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EB70-CI-11.

449

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES

CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NA CAATINGA
E AMBIENTES SEMIÁRIDOS

Edição Experimental
2021
EB70-CI-11.449
EB70-CI-11.449

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES

CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NA CAATINGA
E AMBIENTES SEMIÁRIDOS

Edição Experimental
2021
EB70-CI-11.449
EB70-CI-11.449

PORTARIA Nº 052-COTER/C Ex, DE 14 DE JUNHO DE 2021.


EB: 64322.005449/2021-47

Aprova o Caderno de Instrução Sobrevi­


vência na Caatinga e Ambientes Semiá-
ridos (EB70-CI-11.449), Edição Experi­
mental, 2021, e dá outras providências.

O COMANDANTE DE OPERAÇÕES TERRESTRES, no uso da


atribuição que lhe conferem os incisos II e XI do art. 10 do Regulamento do
Comando de Operações Terrestres (EB10-R-06.001), aprovado pela Portaria
do Comandante do Exército nº 914, de 24 de junho de 2019, e de acordo
com o que estabelece os Art. 5º, 12º e 44º das Instruções Gerais para as
Publicações Padronizadas do Exército (EB10-IG-01.002), aprovadas pela
Portaria do Comandante do Exército nº 770, de 7 de dezembro de 2011,
e alteradas pela Portaria do Comandante do Exército nº 1.266, de 11 de
dezembro de 2013, resolve:

Art. 1º Fica aprovado o Caderno de Instrução Sobrevi­vência


na Caatinga e Ambientes Semiáridos (EB70-CI-11.449), Edição Experi­mental,
2021, que com esta baixa.

Art. 2º Esta portaria entrará em vigor e produzirá efeitos a


partir de 1º de julho de 2021.

Gen Ex JOSÉ LUIZ DIAS FREITAS


Comandante de Operações Terrestres

(Publicado no Boletim do Exército nº 25, de 25 de junho de 2021)


EB70-CI-11.449
EB70-CI-11.449

FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÕES (FRM)

NÚMERO ATO DE PÁGINAS


DATA
DE ORDEM APROVAÇÃO AFETADAS
EB70-CI-11.449
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ÍNDICE DOS ASSUNTOS
Pag

CAPÍTULO I – O SEMIÁRIDO NORDESTINO


1.1 Introdução................................................................................................ 1-1
1.2 Considerações Gerais ............................................................................. 1-1
1.3 O Bioma Caatinga................................................................................... 1-4

CAPÍTULO II - CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS


2.1 Introdução .............................................................................................. 2-1
2.2 Conservação da Saúde.......................................................................... 2-1
2.3 Outras Medidas de Proteção ................................................................. 2-4
2.4 Primeiros Socorros ..................................................................................... 2-10

CAPÍTULO III - ANIMAIS PEÇONHENTOS E VENENOSOS


3.1 Peçonha................................................................................................. 3-1
3.2 Ofídios .................................................................................................... 3-2
3.3 Aranhas .................................................................................................. 3-13
3.4 Escorpiões ............................................................................................. 3-17
3.5 Insetos .................................................................................................... 3-18
3.6 Medidas Preventivas .............................................................................. 3-21

CAPÍTULO IV - DESLOCAMENTOS NA CAATINGA


4.1 Introdução ............................................................................................... 4-1
4.2 Orientação .............................................................................................. 4-2
4.3 Navegação .............................................................................................. 4-5
4.4 Sinalização .............................................................................................. 4-14

CAPÍTULO V - PROTEÇÃO NA CAATINGA


5.1 Abrigos..................................................................................................... 5-1
5.2 Vestuário e Equipamento......................................................................... 5-10
5.3 Vegetais Hostis ....................................................................................... 5-13
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CAPÍTULO VI - ALIMENTAÇÃO NA CAATINGA

6.1 Generalidades ......................................................................................... 6-1

6.2 Água......................................................................................................... 6-1


6.3 Fogo ........................................................................................................ 6-7
6.4 Alimentos de Origem Vegetal ................................................................. 6-14

6.5 Alimentos de Origem Animal .................................................................... 6-34


6.6 Caça ........................................................................................................ 6-55
6.7 Pesca ...................................................................................................... 6-67

CAPÍTULO VII - TRATO COM O SERTANEJO

7.1 Generalidades.......................................................................................... 7-1

7.2 Características do Sertanejo .................................................................... 7-2


7.3 Procedimentos com o Sertanejo ............................................................. 7-2
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CAPÍTULO I
O SEMIÁRIDO NORDESTINO

1.1 INTRODUÇÃO
1.1.1 O presente Caderno de Instrução (CI) tem por finalidade divulgar conhe-
cimentos gerais, técnicas e procedimentos que contribuem para a realização de
ações de sobrevivência em ambientes semiáridos, particularmente no bioma
Caatinga, por indivíduos isolados ou em grupos, seja em consequência de um
contratempo ou em situações de atividades de instrução e/ou operações militares.
1.1.2 Contudo, convém destacar que somente em situações muito especiais
seja realizada a condução de operações militares simultaneamente com ações
de sobrevivência. Isso se dá porque a aplicação das técnicas de sobrevivência
pressupõe, dentre outras coisas, tempo para obter e preparar alimentos, conseguir
fogo, orientar-se, construir abrigos etc. Ou seja, por se tratar de uma situação
emergencial, as ações de sobrevivência precisam durar o menor tempo possível
e possuir como principal objetivo a manutenção da vida do sobrevivente.

1.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS


1.2.1 CRITÉRIOS
1.2.1.1 De definição das áreas
- As regiões semiáridas, de um modo geral, são definidas como áreas geográficas
que atendem a um dos seguintes critérios:
a) possuem precipitação pluviométrica (chuva) média anual inferior a 800 mi-
límetros; e
b) possuem um índice de aridez de valor médio compreendido entre 0,2 e 0,6.
Este índice é calculado pela razão existente entre o volume da precipitação plu-
viométrica e a evapotranspiração potencial.
1.2.1.2 De definição dos conceitos
1.2.1.2.1 A fim de facilitar a compreensão dos conceitos acima citados, os mesmos
serão definidos da seguinte forma:
a) precipitação pluviométrica: significa o mesmo que chuva,ou seja, constitui o
processo pelo qual a água condensada na atmosfera atinge gravitacionalmente
a superfície terrestre em um dado intervalo de tempo;
b) evapotranspiração potencial: representa a máxima capacidade de água capaz
de ser perdida como vapor em uma dada condição climática. Inclui a evaporação

1-1
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do solo e a transpiração da vegetação de uma região específica em um dado
intervalo de tempo.
1.2.1.2.2 Assim, via de regra, identifica-se como região semiárida o tipo de am-
biente caracterizado por possuir: baixo índice pluviométrico; altas temperaturas;
solo rico em minérios, mas pobre em matéria orgânica; baixa umidade; baixa
amplitude térmica; e chuvas concentradas em determinadas épocas do ano.
1.2.2 REGIÕES SEMIÁRIDAS NO MUNDO
1.2.2.1 As regiões semiáridas, áridas e hiper-áridas, conhecidas como “terras
secas”, cobrem cerca de 40% da superfície da Terra.
1.2.2.2 No mundo existem diversas regiões semiáridas. Elas estão situadas na
América, Ásia, África e Oceania, conforme a Fig a seguir:

Fig 1- Regiões áridas e semiáridas do mundo

1.2.2.3 Outro dado relevante sobre as áreas semiáridas do mundo é que estes
ambientes são suscetíveis a experimentarem o processo de desertificação, o qual
pode ser compreendido como a transformação da terra produtiva em deserto à
medida que esta se torna progressivamente mais seca e incapaz de suportar
qualquer crescimento de plantas.
1.2.3 REGIÕES SEMIÁRIDAS NA AMÉRICA LATINA
- Na América Latina, as regiões semiáridas abrangem principalmente três grandes
regiões: o Chaco Trinacional, que inclui parte da Argentina, Bolívia e Paraguai; o
nordeste do Brasil; e o Corredor Seco Centro-Americano, que abrange Honduras,
Guatemala, Nicarágua e El Salvador.

1-2
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Fig 2- A partir da esquerda, respectivamente, Chaco Trinacional, Brasil (NE)


e Corredor Centro-Americano

1.2.4 REGIÕES SEMIÁRIDAS NO BRASIL


1.2.4.1 A região do Semiárido Brasileiro (SAB) é uma delimitação geográfica do
território nacional, oficialmente definida em 2005 pelo Governo Federal para fins
administrativos. Atualmente, o SAB apresenta uma área territorial de aproxima-
damente 1.100.000 Km² (13% do país) e abrange 1.262 municípios situados em
nove estados do Nordeste e na região norte do estado de Minas Gerais.

Fig 3 - Limites do SAB e sua abrangência territorial

1-3
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1.2.4.2 Cabe salientar, ainda, que o SAB possui uma população estimada de 27
milhões de habitantes (13% da população brasileira) e se destaca como a área
semiárida mais populosa do mundo.

1.3 O BIOMA CAATINGA


1.3.1 GENERALIDADES
1.3.1.1 O conceito de bioma torna-se mais fácil de ser compreendido quando
se entende, primeiramente, a definição de ecossistema. Define-se ecossistema
como sendo um conjunto formado pelas interações entre componentes bióticos
(organismos vivos) e os componentes abióticos (elementos químicos e físicos,
como o ar, a água, o solo e os minerais) em um determinado espaço.

Fig 4 - Divisão dos biomas existentes no Brasil

1.3.1.2 A interação entre estes componentes (bióticos e abióticos) ocorre por


intermédio das transferências de energia dos organismos vivos entre si e entre
os demais elementos de seu ambiente. Desta forma, existem inúmeros tipos de
ecossistemas, os quais podem ser observados em locais que variam de uma
pequena poça d’água até uma grande floresta.
1.3.1.3 Assim, de forma abrangente, define-se bioma como um conjunto de
ecossistemas interligados, caracterizado por grandes espaços geográficos que
compartilham das mesmas características físicas, biológicas e climáticas. Ge-

1-4
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ralmente, os biomas são definidos de acordo com a vegetação principal que os
compõem.
1.3.1.4 Nesse contexto, a Caatinga constitui o bioma predominante na região do
SAB e é o único genuinamente nacional. Sua extensão territorial corresponde a
cerca de 11% do território brasileiro, abrange 60% do Nordeste brasileiro e foi
reconhecido como uma das 37 grandes regiões naturais do planeta, ao lado da
Amazônia e do Pantanal.
1.3.1.5 Conforme se vê na Fig 4, o SAB possui ainda parte de sua área territorial
ocupada por outros biomas. Todavia, reside no bioma Caatinga a sua maior e
mais importante representatividade.
1.3.2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DO BIOMA CAATINGA
1.3.2.1 O estudo dos aspectos fisiográficos do bioma Caatinga realiza-se
por intermédio da seguinte divisão:
- Estudo do relevo;
- Estudo do clima;
- Estudo do solo;
- Estudo da hidrografia; e
- Estudo da vegetação.
1.3.2.2 Estudo do Relevo
1.3.2.2.1 O relevo do bioma Caatinga apresenta duas formações dominantes:
os planaltos e as grandes depressões. Os planaltos caracterizam-se como uma
forma de relevo constituída por uma superfície mais elevada do que a área ao seu
redor; já as depressões caracterizam as formas de relevo mais planas do que o
planalto ou mais profundas do que a área ao seu redor.

Fig 5 - Formas de relevo predominantes: o planalto e a depressão

1-5
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1.3.2.2.2 Ambos são formados de fragmentos de rochas, muitas vezes de grandes
dimensões, as quais são comumente observadas na superfície do solo, dispostas
de forma isolada ou não, bem como no topo das elevações.
1.3.2.2.3 A existência da forma de relevo planalto constitui uma variável impor-
tante na manutenção do clima quente e seco característico no bioma Caatinga.
Citando como exemplo o Planalto da Borborema, uma das formações rochosas
mais significativas da região Nordeste do Brasil, o mesmo representa uma grande
barreira para as nuvens carregadas de umidade que vêm do oceano Atlântico
em direção ao interior.
1.3.2.2.4 Desta forma, quando essas nuvens encontram a encosta deste planalto,
elas se condensam e provocam chuvas nas regiões mais baixas do lado voltado
para o litoral.
1.3.2.2.5 Com isso, conforme se vê na Fig 6, a precipitação ocorre antes das
nuvens ultrapassarem esta elevação rochosa, num fenômeno conhecido como
“chuva orográfica” ou “de relevo”, dificultando a ocorrência de chuvas no interior
nordestino e facilitando a manutenção da seca nesta região. É neste lado seco
que está localizado o bioma Caatinga.

Fig 6 - Influência do Planalto da Borborema no clima do bioma Caatinga

1.3.2.3 Estudo do Clima


1.3.2.3.1 O clima do bioma Caatinga é o tropical semiárido, caracterizado pela
baixa umidade e pouco volume pluviométrico. Quente e seco, o clima semiárido
apresenta precipitação de chuvas média entre 300 mm e 800 mm.
1.3.2.3.2 Existem no bioma Caatinga duas estações distintas ao longo do ano:
a estação chuvosa (inverno), que dura de 3 a 5 meses com chuvas torrenciais
irregulares, e a época seca (verão) que dura de 7 a 9 meses quase sem chuvas. A
temperatura média da região gira em torno de 25ºC a 30ºC. Além disso, a altitude
média da região oscila entre os 0 e 600m.

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1.3.2.3.3 A existência das altas temperaturas com pequena variação anual exerce
forte efeito sobre a evapotranspiração da região e, por conseguinte, na manutenção
do índice de aridez característico das regiões semiáridas. Tal fato é crucial para
determinar o déficit hídrico presente no bioma, o qual representa um dos motivos
de entrave a uma ocupação populacional mais efetiva do semiárido brasileiro.
1.3.2.3.4 Além dessas condições climáticas rigorosas, a área de Caatinga apresen-
ta umidade relativa baixa, com valores próximos a 50% e ventos fortes e secos que,
associados aos demais elementos climáticos, determinam a aridez da paisagem.
1.3.2.4 Estudo do Solo
1.3.2.4.1 O solo do bioma Caatinga é raso e rico em minerais, mas pobre em
matéria orgânica devido às características da região (exceção feita aos solos que
ficam nos vales dos rios, os quais são profundos, ricos em nutrientes e, por isso,
favorecem a agricultura).
1.3.2.4.2 Por ser um solo pedregoso, com fragmentos de rochas na superfície,
dificilmente armazena as águas das chuvas. São variados e suas colorações vão
desde um rosa avermelhado até um tom cinzento.

Fig 7 - Solo do bioma Caatinga: raso e pedregoso

1.3.2.4.3 Os afloramentos rochosos existentes no terreno se tornam uma ca-


racterística comum na região que, associados com os solos rasos, propiciam
as condições ideais para os vegetais (particularmente os cactos e herbáceas)
crescerem em meio a pedras, fissuras e/ou depressões onde há o acúmulo de
areia, pedregulhos e outros detritos, como o húmus.

1-7
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1.3.2.4.4 Mesmos com características que denotam certo grau de hostilidade,
o solo do bioma Caatinga é amplamente utilizado pelo sertanejo em atividades
como a criação de gado, lavoura e também o corte da vegetação nativa para a
produção de carvão vegetal.
1.3.2.4.5 Infelizmente, devido à ausência de um manejo adequado por parte da
maioria das pessoas que o utiliza, o solo da Caatinga tem apresentado cada vez
mais problemas. Destes, os mais críticos são o aumento do seu teor de saliniza-
ção (naturalmente já elevado em decorrência de suas características naturais) e
o aumento do processo de desertificação.
1.3.2.5 Estudo da Hidrografia
1.3.2.5.1 Os rios que compõem o bioma Caatinga são, em sua maioria, intermiten-
tes, ou seja, são rios que secam em certos períodos do ano devido à escassez de
chuvas. Contudo, em meio a tanta aridez, destacam-se como verdadeiros oásis
no meio do semiárido nordestino os rios São Francisco e Parnaíba, cujas águas
são fundamentais para a manutenção da vida de grandes populações.
1.3.2.5.2 Cabe lembrar também que, como forma de contornar ou minimizar os
efeitos da seca, os moradores do bioma Caatinga constroem poços, açudes e
pequenas barragens no intuito de armazenar as águas da chuva. No entanto, na
maioria das vezes, a água obtida continua imprópria para o consumo humano.

Fig 8 - Rio São Francisco entre as cidades de Juazeiro-BA (acima) e Petrolina-PE (abaixo)

1.3.2.5.3 Além disso, o lençol freático no âmbito deste bioma é muito pobre, pois o
solo da Caatinga é pouco permeável. Assim, a água que cai na região permanece
na superfície e logo evapora devido às altas temperaturas da região.

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1.3.2.6 Estudo da Vegetação
1.3.2.6.1 A vegetação do bioma Caatinga é tão marcante na paisagem regional
que dela derivou o próprio nome do bioma (oriunda do tupi-guarani, significa
“mata branca”). Foi assim chamada pelos índios devido às suas características
de perder as folhas no período de estiagem, exibindo um emaranhado de troncos
tortuosos e esbranquiçados.
1.3.2.6.2 A Caatinga apresenta-se, na maioria das vezes, como uma vegetação
essencialmente arbustiva, composta por espécies lenhosas de baixo porte (ge-
ralmente até 5m de altura) entremeadas por cactáceas e bromélias terrestres.
1.3.2.6.3 Todavia, a Caatinga compreende também uma forma de vegetação de
porte mais elevado e denso que é a chamada Caatinga arbórea, com espécies
de mais de 20 m de altura, raríssimas atualmente devido à exploração histórica
desenfreada.

Fig 9 – Exemplo de vegetação da Caatinga

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1.3.2.6.4 Sua flora é composta por vegetais classificados como xerófilos (resis-
tentes à seca), caracterizada pela rusticidade de seus espécimes, tolerante à
restrição hídrica e adaptada às altas temperaturas da região.
1.3.2.6.5 A maior parte destas plantas apresenta folhas pequenas (microfilia),
espinhos, sistemas de armazenamento de água em raízes tuberosas e caules
modificados que permitem a rebrota da planta após longos períodos de falta de
água ou em decorrência de ação antrópica (ação humana na natureza).
1.3.2.6.6 Além disso, possui ainda mecanismos fisiológicos adaptados que per-
mitem desde a redução da transpiração do vegetal até a sua autodefesa contra
predadores.

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CAPÍTULO II
CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS

2.1 INTRODUÇÃO
2.1.1 A capacidade de sobrevivência residirá, basicamente, numa atitude mental
adequada para enfrentar situações de emergência e na posse de estabilidade
emocional, a despeito de sofrimentos físicos decorrentes da fadiga, da fome, da
sede e de ferimentos, por vezes, graves.
2.1.2 Se o indivíduo ou o grupo de indivíduos não estiver preparado psicologi-
camente para vencer todos os obstáculos e aceitar os piores reveses, as possi-
bilidades de sobreviver estarão sensivelmente reduzidas.
2.1.3 Em casos de operações militares, essa preparação avultará de valor. O
conhecimento das técnicas e dos processos de sobrevivência são requisitos es-
senciais na formação do indivíduo que esteja na Caatinga, quer em operações
militares, quer por outra circunstância qualquer.
2.1.4 Conservar a saúde em bom estado será requisito de especial importância,
quando alguém se encontrar em situação de só poder contar consigo mesmo para
salvar-se ou para auxiliar um companheiro. Da saúde dependerão, fundamental-
mente, as condições físicas individuais.
2.1.5 Na Caatinga, proteger-se contra o calor, encontrar água e alimento, saber
prestar os primeiros socorros, em proveito próprio ou alheio, são tarefas de grande
importância para a preservação da higidez física e mental.

2.2 CONSERVAÇÃO DA SAÚDE


2.2.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO CALOR
2.2.1.1 Do conjunto de regras que se pode utilizar para a conservação da saúde,
algumas não poderão ser aplicadas na Caatinga ou serão seguidas sofrendo
as injunções do momento, enquanto outras deverão ser observadas à risca sob
pena de redução significativa da capacidade de combate. Assim, visando so-
breviver nas melhores condições possíveis, cada indivíduo, por si ou grupos de
indivíduos,deverçáo observar as seguintes regras:
- poupar forças; e
- precaver-se contra distúrbios mentais.
2.2.1.2 Poupar força
2.2.1.2.1 A fadiga em excesso deverá ser evitada. Quando se estiver realizando
algum trabalho que exija esforço físico ou um deslocamento na Caatinga, deverá
ser estabelecido um tempo para descanso; 10 ou 15 minutos para cada hora de
2-1
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trabalho físico poderá, em princípio, ser uma base de partida. Nas horas mais
quentes do dia, o repouso deverá realizar-se nos locais mais cômodos que se
apresentarem no momento. Se possível, o homem aliviará toda carga que por
ventura esteja transportando e deverá deitar-se.
2.2.1.2.2 Durante os repousos maiores, mormente à noite, fará o possível para
dormir. Mesmo que não consiga, a princípio, conciliar o sono, o simples ato de
deitar e relaxar os músculos e a mente causará efeitos recuperadores. Não deve
permitir que a angustia decorrente da situação de sobrevivência pela qual se passa
concorra para o desequilíbrio emocional; deve-se pensar com calma e pesar todas
as possibilidades favoráveis. O calor na Caatinga é constante e implica para o
ser humano em sudação excessiva. Com isso, se não houver a observância de
repouso frequente, a par de uma hidratação adequada, alguns efeitos poderão
advir em prejuízo do indivíduo. Esses efeitos são:
- Exaustão;
- Câimbras;
- Insolação e intermação.
2.2.1.2.3 Exaustão
- Resultará da excessiva perda de água e de sal pelo organismo, como resultado
da forte transpiração. Seus sintomas são palidez, pele úmida, pegajosa e fria,
náuseas, tonteiras e desmaios. O socorro a ser prestado consistirá em fazer com
que o indivíduo se deite em área sombreada, mantendo-lhe os pés em plano
mais elevado que o resto do corpo e as roupas afrouxadas, dando-lhe água para
beber ou solução de reidratação oral (SRO). A SRO deve ser preparada diluindo
o conteúdo de um sachê em 1 litro de água fervida ou filtrada, respeitando o tem-
po limite de duração desta solução, que é de 12 horas. Após transcorrido este
tempo, se houver resíduo da solução, esta deverá ser descartada.
2.2.1.2.4 Câimbras
- Resultarão de um esforço físico continuado que implique em demasiada su-
dorese. Elas poderão atingir qualquer parte muscular do corpo, sendo mais co-
muns nas pernas, nos braços e na parede abdominal. Frequentemente haverá
vômitos e enfraquecimento. O tratamento será o repouso, associado a extensão
do membro acometido.
2.2.1.2.5 Insolação e Intermação
a) Os mecanismos de dissipação do calor não estão funcionando. Aumenta a
temperatura corporal e isso acarreta risco de vida para o indivíduo se não for
tratado com urgência. São situações graves, com alta taxa de mortalidade, além
da elevação da temperatura do corpo que normalmente levam à perda de cons-
ciência.

2-2
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b) Os sintomas são pele quente e seca, com ausência do suor, dor de cabe-
ça, náuseas, rosto congestionado e possíveis delírios. O esforço físico deve ser
prontamente interrompido e iniciar técnicas de resfriamento corporal.
c) Vários métodos podem ser usados para a redução da temperatura corporal,tais
como:
- banhos de imersão em água fria;
- cobrir com toalhas molhadas e ventilar;
- despir o indivíduo e molhar com água morna e, em seguida, ventilar com
grandes ventiladores.
d) As medidas de resfriamento devem ser interrompidas quando a temperatura
corporal atingir 38 a 38,5°C, para evitar hipotermia (baixa temperatura corporal).
A redução da temperatura corporal central abaixo de 38,9°C nos trinta primeiros
minutos aumenta a chance de sobrevivência e minimiza os danos aos órgãos.
2.2.1.2.6 Para proteção contra aqueles efeitos, algumas regras deverão ser ob-
servadas:
a) Beber bastante água. Mesmo que não se sinta sede, uma vez constatado o
excesso de suor, deve-se beber água constantemente, para isto o cantil deve
ser regularmente recompletado. Vale ressaltar que se deve tomar precaução
caso esteja realizando um esforço físico, tendo em vista que pode haver uma
excessiva perda de eletrólitos por meio do suor e da urina, a falta de alimenta-
ção adequada e a ingestão de água em excesso podem agravar um quadro de
hiponatremia que surge quando os níveis de sódio e potássio no sangue estão
abaixo do normal e tem como sintomas vômito, fadiga e perda de coordenação
motora.
b) Aclimatar-se, ou seja, realizar treinamentos físicos em situações de altas
temperaturas, com aumento progressivo da intensidade, até ocorrer adaptação
do corpo ao calor na qual começa no 1º dia e poderá estar bem desenvolvido
no 14º e as condições de aclimatação poderão ser retidas por cerca de uma ou
duas semanas após a saída da área afetada pelo calor.
c) Compreender o calor é uma regra para a mente, que trará benefícios psicoló-
gicos com reflexos imediatos no corpo humano. O conhecimento dos efeitos que
o calor poderá produzir e dos processos para evitá-los ou, no mínimo, atenuá-
-los, poderá salvar vidas e é de grande importância, em particular, para o com-
batente de Caatinga.
2.2.1.3 Precaver-se contra distúrbios mentais
2.2.1.3.1 A fadiga e o esgotamento resultantes de grandes privações poderão,
muitas vezes, conduzir a distúrbios mentaismanifestados sob as formas de temores
graves, cuidados excessivos, depressão ou superexcitamento. O melhor modo de

2-3
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evitá-los será procurando dormir e descansar o máximo possível; todavia, alguma
atividade deverá ser mantida; além disso, o bom humor será um tônico real, pois
é contagiante.
2.2.1.3.2 Maiores atenções deverão ser dedicadas àqueles que se encontrarem
fisiologicamente doentes, a fim de evitar o trauma emocional. Um mau discerni-
mento da situação, causado por distúrbio mental, poderá ser tão fatal quanto um
tiro do inimigo ou uma picada de serpente peçonhenta. Para quem quer sobreviver,
será fundamental evitar o pânico, e este, na Caatinga, representará um grande
desafio a vencer.

2.3 OUTRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO


2.3.1 CUIDAR DOS PÉS
2.3.1.1 Os pés deverão ser mantidos limpos, lavando-os e secando-os com a fre-
quência possível; tais cuidados deverão ser observados, particularmente durante
as paradas para descanso prolongado.
2.3.1.2 As meias não deverão estar rasgadas nem mal costuradas e o calçado
deverá estar sendo constantemente examinado; o uso de meias finas de algodão
é recomendável, pois elas absorvem a umidade, permitem a evaporação, apre-
sentam pouca deformação após secarem e, assim, protegem melhor os pés do
que as meias grossas de algodão, de lã ou de nylon.
2.3.1.3 Calos ou calosidades não deverão ser cortados, para evitar infecção,
mantendo-se as unhas limpas e curtas pode evitar a unha encravada e a prolife-
ração de microrganismos entre elas e a pele. Caso haja atrito entre o calçado e
a pele, deverá ser aplicado esparadrapo na parte afetada.
2.3.1.4 É necessário atenção onde pisa devido à grande quantidade de espinhos
que pode ser encontrado, perfuração por espinhos nos pés, é recomendável
higienização do local e remoção do espinho com pinça, se possível.
2.3.2 PROTEGER OS OLHOS E OS OUVIDOS
2.3.2.1 Os olhos estarão permanentemente sujeitos a contato com pequenos
insetos, galhos e espinhos.
2.3.2.2 A proteção ideal é o uso de óculos de proteção individual. É necessário
total atenção para que espinhos, galhos ou insetos entrem nos ouvidos.
2.3.3 PRECAVER-SE CONTRA INFECÇÕES CUTÂNEAS
2.3.3.1 A epiderme (a pele) constitui a primeira linha de defesa contra a infecção.
Por isso, qualquer arranhão, corte, picada de inseto ou queimadura, por menor e
mais inofensivo que pareça, merecerá cuidado; qualquer antisséptico deverá ser
aplicado, preventivamente.

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2.3.3.2 As mãos não deverão tocar a parte afetada; será suficiente a aplicação do
curativo individual, se houver; se não, o ferimento deverá ser mantido protegido
da melhor forma possível.
2.3.4 CONSERVAR LIMPOS O CORPO, A ROUPA E O LOCAL DE ESTACIO-
NAMENTO
2.3.4.1 A limpeza do corpo é a principal defesa contra os germes infecciosos. As
unhas devem ser mantidas cortadas para evitar o desenvolvimento de parasitas
entre elas e a pele.
2.3.4.2 Um banho diário com sabão, ou mesmo sem ele, dedicando-se especial
atenção à higiene das partes dobradas e pudendas, será ideal. Se esse banho
não for possível, a limpeza na maior parte do corpo deverá ser mantida, particu-
larmente das mãos, rosto, axilas, virilhas e pés. Pode-se usar lenços umedecidos
para realizar a higiene. Após as refeições, dentes e boca deverão ser limpos.
2.3.4.3 As peças do vestuário, mantidas limpas, ajudarão a proteger contra
infecções cutâneas e parasitase, em caso de dificuldade de lavá-las, deverão
elas, sempre que possível, ser sacudidas e expostas ao ar livre. O uso de cue-
cas justas deve ser evitado, pois nas proximidades das virilhas e partes íntimas
poderá provocar assaduras pela umidade acumulada que favorecem a ação de
microrganismos. Esses procedimentos trarão uma sensação de conforto. No caso
de um grupo, será interessante que os homens se inspecionem mutuamente,
corpo e roupa.
2.3.4.4 Um local de estacionamento na Caatinga deverá ser naturalmente um
lugar limpo, no qual não haja acúmulo das águas das chuvas ou da presença de
animais e insetos. A manutenção desse estado será simples, bastando uma fossa
para lixo e outra para dejetos, suficientemente afastadas, sempre cobertas com
terra após o uso e distantes da fonte de água, quando houver.
2.3.5 EVITAR DOENÇAS INTESTINAIS
2.3.5.1 Doenças intestinais são aquelas causadas por germes existentes
nas fezes e urina ou por alimentos contaminados
2.3.5.1.1 Normalmente os seus agentes causais são eliminados do corpo pelas
fezes e urina. Geralmente eles são transmitidos por alimentos e água contaminada
que, por sua vez, são levados pelas mãos ou utensílios de rancho.
2.3.5.1.2 As principais doenças intestinais são as disenterias (amebíase e giardia-
se), a diarréia, a cólera, as intoxicações e infecções alimentares, as infestações
helmínticas (vermes) e as febres.
2.3.5.2 Medidas para evitar essas doenças:
- proteção e purificação da água;
- inspeção e proteção dos alimentos;
- higiene do rancho.

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2.3.5.2.1 Proteção e purificação da água
a) Toda fonte de água deverá ser cuidadosamente protegida da contaminação
pelos detritos humanos ou animais, a qual poderá ocorrer pela drenagem de
superfície ou pela de subsolo.
b) As fossas ligadas às latrinas e cozinhas deverão ser localizadas de modo
tal que a infiltração e drenagem se processem afastadas e sem perigo para as
fontes de água.
c) Além disso, vegetais em decomposição nas margens e no leito de cursos de
água e, ainda, o uso humano a montante destes podem, também, contaminá-los.
d) O processo de purificação será o de ferver a água e depois fazer uma aera-
ção; um minuto de ebulição e a passagem de um recipiente a outro, ao ar livre,
serão o suficiente.
e) Não só a água para beber, mas também a utilizada em bochechos e limpeza
da boca (escovar os dentes) deverá ser purificada pela fervura.
f) Deve ser evitada a utilização de água obtida em fontes paradas, pois este é
um ambiente propício ao desenvolvimento de microrganismos nocivos.
2.3.5.2.2 Inspeção e proteção dos alimentos
a) Todo alimento deverá sofrer inspeção, no que respeita à sua aptidão para
consumo; esta inspeção deverá ser feita também nos gêneros que, após terem
permanecido guardados, venham a ser novamente utilizados.
b) Quando guardados, deverão ser protegidos convenientemente; os sacos
plásticos servirão bem a esse fim. Será necessário sempre muita atenção com
aqueles passíveis de perecimento.
c) Vários processos existem para se guardar alimentos: imersos em água cor-
rente, pendurados em galhos de árvore, dependendo do tipo do alimento, do
tempo de permanência no local, das condições de segurança contra animais e
da quantidade ou volume dos alimentos.
2.3.5.3 Higiene do rancho
2.3.5.3.1 Não será normal, em se tratando de sobrevivência na Caatinga, a exis-
tência de instalações de rancho de campanha, na acepção genérica do termo;
elas existirão quando do desenvolvimento de operações militares na Caatinga e,
neste caso, aplicar-se-ão todas as medidas de higiene preconizadas pelos ma-
nuais. Isto quer dizer que, em sobrevivência, não haverá rancho organizado, o
que, entretanto, não invalidará a aplicação dessas medidas, sempre que possível,
quando se tratar de alimentação.
2.3.5.3.2 Para a missão de preparar e distribuir a alimentação, não deverão ser
designados indivíduos portadores de moléstias transmissíveis, com inflamações

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cutâneas, feridas ou quaisquer outras lesões; esses indivíduos, se existirem no
grupo, deverão ser alvo de atenção e cuidados especiais.
2.3.5.3.3 Os utensílios de rancho, tais como marmitas, talheres e copos, tão logo
tenham sido usados, deverão ser limpos e lavados antes de guardados. Os restos
de alimentos deverão ter o destino geral dos detritos.
2.3.5.4 Destino dos detritos
2.3.5.4.1 Dar destino adequado aos detritos, quaisquer que sejam suas origens,
é medida fundamental, quando se tratar de um grupo em estacionamento mais
ou menos estável. Na Caatinga, entretanto, não será normal a execução dessa
medida dentro do preceituado pelas regras de higiene, pelo simples fato de que
faltará o material necessário, ainda mais em se tratando de sobrevivência.
2.3.5.4.2 Será suficiente que os detritos sejam enterrados, evitando, assim, que
insetos e outros pequenos animais tornem-se veículos de doenças intestinais. Os
locais selecionados para enterrá-los deverão ficar afastados daqueles em que a
presença do homem será normal.
2.3.5.5 Controle de moscas
- Considerando que a mosca, para sua reprodução, escolhe os locais de detritos,
necessita de calor e umidade e sente atração pelo cheiro, deve-se dar destino
conveniente aos detritos e protegendo os alimentos que desprendam cheiro.
2.3.5.6 Controle do pessoal doente
2.3.5.6.1 Atribuir especial cuidado a um companheiro que venha a sofrer de do-
enças intestinais, principalmente os acometidos de diarreia.
2.3.5.6.2 A rigorosa higiene será necessária para evitar que outros possam ser
contaminados, para tanto, os procedimentos a seguir serão suficientes:
- defecar em lugar apropriado e o mais longe possível do local de estacionamen-
to da fonte de água, cobrindo os dejetos com terra para evitar a contaminação
por insetos (“buraco de gato”);
- manter asseio corporal rigoroso; e
- ingerir bastante água, para evitar a desidratação e, caso seja disponível, utili-
zar remédio específico (soro para reidratação oral, outros) ou fazer a mistura de
sal, açúcar e água na proporção de uma colher de sopa de açúcar (20 g) e uma
colher de chá de sal (3,5 g) para cada cantil (1 litro).
2.3.6 EVITAR OUTRAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
- Além das doenças intestinais, merecem atenção especial aquelas transmitidas
por insetos e parasitas, as contagiosas e outras.

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2.3.6.1 Doenças transmitidas por insetos e parasitos
- São aquelas em que um inseto ou um parasita, sugador do sangue de animais
ou de pessoas infectadas, é o agente transmissor. Destacam-se entre elas: a
dengue, pelos Aedes aegypty; a filariose, pelo Culex; a tularemia, por moscas,
percevejos, piolhos, pulgas e, também, pelo contato com material contaminado;
a febre recorrente, por piolhos e percevejos; o tifo, pelos piolhos do corpo e pul-
gas; a leishmaniose, pelo Flebotomus.
2.3.6.2 Generalidades sobre as doenças transmitidas por mosquitos
2.3.6.2.1 O uso de mosquiteiros para dormir ou proteger as partes expostas do
corpo será útil, bem como o de luvas e de repelentes. Deve-se procurar estacio-
nar em locais altos, afastados principalmente de águas paradas. Dormir vestido,
colocando as extremidades das calças para dentro dos canos das meias ou bocas
do calçado, será mais um meio de evitar picadas.
2.3.6.2.2 Se forem utilizados tapiris, cabanas ou palhoças, deverá ser feita antes
uma inspeção minuciosa nas frestas, onde o barbeiro, transmissor da doença de
chagas, costuma se alojar.
2.3.6.2.3 As picadas dos insetos provocarão comichão e será preciso muito con-
trole para não coçá-las, o que é aconselhável para evitar sangrar e, desse modo,
dificultar a infecção por germes e bactérias.
2.3.6.3 Generalidades sobre as doenças transmitidas por parasita
2.3.6.3.1 A tularemia, a febre recorrente e os vários tipos de tifo constituem um
grupo de doenças transmitidas pelos piolhos, pulgas, percevejos e carrapatos.
2.3.6.3.2 Diagnosticado o mal, o tratamento caberá ao médico. Preventivamente,
o que se poderá fazer será procurar destruir esses vetores. Assim, os piolhos, que
transmitem o tifo epidêmico (ou exantemático), a febre das trincheiras e a febre
recorrente - e que pertençam a três espécies: piolho do corpo (principal respon-
sável pelas doenças), piolho da cabeça e piolho do púbis (chato) - deverão ser
evitados e destruídos, se for o caso, pela execução de um conjunto simples de
medidas que constituem o despiolhamento.
2.3.6.3.3 Os homens tomarão banho com sabão frequentemente; quando neces-
sário, rasparão os cabelos das várias partes do corpo, além da utilização de pós
inseticidas. A água para banho não deverá ser misturada com querosene, gasolina
ou vinagre, deverá ser usado fórmulas conforme orientação médica. Pentes finos
deverão ser passados na cabeça.
2.3.6.3.4 O pó inseticida também deverá ser usado nas roupas, particularmente
nas costuras e dobras. Quando não se dispuser desses materiais, o que será
normal em sobrevivência, as medidas preventivas terão de se reduzir ao banho
e às inspeções para a cata do piolho, quer nos homens, quer nas roupas ou
equipamento.

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2.3.6.3.5 As pulgas, vetores do tifo endêmico e da peste bubônica, têm por veículos
o rato e outros animais de pequeno porte. Portanto, a primeira medida preventiva
será a eliminação desses animais do local, se algum for considerado de estimação,
deverá ser banhado frequentemente com fórmulas e medicamentos orientados
pela equipe médica veterinária; no caso dos ratos, poderão eles serem apanhados
por meio de armadilhas. As outras são semelhantes às do despiolhamento.
2.3.6.3.6 Os carrapatos são responsáveis pelo chamado tifo de carrapato ou tifo
exantemático de São Paulo, como também se denomina o mal. Sua destruição
será difícil, se não impraticável, pois eles serão encontrados em grande número de
animais silvestres, bem como nas áreas, particularmente nas trilhas, onde vivem
esses animais. A vistoria da roupa e do corpo será o melhor modo de encontrar
e destruir o carrapato. Caso ele já esteja encravado na pele, não deverá ser ar-
rancado; a simples aproximação de uma ponta acesa de cigarro será suficiente,
ou ainda a aplicação no local de sal úmido, iodo, limão, querosene, álcool ou
gasolina. Se o ferrão se separar do corpo, permanecendo na pele, para extirpá-lo
bastará que se retire com qualquer objeto pontiagudo, previamente desinfetado.
2.3.6.3.7 Os percevejos poderão existir em quaisquer lugares em que possam
viver em íntima associação com o homem. Escondem-se em locais que lhes
possam oferecer proteção e disfarce; alimentam-se à noite e serão capazes de
sobreviver por seis meses sem alimento algum. São responsáveis por um tipo de
febre recorrente.
2.3.6.3.8 A fumigação e o uso de inseticidas líquidos, gasolina, querosene, água
fervente, serão processos para destruir o parasito; à falta destes, restarão as
inspeções visuais.
2.3.6.4 Doenças contagiosas
2.3.6.4.1 Muitas doenças, como as venéreas, a difteria, a gripe comum, o sarampo,
a tuberculose, a pneumonia, a varíola, a rubéola e a caxumbasão contraídas pelo
contato com elementos enfermos portadores destas doenças.
2.3.6.4.2 Deve-se, por isso, ter especial cuidado nos grupos por onde se tenha
de passar em busca da sobrevivência.
2.3.6.5 Doenças diversas
2.3.6.5.1 Existem, ainda, outras enfermidades encontradas na região da Caatinga,
merecendo ser citadas: a lepra e a esquistossomose. Essa última é transmitida
por caracóis (caramujos encontrados nas águas).
1.3.6.5.2 Finalmente, apesar de não ser propriamente uma doença, o tétano é
resultante da contaminação de feridas e escoriações. A prevenção repousa no
emprego da vacina antitetânica. Os não vacinados, portanto, deverão ter bastante
cuidado com os ferimentos na pele, os quais, tão logo verificados, deverão ser
desinfetados e mantidos higienicamente.

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2.4 PRIMEIROS SOCORROS
2.4.1 GENERALIDADES
1.4.1.1 Nesta seção constam algumas medidas que deverão ser adotadas em
face de acidentes ou intercorrências passíveis de acontecer na Caatinga. Se apli-
cadas, possibilitarão a sobrevivência, aumentando a capacidade de permanecer
no ambiente, quer individualmente, quer em grupo.
2.4.1.2 Algumas medidas não constam de manuais e outras poderão ser com-
plementadas pelas publicações específicas de PRIMEIROS SOCORROS (exceto
o assunto sobre tratamento de acidente com ofídios), BANDAGEM E IMOBILI-
ZAÇÃO e pelo MANUAL DE CAMPANHA: ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR
(APH) BÁSICO (2020).
2.4.1.3 Devem ser tratados com prioridade os acidentados que apresentarem
hemorragias, fraturas expostas, hipotensão e rebaixamento de nível de consci-
ência.
2.4.2 EXAUSTÃO, CÂIMBRAS, INSOLAÇÃO E INTERMAÇÃO
2.4.2.1 Deve-se afastar imediatamente o militar afetado de qualquer atividade
física, ou na impossibilidade por razões de segurança, tentar designar ao militar
tarefa menos desgastante.
2.4.2.2 Na primeira oportunidade deve ser ofertada o máximo possível de água
potável e repositores eletrolíticos. Na falta de repositores eletrolíticos, considerar
usar solução de cinza proveniente das madeiras queimadas em fogueira, em
grande quantidade.
2.4.2.3 Poderá, também, ser obtido sal após cortar em tiras as moelas das aves
e colocá-las para ferver com água. Após a evaporação total da água, retiram-se
os pedaços da moela e no fundo do recipiente (normalmente um caneco ou lata)
existirá um sal grosseiro em condições de uso.
2.4.3 FERIMENTOS DE MODO GERAL
1.4.3.1 Tratar corretamente pequenos ferimentos é importante para não gerar
infecções, não contaminar a pele com fungos, bactérias ou vírus que podem
causar doenças mais graves. Portanto, caso ocorram, deve-se:
- lavar o local com água e sabão e deixar a ferida limpa e seca. É importante reti-
rar qualquer resquício de terra, ou qualquer outra substância que possa inflamar
o local;
- se for um ferimento maior ou um corte extenso, pode ser necessário cobrir o
local com uma gaze para evitar que sujeiras entrem ou que a roupa grude no
ferimento. É importante trocar o curativo todos os dias; e
- não aplicar sobre o ferimento qualquer extrato ou folha de planta sob o risco de
envenenamento ou infecção da ferida.
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2.4.3.2 Piora da dor, inchaço no local, febre e saída de secreção purulenta ou
fétida são sinais de alarme para infecção e nesse caso o militar deve receber
atendimento médico com a maior brevidade possível.
2.4.4 QUEIMADURAS
- Queimadura é uma lesão em determinada parte do organismo desencadeada
por um agente físico. Dependendo deste agente, as queimaduras podem ser
classificadas em queimaduras térmicas, elétricas e químicas. Queimaduras tér-
micas são aquelas causadas por calor e são as mais frequentes no ambiente de
Caatinga.
2.4.4.1 Classificação
2.4.4.1.1 Queimadura de Primeiro Grau
- É a queimadura mais superficial e caracteriza-se por deixar a pele avermelhada
(hiperemiada) inchada (edemaciada) e extremamente dolorida. Uma exposição
prolongada ao Sol pode desencadear este tipo de lesão.
2.4.4.1.2 Queimadura de Segundo Grau
- Caracteriza-se pelo aparecimento da bolha (flictena), que é a manifestação
externa de um descolamento dermo-epidérmico. Tem uma profundidade inter-
mediária.
2.4.4.1.3 Queimadura de Terceiro Grau
- Caracteriza-se pelo aparecimento de uma zona de morte tecidual (necrose)
e extensão profunda (até os ossos muitas vezes). É a mais profunda e a mais
grave.
2.4.4.2 Cuidados
- Retirar roupa que esteja em volta da área queimada, bem como anéis e pul-
seiras;
- Irrigar a área queimada com água à temperatura ambiente;
- Não perfurar as bolhas;
- Cobrir o local com bandagens limpas; e
- Se queimadura de segundo ou terceiro graus, providenciar evacuação imediata.
2.4.5 HEMORRAGIAS
2.4.5.1 Ao apresentar-se um caso de hemorragia, colocar uma compressa es-
terilizada diretamente sobre a ferida e comprimi-la com a mão, ou por meio de
ataduras firmemente colocadas. Se a hemorragia não ceder, o membro ferido
deverá ser posto em posição mais elevada.
2.4.5.2 O torniquete ou garrotesomente deverá ser usado quando se tratar de
membro gravemente ferido e quando a hemorragia não puder ser estancada

2-11
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pela compressa de pressão. Procurar apalpar a artéria mais importante da região
ferida; se a localizar, comprimi-la com os dedos, com a mão aberta ou fechada,
conforme o caso, e o torniquete será de fácil de colocação, podendo ser feito com
o auxílio de um pequeno apoio improvisado. O fato de não localizar a artéria não
deve constituir motivo sério de preocupação.
2.4.5.3 O torniquete, quando aplicado em perna ou braço, na coxa ou no ante-
braço, deverá ser colocado entre a ferida e o coração. Os torniquetes devem ser
afrouxados de 15 em 15 min ou de 20 em 20 min.
2.4.5.4 Se a extremidade do membro tornar-se fria e de cor azulada, o torniquete
deverá ser afrouxado com frequência, ao mesmo tempo que os maiores esforços
devem ser envidados para conservar a parte em tratamento tão quente e aga-
salhada quanto possívelquando o frio for intenso. O afrouxamento do torniquete
deverá permitir correr o sangue durante alguns segundos.
2.4.6 FRATURAS
2.4.6.1 Os feridos com fraturas deverão ser tratados com cuidado e delicadeza a
fim de que o seu sofrimento não seja aumentado e suas lesões agravadas. Não
se deve remover a peça de roupa que cobre um membro fraturado. Havendo
ferimento, cortar e retirar a peça e tratar a lesão (ou ferida) antes de colocar as
talas. A roupa desprende-se com mais facilidade nas costuras.
2.4.6.2 As talas poderão ser improvisadas de peças e partes do equipamento,
ou então de peças de roupas enroladas e bem apertadas, ou ainda de galhos de
árvores, bambus e outros acolchoados com material macio. As talas deverão ser
suficientemente longas, de modo a abranger as juntas acima e abaixo da fratura.
2.4.6.3 O paciente deverá ser conservado deitado e quieto, procurando não movê-
-lo desnecessariamente. Buscar manter, com as talas, a fratura bem imobilizada.
Não tentar, em hipótese alguma, forçar os ossos partidos para a posição que seria
normal.
2.4.6.4 Improvisar uma maca para o transporte do ferido com duas blusas de ins-
trução ou de combate e duas varas, ou com duas varas e um cobertor; introduzir
as varas pelas mangas das blusas ou dobrar meio cobertor sobre as duas varas
dispostas paralelamente, deitar o paciente e recobri-lo com a outra metade do
cobertor.
2.4.7 TORCEDURAS
2.4.7.1 Colocar as ataduras e manter em descanso a parte afetada. A aplicação
imediata de frio, no lugar afetado, poderá evitar a inchação. Após diminuir o in-
chaço (entre 6 ou 8 horas), a aplicação de calor aliviará a dor. Pôr a extremidade
machucada em nível mais alto.
2.4.7.2 Se o uso do membro machucado for de todo necessário, imobilizar a arti-
culação afetada por meio de forte enfaixamento. Não havendo ossos fraturados,
poder-se-á fazer uso do membro afetado até o limite permitido pela dor.

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CAPÍTULO III
ANIMAIS PEÇONHENTOS E VENENOSOS

3.1 PEÇONHA
3.1.1 GENERALIDADES
3.1.1.1 Na Caatinga é de suma importância que o combatente tenha informa-
ções sobre os animais peçonhentos e venenosos que ali são encontradoscom
a finalidadede evitar acidentes que venham a diminuir o seu poder de combate.
3.1.1.2 Dessa maneira, o indivíduo, ao operar na Caatinga, deve saber reconhecer
tais animais e aplicar medidas de prevenção de acidentes apropriadas. Da mesma
forma deve conhecer os procedimentos de primeiros socorros que irão estabilizar
as suas condições clínicas ou as de outremque por ventura venham a se acidentar.
3.1.1.3 Além disso, caso não consiga identificar o animal que causou o aciden-
te, deve aplicar as técnicas corretas de captura para que possa facilitar o seu
reconhecimento e o posterior atendimento médico mais adequado. Portanto, é
pertinente diferenciar os conceitos de animais peçonhentos e venenosos.
3.1.2 CARACTERIZAÇÕES
3.1.2.1 Animal Peçonhento
- É aquele que segrega substâncias tóxicas com o fim especial de serem utiliza-
das como arma de caça ou de defesa. Apresentam órgãos especializados para
a inoculação da toxina.
- Portanto, para que haja uma vítima de peçonha é necessário que esta seja
introduzida, por este órgão, dentro do organismo da vítima.
3.1.2.2 Animal Venenoso
- É aquele que, mesmo sendo produtor de substâncias tóxicas, não possui ór-
gãos especializados para a inoculação de toxinas. Para produzir efeitos preju-
diciais ou letais, é exigido contato físico externo com o indivíduoou que seja por
este ingerido.
- Como exemplos de animais venenosos, existem o potó e o papa-pimenta.
3.1.3 AÇÃO PATOGÊNICA DA PEÇONHA
- Vários fatores interferem na ação patogênica da peçonha. Será de acordo com
esses fatores que haverá maior ou menor gravidade para uma vítima de empe-
çonhamento.

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3.1.3.1 Local da Picada
- No caso dos gêneros Crotalus (cascavel) e Micrurus (coral), cujas peçonhas
têm ação neurotóxica, quanto mais próxima dos centros nervosos a picada,
maior a gravidade para a vítima.
- E, também, no caso da picada de qualquer ofídio peçonhento, se a região atin-
gida for muito vascularizada, maior será a velocidade de absorção e os efeitos
serão mais precoces.
3.1.3.2 Quantidade Inoculada
- Estará na dependência do período entre uma picada e outra, bem como da pri-
meira e das subsequentes picadas, quando realizadas no mesmo momento. As
glândulas da peçonha levam em média 15 dias para se completarem.
3.1.3.3 Toxidez da Peçonha
- A peçonha crotálica é mais tóxica do que a botrópica, e ambas menos que a
elapídica.
3.1.3.4 Receptividade do Animal Picado
- A receptividade à peçonha ofídica depende do animal haver sido picado ante-
riormente, desenvolvendo imunidade, ou não.
- Os animais que foram tratados com soro antiofídico ao receberem nova dosa-
gem possuem maior probabilidade de apresentar uma reação anafilática, que
pode levar ao choque, pois o organismo conta com uma memória imunológica
contra a proteína equina contida no medicamento.
3.1.3.5 Peso e Tamanho do Animal Picado
- A gravidade do caso será proporcional a uma maior ou menor diluição da pe-
çonha no sangue. Quanto maior e mais pesado o animal, mais diluída estará a
peçonha e menos grave será a sua ação.

3.2 OFÍDIOS
3.2.1 GENERALIDADES
− Entre os animais peçonhentos, são os ofídios aqueles que mais chamam a
atenção, quer pelas dimensões avantajadas que podem alcançar, quer pela
quantidade de peçonha que podem inocular e, consequentemente, pelo grande
número de acidentes fatais que a sua picada pode motivar.
3.2.2 CLASSIFICAÇÃO
3.2.2.1 Sistemática Animal
- Na Caatinga, temos classificadas como principais, dentro da sistemática ani-
mal, as seguintes famílias e gêneros ofídicos:

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FAMÍLIA TÁXON NOME VULGAR

Crotalus Cascavel
VIPERIDAE
Bothrops Jararaca

ELAPIDAE Micrurus Coral

BOIDAE Boa constrictor Jiboia

Tab 1 - Famílias e gêneros ofídicos

3.2.2.2 Disposição Dentária


- Os ofídios podem ainda ser classificados quanto à disposição dentária, cujo
conhecimento é importante, porquanto permite reconhecer se o animal é ou não
peçonhento. Assim, serão:
3.2.2.2.1 Áglifas
- Todos os seus dentes são iguais, inclusive os maxilares, maciços e retrógrados,
servindo para auxiliar a impelir a presa para trás. São consideradas não peço-
nhentas. Exemplo: jiboias.
3.2.2.2.2 Opistóglifas
- Possuem um ou mais pares de dentes bem salientes e chanfrados longitu-
dinalmente, localizados na parte posterior da arcada dentária superior. Apesar
do aparelho inoculador ser mais aperfeiçoado que nas áglifas, sua localização
e ranhura não muito perfeita dificultam a inoculação e favorecem a dispersão
da peçonha, sendo raros os casos de acidentes humanos com estas espécies.
Exemplo: falsas corais.
3.2.2.2.3 Proteróglifas
- Apresentam um ou mais pares de dentes bastante aumentados e profunda-
mente chanfrados, localizados na parte anterior do maxilar superior. Seu sistema
inoculador já é bem mais perfeito que o das anteriores. São perigosos. Exemplo:
corais verdadeiras.
3.2.2.2.4 Solenóglifas
- Possuem um ou mais pares de dentes maxilares grandes, móveis, por estar
sua inserção revestida por uma mucosa, possuindo um canal interior. Seu apare-
lho inoculador é perfeito, ficando pronto para introduzir a peçonha na vítima, qual
agulha de injeção, indo as presas à frente quando o ofídio abrir a boca. Exemplo:
cascavéis.

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Fig 10 - Disposição dentária dos ofídios

3.2.3 CARACTERÍSTICAS
3.2.3.1 Órgãos Sensoriais
3.2.3.1.1 Visão
- Ao contrário da sabedoria popular, os ofídios têm boa visão, exceto, quando
trocam a pele. Porém sua posição relativa, normalmente próxima ao solo, reduz
seu campo visual.
3.2.3.1.2 Olfato
- É utilizado para perseguir suas presas e para a reprodução à procura do par
para o acasalamento. Utiliza sua língua para captação de odores.
3.2.3.1.3 Detectores térmicos
- Em alguns ofídios são identificados certos detectores térmicos, denominados
fossetas.
- Na família Boidae, esses orifícios são encontrados nos lábios superiores e são
chamados de fossetas labiais. Na família Viperidae (Crotalus, Bothrops,etc), as
fossetas são encontradas entre as narinas e os olhos e são chamadas de fossetas
loreais, servindo ainda para captar vibrações do ar.

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3.2.3.2 Movimentos
- Podem os ofídios realizar os seguintes movimentos:
a) deslizar (reptar);
b) projetar-se sobre a presa (bote);
c) saltar;
d) escalar alturas em planos inclinados ou verticais;
e) mergulhar tanto na água como na areia; e
f) nadar.
3.2.3.3 Vivenda
- Os ofídios podem ter hábitos:
a) subterrâneos. Exemplo: corais;
b) terrestres. Exemplo: cascavéis;e
c) arborícolas. Exemplos: jararacas e jiboias.
3.2.3.4 Presença dos Ofídios
- Na Caatinga, as serpentes não são encontradas tão facilmente, como popular-
mente se admite. Elas surgem em maior número em decorrência do aparecimento
do próprio homem que após instalado trata de prover a sua subsistência mediante
o cultivo do milho, da macaxeira, do feijão e da melancia. Procurando alimentos,
virão em consequência os roedores, como preás, mocós e gambás, que, por sua
vez, atrairão os ofídios.
3.2.4 FAMÍLIA VIPERIDAE
3.2.4.1 Gênero Crotalus
- Compreende várias espécies de cascavéis, entre elas, a Crotalusdurissus.
3.2.4.1.1 Características:
- cabeça triangular coberta por escamas;
- possui fosseta loreal;
- presença do chocalho na extremidade da cauda;
- desenhos em forma de losangos marrom-escuros com frisos amarelo-pálidos
ao longo da coluna vertebral;
- comprimento de até 1,5m;
- solenóglifas; e
- hábitos diuturnos.

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Fig 11 - Cascavel (Crotalusdurrissus)

3.2.4.1.2 Habitat
- Vive em lugares secos, arenosos e pedregosos, características típicas do am-
biente deCaatinga.
3.2.4.1.3 Ação da peçonha
- Todos os sintomas serão sempre proporcionais ao grau de empeçonhamento:
a) a peçonha crotálica é hemolítica (destrói os glóbulos vermelhos), neurotóxica
e miotóxica;
b) dor local pouco frequente e geralmente fraca, a não ser que a picada tenha
atingido uma região muito sensível, como a extremidade dos dedos;
c) a região fica normal ou com pequeno aumento de volume, com a sensação
de adormecimento (parestesia);
d) dores musculares generalizadas ou localizadas na nuca;
e) perturbações na visão: obnubilação seguida de ptose palpebral, a qual de-
terminará a gravidade do caso e que regredirá, gradualmente, até 10 dias após
a picada;
f) a ação hemolítica faz-se sentir gradativamente, podendo acarretar a morte
após um período de anúria (diminuição ou supressão da secreção urinária), que
será decorrente do acúmulo de substâncias tóxicas no organismo, pela destruição
do parênquima renal;

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g) raramente ocorre hipotensão ou hipertermia; e
h) 4 a 6 horas após a picada já há grande quantidade de peçonha no sangue.
3.2.4.2 Gênero Bothrops
- Compreende todas as espécies e variedades de serpentes, vulgarmente englo-
badas sob a denominação de jararacas.
3.2.4.2.1Características
- cabeça de forma triangular bem acentuada, sendo em algumas o aspecto ogival,
coberta de escamas;
- presença de fosseta loreal;
- desenhos de forma e cores variadas;
- comprimento de até 85cm;
- solenóglifas; e
- hábitos noturnos.

Fig 12 - Jararaca da Caatinga (Bothropserythromelas)

3.2.4.2.2 Habitat
- As serpentes deste gênero vivem em paióis, depósitos de lenha e lixões, em
busca basicamente de roedores. Dentre as Bothrops mais comuns, tem-se a
Bothropserythromelas, conhecida como Jararaca da Caatinga.
3.2.4.2.3 Ação da peçonha
- Todos os sintomas serão sempre proporcionais ao grau de empeçonhamento:

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a) proteolítica (necrose) e coagulante (hemorragia);
b) dor local que pode ser muito intensa;
c) edema duro, que vai aumentando, aparecendo manchas róseas ou cianóticas
(coloração azulada devido à presença de alto teor de hemoglobina);
d) a ação coagulante é quase imediata e local;
e) com a ação da peçonha na circulação, lentamente, destruindo a fibrina, o
sangue torna-se incoagulável, resultando no aparecimento de hemorragias (epis-
taxe, hematúria, gastrorragia, melena);
f) a ação de necrose dá-se por destruição das proteínas dos tecidos da área
picada;
g) a coagulação impede a peçonha de circular rapidamente, agravando a ne-
crose;
h) dificilmente há aparecimento de fenômenos gerais no organismo; e
i) aparecimento de febre quando a lesão local for intensa.
3.2.5 FAMÍLIA ELAPIDAE
- A família Elapidae é constituída pelas serpentes pertencentes ao gênero Micrurus
que fogem totalmente das características normais das peçonhentas, principalmen-
te por não possuírem fosseta loreal. Fazem parte deste Gênero todas as corais
verdadeiras (peçonhentas). Na Caatinga, encontra-se a Micrurusibiboboca.
3.2.5.1 Características:
- cabeça arredondada, coberta por placas, praticamente não se destacando do
corpo;
- não possuem fosseta loreal;
- desenhos em cores vermelha, branca, preta, cinza, amarela e marrom, sempre
em anéis completos;
- são proteróglifas;
- pupila redonda; e
- hábitos noturnos.
3.2.5.2 Habitat
- As corais possuem vivenda subterrânea e, sendo de hábitos noturnos, são
identificadas comumente ao amanhecer ou ao cair da tarde. Os acidentes com
corais geralmente ocorrem com aqueles que manipulam a terra.

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Fig 13 - Coral (Micrurusibiboboca)

3.2.5.3 Ação da Peçonha


- Todos os sintomas serão sempre proporcionais ao grau de empeçonhamento:
a) neurotóxica e bloqueadora neuromuscular;
b) o local da picada permanece normal, apenas com o sinal das presas;
c) sensação de dormência, que progride gradativamente pelo membro atingido,
pelo tronco, até atingir as terminações nervosas;
d) há uma sensação de constrição na faringe, com salivação abundante e
espessa;
e) dificuldade respiratória;
f) as perturbações visuais são as mesmas que as do empeçonhamento crotálico;
g) pressão, pulso e temperatura normais; e
h) a morte pode ocorrer em poucas horas por asfixia, devido à paralisação do
diafragma e músculos do tórax.
3.2.6 FAMÍLIA BOIDAE
- Compreende vários gêneros, com inúmeras variedades, onde as dimensões
variam de 50cm até 12,5m. Nenhuma é peçonhenta, mas se movimentam com
agilidade, sendo o bote rapidíssimo e já preparado para enrodilhar e constringir
a vítima. Não possuindo peçonha, matam por constrição, realizada pela muscu-
latura extraordinariamente desenvolvida. Em consequência das variedades que
comporta a Família Boidae na Caatinga, também são diversas suas vivendas,
sendo algumas arborícolas, outras terrestres, ou mesmo, simultaneamente, ter-
restres e arborícolas.

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3.2.6.1 Gênero Boa
- Conhecida como Jiboia (Boa Constrictor), pode atingir até 4m de comprimento.
Quando irritada, emite prolongado silvo. Possui musculatura com grande poder
de constrição. Sua vivenda pode tanto ser arborícola como terrestre.

Fig 14 - Jiboia (Boa Constrictor)

3.2.7 FAMÍLIA COLUBRIDAE


- Família de representantes com dentição opstóglifa, comumente arborícola, com
peçonha (embora fraca e de difícil inoculação) e com algumas espécies agressi-
vas. Embora não muito perigosas para os seres humanos, pode causar acidentes
que devem ser evitados.
- Sua picada pode causar dores locais e inflamações importantes, em casos mais
graves (mais de 5 picadas) pode causar síndrome compartimental (aumento de
pressão num espaço anatómico restrito, privando músculos e nervos do suprimento
de sangue), podendo acarretar na perda do membro afetado. Entre as espécies
mais agressivas podemos citar:
3.2.7.1 Philodryassp
- A este gênero pertence a Cobra-cipó. É ofiófaga, devorando principalmente co-
raise é arborícola. Possui o corpo fino, de cor predominante marrom, com flancos
esbranquiçados, e escamas aleatórias manchadas em preto. Seu comprimento
não atinge mais de 1,5m. Na Caatinga, encontra-se a Philodryasnattererri.

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Fig 15 - Cobra-cipó (Philodryasnattererri)

3.2.7.2 Spilotessp
- Possui dorso escuro manchado de amarelo e ventre amarelo com faixas negras
transversais.Alimenta-se de calangos, pássaros, preás e mocós. Quando irritada,
infla o pescoço e investe com agressividade, embora sua mordida não ofereça
risco (não peçonhenta). Na Caatinga, encontra-se Spilotespullatus, conhecida
como caninana.

Fig 16 - Caninana (Spilotespullatus)

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3.2.8 PRIMEIROS SOCORROS
3.2.8.1 Generalidades
3.2.8.1.1 Para tratar uma vítima de empeçonhamento ofídico apenas a aplicação
do soro antiofídico poderá anular o efeito da peçonha. No entanto, somente poderá
ser realizado por pessoal habilitado e dotado com o equipamento específico, pois
as complicações que podem advir da soroterapia serão potencialmente mais fatais
que a própria peçonha inoculada na vítima.
3.2.8.1.2 Somente uma equipe de saúde poderá reverter as complicações que são
comuns na administração de soro antiofídico, através de procedimentos médicos
específicos (intubação endotraqueal, utilização de adrenalina, corticoides etc).
Entre as complicações está o choque anafilático que engloba: edema de glote,
alteração de consciência, hipertensão, braquicardia, apneia, etc.
3.2.8.1.3 O tratamento médico realizado até 6 horas após o acidente com ofídios,
normalmente, não deixa sequelas e não é fatal em seres humanos (exceto nos
debilitados e nos que possuem pequeno peso corporal, como as crianças). Se
a inoculação da peçonha ocorrer em local muito vascularizado, os riscos serão
maiores, pois os efeitos serão mais precoces.
3.2.8.2 Ações imediatas numa situação de sobrevivência
- Devem-se tomar as seguintes ações em caso de acidente com ofídios:
a) manter o acidentado em repouso;
b) limpar o local da picada com água e sabão;
c) elevar o membro afetado (visando reduzir a possibilidade de necrose local);
d) não romper lesões bolhosas (que surgem, normalmente, após 6 a 12 horas da
picada), pela possibilidade de gerar uma infecção secundária de origem bacteriana;
e) não garrotear o membro afetado (para evitar a necrose na região);
f) nunca sugar o ferimento, pois além de causar infecções secundárias, pode
intoxicar o ator da ação;
g) não fazer sangria, pois a peçonha altera o tempo de coagulação e poderá
provocar uma grande hemorragia;
h) deve ser administrada água em abundância ao vitimado, pois um dos sintomas
mais comuns é a insuficiência renal;
i) simultaneamente ao atendimento deve ser procurado por outros elementos,
identificar e, se possível, capturar o ofídio causador do acidente conduzindo-o à
equipe médica que realizará o tratamento;
j) havendo a possibilidade de evacuar, em até 6 horas, o indivíduo acidentado
até um local onde possa receber tratamento médico especializado, isto deverá

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ser feito de imediato;
k) não havendo condições de evacuar o acidentado até um centro médico no
prazo de 6 horas, ele deverá continuar bebendo água. Caso não haja a expecta-
tiva de resgaste ou evacuação em menos de 12 horas e não tenha náuseas ou
vômitos, o indivíduo poderá consumir alimentos leves, visando fortalecê-lo. Se
o vitimado sentir fortes dores poderá receber o analgésico Dipirona por via oral,
intramuscular ou endovenosa, em ordem crescente de gravidade, ou Paraceta-
mol por via oral. Não deve ser administrado ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-
-inflamatório (Diclofenaco, Nemesulidaetc), pois agravam o quadro hemorrágico
(interno ou externo); e
l) de qualquer forma, mesmo que tenha passado o prazo de 6 horas, todos os
esforços devem ser feitos no sentido de evacuar o acidentado para um Centro
Médico.

3.3 ARANHAS
3.3.1 GENERALIDADES
- As aranhas peçonhentas, na Caatinga, pertencem a vários gêneros e famílias,
com mais de 50 espécies espalhadas por todo o semiárido, com predominância
nos estados de Minas Gerais e da Bahia.
- Os principais gêneros e família são: Phounetria, Loxosceles, Latrodectus e
Theraphosidae.
3.3.2 CARACTERÍSTICAS
3.3.2.1 Frequência
- O maior número de acidentes ocorre nos meses de dezembro a abril, durante
a noite, e 50% dentro das habitações.
3.3.2.2 Hábitos
- As aranhas peçonhentas, em geral, não vivem em teias, e quando as fazem,
são irregulares e não em forma geométrica. Constituem exemplos mais comuns:
3.3.2.2.1 Armadeira
a) Responsáveis pela maioria dos acidentes, possuem 3 a 4 cm de corpo e até 15
cm de pernas. Quando molestadas, erguem-se sobre as patas traseiras e saltam
em direção a vítima para picá-la (até 30 cm).
b) São mais encontradas nos estados de Minas Gerais e Bahia. O habitat predileto
desta espécie são os lugares escuros e úmidos (Exemplo: coturno), normalmente
encontrada em montes de telhas, tijolos ou tábuas velhas. São agressivas e os
machos possuem menores dimensões.

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Fig 17 - Armadeira, gênero Phoneutria

3.3.2.2.2 Viúva-negra

Fig 18 - Viuva-negra, gênero Latrodectus

a) É assim denominada porque a fêmea mata o macho após o acasalamento.


Possuem o corpo globoso negro com desenhos na cor vermelho vivo na porção
abdominal. A fêmea tem corpo com cerca de 1 cm e o macho é um pouco menor.
b) É encontrada sob pequenos arbustos onde constrói teias irregulares. Vive em
vegetação rasteira nas proximidades da areia. Não é agressiva.

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3.3.2.2.3 Aranha-marrom
a) São espécies muito comuns nos estados da região do sul do país, entretanto,
também são encontradas em grande número nos estados de Minas Gerais e da
Bahia.
b) As fêmeas desta espécie possuem o corpo pouco piloso, de cor uniforme
marrom-esverdeado, com cerca de 1 cm. Já os machos são menores e possuem
as pernas mais finas.

Fig 19 - Aranha-marrom, gênero Loxosceles

c) Preferem utilizar os locais quentes e secos como habitat e normalmente são


encontradas no interior das moradias.
d) Nos acidentes envolvendo a aranha marrom os sintomas são dor local, febre,
mal estar, náuseas, equimose local extensa com ou sem bolhas hemorrágicas,
necrose (ação proteolítica), escurecimento da urina (ação hemolítica), síndrome
renal e morte em casos extremos.
3.3.2.2.4 Caranguejeira
a) São as espécies de aranha mais encontradas na Caatinga. Possuem o abdômen
e as patas revestidas de pelos. Atinge até 25 cm de comprimento.
b) Alimenta-se de lagartixas e rãs, e sua picada produz dor local que pode perdurar
por 48 horas, além de sintomas nervosos. Todavia, na maioria dos acidentes en-
volvendo a caranguejeira, são os seus pelos urticantes que, ao serem expelidos,
atingem as vias respiratórias do homem provocando tosse e irritação e atingem
a pele causando coceira.

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Fig 20 - Caranguejeira Rosa-Salmão (Lasiodoraparahybana), família Theraphosidae

3.3.3 AÇÃO DA PEÇONHA


a) A peçonha dos aracnídeos mencionados tem uma ação neurotóxica, atuando
sobre os centros nervosos. No local da picada, os aracnídeos deixam como ves-
tígio um sinal puntiforme ou uma erosão epidérmica.
b) Dificilmente fazem vítimas fatais e, no caso, somente em indivíduos em más
condições físicas, em crianças, ou ainda em pessoas de pequena massa corporal.
c) Entre 24 e 48 horas após a picada ou a aplicação da terapêutica analgésica,
os sintomas desaparecem.
3.3.4 PRIMEIROS SOCORROS
a) A exemplo do tratamento com ofídios, a aplicação de soros antictênicos só
poderá ser administrada por uma equipe de saúde, pois as complicações que
podem advir são potencialmente mais fatais que a picada das aranhas.
b) A dor, que é o principal sintoma, deve ser combatida energicamente com
analgésicos e sedativos.Os anti-histamínicos são indicados, na proporção de
uma ampola (50 mg) de Prometazina (Fenergan) por indivíduo, para reduzir os
efeitos da picada.
c) Quando houver necrose e infecção, sintomas muito raros, poderão ser admi-
nistrados antibióticos sob prescrição médica. Compressas quentes devem ser
utilizadas, visando reduzir a dor e a inflamação local. Sempre que possível, o
acidentado deverá ser evacuado e conduzido a um centro médico a fim de receber
o tratamento indicado.

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3.4 ESCORPIÕES
3.4.1 GENERALIDADES
3.4.1.1 Os escorpiões possuem hábitos noturnos, saindo para caçar à noite. Du-
rante o dia, escondem-se sob madeiras e pedras, ao abrigo da luz.
3.4.1.2 Existem no Brasil quase 150 espécies de escorpiões, todas são peçonhen-
tas, sendo o amarelo o mais perigoso. O semiárido encabeça a lista dos biomas
onde foram detectados o maior número de acidentes com escorpiões. Três esta-
dos concentram o maior número de casos: Pernambuco, Bahia e Minas Gerais.
3.4.1.3 No ano de 2017 (última atualização do Ministério da Saúde), 37 mil pessoas
foram atacadas por escorpiões e 86 morreram (0,2%).
3.4.2 CARACTERÍSTICAS
3.4.2.1 Escorpião Amarelo (Tityus Serrulatus)
- Também conhecido como escorpião branco, apresenta o tronco escuro, patas,
pedipalpos e cauda amarelos. Esta espécie inocula uma maior quantidade de
peçonha que os demais e, por isso, é considerado o mais peçonhento da América
do Sul e causador dos acidentes mais graves.

Fig 21 - Escorpião Amarelo, à esquerda, e Escorpião do Nordeste, à direita

3.4.2.2 Escorpião do Nordeste (Tityus Stigmurus)


- Muito comum no semiárido nordestino, possui camuflagem adaptada ao ambien-
te em que vive. Também apresenta patas, pedipalpos e cauda amarelos, porém
diferencia-se do escorpião amarelo por possuir uma espécie de flecha escura em
seu dorso. Sua picada é mais dolorida, porém seus efeitos são mais moderados.
3.4.3 AÇÃO DA PEÇONHA
- Predominantemente neurotóxica, deixando no local da picada apenas um sinal

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puntiforme, sem reação. Provoca dor muito intensa, leve hipotensão arterial,
taquicardia e sudorese (suor).
3.4.4 PRIMEIROS SOCORROS
3.4.4.1 A exemplo dos acidentes com ofídios e aranhas, o soro antiescorpiônico
só deverá ser administrado por uma equipe de saúde, pois exige procedimentos
médicos que se não forem respeitados poderão causar o óbito, o que a picada
do escorpião raramente causaria.
3.4.4.2 Devem ser administrados sedativos e analgésicos, pois a dor, que é o prin-
cipal sintoma, deverá ser combatida. Anti-histamínicos terão efeitos coadjuvantes.
3.4.4.3 Compressas quentes devem ser utilizadas, visando reduzir a dor e a infla-
mação local.Sempre que possível, o acidentado deverá ser evacuado e conduzido
a um centro médico a fim de receber o tratamento indicado.

3.5 INSETOS
3.5.1 GENERALIDADES
- As abelhas, os potós e os papa-pimentas podem produzir acidentes dolorosos.
As abelhas pela inoculação de peçonha através do “ferrão” e os potós e papa-
-pimentas por meio dos seus fluidos, que em contato com a pele do homem,
provocam queimaduras.
3.5.2 ABELHAS
3.5.2.1 Parecem inofensivas, mas são perigosas, irritadiças e atacam em bando.
As ações patogênicas da sua peçonha são hemolítica e neurotóxica. A substância
encontrada na sua peçonha é a apitoxina, que pode causar dor local, respiração
curta e anemia aguda após várias picadas. Quanto mais ferroadas, maior é o
risco de morte.
3.5.2.2 A gravidade do caso estará na dependência do número de picadas ou
de ser a vítima alérgica, por picadas anteriores ou de nascença. Nesses casos,
o quadro clínico rapidamente se agravará, normalmente com choque anafilático
e morte por edema de glote. Quase todos os casos mortais são devidos a tais
manifestações. Dessa maneira, os indivíduos que apresentarem hipersensibilidade
podem apresentar o choque anafilático com apenas uma picada.
3.5.2.3 O tratamento consiste em retirar o “ferrão” com uma agulha esterilizada,
incidindo na base daquele, projetando-o para cima. Não deve ser pressionado o
“ferrão” para evitar a inoculação adicional de peçonha no organismo do indivíduo.
Para atenuar os sintomas locais podem ser administrados analgésicos e anti-
-histamínicos na proporção de uma ampola (50 mg) de Prometazina (Fenergan)
por indivíduo.

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3.5.2.4 O acidentado deverá ser acompanhado periodicamente para verificar a
evolução do quadro clínico.

Fig 22 - Abelha (Apismellifera)

3.5.3 POTÓ
3.5.3.1 O potó é um inseto da ordem dos besouros, apesar de ter o corpo peque-
no, fino e roliço, semelhante ao de uma formiga. A cabeça e o tórax são pretos
e abdomen é vermelho.
3.5.3.2 Quando o potó pousa sobre a pele do indivíduo, a reação mais comum é
exercer pressãono inseto como intuito de matá-lo.Como forma de defesa o inseto
libera apederina, que é um líquido branco existente nos seus fluidos. A pederina,
em contato com a pele humana, causa inflamações cutâneas, semelhantes a
queimaduras. Diferente do que diz a sabedoria popular, não é a urina do inseto
que queima a pele do homem.

Fig 23 - Potó (Paederusirritans)

3.5.3.3 O potó é um inseto voador e de hábito noturno, por isso grande parte
dos acidentes é à noite. Durante o sono, normalmente a cabeça do indivíduo é a
parte do corpo que fica descoberta, por isso o pescoço e a face são os locais de
maior incidência de lesões.

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3.5.3.4 O tratamento adequado deve ser lavar o local atingido com água e sabão,
evitar a exposição ao sol do local atingido, aplicar pomadas anti-inflamatórias,
tomar antibióticos e procurar um dermatologista assim que possível.

Fig 24 - Lesão causada pelo Potó (formato linear)

3.5.4 PAPA-PIMENTA
3.5.4.1 Também conhecidos como burrinhos e potó-pimenta. Possuem este nome
porque se alimenta basicamente do fruto da malva, que se assemelha a uma
pimenta.Possuem o corpo alongado e com coloração amarronzada ou cinza.

Fig 25 - Papa-pimenta (Epicautafabricii)

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3.5.4.2 Aparecem em grande número no período chuvoso do ano e são normal-
mente encontrados na zona rural.Expelem um líquido amarelo que contém a
substância chamada cantaridina, que causa queimaduras (bolhas) em contato
com a pele do homem.

3.6 MEDIDAS PREVENTIVAS


- As seguintes regras poderão ser utilizadas a fim de evitar as picadas de ofídios,
aranhas, escorpiões e abelhas:
a) andar sempre com uma vara, batendo-a, quando necessário, nas árvores e
galhos; o ruído espantará os animais e a própria vara poderá servir como defesa;
b) antes de sentar ou deitar, verificar o local com a vara ou com os pés; evitar
sentar sobre toros ou árvores caídas, sem antes examinar à sua volta, pois são
locais preferidos, pelo frescor e sombra, para abrigos de serpentes;
c) ao vestir-se, verificar se não há animais peçonhentos que tenham vindo
abrigar-se nas peças de roupa, bastando sacudi-las;
d) examinar os coturnos antes de calçá-los, virando-os e batendo na sola, pois
são locais preferidos para abrigo de aranhas e escorpiões;
e) ter cuidado ao mexer em palhas (aranhas e serpentes) e paus ou tábuas
empilhadas (escorpiões); e
f) na caatinga, evitar sempre andar isolado. quando possível, deslocar-se, no
mínimo, em grupos de 3 pessoas.

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CAPÍTULO IV
DESLOCAMENTOS NA CAATINGA

4.1 INTRODUÇÃO
4.1.1 GENERALIDADES
- O indivíduo ou grupo de indivíduos, ao ver-se isolado na Caatinga e tendo
necessidade de sobreviver, tenderá a movimentar-se em uma direção qualquer,
em busca de salvação. É normal esta precipitação, mas totalmente errada, pois
muitos já perderam a vida por terem se deixado dominar pela ânsia de salvar-se,
andando a esmo e entrando, fatalmente, em pânico.
4.1.2 REGRA GERAL
4.1.2.1 Será aconselhável, em tal emergência, que sejam observadas rigorosa-
mente as seguintes regras, mnemonicamente expressas pela palavra E-S-A-O-N:
a) E: ESTACIONE – fique parado, não ande à toa.
b) S: SENTE-SE – para descansar e pensar.
c) A: ALIMENTE-SE – saciando a fome e a sede, qualquer um terá melhores
condições para raciocinar.
d) O: ORIENTE-SE – procure saber onde estar, de onde veio, por onde veio ou
para onde quer ir, utilizando-se do processo que melhor se aplique à situação.
e) N: NAVEGUE – desloque-se na direção selecionada.
4.1.2.2 O “estacionar” e “sentar-se” independerão de maiores conhecimentos;
o “alimentar-se” exigirá, na falta de viveres e água, a aplicação de recursos de
emergência para obtê-los da própria Caatinga, o que será apresentado em capítulo
mais adiante.
4.1.2.3 Quanto ao “orientar-se” e “navegar”, serão abordados os seus diferentes
processos, bem como noções sobre sinalização mais a diante.
4.1.3 CUIDADOS ESPECIAIS
4.1.3.1 O homem na Caatinga deve observar cuidados especiais, principalmente,
no que tange aos deslocamentos no interior da Caatinga. Evitar deslocamentos na
Caatinga no período mais quente do dia, principalmente no intervalo entre às 10 e
14 horas, pois nesse horário o militar estará mais exposto aos efeitos fisiológicos
do calor, podendo chegar mais rápido ao quadro de desidratação e ou fadiga.
Nesse horário a sudorese é aumentada e fará com que o militar necessite de um
maior consumo de água, fonte escassa em ambiente de Caatinga.

4-1
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4.1.3.2 É recomendável que o deslocamento na Caatinga seja feito prioritaria-
mente ao amanhecer e ao entardecer, uma vez que a temperatura estará mais
amena e causará menor desgaste físico, evitando-se também um maior consumo
de água. Mesmo em deslocamentos nos horários com clima mais ameno, à noite
e ao amanhecer, devem ser respeitados regularmente os intervalos dos autos,
normalmente 10 a 15 min.
4.1.3.3 Dosar a utilização da água, não a consumindo logo no início do desloca-
mento, devendo, sempre que possível, consumi-la quando a temperatura estiver
mais amena ou em situação em que esteja transpirando pouco, para evitar que
a água consumida, no mesmo instante seja eliminada e com ela os sais do orga-
nismo.
4.1.3.4 Evitar deslocamento por locais pedregosos, a fim de diminuir o desgaste do
calçado. O solo, em geral, é arenoso ou pedregoso, com isso as marchas exigem
que o homem cuide regularmente dos pés, os quais deverão ser mantidos limpos,
livres de areias e pedras. Tais cuidados deverão ser observados particularmente
durante as paradas para descanso prolongado.
4.1.3.5 Apesar do uniforme de couro já propiciar certa proteção ao militar contra
a incidência de plantas espinhosas, o combatente de Caatinga deverá proteger
também suas mãos através de luvas de couro adequadas para o ambiente, pois,
por diversas vezes haverá a necessidade de abrir caminho no interior da Caatinga
e com a utilização da luva de proteção com certeza irá reduzir possíveis atritos
entre a mão do combatente e as diversas plantas espinhosas.
4.1.3.6 Outro equipamento de proteção individual importante à sua utilização no
interior da Caatinga são os óculos de proteção. A incidência muito alta de galhos
secos e espinhosos em contato com o olho do militar pode trazer sérios problemas
à visão do combatente.
4.1.3.7 Quando encontrar uma trilha aberta por um ser humano, geralmente ela
conduzirá a um local provido de recursos. Se a trilha for de animais, possivelmente
conduzirá a um local de água (poços, barreiros etc) e/ou a moradias de sertanejos.

4.2 ORIENTAÇÃO
4.2.1 GENERALIDADES
4.2.1.1 A densidade da vegetação torna a Caatinga uniforme, não havendo
pontos de referência nítidos, tudo se confundindo devido à vegetação contínua
e monótona, além de não permitir visadas longas. A necessidade de saber onde
pisar (devido ao solo pedregoso) ou colocar as mãos (devido à agressividade da
vegetação) desvia a direção do raio visual, dificultando a manutenção da visada
contínua a um determinado ponto.

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4.2.1.2 Em face do tipo de vegetação da Caatinga, normalmente de porte médio,
permitindo a observação do céu, torna-se relativamente fácil a orientação geral
por métodos de fortuna, como pelo sol, pelo relógio, pelo Cruzeiro do Sul etc, além
de favorecer a utilização do GPS como meio auxiliar de orientação. No entanto,
torna-se difícil a identificação do terreno pela carta, pela quase inexistência de
pontos nítidos e, também, pela semelhança da vegetação em vários pontos da
região.
4.2.1.3 Se um elemento perde-se do grupo, à medida que se deslocar, deve as-
sinalar o caminho percorrido, fazendo marcas nas árvores ou quebrando galhos
da vegetação baixa, de modo que as pontas fiquem apontando para a direção
seguida.
4.2.1.4 Pelos fatores já mencionados, principalmente ligados à vegetação e ao
relevo, a bússola se mostra o processo mais indicado e eficaz de orientação,
mesmo durante a noite, porém não se deve desprezar a carta.
4.2.2 PROCESSOS DE ORIENTAÇÃO
4.2.2.1 Orientação pelo Sol – Processo Expedito
- Nascendo o sol a Leste e pondo-se a Oeste, a perpendicular mostrará a direção
Norte-Sul. Devido à inclinação variável do globo terrestre nas várias estações
do ano, este processo deverá ser utilizado somente para se obter uma “direção
geral” de deslocamento.
4.2.2.2 Orientação pelo Sol – Processo do Relógio

Fig 26 - Processo do relógio (para quem está no Hemisfério Sul)

4.2.2.2.1 Colocando-se a linha 6-12 horas do relógio voltada para o sol, a direção
Norte será obtida com a bissetriz do ângulo formado pela linha 6-12 horas e o
ponteiro das horas, utilizando o menor ângulo formado com a direção 12 horas.

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4.2.2.2.2 No caso do Hemisfério Norte, a linha a ser voltada para o sol será a do
ponteiro das horas, e a bissetriz do ângulo desta linha com a linha 6-12 horas
dará a direção Sul.
4.2.2.3 Orientação pelas Estrelas - Cruzeiro do Sul
- No Hemisfério Sul, prolongando-se 4 vezes e meia o braço maior da cruz, ter-
-se-á o Sul no pé da perpendicular baixada, desta extremidade, sobre o horizonte.

Fig 27 - Orientação pelas Estrelas (para quem está no Hemisfério Sul)

4.2.2.4 Construção de Abrigos por Animais


- Os animais, de modo geral, procuram construir seus abrigos com a entrada
voltada para o Sul, protegendo-se de receber diretamente o calor e a luz do sol.
4.2.2.5 Orientação pela Carta
- A orientação na Caatinga através da comparação carta-terreno se torna bastante
dificultada pela quase inexistência de pontos nítidos, porém a identificação desses
pontos na carta é de grande relevância para a navegação na Caatinga.
4.2.2.6 Orientação pela Bússola
4.2.2.6.1 O processo mais indicado e eficaz de orientação, mesmo durante a noite.
Daí a recomendação: “quando se penetra em área de Caatinga, por via terrestre
ou aérea, não esquecer de incluir no equipamento uma bússola”. Ela poderá vir
a ser a salvação do sobrevivente, e talvez a única. Por ela, de dia ou de noite,
saber-se-á sempre onde fica o Norte. Se em seu limbo houver luminosidade, in-
clusive a navegação noturna será possível, porém, o deslocamento será penoso
e, geralmente, pouco compensador a técnica de emprego é a conhecida.
4.2.2.6.2 Entretanto, quando houver mais de um homem, um deles substituirá o
ponto de referência, será o homem-ponto, enquanto aquele que ficar manejando
o instrumento será o homem-bússola.
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4.2.2.7 Orientação pelo Global Position System (GPS)
- A orientação pelo GPS dependerá da potência do sinal recebido dos satélites.
No interior da Caatinga, a recepção deste sinal é bastante favorecida pelo porte
médio da vegetação, o que permite uma visada direta do céu. Ele poderá então
ser utilizado para auxiliar na orientação e navegação na área de Caatinga, além de
fornecer coordenadas do local, uma vez registrado um azimute, também permite
navegar seguindo aquela direção.

4.3 NAVEGAÇÃO
4.3.1 GENERALIDADES
4.3.1.1 Navegação é o termo que se emprega para designar qualquer movimento
terrestre ou fluvial, diurno ou noturno, através da Caatinga. Não se dispondo de
bússola, a navegação terá de ser feita como for possível.
- Se houver um guia, conhecedor da região, não haverá maiores problemas; em
caso contrário, a navegação será difícil.
- Quando se encontrar uma trilha aberta por ser humano, geralmente ela conduzirá
a um lugar de habitação.
- Se a trilha for de animal, difícil de identificar por quem desconhece a Caatinga,
provavelmente ela conduzirá a um local de água (bebedouro). Se este bebedouro
for um riacho, poder-se-á segui-lo na direção da corrente, fato que deverá con-
duzir a um curso de água maior, e então, por sua vez, a um local que permita a
sinalização terra ar ou onde haja habitante sertanejo.
- Se um elemento se perder do grupo, poderá ser encontrado lançando mão de
gritos e de apitos; se possuir arma, dará tiros posição neutra.
- Se tentar uma navegação em busca do grupo, deverá, à medida que se deslocar,
ir marcando o caminho percorrido; para isso fará marcas com um facão, faca ou
canivete nas árvores, ou irá quebrando galhos da vegetação baixa, de modo que
as pontas fiquem apontando para a direção seguida.
4.3.1.2 Todos esses recursos, ou quaisquer outros, serão fundamentais em se
tratando da vida na Caatinga, sendo mesmo normal que grupos já os tenham
convencionados para os casos de necessidade.
4.3.2 NAVEGAÇÃO TERRESTRE DIURNA
4.3.2.1 Equipe de Navegação
4.3.2.1.1 Teoricamente uma equipe de navegação na Caatinga compor-se-á de
4 homens, sendo eles:
a) Homem-ponto:
- será aquele lançado à frente para servir de ponto de referência;

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- portará um facão para abrir a picada e se achar necessária uma vara ou um
bastão;
b) Homem-bússola:
- será o portador da bússola e deslocar-se-á imediatamente à retaguarda do
homem-ponto;
- deverá manter a bússola amarrada ao corpo para não a perder;
- fazendo uso da bússola no interior da Caatinga, em função da “PARALAXE”
é conveniente que cada homem conheça seu desvio quando utilizar este instru-
mento.
c) Homem-carta:
- será o que conduzirá a carta (se houver) e auxiliará na identificação de pontos
de referência, ao mesmo tempo que nela lançará outros que mereçam ser locados,
auxiliando a navegação azimute distância.
d) Homem-passo:
- será o que irá contando os passos e controlando a distância percorrida pela
equipe de navegação.
4.3.2.1.2 Caso não exista carta, a equipe de navegação será reduzida a 3 homens.
Existindo apenas 2, um será o homem-ponto e o outro acumulará as funções do
homem-bússola com as do homem-passo. Será interessante e muito aconselhável
que todos os homens que integram um grupo tenham conhecimentos do emprego
da bússola e possuam o passo aferido, o que possibilitará o rodízio de funções.
O uso do facão de mato será restrito quando não se quiser deixar pistas.
4.3.2.2 Técnica de Navegação
- Duas situações distintas poderão apresentar-se, mas em ambas a técnica a
observar será a mesma.
4.3.2.2.1 Azimute Desconhecido
a) Será o caso em que o grupo está perdido e tentará encontrar um caminho para
obter ajuda. Após um estudo de situação, será selecionada uma direção da qual
se tirará o azimute segundo o qual se navegará. Isso evitará que se caminhe em
círculo (fato normal para quem, sem bússola, procura progredir na Caatinga),
ao mesmo tempo que permitirá, se necessário, retornar ao ponto de partida
orientando-se pelo contra azimute.
b) Quer seja azimute ou contra azimute, a técnica será:
1) O homem-bússola lançará o homem-ponto à frente, na direção do azimute
até o limite de sua visibilidade; por deslocamentos comandados “um pouco para
a direita”, ou “mais à esquerda” etc, o homem-bússola determinará com precisão
local onde o homem-ponto deve parar.
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2) Estando este parado, aquele se deslocará até homem-ponto e o fará dar um
novo lanço à frente na direção do azimute de marcha, repetindo as operações
anteriores. Será, portanto, uma navegação por lanços.
3) O homem-ponto será comandado pelo homem-bússola; enquanto ele se
deslocar, irá usando o facão para abrir picada e melhorar a visibilidade para os
que vêm à retaguarda.
4) O homem-passo seguirá aqueles dois, contando o número de passos; à
medida que atingir 100m ou à medida que convencionar, irá anotando-os em um
cordão por meio de nós, pequenos galhos, folhas ou outro meio qualquer, de modo
que, a qualquer momento, possa converter passos em metros e saber quanto
andou. Tal procedimento será necessário porque poderá haver necessidade de
retorno ao ponto de partida e, neste caso, será sempre útil saber que distância
terá de marchar até ele; será, pois, fator de controle.
5) Caso haja uma carta e surjam acidentes relevantes de serem locados, essa
distância será necessária. O passo aferido pode variar, tendo em vista o desgaste
da tropa e o peso do material e equipamento que carregam. O homem-carta, se
houver carta, procederá como foi descrito anteriormente.
4.3.2.2.2 Azimute e Distância Conhecidos
- Será o normal de um grupo em operações militares, mas poderá também ser o
caso em que esses dados (azimute e distância) sejam fornecidos a um grupo per-
dido por meio do rádio ou de uma ligação qualquer de avião para terra. Qualquer
que seja a situação, a técnica será a mesma anterior. O que poderá acontecer é
que o objetivo seja uma área pequena e perdida na imensidão da Caatinga, o que
exigirá uma outra técnica especial para a sua busca e localização. Isso porque
será muito provável que tenha havido desvios na direção de marcha, bem como
imprecisão na contagem das distâncias, fato aliás muito comum em se tratando
de deslocamento na Caatinga.
4.3.2.3 Técnicas de Vasculhamento
4.3.2.3.1 Quadrado-Crescente
a) Chegado ao ponto A (ponto inicial), escolhe-se um azimute, segundo o qual,
100m (medidos a passos), por exemplo, serão percorridos, chegando-se a B.
b) Do ponto B outros 100 m serão percorridos segundo um azimute tal que o
ângulo B seja igual a 90º (reto), chegando-se a C.
c) Do ponto C mais 200m serão vencidos segundo um outro azimute tal que o
ângulo C seja reto, chegando-se a D.
d) De D, mais 200m, ângulo D, reto, chegando-se a E.
e) De E, agora, 300m, ângulo E, reto, e chegando-se a F. De F, outros 300m até
G, sendo o ângulo F reto.

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Fig 28 - Quadrado-Crescente (m ou passos)

f) E assim se prosseguirá, aumentando as distâncias de 100 em 100m, duas vezes


seguidas, de modo que se irá envolvendo o ponto inicial A por meio de uma Fig
que, convencionalmente, se denominará quadrado crescente.
g) Serão grandes as probabilidades de se localizar o objetivo; as distâncias da
marcha envolvente serão escolhidas naturalmente, após um estudo de situação.
Os ângulos formados por duas direções sucessivas de marcha deverão ser sempre
retos. Este processo simples de guardar e fácil de executar deverá ser aquele
que todo sobrevivente, ou grupo, deverá adotar.
4.3.2.3.2 Retangular
a) Chegado ao ponto A (ponto inicial), escolhe-se um azimute segundo o qual
serão percorridos, por exemplo, 200 m (medidos a passos), e chega-se a B; em
seguida, progredir apenas 100 m segundo um azimute tal que o ângulo B seja
igual a 90º (reto), e chega-se a C.
b) De C, mais 200m segundo o contra-azimute daquele com que se marchou de
A para B, e chega-se a D.
c) De D, mais 100m, segundo o mesmo azimute que se marchou de B para C
(azimute paralelo), e chega-se a E.
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d) De E, mais 200m, segundo o mesmo azimute com que se marchou de A para
B (azimute paralelo), e chega-se a F.

Fig 29 - Retangular (m ou passos)

e) E assim se prosseguirá até encontrar o objetivo, ficando-se sempre em condi-


ções de retornar, senecessário, ao ponto inicial A, pois poderá ser preciso tentar
uma outra direção inicial, que não a de A para B, seguindo um outro azimute e
uma outra distância a percorrer.
f) Tal processo terá grande aplicação se for iniciado a partir de uma linha base
(A-D-E-H-I-M) coincidente com um curso de água, uma estrada, uma picada,
mesmo que não sejam retos, o que será normal na Caatinga.
4.3.2.3.3 Off-Set
a) Este processo é muito usado pelos pilotos de aeronaves e terá aplicação,
também, na navegação terrestre na Caatinga; apenas é um pouco particular, pois
não se empregará em qualquer situação.
b) Assim sendo, o quadro inicial para sua execução será o seguinte:
1) a equipe de busca encontra-se no ponto A e deseja deslocar-se para “P”,
conhecendo o azimute da direção AP, bem como a distância D entre eles; o ponto
P, sabe-se, está localizado à margem de um curso de água ou estrada;
2) se a equipe marchar diretamente de A para P segundo o azimute conhecido,
poderá acontecer que se desvie, o que será comum, e chegar ao curso de água
ou estrada, à direita ou à esquerda do ponto P; tal fato obrigará uma busca, sem
se saber por onde começá-la, se pela direita, se pela esquerda;

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Fig 30 - Off-Set (a ou b, ângulo somado ou subtraído do azimute da direção AP)

3) o conhecimento da distância D também é necessário, porquanto durante o


deslocamento poderão ser encontrados cursos de água ou estradas que não sejam
os que passam por P, isto é, estarão aquém do ponto buscado; então, tendo-se
noção da distância, a dúvida não ocorrerá.
4) para evitar esses inconvenientes, a equipe aplicará o processo do seguinte
modo: partirá de A, não com o azimute conhecido, mas com ele acrescido ou
diminuído alguns graus (um estudo de situação aconselhará qual o número a
adotar); conforme tenha sido adotado o acréscimo ou a diminuição, atingir-se-á a
margem do curso de água ou estrada à direita ou esquerda do ponto P, em B ou
C; restará, então, deslocar-se para P, acompanhando aquele acidente do terreno.
4.3.2.3.4 Leque
a) Este processo poderá ser empregado quando se presumir que o objetivo que
se busca está próximo de um ponto já atingido pelo grupo.
b) Assim, tendo chegado em A e verificado que, segundo o azimute seguido e a
distância percorrida, aí deveria localizar-se o objetivo, mas que isso não aconte-
ceu, aplica-se tal processo para localizá-lo.
c) O procedimento será o seguinte:
1) Parte-se de A, segundo um azimute escolhido e percorre-se uma distância
determinada AB; sai-se de B, fazendo um pequeno percurso curvilíneo (conforme
a Fig), procurando retornar à direção original de marcha, em C, e daí até o ponto
inicial A;

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Fig 31 - Leque

2) Realizando as mesmas operações anteriores, faz-se o percurso A-D-E-A e


outros mais; é necessário, porém, lembrar que essas distâncias a percorrer deve-
rão ser pequenas, pois serão feitas mais por intuição, particularmente na marcha
em curva e na retomada da picada original, para se retornar ao ponto inicial.
3) Será interessante, e recomendável mesmo, que no mínimo 2 homens sejam
deixados no ponto inicial para, por meio da voz, de apito ou de outro processo
qualquer, fazerem ligação com aqueles que realizam os percursos de busca do
objetivo, orientando-os ao mesmo tempo.
4.3.2.4 Ultrapassagem de Obstáculo
- Será normal em um deslocamento na Caatinga encontrarem-se, na direção de
marcha, os mais variados obstáculos: árvores caídas, buracos, galhadas, caa-
tinga muito densa, serrotes. Quando se marcha segundo um azimute, às vezes,
será possível e compensador realizar um desvio do obstáculo encontrado; outras
vezes não, sendo então necessário vencê-lo. Dentre a variedade de processos
existentes para realizar um desvio ou transpor um obstáculo, serão apresentados
os que se seguem.
4.3.2.4.1 Do Ponto de Referência Nítido
- Chegado ao obstáculo, escolhe-se um ponto bem nítido no lado oposto, para ser-
vir como referência. Efetua-se o desvio necessário, chega-se ao ponto e a marcha
é reiniciada. Entretanto, o processo raramente terá aplicação prática quando se
tratar de obstáculos de grandes dimensões, pois o mais difícil na Caatinga será
encontrar aquele ponto nítido. Por isso, quando se sair de um ponto em busca de

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outro, não esquecer de deixá-lo muito bem marcado antes para facilitar o retorno
em caso de insucesso.
4.3.2.4.2 Da Compensação com Passos e Ângulos Retos
a) Marcha-se na direção amarrada pelo azimute de marcha até o ponto A, frente
ao obstáculo. De A vai-se a B, deslocando-se segundo um novo azimute, de modo
que este forme com o de marcha um ângulo reto em A; neste deslocamento,
contam-se os passos dados entre A e B (P passos).

Fig 32 - Desvio de um obstáculo pelo processo da compensação com passos

b) De B vai-se a C, deslocando-se segundo o mesmo azimute de marcha (será o


azimuteparalelo); também neste deslocamento contam-se os passos dados entre
B e C (Q passos) para que não se perca a noção da distância geral do percurso
realizado ou ainda a realizar. De C vai-se a D, deslocando-se segundo o contra-
-azimute da direção AB, e percorrendo a mesma distância que se percorreu entre
A e B, isto é, os mesmos P passos.
c) Chegado em D, reinicia-se o deslocamento na direção dada pelo azimute de
marcha original. Será normal ocorrerem pequenas diferenças em direção e em
distância quando se realizarem deslocamentos desse tipo, por causa dos acidentes
e incidentes em terreno de Caatinga; daí a necessidade de designar, no mínimo,
2 homens para utilizar a bússola e outros 2 para contar o número de passos,
quando possível, para minimizar os erros.

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4.3.3 NAVEGAÇÃO TERRESTRE NOTURNA
- Será válido aqui tudo o que foi dito para a navegação diurna. Apenas alguns
pontos terão que ser chamados à atenção.
4.3.3.1 Equipe de navegação
4.3.3.1.1 O homem-ponto deverá portar um bastão de 2m de comprimento, no qual
será afixada uma tira ou fita luminosa (fosforescente) a fim de servir de objetivo
para a visada do homem-bússola; esse bastão servirá também para ajudar a
manter o equilíbrio e para esquadrinhar o terreno a percorrer. Duas tiras verticais
de fita luminosa, separadas, aproximadamente de 2cm, deverão ser colocadas
na parte posterior da cobertura da cabeça; uma tira apenas poderá causar efeitos
hipnóticos e prejudicar as visadas. Na falta de cobertura, deverão as tiras ser
colocadas na gola da camisa.
4.3.3.1.2 O homem-bússola deverá portar uma bússola luminosa e, tanto ele como
todos, os outros do grupo deverão estar bem familiarizados com seu uso, porque
à noite o manejo será diferente e conforme o tipo do instrumento. As mesmas
identificações luminosas deverão ser portadas pelo homem-bússola para guiar os
homens da retaguarda. Além disso, os lanços do homem-ponto deverão ser muito
bem controlados pelo homem-bússola, uma vez que, durante a noite, a visibilidade
restringir-se-á a uns 3 ou 4 m com referência a sinais luminosos.
4.3.3.1.3 O homem-passo, durante a noite, será mais importante que durante o
dia. Deverá deslocar-se junto ao homem-bússola para não se perder e observará
que a contagem de passos tornar-se-á uma operação monótona. Portará também
referências luminosas.
4.3.3.1.4 O homem-carta, sem visibilidade, atuará com restrições; limitar-se-á a
confrontar as distâncias percorridas com os acidentes geográficos encontrados.
4.3.3.1.5 Toda a equipe de navegação, ou grupo que a enquadra, deverá procurar
deslocar-se com seus elementos o mais próximo uns dos outros; todos deverão
portar identificações luminosas, bem como ter estabelecido entre si um código
simples de sinais. Terão que redobrar os cuidados para não perder objetos ou
equipamentos quaisquer. Se houver lampiões, lanternas ou lamparinas, as con-
dições de marcha melhorarão sensivelmente.
4.3.3.2 Técnica da Navegação
4.3.3.2.1 Com exceção do paladar, os demais sentidos serão bastante solicitados
à noite.
4.3.3.2.2 A vista, mesmo após adaptada à escuridão, sentir-se-á cansada ante
o esforço duplicado para enxergar. O tato a todo o momento estará em função,
esquadrinhando o espaço à frente e dos lados, identificando possíveis obstáculos
à progressão; os pés sondarão o terreno para a execução de um simples passo à
frente ou para os lados. O olfato procurará identificar possíveis odores que sirvam

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para auxiliar a busca de um objetivo como os de cigarro aceso, de cozinha, de
fumaça produzida por lenha de fogueiras etc. A audição procurará identificar os
sons comuns, bem como as distâncias em que são produzidos; poderão ocorrer
ilusões, pois a Caatinga afeta a noção de distância.

4.4 SINALIZAÇÃO
4.4.1 A sinalização por fumaça é usada durante o dia e à noite. As fumaças nas
cores amarelas e vermelhas são as mais visíveis durante o dia, mas dependem
da existência de pirotécnicos para produzi-las, os quais só devem ser emprega-
dos quando se avistar ou ouvir o ruído de aeronaves. A queima da vegetação
verde produz fumaça na cor branca, utilização destes artifícios pirotécnicos pode
ocasionar incêndio na vegetação da Caatinga, que assume grandes proporções
em face da vegetação seca e do vento dominante.
4.4.2 O uso de sinais intermitentes de lanternas pode proporcionar boa sinaliza-
ção durante a noite.A queima do Cardeiro(cactáceo comumente encontrado em
serrotes) também é muito eficiente como meio de sinalização.Na falta de outros
meios, podem ser usados quaisquer objetos que possuam superfície polida (tam-
pas de lata, marmita, canecoetc.) que reflitam os raios solares.Os métodos mais
simples e comuns são: por apito e por tiro (2 tiros).
4.4.3 Para a sinalização noturna terra–avião, devem-se usar meios de sinalização
específicos se houver, pois os pilotos das aeronaves estão dotados de equipa-
mentos de visão noturna que são sensíveis a sinais luminosos.

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CAPÍTULO V
PROTEÇÃO NA CAATINGA

5.1 ABRIGOS
5.1.1 GENERALIDADES
5.1.1.1 Na Caatinga, em regime de sobrevivência, o combatente necessita de
algum conforto para proporcionar-lhe boas condições psicológicas e de saúde,
e, principalmente, evitar o desgaste causado pelos efeitos fisiológicos do calor.
Sem proteção de um abrigo, as possibilidades de sobrevivência diminuem. Estes
devem ser preparados pelo combatente com os próprios meios (equipamento)
ou meios naturais.
5.1.1.2 O tipo de abrigo a ser construído dependerá do material disponível
no local, do tempo de luz do dia disponível, e da duração desejada para sua
utilização.
5.1.1.3 Os abrigos devem ser amplos para dar conforto. Devem evitar insetos,
permitir a livre circulação do ar e dispor de local para guarda de equipamento
e de material, bem como para a reserva de alimentação. Devem ficar longe do
alcance dos animais.
5.1.2 DEFINIÇÃO
- Abrigos são construções preparadas pelo combatentecom os meios que
a Caatinga e o próprio equipamento lhe oferecem para a proteção contra as
intempéries e os animais selvagens, oferecendo-lhe proteção e segurança.
5.1.3 CLASSIFICAÇÃO
5.1.3.1 Abrigos Permanentes
- São aqueles que são construídos com ou semmaterial natural e destinados a
permitir a permanência continuada e por tempo indeterminado na Caatinga.
5.1.3.2 Abrigos Semipermanentes
- São aqueles que são construídos commaterial da região e destinados a dar
condições a sua permanência na Caatinga por um longo período de tempo.
5.1.3.3 Abrigos Temporários
- São aqueles construídos com material daregião, utilizando também, se
necessário, partes do próprio equipamento e destinados a permitir a permanência
do combatente na Caatinga por curto período de tempo.

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5.1.4 LOCALIZAÇÃO
5.1.4.1 Devem-se evitar locais que apresentem perigo de deslizamentos, como
locais próximos às margens dos rios ou lagos. Num ponto elevado, solo mais
seco, os insetos incomodam menos e há mais arejamento. Não se deve dormir
nem armar abrigos debaixo de coqueiros ou galhadas secas. Abrigos naturais
são encontrados em cavernas, rochas salientes, grande fendas etc.
5.1.4.2 Um tronco de árvore caída serve como abrigo temporário, como também
uma armação de varas, em forma de dossel, coberta de sapê, lona plástica
ou outro material. Deve apresentar espaço suficiente para os ocupantes e os
equipamentos, e ser observada a direção do vento para aumentar a proteção.
5.1.5 SELEÇÃO DO ABRIGO
- Se durante a sua permanência na Caatinga, o militar tiver que construir um
abrigo, deverá antes fazer o estudo de situação, levando em consideração:
a) a situação tática;
b) o tempo disponível para a construção do abrigo;
c) o tempo de permanência no local, optando pela confecção de um abrigo
permanente, semipermanente ou temporário; e
d) o material disponível, seja ele do próprio equipamento ou material nativo
encontrado na região da Caatinga.
5.1.6 MATERIAL NATIVO PARA CONSTRUÇÃO
- Após selecionado o local e definido o tipo de abrigo a ser construído, deve-se
reunir todo material nativo no local definido para o abrigo. Vale lembrar que, em
geral, as plantas da Caatinga são retorcidas e não atingem grandes proporções
de tamanho, o que dificulta a montagem de abrigos retilíneos e robustos. Por
este fato, a variedade de materiais de qualidade encontrados não será tão
grande quanto em outros biomas.
5.1.6.1 Madeiras para estrutura do abrigo
5.1.6.1.1 Pau Pereiro
a) É uma árvore da família Apocynaceae, de médio porte, variando entre 3 a 8
m e com ampla distribuição regional. O tronco não é muito grosso,fica entre 15 e
20cm de diâmetro.
b) A casca do Pereiro é acinzentada e levemente rugosa. Suas folhas são
simples e as flores, alvas. Já os frutos, secos e lenhosos são castanho-claros,
e as sementes, aladas e planas. Possui sua seiva bastante amarga.Conhecida
também por Peroba-rosa e Trevo.
c) Possui uma madeira moderadamente pesada, resistente e flexível, própria
para mobiliário, assoalhos e postes.
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Fig 33 - Pau Pereiro, característica da casca e folhas

5.1.6.1.2 Marmeleiro
a) Também conhecido em algumas localidades no interior do Nordeste como
Marmeleiro roxo, Memeleiro, Mermeleiro e Meleiro, é um arbusto de pequeno
porte com até 4 m de altura.

Fig 34 - Marmeleiro

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b) Possui frutos chamados marmelos de sabor ácido, porém agradável. Suas
folhas tem textura aveludada.
c) Fornece estacas e varas curtas e resistentes. Devido à sua abundância
é muito usada pelo sertanejo na confecção de cercas, sendo assim, útil na
construção de estruturas de abrigos.
d) Na preparação de armadilhas destaca-se por ter boa maleabilidade, como
também para pesca, graças à resistência da madeira mergulhada na água.
5.1.6.1.3 Quebra-Faca
a) Trata-se de um arbusto abundante na Caatinga, popularmente conhecido
como Quebra-Faca, Quebra-Facão ou Cordeiro, possuindo tronco de 5 a 7cm
de diâmetro quando adulto.

Fig 35 - Galhos e folhas do Quebra-Faca

b) Tem esse nome associado à sua durabilidade e flexibilidade. Suas folhas de


textura aveludada e seiva têm um cheiro característico que lembra o Vick.
c) É mais comumente usado como açoite para construção de gatilhos em
armadilhas de caça, porém pode também ser empregado na estrutura de telhado
dos abrigos.
5.1.6.2 Vegetal usado para amarrações
5.1.6.2.1 O Caroá, também conhecido como Gravatá, Gravá, Caruá, Croatá,
Caraguatá e Coroatá, é um tipo de bromélia. Seu nome vem da palavra em
tupikara wã, que significa ‘talo com espinho’. É uma planta resistente e típica do
extrato baixo das áreas deCaatinga. Apresenta folhas lineares, acuminadas e
listradas.

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5.1.6.2.2 As folhas do Caroá fornecem fibra para a confecção de barbantes, linhas
de pesca, tecidos, cestos, esteiras e chapéus, além de outras peças artesanais
e decorativas. Por esta razão é bastante utilizada nas diversas amarrações que
são feitas nos abrigos. Mesmo sob muita exposição aos raios solares, o Caroá
consegue manter sua resistência, sem que haja o rompimento de suas fibras e
consequentemente o desarme do abrigo.

Fig 36 - Caroá

5.1.6.2.3 Para preparar o Caroá deve-se realizar,primeiramente, uma dobra na


parte inferior do vegetal. Com a parte inferior dobrada faz-se um leve corte em
sua casca até que alcance a sua fibra. Após isso, basta puxá-la fazendo com
que a casca libere a fibra do Caroá. Para que fique mais resistente, as fibras do
Caroápodem ser trançadas.
5.1.6.3 Galhos e folhas para cobertura
5.1.6.3.1 Malva
- Malva é um gênero de plantas herbáceas da família Malvaceae que inclui
aproximadamente 30 espécies. O termo Malva é também o nome-comum das
plantas deste gênero. As suas folhas são alternadas, lobadas e palmadas,
muito comum de serem encontradas em beira de estradas e em veredas da
Caatinga. Seus galhos em feixes são aproveitados em construções de cobertura

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nos abrigos temporários da Caatinga, enquanto ainda verdes, por proporcionar
uma boa sombra, protegendo o militar dos raios solares. Uma desvantagem é
que com o tempo suas folhas se ressecam e logo a cobertura deve ser reposta,
acrescentando novas Malvas.

Fig 37 - Malva

5.1.6.3.2 Palha de Carnaúba

Fig 38 - Formato de leque, típico da folha da Carnaúba

a) A Carnaúba é uma árvore da família Arecaceae, endêmica no semiárido do


Brasil, tem seu nome derivado do tupi e significa “árvore que arranha”, em razão

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do revestimento que cobre a parte mais baixa de seu tronco. É a árvore-símbolo
do Estado do Ceará e do Estado do Piauí, conhecida como “árvore da vida”, pois
oferece uma infinidade de usos ao homem. É chamada também por Carnaíba e
Carnaúba.
b) Possui caule colunar de 10 a 15 m de altura e 15 a 25 cm de diâmetro. Suas
folhas são numerosas, em formato de leque, revestidas externamente por
uma cobertura cerífera que é bastante utilizada no processamento de ceras
industriais e caseiras. Suas palhas são utilizadas ainda na cobertura de casas e
abrigos, e também para confecção de artesanatos, complementando, assim, a
renda do sertanejo. O tronco é madeira de qualidade para construções, servindo
paraenripamento,encaibramentoe enforquilhamento.
5.1.7 TIPOS DE ABRIGOS
5.1.7.1 Tapiri de Duas Sombras
5.1.7.1.1 É construído utilizando 2 vigas de suporte verticais de madeira do pau
pereiro. Para o teto, utiliza-se a madeira do marmeleiro, em sua estrutura, e a
fibra do Caroá, nas amarrações. A cobertura é feita com a Malva.

Fig 39 - Tapiri de duas sombras com melhoramentos


(cama, suportes para fuzil, coturno e mochila)

5.1.7.1.2 Este tipo de abrigo apresenta dois caimentos (duas sombras), que vão
da cumeeira até próximo ao solo.
5.1.7.2 Tapiri de Uma Sombra
- Sua composição e forma de construir são idênticas ao do tapiri de duas som-
bras, porém apresenta apenas um caimento (uma sombra).
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Fig 40 - Tapiri de uma sombra

5.1.7.3 Tapiri Simples


- Assim como os abrigos anteriores, os materiais empregados são os mesmos.
Possui 4 vigas de suporte verticais, ficando seu teto afastado do solo e permitin-
do um homem em pé e garantindo uma boa circulação do ar.

Fig 41 - Tapiri Simples

5.1.7.4 Japá
a) Sua armação é composta por madeiras do Quebra-faca, mais flexíveis, for-
mando arcos. Para dar mais firmeza, unem-se os arcos com traves de marmelei-

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ro na horizontal, amarradas por fibras de Caroá. A cobertura é feita com a Malva.
b) este abrigo tem a vantagem de proporcionar boa camuflagem com o terreno
e uma boa sombra ao longo do dia, mesmo com o deslocamento solar. Como
desvantagem, não permite uma boa circulação do ar.

Fig 42 - Japá

5.1.7.5 Abrigos com Ponchos


- Esses tipos de abrigos são confeccionados com materiais artificiais como sizal
e poncho.

Fig 43 - Abrigos de duas sombras com poncho (Esq) e abrigo com poncho suspenso (Dir)

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5.1.8 OUTRAS PROVIDÊNCIAS
- Algumas providências e cuidados especiais devem ser observados na constru-
ção dos abrigos. São eles:
a) O fogo não deve ser aceso debaixo do abrigo para evitar queimá-lo e, ainda,
porque o calor atrai serpentes e outros animais perigosos.
b) É imprescindível que todos os detritos sejam enterrados numa fossa, o que
evita companhias indesejáveis (roedores, serpentes, formigas etc). Essa obser-
vação inclui a utilização de latrinas.
c) Um terçado (facão) é o equipamento suficiente para a construção de um
abrigo.
d) Não devem ser dados nós em cipós (exceção feita ao nó de porco ou de
barqueiro), suas pontas devem ser enroladas nas voltas dadas nas vigas.

5.2 VESTUÁRIO E EQUIPAMENTO


5.2.1 GENERALIDADES
- Devido à vegetação espinhosa e o rigor dos raios solares, a utilização de calça-
dos e vestuário adequados é imprescindível ao indivíduo que deseja sobreviver
na Caatinga. A falta desses materiais acarretará em ferimentos e queimaduras
na pele, e dificultará a progressão.
5.2.2 VESTUÁRIO
5.2.2.1 Cabeça
- A cabeça é a área do corpo que concentra a maior temperatura corporal e é
responsável por grande parte da regulação térmica com o ambiente. Na cabeça,
deve-se procurar uma cobertura que forneça proteção contra os raios solares,
evitando-se os males causados pelo calor. O uso de gorros com abas é aconse-
lhável, principalmente os que oferecem proteção para áreas propensas à exposi-
ção solar, como os olhos, orelhas, rosto, pescoço e nuca. Não dispondo de gorro
ou chapéu, pode-se improvisar panos ou camisa amarrados na cabeça.
5.2.2.2 Corpo
- Para a proteção do corpo, é comum a utilização de peças de feitas de couro.
Fazendo parte da indumentária do sertanejo Nordestino, o gibão serve como
proteção para o tórax e os braços. Na ausência de um gibão, o uso de camisas
de manga comprida com tecido grosso oferecerá certa proteção contra os espi-
nhos. O uso de roupas com tonalidade mais claraevita a absorção de calor.
5.2.2.3 Pernas, Pés e Mãos
- Para as pernas, também se recomenda o uso de perneiras de couro, que além
da proteção contra os espinhos, fornecerá proteção contra picadas de serpentes

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peçonhentas, visto que 80% dos acidentes se dão nos membros inferiores. Não
havendo uma perneira de couro, é indicado o uso de calças compridas feitas de
tecido grosso e costura reforçada.

Fig 44 - Gibão e perneira utilizados pelo vaqueiro nordestino

- O emprego de calçados fechados protegerá os pés contra os espinhos e o solo


pedregoso ardente. A utilização de palmilhas antiperfurantes, ou algo similar que
o valha, evitará ferimentos por espinhos que possam penetrar o solado dos sa-
patos. Recomenda-se também o uso de calçados feitos de couro com cano alto.
- O uso de luvas de couro facilitará a abertura de caminho através da Caatinga.
5.2.3 EQUIPAMENTO
5.2.3.1 Óculos de Proteção
- Os óculos de proteção são indispensáveis à proteção dos olhos quando em
deslocamento no interior da Caatinga. Ao se deslocar em coluna por um, através
de trilhas e veredas, galhos secos flexíveis e espinhos na altura da cabeça são
muito comuns, bastando um descuidado para furar os olhos, principalmente, ao
deixar algum galho retornar ao indivíduo que vem caminhando logo atrás.
5.2.3.2 Protetor Solar
- O sobrevivente deve atentar para a utilização, sempre que possível, do prote-
tor solar. A eficácia do produto está diretamente relacionada à dosagem correta
(mínimo de 30 ml), levando-se em consideração ainda a cor e o tipo de pele. O
fator de proteção solar (FPS) mínimo recomendável é o 15. A aplicação deve ser

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feita aproximadamente 30 min antes da exposição do corpo. Após sudorese ex-
cessiva oucontato com água deve ser reaplicado uma nova camada, ou a cada
2 horas. Para os lábios pode ser utilizado o protetor labial ou manteiga de cacau.
5.2.3.3 Repelente de Insetos
- Outro produto que auxilia na proteção do combatente é o repelente de insetos.
A aplicação também se dá nas partes expostas da pele, podendo ser aplicado
nas roupas e deve ser feita antes do amanhecer e entardecer, horários de maior
incidência de mosquitos. Antes de utilizar no rosto, é preferível aplicar o produto
nas mãos, tomando cuidados necessários para não irritar os olhos e lábios. A
reaplicação deve seguir o que recomenda o fabricante.
5.2.3.4 Rede de dormir tipo “Garimpeiro”
- Para pernoitar na Caatinga, o caboclo sertanejo conduz consigo redes feitas
artesanalmente de fibras de Caroá ou sisal. O combatente pode valer-se dessa
expertise e levar uma rede nylon, ou uma rede trançada tipo tarrafa. Ambas são
de material muito leve, ocupam pouco espaço na mochila, além de serem de fácil
amarração, fornecendo conforto e servindo para manter o indivíduo afastado do
solo, evitando perda de calor e oferecendo proteção contra animais peçonhentos
(escorpiões). Poderá, ainda, ser empregada como posição de espera durante às
caçadas (mutá).

Fig 45 - Rede de dormir tipo tarrafa e nylon

5.2.3.5 Outros Materiais


- Uma série de materiais deverá, quando possível, fazer parte do equipamento
de quem vai atravessar a Caatinga, entre eles:
a) pacote de medicamentos;
b) faca e canivete, para pequenas necessidades, sem que, contudo, sejam
considerados substitutos do facão;
c) bússola;

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d) recipiente para água (cantil);
e) arma e munição de caça;
f) elástico, para confeccionar bodoque (funda, atiradeira, lançadeira, estilingue,
baladeira) a fim de matar pássaros, pois economiza a munição;
g) anzóis e linha de nylon;
h) fósforos e isqueiro; e
i) pacotes de sopa do tipo comercial.

5.3 VEGETAIS HOSTIS


5.3.1 GENERALIDADES
- Os vegetais da Caatinga, de forma geral, apresentam defesas físicas em forma
de espinhos que poderão, em algum momento, ferir o combatente.
- Contudo, alguns desses vegetais, além da perfuração dos espinhos, causam
efeitos indesejados como irritações e inflamações cutâneas, podendo ainda evo-
luir para um quadro clínico crítico em indivíduos que possuem hipersensibilidade
(alergia) e desconheçam.
- Por esta razão, tais vegetais merecem maior atenção quando em deslocamen-
to no interior da Caatinga.
5.3.2 CANSANÇÃO (Jatropha urens)
- Espécie arbustiva, que possui espinhos finos e quase imperceptíveis em seu
caule e em suas folhas, que em contato com a pele do indivíduo provocam infla-
mações que coçam, incham e ardem (efeito CIA).

Fig 46 - Pé de Cansanção, à esquerda, e espinhos do Cansanção, à direita

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5.3.3 FAVELA DE GALINHA (Cnidoscolus phyllacanthus)
- Árvore bastante encontrada na Caatinga, principalmente às margens das es-
tradas, recebe este nome porque a sua folha se assemelha ao pé da galinha.
- Apresenta de 4 a 8 m de altura, copa rala, esgalhada, casca cinza escura, leve-
mente rugosa, folhas simples e armadas de acúleos urticantes (espinhos) que,
em contato com a pele do homem, provocam inflamações dolorosas.
- O local atingido coça, incha e dói (efeito CID).

Fig 47 - Espinhos da Favela de Galinha

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CAPÍTULO VI
ALIMENTAÇÃO NA CAATINGA

6.1 GENERALIDADES
- Sobreviver significa: RESISTIR e ESCAPAR. A sobrevivência na Caatinga es-
tará em íntima ligação com o tempo em que nela permanecer. Para tanto, o ho-
mem deverá estar altamente capacitado para dosar suas energias e lançar mão
de todos os meios ao seu alcance a fim de não pôr em risco a sua vida. Essa
capacidade envolve conhecimentos específicos, onde o uso da criatividade, a
dedicação, o empenho, o bom senso e o moral elevado, além do intrínseco ins-
tinto de conservação, são fatores preponderantes. Quem pensa que é tarefa fácil
sobreviver em plena Caatinga, à custa exclusiva dos recursos naturais, equivo-
ca-se. Pequenos grupos, quando devidamente preparados, poderão, entretanto,
fazê-lo. A dificuldade de encontrar comida e água é muito grande, mas com as
técnicas corretas estas dificuldades podem ser sobrepujadas facilmente. Assim,
em qualquer situação, deverá considerar como condições primordiais para uma
sobrevivência as necessidades de: ÁGUA, FOGO e ALIMENTOS.

6.2 ÁGUA
6.2.1 RECOMENDAÇÕES
6.2.1.1 De modo algum deve o combatente lançar mão de outros líquidos, como
álcool, gasolina e urina, à falta absoluta de água. Tal procedimento, além de
trazer consequências funestas, diminui as possibilidades de sobreviver, reve-
lando esse comportamento, indícios de proximidade do pânico que, quando não
dominado, será fatal.
6.2.1.2 A interrupção do abastecimento de água exige do combatente na Caa-
tinga algumas medidas de precaução no uso, a seguir resumidas:
- aprender a usar a água com prudência e parcimônia, bebendo pequena quan-
tidade de cada vez, até saciar sua sede;
- purificar a água sempre que possível; e
- conservar a água do corpo, mantendo-se completamente vestido, pois o unifor-
me evita a evaporação rápida do suor.
6.2.2 FONTES DE ÁGUA
6.2.2.1 Vegetais
- Os vegetais da Caatinga são boas fontes de água, no entanto, a água normal-
mente vem juntamente com a polpa ou com o miolo dos vegetais.

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Fig 48 - Consumo de uma Coroa-de-Frade

6.2.2.2 Condensação da Umidade


- A água condensada nas folhas, que escorre pelos troncos das árvores durante
a noite, pode ser aproveitada. Processo lento e com pouca quantidade de água.

Fig 49 - Condensação da umidade

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6.2.2.3 Água Parada
6.2.2.3.1 Brejos
- Escassos no sertão, aparecem em alguns vales férteis, ricos em pontos de
água, onde se plantam pequenos roçados. Neles podem ser cavados poços que
são usados como fonte de água, até nas mais rigorosas estiagens.

Fig 50 - Brejo

6.2.2.3.2 Caldeirões
- Cisternas naturais que conservam a água das chuvas por longo tempo; encon-
trados em lajeiros. Sua água geralmente é boa para consumo, é aconselhável
ferver esta água antes do uso, pois em época de estiagem é muito utilizada
como bebedouro de animais tendo como consequência a contaminação da água
através das fezes destes.

Fig 51 - Caldeirões

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6.2.2.3.3 Açudes
- Construções feitas pelo homem em cursos d’água, destinadas a represá-la
em quantidades necessárias para consumo humano, de animais e irrigação de
pequenas lavouras.

Fig 52 - Açude

6.2.2.3.4 Barragens
- Construções feitas pelo homem em cursos d’água. Geralmente retém grandes
quantidades d’água, destinadas a consumo humano, irrigação, piscicultura,via
de transporte e produção de energia elétrica.

Fig 53 - Barragem

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6.2.2.3.5 Barreiros
- Bacias cavadas em terreno argiloso para conservar, durante algum tempo, as
águas pluviais. É necessário que a água a ser consumida seja tratada.

Fig 54 - Barreiro

6.2.2.3.6 Destilador ou Cacimba


- Confeccionado com um buraco no solo, repleto de vegetais, de urina ou de
qualquer outro líquido que não seja potável; coberto por uma lona plástica ou
poncho; e com um recipiente destinado a armazenar o líquido limpo.
- A água dessas fontes vai evaporar com o calor do sol, a evaporação vai encon-
trar a lona ou poncho e a condensação escorrerá para o recipiente existente den-
tro do buraco, que pode ser um caneco, um cantil, uma cabaça ou uma garrafa.
A partir de então, a água estará própria para o consumo.

Fig 55 - Cacimba montada (Esq) e esquema de montagem da Cacimba (Dir)

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6.2.2.4 Água Corrente
6.2.2.4.1 Rios
- Cursos d’água geralmente perenes. No Semiárido nordestino destaca-se o Rio
São Francisco que banha os estados nordestinos da Bahia, Pernambuco Alago-
as e Sergipe.
6.2.2.4.2 Riachos
- Cursos d’água de menor porte, a maioria deles temporários, na região de Ca-
atinga. São afluentes de grandes rios ou oriundos de sangradouros de grandes
açudes.

Fig 56 - Riacho (seco e cheio)

6.2.2.4.3 Canais de Irrigação


- Estão presentes nos projetos de irrigação do médio São Francisco, nas proxi-
midades das cidades de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, e têm a finalidade de irrigar
lavouras. Também corta extensas faixas de Caatinga, podendo ser consumida
pelo homem.

Fig 57 - Canal de irrigação

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6.2.3 PURIFICAÇÃO DE ÁGUA
6.2.3.1 O processo de purificação da água é muito importante para a sobrevivên-
cia humana, uma vez que o nosso organismo está sujeito a diversas doenças
que podem ser adquiridas pelo consumo de água. Assim, o homem precisa puri-
ficar a água antes de consumi-la, fazendo isso sempre que possível.
6.2.3.2 Processos para purificação de água para o consumo:
- fervura durante cinco minutos, no mínimo;
- comprimido de Halazone, na dose de um por cantil, aguardando 20 minutos
para bebê-la;
- 8 a 10 gotas de tintura de iodo em um cantil (esperar 30 min);
- comprimido de Hipoclorito de Sódio (esperar 30 min);
- semente de moringa (líquido branco); e
- destilador ou cacimba.

6.3 FOGO
6.3.1 GENERALIDADES
6.3.1.1 Métodos primitivos para obtenção do fogo previstos nos manuais de so-
brevivência têm maior possibilidade de sucesso na Caatinga do que em outras
partes, em virtude da existência de iscas muitos boas. Dentre elas, destaca-se o
Cardeiro que além de constituir excelente isca quando seco, serve como sinali-
zador, custando a se apagar.
6.3.1.2 Processo muito usado no sertão é o que usa chifre de boi, pedra e pe-
daço de ferro, tendo como isca algodão ou miolo queimado da parte superior da
coroa de frade. Colocando a isca no interior do chifre e segurando-o com uma
das mãos, com sua abertura perto da pedra, ao bater com a outra mão o ferro na
pedra, faz saltar uma faísca para o interior do chifre. Também pode ser utilizada
a luz do sol concentrada por meio de lentes.
6.3.2 NECESSIDADE
- O fogo também é uma necessidade para que seja possível prolongar a sobre-
vivência. Será mais um valioso recurso para aumentar e melhorar as condições
de vida na Caatinga, pois através dele se conseguirá:
a) purificação da água;
b) cozinhar;
c) secar a roupa;
d) aquecer o corpo;
e) sinalizar;
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f) iluminar; e
g) prover segurança noturna.
6.3.3 PREPARAÇÃO E ACENDIMENTO DO FOGO
6.3.3.1 Local
- Será sempre conveniente limpar a área onde será feito o fogo. Mesmo que o
chão esteja seco, é vantajoso que seja forrado com um estrado de troncos de ár-
vores, o que será comum, os quais poderão servir também para alimentar o fogo.
6.3.3.2 Isca
- Convenciona-se denominar isca o amontoado de folhas secas, gravetos finos,
cascas de árvores, sobre os quais são operados para a obtenção inicial do fogo.
Na Caatinga, existem árvores como o marmeleiro que pela raspagem de seus
caules dão uma espécie de maravalha que facilita a obtenção inicial do fogo. A
parte superior (avermelhada) da Coroa-de-Frade também consistirá em uma boa
isca.
6.3.3.3 Acendimento da Isca por processos convencionais
- Os fósforos e isqueiros poderão ser economizados com o emprego de uma
vela, se houver, ou de uma tocha de galhos secos.
- Ao aproximar-se a chama da isca, soprando-se suavemente, poder-se-á faci-
litar a obtenção do fogo inicial, ao qual serão adicionados, progressivamente,
pequenos gravetos secos com o cuidado de não os abafar.
6.3.3.4 Acendimento da Isca por processos de Fortuna
6.3.3.4.1 Lentes
- A chama poderá ser obtida fazendo-se incidir na isca os raios solares, através
de uma lente de binóculo, de luneta, de bússola ou de lanterna.

Fig 58 - Processo da Lente

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6.3.3.4.2 Pedra dura
- Golpeando uma pedra dura com uma faca ou pedaço de aço, resultarão faíscas
que agindo na isca, produzirão fogo.

Fig 59 - Processo da Pedra Dura

6.3.3.4.3 Pólvora de Munição


- O processo da pedra poderá ser melhorado colocando-se pólvora de cartucho
na base da isca e um pouco na pedra.
6.3.3.4.4 Arco e Pau
- As madeiras que se atritam deverão estar bem secas e ser bem duras. A chama
é obtida fazendo-se o pauzinho rodar por uma volta de corda do arco.

Fig 60 - Arco e pau

6.3.3.4.5 Pilhas ou Baterias


- Um pedaço de “palha de aço” ou de outro material semelhante, de fraca resis-
tência, ligado aos polos de duas pilhas de lanterna ou de uma bateria, facilmente
pegará fogo.

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6.3.3.4.6 Tiro de Arma de Caça
- Retiram-se os balotes de chumbo do cartucho. Coloca-se uma estopa ou tecido
desfiado seco no mesmo local. Após introduzir o cartucho na câmara, apontando
a arma para um anteparo de metal, realiza-se o disparo e o material combustível
será projetado apresentando fagulhas que podem dar início ao fogo.
6.3.3.4.7 Tira
- Abre-se um galho pelo meio, colocando-se uma cunha na extremidade aber-
ta. Na inserção dos ramos abertos do galho, coloca-se a isca sobre a qual se
produzirá o atrito com o auxílio de uma tira de couro, corda arame ou qualquer
outra fibra.

Fig 61 - Tira

6.3.3.4.8 Fricção da Madeira


- É o processo mais empírico. É o fogo obtido através do atrito de dois bastões,
um de madeira mole e um de umburana, ou ainda de um pedaço de madeira
macia e plana e um bastão de umburana. Abre-se uma pequena cavidade na
madeira plana, enquanto no bastão é feita uma ponta. Colocada a isca ao redor
da cavidade da madeira plana e inserido o bastão na cavidade será obtido fogo
na iscapelo atrito.
6.3.3.4.9 Pederneira
- É um instrumento composto com um pedaço de metal qualquer e uma pedra
de magnésio capaz de produzir faíscas a mais de 3.000° C, ao gerar atrito com
o metal, que em contato coma isca, produzirá o fogo.

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Fig 62 – Pederneira (Esq) e demonstração do processo utilizando a pederneira (Dir)

6.3.3.4.10 Pedra de Carbureto ou Carbeto de Cálcio


- Substância que reage com água liberando o gás acetileno, altamente inflamá-
vel, podendo assim obter fogo facilmente com o mínimo de faísca, em qualquer
condição climática.
6.3.3.5 Tipos de Fogão
- Obtido o início do fogo através do acendimento da isca, bastará ir adicionando
madeira, a princípio, a mais seca possível. Uma vez firmado o fogo, poderá ser
usada lenha verde. Dependendo da permanência no local e do uso que se fará
da fogueira, dever-se-á reunir junto a ela o máximo de lenha possível para que
vá secando, caso esteja úmida ou verde.
6.3.3.5.1 Fogão de Espeto
- Aquele feito unicamente com um espeto, tendo de preferência uma forquilha
na ponta.

Fig 63 - Fogão de espeto

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6.3.3.5.2 Fogão de Assar
- Duas forquilhas colocadas uma de cada lado do fogo sustentam o espeto com
a caça e a vasilha para cocção.

Fig 64 - Fogão de assar

6.3.3.5.3 Fogão de Moquém ou de Moquear


- Para este fogão são necessárias três ou quatro forquilhas. Uma vez dispostas
em triângulo ou quadrado envolvendo o fogo, arma-se com varas um estrado,
sobre o qual será depositada a caça a ser moqueada.

Fig 65 - Fogão de moquém

6.3.3.5.4 Fogão Móvel


- Fogão feito com três varas, de aproximadamente 1,20 m, amarradas no alto
formando um vértice, enquanto suas pontas no solo formam um triângulo equilá-

6-12
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tero. A 1/3 de sua altura, três estacas são amarradas horizontalmente com cipó a
fim de fixar o conjunto e permitir ainda a amarração de uma grelha.

Fig 66 - Fogão Móvel

6.3.3.5.5 Fogão de Fosso


- O fogo é feito numa depressão do terreno ou um fosso cavado, onde, como
melhorias, podem ser colocados lateralmente dois toros de lenha no sentido
longitudinal.
6.3.3.5.6 Fogão de Barro
- Muito utilizado pela população rural. É feito com barro ou argila com o auxílio
de água.

Fig 67 - Fogão de Barro

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6.3.3.6 Cuidados Especiais para a confecção do fogo
a) Procurar torna-se prático em pelo menos um processo de fortuna para obten-
ção de fogo;
b) trazer sempre consigo algum material para confecção de isca;
c) não desperdiçar fósforos, guarde-os para uma situação mais crítica;
d) não armar fogueiras de grande porte. As fogueiras pequenas são mais fáceis
de controlar, gastam menos materiais e dão calor suficiente para aquecimento
ou para afugentar animais;
e) colocar folhas verdes na fogueira para provocar fumaça que contribua para
manter afastados os insetos. Estrume também é usado; e
f) limpar a área do local da fogueira para evitar incêndios.

6.4 ALIMENTOS DE ORIGEM VEGETAL


6.4.1 GENERALIDADES
6.4.1.1 Cada bioma traz consigo individualidade. A Caatinga não é diferente.
Sua vegetação representa a força do sertanejo, pois ambos resistem a longos
períodos de estiagem. Os vegetais, em particular, possuem elevada capacidade
de regeneração logo após o iníciodas primeiras chuvas.
6.4.1.2 O sertanejo adaptou-se à rigidez semiárida e desenvolveu técnicas de
interação com a Caatinga que permitiram sua sobrevivência ao longo dos anos.
Tornou-se, portanto, um importante conselheiro e difusor quanto à utilização dos
vegetais como fonte de água e alimento, bem como na simples produção de
remédios caseiros.
6.4.1.3 As plantas oferecem partes comestíveis, mas para ingeri-los, deve-se
respeitar algumas regras básicas.
6.4.2 REGRAS GERAIS
6.4.2.1 Acrônimo Cal
6.4.2.1.1 Não há uma forma absoluta para identificar os vegetais venenosos. En-
tretanto, seguindo as regras a seguir, qualquer vegetal, fruto ou tubérculo poderá
ser consumido sem perigo de intoxicação ou envenenamento.
6.4.2.1.2 Não deverão ser consumidos, portanto, vegetais cabeludos; que te-
nham sabor amargo; e seiva leitosa ou, mnemonicamente (CAL):
a) C – cabeludo;
b) A – amargo; e
c) L – leitoso.

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6.4.2.2 Cozimento dos Vegetais
6.4.2.2.1 O consumo de frutas silvestres desconhecidas é uma atividade arris-
cada, devido ao perigo de envenenamento, devido aos vegetais desenvolverem
defesas contra seus predadores, fim de evitar sua predação e assegurar a con-
tinuidade da espécie.
6.4.2.2.2 Estas defesas são
a) Defesa Mecânica: as palmeiras com os seus cocos de carapaça dura; alguns
frutos possuem espinhos internos, como o pequi, outros possuem espinhos ex-
ternos, como o Quipá; e na Caatinga grande parte dos vegetais possuem espi-
nhos;
b) Defesa Química: expressada pela toxidez natural de determinado vegetal.
Raciocinando com a defesa química dos vegetais, o processo mais utilizado
para suprimir a nocividade ou a letalidade do vegetal é o seu cozimento. Desta
forma, cozinhe-o (fervendo) durante 5 min, realizando a troca da água e repetin-
do essa mesma operação por duas ou três vezes.
6.4.2.3 Uso do Paladar
6.4.2.3.1 Quando não se dispuser de fogo para a cocção do vegetal, poderá ser
utilizado o seguinte processo:
a) retire uma pequena quantidade ou pequeno pedaço do vegetal ou fruto, pas-
se-o na parte interna do antebraço (parte sensível do corpo utilizada nos testes
de alergia) e aguarde de 5 a 10 min.
b) Não apresentou reação, retire mais um pequeno pedaço do fruto, mastigue-o
e conserve-o pelo período de 5 a 10 min na boca.
6.4.2.3.2 Se passado esse tempo o paladar não estranhar o gosto da porção, o
restante poderá ser consumido.
6.4.2.4 Vegetais consumidos pelos animais
6.4.2.4.1 Os vegetais e frutos consumidos pelos animais poderão ser consumi-
dos pelo homem, em pequena quantidade. Os animais contornam a toxidez dos
alimentos ingerindo pequenas quantidades, pois seus metabolismos são capa-
zes de lidar com pequenas doses de substância tóxica, talvez por apresentarem
uma variada flora bacteriana no intestino.
6.4.2.4.2 Este procedimento deve ser o último a ser utilizado, pois cada animal
possui um “Perfil de Fragilidade Bioquímica”, ou seja, o que uma espécie suporta
pode ser fatal para outra, mesmo em pequena quantidade.
6.4.3 REGRAS ESPECÍFICAS
6.4.3.1 Hábito alimentar
- O combatente oriundo das regiões urbanas, naturalmente tendo que consumir
vegetais, irá mudar de forma brusca seu hábito alimentar. Assim sendo, quando

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da ingestão de alimentos de origem vegetal, deverá fazê-lo de forma moderada
para que seu organismo se acostume à nova dieta. Essa conduta é muito impor-
tante para que sejam evitados os distúrbios estomacais ou intestinais. Preservar
sua saúde é uma das preocupações constantes do combatente em situação de
sobrevivência.
6.4.3.2 Distribuição Geográfica
- Os alimentos vegetais dependem da área geográfica. Apresentam restrições
quanto à sua frutificação ou até mesmo à sua existência. Assim sendo, somente
em determinadas áreas e épocas do ano, podem-se encontrar algumas espécies
de vegetais, como é o caso da Macambira de Flecha e do Cardeiro que são en-
contrados em regiões de solo raso e pedregoso.
6.4.3.3 Época do Ano
- Influi diretamente na frutificação dos vegetais. Desta forma não se deve partir
da ideia falsa de que os vegetais são encontrados com facilidade em todos os
meses do ano. Tem-se como exemplo o Umbu, cuja frutificação se dá somente
entre os meses de dezembro e março.
6.4.4 VEGETAIS COMESTÍVEIS
6.4.4.1 Cactáceos
6.4.4.1.1 Mandacaru (Cereus jamacaru)
a) Cacto de forma colunar de tronco ramificado e arbóreo, ou seja, possui o seu
crescimento principalmente no sentido vertical.
b) Tem como principal característica para identificação o seu formato estrelar,
uma vez que sua seção transversal se assemelha a uma estrela de 5 ou 7 pon-
tas. Suas arestas são bem acentuadas ao longo de seus gomos, devendo-se
escolher os gomos mais novos e de coloração mais verde para retirar. Após
descascar a parte mais verde, pode-se consumir a parte central do gomo (miolo)
desprezando-se as arestas, mastigando esse miolo para obter a água armaze-
nada nele.
c) É um vegetal extremamente rústico, resiste a longos períodos de seca e sem-
pre cresce e frutifica. Seu fruto é vermelho, carnoso, com polpa branca, brilhan-
te, comestível e de sabor adocicado; encontrado no período chuvoso, é rico em
ácido ascórbico.
d) Suas raízes são utilizadas no tratamento de problemas renais e regulação do
ciclo menstrual. Além do consumo, pode-se obter com o miolo do Mandacaru
um meio de fortuna para auxiliar na transposição de um curso d’água, uma vez
que ele boia na água. Além disso, pode-se confeccionar colher de paus e tábuas
leves com o seu miolo após ressecá-lo ao sol.

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e) Uma variação dessa espécie é o “Mandacaru sem Espinhos”, encontrado ve-
getando espontaneamente no litoral do Ceará e que foi rapidamente absorvido
por pesquisadores da Embrapa Semiárido. Esta espécie tem sido cultivada por
alguns sertanejos, com a vantagem de não possuir espinhos, o que facilita sua
manipulação e manejo, quanto à alimentação animal.

Fig 68 - Mandacaru, à esquerda, e o fruto do Mandacaru, à direita

6.4.4.1.2 Xique-xique (Pilosocereus gounellei)


a) Cacto bastante encontrado na Caatinga, mesmo nos locais mais secos. Ar-
bustivo, possui o seu crescimento principalmente no sentido horizontal, diferen-
temente do Mandacaru.
b) Sua principal característica é possuir em cada nó de espinhos um espinho
maior, central, que se destaca dos demais. Sua seção transversal possui um
formato semelhante a uma engrenagem.
c) Fornece água retirando-se a parte mais externa e consumindo a polpa. Suas
hastes mais novas apresentam a polpa muito suculenta, que apresenta maior
quantidade de água do que o Mandacaru, e que atenua a sede do sertanejodu-
rante os longos períodos de estiagem.
d) É um vegetal bastante rústico, resiste a longos períodos de seca e sempre
cresce e frutifica. Possui um fruto de coloração roxa que pode ser consumido
pelo ser humano.
e) Além do consumo, o Xique-xique, depois de passado em uma forrageira,
serve como ração para o gado em épocas mais secas.

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Fig 69 - Xique–Xique, à esquerda, e fruto do Xique-Xique, à direita

6.4.4.1.3 Cardeiro (Facheiroa squamosa)


a) Cacto arbóreo normalmente é encontrado no alto dos serrotes e dos pontos
mais elevados da região. Sua característica principal é possuir seus espinhos
extremamente entrelaçados, o que dá um aspecto de pelo.
b) A obtenção de água se dá na mesma forma do Xique-xique, porém a sua
polpa não é muito suculenta. Com o seu miolo pode se fazer colheres de pau,
cabos de vassoura e tábuas leves.
c) Não possui grande importância em relação ao seu consumo, mas apresenta
uma característica salutar de servir como sinalizador quando queimado, poden-
do ser essencial em uma situação de sobrevivência.
d) Seu fruto, rico em ácido ascórbico, pode ser consumido.

Fig 70 - Cardeiro, a esquerda e direita, e fruto do Cardeiro ao centro

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6.4.4.1.4 Facheiro (Pilosocereus pachycladus)
a) Cacto semelhante ao Mandacaru, também é arbóreo e é uma das cactáceas
de maior porte na região, podendo chegar 10 m de altura. Tem sua secção trans-
versal com formato de engrenagem, semelhante a do Xique-xique, e pode ser
consumido da mesma forma.
b) Possui um fruto de coloração roxa que pode ser consumido pelo ser humano.
c) Quando queimado, também pode ser utilizado como sinalizador, porém com
tempo de queima menor que o Cardeiro.

Fig 71 - Facheiro, à esquerda e centro, e fruto do Facheiro, à direita

6.4.4.1.5 Palma (Opuntia tuna L. Mill)


a) Planta oriunda do México foi trazida ao Semiárido pelo homem e adaptou-se
muito bem às condições climáticas do sertão. Cultivada pelo sertanejo e pouco
exigente quanto à fertilidade do solo, é extremamente utilizada como alimento
para o gado, após passar em uma forrageira. Possui espinhos externos e inter-
nos e é arbustiva.
b) É rica em água, sais minerais e carboidratos. Seu fruto pode ser consumido
após descascado, sendo boa fonte de carboidratos; as sementes dos frutos são
ricas em proteínas e lipídios.
c) Apesar do baixo valor nutritivo, pode ser consumida pelo ser humano. A popu-
lação sertaneja faz um refogado que é bastante apreciado. Por toda expressivi-
dade agregada, a presença desse vegetal é um relevante indicador de presença
humana.

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Fig 72 - Palma

6.4.4.1.6 Palminha (Opuntia Palmadora)


a) Variação da Palma, porém possui menor porte e espinhos externos. Este ve-
getal é utilizado como alimento para os animais podendo ser consumido pelo
homem.
b) Enquadra-se no grupo de vegetais que prejudicam as operações militares,
uma vez que seus espinhos podem atrapalhar o deslocamento da tropa.

Fig 73 - Palminha

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6.4.4.1.7 Quipá (Tacinga inamoena)
a) É uma variação de Palma, rasteiro, que possui minúsculos espinhos, quase
imperceptíveis, semelhantes a pelos.
b) Seu fruto de cor amarelada é comestível, devendo, antes do consumo, ter o
cuidado de retirar os espinhos também existentes na sua casca, para isso, deve-
-se rolar o fruto ao solo com o solado do coturno.

Fig 74 - Colônia de quipás, à esquerda, e e seu fruto (amarelado), à direita

6.4.4.1.8 Coroa-de-Frade (Melo-cactus ztehntneri)


a) Normalmente encontrada no interior da Caatinga ou próxima a leitos de rios
secos, em terrenos pedregosos. Cacto arredondado com espinhos curvos, re-
cebe este nome devido à sua parte superior, avermelhada e semelhante à co-
bertura que os frades utilizam na cabeça. O miolo é bastante suculento, onde o
sobrevivente pode obter grande quantidade de água.
b) O regional faz um ótimo doce do miolo, bastante apreciado pelo sertanejo,
afim ao doce de mamão verde. Seus frutos são pequenos, rosados, comestíveis
e com sabor adocicado. Possui raízes rasas e pode ser facilmente retirado do
solo pelo combatente.
c) Além do consumo, a Coroa-de-Frade possui grande utilidade em uma situa-
ção de sobrevivência, uma vez que pode ser utilizada como uma espécie de pa-
nela, que não se desmancha ao ser levada ao fogo, cozinhando o alimento sem
a necessidade de colocação de água para tal. Seus espinhos, após queimados,
podem servir como tempero para o alimento, pois possuem sabor salgado.

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Fig 75 - Coroa-de-Frade, à esquerda, e fruto da Coroa-de-Frade, à direita

6.4.4.1.9 Bugio (Harrisia adscendens)


a) Vegetal fino e alongado, apresenta espinhos externos e normalmente trepa
em árvores e, por isso, recebe o mesmo nome de uma espécie de macaco. To-
davia, quando encontrado isolado no terreno, é arbustivo.
b) Seu fruto é amarelado, comestível, sua polpa é semelhante à do Maracujá e
sua aparência externa é afim à do fruto-do-dragão (mexicano).
c) Não possui importância para o consumo, mas se enquadra nos vegetais que
prejudicam as operações militares, devido ao fato de ser espécie trepadeira,
seus espinhos podem ferir os olhos dos combatentes, prejudicando a saúde do
pessoal e o deslocamento da tropa.

Fig 76 - Bugio isolado (arbustivo), à Esq, Bugio trepadeira, ao centro, e fruto do Bugio, à Dir

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6.4.4.1.10 Rabo-de-Raposa (Harrojadoa rhodantha)
a) Planta de pequeno porte, recebe esse nome devido à semelhança com o
rapo de uma raposa por possuir os espinhos avermelhados em sua parte supe-
rior.
b) Tem o seu caule dividido em espécies de gomos e não passa de 1m de altura.
Seu fruto maduro é avermelhado, consumido por insetos e pássaros.

Fig 77 - Rabo-de-Raposa, à Esq, e fruto do Rabo-de-Raposa, à Dir

6.4.4.2 Herbáceas
6.4.4.2.1 Macambira de Flecha (Encholirium spectabile)
a) Erva perene com folhas muito espinhosas, com espinhos na mesma direção
e com coloração amarelada, assemelha-se a um pé de Abacaxi. Possui uma
haste central semelhante a uma flecha, que pode ser utilizada como rolhas de
garrafa após cortada.
b) Cresce frequentemente em solo de pouca profundidade, geralmente em ser-
rotes ou próximo ao leito dos rios. Seu miolo é semelhante a um palmito e pode
ser consumido.

Fig 78 - Macambira de flecha, à Esq, e haste, à Dir


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6.4.4.2.2 Macambira de Cachorro (Bromélia laciniosa)
a) Em muito se assemelha à Macambira de Flecha, porém tem menor porte e os
seus espinhos são em direções contrárias.A sua coloração é um tom de verde e
um pouco avermelhado.
b) Devido a seus espinhos, enquadra-se no grupo dos vegetais que prejudicam
as operações militares, pois nascem em colônias e dificultam o deslocamento.

Fig 79 - Macambira de Cachorro

6.4.4.2.3 Caroá (Neoglaziovia variegata)


a) Erva muito comum, de folha estreita e espinhosa, pode ser usada para fa-
bricação de cordéis. Sua fibra é aproveitada para amarração do material e/ou
balizamento de trilhas, e a casca serve para camuflagem do armamento.
b) Possui nas proximidades de sua raiz um palmito de gosto apreciável e a sua
polpa também pode ser consumida, sendo um dos poucos vegetais que apre-
senta água em sua forma liquida ao ser dissociada da polpa.

Fig 80 - Caroá

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6.4.4.3 Árvores
6.4.4.3.1 Favela de Galinha (Cnidoscolus phyllacanthus)
a) Esta árvore permanece com as suas folhas verdes durante a maior parte do
ano. No interior do seu fruto existe uma espécie de amêndoa (semente) que
pode ser consumida.
b) A sua seiva ou “visgo”, como é denominado pelo sertanejo, pode ser utilizada
como uma cola em armadilhas para capturar pequenos pássaros. Suas semen-
tes servem de isca para tais armadilhas.
c) Fato curioso é o de que o seu nome foi utilizado para denominar as mora-
dias nos morros e encostas da região sudeste do país, uma vez que as tropas
federais empregadas na Campanha de Canudos eram em sua maioria do Rio de
Janeiro e ocuparam as elevações da região, onde havia uma grande quantidade
desta árvore e ao retornarem da guerra continuaram a chamar os morros de
favela, denominação que continua presente até os dias atuais na grande maioria
dos centros urbanos, caracterizando as invasões e as habitações das classes
sociais menos favorecidas.

Fig 81 - Galhos de Favela de Galinha, à esquerda, e fruto, à direita

6.4.4.3.2 Juazeiro (Ziziphus joazeiro)


a) É uma árvore de porte mediano, cuja folhagem, se mantem verde clara, ainda
que na seca, e denomina duas cidades importantes do sertão nordestino, Jua-
zeiro (BA) e Juazeiro do Norte (CE).
b) Seu fruto, o Juá, de cor amarelada, também conhecido como laranja do ser-
tanejo, é comestível e rico em vitamina C.
c) Consumir o Juá por mais de 2 dias provoca perturbações intestinais e hepáti-
cas. As folhas prestam as infusões estomacais. As raspas da entrecasca do Ju-

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azeiro servem de antisséptico e é largamente utilizado na fabricação de cremes
dentais, sabonetes e xampu, devido à presença de uma substância chamada
saponina.

Fig 82 - Pé de Juazeiro, à esquerda, e Juá, à direita

6.4.4.3.3 Algaroba (Prosopis juliflora)


a) Introduzida no Brasil na década de 40, esta árvore que tem sua origem no
deserto do Miura – Peru, adaptou-se muito bem ao clima Semiárido nordestino e
hoje é uma das espécies mais encontradas na região.
b) Normalmente possui altura entre 6 m a 15 m, tronco ramificado com diâmetro
variando de 40 cm a 80 cm e copa com 8 m a 12 m de diâmetro. Seu fruto, co-
nhecido como vagem pelo sertanejo, é adocicado, comestível e constitui impor-
tante fonte de carboidratos e proteínas, sendo que a polpa agrega cerca de 35%
de proteínas e cerca de 15% de carboidratos; e suas sementes cerca de 7% de
óleos.
c) Além disso, a vagem é muito apreciada pelo gado que após consumi-las,
espalha estas vagens em suas fezes pelo sertão, o que faz a quantidade de
árvores aumentar cada vez mais.

Fig 83 - Pé de Algaroba, à esquerda, e vagem da Algaroba, à direita

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6.4.4.3.4 Umbuzeiro (Spondias tuberosa)
a) Seu nome em tupi-guarani significa “árvore que dá de beber”, sendo conheci-
do, também como Imbu. É uma árvore que pode alcançar mais de 7 m de altura
com copa medindo até 22 m de diâmetro. O tronco é atrofiado e retorcido poden-
do medir de 50 cm a 1,5 m de diâmetro.
b) Possui um fruto de nome Umbu, verde, rico em vitaminas “A”, “C” e cálcio,
arredondado, de casca lisa, muito utilizado como base alimentar e econômica do
sertanejo. Compõem o ingrediente principal da umbuzada, mistura de polpa des-
te fruto com leite e raspas de rapadura; são comumente utilizados também no
processamento de doces, sucos, sorvetes e geleias. As folhas também podem
ser consumidas In natura e são fontes de vitaminas “A” e “C”, inclusive sendo
bastante apreciadas pelo bode.
c) O umbuzeiro mantém as suas folhas verdes durante todas as estações do
ano, devido ao fato de possuir espécies de tuberosas (Cuca do Umbuzeiro) em
suas raízes que armazenam grande quantidade de água embaixo do solo. Pela
importância de suas raízes foi chamada de “árvore sagrada do Sertão” pelo fa-
moso escritor Euclídes da Cunha. A cuca do umbuzeiro é extremamente impor-
tante em uma situação de sobrevivência, uma vez que possui água em quanti-
dade considerável armazenada no seu interior, associada à sua polpa.
d) Para melhor exatidão em sua localização, o sertanejo utiliza pedaços de ma-
deira para bater no chão; ao ouvir um “barulho oco”, diferente dos outros locais
batidos, ali estará a cuca. Podem ser encontradas mais de 500 cucas em um
umbuzeiro adulto. É comum o sertanejo ofertar ao gado pedaços da cuca, com
o fim de amenizar a sede de seus animais. Além disso, a cuca fornece um doce
muito apreciado pelo sertanejo, semelhante a uma cocada.
e) Outrossim, após a retirada da polpa da cuca, o sertanejo pode utiliza-la como
um recipiente da mesma maneira que a Coroa-de-Frade. É na Cuca do Umbu-
zeiro que o vaqueiro faz o café de pedra.

Fig 84 - Pé de Umbuzeiro

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Fig 85 - Umbu, à esquerda, e Cuca do Umbuzeiro, à direita

Fig 86 - Café de pedra

6.4.4.3.5 Carnaúba (Copernicia prunifera)


a) Palmeira nativa do Semiárido brasileiro cujos frutos são globosos, com cerca
de 3 cm, de cor roxa, e quando maduros, apresenta polpa carnosa, que envolve
uma amêndoa, ambos bastante nutritivos; esses frutos podem ser consumidos
In natura, porém com mais dificuldade, pois possuem casca e polpa rígidas; en-
tretanto, após curto período em água morna, sua casca se desprende com maior
facilidade e sua polpa fica macia.
b) A partir daí, confecciona-se a farinha, após triturar a polpa e depois secá-
-la. Sua amêndoa, quando triturada, é utilizada para se fazer mingaus e pode
substituir o café. Após prensada, extrai-se um óleo que pode ser utilizado na
alimentação. Das carnaúbas de menor porte pode-se extrair o palmito, bastante
apreciado e rico em amido e sais minerais.

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Fig 87 - Carnaúba, à esquerda, e fruto da Carnaúba, à direita

6.4.4.3.6 Ouricuri (Syagrus coronata)


a) Uma das principais palmeiras nativas do Semiárido brasileiro, possui altura
mediana, podendo atingir até 10 m, com folhas grandes, de 2 a 3 m de compri-
mento, também conhecida como licor e licurizeiro. Seu fruto é uma drupa, ovoide
e carnosa e quando maduro, tem coloração que varia do amarelo-claro ao ala-
ranjado, dependendo do estágio de maturação e se dá em forma de cachos.
b) Os frutos maduros têm polpa amarela, pegajosa e adocicada, sendo rica em
vitamina “A” e em seu interior possuem uma amêndoa rica em lipídios, ambos
podem consumidos In natura. Dos exemplares mais jovens também pode-se
extrair o palmito, rico em proteína e sais minerais.
c) Suas folhas são utilizadas como fonte de matéria-prima para o artesanato,
bem como forragem para o gado e cobertura para casas ou abrigos. A cera que
é extraída das folhas é de boa qualidade, podendo ser utilizada na fabricação de
papel carbono, graxa para sapatos, móveis e pintura de automóveis.

Fig 88 - Ouricuri, à esquerda, e fruto do Ouricuri, à direita

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6.4.4.3.7 Pequizeiro (Caryocar brasiliense)
a) Árvore de porte relativamente elevado, de copa frondosa, pode chegar a
12 m de altura, muito abundante na Chapada do Arararipe e nas Caatingas do
Piauí. As folhas do pequizeiro são fáceis de reconhecer, com 3 “dedos” no final
do ramo, são grandes e com pequenos pelos nos dois lados da folha e possuem
as bordas recortadas.
b) O fruto do pequizeiro tem o formato globoso, com uma casca que o envolve e
possui 1 e 4 caroços. Cada caroço é composto por um endocarpo lenhoso com
inúmeros espinhos, contendo internamente a semente, ou castanho, e envolto
por uma polpa de coloração amarela intensa, carnosa e com alto teor de óleo e
pode ser consumido In natura, entretanto, deve-se ter cuidado com seus espi-
nhos internos, retirando sua polpa com uma faca ou raspando-a superficialmente
com os dentes. A polpa do pequi possui muita vitamina “A” e carotenoides, im-
portantes para prevenir doenças associadas à visão. Os caroços são servidos
cozidos, principalmente com frango, arroz ou feijão. A polpa é utilizada para ex-
tração do óleo, mas também na produção de geleias, doces, licores, cremes,
sorvetes, farofas, pamonha, ração para porcos e galinhas.
c) Da polpa fermentada é produzido um tipo de licor bastante conhecido e mui-
to apreciado. A amêndoa do pequi, fica dentro do caroço espinhoso, do qual
também pode-se extrair óleo. É deliciosa e ainda possui muita proteína. É muito
apreciada em pratos típicos (pamonha, bolos, doces e paçoca) e também In na-
tura.

Fig 89 - Pequizeiro e seu fruto

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6.4.4.3.8 Braúna (Schinopsis brasiliensis)
a) Também conhecida popularmente como baraúna, apresenta grande porte,
podendo chegar até 15 m de altura, de tronco ereto, bem conformado, de 50-60
cm de diâmetro. Sua copa é quase globosa, não muito densa. Seus galhos são
providos de espinhos fortes e sua casca é de cor cinza-escuro, quase negra e
áspera. É encontrada com maior frequência em terras altas da Caatinga (tabu-
leiros). Possui um fruto, porém dele só se aproveita as sementes para se fazer
mudas.
b) Possui madeira muito densa e pesada, altamente resistente à decomposição,
bastante utilizada na confecção de mourões, estacas, postes, dormentes, pilões,
caibros, etc. Sua casca triturada e cozida é utilizada pelas comunidades sertane-
jas como um paliativo nas dores de dente.
c) O chá de sua casca também auxilia no alívio a dores de ouvido.

Fig 90 - Braúna, à esquerda, e fruto da Braúna, à direita

6.4.4.3.9 Moringa (Moringa oleifera)


a) Árvore oriunda da Índia e que se adaptou muito bem às condições climáticas
do sertão nordestino e também é conhecido como Lírio Branco. É comumente
encontrada nos estados do Piauí e oeste da Bahia. Sua altura varia entre 5 m
a 12 m com uma copa frondosa, tronco ereto de 10 a 30 cm de espessura, com
casca esbranquiçada e esponjosa.
b) Suas folhas possuem o formato de pena, de cor verde-pálido, sendo ricas
em vitaminas “A” e “C”, fósforo, cálcio, ferro e proteínas, servindo como alimento
para o ser humano e para os animais devido ao seu alto teor nutritivo.
c) Esta árvore frutifica durante todo o ano e seus frutos, em formato de vagem,

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produzem sementes comestíveis, após descascadas, ricas em aminoácidos es-
senciais. As sementes dessa árvore contêm quantidades significativas de pro-
teínas solúveis com carga positiva. Essas sementes após trituradas podem ser
adicionadas em um recipiente com água turva, onde as proteínas irão liberar
cargas positivas atraindo as partículas carregadas negativamente, como barro,
argila, bactérias, e outras partículas tóxicas presentes na água. Este processo
é conhecido como floculação e ocorre quando as proteínas se ligam com as
cargas negativas formando flocos, agregando as partículas presentes na água e
decantando-as no fundo do recipiente.
d) Este processo, apesar de não garantir 100% de purificação, reduzirá signifi-
cativamente o número de partículas suspensas eventuais micro-organismos. Da
sua semente ainda pode-se extrair um óleo, também comestível, após prensá-lo.

Fig 91 - Moringa, à esquerda, e vagem da Moringa, à direita

6.4.4.4 Outras Espécies


6.4.4.4.1 Mucunã (Dioclea grandiflora)
a) Espécie de cipó d’água que se hospeda em outros vegetais, é um dos poucos
vegetais que fornece água em gotejamento, sendo fundamental em uma situa-
ção de sobrevivência no tocante ao moral da tropa. Para identificá-lo, devem-se
procurar suas vagens e seus caroços conhecidos como “olho-de-boi”.

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Fig 92 - Militar bebendo a água que goteja do Mucunã

b) Dentro da semente do Mucunã existe uma massa branca que é utilizada para
fazer beijus, bolos e cuscuz. Para a retirada da massa é necessário deixar a
semente de molho na água por 4 dias.

Fig 93 - Vagem do Mucunã, à esquerda, e semente “Olho-de-Boi”, à direita

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6.5 ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL
6.5.1 GENERALIDADES
6.5.1.1 A carne tem um valor energético maior que os vegetais pela quantidade
de proteínas que possui, entretanto, é mais difícil de ser conseguido na Caa-
tinga, pois a escassez de animais é maior do que em outros ambientes. Com
isso, o homem deve conhecer os hábitos diurnos e noturnos dos animais, seus
habitats, seus rastros e locais de comedia, onde possa ser feita uma espera ou
colocada uma armadilha para caça.
6.5.1.2 Na Caatinga, a caça, ainda que difícil, não é impossível. Devido à seca,
os animais se recolhem, ocultam-se e refugiam-se em locais menos desfavorá-
veis. Mesmo assim, podemos encontrar em plena Caatinga várias aves como
o Carcará, a Rolinha, a Codorna; roedores, o Tatu-Peba, o lagarto, o Mocó, o
Guaxinim, o Camaleão dentre outros animais.
6.5.1.3 Os alimentos de origem animal devem ser cozidos antes de ingeridos,
com a finalidade de destruir as bactérias, toxinas e outras substâncias prejudi-
ciais à saúde humana.
6.5.1.4 A pesca em açudes, quando possuem água, se tornará uma opção a
mais para a aquisição da carne. As iscas podem ser obtidas de vísceras ou en-
tranhas de outros animais e peixes. A linha pode ser feita com a fibra do Caroá
ou cadarço de coturno. A vara de pescar se obtém de bambu ou galhos.
6.5.2 CLASSIFICAÇÃO DOS ANIMAIS VERTEBRADOS
6.5.2.1 Os animais vertebrados são aqueles que possuem medula espinhal e a
coluna vertebral (formada por vértebras).
6.5.2.2 No reino animal, o ramo dos vertebrados compreende as classes dos:
a) mamíferos;
b) aves;
c) répteis;
d) batráquios; e
e) peixes.
6.5.3 CLASSE DOS MAMÍFEROS
- São animais que alimentam as crias com o leite das mamas. Têm pele frouxa
e fina e o corpo mais ou menos coberto de pelos. Compreende as ordens dos:

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6.5.3.1 Desdentados

Tatu
- Apesar de classificado como desdentado, o tatu
possui dentes, porém situados no fundo da boca.
Morando em tocas profundas, prefere sair à noite
para a procura de alimentos. Sua proteção é a cara-
paça ósseaem forma de placas que o envolve desde
a cabeça até a própria cauda. A alimentação de um tatu consiste, principalmen-
te, em pequenos insetos (formigas, cupins, besouros) e suas larvas. Também
comem pequenos invertebrados, raízes, alguns vegetais e frutos.

Tamanduá-Mirim
- São desdentados que se alimentam de formigas,
cupins e ovos de aves, frutos, folhas e seivas. Não
são agressivos e, se ameaçados, limitam-se a fugir
ou a se defender com as unhas. É um animal de
hábitos diurnos, dorme no mesmo local onde anoite-
ce. É silencioso, só se ouvindo seu grunhido quando
está enfurecido.

6.5.3.2 Roedores
- São mamíferos que possuem os incisivos grandes.

Mocó
- É um pequeno mamífero roedor encontrado no
Nordeste brasileiro. Tem pelagem cinzenta no dorso
e ventre amarelado. Habitam as regiões descampa-
das e pedregosas da Caatinga. Os mocós passam a
maior parte do tempo em tocas, locais em que abri-
gam barbeiros (Triatoma) insetos transmissores da
doença de Chagas.

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Cutia
- Roedor de corpo grosso, com 50 a 60 cm de compri-
mento e 3 a 5 Kg de peso, sem cauda, pelos ásperos,
pardos, amarelos e negros. Possui hábitos diuturnos,
geralmente faz sua toca entre as raízes das árvores.
Alimenta-se de frutos e sementes e sua carne é muito
saborosa, devendo, no entanto, ao ser preparada,
serem retiradas as glândulas subaxilares anteriores
e posteriores e a subcaudal.

Preá
- Pequeno roedor extremamente arisco, foge ao me-
nor sinal de barulho ou ameaça. Sua reprodução é
rápida em meio às moitas de capim, várzeas de rios
secos e coivaras antigas. Se alimenta de pequenos
frutos como umbu, juá e capim.

6.5.3.3 Ungulados
- São mamíferos terrestres de grande porte, geralmente herbívoros e cujos mem-
bros terminam em cascos, contínuos ou fendidos em duas partes.

Veado Catingueiro

- É um animal muito arisco e difícil de ser visto ao dia.


Anda na mata mais fechada, em locais secos. Alimen-
ta-se de flor e frutos e sua trilha é caracterizada pela
marca de suas unhas que ficam impressas no solo.

Caititu
- Espécie de porco-do-mato, com cerca de 90 cm de
comprimento e 30 a 40 cm de altura. Tem cauda curta,
pernas delgadas e cerdas rijas de cor cinza-escura
com salpicos brancos, com uma coleira esbranqui-
çada no pescoço, do peito às costas. Anda em varas
de 5 a 10 elementos. Quando alarmados, eriçam os
pelos e emitem um forte odor.

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6.5.3.4 Carnívoros
− São mamíferos que se caracterizam, principalmente, por possuírem os caninos
avantajados.

Suçuarana (onça parda)


- Habita o continente americano e tem o corpo delga-
do, embora seu porte atinja 1,20 m de comprimento
por 70 cm de altura e cerdas de tom vermelho-quei-
mado mais escuro no dorso. Realiza a caça de noite,
atacando geralmente todos os animais, mostrando-
-se, entretanto, tímida em relação ao homem. É
também chamada Onça-Parda, Onça-Vermelha,
Onça-Bodeira e Puma. No sertão habitam as Caa-
tingas densas e serrotes.

Gato-do-Mato
- Lembra a Jaguatirica e o Gato-Maracajá, mas é me-
nor, com um corpo mais fino e focinho mais estreito.
É um animal de hábitos noturnos e sua principal fonte
de alimento são os lagartos, mocós e ratos. Ele tem
entre 38 a 59 cm de comprimento e uma cauda de 20
a 42 cm. Apesar de ser um pouco mais comprido do
que o gato doméstico médio, geralmente é mais leve.

Quati
- Pequeno carnívoro de hábito arborícola que mede
cerca de 70 cm de comprimento e 50 cm de cauda. A
cor geral é cinzento-amarelada. Percorre a Caatinga
de dia, alimentando-se de pássaros, ovos, insetos e
frutos. Revolve com o focinho o humo à procura de
vermes e larvas, vive em família, é muito inteligente
e valente.

Guaxinim
- Habitam as árvores ocas, buracos em pedras ou
no chão. Alimentam-se de pássaros, ratos, insetos,
lesmas e cobras.

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6.5.3.5 Primatas
- São mamíferos que possuem os pés quase semelhantes às mãos.

Macaco-Prego
- Símio pequeno, conhecido no Sul como mico. Sua
cor varia do amarelo-palha ao marrom; vive em ban-
dos e seu grito parece um assobio. Familiariza-se
com o cativeiro.

Guigó-da-Caatinga
- É comumente confundido com Macaco-Prego-do-
-Peito amarelo e com Bugio-Preto, graças aos sons
emitidos por eles, sempre comando pelos machos.
No rio São Francisco esses animais costumavam
ser frequentes nas matas ripárias, sendo que hoje é
mais fácil encontrá-los na Caatinga arbustiva densa.

Sagui
- É o macaco de menor porte existente na natureza.
Ele tem o rabo comprido, sua cabeça é extensa e
ampla; as unhas apresentam o formato de garras,
embora o polegar tenha uma conFigção distinta e não
se separe dos demais. Estes animais são geralmen-
te encontrados em grupos, abrigados em arbustos,
pois são dotados de unhas aguçadas e de incomum
desenvoltura, recursos que lhes permitem subir em
árvores sem qualquer problema. Alimentam-se de
pequenos frutos.

6.5.3.6 Marsupiais
− Mamíferos que possuem bolsa cutânea no ventre.

Mucura
- Mamífero marsupial de hábito noturno, do porte de
um gato e de pelagem cinza-avermelhada. Dentro da
bolsa marsupial acham-se as tetas, onde se agarram
os filhotes. Alimenta-se de frutos, vermes e larvas.
Bem preparada, sua carne é saborosa.

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Gambá
- Marsupial de porte menor que a mucura, de hábitos
noturnos, preferindo aves, frutos e pequenos animais
para sua alimentação. Seu pelo é composto de cerdas
longas, pretas e brancas, mescladas. Retirando-se
a glândula fétida dos gambás, sua carne é tenra e
saborosa como a de galinha.

6.5.4 CLASSE DAS AVES


− São vertebrados ovíparos, de corpo coberto de penas e membros anteriores
transformados em asas. Compreendem as ordens:
6.5.4.1 Rapinantes (Falconiformes)

Carcará
- Têm bicos aduncos e garras terminadas em unhas
possantes, possuem hábitos diurnos. São as aves
conhecidas como águias ou gaviões. Têm os pés nus
providos de garras fortes e afiadas. Só se alimentam
de animais. As espécies mais comuns da Caatinga
são: Gavião-Asa-de-Telha, Gavião-Carijó, Carcará e
Águia-Cinzenta.

6.5.4.2 Corujas (Strigiformes)

Caburé
- São aves de bicos aduncos e curtos, bastante afia-
dos, olhos grandes localizados na frente e no centro
do rosto além de garras bastante afiadas. Existem
espécies de hábitos diurnos e outras de hábitos no-
turnos. As espécies mais comuns na Caatinga são:
Suindara ou Coruja-da-Igreja; Corujinha-do-Mato;
Corujinha-Orelhuda; Coruja-Buraqueira e Caburé.

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6.5.4.3 Papagaios e Araras (Psitaciformes)

Papagaio
- São aves de bicos aduncos e grandes com mobi-
lidade tanto na parte superior quanto inferior, pés
com dois dedos voltados para frente e dois para trás.
Possuem colorido muito variado e vozes bastante
estridentes. Esta ordem reúne araras, papagaios,
curicas, periquitos e semelhantes. Alimentam-se de
frutos e sementes e têm hábitos diurnos. Existem
centenas de espécies entre as mais conhecidas
podemos citar: Periquito-Da-Caatinga, Papagaio Ver-
dadeiro, Ararinha-Azul, Arara-Maracanã-Verdadeira,
Papagaio-Galego.

6.5.4.4 Tucanos e Pica-paus (Piciformes)

Pica-Pau-Anão-da-Caatinga
- São aves de bicos grandes e pés com dois dedos
voltados para frente e dois para trás. Nesta ordem
encontramos os pica-paus e tucanos. Na Caatinga-
as espécies mais comuns são: Pica-Pau-Anão-da-
-Caatinga, Pica-Pau-de-Cabeça-Amarela, Saripoca-
-de-Gould, Pica-Pau-Branco, Picapauzinho-Anão,
Pica-Pau-Dourado-Escuro.

6.5.4.5 Galináceos (Galiformes)

Jacupemba
- São aves corpulentas de bico curto, semelhan-
tes à galinha e ao peru, que lançam voos curtos,
alimentam-se de grãos e larvas. Dentre as aves são
as que têm a carne mais apreciada. Entre as diversas
espécies, são comuns na Caatinga: Jacucaca ou
Jacu-Verdadeiro, Jacupemba, Uru.

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6.5.4.6 Garças (Ciconiformes)

Seriema
- São aves esbeltas de pernas e dedos compridos,
pescoço fino e bico longo e pontiagudo. Esta ordem
reúne as garças e socós. Na Caatingapodemos
encontrar: Socó–Boi, Savacu, Socozinho, Garça-
-Vaqueira, Garça-Branca-Grande, Seriema.

6.5.4.7 Pombas (Columbiformes)

Asa Branca, à esquerda, e Juriti, à direita


- São aves de corpo pesado e cabeça pequena, conhecidas como pombas,
rolas ou jurutis. As mais comuns da Caatinga são: Asa Branca, Rolinha, Juriti.

6.5.4.8 Patos e Marrecos (Anseriformes)

Marreca Viuvinha
- São aves que apresentam bicos achatados, as
pernas são curtas e nos pés observamos os dedos
unidos por uma membrana natatória. Estão sempre
próximas à água. São elas: as marrecas, os patos e
os cisnes.Na Caatinga podemos encontrar: Marreca
Viuvinha, Pato-do-Mato,Ananaí, Bico-Roxo.

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6.5.4.9 Passarinhos (Passeriformes)

Cancão
- São aves pequenas de bicos e pernas curtas,
geralmente cantam harmoniosamente. São animais
muito comuns de serem vistos na Caatinga. As mais
conhecidas da Caatinga são: Casaca-de-Couro,
João-de-Barro, Rebansã, Sabiá, Cancão, Bem-Te-Vi,
Sofreu, Cardeal.

6.5.5 CLASSE DOS RÉPTEIS


− São vertebrados de corpo alongado e se locomovem por movimentos de rep-
tação (rastejo). São ovíparos e têm o corpo coberto de escamas. A classe reúne
três ordens:
6.5.5.1 Quelônios

Jabuti
- Possuem notável carapaça óssea dorsal e ventral,
protegendo todo o corpo. Os mais comuns da Caa-
tinga são: Jabuti, Cágado D’água, Tartaruga-Tanque.

6.5.5.2 Sáurios
6.5.5.2.1 Lacertídeos
− Firmam-se em 4 membros e são ágeis. São exemplos:

Calango
- É um tipo de lagarto também conhecido como tara-
guira. Vive no chão e é de colorido azul na frente e
verde atrás, com linhas negras.

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Teiú
- É um dos maiores lagartos da Caatinga nordestina.
No período da safra do umbuzeiro, o Teiú é visto con-
sumindo frutos caídos ao chão. Este lagarto também
se alimenta dos insetos e larvas dos frutos maduros
do imbuzeiro. O habitat natural do Teiú são as áreas
abertas de Caatinga e do cerrado, onde esses animais
têm mais acesso aos raios solares.

Camaleão
- É um dos mais belos lagartos da Caatinga. Alimen-
tam-se de pequenos insetos e larvas. O destaque
para os camaleões é a variabilidade de cores que
estes animais apresentam. Essa característica ocorre
pelo mimetismo (camuflagem).

6.5.5.2.2 Ofídios
− Ver seção 3.2 do Capítulo III (Animais Peçonhentos e Venenosos).
6.5.5.3 Crocodilianos

Jacaré-de-Papo-Amarelo
a) São répteis de porte avantajado, de dentes cônicos
e implantados nas mandíbulas. São muito temidos.
No Brasil há 6 espécies de jacarés, distribuídos por
3 gêneros.
b) Na Caatinga, a espécie encontrada é o Jacaré-de-
-Papo-Amarelo. Muito arisco e agressivo, habita às
margens dos riachos.

6.5.6 CLASSE DOS ANFÍBIOS


− São vertebrados de sangue frio e dupla respiração, branquial e pulmo-
nar. Os anfíbios são animais bem sucedidos nesse ambiente. Ao todo,
são 51 espécies conhecidas, dessas 15% são consideradas endêmicas.
Muitos anfíbios vivem nos chamados brejos de altitude que são áreas de maior
altitude com matas úmidas e cercadas pela Caatinga. Para a sobrevivência no
bioma, também desenvolveram estratégias específicas, como longos períodos de

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estivação (um tipo de “dormência”) no período seco, reprodução apenas no período
chuvoso, proteção dos ovos e girinos em ninhos de espuma para não dessecarem
e acelerada metamorfose dos girinos para vencer a evaporação da água.

6.5.6.1 Sapo

Sapo-boi Sapo-Cururu.

- Batráquio desdentado, abrange inúmeras famílias, das quais os exemplares


mais conhecidos são: Sapo-Cururu e Sapo-Boi.

6.5.6.2 Salamandra

Salamandra
- Tem o corpo desprovido de escamas e pele macia e
úmida. Vive em terra firme, preferindo lugares úmidos
e escuros.

6.5.6.3 Rã


- Batráquio que, após sua evolução na água, passa
a viver na beira de charcos, lagos ou rios. A rã possui
dentes. Atinge 15 cm de comprimento e tem cor par-
da. Como alimento, sua carne é bastante apreciada.

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6.5.7 CLASSE DOS PEIXES
6.5.7.1 São vertebrados adaptados à vida aquática. Tem os corpos alongados,
providos de barbatanas ou nadadeiras para locomoção. São ovíparos e de res-
piração branquial. Um dos mais surpreendentes grupos de animais da Caatinga
são os peixes. Com 240 espécies, a estimativa é que 136 sejam endêmicas, ou
seja, são encontradas apenas neste bioma. Devido ao clima Semiárido da Ca-
atinga, os rios são intermitentes, ou seja, secam no período de estiagem. Essa
característica promoveu o desenvolvimento de várias estratégias de adaptação
para sobrevivência das espécies de peixes, algumas delas são: adiar o depósito
dos ovos para o período chuvoso, ovos resistentes e o desenvolvimento lento do
embrião, podendo durar quase um ano.
6.5.7.2 Ao eclodirem, os peixes, que atingem cerca de 5 a 15 cm de comprimento,
vivem em lagoas e poças de águas temporárias. Alguns peixes também se enter-
ram, entrando num tipo de latência. Os sertanejos os chamam tradicionalmente de
peixes de nuvem, por acreditarem que nascem nas nuvens e caem com a chuva.
Das espécies de água doce as principais variedades são: Tilápia, Cari, Curimatá,
Piranha, Surubim, Tambaqui, Piaba, entre outros.

Surubim
Curimatá
Cari

Fig 94 - “Peixes de nuvem”

6.5.8 PREPARAÇÃO DA CAÇA


- Para efeito do preparo, utilização e conservação, convenciona-se dividir a caça
em:
6.5.8.1 Animais de Pelo
6.5.8.1.1 Suçuarana, Veado, Tamanduá, Caititu, Queixada, Cutia.
6.5.8.1.2 Abate com arma de fogo, pendurar e sangrar atingindo o coração ou
pancada na cabeça.
6.5.8.1.3 Uma vez abatido o animal, deve-se proceder a esfola. Pendura-se pelos
membros posteriores, abrindo suas pernas para facilitar o trabalho. Faz-se uma
incisão transversal na parte mais alta dos mesmosabaixo dos joelhos, e outra

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longitudinal até a virilha ou entrepernas, descendo este corte até a “linha branca”
do ventre do animal. Com a ponta da faca inicia-se o esfolamento, liberando a
pele do músculo através de uma fina camada de gordura ali existente. Procede-se
com os demais membros da mesma forma.
OBSERVAÇÃO: a diferença básica entre esfola e descamisamento está no fato
do meio utilizado para a separação do couro da fina camada de pele mantendo
a gordura existente: no primeiro processo é utilizado um objeto cortante (faca)
orientado pela ponta do dedo; no outro, traciona-se o couro para baixo apenas
com as mãos.
6.5.8.1.4 Depois de esfolado ou descamisado o animal será aberto pela linha do
peito (linha branca) para a evisceração. Nesta operação deverá haver um duplo
cuidado – com a bexiga e o fel. Para isso, coloca-se a ponta da faca protegida
pelo indicador e, tracionando-se para a frente e para baixo, o animal estará ab-
erto sem o perigo de perfurar a bexiga ou a bolsa biliar. Evitar o consumo das
vísceras dos animais.

Fig 95 - Linha branca do animal de pelo

6.5.8.1.5 Eviscerado e lavado, o animal estará pronto para a cocção (cozimento)


que poderá ser para consumo imediato ou conservado para uso posterior.
6.5.8.1.6 A pele dos animais poderá ser aproveitada para abrigar, para colher
água ou para proteção. Para isso, deverá ser estaqueada, bem esticada e posta
a secar ao sol ou fogo.
6.5.8.1.7 Aproveite tudo do animal, porém evite comer as vísceras e beber o san-
gue in naturados animais de pelo, principalmente roedores. Dos animais de pelo,
principalmente roedores, não se deve consumir de forma alguma o sangue que
poderá transmitir toxoplasmose. O sangue poderá ser fervido e usado como tem-
pero e complemento calórico após estar totalmente desidratado. A toxoplasmose é
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uma doença causada pelo Toxoplasmagondi, micro-organismo presente na carne
de animais recém abatidos por meio de pequenos cistos (bolinhas brancas) que,
se ingeridas na carne mal preparada, poderá se instalar no organismo humano.
A sintomatologia é caracterizada pela debilidade dos órgãos em que se instala o
micro-organismo: cegueira na manifestação ocular, debilidade mental na cerebral,
o aborto nas mulheres e até a morte.
6.5.8.1.8 As carnes devem ser muitas bem cozidas ou fritas para reduzir a pos-
sibilidade de transmissão de toxoplasmose. Para tanto, devem ser cortadas em
pequenas espessuras, visando destruir possíveis cistos.Não ponha a carne em
contato direto com o fogo, isso não acelera sua preparação.
6.5.8.1.9 Existem alguns tipos de animais que possuem além de vesícula biliar e
bexiga, glândulas subaxilares que se não forem retiradas corretamente poderão
comprometer a carne e causar doenças. É o caso da Mucura.
6.5.8.1.10 Outros processos para a preparação da caça são:
a) Sapecar: Este processo poderá ser utilizado em animais com pouca quantidade
de pelos ou apenas como processo auxiliar em um animal sumariamente raspado
ou despenado. Do mesmo modo que a ave, o animal é chamuscado no fogo e,
em seguida, é feita a raspagem do pelo com uma faca ou objeto cortante até a
pele ficar esbranquiçada.
b) Fervura: Processo muito utilizado em Caititu, Cutia e Cutiara que tem a pele
consumida. Consiste em jogar água quente em cima do animal e simultaneamente
faz-se a raspagem do pelo até a pele ficar esbranquiçada. Deve-se ter o cuidado
para o couro não encruar (endurecimento da carne devido o resfriamento). Para
tal, deve-se jogar água somente nas partes que serão imediatamente raspadas.
6.5.8.2 Aves
6.5.8.2.1 Codorna, Perdiz, Rolinha, Nhambu, Papagaio, Carcará.
6.5.8.2.2 Abate pelando o pescoço, dando umas batidas para a veia estufar e o
sangue descer mais rápido, após isso corta-se com uma faca segurando o animal
e recolhe-se o sangue. Podeser feita a degola ou decapitação também.
6.5.8.2.3 ,Abatida a ave, estando ainda quente, será fácil a retirada das penas.
Outro processo para depenar é o caseiro, com o emprego de água quente. Pode-
-se ainda retirar as penas juntamente com a pele, através do processo do des-
camisamento, que embora seja um processo rápido causa a perca da pele como
alimento. Neste processo faz-se uma pequena incisão entre a pata e o couro.
Enfia-se neste local um canudo e se sopra energeticamente. A ave ficará cheia
como uma bola. Basta então cortar em qualquer ponto e descamisá-la.
6.5.8.2.4 O processo de envolvê-la no barro é eficiente, porém, demorado. Con-
siste em levar a ave ao fogo envolto em barro. Pelo calor haverá a desidratação
e o tijolo assim obtido, quando partido, liberará a ave sem as penas.
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6.5.8.2.5 Das vísceras poderá ser aproveitados o coração, o fígado e a moela,
sendo que desta pode-se extrair uma pequena quantidade de sal. Para isto, após
bastante picada, é posta a ferver com água e, com a evaporação, restará uma
pequena porção de sal em depósito. A quantidade obtida, embora insuficiente
para salgar a ave, servirá para dar um paladar melhor à carne.
6.5.8.2.6 Das aves se aproveita o sangue para ser consumido ou para se obter
sal.Caso se tenha uma ave pequena como a Rolinha, é preferível fazer uma sopa,
pois renderá mais.
6.5.8.3 Peixes
6.5.8.3.1 Tambaqui, Traíra, Mandi, Cari, Surubim.

Fig 96 - Descamisamento do peixe.

6.5.8.3.2 Abate retirando da água. Pode ser escamado sempre da cauda para
a cabeça, no sentido inverso das escamas. Cortam-se as barbatanas, guelras
e as nadadeiras. Nos peixes que possuem escamas grandes poderá ser feita a
escamação, cortando-se finas fatias ao nível das escamas, sem atingir a carne.
É o caso do Tambaqui.
6.5.8.3.3 Após a utilização de qualquer um dos processos citados, faz-se a evis-
ceração pelo ventre, aproveitando-se as ovas quando for o caso.Se o peixe for
de tamanho médio para pequeno, pode-se assar sem descamisar, escamar ou
mesmo eviscerar.
6.5.8.3.4 Alguns tipos de peixe não possuem escamas e sim couro. Estes logi-
camente não serão escamados, mas podem ser descamisados. Após a retirada
das barbatanas, nadadeiras e guelras, é feita a evisceração. Serão levadas ao

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fogo a fim de preparar o alimento para consumo. Como exemplo de peixe de
couro, temos o Surubim e a Piramutaba. Quando o peixe é pequeno, podemos
fazer a preparação da seguinte forma: coloca-se o peixe envolto em folhas de
bananeira e barro, diretamente no braseiro. Quando o barro endurecer e partir, o
peixe estará pronto para o consumo. Neste processo o peixe pode ser eviscerado
antes ou após a cocção.
6.5.8.3.5 Os peixes de escama pequena, como por exemplo a Sardinha, poderão
ser trinchados, método que consiste em cortar o peixe em pequenas tiras verticais
a fim de se quebrar as espinhas do mesmo, evitando-se um engasgo.
6.5.8.4 Animais da Terra
6.5.8.4.1 Quelônios
a) Abate com pancada na cabeça. Caso o animal a esconda coloca-se o dedo
ou a ponta do facão na cauda para forçar o animal a mostrar a cabeça, que,após
capturada, deverá ser cortada. Outra forma de abatê-lo é deixar o animal cair da
altura do tórax no chão, a fim provocar hemorragia interna por rompimento do
fígado.
b) Podem ser levados inteiros ao fogo utilizando o casco como panela, após o
que, é feita a separação das vísceras. Não é um processo higiênico, uma vez que
as vísceras podem certamente estourar e contaminar a carne.
c) Para separação do cascoapoia o quelônio no chão com o ventre para cima
ebate com o facão nas laterais para separar as duas carapaças.Ainda com o
quelônio na mesma posição, retira-se a carapaça ventral, utilizando-se a mão
puxando por cima e o facão com estocadas por baixo. O mesmo é feito com o
casco dorsal.Após ser liberado, o corpo do quelônio é retirado como um todo de
dentro do casco. Num local com mais visibilidade e apoio, é realizada a evisce-
ração. Isto porque nestes animais o fel e a bexiga ficam bem camuflados junto
ao fígado. Nesta fase deverão ser aproveitados os ovos, quando encontrados, e
é interessante evitar o consumo das vísceras.
6.5.8.4.2 Ofídios
a) Abate batendo com um porrete energeticamente no osso da cabeça.Tanto
as cobras peçonhentas como as não peçonhentas podem ser comidas. Após o
abate, pendurar o ofídio na trave de esfola amarrando-o pouco abaixo da cabeça.
Após isso, fazer duas incisões transversais, uma abaixo da cabeça, outra acima
da cloaca. Em seguida, fazer uma longitudinal, passando pelo ventre ligando os
cortes transversais. Inicia-se o processo da esfola com o auxílio de uma faca e
logo após o descamisamento pela tração. Esses processos devem ser realizados
com a cobra ainda com o sangue quente.
b) Para evisceração faz um corte no seu ventre de cima para baixo. Localiza na

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parte alta um tubo azulado que deve ser puxado de cima para baixo. Dessa forma,
as vísceras sairão como um todo. É importante que durante todas essas fases o
animal esteja bem tracionado.
c) No preparo, que pode ser por cozimento, despreza-se um palmo abaixo da
cabeça e um palmo acima da cloaca. Se o ofídio for pequeno, deverá ser feito o
seguinte procedimento: dobrar a cabeça e a cloaca dele de encontro com o corpo
e cortá-los nestas posições. Não se deve assar a carne da cobra, pois fica muito
dura, é mais aconselhável que se faça um sopão.
d) A cobra deve ser colocada de cabeça para baixo antes de separá-la do corpo
para evitar a contaminação da carne pelo veneno.O couro pode ser utilizado
como utensílio, bastando para isso secá-lo ao sol, retirando a gordura existente
no mesmo.
6.5.8.4.3 Lacertídeos e Jacarés
a) Abate com pancada na cabeça, degola ou decapitação.Não devem ser con-
sumidos lacertídeos que se deixem apanhar com facilidade, pois é provável que
estejam doentes.
b) Nos lacertídeos e jacarés, a carne mais indicada para o consumo é a da cauda.
Ao preparar para o corte, devemos amarrar a boca e tomar cuidado com a cauda,
mesmo depois da morte do animal, pois as contrações musculares e reflexos
poderão gerar surpresas.
c) Após o abate o animal, será colocado na trave de esfola e é realizado a esfola
e o descamisamento do animal. Após isso, faz-se a evisceração e a cocção para
o consumo.
6.5.8.5 Tatu
6.5.8.5.1 O tatu é hospedeiro de doenças, particularmente da leishmaniose, de
maneira que antes de consumi-lo, deve-se observá-los. Caso apresente feridas e/
ou atitudes suspeitas, não deverá ser consumido. Não pelo risco de contágio com
a doença, o que só ocorre por ação do mosquito palha, mas pela probabilidade
da ocorrência de outras doenças.
6.5.8.5.2 Pesquisadores descobriram que em algumas espécies de tatu apre-
sentam a bactéria que causa a hanseníase, também conhecida como doença de
Hansen. Devido a isso, seu consumo deve ser evitado.
6.5.8.5.3 Para preparo, utilizar o método da fervura jogando água quente por
sobre sua carapaça e no ventre, fazendo, simultaneamente, a raspagem até ficar
esbranquiçado.
6.5.8.5.4 Semelhante ao processo anterior pode ser feito o ato de sapecar, por
meio do qual coloca o animal diretamente no fogo, procurando queimar seus

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pelos, fazendo, simultaneamente, a raspagem.
6.5.8.5.5 Após ter seguido um dos processos anteriormente descritos, será feita
a evisceração do animal pelo ventre. Em seguida, será esquartejado e colocado
em uma panela para cozinhar.
6.5.8.6 Gambá
6.5.8.6.1 A preparação deve ser feita de forma idêntica à do tatu com o método da
fervura ou sapecando o animal, fazendo, simultaneamente, a raspagem do pelo.
6.5.8.6.2 Após ter seguido um dos processos anteriormente descritos, será feita
a evisceração do animal pelo ventre. Lembrar de retirar as glândulas odoríferas
do animal que se localizam na sua traseira. Em seguida, será esquartejado e
colocado em uma panela para cozinhar com a folha de juazeiro de preferência,
uma vez que é um vegetal utilizado como antisséptico.
6.5.8.7 Ovos
6.5.8.7.1 Os ovos encontrados também servirão para o consumo e podem ser
preparados de diversas formas.
6.5.8.7.2 Dentre estas, temos:
a) Ovo no espeto: faz-se um pequeno furo em uma das extremidades do ovo,
em seguida introduz-se um espeto previamente aquecido sem atingir a outra
extremidade do ovo. Levá-lo ao fogo e esperar cozinhar. O fato de pré-aquecer
o espeto, destina-se a cauterizar a gema e a clara no momento da introdução do
mesmo, evitando-se que se perca parte do alimento;
b) Ovo na coroa de frade: prepara-se a panela de coroa de frade e colocam-se
os ovos em seu interior levando-a ao fogo;
c) Ovo no barro: envolve-se o ovo em barro argiloso e coloca-se no fogão, quando
o barro desidratar e quebrar, o ovo estará pronto.
6.5.8.8Temperos
- O sal poderá ser encontrado:
a) nas cinzas dos braseiros ou cinzas dos espinhos de coroa de frade, que
possuem pequeno teor salino na sua parte mais branca;
b) na moela das aves, que após picada e fervida até a evaporação da água, por
várias vezes, deixará um pequeno depósito com certo teor de sal;
c) no sangue que posto a ferver até secar também fornecerá sal;
d) na casca dos ovos, quando triturada fornece um pequeno teor de sal; e
e) nos ossos quando postos no fogo e depois triturados.

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6.5.8.9 Conservação dos Alimentos
6.5.8.9.1 Carne
a) Para conservação da carne podem ser feitos os seguintes processos:
1) Salgamento: impede a proliferação dos micróbios. Com esse processo, a
carne dura cerca de 2 a 3 meses. Pode ser usado em carne de boi, peixe e porco.
2) Defumação (secagem usando fumaça): consiste em retirar água dos alimen-
tos. Sem água, não há proliferação de organismos vivos.
3) Mixira: é um processo de conservação da carne que consiste em derreter
a banha do animal em um recipiente: cozinhar a carne separadamente, por fim
mergulhar a carne na banha ainda líquida. Deixar a banha solidificar-se, duração
de um ano ou mais.
4) Moquém: consiste em desidratar a carne pelo calor das chamas, a defumação
é o calor da fumaça.
b) Por um período de um dia ou mais, a carne bastará ser salgada e envolvida em
pano. Para um período de vários dias, as carnes deverão ser cortadas em fatias
de no máximo dois dedos de espessura, e submetidas a uma desidratação, pela
defumação, salga ou moquém.
c) Após a desidratação poderão ser enroladas em panos e enterradas. Isso facili-
tará a conservação. Caso acumule mofo, será necessário apenas raspá-lo antes
do preparo para consumo.
6.5.8.9.2 Carne de Vaca
a) Ingredientes: 1 a 2 kg de peixinho ou paleta, se for esta última, tirar todo o sebo
e gordura possível. Todos os temperos: dois tabletes de Knor de carne, seis folhas
de gelatina incolor ou duas caixinhas de gelatina incolor em pó, duas colheres de
sal de chá, vinagre e um vidro grande ou uma lata inoxidável.
b) Modo de preparo: colocar a carne numa vasilha, depois de bem limpa. Pôr os
temperos costumeiros e deixar a carne quase embebida nos temperos. Deixá-la
no tempero em lugar fresco por 24 h, mexendo de vez em quando, para que ela
fique com tempero firme e bem igual. Colocá-la no vidro e pôr em banho-maria
durante 40 min. Antes de fechar o vidro passar parafina no fundo da tampa e se
for lata, além de passar parafina, também passar fita adesiva. Duração em lugares
frescos: 4 anos, sem necessidade de guardar em geladeira ou freezer.
6.5.8.9.3 Lagarto
a) Ingredientes: 2 a 3 kg de lagarto. Temperos em geral: sal, toucinho defumado,
azeitonas pretas sem caroços, 10 folhas de gelatina ou 3 caixas de gelatina em
pó incolor, três tabletes de Knorde carne.
b) Modo de preparo: semelhante à carne paleta.

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6.5.8.9.4 Carne de Porco
a) Ingredientes: lombo inteiro, temperos em geral.
b) Modo de preparo: temperar. colocar o lobo em banho-maria e fechar enquanto
estiver fervendo. Tempo de fervura 40 min. Fechar com parafina e fita adesiva.
Duração em lugar fresco de 4 anos.
6.5.8.9.5 Carne de Sol
a) Ingredientes: 4 a 5 kg de fraldinha (carne que fica embaixo da costela) ou capa
de filé, 500 g de sal grosso.
b) Modo de preparo: limpar bem a carne, mas não a lavar, colocar numa vasilha
de plástico ou louça. Despejar o sal grosso, deixar assim por uma hora, depois
esfregar o sal de modo que o sal penetre na carne por um período de 12 horas.
Após colocá-los em madeiras de bambu ou madeira afastado a 1,5 m do solo ou
em varais ao relento deve-se colocar depois que o sol se esconda e retirar antes
dele nascer. Durante 30 dias, não deve tomar chuva ou umidade. Depois deste
tempo enrolá-lo como um rolo de fumo e embrulhá-lo em papel celofane. Tempo
de duração indeterminada.
6.5.8.9.5 Ovos
a) Tanto os ovos de aves como os de quelônios podem ser conservados até 30
dias, quando cozidos em água e guardados em salmoura, ou então, depois de
cozidos, esfarelados e postos ao sol, defumados ou moqueados para uma melhor
desidratação.
b) Para obter uma conservaçãodos ovos por cerca de seis meses, pode-se utilizar
um dos processos abaixo:
1) Algodão em rama: embrulhar cada ovo em papel de seda branco ou em papel
de pão. Colocar os ovos com a ponta fina para baixo, numa caixa com algodão
em rama. Alternar-se-á uma camada de ovos e uma de algodão em rama.
2) Na água de cal: 250 g de cal e 4 litros de água. Esta água de cal fica num
vidro de boca larga, pote de barro, louça ou pequeno barril de madeira. O ovo
deverá ficar imerso na água de cal.
6.5.8.9.6 Conservação de Cereais
a) No caso dos cereais, utilizar-se-á uma das técnicas de conservação a seguir:
1) Cereais em latões e tambores: uma lata ou tambor devidamente limpo e
esterilizado, com suas junções e paredes internas impermeabilizadas, cheia de
cereais secos, limpos e selecionados. Com uma vara é socado para diminuir o ar
entre os grãos. Quando completamente cheio, tampa-se o orifício com pedaços
de madeira ou tampa própria e veda-se com cera. Os grãos podem durar cerca
de um ano;

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2) Conservação do feijão com areia: o feijão devidamente seco é colocado em
camadas num recipiente, com areia fina e totalmente seca, cobre-se a camada de
feijão com uma camada igual de areia (utilizar camadas finas), formam-se cama-
das alternadas de feijão e areia até completar o recipiente. A terra de formigueiro
é muito útil para isto por ser seca e de grãos finos e homogêneos. No caso do
feijão, podemos substituir a areia pelo próprio pó do feijão, desde que bem seco.
Os grãos podem durar cerca de um ano;
3) Com gordura de porco: em um recipiente limpo, seco e hermeticamente
fechado, engorduramos as paredes internas com banha de porco derretida, sem
sal. Enchemos completamente com os cereais, de forma a ocupar todo o espaço
e lacramos completamente. A gordura ajudará na conservação dos grãos que
serão conservados por cerca de um ano;
4) Com óleo: cada quilo deve ser revestido com uma pequena quantidade de
qualquer óleo vegetal comestível, de forma que para 1 kg utilizar uma colher de
sopa de óleo. Isto impede o crescimento de insetos nos grãos, porém não impe-
de o broto caso seja plantado. Devem ser guardados em recipientes vedados a
entrada de ar. Tempo de duração 6 meses;
5) A vácuo: colocar os grãos no recipiente sem encher completamente de forma
que sobre 10 cm. Fazer com papel alumínio um pequeno copinho, e acondicionar
em seu interior um pequeno pedaço de algodão com álcool. Colocá-lo sobre os
grãos, atear fogo e lacrar o vidro; e
6) Ácido Bórico: misturar de forma homogênea uma colher de ácido bórico
para cada quilo de grãos e guardar. Não há necessidade de selar o recipiente.
Duração indeterminada.
b) Para todos os processos listados, os cereais a serem armazenados devem
estar secos e limpos,a esterilização é importante.
c) Os processos com óleo ou pela queima de oxigênio, permitem muitos anos de
armazenamento sem perda das propriedades alimentícias e de sabor.
d) Deve-se evitar a incidência do sol, ou outra fonte de luz constante, e umidade.
e) Não deve haver ferrugem no interior do recipiente, caso haja dobras, emendas
e costuras, colocar parafina derretida.
f) A soja é um dos poucos grãos que pode ser armazenado ao natural, sem qual-
quer processo artificial, basta colocá-la em vasilhames ou em sacos eguardar em
lugar seco e ventilado.
6.5.8.9.7 Conservação de Frutas
a) Na conservação das frutas utilize os processos a seguir:
1) Frio: consiste em descascar, descaroçar e cortar as frutas colocando-as cru-
as em um recipiente e cobrindo com líquido quente, que pode ser um xarope ou

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suco. O xarope é feito com açúcar e água, podendo ser substituído por rapadura,
mel. Para obter um xarope fino use 2 xícaras por 4 de água; já o médio, use na
proporção 3 xícaras por 4 de água; e o grosso, 5 xícaras por 4 de água;
2) Quente: consiste em guardar as frutas pré-cozidas nos vidros. Após a
aplicação de qualquer método, aquecer o vasilhame a alta temperatura por um
determinado tempo para matar os micro-organismos que causam a deterioração.
b) No caso de maçã, uva, abacaxi, manga e goiaba, faça:
3) Quente: use xarope fino ou médio, método frio ou quente. Para 1,5 kg de
frutas, use 1 litro. Selecione as frutas, lave-as, descasque-as e corte-as tirando
as sementes. Jogue os pedaços em uma solução de vinagre (2 colheres de sopa
de vinagre para 4 litros de água), deixe por algum tempo (10 a 15 min). Prepare
o xarope, escorra e enxágue os pedaços da fruta.
4) Frio: acondicione os pedaços de fruta no vasilhame até 1 cm da superfície.
Retire qualquer bolha de ar e complete o nível se necessário. Limpe a superfície
do vasilhame e tampe. Coloque em banho-maria, sem que toque nas panelas ou
uns nos outros, e com água acima da tampa. Deixe a água ferver por 20 min para
um vidro de 500 ml ou 30 min para um vidro de 1 litro. Desligue o fogo, ponha
os vidros em lugar livre sobre uma toalha separados uns dos outros e deixe 12
horas em repouso.

6.6 CAÇA
6.6.1 GENERALIDADES
- O ressuprimento na Caatingaserá muito complicado caso não seja possível a
utilização de estradas e trilhas. O sobrevivente, por vezes, não poderá carregar
suprimento para vários dias, pois o peso excessivo desgasta.Por estas razões,
necessita assimilar algumas técnicas de obtenção de alimentos de origem animal
e para adquirir a sua alimentação, deverá estar altamente capacitado, conhecendo
os hábitos e comportamento dos animais, para que possa montar sua armadilha
ou espera.
6.6.2 TÉCNICAS DE CAÇA
6.6.2.1 Método da Espera
- A maior parte dos animais de sangue quente e de pelos são muito cautelosos
e difíceis de apanhar. Será preciso muita habilidade e paciência. O de melhor
resultado é a espera, cujo tipo, altura e comodidade ficarão a critério do caçador.
6.6.2.2 Local
- Os caçadores deverão sempre escolher locais próximos ao local de comedia,
bebedouro e dormitório do animal - o chamado “triângulo do habitat”, ou uma trilha

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utilizada pelo mesmo entre esses locais. Na Caatinga,a caça deverá ser mais
abundante e fácil de ser encontrada nas proximidades de água, pois os bebedouros
são restritos.As áreas mais abertas dificultarão a camuflagem, principalmente nos
períodos secos, onde se aumentará o campo de visão devido à queda das folhas.
6.6.2.3 Direção do Vento
- O caçador deverá construir sua espera segundo a direção do vento, isto é, o
vento deverá levar ao caçador o cheiro da caça, e não o contrário.
6.6.2.4 Silêncio
- O silêncio será fundamental, pois a audição dos animais é apurada, assim
qualquer barulho poderá afugentá-los. Se o caçador quiser seguir uma caça,
poderá fazê-lo, mas terá que caminhar lentamente e com segurança; o vento
terá de soprar, durante todo o tempo da perseguição, no sentido do animal para
o homem. Só deverá avançar quando ele estiver comendo ou olhando para outro
lado que não o do caçador, devendo este permanecer imóvel se o animal levantar
a cabeça em sua direção.
6.6.2.5 Horário
- Os períodos mais recomendáveis para caçar serão entre 4has 6h e entre 18has
21h, ou seja, próximo do amanhecer e após o entardecer.
- A caça noturna geralmente dará bom resultado, pois a maior parte dos animais
se movimenta à noite. A luz de uma lanterna ou de um archote, projetada nos
olhos do animal, torná-lo-á parcialmente cego, o que permitirá maior aproxima-
ção do caçador que, se não possuir arma de fogo, procurará abatê-lo com uma
lança (pau com ponta afiada) ou mesmo com uma paulada. Os chamados “olhos
sem corpo” não deverão perturbar o caçador, pois serão apenas o resultado dos
reflexos da luz nos olhos de aranhas e insetos.
6.6.2.6 Comportamento dos Animais
6.6.2.6.1 É importante conhecer o hábito dos animais (diurno ou noturno) e procurar
saber seus principais comportamentos, pois facilitará sua caçada.
6.6.2.6.2 Animais de grande porte, quando feridos ou quando protegem os fi-
lhotes, são perigosos. Antes da aproximação para recolher a caça abatida, será
conveniente certificar-se bem de que ela esteja realmente morta.
6.6.2.6.3 Rãs existirão de todos os tamanhos; à noite, na beira das águas, poderão
ser pegas com as mãos, após focá-las com lanternas ou archote; de dia, com um
caniço fino, espetando-as. Não devem ser confundidas com os sapos venenosos
(Ver também item 6.5.6)
6.6.2.6.4 Cobras também serão comestíveis, para pegá-las, poderá ser usada
uma vara comprida com forquilha na ponta, com a qual se prenderá o “pescoço”
do ofídio, matando-o em seguida com uma pancada na cabeça, de preferência,
a fim de economizar munição.Lagartos também poderão ser laçados ou fisgados
com vara.
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6.6.2.6.5 Tartarugas vivem na água, mas costumam vir à terra, quando, então,
serão presas fáceis. Após capturadas, deverão ser viradas de pernas para o ar,
em lugares onde não haja pontos de apoio que permitam que se desvirem por si.
Será necessário, apenas, ter cuidado com a boca e as garras do animal. Quando
elas fugirem para a água, irão esconder-se pousando na areia do fundo; neste
momento, poderão ser fisgadas ou arpoadas. Até com anzol, tendo comoisca
pedaços de palmito, poder-se-á pegá-las. Existem várias espécies de tartaruga;
tracajá e viração são as mais encontradas, sendo a segundade grande porte,
somente encontrada em grandes rios ou lagos, onde existem boas praias.
6.6.2.6.6 O Jabuti, chamado “a tartaruga do seco”, aprecia toda e qualquer varie-
dade de frutas, além de comer ervas e carnes. Costuma viver em troncos ocos
de árvores caídas. Para caçá-lo, bastará fazer fogo em uma das bocas do tronco,
ou fustigá-lo com uma vara comprida. Não morde, nem arranha.
6.6.2.6.7 Os pássaros não deverão ser desprezados como futuros alimentos.
Para caçá-los, a melhor arma será a atiradeira (bodoque, baladeira, lançadeira,
estilingue), pois não valerá à pena gastar munição. Aves grandes, como Mutum,
Jacu, Jacamim, Uru, Nhambu, poderão ser caçadas a tiro ou por meio de arapucas.
Serão encontradas, normalmente, nas árvores frutíferas, próximas das águas.
Seus ninhos, quando encontrados, poderão fornecer ovos, todos eles comestíveis.
6.6.2.6.8 As trilhas serão os caminhos normais percorridos pelos animais da Ca-
atinga. Sobre o solo deverão ser procurados roedores,porcos-do-mato, veados,
tatus etc. Onças, gatos-maracajás e jaguatiricas raramente serão avistados,
mas, se o forem, fornecerão também caça para alimentação. Nas árvores serão
procurados macacos, morcegos, esquilos, quatis e ratos.
6.6.3 ARMADILHAS
- Armadilhas são artifícios empregados pelo homem para caçar, abater ou capturar
animais utilizando meios disponíveis.O ambiente de Caatinga apresenta limitações
de materiais,o que dificulta a construção de armadilhas mais robustas e grandes
estruturas, pela escassez de árvores retilíneas e de grande porte. Estas limita-
ções nos levam a confeccionar armadilhas de caça mais voltadas para animais
de pequeno e médio porte.
6.6.3.1 Regras para a Construção de Armadilhas
- Algumas regras devem ser seguidas para se obterem maiores resultados:
6.6.3.1.1 As armadilhas deverão ser montadas em locais de passagem ou perma-
nência da caça e antes do anoitecer, aproveitando-se assim o período claro do dia.
6.6.3.1.2 Utilizar a parte mais estreita da trilha. Caso não haja, canalizar a caça
para o interior da trilha, por meio de túneis, troncos ou cercas.
6.6.3.1.3 Após montada a armadilha, deve-se manter o terreno com seu aspecto
natural (camuflagem), evitando descaracterizá-lo a fim de dificultar a percepção

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por parte do animal. Assim, o material utilizado na confecção da armadilha deve
ser obtido em local diferente ao de sua construção.
6.6.3.1.4 É conveniente macerar folhas de árvores, misturar com água e aplicar a
solução no local da armadilha, visando não permitir que odores estranhos à região
afastem o animal. É interessante também que se utilizem galhos de vegetais do
próprio local na confecção dos açoites, os chamados “açoites-vivos”.
6.6.3.1.5 Os laços deverão ter suas aberturas calculadas para deixar passar a
cabeça do animal, e não o seu corpo. Os de enforcar e suspender terão duas
vantagens: matar rapidamente e colocar a caça fora do alcance de outros animais.
6.6.3.1.6 Toda a equipe na sobrevivência deverá conhecer a localização e não
poderá andar nas trilhas dos animais e, por motivo de segurança, as “áreas de
matar” devem ser evitadas.
6.6.3.2 Fatores de Funcionamento
- Ao construir uma armadilha, deverão ser levados em consideração alguns fatores:
a) Gatilho sensível: o gatilho é a parte da armadilha sobre a qual a caça deve
agir, assim deverá estar de fácil acionamento (“doce”);
b) Isca: deverá ser de acordo com o hábito alimentar do animal que se pretende
capturar (fruto, semente, carne, vísceras); e
c) Consistência: está ligado à proporção e à resistência da armadilha. Para
animais de grande porte, usa-se troncos mais grossos e robustos para prendeê-
-lo com eficácia, por exemplo.
6.6.3.3 Princípios de Acionamento dos Gatilhos
- Os gatilhos, quanto ao princípio de acionamento, poderão ser classificados em
5 tipos:
a) Gatilho de encaixe ou equilíbrio: acionados quando há o desencaixe ou de-
sequilibro do tarugo que sustenta a tenção do açoite ou peso;
b) Gatilho de pressão: acionados quando pressionados;
c) Gatilho de tração: acionados quando há um “puxão”, geralmente de um cordel;
d) Gatilho misto: combina dois dos tipos anteriores mencionados;
e) Gatilho intermediário: situa-se entre dois gatilhos, um onde está a isca e
outro, o gatilho principal, em geral de uma arma de fogo, fazendo o acionamento
deste último.

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6.6.3.4 Principais Tipos de Gatilhos
6.6.3.4.1 “H” Simples
- É um gatilho de tração e recebe este nome pelo seu formato: duas traves fixas na
vertical e uma horizontal. O cordel de tropeço fica ao longo da trilha e é amarrado
a uma trave móvel.Esta trave móvel é o que retém o tarugo ligado ao açoite.O
cordel de tropeço pode tanto ficar no sentido perpendicular quanto longitudinal ao
“H”, o que altera o ponto de sensibilidade do gatilho.Pode ser utilizado também
como gatilho de pressão, ao colocar um estrado sobre a trave móvel.

Fig 97 - Gatilho “H” simples

6.6.3.4.2 “H” Duplo


- Tem seu acionamento por tração e é similar ao “H” simples, tanto no funciona-
mento quanto na confecção, porém possui duas na horizontal.

Fig 98 - Gatilho “H” duplo

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6.6.3.4.3 “H 11”
- Assemelha-se ao “H” simples em sua fotografia, porém a trave horizontal é
apenas encaixada em duas forquilhas verticais em formato de número “1”. É
relativamente mais simples de confeccionar, mas com menor consistência. Seu
acionamento se dá por tração, pressão ou encaixe.

Fig 99 - Gatilho “H 11”

6.6.3.4.4 “V” Invertido


- Também é similar ao “H” simples no tocante ao acionamento. Entretanto, sua
estrutura é feita utilizando uma forquilha, ao invés de traves de madeira.

Fig 100 - Gatilho “V” invertido

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6.6.3.4.5 Unha-de-Gato
- Utiliza-se dois âmagos pequenos, onde será talhada em uma das pontas de cada
âmago uma espécie de gancho assemelhando-se a “unha de gato”. A tensão no
cordel é o que mantém a estabilidade (equilíbrio) da unha de gato.

Fig 101 - Formato dos tarugos da Unha-de-gato, à cima, e Gatilho Unha-de-gato, abaixo

6.6.3.4.6 Em Quatro
- É composto por 3 traves de madeira,uma na vertical, uma na horizontal e uma na
diagonal, fechando o formato do número “4”. A trave vertical deve possuir no seu
topo um corte diagonal, e ao centro um entalhe para permitir o encaixe com trave
horizontal, e vice e versa. A trave horizontal deve possuir ainda, em sua porção
superior, um entalhe na ponta. A trave diagonal encaixa-se na horizontal e vertical.

Fig 102 - Gatilho em Quatro


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6.6.3.4.7 Quatro Invertido
- Uma trave fixa com dois entalhes similares a uma unha de gato, uma trave
móvel com dois entalhes que está amarrada a um cordel de tropeço e um tarugo
ligado a um açoite.

Fig 103 - Gatilho Quatro Invertido

6.6.3.5 Principais Tipos de Armadilhas


6.6.3.5.1 Chiqueiro
- São armadilhas para pegar onça ou gato-maracajá. Quando destinadas à pri-
meira, não haverá necessidade de serem assoalhadas, mas para o segundo sim,
com madeira dura. Quando para onça, deverá ter um outro compartimento na
parte de trás, onde será colocada a isca (qualquer animal vivo); quando para o
gato-maracajá, não haverá necessidade desse compartimento, pois a isca será
carne, vísceras ou peixe. O importante nessa armadilha será o gatilho que a
fará funcionar, composto de madeiras e cipós, e cuja construção dependerá da
habilidade do caçador.

Fig 104 - Chiqueiro

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6.6.3.5.2 Mundéu
- Muito empregados para pegar tatus, baseiam-se no peso do próprio tronco ou
pedra que quando cai por desarme do gatilho, atingirá o animal. Serão construídos
sobre as trilhas ou próximos às tocas, e não precisarão de isca. Quando associados
a um laço, poderão apanhar animais maiores. Para evitar o rolamento, pode-se
calçar os pés do tronco com pedras.

Fig 105 - Mundéu

6.6.3.5.3 Arapuca
- Consiste em uma armação de pares de gravetos colocados de forma intercalada
e trançados por cordel. Normalmente usada captura de para aves. Tem seu gatilho
feito a partir de uma forquilha comprida, contornada por um graveto flexível fixo
na parte de baixo pelo estrado.

Fig 106 - Arapuca armada, à esquerda, e esquema do gatilho, à direita

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6.6.3.5.4 Fosso
- Cava-se um buraco fundo no solo e cobre-se o mesmo com gravetos e folhas de
forma a camuflá-lo ao terreno adjacente. No seu interior são colocadas estacas
ou cactáceos. A consistência é obtida de acordo com o tamanho da caça.

Fig 107 - Fosso

6.6.3.5.5 Fojo ou Alçapão


- Similar ao fosso. Possui uma tampa móvel feita de madeira ou lata que permite
a entrada do animal e impede a sua saída. Comumente utilizado para apanha de
pequenos roedores.

Fig 108 - Tampa móvel do fojo

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6.6.3.5.6 Esparrela
- Usada para captura de pássaros. Deve possuir um entalhe em uma das pontas
do “Y” da forquilha. Um tarugo vindo do açoite prende a forquilha no tronco da
árvore. Deve ser confeccionado um estrado no “V” da forquilha para colocação
da isca e um laço preso no cordel do açoite. Pode-se ainda colocar a seiva da
Favela de Galinha, que é colante, para fixar o pássaro.

Fig 109 - Esparrela

6.6.3.5.7 Laços
- Grande será a variedade de laços nos quais se colocarão, ou não, iscas, de
acordo com a caça pretendida.

Fig 110 - Exemplo de armadilha feita com laço

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Fig 111 - Outro esquema de armadilha feita com laço

6.6.3.5.8 Quebra-cabeça
- Fixa-se um lado de um açoite ao solo com uma forquilha ou pedras, e do outro
estende-se um cordel fixo a um gatilho. A tensão do açoite liberada abate a caça,
agindo como se fosse um chicote. Pode ser colocado uma estaca na ponta para
aumentar sua efetividade.

Fig 112 - Quebra-cabeça, à esquerda, e esquema do seu gatilho, à direita

6.6.3.5.9 Armadilhas com Arma de Fogo


- A arma a empregar poderá ser uma pistola, revólver, espingarda de caça etc. A
pontaria deverá ser amarrada de acordo com a altura provável da vítima e sobre a
trilha; praticamente, as seguintes medidas são adotadas: uma chave (um palmo),
para paca; antebraço-mão, para veado; e braço-pé, para anta. O gatilho (não o
da arma) será disparado quando o animal topar com uma das patas no cordel de
tropeço distendido sobre a trilha.

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Fig 113 - Armadilha utilizado pistola

Fig 114 - Da esquerda para a direita, as medidas: “chave”, “antebraço-mão” e “braço-pé”

6.7 PESCA
6.7.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
6.7.1.1 No Semiárido a pesca terápor vezes seu uso restrito apenas aos grandes
rios ou aos lagos e lagoas perenes, uma vez que no período da estiagem muitos
riachos, brejos, barreiros secam e desaparecem. Tal fato não deve diminuir a
importância das técnicas de pesca, pois o sobrevivente deve estar em condições
de usá-las caso surja uma oportunidade.
6.7.1.2 Não há normas que sirvam para distinguir os peixes desejáveis dos in-
desejáveis para a alimentação; uns terão a carne mais dura, outros, mais tenra;
uns possuirão mais espinhas que outros; os de uma mesma espécie, às vezes,
diferem entre si, devido ao local em que vivem e à alimentação que conseguem.
O certo é que o cozimento os tornará todos iguais, em termos de alimentação.
Apenas suas vísceras, quando se tratar de peixe desconhecido, não deverão ser
aproveitadas para comida, apenas para isca.

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6.7.1.3 Os melhores locais para pescar são os poços profundos, ao pé das ca-
choeiras, no final das corredeiras rápidas ou entre rochedos. Em correntes muito
velozes, os peixes costumam se chegar mais para as margens.
6.7.1.4 À noite, a pescaria poderá tornar-se mais produtiva que de dia, caso se
disponha de lanternas ou archotes, ocasião em que, até com pauladas ou varas
pontiagudas, será possível matar os peixes.
6.7.1.5 Pescar dependerá, às vezes, de paciência; por isso, deverão ser tentadas
todas as águas, profundas e rasas, rápidas, vagarosas e estacionárias, claras e
turvas, utilizando-se vários tipos de iscas nos vários materiais para pesca.
6.7.1.6 Os peixes mais comumente encontrados na água doce serão os bagres, os
mandis, as piranhas, os baiacus e as arraias, entre aqueles que poderão oferecer
mais periculosidade, quer devido à ferocidade, quer aos sistemas de defesa que
possuem. Os que regionalmente são mais apreciados são o Tucunaré, a Pes-
cada, a Traíra, o Tambaqui, o Pirarucu (bacalhau brasileiro), o Pacu, o Acará, o
Jaraqui, o Matrinchã, a Pirapitinga, o Surubim e vários outros encontrados nos
cursos de água.
6.7.2 ISCAS, ANZÓIS E LINHAS
6.7.2.1 O material mais prático para se usar em pescaria será a linha com anzol.
6.7.2.2 Como iscas, poderão ser usados insetos, minhocas, carnes e vísceras de
quaisquer animais. Caso se consiga descobrir o que comem os peixes no local em
que se está, a pescaria será mais fácil. Iscas artificiais poderão ser confeccionadas
com pedaços de pano coloridos, com penas de cores vivas, com fragmentos de
algum metal brilhante ou com pequenos objetos.
6.7.2.3 Anzóis poderão ser improvisados, assim, poderão ser confeccionados
anzóis de osso e de prego, anzóis de espeto de madeira e anzóis de madeira.

Fig 115 - Diversos tipos de anzóis improvisados usando objetos metálicos e ossos

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Fig 116 - Anzol de espeto de madeira

Fig 117 - Anzóis improvisados de madeira

6.7.2.4 As melhores linhas serão as de nylon e barbante; também poderão ser


improvisadas de fibra de Caroá trançado, de tecimento de fios tirados de um pano,
pedaços de arame, enfim, daquilo que a imaginação e habilidade condicionarem
fazer.
6.7.2.5 Se os peixes se mostrarem indiferentes a todos esses artifícios, o melhor
será fisgá-los com varas compridas e pontiagudas, ou procurar encravar o próprio
anzol nos seus corpos, quando passarem perto.
6.7.3 ARMADILHAS PARA PESCA
6.7.3.1 Outro material muito aconselhável para pescaria será a rede, inclusive a
de dormir, de malha de camarão, que poderá ser armada como que interceptando
um curso de água raso e de pouca correnteza, ficando com uma borda afundada

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por meio de pesos e a outra à superfície, flutuando, enquanto as duas alças serão
afixadas por cipós; será uma espécie de “rede guelras”.
6.7.3.2 Para atordoar os peixes será possível jogar bombas tipo “cabeça-de-negro”
em um remanso ou em uma curva de riacho.
6.7.3.3 Outras armadilhas, conhecidas pelo nome de curral, poderão ser constru-
ídas e serão bastante vantajosas, pois nelas os peixes entrarão e permanecerão,
às vezes, em grande quantidade e variedade. A construção de um curral dependerá
de um estudo do local.
6.7.3.4 Apesar de não serem peixes, mas sáurios, os jacarés também poderão
ser apanhados, após atraídos e mortos, de preferência com tiros na cabeça. A
isca a empregar será carne putrefata. Daí o cuidado quanto ao destino a ser dado
à carne não aproveitada na alimentação.

Fig 118 -Exemplo de curral para peixes

Fig 119 - Armadilha para peixe (Este tipo é um verdadeiro “curral”)

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CAPÍTULO VII
TRATO COM O SERTANEJO

7.1 GENERALIDADES
7.1.1 Com mais de 49 milhões de habitantes, o Nordeste é a segunda região mais
populosa do Brasil. A distribuição da população se dá de forma muito irregular. A
ZONA DA MATA NORDESTINA foi a primeira área do Brasil a ser povoada. Isso
aconteceu ainda no século XVI, e o povoamento teve como base a monocultura
da cana-de-açúcar. Os portugueses que vinham recebiam da metrópole grandes
extensões de terra para serem cultivadas. Foi aí que surgiram os latifúndios, cuja
mão-de-obra era de escravos trazidos da África. Apesar de a cana-de-açúcar
trazer grandes lucros, tal cultivo não trouxe enriquecimento para o Brasil.
7.1.2 O elemento humano predominante na Zona da Mata, região mais populosa,
é o mulato, que é um mestiço de branco com o negro.
7.1.3 O AGRESTE foi povoado depois da Zona da Mata e do Sertão, principalmen-
te no século XVIII, com base na pequena propriedade. Esta sub-região também
apresenta densidades demográficas relativamente elevadas, por ser uma zona
de pequenas propriedades, exploradas com mão-de-obra familiar.
7.1.4 O povoamento do SERTÃO foi realizado no século XVII com base na criação
de gado e na agricultura de subsistência, também formando grandes latifúndios.
Com o passar do tempo, foram surgindo os minifúndios, pequenos imóveis rurais
onde era praticada a agricultura de subsistência. Hoje em dia a maior parte da
população rural do sertão vive em minifúndios.
7.1.5 O Sertão possui as mais baixas densidades demográficas de todo o Nor-
deste. Esse fato se dá em consequência do clima semiárido, de solos pobres e
da existência de latifúndio pastoril, que exige pouca mão-de-obra.
7.1.6 O elemento humano característico do Sertão – o Sertanejo – é mestiço de
branco com índio e é denominado mameluco ou caboclo.
7.1.7 Existe uma grande possibilidade de um indivíduo que se encontre no semiá-
rido nordestino tenha contato com o sertanejo que vive na Caatinga. Dessa forma,
é importante que qualquer um que esteja nesta região conheça as caraterísticas
do sertanejo e como é a melhor forma de tratar este habitante local.
7.1.8 Assim, além de ajudar um sobrevivente neste ambiente, possibilita o melhor
cumprimento das operações militares.

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Fig 120 - Sertanejo

7.2 CARACTERÍSTICAS DO SERTANEJO


- O sertanejo possui as seguintes características:
a) simplicidade;
b) hospitalidade;
c) solicitude;
d) credulidade;
e) respeito às autoridades;
f) coragem;
g) rusticidade;
h) religiosidade excessiva e tendência ao fanatismo;
i) rancor (quando ofendido); e
j) elevado sentimento de honra (se agrava quando envolve a família, particular-
mente as mulheres).

7.3 PROCEDIMENTOS COM O SERTANEJO


- No trato com o sertanejo devem ser adotadas as posturas e atitudes conforme
se segue:
a) atitudes firmes, sem ser arbitrário;

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b) não demonstrar fraqueza;
c) postura de imparcialidade diante dos problemas políticos–partidários locais;
d) respeito à fé religiosa;
e) respeito à sua família, em particular às mulheres;
f) agir sempre em nome da lei e da ordem;
g) mostrar autoridade;
h) perguntar sem insinuar resposta;
i) mostrar generosidade;
j) demonstrar confiança; e
k) não denegrir o seu modo rude de pensar.

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COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES


Brasília, DF, 25 de junho de 2021
https://portaldopreparo.eb.mil.br

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