorial continental, que abrange quase a totalidade
dos Estados do Amazonas e de Rondônia, o “SW do Pará” e “N do Mato Grosso”;
e outro, na zona do litoral, abrangendo o Estado do Amapá, a Zona de Marajó
e ilhas, e o “L Paraense”, onde há predomínio da massa equatorial norte e das
calmarias, com chuvas quase diárias.
- Esses núcleos se separam por uma faixa de menor pluviosidade, que se estende
do Estado de Roraima aos campos do Pará, na direção geral NW - SE.
1.3.5.2.4 As consequências, além de outras, fazem-se sentir sobre as proteções
utilizadas pelo homem, à base de lonas impermeabilizadas, que após certo tempo
se tornam imprestáveis, aconselhando, em substituição, a utilização de plásticos,
inclusive para proteção de materiais e víveres.
1.3.5.2.5 Calçados de couro não resistem e deverão ser substituídos por outros
confeccionados com lona, solado de borracha e cordões de nylon.
1.3.5.2.6 O mofo e a ferrugem atacam, em pequeno espaço de tempo, qualquer
tipo de material, em contato com o solo permanentemente úmido. A própria na-
vegação apresenta problemas de transporte na fase de estiagem, pois o regime
dos rios depende, em grande parte, da pluviosidade.
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1.3.5.2.7 É fácil navegar nas enchentes e pode haver dificuldade, até mesmo
impossibilidade, nas estiagens, devido aos obstáculos que estão fixados no fundo
dos cursos de água.
1.3.5.2.8 O regime de chuvas na Bacia Amazônia é diferente nos afluentes da
margem esquerda e da margem direita, pois a margem esquerda é influenciada
pelo deslocamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e a margem
direita pela Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), ou seja, a precipitação
máxima nos afluentes da margem direita ocorre dois meses antes, em dezembro-
-janeiro-fevereiro, da precipitação máxima na calha principal, que ocorre em
fevereiro-março-abril e 6 meses mais cedo do que sobre os afluentes da margem
esquerda, em junho-julho-agosto.
1.3.5.2.9 Já a precipitação mínima nos afluentes da margem direita ocorre em
junho-julho-agosto. Seis meses mais cedo do que o mínimo no extremo norte dos
afluentes da margem esquerda, que é em janeiro-fevereiro-março.
1.3.5.2.10 Além da preocupação com o desmatamento e as queimadas na Ama-
zônia, tem-se os eventos extremos, os fenômenos meteorológicos, como o El
Niño, que provocam a seca e os incêndios florestais na maior parte da Amazônia.
1.3.5.3 Temperatura
1.3.5.3.1 A temperatura média na grande região é de 27º C e a variação da amplitu-
de é mínima, apesar da continentalidade, e se constitui, no caso, na característica
essencial do regime térmico.
1.3.5.3.2 A temperatura média diária varia no correr do ano do seguinte modo: no
verão ela cresce de 26,9º C a 31,0º C e no inverno varia entre 24,5º C a 29,4° C.
1.3.5.3.3 Aliás, a variação da temperatura, em geral, faz-se mais em função do
regime de chuvas do que das estações do ano, sendo o máximo térmico corres-
pondente ao mês de novembro (um dos de menor precipitação), no clima super
úmido do alto Amazonas e em Belém, e ao fim do período seco (variando de
agosto a dezembro), nas áreas de chuvas de verão-outono.
1.3.5.3.4 Mais para o sul, nas zonas de influência da massa equatorial atlântica,
a temperatura já sofre a influência da altitude acima referida, diminuindo os va-
lores térmicos à proporção que aumentam as cotas altimétricas em direção ao
planalto central.
1.3.5.3.5 O mês mais quente ocorre na primavera, variando de setembro a novem-
bro, sendo a média mais elevada a que corresponde ao mês de outubro, quando
já é grande o aquecimento e as chuvas que o reduzem ainda não são abundantes.
1.3.5.3.6 As médias mais baixas de temperatura ocorrem no inverno, no período
de junho a julho, em toda a Amazônia, exceção feita ao vale do grande rio, em que
o mês mais frio corresponde a fevereiro e o mais quente, no final da primavera,
coincidindo o decréscimo de temperatura com o máximo pluviométrico.
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verão. Na estação seca a estiagem é muito rigorosa, sendo pequena ou nula a
precipitação nos meses de junho ou julho.
3) A distribuição do número de dias do ano dá uma média de 16 dias de chuva
para cada um dos meses compreendidos entre outubro e março. Entretanto, no
limite leste da área abrangida pelo subtipo de clima ora apreciado, ou seja, no
Maranhão o regime de chuvas sofre ligeira modificação: as chuvas iniciam em
dezembro ou janeiro, atingindo o máximo no outono, sendo o mês de março o
mais chuvoso.
4) A umidade relativa oscila mensalmente, em virtude da estação seca muito
rigorosa. A média anual é inferior a 80%. É essa estação seca pronunciada, as-
sociada à variação da temperatura em função do relevo, a principal responsável
pelo aparecimento da cobertura florística de transição entre a floresta e os cer-
rados, nos estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, e entre a floresta e
os campos, em Roraima.
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CAPÍTULO II
CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS
2.1 INTRODUÇÃO
2.1.1 A capacidade de sobrevivência residirá, basicamente, numa atitude mental
adequada para enfrentar situações de emergência e na posse de estabilidade
emocional, a despeito de sofrimentos físicos decorrentes da fadiga, da fome, da
sede e de ferimentos, por vezes graves.
2.1.2 Se o indivíduo ou o grupo de indivíduos não estiver preparado psicologi-
camente para vencer todos os obstáculos e aceitar os piores reveses, as
possibilidades de sobreviver estarão sensivelmente reduzidas.
2.1.3 Em casos de operações militares, essa preparação avultará então de valor.
O conhecimento das técnicas e dos processos de sobrevivência constituirão em
requisitos essenciais na formação do indivíduo destinado a viver na selva, quer
em operações militares, quer por outra circunstância qualquer.
2.1.4 Conservar a saúde em bom estado será requisito de especial importância
quando alguém se encontrar em situação de só poder contar consigo mesmo
para se salvar ou para auxiliar um companheiro. Da saúde dependerão,
fundamentalmente, as condições físicas individuais.
2.1.5 Na selva saber defender-se contra o calor e o frio, saber encontrar água e
alimento, saber prestar os primeiros socorros, em proveito próprio ou alheio, serão
tarefas de grande importância para a preservação da saúde.
2.1.6 O ambiente da selva certamente agravará o estresse psicológico a que
já são submetidos os homens em combate, ou em sobrevivência, aumentando
a possibilidade de ocorrência de baixas psiquiátricas. Assim, é necessário um
acompanhamento mais cerrado aos que demonstrarem alguma característica
a fim de, com oportunidade, identificar e resolver casos dessa natureza. Uma
adequada preparação psicológica anterior deverá atenuar esse fator adverso e
desenvolver o autodomínio e o respeito à selva, de modo a torná-la uma aliada.
2.1.7 A perspectiva de combater e viver na selva ocasiona fortes tensões de medo
condicionado nos militares não familiarizados com o meio ambiente amazônico.
A aparência da selva, o seu aspecto monótono e ilusoriamente sempre igual, o
calor opressivo, a umidade e a depressiva sensação de solidão que qualquer
pessoa experimenta ao penetrar no seu interior agravam o já existente receio do
desconhecido.
2.1.8 O homem perdido na selva sofre violentas reações psicológicas, que
ultrapassam o medo e levam-no geralmente ao pânico.
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2.2 CONSERVAÇÃO DA SAÚDE
2.2.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO CALOR
2.2.1.1 Do conjunto de regras que se pode utilizar para a conservação da saúde,
algumas não poderão ser aplicadas na selva ou serão seguidas sofrendo as
injunções do momento, enquanto outras deverão ser observadas à risca sob
pena da sanção imediata. Assim, visando a sobreviver nas melhores condições
possíveis, cada indivíduo de per si ou grupos de indivíduos deverão observar as
seguintes regras:
2.2.1.2 Poupar forças
2.2.1.2.1 A fadiga em excesso deverá ser evitada. Quando se estiver realizando
algum trabalho que exija esforço físico ou um deslocamento através da selva,
deverá ser estabelecido um tempo para descanso; 10 ou 15 minutos para cada
hora de trabalho físico poderá, em princípio, ser uma base de partida. Nas horas
mais quentes do dia, o repouso deverá realizar-se nos locais mais cômodos que
se apresentarem no momento. Se possível, o homem aliviar-se-á de toda carga
que por ventura transportar e deverá deitar-se.
2.2.1.2.2 Durante os repousos maiores, mormente à noite, procurará dormir.
Mesmo que não consiga, a princípio, conciliar o sono, o simples ato de deitar e
relaxar os músculos e a mente causará efeitos recuperadores. Não permitir que
a aflição decorrente da situação por que se passa concorra para o desequilíbrio
emocional. Deve-se pensar com calma e pesar todas as possibilidades favoráveis.
O calor na selva equatorial é constante e implica, para o ser humano, em sudação
excessiva. Em consequência, se não houver a observância de repouso frequente,
a par de uma complementação abundante de água e sal, alguns efeitos poderão
advir em prejuízo do indivíduo.
2.2.1.2.3 Esses efeitos são:
a) Síncope - causada pelo calor e a perda da consciência quando o indivíduo
permanece por longo período exposto ao calor. A síncope ocorre devido a uma
diminuição da pressão arterial. O indivíduo deve ser conduzido a um ambiente
fresco, permanecer em repouso e ingerir líquidos, assim que possível. Em caso
de queda, é importante avaliar se houve alguma lesão, realizando os cuidados
necessários;
b) Exaustão - resultará da excessiva perda de água e de sal pelo organismo,
consequência da forte transpiração. Os sintomas são palidez, pele úmida, pegajosa
e fria, náuseas, tonteiras e desmaios. O socorro a ser prestado consistirá em fazer
com que o indivíduo se deite em área sombreada, mantendo-lhe os pés em plano
mais elevado que o resto do corpo e as roupas afrouxadas, dando-lhe de beber
água fria e salgada. Para isso, dissolver 2 tabletes de sal ou um quarto de colher
de chá, ou equivalente, de sal puro, em um cantil de água, na quantidade de 3
2-2
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a 5 cantis no espaço de 12 horas. A solução salina deverá ser ministrada aos
goles, a intervalos regulares (2 a 3 minutos entre cada gole ou ingestão), pois, se
tomada de vez, poderá ocasionar vômitos, estabelecendo-se um círculo vicioso:
vômitos – desidratação;
c) Câimbras - resultarão de um esforço físico continuado que implique em
demasiada sudação, sem que se tenha tomado uma quantidade suplementar de
sal preventivamente. Elas poderão atingir qualquer parte muscular do corpo, sendo
mais comuns nas pernas, nos braços e na parede abdominal. Frequentemente
haverá vômitos e enfraquecimento. O socorro será o mesmo indicado para a
exaustão, à base de ingestão de água salgada em grande quantidade;
d) Insolação e internação - os mecanismos de dissipação do calor não estão
funcionando. Aumenta a temperatura corporal e isto acarreta risco de vida para
o indivíduo se não for tratado com urgência. São situações graves, com alta taxa
de mortalidade, além da elevação da temperatura do corpo, normalmente leva à
inconsciência. Os sintomas são pele quente e seca, com ausência do suor, dor
de cabeça, náuseas, rosto congestionado e possíveis delírios. O mais simples e
importante objetivo no socorro é o abaixamento da temperatura do corpo, o mais
rapidamente possível. O melhor modo de consegui-lo é mergulhá-lo em um banho
de água fria, gelada inclusive, se possível. Caso contrário, o paciente deverá ser
mantido à sombra, com a roupa removida, derramando-se então bastante água
sobre ele. Este resfriamento deverá ser continuado, mesmo durante a evacuação.
Se consciente, o indivíduo deverá beber água fria, salgada (como nos casos
de exaustão ou câimbras). Se inconsciente, idêntico procedimento deverá ser
observado, tão logo volte a si;
e) desses efeitos fisiológicos do calor, os mais comuns são a exaustão e as
câimbras; a insolação e a intermação, apesar de mais perigosos, na selva
equatorial quase não se fazem sentir porquanto o corpo, normal e constantemente,
estará submetido a um processo de refrigeração, quer pelo próprio suor, quer
pela água das chuvas, quer ainda pela água dos igarapés, igapós ou chavascais.
f) será normal, pois, e mesmo agradável, o indivíduo permanecer, durante o dia,
com o corpo molhado. A par disso, a elevada umidade do ar concorre para a
proteção contra a insolação; e
g) para proteção contra esses efeitos, algumas regras deverão serem observadas.
Assim:
1) beber bastante água mesmo que não se sinta sede, uma vez constatado
o excesso de suor, deve-se beber água constantemente, para isso o cantil deve
ser regularmente recompletado;
2) aclimatar-se. Essa regra não terá aplicação para o indivíduo que de uma hora
para outra, por acidente, encontrar-se numa selva equatorial. Haveria, no caso,
uma aclimatação forçada, independente da vontade. O processo de aclimatação
2-3
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possui quatro características principais:
- começa no 1º dia e poderá estar bem desenvolvido no 4º;
- haverá um aumento na quantidade de suor, aumentando assim a perda
de sal;
- poderá ser acelerado com a realização de exercícios físicos; e
- as condições de aclimatação poderão ser retidas por cerca de uma ou duas
semanas após a saída da área afetada pelo calor;
3) usar sal em quantidade extra nos alimentos e na água;
4) não se alimentar em excesso;
5) vestir-se adequadamente - é uma regra difícil de ser seguida. Se o tecido
for leve, estará sujeito a ser rasgado pela vegetação e, se grosso, aumentará a
sudação, embaraçará os movimentos e criará sensação de desconforto. Se a
vestimenta proteger em demasia, dos pés à cabeça, dificultará a ventilação e, caso
contrário, facilitará o ataque dos animais miúdos (formigas, mosquitos e outros)
e os arranhões pela vegetação. Enfim, será, em última instância, um problema
a mais de adaptação;
6) trabalhar à sombra - regra fácil de seguir, pois a selva é sombreada;
7) compreender o calor - é uma regra para a mente, que trará benefícios
psicológicos com reflexos imediatos no corpo humano. O conhecimento dos
efeitos que o calor poderá produzir e dos processos para evitá-los ou, no mínimo,
atenuá-los, poderá salvar vidas e é de grande importância, em particular, para o
combatente de selva; e
8) o frio na selva equatorial, por estranho que pareça, também se faz sentir.
Não requer, entretanto, medidas especiais adotadas em regiões de clima frio. Na
Selva Amazônica há o fenômeno da friagem que atinge algumas áreas e, mesmo
em outras, onde ele não ocorre, são comuns as quedas de temperatura à noite.
Uma manta de lã proporcionará suficiente proteção. Efeitos tais como “pé de
trincheira” e congelamento de partes do corpo não terão oportunidade de ocorrer,
a não ser nas regiões andinas.
2.2.1.3 Precaver-se contra distúrbios mentais
2.2.1.3.1 A sensação de medo é normal em homens que se encontram em
situação de perigo. E perigo existe na selva. Entretanto, é bom lembrar que outros
já sentiram medo e, a despeito disso, conseguiram sair-se bem das dificuldades
e perigos.
2.2.1.3.2 A fadiga e o esgotamento resultantes de grandes privações poderão
muitas vezes conduzir a distúrbios mentais, manifestados sob as formas de
temores graves, cuidados excessivos, depressão ou superexcitamento. O melhor
modo de evitá-los será procurando dormir e descansar o máximo possível. Todavia,
2-4
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alguma atividade deverá ser mantida. Além disso, o bom humor será um tônico
real, pois é contagiante.
2.2.1.3.3 Maiores atenções deverão ser dedicadas àqueles que se encontrarem
física ou fisiologicamente doentes a fim de evitar o trauma emocional. Um mau
discernimento da situação, causado por distúrbio mental, poderá ser tão fatal
quanto um tiro do inimigo ou uma picada de serpente peçonhenta. Para quem
quer sobreviver, será fundamental evitar o pânico, e esse representará o pior
inimigo a vencer na selva.
2.2.2 OUTRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
2.2.2.1 Cuidar dos Pés
2.2.2.1.1 Na selva, em princípio, só será possível andar a pé. Longas caminhadas,
por terreno permanentemente ondulado, será a regra geral. Daí a importância
dos cuidados com os pés, os quais deverão ser mantidos limpos, lavando-os
e secando-os com a frequência possível. Entretanto, andar na selva com os
pés secos será praticamente impossível, pois o suor, a chuva e as águas dos
igarapés, igapós e chavascais não o permitirão, por isso, tais cuidados deverão
ser observados, particularmente durante as paradas para descanso prolongado.
2.2.2.1.2 As meias não deverão estar rasgadas nem cerzidas e o calçado deverá
estar sendo constantemente examinado; o uso de meias finas de algodão
é recomendável, pois elas absorvem a umidade, permitem a evaporação,
apresentam pouca deformação após secarem e, assim, protegem melhor os pés
do que as meias grossas de algodão, de lã ou de nylon.
2.2.2.1.3 Calos ou calosidades não deverão ser cortados, para evitar infecção.
2.2.2.1.4 Mantendo-se as unhas limpas e curtas, poder-se-á evitar a unha
encravada e a proliferação de microrganismos entre elas e a pele.
2.2.2.1.5 Caso haja atrito entre o calçado e a pele deverá ser aplicado esparadrapo
na parte afetada. Se houver formação de bolhas, estas deverão ser perfuradas
na base, com o máximo de desinfecção possível e protegendo-se depois o local
com esparadrapo ou gaze.
2.2.2.2 Proteger os olhos e os ouvidos
2.2.2.2.1 Os olhos estarão permanentemente sujeitos à ação de pequenos insetos
e de partículas diversas. A proteção ideal seria com o uso de óculos de um tipo
especial. Entretanto, a capacidade de ver seria um pouco afetada, o que não é
aconselhável na selva, onde é fundamental saber enxergar. Constituiria, por outro
lado, mais um incômodo e uma preocupação.
2.2.2.2.2 Os ouvidos estarão, do mesmo modo, sujeitos àquela mesma ação e
uma boa proteção para eles seria a colocação de algodão; porém, isto reduziria
a capacidade auditiva e, na selva, também é fundamental saber ouvir.
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2.2.2.2.3 Em consequência, para evitar que esses órgãos sejam afetados, o melhor
será manter-se atento, preventivamente, no interior da floresta. Será mais uma
preocupação, mas compensará.
2.2.2.3 Precaver-se contra infecções cutâneas
2.2.2.3.1 A epiderme constitui a primeira linha de defesa contra a infecção. Por
isso, qualquer arranhão, corte, picada de inseto ou queimadura, por menor e
mais inofensivo que pareça, merecerá cuidado, qualquer antisséptico deverá
ser aplicado preventivamente. As mãos não deverão tocar a parte afetada. Será
suficiente a aplicação do curativo individual se houver. Se não, o ferimento deverá
ser mantido protegido da melhor forma possível ou, em último caso, exposto
mesmo ao ar livre.
2.2.2.4 Conservar limpos o corpo, a roupa e o local de estacionamento
2.2.2.4.1 A limpeza do corpo é a principal defesa contra os germes infecciosos. As
unhas devem ser mantidas cortadas para evitar o desenvolvimento de parasitas
entre elas e a pele.
2.2.2.4.2 Um banho diário - hábito fácil de adquirir-se na selva - com sabão, ou
mesmo sem ele, dedicando-se especial atenção à higiene das partes dobradas e
pudendas, será ideal. Se esse banho não for possível, a limpeza na maior parte do
corpo deverá ser mantida, particularmente das mãos, rosto, axilas, virilhas e pés;
2.2.2.4.3 Após as refeições, dentes e boca deverão ser limpos;
2.2.2.4.4 As peças do vestuário, mantidas limpas, ajudarão a proteger contra
infecções cutâneas e parasitas. Em caso de dificuldade de lavá-las, deverão
elas, sempre que possível, ser sacudidas e expostas ao ar livre. O uso de cuecas
justas deve ser evitado, pois nas proximidades das virilhas e partes pudendas
poderá provocar assaduras pela umidade acumulada que favorecem a ação
de microrganismos. Esses procedimentos concorrerão para uma sensação de
conforto.
2.2.2.4.5 No caso de um grupo, será interessante que os indivíduos se inspecionem
mutuamente, corpo e roupa.
2.2.2.4.6 Um local de estacionamento na selva deverá ser naturalmente um lugar
limpo, no qual não haja acúmulo das águas das chuvas ou da presença de animais
e insetos. A manutenção desse estado será simples, bastando uma fossa para
lixo e outra para dejetos, suficientemente afastadas, sempre cobertas com terra
após o uso e distantes da fonte de água quando houver.
2.2.2.4.7 Essa fonte será, normalmente, um igarapé e para sua boa utilização
deverá ser dividido em seções: a montante, água para beber e cozinhar. A seguir,
água para banho, água para lavagem de roupa e, por fim, água para qualquer
outro uso, a jusante.
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2.2.2.5 Evitar doenças intestinais
2.2.2.5.1 Doenças intestinais são aquelas causadas por germes existentes nas
fezes e urina ou por alimentos contaminados. Normalmente os agentes causais
são eliminados do corpo pelas fezes e urina. Geralmente eles são transmitidos
por alimentos e água contaminada que, por sua vez, são levados pelas mãos
ou utensílios de rancho. As principais doenças intestinais são as disenterias
(amebiana e bacilar), a diarreia, a cólera, as intoxicações e infecções alimentares,
as infestações helmínticas (vermes) e as febres (tífica, paratífica e ondulante).
Para evitar essas doenças, deverão ser observadas as seguintes medidas:
a) Proteção e Purificação da Água - toda fonte de água deverá ser cuidadosamente
protegida da contaminação pelos detritos humanos ou animais, a qual poderá
ocorrer pela drenagem de superfície ou pela drenagem de subsolo.
1) As fossas ligadas às latrinas e às cozinhas deverão ser localizadas de modo
tal que a infiltração e a drenagem se processem afastadas e sem perigo para as
fontes de água. Normalmente o igarapé será a fonte mais comum e, nesse caso,
deverá ser dividido em seções, conforme exposto linhas atrás.
2) A purificação da água na selva raramente será feita como em outras áreas, a
não ser que o grupo esteja aparelhado com o material necessário e vá permanecer
por espaço de tempo relativamente longo em um estacionamento. Sempre que
possível, proceder-se-á a purificação de água do cantil que for obtida no interior
da selva, mesmo aquela colhida dos igarapés, pois esses também são fontes de
água para os animais que podem contaminá-los com fezes e urina. Além disso,
vegetais em decomposição nas margens e no leito de cursos de água e, ainda,
o uso humano a montante desses podem, também, contaminá-los.
3) Ainda assim, caso se deseje purificar essa água ou mesmo a proveniente
de outras fontes, deverão ser usados os comprimidos para esse fim destinados,
os de Hipoclorito (Halazone e outros a base de cloro), na dose de um ou dois por
cantil, esperando-se cerca de 30 minutos para, então, poder ser bebida. Outro
processo de purificação será o de ferver a água e depois fazer uma aeração. Um
minuto de ebulição e a passagem de um recipiente a outro, ao ar livre, serão o
suficiente. Não só a água para beber, mas também a utilizada em bochechos e
limpeza da boca (escovar os dentes) deverá ser purificada pela fervura ou pelo
comprimido de hipoclorito.
4) Deve ser evitada a utilização de água obtida em fontes paradas, pois este é
um ambiente propício ao desenvolvimento de amebas de vida livre que não são
combatidas pelos purificadores de hipoclorito distribuídos à tropa.
b) Inspeção e Proteção dos Alimentos
1) Todo alimento deverá sofrer inspeção, no que respeita à sua aptidão para
consumo. Esta inspeção deverá ser feita também nos gêneros que, após terem
permanecido guardados, venham a ser novamente utilizados. Quando guardados,
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2-10
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10) o reconhecimento do anofelino transmissor da malária poderá ser feito
observando-se que ele pousa com a parte posterior bastante mais elevada que
a anterior, formando com o plano de pouso um ângulo aproximado de 45º, e que
em suas asas existem manchas escuras (Fig 18 e 19). A doença é conhecida
também com os nomes de maleita, impaludismo e febre intermitente; e
11) atualmente, recomenda-se para região a vacinação antiamarílica, obriga-
tória contra febre amarela silvestre.
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2.2.2.6.4 Generalidades sobre as doenças transmitidas por parasitas:
a) a tularemia, a febre recorrente e os vários tipos de tifo constituem um grupo de
doenças transmitidas pelos piolhos, pulgas, percevejos e carrapatos;
b) diagnosticado o mal, o tratamento caberá ao médico. Preventivamente, o que
se poderá fazer, será procurar destruir esses vetores. Assim, os piolhos, que
transmitem o tifo epidêmico (ou exantemático), a febre das trincheiras e a febre
recorrente - e que pertencem a três espécies: piolho do corpo (principal respon-
sável pelas doenças), piolho da cabeça e piolho do púbis (chato) - deverão ser
evitados e destruídos, se for o caso, pela execução de um conjunto simples de
medidas que constituem o despiolhamento. Os homens tomarão banho com sa-
bão frequentemente. Quando necessário, rasparão os cabelos das várias partes
do corpo, além da utilização de pós inseticidas. Pentes finos deverão ser passa-
dos na cabeça. O pó inseticida também deverá ser usado nas roupas, particular-
mente nas costuras e dobras. Quando não se dispuser desses materiais, o que
será normal em sobrevivência, as medidas preventivas terão de se reduzir ao
banho e às inspeções para a cata do piolho, quer nos militares, quer nas roupas
ou equipamento;
c) as pulgas, vetores do tifo endêmico e da peste bubônica, têm por veículos o
rato e outros roedores de pequeno porte, e mesmo o cão e o gato. Portanto, a
primeira medida preventiva será a eliminação desses animais. Se algum for con-
siderado de estimação, deverá ser banhado frequentemente com água e sabão.
No caso dos ratos, eles poderão ser apanhados por meio de armadilhas. As
outras são semelhantes as do despiolhamento;
d) os carrapatos são responsáveis pelo chamado tifo de carrapato ou tifo exante-
mático, como também se denomina o mal. Sua destruição será difícil, se não im-
praticável, pois eles serão encontrados em grande número de animais silvestres,
tais como esquilos, coelhos, antas, gambás (mucuras), bem como nas áreas,
particularmente nas trilhas, onde vivem esses animais. A vistoria da roupa e do
corpo será o melhor modo de encontrar e destruir o carrapato. Caso ele já esteja
encravado na pele, deverá ser arrancado, para isso, usar uma pinça ou instru-
mentos que tenham as pontas mais finas possíveis, isso dará maior precisão ao
procedimento. Se o ferrão se separar do corpo, permanecendo na pele, para
extirpá-lo bastará que se retire com qualquer objeto pontiagudo, previamente
desinfetado; e
e) os percevejos poderão existir em quaisquer lugares em que possam viver em
íntima associação com o homem. Escondem-se em locais que lhes possam ofe-
recer proteção e disfarce; alimentam-se à noite e serão capazes de sobreviver
por seis meses sem alimento algum. São responsáveis por um tipo de febre re-
corrente. A fumigação e o uso de inseticidas líquidos, gasolina, querosene, água
fervente serão processos para destruir o parasito. Para a falta desses, restarão
as inspeções visuais.
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2.2.2.6.5 Doenças contagiosas - Muitas doenças, como a gripe comum, a tu-
berculose e a pneumonia são contraídas pelo contato com elementos enfermos
portadores dessas doenças. Deve-se, por isso, ter especial cuidado nos aglome-
rados humanos por onde se tenha de passar em busca da sobrevivência.
2.2.2.6.6 Doenças diversas
a) Existem, ainda, outras enfermidades encontradas na Região Amazônica, me-
recendo ser citadas: a lepra, a bouba, a pinta e a esquistossomose. Essa última
é transmitida por caracóis (caramujos encontrados nas águas).
b) Finalmente, apesar de não ser propriamente uma doença, o tétano é resultan-
te da contaminação de feridas e escoriações. A prevenção repousa no emprego
da vacina antitetânica. Os não vacinados, portanto, deverão ter bastante cuidado
com os ferimentos na pele, os quais, tão logo verificados, deverão ser desinfeta-
dos e mantidos higienicamente.
2.2.2.6.7 A Rabdomiólise - é uma síndrome clínico-laboratorial que decorre
da destruição de células musculares esqueléticas (miólise), com liberação de
substâncias intracelulares para a circulação sanguínea, o que pode provocar
danos em alguns órgãos do corpo, principalmente nos rins. Ela pode ser causada
por diferentes fatores, como consumo excessivo de álcool e traumas. Porém, no
meio militar, está mais relacionada com a atividade física intensa em condições
climáticas desfavoráveis. O assunto é tratado de maneira mais aprofundada nas
Normas para Procedimento Assistencial em Rabdomiólise no Âmbito do Exército
(EB30-N20.002), publicadas por meio da Portaria n° 325 - DGP, de 23 Dez 2019,
na Separata ao BE n° 01/2020, de 3 Jan 2020. Deve-se dar grande atenção a
essa síndrome, devido às peculiares do ambiente de selva, pois ela pode levar
ao óbito em casos graves.
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em condições de uso.
2.3.3. FERIMENTOS DE MODO GERAL
2.3.3.1 Os regionais recomendam os seguintes tratamentos, que devem ser
considerados alternativos e somente utilizados na carência de recursos mais
apropriados.
2.3.3.2 Aplicar:
a) cinza;
b) o picumã, que é a teia de aranha enegrecida pela fuligem;
c) o raspado, que é o limo das árvores;
d) a folha morna da Capeba;
e) óleo de Copaíba ou de Andiroba;
f) o sumo da casca do Matamatá; e
g) o pó da casca do Juá ou Juazeiro.
2.3.3.3 Lavar:
a) com chá da casca do cajueiro e aplicar óleo de Copaíba; e
b) com água de mangaba brava extraída da casca, torrar a casca, socá-la até
virar pó e aplicá-la no ferimento.
2.3.4 QUEIMADURAS
2.3.4.1 A vítima de queimadura também será considerada como uma vítima de
trauma. Portanto, o método XABCDE será utilizado. Nessa situação, o exame
e a permeabilidade da via aérea são de extrema importância, pois a vítima de
queimadura esteve em contato com o calor e isso pode causar edema da via aérea
superior, dificultando, ou até impedindo, a passagem de ar para os pulmões. A
via aérea deve ser reavaliada constantemente, pois uma via aérea pérvia pode,
em minutos, tornar-se obstruída.
2.3.4.2 Uma preocupação comum refere-se às queimaduras circunferenciais em
tórax. O tecido, quando queimado, endurece e contrai, dificultando a expansão
torácica na inspiração.
2.3.4.3 Em seguida, a vítima deverá ser despida e molhada com água em
temperatura ambiente. Adereços como joias, relógios e acessórios são retirados e
a inspeção das lesões é realizada. A retirada das roupas e dos objetos interrompe o
processo de queimadura, pois esses itens retêm calor. Além disso, anéis, alianças
e relógios funcionam como “torniquete” quando houver edema das extremidades.
2.3.4.4 As áreas queimadas devem ser cobertas com curativos estéreis, não
aderentes e bandagens. O paciente deve ser coberto com manta ou cobertor
2-15
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2-17
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- É importante saber que os torniquetes improvisados funcionam pior e têm mais
chances de falha do que os fabricados. Para fazer um torniquete improvisado, o
militar precisará de faixa de algum tipo para envolver em torno da extremidade.
2-18
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2.3.7 FRATURAS
2.3.7.1 Fratura é uma solução de continuidade no osso que pode ser completa
quando há a divisão do osso em duas ou mais partes, ou incompleta, quando há
uma fissura ou rachadura no osso. A fratura deve ser estabilizada, se possível, e
o membro deve ser imobilizado para o transporte.
2.3.7.2 Sinais de um Osso Fraturado
a) sensação dolorosa sobre a lesão, com intensificação de dor aos movimentos;
b) incapacidade de mover a parte afetada;
c) aspecto anormal (deformação) da região; e
d) intumescimento e descoloração da pele no local.
2.3.7.3 Uma fratura pode, ou não, apresentar todos esses sinais. Em caso de
dúvida, deve-se creditar ao ferido a vantagem da incerteza e tratar a lesão como
se fosse uma fratura.
2.3.7.4 Tipos de Fraturas
2.3.7.4.1 Fratura fechada: é a fratura de osso sem lesões na pele que o envolve.
2.3.7.4.2 Fratura exposta: o osso fraturado está exposto à contaminação através
de uma ruptura da pele. As fraturas expostas podem ser causadas por pontas de
ossos quebrados que rompem a pele ou por projéteis que atravessam o tecido
2-19
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e lesam os ossos.
2.3.7.5 Se houver probabilidade de fratura na vítima, esta deve ser manipulada
com o máximo cuidado para minimizar a dor e lesões secundárias. Além disso,
as extremidades fraturadas podem seccionar os músculos, vasos sanguíneos,
nervos e pele. Não se deve movimentar o ferido portador de fratura, a menos que
seja absolutamente necessário.
- Ao ferimento com fratura aplica-se o curativo do mesmo modo que nos outros
ferimentos e imobiliza-se o membro. Caso a hemorragia não cesse após a
realização do curativo, o torniquete deve ser colocado na raiz do membro.
2.3.7.6 Utilização de Talas
2.3.7.6.1 Todas as fraturas requerem colocação de talas. Os pacientes com fraturas
de ossos longos, ossos da bacia, coluna ou pescoço devem ser imobilizados no
próprio local, antes de iniciar qualquer transporte.
a) A correta aplicação das talas alivia grandemente a dor de uma fratura e,
frequentemente, evita ou reduz o perigo do choque.
b) A fixação dos fragmentos quebrados do osso, por meio de talas, evitará que as
agudas arestas do osso quebrado lesem vasos sanguíneos e nervos.
c) O adequado entalamento de uma fratura fechada evitará que ela se torne uma
fratura exposta, evitando a ocorrência de lesões subsequentes.
2.3.8 TORCEDURAS
2.3.8.1 Colocar as ataduras e manter em descanso a parte afetada. A aplicação
imediata de frio, no lugar afetado, poderá evitar a inchação.
2-21
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2.3.8.2 Após diminuir a inchação (entre 6 ou 8 horas), a aplicação de calor aliviará
a dor. Pôr a extremidade machucada em nível mais alto.
2.3.8.3 Se o uso do membro machucado for de todo necessário, imobilizar a
articulação afetada por meio de forte enfaixamento.
2.3.8.4 Não havendo ossos fraturados, poder-se-á fazer uso do membro afetado
até o limite permitido pela dor.
2-22
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CAPÍTULO III
ANIMAIS PEÇONHENTOS E VENENOSOS
3.1 PEÇONHA
3.1.1 GENERALIDADES
3.1.1.1 Introdução
3.1.1.1.1 Na selva existem inúmeros animais que poderão causar acidentes ao
homem, tais como serpentes, insetos, sapos ou mesmo peixes, como arraias,
bagres, dentre outros.
3.1.1.1.2 Caso o indivíduo não esteja capacitado para evitá-los a fim de debelar
os malefícios que poderão decorrer da sua peçonha, ou do seu veneno, ou mesmo
para realizar os procedimentos de primeiros socorros, podem levar à morte do
militar em operações de selva.
3.1.1.2 Animal Peçonhento
3.1.1.2.1 É aquele que pode inocular substâncias tóxicas, produzidas por glândulas
especializadas do corpo, com o fim especial de serem utilizadas como arma de
caça ou de defesa.
3.1.1.2.2 Possuem órgãos especiais para a sua inoculação, como dentes,
aguilhões e espinhos.
3.1.1.2.3 Portanto, para que haja uma vítima, é necessário que a peçonha seja
introduzida por este órgão especializado, dentro do organismo da vítima.
3.1.1.3 Animal Venenoso
3.1.1.3.1 É aquele que, para produzir efeitos prejudiciais ou letais, ministra suas
secreções passivamente, normalmente através da pele, quando tocado, ou por
meio da ingestão involuntária dessas substâncias.
3.1.1.3.2 Todos os sapos, sem exceção são venenosos.
3.1.1.3.3 Como exemplo, citam-se o sapo Cururu (Fig 26), sapos Flecha da
Amazônia (Fig 27) e o peixe Baiacu.
3-1
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Fig 26 - Sapo Cururu
3-2
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3.1.2 FUNÇÃO DA PEÇONHA
- Possui uma dupla ação: paralisante e digestiva. Em virtude da reduzida
mobilidade das serpentes, principalmente de serpentes filhotes, estes animais
necessitam de um meio para deter os movimentos da sua vítima, de modo a poder
ingeri-la. Daí a função paralisante da peçonha. A digestão nos ofídios, como nos
demais animais, faz-se por decomposição dos alimentos que é facilitada pela
inoculação da peçonha, rica em enzimas para degradação de proteínas, anterior
à ingestão da vítima.
3.1.3 AÇÃO PATOGÊNICA DA PEÇONHA
- Vários fatores interferem na ação patogênica da peçonha. E sua combinação
redundará em uma maior ou menor letalidade nas vítimas.
a) Local da Picada
1) No caso dos gêneros Crotalus (cascavel - não ocorre na região de Manaus)
e Micrurus (coral), cujas peçonhas têm ação neurotóxica, quanto mais próxima
dos centros nervosos a picada, maior a gravidade para a vítima.
2) E, também, no caso da picada de qualquer ofídio peçonhento, se a região
atingida for muito vascularizada, maior será a velocidade de absorção e os efeitos
serão mais precoces.
b) Agressividade - a Surucucu-Pico-de-Jaca e a Urutu, em razão do grande porte,
possuem a glândula da peçonha também avantajada e são as mais agressivas,
trazendo maior perigo para a vítima.
c) Quantidade inoculada – é de acordo com o intervalo entre uma picada e outra,
sendo que a quantidade inoculada sempre é superior na primeira picada, haja
vista as glândulas levarem em média 15 dias para se completarem.
d) Toxidez da peçonha
1) As serpentes mais venenosas são os elapídios (corais), que possuem veneno
letal neurotóxico.
2) A peçonha crotálica (cascavel) é mais tóxica do que a botrópica (jararacas).
e) Receptividade do animal ou ser humano picado - a receptividade à peçonha
ofídica depende do animal haver sido picado anteriormente, desenvolvendo
imunidade, ou não.
1) Estudos recentes comprovaram que o gambá não é exceção à regra, existindo
dúvidas com relação ao urubu.
2) Contudo, os animais que foram tratados com soro antiofídico ao receberem
nova dosagem possuem maior probabilidade de apresentar uma reação anafilática,
que pode levar ao choque, pois o organismo conta com uma memória imunológica
contra a proteína equina contida no medicamento.
3-3
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f) Peso do Animal ou ser humano picado - a gravidade do caso será proporcional
a uma maior ou menor diluição da peçonha no sangue. Quanto maior o animal,
mais diluída estará a peçonha e menos grave será a sua ação.
3.2 OFÍDIOS
3.2.1 GENERALIDADES
- Entre os animais peçonhentos, são os ofídios aqueles que mais chamam
a atenção, seja pelas dimensões avantajadas que podem alcançar, ou pela
quantidade de peçonha que podem inocular e, consequentemente, pelo grande
número de acidentes fatais que a picada pode motivar.
3.2.2 CLASSIFICAÇÃO
3.2.2.1 Taxonomia Animal - no BRASIL, são classificadas como principais as
seguintes famílias e gêneros ofídicos, sendo os ofídios das famílias Viperideae
e Elapidae peçonhentos.
3.2.2.2 Disposição Dentária (Fig 28) - Os ofídios podem ainda ser classificados
quanto o tipo de dentição, cujo conhecimento é importante, porquanto permite
reconhecer se o animal é, ou não, peçonhento. As características são:
a) Áglifas - todos os seus dentes são iguais, inclusive os maxilares, maciços e
retrógrados, servindo para auxiliar a impelir a presa para trás. São consideradas
não peçonhentas. Exemplo: família BOIDAE (jiboias, sucuris e aramboias).
b) Opistóglifas – possuem dois pares de dentes na região posterior da arcada
dentária superior, com sulcos por onde escorre o veneno.
- Apesar do aparelho inoculador ser mais aperfeiçoado que nas áglifas, sua
localização e ranhura não muito perfeita dificultam a inoculação e favorecem a
dispersão da peçonha. A mordida pode ter consequências leves a moderadas,
como febre e inchaço local, ou graves, como morte em crianças. Exemplo: cobra-
papagaio, falsa corais.
3-4
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c) Proteróglifas – as cobras proteróglifas possuem duas presas pequenas na
região anterior do maxilar superior, sulcadas e imóveis. No Brasil, esse é um tipo
de dentição exclusivo das Cobras-Corais dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus,
que produzem veneno neurotóxico capaz de causar morte em humanos. No caso
de corais verdadeiras, possuem o veneno mais letal entre as serpentes brasileiras,
o número de acidentes com esses animais é baixo, pois não dão bote, somente
ocorre acidentes em caso de alguém tentar tocá-las ou mesmo pisar no animal.
d) Solenóglifas
- As cobras solenóglifas possuem presas grandes, localizadas na região anterior
da boca, que se deslocam pela movimentação do osso maxilar durante um bote.
- Com a boca fechada, as presas ficam retraídas. No interior dessas presas
existe um canal, como uma agulha de injeção, por onde o veneno é escoado.
- Essas presas são encontradas em cobras da família Viperidae (Jararaca-
Bothrops atrox, e pela Surucucu-Pico-de-Jaca- Lachesis muta.
- No caso da Jararaca, 80% dos acidentes na Amazônia são de causados por
essas espécies; e
- já a Surucu, somente 10% dos acidentes registrados, este é um animal muito
agressivo e com bote muito preciso, mais facilmente encontrada em mata fechada.
3-5
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OBSERVAÇÃO: toda solenóglifa é peçonhenta. Geralmente em bote em humanos,
o animal pode perder a dentição e no local da picada pode conter somente um
furo, como se fosse perfuração por espinho.
3.2.3 CARACTERÍSTICAS
3.2.3.1 Órgãos Sensoriais
a) Visão - ao contrário da sabedoria popular, os ofídios têm boa visão, exceto,
quando trocam a pele. Porém a posição relativa, normalmente próxima ao solo,
reduz o campo visual.
b) Olfato - é utilizado pelos ofídios para perseguir as presas e para a reprodução,
à procura do par para o acasalamento. Utiliza a língua para captação de odores.
c) Detectores térmicos
- Em alguns ofídios são identificados certos detectores térmicos, denominados
escamas supralabiais, na Família Boidae; e
- Fossetas loreais, na Família Viperidae, servindo ainda para captar vibrações do
ar.
3.2.3.2 Movimentos
- Os ofídios podem realizar os seguintes movimentos:
a) deslizar (reptar);
b) projetar-se sobre a presa (bote);
c) saltar;
d) escalar alturas em planos inclinados ou verticais;
e) mergulhar tanto na água como na areia; e
f) nadar.
3.2.3.3 Vivenda
- Os ofídios podem ter hábitos:
a) subterrâneos. Exemplo: Micrurus (corais);
b) terrestres. Exemplo: Crotalus (cascavel);
c) aquáticos. Exemplo: serpentes marinhas;
d) arborícolas. Exemplos: Sucururu-de-Patioba e Jiboia; e
e) terrestres. Aquáticos e arborícolas, exemplo: Sucuri.
3-6
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3.2.3.4 Presença dos Ofídios
3.2.3.4.1 Na selva as serpentes não são encontradas tão facilmente, como
popularmente se admite.
3.2.3.4.2 Cumpre lembrar que elas surgem em maior número numa determinada
área, em decorrência do aparecimento do próprio homem que, após instalado,
trata de prover a subsistência mediante o cultivo do milho, da macaxeira, da
batata doce, etc.
3.2.3.4.3 A existência de alimentos atrai os roedores, como cutias, mucuras,
cutiaras e pacas que, por sua vez, atrairão os ofídios. Daí, a incidência maior
destes nos campos e cerrados.
3.2.4 DIFERENCIAÇÃO (Fig 29)
3.2.4.1 Não Peçonhentos:
a) cabeça estreita, alongada, coberta por placas;
b) olhos grandes com pupilas redondas;
c) corpo coberto por escamas achatadas e lisas;
d) cauda longa, afinando gradual e lentamente;
e) quando perseguidos, fogem;
f) movimentos rápidos;
g) hábitos diversos; e
h) ovíparos (põem ovos).
3.2.4.2 Peçonhentos:
a) cabeça triangular, bem destacada do corpo e coberta por escamas, à
semelhança do corpo;
b) olhos pequenos, com pupilas em fenda vertical;
c) existência de fosseta loreal entre os olhos e as narinas;
d) escamas ásperas, em forma de quilha (carinadas);
e) cauda curta, afinando bruscamente;
f) hábitos noturnos;
g) movimentos lentos;
h) quando instigados, tomam posição de ataque; e
i) ovovivíparos - os ovos são incubados no interior do organismo materno e,
posteriormente, os filhotes são expelidos vivos.
3-7
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3.2.4.3 Essas características são regras a serem observadas, contudo, jamais
poderão representar a certeza de ser um ofídio peçonhento, ou não, principalmente
no caso do Gênero Micrurus (corais), que foge totalmente a tais regras, e das
jiboias e sucuris que possuem várias características de peçonhentas e não o são.
3.2.5 FAMÍLIA VIPERIDAE
3.2.5.1 Gênero Crotalus - Compreende várias espécies de CASCAVÉIS, entre
elas, a Crotalus durissus terrificus e a Crotalus terrificus terrificus (Fig 30).
3-8
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a) Características:
1) cabeça triangular coberta por escamas;
2) possui fosseta loreal;
3) presença do chocalho (guizo) na extremidade da cauda;
4) desenhos em forma de losangos marrom-escuros com frisos amarelo-pálidos,
ao longo da coluna vertebral;
5) solenóglifas; e
6) hábitos diuturnos.
Fig 30 - Cascavel
b) Habitat
1) Vive em lugares secos e arenosos, não há grande ocorrência na região
Norte, como no Nordeste e Sul e Sudeste do Brasil.
2) Entretanto, sabe-se que a presença de serpentes numa área é consequência
da própria presença do homem, nos campos dos estados de Roraima, de
3-9
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Rondônia, Pará e do Sul do Amazonas (Região de Humaitá), já foram identificadas
cascavéis.
c) Ação da peçonha - todos os sintomas serão sempre proporcionais ao grau de
empeçonhamento:
1) a peçonha crotálica é hemolítica (destrói os glóbulos vermelhos), neurotóxica
e miotóxica;
2) dor local pouco frequente e geralmente fraca, a não ser que a picada tenha
atingido uma região muito sensível, como a extremidade dos dedos;
3) a região fica normal ou com pequeno aumento de volume, sem formação
de edema, com a sensação de adormecimento (parestesia);
4) dores musculares generalizadas ou localizadas na nuca;
5) perturbações na visão: obnubilação seguida de ptose palpebral (queda da
pálpebra), a qual determinará a gravidade do caso e que regredirá, gradualmente,
até 10 dias após a picada;
6) a ação hemolítica faz-se sentir gradativamente, podendo acarretar a morte
após um período de anúria (diminuição ou supressão da secreção urinária), que
será decorrente do acúmulo de substâncias tóxicas no organismo, pela destruição
do parênquima renal;
7) raramente ocorre hipotensão ou hipertermia; e
8) 4 a 6 horas após a picada, já existe grande quantidade de peçonha no sangue.
3.2.5.2 Gênero Bothrops - Compreende todas às espécies e variedades de
serpentes, vulgarmente englobadas sob a denominação de JARARACAS (Fig 31).
a) Características:
1) cabeça de forma triangular bem acentuada, sendo em algumas quase
biogival, coberta de escamas;
2) presença de fosseta loreal;
3) desenhos de forma e cores variadas;
4) solenóglifas, com dentição muito proeminente; e
5) hábitos noturnos.
b) Habitat
1) As serpentes deste gênero não vivem em lugares específicos, mas a maioria
é encontrada em locais úmidos e alagadiços. Dentre as Bothrops mais comuns,
citam-se as seguintes espécies que existem na Amazônia, de acordo com seus
habitats:
3-10
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(a) Bothrops jararaca - não vive em lugares específicos;
Fig 31 - Jararaca
Fig 32 - Caiçaca
3-11
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(c) Bothrops moonjeni - vive na selva, em locais úmidos. Nome popular:
Surucucu-de-Facão.
2) Acompanhando a migração (e a expansão agrícola) que vem ocorrendo na
direção Sul-Norte, nos estados do Mato Grosso, de Rondônia, do Tocantins e ao
sul do Estado do Pará existem relatos da presença das espécies abaixo:
(a) Bothrops jararacuçu (Fig 33) - vive nas proximidades de água e em
lugares úmidos;
Fig 33 - Jararacuçu
3-12
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4) a ação coagulante é quase imediata e local;
5) com a ação da peçonha na circulação, lentamente, destruindo a fibrina, o
sangue torna-se incoagulável, daí o aparecimento de hemorragias (epistaxe,
hematúria, gastrorragia, melena);
6) a ação de necrose dá-se por destruição das proteínas dos tecidos da área
picada;
7) a coagulação impede a peçonha de circular rapidamente, agravando a
necrose;
8) dificilmente há aparecimento de fenômenos gerais no organismo; e
9) aparecimento de febre quando a lesão local for intensa.
Fig 34 - Urutu
3-13
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3-14
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5) com a ação da peçonha na circulação, lentamente, destruindo a
fibrina, o sangue torna-se incoagulável, então ocorre o aparecimento de
hemorragias (epistaxe, hematúria, gastrorragia, melena);
6) a ação de necrose dá-se por destruição das proteínas dos tecidos da área
picada;
7) a coagulação impede a peçonha de circular rapidamente, agravando a
necrose;
8) dificilmente há aparecimento de fenômenos gerais no organismo; e
9) aparecimento de febre quando a lesão local for intensa.
3.2.5.4 Gênero Lachesis - compreende duas subespécies: Lachesis muta muta
e Lachesis muta noctivoga. A primeira é mais comum na Amazônia Brasileira e
é conhecida como Surucucu-Pico-de-Jaca (Fig 36), a segunda é encontrada na
parte mais ocidental com maior incidência no Peru e no Equador.
Fig 36 - Surucucu-pico-de-jaca
a) Características:
1) cabeça triangular, coberta por escamas, possuindo fosseta loreal;
2) desenhos em forma de losangos irregulares pretos sobre fundo amarelo;
3) solenóglifas;
3-15
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4) hábitos noturnos;
5) muito agressivas, podendo picar a vítima mais de uma vez, ou fazer mais
de uma vítima;
6) escamas bem proeminentes, assemelhando-se a picos de jaca;
7) atingem porte bastante avantajado, já tendo sido encontrados exemplares
de 4 metros; e
8) quando se projeta sobre a presa, o bote pode atingir 50% do comprimento
do corpo, as demais serpentes atingem apenas 30%.
b) Habitat - vivem nas partes altas da selva, em tocas de tatu e ocos de pau,
enrodilhadas atrás de árvores caídas e embaixo de montes de palha, pois são
tanto arborícolas como terrestres.
c) Ação da Peçonha:
1) a peçonha é altamente concentrada e seu efeito é um misto da Crotalus e
da Bothrops, isto é, hemolítico, neurotóxico e proteolítico (capaz de decompor
os proteídeos);
2) dor local mais ou menos intensa;
3) edema local que vai aumentando e se cianosando, tendendo para a necrose;
4) perturbação da visão, com imagens turvas ou duplas;
5) queda da pálpebra (ptose palpebral); e
6) poderá haver uremia aguda)
3.2.6 FAMÍLIA ELAPIDAE
3.2.6.1 A família elapidae é constituída pelas serpentes pertencentes ao Gênero
Micrurus que fogem totalmente das características normais das peçonhentas.
Fazem parte deste Gênero todas as corais (Fig 37), tanto as peçonhentas ou
corais verdadeiras (peçonhentas) e algumas falsas corais (não peçonhentas).
Algumas falsas corais podem não pertencer ao gênero micrurus.
3.2.6.2 Devido à grande dificuldade em estabelecer uma diferenciação entre elas
devemos considerar toda coral peçonhenta.
a) Características:
1) cabeça não triangular, coberta por placas, praticamente não se destacando
do corpo;
2) não possuem fosseta loreal;
3) desenhos em cores amarela, vermelha, preta, branca e azul nem sempre
em anéis completos;
3-16
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4) podem ser opistóglifas e proteróglifas;
5) pupila redonda;
6) não picam, elas mordem; e
7) hábitos noturnos.
3-17
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3) sensação de dormência, que progride gradativamente pelo membro atingido,
pelo tronco, até atingir as terminações nervosas;
4) há uma sensação de constrição na faringe, com salivação abundante e
espessa;
5) dificuldade respiratória;
6) já as perturbações visuais são as mesmas que as do empeçonhamento crotálico;
7) pressão, pulso e temperatura normais; e
8) a morte pode ocorrer em poucas horas por asfixia, devido à paralisação do
diafragma e músculos do tórax.
3.2.7 FAMÍLIA BOIDAE
3.2.7.1 Compreende vários gêneros, com inúmeras variedades, onde as dimensões
variam de 50 centímetros até 12,5 metros.
- Nenhuma é peçonhenta, mas se movimentam com agilidade, sendo o bote
rapidíssimo e já preparado para enrodilhar e constringir a vítima. Não possuindo
peçonha, matam por constrição, realizada pela musculatura extraordinariamente
desenvolvida.
3.2.7.2 Em consequência das variedades que comporta a Família Boidae, também
são diversas as vivendas da mesma, sendo algumas aquáticas, arborícolas ou
mesmo, simultaneamente, aquáticas e terrestres ou terrestres e arborícolas.
Fig 38 - Sucuri
3-18
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a) Gênero Eunects (Fig 38) - as serpentes deste gênero são conhecidas como
sucuris e apresentam as seguintes características:
1) possuem escamas supralabiais;
2) manchas arredondadas, bem nítidas, dispostas em duas fileiras sobre a
coluna vertebral;
3) vida semiaquática;
4) procuram suas vítimas à margem de cursos de água;
5) bote rapidíssimo;
6) musculatura poderosa; e
7) podem atingir 12,50 m de comprimento.
b) Gênero Boa - Conhecida como Jiboia (Fig 14), pode atingir até 4 metros de
comprimento.
- Quando irritada, emite prolongado silvo.
- Possui musculatura com grande poder de constrição.
- A vivenda pode tanto ser arborícola como terrestre ou mesmo aquática.
Fig 39 - Jiboia
c) Coralus caninus - exemplo: cobra-papagaio (Fig 40), que tem vivenda arborícola
e só é encontrada no norte do BRASIL.
3-19
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- Na Amazônia é tida como peçonhenta pelo nativo, apesar de não ser, por
parecer com a Surucucu-de- Patioba.
Fig 41 - Caninana
3-20
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3.2.7 FAMÍLIA COLUBRIDAE
3.2.7.1 Philodryas sp - A este gênero pertence a cobra-cipó ou parelheira (Fig 42).
Fig 42 - Cobra-cipó
3-21
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3-22
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3-23
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h) Pode ser administrada água ao vitimado.
i) Simultaneamente ao atendimento deve ser procurado, por outros elementos,
identificar e, se possível, capturar o ofídio causador do acidente conduzindo-o à
equipe médica que realizará o tratamento.
j) Havendo a possibilidade de evacuar, em até seis horas, o indivíduo acidentado
até um local onde possa receber tratamento médico especializado, isto deverá
ser feito de imediato.
k) Não havendo condições de evacuar o acidentado até um centro médico no prazo
de seis horas, ele deverá continuar bebendo água. Caso não haja a expectativa de
resgaste ou evacuação em menos de 12 horas e não tenha náuseas ou vômitos,
o indivíduo poderá consumir alimentos leves, visando fortalecê-lo.
l) Se o vitimado sentir fortes dores, poderá receber analgésico: Dipirona por via
oral, intramuscular ou endovenosa, em ordem crescente de gravidade, ou Tylenol
(Paracetamol) por via oral.
ATENÇÃO
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3.3.1.3 A picada da aranha marrom provoca menos acidentes, por ser pouco
agressiva. Na hora da picada a dor é fraca e despercebida, após 12 a 24 horas
podem surgir dor local com inchaço, náuseas, mal estar geral, manchas, bolhas
e até morte das células (necrose) no local picado. Nos casos graves, a urina fica
de cor marrom escura. Deve-se procurar atendimento médico para avaliação.
3.3.1.4 A picada da Tarântula (aranha que vive em gramados ou jardins) pode
provocar pequena dor local e necrose. Utilizam-se analgésicos para alívio da
dor e não há tratamento com soro específico, assim como para as picadas de
caranguejeiras.
3.3.2 CARACTERÍSTICAS
a) Frequência - o maior número de acidentes ocorre nos meses frios durante
as horas quentes do dia, e 50% dentro das habitações, sendo 63% dos casos
atribuídos à Phoneutria fera e 9% à Lycosa.
b) Hábitos - as aranhas peçonhentas, em geral, não vivem em teias, e quando as
fazem, são irregulares e não em forma geométrica. Constituem exemplos mais
comuns:
1) Armadeira (Phoneutria fera - Fig 45) - encontrada em montes de telhas, tijolos
ou tábuas velhas. São agressivas. Os machos possuem menores dimensões.
Fig 45 - Armadeira
3-25
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2) Tarântula (Lycosa - Fig 46) - aranhas encontradas em jardins, debaixo de
paus podres, pedras ou capim alto e que picam ao serem tocadas.
Fig 46 - Tarântula
Fig 47 - Viúva-Negra
3-26
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4) Caranguejeira (Eurypelma) (Fig 48) - Aranha cabeluda encontrada nas regiões
tropicais. Atinge até 25 cm de comprimento.
- Alimenta-se de lagartixas e rãs e sua picada produz dor local que pode
perdurar por 48 horas, além de sintomas nervosos.
Fig 48 - Caranguejeira
3.3.3 AÇÃO DA PEÇONHA
3.3.3.1 A ação da peçonha das Lycosas (Tarântulas) é proteolítica. A dor no local
da picada praticamente não existe, mas causa necrose da pele (ação dermotóxica)
em cerca de 30% dos casos. As Lycosas são as menos perigosas.
3.3.3.2 A peçonha dos demais aracnídeos mencionados tem uma ação neurotóxica,
atuando sobre os centros nervosos.
3.3.3.3 No local da picada, os aracnídeos deixam como vestígio um sinal puntiforme
ou uma erosão epidérmica.
3.3.3.4 Dificilmente fazem vítimas fatais e, no caso, somente em indivíduos em más
condições físicas, em crianças, ou ainda em pessoas de pequena massa corporal.
- Entre 24 e 48 horas após a picada ou a aplicação da terapêutica analgésica, os
sintomas desaparecem.
3.3.4 PRIMEIROS SOCORROS
3.3.4.1 A exemplo do tratamento com ofídios, a aplicação de soros antictênicos
só poderá ser administrada por uma equipe de saúde, pois as complicações que
podem advir são potencialmente mais fatais que a picada das aranhas.
3-27
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3.3.4.2 A dor, que é o principal sintoma, deve ser combatida energicamente com
analgésicos e sedativos.
3.3.4.3 Os anti-histamínicos são indicados na proporção de uma ampola (50 mg)
de Prometazina (Fenergan) para reduzir os efeitos da picada.
3.3.4.4 Quando houver necrose e infecção, sintomas muito raros, poderão ser
administrados antibióticos sob prescrição médica.
3.3.4.5 Compressas quentes devem ser utilizadas, visando reduzir a dor e a
inflamação local.
3.3.4.6 Sempre que possível, o acidentado deverá ser evacuado e conduzido a
um centro médico a fim de receber o tratamento indicado.
3.4 ESCORPIÕES
3.4.1 GENERALIDADES
- Há cerca de 150 espécies de escorpiões no Brasil. Dentre elas as mais comuns
são o Tityus serrulatus, no Sul, o Tityus bahiensis, no Centro Sul e o Tityus
cambridgei, na AMAZÔNIA e NE.
3.4.2 CARACTERÍSTICAS
3.4.2.1 O maior número de acidentes ocorre nos meses quentes e 70% dos casos
devem-se ao Tityus bahiensis, também chamado de escorpião preto.
- O Tityus cambridgei (Fig 49) também preto, porém de porte menor, é o único
encontrado na Amazônia e o acidente que provoca é de menor intensidade que
o Tityus serrulatus.
3.5 FORMIGAS
3.5.1 GENERALIDADES
3.5.1.1 As formigas (Fig 50) são insetos sociais pertencentes à ordem Hymenoptera
(do grego hymen = membrana e pteron = asa). Algumas espécies são portadoras
de um aguilhão abdominal ligado a glândulas de veneno. A picada pode ser muito
dolorosa e pode provocar complicações tais como anafilaxia, necrose e infecção
secundária.
3.5.2 CARACTERÍSTICAS
3.5.2.1 Formiga Tucandeira - A subfamília Ponerinae inclui a formiga tocandira
(Paraponera clavata) ou tucandeira, como é conhecida na Amazônia. Essa
formiga é capaz de atingir 3 cm de comprimento e é encontrada nas regiões Norte
e Centro-Oeste, principalmente na região Amazônica. Sua picada é extremamente
dolorosa e pode provocar inchaço e manchas vermelhas no local, ocasionalmente
acompanhada de fenômenos sistêmicos (calafrios, sudorese, taquicardia).
3.5.2.1.1 Também é conhecida como formiga-bala, por ter uma picada
consideravelmente forte, causando dor semelhante à dor de quem é baleado,
por isso, o apelido de “formiga-bala”.
3-29
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3.5.2.1.2 O veneno da tocandira é composto pela neutrotoxina poneratoxina, que
afeta rapidamente as terminações nervosas, provocando tremores, náuseas,
vômito, além de uma dor excruciante. Estima-se que a dor provocada pela picada
dure entre 12h e 24h ininterruptamente.
Fig 51 - Formigas comuns na região amazônica: (A) formiga tucandeira, (B) formiga de correição
(C) formiga de fogo, (D) formiga saúva
3-32
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3.6.2 TRATAMENTO
3.6.2.1 O tratamento em geral consiste em retirar o “ferrão” com uma agulha
esterilizada, incidindo na base daquele, projetando-o para cima.
3.6.2.2 Não deve ser pressionado o “ferrão” para evitar a inoculação adicional de
veneno no organismo do indivíduo.
3.6.2.3 Para atenuar os sintomas locais podem ser administrados analgésicos e
anti-histamínicos na proporção de uma ampola (50 mg) de Prometazina (Fener-
gan) por indivíduo.
3.6.2.5 O acidentado deverá ser acompanhado periodicamente para verificar a
evolução do quadro clínico.
3-33
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3.7.3 Possuem glândulas com produtos alcaloides que, em contato com outro
ser vivo, secretam (liberam) o veneno que tem penetração ativa sobre a pele, as
mucosas e afetam o sistema nervoso do predador, levando-o à morte.
3.7.4 Alimentam-se de pequenos animais peçonhentos, especialmente da formiga
Tucandeira, e potencializam seus venenos produzindo material altamente letal
que é armazenado em suas glândulas secretoras.
3.7.5 Já se registraram casos letais com seres humanos e até o momento não
existe antídoto conhecido.
3-34
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CAPÍTULO IV
DESLOCAMENTOS NA SELVA
4.1 INTRODUCÃO
4.1.1 GENERALIDADES
4.1.1.1 A vasta Floresta Amazônica é caracterizada por uma vegetação bastante
densa, tornando a selva “uniforme” e com repetição contínua, o que dificulta a
visão de pontos nítidos em seu interior.
a) A copa das árvores, muito fechada em algumas regiões, não permitirá que se
observe o sol ou o céu, a não ser que se esteja em uma clareira ou próximo a
cursos d’água, o que limita extremamente o emprego de processos convencionais
de orientação.
b) Em outras regiões é possível orientar-se utilizando o sol ou a lua como ponto
de referência.
4.1.1.2 A repetição monótona e contínua da floresta fechada, os incontáveis
obstáculos encontrados, tais como troncos caídos e densas galhadas, a limitada
visão que permite ver no máximo 20 metros à frente durante o dia e a nenhum
palmo à frente do nariz à noite e a forte adversidade que envolve a situação na
selva, restringe a velocidade dos deslocamentos e criam dificuldades de se fazer
as próximas visadas.
4.1.1.3 no interior da selva à noite nada se vê, nem a própria mão a um palmo
dos olhos.
4.1.1.4 O luar, quando houver, poderá atenuar um pouco essa escuridão, sem,
contudo, entusiasmar o deslocamento noturno. Por isso, pode-se dizer que estes
deslocamentos serão lentos e penosos.
4.2 ORIENTAÇÃO
4.2.1 PROCESSOS DE ORIENTAÇÃO
4.2.1.1 Orientação pelo Sol
4.2.1.1.1 Nascendo a leste e pondo-se a oeste, a perpendicular mostrará a direção
norte-sul (Fig 54).
4.2.1.2.2 Devido à inclinação variável do globo terrestre nas várias estações do
ano (Fig 55), esse processo deverá ser utilizado somente para se obter uma
4-1
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“direção geral” de deslocamento.
4-2
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4.2.1.2 Orientação pela sombra
a) Crave uma vara no chão. Quanto maior a vara, mais rápido poderá definir as
direções a seguir.
b) Marque o ponto inicial onde fica a sombra da ponta da vara. Espere alguns
minutos e marque o segundo ponto.
c) Em qualquer lugar do mundo e a qualquer hora do dia, a primeira marca fica
sempre a oeste e a segunda marca fica sempre para leste.
d) Após traçar uma linha reta entre os pontos Leste-Oeste, basta traçar uma
linha perpendicular à linha anterior, que indicará, aproximadamente, a direção
norte-sul (Fig 56).
4-3
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c) Trata-se de um processo que apresenta consideráveis alterações nas estações
do verão e inverno austrais devido à inclinação do globo terrestre e a direção em
que o sol incide sobre ele, também nas regiões próximas ao Equador, que é o
caso da maior parte da Amazônia Brasileira.
d) Porém, pode ser utilizado, sem maiores restrições, nas estações da primavera
e outono se o indivíduo ou grupo souber em qual hemisfério se encontra.
4-4
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b) A técnica de emprego é a conhecida. Entretanto, quando houver mais de um
homem, um deles substituirá o ponto de referência, será o homem-ponto, enquanto
aquele que ficar manejando o instrumento será o homem - bússola.
4.2.1.6 Orientação pelas estrelas (Cruzeiro do Sul, Fig 58 e 59)
- No hemisfério sul, prolongando-se 4 vezes e meia o braço maior da cruz, ter-
se-á o Sul no pé da perpendicular baixada, desta extremidade, sobre o horizonte.
4-5
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4.2.1.7 Construção de abrigos pelos animais - os animais, de modo geral,
procuram construir os abrigos com a entrada voltada para o norte, protegendo-se
dos ventos frios do Sul e recebendo diretamente o calor e a luz do sol. No interior
da selva amazônica, devido à proteção que ela proporciona barrando os ventos
frios, este processo de orientação não apresenta grande confiabilidade.
4.2.1.8 Orientação pelo Global Position Sistem (GPS) - A orientação pelo GPS
dependerá da potência do sinal recebido dos satélites. No interior da selva, a
recepção deste sinal é prejudicada pela cobertura vegetal ficando a utilização do
GPS restrita às áreas de céu aberto. O GPS poderá ser utilizado para auxiliar na
orientação e navegação na Amazônia, principalmente quando em rios, igarapés
e regiões descampadas. O GPS além de fornecer coordenadas geográficas do
local, uma vez registrado um azimute, também permite navegar seguindo aquela
direção, pois ao se afastar da mesma emitirá um aviso sonoro.
4.3 NAVEGAÇÃO
4.3.1 GENERALIDADES
4.3.1.1 Navegação é o termo que se emprega para designar qualquer movimento
terrestre ou fluvial, diurno ou noturno, através da selva.
4.3.1.2 Não se dispondo de bússola, a navegação terá de ser feita como for
possível. Se houver um guia, normalmente chamado “mateiro”, conhecedor da
região, não haverá maiores problemas, caso contrário, a navegação será difícil.
4.3.1.3 Quando for encontrada uma trilha aberta por um ser humano, essa
poderá conduzir a um local seguro. Se a trilha for de animal, provavelmente
conduzirá a um local de água (bebedouro). Se esse bebedouro for um igarapé,
poder-se-á segui-lo na direção da corrente, fato que deverá conduzir a um curso
de água maior e, por sua vez, a um local que permita a sinalização terra-ar, ou
onde haja habitante ribeirinho. Caso o curso de água desemboque em lagoa ou
lago, do mesmo modo haverá melhores condições para a sinalização.
4.3.1.4 Se um elemento se perder do grupo, poderá ser encontrado lançando
mão de sinais sonoros, tais como apitos:
a) Se possuir arma, poderá efetuar tiros em direção neutra, de acordo com a
necessidade poderá também bater com qualquer pedaço de pau em certas
raízes expostas de árvores (sapopemas), o que produzirá um som que reboará
até determinada distância.
b) Se tentar uma navegação em busca do grupo, deverá, à medida que se deslocar,
ir marcando o caminho percorrido, para isso, fará marcas com facão, faca ou
canivete nas árvores, ou irá quebrando galhos da vegetação baixa, de modo que
as pontas fiquem apontando para a direção seguida.
4-6
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4.3.1.5 Todos esses recursos, ou quaisquer outros, serão fundamentais em se
tratando de sobrevivência na selva.
4.3.2 ORIENTAÇÃO TERRESTRE DIURNA
4.3.2.1 Equipe de navegação
4.3.2.1.1 A equipe de navegação é aquela responsável pela orientação de um
grupo de homens, que poderá ser a própria patrulha. É constituída por:
a) chefe da equipe - coordena a atuação dos demais elementos, colocando homens
aptos em cada função.
- Chefe de equipe é quem informa ao Comandante da patrulha o ponto estação
e pode acumular outra função, de preferência a de homem-carta.
b) homem-bússola - responsável pela direção a seguir através dos azimutes.
Utiliza-se do auxílio do homem-ponto. Após a leitura da bússola, ocupará a posição
em que estava o homem-ponto para maior precisão.
c) Homem-passo: elemento com o passo aferido e responsável pelo controle da
distância percorrida ou a percorrer.
- Levará consigo o passômetro para auxiliá-lo na contagem dos passos. Sempre
que possível essa função será designada a mais de um elemento.
d) Homem-carta/GPS: será o que conduzirá a carta/GPS.
1) Tem a missão de prestar informações ao chefe da equipe sobre a rota a ser
seguida, preparar o GPS com as rotas e pontos locados e auxiliar na identificação
de pontos de referência, ao mesmo tempo que lançará outros que mereçam ser
locados.
2) É interessante que o homem-carta procure sempre o deslocamento através
da “linha seca”, pois isso evitará o desgaste próprio e/ou do grupo no sobe e
desce dos socavões.
e) Homem-ponto ou baliza: trabalha cerradamente com o homem-bússola.
1) Desloca-se à frente da equipe, mantendo contato visual, com o homem-
bússola e obedecendo o comando deste para colocar-se na posição correta e
servir como referência a determinado azimute.
2) Utiliza-se de um bastão, tomando cuidado para que seja diferente da
vegetação local e à noite empregará uma lanterna com pequeno ponto luminoso
ou fita fosforescente. Pode-se dobrar a função para que os homens tomem
posições sucessivas, enquanto uma baliza a direção, o outro coloca-se mais à
frente no alinhamento.
3) O homem ponto deverá, de preferência, utilizar uma bússola para se deslocar
à frente na direção geral de marcha (RUMO).
4-7
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4.3.2.2 Observações:
a) Caso não exista carta, a equipe de navegação será reduzida a três homens.
Existindo apenas 2, um será o homem-ponto e o outro acumulará as funções do
homem-bússola com as do homem-passo.
b) Será interessante e muito aconselhável que todos os homens que integram
um grupo tenham conhecimentos do emprego da bússola e possuam o passo
aferido, o que possibilitará o rodízio de funções.
c) O uso do facão de mato será restrito quando não se quiser deixar pistas.
4.3.3 AFERIÇÃO DO PASSO
4.3.3.1 É o método mais empregado para determinar qual a distância percorrida
em um deslocamento. Para empregar este método, é necessário que o homem
conheça qual a medida de seus passos, simples e duplo, e quantos passos dá
no intervalo de 100m.
- Para a área de selva, onde existem inúmeros obstáculos, é mais indicado a
utilização do PASSO SIMPLES para reduzir o erro.
4.3.3.2 Técnica
4.3.3.2.1 A técnica para aferição do passo consiste em realizar um deslocamento
em uma pista de 200m de comprimento, sendo 100m em terreno plano e 100m
em terreno inclinado (Fig 60).
4-8
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- Este mesmo percurso deverá ser feito em sentido contrário ao que foi realizado
na primeira vez (subindo 100m e depois 100m no plano) a fim de que o elemento,
ao terminar o percurso, possa determinar a média aritmética do número de passos
dados nos quatro trechos.
4.3.3.2.2 Contagens
a) contagem 1 - 100m (plano) A p/ B: “X “passos simples;
b) contagem 2 - 100m (descendo) B p/ C: “ Y” passos simples;
c) contagem 3 - 100m (subindo) C p/ B : “K” passos simples;
d) contagem 4 - 100m (plano) B p/ A: “Z” passos simples;
e) Soma: (X+Y+K+Z); e
f) Média: (X+Y+K+Z)/4= 150 passos simples em 100m.
Significa que 1 passo simples = 100/[(X+Y+K+Z)/4].
4.3.3.3 Exemplo de cálculo 1:
a) contagem 1: 100m (plano) A p/ B = 139 passos simples;
b) contagem 2: 100m (descendo) B p/ C =168 passos simples;
c) contagem 3: 100m (subindo) C p/ B = 159 passos simples;
d) contagem 4: 100m (plano) B p/ A= 134 passos simples;
e) soma: 600 passos; e
f) Média= 600: 4= 150 passos simples em 100m.
Significa que 1 passo simples =(100: 150)= 0,66 m
4.3.3.4 Obtida a medida de 1 passo simples, pode-se confeccionar uma tabela
de conversão, com a finalidade de, a qualquer momento, transformar o número
de passos dados em metros.
4.3.3.5 Exemplo de cálculo 2:
a) 1 passo = 0,7 m;
b) 10 passos = 10 x 0,7 = 7 m;
c) 50 passos = 50 x 0,7 = 35 m;
d) 100 passos = 100 x 0,7 = 70 m; e
e) 150 passos = 150 x 0,7 = 105 m
4.3.3.6 Exemplo de cálculo 3:
a) 100m = 150 passos simples;
b) 10m = 15 passos simples;
4-9
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c) 50m = 75 passos simples; e
d) 150m = 225 passos simples.
4.3.4 AFERIÇÃO DO DESVIO
4.3.4.1 Nota-se que o homem na selva, mesmo evitando ao máximo sofrer a ação
dificultosa dos obstáculos encontrados em sua progressão com bússola, tende a
desviar-se, variando esse desvio de homem para homem.
- O motivo desse desvio ainda não está comprovado, no entanto, um dos fatores
que concorre para sua existência é a “PARALAXE”, fenômeno que ocorre devido
ao ângulo de visada da bússola.
4.3.4.2 Como foi dito anteriormente, cada homem apresenta um desvio
característico que poderá ser para a direita ou para a esquerda, no entanto, tem-se
observado que a grande maioria dos homens apresenta desvio para a esquerda.
A prática tem mostrado que para um deslocamento de 1000 m é aceitável um
desvio de até 150 m. Desvios acima deste valor são fruto do emprego errado das
técnicas de navegação.
4.3.4.3 A fim de descobrir qual o desvio do militar é feito uma pista em dupla, com
1000 metros de comprimento e 800 metros de largura.
- Nas duas frentes que distam 1000 metros uma da outra, as quais serão paralelas,
estarão dispostas placas com números ou letras para que o militar anote a placa
de início da pista e a placa de término da pista.
- Para o retorno, o outro militar da dupla retornará, tendo esta placa agora como
de partida. As placas estarão dispostas com um intervalo de 25 metros entre elas
(Fig 61).
4-10
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4.3.6 TÉCNICAS DE NAVEGAÇÃO
4.3.6.1 O deslocamento através da selva é bastante penoso e dificultado pela
semelhança da vegetação. Por isso, é fundamental que seja empregada uma
técnica correta de navegação.
- Elas se dividem em duas: azimute desconhecido e azimute e distância.
4.3.6.2 Azimute desconhecido
4.3.6.2.1 Caso um grupo esteja perdido e não conheça nenhum ponto de referência
ou direção a ser seguida, este grupo deverá constituir uma equipe de navegação
e determinar um azimute a ser seguido a fim de evitar ficar andando em círculos.
4.3.6.2.2 Os militares deverão permanecer contando os passos para que, caso
decidam retornar para o ponto de origem, obtenham êxito e iniciem uma navegação
para uma nova direção.
4.3.6.2.3 Quer seja azimute ou contra azimute, a técnica será:
a) o homem-bússola lançará o homem-ponto à frente, na direção do azimute, até
o limite da visibilidade; por deslocamentos comandados “um pouco para a direita”,
ou “mais à esquerda”, etc. O homem-bússola determinará, com precisão, o local
onde o homem-ponto deve parar. Estando este parado, aquele se deslocará até ele
e o fará dar um novo lance à frente, na direção do azimute de marcha, repetindo
as operações anteriores. Será, portanto, uma navegação por lanços.
b) o homem-ponto será comandado pelo homem - bússola; enquanto ele se
deslocar, irá usando o facão para abrir picada e melhorar a visibilidade para os
que vêm à retaguarda.
c) o homem-passo seguirá aqueles dois, contando o número de passos; à medida
que atingir 100 ou quantos passos convencionar, irá anotando-os em um cordão
por meio de nós, pequenos galhos, folhas ou outro meio qualquer, de modo que
a qualquer momento, possa converter passos em metros e saber quanto andou.
d) Tal procedimento será necessário porque poderá haver necessidade de retorno
ao ponto de partida e, nesse caso, será sempre útil saber que distância ter-se-á
de marchar até ele; será, pois, fator de controle. Além do mais, caso haja uma
carta e surjam acidentes dignos de serem locados, essa distância será necessária.
d) O homem-carta, se houver carta, procederá como foi descrito anteriormente.
4.3.6.1 Azimute e distância
4.3.6.1.1 O azimute e a distância aproximada do objetivo são conhecidos; será o
normal de um grupo em operações militares, mas poderá também ser o caso em
que esses dados (azimute e distância) sejam fornecidos a um grupo perdido, por
meio do rádio ou de uma ligação qualquer de avião para terra.
4-11
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4.3.6.1.2 Qualquer que seja a situação, a técnica será a mesma anterior. O que
poderá acontecer é que o objetivo seja uma área pequena e perdida na imensidão
da selva, o que exigirá uma outra técnica especial para a sua busca e localização.
Isso porque será muito provável que tenha havido desvios na direção de marcha,
bem como imprecisão na contagem das distâncias, fato aliás muito comum em
se tratando de deslocamento na selva.
4.3.6.1.3 A técnica referida engloba quatro processos diferentes para a busca e
localização de objetivos.
4.3.6.1.4 1º Processo – Quadrado - Crescente (Fig 62):
a) chegado ao ponto A (ponto inicial), escolhe-se um azimute, segundo o qual, 100
metros (medidos a passos), por exemplo, serão percorridos, chegando-se a B.
b) Do ponto B outros 100 metros serão percorridos segundo um azimute, tal que
o ângulo B seja igual a 90º (reto), chegando-se a C. Do ponto C mais 200 metros
serão vencidos segundo um outro azimute tal que o ângulo C seja reto, chegando-
se a D. De D, mais 200 metros, ângulo D, reto, chegando-se a E.
e) Tal processo terá grande aplicação se for iniciado a partir de uma linha base
(A-D-E-H-I-M) coincidente com um curso de água, uma estrada, uma picada,
mesmo que não sejam retos, o que será normal na selva.
4.3.6.1.6 3º Processo - Off-Set (Fig 64) - Este processo é muito usado pelos pilotos
de aeronaves e terá aplicação, também, na navegação terrestre na selva. Apenas
é um pouco particular, pois não se empregará em qualquer situação. Assim, o
quadro inicial para sua execução será o seguinte:
4-13
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a) a equipe de busca encontra-se no ponto A e deseja deslocar-se para P,
conhecendo o azimute da direção AP, bem como a distância D entre eles; o ponto
P, sabe-se, está localizado à margem de um curso de água ou estrada;
b) se a equipe marchar diretamente de A para P segundo o azimute conhecido,
poderá acontecer que se desvie, o que será comum, e chegar ao curso de água
ou estrada, à direita ou à esquerda do ponto P; tal fato obrigará a uma busca, sem
se saber por onde começá-la, se pela direita, se pela esquerda;
c) o conhecimento da distância D também é necessário, porquanto durante o
deslocamento poderão ser encontrados cursos de água ou estradas que não sejam
os que passam por P, isto é, estarão aquém do ponto buscado; então, tendo-se
noção da distância, a dúvida não ocorrerá;
d) para evitar esses inconvenientes, a equipe aplicará o processo do seguinte
modo: partirá de A, não com o azimute conhecido, mas com ele acrescido ou
diminuído de 2, 3... 6 graus (um estudo de situação aconselhará qual o número
a adotar);
Fig 64 - Off-Set
4-14
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Fig 65 - Leque
4-15
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4.3.6.1.9 6º Processo - “Pente Fino” (Fig 67) - Processo dos azimutes paralelos
- Técnica bastante utilizada e amplamente difundida.
a) Nesta técnica a tropa estará disposta no terreno em linha, e tal qual a técnica do
leque e a técnica dos azimutes paralelos, ela será dividida em equipes. A grande
diferença é que todo o efetivo irá se deslocar junto, saindo junto de uma Z Reu
e ocupando uma nova Z Reu do outro lado, igualmente de maneira simultânea.
4-16
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azimutes e distâncias distintas para cada equipe percorre até alcançar a linha
base do processo. Essa linha pode ser uma linha nítida no terreno (é ideal que
seja), mas caso não disponham desse conhecimento ou não exista uma linha
nítida ela poderá ser imaginária e as equipes saberão que alcançaram tal linha
pelo processo do azimute e passo simples.
c) Ultrapassada a linha base as equipes poderão, dependendo do planejamento,
percorrer uma distância “X” em uma direção perpendicular a linha base para
depois convergir ao centro e se deslocar até alcançar a nova Z Reu; ou alcançada
a linha base, já de imediato convergem para o centro em busca da nova Z Reu.
4.3.6.1.10 7º Processo do trevo (Fig 16)
a) Nesse processo de vasculhamento, semelhante ao processo do leque, a
patrulha ocupará uma base ou uma Z Reu em um dispositivo central e, após isso,
irá montar quatro equipes de vasculhamento.
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b) a vista, mesmo após adaptada à escuridão, sentir-se-á cansada ante o esforço
duplicado para enxergar;
c) o tato a todo momento estará em função, esquadrinhando o espaço à frente e
dos lados, identificando possíveis obstáculos à progressão;
1) os pés sondarão o terreno para a execução de um simples passo à frente
ou para os lados;
2) as mãos, por vezes, com o homem acocorado, realizarão as mesmas
sondagens, inclusive acima da cabeça;
3) caso se pretenda sentar ou deitar, a busca terá então de ser mais detalhada
e demorada para evitar surpresas;
4) a falta de um objeto exigirá um tateamento em todas as direções e alturas;
5) para ir balizando a direção de marcha terão que ser procurados ramos
frágeis e quebradiços;
d) o olfato procurará identificar possíveis odores que sirvam para auxiliar a busca
de um objetivo como os de cigarro aceso, de cozinha, de fumaça produzida por
lenha de fogueiras etc; e
e) a audição procurará identificar os sons comuns, bem como as distâncias em que
são produzidos; poderão ocorrer ilusões, pois a selva afeta a noção de distância.
4.3.7.4 Após essas considerações, e por experiências vividas, fácil é chegar à
conclusão de que os deslocamentos noturnos não serão compensadores, sendo
inclusive, perigosos.
- Entretanto, se necessários, poderão ser executados, pois sua técnica será a
mesma que a da navegação diurna, tendo-se, porém, que levar em conta as
observações anteriores.
4.4 SINALIZAÇÃO
4.4.1 Generalidades
4.4.1.1 O que mais interessa a um sobrevivente ou grupo de sobreviventes é ser
encontrado, quer por socorro terrestre ou fluvial, quer por socorro aéreo.
4.4.1.2 Portanto, se for utilizado um processo qualquer para sinalização, poderá
haver possibilidades amplas de sucesso, desde que esse processo seja o mais
adequado para a ocasião ou situação.
4.4.2 PROCEDIMENTO GERAL:
4.4.2.1 Se o grupo for composto por indivíduos, militares ou civis, que partiram de
uma base de operações para o cumprimento de uma missão na selva, via terrestre
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ou fluvial, será natural que conduzam consigo os meios materiais necessários ao
bom desempenho da missão.
4.4.2.2 Nesse caso, se perdidos e tendo de sobreviver até serem encontrados,
o problema não se revestirá de perspectivas sombrias, pois o escalão superior
saberá o que estão fazendo e onde poderão estar. Haverá, portanto, uma base
segura para a partida do socorro.
a) Em matéria de sinalização, por outro lado, um código já teria sido estabelecido
entre eles, restando, portanto, pô-lo em execução.
b) Os processos mais simples e comuns serão: por apito, por tiros, por batidas
em sapopemas (as grandes raízes) ou qualquer outro à base da acústica, uma
vez que os visuais surtirão pouco efeito por causa da vegetação, e as fogueiras
e lanternas, mesmo à noite, serão percebidas só de muito perto, quando os
acústicos já surtiram efeito.
c) A fumaça, produzida por queima de vegetais e outros materiais disponíveis
(pneus, borracha, etc), poderá ser vista à distância por indivíduos embarcados
em aeronaves.
- Contudo, se a fumaça for clara, poderá ser confundida com a névoa que é
comum nas primeiras horas da manhã na Amazônia.
d) Se o elemento decidir, por sua vez, tentar a navegação, não deverá esquecer
de ir balizando o percurso.
- Para isso, além de sinalizar por meios acústicos a espaços de tempo regulares,
irá assinalando sua passagem pela quebra de pequenos galhos, de marcas nas
árvores, de objetos ou parte deles deixados pendurados, etc.
4.4.3 DESASTRE AÉREO
4.4.3.1 Se a necessidade de sobreviver for decorrente de um desastre de aviação
na selva, as condições que cercarão os sobreviventes serão possivelmente
diferentes.
4.4.3.1.1 Mortos e feridos, alguns destes sem condições de locomover-se, servirão
para agravar o problema.
4.4.3.1.2 Se a aeronave não se incendiar, ainda que toda destruída, provavelmente
fornecerá muitos meios a serem utilizados pelos que se salvarem, particularmente
alimentos, medicamentos, bússola, armas, ferramentas, espelhos, cordas, fios
elétricos, etc, tudo isso será alenta dor, mesmo diante do provável quadro adverso.
4.4.3.1.3 Restará saber aproveitar o que for possível, porquanto, ainda que tenha
havido incêndio, alguma coisa restará que possa ser utilizada.
4.4.3.2 Será óbvio que a aeronave decolou de algum lugar e com um destino
conhecido; a dúvida ficará no quando e onde se deu o acidente. Portanto, a base
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de partida para as buscas, quer seja a inicial, quer outras suplementares montadas
como auxiliares, serão os processos peculiares de busca e salva mento; e,
enquanto isto estiver ocorrendo, os que se salvaram terão de lutar para sobreviver.
Seus pensamentos e esperanças serão conduzidos para o socorro, e esse, em
casos semelhantes, apresentar-se-á, vindo pelos ares, na grande maioria das
vezes. Mas será preciso cooperar, mesmo em situação precária.
- Será aí, então, o momento em que a sinalização de terra para o ar representará
papel preponderante.
4.4.3.3 De início, não se deverá abandonar as imediações do local da queda
do avião:
a) primeiro, pela fonte de recursos que o aparelho poderá representar;
b) segundo, porque geralmente a ação da queda destrói a vegetação, abrindo
uma clareira, o que poderá ser uma ótima referência para quem sobrevoa a área;
c) terceiro, porque o próprio aparelho poderá servir de abrigo, particularmente
contra a chuva; e
d) quarto, porque: “ir para onde?”. É mais fácil localizar do ar os destroços da
aeronave do que um grupo de homens no interior de selva.
4.4.3.4 O máximo que se poderá tentar, no caso de decidido um deslocamento,
será a busca de uma clareira, um lago ou um curso de água, locais que facilitarão
a sinalização terra-ar.
- Ainda assim, a tentativa deverá revestir-se de todas as medidas de segurança
possíveis, com a preocupação sempre presente de que esses locais deverão
estar a céu aberto, porquanto avistar, do ar, um homem ou um grupo perdido na
floresta, mesmo sinalizando, será tarefa dificílima.
4.4.3.5 Atualmente muitas aeronaves possuem transmissores localizadores de
emergência que foram desenvolvidos para auxiliar a localização daquelas em
caso de acidentes.
a) Um dos sistemas - NARCO ELT -10 - emite sinais por sete dias nas frequências
alerta internacional 121,5 MHz e 243,0 MHz e cobertura mundial na frequência
406 MHz.
b) Normalmente é localizado na altura da cabeça do copiloto e parece com um
pequeno transmissor portátil. Seu sinal somente será ouvido no local se o receptor
da aeronave estiver funcionando, porém será captado por satélite que o devolverá
à estação terrestre do INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS, em
Cachoeira Paulista-SP, com informações das prováveis coordenadas do local
emissor do sinal, bem como poderá ser captado pelas aeronaves de busca.
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4.6 ULTRAPASSAGEM DE OBSTÁCULOS
4.6.1 Será normal em um deslocamento na selva encontrar os mais diversos
obstáculos naturais, como troncos caídos, galhadas, chavascais, igarapés
(estreitos e largos, de forte e fraca correnteza), rios, entre outros. Visando a essa
necessidade há processos para realizar a transposição dos mesmos sem perder
a direção que estava sendo seguida.
Fig 70 - Desvio de um obstáculo pelo processo da compensação com passos e ângulos retos
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CAPÍTULO V
PROTEÇÃO NA SELVA
5.1 ABRIGOS
5.1.1 GENERALIDADES
5.1.1.1 O combatente na selva, esteja ele em uma situação de sobrevivência ou
até mesmo em operações, necessita de proteção contra o meio adverso para
manter a saúde do corpo, o bom estado do seu material e a manutenção do
estado psicológico.
5.1.1.2 A utilização de um abrigo eficiente, limpo, de bom aspecto e que proporcione
um mínimo de conforto dará ao combatente além de melhores condições físicas,
condições psicológicas favoráveis para obter um rendimento máximo nas ações.
5.1.2 DEFINIÇÃO
- No contexto de sobrevivência na selva, abrigos são construções preparadas pelo
combatente, com os meios que a selva e o próprio equipamento lhe oferecem
para a proteção contra as intempéries e os animais selvagens.
5.1.3 CLASSIFICAÇÃO
5.1.3.1 De acordo com o material utilizado na construção e com o tempo de
ocupação do abrigo podemos classificá-los em três tipos, abrigos permanentes,
semipermanentes e temporários.
5.1.3.2 Abrigos permanentes
- Construídos com material da região mesclado com material industrializado e
destinados a permitir uma ocupação contínua por período indeterminado.
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5.1.3.3 Abrigos semipermanentes
- Construídos com o material exclusivo da região e destinados a permitir a ocu-
pação por um longo período de tempo.
5.1.3.3.1 Tapiri simples: construído para alojar o pessoal. O modelo e as dimen-
sões dependem do efetivo que vai alojar-se no interior.
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5.1.3.3.2 Tapiri para cozinha: abrigo semipermanente construído para ser utilizado
como cozinha nos estacionamentos da tropa.
- Possui em seu interior um balcão, construído com material nativo, para ser
utilizado como mesa, guardar utensílios e gêneros alimentícios, além de abrigar
a linha de servir.
5.1.3.3.3 Tapiri nativo: é um abrigo semipermanente muito utilizado como moradia
pelos caboclos da Amazônia.
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- Confecciona-se um assoalho de madeira e, nas laterais colocam-se traves que
se unem na parte superior formando uma pirâmide. Logo após, reveste-se as
laterais com palha deixando-se uma pequena entrada na parte anterior.
5.1.3.3.4 Tapiri duas águas: é um abrigo semipermanente muito utilizado pelos
regionais para moradia. O abrigo não possui assoalho, porém o homem constrói,
no seu interior, camas improvisadas para dormir afastado do solo.
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5.1.3.3.6 Rabo de mutum: abrigo muito utilizado como cobertura da rede trançada
do tipo tarrafa ou de nylon. Constrói-se uma trave e na sua parte superior colocam-
-se várias palhas pretas amarradas. Na sua lateral colocam-se traves limitadoras
para segurar as laterais da palha.
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- A confecção é difícil e requer prática na confecção da palha trançada. Colocam-
-se várias palhas pretas uma ao lado da outra trançando-se de maneira que se
obtenha uma espécie de um colchão, em seguida, confeccionam-se dois arcos
com um cipó grosso e flexível. Feito isso, coloca-se a palha trançada por cima
dos dois arcos.
5.1.3.4 Abrigos temporários: são construídos com o material da região ou utili-
zando peças do equipamento individual e destinados a permitir a ocupação por
curtos períodos de tempo.
5.1.3.4.1 Rabo de jacu: é um abrigo temporário de fácil construção, muito utilizado
para a proteção do fogo e material. Quando construído para proteger o combatente
deve possuir um assoalho, construído com madeira, palhas ou folhas de palmeira
passadas na chama da fogueira como medida preventiva contra carrapato. Para
colocação das palhas deve-se colocar as primeiras 5 palhas com a calha voltada
para cima visando uma melhor impermeabilização e o restante com a calha vol-
tada para baixo para não acumular água e fazer peso sobre a madeira. Um bom
Rabo de Jacu utiliza de 15 a 20 palhas.
5.1.3.4.2 Rede de Selva: é um abrigo temporário que faz parte do equipamento in-
dividual e dotação do combatente de selva. Muito empregada em todas operações
constitui-se em um abrigo de fácil montagem. Sua grande vantagem é o conforto e
a segurança já que possui um mosquiteiro que protege contra ação de mosquitos.
Sua grande desvantagem está no volume e no peso de aproximadamente 3,5 Kg.
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- Por ocasião da retirada, deve-se cortar deixando um filete para não matar a
Palmeira.
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5.1.4.2.5 Palha de Inajá
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5.1.4.2.7 Palha de Açaí:
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a) É uma palha bem característica com uma configuração parecida com um cocar
de um índio, onde apresenta um longo talo roliço e na sua extremidade a palha
parecendo uma mão aberta.
b) Uma característica importante do buriti é o fato de o mesmo ser encontrado
sempre em regiões alagadiças.
5.1.4.2.9 Folha de Sororoca
a) Muito parecida com a folha da bananeira diferindo apenas por ser menor, pode
ser utilizada na cobertura de abrigos, mas pouco indicada por ser quebradiça,
entretanto, por apresentar uma boa impermeabilização, é utilizada para reforçar
cumeeiras.
b) Pode-se utilizar como assoalho macerando o talo e forrando-o para aumento
do conforto técnica esta chamada de tarimba.
c) Deve-se ter cuidado em sua utilização por servir de alimento para formiga saúva.
5.1.4.3 Cipós
5.1.4.3.1 Cipó Ambé
a) Utilizado nas amarrações, é resistente e flexível.
b) Encontrado na mata de terra firme e às margens dos igarapés.
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5.1.4.3.3 Cipó Escada de Jabuti
- Recebe este nome devido à aparência com o casco do jabuti além de ser
encontrado próximo a outras árvores se assemelhando a uma escada.
5.1.4.4 Envira
a) É a fibra encontrada na casca das árvores. Sendo assim, toda árvore possui
envira. Entretanto, nem todas são utilizadas devido à resistência e à continuidade.
São retiradas da segunda camada da casca de certas árvores que se caracterizam
por possuir fibras longas.
b) Deve-se ter cuidado ao retirar a envira para não extrair a casca da árvore em
toda sua circunferência, impedido o transporte de nutrientes da raiz às demais
partes da planta levando-a ao falecimento.
5.1.4.4.1 Envira Branca
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a) Retirada da árvore conhecida como Matá-Matá é muito utilizada pela sua
resistência e continuidade.
b) Apresenta cheiro característico de óleo de linhaça, utilizado para calafetar
embarcações e impermeabilização de quadros e couro.
5.1.4.4.2 Envira Preta
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5.1.6 PREPARAÇÃO DO MATERIAL
5.1.6.1 Processos de Preparação das Palhas
5.1.6.1.1 Palha aberta
a) Processo utilizado na preparação (“abrir” a palha) da palha branca. Neste
processo a palha deve ser chacoalhada para que as folhas se soltem do talo e
facilite a preparação, em seguida, segura-se a palha ao lado do corpo com o talo
das folhas voltadas para baixo
.
Fig 102 - Palha aberta
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haverá vantagens e desvantagens nos usos, por isso, não há uma única regra.
Poderão também ser improvisadas coberturas de palmas.
5.2.1.2 Para a proteção do tórax, há conveniência de uma vestimenta grossa,
de mangas compridas e gola alta, o que evitará mosquitos, partículas vegetais
e espinhos; deverá ser usada por fora das calças para facilitar o arejamento.
As costuras deverão ser duplas para resistir melhor aos movimentos bruscos
e às normais perdas de equilíbrio. No mínimo 4 bolsos deverão existir a fim de
distribuir a carga equilibradamente e também para aliviar o volume a transportar,
normalmente nas costas.
5.2.1.3 Para proteção da bacia e dos membros inferiores, o uso de calças, também
de tecido grosso e com costuras duplas, será o recomendável. A calça não deverá
ser justa e os bolsos nas pernas deverão ser grandes e ter a mesma serventia
que os da peça anterior.
5.2.1.4 Deverá ser usado calçado tipo coturno nos pés, com o cano mais alto
que o normal, para melhor proteção da perna contra as picadas de serpentes,
principalmente. O solado deverá ser de borracha, o que protegerá um pouco
contra a umidade permanente do solo, e com travas, para não escorregar na
lama. O cano desse coturno deverá ser de lona, que proporciona flexibilidade.
Se o calçado for apenas o sapato, poderão ser improvisados os canos, usando-
se qualquer material que possa ser enrolado nas pernas. Com cascas de certas
árvores ou peles de animais, poderão ser improvisados calçados, amarrados
com cipós. O couro não resiste muito na selva e os cadarços deverão ser de
nylon. Meias deverão ser sempre usadas para evitar o atrito do calçado contra a
pele; não é recomendável usá-las furadas ou remendadas. As meias compostas
por poliamida e elastano darão bons resultados suavizando o atrito, secando
com maior facilidade, permitindo a evaporação da umidade natural dos pés e a
acumulada nas regiões alagadas por onde for necessário passar.
5.2.1.5 Um capote impermeável protegerá contra a chuva, mas se rasgará
facilmente de encontro à galharia. O melhor será usar o plástico, o mesmo
que servirá de cobertura para a rede. Todas as peças do vestuário deverão ser
mantidas limpas, na medida do possível. O ideal é que se possa dispor de uma
roupa de muda, particularmente para trocá-la na hora de dormir. Mas, se apenas
possuir a do corpo, ela deverá ser constantemente lavada e posta a secar junto
a uma fogueira.
5.2.1.7 Não sendo vestuário, mas dele fazendo parte como equipamento, deverá
ser usado um invólucro para transporte de material: a mochila. Vários tipos poderão
ser usados, desde a de lona até a improvisada de palha ou cipó; o mais comum
será o tipo chamado Jamaxi ou Paneiro, de saco de 60 quilos, cuja técnica de
emprego todo amazônida conhece.
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CAPÍTULO VI
ALIMENTAÇÃO NA SELVA
6.1 INTRODUÇÃO
6.1.1 Sobreviver significa resistir e escapar. A sobrevivência em plena selva estará
em íntima ligação com o tempo em que nela se permanecer. Para tanto, o homem
deverá estar altamente capacitado para dosar as energias e lançar mão de todos
os meios ao alcance a fim de não pôr em risco a sua vida. Essa capacidade
envolve conhecimentos especializados, invulgares ao homem comum, onde o uso
da imaginação, o empenho, o bom senso e o moral elevado, além do intrínseco
instinto de conservação, são fatores preponderantes.
6.1.2 Quem pensa que é tarefa fácil sobreviver em plena selva, à custa exclusiva
dos recursos naturais, equivoca-se. Pequenos grupos, quando devidamente
preparados, poderão, entretanto, fazê-lo. Boa comida e água são encontradas,
desde que o homem esteja apto a saber onde, como e quando procurá-las.
6.1.3 Assim, em qualquer situação, deverá considerar como condições primordiais
para uma sobrevivência as necessidades de água, fogo e alimentos.
6.2 ÁGUA
6.2.1 Cerca de 70% do peso corporal do ser humano é formado por água,
variando para mais dentre crianças e para menos dentre os idosos. Essa água
em constante movimento no nosso corpo é responsável por hidratar, manter um
equilíbrio térmico, transportar nutrientes, eliminar toxinas e repor energias. Dentro
das pesquisas do homem, em outros planetas, o primeiro dado a ser investigado
é saber se existe ou existiu água neste planeta para deduzir a possibilidade de
existência de vida.
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condicionada à capacidade orgânica e às condições físicas do indivíduo, as quais
estarão sempre aquém das possibilidades normais deste mesmo indivíduo na
selva.
6.2.4 Na selva equatorial, o que mais ressalta de importância é a necessidade
constante da água, por sofrer o organismo sudação excessiva com eliminação de
sais minerais que, quando demasiada e constante, poderá acarretar a exaustão.
Torna-se vital a manutenção do equilíbrio hídrico do organismo.
6.2.5 De modo algum deverá o sobrevivente, à falta absoluta da água, lançar
mão de outros líquidos, como álcool, gasolina, urina. Tal procedimento, além
de trazer consequências funestas, diminuirá as possibilidades de sobreviver,
revelando indícios da proximidade do pânico que, quando não dominado, será fatal.
Portanto, saber onde há água e estar sempre abastecido dela é importantíssimo
e fundamental.
6.2.6 FONTES DE ÁGUA
- O equilíbrio da natureza põe à disposição do ser humano recursos variados para
suprir a grande necessidade de água. Os principais são:
6.2.6.1 Águas Correntes
- Rios, igarapés e olhos d’água, devendo a água ser recolhida do fundo, evitando
desmoronar as margens ou revolver os leitos. Quando necessário, serão
demarcados locais para banho, cozinha e colheita de água potável. Sempre que
possível, deve ser purificada, pois normalmente contém impurezas, tais como:
coliformes fecais humanos ou de animais, resíduos de material orgânico em
decomposição, entre outros.
6.2.6.2 Águas Paradas
- Lagos, igapós, pântanos e charcos, devendo o uso ser feito após a purificação.
Outro recurso, de fácil prática, é colhê-la de um buraco cavado a uma distância
de 5 metros da fonte de água, o qual, após algum tempo, pela porosidade do solo,
encher-se-á de água filtrada.
6.2.6.3 Água das Chuvas e Orvalho
- Poderão ser colhidas diretamente em recipientes, em buracos ou com o emprego
do telheiro da rede de selva, poncho ou plástico. Quando houver troncos pelos
quais ela escorra, para colhê-la, bastará interromper o fluxo com um pano, cipó ou
folhagem, canalizando-a para qualquer vasilhame. Na falta de outro material, as
próprias roupas poderão ser expostas à chuva e, uma vez encharcadas e torcidas,
a água delas resultante deverá ser purificada pela fervura.
6.2.6.4 Partes Baixas do Terreno
- Será comum na selva cruzar-se com ravinas temporariamente secas, mas
que poderão transformar-se, devido às chuvas, em leitos de igarapés ou igapós.
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Nestas ravinas poderá ser procurada a água em fossos cavados próximos aos
tufos de vegetação viçosa.
6.2.6.5 Vegetais
- Vários são os que poderão fornecer água ou indicar a sua presença. Os principais
são:
6.2.6.6.1 Cipó d’água: parasita de uns 10 cm de diâmetro, cor marrom-arroxeada e
casca lenhosa, estando pendurado entre a galharia e o solo, em grandes árvores.
Bastará cortá-lo, primeiro em cima, ou onde mais alto se possa alcançar, e
depois embaixo, de modo a ter, no mínimo, 1 m de cipó. Deixa-se que pela parte
inferior escorra a água. Pela quantidade que fluir e pela facilidade com que o cipó
é encontrado na selva, poder-se-á sempre estar suprido de água.
6.2.6.6.2 Bambu: poderá ser encontrada água no interior dos gomos do bambu,
principalmente do velho e amarelado. Pelo barulho, ao ser sacudido, sabe-se
da presença, ou não, de água e para a utilização bastará fazer um furo junto
à base dos nós.
- Na Selva Amazônica, os bambus somente são encontrados em locais que já
foram ocupados pelo homem.
6.2.6.6.3 Buriti: palmácea que vinga somente onde há água. A presença de um
buritizal numa área será indicativa da presença também de água. Caso não haja
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igarapé próximo ao buritizal, basta cavar junto ao a ele que a pouca profundidade
obter-se-á água.
6.2.6.6.4 Plantas Escamosas: algumas plantas de folhas resistentes, que se
sobrepõem como escamas, poderão conter apreciada quantidade de água das
chuvas. Bastará eliminar possíveis impurezas, por meio de filtragem e purificação,
e utilizá-la.
6.2.6.6.5 Umbaúba: junto às raízes ou dentro dos gomos, conforme a época do ano,
poderá ser encontrada pequena quantidade de água. Cabe ressaltar o papel da
Embaúba como protetora da floresta: após o desmatamento, é comum no local
o aparecimento de Embaúbas (semeadas pelas fezes do pássaro seringueiro)
que preservarão as espécies vegetais da Amazônia, do sol causticante e das
intempéries. Após essas espécies crescerem e ultrapassarem a Embaúba, ela
morre.
- Como a Embaúba cresce em qualquer local desmatado, provavelmente somente
as que cresceram em locais baixos terão água. Ainda é interessante lembrar que
algumas espécies são mais propícias a armazenar água do que outras.
6.2.6.4 Trilhas de Animais:
- Seguindo as trilhas de animais, quando identificadas, invariavelmente
conduzirão a fontes de água.
6.2.7 PURIFICAÇÃO DA ÁGUA
6.2.7.1 Considerações sobre processos de purificação
- As águas colhidas diretamente das chuvas ou cipós d’água não necessitam
serem purificadas para o consumo. Entretanto, se for o caso, elas e as provenientes
de igarapés ou de outras fontes poderão sofrer um dos vários processos de
purificação que se seguem:
a) Pela fervura durante cinco minutos no mínimo.
b) Pelo comprimido de Hipoclorito ou Clorin, na dose de um por cantil (um litro)
aguardando-se 30 minutos para bebê-la.
c) Pelo adicionamento de 8 a 10 gotas de tintura de iodo ou de 3 gotas de Hidrostéril
em cantil (um litro), aguardando-se 30 minutos para o consumo.
d) Pela água sanitária (sem soda cáustica), na dose de uma gota por cantil,
esperando 30 minutos para bebê-la. No caso de 1000 litros, usar uma tampa de
cantil, misturar no cantil com água e depois depositar no recipiente contendo os
1000 litros.
6.2.7.2 Servindo apenas para a filtração, poderão ser seguidos os seguintes
processos:
a) Filtro de Areia: em um recipiente perfurado na base, coloca-se a areia através
da qual a água será filtrada.
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b) Fazendo-se o líquido passar através de um coador improvisado com um pano
qualquer, mesmo peças limpas de roupas.
6.3 FOGO
6.3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
6.3.1.1 Apesar de não ter o nível de importância da água, o fogo também é
necessário, principalmente para se prolongar a sobrevivência.
6.3.1.2 Será mais um valioso recurso para aumentar e melhorar as condições de
vida na selva, pois através dele se conseguirá purificar a água, cozinhar, secar a
roupa, aquecer o corpo, sinalizar, iluminar e fazer uma segurança noturna.
6.3.2 PREPARAÇÃO E ACENDIMENTO DO FOGO
6.3.2.1 Local: será sempre conveniente limpar a área onde será feito o fogo. Mesmo
que o chão esteja seco, o que não será normal, é vantajoso que seja forrado
com um estrado de troncos de árvores, os quais poderão servir, também, para
alimentar o fogo. Quando a permanência no local for prolongada, será indispensável
a construção de um abrigo para o fogo, do tipo Tapiri.
6.3.2.2 Isca: convenciona-se denominar de isca ao amontoado inicial de folhas
secas, papéis, palhas, gravetos finos, cascas de árvores, sobre os quais operamos
para a obtenção inicial do fogo. Na selva, existem árvores como a Mombaca ou
o Marajá e outras palmáceas que, mesmo verdes ou molhadas, pela raspagem
de seus caules dão uma espécie de maravalhas que facilitam a obtenção inicial
do fogo. Outro de que se pode obter maravalha é do vegetal chamado Guaruma
ou Aruma. Outro auxílio para a isca é o emprego do breu vegetal. Resina extraída da
árvore do breu que, além de aceitar facilmente o fogo, ainda a conserva por muito
tempo. Além disso, é aromático e espanta os mosquitos. Sempre que se dispuser
de querosene, gasolina, fluido para isqueiro e pólvora, eles serão úteis na tentativa
de obter fogo.
6.3.2.3 Acendimento da Isca
6.3.2.3.1 Por processos convencionais: os fósforos e os isqueiros poderão ser
economizados com o emprego de uma vela, se houver, ou de uma tocha de
galhos secos. Ao se aproximar a chama da isca, soprando-se suavemente,
poder-se-á facilitar a obtenção do fogo inicial, ao qual serão adicionados,
progressivamente, pequenos gravetos secos, com o cuidado de não o abafar.
Sendo a combustão uma queima de oxigênio, é preciso deixar o fogo ventilado,
colocando os gravetos maiores e a lenha grossa paulatinamente. É comum,
obtido o início do fogo, haver uma precipitação em se colocar lenha grossa em
quantidade, o que, geralmente, contribui para apagá-lo.
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6.3.2.3.2 Por processos de fortuna: não será fácil conseguir o fogo por tais
processos; muita prática será necessária para fazê-lo. Os mais comuns são:
a) Lentes: a chama poderá ser obtida fazendo-se incidir na isca os raios solares
através de uma lente de binóculo, de câmera fotográfica, de luneta ou de
lanterna.
b) Pedra dura:golpeando uma pedra dura com uma faca ou pedaço de aço resultarão
faíscas que, atingindo a isca, produzirão o fogo.
f) Arco e pau: as madeiras que se atritam deverão estar bem secas e ser bem duras.
A chama é obtida fazendo-se o pauzinho rodar por uma volta de corda do arco.
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g) Pilhas ou baterias: um pedaço de “bombril” ou de outro material semelhante, de
fraca resistência, ligado aos polos de duas pilhas de lanterna ou de uma bateria,
incendiar-se-á facilmente.
h) Tiro de Arma de Caça: retiram-se os balins de chumbo do cartucho. Coloca-se
uma estopa ou tecido desfiado seco no mesmo local.
- Após introduzir o cartucho na câmara, apontando a arma para cima, realiza-
se o disparo, e o material combustível será projetado apresentando fagulhas
que podem dar início ao fogo.
6.3.3 CONSERVAÇÃO DO FOGO
6.3.3.1 Obtido o início do fogo através do acendimento da isca, bastará ir
adicionando madeira, a princípio, o mais seca possível.
6.3.3.2 Uma vez firmado o fogo, poderá ser usada também lenha verde.
6.3.3.3 Dependendo da permanência no local e do uso que se fará da fogueira,
dever-se-á ir reunindo junto a ela o máximo de lenha possível para que vá secando
caso esteja úmida ou verde.
6.3.4 TRANSPORTE DE ISCAS
6.3.4.1 As iscas deverão ser transportadas tomando-se a preocupação de
impermeabilizá-las com sacos plásticos, tubos de filmes, etc.
6.3.4.2 Outra forma de preparar o transporte de iscas à base de tecido de algodão
é queimando-o até carbonizá-lo. Deve-se tomar o cuidado para não o desmanchar.
6.3.4.3 Feito isso, deve-se acondicioná-lo na forma descrita anteriormente.
6.3.5 FOGUEIRAS E FOGÕES
6.3.5.1 Obtido o início do fogo através do acendimento da isca, bastará ir
adicionando madeira, a princípio, a mais seca possível. Uma vez firmado o fogo,
poderá ser usada lenha verde.
6.3.5.2 Dependendo da permanência no local e do uso que se fará da fogueira,
dever-se-á reunir junto a ela o máximo de lenha possível para que vá secando,
caso esteja úmida ou verde.
6.3.6 CONSELHOS ÚTEIS E PRÁTICOS
a) Não desperdiçar fósforos nem isqueiro, tentando acender uma fogueira com
isca mal preparada.
b) Não esbanjar esses meios para acender cigarros ou outras fogueiras, caso já
exista uma; utilizar brasas ou tições.
c) Antes que se acabem os fósforos ou o fluido do isqueiro, dever-se-á tentar
aprender a praticar o acendimento pelo meio de fortuna que achar mais viável.
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d) Guardar bem protegido o material para a isca; o isqueiro e os fósforos deverão
ser colocados dentro de um saco plástico a fim de evitar a grande umidade que
impera na selva.
e) Por onde se andar, se houver material para isca, este deverá ser recolhido e
guardado para o futuro.
f) Boa lenha para o fogo será a obtida de árvores secas e em pé.
g) Para manter um braseiro em condições de futura utilização, bastará cobri-lo
com cinzas e, sobre essas, uma camada de terra seca.
h) Para transportar fogo de um local para outro, bastará levar um tição ou brasas
de bom tamanho e colocá-los sob a nova fogueira, atiçando o fogo.
6.3.7 TIPOS DE FOGÃO
6.3.7.1 Obtido o fogo, sua utilização obviamente estará relacionada com as
necessidades do sobrevivente e, principalmente, com sua permanência no local.
Podem ser improvisados os seguintes tipos:
6.3.7.1.1 Fogão de Espeto
a) É aquele feito unicamente com um espeto, tendo de preferência uma forquilha
na ponta.
b) No próprio espeto, coloca-se a caça a ser assada e, na forquilha, pode-se
pendurar o caneco ou outra vasilha para purificar a água ou cozinhar outro
alimento.
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6.3.7.1.2 Fogão de Assar: duas forquilhas colocadas uma de cada lado do fogo
sustentam o espeto com a caça e a vasilha para cocção, podendo esta última
também ser colocada junto ao fogo, no solo.
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c) O moquém é utilizado para o preparo de carnes para um consumo posterior.
Todavia, para se obter um moqueado uniforme e mais rápido convém que as postas
de carne não tenham uma espessura superior a dois dedos; com isso, a desidratação
será mais completa e rápida e, consequentemente, a conservação da carne será
muito maior, podendo durar uma semana.
d) Se o sobrevivente dispuser de tempo e a caça tiver sido abundante, poderá ainda
salgar as peças antes de moqueá-las, pois, sendo o sal um elemento higroscópico,
a retirada da água (desidratação) será bem mais eficiente e a conservação pelo
sal poderá fazê-las durar até um mês.
6.3.7.1.4 Fogão Móvel
a) É o fogão feito com três varas de aproximadamente um metro e vinte, amarradas
no alto formando um vértice, enquanto suas pontas no solo formam um triângulo
equilátero.
b) A 1/3 de sua altura, três estacas são amarradas horizontalmente com cipó a
fim de fixar o conjunto e permitir ainda a armação de uma grelha.
c) Com este tipo de fogão, poderá o fogo ser deslocado para diferentes locais,
estando ele sempre pronto e, inclusive, com a grelha podendo ser utilizada para
moquear.
6.3.7.1.5 Fogão de Fosso: o fogo é feito numa depressão do terreno ou num fosso
cavado, onde, como melhoria, podem ser colocados lateralmente dois toros de
lenha no sentido longitudinal.
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- Obtém-se assim uma maior profundidade, evitando-se a ação do vento.
6.3.7.1.6 Fogão de Chapa: o fogo é feito numa depressão do terreno ou num fosso
cavado, onde, como melhoria, pode ser colocado lateralmente dois toros de lenha
no sentido longitudinal. Obtém-se assim uma maior profundidade, evitando-se
ainda a ação do vento. Acrescenta-se a este fogão uma chapa obtida de uma
fuselagem de aeronave.
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b) O fogo é feito e, em seguida, a brasa é colocada dentro do fogão.
c) Após verificar que a parte interna está quente, retiram-se as brasas e coloca a
caça ou a pesca para ser preparada envolvida com folha e tabatinga. Em seguida,
fecha-se a entrada com tabatinga.
d) Após verificar as rachaduras no fogão é que o sobrevivente saberá que a caça
ou a pesca esteja já em condições de consumo.
6.3.7.1.8 Fogão de pressão
a) O fogo é feito fora e, em seguida, a brasa é colocada dentro do fogão.
b) Este fogão consiste em um buraco de mais ou menos um palmo de profundidade,
sendo colocado barro de Tabatinga em suas laterais, pedras e uma vara de
madeira no centro.
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c) Com este tipo de fogão, poderá o fogo ser deslocado para diferentes locais,
estando ele sempre pronto e, inclusive, com o gancho, podendo ser utilizado
para moquear.
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6.4.2 REGRAS GERAIS
6.4.2.1 O consumo de frutas silvestres desconhecidas é visto por muitos como
uma atividade arriscada, devido ao perigo de envenenamento. Isso devido aos
vegetais desenvolverem defesas contra seus predadores, os herbívoros. Essas
defesas são chamadas de defesa química, que é a toxidez natural do vegetal.
Ex: Mandioca brava, com altos teores de cianureto, porém dela extrai-se a farinha
através de pressão e tostagem e o Tucupi, que se torna inócuo após prolongada
fervura.
6.4.2.2 Os animais que não possuem a capacidade natural de passar por cima
desta defesa química, contornam a toxidez ingerindo pequenas quantidades de
espécies diferentes.
6.4.2.3 As sementes que não possuem a defesa química para assegurar a
continuidade da espécie, possuem uma defesa mecânica para evitar sua predação,
tais como: as palmeiras com os seus cocos, ou o pequi com os seus espinhos.
Porém, é difícil encontrar uma planta que combine a proteção química com a
mecânica.
6.4.2.4 Além disso, tem-se ainda diversos processos para verificar a possibilidade
de ingerir determinado alimento, tais como:
6.4.2.5 Sigla C A L
6.4.2.5.1 Cabeludo, Amargo e Leitoso: é o processo mnemônico que se utiliza
para verificar a possibilidade de ingerir um determinado vegetal.
- Caso apresente alguma dessas características, deve ser investigado melhor
para depois serem consumidos.
6.4.2.5.2 Mesmo levando em conta essa regra, existem algumas exceções, tais
como: Abiu, Sapoti, Maçaranduba, mamão, etc.
6.4.2.6 Cozimento dos vegetais: raciocinando com a defesa mecânica dos
vegetais, o processo mais utilizado para suprimir a nocividade ou a letalidade do
vegetal é o seu cozimento. Dessa forma, cozinhe-o durante 5 minutos, realizando
uma troca da água, realizando essa mesma operação por duas ou três vezes.
Após isso, o vegetal poderá ser consumido.
- Com exceção dos cogumelos, que têm efeito alucinógeno.
6.4.2.7 Uso do paladar: no caso de encontrar alimento estranho e não dispuser
de fogo para sua cocção, retire uma pequena quantidade ou pequeno pedaço do
vegetal ou fruto, mastigue-o e conserve-o pelo período de 5 a 10 minutos na boca.
- Se passado esse tempo o paladar não estranhar o gosto da porção, o restante
poderá ser consumido.
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6.4.2.8 Vegetais consumidos pelos animais: os vegetais e frutos consumidos
pelos animais poderão ser consumidos pelo homem, em pequena quantidade.
Os animais contornam a toxidez dos alimentos ingerindo pequenas quantidades,
pois seus metabolismos são capazes de lidar com pequenas doses de substância
tóxica, talvez por apresentarem uma variada flora bacteriana no intestino.
6.4.3 REGRAS ESPECÍFICAS
6.4.3.1 Hábitos alimentares: o combatente oriundo das regiões urbanas,
naturalmente tendo que consumir vegetais, irá mudar de forma brusca seus hábitos
alimentares. Assim sendo, quando da ingestão de alimentos de origem vegetal,
deverá fazê-lo de forma moderada para que seu organismo se acostume à nova
dieta. Essa conduta é muito importante para que sejam evitados os distúrbios
estomacais ou intestinais. Preservar a saúde é uma das preocupações constantes
do combatente em situação de sobrevivência.
6.4.3.2 Cursos dos igarapés: nos cursos dos igarapés são encontrados os mais
variados tipos de palmeiras. Dessas pode-se retirar o fruto e o palmito. Todos os
frutos de palmeiras são comestíveis.
6.4.3.3 Distribuição geográfica: os alimentos vegetais dependem da área
geográfica. Apresentam restrições quanto à frutificação ou até mesmo à existência.
Assim sendo, somente em determinadas áreas e épocas do ano, como veremos
a seguir, podem-se encontrar algumas espécies de vegetais.
6.4.3.4 Época do ano: influi diretamente na frutificação dos vegetais. Dessa
forma, não se deve partir da ideia falsa de que os vegetais são encontrados com
facilidade em todos os meses do ano.
6.4.4 APRESENTAÇÃO, PREPARO E CONSUMO DOS VEGETAIS SILVESTRES
E CULTIVADOS
6.4.4.1 Frutos
6.4.4.1.1 Açaí
a) O açaizeiro é uma das palmeiras mais típicas do Pará, onde seguramente
tem sua origem. Em razão de sua importância alimentar, especialmente entre as
classes média e baixa, vem sendo disseminado por todo o país.
b) No Amazonas, sobretudo na bacia do Solimões, o Açaí-do-Pará é bastante
cultivado, sendo também chamado de Açaí-de-Planta, significando não ser da
região.
c) Do açaizeiro pode ser retirado não só o fruto do açaí, do qual extrai-se o vinho,
como também o palmito, bastante apreciado por toda a região amazônica.
d) O açaí é um alimento essencialmente energético, com um valor calórico superior
ao do leite, com alto teor de minerais, cálcio, fósforo e ferro.
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e) Pode ser consumido na forma de vinho, para isso retira-se do cacho a
quantidade necessária de frutos. Coloca-se a água no forno para amornar, e nesta
condição, coloca-se os frutos de forma a amolecer a casca.
f) O tempo de permanência do fruto na água morna é de aproximadamente 15
minutos. Após isso, joga-se a água fora e, com auxílio de um porrete de madeira,
macera-se o açaí, separando a polpa e a casca do caroço. Coloca-se água na
quantidade necessária para o consumo imediato e obtém-se o vinho do açaí.
g) A cor do vinho é semelhante ao vinho da uva.
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6.4.4.1.4 Bacaba
a) Palmeira nativa da Amazônia dispersa pelo norte do continente, sendo mais
frequente no Pará e Amazonas, tendo como habitat ideal a mata virgem alta de
terra firme e também de várzea.
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c) Esse óleo, semelhante ao da oliva, pode ser separado do vinho por processos
caseiros, e utilizado em frituras.
d) A época da produção da bacabeira coincide com o período mais chuvoso, isto
é, de janeiro a abril, diferentemente do açaizeiro.
6.4.4.1.5 Bacabinha
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a) Esta palmeira ocorre somente no alto Amazonas e em alguns países do norte
da América do Sul e da América Central.
b) Seus frutos fornecem vinho igual ao da bacabeira, diferindo apenas em tamanho.
6.4.4.1.6 Patauá
a) O patauá distribui-se por todo o norte da América do Sul até o Panamá. Ocorre
em toda a Amazônia com maior incidência nas matas de várzeas do estuário, no
Pará, mais precisamente na parte central-oeste de Marajó.
b) A polpa fornece o “vinho de Patauá”, muito parecido com o da Bacaba, sendo
o preparo e o consumo iguais ao dessa e do açaí.
c) É muito apreciado esse vinho, porém deve ser ingerido em quantidade moderada
devido ao elevado teor em óleo nos frutos.
d) Safra entre outubro e março do ano seguinte.
6.4.4.1.7 Pupunha
a) Desde a época do descobrimento do Novo Mundo, conforme relatam os antigos
historiadores, a pupunheira tem sido cultivada pelas populações indígenas que
nela encontraram uma das mais importantes fontes alimentares e essa importância
passou a ser reconhecida através das celebrações festivas com que muitas tribos
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marcavam o início da colheita.
b) Os frutos, depois de cozidos com sal, são consumidos com mel, ou açúcar,
porém com café é a forma mais usual. Ressalta-se ainda o aproveitamento do
palmito, que é de boa qualidade, e de outras partes da planta.
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c) É importante ressaltar que os frutos são ricos em proteínas, carboidratos e
vários elementos minerais, como cálcio, ferro, fósforo, entre outros, em um alto
teor de vitamina A.
d) O aparecimento dos frutos inicia-se, quase regularmente, no mês de novembro,
prolongando-se até junho do ano seguinte.
e) O clímax da safra está entre março e maio.
6.4.4.1.8 CAMU-CAMU (caçari ou araçá d’água)
6.4.4.1.10 Abiu
a) É cultivado em quase todo o Brasil e comumente encontrado no estado silvestre
por toda a Amazônia. Nessa forma é, às vezes, conhecido pelo nome de “Abiurana”.
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c) Apesar de muito popular é, às vezes, depreciado por conter na casca um leite
branco e viscoso que adere aos lábios. A forma de consumo é in natura.
d) Pode ser encontrado a partir de setembro até abril.
6.4.4.1.11 Abiurana: semelhante ao Abiu, porém na forma silvestre.
6.4.4.1.12 Amapá: o amapazeiro é uma espécie típica da Amazônia brasileira,
especialmente do Pará. O fruto é comestível, doce e até agradável, mas constitui,
sobretudo, um alimento de sobrevivência na floresta. O leite branco, abundante,
que escorre da casca ao ser cortada, é reputado como valioso remédio contra a
fraqueza em geral, a tuberculose e as doenças intestinais.
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6.4.4.1.14 Araçá-de-Anta (Goiaba de Anta): é uma espécie tropical dispersa por
toda a Amazônia, chegando quase ao sul do Brasil, ocorrendo geralmente na
vegetação secundária e algumas vezes na mata primária. Da abertura da flor até
a maturação completa dos frutos ocorre um período muito curto, razão porque
a planta é comumente encontrada com flores e frutos verdes ao mesmo tempo,
o que ocorre entre agosto e outubro, principalmente. Em situação de escassez
alimentar na floresta, os frutos, adocicados e de sabor suave, podem constituir
um bom suprimento. Consome-se ao natural.
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6.4.4.1.16 Bacuri Coroa: em toda a Amazônia a área de maior concentração do
bacurizeiro é o estuário do grande rio, com ocorrência mais acentuada na região
do Salgado e na Ilha de Marajó. Nesses locais, prolifera com bastante facilidade,
chegando, em alguns casos, a ser considerado uma praga invasora. No estado do
Amazonas, a raridade indica que foi mínima a expansão desta planta. O Bacuri é
uma das frutas mais populares no Pará, o maior produtor. Os frutos são variáveis
não só no tamanho e cor, como também no nível de acidez. Alguns são bastante
doces, logo, preferidos para o consumo ao natural. Os frutos bastante ácidos são
empregados nos sucos. O bacurizeiro floresce regularmente entre junho e julho.
A queda de frutos maduros tem início em dezembro, prolongando-se até maio
do ano seguinte.
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6.4.4.1.18 Biribá: acredita-se que o Biribá tenha a sua origem na região fronteira
da Amazônia brasileira com o Peru e daí se espalhou por todo o resto da dita
região até o nordeste brasileiro e para o norte sua dispersão alcançou as Antilhas
e outras partes do Caribe. O Biribá é uma das frutas mais populares e mais
cultivadas nos pomares domésticos de toda região. A polpa do Biribá é de sabor
suave e adocicado, sendo consumida essencialmente no estado natural, embora
ocasionalmente seja utilizado na fabricação de sucos. Tem sua floração de julho
a setembro e frutificação de novembro a maio.
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destaca-se o pedúnculo, em forma natural, e a castanha assada e salgada. A casca
do tronco e os galhos são usados, em infusão, contra tumores e inflamação da
garganta. Tem a reputação como revigorante do organismo humano e tem sua
frutificação de outubro a janeiro, com um pico em novembro/dezembro, fim da
estação seca. Contudo, há variedades que frutificam até março, e ainda outras,
com frutos fora dessa época.
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no Brasil foi introduzida no ano de 1817. É uma planta de certa forma atrativa,
especialmente pela forma incomum dos seus frutos produzida em quantidade
apreciável por cada árvore. Não raro, a caramboleira é cultivada nos pomares
domésticos. Seus frutos, apesar de bastante ácidos, e com elevado teor de oxalato
de cálcio, são ocasionalmente consumidos na forma natural, sendo mais comum
o uso no preparo de sucos.
6.4.4.1.26 Cupuaçu: o cupuaçu é espécie nativa do Pará, onde pode ser ainda
encontrado em estado silvestre na mata virgem alta de várias localidades do
Amazonas. Apresenta um cheiro característico forte. Come-se o Cupuaçu de várias
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6.4.4.1.28 Cupui: espécie dispersa desde o Pará até a área amazônica dos
países vizinhos da região. Habita geralmente na mata das terras altas, de
preferência às margens úmidas dos igarapés. Semelhante ao Cupuaçu, diferindo
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no tamanho (menor), polpa mais adocicada e casca mais fina. Os frutos são
bastante apreciados, servindo a polpa no preparo de refresco. São também muito
procurados pelos macacos. Frutifica nos meses de fevereiro a maio.
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6.4.4.1.32 Graviola: a graviola é atualmente cultivada em várias partes do mundo,
desde o sul da Flórida (EUA) até a China, África e Austrália, e foi uma das primeiras
frutas levadas do Novo Mundo para outras regiões tropicais. Essa dispersão
mundial da graviola é naturalmente uma decorrência do excelente sabor e aroma
de seus frutos tão atrativos que já recebeu elogios de “insubstituível para sorvetes e
bebidas”. Os frutos podem ser consumidos in natura, porém há grande preferência
pelo sorvete e pelo suco e, nessa forma, é largamente industrializado em toda
parte do mundo. Suas folhas têm emprego na medicina caseira e ultimamente
tem sido muito procurada e utilizada em forma de chá para baixar o teor de açúcar
no sangue. É, contudo, uma automedicação arriscada por não se conhecerem
os princípios ativos e dosagens. Os frutos podem ser encontrados praticamente
durante o ano inteiro, com maior abundância entre julho e setembro. Em Manaus
o período de frutificação corresponde aos meses de janeiro, fevereiro e março.
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semestre do ano, ou até um pouco mais além, o inajá tem sua frutificação.
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uma das árvores frutíferas mais populares em toda a região. A polpa que envolve
as sementes é consumida no estado natural e não consta haver outra forma de
consumo. Sua frutificação pode ocorrer três vezes ao ano, contudo, é entre os
meses de agosto/ setembro que tem seu maior pico.
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6.4.4.1.38 INGÁ-COSTELA: espécie nativa da Amazônia frequente na mata úmida
de terra firme e margens inundáveis de rios do estuário, rio Tocantins e baixo
Amazonas, no Pará; também nos rios Negro e Madeira, Amazonas; citada ainda
para a Guiana Francesa e Venezuela.
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6.4.4.1.40 INGAPÉUA: difere dos outros pelo fato do fruto apresentar o pericarpo
revestido de pelos amarelos levemente ásperos. Encontrada, sobretudo, em solo
fértil humo-argiloso, úmido, mas não inundável. A época de maior floração situa-se
entre os meses de julho e outubro, com frutos maduros a partir de janeiro até abril;
contudo, não raro, encontram-se plantas com flores e frutos ao mesmo tempo.
6.4.4.1.41 JACA: a jaqueira, originária da Índia, é cultivada em todos os Países
Tropicais do mundo. Foi introduzida no Brasil por volta do século XVIII através da
Bahia e, por essa razão, algumas vezes denominada de Jaca-da-Bahia. Cultiva-se
a jaqueira em toda a Amazônia e, pela facilidade com que germinam as sementes
ela prolifera espontaneamente por toda parte, sendo comum a ocorrência de
pequenas concentrações da planta em áreas de antigas habitações. As partes
comestíveis da jaca são os frutículos, resultantes dos ovários das flores, que
se tornaram carnosos durante o crescimento, constituindo os “bagos” de cor
amarelada, sabor doce, cheiro forte e característico. Os “bagos” podem ser de
consistência endurecida ou um pouco mole e daí a distinção de duas variedades
muito conhecidas da jaca: “jaca dura” e “jaca mole”; nessa, geralmente menor,
distingue-se o tipo “manteiga”, muito apreciado pelo sabor mais doce e delicado
dos “bagos”. As sementes podem ser consumidas após assadas ou cozidas e,
comenta-se, são ligeiramente afrodisíacas. Os frutos iniciam a maturação a partir
de outubro, prolongando-se até mais ou menos abril do ano seguinte.
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6.4.4.1.42 Jambo: o jambeiro é originário da Malásia, região de Malaca e atualmente
cultivado em todas as regiões tropicais e subtropicais do mundo, principalmente
como planta decorativa e para sombreamento de logradouros públicos.
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do mês de fevereiro, até maio, e depois da colheita surgem novas flores (no
Nordeste).
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6.4.4.1.45 Maracujá: é abundantemente cultivado na Amazônia. Encontra-se
espalhado por todos os países tropicais do mundo, com cerca de 400 espécies,
sendo a forma de frutos roxos bastante comum na Austrália, Havaí, Mediterrâneo,
África do Sul e outros países, em que têm considerável importância econômica. O
maracujá é utilizado de muitas maneiras, sobretudo, como refresco. A frutificação
ocorre durante quase o ano inteiro notando-se uma redução no fim da estação
chuvosa (maio a julho), motivada pela ausência de insetos polinizadores no
período chuvoso.
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6.4.4.1.47 Marimari: espécie dispersa por quase todo o Pará e Amazonas,
com ocorrência bastante acentuada, do baixo Amazonas até Manaus, onde
provavelmente tem o centro de origem. É planta silvestre característica de
ambientes úmidos ou alagados, como sejam: matas de igapó, de várzeas
inundáveis, lagos, igarapés, etc. É cultivada algumas vezes fora de seu ambiente.
O período de maior floração está entre os meses de julho a setembro, com frutos
maduros a partir do início do ano ou um pouquinho antes.
6.4.4.1.48 Murici: muitas outras espécies conhecidas pelo mesmo nome ocorrem
no estado silvestre na Amazônia. Isso sugere que esse gênero tenha aí o centro
de origem e dispersão. A Murici é planta típica de áreas campestres, dunas,
capoeiras rarefeitas, savanas, etc, sempre em solos arenosos. No geral, os
frutos não são consumidos ao natural, sendo a forma mais simples o refresco,
às vezes misturado com farinha de mandioca. A época de frutificação tem início
em novembro/dezembro, estendendo-se até abril/maio do ano seguinte quando
os frutos são encontrados em abundância.
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6.4.4.1.49 Pajurá: esta espécie é nativa da bacia amazônica e distribuída desde
a parte central até as Guianas. Muito frequente no estado silvestre em matas de
terra firme e bastante cultivado em Manaus e arredores, em pomares domésticos.
Os frutos do Pajurá são consumidos no estado natural; o mesocarpo (única parte
comestível) é de cheiro atrativo, sabor doce e agradável, porém considerado
“pesado”, em razão do que nem sempre é consumido todo um fruto de uma só
vez. Em Manaus é bastante comum, com a frutificação de setembro a maio.
6.4.4.1.50 Piquiá: espécie distribuída por toda a Hileia, desde a faixa atlântica, entre
o noroeste do Maranhão e a Guiana Francesa, até o alto Amazonas, disperso na
mata alta de terra firme, com maior concentração na região do grande estuário. O
piquiá é muito, e mais apreciado pelas classes populares, que se deliciam com o
sabor e cheiro incomuns de sua polpa, comestível depois de cozida. Separados
da casca, os caroços (e a sua polpa ) são levados ao fogo juntamente com o
feijão cozido ou o arroz; a polpa é consumida pura ou com farinha, que pode ser
acompanhada de café, ou ainda com o arroz no qual foi cozida. A amêndoa é
também, oleosa e comestível, porém geralmente desprezada devido à trabalhosa
remoção dos espinhos. Frutos maduros em abundância podem ser encontrados
nos meses de março a maio ou até junho.
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6.4.4.1.51 Pitomba: a pitombeira é originária da parte Ocidental da Amazônia
onde provavelmente ainda ocorre no estado selvagem. Atualmente encontra-se
cultivada ou propagada espontaneamente em quase todo o território brasileiro,
desde o Amazonas até o Rio de Janeiro e também no Paraguai e Bolívia. O
conteúdo comestível do fruto é o arilo que envolve as sementes, o qual, embora
escasso, é doce, acidulado e de sabor bastante agradável, consumido apenas
no estado natural. O período de frutos maduros vai de dezembro até fevereiro,
aproximadamente.
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6.4.4.1.53 Sapucaia: supõe-se que seja originária da parte central-leste da
Amazônia onde é bastante frequente, embora a dispersão estenda-se até às
Guianas e provavelmente à Colômbia. É razoavelmente comum no estado silvestre
nas matas de várzea e de terra firme habitando, de preferência, nas margens
de rios e em áreas de vegetação pouco densa, e ocasionalmente cultivada. As
amêndoas da sapucaia são tão saborosas quanto às da Castanha-do-Pará e
contém cerca de 51% de óleo comestível. Um dos fatores negativos para sua
comercialização é o desprendimento espontâneo do opérculo, libertando, com
isso, as sementes; essas se dispersam por entre a vegetação, dificultando a sua
colheita. Logo a seguir, são avidamente devoradas pelos animais roedores da
floresta. A floração ocorre geralmente entre maio e agosto, com frutos maduros
cerca de 8 a 10 meses depois.
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6.4.4.2 Chás
6.4.4.2.1 Castanha do Pará: inflamação no ovário, cólica intestinal, hepatite.
6.4.4.2.2 Carapanaúba (CASCA): cortar lascas pequenas e colocá-las em uma
vasilha (panela) com água fresca ou morna e deixar imersa durante 15 a 20
minutos, tomar ao natural (poderá ser filtrado). Anti-inflamatório. Utilizado na
região para febre, dor de barriga, fígado, rins e malária.
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em um lugar fresco quando secar não servirá mais para fazer o chá. Consumo ao
natural ou acrescentando açúcar. Utilizado na região como diurético e antidiarreico.
6.4.4.2.3 Xexuá (Cipó): cipó estriado com nervuras esverdeadas e quando raspada
a sua casca apresenta uma cor amarela. Ao ser seccionado, aparecerão círculos
vermelhos concêntricos. Corta-se o cipó descascado em lascas. Coloca-se em uma
vasilha (panela) com água morna e deixar imerso de 15 a 20 minutos. Conservar
por duas a três semanas, quando começará a secar. Deve ser consumido natural
ou acrescentando açúcar. Utilizado na região contra anemia (guardando as lascas
na aguardente por 15 dias e depois consumir) e como afrodisíaco.
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6.5 ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL
6.5.1 GENERALIDADES
- Normalmente se obterá carne através da caça e da pesca. A carne tem um valor
energético muito maior que os vegetais, pela quantidade de calorias que possui.
Entretanto, é mais difícil de ser conseguida na selva, devendo o homem, para
isso, estar altamente capacitado, conhecendo os hábitos diurnos e noturnos dos
animais, os habitats, os rastros e os locais de comedia, onde possa ser feita uma
espera ou colocada uma armadilha para caça.
6.5.2 PREPARAÇÃO DA CAÇA
6.5.2.1 Processos
6.5.2.1.1 Esfolamento ou descamisamento
a) Uma vez abatido o animal, deve-se proceder a esfola. Pendura-se o animal
pelos membros posteriores, abrindo-os para facilitar o trabalho.
b) Faz-se uma incisão transversal na parte mais alta dos mesmos, abaixo dos
tornozelos, e outra longitudinal até as entrepernas, descendo este corte pela “linha
branca” do ventre do animal.
c) Com a ponta da faca inicia-se o esfolamento, liberando a pele do músculo e
de uma fina camada de gordura ali existente.
6.5.2.1.2 Sapecar
a) Este processo poderá ser utilizado em animais com pouca quantidade de pelos
ou penas ou como processo auxiliar em um animal sumariamente raspado ou
despenado.
b) Do mesmo modo que a ave, o animal é chamuscado no fogo e, em seguida,
é feita a raspagem do pelo com uma faca ou objeto cortante até a pele ficar
esbranquiçada.
6.5.2.1.3 Fervura
a) Processo muito utilizado em paca, cutia e cutiara que tem a pele muito saborosa.
b) Consiste em jogar água quente em cima do animal e simultaneamente se faz
a raspagem do pelo até a pele ficar esbranquiçada.
c) Deve-se ter o cuidado para o couro não encruar (endurecimento da carne
devido ao resfriamento).
d) Para tal, deve-se jogar água somente nas partes que serão imediatamente
raspadas.
6.5.2.1.4 Evisceração
a) Após utilizar qualquer dos processos vistos acima, seja o animal grande ou
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pequeno, será o mesmo aberto pelo peito para a evisceração.
b) Nesta operação, há que se ter cuidado com a vesícula biliar (fel) e a bexiga.
c) Para isso, coloca-se a ponta da faca protegida pelo indicador tracionando-se
para frente e para baixo.
6.5.2.1.5 Cocção: depois de eviscerado e lavado, o animal deverá ser consumido
imediatamente ou moqueado para consumo posterior.
6.5.2.2 Para efeito do preparo, utilização e conservação, convenciona-se dividir a
caça em animais de pelo, aves, peixes e animais de terra.
6.5.2.3 Animais de pêlo
6.5.2.3.1 Antas, onças, veados, macacos, pacas, cutias, cutiaras, capivaras, etc.
6.5.2.3.2 Uma vez abatido o animal, deve-se proceder a esfola.
a) Pendura-se o animal pelos posteriores, abrindo-os para facilitar o trabalho.
b) Faz-se uma incisão transversal na parte mais alta dos mesmos, abaixo dos
joelhos, e outra longitudinal até as entrepernas.
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c) Com a ponta da faca inicia-se o esfolamento, liberando a pele do músculo de
uma fina camada de gordura ali existente.
d) Procede-se com os demais membros da mesma forma.
6.5.2.3.3 Existem alguns animais, como os macacos, que permitem ser
descamisados, isto é, uma vez feitas as incisões transversais e longitudinais,
pela simples tração, o couro será destacado do músculo.
6.5.2.3.4 Após esfolado ou descamisado, o animal será aberto pela linha do peito
(linha branca) para a evisceração. Nesta operação dever-se-á ter um duplo
cuidado: com a bexiga e com o fel. Para isso, coloca-se a ponta da faca protegida
pelo indicador e, tracionando-se para a frente e para baixo, o animal estará aberto
sem se correr o risco de perfurar a bexiga ou a bolsa biliar. Nos grandes animais,
nenhuma parte das vísceras deverá ser aproveitada.
6.5.2.3.5 Alguns animais possuem glândulas subaxilares que, se não forem
retiradas corretamente, poderão comprometer a carne e causar doenças
(exemplos: mucura e cutia).
6.5.2.3.6 Eviscerado e lavado, o animal estará pronto para a cocção que poderá
ser para consumo imediato ou moqueado para uso posterior.
6.5.2.3.7 A pele dos animais poderá ser aproveitada para abrigar, colher água ou
simples adorno. Para isso, deverá ser estaqueada e posta a secar ao sol ou fogo.
6.5.2.3.8 As carnes devem ser muito bem cozidas ou fritas para reduzir a
possibilidade de transmissão de Toxoplasmose. Para tanto, devem ser cortadas
com pequena espessura visando destruir possíveis cistos.
6.5.2.3.9 O sangue dos animais não deverá ser consumido in natura, pois
poderá transmitir Toxoplasmose. Poderá ser fervido e usado como tempero e
complemento calórico após estar totalmente desidratado.
6.5.2.4 Aves: mutuns, jacus, nhambus-galinha, jacamins, papagaios, ciganas,
socós, garças etc.
6.5.2.4.1 Abatida a ave, estando ela ainda quente, será fácil a retirada das penas.
Outro processo para depenar é o caseiro, com o emprego da água quente, mas
difícil de ser realizado em plena selva, além de moroso. Pode-se ainda retirar as
penas juntamente com a pele, pelo descamisamento; embora seja um processo
rápido, haverá a perda da pele como alimento que possui grande quantidade
de calorias.
6.5.2.4.2 O processo do barro é eficiente, porém demorado; consiste em ser a ave
levada ao fogo envolta no barro; pelo calor haverá a desidratação e o tijolo assim
obtido quando partido, liberará a ave sem as penas.
6.5.2.4.3 Das vísceras das aves podem ser aproveitados o coração, o fígado e a
moela, sendo que desta pode-se extrair uma pequena quantidade de sal. Para
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isso, após bastante picada, é posta a ferver com água e, com a evaporação, restará
uma pequena porção de sal em depósito. A quantidade assim obtida, embora
insuficiente para salgar a ave, servirá para dar um paladar melhor à carne.
6.5.2.4.4 Os ovos, tanto os das aves como os dos quelônios, podem ser
conservados até 30 dias, quando cozidos em água e guardados em salmoura, ou
então, após cozidos, esfarelados e postos ao sol para uma melhor desidratação.
6.5.2.5 Peixes
6.5.2.5.1 Podem ser escamados, sempre da cauda para a cabeça, no sentido
contrário ao das escamas.
6.5.2.5.2 Há peixes, entretanto, cujo couro pode ser retirado juntamente com as
escamas, numa operação mais rápida e higiênica. Escamado o peixe ou dele retirado
o couro, cortam-se as barbatanas (dorsais e ventrais) e as nadadeiras e, pelo ventre,
faz-se a evisceração. Das vísceras dos peixes, somente são aproveitáveis as ovas.
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6.5.2.6.3 Dos ofídios, quer sejam peçonhentos ou não, faz-se um corte longitudinal
pelo ventre e pode ser esfolado ou descamisado pela tração; retira- se um palmo a
partir da cabeça e um a partir da cauda; feita a retirada das vísceras abdominais
(evisceração), todo o ofídio pode ser consumido, sem qualquer outra preocupação.
6.5.2.6.4 Nos lacertídeos e jacarés, a carne mais indicada para o consumo é a
da cauda. Ao preparar para o corte, deve-se amarrar a boca e tomar cuidado
com a cauda, mesmo depois da morte do animal, pois as contrações musculares
e reflexos poderão gerar surpresas.
6.5.2.6.5 Os quelônios (jabutis, tracajás, tartarugas, etc) podem ser levados inteiros
ao fogo. Entretanto, convém bater com o facão nas laterais da carapaça ventral e,
rompendo-a, pode o animal ser eviscerado, e das vísceras apenas aproveitados
os ovos, quando houver. O próprio casco pode servir de vasilha para a cocção
do quelônio.
6.5.2.6.6 Não esquecer que a fome sobrepuja toda repugnância.
6.5.3 TEMPEROS
6.5.3.1 Quando do preparo de alimentos, a falta de temperos na selva constituirá
um outro problema, embora alguns vegetais possuam pequena salinidade.
6.5.3.2 Na selva o sal poderá ser encontrado:
6.5.3.2.1 Nas cinzas que possuem pequeno teor salino.
6.5.3.2.2 No caruru, planta que secada ao sol, queimada e lavada fornecerá como
resíduo um sal grosseiro.
6.5.3.2.3 Na moela das aves que, após picada e fervida até a evaporação da água,
por várias vezes, deixará um pequeno depósito com certo teor de sal.
6.5.3.2.4 No sangue que, posto a ferver até secar, também fornecerá sal.
6.5.4 CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS
6.5.4.1 As carnes deverão ser cortadas em fatias finas, de no máximo 2 dedos de
espessura e submetidas a uma desidratação pela defumação, salga ou moquém.
6.5.4.2 Por períodos de até 8 horas as carnes que não forem desidratadas,
defumadas, salgadas ou moqueadas poderão ser conservadas se forem
armazenadas e protegidas no interior de igarapés, cujas águas são normalmente
mais frias.
6.5.4.3 O sal, elemento higroscópico, auxiliará de qualquer modo a desidratação
e a conservação das carnes.
6.5.4.4 Para maior proteção das carnes, elas deverão ser guardadas envoltas
em panos, papel ou folhas. Caso acumulem mofo, bastará raspá-las ou lavá-las
antes de serem preparadas para consumo.
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6.5.4.5 Os ribeirinhos conservam os alimentos, normalmente peixes, através
do processo conhecido por mixira, que consiste em derreter o óleo do animal
(banha) em um recipiente, e com aquele ainda quente, imergir totalmente a carne
cozida ou frita. No caso de pedaços espessos, a carne deverá ser cozida. Após o
óleo solidificar-se, o alimento continuará em condições de ser consumido durante
o período de até 12 meses.
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pesar 50 quilos; Tatu-Peludo ou Tatupeba, até 10 quilos; Tatu-de-Rabo-Mole, até
10 quilos; Tatu-Bola ou A par, que se enclausura dentro da carapaça como
defesa e mede uns 40 cm de comprimento.
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3) Cutiaia - roedor menor que a cutia, que tem hábitos idênticos a essa, apresenta
um pelo pardo-avermelhado e uma pequena cauda de uns 8 cm. É também
conhecida por Cutia-de-Rabo.
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1) Jaguatirica- Mamífero da AMÉRICA DO SUL que atinge 85 cm de comprimento
(corpo) e 50 cm de altura e tem a cor amarelada, com numerosas manchas
arredondadas, orladas de preto. Vive nas matas, nada bem e trepa em árvores
com facilidade. Alimenta-se de aves e mamíferos.
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e é um pouco menor que a ariranha. Prefere sair à noite e passar o dia entocada
nos barrancos de rios e igarapés.
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2) Macaco-Caiarara - Espécie de macaco da AMAZÔNIA, de pelo amarelado
e mãos brancas.
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composto de cerdas longas, pretas e brancas, mescladas. Retirando-se a glândula
fétida dos gambás, sua carne é tenra e saborosa como a de galinha.
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afiadas. Existem espécies de hábitos diurnos e outras de hábitos noturnos. As
espécies mais comuns na Amazônia são Suindara ou Coruja-das-Igrejas, Corujinha-
do-Mato, Corujinha-Orelhuda, Murucututu, Coruja-Preta e Caburé.
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d) Tucanos e Pica-paus (Piciformes) - são aves de bicos grandes e pés com dois
dedos voltados para frente e dois para trás. Nesta ordem encontram-se pica-pau,
joão-bobo, araçaris e tucano. Na floresta as espécies mais comuns são Capitão-
do-Mato, Rapazinho-Carijó, João-Bobo, Pica-Pau-Anão, Pica-Pau-de-Cabeça-
Amarela, Araçari-Miudinho, Araçari-de-Bico-Marrom, Tucano-de-Bico-Preto e
Tucano-Açu.
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f) Garças (Ciconiformes) - são aves esbeltas de pernas e dedos compridos,
pescoço fino e bico longo e pontiagudo. Esta ordem reúne as garças e socós. Na
Amazônia pode-se encontrar: Socó-Grande, Garça-Branca-Grande, Garça-Azul,
Garça-Vaqueira, Socozinho, Garça-Real, Socó-Boi (Arapapá, Maguari e Jaburu).
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na floresta normalmente apenas são ouvidos. As mais conhecidas da Amazônia são:
Uirapuru, Corneteiro-da-Mata, Papa-Formigas, Chororó, Rouxinol-do-Rio-Negro,
Sabiá-Ferrugem, Sabiá-Poca, Saíras, Sanhaços, Tem-Tens e Tiés.
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1) Tartaruga-Grande-do-Amazonas - Habita os rios da Bacia Amazônica. Atinge
1 metro de comprimento por 60 cm de largura, de cor preto-cinzenta, sua carne é
muito apreciada, bem como seus ovos.
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1) Jacaré-de-Papo-Amarelo - muito arisco e agressivo, é encontrado no
Pantanal.
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c) Rã - batráquio que, após sua evolução na água, passa a viver na beira de charcos,
lagos ou rios. A rã possui dentes, atinge 15 cm de comprimento e normalmente tem
cor parda. Como alimento, sua carne é bastante apreciada.
Fig 260 - Rã
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b) Tucunaré - peixe que alcança 8 quilos. Sua coloração é viva, onde se misturam
o vermelho, o amarelo, o verde e o negro; apresenta dois ocelos, de cada lado da
cauda, em ouro-gema sobre fundo negro. Faz ninho no chão e ali desova. Habita
águas claras, como as do Rio Branco, e águas negras, como as do Rio Urubu,
afluente da margem esquerda do Amazonas, sendo encontrado ainda em toda a
Bacia Amazônica. Sua carne, um tanto seca, mas delicada e rica em elementos
nutritivos, é muito apreciada.
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j) Tambaqui - Peixe que atinge mais de um metro de comprimento e ultrapassa
30 quilos. É frugívoro e sua carne é muito apreciada, sendo encontrado em
toda a região Amazônica.
6.6 CAÇA
6.6.1 REGRAS GERAIS
6.6.1.1. A maior parte dos animais de sangue quente e com pelos são cautelosos e
difíceis de se deixarem apanhar. Para caçá-los será preciso habilidade e paciência,
o melhor método será o chamado de “ESPERA”, cujo tipo, altura e comodidade
ficarão a critério do caçador.
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- Os locais mais indicados para uma espera serão uma trilha, um bebedouro ou
um comedouro.
6.6.1.2 O caçador deverá construir sua espera segundo a direção do vento, isto é, o
vento deverá levar ao caçador o cheiro da caça, e não o contrário.
6.6.1.3 O silêncio será fundamental. Se o caçador quiser seguir uma caça, poderá
fazê-lo, mas terá que caminhar lentamente e com segurança; o vento terá de
soprar, durante todo o tempo da perseguição, no sentido do animal para o homem.
- Só deverá avançar quando o animal estiver comendo ou olhando para outro
lado que não o do caçador, devendo este permanecer imóvel, se o animal levantar
a cabeça em sua direção.
6.6.1.4 Os períodos mais recomendáveis para caçar serão entre 4h e 6h e entre
18h e 21h.
6.6.1.5 A caça deverá ser mais abundante e fácil de ser encontrada nas
proximidades de água e nas clareiras. Ao caminhar, observar com atenção o
terreno a fim de descobrir sinais de caça: trilhas, vegetação rasteira pisoteada,
excrementos ou restos de comida e, mesmo, ruídos característicos. Quando se
estiver percorrendo uma trilha, essa atenção deverá ser redobrada, pois o animal
poderá surgir a qualquer momento.
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6.6.1.6 Muitas espécies de animais vivem em buracos, nos ocos das árvores
ou no chão. No primeiro caso, para pegá-los, tampam-se todos eles, menos um, o
qual será remexido com uma vara comprida e flexível, ou enchido de água, para
forçar a saída do animal.
- Quando isso se der, uma pancada forte na cabeça será suficiente.
6.6.1.7 A caça noturna geralmente dará bom resultado, pois a maior parte dos
animais se movimenta à noite. A luz de uma lanterna ou de um archote, projetada
nos olhos do animal, torná-lo-á parcialmente cego, o que permitirá maior
aproximação do caçador que, se não possuir arma de fogo, procurará abatê-lo
com uma lança (pau com ponta afiada) ou mesmo com uma paulada.
- Os chamados “olhos sem corpo” não deverão perturbar o caçador, pois serão
apenas o resultado dos reflexos da luz nos olhos de aranhas e insetos.
6.6.1.8 Animais de grande porte, quando feridos ou quando protegem os filhotes,
são perigosos.
- Antes da aproximação para recolher a caça abatida, será conveniente certificar-
se bem de que ela esteja realmente morta.
6.6.1.9 Rãs existirão de todos os tamanhos; à noite, na beira das águas, poderão
ser pegas com as mãos, após focá-las com lanternas ou archote; de dia, com um
caniço fino, espetando-as.
- Não devem ser confundidas com os sapinhos venenosos ou com o Sapo-Cururu
(Ver Capítulo III).
6.6.1.10 Cobras também serão comestíveis, para pegá-las, poderá ser usada
uma vara comprida com forquilha na ponta, com a qual se prenderá o “pescoço” do
ofídio, matando-o, em seguida, com uma pancada na cabeça, de preferência, a fim
de economizar munição.
6.6.1.11 Lagartos também poderão ser laçados ou fisgados com vara.
6.6.1.12 Tartarugas vivem na água, mas costumam vir a terra, quando, então,
serão presas fáceis. Após capturadas, deverão ser viradas de pernas para o ar, em
lugares onde não haja pontos de apoio que permitam que se desvirem por si. Será
necessário, apenas, ter cuidado com a boca e as garras do animal. Quando elas
fugirem para a água, irão esconder-se pousando na areia do fundo; neste momento,
poderão ser fisgadas ou arpoadas. Até com anzol, tendo como isca pedaços de
palmito, poder-se-ão pegá-las.
- Existem várias espécies de tartaruga; tracajá e viração são as mais encontradas,
sendo a segunda, de grande porte, somente encontrada em grandes rios ou lagos,
onde existem boas praias.
6.6.1.13 O jabuti, chamado “a tartaruga do seco”, aprecia toda e qualquer
variedade de frutas, além de comer ervas e carnes. Costuma viver em troncos ocos
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de árvores caídas. Para caçá-lo, bastará fazer fogo em uma das bocas do tronco
ou fustigá-lo com uma vara comprida. Não morde, nem arranha.
6.6.1.14 Os pássaros não deverão ser desprezados como futuros alimentos.
Para caçá-los, a melhor arma será a atiradeira (bodoque, baladeira, lançadeira,
estilingue), pois não valerá à pena gastar munição.
6.6.1.15 Aves grandes, como Mutum, Jacu, Jacamim, Uru e Nhambu poderão ser
caçadas a tiro ou por meio de arapucas. Serão encontradas, normalmente, nas
árvores frutíferas, próximas das águas. Seus ninhos, quando encontrados,
poderão fornecer ovos, todos eles comestíveis.
6.6.1.16 As trilhas serão os caminhos normais percorridos pelos animais da
floresta.
a) Sobre o solo deverão ser procurados ratos, porcos-espinhos porcos- do-mato,
pacas, veados, tatus, antas, cutias etc.
b) Onças, gatos-maracajás e jaguatiricas raramente serão avistados, mas, se o
forem, fornecerão também caça para alimentação.
c) Nas árvores serão procurados macacos, morcegos, esquilos, quatis e ratos.
6.6.2 ARMADILHAS
6.6.2.1 Engenho ou artifício para apanhar qualquer animal; cilada; trapaça.
Armadilhas são construções feitas pelo homem com recursos que a selva lhe
oferece ou com equipamento e armamento individual para capturar aves, animais
de pelo, de casco e peixes.
6.6.2.2 Regras para Construção e Utilização
6.6.2.2.1 As armadilhas deverão ser montadas em locais de passagem ou
permanência da caça, tais como trilhas (nas partes estreitas), bebedouros e
comedias. Aproveitando-se assim o período claro do dia, antes do cair da noite,
para não atrapalhando o hábito do animal, bem como para evitar de deixar
vestígios/rastros para o animal.
6.6.2.2.2 Canalizar a caça para o interior da armadilha, por meio de túneis, troncos
ou cercas.
6.6.2.2.3 Manter o terreno com seu aspecto natural (camuflagem), evitando
descaracterizar a selva de forma natural, dificultando a percepção da armadilha
por parte do animal. O material utilizado na confecção da armadilha deve ser
obtido em local diferente ao de sua construção (lembrar que o local da armadilha
faz parte do habitat natural do animal).
- É interessante também que se utilizem açoites vivos (qualquer vara de vergar
“in natura”, para isso, utiliza-se a própria árvore nas proximidades da armadilha,
evitando o corte e a fixação ao solo uma vara de vergar morta.
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6.6.2.2.4 Após a confecção da armadilha, procurar retirar o cheiro humano
macerando folhas de árvores e misturando com água. Aplicar a solução no local
da armadilha. Esta conduta evitará que a caça perceba a armadilha pelo olfato.
6.6.2.2.5 Toda a equipe deverá saber a localização das armadilhas, para que essas
não se tornem armadilhas anti-pessoal, principalmente aquelas que empregam
armamento ou estacas panji. Se possível, confeccionar um croqui.
6.6.2.2.6 As horas mais recomendáveis para caça serão entre 0400 e 0600 h e
entre 1800 e 2100 h, por ser este o horário da troca de hábito entre os animais
de hábito diurno e noturno.
- Lembrar que a lua influencia neste horário, quanto mais clara a noite, mais
arriscos ficam as presas.
6.6.2.2.7 Os locais em que forem carneadas as caças poderão atrair outros
animais, nestes, portanto, será aconselhável e vantajoso colocar armadilhas. As
vísceras poderão também servir para a pesca.
6.6.2.2.8 Gatilhos são estruturas confeccionadas com material natural, ou artificial,
que visam iniciar o funcionamento da armadilha por meio da ação da caça. Os
gatilhos deverão ser simples e eficientes, além disso, deverão ser camuflados e
feitos com material in natura da selva, pois a paca, por exemplo, percebe o açoite
artificial e desborda a armadilha.
- Evitar fio da linha de pesca (naylon).
6.6.2.2.9 Deve-se “adoçar” o gatilho para que o mesmo acione com facilidade.
6.6.2.2.10 Alguns animais possibilitam a utilização de iscas. Podem ser vivas
para aguçar o instinto de matar dos mais predadores, carne, frutas e sementes.
As iscas deverão ser adequadas ao animal procurado.
6.6.2.2.11 As armadilhas devem ter dimensões e consistência adequadas ao
animal.
6.6.3 GATILHOS
6.6.3.1 Os gatilhos utilizados para acionar armadilhas devem permitir o seu
acionamento pelo homem, caça ou peixe de maneira simples e eficiente.
a) O cipó que melhor permite a montagem de gatilho é o cipó ambé.
b) Na prática, o melhor cipó é o titica por ser mais fácil de manusear e de ser
encontrado na região, porém o cipó ambé suporta mais peso.
6.6.3.2 Os gatilhos classificam-se quanto:
a) ao acionamento
1) Tração
2) Pressão
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3) Desequilíbrio
4) Misto
b) ao funcionamento
1) Peso
2) Açoite
c) à utilização
1) Ponto
2) Área
6.6.3.3 Tipos de Gatilhos
6.6.3.3.1 Gatilho com Entalhes Múltiplos (4 invertido)
a) Confeccionam-se dois entalhes a 22 cm um do outro em um suporte de madeira
(fincado ao solo) ou árvore de cerca de 06 cm de diâmetro (suporte “A” da figura
273).
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c) Achatam-se as pontas de uma vareta de 1,5 cm de diâmetro por 11 cm de
comprimento para fazer oposição de esforços nos entalhes de cada um dos
suportes.
d) O funcionamento deste gatilho ocorre quando o suporte “B” é tracionado,
liberado a vareta onde está ancorado o cordel e em consequência acionando a
armadilha.
6.6.3.3.2 Gatilho com Trave e Vareta Vertical (Pára-tatu)
a) Confecciona-se uma trave com cerca de 40 cm de altura utilizando duas varetas
verticais de 5 cm de diâmetro fincadas ao solo e amarrando-se uma travessa
ligando as pontas.
b) Coloca-se uma vareta vertical estaqueada ao solo, com 35 cm de altura e a 20
cm do centro da trave. Na ponta é feito um entalhe.
c) Prepara-se uma vareta pequena com 3 cm de diâmetro e 25 cm de comprimento,
achatando-se as pontas.
d) A vareta pequena é sustentada pela trave e pelo entalhe existente na ponta
da vareta vertical. Em seu centro, amarra-se um cordão ligado à armadilha e
mantendo-a puxada para cima.
e) O acionamento do gatilho ocorre quando traciona-se a vareta vertical
desfazendo o equilíbrio.
6-99
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6.6.3.3.3 Gatilho com Trave e Vareta Móvel (H Duplo)
a) Confecciona-se uma trave com 40 cm de altura idêntica à anterior.
b) A 10 cm do solo, amarra-se uma vareta na horizontal com aproximadamente
03 cm de diâmetro.
c) Prepara-se uma vareta horizontal móvel de 34 cm de comprimento para deslizar
sobre as duas traves.
6-100
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e) Um cordão ou cipó é preso ao centro da vareta horizontal móvel para puxá-
la deslizando na vertical. O cordão passa por baixo da vareta inferior da trave,
atravessa a trilha ou caminho, sendo, em seguida, fixada a um ponto.
f) Ao puxar o cordão ou o cipó por meio de tração ou tropeço, faz com que a
vareta móvel seja puxada para baixo, liberando a vareta “A” e em consequência
a armadilha.
g) O acionador poderá ser de tração ou pressão.
h) A variação deste gatilho é o “H” simples, para construí-lo basta retirar o suporte
horizontal mais baixo da armação da trave e inverter o sentido de entrada do cipó
que liga ao açoite.
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6.6.3.3.4 Unha de Gato
- Gatilho de tração confeccionado utilizando-se dois âmagos pequenos, onde
será talhado em uma das pontas de cada âmago uma espécie de gancho,
assemelhando-se a “unha de gato”.
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b) Dois tarugos com entalhes em “L”, sendo que um deles possui uma pequena
reentrância para que seja colocado o cipó a fim de aumentar a área de atuação
e sobre este varetas.
6-104
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na parte inferior da forquilha, tendo o movimento barrado por uma vareta. Para
aumentar a área de atuação, colocam-se outras pequenas varetas apoiadas na
vareta limitadora do cipó.
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6-107
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6.6.5.1 Chiqueiro para onça
a) Finalidade: onça.
b) Comedias: animais vivos (preferencialmente), animais mortos ou vísceras.
c) Material: toros de madeira.
6-111
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Fig 289 - Foto geral, interna (assoalho) e à retaguarda do chiqueiro do gato maracajá
6.6.5.3 Arapuca
a) Finalidade: jacu, jacamim, mutum galinha, etc.
b) Comedias: patauá, buriti, açaí, larvas, etc.
c) Construção:
1) cortam-se duas varetas de madeira de 50 cm por uma polegada de diâmetro;
2) unem-se as pontas da vareta por cordão, cipó ou arame, de aproximadamente
6-112
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60 cm de comprimento; e
3) após a amarração das varetas pelo cordão, essas são giradas formando um
“x”. Sobre a base em figura de “X”, coloca-se por dentro do cordão de ligação,
varetas perpendiculares, duas a duas, até fechar a arapuca por completo.
6.6.5.4 Laços
a) Finalidade: paca, cutia e veado.
b) Material: madeira para cerca, madeira para o gatilho, vara de vergar, cadarço
de nylon ou cipó.
c) Comedias: buriti, uixi, piquiá (paca e cutia), flor de piquiá (veado).
d) Construção:
1) corta-se uma vara flexível, de preferência o matá-matá, com 8 ou 10 m de
comprimento. A 2 m de uma árvore ou suporte, fixa-se a ponta da vara ao solo.
Amarra-se a vara na árvore a cerca de 1,5 m de altura;
2) a outra ponta da vara fica elevada do solo, cerca de 4 m, devendo fixar-se
um cordel de 3 m de comprimento e 5 mm de diâmetro. No prolongamento da
vertical que desce da ponta da vara, confecciona-se um cercado em meia lua,
de 60 a 80 cm de altura; e
3) na abertura do cercado, posiciona-se o gatilho da armadilha. O laço é
colocado no centro da meia lua e na ponta do cordel que flexiona a vara apoiando-
se no sistema de gatilho.
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6.6.5.6. Fosso
a) Finalidade: qualquer tipo de animal.
b) Local: trilhas e locais onde há indícios.
c) Material: ferramentas de sapa e estacas panji.
d) Construção: faz-se a escavação de um buraco proporcional ao tamanho do
animal que se deseja aprisionar. Normalmente, utilizam-se as dimensões: 1,5 m
x 1,5 m por 2 m de profundidade. As paredes devem ser verticais e lisas, sem
sulcos que facilitam a saída do animal. Poderão ser colocadas estacas invertidas
nas paredes, para dificultar a fuga após a queda no fosso.
6-115
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6.6.5.7 Mundéu
a) Finalidade: qualquer tipo de tatú.
b) Material: tora pesada, madeira para gatilho, cadarço e cipó.
c) Local: trilha.
d) Comedia: uixi, piquiá, buriti.
e) Construção: corta-se uma tora pesada: 2,5 m x 0,2 m diâmetro. Constrói-se
uma trave de 0,8 a 1 m de altura, fixando em sua ponta uma travessa horizontal.
O tronco é suspenso entre duas traves por um cordel que passa por cima da
travessa horizontal. Este cordel vai para um sistema de gatilho, normalmente uma
trave. Várias estacas de 0,8 m são fixadas ao solo para canalizar o movimento da
presa e acionar o gatilho quando a caça estiver embaixo do tronco de madeira.
6-116
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6.6.5.8 Quebra-cabeça
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a) Finalidade: gambá, mucura, etc.
b) Material: vara de vergar, madeira para o cercado, tarugos de madeira para o
gatilho e para o cadarço.
c) Comedias: ovos de aves, frutas, vermes (mucura); rã, frutas e aves (gambá).
d) Construção: utiliza-se uma vara de 8 a 10 cm de diâmetro por 4 a 5 m de
comprimento.
e) O princípio de funcionamento do quebra-cabeça é o mesmo do mundéu,
sendo que neste, o efeito não é causado pelo peso da tora que faz cair, mas sim
o desflexionamento da vara de vergar. A vara de vergar deve ter sua ponta mais
fina ancorada ao solo.
f) A aproximadamente 1 m deste ponto é feita outra ancoragem. A ponta mais
grossa da vara é utilizada para atingir o animal. Uma trave, à semelhança do
mundéu, flexiona a vara de vergar para cima através de um cordão ligado a um
sistema de gatilho.
g) A isca deve ser colocada numa posição que direcione a caça para baixo da
vara de vergar, para isso, constrói-se um cercado em forma de “meia-lua” com
varas de 80 cm, onde se coloca a isca.
6.6.5.9 Esparrela
6-118
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a) Finalidade: aves em geral.
b) Comedias: frutas e larvas.
c) Material: uma vara de vergar, dois tarugos e um pedaço de cadarço ou cipó.
d) Construção:
1) utiliza-se uma vara de vergar, dois tarugos e um pedaço de cadarço ou
cipó. Confecciona-se dois entalhes em uma árvore: (“A” e “B”), a um palmo de
distância um do outro;
2) prepara-se um tarugo ”C” com 25 cm de comprimento, prendendo-lhe uma
folha com talo para permitir a abertura do laço e o pouso da ave para comer as
iscas;
3) achata-se as pontas de um tarugo de 12 cm de comprimento por 1 cm de
diâmetro para facilitar a sua fixação nos entalhes, onde é ancorado um cordão
que vai para uma vara de vergar.
6.6.5.10 Gamboa
a) Finalidade: aves de pequeno porte.
b) Comedias: larvas e frutas.
c) Material: varetas de madeira com aproximadamente 1 cm de diâmetro, cipó.
d) Construção: utilizam-se varetas de madeiras com 2 cm de diâmetro e 1,90 m de
comprimento. Constrói-se um cercado fechado em forma de triângulo utilizando-se
estas varas, como exemplo de dimensões: 2 m de comprimento por 1,30 m de
largura e 1,20 m de altura. Coloca-se um “jiqui” em cada lateral.
6-119
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6.6.5.11 Tarranga (utilizada quando se possui uma tarrafa)
a) Finalidade: aves de pequeno porte.
b) Comedias: milho, arroz, frutas, larvas (tapuru e broca), etc.
c) Material: tarrafa, tronco, varetas de madeira.
d) Local: próximo a indícios de caça.
e) Construção: estende-se a tarrafa deixando-a aberta e elevada 1 m do solo, em
seu centro, por uma vara de madeira. As laterais da tarrafa ficam fixas ao solo.
Em volta da tarrafa é feito uma ou duas aberturas onde se coloca uma sangra de
jiqui – espécie de cone de palha.
6.7 PESCA
6.7.1 REGRAS GERAIS
6.7.1.1 Não há normas que sirvam para distinguir os peixes desejáveis dos
indesejáveis para a alimentação; uns terão a carne mais dura, outros, mais tenra;
uns possuirão mais espinhas que outros; os de uma mesma espécie, às vezes,
diferem entre si, devido ao local em que vivem e à alimentação que conseguem.
O certo é que o cozimento os tornará todos iguais, em termos de alimentação.
- Apenas as vísceras, quando se tratar de peixe desconhecido, não deverão ser
aproveitadas para comida, apenas para isca.
6.7.1.2 Os melhores locais para pescar são os poços profundos, ao pé das
cachoeiras, no final das corredeiras rápidas ou entre rochedos. Em correntes
muito velozes, os peixes costumam chegar mais para as margens.
6.7.1.3 À noite a pescaria poderá tornar-se mais produtiva que de dia, caso se
disponha de lanternas ou archotes, ocasião em que, até com pauladas ou varas
pontiagudas, será possível matar os peixes.
6.7.1.4 Pescar dependerá, às vezes, de paciência; por isso, deverão ser tentadas
todas as águas, profundas e rasas, rápidas, vagarosas e estacionárias, claras e
turvas, utilizando-se vários tipos de iscas nos vários materiais para pesca.
6.7.1.5 Caranguejos, siris, caramujos e mariscos poderão ser encontrados sob
rochedos, troncos e moitas de arbustos que se prendem sobre os cursos de água
ou no fundo lodoso.
6.7.1.6 Os peixes mais comumente encontrados na água doce serão os bagres,
os mandis, as piranhas, os baiacus e as arraias, entre aqueles que poderão
oferecer mais periculosidade, quer devido à ferocidade, quer aos sistemas de
defesa que possuem.
6.7.1.7 Os que regionalmente são mais apreciados são o tucunaré, a pescada, a
6-120
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traíra, o tambaqui, o pirarucu (bacalhau brasileiro), o pacu, o acará, o jaraqui, a
matrinchã, a pirapitinga, o surubim e vários outros encontrados nos cursos de água.
6.7.1.8 No litoral, de água salgada ou salobra, ou nos mangues, serão encontradas
a tainha, a cavala, a corvina, etc, e crustáceos, como o camarão e o caranguejo.
6.7.2 ISCAS, ANZÓIS E LINHAS
6.7.2.1 O material mais prático para se usar em pescaria será a linha com anzol.
6.7.2.2 Como iscas, poderão ser usados insetos, minhocas, carnes e vísceras de
quaisquer animais. Caso se consiga descobrir o que comem os peixes no local
em que se está, a pescaria será mais fácil.
- Iscas artificiais poderão ser confeccionadas com pedaços de panos coloridos,
com penas de cores vivas, com fragmentos de algum metal brilhante ou com
pequenos objetos.
6.7.2.3 Anzóis poderão ser improvisados, assim, poderão ser confeccionados
anzóis de osso e de prego, anzóis de espeto de madeira e anzóis de madeira.
6-121
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6-122
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6.7.3.4 Curral: em rios estreitos e pouco profundos pode-se fechar o curso d’água
com uma cerca de estacas de madeira, deixando-se frestas para que passe
somente a água, impedindo a passagem do peixe.
6-123
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6.7.3.7 Sanga (entrada das armadilhas de pesca): a sanga servirá de bloqueio à
saída do peixe de dentro da armadilha.
- É necessário colocar um pedaço de madeira que servirá de peso e tranca
permitindo a entrada do peixe e impedindo a sua saída. As pontas desse pedaço
de madeira vão se apoiar na estrutura da armadilha cessando o movimento de
retorno da sanga após a entrada do peixe.
6-126
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CAPÍTULO VII
TRATO COM INDÍGENAS
7.1 INTRODUÇÃO
- O sobrevivente ou grupo de sobreviventes na selva não estará livre de
um encontro com indígenas que vivem na Região Amazônica. Este contato
representará a salvação, desde que se esteja familiarizado com os seus hábitos
ou se tenha conhecimento de certas regras de conduta a serem observadas
durante o tratamento recíproco a manter.
7-1
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idade também.
7.2.3 EM TERMOS DE HABITAÇÃO, O QUE MAIS SE OBSERVA:
7.2.3.1 Geralmente os índios vivem em malocas construídas à base de barro,
madeira e palha.
7.2.3.2 Essas malocas normalmente englobam várias famílias.
7.2.3.3 Como curiosidade: os YANOMAMI vivem em malocas de até 300 índios,
denominadas SHABONÓ ou YANOS.
7.2.4 O idioma português é conhecido pela maioria das etnias. Algumas
comunidades indígenas possuem escolas com professores bilíngues que praticam
o ensino da língua portuguesa.
7.2.4.1 O povo Tikuna, habitante no Amazonas, em números absolutos, foi o que
apresentou o maior número de falantes do idioma português. Em segundo lugar,
em número de indígenas, ficou o povo Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul
e, em terceiro lugar, os Kaingang da região Sul do Brasil.
7.2.5 Os povos indígenas estão presentes nas cinco regiões do Brasil, sendo
que a Região Norte é aquela que concentra o maior número de indivíduos e o
Amazonas o estado que engloba a maior parte desses povos.
7-2
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7.2.5.1 Um dado importante foi o aumento da proporção de indígenas desaldeado.
O contato com a sociedade nacional majoritária permitiu esse avanço da zona
rural para zona urbana, dessa forma, o sobrevivente dificilmente será o primeiro
contato do não-índio com a tribo indígena.
7.2.5.2 Contudo, é importante salientar que podem existir etnias de indígenas
isolados ou de pouco tempo de contato com a sociedade majoritária e, nesse
caso, geralmente são arredios e agressivos durante contatos imprevistos com
não-indígenas, como é o caso dos Kawahivas, uma tribo nômade de caçadores-
coletores que tendem a fugir para dentro da floresta por ocasião da aproximação
de estranhos em seu território, e os Korubos, mais conhecidos como índios
“caceteiros” que historicamente estão ligados a diversos eventos de conflitos com
indígenas e não-indígenas.
7.2.6 Por conhecer bem a região onde vive e estar a ela perfeitamente adaptado,
o índio constitui-se em um valioso aliado na obtenção de dados sobre a região,
nas operações e nas ações rotineiras da Força.
7.2.7 Em uma tribo, existe a figura de um responsável pela solução de todas as
pendências. O índio, individualmente, não assume os problemas. Pela dimensão
do nosso território, diversas são as tribos e as etnias com suas respectivas
lideranças:
7.2.7.1 No alto Rio Negro, as lideranças em maior nível hierárquico nas aldeias,
geralmente, são chamadas de “Capitão”.
7.2.7.2 Em Roraima, essas lideranças são chamadas de “Tuxaua”.
7.2.7.3 No Pará, Amapá, Rondônia, Acre e algumas regiões do Estado do
Amazonas o líder máximo das aldeias, geralmente, é chamado de “Cacique”.
7.2.7.4 O processo sucessório, na maioria das tribos, é hereditário. Em algumas
comunidades mais avançadas, há um processo de eleição entre os chefes das
famílias.
7.2.10 Outra figura importante é o pajé, o responsável pela assistência médico-
espiritual da tribo.
7.2.11 Os principais conflitos existentes entre os índios geralmente envolvem
questões de terra e mulher. Normalmente, as desavenças intertribais são
facilmente esquecidas, desde que surja um problema maior.
7.2.12 A Funai considera “de recente contato” aqueles povos ou grupos indígenas
que mantêm relações de contato permanente e/ou intermitente com segmentos da
sociedade nacional e que, independentemente do tempo de contato, apresentam
singularidades em sua relação com a sociedade nacional e seletividade
(autonomia) na incorporação de bens e serviços. São, portanto, grupos que
mantêm fortalecidas suas formas de organização social e suas dinâmicas coletivas
próprias, e que definem sua relação com o Estado e a sociedade nacional com
7-3
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alto grau de autonomia.
7.2.13 A denominação “povos indígenas isolados” se refere especificamente a
grupos indígenas com ausência de relações permanentes com as sociedades
nacionais ou com pouca frequência de interação, seja com não-índios, seja com
outros povos indígenas.
7.2.14 Atualmente, no Brasil, existem cerca de 114 registros da presença de índios
isolados em toda a Amazônia Legal. Estes números podem variar conforme a
evolução dos trabalhos indigenistas em curso realizados pela Funai. Dentre estes
114 registros, existem:
7.2.14.1 Os “grupos indígenas isolados”, com os quais a Funai desenvolveu
trabalhos sistemáticos de localização geográfica, que permitem não só comprovar
sua existência, mas obter maiores informações sobre seu território e suas
características socioculturais;
7.2.14.2 As “referências de índios isolados”, que são os registros onde há fortes
evidências da existência de determinado grupo indígena isolado, devidamente
inseridos e qualificados no banco de dados, porém sem um trabalho sistematizado
por parte da Coordenação-Geral de Índios Isolados da Funai que possa comprová-
la; e
7.2.14.3 As “informações de índios isolados”, que são as informações sobre a
existência de índios isolados devidamente registradas na Funai, ou seja, que
passa por um processo de triagem, porém sem ter ainda recebido um estudo de
qualificação.
7-4
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7.3.4 Enquanto o indivíduo mais preparado estiver em conversação, os demais
elementos do grupo de sobreviventes deverão manter vigilância, durante todo o
período do contato para evitar surpresas.
7.3.5 Ao se aproximar de uma aldeia de índios ou de um grupo deles, dever-se-á
fazê-lo devagar, com calma, antes de iniciar o contato, verbal ou por mímica, parar
e sentar. Não deverá haver precipitação, pois será normal que os indígenas se
mostrem acanhados e inacessíveis no princípio e fujam a aproximação. Se fugirem,
não insistir seguindo-os; deve-se parar e, no local, colocar “presentes” no chão;
afastar-se em seguida e aguardar o resultado, pois geralmente eles voltarão para
apanhá-los. Não se preocupar, pensando que eles se foram de vez, pois estarão
vigiando. Essa demonstração facilitará a amizade futura.
7.3.6 Caso o grupo tenha conseguido aproximar-se sem ser pressentido, o que
será difícil, deverá bater palmas ou chamar em voz alta para atrair a atenção,
deixando a iniciativa das atitudes para eles.
7.3.7 Bons recursos para iniciar uma amizade será realizar qualquer habilidade
(truques, cantos, jogos), fazer trocas, oferecendo aquilo que se tiver, como sal,
cigarros, moedas, ou mostrar qualquer coisa que possa servir de identificação do
sobrevivente perante o indígena, como cartão de identidade, emblemas, bandeiras,
distintivos etc. As tentativas de entendimento por meio de gestos com as mãos
serão recomendáveis, pois é hábito entre eles mesmos.
7.3.8 Dar ideia de que, tão logo se consiga o que quer, pretende-se ir embora,
pois os índios não gostam de intrusos.
7.3.9 Tratar os indígenas como seres humanos, não demonstrando desprezo, não
zombando, não rindo deles, nem procurando impor sua vontade. A violação destes
conselhos poderá acarretar consequências desagradáveis, de dia ou de noite.
7.3.10 Cumprir o que prometer.
7.3.11 Respeitar os costumes e usos locais, mesmo que possam parecer
incompreensíveis ou absurdos. Não esquecer que para os índios sobreviventes
serão estranhos e, às vezes, figuras bizarras.
7.3.12 Não fazer perguntas que possam ser respondidas com um simples sim.
Perguntando-se: “Esta trilha leva ao rio?”, o indígena pensará que se quer
realmente que a trilha conduza até o rio e responderá, para ser agradável, que
sim. As perguntas deverão ser, por exemplo: “Qual é o caminho mais curto para
chegar ao rio?”; “Como é que se vai ao rio?”; “Onde vai dar esta trilha?”, etc.
7.3.13 NECESSIDADE DE CONVIVER
- Se houver necessidade de conviver certo tempo no âmbito de uma tribo, não
esquecer de:
7-5
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7.3.13.1 respeitar a mulher índia em qualquer circunstância.
7.3.13.2 respeitar moradias e lugares íntimos. só penetrar nelas se for convidado.
Se precisar falar com alguém que se encontre em um interior, solicitar a um
do lado de fora que o chame. Poderão existir áreas consideradas sagradas ou
religiosas (tabus).
7.3.13.3 não sacrificar nenhum animal sem antes de saber se é considerado
sagrado pelos indígenas. Jamais maltratar os animais domesticados, procurar
conviver em harmonia com eles.
7.3.13.4 construir um abrigo em separado, por medida de higiene.
7.3.13.5 evitar contatos físicos, com diplomacia. entretanto, se alguém quiser
abraçar ou pegar nas mãos, não demonstrar repulsa.
7.3.13.6 preparar a alimentação em separado. se for perguntado por que faz isto
ou aquilo, deverá ser respondido que é o costume entre “seu povo”. os índios
compreenderão e respeitarão esse costume.
7.3.13.7 procurar aprender algumas palavras do idioma local, o que agradará ao
índio que, inclusive, auxiliará a aprendizagem.
7.3.13.8 não se ofender com as brincadeiras. pelo contrário, dever-se-á retribuí-
las e participar das distrações gerais.
7.3.13.9 procurar aprender o máximo que puder sobre como se beneficiar da
selva, principalmente na obtenção de água e alimentos, pois poderá ser o caso
de se prosseguir em marcha sem o auxílio de um guia.
7.3.13.10 não utilizar alimentação ou água da tribo sem que haja permissão dos
indígenas.
7.3.13.11 informar-se sobre a existência de outras tribos nas vizinhanças, com as
quais poder-se-á encontrar; aceitar tais informações com reservas.
7.3.13.12 cuidado para não ferir suscetibilidades ou depreciar líderes locais
(capitão, tuxaua, cacique, pajé, agente indígena de saúde, professor indígena,
etc.).
7.3.13.13 quando necessitar de ajuda, solicite à liderança local que determine quem
deverá e poderá ajudá-lo. O recrutamento de colaboradores, sem autorização das
lideranças, pode ser entendido como um desrespeito à autoridade local.
7.3.13.14 todas as suas atitudes devem primar pela discrição, naturalidade,
honestidade e sinceridade e o relacionamento com a comunidade seja baseado
na confiança e na cooperação mútua.
7.3.13.15 demonstre interesse pelos saberes indígenas, como os ritos e as danças
tradicionais. Tenha cuidado para não depreciar a cultura local involuntariamente.
7-6
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7.3.13.16 Insira-se aos poucos no cotidiano local (coleta, roçado, saúde, educação,
lazer, etc.). se convidado, não se negue a participar das cerimônias, reuniões e
partidas de futebol.
7.3.13.17 não demonstre interesse pelas mulheres e, mesmo que se aproximem,
jamais estabeleça um relacionamento íntimo com as mesmas. Também jamais
ofereça bebida alcoólica.
7.3.13.18 não adentre aos domicílios sem o consentimento prévio da liderança
familiar, se as mulheres e crianças estiverem sozinhas, solicite a presença de
alguém da aldeia.
7.3.13.19 não trate o indígena como analfabeto ou ignorante. Lembre-se de que
cultura e grau de instrução são conceitos distintos.
7.3.13.19 não se negue a experimentar alimento oferecido de bom grado.
7.3.13.20 seja sincero ao agradecer algo que lhe for doado e, na medida do
possível, retribua, mas não banalize as trocas para evitar que elas se tornem a
base da relação.
7.3.14 Finalmente, procurar deixar a melhor impressão possível na mente dos
índios, com o que se tornará mais fácil a situação futura de outros que, por ventura,
se vejam nas mesmas contingências de sobrevivência; tal atitude em muito
adiantará para facilitar os contatos de nosso pessoal, cuja missão é sobremodo
importante e imprescindível para a integração da AMAZÔNIA.
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CAPÍTULO VIII
TRATO COM O AMAZÔNIDA
8.1 INTRODUÇÃO
8.1.1 Amazônida é o termo utilizado para designar o indivíduo que é natural ou
habitante da Amazônia, também denominado de Amazoniano.
8.1.2 Em uma situação de sobrevivência, o indivíduo ou grupo de indivíduos se
movimentará em busca de salvação, que pode ser materializada no encontro
de algum habitante local. É importante conhecer as principais características da
população nativa e os procedimentos a serem tomados para garantir um contato
mais proveitoso.
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mitos, que intimidam aqueles que não respeitam a natureza. Além dessas crenças,
as práticas e concepções religiosas são variadas, o que é decorrente da influência
indígena, africana e portuguesa.
8.2.3 MODO DE VIDA
8.2.3.1 As comunidades ribeirinhas fundamentam seu modo de vida na utilização
dos recursos naturais disponíveis, tais como: agricultura, criações de pequenos
animais, pesca, caça de animais silvestres e extrativismo vegetal.
8.2.3.2 A produção agrícola é baseada principalmente no cultivo da mandioca e
seus derivados, que são obtidos através de processos artesanais e utilizados para
subsistência, por serem alimentos bastante apreciados pela população nativa e
também para comercialização.
8.2.3.3 A pesca é a principal fonte de obtenção de alimentos de origem animal,
tendo como referência os hábitos indígenas, herdados pelos amazônidas. Dentre
os métodos existentes, destacam-se: a malhadeira, a tarrafa, a zagaia, o anzol
o timbó (tingui e titim) e o cunambi – mistura de origem vegetal que causa efeito
narcótico nos peixes. A pesca é praticada tanto na cheia, quanto na vazante dos
rios, ao passo que a caça ganha maior importância na época de cheia.
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8.2.4 GRUPOS FAMILIARES DE COMUNIDADES RIBEIRINHAS
- As comunidades ribeirinhas geralmente são compostas por grandes grupos
familiares, que usam a terra de forma coletiva e têm seus recursos básicos regidos
por normas específicas, de maneira consensual, permitindo a criação de laços
solidários de ajuda mútua entre os moradores.
8.2.4.1 Entre a população é comum o surgimento de lideranças comunitárias, que
estão vinculadas às práticas tradicionais passadas de geração em geração e são
desenvolvidas nas atividades dos grupos domésticos familiares e nas atividades
comunitárias, como reuniões, festas etc.
8.2.4.2 Essas lideranças são responsáveis por representar a população das
comunidades, reivindicar os seus anseios e solucionar os problemas sociais que
possam surgir.
8.2.4.3 São exemplos de lideranças comunitárias o presidente da comunidade,
presidente de associações, líderes religiosos, donos de comércio e os chefes
das famílias.
8.2.5 CASAS DE MADEIRA
- As famílias costumam residir em pequenas casas de madeira, construídas com
recursos da floresta, que se estendem ao longo das margens dos rios.
8.2.5.1 É muito frequente a utilização de palafitas: construções sobre estacas de
madeira que se adequam à dinâmica dos rios, que sofrem drásticas variações
anuais do nível da água.
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Fig 314 - Casa tipo palafita na comunidade de Vila Brasil, às margens do Rio Oiapoque
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8.3 PROCEDIMENTOS PARA TRATAR COM O AMAZÔNIDA
8.3.1 O amazônida em sua essência é conhecedor das técnicas de sobrevivência
na selva, além disso, poderá indicar os caminhos que levam às zonas urbanas,
fornecer água e alimentos para o consumo e oferecer abrigo temporariamente.
Dessa forma, é imprescindível que o sobrevivente ou grupos de sobreviventes
faça contato com os habitantes locais ao avistá-los.
8.3.2 As comunidades ribeirinhas mais interiores vivem isoladas e não costumam
receber visitantes, logo, é importante atrair a atenção dos moradores durante a
aproximação para não causar impressões errôneas.
8.3.3 Durante o contato, o indivíduo deve buscar o encontro com alguma liderança
comunitária, já que essas estão mais familiarizadas com os diálogos externos
às comunidades. Caso esteja em grupo, deve-se eleger um representante para
realizar o contato a fim de causar uma impressão menos hostil. O estabelecimento
de uma relação amigável facilitará a oferta de ajuda dos moradores.
8.3.4 É importante respeitar as normas vigentes na comunidade e de maneira
alguma desprezar ou desdenhar dos costumes, crenças e hábitos dos moradores.
8.3.5 O amazônida é receptivo e gosta de compartilhar os seus saberes. É
interessante ser atencioso nesse aspecto.
8.3.6 CONDUTAS
- Caso haja necessidade, permanecer por mais tempo entre os habitantes locais,
buscar seguir algumas condutas:
8.3.6.1 Aprender a obter seu próprio alimento para não se fazer inconveniente
naquele ambiente.
8.3.6.2 Evitar criar relacionamentos íntimos com os moradores ou demonstrar
interesse. As famílias tradicionalmente já são constituídas e isso pode gerar atritos.
8.3.6.3 Construir seu próprio abrigo ou moradia, ainda se tratando da ideia de
não se fazer inconveniente.
8.3.6.4 Respeitar a privacidade dos moradores: é comum que inexistam muros,
cercas ou paredes que limitem as áreas das casas e das posses das famílias;
portanto, deve-se evitar a estadia nesses locais, exceto se for convidado. Nesse
caso, é oportuno aceitar o convite e se mostrar cortês.
8.3.6.5 Procurar aprender ou aprimorar as técnicas de sobrevivência de modo
efetivo, pois pode ocorrer a necessidade de prosseguir no deslocamento através
selva. Nesse caso, é interessante reunir água, alimentos e ferramentas a serem
conduzidas durante a navegação. É válido solicitar às lideranças locais o auxílio
de um guia.
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