Você está na página 1de 244

EB70-CI-11.

438

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES

CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NO PANTANAL

Edição Experimental
2020
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438

MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES

CADERNO DE INSTRUÇÃO
SOBREVIVÊNCIA NO PANTANAL

Edição Experimental
2020
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438

PORTARIA Nº 115 - COTER, DE 14 DE SETEMBRO DE 2020.


EB: 64322.014352/2020-44

Aprova o Caderno de Instrução Sobre-


vivência no Pantanal (EB70-CI-11.438),
Edição Experimental, 2020 e dá outras
providências.

O COMANDANTE DE OPERAÇÕES TERRESTRES, no uso da


atribuição que lhe confere o inciso II do Art. 10 do Regulamento do Comando de
Operações Terrestres (EB10-R- 06.001), aprovado pela Portaria do Comandante
do Exército n° 914, de 24 de junho de 2019, e de acordo com o que estabelece
os Art. 5°, 12° e 44° das Instruções Gerais para as Publicações Padronizadas do
Exército (EB10-IG-01.002), aprovadas pela Portaria do Comandante do Exército
n° 770, de 7 de dezembro de 2011, e alteradas pela Portaria do Comandante do
Exército n° 1.266, de 11 de dezembro de 2013, resolve:
Art. 1º Aprovar o Caderno de Instrução Sobrevivência no Pantanal (EB70-
CI-11.438) , Edição Experimental, 2020, que com esta baixa.

Art. 2º Determinar que esta Portaria entre em vigor na data de sua


publicação.

Gen Ex JOSÉ LUIZ DIAS FREITAS


Comandante de Operações Terrestres

(Publicada no Boletim do Exército nº 38 de 18 de setembro de 2020)


EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438

FOLHA REGISTRO DE MODIFICAÇÕES (FRM)

NÚMERO ATO DE PÁGINAS


DATA
DE ORDEM APROVAÇÃO AFETADAS
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438
ÍNDICE DOS ASSUNTOS
Pag

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
1.1. Finalidade.............................................................................................. 1-1
1.2. Considerações Iniciais.......................................................................... 1-2
1.3. Abrangência......................................................................................... 1-2

CAPÍTULO II - ÁREAS DO PANTANAL


2.1. Considerações Gerais ......................................................................... 2-1
2.2. Aspectos Fisiográficos......................................................................... 2-1
2.3. Aspectos Psicossociais........................................................................ 2-17
2.4. Aspectos Políticos................................................................................ 2-18
2.5. Aspectos Econômios............................................................................ 2-18
2.6. Aspectos Militares................................................................................ 2-19

CAPÍTULO III - FAUNA E FLORA


3.1. Flora..................................................................................................... 3-1
3.2. Fauna................................................................................................... 3-11

CAPÍTULO IV - NOÇÕES DE SOBREVIVÊNCIA


4.1. Noções Básicas de Sobrevivência....................................................... 4-1
4.2. Rastreamento Animal........................................................................... 4-4
4.3. Tiro de Caça......................................................................................... 4-9
4.4. Obtenção do Pescado.......................................................................... 4-13
4.5. Armadilhas de Caça e Pesca................................................................. 4-20
4.6. Formas de Preparo do Alimento de Origem Animal................................ 4-29
4.7. Obtenção de Água e Fogo................................................................... 4-35
4.8. Abrigos................................................................................................. 4-38
4.9. Pernoite Isolado................................................................................... 4-43
4.10. Peconha............................................................................................. 4-44
4.11. Considerações da Área de Sobrevivência........................................... 4-45
EB70-CI-11.438
4.12. Uso da faca e do facão....................................................................... 4-46

CAPÍTULO V - TÉCNICAS ESPECIAIS


5.1. Resgate de Afogados.......................................................................... 5-1
5.2. Evacuação e Naufrágio....................................................................... 5-4
5.3. Embarcações e Motores de Popa....................................................... 5-5
5.4. Transposição de Obstáculos Aquáticos............................................ 5-16
5.5. Orientação, Navegação e Sinalização................................................ 5-21

CAPÍTULO VI – CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS


6.1 Generalidades ….................................................................................. 6-1
6.2 Conservação da Saúde ….................................................................... 6-1
6.3 Primeiros Socorros …........................................................................... 6-11

CAPÍTULO VII – POVOS INDÍGENAS DO PANTANAL


7.1 Generalidades....................................................................................... 7-1
7.2 Características dos Indígenas.............................................................. 7-1
7.3 Procedimentos no Trato com os Indígenas.......................................... 7-3
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO

1.1 FINALIDADE
- Esse Caderno de Instrução destina-se ao aprendizado de técnicas e formas
básicas de sobrevivência, inseridas no complexo ambiente operacional do Pan-
tanal. Visa ainda fornecer subsídios que auxiliem no planejamento e na execução
das diversas tarefas de um indivíduo ou grupo, exaltando as peculiaridades do
ambiente operacional e sua influência nos recursos humanos, materiais e doutri-
na de emprego.

1.2 CONSIDERAÇÕES INICIAIS


- A presente publicação apresenta a concepção geral da atividade de sobre-
vivência em um ambiente singular do Brasil: o Pantanal. Com a delimitação dos
aspectos fisiográficos dessa região, tornou-se possível o foco no ensino de técni-
cas, formas de distribuição e execução de atividades e tarefas fundamentais ao
êxito de um indivíduo ou grupo em situação de sobrevivência.

1.3 ABRANGÊNCIA
- A elaboração desse Caderno de Instrução tomou como referência publicações
que tratam do assunto de natureza semelhante, produzidos na esfera civil e do
Ministério da Defesa (MD), buscando-se assegurar a harmonia e o alinhamento
dos procedimentos a serem adotados em situação de sobrevivência.

1-1
EB70-CI-11.438

1-2
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO II
ÁREAS DO PANTANAL

2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS


2.1.1 Como características gerais do ambiente pantaneiro, pode-se destacar que
o Pantanal é um ecossistema com cerca de 150.000 km² de extensão, situado
no sul de Mato Grosso e no oeste de Mato Grosso do Sul, além de também
englobar o norte do Paraguai e o leste da Bolívia. A região é uma planície fluvial
influenciada por rios que drenam a bacia do Alto Paraguai. O Rio Paraguai e
seus afluentes percorrem o Pantanal formando extensas áreas inundadas que
abrigam uma fauna e flora de rara diversidade.
2.1.2 O Pantanal é influenciado por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado,
Chaco e Mata Atlântica. Devido à relevância da preservação ambiental, é grande
a necessidade de se preservar e guardar essa rica região do território nacional.
Além disso, deve ser considerada também a sua riqueza, tanto em recursos mi-
nerais, como em biodiversidade.
2.2.3 Localizado na parte central da América do Sul, ocupa grande parte da Re-
gião Centro-Oeste do Brasil.
2.1.4 Os conceitos aqui emitidos são relativos à região definida como Pantanal,
não sendo abordados procedimentos para as áreas de campos, cerrados e sel-
vas, existentes nos dois estados que abrangem o bioma pantaneiro.

2.2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS


2.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
2.2.1.1 O Pantanal é a maior planície inundável do planeta e abrange por-
ções territoriais de três países:
a) Brasil (porção centro-oeste);
b) Bolívia (a leste); e
c) Paraguai (a norte).
2.2.1.2 O Pantanal brasileiro é delimitado por quatro acidentes geográficos
distintos:
a) ao norte pela Serra dos Parecis (MT);
b) ao sul pelo Rio Apa (MS);
c) a leste pelas alturas do Planalto Brasileiro, com destaque para as Serras de

2-1
EB70-CI-11.438
São Francisco (MT) e Maracaju (MS); e
d) a oeste/sudoeste pela fronteira com a Bolívia e o Paraguai (Fig 1).

Fig 1 - Delimitação do Pantanal.

2-2
EB70-CI-11.438
2.2.1.3 A seguir são listados alguns termos empregados nas áreas ribeiri-
nhas
2.2.1.3.1 Baía: lagoas temporárias ou permanentes, que podem apresentar di-
versas espécies de plantas aquáticas (Fig 2).

Fig 2 – Baía

2.2.1.3.2 Carandazal: campos inundáveis com dominância de carandá (palmá-


cea típica, muito utilizada pelos ribeirinhos para construção de casas e atraca-
douros - Fig 3).

Fig 3 - Carandazal.

2-3
EB70-CI-11.438
2.2.1.3.3 Corixos: curso d’água de fluxo estacional, com calha definida, geral-
mente com mata ciliar, que durante o período de seca, não têm a sua boca
fechada (Fig 4).

Fig 4 - Corixo.

2.2.1.3.4 Salinas: lagoas com água salobra, sem cobertura de plantas aquáticas,
mas com grande densidade de algas, o que confere a cor verde à água (Fig 5).

Fig 5 - Salinas.

2-4
EB70-CI-11.438
2.2.1.3.5 Banzeiros: pequenas ondulações na superfície das águas, provocadas
por embarcações em movimento (Fig 6).

Fig 6 - Banzeiro.

2.2.1.3.6 Vazantes: curso d’água temporário, amplo, sem calha definida. No pe-
ríodo seco é coberto por gramíneas (Fig 7).

Fig 7 - Vazante.

2.2.1.3.7 Repiquete: enchente rápida e passageira, normalmente proveniente de


grandes chuvas (Fig 8).

2-5
EB70-CI-11.438

Fig 8 – Repiquete.

2.2.1.3.8 Furo: canal que une entre si duas lagoas ou uma lagoa a um rio (Fig 9).

Fig 9 – Furo.

2.2.1.3.9 Remanso: correnteza com movimento circular que pode formar ensea-
da, tornando-se um bom lugar para pescar (Fig 10).

Fig 10 – Remanso.

2-6
EB70-CI-11.438
2.2.1.3.10 Dequada: fenômeno de deterioração da qualidade da água (falta de
oxigênio), levando a uma grande mortandade de peixes (Fig 11).

Fig 11 – Dequada.

2.2.1.3.11 Termos populares empregados no ambiente pantaneiro:


a) Baceiro: vegetação das margens que desce os rios na cheia, levando junto
a superfície do solo podendo, inclusive, levar árvores de médio porte, similar a
ilhas flutuantes.
b) Braço ou bracinho: pequeno afluente do rio principal, que durante o período
de seca, tem a sua boca fechada.
c) Camalote: vegetação aquática típica da região, conhecida também, como ba-
ronesa ou jiboia, que desce o rio durante o período das cheias.
d) Empurrador: embarcações que empurram chatas de grande porte em com-
boio.
e) Estirão: grande trecho do rio em linha reta.
f) Friagem: quedas bruscas de temperaturas, causadas por massas de ar frio,
originárias da Antártica, que se deslocam para o norte, em movimento paralelo
à Cordilheiras dos Andes.
g) Porto: qualquer conjunto de casas ou fazenda nas margens, ao longo do rio,
que permitam a atracação, abarrancamento ou abicagem de embarcação.
2.2.1.4 Diversos trabalhos foram realizados, e a maioria desses chegou à con-
clusão que o ambiente pantaneiro pode ser dividido em sub-regiões, com base
em fatores como inundação, relevo, solo e vegetação.

2-7
EB70-CI-11.438
2.2.1.5 O Exército adota atualmente, a classificação do Pantanal em 11 (onze)
sub-regiões (Fig 12).

Fig 12 - Sub-regiões do Pantanal.

2.2.1.6 Características das sub-regiões e aspectos atinentes ao desenvolvi-


mento das atividades militares
2.2.1.6.1 Pantanal de Cáceres:
a) Compõe a Bacia do Alto Rio Paraguai e apresenta como limites, ao norte, uma
linha imaginária que cruza a própria cidade de Cáceres/MT; ao sul, as lagoas
Uberaba e Gaíba e a zona do Caracará, no limite com o Pantanal de Poconé, na

2-8
EB70-CI-11.438
junção dos Rios Cuiabá e Paraguai; a leste, o rio Paraguai; e a oeste, as flores-
tas da fronteira boliviana.
- A vegetação é tipicamente de savana (que predomina em extensão) e campo,
muitas vezes com adensamento acentuado do estrato lenhoso da savana. Po-
rém, também apresenta uma mata pluvial tropical, com exemplares da Amazô-
nia, num prenúncio da proximidade da região supracitada. Os solos do Pantanal
de Cáceres são argilosos, siltosos e arenosos, prevalecendo em área, o último
tipo. As espécies arbustivas e arbóreas de savana são as mesmas de outras
sub-regiões, destacando-se o pequi (Caryocar brasiliense), a canjiqueira (Bry-
sonima intermédia), o pateiro (Couepia uiti), a sucupira (Bowdichia virgilioides),
entre outras. A vegetação de campo apresenta como espécies dominantes o
capim-mimoso (Axonopus purpusii) e Reimorochloa brasiliensis.
b) Aspectos militares: devido às cheias, que acontecem durante o verão, o em-
prego de embarcações fica restrito a essa época do ano. Poucas áreas apresen-
tam inundações, existindo boa malha viária, facilitando o emprego de viaturas
ao longo de todo o ano. As regiões com vegetações de grande porte permitem a
camuflagem de grandes efetivos.
- A permeabilidade é satisfatória, pois existe boa quantidade de fazendas servi-
das por estradas de terra.
2.2.1.6.2 Pantanal de Poconé:
a) Compõe a calha do Rio Poconé (zona entre os Rios Paraguai e Cuiabá). O
Pantanal de Poconé limita-se, ao norte com a própria cidade de Poconé/MT,
zona mais alta de savana; ao sul com o Rio São Lourenço, no limite com o Pan-
tanal de Paiaguás; ao leste com o Pantanal de Barão de Melgaço; e a oeste com
o Rio Paraguai.
- A vegetação mostra charcos imensos, repletos de ciperáceas e juncáceas, além
de campos, savanas e florestas. Elementos da vegetação amazônica ocorrem
em menor frequência do que o registrado para o Pantanal de Cáceres. Contudo,
é possível encontrar belas formas de vitória régia amazônica (Nymphaeaceae)
flutuando em meandros do Rio Cuiabá e cercanias da estrada Transpantanei-
ra. Os campos são compostos por campos sujos e, em menor proporção, por
campos limpos. O estrato lenhoso das savanas dessa região é muito denso, o
que implica em menores extensões de área útil de pastagem. Matas ciliares são
observadas ao longo do Rio Cuiabá. Uma espécie arbórea muito abundante na
área é a piúva (Tabebuia impetiginosa e Bignoniaceae ou Tabebuia avellane-
dae).
- O solo é essencialmente argiloso. Esse tipo de solo, predominante no Pantanal
de Poconé, ocasiona o surgimento de uma estreita relação ecológica solo-plan-
ta. Uma associação vegetal que ocorre com regular frequência em Poconé é o
cambarazal (Vochysia divergens), secundada pelo gravatal (Bromélia balansae).

2-9
EB70-CI-11.438
b) Aspectos militares: nessa região o uso de embarcações é restrito à calha do
Rio Cuiabá, São Lourenço e Paraguai. Durante os meses iniciais do ano apare-
cem charcos extensos, o que dificulta o movimento a pé.
- A permeabilidade é dificultada, tendo em vista a existência de poucas fazendas,
principalmente na região de savanas e campos. O solo durante a época das chu-
vas dificulta o deslocamento motorizado.
2.2.1.6.3 Pantanal de Barão de Melgaço:
a) Sub-região muito similar ao Pantanal de Paiaguás. O Pantanal de Barão de
Melgaço apresenta como limites, ao norte, uma linha imaginária que cruza a pró-
pria cidade; ao sul, o Pantanal de Paiaguás, ambos separados pelo Rio Piquiri;
a leste, o Planalto Central; e a oeste, o Pantanal de Poconé, com o Rio Cuiabá
como divisor de águas.
- Apresenta extensas áreas de campos baixos inundáveis, com solo argiloso,
infestadas por capim amoroso. As pastagens são assentadas sobre solos argi-
losos e arenosos, que formam imensos retalhos nessa região. O substrato are-
noso predomina em extensão. O Rio Piquiri o separa do Pantanal de Paiaguás.
Ainda abrange a calha do Rio São Lourenço (zona entre os Rios Cuiabá e Cor-
rentes). A vegetação é bastante semelhante àquela do Pantanal de Paiaguás,
predominando a savana sobre o campo, em extensão.
- O sobrevoo mostra várias paisagens. Uma delas constituída por vastos cam-
pos finos nas intermediações do Rio São Lourenço, alternando essa paisagem
com imensas áreas de cerradão. As áreas recobertas por vegetação de savana
apresentam trechos extensos infestados pelo capim-rabo-de-burro (Andropogon
bicornis).
b) Aspectos militares: pela característica diversificada de solo, áreas inundáveis
e matas, o emprego de viaturas é satisfatório, sendo necessário o amplo apoio
da equipe de logística e manutenção, devido ao desgaste prematuro das rodas,
amortecedores e tração. O emprego do cavalo pantaneiro é uma alternativa, pois
o casco é muito resistente à umidade.
- A operação a pé deve ser bem monitorada pelo Cmt, tendo em vista o desgaste
provocado pelo terreno e intempéries.
2.2.1.6.4 Pantanal do Paiaguás:
a) Compõe a calha do Rio Paiaguás (zona entre os Rios Correntes e Taquari).
A vegetação dessa sub-região é principalmente do tipo savana. O Pantanal de
Paiaguás apresenta como limites, ao norte, o Pantanal de Barão de Melgaço,
servindo o rio Piquiri como marco divisório entre os dois; ao sul, o Pantanal da
Nhecolândia; a leste, a serra de São Jerônimo, no limite com o Planalto Central;
e a oeste, as florestas dispostas na fronteira Brasil-Bolívia.
- Áreas consideráveis estão recobertas por savana densa, que não alcançam a

2-10
EB70-CI-11.438
configuração de mata, o que aumenta a área de pastagem útil. O estrato herbá-
ceo graminoso e forrageiro dessas áreas de savana adensada (presença maior
de elementos lenhosos), é principalmente composto por capim-mimoso (Axono-
pus purpusii) e capim-bananal (Axonopus compressus). Praticamente não exis-
tem as baías e salinas, sendo substituídas por corixos e corixões.
- Em vista aérea, sobressaem a savana e a savana adensada, pontilhadas por
matas- galeria e campos. Constata-se a existência de solos argilo-siltosos e are-
nosos, com acentuada predominância do segundo tipo. Também se constatam
superfícies de tamanho considerável, apresentando solos argilosos, porém qua-
se sempre próximas a algum manancial hídrico da área (rio, ou charco).
b) Aspectos militares: essa região é própria das criações de gado do Pantanal,
onde a vegetação predominante é o pasto. As áreas mais baixas, ocasionalmen-
te ficam alagadas pela ação das chuvas, não se tornando com isso, obstáculo
para tropa a pé. Ela é bem servida de estradas e fazendas facilitando o apoio lo-
gístico, entretanto a falta de cobertura vegetal dificulta a camuflagem de grandes
instalações. A presença de corixos permite o uso de embarcações de pequeno
porte, porém suas margens não oferecem cobertura para camuflagem.
- O uso de viaturas tracionadas é facilitado, assim como o emprego de cavalos,
com a ressalva dos cuidados, que devem ser observados de forma similar ao
disposto na sub-região anteriormente citada.
2.2.1.6.5 Pantanal da Nhecolândia:
a) Sua zona é limitada pelos Rios Taquari e Negro. Essa sub-região apresenta
como limites ao norte, o Pantanal do Paiaguás, sendo o Rio Taquari o ponto de
referência para a separação; ao sul, as sub-regiões de Abobral e Aquidauana,
tendo o Rio Negro como importante marco divisório; a leste, o Planalto Central,
atingindo o mesmo, através da serra da Alegria e desembocando na rodovia BR-
163, de onde se atinge, quase que de forma equidistante, as cidades de Coxim/
MS e Rio Verde de Mato Grosso/MS; e a oeste, o Rio Paraguai.
- A vista aérea dessa área mostra uma fisionomia bastante típica, caracterizada
por apresentar baías, salinas, campos limpos, bosques e savanas. Uma fisiono-
mia comum é a presença de bosques, com as espécies lenhosas apresentando
ao seu redor pastagens naturais e, imediatamente vizinhas, as baías e as sali-
nas. Essas massas hídricas atuam como bebedouros para o gado.
- Durante a fase mais crítica da estação seca (agosto e setembro), algumas
dessas baías secam ou diminuem consideravelmente seu volume. As baías
apresentam vegetação ao seu redor e em seu interior. Perifericamente, tem-se
a pastagem natural, sobressaindo-se com destaque acentuado, pela frequên-
cia, o capim-mimoso (Axonopus pirpusii) e o capim-mimosinho (Reinarochloa
brasiliensis). A vegetação no interior das baías exibe samambaias pequenas
(Azolla sp., Marsilea polycarpa), chapéu-de-couro (Echinodorus paniculatus), er-

2-11
EB70-CI-11.438
va-lanceta (Sargitaria montevidensis), camalote (Pontederia cordata) e aguapé
(Eichhormia crassipes). Concentrações da palmeira carandá (Copernicia Alba)
surgem com certa frequência nessa sub-região. Nos solos arenosos da Nhe-
colândia destacam-se também, as palmeiras de nome acuri (Attalea phalerata),
bocaiúva (Acrocomia totai) e tucum (Bactris glaucescens). Volumes apreciáveis
de água depositam-se em baixadas, ao longo das rotas que conduzem ao inte-
rior da Nhecolândia.
- Os corixos apresentam em alta frequência, dois tipos de aguapé, Richhornia
spp e Pontederia cordata. Essas espécies ornamentam sobremaneira os cur-
sos d’água da região, com suas grandes e belas flores de tons brancos, azul,
rosa e roxo. Os outros tipos de massas hídricas encontradas na Nhecolândia, e,
também, em outras regiões, são as vazantes e corixos. Outra paisagem carac-
terística é o barreiro. Esse constitui em depressões do terreno, tendo em torno
de 100 a 200 m² de área. O solo é barrento e o gado o lambe, presumivelmente
em busca de sais minerais.
- O Rio mais importante dessa sub-região é o Taquari, que serve como marco
divisório entre a Nhecolândia e o Paiaguás, podendo-se ver ao longo do mesmo
matas-galeria. A vegetação da Nhecolândia mostra frequentemente savanas, em
alternância com massas hídricas do tipo baías e salinas. Algumas associações
vegetais destacam-se na Nhecolândia por sua contínua presença na paisagem.
As principais são o canjiqueiral, o gravatal e o caronal. Os solos do Pantanal
da Nhecolândia são essencialmente arenosos, apresentando textura geralmente
tão fina que lembra aquela ocorrente no litoral. Eventualmente, pode-se encon-
trar manchas de solo siltoso ou argiloso. As savanas e campos da Nhecolândia
assentam-se fundamentalmente sobre uma camada aflorante de areia muito
fina. A riqueza forrageira das savanas e campos da Nhecolândia recai principal-
mente em duas espécies de gramíneas, o capim-mimoso (Axonopus purpusii) e
o capim-mimosinho (Reimarochloa brasiliensis).
b) Aspectos militares: a região é favorável ao deslocamento a pé, entretanto,
pelo solo parecer com areia de praia, produz um desgaste maior. A orientação
é dificultada pela inexistência de pontos nítidos e pela imensidão da região, que
apresenta sempre as mesmas características. A presença de matas, capões e
pequenas baías fornece conforto à tropa que opera na região. A grande quanti-
dade de fazendas possibilita um apoio logístico melhorado, seja por lançamento
de cargas seja pela utilização de aeródromos e até mesmo a utilização de viatu-
ras tracionadas ou cavalos. A areia fina impõe ao material um desgaste prema-
turo, sendo necessária a manutenção constante. A presença de rios pequenos
restringe o uso de embarcações.
2.2.1.6.6 Pantanal do Abobral:
a) Compõe a calha do Rio Abobral (zona entre os Rios Negro e Aquidauana).
Limita-se, ao norte, com a Nhecolândia; ao sul, com os Pantanais de Miranda e

2-12
EB70-CI-11.438
Nabileque; a leste, com o Pantanal de Aquidauana; e a oeste, com o Rio Para-
guai. O Abobral é uma das sub-regiões mais baixas dentre as conhecidas, sendo
uma das primeiras a encher, junto com o Pantanal de Nabileque, quando da
chegada das chuvas em outubro.
- A vegetação é do tipo savana e campo, sendo muito semelhante morfologi-
camente àquela registrada no Pantanal de Aquidauana (ou Pantanal do Rio
Negro). Encontram-se no Abobral, extensões consideráveis de campos limpos,
intercalados com pequenos capões de mata (bosques) esparsos. Também se
encontram campos levemente sujos, intercalados com bosques esparsos. Os
campos limpos ora são dominados por capim-mimoso (Axonomus purpusii), ora
por capim-mimoso-de-talo (Hermarthria altissima).
- Os solos são arenosos, embora, existam manchas consideráveis de solo argi-
loso. Essa realidade é algo intrigante, em aspectos de distribuição das espécies
forrageiras.
b) Aspectos militares: essa região inunda rapidamente, e suas margens não pos-
suem contorno definido. Há presença de poucas habitações, e quando apare-
cem geralmente são de palafitas. Permanece alagado durante o período das
cheias e durante a época do inverno. Nos locais denominados de “cordilheiras”,
que são pequenas ondulações do terreno e que oferecem relativa proteção nas
cheias, aparecem as pequenas fazendas de criação de gado. É comum também,
durante a vazante o aparecimento de pequenas baías circundadas por matas
que dificulta o deslocamento da tropa, mas oferecem relativa proteção para per-
noites.
2.2.1.6.7 Pantanal de Aquidauana:
a) Disposto ao longo dos Rios Negro e Aquidauana. Essa sub-região apresenta
como limites, ao norte o Pantanal da Nhecolândia; ao sul a própria cidade de
Aquidauana/MS; a leste a Serra de Aquidauana; a oeste os Pantanais de Miran-
da e Abobral.
- O Pantanal de Aquidauana, assim como o de Miranda, é definido mais como
Pantanal alto, sendo menos afetado pelas enchentes do que outras sub-regiões.
Traduzindo, pode-se afirmar que as perdas e malefícios causados aos rebanhos
pela ocorrência de enchentes, nesses dois pantanais, apresentam menor inci-
dência. O Pantanal de Aquidauana está fortemente vinculado, florística e edafi-
camente, aos Pantanais de Abobral e Nhecolândia.
- A área do Rio Negro, em rigor, é um prolongamento natural da Nhecolândia,
mostrando a presença de baías, salinas e solo arenoso, sobre o qual assenta-se
a pastagem. As áreas de barro estão restritas às imediações de cursos d’água. A
vegetação na zona do Rio Negro é principalmente de campo, savana e bosques
isolados (capões), quase igual à da Nhecolândia. Manchas pequenas de caran-
dá são observadas. Os campos limpos, extensos em área, são maciçamente po-

2-13
EB70-CI-11.438
voadas por capim-mimoso (A. purpusii), capim-mimosinho (Rimarochloa spp.),
Paspalum almun e Hermathria altissima. Nas savanas aparecem com alta frequ-
ência, espécies como a piúva e o cambará. O capim-mimoso forma campos lim-
pos, onde se torna quase dominante e absoluto. Na margem norte do Rio Negro,
onde predomina o solo arenoso, a fitofisionomia é aquela da Nhecolândia, ocor-
rendo com abundância duas espécies invasoras, o capim-carona e Andropogon
selloanus. As invasoras lenhosas dessa margem são também aquelas de solos
arenosos, destacando-se a canjiqueira e a lixeira.
- Na margem sul do rio Negro, o solo tende para silte e argila, ocasionando re-
flexos ecológicos. Forrageiras com presença marcante, e não encontradas na
margem norte, são Paspalum almun e Panicum laxum.
b) Aspectos militares: região seca durante todo o ano. Facilita o emprego de
viaturas e dificulta o de embarcações, que fica restrito a calha do rio. Apresenta
vegetação de grande porte o que permite a camuflagem de grandes efetivos.
- O emprego de viaturas blindadas sobre rodas ou lagarta é facilitado pelo terre-
no pouco movimentado e firme.
2.2.1.6.8 Pantanal de Miranda:
a) Assim como o item anterior, é uma sub-região do Pantanal alta, sendo tam-
bém, pouco afetada pelas enchentes. Está disposta ao longo da calha do Rio
Miranda. O Pantanal de Miranda apresenta os seguintes limites, ao norte, o Pan-
tanal de Abobral; ao sul, as florestas chaquenhas do município de Porto Murti-
nho/MS; a leste, o Pantanal de Aquidauana; e a oeste, a Serra da Bodoquena e
o Pantanal de Nabileque.
- A vegetação é do tipo savana, mata e campo. Surgem em forte concentração
o carandá e, especialmente, o paratudo (Tabebuia caraiba), esse formando os
famosos paratudais. A savana de Miranda lembra muito a vegetação chaquenha,
havendo considerável sobreposição de espécies do território paraguaio com
aquelas do território brasileiro.
- Os solos dessa sub-região são limo-argilosos e arenosos, com acentuada pre-
dominância do primeiro tipo. Por essa razão, várias espécies forrageiras que fal-
tam no Pantanal de Aquidauana são nessa sub-região encontradas. Os campos
limpos de Miranda exibem ótimas espécies forrageiras, havendo também pre-
sença considerável de espécies menos palatáveis na pastagem. As pastagens
desse pantanal são principalmente povoadas por Panicum laxum, Hymenachne
amplexicaulis, Hemarthria altissima, Leersia hexandra e Paspalum almum. Em
áreas onde existe solo arenoso, aparecem as mesmas forrageiras característi-
cas dos Pantanais de Aquidauana, Nhecolândia, Abobral, Cáceres e Paiaguás,
isto é, Axonopus purpusii e Reimarochloa spp. O canjiqueiral, associação for-
mada por canjiqueira e capim-mimoso, predomina em terrenos arenosos. Essas
áreas de solos arenosos, em Miranda, configuram-se de certa maneira como

2-14
EB70-CI-11.438
bolsões, ilhadas pelo terreno limo-argiloso circundante.
b) Aspectos militares: essa região não sofre influência direta das cheias dos rios
e por isso, durante a maior parte do ano apresenta-se seca. O Rio Miranda é
extremamente caudaloso, de forte corrente e cheio de tocos, o que dificulta o
deslocamento fluvial, enquanto, que, suas margens sofrem inundações curtas
e durante os meses de chuvas. Há grande quantidade de fazendas e estradas
nessa região o que permite o desdobramento de grandes efetivos e uso de via-
turas. Nas áreas mais baixas a inundação acontece por meio das chuvas, os
chamados ‘repiquetes’, que podem influenciar no deslocamento da tropa.
2.2.1.6.9 Pantanal de Nabileque:
a) Essa sub-região está disposta na calha Rio Paraguai. O Pantanal de Nabile-
que, apresenta como limites, ao norte, o Pantanal do Abobral; ao sul, a floresta
chaquenha de Porto Murtinho/MS; a leste, o Pantanal de Miranda; e a oeste, as
matas situadas na fronteira boliviano-paraguaia. Está sob a jurisdição de Co-
rumbá/MS, sendo um distrito do município. A área do Jacadigo está, também,
incluída nessa sub-região.
- A vegetação do Nabileque é do tipo savana, porém, nela não ocorrem algumas
espécies lenhosas observadas na Nhecolândia e no Paiaguás, que são substi-
tuídas por uma palmeira que aparece em formações densas. Essa palmeira é o
carandá (Copernicia alba), espécie dominante no conhecido carandazal. A fisio-
nomia desse Pantanal, assim como aquelas dos municípios de Porto Murtinho e
Miranda, tem muito a ver com a fisionomia do Chaco. O Pantanal de Nabileque
pode ser interpretado como uma extensão do Chaco paraguaio-boliviano. O Na-
bileque é um dos primeiros pantanais a receber o flagelo das inundações, em
boa parte, devido ao seu solo argiloso, pouco permeável e de drenagem lenta.
As espécies forrageiras ali ocorrentes são em sua maioria, distintas das que
ocorrem na Nhecolândia e Paiaguás, sendo o elemento edáfico, o principal fator
limitante para seu encontro, embora talvez não seja o único. O Nabileque é repu-
tado como sub-região possuidora de excelentes forragens e, de fato, as possui
em número apreciável. Pode-se citar Paspalum virgatum, excelente forrageira
que se desenvolve em solos argilosos, Paspalum plicatulum, Panicum laxum,
Hymenachne amplexicaulis, Leptochloa virgata, etc. Esse estrato forrageiro her-
báceo dispõe-se nos interstícios deixados pela vegetação arbórea.
- A chegada das primeiras chuvas em outubro é motivo de preocupação, pois à
altura da segunda quinzena de novembro, a locomoção já se torna precária. Em
novembro, dificilmente um veículo automotor pode trafegar nas picadas dessa
área. Os solos do Nabileque são principalmente argilosos, orgânicos, escuros.
- Visto do alto, o Pantanal do Nabileque parece ter vegetação de mata, tal é a
concentração do palmar. No solo, porém, vê-se que há suficiente espaço entre
as árvores, por onde a pastagem natural se interpõe.

2-15
EB70-CI-11.438
b) Aspectos militares: região extremamente sensível às cheias, apresenta fa-
zendas próximas das morrarias e pequenas elevações. É servido por precária
rede de estradas de terra que são impróprias durante os meses de chuvas e nas
cheias de inverno. As matas se apresentam na forma de capões (ilhas de mata)
e pastos inundáveis pela grande quantidade de corixos. É abundante a fauna
rasteira e peçonhenta.
- O solo extremamente úmido é um obstáculo a mais para a tropa a pé.
2.2.1.6.10 Pantanal do Paraguai:
a) Essa região corresponde, em sua maior parte, à extensa planície de inun-
dação do Rio Paraguai, desde a ilha do Caracará, nos limites do Pantanal de
Cáceres, até as bordas do Maciço do Urucum, ao Sul de Corumbá/MS.
- É uma sub-região repleta de baías e corixos. É formado, essencialmente por
sedimentos arenosos não consolidados e semi-consolidados da Formação Pan-
tanal e depósitos aluviais de Idade Holocênica.
- Caracterizada pela grande incidência de baías e longo período de inundação
que se estende por mais de 06 (seis) meses, sendo que grandes áreas ficam
permanentemente inundadas. Predominam nessa área solos Glei Pouco Hú-
mico que, como os demais solos da unidade, apresentam caráter eutrófico e
argila de atividade alta. Encontram-se em geral associados a solos Glei Húmico,
cuja ocorrência é mais frequente ao norte, e Planossolos, que tendem a ocorrer
preferencialmente em áreas mais afastadas do Rio Paraguai, além dos solos
aluviais, em faixa que acompanha o seu leito. Embora pouco expressivos, ocor-
rem ainda Vertissolos e Solonetz - Solodizados, que se encontram associados
na paisagem ao sul, dos relevos residuais da Serra do Amolar, na divisa com a
Bolívia e junto ao Maciço do Urucum.
- As fitofisionomias predominantes são: floresta estacional semidecidual/forma-
ções pioneiras (ecótono), formações pioneiras e savana/formações pioneiras
(ecótonos). A principal formação pioneira é o cambarazal e nessa unidade, ocor-
rem grandes lagoas.
b) Aspectos militares: essa região apresenta grandes baías que são sensíveis
aos fenômenos da frente fria. As margens dos rios apresentam relativa camu-
flagem para pequenas frações e embarcações. Aparecem a maioria das serras
com vegetação de caatinga. Há grande número de corixos que adentram para
áreas interiores e que dificultam a orientação. Não existe estradas, exceto na
região da Serra do Urucum em Corumbá/MS, impossibilitando o uso de viaturas
nas operações militares. As poucas fazendas existentes estão localizadas nos
sopés das serras e possuem na sua maioria campos de pouso para aeronaves
de pequeno porte.
- O deslocamento a pé, entre os meses de outubro a fevereiro, é facilitado e no
restante do ano é prejudicado.

2-16
EB70-CI-11.438
2.2.1.6.11 Pantanal de Porto Murtinho:
a) Localizado na extremidade meridional do Pantanal do Paraguai, na região
conhecida como “Fecho dos Morros”. Posiciona-se ao longo do Rio Paraguai
(trecho entre os Rios Miranda ao norte e Apa ao sul). O Pantanal de Porto Mur-
tinho posiciona-se ao longo do Rio Paraguai, tendo como limites Norte e Sul os
Rios Aquidauana e Apa, respectivamente.
- A geologia constitui-se de Alcalinas Fecho dos Morros (sienitos e traquitos) e
sedimentos não consolidados e semi-consolidados da Formação Pantanal e Alu-
viões Fluviais. Confinada entre a República do Paraguai e os relevos residuais
do Complexo Rio Apa e Grupo Amonguijá e tendo a Norte o Pantanal do Nabile-
que, essa unidade representa a extremidade meridional do Pantanal Sul-Mato-
-Grossense, onde as inundações estendem-se por um período de 4 a 6 meses.
Predominam Solonetz Solodizados e Planossolos Solódicos, quase sempre com
horizonte e argila de atividade alta. Encontram-se associadas a Vertissolos que
são mais frequentes na porção setentrional da área e a Planassolos desprovi-
dos de caráter solódico, esses mais expressivos ao Sul. Em menor proporção,
ocorrem solos Glei Pouco Húmico e Aluviais, que ocupam a planície de inunda-
ção do Rio Paraguai. Alguns relevos residuais como solos Litólicos e Podzólicos
Vermelho-amarelo relacionados a rochas Alcalinas no Fecho dos Morros, nas
proximidades da cidade de Porto Murtinho/MS.
- No Pantanal, predominam os solos hidromórficos, os quais são o reflexo da
deficiência de drenagem generalizada e da forte tendência para inundações pe-
riódicas e prolongadas.
b) Aspectos militares: essa região facilita o emprego de embarcações de peque-
no porte, dificulta o emprego de tropa a pé. Apresenta por poucos períodos do
ano regiões secas que permitem o uso de aeronaves.
- Sua vegetação esparsa e de floresta de palmeiras dificulta a camuflagem de
grandes efetivos.
2.2.2 GEOLOGIA
2.2.2.1 O Pantanal é uma das maiores planícies de sedimentação do mundo,
sendo resultado da separação do oceano há milhões de anos, formando o que
os geólogos denominam de “mar interior”. Nas regiões de maior altitude, a pre-
sença de terras de origem sedimentar e rochas solúveis propiciam a formação
dos terrenos de aluvião, muito permeáveis e de composição argilo-arenosa. Já
nas regiões de altitude intermediária, o solo é arenoso e ácido e a água é retida
apenas no subsolo.
2.2.2.2 A existência de minerais no subsolo pantaneiro é conhecida há séculos,
entretanto, esse potencial ainda vem sendo explorado atualmente, com desta-
que para o minério de ferro, o manganês e o ouro. Cabe ressaltar que no municí-
pio de Corumbá se encontra a 2ª maior jazida de ferro e a 3ª maior de manganês

2-17
EB70-CI-11.438
do Brasil. A cada ciclo de estações de seca e de águas, o Pantanal se modifica,
transformando-o em uma área em constante evolução.
2.2.3 OROGRAFIA
2.2.3.1 O relevo do Pantanal é composto, em sua maioria, de altitudes suaves,
que variam, em média, de 100 a 200 m, sendo um prolongamento para o norte,
da Planície do Chaco, em território paraguaio. No entanto, ocorrem elevações
isoladas, como é o caso do Maciço do Urucum, nas proximidades da cidade de
Corumbá.
2.2.3.2 Merecem destaque também, as Serras Ricardo Franco, Amolar (Fig 13),
Coimbra e Fecho dos Morros, também conhecidas por habitantes locais como
“morrarias”.

Fig 13 - Morraria do Amolar

2-18
EB70-CI-11.438
2.2.3.3 Existem, ainda, movimentos denominados de “cordilheiras”, os quais se
situam cerca de cinco m acima do nível das águas e servem de refúgio para
animais (Fig 14).

Fig 14 - Sucessão cordilheira/campo de inundação

Obs: as Fig 13 e 14 são a Morraria do Amolar e o Corte transversal represen-


tativo da sucessão cordilheira/campo de inundação periódica na Sub-região do
Pantanal de Poconé MT.
2.2.4 HIDROGRAFIA
2.2.4.1 A rede hidrográfica do Pantanal está, de um modo geral, toda apoiada
na Bacia do Rio Paraguai (Fig 15) e em seus diversos afluentes, que contribuem
de forma decisiva para a vida na região. Navegável durante todo o ano, é a prin-
cipal via de acesso presente na área. Além desse, os principais rios da região
são: Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, Taquari, Aquidauana, Miranda e Apa.

2-19
EB70-CI-11.438

Fig 15 - Rio Paraguai.

2.2.4.2 Devido à pequena declividade dos leitos dos rios da Bacia do Paraguai,
seu potencial hidrelétrico é praticamente nulo e, normalmente, extrapolam a ca-
lha natural e criam imensas áreas alagadas. Existem ainda, as grandes lagoas
permanentes, por exemplo, as de Uberaba, Gaíva, Castelo, Mandioré e Jacadi-
go (Fig 16).

Fig 16 - Bacia do Rio Paraguai.

2-20
EB70-CI-11.438
2.2.4.3 Outra peculiaridade da hidrografia pantaneira é o surgimento sazonal
dos chamados “corixos”. Esses são riachos, de leitos próprios, originários da
cheia dos principais rios da região. Deve-se ressaltar que, em alguns casos,
dependendo da época do ano, os “corixos” se confundem com os cursos d’água
que lhes deram origem e tornam-se vias de acesso para a navegação fluvial.
2.2.4.4 A rede hidrográfica é vital para a região pantaneira, pois serve como
via natural de transporte e é importante para a economia local, devido à pesca.
Cabe ressaltar que as principais localidades do Pantanal situam-se às margens
do Rio Paraguai.
- Para se operar nesse ambiente operacional é fundamental o perfeito conheci-
mento dos regimes das chuvas, a fim de se avaliar corretamente a possibilidade
de navegação fluvial nos rios pantaneiros, em cada período do ano.
2.2.5 CLIMA
2.2.5.1 O clima na região é tropical, quente e úmido, com temperaturas eleva-
das e amplitude térmica maior que a de outras regiões. O inverno é seco, com
temperatura média em torno de 21ºC. Já o verão é quente e úmido, com tempe-
ratura média em torno de 32ºC, e com a máxima ultrapassando os 40ºC. Existem
dois períodos bem distintos: o das cheias, de novembro a abril e o das secas, de
agosto a outubro.
2.2.5.2 Os meses do verão são úmidos porque nessa época a planície do Pan-
tanal é uma das áreas mais quentes da América do Sul, formando um núcleo de
baixa pressão que atrai os ventos úmidos para a região. A temperatura elevada,
associada à umidade, produz uma desconfortável sensação de calor. No inver-
no, o vento sul, predominante na área, quando associado às frentes frias, atinge
grandes velocidades e provoca sensação térmica de frio bastante desagradável,
podendo chegar próxima ao 0° C.
2.2.6 CHEIAS E VAZANTES
2.2.6.1 O Pantanal é uma das maiores extensões contínuas do planeta e está
localizado no centro da América do Sul, na bacia hidrográfica do Alto Paraguai.
Sua área é de cerca de 150.000 km², com 65% de seu território no estado de
Mato Grosso do Sul e 35% em Mato Grosso. Nesse último localiza-se a cidade
de Cáceres, conhecida como o Portal do Pantanal, pois faz a divisa com a Flo-
resta Amazônica.
- A região pantaneira é uma planície fluvial influenciada por rios que drenam a
Bacia do Alto Paraguai, onde se desenvolve uma fauna e flora de rara beleza e
abundância, influenciada por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Char-
co e Mata Atlântica.
2.2.6.2 A declividade da planície do Pantanal é de aproximadamente 40 cm/km
de leste a oeste e de 2 cm/km de norte a sul. Os rios da região têm capacidade

2-21
EB70-CI-11.438
de suportar as descargas médias, mas, durante as maiores cheias, provocadas
pelas fortes precipitações que ocorrem na região do alto curso da bacia, alaga-
-se uma área de aproximadamente 30.000 km², correspondente à região do Pan-
tanal Mato-grossense.
2.2.6.3 A propagação das cheias do Rio Paraguai se dá ao longo de vários me-
ses do ano, caracterizando o lento escoamento das águas no Pantanal. Isto se
deve à complexa combinação das contribuições de cada planície, cujas lagoas e
baías funcionam como reguladores de vazão, acumulando água e amortecendo
a elevação do nível, durante o crescimento da cheia e cedendo água durante
a recessão. Ocorrem enchentes locais em diversas regiões, ao longo do ano,
dependendo do regime de chuvas.
2.2.6.4 Na região entre Cáceres e Cuiabá, o trimestre mais chuvoso estende-se
de janeiro a março, com ocorrência de níveis de água elevados em março. Na
sub bacia do Rio Miranda, o trimestre mais chuvoso estende-se de dezembro
a fevereiro, com ocorrência de níveis elevados em fevereiro. Em Cáceres, as
cheias ocorrem entre fevereiro e março, recebendo contribuições intermediárias,
e a jusante, alcançam Corumbá, entre maio e junho, assim como atingem Porto
Murtinho, entre julho e agosto.
2.2.6.5 O Rio Paraguai apresenta um quadro de enchente muito uniforme, com
apenas um pico anual, próximo a Forte Coimbra. A partir daí, até a confluência
do Rio Apa, podem ocorrer pequenos picos devido às contribuições locais. Toda
essa regularidade e a lentidão do escoamento possibilitam a previsão de seus
níveis de água com até um mês de antecedência.
2.2.7 PREVISÃO DE NÍVEIS DO PANTANAL
2.2.7.1 A Bacia do Alto Paraguai (BAP) localiza-se no oeste do Brasil e pos-
sui uma superfície de 361.666 km², compreendendo a planície pantaneira, com
138.183 km², e planaltos adjacentes, com 223.483 km². Os principais rios da
BAP são o Rio Paraguai, dreno coletor principal das águas, e seus tributários Se-
potuba, Cabaçal e Jauru, pela margem direita, e os Rios Cuiabá, Taquari, Negro
e Miranda, na margem esquerda.
2.2.7.2 Entre os postos de medição dos níveis de água dos rios da BAP, o do
Rio Paraguai, em Ladário-MS, é o que mais dispõe de dados de toda a rede ins-
talada na BAP, ou seja, possui registros diários desde 1900. Outra característica
importante do posto de Ladário é que por ele passa a maioria do volume de água
da BAP, aproximadamente 81% da vazão média de saída do território brasileiro.
Assim, a régua de medição dos níveis do Rio Paraguai, em Ladário, vem se
constituindo no principal referencial do regime hidrológico da BAP, possibilitando
até mesmo a caracterização de um dado período como sendo de seca ou de
cheia.
2.2.7.3 Historicamente, quando o nível máximo do Rio Paraguai, em Ladário, se

2-22
EB70-CI-11.438
iguala ou supera o nível de alerta de enchente, que é de 4,0 m, o ano é conside-
rado de cheia no Pantanal, caso contrário, como sendo de seca. Quando o pico
de cheia fica compreendido entre 4 e 4,99 m, como sendo de cheia pequena,
entre 5 e 5,99 m como cheia normal e igual ou superior a 6,0 m como cheia gran-
de, cheia excepcional ou super cheia. Tanto as cheias excepcionais quanto as
pequenas cheias e, principalmente, a seca no Pantanal causam impactos sócio
econômicos e ambientais.
2.2.7.4 As cheias excepcionais são altamente prejudiciais aos pecuaristas e à
população ribeirinha. Os fazendeiros têm que movimentar grande quantidade de
animais para as partes mais altas, o que implica em prejuízos financeiros. Já os
ribeirinhos são obrigados a abandonar as suas casas. Cheias inferiores a 5 m
comprometem os estoques pesqueiros do Pantanal, pois a redução do volume
dos corpos de água facilita a captura dos peixes e prejudica a sua reprodução e
alimentação.
2.2.7.5 Anos de seca prolongada causam alteração no processo natural de
sucessão vegetal pelo incremento do nível de praguejamento das pastagens,
principalmente devido ao rebaixamento do nível do lençol freático, com refle-
xos marcantes na economia das unidades de produção. Além disso, a seca no
Pantanal é prejudicial para a navegação de grandes embarcações, sejam para o
transporte de cargas, bem como de pessoas que vem para a região passear e/
ou pescar (turismo).
- Ressalta-se que o turismo é uma atividade de grande importância sócio econô-
mica para a região.

2.3 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS


2.3.1 A Região Centro-Oeste do País ocupa um lugar de destaque na formação
histórica das fronteiras brasileiras. Assim, torna-se relevante para o planejador
militar o conhecimento detalhado dos aspectos psicossociais da área, pois eles
ainda são influenciados, nos dias atuais, por esse período histórico.
2.3.2 No passado a população pantaneira era composta basicamente por índios,
ocorrendo com o tempo uma miscigenação com os brancos, representados pe-
los bandeirantes, e com os escravos negros. O pantaneiro possui um arraigado
sentimento nacionalista, resultado de sua participação em eventos históricos,
como a Guerra do Paraguai, no século XIX. Atualmente, o homem pantaneiro
se caracteriza por sua simplicidade, honestidade e rusticidade, além do apego à
família e às tradições locais.
2.3.3 Os centros urbanos mais importantes do Pantanal estão em sua periferia:
ao norte Cáceres, que tem na mineração e na pecuária suas principais fontes de
renda e de geração de empregos. Ao sul, encontram-se Aquidauana, Miranda e
Corumbá. A região ainda é pouco habitada, sendo fundamental a presença da

2-23
EB70-CI-11.438
Força Terrestre em áreas desabitadas, por meio de seus Pelotões Especiais de
Fronteira.
2.3.4 Em localidades afastadas, a carência de profissionais de saúde é atenua-
da pelo atendimento prestado pelas Forças Armadas. No entanto, são raros os
casos de doenças endêmicas graves na região.
2.3.5 O homem pantaneiro preza por suas tradições, assim como as datas cí-
vicas e religiosas. Deve ser ressaltada o culto à imagem de Nossa Senhora do
Carmo, padroeira do Forte de Coimbra. Com relação à saúde, apesar da região
ainda possuir um sistema de saneamento básico deficiente, as condições de
higidez são satisfatórias.

2.4 ASPECTOS POLÍTICOS


2.4.1 A política pantaneira não ocupa um lugar de grande destaque no cenário
nacional, assim como não desperta muito a atenção do habitante local. A beleza
do Pantanal e a riqueza de sua biodiversidade vem recentemente despertando a
atenção do mundo. Nesse contexto, cresce de importância a estabilidade política
na região.
2.4.2 Há uma presença indígena razoável na região. A reivindicação referente à
demarcação de terras indígenas no Pantanal pode vir a se transformar em focos
de tensão e instabilidade na área, sendo, dessa forma, motivo de acompanha-
mento por parte da Força Terrestre.
2.4.3 Outro aspecto a ser considerado se refere à política externa, pois sua po-
sição estratégica, fazendo fronteira com outros dois países, requer uma prepa-
ração adequada das forças em operações no Pantanal. Além disso, deve-se
observar o que prescreve a legislação que regula as ações na faixa fronteiriça
do País.

2.5 ASPECTOS ECONÔMICOS


2.5.1 A Região Centro-Oeste ocupa papel de grande destaque na economia na-
cional, tendo como base o agronegócio e a mineração, ressaltando também, o
crescimento da indústria nessa região nas duas últimas décadas. O Pantanal
possui grande potencial econômico, parcialmente explorado atualmente.
2.5.2 A pecuária de corte é o pilar de sustentação da economia do Pantanal. Os
maiores rebanhos bovinos do País se encontram nessa região, sendo o Estado
do Mato Grosso o maior produtor nacional.
2.5.3 Em uma região com diversos cursos d’água significativos, a atividade pes-
queira movimenta a economia. Peixes, como o pintado e o pacu, são bastan-
te apreciados, além de servirem também, como fonte de subsistência para as

2-24
EB70-CI-11.438
populações ribeirinhas. A mineração também ocupa um lugar de destaque na
economia pantaneira. Em Corumbá está localizado o Maciço do Urucum, grande
fonte de manganês e minério de ferro.
2.5.4 O sistema de transporte que funciona no Pantanal ainda está longe do
ideal, apesar de ter melhorado nas últimas décadas. As estradas ainda são defi-
cientes e a navegação fluvial enfrenta os óbices das variações das estações da
seca e das águas. Merecem destaque as rodovias BR-070, que liga Cáceres à
Bolívia; a BR-262, entre Campo Grande e Corumbá; e a BR-267, que une Cam-
po Grande à Porto Murtinho.
2.5.5 Os principais aeroportos são o de Cáceres e o de Corumbá, esse último de
classificação internacional e com voos regulares, ligando a cidade à Campinas/
SP. No entanto, na região existem alguns campos de pouso catalogados que
podem servir de apoio às operações militares.
2.5.6 Os principais portos são os de Corumbá, Cáceres e Ladário, sendo que
nessa cidade está a sede do 6º Distrito Naval, da Marinha do Brasil, importante
Organização Militar que pode, em caso de necessidade, prestar apoio às ações
da Força Terrestre no Pantanal. O modal ferroviário do Pantanal é bem modes-
to, dessa forma, não influi decisivamente na economia da região. Os principais
produtos transportados por esse modal são minério (Corumbá-Porto Esperança/
Mina de Urucum-Ladário) e aço (Corumbá-Bauru), além de ureia (Bolívia-Co-
rumbá).
2.5.7 A matriz energética do Pantanal é um dificultador para as operações mi-
litares nessa região, pois além de deficiente, enfrenta alguns problemas estra-
tégicos, como por exemplo o fato da cidade de Corumbá estar ligada apenas a
um tronco.

2.6 ASPECTOS MILITARES


2.6.1 INFLUÊNCIA DO PANTANAL SOBRE AS OPERAÇÕES MILITARES
2.6.1.1 Generalidades
2.6.1.1.1 A área do complexo pantaneiro é subdividida em 11 sub-regiões e difi-
culta a padronização de meios e táticas a serem empregados em todo o ambien-
te. O conhecimento do local da operação, os meios disponíveis e as condições
climáticas implicam, diretamente, no sucesso da missão.
- Os vazios demográficos e a pouca presença de povoados dificulta o apoio
logístico ao longo de toda a área e fazem com que os objetivos militares sejam
distribuídos em grandes distâncias.
2.6.1.1.2 A distância, em extensão, de aproximadamente 775 Km de norte a sul
do Pantanal e de 425 Km de leste para oeste, adicionada à falta de populações,

2-25
EB70-CI-11.438
recursos locais e locais de apoio, tornam os deslocamentos demorados e difí-
ceis.
2.6.1.1.3 O relevo do Pantanal, apesar de ser uma planície, apresenta de forma
dispersa, pequenas elevações que não ultrapassam os 500 m e algumas serras
que chegam próximas dos 1.000 m de altitude e ditam a forma do principal rio
do Pantanal. Essas elevações, na sua grande maioria, são formadas de pedras
dificultando com isso, a construção de abrigos, porém permitem ao longo do Rio
Paraguai, uma observação a grandes distâncias.
2.6.1.1.4 No interior do Pantanal, as pequenas elevações que surgem, geral-
mente são utilizadas para o estabelecimento de fazendas e criação de gado,
usualmente esses locais recebem o nome de “cordilheiras” e sua altura não ul-
trapassa os 10 m, porém, servem de local seco, quando do ciclo das cheias.
- As altitudes elevadas de algumas serras e o tipo de terreno, podem indicar o
uso pela tropa de fardamento e equipamento próprios de operações em regiões
de montanhas.
2.6.1.1.5 Quanto à declividade, a principal característica da cheia do Pantanal
está no fato de que essa é provocada pelas chuvas do verão na cabeceira e se
distribui ao longo do ano, por todo o Pantanal. Tal fato tem como causa a baixa
declividade do Rio Paraguai no sentido Norte-Sul, aliada com a presença de
diversas baías ao longo do principal rio. Diante doexposto, tem-se nas regiões
centrais do Pantanal, cheias em plena estiagem e na parte baixa do Pantanal,
cheias próximas ao final do ano.
- O conhecimento do ciclo das cheias influi decisivamente no planejamento,
principalmente quanto ao correto uso dos meios de transporte (embarcações)
e quanto às condições de trafegabilidade nos diversos tipos de deslocamento.
2.6.1.1.6 O tipo de solo pantaneiro se divide basicamente em três tipos: o areno-
so, o argiloso e o lixiviado:
a) O primeiro se apresenta nas regiões intermediárias entre os alagadiços e os
secos;
b) o segundo aparece nas extremidades do Pantanal em plena zona de transição
com os planaltos; e
c) o terceiro se encontra na região central junto aos maiores rios e que fica, du-
rante grande parte do ano, debaixo de água ou sob influência direta dela.
2.6.1.1.7 O solo arenoso restringe o uso de viaturas, devido à areia que se acu-
mula nas engrenagens e pela necessidade constante do uso da tração. O solo
argiloso é favorável ao uso de viaturas, exceto durante o ciclo das chuvas, pois
cria lama e dificulta o movimento. O solo lixiviado, por permanecer alagado boa
parte do ano, impede o uso de viaturas, dificultando o deslocamento de tropa a
pé e, também, o estabelecimento de pernoite e a construção de espaldões.

2-26
EB70-CI-11.438
2.6.1.1.8 A vegetação, assim como o solo é variada e depende da região do
Pantanal em que se está conduzindo as operações militares. No alto Paraguai
e ao longo da calha do rio, a vegetação se apresenta de médio a grande porte,
permitindo a camuflagem de tropa e material. Na região central, afastado do Rio
Paraguai, encontramos campos com presenças esparsas de matas, os chama-
dos capões, que permitem relativa camuflagem para pequenos efetivos. Junto
às serras, devido a presença de rochas, a vegetação se assemelha à de caatin-
ga, com muito espinho.
2.6.1.1.9 No baixo Paraguai, em virtude de o solo permanecer a maior parte do
ano debaixo de água, encontram-se as florestas de carandá, palmeira de grande
porte que sobrevive bem sob a água. Outra vegetação característica do ambien-
te pantaneiro e que se apresenta em quase todos os rios é o camalote, o qual
cresce preso às margens e durante o ciclo da chuva se desprende e desce o rio.
Essa vegetação, quando cresce no interior de corixos e rios menores provoca o
seu fechamento (entupimento), restringindo-o e por vezes impedindo o uso de
embarcações.
2.6.1.1.10 O clima é um dos fatores que mais influenciam as operações militares,
devido à sua agressividade e rapidez.
a) O clima quente e úmido provoca no combatente desconforto, abate a moral e
o descuido desse fator pode levar à baixa do militar, por fenômenos fisiológicos
ligados ao calor;
b) o fenômeno do vento sul ou frente fria provoca, durante o verão, as chamadas
“trombas d’água”, que associadas com regiões de baixa altitude provocam os
chamados repiquetes que se constituem em uma cheia repentina e localizada,
podendo pôr em perigo tropas despreparadas. Aconselha-se retirar pequenas
embarcações do curso do rio, quando da presença desse fenômeno. Até mesmo
grandes embarcações podem ter dificuldade para vencer a força do repiquete,
aconselhando-se o seu abicamento ou abarrancamento nas margens; e
c) no inverno, a frente fria provoca em questões de horas, a queda brusca de
temperatura, e pode levar o combatente a doenças provocadas pelo frio, princi-
palmente se o militar estiver molhado.
2.6.1.1.11 Outra característica do vento sul é sua agressividade, podendo a ve-
locidade do vento chegar a 100 Km/h, o que torna o uso de embarcações e ae-
ronaves impossível. Durante o inverno, em que não existe praticamente chuvas,
acontece o fenômeno da estiagem, que contribui para a seca da vegetação tor-
nando-a extremamente sensível às queimadas e que em conjunto com os ventos
dessa época do ano, se espalham de maneira agressiva e rápida, podendo pôr
em risco as tropas e populações em determinadas áreas.
2.6.1.1.12 Quanto à hidrografia, o principal rio pantaneiro, o Rio Paraguai, tem
sua nascente ao norte e percorre toda a extensão do Pantanal em direção ao sul.

2-27
EB70-CI-11.438
Os afluentes desse rio nascem a leste e a oeste e correm sempre da periferia
para o interior do Pantanal. Os rios menores abastecem o Rio Paraguai, o qual
não suporta o volume de água recebido e transborda, inundando as áreas adja-
centes ao seu curso. As serras se estendem de norte a sul, servindo de barreira
natural e ditando o curso do rio. Junto a essas serras, existem diversas baías de
profundidade pequena, porém de grandes extensões. Pela distribuição dessas
baías, de norte a sul, e pelo recebimento de água dos rios afluentes, as cheias
do Pantanal acontecem em períodos diferentes do ano.
2.6.1.1.13 O Rio Paraguai é um rio navegável, permitindo o uso, em quase todo
o ano, de grandes embarcações, entretanto, quanto mais ao norte, fica mais es-
treito e raso. Os rios menores propiciam o emprego de embarcações menores e
de calado inferior a 2 m. Os rios constituem as “estradas” do Pantanal e por onde
a maioria do transporte de pessoal e material ocorre, o que torna as embarca-
ções alvos compensadores, haja vista a facilidade do emprego de emboscadas
pelo oponente. Os lagos, devido à sua extensão e quando associado com frente
frias, são extremamente perigosos para uso de embarcações, tendo influência
direta de grandes ventanias. No interior do Pantanal, na região das fazendas,
existem pequenos lagos de água salgada, são as chamadas salinas, e que pos-
suem a água imprópria para o consumo.
2.6.1.2 Influência no Combatente
2.6.1.2.1 Quanto à adaptação, o combatente deve realizar a preparação espe-
cífica antes de atuar na região. Deve procurar se preparar para realizar longos
deslocamentos, sob a influência do calor e com falta de água potável, além de
ser habilidoso em técnicas aquáticas. Deverá estar preparado para alternância
de temperatura, ocasionada pelos ventos sul. Moralmente preparado para atuar
longos períodos isolados e extremamente familiarizado com os costumes locais.
Intelectualmente deve estar em condições de operar embarcações de diversos
tipos, conhecer as características da sub-região em que atuará e os meios ma-
teriais que utilizará.
2.6.1.2.2 O fato de o terreno pantaneiro impor, por muitas vezes, o emprego de
pequenas frações, de forma descentralizada, e em grandes vazios, aumenta a
sensação de isolamento e produz reflexos negativos no moral do combatente.
Quanto à solidão, o emprego de pequenas frações de forma descentralizada e
em grandes vazios, aumenta a sensação de isolamento e consequentemente
produz reflexos negativos no moral (ânimo) do combatente. A possibilidade de
dispersão, pela influência do ambiente ou do inimigo, exige a preparação voltada
para a sobrevivência. A sobrevivência dinâmica é desaconselhável, a não ser
que o oponente esteja atuante ou se o militar conhecer plenamente a região.
2.6.1.2.3 Quanto ao calor e frio, o combatente deverá, se possível, usar farda-
mento e equipamento leves e que protejam do clima, sendo esse último, extre-
mamente necessário. Roupas para o frio são aconselháveis, mesmo quando o

2-28
EB70-CI-11.438
clima está quente, em razão da possibilidade de mudança repentina, em virtude
do vento sul. Roupas de muda, protetor solar, reservatório de água e cobertura
tipo chapéu pantaneiro são necessários em dias de sol. Medicamentos que com-
batam os efeitos do calor e frio devem ser conduzidos, seja pelo combatente,
seja pelo pessoal de saúde em missão.
2.6.1.2.4 Quanto à umidade, o calor associado a essa, produzem extrema su-
dorese, que afeta o moral e o material do combatente. A manutenção do arma-
mento e do material de comunicações devem ser diárias. O banho assim como
a substituição de peças íntimas, evitam o aparecimento de assaduras, infecções
e doenças.
2.6.1.2.5 Quanto às doenças, a associação do calor, umidade e tipo de ambiente
criam as condições ideais para o desenvolvimento de doenças, cujos transmis-
sores são insetos. As doenças respiratórias e de pele, também aparecem em
grande quantidade, devido ao clima. Os animais do Pantanal são extremamente
perigosos e podem ocasionar envenenamento e doenças alérgicas. O conheci-
mento, por parte do combatente, de suas limitações físicas e o asseio corporal
aumentam a chance de sucesso nesse ambiente.
2.6.1.2.6 Além disso, alguns exames e vacinas são necessárias para minimi-
zar os problemas que futuramente poderão causar a baixa ou óbito do militar.
Conforme as Normas para Inscrição e Seleção para o Estágio de Operações no
Pantanal (EOPan), destinados aos candidatos ao EOPan, os seguintes exames
e vacinas são necessários (podem ser modificados, conforme atualização de
ata, publicada periodicamente):
a) Reação para picada de abelha;
b) radiografia de tórax (ântero-posterior e perfil – pulmões e coração) e dos seios
da face;
c) reação de Machado Guerreiro;
d) hemograma completo; contagem de plaquetas;
e) glicemia de jejum;
f) EAS (sumário de urina);
g) ECG (eletrocardiograma em repouso);
h) ureia e creatinina;
i) eletroencefalograma;
j) dentário;
k) comprovante de vacinação antitetânica e antiamarílica; e
l) vacina contra difteria e vacina contra a hepatite B.

2-29
EB70-CI-11.438
2.6.1.2.7 Quanto aos animais nocivos, a fauna do Pantanal pode causar baixas
sérias e que exijam o procedimento de evacuações de emergência. Os peque-
nos animais podem causar reações alérgicas importantes e os médios e grandes
animais podem causar lacerações e perdas de membros.
- O conhecimento dos ambientes e da forma de ataque desses animais traduz
em maior segurança no desenvolvimento das operações militares.
2.6.1.2.8 Quanto à audição e olfato, a falta de elevações e de vegetação de gran-
de porte no Pantanal propiciam que sons de embarcações ou aeronaves alcan-
cem distâncias maiores, cabendo ao planejador, avaliar a influência desse fator
na execução da missão. Além disso, meios artificiais ou naturais para combater
os insetos, como repelentes ou fumaças, podem denunciar a posição de uma
tropa e prejudicar sobremaneira o sigilo e o cumprimento da missão.
2.6.1.3 Influência no Equipamento e Armamento
2.6.1.3.1 Os equipamentos e os armamentos a serem empregados na área do
Pantanal devem possuir características semelhantes aos das tropas leves e de
selva. O fardamento a ser utilizado nesse ambiente operacional deve ser bem
maleável, de preferência composto por tecido de secagem rápida, devido à gran-
de probabilidade de atuação do combatente no meio aquático. Da mesma forma,
o calçado deve possuir válvulas para escoamento da água e ilhós largo que
facilite a confecção de amarrações com soltura rápida.
2.6.1.3.2 Ao preparar o fardo aberto, o militar deverá observar a sua missão e
poderá optar por conduzir, em coletes ou bornais de assalto, materiais e muni-
ções necessários para o cumprimento da missão, evitando com isso, a condução
de mochilas que desgastariam o combatente. Se a missão necessitar do uso de
mochila em grandes deslocamentos, o ideal é que o fardo aberto seja leve, tipo
suspensório, tornando mais arejado a região da frente do corpo.
- O que é necessário estar nesse fardo é, pelo menos, dois cantis, devido ao
grande consumo de água, bem como o facão, devido às características do am-
biente.
2.6.1.3.3 O emprego adequado do facão de mato pode ser de grande utilidade
para o combatente pantaneiro, auxiliando tanto na construção de abrigos e ar-
madilhas, quanto na confecção de alimentos e na abertura de trilhas em deter-
minados trechos de vegetação mais densa.
2.6.1.3.4 Devido ao grande número de insetos que povoam o Pantanal, o uso
de repelentes pode ser uma solução a ser adotada. No entanto, algumas pre-
cauções devem ser tomadas, pois o odor expelido pelo seu uso pode acabar por
denunciar a posição de uma tropa, ou pelo menos o caminho que ela percorreu.
Outro cuidado que se deve ter é em relação ao uso continuado, pois pode pro-
vocar reações alérgicas adversas.

2-30
EB70-CI-11.438
2.6.1.3.5 Buscando auxiliar o preparo do fardo de combate, é necessário res-
saltar que as operações descentralizadas em que o combatente pantaneiro se
insere, acarretam uma maior dificuldade de apoio logístico do escalão superior,
suscitando com isso, a necessidade de que o militar leve o máximo de material
necessário à sua sobrevivência em combate. Entretanto, o uso de mochilas ex-
tremamente pesadas ocasiona restrições no emprego de aeronaves e embarca-
ções e ocasionam o desgaste físico prematuro, principalmente, em deslocamen-
tos em ambiente alagado.
- Diante dessas observações, o fardo de combate, ao ser preparado para o cum-
primento de missão, deverá sempre levar em conta as características dos meios
envolvidos no terreno e o tempo de duração da missão.
2.6.1.3.6 A utilização da rede de selva é fundamental para um pernoite confortá-
vel, e principalmente seguro. Devido à grande incidência de animais peçonhen-
tos, o uso da rede possibilita ao combatente o repouso em boas condições de
segurança, quando não estiver sendo empregado, mantendo assim sua capaci-
dade combativa elevada.
2.6.1.3.7 A pequena fração deve possuir versatilidade em armamentos e muni-
ções, tendo em vista os diferentes tipos de missões e alvos. O armamento indi-
vidual deve ser rústico para resistir às intempéries e ao mesmo tempo versátil,
para permitir o uso em ambientes fechados, matas, localidades, aeronaves e
embarcações, assim como, possibilitar o emprego eficaz tanto de dia como a
noite em diferentes tipos de alvos, como casamatas, embarcações e aeronaves.
O armamento individual do combatente pantaneiro deve ser o fuzil Pára-FAL, IA2
ou outro de características similares.
2.6.1.3.8 Dessa forma, o armamento para emprego no ambiente do Pantanal
tem que obedecer a duas condições básicas: ser de fácil maneabilidade e bem
resistente às intempéries da região.
a) Apesar da escassez de elevações, os amplos campos de tiro propiciam o em-
prego de atiradores de elite, logo a tropa deve ser dotada de caçadores.
b) a pequena fração, ainda deve ser dotada de armamento específico para algu-
mas tarefas como a balestra, que visa silenciar a sentinela, evitando o alerta do
inimigo; armas de caça que possibilitam manter a segurança, quanto a animais
de médio e grande porte, assim como, o combate em ambientes fechados e a
caça, caso a tropa fique temporariamente em uma situação de sobrevivência;
armas anticarro de curto alcance e baixa penetração para a defesa contra em-
barcações e aeronaves; e armas de tiro curvo com médio e grande alcance, para
uso em obstáculos a frente, como os existentes em rios ou corixos ou em locais
que a vegetação impossibilitam o tiro tenso.
c) quanto às munições, deve-se ter em mente o uso de munição perfurante em
maior quantidade, principalmente contra embarcações. De forma similar à per-

2-31
EB70-CI-11.438
furante, a munição traçante deverá ser utilizada para as atividades noturnas e
pelo alcance que pode atingir designando os alvos. O fumígeno tem que possuir
características flutuantes e poderá ser empregado como meio de comunicações,
designação de alvo a grande distância ou para cegar o inimigo.
2.6.1.3.9 O equipamento rádio mais adequado para se operar no Pantanal, em
função de seu relevo suave e das grandes distâncias a cobrir, deve ser preferen-
cialmente do tipo UHF, com cerca de 100 W de potência. Em virtude de se atuar
em faixa de fronteira, é necessário que esse equipamento possua um sistema de
criptografia. O tipo de terreno e a descentralização das ações restringirá muito
a utilização do meio fio. O sistema de mensageiros pode vir a ser utilizado, em
casos especiais, empregando os mais variados meios de transporte, como as
embarcações regionais.
2.6.1.3.10 Alguns equipamentos devem obrigatoriamente ser conduzidos pelas
pequenas frações, a fim de facilitar a orientação em combate, como óculos de
visão noturna, telêmetros a laser, GPS, dentre outros, conforme a missão que
ele for cumprir, sua previsão de tempo de emprego e a possibilidade de ressu-
primento. O OVN além de suas características operacionais, pode ser utilizado
durante os processos de orientação para se avistar as bocas de rios e corixos,
que à noite se confundem com a vegetação ciliar. O GPS é extremamente im-
portante, pois determina o ponto exato em que a fração se encontra, corrigindo
erros que a carta topográfica pode provocar no orientador.
2.6.1.4 Influência no Deslocamento
2.6.1.4.1 O deslocamento no Pantanal pode ser realizado por qualquer meio
de transporte ou até mesmo a pé, entretanto o planejador deve sempre levar
em consideração a região em que irá operar. A vegetação diferenciada pode
representar verdadeiro obstáculo no deslocamento e até mesmo impedir o cum-
primento de missões. Nas áreas próximas dos rios, a mata ciliar restringe o movi-
mento para o interior. Muitas vezes, por ser uma área alagada, são encontradas
vegetações espinhosas, como o tucum, que restringem o movimento. Nas áreas
mais altas, como as serras, a vegetação é similar à caatinga e prejudica os
deslocamentos da tropa a pé. Nas regiões de fazenda, o deslocamento a pé e
motorizado é facilitado por possuir pouca vegetação, mas a dificuldade de camu-
flagem pode tornar o deslocamento diurno perigoso.
2.6.1.4.2 Nas áreas alagadas próximas aos rios, o desgaste dificulta o desloca-
mento a pé, porém pode ser utilizado para atingir o inimigo com surpresa e em
curtas distâncias. Nos rios e corixos, o deslocamento fluvial pode ser prejudicado
pelo camalote, que quando cresce em demasia provoca os chamados “entupi-
mentos”. Com relação às condições climáticas, deve-se observar que quando o
clima estiver quente, os deslocamentos a pé sofrerão influência direta, interferin-
do sobremaneira no moral e condicionamento físico do militar. Caso o desloca-
mento for embarcado, o reflexo do sol sobre a água pode provocar queimaduras

2-32
EB70-CI-11.438
de pele e interferir na visão (o uso de óculos de sol é uma alternativa importante,
além de reduzir muito o impacto de partículas e insetos nos olhos, causados pela
velocidade da embarcação). Já com o clima frio, os deslocamentos em ambiente
alagado poderão provocar hipotermia. Com relação ao vento sul ou frente fria, a
sua presença pode impedir o uso de aeronaves e embarcações, devido à veloci-
dade do vento e às condições de visibilidade.
2.6.1.4.3 Por ser uma área de planície, o Pantanal facilita o movimento da tropa
a pé e de viaturas, principalmente nas regiões mais afastadas do Rio Paraguai.
Nas regiões em que o terreno é acidentado, o uso de viaturas fica restrito, sen-
do melhor empregado os animais, como o cavalo pantaneiro. As regiões mais
próximas dos rios, por sofrerem a influência das cheias, dificultam o movimento
da tropa a pé, sendo mais empregadas as embarcações de pequeno calado ou
regionais.
2.6.1.4.4 A seguir são apresentados alguns dados médios de planejamento para
o deslocamento a pé em região de Pantanal:
a) Deslocamento diurno:
- velocidade de 2 Km/h, para as matas de grande porte;
- velocidade de 1 km/h, para as matas de pequeno porte;
- velocidade de 700 m/h em matas com espinheiros;
- velocidade de 800 m/h, em trechos alagados até a altura do joelho; e
- velocidade de 300 m/h, em trechos alagados até a altura do peito.
b) Deslocamento noturno:
- velocidade de 800 m/h, para as matas de grande porte;
- velocidade de 300 m/h, para as matas de pequeno porte;
- velocidade de 200 m/h, para as matas com espinheiros;
- velocidade de 300 m/h, em trechos alagados até a altura do joelho; e
- velocidade de 150 m/h, para trechos alagados até a altura do peito.

2.6.1.4.5 Devido às características de enchente e vazante das áreas do Pan-


tanal, o rio, com o tempo, provoca o surgimento dos chamados “corixos”, que
são braços do próprio rio que inundam as áreas interiores. A facilidade com que
aparece e some um corixo, dificulta em muito a orientação no Pantanal, pois as
cartas topográficas não mostram esse tipo de acidente e que em muitas das
vezes, se confundem com os rios. Tais corixos como dificilmente são identifica-
dos nas cartas, se tornam verdadeiros obstáculos para a tropa a pé, obrigando
que os homens carreguem consigo, meios de flutuação. Cresce de importância
o conhecimento de georreferenciamento de imagens, a fim de complementar a

2-33
EB70-CI-11.438
falta de informações das cartas topográficas da região. Entretanto, os rios pos-
sibilitam a vida no Pantanal e são as únicas “estradas disponíveis”, logo é fun-
damental o emprego de embarcações de pequeno e médio porte na maioria dos
corixos e embarcações de grande porte nos rios principais.
2.6.1.4.6 O emprego descentralizado e a insuficiência de estradas dificultam o
transporte de cargas para as pequenas frações. As missões geralmente impõem
grandes jornadas de deslocamentos, o que implica em maior quantidade de
peso a ser carregado. Entretanto, os rios e os corixos fornecem possibilidades
de transporte fluvial de grande quantidade de carga. Nas áreas descampadas
do Pantanal pode-se utilizar o lançamento de carga por aeronave para apoiar as
missões, observando ainda que se a carga for convenientemente preparada, em
devidos fardos e pacotes impermeáveis, poderá ser lançada em área alagada.
2.6.1.4.7 Quanto aos estacionamentos, o acantonamento é dificultado pela qua-
se inexistência de povoados, assim como o acampamento, tendo em vista a
grande quantidade de material levado, exceto em base de combate fluvial, devi-
damente apoiada por embarcações. Já para os bivaques deve-se sempre levar
em conta o clima, os animais nocivos e o local onde se vai pernoitar, procurando
conduzir:
a) Rede de selva
- Facilita o pernoite, principalmente pela existência do mosquiteiro, porém é di-
ficultada pela dificuldade de encontrar áreas com troncos grossos para a sua
amarração. A variante é colocar no terreno, levantando-se o mosquiteiro.
b) Mosquiteiros
- Extremamente importante, mas se não for associado à suspensão do solo, o
combatente fica exposto à ação de animais rasteiros, o que não acontece na
rede de selva por ser fechada.
c) Abrigos improvisados
- Necessários para caso de sobrevivência ou para potencializar um abrigo artifi-
cial. Pode ser usado em bases de combate para aumentar o conforto.
2.6.1.5 Influência nas Atividades Logísticas
2.6.1.5.1 A distância dos grandes centros dificulta o recompletamento e a subs-
tituição da tropa empregada. Os recursos locais podem ser utilizados para res-
suprir a tropa em combate, bem como a população local se consubstancia em
ótimo recursos humanos, tendo em vista o conhecimento da região, a facilidade
com que usam armas e a paixão pelo Pantanal.
2.6.1.5.2 A manutenção é dificultada pelas distâncias dos grandes centros; pelo
reduzido número de estradas e hidrovias que possam servir de eixos de evacua-
ção de material; e pela dificuldade de reposição, além do valor ser relativamente
caro (peças de embarcações e aeronaves).
2-34
EB70-CI-11.438
2.6.1.5.3 Em um combate no complexo ambiente pantaneiro, o correto emprego
assim como as formas de obtenção dos suprimentos, são determinantes para a
manutenção das condições de combate. Para a logística correta, torna-se funda-
mental a observância dos seguintes pontos:
a) A adoção de processos especiais para distribuição de suprimento (comboio
especial, posto de suprimento móvel, reserva móvel e, em particular, suprimento
por via aérea) permite minimizar o peso a ser transportado pelas tropas em 1o
escalão e são melhores adaptáveis ao tipo de terreno.
b) O local de apoio à missão deve buscar a utilização do pré-posicionamento de
material próximo aos possíveis objetivos, assim como equipes especiais trans-
portando material para determinada missão.
c) As instalações logísticas possuem seu uso dificultado pela falta de cobertura
e pela existência de poucas vias de suprimento (estradas), limitando-se, por ve-
zes, ao uso das hidrovias.
d) A rápida deterioração de gêneros alimentícios é um dificultador. Para longos
períodos é vital o ressuprimento constante. Tal fator pode ser atenuado pelo uso
de alimentos com maior duração e locais apropriados de armazenamento, sen-
do também pertinente afirmar que o Pantanal com sua riqueza natural, propicia
muitos meios de sobrevivência.
e) A baixa durabilidade do fardamento e equipamentos é agravada pelas con-
dições climáticas e do terreno, o que provoca nas pequenas frações, uma ne-
cessidade maior da capacidade de manutenção dos diversos itens da cadeia de
suprimento, especialmente fardamento e armamento.
f) Elevado consumo de combustíveis e lubrificantes ocorre devido, principalmen-
te, ao uso de embarcações e aeronaves para realizar os deslocamentos.
g) Toda a atenção deve ser destinada à minimização da deterioração do su-
primento classe V, sendo vital o correto armazenamento de munição, devendo
receber especial atenção, pois a umidade e o calor influenciam no poder de
oxidação de forma rápida.
h) Em atividades operacionais, o comandante deverá estar ciente que poderá ter
baixas, em virtude de diversos motivos. Torna-se importante a observância de
alguns fatores que contribuirão para a saúde de seu efetivo:
1) apoio cerrado às pequenas frações é fundamental, devendo-se prever o
emprego de elementos de saúde (1o escalão de saúde), desde que devidamente
instruídos a socorrer feridos em combate e com conhecimento das enfermidades
do Pantanal (execução de atendimento primário, medicina preventiva e com limi-
tada capacidade de retenção, tratamento e evacuação);
2) para a higiene e profilaxia, a prevenção e o uso de equipamentos adequa-
dos ao ambiente podem evitar a baixa em combate por motivos fúteis. O militar

2-35
EB70-CI-11.438
deve preocupar-se em estar sempre confortável, com sua roupa seca e com seu
abrigo bem construído, com o objetivo de evitar os males provocados pela umi-
dade excessiva e pelos animais nocivos; e
3) a condução de remédios específicos, destinados aos primeiros socorros,
pelo pelotão é essencial, principalmente para casos mais graves, devido à atua-
ção descentralizada. O estojo de primeiros socorros pessoal deve dar preferên-
cia para os malefícios do militar e para as suas deficiências. O uso de reidratante
oral, remédios contra alergia e problemas de pele são constantes, portanto, es-
ses produtos não devem ser esquecidos e poderão ser conduzidos no estojo do
militar, deixando de sobrecarregar o estojo da fração (coletivo).
2.6.2 ACIDENTES CAPITAIS
2.6.2.1 Os acidentes capitais mais importantes no Pantanal são as localidades,
portos, aeródromos e até mesmo elevações que dominem locais de passagem
obrigatória ou trechos de importantes rios navegáveis, como Coimbra e Fecho
dos Morros.
2.6.2.2 As regiões mais elevadas não serão necessariamente acidentes capi-
tais, exceto nas condições anteriormente mencionadas.
2.6.2.3 Os acidentes do terreno, cuja posse ou manutenção trazem vantagens
para algum dos contendores no ambiente pantaneiro são resumidos, pratica-
mente, a pontos críticos ou regiões que dominem esses pontos:
a) Vias de transporte terrestre - entroncamentos, regiões propícias à montagem
de emboscadas;
b) localidades e áreas que possam ser utilizadas como base pelo inimigo;
c) pontos que dominem a circulação, tais como as regiões de passagem sobre
os rios (pontes, local de travessia de balsa, etc), os nós rodoviários, as confluên-
cias de rios, boca dos rios afluentes, curvas dos rios, ilhas, elevações próximas
às margens e regiões propícias à montagem de emboscadas;
d) os campos de pouso existentes na região; e
e) clareiras e áreas secas que sirvam como Z Reu, base de combate ou base de
patrulha e outras instalações, além das que favoreçam as ações inopinadas de
emboscadas e infiltrações, que permitam a operação de helicópteros e que se-
jam utilizadas como zona de lançamento para emprego de tropas aeroterrestres.
2.6.2.4 São acidentes capitais, ainda, os locais apropriados para a instalação
de Base de Combate Ribeirinha (BCR), seja terrestre ou flutuante, locais para
instalação de Bases de Operações Aéreas (BOA) e Locais de Desembarque
Ribeirinho (Loc Dbq Rib).

2-36
EB70-CI-11.438

2.6.3 VIAS DE ACESSO


2.6.3.1 No Pantanal o conceito clássico militar de via de acesso deve ser adap-
tado ao ambiente operacional particular da região, a fim de que se possa ter uma
visão adequada das reais possibilidades de movimento tático de tropas nessa
área.
2.6.3.2 De um modo geral, as vias de acesso no ambiente pantaneiro terão
dimensões reduzidas, sendo adequadas apenas aos pequenos efetivos, até o
escalão Subunidade no máximo. Podendo chegar na vazante, em alguns casos,
ao escalão Batalhão. Nessas situações deve-se privilegiar o emprego de faixas
de infiltração valor pelotão.
2.6.3.3 As principais vias de acesso serão os rios, corixos, estradas e trilhas
existentes na região. Para a realização de movimentos estratégicos ou mesmo
de movimentos táticos de maiores escalões, devem-se utilizar as estradas de
maior capacidade, como a BR-262 ou os rios mais caudalosos, como o Para-
guai.

2-37
EB70-CI-11.438

2-38
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO III
FLORA E FAUNA

3.1 FLORA
3.1.1 A vegetação do Pantanal, rica e variada, não é homogênea e há padrões
diferentes de acordo com o solo e a altitude.
3.1.1.1 Nas partes mais baixas predominam as gramíneas, que são áreas de
pastagens naturais para o gado.
3.1.1.2 Nas alturas intermediárias, predomina o cerrado, com árvores de porte
médio. Há também os capões de mato, com árvores maiores.
3.1.1.3 Já nas altitudes mais elevadas, a vegetação se apresenta semelhante à
da área de caatinga. Existem, ainda, no Pantanal algumas áreas com mata densa.
3.1.1.4 A vegetação aquática é fundamental para a vida pantaneira. Existem
variadas espécies de plantas flutuantes, como os camalotes e a vitória-régia,
vegetações típicas da Região da Amazônia (Fig 17, 18 e 19).

Fig 17 - Cheia do Pantanal Fig 18 - Carandazal

3-1
EB70-CI-11.438

Fig 19 - Baceiro

3.1.2 Encontrar alimentos vegetais depende de conhecimento, experiência e


também de sorte, além da estação do ano e da flora da sub-região. Frutos silves-
tres, em geral, possuem muito tanino (polifenóis de origem vegetal que causam
dificuldades na digestão e acarretam a produção de produtos tóxicos a partir de
sua hidrólise) e se não estiverem bem maduros, poderão dar a impressão de
não-comestíveis.
3.1.3 Geralmente estão no ponto ideal quando caem, ou quando se soltam facil-
mente. Mesmo maduros, podem ter cheiro estranho ou enjoativo, como o fruto do
jatobá. É difícil encontrar frutos maduros, porque a fauna os consome. O tucano,
por exemplo, tem um roteiro de árvores frutíferas visitadas e sua presença pode
ajudar a encontrá-las. Depois de encontrado, obter o recurso alimentício ainda
pode ser difícil, como no caso de frutos fora do alcance e dos que requerem muita
energia ou ferramentas para sua extração, como palmito e castanha de coco de
palmeiras.
3.1.4 Como princípio, algumas famílias de plantas são destacadas como prove-
doras de comida: palmeiras, cactos e “goiabinhas”. As palmeiras são grandes
fontes de alimento, pois possuem palmito e frutos comestíveis (polpa e castanha).
Seus frutos são práticos de transportar e guardar, além de tudo, nenhum é tóxico.
Todos os cactos têm frutos comestíveis, assim como contém água com minerais
nas “folhas”, também sem toxidez.
3.1.5 As atas ou ariticuns são todos comestíveis, embora as sementes sejam
tóxicas. Outra família importante como frutífera é a da goiaba, das Mirtáceas,

3-2
EB70-CI-11.438
reconhecidas pela folha com cheiro de goiaba ou pitanga, embora algumas te-
nham frutos pouco saborosos e com pouca polpa. Para sobreviver no mato, às
vezes resta confiar nos instintos, embora os sentidos de alerta (olfato e sabor), do
homem urbano sejam pouco desenvolvidos. Não há plantas muito venenosas no
Pantanal que sejam motivo de preocupação, pois as que são tóxicas têm cheiro
e gosto muito desagradáveis.
3.1.6 Vagens devem ser evitadas, assim como não deve-se comer sementes tipo
feijão sem trocar várias vezes a água de fervura. O fedegoso tem semente tóxica,
o que desaparece ao ser torrada. A semente de angico também é tóxica. Uma
indicação de plantas frutíferas é o que é comido por porcos, macacos e algumas
aves como arancuã, araras e tucanos. Frutos vermelhos geralmente são procu-
rados por aves frugívoras e muitos podem ser comidos pelo homem.
3.1.7 Via de regra, não devem ser consumidos os vegetais, frutos, tubérculos que
apresentarem uma das três características fundamentais: cabeludo, amargo ou
leitoso. A grande maioria dos frutos comidos pelos animais poderá servir para o
consumo do homem. Vale lembrar que as aves pequenas não são fontes confi-
áveis de bom alimento quanto ao sabor, quantidade de polpa e principalmente a
toxidez, como é o caso dos papagaios que comem frutos tóxicos como caiarana,
camboatá, saboneteira e ximbuva.
3.1.8 Caso a planta não seja identificada, outra regra básica é utilizar os brotos,
de preferência subterrâneos, pois são mais tenros e saborosos. É importante
ressaltar que na área do Pantanal não há palmito tóxico, logo todos podem ser
consumidos. Os alimentos de origem vegetal estarão sempre na dependência da
época e da distribuição geográfica (região), e os melhores locais para se procurar
os frutos são capões, beira de matas e beira de rios em campo abertos.
3.1.9 REGRA DOS SENTIDOS
- A EMBRAPA, por meio de estudos científicos, desenvolveu um método para
verificar se os vegetais encontrados na natureza podem ser consumidos pelo
homem. Consiste na REGRA DOS SENTIDOS, que possui 3 etapas:
a) Deve-se partir o fruto ao meio e colocá-lo em contato com a parte do braço
contrária ao cotovelo (parte mais sensível). Deve-se verificar se a pele não sofreu
nenhuma irritação, comum a vegetais que podem ser tóxicos;
b) após isso, coloca-se o fruto em contato com os lábios e canto da boca, duran-
te aproximadamente 5 segundos. deve-se observar e verificar se os lábios não
sofreram nenhuma irritação; e
c) o próximo passo, é colocar o alimento na ponta da língua durante aproxima-
damente 5 segundos. Caso não sinta queimação ou amortecimento engula-o e
aguarde durante 4 a 5 horas. Se não ocorrer nenhuma reação adversa, a planta
deve ser segura.

3-3
EB70-CI-11.438
Observação: é importante ressaltar que não se deve estabelecer uma dieta com
apenas esse tipo de vegetal, visando evitar outras reações, como a diarréia,
oriunda de um cardápio pobre em variedades.
3.1.10 OS VEGETAIS COMESTÍVEIS
3.1.10.1 Dos alimentos de origem vegetal, podemos classificar em vegetais não
cultivados ou silvestres e os cultivados, sendo que ambos poderão ser consumidos
quando encontrados em uma situação de sobrevivência.
3.1.10.2 Os vegetais silvestres comestíveis são encontrados na região pantaneira
e se reproduziram sem a necessidade de cultura, assim sendo, são vegetais en-
contrados nas matas. Eles serão expostos na tabela a seguir (Tab 1), conforme
a padronização que leva em consideração:
a) a sua época de frutificação com a letra P (primavera), V (verão), O (outono)
e I (inverno);
b) seu grau de valor alimentício, em ordem crescente de importância e que vai
de 1 a 5; e
c) por fim, seu grau de frequência de ocorrência (facilidade de encontro no am-
biente), que será de 1 para raro, 2 para ocasional, 3 para frequente, 4 para muito
comum e 5 para predominante.

Vegetal Silvestre Classificação Observações


Fruto comestível (ácido), muito aromático, também
Abacaxizinho V; 2; 3
comido por bovinos, suínos e animais nativos.
Fruto verde quase o ano todo e que cai no inverno;
Acuri I; 3; 5 fruto e semente comestíveis. Possui no seu caule
palmito comestível.
Água Pomba P, V; 2; 2 Fruto e semente comestível; rico em ferro.
Conhecida também como Moreira, possui como
característica a produção de fruto em grande
Amora Brava número, sendo comestível, doce, atraindo e
P; 2; 2 alimentando muitas aves que espalham as nu-
merosas sementes.
Fruto comestível, também comido por aves e
Araçá V, O; 2; 3
peixes.
Fruto comestível, doce, muito cheiroso, bom para
Ariticum V; 2; 4
geleia e doce.
Ata V; 2; 3 Fruto comestível e doce.
Fruto e semente comestível, sendo rico em vita-
Babaçu P, V, O, I; 3; 3
mina E. Da semente extrai-se margarina e óleo.

Tab 1 - Espécies vegetais silvestres comestíveis no Pantanal.

3-4
EB70-CI-11.438

Vegetal Silvestre Classificação Observações


Bocaiuva P, V, O, I; 2; 4 Fruto comestível, principalmente por roedores.
Fruto comestível e que serve para fazer refresco.
Cabaceira V, O; 2; 5
Serve de alimento ao bugio, aves e pacu.
Fruto comestível, cheiroso e ácido. Utilizado para
Cajá V, O; 3; 2
refresco, geleia e compota.
Fruto muito cheiroso, comestível, praticamente
Cajuzinho P; 2; 3 não utilizado por ser muito ácido. Faz-se dele suco
e vinho (fermentado), e sua castanha é torrada.
Caninha do Rizoma comestível, bom teor de cálcio e proteína,
P, V, O, I; 2; 3
Brejo além de muitos minerais.
Fruto comestível (ácido), come-se também o
Caraguatá V, O, I; 2; 5 rizoma (cozido), o eixo da inflorescência, e o
botão floral.
Carandá V, O; 2; 5 Fruto e palmito comestíveis.
Fruto e planta comestíveis, fruto doce, de exce-
Coroa de Frade P, V, O, I; 2; 4
lente sabor, frequentemente bichado.
Fruto comestível. Polpa grossa, branca e adoci-
Cupari P, V, O; 3; 3 cada. É comida por aves e peixes. Muito comer-
cializada na Bolívia.
Fruto comestível e tem sabor de fígado. Alimen-
Embaúba P, V, O, I; 3; 5 to de bugio, morcegos, tucanos, arancuã e ou-
tras aves.
Feijão Bravo I, P; 3; 2 Comestível, devendo ferver para evitar toxinas.
Fruto comestível, alimento de veados campei-
Fruta de Veado V; 2; 3
ros.
Fruto comestível, cru ou cozido, podendo ser
Jatobá I, P; 2; 4
misturado ao leite.
Fruto comestível, adocicado, rico em cálcio e
Jatobá Mirim V; 2; 4
magnésio.
Fruto comestível, adocicado, rico em cálcio e
Jatobá Mirim V; 2; 4
magnésio.
Comestível, doce, difícil achar maduro, alimen-
Jenipapo V; 2; 2
to muito apreciado por aves.
Laranjinha de Fruto comestível, utilizado muito na pesca, daí
V, O, I; 1; 2
Pacu o nome de pacu.
Fruto comestível, mas difícil de encontrar ma-
duro, pois é alimento de aves. O caule pode ser
Mandacaru P, V, O; 1; 3
comido cru e pode ser utilizado para fazer suco.
A flor também é comestível.
Tab 1 - Espécies vegetais silvestres comestíveis no Pantanal (continuação).

3-5
EB70-CI-11.438

Vegetal Silvestre Classificação Observações


Semente comestível rica em proteína, comida
por bugios aves e roedores. A sua semente
Mandovi O, I; 3; 2
pode ser consumida crua ou torrada. Muito pa-
recida com amendoim.
Maracujazinho V, O; 1; 1 Fruto comestível e doce.
Fruto comestível, atentar para a seleção e ar-
Marmelada V; 2; 3 mazenamento, visando evitar larvas no seu in-
terior, que só deixam sua casca.
Fruto saboroso e muito parecido com o sabor
Pateiro O; 2; 2
do abacate.
Paratudo P; 2; 2 Flor comestível, porém, amarga como o alface.
Fruto comestível, porém, picante e deve ser
Pimenta do Mato P, V, O, I; 2; 3
consumido maduro, senão trava a língua.
Fruto comestível, rico em ferro e cálcio. Muito
Pitanga P, V; 2; 1 utilizado para geleias, compotas, sorvetes e
suco.
Fruto comestível e extrai-se óleo; muito utiliza-
Tucum V, O; 2; 4
do como isca para pacu.
Fruto comestível, saboroso, doce, comido tam-
Urumbamba V; 2; 3
bém por aves.
Tab 1 - Espécies vegetais silvestres comestíveis no Pantanal (continuação).

3.1.11 OS VEGETAIS CULTIVÁVEIS


3.1.11.1 É possível encontrarmos alimentos de origem vegetal cultivados pelo
homem na região do Pantanal. E esse motivo deve-se a um fato histórico. Na dé-
cada de 80, ocorreu no Pantanal a chamada grande cheia. Com isso, as grandes
fazendas existentes no interior do Pantanal foram abandonadas. Nessas fazendas
existiam plantações de subsistência e pomares. Após a cheia, a grande maioria
dos proprietários não retornou mais para as suas propriedades, pois se instalaram
nas periferias das grandes cidades (assentamentos), onde começaram uma nova
vida, preferindo não correr o risco de novamente serem surpreendidos pela cheia.
3.1.11.2 Com o passar dos anos, aquelas fazendas abandonadas foram tomadas
pela vegetação e todas as plantações, principalmente os pomares, resistiram ao
tempo e ficaram isolados no meio da vegetação silvestre. Dentre os vegetais que
eram plantados e cultivados destacam-se: manga, coco, laranja, abacaxi, aba-
cate, jiló, carambola, maracujá, caju, limão, tamarindo, banana, amora, acerola,
jabuticaba, melancia, cana de açúcar, tangerina, romã, goiaba, melão, mamão,
jaca e pitanga.

3-6
EB70-CI-11.438
3.1.12 OS VEGETAIS E SEU USO MEDICINAL
3.1.12.1 A seguir estão listados os vegetais encontrados no Pantanal (Tab 2), cujas
propriedades medicinais são de grande importância e utilidade para a saúde do ho-
mem pantaneiro (fruto da experiência indígena e dos ribeirinhos locais). Os efeitos
e o modo de preparo sugerido visam o melhor aproveitamento desses vegetais.

Vegetal Efeito (indicação) Modo de preparo


Acuri Colírio Água do fruto.
Feito das folhas, colocadas na água
Alecrim Contra pressão alta
fervendo.
Alfavaca Gripe Ferver a folha durante 10 minutos.
Cicatrizante (casca) e
Angico Chá feito da casca.
contra tosse (melado)
Araçá Contra diarreia Chá do broto, que contém tanino.
Lavagem vaginal para
Arnica Folhas em descanso na água.
evitar doenças venéreas
Melado (casca fervida) em pano e
Aroeira Fraturas tala de bambu, servindo como subs-
tituto do gesso em fraturas.
Hemorragias, cicatrizante
Barbatimão Ferver a casca.
e doenças venéreas
Dor de estômago, fígado e
Boldo Chá feito da folha.
ressaca
Cambará Tosse Xarope feito da resina da casca.
Calmante e prisão de
Camomila Ao fogo até ferver.
ventre
Cancerosa Depurativo do sangue Chá feito da folha.
Caninha do Brejo Cálculo Renal Chá da folha e talo.
Calmante, problemas no
Capim Cidreira Chá feito da folha.
estômago e gripe
Caraguatá Tosse Xarope feito do fruto.
Anemias, hepatite, diabe-
Carqueja Chá feito das folhas.
tes e má digestão
Chapéu de Couro Impotência Chá feito das folhas.
Emagrecedor (corta apeti-
Chico Magro Chá feito da casca.
te) e elefantíase
Dor de barriga, semente
Cumbaru fortificante que regulariza a Chá feito da casca.
menstruação
Tab 2 - Vegetais com propriedades medicinais do Pantanal.

3-7
EB70-CI-11.438

Vegetal Efeito (indicação) Modo de preparo


Coração (folha e raiz), Ferver em água as partes da embaú-
Embaúba bronquite (flor), tosse ba. O suco da raiz aumenta a força
(broto). do coração.
Erva de Santa
Colírio Secreção da inflorescência.
Luzia
Erva de Santa
Contra vermes Chá feito da folha da erva.
Maria
Calmante, problemas no Chá feito da folha (natural, mais forte
Erva Cidreira
estômago e gripe que o capim cidreira).
Estomalina Dores estomacais Chá feito da folha.
Eucalipto Gripe Chá feito da casca da árvore.
Vermes e doenças das
Fedegoso Chá feito da raiz.
vias urinárias
Contra dor de dente (palito Não fazer uso interno sem orienta-
Guiné
da raiz) ção médica (planta tóxica).
Ingá Cicatrizante Feito da casca.
Jatobá Tosse Resina da casca ou do fruto fervido.
Feridas (casca) e purgante Lavar as feridas com casca fervida
Jenipapo
(raiz) em água.
Joá Furúnculo Fruto aplicado no furúnculo.
Macela-do- Dores de estômago e
Ferver as folhas.
-Campo fígado
Dente extraído (bochecho)
Malva Branca Chá feito da folha.
e contra disenteria
Gripe, diabetes e para Chá feito das folhas (gripe) e casca
Mangava
emagrecer (diabete).
Melão de São
Doenças de pele Macerar as folhas com água.
Caetano
Diabetes, febre, malária,
Paratudo Mascar a casca ou colocar na água.
amarelão (junto com leite)
Pata-de-Vaca Diabetes Chá feito da folha.
Câncer, inibe tumores e Ferver a entrecasca/cerne (contém
Piúva-Roxa
alivia as dores lepachol).
Ponta de Alívio Indicado para dores Ferver durante 10 minutos.
Quebra Pedra Pedras nos rins e diurético Chá feito das folhas.
Inflamação na garganta
Romã Chá feito da casca do fruto da romã.
e tosse
Tab 2 - Vegetais com propriedades medicinais do Pantanal (continuação).

3-8
EB70-CI-11.438

Vegetal Efeito (indicação) Modo de preparo


Macerado misturado com mel (açú-
Saião Xarope para tosse
car) e água.
Dor de dente (caule) e de- Caule (deixar em repouso na água)
Taiuiá
purativa do sangue (raiz) e raiz (fervida).
Dores e cicatrizantes de
Terramicina Chá feito da folha.
feridas
Vassourinha Indicado contra diarreia Chá feito da folha.
Tab 2 - Vegetais com propriedades medicinais do Pantanal (continuação).

3.1.13 A FLORA E SUA UTILIDADE


3.1.13.1 O Pantanal é um ecossistema fantástico e tem atraído a atenção de todos,
devido ao estado de conservação de seus recursos bióticos. A flora pantaneira
caracteriza-se pela riqueza e abundância de espécies, as quais, apesar de terem
sido colocadas em risco pela interferência humana nas últimas décadas, não
chegaram a ter comprometida sua capacidade de regeneração.
3.1.13.2 A vegetação pantaneira tem origem em outras regiões como: Charco,
Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. Muitas são de ampla distribuição geográfica
e no Pantanal as espécies crescem em arranjos próprios e muitas vezes formam
populações muito maiores que no lugar de origem. Em algumas áreas do Panta-
nal predominam o contato da savana (Cerrado) com a floresta. Existem mais de
1.700 espécies de plantas no Pantanal, dentre as quais árvores, arbustos, ervas
e trepadeiras, distribuídas nas diversas sub-regiões pantaneiras.
3.1.13.3 Na tabela a seguir (Tab 3), são relacionadas as plantas mais encontra-
das na área de operações do Rio Paraguai e algumas de suas características e
utilidades.

VEGETAL DADOS TÉCNICOS UTILIZAÇÃO

Limão Bravo

Arbusto a árvore: 2 a 5
m de altura (com espi- Fruto comestível, ácido,
nhos). e também consumido por
animais. A semente possui
Flor (AGO-OUT) e fruto óleo alimentício.
(OUT-DEZ).

Tab 3 - Espécies de plantas mais encontradas no Pantanal.

3-9
EB70-CI-11.438

VEGETAL DADOS TÉCNICOS UTILIZAÇÃO


Piúva Branca

Árvore: 5 a 10 m de al-
tura. Ornamental (cultivada),
madeira pesada e macia,
Flor branca (SET-DEZ),
utilizada para cabo de fer-
durante poucos dias.
ramentas.

Caiá Fruto comestível, cheiroso,


ácido, serve para refresco,
Árvore: 6 a 15 m de al- doce e geleia. Mesmo gê-
tura. nero da seriguela, cultivado
Tronco com saliências nas sedes das fazendas,
multiformes de cortiça, constituindo alimento para
flor creme (OUT-NOV) e porcos e jabuti. Madeira
fruto (FEV-NOV) leve, branca, macia, pega
cupim, serve para fabrica-
ção de canoas e marcena-
ria.
Cansanção (urtiga)

Subarbusto: 1 a 2 m de Isca (folha enrolada no an-


altura. zol para pescar pacu). Fru-
Com flor (JAN-ABR) e to é comestível, aguado,
fruto (MAR-MAIO). com pouca polpa e alimen-
to de pequenas aves.

Taiuiá

Trepadeira: vai ao topo


da árvore, com caule de Medicinal (contra dor de
até 15 cm de diâmetro, dente e depurativa).
e flor em outubro.

Tab 3 - Espécies de plantas mais encontradas no Pantanal (continuação).

3-10
EB70-CI-11.438

VEGETAL DADOS TÉCNICOS UTILIZAÇÃO


Pimenteira

Árvore: 4 a 10m de al-


tura. Fruto comido por peixe e
Tronco geralmente ra- utilizado como tempero;
mificado, flor (MAI-JUN) apícola e forrageira (apesar
e fruto (OUT-DEZ). da folha ser meio dura).

Bocaiuva
Folha bem aceita por bois
Palmeira: 5 a 20m de e cavalos; fruto comestível,
altura. quando a polpa é cozida
com leite serve como forti-
Espinhosa no caule,
ficante; pode ser feito como
flor (SET-JAN) e fruto
sorvete; é bem procurado
(OUT-DEZ).
por roedores, emas e ara-
ras. Madeira usada para
paredes e caibros.

Cumbaru

Fruto comestível, principal-


mente, por bovino e disse-
Árvore: 5 a 15m de altu-
minado por aves. Madeira
ra, com casca clara, flor
boa, utilizada para cercas,
(OUT-NOV) e fruto pra-
por ser resistente a cupim,
ticamente o ano todo.
forrageira e bem aceita
pelo bovino.

Embira de Sapo

Árvore: 6 a 15 m de al- Casca é desfiada e utiliza-


tura da como amarração.

Tab 3 - Espécies de plantas mais encontradas no Pantanal (continuação).


3-11
EB70-CI-11.438

VEGETAL DADOS TÉCNICOS UTILIZAÇÃO


Farinha Seca
Fruto comestível, poden-
Árvore: 4 a 10 m de al- do ser um bom alimento
tura. humano. Do açúcar, pode-
Casca grossa e que é -se extrair bebida destila-
resistente a fogo. da. Madeira escura, dura,
densa, valiosa, e que serve
Flor (AGO-NOV) e fruto para construção de móveis.
após estação chuvosa. Apícola com a caracterís-
tica de produção de muito
néctar.

Embiruçu
Madeira leve e porosa, boa
Árvore: 4 a 10 m de altu-
ra, com tronco e ramospara confecção de caixotes,
com casca grossa de cochos e gamelas. Fibras
resistentes a água, não
cortiça de cor castanha.
apodrecem com facilidade,
Flor de 20 cm de com-
sendo boa matéria-prima
primento (JUN-SET).
para salva-vidas e isolante
térmico. Ornamental.

Espeteiro

Madeira pesada, dura, fle-


Árvore: 6 a 15 m de al- xível, muito utilizada para
tura, de tronco reto. caibro, devido ao caule ser
bem reto.

Aroeira

Árvore: 6 a 20 m de al- Fruto comido por papa-


tura, com casca escura gaios. Madeira pesada,
e áspera. dura (constantemente fu-
rada por larva de besouro),
Folha com cheiro de
muito durável, usada em
manga, flor (AGO-SET)
moirões, postes e currais.
e semente (SET-OUT)
Sua madeira não é boa
como lenha.

Tab 3 - Espécies de plantas mais encontradas no Pantanal (continuação).

3-12
EB70-CI-11.438

VEGETAL DADOS TÉCNICOS UTILIZAÇÃO


Morcegueiro

Árvore: 3 a 12 m de al- Fruto comestível e carrega-


tura, casca grossa, a do por morcegos, madei-
folha nova é averme- ra branca que serve para
lhada, Flor (DEZ, MAR gamela e cocho. Apícola
e JUN) e fruto (OUT- devido a sua flor ser muito
-NOV). perfumada.

Angico Branco

Árvore: 8 a 20 m de al-
Ninho de araras e tuiuiú,
tura, tronco geralmente
madeira branca–amarela-
bifurcado, flor (JUN-
da, com textura grosseira,
-NOV) e vagem (AGO-
fibrosa e pouco durável.
-DEZ).

Carandá Fruto comestível, usa-


do como isca para peixe
(pacu). Alimento de peri-
quitos e araras. Madeira
Palmeira: 8 a 20 m de
utilizada em cerca, constru-
altura, flor (JUL-NOV) e
ções e currais. Possibilita
fruto (FEV-MAIO).
o emprego como vestuário
na confecção de chapéus
e artesanato com a confec-
ção de cestos.

Aromita

Arbusto: 1 a 5 m de al- Apícola, madeira pesada,


tura, muito ramificado, dura, utilizada como estaca
flor (JUL-SET) e fruto e poste. Sua semente é ve-
(OUT-DEZ). nenosa.

Tab 3 - Espécies de plantas mais encontradas no Pantanal (continuação).

3-13
EB70-CI-11.438

VEGETAL DADOS TÉCNICOS UTILIZAÇÃO


Cedro

Árvore: 5 a 20 m de altura, Fruto comestível, alimento


de tronco reto. de porcos e morcegos. Ma-
deira boa, leve e durável,
Flor (AGO-OUT) e fruto muito utilizada para chala-
(SET-NOV). na, móveis e decoração.

Guatambú

Madeira de lei (muito utili-


zada na construção naval
Árvore: 8 a 18 m de altura.
devido a oxidar pouco com
Caule liso, com flor (JUL-
metais). Utilizada na con-
AGO) e semente espalha-
fecção de móveis de luxo.
da pelo vento.
Dela é extraído um corante
amarelo.

Cera Cozida

Árvore: 8 a 16 m de altura, Semente comestível e dis-


casca característica de cor- seminada por aves. Madei-
tiça grossa. ra dura, amarelada, com
aspecto de cera, a qual lhe
Forte odor, flor (JUN-SET) deu esse nome, sendo mui-
e fruto (OUT-JAN). to utilizada para forros.

Tab 3 - Espécies de plantas mais encontradas no Pantanal (continuação).

3.2 FAUNA
3.2.1 Apesar de didaticamente não se enquadrar como um dos aspectos fisiográ-
ficos, não se pode tratar do Pantanal sem uma abordagem detalhada da fauna
da região. Seu ecossistema é diversificado, abrigando grande quantidade de
animais de diversos portes.
3.2.2 A atuação dos insetos e animais de pequeno porte podem causar reações
alérgicas graves e, dessa forma, comprometer o moral da tropa. Um incidente

3-14
EB70-CI-11.438
envolvendo animais de médio e grande porte, como as cobras, onças e jacarés,
pode vir a causar lacerações, perda de membros e até mesmo a morte do com-
batente atingido. Assim, é fundamental para o militar ter o pleno conhecimento
dos ambientes e da forma como vivem esses animais da região, pois podem vir
a causar baixas na tropa.
3.2.3 O conhecimento dos hábitos da fauna pantaneira, além de servir como pre-
venção a qualquer tipo de incidente, também pode agir em favor da tropa local.
Para isso, o emprego de militares da região pantaneira, exímios conhecedores
da área de operações é um fator que não pode ser negligenciado nos pequenos
escalões.
3.2.4 ANIMAIS DO PANTANAL
3.2.4.1 A região do Pantanal é conhecida mundialmente como o maior santuário
ecológico do planeta e possui grande variedade de animais.
3.2.4.2 Será feita uma abordagem específica de algumas das espécies que habi-
tam o ambiente pantaneiro (Tab 4), com dados, características, habitat, hábitos e
curiosidades. A tabela seguinte resumirá aspectos gerais de alguns animais (Tab 5).

Garça-Branca
- Habitat: beira de lagos, rios e banhados.
- Alimentação: insetos aquáticos, caranguejos, moluscos,
anfíbios e até répteis.
- Reprodução: período de incubação dos ovos em torno de
25 dias; com ninhos sobre árvores ou arbustos nos brejais,
em campos inundáveis.
- Tamanho adulto: 88 cm de comprimento.
- Distribuição: da América do Norte ao estreito de Magalhães, em todo o Brasil e também
na Europa.
- Observação: ave migratória que se associa em colônias.

Ema
- Habitat: regiões campestres, cerrados onde haja água e
campos abertos do Pantanal. A ema não voa, é terrícola
por excelência.
- Alimentação: folhas, frutas, sementes, insetos, lagartixas,
rãs e cobras.
- Reprodução: incubação dos ovos entre 27 e 41 dias;
10 a 18 ovos por fêmea e os filhotes nascem todos no
mesmo dia, com poucas horas de diferença. Ocorre o acasalamento do macho e várias
fêmeas (3 a 6), que permanecem juntas enquanto ele costuma andar só. O ninho é
construído pelo macho em uma depressão no solo e a preenche com capim ou folhagem,
Tab 4 – Características dos animais.

3-15
EB70-CI-11.438

além de pisar a vegetação ao redor e formar uma área limpa de 2 a 3 m. A incubação


dos ovos também é feita pelo macho.
- Tamanho adulto: entre 134 e 170 cm de altura.
- Distribuição: Paraguai, Bolívia, Argentina, Uruguai e Brasil, principalmente nas regiões
campestres do sul do Pará, Nordeste e Centro-Oeste.
- Observações: ave das mais antigas da América do Sul e também a mais pesada ave
brasileira

Carcará
- Habitat: áreas abertas do Pantanal, frequente em beira
de estradas.
- Alimentação: bastante ampla, de frutas, lagartixas até
detritos e cadáveres.
- Reprodução: incubação dos ovos em torno de 28 dias, 2
a 3 ovos por fêmea.
- Tamanho adulto: 56 cm.
- Distribuição: da Flórida (EUA) à terra do fogo (Chile), inclusive por todo o Brasil.
- Observações: depois que os urubus abandonam uma carniça, o carcará ainda aproveita
restos, couro e larvas. Por vezes é atropelado, pois limpa as estradas do Pantanal de
animais atropelados.

Tuiuiú
- Habitat: rios, brejos, corixos, lagoas e vazantes.
- Alimentação: pequenos vertebrados como peixes e rãs.
- Reprodução: na estação seca (julho/setembro). A fêmea
bota entre 2 e 4 ovos; os filhotes recebem cuidado dos pais
até saírem do ninho em busca de alimentos.
- Tamanho adulto: 107 cm de altura, 140 cm de comprimento,
140 cm de comprimento, 260 cm de envergadura e 8 kg de peso.
- Distribuição: da América Central, até o norte da Argentina.

Garça-Real
- Habitat: beira de mata ciliar.
- Alimentação: lagartixas, sapos, rãs, gafanhotos, aranhas,
caranguejos, moluscos e até cobras.
- Reprodução: incubação dos ovos entre 22 e 23 dias; coloca
ninhos em árvores e associa-se em colônias.
- Distribuição: do Panamá ao Paraguai, Bolívia e em todo o Brasil.
Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-16
EB70-CI-11.438

Arara-Canindé
- Habitat: matas e capões.
- Alimentação: côcos de palmeiras e coqueiros, frutos de
jatobá, mandovi e pequi.
- Reprodução: incubação dos ovos entre 25 e 30 dias; 2 a
4 ovos por fêmea.
- Tamanho adulto: 80 cm de comprimento.
- Distribuição: da América Central ao Brasil, Bolívia e Paraguai.

Tucano
- Habitat: matas ciliares e capões.
- Alimentação: geralmente frutas, mas também pode
alimentar-se de animais pequenos como aranhas, grilos e
cigarras. Predador de ninho de outras aves para saquear
ovos e filhotes.
- Reprodução: incubação dos ovos entre 18 e 23 dias;
2 a 4 ovos por fêmea. Constrói ninhos em partes ocas de árvores altas.
- Tamanho adulto: 56 cm de comprimento.
- Distribuição: da Amazônia ao Paraguai, Bolívia e Argentina, não atingindo o litoral do
Brasil.

Macaco-Prego
- Habitat: florestas úmidas, florestas secas, matas ciliares
e matas secundárias.
- Alimentação: frutas maduras, castanhas, pequenos ver-
tebrados, insetos, néctar, ovos ou filhotes de pássaros e
lagartos.
- Reprodução: período de gestação em torno de 160
dias; um filhote por parto. O macaco-prego é polígamo, havendo geralmente no grupo
um macho dominante.
- Tamanho adulto: 35 a 49 cm de comprimento.
- Distribuição: sul da Colômbia, Venezuela, Guianas até o norte da Argentina.
Observações: de hábitos diurnos, vive em grupos de 5 a 20 indivíduos, são fáceis de serem
observados devido ao barulho que fazem. Quando perseguidos dão alarme e fogem. A
maturidade sexual dos machos ocorre aos 7 anos de idade, enquanto a maturidade das
fêmeas acontece aos 4 anos.
Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-17
EB70-CI-11.438

Marreco-Irerê
- Habitat: banhados e campos inundáveis.
- Alimentação: pequenas sementes e folhas, vermes, larvas
de insetos e crustáceos.
- Reprodução: incubação dos ovos entre 27 e 29 dias; a
fêmea coloca o ninho sobre o solo ou sobre a vegetação
herbácea ou arbustiva, nas proximidades da água.
- Tamanho adulto: 44 cm de comprimento. A fêmea é ligeiramente maior que o macho.
- Distribuição: África e região tropical da América do Sul (Bolívia, Argentina, Uruguai e
todo o Brasil).
Observações: espécie migratória. Encontrada em grandes grupos nas salinas.
Baguari
- Habitat: margem dos rios, corixos e vazantes.
- Alimentação: peixes, insetos e moluscos.
- Reprodução: incubação em torno de 25 dias. Fazem
ninhos sobre arbustos e árvores, em matas e capões, de
junho em diante.
- Tamanho adulto: 125 cm. Possui 180 cm de envergadu-
ra de asas e 3,2 kg de peso.
- Distribuição: do Panamá ao Chile e Argentina, e em todo o Brasil.
Observações: o baguari (maguari), é a maior das garças do Brasil. Possui hábitos soli-
tários, sendo encontrado geralmente pousado sobre a vegetação ribeirinha, à espreita
de alimentos.
Arara-Vermelha
- Habitat: banhados e campos inundáveis.
- Alimentação: frutas e sementes.
- Reprodução: incubação dos ovos em torno de 30 dias; 2
a 4 ovos por fêmea. Fazem ninhos em oco de árvores em
geral e palmeiras.
- Tamanho adulto: 1,5 m de envergadura de asas. Pesam
em torno de 1,5 kg.
- Distribuição: da América Central ao Paraguai e Norte da Argentina.
Observações: vivem em casais, durante as atividades e para dormir, reúnem-se em
bandos.
Anhuma
- Habitat: matas e capões.
- Alimentação: folhas de plantas aquáticas, capim e artró-
podes.
- Reprodução: 2 a 3 ovos por fêmea. Coloca ninhos no solo,
em brejos e lagoas.
- Tamanho Adulto: 80 cm de comprimento.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).


3-18
EB70-CI-11.438

- Distribuição: da Argentina à Bolívia até o Brasil, nos estados de Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul e São Paulo.
Observações: fica pousada durante horas sobre as árvores. É considerada a sentinela
do Pantanal pelo grito estridente que emite quando avista estranhos.
Cabeça-Seca
- Habitat: rios, brejos, corixos, vazantes e baías.
- Alimentação: insetos, caranguejos, rãs e peixes.
- Reprodução: incubação entre 28 e 30 dias; 2 a 3 ovos
por fêmea. Constrói ninhos em capões e matas ciliares
alagadas, junto com garças e colhereiros, na época seca,
entre JUN e SET.
- Tamanho Adulto: 95 cm.
- Distribuição: sul dos Estados Unidos à Argentina, e por quase todo o Brasil.
Observações: sua característica principal é a cabeça pelada e penas do corpo brancas,
com as bordas das asas pretas. Pesca em grupo e de modo a não ser ofuscado pelo
reflexo do Sol.
Sinimbu
- Habitat: matas ciliares, áreas brejosas e pertos de rios.
- Alimentação: jovens alimentam-se de insetos, adultos
essencialmente de plantas.
- Reprodução: NOV a JAN. Período de incubação em torno
de 50 dias, com 12 a 19 ovos por ninho.
- Tamanho Adulto: aproximadamente 140 cm de compri-
mento.
- Distribuição: países da América Central e alguns países da América do Sul.

Onça-Pintada
- Habitat: florestas e cerrados.
- Alimentação: alimenta-se principalmente de grandes ma-
míferos (capivara, anta, veado, caititu, queixada), jacarés,
tartarugas, peixes e animais de origem doméstica.
- Reprodução: período de gestação entre 90 e 111 dias; 1 a

4 filhotes por ninhada.


- Tamanho adulto: 2,2 a 2,7 m de comprimento.
- Distribuição: da América Central até a Argentina.
Observações: animal solitário, terrestre, de hábitos noturnos e diurnos. É o maior felino
do continente americano. Na caça à presa, geralmente ataca por trás, procurando atingir
o pescoço e a cabeça no primeiro golpe. Os filhotes permanecem com a mãe até os 18
meses de idade. Considerada espécie vulnerável na lista de 1998 da União Internacional
para a Conservação da Natureza - IUCN.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).


3-19
EB70-CI-11.438

Onça-Parda
- Habitat: variado, desde que apresente grande diversidade
e abundância de presas.
- Alimentação: desde pequenos roedores, cobras até mamí-
feros de grande porte, como capivaras, veados, queixada,
caititu, etc.
Reprodução: período de gestação em torno de 93 dias; um

a seis filhotes por ninhada; intervalo de ninhadas entre 18 e 24 meses.


- Tamanho adulto: 1,6 a 2,3 m de comprimento. Seu peso está entre 55 e 65 kg para os
machos e 35 e 45 kg para as fêmeas.
- Distribuição: ocorre desde o Canadá até o extremo sul da Argentina e do Chile.
Observações: animal solitário, terrestre, de hábitos noturnos e diurnos. Ágil, veloz, capaz
de dar grandes saltos, tanto em altura como em distância. Maturidade sexual das fêmeas
em torno de 2,5 anos. Os filhotes acompanham a mãe a partir dos três meses de idade.
Quati
- Habitat: cerrados, matas ciliares, florestas úmidas e flo-
restas secas.
- Alimentação: frutas, invertebrados e vertebrados.
- Reprodução: período de gestação de 77 dias; 1 a 5 filhotes.
- Tamanho adulto: entre 73 e 136 cm de comprimento
(machos são maiores que as fêmeas). Seu peso varia
entre 3 e 7,2 Kg.
- Distribuição: América do Sul.
Observações: animal de hábitos sociais. Fêmeas e filhotes vivem em grupos de cerca 30
indivíduos. Os machos são solitários. Os quatis possuem hábitos diurnos; são terrestres
e arbóreos.
Tatu-Peba
- Habitat: savanas, cerrados, matas ciliares e florestas
secas.
- Alimentação: vegetais, formigas, outros insetos, pequenos
vertebrados e carniça.
- Reprodução: período de gestação entre 60 e 65 dias; 2
filhotes por parto.
- Tamanho adulto: entre 64 e 66 cm de comprimento. Seu
peso fica entre 3,2 e 6,5 kg.
- Distribuição: América do Sul, com exceção de Colômbia e Venezuela.
Observações: animal solitário, terrestre, de hábitos, principalmente diurnos. Vive em
tocas com cerca de 19 cm de altura e 21 cm de largura.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-20
EB70-CI-11.438

Curicaca-Amarela
- Habitat: vive abertamente em campos secos.
- Alimentação: gafanhotos, aranhas, centopeias, lagartixas,
cobras, ratos e sapos.
- Reprodução: período de incubação dos ovos em torno de
24 dias, coloca ninhos em árvores.
- Tamanho adulto: 69 cm de comprimento; 43 cm de altura.
- Distribuição: ocorre da Colômbia à Terra do Fogo e em grande parte do Brasil.
Observações: as curicacas são sociáveis e segregáveis.

Anta
- Habitat: florestas úmidas e matas ciliares.
- Alimentação: arbustos, gramíneas, frutas, raízes e folhas.
- Reprodução: período de gestação entre 12 e 13 meses;
um filhote por parto.
- Tamanho adulto: cerca de 300 kg de peso.
- Distribuição: América do Sul, leste da cordilheira dos Andes, norte da Colômbia, sul do
Brasil e norte da Argentina e Paraguai.
Observações: animal solitário, terrestre, de hábitos, principalmente noturnos e parcial-
mente diurnos. A maturidade sexual ocorre, aproximadamente aos 2 anos de idade. As
antas andam normalmente em trilhas, que sempre terminam junto de fontes aquáticas,
que são utilizadas para refugiarem-se, nadando e mergulhando muito bem. Estando na
mata faz muito barulho porque desloca-se de cabeça baixa, arrebentando cipós e folhas
que impedem sua passagem.
Queixada
- Habitat: florestas.
- Alimentação: frutas, sementes, brotos, raízes e folhas
verdes. É onívoro.
- Reprodução: período de gestação em torno de 165 dias,
2 filhotes.
- Tamanho adulto: 76,5 a 105 cm de comprimento.
- Distribuição: América do Sul.
Observações: animal gregário, terrestre, de hábitos, principalmente diurnos. Anda em
bandos de 50 a 300 indivíduos. Os machos velhos, normalmente ponteiam as varas.
Possui na base da cauda uma glândula que produz cheiro forte, característico, quando
está alarmado. Quando assustados correm em grande velocidade em fila indiana e abrem
caminho com a força do corpo ou a dentadas. Também é característica sua maneira de
bater os dentes quando irritados; uma batida seca dos dentes mandibulares contra os
maxilares pode ser escutada à distância e serve, geralmente, para ameaçar alguns de
seus poucos inimigos (onças, cães e o homem).

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-21
EB70-CI-11.438

Veado-Campeiro
- Habitat: ambientes de vegetação aberta, como campos e
cerrados. No Pantanal, seus hábitos preferidos são os cam-
pos inundáveis e as vazantes durante o período de seca.
Nas cheias, pode ser encontrado em caronais e cerrados
abertos, normalmente não inundáveis.
- Alimentação: gramíneas verdes, ervas e alguns arbustos
e flores de algumas árvores.

- Reprodução: período de gestação em torno de 210 dias; com intervalos de 10 meses


entre partos; um filhote, que geralmente nasce entre agosto e setembro.
- Tamanho adulto: Os machos possuem 1,20 a 1,50 m de comprimento e 0,70 a 0,75 m
de altura. Seu peso é de aproximadamente 40 Kg.
- Distribuição: parte do Brasil, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai.
Observações: vivem em grupos de ambos os sexos, que chegam a 18 indivíduos entre
AGO e OUT. O macho adulto possui galhada com três pontas de cerca de 30 cm. Os
chifres são trocados no início do inverno, entre MAI e JUN, e se tornam completos e
endurecidos em AGO-SET.

Tamanduá-Bandeira
- Habitat: florestas úmidas, cerrados e florestas secas.
- Alimentação: formigas e cupins no nível do solo.
Reprodução: período de gestação de 190 dias; 1 filhote
por parto.
- Tamanho adulto: 1,6 e 2,1 m de comprimento. Seu peso
fica entre 22 e 39 Kg.
- Distribuição: desde o Sul de Belize e Guatemala, na América Central, até a América
do Sul.
Observações: animal solitário, terrestre, de hábitos noturnos e diurnos. O filhote é car-
regado nas costas. Ameaçado de extinção.

Tamanduá-Mirim
- Habitat: florestas, cerrados e matas ciliares.
- Alimentação: insetos, principalmente formigas, cupins e
abelhas.
- Reprodução: 1 filhote por parto; período de gestação em
torno de 190 dias.
- Tamanho Adulto: 1,35 m de comprimento. Seu peso varia
entre 3,6 a 8,4 kg.
- Distribuição: América do Sul.
Observações: animal solitário, de hábitos noturnos e diurnos. É arbóreo e terrestre.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-22
EB70-CI-11.438

Capivara
- Habitat: florestas úmidas e secas, pastagens próximas
à água.
- Alimentação: gramíneas, brotos, folhas, e especialmente,
vegetação aquática.
- Reprodução: período de gestação em torno de 150 dias,
4 a 6 filhotes por ano, podendo chegar a 8.
- Tamanho adulto: 1 a 1,3 m de comprimento.
- Distribuição: do Panamá até o nordeste da Argentina.
Observações: animal gregário, semiaquático, vive próximo dos corpos de água e pode
ser encontrado em grupos de até 20 indivíduos em áreas de pastagem aberta. De hábitos
naturalmente diurnos, pode adquirir hábitos noturnos quando intensamente caçada. Ao
ficar assustada, emite um grito rouco e curto, mergulhando em seguida na água e emer-
gindo à distância, normalmente junto à vegetação aquática. Quando quer reunir-se em
grupo emite uma espécie de assobio. Quando irritada, faz um barulho de batida de dentes.
Quero-Quero
- Habitat: vive em pastagens e em banhados como corixos,
vazantes e baías.
- Alimentação: larvas, insetos e pequenos peixes.
- Reprodução: 4 ovos por fêmea. Coloca o ninho no chão,
sendo muito difícil encontrar os ovos de cor “suja”. O macho
é agressivo, inclusive ao homem, quando está cuidando
do ninho.
- Tamanho Adulto: 37 cm de comprimento.
- Distribuição: da América Central à Terra do Fogo e em todo o Brasil

Martím Pescador
- Habitat: vegetação marginal de rios, vazantes, corixos
e baías.
- Alimentação: pequenos peixes.
- Reprodução: 2 a 4 ovos por fêmea. Vivem em casais e
coloca ninhos nos barrancos expostos na época da seca.
O ato de chocar é feito tanto pelo macho, como pela fêmea,
revezando-se a cada 24 horas. Os filhotes abandonam o ninho com 35 dias ou mais.
- Tamanho Adulto: 42 cm de comprimento. Pesa entre 305 e 341 gramas.
- Distribuição: do México à Terra do Fogo, por toda a América do Sul.
Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-23
EB70-CI-11.438

Rolinha-Fogo- Apagou
- Habitat: campos secos, cerrados e jardins.
- Alimentação: grãos e frutos. Ingere os grãos inteiros, sem
quebrá-los, enchendo o papo, onde ocorre a digestão.
Casais inseparáveis.
- Reprodução: incubação dos ovos em torno de 14 dias; 2
ou 3 ovos por fêmea.
- Tamanho Adulto: 19,5 cm de comprimento.
- Distribuição: da Venezuela ao Paraguai, passando pela Argentina (Missiones), e Brasil
(Nordeste, Brasil Central, São Paulo e Paraná).
Observações: muito característica pela sua aparência escamosa e pelo canto ritmado.
Urubu-Rei
- Habitat: regiões permeadas de matas e campos, distantes
dos centros urbanos.
- Alimentação: carne em putrefação.
- Reprodução: coloca ninhos em árvores altas, podendo
aproveitar-se de um ninho já existente. Põe de 2 a 3 ovos
brancos uniformes. Período de incubação de 50 a 56 dias.
- Tamanho Adulto: 79 cm de comprimento, 180 cm de envergadura e 3 kg de peso.
- Distribuição: do México à Bolívia, norte da Argentina e Uruguai, no Brasil encontrado
na parte Central, Norte e Nordeste.
Jacaré do Pantanal
- Habitat: rios, corixos, vazantes, baías e salinas do Pan-
tanal.
- Alimentação: peixes, insetos, anfíbios, aves, etc. É essen-
cialmente carnívoro.
- Reprodução: incubação de ovos entre 60 e 70 dias, no
período chuvoso, entre dezembro e fevereiro; 20 a 30 ovos
por fêmea, podendo chegar a 40. Faz ninho de folhas e gravetos na mata ou sobre o
baceiro.
- Tamanho adulto: 2 m de comprimento.
- Distribuição: Bacia do Alto Paraguai.
Observações: a determinação do sexo nesses animais é dependente da temperatura
do ninho. Temperaturas inferiores a 31,5º C geram fêmeas e superiores a 31,5º C geram
principalmente machos. A fêmea cuida do ninho, agressivamente. Normalmente o jacaré
foge do homem. Apesar de ter sido muito caçado, não está ameaçado de extinção.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-24
EB70-CI-11.438

Sucuri
- Habitat: beira de rios, vazantes, corixos e baías.
- Alimentação: essencialmente carnívora, come peixes e
rãs ou caça animais que vão beber à margem dos corpos
de água, matando-os por asfixia.
- Reprodução: ninhada de 15 a 30 filhotes.
- Tamanho adulto: até 7 m de comprimento.

- Distribuição: Bacia dos Rios Paraguai e do Baixo Paraná, incluindo o Pantanal.


Observações: não agressiva, salvo quando provocada

Veado-Mateiro
- Habitat: ambiente de vegetação arbórea densa, como
as matas e cerradões. Raramente é avistado fora desses
ambientes, dos quais só sai para procurar água.
- Alimentação: folhas de arbustos, gramíneas, ervas, flores
e frutos.
- Reprodução: um filhote por parto.
- Tamanho Adulto: de 1 a 1,10 m de comprimento. Pesa cerca de 23 kg.
- Distribuição: distribui-se amplamente pela América Central e América do Sul, a leste da
Cordilheira dos Andes e ao Norte dos Pampas.
Observações: vive solitariamente ou em casais. Os filhotes nascem ao longo do ano. A
troca dos chifres dos machos não apresenta um padrão anual definido. Não é conside-
rado ameaçado de extinção.
Guaraxo (também é conhecido como lobinho)
- Habitat: é mais comum em áreas de cerrados ou matas
ciliares.
- Alimentação: invertebrados, vertebrados (pequenos roe-
dores) e frutas. O caranguejo faz parte da dieta na estação
seca.
- Reprodução: período de gestação em torno de 53 dias; 5
filhotes por parto, em média.
- Tamanho Adulto: 65 cm de comprimento e 30 cm de altura.
- Distribuição: América do Sul (do sul do Amazonas ao Paraguai).
Observações: animal de hábitos noturnos, vivem em pares monogâmicos que ocupam
territórios exclusivos delimitados pela urina. Os jovens começam a caçar a partir de seis
semanas de idade junto dos pais, com os quais podem permanecer mais de um ano.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-25
EB70-CI-11.438

Jandaia
- Habitat: campos.
- Alimentação: frutos e sementes de plantas silvestres e
domésticas.
- Reprodução: incubação dos ovos em torno de 25 dias; 3
a 5 ovos por fêmea.
- Tamanho Adulto: 32 cm de comprimento.
- Distribuição: da Argentina à Bolívia, Paraguai e, no Brasil, até sudeste do Mato Grosso.
Observação: vivem em bandos, sempre produzindo muito barulho. Também conhecido
como periquito da cabeça preta.
Papagaio-Verdadeiro
- Habitat: matas ciliares, cordilheiras e capões.
- Alimentação: frutas, sementes e flores.
- Reprodução: incubação dos ovos entre 25 e 30 dias; a
fêmea faz o ninho em setembro e coloca 3 ovos em média.
Os ninhos são feitos em ocos de palmeiras e, eventualmen-
te, em barrancos. Reproduzem-se a partir do terceiro ou
quarto ano de vida.
- Tamanho Adulto: 35 cm de comprimento.
- Distribuição: do Nordeste ao Brasil Central, além do Rio Grande do Sul, Paraguai, norte
da Argentina e Bolívia.
Observações: com estimativa de 42 anos de vida, é o melhor falador entre os papagaios.
Normalmente são canhotos e utilizam o pé esquerdo para pegar e levar alimento à boca,
enquanto com o direito se fixam sobre o galho.
Colhereiro
- Habitat: águas rasas de rios, corixos, vazantes e baías.
- Alimentação: diversos animais aquáticos, como moluscos,
insetos e peixes pequenos (essas aves mergulham o bico
em forma de colher em águas rasas, movimentando-o
lateralmente).
- Reprodução: incubação dos ovos em torno de 24 dias;
2a4
ovos por fêmea. Reproduzem-se formando ninhos juntamente com cabeças-secas e
garças-brancas.
- Tamanho Adulto: 87 cm de comprimento.
- Distribuição: do Sul dos Estados Unidos à Argentina e grande parte do Brasil, incluindo
o Pantanal.
Observações: a coloração rósea de plumagem se torna mais forte na época de acasa-
lamento e abundância de comida.
Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-26
EB70-CI-11.438

Ariranha
- Habitat: áreas próximas a cursos de água, com cobertura
vegetal nas margens (especialmente em tocas).
- Alimentação: alimenta-se basicamente de peixes (pira-
nhas, pacu e pirambeva), e também de cobras.
- Reprodução: período de gestação em torno de 70 dias; 2
a 5 filhotes por ninhada.

- Tamanho adulto: 1,5 a 1,8 m de comprimento.


- Distribuição: Suriname, sul da Venezuela, Colômbia, leste do Equador, Peru, Paraguai
e Brasil.
Observações: raramente solitária, a ariranha vive em grupos de 5 a 9 indivíduos. É ter-
ritorial, possui o hábito semiaquático e diurno. As ariranhas são brincalhonas, curiosas,
barulhentas e fáceis de observar por causa dos gritos agudos e sopros que emitem
enquanto ficam dentro da água. Está ameaçada de extinção.
Cervo-do-Pantanal
- Habitat: áreas úmidas com brejos, várzeas marginais aos
grandes rios, áreas alagadas.
- Alimentação: gramíneas tenras, brotos de arbustos e tre-
padeiras que crescem em ambientes úmidos ou alagados,
além de muitas plantas aquáticas.
- Reprodução: período de gestação em torno de 270 dias;
1 filhote, que nasce entre maio e julho.
- Tamanho Adulto: 120 cm de altura. Seu peso varia entre 100 e 150 kg.
- Distribuição: ocorre ao Sul da Floresta Amazônica, a Leste da Cordilheira dos Andes,
ao Norte dos Pampas, sempre em áreas úmidas.
Observações: é o maior cervídeo sul-americano. Os machos possuem porte altivo com
uma galhada de cerca de 60 cm, que apresenta duas hastes grossas, ramificadas e com
muitas pontas. Existe um ciclo individual de troca dos chifres, cuja periodicidade varia
com a idade. Geralmente solitários, os machos acompanham as fêmeas no cio, prenhes
ou com filhotes. Embora no Pantanal possam ser encontrados mais de 30 mil indivíduos,
essa espécie é considerada ameaçada de extinção.

Veado-Catingueiro
- Habitat: campos e cerrados. No Pantanal, normalmente
ocorre em cerrados, mas também pode ser visto tanto em
cerradões, como em matas e campos abertos. Às vezes,
busca alimento nas bordas das lagoas.
- Alimentação: geralmente gramíneas, arbustos, trepadeiras
e ervas, mas também flores e frutos.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-27
EB70-CI-11.438

- Reprodução: 1 filhote por parto.


- Tamanho Adulto: 1 a 1,4 m de comprimento. Seu peso varia de 17 e 23 kg.
- Distribuição: do Panamá até a região Central da Argentina.
Observações: animal solitário, de hábitos preferencialmente diurnos. Os machos possuem
chifres pequenos e simples, com cerca de 7 cm de altura. Os chifres não apresentam um
ciclo de troca bem definido. Através dos olhos e nos garrões possui glândulas de cheiro
rudimentares. Os filhotes podem ser vistos em qualquer época do ano. Não é considerada
espécie ameaçada de extinção.
Gavião Carijó
- Habitat: matas e capões.
- Alimentação: grandes insetos, lagartixas, pequenas cobras
e, inclusive pequenos pássaros.
- Reprodução: incubação dos ovos em torno de 30 dias; 2
ovos por fêmea.
- Tamanho Adulto: 36 cm de comprimento.

- Distribuição: do México à Argentina e em todo o Brasil.


Observação: gavião mais abundante no Brasil. Costuma voar aos casais, batendo
rapidamente as asas e desenvolvendo círculos. Chama a atenção pela vocalização
característica que produz.

Tab 4 – Características dos animais (continuação).

3-28
HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS
ALIMENTAR

Noturno/ Aglomerados de Toca: 24 cm de


Tatu Peba Diurno Cre- Campos Onívoro tocas em campos largura e 20 cm de
puscular abertos altura

Toca: 20 cm de
Tatu Gali- Noturno/ Fuçadas e tocas
Campos Onívoro largura e 21 cm de
nha Crepuscular não acabadas
altura

MAMÍFEROS
Diurno/ No- Campo Toca pequena e Toca: 14 cm de
Tatu Bola Onívoro
turno Sujo quase circular diâmetro

Toca na vertical e
Tatu de Diurno/ No- Campo
Onívoro circunferência per- -
Rabo Mole turno Limpo
feita

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal.

3-29
EB70-CI-11.438
HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS

3-30
ALIMENTAR

Toca: 37 cm de
Tatu Canas- Toca maior que a
Noturno Cerrado Insetívoro altura e 41 cm de
EB70-CI-11.438

tra dos outros tatus


largura

Solitário/ Arranhões em
Tamanduá
Diurno/ Cre- Campos Cupim/Formiga Fuçadas cupinzeiros ou ár-
Bandeira
puscular vores

MAMÍFEROS
Solitário/
Tamanduá Arranhões em ár-
Diurno/ Cre- Capões Cupim/Formiga Escansorial
Mirim vores
puscular

Som emitido se- Fezes com colora-


Bugio Diurno Arborícola Frugívoro melhante ao da ção esverdeada e
onça amarelada

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).


HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS
ALIMENTAR

Anda em grupos
Macaco Fezes cilíndricas e
Diurno Arborícola Onívoro de até 20 indiví-
Prego pastosas
duos

Arranhões em
Noturno/ Mamíferos/aves/ Adulto chega de
Onça Pin- Matas/ troncos de árvores
Diurno Soli- répteis de médio e 2,2 m a 2,7 m de
tada Bosques a uma altura de
tária grande porte comprimento
2m

Capaz de dar

MAMÍFEROS
Noturno/ Mamíferos/aves/ grandes saltos, Adulto chega de
Onça Par- Cerrados/
Crepuscular/ répteis de médio e tanto em altura 1,6 m a 2,3 m de
da Morrarias
Solitária pequeno porte quanto em dis- comprimento
tância

Matas/ Mamíferos/aves/ Adulto chega de


Noturno/
Jaguatirica Borda de répteis de médio e Escansorial 1,6 m a 1,8 m de
Crepuscular
lagoas pequeno porte comprimento

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).

3-31
EB70-CI-11.438
HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS

3-32
ALIMENTAR

Acostuma-se com Encontrado em


Lobinho Noturno Cerrado Onívoro a presença hu- pares de macho e
EB70-CI-11.438

mana fêmea

Semiaquático,
Noturno/ suas fezes tem Vivem em grupos
Capivara Campos Herbívoro
Crepuscular forma ovóide alon- sociais
gada

Florestas/

MAMÍFEROS
Brejos/
Noturno/ Pequenos bu-
Beira de Frugívora. Ex.: Côcos da acuri
Cotia Diurno Cre- racos rasos são
lagoa Fruto da Acuri roídos
puscular evidências
Matas/
Cerradões

Diurno/ Cre-
Matas/ Tocas volta-
puscular/ Herbívora e Frugí-
Paca Barranco Fossorial das para curso
Solitária/ vora
nos rios d’águas
Casais

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).


HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS
ALIMENTAR

Matas/
Noturno/ Quando assusta-
Beira de Vivem em grupos
Queixada Crepuscular Frutos e Raízes dos correm em fila
rios e de 20 até 100
Solitária indiana
lagoas

Um tronco de
Diurno/ Cre- Áreas Vivem em grupos
Caititu Frutos e Raízes árvore é intrans-
puscular abertas de 15 até 50
ponível

MAMÍFEROS
Beira de
Raízes, frutos,
Porco Mon- Noturno/ lagoas/ Enormes áreas Vivem em peque-
invertebrados e às
teiro Crepuscular áreas fuçadas nos grupos
vezes carniça
abertas

Matas,
Veado Ma- Noturno/ evitando Gramíneas/Fruto/ Suas fezes são Vive solitário ou em
teiro Crepuscular áreas Flores cilíndricas casais
abertas

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).

3-33
EB70-CI-11.438
HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS

3-34
ALIMENTAR

Suas galhadas
Possui uma mem-
Cervo do Diurno/ Cre- podem chegar até
Brejos Plantas Aquáticas brana interdigital
EB70-CI-11.438

Pantanal puscular 60 cm de compri-


entre os cascos
mento

Suas galhadas
Veado Cam- Campos Gramíneas e Ar- podem chegar até Vivem em grupos
Diurno
peiro limpos bustos 30 cm de compri- de 3 até 16
mento

MAMÍFEROS
Sua pilha fecal
Veado Ca- Noturno/Cre- Áreas aber- Gramíneas/Fruto e pode ser confun- Vive solitário ou
tingueiro puscular tas Flores caídos dida com a da em casais
capivara

Diurno/ Se- Rios/ Cori- Vivem em grupos


Ariranha Peixes Fossorial
miaquática xos de 3 até 12

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).


HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS
ALIMENTAR

Noturno/ Fezes semelhantes


Anta Matas Herbívoro -
Crepuscular a do cavalo

MAMÍFEROS
O ninho com tem-
Peixe/Crustáceo e peratura inferior Podem chegar até
Jacaré do Áreas Alaga- Rios, Cori-
Mamíferos de pe- a 31,5°C geram 2 m de compri-
Pantanal das xos
queno porte fêmeas e superior mento
geram machos

Jacaré do Podem chegar até


Áreas Alaga- Rios, Sali-
Papo Ama- Peixes - 2 m de compri-
das nas
relo mento

RÉPTEIS
Áreas na
Peixes e Mamífe- Mais agressivo Podem chegar até
Áreas Alaga- transição
Jacaré Açú ros de pequeno e que o Jacaré do 5 m de compri-
das com a
médio porte Pantanal mento
selva

3-35
EB70-CI-11.438

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).


HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS

3-36
ALIMENTAR

Campos
abertos Tem mais de 2 m
alagados de envergadura Chega a medir
Tuiuiú Diurno Peixes e Moluscos
EB70-CI-11.438

e árvores com as asas aber- 1,15 m de altura


à beira de tas
rios

Arara- Ver- Ocos de Plumagem verme- Ameaçada de ex-


Diurno Frutos e Cocos
melha Árvores lha tinção

AVES
Voam em bandos As penas perdem
Rios/ La-
Biguá Ave aquática Peixes em forma de “V”, parte de sua imper-
goas
como os patos meabilidade

Folhas/Insetos e
Áreas se- Maior ave do con-
Ema Diurno pequenos Inverte- Ave que não voa
cas tinente americano
brados

Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).


HÁBITO
CLASSE ANIMAL HÁBITO HABITAT OUTROS SINAIS OBS
ALIMENTAR

Campos
Carcará Diurno Peixes e Carniça Vive em bandos -
abertos

AVES
Tab 5 - Aspectos gerais de alguns animais comuns no Pantanal (continuação).

3-37
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438
3.1.14 PREVENÇÃO AO ATAQUE DE ANIMAIS
3.1.14.1 A fauna do Pantanal é uma das mais ricas do mundo em diversidade e
quantidade de animais por metro quadrado. Muitos desses animais atacam quando
se sentem ameaçados. Dessa forma, é importante conhecer as características
dos animais que oferecem algum risco, de forma a evitar algum possível ataque.
3.1.14.2 Com esse objetivo, uma descrição detalhada abordando o habitat, pro-
blemas, formas de prevenção ao ataque e ações decorrentes serão elencadas
para os animais com relevante grau de risco.
3.1.14.3 Abelhas
3.1.14.3.1 As abelhas africanizadas ou “abelhas assassinas”, descendem das
abelhas sul-africanas, importadas em 1956 por cientistas brasileiros, com vistas à
produção de mel e, que desde então, vem se cruzando com as abelhas europeias.
3.1.14.3.2 Quando perturbadas, as abelhas emitem um feromônio de alarme
(iso-pentil acetato) e altas concentrações são depositadas com o ferrão no local
da picada. Logo, a primeira ferroada vira um alvo e as demais abelhas irão se
orientar pelo odor dessa substância expelida.
3.1.14.3.3 As abelhas ao executarem a ferroada, desprendem o seu aparelho ino-
culador, incluindo nesse, todo o conteúdo do segmento abdominal, morrendo logo
em seguida. Dessa forma, o ferrão incluindo o saco de veneno, fica preso na pele
da vítima, assegurando que a maior quantidade possível de veneno seja injetada.
3.1.14.3.4 Tem sido preconizada a retirada cuidadosa do ferrão, para não se
comprimir o saco de veneno. Estudos tem demonstrado que todo conteúdo da
glândula de veneno é liberado dentro de dois minutos após a picada.

Fig 20 - Picada de abelha. Fig 21 - Picada de abelha. Fig 22 - Picada de abelha.

3.1.14.3.5 Para o indivíduo hipersensível basta apenas uma picada do inseto


para levá-lo ao óbito. As reações tóxicas são decorrentes da ação farmacológica
dos componentes do veneno. Podem ser classificadas em: locais e sistêmicas.
Já as reações alérgicas: são decorrentes de mecanismos alérgicos de hipersen-
sibilidade orgânica. Podem ser classificadas em: locais e sistêmicas ou anafilá-
ticas.
3-38
EB70-CI-11.438
3.1.14.3.6 Reações tóxicas locais também são chamadas de habituais, e se
caracterizam pela presença de dor, vermelhidão (eritema) e edema não muito
intensos, persistindo por algumas horas. As reações tóxicas sistêmicas são de-
correntes de múltiplas picadas, geralmente acima de 100 (não sensibilizados).
Estima-se que um acidente com mais de 500 picadas seja potencialmente letal
(similar ao veneno da cascavel).
3.1.14.3.7 Acidentes com crianças, idosos, doentes, dezenas de picadas podem
apresentar toxidade sistêmica. Podendo ocorrer a instalação rápida da rabdomi-
ólise (dores generalizadas e intensas) e da hemólise (anemia e icterícia). Isso
acarreta a deposição de pigmentos de mioglobina e hemoglobina provocando a
urina “coca-cola”, ocasionando a insuficiência renal e respiratória.
3.1.14.3.8 Quanto às reações alérgicas locais, podem ocorrer as mesmas ma-
nifestações da reação tóxica local. Assim, nem sempre pode-se afirmar que são
reações alérgicas ou induzidas pela ação farmacológica do veneno. É funda-
mental realizar o teste alérgico cutâneo. No caso das reações alérgicas sistêmi-
cas, os sintomas surgem em torno de 15 min após a picada, sendo mais graves
quanto mais precoce for o seu aparecimento. Nos casos mais graves, compreen-
de edema de glote, crise de broncoespasmo (dificuldade respiratória) e o choque
anafilático (taquicardia, hipotensão, desmaio, angioedema).
3.1.14.3.9 Com o intuito de prevenir ataques, caso descubra colmeias, deve-se
evitar a aproximação. Antes de operar um equipamento barulhento, a área deve
ser verificada quanto à presença de abelhas voando. Não opere o equipamen-
to se houver abelhas por perto. As roupas escuras atraem as abelhas (regiões
no corpo escuras também atraem, tais como cabelos, sobrancelhas, narinas e
olhos).
3.1.14.3.10 Recomenda-se evitar movimentos bruscos e excessivos quando
próximo à colmeia (tentativa de bater). Não se deve gritar, pois as abelhas são
atraídas por ruídos, principalmente os agudos. Em operações militares sempre
deve ser conduzido um poncho para saque rápido e proteção imediata. Se for
atacado ou estiver sendo rodeado por várias abelhas, corra imediatamente 400
m. Cubra a boca, proteja o nariz e a cabeça com as mãos enquanto estiver cor-
rendo. Caso esteja na embarcação, não pule na água, a não ser que consiga se
desengajar do ataque, de forma submersa. No Pantanal existem vários casos de
ribeirinhos que morreram afogados.
3.1.14.3.11 Caso um cão-de-guerra ou cavalo pantaneiro de patrulha esteja sen-
do atacado por poucas abelhas, deixe-o sair do local para que possa fugir. Mas
se o ataque for sério, não tente socorrê-lo. Volte no local sempre no escuro (sem
ser lua cheia) ou durante o dia, duas horas depois, observando uma distância
de segurança. Trate as abelhas como qualquer outro animal venenoso, tal como
uma cobra ou escorpião. Esteja alerta e afaste-se. Os animais atacam quando
se sentem ameaçados.

3-39
EB70-CI-11.438

3.1.14.4 Onça-Pintada
3.1.14.4.1 No Pantanal, as onças consomem várias espécies de animais, como
o quati, jacaré, capivara, anta, cervo e queixadas, mas o gado é o item mais
importante disponível e agente causador do conflito entre o homem e o animal.
Os habitats preferenciais das onças pintadas são as matas de beira de rio e de
corixos, margens de lagoas e brejos e florestas de encostas (em especial as
grutas de regiões rochosas).
3.1.14.4.2 Os riscos para os seres humanos são relativamente baixos, já que as
onças costumam ser esquivas e fogem à aproximação notória de pessoas. Além
disso, a densidade humana nas áreas de maior ocorrência de onças no Pantanal
é muito baixa. Geralmente, as onças buscam estabelecer os limites nos quais
toleram aproximação.
3.1.14.4.3 Uma das reações (quanto à aproximação), inclui bufos e avanços rá-
pidos em direção às pessoas, parando em seguida. Há diferenças nas reações
de indivíduo para indivíduo e nada garante que as reações sejam previsíveis.
Machos podem estar próximos de uma fêmea no cio e nessa situação podem
ser agressivos.
- Por ocasião do contato fortuito, aconselha-se não correr, não fazer barulho
intimidante, não jogar nada contra o animal e não dar as costas.
3.1.14.4.4 Outras sugestões relevantes são:
a) evitar ficar agachado na beira do rio;
b) evitar ficar de costas para uma vegetação densa;
c) durante um deslocamento fluvial evitar a aproximação da embarcação com
alguma onça que estiver atravessando um rio;
d) evitar a aproximação de barcos a barrancos de rio em que uma onça foi avis-
tada, ouvida ou onde se suspeita da presença de um animal de grande porte;
e) quando do pernoite, sendo possível, acender fogueiras (afastam as onças, mas
atraem animais rasteiros); e
f) evitar o uso de “esturradores” para atrair o animal (Fig 23).

3-40
EB70-CI-11.438

Fig 23 - Homem pantaneiro com um esturrador.

3.1.14.4.5 Como formas de identificação da presença de uma onça, destacam-se:


a) A presença de rastros (pegadas);
b) presença de fezes recentes;
c) esturros; e
d) odor característico de podridão (Fig 24 e 25).

Fig 24 - Pegadas de onça-pintada. Fig 25 - Marcas de garras de onça-pintada.

3.1.14.5 Onça Parda


3.1.14.5.1 Essa espécie ocorre em praticamente todo o Pantanal, mas parece
evitar ou ocorrer em menor número nas áreas mais baixas, sujeitas a inundações
longas e brejos muito extensos. Muito comum nas morrarias (Serra do Amolar).
Suas principais presas são filhotes de animais, como cervos, além de caititu,
capivara, cotias e outros.
3.1.14.5.2 A onça parda não oferece riscos aos seres humanos e praticamente
não existem registros de acidentes envolvendo pessoas. Entretanto, deve-se

3-41
EB70-CI-11.438
evitar aproximação em caso de fêmeas serem vistas com filhotes, além de evitar
situações em que uma onça possa se sentir acuada.
3.1.14.6 Ariranha
3.1.14.6.1 A ariranha habita rios, corixos e baías no Pantanal e se alimenta ba-
sicamente de peixes. São diurnas e vivem em grupos que podem atingir mais
de 10 indivíduos. Possuem um sofisticado repertório de vocalizações (alarme de
perigo, chamado de filhotes). Utilizam tocas construídas em barrancos dos rios,
mas também podem estar escondidas entre raízes e galhos caídos.
3.1.14.6.2 As tocas são grandes e possuem um escorregador bem nítido. A entrada
da toca é geralmente mais larga do que alta. As áreas arranhadas nos barrancos
de rios com deposição de fezes, são sinais de sua presença. Torna-se importante
o exame dos barrancos, para verificar a presença de tocas e latrinas com sinais
de uso recente. Assim como, é relevante a verificação do meio, quanto a presen-
ça de um grupo de ariranhas, pois com a presença de filhotes, elas adotam um
comportamento de defesa natural.
3.1.14.7 Queixada
- Quando percebem a aproximação de pessoas, apresentam algumas reações
(grunhidos altos, batidas de dentes, pelos arrepiados, formação em grupos).
Tornam-se agressivos, quando se sentem encurralados. Ao se deparar com um
bando, nunca faça movimentos bruscos que possam assustá-los e se afaste len-
tamente. Subir em árvores é uma ótima medida de segurança, mas sem alardes.
3.1.14.8 Cervo
3.1.14.8.1 Normalmente é um animal dócil, quando não sofre nenhum tipo de
perseguição. Adota um comportamento agressivo imprevisível de alto risco quando
se sente ameaçado ou na defesa dos seus filhotes. Os machos com galhadas
duras podem atacar buscando chifrar pessoas e até cavalos.
3.1.14.8.2 As fêmeas podem atacar utilizando as patas dianteiras, com cascos
finos e afiados. Os primeiros sinais de irritação desses animais são o bater de
patas no solo, pelos do dorso e pescoço eriçados e o andar firme em direção à
pessoa. Procure sempre sair devagar e evitar correr, já que, nesses casos, o cervo
tende a perseguir. Um acidente desses com um macho adulto pode ser mortal.
3.1.14.9 Jacaré do Pantanal
- A sua dieta é constituída por peixes, moluscos e crustáceos. Normalmente evita
o contato, não apresenta riscos ao ser humano. Ficar atento ao desembarcar nas
margens do rio, pois pode haver jacarés camuflados pelos camalotes. Existem
poucos casos de ataques, sendo os mais prováveis contra praticantes de ativida-
des subaquáticas, devido as borbulhas de ar (semelhante a alguns tipos peixes).

3-42
EB70-CI-11.438
3.1.14.10 Arraia
3.1.14.10.1 São muito comuns no Pantanal. Normalmente, situam-se nas margens
arenosas e atacam quando se sentem ameaçadas. A ferroada provoca uma dor
aguda, com ação proteolítica, tendo como consequência a necrose do tecido
e difícil cicatrização (há casos de complicações cardiorrespiratória). O ferrão é
constituído por tecido ósseo, sendo muito comum deixar sequelas físicas na
vítima. Ao ser ferroado, recomenda-se mergulhar o local ferido em água quente
até que a equipe de saúde aplique analgésicos para dor crônica e aguda, a fim de
poder suportar a dor e ser encaminhado ao atendimento médico mais adequado.
3.1.14.10.2 Recomenda-se arrastar os pés, quando o deslocamento for feito
dentro do curso d’água, além de utilizar um bastão para sondar o leito (realizando
movimentos em zigue-zague), a fim de afastar o animal.
3.1.14.11 Piranha
- Possuem comportamento agressivo, atacando sempre em cardumes. Atacam
normalmente corpos frios ou alguma vítima com vestígio de sangramento. São
muito comuns no Rio Paraguai. O número de acidentes aumenta bastante na
época da seca (concentração maior de peixes em lagos e corixos).
3.1.14.12 Escorpião
3.1.14.12.1 De hábitos noturnos, os escorpiões gostam de locais úmidos, como
banheiros, caixas de gorduras e esgotos. A toxicidade do veneno de um escorpião
é comparada com o tamanho de seus pedipalpos (o equivalente ao braço humano
do escorpião); quanto mais robustos os pedipalpos, menos o escorpião utiliza-se
do veneno para com suas presas e quanto menores eles forem, mais o veneno
pode ser letal às suas presas. O veneno do escorpião age sobre o sistema ner-
voso periférico dos humanos, causando dor, pontadas, aumentando a pulsação
cardíaca e diminuindo a temperatura corporal.
3.1.14.12.2 A toxicidade do veneno depende de diversos fatores, tais como a
espécie do escorpião (de 1600 espécies catalogadas, apenas 25 são venenosas
ao homem); a quantidade de peçonha (veneno) injetada; o tamanho e o estado
físico da vítima. O tratamento consiste na aplicação local da ferroada de um
anestésico (lidocaína a 2%) e soro antiescorpiônico. O tratamento sempre tem
que ser hospitalar.
3.1.14.12.3 Quanto à prevenção de acidentes, os escorpiões só atacam o homem
quando acuados ou em circunstância de defesa. Portanto, sacuda e examine
calçados e roupas antes de usar; evite o acúmulo de lixo e entulhos; mantenha o
habitat livre de baratas, que são reconhecidas como um dos principais alimentos
dos escorpiões; não coloque mãos e pés dentro de buracos, montes de pedras
ou lenhas; use calçados e luvas nas atividades rurais; e use telas e vedantes nos
abrigos (se possível).

3-43
EB70-CI-11.438
3.1.14.13 Animais Peçonhentos
3.1.14.13.1 Entre os animais peçonhentos, os ofídios chamam a atenção pelas
dimensões avantajadas que podem alcançar, pela quantidade de peçonha que
podem inocular, e consequentemente, pelo grande número de acidentes fatais
que a sua picada pode motivar. A tabela a seguir (Tab 6), resume as características
e formas de tratamento:

COBRAS PEÇONHENTAS
Cabeça chata, triangular, bem destacada e com escamas peque-
nas, semelhantes às do corpo. Olhos pequenos, pupila em fenda
vertical e fosseta loreal (quadradinho preto) entre os olhos e as
narinas. Escamas alongadas, pontudas, dando-nos a impressão
VENENOSAS
de aspereza quando tocadas. Cauda curta e bruscamente afina-
da. Uma exceção a essa regra é a Jibóia, pois apesar de possuir
algumas características de uma cobra peçonhenta, essa não
possui veneno.

Cabeça estreita, alongada, mal destacada e com placas no lugar


de escamas. Olhos grandes, pupila circular e ausência de fosseta
NÃO loreal. Escamas achatadas, dando impressão de lisas e escor-
VENENOSAS regadias quando tocadas. Cauda longa e gradualmente afinada.
Aqui a exceção fica por conta da cobra Coral que, apesar de ter
características de uma cobra não peçonheta, é venenosa.

Tab 6 - Características dos ofídios e formas de tratamento.

ESPÉCIES VENENOSAS
- É encontrada em todo o Brasil, exceto na Floresta Amazônica.
Cascavel - Boicininga
Maracamboia - Possui chocalho na cauda. Causam o envenenamento chama-
do crotálico. Vivem em áreas abertas, quentes e secas.
- Encontrada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo,
Jararaca - Caiçara Ja- Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, leste do Mato Grosso,
raguçu - Urutu Patrona sul da Bahia e algumas áreas de Minas Gerais.
– Cotiara - Algumas alcançam mais de um metro de comprimento. Causam
o envenenamento chamado botrópico. Vivem em locais úmidos.
- Encontrada nas florestas litorâneas do Rio de Janeiro e vale
amazônico.
Surucucu - Jaca Suru-
- Seu comprimento pode alcançar mais de 4 m, tornando-se a
cutinga
maior serpente peçonhenta da América.
- Causa o envenenamento chamado laquético.

Tab 7 - Características dos ofídios e formas de tratamento.

3-44
EB70-CI-11.438

ESPÉCIES VENENOSAS
- Encontrada em todo o Brasil.
- Coloração formada por anéis vermelhos, pretos brancos ou
amarelados.
Coral verdadeira - Pouco se diferencia da falsa coral, sendo recomendável que
Ibiboboca pessoas sem conhecimentos específicos não tentem as iden-
tificar.
- Vivem sob folhas, troncos ou galerias no solo.
- Causam o envenenamento chamado elapídico.
EFEITOS DA PEÇONHA
Tipo crotálica (cascavel):
- Ação neurotóxica, miotóxica, hemolítica e coagulante.
- Discreta dor local que desaparece. Sensação de formigamento, dores musculares,
obnubilação, ptose palpebral, diminuição da visão. Urina marrom escura com mioglobina.
Tipo botrópica (jararaca, urutu):
- Ação proteolítica e coagulante.
- Dor local com manchas róseas ou azuladas.
- Aparecimento de bolhas, infecção, vômitos, prostração, sudorese e desmaio.
- Hemorragia pelo nariz, boca, gengivas, ouvido e unhas.
- Urina sanguinolenta e turva.
- Necrose do tecido afetado.
Tipo laquética (surucucu):
- Ação (bradicardia), proteolítica e coagulante, hemolítica e neurotóxica.
- Sintoma semelhante aos de acidentes botrópicos e acrescidos de diarreia e hipotensão
arterial.
Tipo elapídica (coral):
- Ação neurotóxica e curarizante.
- Local da picada fica indolor e normal.
- Sensação de dormência que irradia pelo membro.
- Salivação abundante e espessa.
- Dificuldade respiratória, obnubilação, ptose palpebral e bilateral e oftalmoplegia.
Tipo escorpiões, aranha armadeira e viúva negra:
- Ação neurotóxica, queda de temperatura, aumento de pressão, sudorese, náuseas e
vômitos (casos graves).
Tipo aranha marrom (loxosceles):
- Ação proteolítica e hemofílica.
- Caso benigno: equimose local, necrose eventual.
- Caso grave: dor local febre, bolhas hemorrágicas, náuseas e urina escura cor de vinho.
Tab 7 - Características dos ofídios e formas de tratamento (continuação).

3-45
EB70-CI-11.438

TRATAMENTO DE ACIDENTES

Ações imediatas:
a) identificação do animal causador do acidente; manutenção do acidentado em repouso
(procurar acalmá-lo); limpeza do local da picada (com água ou com água e sabão);
b) aplicar compressa de gelo;
c) posicionamento do membro afetado para cima do corpo em geral;
d) procurar não romper lesões e bolhas;
e) não realizar o garrote;
f) não sugar o ferimento;
g) não fazer a sangria;
h) transportar em maca o mais rápido possível para que seja realizado o tratamento
médico (soroterapia); e
i) levar a cobra viva ou morta junto (se possível).

Soroterapia (apenas em ambiente hospitalar)


Teste de Sensibilidade
a) diluir 0,1 ml de soro anti-ofídico em 0,9 ml de soro fisiológico;
b) aplicar 0,1 ml dessa diluição, realizando a leitura após transcorridos 15 minutos,
comparando-a com o teste-controle; e
c) caso positivo, aplicar anti-histamínico e só aplicar o soro com controle médico.

Tab 7 - Características dos ofídios e formas de tratamento (continuação).

3-46
DOSAGEM
ACIDENTE BOTRÓPICO
GRAVIDADE EDEMA HEMORRAGIA/ANÚRIA DOSE (MG) VIA TEMPO DE COAGULAÇÃO
Leve Discreta Ausente 100 EV Normal/alterado
Moderada Evidente Presente ou ausente 200 EV Normal/alterado
Grave Intenso Evidente 500 EV Normal/alterado
ACIDENTE CROTÁLICO
VISÃO TUR-
GRAVIDADE URINA MARROM ANÚRIA DOSE (MG) VIA MIALGIA
VA
Discreta ou au-
Moderada Discreta Ausente 150 EV Presente ou ausente
sente
Grave Evidente Presente Presente ou ausente 300 ou mais EV Presente ou ausente
OUTROS
Aranha (caso grave)
TIPO Laquético Elapídico Escorpião Viúva negra ou arma-
Aranha Marrom
deira
Casos graves, mínimo de 4
150 a 300 2 a 4 ampolas de soro 5 a 10 ampolas de soro poli-
DOSE 150 (EV) ampolas (soro antiescorpiô-
(EV) polivalente SC valente SC
nico), subcutânea (SC)

Observação: em casos muito severos de acidentes com aranha e escorpiões, a via de aplicação poderá ser EV.

Tab 7 - Características dos ofídios e formas de tratamento (continuação).

3-47
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438
3.1.14.13.2 A identificação de um ofídio como peçonhento deve atender a algumas
características (sempre havendo exceção à regra):
a) Detalhes anatômicos como cabeça triangular achatada, tipo de cauda (curta
e que se afina bruscamente), escamas eriçadas, movimento mais lento e pupila
em fenda vertical, geralmente são os mais citados, no entanto, a presença da
fosseta loreal é o método mais seguro.
b) A fosseta loreal (Fig 26) é um órgão termorreceptor de altíssima sensibilidade,
capaz de perceber variações de temperatura da ordem de 0,003 grau centígrado.
Esse pequeno orifício, localiza-se entre os olhos e as narinas, sendo presente em
todas as serpentes venenosas (exceto na cobra coral).
c) Além desse traço marcante nas serpentes peçonhentas, os seus hábitos também
são característicos. Normalmente as cobras peçonhentas têm hábitos noturnos,
apesar de também ser possível avistá-las durante o dia.
d) Usualmente, as serpentes não peçonhentas não são agressivas, tendo o cos-
tume de se evadir quando ameaçadas.
e) As peçonhentas costumam ser agressivas, se enrodilhando e preparando o
bote. Contudo, como dito anteriormente, até quanto a esses hábitos, existem as
exceções.

Fig 26/A - Fosseta loreal.

3-48
EB70-CI-11.438

Fig 26/B - Fosseta loreal.

3-49
EB70-CI-11.438

3-50
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO IV
NOÇÕES DE SOBREVIVÊNCIA

4.1 NOÇÕES BÁSICAS DE SOBREVIVÊNCIA


4.1.1 Entrar em situação de sobrevivência no Pantanal é muito fácil, pois é uma
região pouco povoada, possuindo imensos vazios e na sua grande maioria, de
difícil acesso.
4.1.2 O transporte no Pantanal é, em grande parte, realizado por meio de embar-
cações ou aeronaves de menor porte, meios suscetíveis às influências meteoro-
lógicas e fisiográficas da região (em especial os ventos, as chuvas que trazem
os repiquetes, a suscetibilidade das baías à ação das tempestades, etc), o que
facilita o acidente mais grave e em áreas isoladas.
4.1.3 Além disso, em operações militares, as dificuldades de apoio logístico, as
operações descentralizadas, as grandes distâncias, a influência do clima sobre
as operações e outros fatores, podem gerar, em uma situação mais extrema, a
necessidade de sobreviver no Pantanal.
4.1.4 ASPECTOS DA SOBREVIVÊNCIA
4.1.4.1 Geral
- Sobreviver significa atender às condições mínimas que o organismo necessita,
e após atingir essa meta, o indivíduo deve evoluir a situação, procurando ajuda
ou mesmo fazendo melhorias em seu local de sobrevivência.
- Deve ser lembrado que a maioria dos ribeirinhos não sobrevive nas margens dos
rios e sim vivem, pois eles conseguem atender suas condições mínimas facilmente.
4.1.4.2 Militar
- Em operações, pode haver a necessidade de se encontrar em situação de
sobrevivência, pois há o uso frequente de aeronaves e embarcações, além de
operações em regiões isoladas. Por se tratar de operações militares, deve-se ter
em mente que a sobrevivência fica mais difícil, pois em situação de conflito, ainda
há a ação do oponente.
- Situações como sinalização por meio de fumaça deve ser evitada nesse caso,
para não denunciar a posição, procurando-se sempre o estabelecimento de
segurança, por intermédio de armadilhas antipessoais, controle na disciplina de
luzes e ruídos, principalmente porque é importante manter o fogo sempre aces-
so (utilizar se possível o tição ou brasa durante a noite para não clarear muito a
posição da sobrevivência).
4.1.4.3 Individual
- Quando em situação de sobrevivência isolada, a mente passa a ser a grande

4-1
EB70-CI-11.438
inimiga, principalmente a noite. Já houve casos em que um militar passou quase
cinco dias em cima de uma árvore com medo dos animais selvagens, deixando
o pânico tomar conta de si. Para evitar isso, a mente necessita estar ocupada,
procurando sempre estar trabalhando, pois o cansaço chegará naturalmente.
- Um exemplo é a construção de um abrigo seguro, de preferência elevado do
solo; zelo pela proteção individual, assim como, o sono de poucas horas, pois
deve-se cuidar do fogo.
4.1.4.4 Em grupo
- É a sobrevivência mais fácil, pois os trabalhos são realizados mais rápidos e a
probabilidade de sucesso é maior, porém a moral e a vida entre os integrantes do
grupo são abalados mais rapidamente, devendo sempre haver um líder.
4.1.5 FATORES DO SUCESSO
4.1.5.1 Calma
- Manter a calma é a primeira providência a ser tomada, pois a situação poderá
ser crítica, a mente estará abalada, pode haver muitos feridos e o contexto dessa
situação de emergência pedirá rápidas decisões.
4.1.5.2 Aplicação do acrônimo ESAON
a) Estacionar:
- Significa parar onde está, não sair andando a esmo, pois a situação de emer-
gência forçará que se busque ajuda ou a necessidade de sair do local.
b) Sentar:
- Significa descansar e recuperar suas energias, tratando daqueles que neces-
sitarem de primeiros socorros.
c) Alimentar:
- Significa procurar alimento, construir abrigos, fazer o fogo, preparar a sinali-
zação e conseguir água.
d) Orientar:
- Significa saber onde está e para onde pode ir.
- Lembrar que no Pantanal deve-se procurar sempre o curso de um rio, que as
morrarias se situam ao longo das calhas dos maiores rios, que a noite pode-se
ver as luzes de uma localidade por vários quilômetros, que os ventos fortes e frios
vem do sul e que geralmente onde há fumaça, possivelmente haverá o homem.
e) Navegar:
- Significa tentar atingir de modo racional um ponto onde se pode buscar ajuda.
- Sempre que iniciar a navegação, deve-se balizar o itinerário para facilitar a
4-2
EB70-CI-11.438
volta se preciso for.
- Caso encontre um curso de água, siga-o, pois, irá levá-lo a um rio maior e
esse, a alguma comunidade ou localidade.
4.1.5.3 Equipes
- Distribuir as missões conforme as qualidades de cada indivíduo, evitando deixar
qualquer um sem atividade. Andar sempre em duplas, pois os perigos do Pantanal
exigem essa precaução.
4.1.5.4 Evitar indecisões
- Antes de iniciar qualquer tarefa pense como irá realizá-la, pois o insucesso da
missão, devido a indecisões poderá atingir o moral do grupo.
4.1.5.5 Sugestões
- Toda e qualquer sugestão deve ser considerada, pois pode conter o sucesso
da sobrevivência. Um bom líder é aquele que escuta a todos e decide de forma
mais sensata.
4.1.5.6 Moral elevada
- Manter-se sempre em atividade, pois somente com isso a mente estará ocupada,
evitando abater o moral do sobrevivente.
4.1.6 NECESSIDADES
4.1.6.1 Água é a primeira das necessidades. É importante ressaltar que o homem
no Pantanal resiste pouco tempo sem a água, pois o clima é quente e úmido.
A água mantém o equilíbrio do corpo, serve para preparar os alimentos, princi-
palmente na forma de sopão, pois possibilita a maior preservação de todas as
vitaminas e nutrientes.
4.1.6.2 O fogo é necessário para o preparo de alimentos, defesa de animais
selvagens, secagem de roupas, fervura da água, sinalização, etc. A obtenção de
alimentos também é uma necessidade, pois esses mantêm a vontade de trabalhar
e a energia. Nenhuma forma de alimento pode ser desprezada.
4.1.6.3 A construção de abrigos é necessária para a proteção contra os animais
selvagens, manutenção do moral elevada e proteção dos alimentos.
4.1.7 SITUAÇÕES DE SOBREVIVÊNCIA
4.1.7.1 Quando estiver em operações a sobrevivência torna-se difícil, pois um
inimigo atuante exigirá a sobrevivência dinâmica, ou seja, os sobreviventes de-
verão sempre estar em movimento, preocupando-se em não deixar rastros, nem
pistas dos locais em que sobreviveram.
- Geralmente a equipe que sobrevive, devido ao contexto das operações, estará
certamente orientada e saberá para onde deve escapar.

4-3
EB70-CI-11.438
- O deslocamento será noturno, se possível em alagadiços, evitando deixar rastro.
- Durante o dia, o abrigo deve ser camuflado e o fogo transportado por braseiros,
sendo aceso somente durante o dia, utilizando-se de madeira seca para evitar
a fumaça.
- A região dos abrigos deve ser protegida por armadilhas improvisadas.
4.1.7.2 Desastre aéreo
4.1.7.2.1 Nesse tipo de desastre, o risco de explosão após a queda é grande,
devendo o abandono do local ser imediato. Deve-se inicialmente:
- Zelar pelo aproveitamento do equipamento após o risco de explosão ter passado,
procurando aproveitar todo o material da aeronave, seja para confeccionar o fogo,
abrigo, alimentos e comunicações;
- verificar as rádios, pois toda aeronave possui equipamento de comunicações.
Atentar para a revista das bagagens, pois geralmente haverá alguma coisa que
possa ser utilizada;
- efetuar os primeiros socorros, principalmente dos feridos de fraturas graves
e queimaduras, lembrando que em uma aeronave, sempre haverá material de
primeiros socorros;
- estabelecer a procura de alimento e água, pois dependendo do porte da aero-
nave, pode-se encontrar esses itens;
- procurar descobrir a sua posição, já que na aeronave sempre tem bússolas,
cartas e até mesmo GPS;
- iniciar um diário, abordando as tarefas executadas; e
- abandonar a aeronave somente se for necessário, lembrando-se que, após a
queda de uma aeronave o socorro virá rápido.
4.1.7.2.2 Na atividade de construção de abrigos, a carenagem da aeronave poderá
ser muito útil. Ao fazer o fogo, o combustível da aeronave pode facilitar a obtenção
do mesmo, assim como a bateria para a produção de faíscas.
4.1.7.2.3 A sinalização no Pantanal é muito fácil e a utilização da fumaça é ideal,
pois pode ser vista a grandes distâncias. Lembrar também, que objetos podem
ser utilizados para emitir raios de luz como sinalização.
4.1.7.3 Desastre aquático
4.1.7.3.1 Nesse, deve-se afastar do ponto do naufrágio, evitando o combustível
que vaza da embarcação, principalmente o diesel.
- Se houver incêndio na água, escapar contra a correnteza e por meio do mergulho.
Procurar sempre materiais que flutuem e a margem mais próxima.
- É importante aproveitar todo material que puder ser resgatado das embarcações,
4-4
EB70-CI-11.438
pois a princípio, ele flutua e pode ser utilizado pelo sobrevivente.
- Se a embarcação afundou em local de fácil acesso, deve-se retirar tudo dela,
pois não há mais riscos de explosão, lembrando sempre de secar todo o material
antes de usar.
4.1.7.3.2 Efetuar os primeiros socorros, atentando para os feridos que provavel-
mente, serão por afogamento, hipotermia, fraturas leves e queimaduras.
4.1.7.3.3 Buscar construir abrigos e, se possível, utilizar o material da embarcação;
lembrando que essa construção do abrigo deve ser na margem, para facilitar a
sobrevivência. Verificar as rádios embarcadas, e se conseguir as resgatar, lem-
brar que se deve esperar que seque bem, para somente assim tentar utilizá-las.
4.1.7.3.4 Revistar bagagens, pois às vezes, podemos encontrar materiais úteis
dentro de uma bagagem.
4.1.7.3.5 Iniciar a sobrevivência:
- Procurar fazer o fogo o mais rápido possível e se possível, aproveitar o combus-
tível das embarcações, devendo atentar para sempre utilizar o mínimo de material
possível para iniciá-lo e mantê-lo;
- procurar o alimento e água em grandes embarcações, ciente que na cozinha
provavelmente haverá alimento;
- tentar descobrir a sua posição através de mapas e GPS na cabine de comando;
- iniciar um diário com as tarefas executadas; e
- preparar um ponto para sinalização, próximo do rio e em lugar aberto, utilizando
madeira verde, folhas ou mesmo material como borracha e diesel da embarcação.

4.2 RASTREAMENTO ANIMAL


4.2.1 GENERALIDADES
4.2.1.1 A percepção de sua importância se dá pelo fato de constituir-se na essência
da técnica de caça para a obtenção do alimento de origem animal. Todos os ani-
mais possuem uma área “territorial”, cuja extensão varia conforme cada espécie.
4.2.1.2 No território está localizada a sua moradia, que pode ser um buraco, em-
baixo de uma galhada, sob ou sobre um tronco, ou em uma árvore.
4.2.1.3 Nesse território está ainda, o local em que vai saciar a sua sede (bebe-
douro), e o local onde está seu alimento (comedia), com os vegetais ou animais
que para ali convergem.
4.2.1.4 Ciente do triângulo do habitat (moradia, bebedouro e comedia), aliado ao
conhecimento de seus hábitos, torna-se possível abater o animal, por meio do
emprego de armadilhas ou executando uma espera (mutá).
4-5
EB70-CI-11.438
4.2.2 TÉCNICAS DE RASTREAMENTO
4.2.2.1 No interior do Pantanal, deve-se utilizar os sentidos da visão, audição,
olfato e tato, visando o emprego adequado das técnicas de rastreamento.
4.2.2.2 A visão é o sentido mais importante para detectar a presença da caça. O
movimento das copas das árvores pode caracterizar a presença de algum animal
(macaco, quati, lagarto, camaleão), ou ave no local. Caso note-se marcas de ar-
ranhões na casca de árvores caídas no chão é indício da presença de felinos na
área. Pode-se diferenciar a onça da jaguatirica, pela altura e largura das marcas.
4.2.2.3 Os felinos arranham o tronco para afiar as garras. A pata do animal deslo-
ca o solo por compressão formando uma depressão com maior ou menor nitidez
dependendo da consistência do solo. Quando esse mesmo itinerário é repetido
muitas vezes pelo animal, forma-se uma trilha. Seguindo-a, é possível encontrar
a sua moradia, seu ponto de água ou sua comedia.
4.2.2.4 Ao raiar e ao entardecer do dia, a cantoria dos pássaros ocorre com maior
intensidade nas proximidades dos corixos e rios. O bater das asas ao pousar
ou voar é perfeitamente audível, principalmente os de aves de maior porte. Os
animais, quando em movimento, ao pisar sobre a cobertura de gravetos e folhas
mortas, fazem ruídos perceptíveis a uma distância de aproximadamente, 30 m.
Isto quando o animal ainda não tiver percebido a presença humana. A chuva
prejudica muito o emprego da audição, pois mesmo após o término da mesma,
os pingos de água permanecem caindo das copas das árvores.
4.2.2.5 Em deslocamento, quando é sentido o odor semelhante aos de dejetos
humanos, isto significa que nas proximidades existe um poleiro de bugio. Quando
se sente um cheiro adocicado, almiscarado no ar, significa que nas proximidades,
anda um porco caititu. Esse animal possui no seu quarto traseiro, glândulas que
desprendem esse odor e facilitam a percepção pelo olfato.
4.2.2.6 Quanto ao tato, é importante salientar que, durante a noite, quando se
realiza uma espera, é possível sentir a aproximação da caça quando aumenta
a quantidade de mosquitos. Quando a caça se afasta, os insetos diminuem de
intensidade.
4.2.3 MÉTODOS DE OBSERVAÇÃO INDIRETA
4.2.3.1 Por meio de algumas evidências ou vestígios deixados por animais, é
possível confirmar se esses vivem em uma determinada área. É o chamado mé-
todo indireto, pois possibilita comprovar a presença de alguns indivíduos, sem a
observação “verdadeira” do animal.
4.2.3.2 Entre essas evidências destacam-se algumas que ocorrem com maior
frequência: pegadas ou rastros; vocalização ou canto dos animais e as fezes. As
pegadas de animais silvestres são basicamente as impressões que eles deixam
ao se deslocarem em uma determinada área. A qualidade dessas impressões

4-6
EB70-CI-11.438
varia de acordo com o tipo de terreno e também da época do ano.
4.2.3.3 Em geral, terrenos mais argilosos e a época de chuvas permitem melho-
res condições para “marcar” a pegada de um animal. As pegadas são facilmente
observadas, até mesmo quando estiver realizando outras atividades. Ao tentar
identificar que animal deixou uma pegada, deve-se estar atento a algumas ca-
racterísticas que vão ajudar nessa tarefa. Uma das marcas mais importantes é a
dos dígitos, ou seja, dos “dedos” dos animais.
4.2.3.4 Deve-se prestar atenção ao número (quantos são), a forma (redondo ou
alongado) e a presença ou não de sinais de unhas. Essas informações facilitarão
muito a identificação. Outras marcas importantes são a forma e o tamanho das
almofadas, embora elas não estejam presentes nas pegadas de vários animais,
por exemplo, nos animais com casco (Fig 27).

Fig 27 - Pegada.

4-7
4.2.3.5 Seguem exemplos das pegadas de alguns animais do ecossistema pantaneiro (Tab 7)

4-8
ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES
EB70-CI-11.438

Tatu-Peba
- Na pegada dianteira do tatu-peba, normalmente,
aparecem três dígitos com as marcas de unhas,
sendo o do meio maior.
- Na pegada traseira aparecem três dígitos, com
os dois internos unidos e voltados para dentro da
trilha produzida pelo animal. O comprimento varia
de 2 a 2,5 cm e sua largura é de 4 cm.

Tatu-Galinha
- A pegada traseira do tatu-galinha marca três
dígitos bem abertos, alongados e o terceiro é
maior em relação aos demais.
- O rastro da pegada dianteira marca dois dígitos
paralelos e próximos.
- O comprimento da pegada pode chegar a 3,5
cm e a largura é de 3 cm.

Tab 7 - Exemplos de pegadas.


ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

Tatu-Canastra

- Embora o tatu-canastra possua cinco garras na


perna dianteira, as pegadas mostram apenas a
marca de duas, sendo uma delas a da grande
unha, que fica marcada para fora do eixo do des-
locamento. A pegada traseira apresenta a marca
de três dígitos curtos e grossos. Observa-se as
marcas deixadas pela cauda. O comprimento
da pegada varia de 6 a 8 cm e a largura de 7,5
a 9,5 cm.

Macaco-Prego

- A pegada de um macaco-prego é semelhante


ao formato da mão espalmada de uma pessoa,
normalmente com o primeiro dígito similar ao
polegar humano, isto é, em oposição aos demais.
O comprimento varia de 7 a 11 cm e a largura de
5 a 6,5 cm.

4-9
EB70-CI-11.438

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).


ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

4-10
Lobinho
EB70-CI-11.438

- A pegada de um lobinho apresenta quatro dígitos


levemente afastados, de 4,4 a 5,5 cm de com-
primento e 3,8 a 4,6 de largura, com as marcas
das unhas bem definidas. A pegada apresenta-se
levemente afunilada, tanto na almofada palmar,
quanto nos dígitos em direção às unhas, caracte-
rística que a diferencia da pegada de um cachorro
doméstico.

Tamanduá- Mirim
- O tamanduá-mirim possui unhas muito longas,
cerca de 4 cm de comprimento. O comprimento
da pegada dianteira pode atingir cerca de 8 cm
de diâmetro, a pegada traseira asemelha-se
muito a um pé de criança (pé chato), pode variar
de 8 a 10 cm de comprimento e de 5 a 6 cm de
largura. Sua pegada é muito parecida com a do
tamanduá-bandeira, diferenciando-se pelas mar-
cas de unhas finas na pegada traseira, enquanto
a do tamanduá- bandeira exibe os dígitos bem
definidos.

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).


ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

Tamanduá- Bandeira
- A pegada dianteira de um tamanduá-bandeira é
curva e voltada para o interior da trilha do animal,
posicionamento ao qual se deve a uma adapta-
ção para evitar o desgaste das unhas e também,
para facilitar a sua movimentação devido as suas
unhas compridas (cerca de 5 cm). A pegada
traseira assemelha-se muito a um pé de criança
com dedos curtos. As pegadas produzidas são
grandes. O comprimento da pata anterior pode
atingir cerca de 8 cm de diâmetro e a pata traseira
pode atingir 10 cm de comprimento e entre 6 a 7
cm de largura.

Quati

- As marcas deixadas pelos dígitos, unhas e almo-


fadas são evidentes. A pegada do quati apresenta
cinco dígitos finos e alongados, com marcas de
unhas, variando de 4 a 11 cm de comprimento
por 3,5 a 5 cm de largura. A traseira é maior que
a dianteira. Animais adultos apresentam marcas
de unhas levemente curvadas para a trilha de
pegadas, sendo a curvatura mais perceptível nas
unhas dos dígitos menores.

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).

4-11
EB70-CI-11.438
ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

4-12
Jaguatirica
EB70-CI-11.438

- A pegada de uma jaguatirica apresenta almofa-


da bem definida e quatro dígitos sem as marcas
das unhas, comprimento variando de 4 a 5 cm e
a largura de 4,5 a 5,5 cm. A pegada dianteira é
maior do que a traseira. É muito semelhante às
marcas deixadas por uma onça-pintada, só que
em tamanho reduzido.

Onça-Parda

- A pegada de uma onça-parda mede de 8 a 9 cm


de comprimento por 9 a 10 cm de largura, com
almofada bem definida e ondulações voltadas
para o interior da almofada palmar. Os dígitos
dianteiros são mais alongados. Pode ser confun-
dida com a de uma onça-pintada, mas somente
a onça-parda apresenta essas ondulações na
almofada bem definidas. Geralmente é uma pe-
gada mais fina e comprida do que a da pintada.

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).


ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

Onça-Pintada

- As pegadas da onça-pintada são grandes e bem


características. A dianteira (com 10 a 12 cm de
comprimento e 10 a 13 de largura), é maior do
que a traseira (9 a 11 cm de comprimento e 9 a
10 cm de largura). Os dígitos são arredondados
e sem marcas das unhas. A almofada é grande e
arredondada. Embora a pegada seja semelhante
à da onça-parda, possui uma almofada mais larga
do que comprida, enquanto a onça-parda possui a
almofada mais comprida e menor largura.

Ariranha

- As pegadas da ariranha marcam cinco dígitos,


longos de 8 a 11 cm, e largos, entre 11 e 15 cm,
ligados por uma membrana. As unhas da ariranha
são semi-retráteis, por isso, algumas vezes, as
marcas não aparecem. A almofada é larga e bem
definida, apresentando leve semelhança com as
pegadas dos grandes felinos (onças). Algumas
vezes pode-se observar a marca da cauda (faixa
larga) entre as pegadas do animal.

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).

4-13
EB70-CI-11.438
ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

4-14
Veado-Mateiro
EB70-CI-11.438

- O formato da pegada do veado mateiro é trian-


gular, ocorrendo marca de dois dígitos e, algumas
vezes, de duas pequenas unhas inferiores na
pegada traseira. O comprimento do rastro é de 4
a 4,8 cm e a largura é de 3 a 4,5 cm.

Capivara

- A pegada dianteira da capivara marca quatro


dígitos, alongados e abertos, bem característicos.
O comprimento varia em média de 11,5 cm e 12,5
cm. A pegada traseira é semelhante à dianteira,
mas marca três dígitos no solo e é de tamanho
menor, com comprimento total entre 9,5 e 10,5 cm.

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).


ANIMAL PEGADAS OBSERVAÇÕES

- A pegada dianteira de uma anta apresenta três


Anta dígitos largos e curtos, arredondados nas extre-
midades, com o dedo médio sempre maior do que
os demais e um quarto dígito pequeno postado
medialmente. O comprimento da pegada varia de
12 a 15 cm e de 12 a 14 cm de largura. A pegada
traseira apresenta três dígitos largos, curtos, arre-
dondados nas extremidades e com o dedo médio
sempre maior do que os demais. O comprimento
da pegada varia de 13 a 15 cm e de 12 a 14 cm
de largura. É frequente haver sobreposição dos
rastros dianteiro e traseiro.

Queixada

- As marcas de pegadas do queixada são arredon-


dadas e desenham cascos levemente separados.
A largura do casco, em torno de 4 a 5 cm em
animais adultos, é aproximadamente a metade
do comprimento do mesmo. Como o queixada
vive em grupos grandes, é comum observar
inúmeras pegadas juntas, formando uma trilha
bem marcada.

Tab 7 - Exemplos de pegadas (continuação).

4-15
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438
4.3 TIRO DE CAÇA
4.3.1 GENERALIDADES
- Paciência, controle e disciplina são fatores essenciais para se obter o sucesso
na caçada.
- é importantíssimo preservar ao máximo a munição, pois cada erro resulta em
menos refeições.
4.3.2 ARMAMENTO E MUNIÇÃO
4.3.2.1 Os rifles são armas de almas raiadas, tiro singular, de ferrolho e de alimen-
tação automática. As espingardas são armas de alma lisa e uso mais difundido
na região pantaneira
4.3.2.2 Como características gerais, temos que o número que indica o calibre de
uma espingarda é expresso pela quantidade de projéteis esféricos de chumbo de
diâmetro igual ao do cano, necessário para formar 1(uma) libra de peso, ou seja
0,454 grama. Exemplificando:
- O calibre 12 tem um diâmetro interno nominal correspondente a uma esfera de
chumbo que pesa 1/12 libra, portanto, são necessárias 12 esferas para se atingir
uma libra.
- O calibre 36 é uma exceção pois, segundo o critério acima, deveria ser calibre
67. Tendo um diâmetro nominal de 0,410 polegada (pol), esse calibre é também
designado por .410, especialmente fora do Brasil.
- Embora já tenham existido outros, atualmente os calibres mais em uso são os
abaixo relacionados (Tab 8):

Calibre Diâmetro interno nominal (mm)


12 18,50
16 17,00
20 15,70
24 14,80
28 14,00
32 12,80
36 (.410) 10,50
Tab 8 - Os calibres mais utilizados.

4.3.2.3 Normalmente, os valores para o comprimento da câmara mais encontrados


são de 76 mm, 70 mm e 65 mm. Com o tiro, o fechamento do cartucho se abre
de modo a apresentar um comprimento desenvolvido maior. É esse comprimento

4-16
EB70-CI-11.438
total, a que se refere a medida de comprimento dos cartuchos de caça. Não se
deve utilizar cartuchos de comprimento maior que o da câmara da arma.
4.3.2.4 Quanto ao comprimento do cano, as espingardas em geral são fabricadas
com canos de 660 mm, 711 mm, 726 mm, 813 mm e 864 mm. Os canos mais
compridos são preferidos para longas distâncias, em razão da visada melhor
que proporcionam e por diminuírem o recuo da arma devido ao seu maior peso.
Os canos mais curtos, de manuseio mais fácil, favorecem o tiro rápido, sendo
próprios para curto alcance ou para utilização entre arbustos. Não existe o melhor
comprimento de cano para todos os atiradores; o comprimento ideal é aquele com
o qual se obtém o melhor tiro.
4.3.2.5 O choque é uma ligeira constrição do diâmetro interno de cano, próximo
à sua boca. Exemplificando com o calibre 12, cujo diâmetro interno nominal do
cano é 18,50 mm, o estreitamento máximo que se usa, chamado choque pleno,
é da ordem de 1,00 mm, o qual reduz o diâmetro interno nominal do cano para
17,50 mm, próximo à sua boca. A finalidade do choque é controlar o agrupamento.
- A tabela seguinte (Tab 9) nomeia os tipos convencionais do choque e indica o
correspondente agrupamento que se deve obter de cada um:

Agrupamento

Choque Calibre de 12 a 32 Calibre 36 (.410)


Distância de 36,60 m Distância de 23 m
Diâmetro do círculo de 76 cm Diâmetro do círculo de 76 cm
Pleno 50% 70%
Modificado 45% -
Cilíndrico me-
40% 64%
lhorado
Cilíndrico 30% -
Tab 9 - Tipos convencionais de choque e agrupamento.

4.3.2.6 Os valores anteriores são aproximados e poderão ser diferentes entre


armas de mesma fabricação, ou de fabricação diferente. A utilização do choque
deve ficar a critério do atirador em situação de sobrevivência, de conformidade
com a alcance exigido pelos tiros que pretende dar. Existem tipos de caça que
normalmente são atingidos à distância, enquanto outros são atingidos mais de
perto. Como regra geral, o choque é próprio para longo alcance. E de acordo com
o senso comum, prevalecem as recomendações seguintes (Tab 10):

4-17
EB70-CI-11.438

Choque pleno Paca, queixada, patos, marrecos e tiro ao prato


Choque modificado Coelho, codorna e pomba
Choque cilíndrico melhorado Codorna, perdiz e tiro ao prato
Choque especial para skeet Skeet

Tab 10 - Recomendações de choque.

4.3.2.7 Quando se atira em um painel ou folha de papel estendida a uma distância


determinada, a relação do maior número de balins que se conseguir abranger em
um círculo de determinado diâmetro com o número total de balins de chumbo do
cartucho, representa a porcentagem que é chamada agrupamento.
- Usualmente, o agrupamento contribui para determinar a letalidade do tiro em
determinada caça, sendo identificado calculando-se a média de pelo menos 10
tiros, conforme especificações da seguinte tabela (Tab 11):

Calibre Distância Diâmetro do círculo


12 a 32 36,6 m 76 cm
36 (.410) 23 m 76 cm
Tab 11 - Especificações para determinação do agrupamento.

4.3.2.8 Operação de manejo


a) Abrir a arma, com ação no trinco da tranca (cabo do bloco);
b) carregar, colocando o cartucho até que o culote se encaixe no extrator;
c) fechar;
d) engatilhar, através da condução do cão à retaguarda;
e) executar o disparo, agindo no gatilho; e
f) realizar a extração do cartucho.
4.3.2.9 Cuidados e manutenção da arma
a) Verificar, antes de carregar a arma, se o cano está completamente desobstruído;
b) não disparar com o cano imerso;
c) não usar a arma como apoio, nem para abrir caminho no mato;
d) jamais deixa-la carregada, quando não estiver caçando;
e) procurar manter a arma sempre limpa e lubrificada;

4-18
EB70-CI-11.438
f) não apontar para outra pessoa; e
g) antes da caçada secar o cano.
4.3.2.10 Composição da munição
- A munição, normalmente fornecida nos calibres 12, 16, 20, 24, 32 e 36 compõe-
-se de estojo, tubo, espoleta, carga de pólvora, bucha, balins (de chumbo) e
fechamento.
4.3.2.10.1 Estojo:
- Confeccionado em metal, sendo utilizado em tubos de papel ou plástico resis-
tentes e em tubos de metal reutilizável (formando um último corpo).
4.3.2.10.2 Tubo:
- Invólucro cilíndrico calibrado, podendo ser de papel, plástico resistente ou de
aço latonado.
4.3.2.10.3 Espoleta:
- Cápsula de metal contendo explosivo, para início de uma deflagração.
4.3.2.10.4 Carga de pólvora negra grafitada:
- Responsável pela projeção dos balins de chumbo.
4.3.2.10.5 Bucha:
- Com a finalidade de separar a carga de projeção dos balins de chumbo.
4.3.2.10.6 Carga de chumbo:
- Constitui-se de diversos balins de chumbo, de mesmo diâmetro, variando con-
forme o tipo de caça que se deseja abater.
4.3.2.10.7 Fechamento:
- Feito pelo prolongamento do tubo de papel ou plástico, resultando no fecha-
mento estrela, ou pela utilização de um círculo de papel resistente, resultando
no fechamento orlado.

4-19
EB70-CI-11.438

Fig 28 - Composição das munições de caça.

4.3.2.11 Recarga:
- Os cartuchos de metal podem ser recarregados, sendo encontrados no comércio
(estojo, incluindo tubo) vazios com essa finalidade.
- Os cartuchos de plástico e de papel poderão ser recarregados em casos extremos
e nunca mais de duas vezes.
- Como cuidados com a munição: evitar a umidade; não polir nem lubrificar a
munição; testar a munição sempre que for velha e verificar se o calibre da arma
confere com o cartucho a ser utilizado, de preferência experimentando-o.
4.3.3 PARA O TIRO DE CAÇA DIURNO:
- A hora apropriada é ao amanhecer e ao entardecer.
- O silêncio é fundamental ao seguir a caça.
- A caça será mais abundante nas proximidades de água; tornando-se fundamental
rastrear o terreno procurando vestígios.
- A caçada ficará prejudicada por ocasião das chuvas.
- Ao executar um tiro com a caça em movimento, deve-se observar a distância
e a velocidade da caça, visando compensar o tempo que o chumbo levará para
chegar ao objetivo e a queda do chumbo na trajetória, devido ao seu peso.
4.3.4 COM O INTUITO DE REALIZAR O TIRO EM ANIMAL CORREDOR, ATEN-
TAR PARA O SEGUINTE:
a) Quando o animal correr em sentido transversal ao tiro, apontar mais alto e
para frente;
4-20
EB70-CI-11.438
b) já caso o animal estiver correndo na mesma direção de tiro, apontar mais alto
(nas orelhas) e um pouco mais à frente; ou
c) quando o animal correr em direção ao tiro, apontar mais à frente do mesmo
descobrindo todo o animal.
4.3.5 PARA O TIRO EM AVES, OBSERVAR O SEGUINTE:
a) Caso a ave estiver descendo, afastando-se da direção de tiro, apontar por
baixo, descobrindo bastante o corpo da ave;
b) quando a ave estiver voando em ascensão e em sentido contrário ao tiro, apon-
tar por baixo e mais à frente; no entanto, se a ave estiver voando em acentuada
ascensão, apontar por cima; e
c) se a ave estiver voando em direção transversal, apontar mais alto à frente.
4.3.6 AO EFETUAR O TIRO EM CAÇA IMÓVEL:
- Deve-se procurar acertar uma região nobre do animal, como por exemplo, o
pescoço, ou qualquer outra que guarde em seu interior um órgão, que se atingido,
imobilize a animal.
- Essa precaução deve ser mais observada à medida que cresce o porte do animal.
4.3.7 O TIRO DE CAÇA NOTURNO REQUER ALGUMAS ATIVIDADES, COMO:
a) A preparação da arma, adaptando uma lanterna à mesma e que possua um
botão de acendimento rápido; e
b) a preparação e execução da espera (chamada de mutá, mutála ou moité),
onde a isca é a própria comedia, bebedouro ou barreiro do animal e a pontaria
ou disparo são executados pelo próprio caçador.
- A construção de uma espera é simples e rápida, variando a altura do chão e
a distância da caça, de acordo com o tipo de animal que se quer abater, com
o terreno, com os ventos que sopram no local e outros detalhes associados à
experiência do caçador.
4.3.8 DE UMA MANEIRA GERAL, OS CUIDADOS SÃO OS SEGUINTES:
a) Não modificar o aspecto do terreno;
b) não progredir sobre os indícios;
c) construir um mutá a uma distância compatível;
d) ocupar a espera de preferência ao anoitecer;
e) balizar um itinerário de retraimento para a área de acampamento, caso deseje
retornar depois de ter abatido a caça (tomar cuidado, no caso de espera, quanto
às onças); e
f) manter o controle individual em aspectos como abstenção de fumo, controle
4-21
EB70-CI-11.438
sobre as necessidades fisiológicas, disciplina de luzes, paciência, silêncio, domínio
sobre o sono e dores musculares.
- Lembre-se que certos animais têm o sentido do olfato apurado, portanto o uso de
repelentes o afastará. Nesse caso, o uso de mosquiteiros ou o estudo da direção
do vento se reveste de grande importância.
4.3.9 Executar a técnica de tiro, buscando engatilhar a arma quando da percep-
ção da aproximação do animal, evitando o click do cão; colocar o rosto junto à
coronha da arma e rastrear o terreno com o foco da lanterna, por períodos de
5 segundos. O caçador deve procurar por meio dos ruídos, localizar a possível
posição da caça, engatilhar arma, e nesse último ato, deverá observar o reflexo
dos olhos do animal com o foco da lanterna e realizar o disparo.
4.3.10 Em situações de sobrevivência em grupo, a área para a execução da caça
deve ser localizada a certa distância que permita a segurança, evitando-se o fra-
tricídio. A equipe de caça deve estar orientada quanto à região de acampamento
para evitar o disparo em sua direção. Caso haja mais de uma equipe de caça,
deve-se dividir setores distantes entre si, de maneira a evitar o encontro fortuito,
com possibilidade de fratricídio, em especial no período noturno.

4.4 OBTENÇÃO DO PESCADO


4.4.1 A Bacia do Alto Paraguai, com seus inúmeros cursos de água fluindo, atra-
vés de uma grande variedade de solos e comunidades vegetais, oferece uma
abundância de nichos aquáticos e terrestres. A BAP, a qual abriga o Pantanal,
acolhe muitas espécies de peixes, tornando a região pantaneira mais surpreen-
dente ainda.
4.4.2 Os mais importantes aspectos climáticos que concorrem para a grande varie-
dade de peixes são: temperatura quente ao longo de quase todo o ano, facilitando
a eclosão dos ovos; e a grande flutuação do nível das águas, ocasionada pelos
diferentes regimes a que está submetida a BAP, formando as chamadas “cheias
e secas”. Essa variação do nível permite a exploração de novos ambientes, pro-
piciando locais diferentes para a desova dos peixes.
4.4.3 A cor das águas dos rios varia, principalmente, quanto ao tipo de solo, con-
forme a função da sua estrutura geológica e, em função da cor de determinado
curso de água é possível se ter uma ideia do grau de piscosidade. A BAP possui
rios de águas barrentas, com instabilidade dos leitos, grande concentração de
sedimentos ricos em sais minerais e matéria orgânica, vinculado à existência
de várzeas e com um ambiente ecológico próprio à fauna e flora, contando com
grande variedade e quantidade de peixes (Tab 12):

4-22
EB70-CI-11.438

ARRAIA
- Descrição: peixe em forma de disco, de couro e coloração
escura. Possui ferrão na cauda e pode chegar a 60 kg.
- Hábito alimentar: pequenos peixes e invertebrados
aquáticos.
- Habitat: em poços e remansos.

BAGRE (MANDI AMARELO)


- Descrição: peixe liso e pequeno; possui acúleos nas
nadadeiras dorsal e peitoral; apresenta de três a cinco
séries de manchas escuras ao longo do corpo e pintas
nas nadadeiras.
- Hábito alimentar: onívoro, peixes, folhas, frutos e se-
mentes.
- Habitat: nos remansos dos rios, nas margens e em locais
com areia e cascalho no fundo, sendo mais ativo a noite.

ABOTOADO (FOCINHO DE PORCO)


- Descrição: peixe de couro cinza escuro, de armadura
espinhosa em ambos os flancos, uma forte carapaça pro-
tetora na cabeça e uma boca pequena voltada para baixo.
- Hábito alimentar: são onívoros, comem moluscos, in-
setos, frutos, sementes, peixes pequenos e detritos do
fundo do rio.
- Habitat: remansos, poços e pontos com maior profundi-
dade perto da margem.

CACHARA
- Descrição: peixe de couro, de dorso escuro com faixas
negras transversais e região ventral clara. Pode atingir
mais de 1 metro.
- Hábito alimentar: pequenos peixes.
- Habitat: durante o dia ou a noite, nos remansos de praias
e canais com fundo de pedras ou cascalho.

CURIMBATÁ
- Descrição: corpo alto e comprido, coberto de escamas
prateadas, com dorso mais escuro que o restante do
corpo. Possui uma boca proeminente voltada para baixo.
- Hábito alimentar: algas e pequenos organismos do fundo,
pequenos peixes.
- Habitat: sob raízes e troncos, próximo às margens com
barranco.

Tab 12 - Elementos da ictiofauna.

4-23
EB70-CI-11.438

PIRAPUTANGA
- Descrição: peixe de escamas, atingindo até 50 cm; cor
prata, de nadadeira levemente avermelhada.
- Hábito alimentar: onívoro, sementes, insetos e peixes
menores.
Habitat: em locais de água corrente e próximo a árvores
frutíferas.

DOURADO
- Descrição: peixe de escamas amarelas e brilhantes, que
pode atingir mais de 1 metro.
- Hábito alimentar: peixes menores, moluscos e crustá-
ceos.
- Habitat: em locais de águas rápidas no leito ou próximo
às margens, desde que tenha pedras, paus e confluência de rios.

JURUPOCA (JIRIPOCA)
- Descrição: peixe liso, coloração superior marrom e algu-
mas pintas pretas, com barbilhões. A mandíbula é maior
que o maxilar superior.
- Hábito alimentar: pequenos peixes e outros invertebrados
aquáticos.
- Habitat: fundo de rios, lagos e boca de lagoas.

JURUPENSÉM
- Descrição: peixe de couro, de coloração cinza-escura
no dorso e clara no ventre; com uma faixa escura da ca-
beça à cauda; maxilar superior mais longa que o inferior
e cabeça achatada.
- Hábito alimentar: pequenos peixes e camarões.
- Habitat: em locais com fundo de lodo ou areia e boca de lagoas.

LAMBARI
- Descrição: peixe de pequeno porte, corpo alongado e
comprido, de escamas pequenas e prateadas, com dois
pontos negros, um atrás da brânquia e outro na base da
nadadeira caudal
- Hábito alimentar: onívoros, plantas superiores, peixes
menores e insetos.
- Habitat: baías, leitos de rios, na superfície da água e corixos.
Tab 12 - Elementos da ictiofauna (continuação).

4-24
EB70-CI-11.438

PIAVUÇU
- Descrição: peixe de escamas; de corpo curto e grosso,
podendo chegar a 60 cm de comprimento.
- Hábito alimentar: onívoros, raízes, frutos, insetos e
crustáceos.
- Habitat: margens dos rios, remansos, corixos e entrada
de baías.

PACU
- Descrição: peixe de escamas. Com corpo alto e colora-
ção escura, atingindo, aproximadamente 50 cm
- Hábito alimentar: frutos que caem das árvores, pequenos
peixes e restos de alimentos.
- Habitat: calha dos rios (seca); lagos e matas inundadas
(cheia). Nas margens, sob árvores frutíferas.

PINTADO
- Descrição: peixe liso, de corpo alongado e roliço, com
flanco e dorso cobertos por manchas pretas arredondadas.
- Hábito alimentar: estritamente pequenos peixes, princi-
palmente sardinha e tuvira.
- Habitat: calha dos rios, sob camalotes e nos encontros
de águas.

PIRAMBEVA
- Descrição: piranha de pequeno porte, atingindo até 20
cm. De corpo comprimido e elevado, com mandíbula
inferior maior que a superior. Coloração cinza no dorso e
prateada no restante do corpo.
- Hábito alimentar: pequenos peixes, insetos e algumas
frutas e sementes.
- Habitat: nas margens, poços e leitos dos rios.

PIRANHA VERMELHA
- Descrição: peixe de escamas, podendo chegar a 30 cm;
corpo achatado lateralmente, coloração cinza-escura no
dorso, vermelha no ventre e na região inferior da cabeça.
- Hábito alimentar: peixes e eventualmente insetos aquá-
ticos.
- Habitat: leito do rio, mais encontrada em lagoas.

Tab 12 - Elementos da ictiofauna (continuação).

4-25
EB70-CI-11.438

SARDINHA
- Descrição: peixe de escamas; corpo alongado, prateado,
com dorso mais escuro e recoberto por escamas grandes,
que se soltam facilmente.
- Hábito alimentar: onívoros, frutos, sementes, peixes
pequenos e invertebrados.
- Habitat: margens de águas mais calmas, lagoas e bocas
de corixos.

TRAÍRA
- Descrição: peixe de escamas, corpo cilíndrico e longo,
com escamas grandes, nadadeira caudal arredondada,
olhos e bocas grandes.
- Hábito alimentar: pequenos peixes, insetos e pequenos
anfíbios.
- Habitat: sob vegetações, remanso do rio, em água rasa
e quente.

TUVIRA
- Descrição: peixe liso, com única nadadeira muito longa.
Boca voltada para cima.
- Hábito alimentar: pequenos peixes, insetos, moluscos
e crustáceos.
- Habitat: próximo às margens, sob a vegetação (camalote)
e em lagoas com muita vegetação.

Tab 12 - Elementos da ictiofauna (continuação).

4.4.4 PRINCIPAIS TÉCNICAS DE OBTENÇÃO DO PESCADO


4.4.4.1 As técnicas abordadas a seguir, utilizam implementos que, normalmente
estariam disponíveis (material contido no equipamento individual ou confeccionado
de forma improvisada do terreno), em situação de sobrevivência no Pantanal.
A criatividade associada à disponibilidade de meios, no entanto, poderá levar o
grupo a partir para outro método mais prático e eficiente, principalmente se hou-
ver pescadores experimentados. Se o grupo dispuser de uma rede de dormir de
cordão ou nylon trançado, poderá utilizá-la como se fosse uma malhadeira, para
capturar pequenos peixes e até camarões.
- São cinco as principais técnicas de pescaria:
a) De facho;
b) com anzol;
c) com arma de fogo e explosivos;

4-26
EB70-CI-11.438
d) armadilhas de pesca; e
e) uso da tarrafa ou malhadeira.
4.4.4.2 A pescaria de facho é a pesca noturna em que se utiliza um meio artificial
(vela, lanterna, lâmpada) ou natural (tocha de breu, tocha de madeira) com as
seguintes finalidades: permitir a observação e imobilizar temporariamente o pei-
xe. O melhor horário é a partir de três a quatro horas após o escurecer, quando
a maioria das espécies já está menos ativa. Como implemento para a captura
pode-se utilizar:
a) A zagaia;
b) o arpão; ou
c) o terçado.
- Durante esse tipo de pesca, deve-se tomar cuidados especiais com cobras,
onças e arraias. Recomenda-se arrastar os pés, quando o deslocamento for feito
dentro do curso d’água e nesse caso, preferencialmente subindo, para evitar a
turbidez da água.
4.4.4.3 Com a zagaia e o arpão deve-se atentar para o fenômeno da refração
da água. Recomenda-se colocar a ponta da zagaia na água e aproximar o máxi-
mo, sem espantar o peixe. A referência para não errar a perfurada é observar a
parte da zagaia que está mergulhada. Na utilização do terçado, o golpe deve ser
desferido preferencialmente na cabeça, cortando o peixe que estiver encostado
nas margens e a pouca profundidade. Alguns peixes como a traíra, podem ser
cortados mesmo durante o dia.
4.4.4.4 A pescaria com anzol pode ser realizada noturna ou durante o dia. À noite,
o melhor horário é antes das vinte e duas horas, ou seja, enquanto a maioria das
espécies está ativa, procurando algum alimento. Para obter o pescado valendo-se
do anzol devem ser observados alguns cuidados, tais como:
- Aproximar das margens sem fazer ruídos;
- não projetar a sombra na água ou destacar a silhueta no horizonte, procurar
manter a vegetação com o aspecto natural; e
- não tocar o anzol ou isca com as mãos sujas de óleo, repelente ou qualquer
outro derivado do petróleo.
4.4.4.5 A pescaria básica utilizando o anzol é aquela que vem associada a um
caniço, com diversos complementos, alguns dos quais dispensáveis como a boia,
encastoador, distorcedor e chumbada (conforme o caso ou disponibilidade). O
caniço é uma vara resistente e flexível; a linha deve ser preferencialmente de nylon
(cadarço ou cipó também servem); o anzol geralmente está presente no material
individual ou pode ser improvisado; a chumbada é usada para impedir que a cor-
renteza leve o anzol para a superfície; o encastoador é um arame ou fio resistente,

4-27
EB70-CI-11.438
de 10 a 20 cm, que une a linha ao anzol (serve para impedir que determinados
peixes, como a piranha e a traíra, cortem a linha; a boia é material leve e com boa
flutuabilidade, utilizada para limitar a profundidade do anzol, selecionando o tipo
de peixe; a isca é utilizada para atrair o peixe, como pedaços de peixes, vísceras
de animais, insetos, frutas, minhoca, tapuru, cupim, camarão, rã; e o distorcedor
serve para não embolar a linha durante o processo de apanha do peixe.
4.4.4.6 Como variações do emprego da pesca com anzol, temos a linhada de
mão, que é a linha enrolada em um carretel sem a necessidade de caniço. Essa
deve ser lançada nos locais mais profundos, nos chamados poços ou remansos.
É utilizada também para jogar o anzol a uma distância maior do que aquela que o
caniço normalmente permitiria. A pinauaca é um caniço em que a isca é substituída
por um pedaço de tecido ou pena de pássaro de cor vermelha.
- Resvala-se a pinauaca na superfície da água e em movimentos sucessivos, até
o peixe abocanhar o anzol, confundindo-o com alguma presa.
4.4.4.7 O espinhel é a linha na qual se prende, de espaço em espaço, linhas me-
nores armadas de anzóis. É colocado de uma extremidade a outra das margens
de corixos, furos e lagos. O anzol de galho é uma linha de mão amarrada a um
galho flexível, que se debruça sobre a água. Uma vez abocanhado o anzol, o
peixe tentará romper a linha, e no vai e vem, facilitado pela flexibilidade do ga-
lho, ele estará cada vez mais preso. O método torna-se mais eficiente, quando a
árvore escolhida estiver com os frutos amadurecidos e se precipitando na água,
atraindo o peixe.
- As formas de pesca e de anzóis improvisados estão representadas a seguir
(Fig 29/A-B).

Fig 29/A - Formas de pesca.

4-28
EB70-CI-11.438

Fig 29/B - Anzóis improvisados

4.4.4.8 O processo de pescaria com armas de fogo e explosivos pode ser utilizado
quando se observa um vegetal com frutos amadurecidos se precipitando na água,
com os peixes se agitando na disputa pelo alimento. Recolhe-se um punhado
desses frutos e lança-os no ponto mais agitado e em seguida dispara-se. Quando
se utiliza explosivos o método é semelhante. A maioria morre devido à ação de
choque e não pelo impacto.

4.5 ARMADILHAS DE CAÇA E PESCA


4.5.1 A sobrevivência no Pantanal pode ser conceituada como sendo o uso da as-
túcia e da habilidade, voltadas para manter a vida do combatente que se encontra
na situação de sobrevivência. Dessa forma, associando a astúcia à habilidade,
o combatente poderá construir implementos, fruto da sua engenhosidade para
fazer armadilhas, que são artifícios eficientes para serem empregados tanto para
caçar, como para pescar. Para isso, o Pantaneiro utiliza todo o seu conhecimento,
garantindo assim alimentos de origem animal que fornecem grandes quantidades
de proteínas, fundamentais para a sobrevivência.
4.5.2 A maior parte dos animais de sangue quente e com pelos, são cautelosos
e difíceis de apanhar, e para caçá-los será preciso habilidade e paciência.
- O combatente deverá construir sua armadilha antes do anoitecer, devendo
atentar para não descaracterizar o terreno, retirar a medida auxiliar corretamente,
não impregnar cheiro humano na armadilha e confeccionar um gatilho eficiente
e fácil de fazer.
- O silêncio será fundamental, pois se o combatente quiser seguir a caça, poderá
fazer, mas deverá caminhar lentamente e levar em conta a direção do vento.
- Deve-se sentir o cheiro da caça, não o contrário.
4.5.3 O melhor horário para se caçar é durante a noite, levando-se em conta que
a maioria dos animais possuem hábitos noturnos. Se o combatente desejar fazer
uma caçada diurna, o melhor horário é bem cedo ou pela tarde. A caça deverá

4-29
EB70-CI-11.438
ser mais abundante e fácil de ser encontrada nas proximidades de água e co-
medias (banhados, capões, etc). Muitas espécies de animais vivem em buracos,
tronco oco de árvores ou no chão.
4.5.4 Animais de grande porte, quando feridos ou quando protegem seus filhotes,
são perigosos. Antes da aproximação para recolher a caça, será conveniente
certificar-se bem de que ela está realmente morta. Os animais de terra também
poderão ser capturados ou abatidos: lacertídeos, quelônios e répteis. Os pássaros
não deverão ser desprezados como futuros alimentos. Serão encontrados com
mais facilidade, próximo de árvores frutíferas. Destaca-se que as armadilhas
devem ser montadas seguindo o triângulo da vida do animal (Fig 30).

Fig 30 - Triângulo da vida dos animais

4.5.5 A maioria dos animais segue uma rotina de vida denominada triângulo da
vida, ou seja, é onde o animal dorme, bebe e come. Cabe ao combatente, quando
na situação de sobrevivência, procurar sempre identificar esses lugares, e dessa
forma encontrará facilidades para pegar a caça. É importante ressaltar que uma
vez identificado esse local, o combatente deve imediatamente confeccionar sua
armadilha, pois o animal poderá estar por perto.
4.5.6 FATORES IMPORTANTES PARA O FUNCIONAMENTO DAS ARMADILHAS
a) O gatilho deve estar sensível (doce), pois de tal forma, ao leve toque do animal,
a armadilha irá disparar;
b) adequar armadilhas e iscas à caça, para isso deve-se confeccionar as arma-
dilhas, conforme o animal que se quer pegar e as iscas, de acordo com que o
animal come; e
c) as dimensões e consistência devem ser proporcionais ao porte do animal que
se deseja capturar, e para isso, buscar utilizar a medida auxiliar.

4-30
EB70-CI-11.438
4.5.7 A escolha do gatilho a ser utilizado na armadilha, depende da astúcia e
engenhosidade do combatente. Ele pode usar um gatilho simples que funciona
com eficiência ou um mais elaborado. O importante é que ele tenha em mente
a maneira correta de confeccionar o gatilho, pois é sempre melhor optar por um
gatilho que o combatente saiba fazer com eficiência. Há muitos tipos e cabe
ao combatente sua escolha para utilizar nas diversas armadilhas. Os gatilhos
classificam-se quanto:
a) Ao acionamento (tração, pressão, desequilíbrio e misto);
b) funcionamento (peso e açoite); e
c) utilização (ponto e área).
- Verifica-se na tabela a seguir os tipos mais utilizados (Tab 13).

GATILHO TIPO TRAVE COM TRAÇÃO LATERAL

- Confeccionar uma trave, com cerca de


40 cm de altura, utilizando duas varetas
verticais de 5 cm de diâmetro, fincadas
ao solo e amarrando uma travessa ligan-
do suas pontas.
- Coloca-se uma vareta lateral e a 15
cm do centro da trave (em sua ponta é
ancorado um cordel).
- Prepara-se uma vareta com 2 cm
de diâmetro e 28 cm de comprimento,
achatando-se suas pontas.
- Essa vareta é sustentada pela trave e
pela vareta lateral e em sua parte superior, amarra-se um cordão ligado a armadilha
e mantendo-a puxada para cima.
- O acionamento do gatilho ocorre quando se traciona a vareta lateral, desfazendo
o equilíbrio.
Tab 13 - Tipos de gatilhos

4-31
EB70-CI-11.438

GATILHO TIPO TRAVE MÓVEL


- Confeccionar uma trave com 40 cm
de altura.
- A 10 cm do solo, amarra-se uma vareta
na horizontal com aproximadamente 3
cm de diâmetro. Prepara-se uma vareta
horizontal para deslizar sobre a trave.
- Uma vareta vertical de 20 cm de
comprimento por 2 cm de diâmetro é
preparada para ancorar um cordel e
ligar-se a uma armadilha, mantendo o
sistema em equilíbrio.
- Um cordão ou cipó é preso ao centro
da vareta horizontal móvel para puxá-la,
deslizando na vertical.
- O cordão passa por baixo da vareta
inferior da trave, atravessa a trilha ou
caminho, sendo em seguida fixada a um ponto.
- O cordão ou cipó ao ser puxado, por meio de tração ou tropeço, faz com que a vareta
horizontal seja puxada para baixo, liberando a vareta vertical e, em consequência,
acionando a armadilha.
OUTROS TIPOS DE GATILHOS
gatilho de pressão gatilho de pressão com arrasto

Tab 13 - Tipos de gatilhos (Continuação)

4-32
EB70-CI-11.438

OUTROS TIPOS DE GATILHOS


gatilho unha-de-gato gatilho com estrado

gatilho com isca gatilho tipo arco-móvel

Tab 13 - Tipos de gatilhos (Continuação)

4.5.8 A medida auxiliar (Fig 31) é uma medida padronizada para a realização da
pontaria (linha de visada), para os diversos tamanhos de caça, sendo de grande,
médio e pequeno porte.
a) Quanto aos animais de pequeno porte (paca, tatu) o ideal é a chave (distância
entre o dedo indicador e o dedo polegar);
b) já para os animais de médio porte (caititu, veado mateiro), o braço é a referência
(distância entre o dedo médio e a linha do cotovelo); e
c) para os animais de grande porte (queixada, cervo do pantanal, anta adulta),
a medida é feita a partir da posição de pé, mão colada na coxa, tomando como
referência, da ponta do dedo médio ao solo (linha da terra).

4-33
EB70-CI-11.438

Fig 31 - Medida auxiliar.

- Para utilizar a medida auxiliar é necessário identificar a pegada do animal, tendo


assim uma avaliação do seu porte.
4.5.9 ARMADILHAS PARA PESCA
4.5.9.1 O caniço com gatilho ou anzol automático é uma vara flexível, com linha
ou cipó, anzol e presa a um gatilho tipo arco-móvel. O curral (Fig 32), consiste em
uma construção feita com troncos de madeira dentro do corixo ou córrego para
capturar peixes. Deve-se levar em conta que a abertura do curral fica voltado para
a correnteza e a dimensão é de acordo com o tamanho do corixo. Pode-se fazer
uma tampa com palhas de acuri para evitar que os peixes saltem.

Fig 32 - Curral.

4.5.9.2 O jiqui (Fig 33) é confeccionado com talas de palmeiras, cipós ou bambu. A
tapagem com jiqui (Fig 34) é confeccionada com folhas de acuri ou outra palmeira,
presas por pequenas varas, fechando-se o curso de água ou parte do mesmo,
deixando um buraco para ser colocado o jiqui. A tapagem é um dos métodos mais
eficientes para permitir a captura de peixes sem ter que esperar por muito tempo
(arrastão). O jiqui com gatilho (Fig 35) é confeccionado com talas de palmeiras,

4-34
EB70-CI-11.438
cipós ou bambu; ainda com um anzol preso na vara flexível e um gatilho.

Fig 33/A - Jiqui.

Fig 33/B - Jiqui.

Fig 34 - Tapagem com jiqui.

4-35
EB70-CI-11.438

Fig 35 - Jiqui com gatilho.

4.5.10 ARMADILHAS PARAAVES


4.5.10.1 A arapuca (Fig 36) é empregada para capturar aves em geral (mutum,
arancuã, etc). Construída com madeira e cipó, deve ter dimensão e consistência
proporcional. Já a esparrela (Fig 37), consiste em uma forquilha presa a uma
árvore, com um laço e isca. Quando a ave pousar na forquilha para comer, ime-
diatamente uma trave que sustenta a forquilha cairá, fazendo com que a ave seja
presa e esganada pelo laceiro.

Fig 36 - Arapuca.

4-36
EB70-CI-11.438

Fig 37/A - Esparrela.

Fig 37/B - Esparrela.

Fig 37/C - Esparrela.


4-37
EB70-CI-11.438
4.5.11 ARMADILHAS PARA ANIMAIS DE PÊLO
4.5.11.1 O fosso (Fig 38) é um tipo de armadilha, em que o animal poderá ser
atraído por uma isca ou não. Pode-se colocar estacas “panji”. Fazer esse tipo de
armadilha é muito difícil, mas o combatente pode aproveitar possíveis buracos
no terreno. A armadilha deverá ser camuflada com palhas de acuri ou outra pal-
meira. Já o chiqueiro (Fig 39) é empregado para pegar animais de grande porte,
sendo confeccionado com toras de madeira bem resistentes. Quando a isca for
viva, é necessário construir outro compartimento na parte interna traseira para
prendê-la, dando preferência ao macaco. Em uma situação de sobrevivência,
esse tipo de armadilha não é muito viável, visto que o combatente poderá estar
debilitado e mesmo assim, para caçar um animal de médio ou grande porte, é
preciso realizar grande esforço.

Fig 38 - Fosso

Fig 39 - Chiqueiro.

4-38
EB70-CI-11.438
4.5.12 ARMADILHAS COM ARMAS DE FOGO
- São empregadas para abater qualquer animal, sendo confeccionadas com
qualquer arma de fogo, madeiras e cipós; em locais de passagem de caça, como
trilhas, comedias e bebedouros, de acordo com a medida auxiliar observada pelo
caçador (Fig 40 a 43). Para a construção, o local escolhido deve ser plano e a
arma instalada perpendicularmente ao eixo de progressão da caça. Deve-se evitar
andar na trilha da caça, principalmente na “área de matar”.

Fig 40 - Armadilha com ama de fogo.

Fig 41 - Armadilha com ama de fogo.

4-39
EB70-CI-11.438

Fig 42 - Armadilha com ama de fogo.

Fig 43 - Armadilha com ama de fogo.

4.5.13 ARMADILHAS PARA ANIMAIS DE PÊLO OU CASCO


4.5.13.1 O quebra-cabeça (Fig 44) é empregado para abater caça de pequeno
porte, podendo ser armado também em trilhas. Confeccionado com vara bem
flexível e pesada, é utilizada uma cerca para proteger a isca e o gatilho.

4-40
EB70-CI-11.438

Fig 44/A - Quebra-cabeça.

Fig 44/B - Quebra-cabeça.

4.5.13.2 O arco e flecha (Fig 45) é utilizado para apanhar animais de pequeno ou
médio porte. Como observação, deve-se amarrar a flecha a um cordel, para que
a caça não escape. O jiqui também pode ser empregado para pegar tatus, para
isso, é colocado na boca da toca e depois camuflado.

4-41
EB70-CI-11.438

Fig 45 - Arco e flecha.

4.5.13.3 Como outros tipos de armadilhas, temos a varrida que consiste em uma
trilha construída no Pantanal, de onde se retira todas as folhas, permitindo o
combatente deslocar-se sem fazer barulho. É construída normalmente, próxima
a comedias ou bebedouros. É um método muito eficiente, porém perigoso, prin-
cipalmente em locais que tenham onça e tamanduá.
4.5.13.4 O laceiro (Fig 46) é empregado para capturar qualquer tipo de caça.
Confeccionado com vara flexível, cipós ou cordas e gatilho.

Fig 46/A – Laceiro

4-42
EB70-CI-11.438

Fig 46/B – Laceiro

Fig 46/C – Laceiro

4.5.13.5 O alçapão consiste em um buraco fundo, cuja boca será coberta de varas
finas e folhagem, a fim de camuflá-la. Poderá ou não ser colocada uma isca, e se
for o caso, terá a vantagem de atrair a caça pelo cheiro.
4.5.14 Em uma situação de sobrevivência é muito importante montar as armadilhas
antes do cair da noite, em trilhas, comedias, bebedias e dormedias; fazer com
que a caça realmente caia na armadilha montada; zelar por iscas coerentes com
o tipo de alimento que o animal come; camuflar a armadilha, evitando ao máximo
alterar o ambiente por onde anda a caça; e saber o local exato da armadilha, tendo
em vista que voltará ao local para apanhar a caça.
4.5.15 Toda a equipe deverá saber a localização das armadilhas, para que elas

4-43
EB70-CI-11.438
não se tornem antipessoais, principalmente aquelas que empreguem armamentos
e estacas “panji”. É muito importante retirar o cheiro humano, após confeccionar
as armadilhas (o ato de macerar folhas verdes com água e esfregar nas madei-
ras, cipós ou cordéis das armadilhas cumpre a finalidade). O conhecimento dos
hábitos dos animais reveste-se de grande importância, sendo mais relevante que
conhecer as técnicas de construção das armadilhas.

4.6 FORMAS DE PREPARO DO ALIMENTO DE ORIGEM ANIMAL


4.6.1 Tendo em vista o alimento de origem animal ser a única fonte eficiente de
sais minerais, vitaminas e principalmente proteínas completas, ressalta-se a im-
portância de seu correto preparo e conservação para posterior consumo. Soma-
-se a essa ideia, o fato de que a obtenção do alimento de origem animal nesse
ambiente, está sujeita a fatores muitas vezes imponderáveis, os quais privam o
combatente de um abastecimento na quantidade e regularidade desejadas.
4.6.2 FATORES PONDERÁVEIS NA PREPARAÇÃO DO ALIMENTO
a) O tempo disponível;
b) a necessidade de alimentação;
c) a quantidade de caça obtida; e
d) a higiene do local, da caça e do homem que prepara o alimento.
4.6.3 CLASSIFICAÇÕES DA CAÇA PARA EFEITO DO PREPARO, UTILIZAÇÃO
E CONSERVAÇÃO
a) Animais de grande ou médio porte (vaca, onça, tamanduá, macaco);
b) aves (tuiuiú, garça branca, colhereiro, galinha);
c) peixes (pintado, piranha, pacu); e
d) animais da terra (jacaré, cobras, quelônios).
4.6.4 ANIMAIS DE GRANDE OU MÉDIO PORTE
4.6.4.1 Uma vez abatido o animal de grande ou médio porte (anta, onça, veado,
macaco, paca, cutia, capivara), para a sua preparação deve-se proceder a esfo-
la para que a carne não estrague, em virtude da coagulação do sangue. Assim
sendo, pendura-se o animal pelas patas posteriores, abrindo-as para facilitar o
trabalho. Torna-se importante realizar uma incisão transversal na parte mais alta
dos membros, abaixo do joelho, e outra longitudinal até a região entre as pernas.
Com a ponta da faca, inicia-se o esfolamento, liberando a pele do músculo, por
meio de uma fina camada de gordura ali existente, procedendo com os demais
membros da mesma forma.
4.6.4.2 Há animais, como os macacos, que permitem ser descamisados, isto é,

4-44
EB70-CI-11.438
uma vez feitas as incisões transversais e longitudinais, pela simples tração o couro
vai soltando-se do músculo. Após esfolado ou descamisado (Fig 47), o animal será
aberto pela linha do peito para a evisceração. Nessa operação deve-se ter cuidado
duplo, com a bexiga e com a fel. Para isso, coloca-se a ponta da faca protegida
pelo indicador, e tracionando-se para frente e para baixo, o animal estará aberto
sem correr o risco de furar a bexiga e a bolha biliar. Nos animais de grande porte,
nenhuma parte das vísceras deverá ser aproveitada. Por medida de segurança,
as vísceras dos animais de pelo não devem ser consumidas, tendo em vista
serem prováveis focos de doenças. No entanto, podem ser utilizadas como iscas
para a obtenção do pescado, em especial, piranhas.

Fig 47 - Descamisamento.

4.6.4.3 A fervura é um processo muito utilizado para a cutia, animal que possui a
pele muito saborosa. Joga-se água quente em cima do animal e simultaneamente,
faz-se a raspagem do pelo, até a pele ficar branca. Recomenda-se tomar cuidado
para evitar que o couro venha a “encruar” e para tal, deve-se jogar água somente
nas partes (quartos) que serão imediatamente raspadas. Eviscerado e lavado, o
animal estará pronto para a cocção e poderá ser moqueado para uso posterior.
A pele do animal poderá ser aproveitada para abrigos, para colher água ou para

4-45
EB70-CI-11.438
simples adorno (enfeite). Para isso, deverá ser esfolada e posta para secar ao
sol ou fogo. Quando moqueada, a carne deverá ter no máximo dois dedos de
espessura.
4.6.5 AVES
4.6.5.1 As aves (mutúns, arancuã), devem ser consideradas basicamente em
duas situações: com o corpo quente (quando recém abatidas) ou com o corpo frio.
4.6.5.1.1 Aves com o corpo quente, possuem como característica, as penas se
soltarem facilmente. Aproveita-se o corpo, ainda quente da ave recém abatida
para arrancar as penas com a mão.
- O descamisamento é executado após pendurar a ave pelos pés, fazendo uma
incisão na coxa ou pescoço, cortando- se apenas a pele.
- Por esse pequeno furo, coloca-se um tubo oco (tubo de caneta ou de camalote),
soprando-se até separar a pele com os resíduos de penas, da carne da ave.
- A partir de então, realiza-se um corte maior, buscando tracionar toda a pele. A
grande desvantagem desse processo é a perda por completo da pele do animal,
juntamente com um pouco de sangue e gordura (que podem ser considerados
fonte de energia).
4.6.5.1.2 As aves com corpo frio, têm como característica o fato das penas não
saírem com facilidade. Portanto, a fervura é um dos processos de depenagem,
com o emprego da água quente. No entanto, sendo mais difícil de ser realizado
em regime de sobrevivência, além de lento.
- Outro modo consiste em envolver as aves em barro e colocar diretamente na
brasa. Quando o barro quebrar, as penas serão retiradas junto com ele. O pro-
cesso é eficiente, porém demorado.
- Depois da retirada das penas, realizar a evisceração, com a incisão de abertura do
animal pelas costas. É um processo utilizado, principalmente para aves pequenas.
4.6.5.2 Além desses processos, existe também a alternativa de sapecar, ou seja,
chamuscar a ave no fogo e ao mesmo tempo retirar as penas já queimadas com
a mão ou pela raspagem. Após a utilização de qualquer dos processos descritos,
procede-se a evisceração, por meio de um corte longitudinal no ventre da ave.
Das vísceras das aves podem ser aproveitadas o coração, o fígado e a moela,
sendo que dessa última pode ser extraída uma pequena quantidade de sal. Os
ovos, tanto das aves como dos quelônios, podem ser conservados até 30 (trinta)
dias, quando guardados em salmoura, ou então, depois de cozidos, esfarelados
e postos ao sol para uma melhor desidratação.
4.6.6 PEIXES
4.6.6.1 Os peixes de escamas (piranha, pirambeva) podem ter as mesmas re-
tiradas, sempre da cauda para a cabeça, no sentido inverso das escamas. Em

4-46
EB70-CI-11.438
seguida, deve-se cortar as barbatanas, guelras e as nadadeiras. Nos peixes que
possuem escamas grandes poderá ser feita a escamação, cortando-se finas fatias
ao nível das escamas, sem atingir a carne. Após a utilização de qualquer um dos
processos acima, faz-se a evisceração pelo ventre, aproveitando-se apenas as
ovas, quando for o caso. Se o peixe for de tamanho médio para pequeno, pode-
-se assar sem descamisar, escamar ou mesmo eviscerar.
4.6.6.2 Alguns tipos de peixes não possuem escamas e sim couro. Esses, logi-
camente não serão escamados, mas podem ser descamisados. Após a retirada
das barbatanas, nadadeiras e guelras, é feita a evisceração (Fig 48), sendo então
levados ao fogo a fim de preparar o alimento para o consumo. Como exemplo de
peixe de couro, temos o pintado, jaú, cachara, entre outros. O processo do barro
pode ser utilizado no cozimento dos peixes, após eviscerado, escamado ou não.
Envolve-se o peixe em uma palha, depois envolver com barro e levar ao fogo.
Quando o barro se partir, retirar o peixe e já estará pronto para o consumo (muito
utilizado para peixes pequenos).

Fig 48/A - Preparação de peixes.

4-47
EB70-CI-11.438

Fig 48/B - Preparação de peixes.

4.6.7 ANIMAIS DA TERRA


4.6.7.1 Enquadram-se nessa classificação, todos os quelônios, lacertídios, ofídios
e jacarés. Para os ofídios, como processo expedito de preparação, em que não
for possível distinguir, entre peçonhentos ou não; corta-se um palmo da cabeça
e do rabo; faz-se um corte longitudinal no ventre e procede-se a esfola ou des-
camisamento pela tração. Feita a evisceração, o ofídio pode ser consumido sem
preocupação.
4.6.7.2 Pode-se abater o ofídio, após capturado, utilizando-se de um porrete e
dando várias pancadas na sua cabeça. Durante o abate do ofídio, deve-se ter o
cuidado de quebrar o “osso quadrado” da cabeça do ofídio. Esse procedimento
faz com que se interrompa o fluxo de peçonha das vísceras para as glândulas
existentes na cabeça. Proceda com uma amarração logo abaixo da cabeça, sem,
no entanto, comprometer as glândulas produtoras de peçonha e sem cortar o
animal, buscando pendurar o ofídio em uma trave de esfola.
4.6.7.3 Enquanto um combatente traciona a cobra pela cauda, o outro faz um
leve corte transversal em toda a circunferência do ofídio, logo abaixo da cabeça,
atingindo apenas o couro. Em seguida, realizar outro corte mais profundo que o
primeiro, longitudinalmente, em todo o ventre da cobra, até a ponta da cauda. Esse
segundo corte é feito com auxílio da mão esquerda esticando o couro do ofídio.
Proceda o descamisamento, ou seja, a retirada do couro com auxílio da faca, ape-
nas tracionando-o até o final. Isso só será possível, após um esfolamento inicial,
até que se tenha um bom apoio para as mãos a fim de iniciar o descamisamento.

4-48
EB70-CI-11.438
4.6.7.4 Para a evisceração, cortar a primeira víscera logo abaixo da cabeça
tracionando-a um pouco, de modo que se empunhe com firmeza e a partir daí,
puxar as vísceras sem muita força. Elas serão retiradas até a altura da cauda e de
uma só vez, sendo conveniente que durante todas essas etapas, o animal esteja
bem tracionado. Por fim, fazer a separação da cabeça e da cauda na altura da
cloaca, entretanto deve-se ter o cuidado de, no momento de se cortar a cabeça
do ofídio, colocar o mesmo de cabeça para baixo, a fim de se evitar uma possível
contaminação da carne pela peçonha do mesmo, caso seja um ofídio venenoso.
4.6.7.5 Concluída a preparação e a respectiva limpeza, o ofídio estará pronto
para ser preparado para o consumo. Não se deve assar a carne de cobra, pois
fica muito dura. O couro pode ser utilizado como utensílio, bastando para isso
secá-lo ao sol, retirando a gordura existente no mesmo.
4.6.7.6 Os quelônios podem ser levados inteiros ao fogo. O próprio casco pode
servir de vasilha para a cocção e sua carne poderá ser cortada em pequenas
postas, sendo assadas no espeto. Não é um processo higiênico. Para a separação
da casca, coloque o quelônio no chão com o ventre para cima, após isso, bata
com o facão nas laterais para separar as duas carapaças. Ainda com o quelônio
na mesma posição, retire a carapaça ventral, puxando-a com as mãos e auxiliando
com um facão. O mesmo é feito com o casco dorsal. Após ser liberado, o corpo
do quelônio é retirado como um todo de dentro do casco.
4.6.7.7 Em um local com maior visibilidade e apoio, é realizada a evisceração.
Logo após, só restará praticamente os músculos dos membros locomotores, o
fígado, o coração e os ovos, que deverão ser preparados em uma vasilha com
um pouco de água e algum tempero (sal), caso disponha. Não se deve assar a
carne do jabuti, pois ela fica muito dura. Não devem ser consumidos lacertídeos
que se deixem apanhar com facilidade.
4.6.7.8 Não devem ser consumidos jacarés e lacertídeos que se deixem apanhar
com facilidade. Alguns cuidados devem ser tomados na preparação do jacaré,
como amarrar a boca, mesmo depois de morto; caso o abate tenha sido recente,
um auxiliar deverá imobilizar a cauda do animal para evitar surpresas desagra-
dáveis (movimento de chicote); no jacaré só é possível fazer a retirada do couro,
por meio do esfolamento e isso é feito colocando-se o animal estirado com o
ventre para cima. Poderá ser feito de forma semelhante aos animais de pelo. A
evisceração deverá ser feita pelo ventre, já que o couro nessa parte não é tão
duro, quanto no dorso.
4.6.7.9 Uma parte muito apreciada, principalmente nos jacarés é a cauda. Nos
lacertídeos e jacarés, a cabeça será a parte em que não haverá aproveitamento,
sendo a cauda a carne mais macia. O descamisamento será bastante difícil, em
virtude do couro do animal (jacaré) possuir placas ósseas.

4-49
EB70-CI-11.438
4.6.8 TEMPEROS
4.6.7.1 Quando os alimentos são preparados, a presença de tempero em uma
sobrevivência será o maior problema. No entanto, o sal poderá providenciado
da seguinte forma: nas cinzas, pois essas possuem pequeno teor salino na sua
parte mais branca; no camalote, planta aquática que secada ao sol, queimada e
lavada poderá fornecer algum resíduo de sal (Fig 49); na moela das aves, que
após ser picada e fervida, até a evaporação da água, por várias vezes, deixará
um pequeno depósito com certo teor de sal; e no sangue dos animais (galinha),
por meio da fervura e sua evaporação, podendo-se obter um pouco de sal.

Fig 49 - Camalote.

4.6.9 CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS


4.6.9.1 As carnes deverão ser cortadas em fatias finas, de no máximo dois dedos
de espessura e submetidas a uma desidratação, pela defumação, salga ou mo-
quém. O sal auxiliará a desidratação e a conservação da carne.
- Para maior proteção, as fatias deverão ser guardadas envolvidas em panos,
papel ou folhas. Caso acumulem mofo, bastará raspar ou lavar, antes de serem
preparadas para o consumo. Enterrar a carne envolvendo-a em folha em um terre-
no úmido é uma forma de conservação que não poderá passar mais de 48 horas.
4.6.9.2 Pode-se defumar ou moquear a carne, assando-a na fumaça de uma
fogueira. Também existe a técnica da mixira, que é um processo de conservação
de carne que consiste em:
a) Derreter a banha do animal em um recipiente e retirar o torresmo;
b) cozinhar a carne separadamente;
c) mergulhar a carne na banha ainda líquida; e
d) deixar a banha solidificar-se, obtendo uma duração de um ano ou mais (como
exemplo, a carne de anta adapta-se bem a esse processo).

4-50
EB70-CI-11.438
4.6.10 TIPOS DE FOGÕES IMPROVISADOS
4.6.10.1 O fogão de espeto é aquele feito unicamente com um espeto, tendo de
preferência uma forquilha na ponta. No próprio espeto, coloca-se a caça a ser
assada e, na forquilha, pode-se pendurar o caneco ou outra vasilha para purificar
a água ou cozinhar outro alimento.
4.6.10.2 O fogão de assar consiste em duas forquilhas colocadas uma de cada
lado do fogo e que sustentam o espeto, com a caça e a vasilha para cocção,
podendo essa última, também ser colocada junto ao fogo no solo.
4.6.10.3 O fogão de moquém ou de moquear (Fig 50) é um tipo de fogão em
que são necessárias três ou quatro forquilhas. Uma vez dispostas em triângulo
ou quadrado, envolvendo o fogo, arma-se com varas um estrado, sobre o qual
será depositada a caça a ser moqueada. É o processo ideal para assar peixes,
entretanto, para se ter um cozimento mais uniforme, convém fazer uma cobertura
com folhas largas sobre o estrado, antes de lançar os peixes.
- O moquém é utilizado para o preparo de carnes, para um consumo posterior.
Todavia, para se obter um moqueado uniforme e mais rápido, convém que as
postas de carne não tenham uma espessura superior a dois dedos.
- A desidratação será mais completa, rápida e, consequentemente, a conservação
da carne será muito maior, podendo durar uma semana.
- Se dispuser de tempo e a caça tiver sido abundante, poderá ainda salgar as
peças antes de moqueá-las, pois, sendo o sal um elemento higroscópico, a reti-
rada da água (desidratação) será mais eficiente e a conservação poderá fazê-las
durar até um mês.

Fig 50 - Fogão de moquear.

4-51
EB70-CI-11.438

4.6.10.4 O fogão móvel é feito com três varas, de aproximadamente um metro e


vinte, amarradas no alto, formando um vértice enquanto suas pontas no solo for-
mam um triângulo equilátero. A um terço de sua altura, três estacas são amarradas
horizontalmente com cipó, a fim de fixar o conjunto e permitir ainda, a armação
de uma grelha. Com esse tipo de fogão, poderá o fogo ser deslocado para dife-
rentes locais, estando ele sempre pronto e, inclusive, com a grelha podendo ser
utilizada para moquear.
4.6.10.5 No fogão de fosso, o fogo é feito em uma depressão do terreno ou em
um fosso cavado, onde podem ser colocados lateralmente duas toras de lenha no
sentido longitudinal (Fig 51). Obtém-se assim uma maior profundidade, evitando-
-se ainda a ação do vento.
4.6.10.6 Mesmo com todas as adversidades, o homem, desde que conhecedor
dos procedimentos adequados, poderá utilizar-se do Pantanal sem maiores pro-
blemas, tornando o ambiente seu aliado, e não um inimigo, lembrando sempre
que a fome sobrepuja toda repugnância.

Fig 51 - Tipos de fogões improvisados.

4.7 OBTENÇÃO DE ÁGUA E FOGO


4.7.1 Como sobreviver significa resistir, escapar; a sobrevivência em pleno Pan-
tanal estará em íntima ligação com o tempo em que nela se permanecer. Para
tanto, o homem deverá estar altamente capacitado para dosar suas energias e
lançar mão de todos os meios a seu alcance, a fim de não pôr em risco sua vida.
4.7.2 Essa capacidade envolve conhecimentos especializados ao homem, em
que o uso da imaginação, o empenho, o bom senso e o moral elevado, além de
4-52
EB70-CI-11.438
intrínseco instinto de conservação, são fatores preponderantes.
4.7.3 ÁGUA
4.7.3.1 Apesar do enorme volume hidrográfico do Pantanal, com sua imensa
planície alagada, haverá situações em que será muito difícil a obtenção da água.
Essa preocupação poderá ser constante, pois na região existem locais em que
não é possível encontrá-la, sem falar que o índice pluviométrico do Pantanal
é relativamente baixo. O ser humano pode sobreviver vários dias sem consumir
alimentos, mas sem água suas possibilidades de sobrevivência serão bem mais
remotas.
4.7.3.2 Devido as grandes temperaturas do ambiente pantaneiro, o indivíduo
poderá sofrer uma sudorese excessiva, e com ela, a eliminação de sais minerais,
que em demasia poderão causar exaustão. Torna-se muito importante o sobrevi-
vente estar consciente de nunca usar outros líquidos em substituição à água, tais
como: urina, álcool, perfumes, desodorantes, itens de limpeza e combustíveis em
geral. Tal procedimento, além de trazer consequências graves, diminuirá em muito
a capacidade de sobreviver. Saber onde há água e estar sempre abastecido é
importantíssimo e fundamental.
4.7.3.3 Como fontes de água, em que o equilíbrio da natureza proporciona ao
homem recursos variados de obtenção de água, podemos citar: as águas corren-
tes (rios, corixos, e olhos d’água), devendo a água ser colhida no fundo, evitando
desmoronar as margens; as águas paradas (lagos, baias e charcos), que poderá
ser utilizada após um bom processo de purificação ou para colher mais limpa, cavar
um buraco à 5 m da fonte; e as águas da chuva e orvalhos, as quais poderão ser
colhidas diretamente em recipientes, em buracos, poncho, panos em galhos nos
quais a água escorra, ou utilizando até mesmo a farda. Quanto às duas primeiras
formas de obtenção de água já citadas, torna-se relevante observar e seguir a
trilha (rastros ou batida) dos animais, que podem conduzir ao local de bebedia.
4.7.3.4 Além dessas fontes de água, vários vegetais podem contribuir para a extra-
ção de água, como (Fig 52 a 54): cipó d’água (cortes em diagonal nos dois lados,
obtendo água sempre no lado do primeiro corte), bambu (os velhos e amarelados
são melhores), coco (os meio verdes são os melhores), buriti (só desenvolve
onde tem água em abundância, caso não haja igarapé próximo ao buritizal, cavar
um buraco próximo ao mesmo), plantas escamosas (conterão água das chuvas
nas suas folhas superpostas), embaúba (junto às suas raízes ou dentro de seus
gomos) e pão d’água (tubérculo com grandioso estoque de água).
4.7.3.5 Não se pode esquecer que, em geral, a água é obtida na superfície, entre-
tanto sempre recomenda-se utilizar a água do subsolo (mais limpa). Ressalta-se
que no Pantanal, os lençóis encontram-se próximos à superfície

4-53
EB70-CI-11.438

Fig 52 - Pão d’água Fig 53 - Coco Fig 54 - Buriti

4.7.3.6 É aconselhável que a água colhida das diversas fontes (com exceção dos
vegetais) passem pelo processo de purificação, o qual poderá ser realizado de
várias formas como: pela fervura, durante cinco minutos; aplicação do comprimido
de halazone (hipoclorito de cálcio, hipoclorito de sódio), um por cantil e esperando
20 minutos para o consumo; pela adição de tintura de iodo, 8 a 10 gotas para
cada um litro de água, esperando 30 minutos para o consumo; e pela adição de
água sanitária, 8 a 10 gotas para cada litro de água.
4.7.3.7 Além do processo de purificação (possibilita a redução de micro-orga-
nismos), é possível valer-se de alguns elementos filtrantes (que servirão para a
redução de resíduos e partículas que comprometem a qualidade da água), por
meio do emprego dos seguintes processos: filtro de areia (ordem no recipiente,
pedra pequena, areia, pedra grande, carvão pedra); coando com um pano limpo;
ou empregando o cacho ainda não frutificado da palmeira acuri (filtro do acuri).
Esses procedimentos visam atender às condições mínimas de segurança para o
consumo de água de alguma fonte, por parte do ser humano. Importante destacar
que a água deve ser:
a) Corrente;
b) límpida;
c) incolor;
d) inodora;
e) insípida; e
f) com o ponto de coleta o mais distante possível de habitações, currais e pocilgas.
4.7.4 FOGO
4.7.4.1 Assim como a água, o fogo é uma necessidade, para que seja possível
prolongar a sobrevivência, pois por intermédio dele, possibilita-se: a purificação
da água; o cozimento de alimentos; a secagem de roupas; o aquecimento do
corpo; a sinalização; a iluminação e a segurança noturna.
4.7.4.2 Quanto à preparação e acendimento do fogo, é importante ressaltar que
o local deve estar limpo, com um abrigo para o fogo (rabo de jacu), o local da
fogueira com toras de madeira para que o fogo fique fora do contato com o solo

4-54
EB70-CI-11.438

e com toras reservas que permitam a sua manutenção. A isca é um facilitador,


que se usa para iniciar o fogo e um exemplo muito fácil é o talo de acuri ou o talo
do tucum, que mesmo verdes ou molhados, pegam fogo com muita facilidade. O
breu vegetal, também é de muita serventia, assim como, a maravalha do acuri
que pode ser obtida, por meio do corte mais perto da base das palhas, com o
intuito da raspagem das costas do talo, até obter-se um aglomerado similar a um
tufo com fios bem finos.
4.7.4.3 Quanto ao acendimento da isca, utilizam-se processos convencionais, por
meio do emprego do fósforo, isqueiro, vela, porém esses devem ser economi-
zados para situações de emergência. Existem outras formas, conhecidas como
processos de fortuna, como o acendimento por meio das lentes, com a incidência
e concentração dos raios solares sobre a isca, empregando para isso, a lente
de um binóculo, de uma bússola, de uma luneta ou de uma câmera fotográfica.
4.7.4.4 Golpeando uma pedra dura, com um facão ou pedaço de aço, resultarão
faíscas que, atingindo uma isca produzirão fogo. Colocando-se pólvora de car-
tucho na base da isca e um pouco na pedra é possível conferir maior rapidez a
esse processo. O fogo pode ainda ser obtido pelo atrito de dois bastões, um de
madeira mole e um de âmago, ou ainda, um pedaço de madeira macia e plana
e um bastão de âmago. Para isso, abre-se uma pequena cavidade na madeira
plana, enquanto no bastão é feita um ponta. Colocada a isca ao redor da cavidade
da madeira plana e inserido o bastão na cavidade, pelo atrito será obtido fogo na
isca. O processo do arco e pau é uma variável desse já citado, com a ressalva
do arco ser responsável pelo envolvimento do bastão e o consequente atrito com
a tábua de madeira (Fig 55 a 57).

Fig 55 - Fogo com lentes Fig 56 - Pedra dura e metal Fig 57 - Arco e pau

4.7.4.5 O acendimento da isca também pode ocorrer por meio do tiro. Com uma
espingarda Cal 12, e um cartucho preparado (sem balotes e com um pedaço de
algodão em seu lugar), um homem dispara com o cartucho, apontando para o alto.
Outro homem localiza no solo a bucha incandescente e, rapidamente, procura
utilizá-la como isca.
4.7.4.6 O fuzil pode ser empregado também para acender. Para isso, deve-se
empregar um cartucho traçante em um alvo como uma madeira dura. Ao atingir

4-55
EB70-CI-11.438
o alvo, a parte de fósforo da munição permanecerá por um tempo na madeira,
sendo necessário apenas a maravalha para obter o fogo.
4.7.4.7 Um pedaço de palha de aço ou outro material semelhante, de fraca resis-
tência, ligado aos pólos de duas pilhas de lanterna ou uma bateria, incendiar-se-á
facilmente.
4.7.4.8 Após o início do fogo:
a) Deve-se ir colocando lenha cada vez mais grossa. Para isso, lembrar que é
muito importante ter sempre boa quantidade de lenha estocada para a fogueira,
possibilitando que o fogo seja mantido;
b) além disso, não se deve desperdiçar fósforos, nem isqueiros tentando acender
iscas mal preparadas. Não gastar esses meios para acender cigarros ou outra
fogueira. Antes de utilizar o fósforo, tentar acender a fogueira com meios de for-
tuna para se acostumar.
c) guardar muito bem o material para confeccionar o fogo (se possível, imper-
meabilizar);
e) recolher todo o material para isca encontrado e guardá-lo para uso futuro. A
boa lenha é obtida em árvores secas e em pé; e
f) para o transporte do fogo basta levar a brasa.

4.8 ABRIGOS
4.8.1 O objetivo principal do homem, quando em uma situação de sobrevivência, é
retornar à civilização. Esse objetivo está calcado em três aspectos fundamentais:
a obtenção da água, do fogo e de alimentos. Dessa forma, é importante salientar
que a construção de abrigos está intimamente ligada a esses três fatores, con-
tribuindo para o sucesso do sobrevivente. O combatente pantaneiro necessita
de proteção contra o meio adverso, a fim de manter a saúde do corpo e o bom
estado do seu material.
4.8.2 A utilização de um abrigo eficiente, limpo, de bom aspecto e que proporcione
um mínimo de conforto dará ao combatente, além de melhores condições físicas,
condições psicológicas favoráveis para obter um rendimento máximo em suas
ações. Os abrigos são construções preparadas pelo combatente, para a proteção
contra as intempéries e os animais selvagens.
4.8.3 De acordo com o material de construção e com o tempo de ocupação do
abrigo, esses são classificados em: abrigos permanentes, construídos com ou
sem material da região e destinados a permitir uma ocupação contínua, por perí-
odo indeterminado (base de instrução); abrigos semi-permanentes, construídos
com o material nativo e destinados a permitir a ocupação por um longo período
de tempo (tapiri); e abrigos temporários, construídos com o material nativo ou

4-56
EB70-CI-11.438
utilizando peças do equipamento individual, destinados à ocupação por curtos
períodos de tempo (rabo de jacu, improvisados com poncho).
4.8.4 TIPOS DE ABRIGOS
4.8.4.1 A rede de selva (abrigo temporário) é uma peça do equipamento individual
do combatente que tem por finalidade proporcionar-lhe abrigo (Fig 58). Deve-
-se atentar para a montagem do telheiro, firmeza das árvores, aplicação de nós
de soltura rápida e manutenção do mosquiteiro esticado (tanto com os cordéis,
quanto com as varetas).

Fig 58 - Rede de selva.

4.8.4.2 Abrigo com um poncho ou reunindo-se mais ponchos dos combatentes (Fig
59) pode-se improvisar abrigos que variam em eficiência, desde um pernoite com
o poncho em charuto (abrigo temporário), até construções mais bem elaboradas
com telhado (poncho) em uma ou duas águas (também considerados temporários).

4-57
EB70-CI-11.438

Fig 59/A - Abrigo com poncho

Fig 59/B - Abrigo com poncho.

4-58
EB70-CI-11.438

Fig 59/C - Abrigo com poncho.

4.8.4.3 O rabo de mutum é um abrigo temporário muito utilizado para a cobertura


de rede de armar (Fig 60/A). Já o rabo de jacu é outro tipo de abrigo temporário
de fácil construção, muito utilizado para proteção do fogo e do material (Fig 60/B).
- Quando construídos para servir de abrigo para o combatente, com piso direta-
mente em contato com o solo, deverão possuir assoalho de madeira, palhas ou
folhas de palmeira passadas na chama do fogo, como medida preventiva contra
carrapatos.

Fig 60/A - Rabo de mutum

4-59
EB70-CI-11.438

Fig 60/B - Rabo de jacu.

Fig 60/C - Rabo de jacu.

4.8.4.4 O japá é um abrigo semipermanente, tipo túnel, muito utilizado como


cobertura de canoas pelos nativos da região (Fig 61). O tapiri nativo é um abrigo
semipermanente muito utilizado como moradia pelos caboclos (Fig 62). É cons-
truído com assoalho de toras de madeira. Já o tapiri uma água ou duas águas é
um abrigo semipermanente muito utilizado pelos regionais para moradia (Fig 63).
O abrigo não possui assoalho, porém, o homem constrói no seu interior camas
improvisadas para dormir afastado do solo.

4-60
EB70-CI-11.438

Fig 61 - Japá com cama.

Fig 62 - Tapirí nativo

4-61
EB70-CI-11.438

Fig 63/A - Tapiri uma água

Fig 63/B - Tapiri uma água

4-62
EB70-CI-11.438

Fig 63/C - Tapiri duas águas

Fig 63/D - Tapiri duas águas

4-63
EB70-CI-11.438
4.8.4.5 O tapiri cozinha é um abrigo semipermanente construído para ser utilizado
como cozinha nos estacionamentos da tropa (Fig 64). Possui em seu interior um
balcão, construído com material nativo, para ser utilizado como mesa, guardar
utensílios e gêneros alimentícios.

Fig 64A - Tapiri cozinha

Fig 64B - Tapiri cozinha

4-64
EB70-CI-11.438
4.8.4.6 Já o tapiri simples é outro tipo de abrigo semipermanente, construído
para alojar pessoal (Fig 65). O modelo e as dimensões dependem do efetivo
que será alojado no tapiri (1, 2, 3, 5 ou mais homens).

Fig 65/A - Tapiri simples.

Fig 65/B - Tapiri simples.

4-65
EB70-CI-11.438

Fig 65/C - Tapiri simples

Fig 65/D - Tapiri simples

4-66
EB70-CI-11.438
4.8.5 DECISÃO
4.8.5.1 Para decidir o tipo de abrigo a ser construído, deve-se levar em con-
sideração algumas condicionantes, tais como:
a) Situação tática;
b) tempo disponível para a construção;
c) tempo de permanência (ocupação) no local; e
d) material disponível (material nativo e equipamento).
4.8.5.2 Assim como a escolha do local do abrigo deve ser cuidadosa e obe-
decer aos requisitos:
a) Obedecer às imposições táticas;
b) local elevado (solo seco) e ligeiramente inclinado, para facilitar o escoamento
da água da chuva;
c) próximo a água potável, para facilitar as atividades de sobrevivência;
d) afastado de charcos, porque nesses locais proliferam mosquitos e outros ani-
mais que podem ser nocivos ao homem; e
e) evitar construir sob árvores podres, secas ou mantidas em pé por cipós ou
outras árvores.
4.8.6 MATERIAL NATIVO UTILIZADO NA CONSTRUÇÃO DO ABRIGO
4.8.6.1 Quanto aos tipos de materiais empregados, há a madeira (utilizada na
construção da estrutura e assoalhos dos abrigos), as palhas e folhas de palmei-
ras (utilizadas, principalmente, na cobertura dos abrigos, sendo a mais comum,
a palha da acuri), as enviras (retiradas da segunda camada da casca de certas
árvores e que se caracterizam por possuir fibras longas e resistentes, possibi-
litando amarrações diversas) e os cipós (assim como as enviras, também são
utilizados para amarrações).
4.8.6.2 Entre os cipós, destaca-se: o cipó ambé que é encontrado na mata de
terra firme e às margens de corixos, sendo resistente e flexível, muito utilizado
nas amarrações e quando cortado, apresenta cheiro de goiaba. O cipó tripa de
galinha, também é encontrado na mata de terra firme e às margens de corixos,
resistente e flexível, tem um aspecto irregular, e é muito utilizado nas amarra-
ções; e a raiz da figueira, encontrada na mata de terra firme e quando macerada
é muito resistente.
4.8.7 PREPARAÇÃO DO MATERIAL NATIVO
4.8.7.1 Palhas
4.8.7.1.1 No processo da palha aberta, utiliza-se a palha “branca”. Nesse pro-
cesso a palha será aberta para, em seguida ser usada, principalmente visando a
4-67
EB70-CI-11.438

sinalização. A palha branca é encontrada na parte central do palheiro, apresenta


uma cor amarela e é bastante usada para balizar itinerários, além de servir como
cobertura. A palha branca proporciona uma maior duração à cobertura.
4.8.7.1.2 Já no processo da palha partida, deve-se achar o olho da palha em sua
extremidade, com bastante cuidado e segurando as folhas da palha com as mãos,
parte-se a palha gradativamente. Após partir a palha, une-se as extremidades de
cada parte separada de forma invertida (o talo mais fino coincidindo com o lado do
talo mais grosso), dessa forma, a palha está pronta para ser usada na cobertura.
4.8.7.1.3 Empregando o processo da palha riscada, devemos ter o cuidado de
riscar a palha pelo terçado, sempre na parte interna da palha e sem separar as
folhas da palha do talo. Após riscar a palha, deve-se bater as folhas da palha para
que possam tomar a nova direção balizada pelo risco do terçado, e dessa forma,
a palha estará pronta para ser usada como cobertura (Fig 66).

Fig 66 - Processo da palha riscada.

4.8.7.1.4 Caso seja utilizado o processo da palha torcida, devemos torcer as fo-
lhas da palha e inverter para o lado oposto em relação ao talo. Nesse processo,
é importante uma grande quantidade de palha para se construir uma cobertura
eficiente.
4.8.7.1.5 Se o processo utilizado for o da palha trançada, torna-se relevante a
disponibilidade de tempo, pois trata-se de um processo artesanal utilizado, princi-
palmente na palha branca. Demanda muita prática, tendo em vista, a costura de
cada folha por entre a palhas de determinado lado. Esse processo é usado para
fazer o fechamento de arestas dos abrigos. Para aumentar a impermeabilização
pode-se associar a folha da bananeira.
4-68
EB70-CI-11.438

4.8.7.2 Cipós
4.8.7.2.1 Na preparação dos cipós, não se deve dar nós cegos (simples), evitado
o apodrecimento mais rápido do cipó. Para unir dois cipós deve-se macerar suas
pontas e unir com o nó direito.
- O cipó ambé é preparado descascando-o, macerando a sua ponta, raspando
o cipó e dividindo-o em fatias paralelas, podendo ser em forma de cruz. Como
observação, esse tipo de cipó pode ser utilizado sem dividi-lo e com a casca.
4.8.7.2.2 Para a preparação do cipó tripa de galinha, é importante descascar o
mesmo e o dividir, evitando o corte em cruz, podendo parti-lo, inclusive em seu
nó. Já a raiz da figueira, deve ser sovada até ficar flexível, dividida em tamanhos
desejados e torcida nos pedaços para ficar mais flexível.
4.8.7.3 Enviras
- Para o processo de preparação das enviras, é necessário fazer um pequeno
corte na casca e a 10 cm de uma das pontas, de forma a não separar totalmente
a casca da envira; inverter a posição, de maneira que o corte fique voltado para
a parte de baixo; colocar o terçado transversalmente à envira, paralelo ao corte
e prendendo ao solo com os pés. Após isso, deve-se puxar para cima e para trás
a ponta de 10 cm que sobrou após o corte, com isso a envira separar-se-á da
casca; em seguida, bater a envira em uma madeira ou tronco de árvore e separar
as fatias em tamanhos desejados, pois a envira já está pronta para ser usada.
4.8.7.4 A construção de abrigos dará ao combatente condições de sobreviver em
melhores condições físicas e psicológicas, frente a situação em que se encontrar.
O trabalho de equipe é fundamental, para que todas as atividades sejam bem
cumpridas no prazo que deve ser seguido.

4.9 PERNOITE ISOLADO


4.9.1 Variados motivos (desastre aéreo, aquático), podem conduzir um indivíduo
ou grupo a uma situação de sobrevivência. É importante salientar que esses
motivos poderão acontecer em qualquer horário. Quando ocorrer ao final do dia
ou mesmo à noite, torna-se fundamental a atenção em algumas tarefas simples,
visando passar aquela noite com segurança, com o intuito de iniciar o outro dia
com as tarefas básicas para o desenvolvimento da sobrevivência.
4.9.2 Os aspectos aqui ensinados, serão passados sob a ótica de apenas um
indivíduo isolado. Para um grupo, as tarefas são as mesmas, sendo facilitadas
pela maior quantidade de mão-de- obra. Entre as demandas para passar uma
noite isolado, é importante salientar algumas necessidades básicas, como obter o
fogo, preparar o local para o descanso, montar um abrigo improvisado, e vencer
na noite, isoladamente, o perigo das matas.

4-69
EB70-CI-11.438
4.9.3 Para a preparação do local para o descanso, o mesmo deve ter espaço su-
ficiente para a montagem do abrigo (sem espinheiros, evitar mata fechada) e ser
preferencialmente seco. Ainda deve estar balizado para uma trilha, curso d’água
ou estrada, para facilitar o acesso, devendo esse ser único (não adentrar muito
a mata, evitando se perder, de forma a dificultar o resgate). Torna-se vital realizar
a limpeza do local, para o afastamento de insetos e animais nocivos ao homem
e ainda facilitar o trânsito dentro da área do pernoite.
4.9.4 O fogo deve ser feito em um buraco (fogão de fosso) para a proteção do
vento, a isca deve estar seca e deve haver lenha para todo o pernoite, para que
se evite a apanha desnecessária durante a noite (situação de perigo). Sem dú-
vidas, é muito importante manter o fogo aceso toda a noite, evitando o contato
com animais nocivos ao homem. Quanto aos abrigos, a área escolhida deve ficar
longe de troncos e árvores podres, para evitar possíveis acidentes. O indivíduo
deve ter em mente não provocar muitas mudanças no local e imediações, tendo
em vista, um ataque de abelhas, picada de cobras, entre outros.
4.9.5 O cuidado com o corpo deve ser essencial em situação de sobrevivência,
pois nunca se sabe o que é esperado no dia de amanhã. Devem ser estabelecidas
regras que cooperem com a auto segurança, como: delimitar a área do pernoite,
identificação do local exato da trilha de entrada e saída; e manter-se atento, quanto
a fauna e flora do Pantanal, que por vezes, pode ser traiçoeira. Em grupo, deve-
-se manter sempre atento com os companheiros, sempre andar juntos (mínimo
dupla) e aplicar todas as medidas de segurança.
4.9.6 O armamento é fundamental ao militar em uma situação de sobrevivência
e deverá estar sempre com o mesmo em um pernoite isolado, pois é a única
defesa que restará ao militar, portanto, o armamento por todo o momento deverá
ser mantido junto ao corpo, principalmente na hora de dormir. Vale ressaltar que o
armamento deve estar o tempo todo manutenido, pois em uma situação adversa
uma falha no disparo poderá ser fatal.

4.10 PECONHA
4.10.1 A peconha consiste em uma técnica de subida em árvores que oferece
uma relativa segurança e rapidez, porém exige conhecimento dos métodos de
confecção, bem como material e técnicas adequadas. Pode ser utilizado em vários
momentos nas operações em ambiente Pantaneiro, como por exemplo: obtenção
de alimentos de origem vegetal; reconhecimentos; ESAON; sinalização; proteção
contra animais ferozes; estabelecimento das comunicações; orientação; ocupação
de uma espera ou de um posto de vigia; ocupação de posição de tiro (caçador); etc.
4.10.2 A peconha pode ser confeccionada com dois tipos de materiais: artificiais
(cordéis, cinto da calça, cabo solteiro, gandola, calça de combate, cabos de aço
flexíveis, fio duplo telefônico, entre outros), e naturais (palhas do acuri, cipó imbé,

4-70
EB70-CI-11.438
cipó tripa de galinha, raiz de figueira, embira de sapo, entre outros). A confecção
da peconha, com qualquer material, deve ser feita de acordo com a espessura
da árvore, ou seja, aproximadamente a metade da espessura do caule da árvore.
4.10.3 Para a confecção com o cabo solteiro, recomenda-se permear o cabo;
medir o tamanho do anel; conforme o diâmetro da árvore; formar um anel com
o cabo permeado, unindo as extremidades com um nó direito arrematado (com
soltura rápida) ou, o mais indicado, o nó pescador duplo (em soltura rápida, pois
evita a perda do cabo com o uso, evitando que fique irreversível ou muito ‘aco-
chado’); após isso, deve-se colocar o anel nos pés com o nó para baixo, ficando
em condições de abordar a árvore.
4.10.4 Ao tomar a posição junto à árvore; iniciar a subida, forçando os joelhos para
fora e a planta dos pés para dentro, de encontro ao tronco da árvore. Com
os cipós, é necessário ressaltar, que esses devem estar devidamente macera-
dos e trançados. Já com meios de fortuna (cintos, cordéis, etc), deve-se ter em
mente a resistência desses materiais. Para esses outros materiais, o processo
de abordagem e subida na árvore é similar ao do cabo solteiro.
4.10.5 Em algumas situações, um militar ou sobrevivente poderá valer-se dessa
técnica para subir em árvores (Fig 67). O sobrevivente poderá empregar visando:
apanhar frutos e ovos; construir armadilhas para caça; construir abrigos ou mutá;
e proteger-se durante um pernoite. O militar em operações poderá empregar
visando: a entrada em posição de atirador de emboscada isolado ou não; a insta-
lação de antenas improvisadas; o resgate de suprimentos lançados e presos nas
copas das árvores; observar as proximidades do leito de rios, clareiras, socavões,
localidades, entre outros.

Fig 67/A - Peconha.

4-71
EB70-CI-11.438

Fig 67/B - Peconha.

4.11 CONSIDERAÇÕES DA ÁREA DE SOBREVIVÊNCIA


4.11.1 Ao final de todos os assuntos de sobrevivência, torna-se vital a aplicação
dos conhecimentos gerais, técnicas e processos que irão contribuir para a sobre-
vivência no Pantanal, de indivíduos ou grupos. Contudo, somente em situações
muito especiais deve ser adotada a possibilidade de conduzir operações militares
e sobreviver, simultaneamente. A sobrevivência pressupõe tempo para obter,
preparar alimentos e outras tarefas, como construir abrigos.
4.11.2 Devido às dificuldades enfrentadas, os indivíduos isolados ou em peque-
nos grupos estarão, normalmente, abaixo de suas necessidades normais. Tudo
isso dificulta, quando não inviabiliza, realizar marchas e combater o inimigo com
eficiência. Esse assunto é de suma importância, haja vista a necessidade do de-
senvolvimento de habilidades que denotem adestramento, assim como atributos
que só serão alcançados sob condições especiais de execução.
4.11.3 Vale lembrar que o indivíduo pode entrar em uma situação de sobrevivência,
não apenas em exercícios militares, como parte de um adestramento realizado
na guarnição. Esses ensinamentos são úteis, também para uma situação do
cotidiano, em que uma pane simples de um veículo em uma rodovia com pouco
tráfego, um obstáculo impeditivo de prosseguimento de um trem em uma linha
férrea ou um pouso de emergência podem gerar a entrada de uma pessoa em
uma situação de sobrevivência, e simplesmente a determinação vinculada ao
conhecimento básico pode significar o êxito desse indivíduo.

4-72
EB70-CI-11.438
4.11.4 TAREFAS QUE CONTRIBUIRÃO PARA O SUCESSO DE UM INDIVÍDUO
OU GRUPO EM SITUAÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA:
a) Achar o local para a equipe;
b) não cortar árvore de grande porte (risco grande de acidente);
c) limpar o local da área de sobrevivência;
d) ter, no mínimo, dois locais para armazenamento de água, dois reservatórios
e dois filtros;
e) ter fogões diferentes e locais (secos, abrigados e isolados do solo), para lenha;
f) construir uma mesa (trabalho do alimento);
g) ter um local para o lixo;
h) ter um local para preparo da caça (trave de esfola);
i) construir um banheiro com latrina; e
j) construir abrigos para o fogo e para todo o efetivo.
4.11.5 ALÉM DAS TAREFAS ANTERIORES, É IMPORTANTE:
a) Manter a fogueira permanentemente acesa;
b) caso esteja perto de um lago ou rio, confeccionar anzóis improvisados (perda
de anzóis é grande com os enroscos);
c) construir armadilhas para peixes, aves, animais de pequeno e médio porte;
d) ter uma posição de espera (mutá);
e) confeccionar uma cerca em torno da área de abrigos; e
f) balizar as trilhas para o rio, para a latrina e para o mutá.

Fig 68 – Exemplo de organização de uma área de sobrevivência.

4-73
EB70-CI-11.438

4.12 USO DA FACA E DO FACÃO


4.12.1 O facão é bastante utilizado no ambiente operacional do Pantanal. Em situ-
ação de sobrevivência, é equipamento fundamental para o desenvolvimento das
atividades como preparação de armadilhas e abrigos; preparação de alimentos;
obtenção de água e fogo; entre outras.
4.12.2 Visando não ocasionar um acidente em uma situação com poucos meios
de primeiros socorros, é indispensável que o sobrevivente saiba empregar o
material. Para isso, ao entregá-lo a uma outra pessoa, deve ser passado com o
cabo livre e a lâmina posicionada de forma oposta à palma da mão (Fig 69 e 70).

Fig 69 - Modo correto de passar a faca e o facão.

Fig 70 - Modo incorreto de passar a faca e o facão.

4-74
EB70-CI-11.438
4.12.3 Para evitar que se corte um dedo ou outra parte do corpo, os movimentos
da faca e do facão devem ser feitos na direção oposta, ou seja, no sentido oposto
ao da mão que dá estabilidade no material a ser cortado (Fig 71).

Fig 71 - Exemplo de como executar o corte.

4.12.4 Para que a faca e o facão mantenham a eficiência no corte, deve-se ter
alguns cuidados especiais, tais como:
a) Manter sempre limpo e afiado;
b) manter lubrificado;
c) não deixar fincado ao solo por muito tempo, em razão da umidade;
d) durante a noite, guardar em local seco, abrigado da chuva e orvalho;
e) não deixar muito próximo ao fogo, a fim de não destemperar e estragar a
lâmina; e
f) sempre ao guardar, fazê-lo limpo.
4.12.5 Para afiar a faca e o facão, o fio deve ter o formato triangular e sem dentes.
Deve-se utilizar pedra específica para amolar, executando os seguintes passos:
a) Molhar a pedra;
b) posicioná-la em superfície fixa e segura;
c) verificar se o corte está muito danificado e se estiver, iniciar pelo lado mais
grosso da pedra;
d) após retirar os dentes no lado mais grosso da pedra, deslizar a faca ou facão

4-75
EB70-CI-11.438
no lado menos poroso, em um ângulo entre 10º e 20º;
e) fazer o mesmo movimento dos dois lados; e
f) à medida que vá se formando o fio, gradativamente reduzir a força do movi-
mento (Fig 72).

Fig 72 - Técnica para afiar facas e facões.

4-76
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO V
TÉCNICAS ESPECIAIS

5.1 RESGATE DE AFOGADOS


5.1.1 O Pantanal é uma grande rede capilar de rios navegáveis, onde o rio torna-se
a principal via de deslocamento nas operações ribeirinhas. Os principais meios de
transporte utilizados são as embarcações, e por isso, a qualquer momento há a
possibilidade de se deparar com situações de naufrágio e possíveis afogamentos,
devendo assim, haver a aptidão para atuar nessas situações.
5.1.2 As técnicas abordadas devem ser executadas com cautela e só avançar para
o mergulho em meio aquático em caso de extrema necessidade e, se possível,
devidamente habilitado e equipado.
5.1.2.1 Cautela inicial
- O socorrista deve ter em mente que ao prestar um socorro a uma vítima de
afogamento, deve possuir alguma vantagem em relação ao afogado.
5.1.2.2 Sequência cautelar de procedimentos (Fig 73 a 75)
a) “Jogar” (meio de flutuação, se possível amarrado);
b) “rebocar” (tracionar para local seguro);
c) “salvar” (retirar da água); e
d) só então “nadar” (em último caso e, se possível, levando meios de flutuação).

Fig 73 - Jogar.

5-1
EB70-CI-11.438

Fig 74 - Rebocar.

Fig 75: salvar.

5.1.3 O nado de aproximação é a variante do estilo “craw” (Fig 76). Nesse caso,
a cabeça do socorrista deverá ficar para fora da água, de forma a facilitar a vi-
sualização do afogado. Esse estilo tem a vantagem de proporcionar uma maior
velocidade de deslocamento, sem que se perca a vítima de vista.

5-2
EB70-CI-11.438

Fig 76 - Nado de aproximação

5.1.4 ABORDAGEM DA VÍTIMA


- A abordagem da vítima é o contato do socorrista e/ou de outros meios de sal-
vamento com a vítima. Essa abordagem deve levar em consideração o estado
da vítima.
5.1.4.1 Em vítimas inconscientes, a abordagem é direta, tomando a posição de
reboque em seguida.
5.1.4.2 Para as vítimas conscientes e tranquilas, a abordagem é feita de longe,
explicando-a como será realizado o socorro.
5.1.4.3 Já em vítimas conscientes e desesperadas, o socorrista deve realizar um
mergulho (conhecido como canivete), a uma distância de aproximadamente 2 m
antes da vítima, abordando-a pelas costas, evitando assim que o agarre, o que
dificultaria sobremaneira o socorro. Caso a vítima agarre o socorrista, a melhor
técnica de livrar-se dela é a imersão de ambos. Se isso não surtir efeito, o socor-
rista deverá utilizar as técnicas de judô aquático.
5.1.5 NADO DE REBOQUE
- O nado de reboque é utilizado para carregar uma vítima, estando o socorrista
sem nadadeiras. Caracteriza-se pela posição lateral que o socorrista assume na
superfície da água, trazendo a vítima sempre voltada para cima e mantendo suas
vias aéreas sempre fora da água. É dividido em dois segmentos:
5.1.5.1 A pernada conhecida também, como “pernada de tesoura”. Partindo da
posição totalmente estendida, o socorrista recolhe as pernas, de maneira que a
perna que estiver mais próxima da superfície da água se dobre para frente trazendo
o joelho o mais próximo do peito, enquanto a outra perna tenta levar o calcanhar
até o glúteo. Em seguida, ambas as pernas se alongam realizando um vigoroso
movimento de impulsão, ao fim do qual, essas deverão estar unidas e estendidas

5-3
EB70-CI-11.438
próximo a linha da água, deixando o corpo totalmente estendido.
5.1.5.2 A braçada é realizada simultaneamente ao movimento das pernas. O
braço que estiver submerso tracionará a água, no momento em que as pernas
estiverem se encolhendo, e se esticará quando ocorrer a impulsão da pernada. O
braço deve descrever um “S” por ocasião do tracionamento. O outro braço deverá
ficar na posição de reboque segurando a vítima por cima do peito, até a mão
do socorrista alcançar a axila ou a lateral do peito, fornecendo maior firmeza ao
socorrista. Como observação, quando o socorrista estiver utilizando nadadeiras,
a pernada realizará seu curso normal de propulsão, ou seja, uma em extensão,
a outra em flexão.
5.1.6 JUDÔ AQUÁTICO
5.1.6.1 O judô aquático contempla técnicas que permitem que o socorrista se solte
caso seja agarrado pela vítima. Para isso, quando a vítima agarrar o socorrista
pelos cabelos é necessária uma batida com a parte anterior e externa da mão
sobre as costas da mão que agarra, segurando-a no sentido de fora para dentro,
com a mão apoiada no cotovelo da vítima, forçando-a a efetuar um giro com o
corpo, correspondente a uma meia volta, colocando-a de costas para o socorrista,
tomando-se em seguida, a posição de reboque.
5.1.6.2 Quando a vítima abraçar o socorrista por cima dos braços, o socorrista,
com os punhos cerrados, deverá pressionar fortemente as costelas da vítima,
efetuando em seguida o giro e tomando a posição de reboque.
5.1.6.3 Já quando a vítima abraçar o socorrista por baixo dos braços, o mesmo terá
ambas as mãos livres, e deverá colocar uma delas sob a base do nariz da vítima,
empurrando-a energicamente para cima. Isto a obrigará a afrouxar os braços,
quando então o socorrista efetuará o giro para a tomada da posição de reboque.
5.1.7 EQUIPAMENTOS AUXILIARES
5.1.7.1 O uso de equipamentos no auxílio para salvar vidas dentro da água vem
sendo utilizado há vários séculos. Sua importância é tão grande hoje em dia, que
somente em raras circunstâncias admite-se que um profissional de salvamento
aquático trabalhe sem a ajuda de um ou mais materiais de salvamento, tais como:
boias, pranchas, cabos, etc.
5.1.7.2 Como principais benefícios de se utilizar materiais de salvamento desta-
cam-se: a segurança para o socorrista, a medida em que a vítima agarra o material;
a manutenção da vítima calma, quando essa segura uma boia; a sustentação da
vítima na superfície sem fadigar o socorrista; a possibilidade de aplicação dos
primeiros socorros, ainda dentro da água; a redução do desgaste físico e aumento
da velocidade de retirada da vítima da água; e a possibilidade de salvamento de
várias vítimas simultaneamente.

5-4
EB70-CI-11.438
5.2 EVACUAÇÃO E NAUFRÁGIO
5.2.1 Quando houver risco de a embarcação afundar, deve-se abandoná-la o
mais rápido possível, afastando-se a nado, para não ser puxado pelo redemoinho
causado pelo seu afundamento. Após o abandono recomenda-se utilizar um meio
de salvatagem.
5.2.2 O meio de salvatagem é qualquer material encontrado nas embarcações
para o salvamento de náufragos, por exemplo, um bote, uma balsa rígida, coletes,
boias etc. As balsas rígidas geralmente são colocadas no teto das embarcações e
destinam-se ao uso de várias pessoas, devendo-se distribuir o peso das mesmas
para que a balsa não vire. Boias circulares normalmente possuem uma retinida,
que é um cabo preso a ela, para que seja lançada ao rio e puxada a bordo, caso
alguém tenha caído na água.
5.2.3 Por ocasião de um naufrágio, sempre que possível, deve-se pedir socorro
pelo rádio de bordo, antes de abandonar a embarcação, passando a localização
e todas as informações possíveis para facilitar o resgate. Ao abandonar a em-
barcação, aconselha-se livrar-se das roupas e calçados. Ao mesmo tempo, se
possível, deve-se procurar conduzir ou rebocar um mínimo de roupa, por causa do
frio que possa vir a fazer à noite e os calçados (coturnos), contra animais nocivos
(como piranhas, arraias).
- O mais importante, é não esquecer o colete salva-vidas.
5.2.4 Em caso de fogo, deve-se pular da embarcação contra a correnteza, o mais
distante possível, afastando-se dela com o nado submerso e voltando à superfície,
afastando o óleo, mesmo sem a superfície estar pegando fogo.
- A forma correta é girando a mão e o braço para abrir uma “clareira”, respirando
e voltando a mergulhar, repetindo esse processo até que se afaste a uma posição
segura do fogo e do óleo sobre a água.
5.2.5 Após o abandono, se não for encontrado quaisquer meios de salvatagem,
pode-se utilizar pedaços da embarcação que ficaram flutuando. A mochila bem
impermeabilizada torna-se um perfeito meio de salvatagem. Deve-se nadar para a
margem mais próxima do naufrágio, devendo ter cuidado de que seja terra firme.
- No Pantanal é muito comum encontrar vegetações nas margens, como cama-
lotes, que além de dificultar a abordagem podem esconder vários animais, como
jacarés e cobras, entre elas a sucuri e a boca de sapo.
5.2.6 Outro cuidado é com os baceiros, que são um emaranhado de raízes e ve-
getações flutuantes encontrados nas margens e que, além de esconder animais
nocivos, o náufrago poderá acabar se enroscando e vindo a se afogar. Outra
dificuldade no Pantanal é a existência de barrancos, principalmente na época
das cheias. Deve-se sempre procurar por margens que tenham areões (praias)
e que facilitem a abordagem.

5-5
EB70-CI-11.438
- Por isso, às vezes, a margem mais próxima não é a mais segura e ao abandonar
a embarcação é recomendável procurar meios que permitam flutuar com maior
facilidade.
5.2.7 O uso de equipamentos pirotécnicos deverá ser realizado quando houver
uma probabilidade de ser visto.
- O fumígeno é o equipamento pirotécnico diurno mais utilizado. Ele solta uma
fumaça, geralmente na cor laranja ou branca.
- Já à noite, o meio mais utilizado é o chamado “strobolight”, que é um dispositivo
flutuante com uma lâmpada que fica piscando.
5.2.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
- O mais importante em uma situação de naufrágio, além do que foi explanado, é
manter a calma. Deve-se procurar auxiliar os que não sabem nadar, pois esses,
geralmente, acabam ficando em verdadeiro pânico.
- Toda vez que entrar em alguma embarcação, deve-se procurar identificar onde
estão localizados os coletes salva-vidas e os meios de salvatagem. Deve existir
um colete para cada pessoa embarcada. Nas pequenas embarcações o uso do
colete é obrigatório.
- Deve-se verificar as condições da embarcação e a existência e localização de
extintores de incêndio.
- O uso do poncho e capas de chuva deve ser evitado ao máximo, pois dificultam
a natação em um caso de naufrágio.

5.3 EMBARCAÇÕES E MOTORES DE POPA


5.3.1 EMBARCAÇÕES EMPREGADAS NO EXÉRCITO BRASILEIRO
5.3.1.1 Para o entendimento correto dos tipos de embarcações que o militar do EB
poderá empregar, e principalmente, visando a correta utilização das hidrovias, con-
forme o tipo de necessidade, diversas embarcações poderão estar à disposição.
- O conhecimento da classificação das embarcações do EB (Tab 14) é vital para
a prevenção de desastres aquáticos, pois é imponderável a adequação das ha-
bilitações necessárias para a condução das mesmas.
- Para esses tipos de habilitações, conhecimentos de marinharia, primeiros socor-
ros, manutenção de embarcações e motores, constituem em alguns dos requisitos
exigidos pela Marinha do Brasil e que fornecem condições mínimas de segurança
às tripulações embarcadas, seja em situação administrativa ou operativa.

5-6
EB70-CI-11.438

PREFIXO TIPO HABILITAÇÃO


EBG Embarcação Base Grupo Condutor ECSP
EPG Embarcação Patrulha Grupo Tripulante ETSP
EPE Embarcação Patrulha Esquadra Tripulante ETSP
EBC Embarcação Base de Comunicações Condutor ECSP
EBA Embarcação Base de Artilharia Condutor ECSP
TÁTICA EBE Embarcação Base de Engenharia Condutor ECSP
EPA Embarcação Pneumática de Assalto Tripulante ETSP
Embarcação Pneumática de Reconhe-
EPR Tripulante ETSP
cimento
E Man Embarcação de Manobra Condutor ECSP
ELC Embarcação Leve de Comando Tripulante ETSP
EAE Embarcação de Assalto e Escolta (jet-ski) Tripulante ETSP
E Reg Embarcação Regional Tripulante ETSP
E Emp Embarcação Empurrador Condutor ECSP
E Balsa Embarcação Balsa Condutor ECSP
ETC Embarcação de Transporte de Carga Condutor ECSP
LOGÍSTICA
E Sau Embarcação de Saúde Condutor ECSP
E T Pes Embarcação de Transporte de Pessoal Tripulante ETSP
E Mnt Embarcação de Manutenção Tripulante ETSP
Tab 14 - Classificações das embarcações e habilitações necessárias.

5.3.1.2 Embarcações Táticas


5.3.1.2.1 Embarcação Base de Grupo (EBG), é um tipo de embarcação para o
transporte do efetivo de um Grupo de Combate (GC), com uma autonomia de 10
dias (Tab 15).

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO.......................................... TÁTICA COMPRIMENTO.........................8,56 m


MANUTENÇÃO...........................100 horas PASSAGEIROS...........................14
TRIPULAÇÃO............................. 2 Cmt Embc................................... 1
Sub Cmt......................................1 POTÊNCIA MÁXIMA...............2 X 250 HP
COMBUSTÍVEL........................Óleo diesel CONSUMO/HORA.......................60litros/h
Vel de Sv...........................28 nós/50 km/h Vel MÁXIMA......................35 nós/64 km/h

Tab 15 - Características gerais da Embarcação Base de Grupo.

5-7
EB70-CI-11.438
5.3.1.2.2 Embarcação Patrulha Grupo (EPG), é uma embarcação para o transporte
de um efetivo de até 12 homens, de comprimento total entre 9 e 12 m (Tab 16).

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO.......................................... TÁTICA COMPRIMENTO.............................. 8,20 m


MANUTENÇÃO.....................100 horas PASSAGEIROS......................................10
TRIPULAÇÃO.....................................2 Cmt Embc................................................1
Sub Cmt..............................................1 POTÊNCIA MÁXIMA......................190HP
COMBUSTÍVEL..................Óleo diesel CONSUMO/HORA....................... 40 litros/h
Vel de Sv.......................20 nós/36 km/h Vel MÁXIMA......................30 nós/54 km/h

Tab 16 - Características gerais da Embarcação Patrulha Grupo.

5.3.1.2.3 Embarcação Patrulha de Esquadra (EPE), é uma embarcação para o


transporte de um efetivo de até 8 homens, de comprimento total de cerca de 6
m (Tab 17).

CARACTERÍSTICAS GERAIS
TIPO..............................................TÁTICA
COMPRIMENTO........................ ...6,00 m
MANUTENÇÃO.............................15 dias
PASSAGEIROS........................... ...........7
TRIPULAÇÃO............................. ...........1
Piloto......................................................1
POTÊNCIA MÁXIMA...............25HP,40HP
COMBUSTÍVEL........Gasolina e Óleo 2T
CONSUMO/HORA.............10 litros/horas
Vel de Sv.........................20 nós/35 km/h
AUTONOMIA................................ .......2 h
Tab 17 - Características gerais da Embarcação Patrulha Esquadra.

5.3.1.2.4 Embarcação Leve de Comando (ELC), é destinada ao transporte do


comando de nível subunidade e/ou superior, com cabine e de comprimento acima
de 6 m (Tab 18).

5-8
EB70-CI-11.438

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO.......................................... TÁTICA
COMBUSTÍVEL......................... Óleodiesel
COMPRIMENTO....................... 8,50 m
CONSUMO/HORA..................... 40 litros/h
MANUTENÇÃO......................... 100 horas
Vel de Sv...........................30 nós/60 km/h
PASSAGEIROS......................... 8
Vel MÁXIMA.....................35 nós/70 km/h
TRIPULAÇÃO........................... 2
AUTONOMIA.....................................12 h
POTÊNCIA MÁXIMA................. 300 HP

Tab 18 - Características gerais da Embarcação Leve de Comando.

5.3.1.2.5 Embarcação Regional (E Reg), é uma embarcação motorizada destinada


ao transporte de qualquer tipo de carga (Tab 19).

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO.......................................... TÁTICA
COMBUSTÍVEL......................Óleo diesel
COMPRIMENTO....................... 30,90 m
CONSUMO/HORA..................... 70 litros/h
MANUTENÇÃO......................... 250 horas
Vel de Sv.............................6 nós/10 km/h
PASSAGEIROS......................... 141
Vel MÁXIMA.......................8 nós/16 km/h
TRIPULAÇÃO........................... 7
AUTONOMIA....................1.140 km/114 h
POTÊNCIA MÁXIMA................. 360 HP

TRIPULAÇÃO
Total ............................... 7 Cmt Embc...............................................1
Sub Cmt Embc................ 1 Mec Pps.................................................1
Aj Mec Pps...................... 1 Op Convés.............................................3

Tab 19 - Características gerais da Embarcação Regional.

5.3.1.3 Embarcações Logísticas


5.3.1.3.1 Embarcação Empurrador (E Emp), são embarcações motorizadas e
projetadas para efetuar operações de reboque e/ou empurrador (Tab 20).

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO......................................LOGÍSTICA COMPRIMENTO..........................13,50 m
MANUTENÇÃO.......................250 horas TRIPULAÇÃO........................................6
Cmt Embc.............................................1 Sub Cmt Embc.......................................1
Mec Pps................................................1 Aj Mec Pps.............................................1
Op Convés............................................2 POTÊNCIA MÁXIMA....................409 HP

Tab 20 - Características gerais da Embarcação Empurrador.

5-9
EB70-CI-11.438

CARACTERÍSTICAS GERAIS

COMBUSTÍVEL....................Óleo diesel
CONSUMO/HORA....................70 litros/h
Vel de Sv..........................6 nós/10 km/h
Vel MÁXIMA........................8 nós/16 km/h
AUTONOMIA.................3.400 km/342 h

Tab 20 - Características gerais da Embarcação Empurrador (Continuação).

5.3.1.3.2 Embarcação Transporte de Carga (ETC) é uma embarcação motorizada


destinada ao transporte de qualquer tipo de carga (Tab 21).

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO.......................................LOGÍSTICA
COMPRIMENTO.........................25,20m
MANUTENÇÃO...........................100horas
TRIPULAÇÃO.......................................6
Cmt Embc...............................................1
Sub Cmt Embc......................................1
Mec Pps.................................................1
Aj Mec Pps............................................1
Op Convés.............................................2
POTÊNCIA MÁXIMA....................360HP
COMBUSTÍVEL......................Óleo diesel
CONSUMO/HORA...........70 litros/horas
Vel de Sv............................6 nós/10 km/h
AUTONOMIA..................2.850 km/285 h
Vel MÁXIMA.......................8 nós/16 km/h

Tab 21 - Características gerais da Embarcação Transporte de Carga.

5.3.1.3.3 Embarcação Balsa (E Balsa) é um tipo de embarcação de carga que


não é tripulada; não possui sistema de propulsão própria; a relação entre a boca
e o calado é superior a 6 m; e a relação entre a boca e o pontal é superior a 3
m (Tab 22).

CARACTERÍSTICAS GERAIS

TIPO.......................................LOGÍSTICA COMPRIMENTO.....................25 a 36 m
BOCA..................................8,00 a 8,80 m PONTAL............................1,50 a 1,70 m
CALADO.................................1,0 a 1,5 m BORDA LIVRE MÍNIMA.....0,20 a 0,50 m

Tab 22 - Características gerais da Embarcação Base de Grupo.

5.3.1.4 Embarcação Tática de Combate Guardian 25


5.3.1.4.1 Entre as embarcações existentes, a Guardian 25 se destaca nas ope-
rações no Pantanal (Fig 77 a 79), pois possibilita ação de choque (grande veloci-
dade, em virtude da presença de dois motores de 200 HP) e sensível potência de
fogo (possibilidade de emprego de metralhadoras e lança-granadas acoplados).

5-10
EB70-CI-11.438

Fig 77 - Embarcação Guardian 25.

Fig 78 - Embarcação Guardian 25 Fig 79 - Embarcação Guardian 25.

5.3.1.4.2 Como características gerais, pode-se afirmar que, em virtude do calado


de 41 cm, a abordagem de corixos, baías e canais de baixa profundidade é bem
facilitada. Como a distância do pontal é de aproximadamente 1,20 m, ainda se
torna difícil o embarque e desembarque dos integrantes da embarcação, caso
ocorra o abicamento (chegada em margens como praias, locais com camalotes).
5.3.1.4.3 Entretanto a atracação (procedimento realizado para chegada em portos,
ou junto a outras embarcações) ou abarrancamento (chegada em barrancos, mar-
gem alta), são realizados de forma satisfatória, assim como o deslocamento pelo
canal principal da rede hidrográfica, ou seja, pelo Rio Paraguai. A quantidade de
instrumentos orgânicos da mesma, facilitam sobremaneira a navegação rápida.
5.3.1.4.4 A Guardian 25 possibilita a navegação, por parte do piloteiro, sem a
necessidade de um auxiliar, devido ao uso dos instrumentos inclusos como o
sonar, radar e GPS. No entanto, um militar dessa embarcação deverá estar apto

5-11
EB70-CI-11.438
para cumprir as atribuições de sota-voga, visando ações de abicagem, atracação
e desatracação.
5.3.1.4.5 Quanto à formação, o ideal é a existência do comandante da embarcação,
que poderá ser o Cmt Pel (que também comanda a 1ª Seção das embarcações e
a 1ª embarcação), o Adj Pel (que também comanda a 2ª Seção das embarcações
e a 3ª embarcação), ou Cmt GC (que comanda a 2ª ou a 4ª embarcação).
5.3.1.4.6 Além do comandante, é fundamental a presença de dois militares dotados
de Mtr MAG, um atirador de Mtr. 50 e um granadeiro, com a ressalva da presença
de um auxiliar do atirador da Mtr. 50. Quanto ao piloto e seu sota-voga, esses
deverão possuir os cursos de ECSP e ETSP, respectivamente.
5.3.1.4.7 A guarnição ideal para a Guardian 25 é composta de (Fig 80):
a) Cmt da embarcação;
b) 1 piloteiro;
c) 1 sota-voga (auxiliar do piloteiro);
d) 2 atiradores de Mtr MAG;
e) 1 atirador de Mtr. 50;
f) 1 auxiliar do atirador; e
g) 1 granadeiro.

Fig 80 - Guarnição da embarcação Guardian 25

5-12
EB70-CI-11.438
Legenda:
- .50 – Atirador de Mtr .50
- Aux – Auxiliar de atirador
- P – Piloteiro
- S – Sota-Voga
- Cmt – Comandante da embarcação
- A1 ou A2 – atirador de Mtr MAG
- Gr - Granadeiro

5.3.1.4.8 Os atiradores seriam integrantes da fração de combate, pois essa fração


(Pel) opera a duas seções, de forma similar ao emprego dos blindados (cada
seção possui dois veículos). Nesse caso específico, o Pelotão estaria dotado de
4 (quatro) embarcações Guardian 25 e seus elementos constituiriam uma fração
de combate.
5.3.1.4.9 Quanto aos armamentos, a embarcação possibilita o emprego de Mtr
.50 na proa; lança-granadas na popa; Mtr MAG ou Mtr MINIMI (substituta do FAP)
nos reparos de bombordo e boreste.
5.3.1.4.10 Quanto às missões, pode-se destacar o emprego da embarcação em
atividades operacionais como operações na faixa de fronteira:
a) Patrulhas de reconhecimento de marcos de fronteira fluviais (em que o fator
velocidade e poder de fogo são predominantes); e
b) Posto de Bloquei e Controle Fluvial - PBCFlu (empregadas no grupo de per-
seguição), ressaltando que a vocação ideal é o apoio de fogo com tropa perma-
nentemente embarcada.
5.3.1.4.11 Aliás, torna-se vital o entendimento de que a embarcação é destinada
ao emprego em apoio de fogo e ações rápidas. Com esse entendimento, o exe-
cutante da tarefa pode adaptar a quantidade de membros, obedecendo sempre
as características técnicas de quantidade de elementos e carga embarcados.
5.3.1.4.12 A seguir são apresentadas as especificações da Guardian 25, cons-
tantes do manual de operação e manutenção (Tab 23).

Especificações - Guardian 25
Comprimento do barco – 7,5 m Calado, com motores inclinados – 0,41 m
Peso do motor – 481 kg Peso do barco básico, sem motores – 1.622 kg
Capacidade do tanque opcional, frente – 151
Capacidade do tanque central – 602 litros
litros
Potência do motor, máxima – 400 HP Potência do motor, mínima – 115 HP
Capacidade de carga (pessoas, motor e equipamento) – 1.377 kg
Tab 23 - Especificações da embarcação Guardian 25.

5-13
EB70-CI-11.438
5.3.2 MOTORES DE POPA
5.3.2.1 O motor de popa é uma máquina utilizada para movimentar embarca-
ções. Sua utilização é simples, porém exige alguns cuidados e particularidades.
Abaixo são listadas algumas características dos motores de popa que normal-
mente são empregados no EB (Tab 24):

MOTOR JOHNSON MOTOR YAMAHA


Potência (HP): 25 e 40 Potência (HP): 25
Peso: 33 e 59 kg Peso: 49,5 kg
Capacidade do tanque: 22 l Capacidade do tanque: 24 l
Proporção mistura óleo-gasolina: 1/50 Proporção mistura óleo gasolina:1/40
Óleo empregado: óleo 2T-TC-WII Óleo empregado: óleo 2T-TC-WII
Lubrificante da transmissão: óleo mine- Lubrificante da transmissão: Sae 90
ral 90 e óleo 90Ep Funcionamento: 2 Tempos
Funcionamento: 2 Tempos
Tab 24 - Motores de popa mais empregados.

5.3.2.2 Em geral, os motores de popa dividem-se em três partes principais:


a) Cabeça de força;
b) seção intermediária; e
c) caixa de engrenagem.
5.3.2.2.1 A Cabeça de força primeira é constituída por um motor de dois cilindros
responsável pela energia mecânica. É complementada por:
- Punho do arranque;
- cobertura superior;
- botão do afogador;
- alavanca de câmbio; e
- interruptor para parada de emergência.
5.3.2.2.2 A seção intermediária é constituída pelo suporte do motor, braço de dire-
ção, mesa giratória e carcaça do escape. A seção intermediária é a responsável
pelo posicionamento do motor na embarcação e possui, ainda, as seguintes peças:
- Comando do acelerador;
- braço de direção;
- alavanca da trava da inclinação;

5-14
EB70-CI-11.438
- engate da corda de segurança
- haste do grampo da morsa;
- botão do suporte da inclinação; e
- vareta do ajuste do angulo de equilíbrio.
5.3.2.2.3 A caixa de engrenagem é uma estrutura ligada com a parte inferior (ter-
minal), do motor de popa e é composta por uma caixa, contendo basicamente:
a) Um pinhão;
b) duas engrenagens cônicas, destinadas a transmitir o movimento do eixo de
transmissão para o eixo propulsor; e
c) eixo propulsor. As suas peças são as seguintes:
- hélice;
- lingueta de equilíbrio;
- entrada de água para arrefecimento;
- placa anti-cavitação; e
- placa para salpicaduras.
5.3.2.2.4 O tanque de combustível é composto por:
a) bulbo do afogador;
b) linha do combustível (mangueira de combustível);
c) tampa de abastecimento;
d) parafuso de ventilação; e
e) alça de transporte.
5.3.2.5 A mistura de gasolina e óleo 2 tempos
- A mistura de gasolina e óleo 2 tempos deve ser feita numa vasilha e bem agi-
tada, para que fique homogênea (não misturar o óleo e a gasolina no tanque de
combustível).
- Sempre que o tanque ficar de repouso por mais de quatro horas, recomenda-se
agitá-lo no sentido lateral (nunca com violência, para não danificar o indicador de
combustível). Não deverá ser utilizada a mistura com mais de 10 dias de preparo.
5.3.2.6 A operação do motor de popa é iniciada com a fixação do motor no
bote
- Para a colocação, os motores são fixados nas popas por meio de parafusos
borboletas;

5-15
EB70-CI-11.438
- a hélice deve ficar sempre submersa;
- a distância entre a superfície da água e a placa de cavitação deve ser, para um
barco sem carga, de 10 cm;
- passar uma corda através da alça do motor e prendê-la no bote para evitar que
o motor caia na água, em caso de acidente.
5.3.2.7 Além da colocação, deve-se atentar para o ângulo de ajustagem
- Para inclinar o motor, colocar a alavanca de bloqueio na posição release e
inclinar o motor corrigindo a posição na chapa de aço de inclinação, situada na
parte traseira do motor, removendo o pino de trava ou de fixação, colocando-o
na nova posição.
5.3.2.8 Quanto à partida, deve-se:
- Colocar o acelerador na posição de marcha lenta;
- colocar a alavanca de reversão na posição neutra;
- colocar a alavanca de segurança (trava), localizada no cavalete do motor na
posição lock;
- ligar o tanque de combustível e abrir o suspiro do tanque;
- pressionar o bulbo da mangueira, até sentir uma pequena resistência;
- puxar o afogador;
- puxar a corda de partida; e
- girar o botão da agulha da marcha lenta do carburador para a esquerda ¼ de
volta (motor Johnson).
5.3.2.9 Quando o motor funcionar, deve-se:
a) Empurrar o botão do afogador para dentro;
b) deixar o motor em marcha lenta por, aproximadamente 2 minutos;
c) observar se está saindo água no orifício de saída;
d) caso não saia água pelo orifício de saída, o motor deverá ser desligado ime-
diatamente;
e) caso contrário (ejeção de água pelo orifício de saída) engrenar a marcha de-
sejada (funcionamento desejado, com as saídas de água previstas).

5-16
EB70-CI-11.438
5.3.3 PRINCIPAIS PANES

PANE PROCEDIMENTO

- Verificar se o punho da aceleração está na posição start;


- verificar se há gasolina no tanque;
- verificar se está correta a conexão da mangueira;
Caso o motor não - verificar se o carburador está alimentado;
funcione - verificar se a mangueira do combustível está livre; e
- verificar se o motor não está afogado (caso esteja, fechar o
botão do ar, válvula de combustível e acionar a partida até que
expulse o excesso de combustível).

- Verificar se o filtro da bomba de combustível não está entupido;


- verificar se há água na gasolina;
- verificar se os cabos de velas estão sujas ou umedecidas;
Caso o motor ain-
da não funcione - verificar se os cabos de velas estão soltos ou trocados;
- verificar se as velas estão frouxas a ponto de provocar falta
de compressão; e
- verificar novamente as instruções para partida.

- Verificar a regulagem do ponto do carburador, na agulha do


Caso o motor mesmo;
apresente baixa
- verificar se as velas estão danificadas; e
velocidade
- verificar se houve mistura incorreta do combustível.

- Verificar se a hélice está danificada ou empenada;


Caso o motor vi- - verificar se o carburador está mal regulado;
bre em excesso - verificar se o parafuso de fricção da direção está frouxo; e
- verificar se existem plantas aquáticas ao redor da hélice.

- Verificar se as velas estão defeituosas;


Caso o motor per-
- verificar se o filtro da bomba está parcialmente entupido; e
ca a potência
- verificar se a tomada de água está obstruída.

Caso o motor - Verificar se a hélice está danificada ou torcida;


funcione, mas a
- verificar se existem plantas aquáticas ao redor da hélice; e
embarcação não
se desloque - verificar se o pino de cisalhamento está quebrado.

Tab 25 – Principais panes.

5-17
EB70-CI-11.438
5.3.4 SEGURANÇA NAS EMBARCAÇÕES
5.3.4.1 Toda embarcação está sujeita a panes, acidentes e em consequência, a
um possível naufrágio. Partindo-se desse princípio, deve-se saber as medidas
preventivas para sobreviver a esses acidentes e evitar a perda de materiais. As
recomendações que se seguem buscam prevenir acidentes e evitar a perda de
material envolvendo embarcações, já que no ambiente pantaneiro, o meio de
locomoção mais utilizado é a embarcação, principalmente a “voadeira”.
5.3.4.2 Para que a missão não seja comprometida, é imponderável seguir algu-
mas normas como: ter coletes salva-vidas (em bom estado e dentro do prazo
de validade), os quais são obrigatórios a utilização pelo pessoal embarcado no
Pantanal, sempre atentando para a correta colocação.
5.3.4.3 Ao preparar uma embarcação, recomenda-se
a) Prender o motor ao verrugo;
b) antes do embarque, deverá ser verificado se o motor e o tanque de combustível
estão amarrados (devidamente ancorados na embarcação);
c) verificar se o combustível é suficiente para o cumprimento da missão;
d) verificar se existe, no mínimo, um remo por embarcação;
e) verificar se existe o cabo de proa (sendo obrigatório a sua utilização), e se
o mesmo contém espessura, de no mínimo 10 mm, para que possa ancorar o
material na embarcação;
f) verificar se a embarcação possui ferramentas para pequenos reparos e manu-
tenção de 1° escalão, além de algumas peças sobressalentes; e
g) verificar se as luzes de sinalização noturna estão em pleno funcionamento.
5.3.4.4 Os piloteiros devem saber realizar pequenos reparos na embarcação;
utilizar o stop, um cordel ligado ao motor que, se puxado corta automaticamente
o seu funcionamento; conduzir lanternas de segurança para realizar balizamen-
tos, principalmente, para a retaguarda; e sempre estar em condições físicas e
orgânicas estáveis (ou seja, saudável e sem sono).
5.3.4.5 O militar mais antigo deve, sempre que possível, fazer um briefing com
os piloteiros antes da partida para qualquer missão. Além disso, integrá-los nas
atividades da patrulha, pois os mesmos possuem o conhecimento da área e podem
facilitar o planejamento (ordem preparatória, ordem patrulha e ensaios). Alguns
cuidados com armamento e equipamentos diversos devem ser tomados. Isto varia
em situações reais de emprego ou em situações de exercício ou adestramento.
5.3.4.6 Para as situações reais, o armamento mais o equipamento necessário
para o cumprimento da missão vão atrelados ao corpo, sendo importante esse
procedimento, pois visa facilitar o desembarque. A mochila pode ou não, estar

5-18
EB70-CI-11.438
ancorada ao combatente, dependendo da situação.
5.3.4.7 Quanto aos exercícios e adestramento, o armamento, mochila e equipa-
mento de comunicações vão atrelados na embarcação, utilizando o cabo solteiro
ou retinidas.
5.3.4.8 Como prescrições diversas
a) Deve-se atentar para os cabos e amarras das embarcações, que não podem
permanecer arrastando na superfície da água;
b) toda embarcação deve deslocar-se sob a responsabilidade de um chefe (res-
ponsável pela disciplina e segurança);
c) ao ocupar uma embarcação, os militares devem seguir as normas de equilíbrio,
um entra de um lado e o próximo vai para o outro lado (bombordo e boreste);
d) o militar somente levanta da embarcação, quando a mesma estiver totalmente
parada;
e) em caso de naufrágio, o militar deve se afastar da embarcação e usar o colete
salva-vidas e sua mochila para flutuar, tendo o controle de seu armamento.
f) durante a noite, a velocidade deverá ser reduzida, principalmente, quando
estiver com pouca visibilidade;
g) o colete salva-vidas só deverá ser retirado, quando o combatente estiver em
terra firme;
h) quando for atracar, a embarcação deve ser retirada da água ou seu motor
deverá ser amarrado;
i) procurar sempre diminuir a velocidade, quando da aproximação de pescadores
ou outras embarcações; e
j) nunca engatar a ré com o motor destravado.
5.3.5 DESALAGAMENTO DE EMBARCAÇÕES
5.3.5.1 As embarcações do tipo voadeira são muito empregadas nas operações
no Pantanal, no entanto esse tipo de embarcação é vulnerável à instabilidade flu-
vial, seja por condições climáticas ou pelo seu emprego em velocidade, podendo
ocorrer o seu naufrágio. No entanto, o combatente do Pantanal deve estar apto
a realizar o seu resgate, desalagando-a e recuperando o motor para o prosse-
guimento da missão.
5.3.5.2 Por serem equipadas com material flutuante preenchendo os bancos,
em caso de naufrágio não ocorrerá a completa submersão, de forma que será
mais fácil realizar o resgate da embarcação. Uma vez alagada a embarcação,
o método mais fácil de realizar o seu resgate é conduzi-la para a margem mais
próxima, o que poderá ser feito pelo arrasto ou utilizando os próprios remos da
embarcação (Fig 81 e 82).
5-19
EB70-CI-11.438

Fig 81 - Arrasto pelo nado.

Fig 82 - Arrasto pelo remo.

5.3.5.3 Na margem, a primeira preocupação é a retirada do motor para a reali-


zação de sua manutenção imediata, e enquanto isso, a embarcação deverá ser
desalagada. A retirada do tampão facilitará esse trabalho (Fig 83 e 84).

Fig 83 - Retirada do motor Fig 84 - Forma de desalagar uma embarcação

5-20
EB70-CI-11.438
5.3.5.4 Quando a embarcação estiver completamente desalagada, o tampão
deverá ser recolocado e o motor será recolocado em uma posição para facilitar
sua manutenção (Fig 85).

Fig 85 - Recolocação do motor.

5.3.5.5 Caso o motor resgatado tenha submergido, o mesmo deverá, ao ser reti-
rado da água, ser recuperado no período de, no máximo três horas. Partindo do
princípio que o naufrágio ocorreu em água doce, não há a necessidade de lavar o
motor após o seu resgate, a não ser que tenha havido contato com terra ou areia.
O motor só deverá ser retirado da água quando for receber a manutenção, caso
contrário, sua exposição ao tempo iniciará um processo corrosivo.
5.3.5.6 Quanto à manutenção do motor submerso, existem duas situações
possíveis:
5.3.5.6.1 Se o motor não estava ligado, durante a submersão:
- Desconectar os cabos da bateria (na própria bateria);
- remover a tampa do motor de popa e enxaguar a cabeça de força com água
doce e limpa; remover os cabos das velas e as velas de ignição;
- retirar a mangueira de combustível do motor, drenar e limpar os dutos e o tanque
de combustível;
- colocar o motor de popa na posição horizontal (abertura das velas para baixo) e
girar o volante lentamente no sentido horário, para expelir toda água para fora da
cabeça de força (30 vezes aproximadamente). Todos os equipamentos elétricos
deverão ser desmontados, limpos, e completamente secados;
- então desconectar a mangueira de alimentação de óleo e a mangueira de retorno
de óleo do motor de popa;
- drenar e limpar todas as mangueiras de óleo e os conjuntos do tanque de óleo;
- injetar lubrificante para motor de popa dentro dos furos das velas de ignição; e

5-21
EB70-CI-11.438

- montar novamente o motor, dar arranque usando agora uma mistura própria para
amaciamento (25 litros de gasolina para um litro de óleo). Utilizar essa mistura no
período de três horas e voltar para a mistura normal (50 litros de gasolina para
um litro de óleo).
- É muito importante observar se o motor de popa mostra evidência de que areia
ou sedimentação possa ter entrado, caso positivo, não tentar dar partida no motor
de popa. Ele deverá ser desmontado e limpo.
5.3.5.6.2 Já caso o motor esteja ligado, durante a submersão:
- Seguir os mesmos procedimentos do motor que não estava ligado, durante a
submersão.
- Entretanto, se existir qualquer emperramento, quando o volante for rotacionado,
poderá indicar uma biela danificada e nenhuma tentativa deverá ser feita, a partir
de então, para iniciar o motor de popa. Portanto, a cabeça de força deverá ser
desmontada e reparada, imediatamente.

5.4 TRANSPOSIÇÃO DE OBSTÁCULOS AQUÁTICOS


5.4.1 Por ocasião dos deslocamentos no ambiente operacional do Pantanal, a
possibilidade de necessitar transpor um obstáculo aquático é muito provável.
Desse modo, o sobrevivente deve possuir o conhecimento das técnicas improvi-
sadas de flutuação que permitam a mudança de posição, bem como o transporte
de seus equipamentos.
5.4.2 Caso ocorra a queda do militar na água estando ele fardado e equipado, deve
abandonar tudo o que lhe possa dificultar o movimento. Para isso recomenda-se
retirar seu calçado (soltura rápida), conservando as meias; abotoar todos os botões
da calça e gandola; e colocar a “boca” da calça por dentro da meia.
5.4.3 Caso a flutuação se apresente difícil, em virtude de má situação do so-
brevivente, esse deverá inspirar profundamente; boiar de cócoras; fazer com
as mãos uma abertura na gandola, entre o segundo e terceiros botões; e soprar
para dentro da mesma, impedindo a saída de ar, tampando a abertura com a
mão. Quando retornar à posição normal, um bolsão de ar estará formado entre
o corpo e a camisa, auxiliando na sua flutuação. Se ainda assim, a dificuldade
persista, será necessário despir-se dentro da água (para ficar mais leve). Para
isso, o sobrevivente deve adotar os seguintes procedimentos:
- Inspirar profundamente, flutuando com a face imersa e calmamente retirar o
uniforme. Sempre que preciso, voltar à superfície para respirar.
- Inspirar profundamente, flutuando com a barriga voltada para cima e calmamente
retirar o uniforme.
- Em ambos os procedimentos acima, é possível transformar a calça em boia,

5-22
EB70-CI-11.438
devendo o sobrevivente dar um nó em cada perna. Em seguida erguer-se à su-
perfície da água, retornando a parte da cintura da calça com rapidez, permitindo
que entre ar e transforme-a em um meio de flutuação.
5.4.4 MEIOS IMPROVISADOS DE FLUTUAÇÃO
5.4.4.1 Cabo submerso
5.4.4.1.1 O melhor nadador do grupo atravessa o curso d’água e lança o cabo
sobre a superfície do corixo para a outra margem, a fim de que seja tencionada.
Usa-se uma corda de ½ pol para até 15 m de obstáculo e de ¾ pol para obstáculos
acima disso. Fixadas as extremidades, a transposição é realizada utilizando-se
a técnica do comando “craw” ou de maneira lateral, voltando as costas contra o
sentido da correnteza. Deve-se evitar utilizar esse meio em cursos d’água com
forte correnteza (Fig 86).

Fig 86 - Cabo submerso.

5.4.4.1.2 Esse processo é adequado para a transposição de cursos d’água de


margens baixa, em especial os corixos, apresentando a vantagem da rapidez no
lançamento e na ultrapassagem. A desvantagem é que o fardamento, equipa-
mento e o armamento ficam molhados. Caso haja a possibilidade e habilidade
para um maior tracionamento da corda, esse processo poderá ser transformado
em uma ponte de uma corda (suspenso sobre o curso d’água). Desse modo
evita-se molhar o combatente e seu material. Para a travessia, pode-se utilizar o
processo do comando “craw”, da preguiça ou do assento (assento com mosquetão
ancorado na corda da ponte).
5-23
EB70-CI-11.438

5.4.4.2 Ponte com um tronco


5.4.4.2.1 Processo utilizado em rios e corixos que apresentem largura de até 30
m e com margens firmes.
5.4.4.2.2 Em uma margem derruba-se uma árvore que possa alcançar a outra
margem em sua queda. Em seguida, fixa-se uma corda em ambos os lados do
curso d’água, podendo-se utilizar meios improvisados como cipós, para que sirva
de apoio durante a transposição da ponte, ou seja, espécie de corrimão (Fig 87).
5.4.4.2.3 Esse processo permite segurança e rapidez na transposição, evitando-
-se que o combatente e seu material se molhem.

Fig 87 - Ponte com um tronco.

5.4.4.3 Boia improvisada com cantis


5.4.4.3.1 Devem ser presos ao cinto de guarnição, cerca de 08 cantis vazios e
devidamente fechados. Após a preparação, o cinto pode ser fixado à cintura ou
ao tórax do combatente. Para a transposição de mais de um sobrevivente, o meio
improvisado deverá ser revezado, pois demanda o uso de vários cantis. Para isso,
ao atravessar o curso d’água, deve haver uma linha de vida fixada ao equipa-
mento, de maneira que da margem anterior, o próximo possa puxar, resgatando
o material para sua utilização (Fig 88 e 89).

5-24
EB70-CI-11.438

Fig 88/89 - Boia improvisada com cantis.

5.4.4.3.2 Esse processo permite a utilização dos braços e pernas para a impulsão
no curso d’água. Pode ser utilizado de forma combinada com o cabo submerso,
em casos nos quais o sobrevivente não saiba nadar e apresente grande temor.
Nesse processo a colocação do equipamento deve cuidar para que o centro de
gravidade não force a cabeça do sobrevivente para dentro d’água. A desvantagem
é que o fardamento, equipamento e o armamento ficam molhados.
5.4.4.4 Boia improvisada de talo de buriti
5.4.4.4.1 Unir talos secos de buriti, ou outro tipo de madeira de fácil flutuação
de maneira que tome o formato de um colete, permitindo envolver o tórax do
combatente (Fig 90 e 91).
5.4.4.4.2 Esse processo permite a utilização dos braços e pernas para a impulsão
no curso d’água. Pode ser utilizado de forma combinada com o cabo submerso,
em casos nos quais o sobrevivente não saiba nadar e apresente grande temor.
No entanto, dependendo do tamanho dos talos, pode dificultar a mobilidade e
mudança de direção. A desvantagem é que o fardamento, equipamento e o ar-
mamento ficam molhados.

Fig 90/91 - Boia de talo de buriti

5-25
EB70-CI-11.438
5.4.4.5 Boia improvisada com gandola
5.4.4.5.1 Processo:
a) Abotoar todos os botões da gandola, colocando a gola para dentro;
b) em seguida, recomenda-se molhar a gandola;
c) para inflar, deve ser mantida sua parte inferior aberta e na sequência, saltar
sobre a água, de forma a criar um “bolsão” de ar na altura das escápulas;
d) fechar a parte inferior com uma das mãos, na altura da cintura, a fim de manter
o ar preso, o qual permitirá a flutuação (Fig 92);
e) caso haja o esvaziamento por ocasião da transposição, o combatente deverá
expirar entre o 2º e 3º botões; e
f) pode-se utilizar algum meio improvisado como canudo (Ex: talo de camalote),
a fim de facilitar a reposição do “bolsão” de ar.

Fig 92 - Boia improvisada com gandola.

5.4.4.5.2 Esse processo inviabiliza o uso de uma das mãos na transposição e


necessita de reposição de ar para recompor o “bolsão”. Desse modo, os cursos
d’água a serem transpostos não podem ser grande vulto, pois exigirá grande
esforço do sobrevivente. Além disso, não se recomenda esse processo quando
armado e equipado.
5.4.4.6 Boia improvisada com calça
5.4.4.6.1 Processo:
a) Amarrar as pernas da calça, abotoar a braguilha, fechar o zíper e virá-la do
avesso. Em seguida, deve-se molhar a calça.

5-26
EB70-CI-11.438
b) para inflar, levá-la pelo cós para trás da cabeça, mantendo a cintura aberta, de
maneira a permitir a entrada de ar nas pernas;
c) em um movimento rápido, chocá-la contra a água, de forma a criar um “bolsão”
de ar nas pernas e fechar a boca da calça com uma das mãos;
d) para utilizar, apoiar o corpo, na altura do abdome ou das axilas, entre as pernas
da calça inflada, mantendo-a fechada pela cintura com uma das mãos (Fig 93); e
e) para repor o ar do “bolsão”, expirar através da cintura.
5.4.4.6.2 Esse processo inviabiliza o uso de uma das mãos na transposição e
necessita de reposição de ar para recompor o “bolsão”. O processo é indicado
quando não é necessário transportar equipamento e armamento. Desse modo,
os cursos d’água a serem transpostos podem ter maior vulto, desde que o sobre-
vivente tenha habilidade mínima de nadar, pois exigirá grande esforço.

Fig 93 - Boia improvisada com calça.

5.4.4.7 Pelota
5.4.4.7.1 Confeccionada com o equipamento individual de dois militares. Processo
de fácil confecção, coloca-se um poncho aberto com as mochilas e armamentos
por cima. Em seguida, fecha-se o poncho, amarrando seus ilhoses. Finalizada
essa primeira parte, abre-se o outro poncho, colocando o primeiro já finalizado de
maneira invertida. Fecha-se o segundo poncho, do mesmo modo que o primeiro
(Fig 94). Deve-se prender um cantil vazio, de maneira a servir de boia de sinaliza-
ção (com um cordel de até 5 m), para o caso de afundamento e posterior resgate.

5-27
EB70-CI-11.438

Fig 94 - Pelota

5.4.4.7.2 Esse mesmo processo pode ser adaptado para a confecção de boia
improvisada com folhas e ponchos (Fig 95 e 96).

Fig 95/96 - Boia com folhas e poncho

- O material poderá ser transportado sobre essa boia de folhas e ponchos (de-
vidamente amarrado) ou colocado dentro do fardo de folhas. Recomenda-se a
primeira opção, por ser mais segura.
5.4.4.8 Jangada
5.4.4.8.1 Processo que depende da habilidade do combatente, da disponibilidade
de material adequado, do tempo disponível e das distâncias a serem percorridas.
5.4.4.8.2 Para sua construção, inicialmente deve ser feito o teste com os troncos a
serem utilizados. Para isso, pequenos pedaços devem ser lançados sobre a água,
de forma a identificar sua flutuabilidade. Ao ser identificado o tipo de tronco ideal,
esses devem ser cortados no tamanho adequado para o transporte do material
ou até mesmo pessoal. Devem ser unidos por cordas, cordas improvisadas com
envira ou cipós (Fig 97 e 98).

5-28
EB70-CI-11.438

Fig 97/98 - Jangada.

5.4.4.8.3 Esse processo permite que o meio improvisado dure mais tempo e
transporte maior quantidade de material. Dependendo da flutuabilidade e tamanho
dos troncos, a jangada pode propiciar transporte para um grupo de homens por
uma boa quantidade de dias. Caso a jangada seja confeccionada apenas para
o transporte de material, apesar de servir como meio de apoio para a flutuação
dos sobreviventes, recomenda-se para aqueles que tiverem maior dificuldade de
nadar, sejam empregados outros meios improvisados para garantir sua segurança.

5.5 ORIENTAÇÃO, NAVEGAÇÃO E SINALIZAÇÃO


5.5.1 Os deslocamentos no interior do Pantanal são dificultados pela vegetação
e relevo, pois trata-se de uma imensa planície alagável, na qual por muitas ve-
zes a comparação carta-terreno é insuficiente para a orientação. Desse modo,
o combatente desloca-se por longos trechos seguindo um azimute ou mesmo
direção geral até encontrar o seu destino ou outro ponto de referência. Além disso,
o fato de ser alagável significa que o Pantanal está sujeito a períodos de seca e
cheia, os quais alteram os aspectos básicos para a orientação, como os cursos
d’água, ilhas, estradas, vegetação e até mesmo pequenas elevações, as quais
desaparecem durante as cheias, ressurgindo na seca
5.5.2. Principalmente na época de cheia, a maioria dos deslocamentos é realizada
por meio dos cursos d’água, utilizando-se embarcações rápidas, o que potencializa
a importância do conhecimento da orientação fluvial.
5.5.3 ORIENTAÇÃO
5.5.3.1 As características fisiográficas do Pantanal dificultam a identificação de
pontos nítidos que auxiliem a orientação. Além disso, em razão da grande presença
de massas d’água, nos períodos noturnos, início do matutino e dependendo das
condições meteorológicas, a neblina poderá limitar a visibilidade (em especial
nas grandes baías). Dependendo do luar, a escuridão poderá ser atenuada, no
entanto, a escassez de pontos de referência restringirá a capacidade de orientação.
Dessa forma, os processos de orientação no Pantanal dependem da habilidade

5-29
EB70-CI-11.438
e conhecimento do combatente.
5.5.3.2 Processos de Orientação
5.5.3.2.1 Orientação pelo Sol
- O sol nasce ao leste e se põe ao oeste. A perpendicular a essa direção indicará
o eixo norte-sul (Fig 99).
- Esse processo apenas apresenta uma direção geral, tendo variação em razão
da inclinação variável do globo terrestre.

Fig 99 - Orientação pelo sol.

5.5.3.2.2 Orientação pelas Estrelas


- A orientação pelas estrelas é um dos métodos de orientação mais antigos. De-
pendendo do hemisfério, existem as constelações mais adequadas para utilizar
como referência. No caso do ambiente operacional do Pantanal, localizado no
hemisfério sul, a orientação pelo Cruzeiro do Sul é a referência.
- Para encontrar a constelação, recomenda-se identificar outras duas estrelas
mais brilhantes, conhecidas como guardiãs da cruz. Elas se localizam próximas
do Cruzeiro do Sul. Depois de encontrada a constelação, deve-se prolongar o
braço maior da cruz em 4,5 vezes e traçar uma linha imaginária perpendicular
até o horizonte.
- Ao pé dessa linha imaginária perpendicular, tem-se a direção sul (Fig 100).

5-30
EB70-CI-11.438

Fig 100 - Orientação pelas estrelas.

5.5.3.2.3 Orientação pelos Abrigos dos Animais


- No ambiente operacional do Pantanal, diversos animais habitam permanen-
temente ou temporariamente, em particular durante a temporada migratória, ou
seja, durante a época das cheias. O ciclo de inundações é que determina as
áreas disponíveis, influenciando na distribuição sazonal das diferentes espécies.
- Em virtude do vento sul, grande parte dos animais constroem seus abrigos volta-
dos para o norte, buscando abrigar-se dos ventos frios e receber calor e luz solar.
5.5.3.2.4 Orientação pelo Relógio
- Uma forma de orientar-se é utilizando o sol e relógio de forma combinada. Para
isso deve-se colocar um relógio de ponteiros na posição horizontal, de maneira
que o ponteiro das horas fique direcionado para o sol.
- A posição intermediária entre esse ponteiro e a marcação de 12h representa o
norte verdadeiro (Fig 101).

5-31
EB70-CI-11.438

Fig 101 - Orientação pelo relógio.

5.5.3.2.5 Orientação pela Carta


- A maior parte das cartas topográficas foi elaborada na escala 1:100.000, no
final da década de 1960. Após a confecção dessas, a região do Pantanal passou
por grandes e sucessivos períodos de cheia, destacando-se a “grande cheia da
década de 70”. Sendo assim, esse fenômeno provocou o abandono e desapa-
recimento de inúmeras fazendas e estradas representadas nas cartas. Portanto,
tanto a escala quanto o período de confecção das cartas contribuem para que
essas sejam imprecisas, o que dificulta a orientação no Pantanal, demandando
habilidade, treinamento e qualificação para que o combatente seja eficiente em
seus deslocamentos.
- Para mitigar a imprecisão das cartas, sempre que possível deve-se conduzir
imagens e fotografias aéreas georreferenciadas, obtendo maiores e mais atualiza-
dos detalhes planimétricos, a fim de se antecipar às consequências das cheias e
secas sobre os aspectos do terreno. Para isso, é importante o conhecimento dos
mais novos recursos tecnológicos como plataformas de informações geográficas
que permitam a visualização, edição e análise de dados georreferenciados, o que
propicia interface com bases de dados de diversas instituições. O georreferen-
ciamento de uma imagem ou fotografia aérea permite tornar suas coordenadas
conhecidas em um sistema de referência, recomendando-se o mesmo das cartas
topográficas utilizadas no Exército Brasileiro.
- Caso o sobrevivente possua cartas, imagens ou fotografias aéreas deve protegê-
-las, colocando-as em porta-cartas ou protegido-as com folha de papel transpa-
rente. Quando empregadas, devem ser dobradas em forma de sanfona, para fins
de guarda em bolsos, de maneira a protegê-las do sol e da umidade (Fig 102).

5-32
EB70-CI-11.438

Fig 102 - Maneiras de dobrar a carta, imagem ou fotografia aérea

5.5.3.2.6 Orientação pela Bússola


a) Processo bastante eficaz no ambiente operacional do Pantanal, desde que com-
binado com o processo de navegação correto. A técnica de emprego é a descrita
no manual C 21-26 (Leitura de Cartas e Fotografias Aéreas), cabendo destacar
a necessidade de o material estar bem aferido (centrado, sensível e equilibrado).
b) Certas áreas do Pantanal são ricas em depósitos de minério de ferro e manga-
nês. Normalmente são as regiões de morrarias, nas quais a bússola pode sofrer
imprecisão. Dessa forma, caso o sobrevivente identifique essa influência, deve-
-se buscar utilizar meios alternativos até se afastar da área que esteja afetando
a precisão da bússola.
c) Para evitar danos à bússola, o combatente deve tomar algumas precauções
como:
- Manter distância mínima de massas visíveis de ferro;
- não friccionar a tampa de vidro com lenço, flanela, ou outro material;
- não conservar a bússola em ambiente úmido;
- evitar choques violentos; e
- não desmontar o material.
5.5.3.2.7 Orientação pelo Sistema de Posicionamento Global (GPS)
- Em virtude dos tipos de vegetação do ambiente operacional do Pantanal, em
5-33
EB70-CI-11.438
sua maioria, o funcionamento do GPS será eficiente.
- No entanto, a dependência de bateria é um limitador, não devendo o sobrevi-
vente empregá-lo todo o tempo. A sua utilização serve apenas para confirmar a
orientação realizada por outros processos.
5.5.4 NAVEGAÇÃO
5.5.4.1 A carência de pontos nítidos no Pantanal dificulta a orientação, sendo a
técnica do azimute-distância a mais eficiente para a navegação.
5.5.4.2 As curvas dos rios, ilhas e corixos, apesar de escassos, bem como o
emprego de guias, desde que confiáveis, facilitam a navegação.
5.5.4.3 As trilhas encontradas por ocasião da navegação podem indicar, se feita
pelo homem, algum local de moradia, e se feita por animais, a direção de um
curso d’água.
5.5.4.4 Ao deparar-se com curso d’água, no ambiente operacional do Pantanal,
os menores corixos correm em direção aos rios ou baías.
- Em geral, os rios do Pantanal correm na direção do Rio Paraguai. Desse modo,
quanto maior for o curso d’água, maior a probabilidade de o sobrevivente encontrar
uma localidade ribeirinha ou alguma embarcação em deslocamento.
5.5.4.5 A navegação terrestre diurna e noturna se assemelha à empregada no
ambiente operacional da selva.
5.5.4.6 Navegação Terrestre Diurna
5.5.4.6.1 A equipe de navegação, geralmente é composta por 04 homens:
a) homem-ponto;
b) homem-bússola;
c) homem-passo; e
d) homem-carta.
5.5.4.6.2 Para as regiões com maior densidade da vegetação, é recomendável
que o homem-bússola identifique o “seu desvio” previamente. Para se verificar
o desvio são necessárias duas fileiras de placas paralelas, separadas por uma
distância de 1000 m e intervaladas de 25 m (Fig 103).
- Lança-se uma dupla a partir de uma determinada placa, a fim de que alcancem
a placa imediatamente à frente.
- Um será o homem-bússola/homem-passo e o outro o homem-ponto.
- Ao chegar na placa localizada a 1000 m, a dupla identificará o desvio (quantos
metros para a esquerda ou direita).

5-34
EB70-CI-11.438
- A partir de então, o combatente saberá a correção que deverá realizar para cada
1000 m deslocados em vegetação semelhante.

Fig 103 - Identificação do desvio lateral.

5.5.4.6.3 O homem-passo deve aferir seus passos com antecedência. É recomen-


dável aferir com o passo simples, a fim de obter números inteiros, em especial
pela necessidade de parar durante os deslocamentos.
- A técnica para aferição do passo deve levar em consideração terreno plano,
descida e subida. Para isso, medir e marcar 300 m nesses 3 tipos de terreno,
obtendo-se a média.
5.5.4.7 Técnicas de Navegação
5.5.4.7.1 Quando o azimute é desconhecido, a equipe deverá fazer um estudo de
situação para definir qual direção a ser tomada. Isso permite evitar o deslocamento
em círculos, bem como retornar a um ponto anterior (contra-azimute)
5.5.4.7.2 Quando o azimute e a distância aproximada são conhecidos, podem
ser utilizados os processos de busca e localização de objetivos apresentados nas
figuras seguintes, a fim de evitar que os desvios e imprecisão na contagem de
distâncias faça com que o grupo não alcance o destino (Fig 104 a 107).

5-35
EB70-CI-11.438

Fig 104 - Processo quadradro-crescente.

Fig 105 - Processo retangular

5-36
EB70-CI-11.438

Fig 106 - Processo leque.

Fig 107 - Processo “off-set”.


5-37
EB70-CI-11.438
5.5.4.8 Ultrapassagem de Obstáculos
5.5.4.8.1 Os mais diversos obstáculos podem surgir, por ocasião dos deslocamen-
tos no ambiente operacional do Pantanal (árvores de grande porte caídas, baías,
corixos, barrancos, morrarias, etc). Dependendo da situação, pode ser vantajoso
desviar desses obstáculos ao invés de transpô-los, visando a segurança, a velo-
cidade e a economia de forças.
5.5.4.8.1 Para realizar esse desvio, pode-se utilizar processos como tomar como
referência um ponto nítido do outro lado ou compensar por passos e ângulos
retos (Fig 108).

Fig 108 - Desvio de obstáculo pelo processo de compensação com passos e ângulos retos.

5.5.4.9 Navegação Terrestre Noturna


5.5.4.9.1 Todos os aspectos abordados na orientação terrestre diurna são válidos
para a noturna. Contudo alguns aspectos são importantes como:
a) O homem-ponto deve possuir algum tipo de dispositivo que facilite sua identi-
ficação à noite (palha branca em um bastão e em seu equipamento);
b) o homem-bússola deverá portar bússola com dispositivo luminoso; e
c) toda a equipe de navegação deve cerrar as distâncias.
5.5.4.9.2 Os demais sentidos que não a visão serão também utilizados, em espe-
cial o tato, para analisar o espaço do entorno; o olfato, para sentir odores como o
de lenha queimada, comida, cigarro, combustível, entre outros; e a audição, para
identificar sons de motores, vozes e demais.

5-38
EB70-CI-11.438
5.5.4.10 Navegação Fluvial
5.5.4.10.1 A navegação fluvial no ambiente operacional do Pantanal possui al-
gumas peculiaridades em razão da influência das cheias e secas. Desse modo,
como já dito anteriormente, as cartas topográficas, por vezes, não representam
a realidade do terreno.
5.5.4.10.2 Os aspectos abordados para a navegação terrestre se aplicam à na-
vegação fluvial, devendo haver adaptações como por exemplo, o homem-passo
se transforma no homem-tempo.
5.5.4.10.3 Da mesma forma que o homem-passo deve aferir seu passo para uma
eficiente navegação, o homem-tempo assim também deve fazer. Para isso:
a) Deve ser medido o tempo de deslocamento, de acordo com a distância e
velocidade empreendida (seja a remo, seja a motor). Importante que o piloteiro
marque na manopla o limite a ser empreendido de velocidade;
b) a equipe que rema, marcar a quantidade de remadas por minuto, de maneira
que a velocidade não se altere durante a navegação noturna; e
c) essa aferição pode ser feita na margem de um rio ou corixo (100 m) e de acordo
com o resultado, o homem-tempo utilizará para a navegação em uma distância
maior.
- Exemplo: se em 100 m o tempo gasto foi de 30 segundos, para 1000 m serão
300 segundos (5 minutos).
5.5.4.10.4 Como esse processo não tem grande precisão, recomenda-se utilizar o
“off-set” fluvial (Fig 109), no qual estima-se o tempo para chegar ao objetivo, mas
desembarca-se com um tempo menor, de maneira que o processo de vasculha-
mento final seja terrestre (nos casos em que já se saiba o azimute e a distância,
mas o objetivo não seja de fácil identificação, afastado da margem).
- Caso o objetivo seja de fácil identificação e próximo à margem não há necessi-
dade de utilizar esse processo.

5-39
EB70-CI-11.438

Fig 109 - “Off-set” fluvial.

5.5.5 SINALIZAÇÃO
5.5.5.1 Um dos objetivos de um sobrevivente ou grupo é ser encontrado, seja por
meio terrestre, fluvial ou aéreo. Para ser localizado existem processos simples
como silvos de apito, disparos com o armamento, sinais sonoros com a voz, fo-
gueiras, utilização de espelhos, painéis, entre outros. Contudo, esses processos
não permitem a visualização a grandes distâncias.
5.5.5.2 A fumaça é um meio que propicia a identificação a grandes distâncias, em
especial por meio aéreo. Contudo, no Pantanal, há de se observar os cuidados
com a não proliferação do fogo, pois pode atentar contra a segurança do próprio
sobrevivente.
5.5.5.3 Se a situação de sobrevivência foi gerada por um desastre aéreo, os
próprios destroços propiciam ferramentas para utilização como meios de sinali-
zação. Nesse caso, normalmente não se recomenda afastar da aeronave, salvo
para segurança contra explosões. Esse não afastamento se deve pelo motivo
de a aeronave ser um bom meio de ser encontrado, pois o rastro deixado pela
queda permite a identificação aérea. Além disso, muitas aeronaves possuem
transmissores de localização de emergência, os quais emitem sinais de alerta.
5.5.5.4 Código de Sinais Visuais Terra-Ar
5.5.5.4.1 Recomenda-se que todos os militares em missão operacional ou não,
conheçam ou portem o código de sinais visuais terra-ar (Fig 110). Esse é um mé-
todo de comunicação com as equipes de busca e salvamento aéreo, de maneira
que possa auxiliar na tomada de decisão quanto a qual procedimento tomar.
- Em alguns casos, a identificação de um grupo de sobreviventes não é segui-
da de imediato de seu resgate, portanto, saber comunicar as necessidades
pode contribuir para a sobrevivência até que ocorra o salvamento definitivo.
5-40
EB70-CI-11.438

Fig 110 - Quadro de códigos Terra-Ar.

5.5.5.4.2 A aeronave que identificar o sinal do sobrevivente poderá se comunicar:


a) Lançando uma mensagem;
b) balançando as asas ou piscando as luzes de aterragem ou de navegação, para
simbolizar que a mensagem foi entendida;
c) ou até mesmo lançando equipamento de comunicação, a fim de instruir os
procedimentos.

5-41
EB70-CI-11.438

5-42
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO VI
CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E PRIMEIROS SOCORROS

6.1 GENERALIDADES
6.1.1 A capacidade de sobrevivência residirá, basicamente, numa atitude mental
adequada para enfrentar situações de emergência e na posse de estabilidade
emocional, a despeito de sofrimentos físicos decorrentes da fadiga, da fome, da
sede e de ferimentos, por vezes, graves.
6.1.2 Se o indivíduo ou o grupo de indivíduos não estiver preparado psicologica-
mente para vencer todos os obstáculos e aceitar os piores reveses, as possibili-
dades de sobreviver estarão sensivelmente reduzidas.
6.1.3 Em casos de operações militares, essa preparação avultará então de valor.
O conhecimento das técnicas e dos processos de sobrevivência constituirão em
requisitos essenciais na formação do indivíduo destinado a sobreviver no Pantanal,
quer em operações militares, quer por outra circunstância qualquer.
6.1.4 Conservar a saúde em bom estado será requisito de especial importância,
quando alguém se encontrar em situação de só poder contar consigo mesmo para
salvar-se ou para auxiliar um companheiro. Da saúde dependerão, fundamental-
mente, as condições físicas individuais e coletivas.
6.1.5 No Pantanal, saber defender-se contra o calor e o frio, saber encontrar água
e alimento, saber prestar os primeiros socorros, em proveito próprio ou alheio,
serão tarefas de grande importância para a preservação da saúde.

6.2 CONSERVAÇÃO DA SAÚDE


6.2.1 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO CALOR
6.2.1.1 Do conjunto de regras que se pode utilizar para a conservação da saúde,
algumas não poderão ser aplicadas no Pantanal ou serão seguidas sofrendo as
injunções do momento, enquanto outras deverão ser observadas à risca, sob
pena da sanção imediata. Assim, visando a sobreviver nas melhores condições
possíveis, cada indivíduo deverá ou grupos de indivíduos deverão observar certas
regras.
6.2.1.2 Com o intuito de poupar forças, a fadiga em excesso deverá ser evitada.
Quando se estiver realizando algum trabalho que exija esforço físico ou um deslo-
camento através do Pantanal, deverá ser estabelecido um tempo para descanso.
Como dados médios de planejamento, o tempo de 10 ou 15 minutos para cada
hora de trabalho físico poderá, em princípio, ser uma base de partida. Nas horas
mais quentes do dia, o repouso deverá realizar- se nos locais mais cômodos que
se apresentarem no momento. Se possível, o homem se aliviará de toda carga
6-1
EB70-CI-11.438
que, porventura, transportar e deverá deitar-se.
6.2.1.3 Durante os repousos maiores, normalmente à noite, deve procurar dormir.
Mesmo que não consiga a princípio, conciliar o sono, o simples ato de deitar-se,
relaxar os músculos e a mente, causará efeitos recuperadores. Não permitir que
a aflição decorrente da situação por que se passa concorra para o desequilíbrio
emocional; deve-se pensar com calma e pesar todas as possibilidades favoráveis.
6.2.1.4 O calor no Pantanal e o clima seco são constantes e implicam, para o ser
humano, em sudação excessiva. Em consequência, se não houver a observância
de repouso frequente, a par de uma complementação abundante de água e sal,
alguns efeitos poderão advir em prejuízo do indivíduo.
6.2.1.5 A exaustão resulta da excessiva perda de água e de sal pelo organismo,
consequência da forte transpiração. Seus sintomas são palidez, pele úmida, pe-
gajosa e fria, náuseas, tonteiras e desmaios. O socorro a ser prestado consistirá
em fazer com que o indivíduo se deite em área sombreada, mantendo-lhe os pés
em plano mais elevado que o resto do corpo e as roupas afrouxadas, dando-lhe
de beber água com solução reidratante.
- Para isso, dissolver 1 sachê de Soro de Reidratação Oral (SRO) em um cantil
de água, na quantidade de 3 a 5 cantis no espaço de 12 horas.
- A solução deverá ser ministrada aos goles, a intervalos regulares (2 a 3 minutos
entre cada gole ou ingestão), pois, se tomada de vez, poderá ocasionar vômitos,
estabelecendo-se um círculo vicioso: vômitos e desidratação.
6.2.1.6 As câimbras resultam de um esforço físico continuado que implique em
demasiada sudação, sem que, preventivamente, se tenha tomado uma quantida-
de suplementar de SRO. Elas poderão atingir qualquer parte muscular do corpo,
sendo mais comuns nas pernas, nos braços e na parede abdominal. Frequente-
mente haverá vômitos e enfraquecimento. O socorro será o mesmo indicado para
a exaustão, à base de ingestão de solução reidratante em grande quantidade.
6.2.1.7 Quanto à insolação e intermação, os mecanismos de dissipação do calor
não estão funcionando, ocasionando o aumento da temperatura corporal. Esse
quadro oferece risco de morte para o indivíduo, se não for tratado com urgência.
Além da elevação da temperatura do corpo, que normalmente conduz à incons-
ciência, são situações graves, com alta taxa de mortalidade.
- Os sintomas são pele quente e seca, com ausência do suor, dor de cabeça,
náuseas, rosto congestionado e possíveis delírios.
6.2.1.8 O mais simples e importante objetivo no socorro é o abaixamento da
temperatura do corpo, o mais rapidamente possível; e o melhor modo de conse-
guir é mergulhando o corpo em água fria ou gelada, se possível. Caso contrário,
o paciente deverá ser mantido à sombra, com a roupa removida, derramando
bastante água sobre ele. O resfriamento deverá ser continuado, mesmo durante

6-2
EB70-CI-11.438
a evacuação. Se consciente, o indivíduo deverá beber SRO (como nos casos
de exaustão ou câimbras); se inconsciente, idêntico procedimento deverá ser
observado, tão logo volte a si.
6.2.1.9 como citado antes, dos efeitos fisiológicos do calor, os mais comuns são a
exaustão e as câimbras, pois a insolação e a intermação, apesar de mais perigo-
sos, no Pantanal quase não se fazem sentir. O corpo, normal e constantemente,
estará submetido a um processo de refrigeração, quer pelo próprio suor, quer pela
água das chuvas, quer ainda pela água dos alagadiços, rios ou riachos. Será
normal, pois, e até mesmo agradável, o indivíduo permanecer, durante o dia,
com o corpo molhado. Para proteção contra quaisquer efeitos, algumas regras
deverão ser observadas, tais como:
6.2.1.9.1 Deve-se beber bastante água, mesmo que não se sinta sede. Uma vez
constatado o excesso de suor, deve-se beber água regularmente, para isto, o
cantil deve ser frequentemente recompletado.
6.2.1.9.2 A aclimatação é uma regra que não terá aplicação para o indivíduo que,
de uma hora para outra, por acidente, se encontrar numa região de Pantanal. Ha-
veria, nesse caso específico, uma aclimatação forçada, independente da vontade.
O processo de aclimatação possui quatro características principais:
a) Começa no 1º (primeiro) dia e poderá estar bem desenvolvido no 4º (quarto dia);
b) haverá um aumento na quantidade de suor, aumentando assim a perda de sal;
c) poderá ser acelerado com a realização de exercícios físicos; e
e) as condições de aclimatação poderão ser retidas por cerca de uma ou duas
semanas, após a saída da área afetada pelo calor.
6.2.1.9.3 Além de não se alimentar em excesso deve-se procurar vestir adequa-
damente. Essa última é uma regra difícil de ser seguida, pois se o tecido for leve,
estará sujeito a ser rasgado pela vegetação e, caso seja grosso, aumentará a
sudação, dificultará os movimentos e criará uma sensação de desconforto. Se
a vestimenta proteger em demasia, dos pés à cabeça, dificultará a ventilação e,
caso contrário, facilitará o ataque dos insetos (formigas, mosquitos, mutucas e
outros), e os arranhões pela vegetação. Como resumo, a vestimenta será, em
última instância, um problema a mais de adaptação.
6.2.1.9.4 Trabalhar à sombra e compreender o calor. Essas regras para a mente,
trarão benefícios psicológicos com reflexos imediatos ao corpo humano. O conhe-
cimento dos efeitos que o calor poderá produzir e dos processos para evitá-los
ou, no mínimo, atenuá-los, poderá salvar vidas e é de grande importância, em
particular, para o combatente do Pantanal.
6.2.2 EFEITOS FISIOLÓGICOS DO FRIO
6.2.2.1 O frio no Pantanal, por estranho que pareça, também se faz sentir. Não

6-3
EB70-CI-11.438
requer, entretanto, medidas especiais adotadas em regiões de clima frio. No
Pantanal há o fenômeno da friagem e das geadas que atingem algumas áreas e,
mesmo em outras, onde ele não ocorre, são comuns as quedas de temperatura
à noite. Uma manta de lã proporcionará suficiente proteção. Efeitos tais como “pé
de trincheira” e congelamento de partes do corpo são raros de ocorrer.
6.2.2.2 No entanto, a hipotermia tem maior probabilidade de ocorrência, pois é
causada pela exposição demasiada ao frio, com a diminuição da temperatura
corporal para abaixo de 30º. Caso esteja variando entre 26ºC e 28ºC, poderá
ocorrer a morte por falha cardíaca. A hipotermia poderá ser causada, também,
pela combinação de atividades extenuantes, clima frio e úmido, pouco agasalho,
má alimentação e má hidratação.
6.2.2.3 Entre os sintomas de hipotermia, destacam-se:
- Sensação de desorientação;
- fadiga forte;
- tremores;
- formigamento, pele pálida e dura, sonolência, alucinações, pupilas dilatadas e
parada cardiorrespiratória.
6.2.2.4 A ocorrência de quaisquer sintomas relacionados à hipotermia exige a
suspensão imediata da atividade por parte do afetado. Caso esses sinais não
sejam considerados, a exposição excessiva pode causar isquemia e resultar em
dano tecidual. Nos casos extremos, o dano é irreversível e o tecido deverá ser
removido cirurgicamente.
6.2.2.5 Entre as formas de tratamento há:
a) Aquecer o tronco de pessoas acometidas de lesão pelo frio, com banhos quentes
(37ºC) ou toalhas pré-aquecidas;
b) cobri-lo com cobertores de emergência ou outros meios fortuitos;
c) colocá-lo próximo a uma fogueira (atentando para não causar um acidente);
d) regular a ingestão simultânea de líquidos glicosados na temperatura do corpo; e
e) solicitar rapidamente a sua evacuação (quando possível).
6.2.3 CUIDADOS CONTRA DISTÚRBIOS MENTAIS
6.2.3.1 O Pantanal poderá constituir-se em um ambiente desafiador para indiví-
duos não preparados e um tanto perigoso para aqueles que não conhecem suas
características. A sensação de medo é normal em homens que se encontram
em situação de perigo. Entretanto, é bom lembrar que outros já sentiram medo
e, a despeito disso, conseguiram se sair bem, perante as dificuldades e perigos.
6.2.3.2 A fadiga e o esgotamento, resultantes de grandes privações, poderão mui-

6-4
EB70-CI-11.438
tas vezes, conduzir a distúrbios mentais, manifestados sob as formas de temores
graves, cuidados excessivos, depressão ou superexcitação.
- O melhor modo de evitá-los será procurando dormir e descansar o máximo
possível; todavia, algumas atividades deverão ser mantidas; e
- além disso, o bom humor será um tônico real, pois é contagiante.
6.2.3.3 Maiores atenções deverão ser dedicadas àqueles que se encontrarem
física ou fisiologicamente doentes, a fim de evitar o trauma emocional. Um mau
discernimento da situação, causado por distúrbio mental, poderá ser tão fatal
quanto um tiro do inimigo ou uma picada de serpente peçonhenta. Para quem quer
sobreviver, será fundamental evitar o pânico, e esse no Pantanal, representará
o pior inimigo a vencer.
6.2.4 OUTRAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
6.2.4.1 Cuidados com os Pés
6.2.4.1.1 No Pantanal, andar a pé é uma realidade comum. Longas caminhadas,
por terrenos permanentemente alagados, serão a regra geral. Logo a importância
dos cuidados com os pés, os quais deverão ser mantidos limpos, lavando-os e
secando-os com a frequência possível. Entretanto, andar no Pantanal com os
pés secos será praticamente impossível, pois o suor, a chuva e as águas dos
alagadiços, rios e corixos não o permitirão; por isso, tais cuidados deverão ser
observados, particularmente, durante as paradas para descanso prolongado.
6.2.4.1.2 As meias não deverão estar rasgadas nem remendadas e o calçado
deverá estar sendo constantemente examinado. O uso de meias finas de algo-
dão é recomendável, pois elas absorvem a umidade, permitem a evaporação,
apresentam pouca deformação após secarem e, assim, protegem melhor os pés
do que as meias grossas de algodão, de lã ou de náilon.
6.2.4.1.3 Os calos ou calosidades não deverão ser cortados, para evitar infecção.
Mantendo-se as unhas limpas e curtas, evita-se a unha encravada e a proliferação
de microrganismos entre elas e a pele. Caso haja atrito entre o calçado e a pele,
deverá ser aplicado esparadrapo na parte afetada. Se houver formação de bolhas,
essas deverão ser perfuradas na base, com o máximo de desinfecção possível,
porém sem arrancar a porção de pele que recobre a lesão e protegendo-se depois
o local com esparadrapo ou gaze.
6.2.4.2 Proteção dos Olhos e Ouvidos
6.2.4.2.1 Os olhos estarão permanentemente sujeitos à ação de pequenos insetos
e de partículas diversas. A proteção ideal seria com o uso de óculos de um tipo
especial; entretanto, a visibilidade efetiva seria um pouco afetada, o que não é
aconselhável no Pantanal, onde é fundamental saber enxergar. Além disso, isso
constituiria, por outro lado, em mais um incômodo e preocupação.

6-5
EB70-CI-11.438
6.2.4.2.2 Os ouvidos estarão, do mesmo modo, sujeitos àquela mesma ação e
uma boa proteção seria a colocação de algodão; mas, isto reduziria a capacidade
auditiva e, no Pantanal, também é fundamental saber ouvir. Em consequência,
para evitar que esses órgãos sejam afetados, o melhor será manter-se atento
e preventivo, por todo ambiente; constituindo em mais uma preocupação, que
compensará ao longo de toda jornada.
6.2.4.2.3 O emprego de mosquiteiros de cabeça permite a proteção dos olhos
e ouvidos quando em situações de sobrevivência ou nas demais apresentadas
durante as operações no Pantanal.
6.2.4.3 Precaução contra Infecções Cutâneas
- A epiderme constitui a primeira linha de defesa contra as infecções. Por isso,
qualquer arranhão, corte, picada de inseto ou queimadura, por menor e mais
inofensivo que pareça, merecerá cuidado; qualquer antisséptico deverá ser apli-
cado, preventivamente.
- As mãos não deverão tocar a parte afetada; será suficiente a aplicação do curativo
individual, se houver; caso não haja, o ferimento deverá ser mantido protegido da
melhor forma possível ou, em último caso, exposto mesmo ao ar livre.
6.2.4.4 Conservação do Corpo, Roupa e Local de Estacionamento
6.2.4.4.1 A limpeza do corpo é a principal defesa contra os germes infecciosos. As
unhas devem ser mantidas cortadas para evitar o desenvolvimento de parasitas
entre elas e a pele. Um banho diário, hábito fácil de adquirir-se no Pantanal, com
sabão, ou mesmo sem ele, dedicando especial atenção à higiene das partes
dobradas e dos órgãos genitais, será ideal. Se esse banho não for possível, a
limpeza na maior parte do corpo deverá ser mantida, particularmente das mãos,
rosto, axilas, virilha e pés (álcool em gel, pano umedecido, etc).
6.2.4.4.2 Após as refeições, dentes e boca deverão ser limpos (pode-se utilizar
meios de fortuna apresentados no Cap III). As peças do vestuário, mantidas
limpas, ajudarão a proteger contra infecções cutâneas e parasitas, e em caso
de dificuldade de lavá-las, deverão ser sacudidas e expostas ao ar livre. O uso
de cuecas justas deve ser evitado, pois, nas proximidades das virilhas e órgão
genitais, poderá provocar assaduras pela umidade acumulada, que favorecem a
ação de microrganismos. Esses procedimentos concorrerão para uma sensação
maior de conforto.
6.2.4.4.3 No caso de um grupo, será interessante que os homens se inspecionem
mutuamente, corpo e roupa. Um local de estacionamento no Pantanal deverá ser
naturalmente um lugar limpo, no qual não haja acúmulo das águas das chuvas ou
da presença de animais e insetos. A manutenção desse estado será simples, bas-
tando uma fossa para lixo e outra para dejetos, suficientemente afastadas, sempre
cobertas com terra após o uso e distantes da fonte de água, quando houver. Essa
fonte será, normalmente, um corixo e para sua boa utilização deverá ser dividida

6-6
EB70-CI-11.438
em seções: a montante, água para beber e cozinhar; a seguir, água para banho,
água para lavagem de roupa e, por fim, água para qualquer outro uso, a jusante.
6.2.5 DOENÇAS INTESTINAIS
6.2.5.1 Doenças intestinais normalmente são causadas por germes existentes
nas fezes, urina ou alimentos contaminados. Geralmente, são transmitidos por
alimentos e água contaminada que, por sua vez, são levados pelas mãos ou
utensílios de rancho. As principais doenças intestinais são: a diarreia (infecciosa
ou alimentar), a cólera, as intoxicações e infecções alimentares, as infestações
helmínticas (vermes) e as febres (tífica, paratífica e ondulante).
6.2.5.2 Visando a proteção da água, toda fonte de água deverá ser cuidadosamen-
te protegida da contaminação pelos detritos humanos ou animais, a qual poderá
ocorrer pela drenagem de superfície ou subsolo. As fossas ligadas às latrinas e
cozinhas deverão ser localizadas de modo que a infiltração e drenagem proces-
sem de forma afastada e sem perigo para as fontes de água. Normalmente, o
corixo será a fonte mais comum e, nesse caso, deverá ser dividida em seções,
conforme exposto anteriormente.
6.2.5.3 Quanto à purificação da água no Pantanal, raramente será feita como em
outras áreas, a não ser que o grupo esteja aparelhado com o material necessário e
vá permanecer por espaço de tempo relativamente longo em um estacionamento.
Sempre que possível, será purificada a água do cantil que for obtida no interior
do Pantanal, mesmo aquela colhida dos rios e corixos, pois esses, também são
fontes de água para os animais que podem contaminá-los com fezes e urina.
6.2.5.4 Além disso, vegetais em decomposição nas margens e no leito de cursos
de água e, ainda, o uso humano a montante desses podem também, contaminá-
-los. Ainda assim, caso se deseje purificar essa água ou mesmo a proveniente
de outras fontes, deverão ser usados os comprimidos para esse fim destinados,
como os de hipoclorito (halazone e outros a base de cloro), na dose de um ou
dois por cantil, com a espera de 30 min para, então, poder ser bebida.
6.2.5.5 Outro processo de purificação será com a fervura da água e depois a
aeração. Com um minuto de ebulição e a passagem de um recipiente a outro,
ao ar livre, será o suficiente. Não só a água para beber, mas também a utilizada
em bochechos e limpeza da boca (escovar os dentes), deverá ser purificada pela
fervura ou pelo comprimido de hipoclorito. Deve ser evitada a utilização de água
obtida em fontes paradas, pois esse é um ambiente propício ao desenvolvimento
de amebas de vida livre, as quais não são combatidas pelos purificadores de
hipoclorito distribuídos à tropa (para mais informações vide Cap IV).
6.2.5.6 Os cuidados de inspeção e proteção dos alimentos devem ser tomados.
Todo alimento deverá sofrer inspeção, no que diz respeito à sua aptidão para
consumo. Essa inspeção deverá ser feita também nos gêneros que, após terem
permanecido guardados, venham a ser novamente utilizados. Quando guardados,

6-7
EB70-CI-11.438

deverão ser protegidos convenientemente (os sacos plásticos servem muito bem
para esse fim). Será necessário sempre, muita atenção com aqueles passíveis
de perecimento.
6.2.5.7 Vários processos existem para se guardar alimentos, entre eles, pode-
-se destacar os processos em que os alimentos são: imersos em água corrente,
enterrados e pendurados em galhos de árvore. É importante destacar que essas
formas de proteção dependem do tipo do alimento, do tempo de permanência
no local, das condições de segurança contra animais e da quantidade ou volume
armazenado. Como será normal no Pantanal, cada homem deve preocupar-se
com sua alimentação. Ressaltando que essas medidas de inspeção e proteção
terão maior eficácia para o caso de grupos e quando houver permanência mais
duradoura nos locais de estacionamento.
6.2.5.8 Quanto à higiene do local de rancho, não será normal, em se tratando de
sobrevivência no Pantanal, a existência de instalações de rancho de campanha,
na acepção genérica do termo. Elas existirão quando do desenvolvimento de
operações militares no Pantanal e, nesse caso, todas as medidas de higiene pre-
conizadas pelos manuais serão aplicadas. Isto quer dizer que, em se tratando de
sobrevivência, não haverá rancho organizado, o que entretanto, não invalidará a
aplicação dessas medidas, sempre que possível, quando se tratar de alimentação.
6.2.5.9 Para a missão de preparo e distribuição da alimentação, não deverão ser
designados indivíduos portadores de moléstias transmissíveis, com inflamações
cutâneas, feridas ou quaisquer outras lesões. Esses indivíduos, se existirem no
grupo, deverão ser alvo de atenção e cuidados especiais. Os utensílios de rancho,
tais como marmitas, talheres e copos, tão logo tenham sido usados, deverão ser
limpos e lavados antes de guardados.
6.2.5.10 Os restos de alimentos deverão ter o destino geral dos detritos. E dar
o destino adequado aos detritos, quaisquer que sejam suas origens, é medida
fundamental, quando se tratar de um grupo em estacionamento mais ou menos
estável. No Pantanal, entretanto, não será normal a execução dessa medida, con-
forme as regras de higiene, pelo simples fato de que faltará o material necessário,
ainda mais em se tratando de sobrevivência. Será suficiente que os detritos sejam
enterrados, evitando que insetos e outros pequenos animais tornem-se veículos de
doenças intestinais. Os locais selecionados para enterro deverão ficar afastados
daqueles em que a presença do homem será normal.
6.2.5.11 Para o controle de vetores transmissores (moscas), considera-se que o
inseto, para sua reprodução, escolhe os locais de detritos, necessita de calor e
umidade e sente atração pelo cheiro. Dessa forma, é fácil concluir que o controle
será simples, planejando o destino conveniente aos detritos e protegendo os
alimentos que desprendam cheiro (principalmente carnes).
6.2.5.12 Com o intuito de evitar a contaminação generalizada do grupo sobrevi-
vente, torna-se muito relevante o controle do pessoal doente. Para isso, deve-

6-8
EB70-CI-11.438
-se atribuir especial cuidado a um companheiro que venha a sofrer de doenças
intestinais, principalmente os acometidos de diarreia. A rigorosa higiene será
necessária para evitar que outros possam ser contaminados, e para tanto, os
procedimentos a seguir serão suficientes:
- O ato de defecar deverá ser realizado em lugar apropriado e o mais longe pos-
sível do local de estacionamento e da fonte de água, cobrindo os dejetos com
terra para evitar a contaminação por insetos.
- Manutenção do asseio corporal em caráter rigoroso.
- Ingestão de bastante água, para evitar a desidratação utilizando SRO ou, em
caso de medidas extremas, fazer a mistura de sal, açúcar e água na proporção
de uma colher de açúcar e uma “pitada” de sal para cada cantil.
6.2.6 OUTRAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
6.2.6.1 Além das doenças intestinais, merecem atenção especial aquelas trans-
mitidas por insetos e parasitas, as contagiosas e outras. Quanto às doenças
transmitidas por insetos e parasitas, pode-se afirmar que são aquelas em que um
inseto ou um parasita, que busca o contato com animais ou pessoas infectadas,
torna-se o agente transmissor (esse contato pode ser pelo simples fato de sugar
o sangue de suas vítimas).
6.2.6.2 Destacam-se entre as doenças transmissíveis
a) A malária, transmitida pelo mosquito “Anófele” e outros de várias espécies
(Fig 111);
b) a febre amarela urbana, pelo “Aedes aegypty” (Fig 112);
c) a febre amarela silvestre, pelo “Haemagogus”;
d) a dengue, pelos “Aedes aegypty” e “Aedes albopictus”;
e) a filariose, pelo “Culex”;
f) a tularemia, por moscas, percevejos, piolhos, pulgas e, também, pelo contato
com material contaminado;
g) a febre recorrente, por piolhos e percevejos;
h) o tifo, pelos piolhos do corpo e pulgas; e
i) a leishmaniose, pelo mosquito “Phlebotomus”.

6-9
EB70-CI-11.438

Fig 111 - Mosquito da malária “Anófele”.

Fig 112 - Mosquito da dengue “Aedes aegypty”.

Fig 113 - Mosquito da leishmaniose “Phlebotomus”

6.2.6.3 Generalidades sobre as Doenças Transmitidas por Mosquitos


6.2.6.3.1 As doenças mais comuns no Pantanal são a febre amarela, a filariose,
a leishmaniose, protozooses e parasitoses. Embora a malária seja rara na região,
existem casos registrados. Elas não existirão se forem exterminados os mosquitos
transmissores, mas esse combate só poderá ser feito, cuidadosa e frequen-
temente, em locais em que haja recursos para isso, o que não acontecerá no
Pantanal, onde a existência da água em abundância propiciará a sua proliferação.
6.2.6.3.2 O perigo da transmissão dessas doenças pelos insetos, ronda as pro-

6-10
EB70-CI-11.438
ximidades dos núcleos populacionais e neles reside, pois os mosquitos não têm
capacidade de voo, além de 1.500 m, ou pouco mais, se ajudados pelo vento.
Tais apreciações, contudo, não deverão ser consideradas com segurança total
para quem está no Pantanal, porque o ser humano poderá ser apenas o porta-
dor da doença, abrigando-a e podendo transmiti-la, sem, entretanto, apresentar
os sintomas. Por outro lado, os animais silvestres poderão ser os hospedeiros
intermediários, no lugar do homem.
6.2.6.4 Medidas adotadas contra as Picadas de Insetos
6.2.6.4.1 O uso de mosquiteiros para dormir ou proteger as partes expostas
do corpo será útil, bem como, o de luvas e de repelentes. Estacionar em locais
altos, afastados principalmente de águas paradas. Dormir vestido, colocando as
extremidades das calças para dentro dos canos das meias ou bocas do calçado,
será mais um meio de evitar picadas.
6.2.6.4.2 Caso sejam utilizados tapiris, cabanas, choças ou palhoças, deverá ser
feita antes uma inspeção minuciosa nas frestas, onde costuma agasalhar-se o
“barbeiro”, transmissor da doença de Chagas. As picadas dos insetos provocarão
comichão e será preciso muito controle para não as coçar, o que é aconselhável
para evitar sangrar e, desse modo, dificultar a propagação dos germes.
6.2.6.4.3 É sabido, que os mosquitos atacam ao entardecer e durante a noite,
mas no Pantanal eles atuam também durante o dia. Sendo assim, as medidas de
proteção tendem naturalmente a ser relaxadas, se tiverem de ser cumpridas por
espaços de tempo muito longos. Entre outras dificuldades para a manutenção das
medidas de proteção, existe a necessidade de grande estoque de repelentes; os
mosquiteiros perturbam a visão e engancham na vegetação; as luvas diminuem
a refrigeração das mãos, tiram o tato e ficam gastas com facilidade; e o ato de
permanecer sempre vestido, protegendo ao máximo o corpo, concorre para o
aumento da sudação.
6.2.6.4.4 Todas essas nuances conduzirão o homem ora a observar rigorosamente
as medidas protetoras, ora a relaxá-las. O fato, entretanto, é que algumas delas
poderão e deverão ser seguidas com prioridade, tais como:
- Usar mosquiteiro para dormir;
- estacionar em local afastado de águas paradas, para passar a noite ou para
proporcionar descanso prolongado durante o dia; e
- examinar abrigos antes de ocupá-los.
6.2.6.4.5 Outras medidas de expediente poderão também ser seguidas, como
untar as partes expostas do corpo, como mãos, rosto e pescoço, com lama em
casos extremos, em substituição a repelentes e luvas; e acender fogueiras no
interior dos abrigos. Pode-se, inclusive, adotar os processos usados pelos ha-
bitantes da área, para proteção contra mosquitos, como a aplicação de óleo de

6-11
EB70-CI-11.438

hortelã-brava ou pitanga.
6.2.6.4.6 No caso da malária, atualmente não se aplica o uso de pastilhas quí-
micas à base de quinina, cloroquina, primaquina e mefloquina como tratamento
preventivo, devido aos efeitos colaterais para o organismo e pelo mascaramento,
durante o período de incubação, provocado pelo “Plasmodium”. Ressalta-se que,
para todos os efeitos, nenhum dos produtos acima possui eficiência comprovada.
6.2.6.4.7 O reconhecimento do mosquito transmissor da malária poderá ser feito,
observando-se que ele pousa com a parte posterior bastante mais elevada que
a anterior, formando com o plano de pouso um ângulo aproximado de 45º, e que
em suas asas existem manchas escuras. A doença é conhecida também com os
nomes de maleita, impaludismo e febre intermitente. Atualmente, recomenda-se
para a região a vacinação antiamarílica obrigatória, contra febre amarela silvestre.
6.2.6.5 Generalidades sobre as doenças transmitidas por parasitas
6.2.6.5.1 A tularemia, a febre recorrente e os vários tipos de tifo constituem um
grupo de doenças transmitidas pelos piolhos, pulgas, percevejos e carrapatos.
Diagnosticado o mal, o tratamento caberá ao médico. Preventivamente, o que se
poderá fazer, será procurar destruir esses vetores.
6.2.6.5.2 Assim, os piolhos que transmitem o tifo epidêmico (ou exantemático),
a febre das trincheiras e a febre recorrente, e que pertencem a três espécies:
piolho do corpo (principal responsável pelas doenças), piolho da cabeça e piolho
do púbis (chato), deverão ser evitados e destruídos, se for o caso, pela execução
de um conjunto simples de medidas.
6.2.6.5.3 Os militares devem tomar banho com sabão, frequentemente; quando
necessário, devem raspar os cabelos das várias partes do corpo; atentar para a
utilização de pós inseticidas; após o banho, procurar aplicar loções de permetrina
a 5% nas áreas afetadas por no máximo 3 dias; e os pentes finos devem ser,
constantemente passados na cabeça.
6.2.6.5.4 O pó inseticida também deverá ser usado nas roupas, particularmente
nas costuras e dobras. Quando não se dispuser desses materiais, o que será
normal em sobrevivência, as medidas preventivas terão de se reduzir ao banho
e às inspeções para a apanha do piolho, quer nos homens, quer nas roupas ou
equipamento.
6.2.6.5.5 As pulgas (vetores do tifo endêmico e da peste bubônica), têm por veícu-
los o rato e outros roedores de pequeno porte, e mesmo o cão e o gato. Portanto,
a primeira medida preventiva será a eliminação ou afastamento desses animais.
Caso algum desses últimos, seja considerado de estimação, deverá ser banhado
frequentemente com água e querosene em mistura a sabão. No caso dos ratos,
eles poderão ser apanhados por meio de armadilhas e devem ser eliminados.
6.2.6.5.6 Os carrapatos são responsáveis pelo chamado tifo de carrapato ou “tifo

6-12
EB70-CI-11.438

exantemático de São Paulo”, como também se denomina o mal. Sua destruição


será difícil, se não impraticável, pois eles serão encontrados em grande número
de animais silvestres, tais como esquilos, coelhos, antas, gambás, bem como nas
áreas, particularmente das trilhas, onde vivem esses animais.
6.2.6.5.7 A vistoria da roupa e do corpo será o melhor modo de encontrar e destruir
o carrapato. Caso ele já esteja encravado na pele, não deverá ser espremido,
pois poderá fazer com que ele lance sua saliva na ferida. Deverá ser retirado
torcendo-se seu corpo, fazendo com que todo o animal seja retirado, inclusive
seu aparelho bucal que estava previamente fixado na ferida.
6.2.6.5.8 Os percevejos poderão existir em quaisquer lugares em que possam viver
em íntima associação com o homem. Escondem-se em locais que lhes possam
oferecer proteção e disfarce; alimentam-se à noite e são capazes de sobreviver
por seis meses sem alimento algum. Além disso, são responsáveis por um tipo
de febre recorrente.
- A fumigação e o uso de inseticidas líquidos, gasolina, querosene, água ferven-
te, serão processos para destruir os parasitas. Com a falta desses, restam as
inspeções visuais.
6.2.6.5.9 Muitas doenças contagiosas, como as venéreas, a difteria, a gripe co-
mum, o sarampo, a tuberculose, a pneumonia, a varíola, a rubéola e a caxumba,
são contraídas pelo contato com elementos enfermos portadores dessas doenças.
Deve-se, por isso, ter especial cuidado nos aglomerados humanos, por onde se
tenha de passar em busca da sobrevivência.
6.2.6.6 Doenças Diversas
6.2.6.6.1 Existem, ainda, outras enfermidades encontradas na região pantaneira
e que merecem ser citadas: a leishmaniose transmitida pela picada do “Phleboto-
mus” e a esquistossomose. Essa última é transmitida por caramujos encontrados
nas águas.
6.2.6.6.2 Finalmente, o tétano é resultante da contaminação de feridas e escoria-
ções. A prevenção repousa no emprego da vacina antitetânica. Os não vacinados,
portanto, deverão ter bastante cuidado com os ferimentos na pele, os quais, tão
logo verificados, deverão ser desinfetados e mantidos higienicamente.

6.3 PRIMEIROS SOCORROS


6.3.1 INTRODUÇÃO
6.3.1.1 Algumas medidas deverão ser adotadas em face de vários acidentes
passíveis de acontecer no Pantanal. Se aplicadas, possibilitarão a sobrevivência,
aumentando a capacidade de permanecer no ambiente, quer individualmente,
quer em grupo.

6-13
EB70-CI-11.438

6.3.1.2 Algumas medidas não constam de manuais e outras poderão ser comple-
mentadas pela documentação específica. Essas medidas devem ser tratadas com
prioridade aos acidentados que apresentarem hemorragias e fraturas expostas.
6.3.2 EXAUSTÃO, CÂIMBRAS, INSOLAÇÃO E INTERMAÇÃO
6.3.2.1 Na falta de SRO, usar-se-á solução de soro caseiro (uma colher de sopa de
açúcar e uma pitada de sal). Poderá, também, ser obtido sal após cortar em tiras
as moelas das aves e colocá-las para ferver com água. Após a evaporação total
da água, retiram-se os pedaços da moela e no fundo do recipiente (normalmente
um caneco ou lata) existirá um sal grosseiro em condições de uso.
6.3.3 FERIMENTOS DE MODO GERAL
6.3.3.1 Os regionais recomendam o s tratamentos alternativos, que só devem
ser utilizados em situação de carência dos recursos mais adequados (vide Cap
III). Primeiramente, devemos lavar o ferimento com água corrente e sabão e
protegê-lo com atadura. A lavagem poderá ser feita com material nativo como:
acuri; água de coco (é um líquido estéril e com sais); cambará (seiva); embaúba
(chá do broto); erva-de-santa-luzia (líquido da flor, que é encontrada durante o
ano todo).
6.3.3.2 Após isso, aconselha-se aplicar: amora-do-mato ou mora ou taiúva (cas-
ca); angico (seiva ou fervido da casca); araçá (casca); aroeira (fervida da casca);
bálsamo (casca); barbatimão (fervido da casca); curte-seco (casca); embaúba
(fruto verde); erva-de-bicho (fervido da planta); ingá (casca); jacarepito (casca);
pau-santo (resina); pau-terra e pau-terra- macho (casca); piúva (seiva ou casca);
ou quina-do-cerrado (casca em pó).
6.3.4 QUEIMADURAS
6.3.4.1 Os regionais recomendam os tratamentos alternativos, que só devem ser
utilizados em situação de carência dos recursos mais adequados (vide Cap III).
Aplicar: angico; aroeira; barbatimão; vinhático (árvore do cerrado); almécega (re-
sina); cacto (suco); ou o raspado (limo da árvore). Após isso, cobrir com qualquer
gordura e colocar leite de bananeira.
6.3.5 FERIMENTOS INFECCIONADOS
6.3.5.1 Os regionais recomendam os tratamentos alternativos, que só devem ser
utilizados em situação de carência dos recursos mais adequados (vide Cap III).
Nesses casos, aplicar: açoita-cavalo (casca); algodãozinho-do-cerrado (casca,
em compressa); almécega (resina); figueirinha (leite); gordiana (folha); gravatei-
ro (fruto); guanandi (resina da casca); joá (fruto, aplicado externamente); lixeira
(casca); lixeirinha (casca ou folha); malva-branca (folha); picão (toda a planta);
piriquiteira (casca); roncador (folha); ou timbó-do-cerrado (semente).

6-14
EB70-CI-11.438

6.3.6 HEMORRAGIAS
6.3.6.1 Em um caso de hemorragia, deve-se colocar uma compressa esterilizada
diretamente sobre a ferida e comprimi-la com a mão ou por meio de ataduras
firmemente colocadas. Se a hemorragia não ceder, o membro ferido deverá ser
posto em posição mais elevada.
6.3.6.2 O torniquete ou garrote, somente deverá ser usado quando se tratar de
membro gravemente ferido e quando a hemorragia não puder ser estancada
pela compressa de pressão. Procurar apalpar a artéria mais importante da região
ferida; se a localizar, comprimi-la com os dedos, com a mão aberta ou fechada,
conforme o caso, e o torniquete será de fácil colocação, podendo ser feito com o
auxílio de um pequeno coxim improvisado.
6.3.6.3 O fato de não localizar a artéria não deve constituir motivo sério de pre-
ocupação. O torniquete, quando aplicado em perna ou braço, na coxa ou no
antebraço, deverá ser colocado entre a ferida e o coração.
- Os torniquetes devem ser afrouxados de 15 em 15 min ou de 20 em 20 min.
- Se a extremidade do membro se tornar fria e de cor azulada, o torniquete deverá
ser afrouxado com frequência, ao mesmo tempo que os maiores esforços devem
ser focados para conservar a parte em tratamento tão quente e agasalhada quanto
possível, quando o frio for intenso.
- O afrouxamento deverá permitir correr o sangue durante alguns segundos.
6.3.7 FRATURAS
6.3.7.1 Os feridos com fraturas deverão ser tratados com imenso cuidado, a fim
de que o sofrimento não seja aumentado e suas lesões agravadas. Geralmente
não se deve remover a peça de roupa que cobre um membro fraturado. No en-
tanto, havendo ferimento aberto, deve-se cortar o uniforme, retirar a peça e tratar
a lesão (ou ferida), antes de colocar as talas.
6.3.7.2 A roupa desprende-se com mais facilidade nas costuras. As talas poderão
ser improvisadas de peças e partes do equipamento; de peças de roupas enroladas
e bem apertadas; ou ainda de galhos de árvores, bambus e outros acolchoados
com material macio. As talas deverão ser suficientemente longas, de modo a
abranger as juntas acima e abaixo da fratura.
6.3.7.3 O paciente deve ser mantido deitado, não movendo-o desnecessariamente.
Procurar manter a fratura bem imobilizada com as talas. Não tentar, em hipótese
alguma, forçar os ossos partidos para a posição que seria normal. Improvisar uma
maca para o transporte do ferido com duas blusas de instrução ou de combate e
duas varas, ou com duas varas e um cobertor; introduzir as varas pelas mangas
das blusas ou dobrar meio cobertor sobre as duas varas dispostas paralelamente,
deitar o paciente e recobri-lo com a outra metade do cobertor.

6-15
EB70-CI-11.438
6.3.8 TORÇÕES
6.3.8.1 Colocar as ataduras e manter em descanso a parte afetada. A aplicação
imediata de compressa fria, no lugar afetado, poderá evitar o inchaço. Após di-
minuir o inchaço (entre 6 ou 8 horas), a aplicação de calor aliviará a dor. Pôr a
extremidade machucada em nível mais alto. Se o uso do membro machucado
for de todo necessário, imobilizar a articulação afetada por meio de forte enfaixa-
mento. Não havendo ossos fraturados, poder-se-á fazer uso do membro afetado
até o limite permitido pela dor.
6.3.9 FERROADA DE ABELHA
6.3.9.1 Inseto extremamente comum e abundante no Pantanal, a abelha é res-
ponsável por grande parte dos acidentes com insetos (vide Cap III). Em geral,
quando a ferroada (picada) é única ou se forem poucas, apenas ocorrerão dores
e inflamação local. Após sofrer múltiplas picadas, a pessoa pode apresentar mau
funcionamento cardíaco. Em pessoas alérgicas, a picada desse inseto pode ser
gravíssima, colocando a vida em risco
6.3.9.2 A reação anafilática é uma reação aguda e grave, que compromete todo o
organismo e que é caracterizada por coceira, urticária generalizada, convulsões,
vômitos, diarreia, cólicas abdominais e o evento mais grave, edema de glote.
- Em caso de ferroada, deve-se proceder retirando o ferrão do inseto, raspando
a pele com uma lâmina, com muito cuidado.
6.3.9.3 Nunca usar uma pinça ou mesmo as mãos, porque isso pode injetar a
toxina residual das bolsas presas aos ferrões, o ideal é que se pressione o feri-
mento, para extrair a toxina. Dessa forma, deve-se aplicar sobre a ferroada uma
lâmina levemente aquecida (pois o calor desnatura a proteína da toxina da abelha,
diminuindo seu poder de toxicidade). Deve-se fazer compressa de água fria ou
aplique gelo. Usar analgésico para aliviar a dor e procurar evacuar imediatamente
quem apresentar os sintomas descritos: coceira intensa, vermelhidão no corpo,
inchaço e falta de ar.

6-16
EB70-CI-11.438
CAPÍTULO VII
POVOS INDÍGENAS DO PANTANAL

7.1 GENERALIDADES
7.1.1 O conhecimento dos povos indígenas do Pantanal e dos procedimentos para
o trato com os silvícolas é uma habilidade a qual deve ser evidenciada pelo sobre-
vivente. Ao passo que o contato com esses povos pode apresentar oportunidade
para expandir os meios de sobrevivência, bem como indicar a possibilidade de
resgate, também pode representar um momento de tensão, caso determinadas
regras de conduta não sejam seguidas.
7.1.2 A Região Centro-Oeste é a terceira com maior concentração de indígenas
no Brasil, sendo que o Estado do Mato Grosso do Sul concentra cerca de 56% da
população na região. Em resumo em cada estado as tribos indígenas existentes
são:
7.1.2.1 No Estado do Mato Grosso (Fig 114), Apiaká, Apurinã, Arara do Rio Branco,
Aweti, Bakairi, Bororo, Chiquitano, Cinta Larga, Enawenê-nawê, Guató, Ikpeng, Iny
Karajá, Iranxe Manoki, Kalapalo, Kawaiwete, Kamaiurá, Kisêdjê, Krenak, Kuikuro,
Matipu, Mehinako, Nahukuá, Xavante, entre outros.

Fig 114 - Povos indígenas no Estado do Mato Grosso.

7-1
EB70-CI-11.438

7.1.2.2 No Estado do Mato Grosso do Sul (Fig 115), Chamacoco, Guarani,


Guató, Kadiwéu, Kaiowá, Ofaié, Ñandeva, Kinikinau e Terena.

Fig 115 - Povos indígenas no Estado do Mato Grosso do Sul.

7.1.3 DESSES POVOS CITADOS, OS QUE TÊM MAIOR PRESENÇA NO PAN-


TANAL SÃO
a) Os Guatós, dispersos ao longo dos rios Paraguai, São Lourenço e Capivara;
b) os Guaranis Kaiowá e Nandeva, concentrados na fronteira entre o Mato Grosso
do Sul e o Paraguai;
c) os Bororo Orientais, presentes no Pantanal de Barão de Melgaço; e
d) os Kadiweu, Terena e Chamacoco, os quais se concentram no município de
Porto Murtinho.
- Obs: Os Guatós são considerados o povo do Pantanal, pois sua área de ocu-
pação situa-se inteiramente na região pantaneira.

7.2 CARACTERÍSTICAS DOS INDÍGENAS


7.2.1 Os indígenas do Pantanal apresentam algumas características comuns,
no entanto, quando analisados detalhadamente, é possível identificar certas di-
ferenças nas habitações, mitos, rituais, redes de relações, interação com o meio
7-2
EB70-CI-11.438
ambiente e com o homem comum brasileiro. Em sua grande maioria, já mantiveram
ou mantém contato com o “homem branco”, resultando inclusive na aculturação.
7.2.2 Atualmente, a tribo que apresenta características mais conflituosas é a
Kadiwéu, em razão do choque de interesses com os fazendeiros da região.
7.2.3 Os indígenas do Pantanal nutrem destacado respeito pelas Forças Armadas,
em particular pela atenção dispensada, sendo que em determinadas regiões, como
a da aldeia Guató na Ilha Insua, o único ponto de apoio é o Pelotão Especial de
Fronteira de Porto Índio (17º Batalhão de Fronteira).
7.2.4 TRIBO GUATÓ
- Organização social: as famílias vivem de forma autônoma, isoladas umas das
outras. Dentro de uma mesma família há a divisão de tarefas, cabendo ao homem
a confecção de equipamentos de caça e pesca, a realização da coleta, da pesca e
da caça, e também a confecção de alimentos; e à mulher, a confecção de panelas
e outros utensílios de barro, levar as canoas pelos rios e tecer. Os contatos entre
os diferentes grupos se dão por meio das alianças matrimoniais.
- Habitação: abrigos provisórios e casas permanentes, que servem para abrigar
as famílias.
- Atividades produtivas: pesca, caça, coleta e agricultura.
- Rituais: destacam-se os funerários e as festas.

Fig 116 - Guató

7-3
EB70-CI-11.438

Fig 117 - Guató

7.2.5 TRIBO KADIWÉU


- Organização social: as famílias se distribuem de forma nuclear, dispostas em
geral por grupos de parentes e obedecendo uma regra matrilocal. São frequentes
os casamentos com Terenas. O direito de chefia é hereditário.
- Arte: os desenhos corporais são uma forma destacada de expressão de sua arte.
Além disso, as mulheres produzem refinadas peças de cerâmica.
- Rituais: destacam-se os funerários e o de referência à Guerra do Paraguai, em
razão de terem lutado ao lado dos brasileiros durante o conflito.

Fig 118 - Kadiwéu

7-4
EB70-CI-11.438
7.2.6 TRIBO TERENA
- Organização social: cada aldeia possui autonomia política própria, sobre lide-
rança do cacique e do conselho tribal. A aldeia é composta por um conjunto de
residências.
- Habitação: as casas de grupos de irmãos localizam-se próximas umas das outras,
havendo cooperação econômica e partilha de alimentos entre as casas. A regra
geral na sociedade Terena para a residência pós-matrimônio é a patrilocalidade
(esposa indo morar na casa do sogro).
- Atividades produtivas: agricultura, pecuária, caça, pesca e coleta.
- Rituais: destacam-se as festas de invocação dos “espíritos guia”.

Fig 119 – Terena.

Fig 120 – Terena.


7-5
EB70-CI-11.438
7.3 PROCEDIMENTOS NO TRATO COM OS INDÍGENAS
- Sempre buscar o entendimento com o líder da tribo ou a liderança momentânea,
sendo cortês nas solicitações, sem haver exigências.
- Nunca demonstrar medo no trato, contudo agir sem ser ameaçador. Para isso,
evitar portar o armamento de forma que possa indicar ameaça.
- Enquanto um do grupo participa da negociação, os demais devem manter a
vigilância.
- Não permanecer por longos períodos na tribo indígena.
- Cumprir promessas realizadas.
- Respeitar a propriedade dos indígenas.
- Respeitar as mulheres indígenas.
- Evitar contatos físicos.
- Se interessar em aprender algumas palavras do idioma indígena.
- Não se alimentar dos insumos indígenas sem permissão.
- Não se ofender com os rituais indígenas. Buscar participar quando convidado.
- Evitar surpreender os indígenas. Emitir sinais de alerta prévios, como silvos de
apito, palmas ou outros sinais sonoros.
- Não sacrificar animais na presença de indígenas sem saber se são sagrados.
- Deixar a melhor impressão possível, pois os indígenas nutrem respeito pelas
Forças Armadas, portanto, uma situação de sobrevivência não pode gerar uma
situação de conflito.

7-6
EB70-CI-11.438

COMANDO DE OPERAÇÕES TERRESTRES


Brasília, DF, 18 de setembro de 2020
https://portaldopreparo.eb.mil.br
EB70-CI-11.438
EB70-CI-11.438

Você também pode gostar