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Morgan Dowell

Editorial
“Se você está disposto a chegar aonde a maioria não chega,
terá que fazer as coisas que a maioria não faz.” SELVA!

I
nicialmente, gostaria, tel General do Exército. Em quele Teatro de Operações,
nesta oportunidade, de 2004, enquanto servia no como seria a aclimatização,
expressar a minha feli- Colégio Militar do Recife, a adequabilidade do nosso
cidade de, mesmo após 40 passei para a reserva, em- material, do armamento,
anos, estar relembrando fa- bora tenha permanecido no da alimentação, qual seria o
tos tão antigos e pessoas que, colégio até 2017, como pro- tempo de instrução de selva
até hoje, sou grato por terem fessor PTTC de Filosofia e necessário e, até, como se-
participado de momentos da Sociologia. Sou filho do Cap ria a adaptação do homem
minha vida profissional e da Dent Mac Dowell Perdigão do nordeste à Amazônia.
minha história de vida. Sen- de Brito e de Maria Cabral Naquela época, o plano era
do assim, não poderia deixar de Brito, casado com Angela mandar uma fração pequena
tudo isso se perder no seio da Maria Waked de Brito, te- (pelotão) sem experiência na
família e no meio militar. nho dois filhos, Hogan Wa- área, com os meios normais
Eu sou o Coronel R/1 de in- ked de Brito e Denis Waked de um pelotão de infantaria
fantaria, turma da AMAN de de Brito, aos quais agradeço e, nos anos seguintes, au-
1978, participei do curso de todo o apoio em minha vida mentar, gradualmente, o es-
ações de comandos 80/1 Cat familiar e profissional. calão. Seriam levantados os
“C” e realizei o curso de guer- As operações na selva dados necessários para servir
ra na selva 84/2 Cat “B”. Fre- exigem uma tropa espe- de orientação para qualquer
quentei três estágios de selva cializada e um equipamen- emprego de tropa do Nordes-
no Centro de Guerra na Selva- to diferenciado e adequa- te na Amazônia, no futuro.
CIGS, com tropa do 71º BIMtz, do para que dure na ação e Deixo também a minha
onde servi nos anos de 1980, aproveite o máximo do am- homenagem e agradeci-
1981 e 1982. Servi ainda dois biente de selva a seu favor. mento a todos aqueles que
anos no 51º BIS, em Altamira- A 10ª Brigada de Infan- não foram citados em nossa
PA, no 28º BC, em Aracaju-SE taria Motorizada, localiza- história, mas que dela par-
e no 31º BIMtz, em Campina da na Guarnição de Recife ticiparam com a mesma im-
Grande-PB. -PE, opera também como portância.
Em 1988, cursei a EsAO uma reserva estratégica da
e em 1989 e 1990, fui ins- Amazônia. Para isso havia a “Tudo pela Amazônia!
trutor do CIGS. Passei oito necessidade de saber como Selva!”
anos em Brasília na função uma tropa do Nordeste iria MORGAN DOWELL CABRAL
de Comandante do Quar- desempenhar seu papel na- DE BRITO — CEL INF

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https://almalivre.tur.br/2016/12/10/descubra-onde-nasce-o-rio-amazonas/

ESTÁGIO DE OPERAÇÕES
NA SELVA NO CIGS

REFERÊNCIAS:

1. ESTÁGIO, em 1980 2. ESTÁGIO, em 1981 3. ESTÁGIO, em 1982

1º Pelopes da 1ª Cia. Fzo 1ª Cia. Fzo — Pel Ap e manobra do CMA —


(BI nº11-Res de 03 Nov (BI nº 051 de 16 Mar 82, Operação Graviola:
80, do 71º BIMtz). do 71º BIMtz). 1ª Cia. Fzo completa
(BI nº 180 de 28 Set 82,
do 71º BIMtz).

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Agradeço a gentileza dos colaboradores abaixo, que contribuíram para
enriquecer meu relato com comentários apropriados e oportunos, sem os
quais muitas lembranças ficariam perdidas. Todos os nossos colaboradores,
de alguma forma, fizeram parte dessa história de caserna.

- Cel R/1 Hidelgard Farias de Vasconcelos - St R/1 Antonio Ferreira Maciel

- Cel R/1 Antonio Carlos Duarte Soares - 2º Sgt PM José Wilson de Araújo Silva

- Cel R/1 Josemar Rodrigues de Souza - 2º Sgt R/1 José Amaury de Brito

- Cel R/1 Otaviani Luciano Souza - 3º Sgt R/1 José Santos de Melo

- Cel R/1 Gustavo de Souza Abreu - 3º Sgt PM Teófilo Pereira de Barros

- Cel PM R/1 Amoan Itai Garrett - 3º Sgt Res Armando Tenório Belo Filho

- Maj R/1 José Washinton Bastos Brasil - 3º Sgt Res Dorgival Lima de Souza

- Cap R/1 Hipólito Ferreira de Alencar - Sd Res Manoel Alexandre da Silva

- Ten Res Luiz José Monteiro de Farias

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sumário

6 Canção da 1ª Companhia do 71º BIMtz


7 Oração do guerreiro da selva
8 Leis da guerra na selva
9 Operação Rumo Norte – Surumu: Uma história real
9 Seleção do pessoal
15 CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GUERRA NA SELVA
19 Preparação física, técnica e psicológica
24 Deslocamento motorizado para o Recife
25 Deslocamento aerotransportado para Manaus
27 No Centro de Instrução de Guerra na Selva — CIGS
32 Início das instruções de selva
35 Operações na selva
38 Retorno ao CIGS, Recife e Garanhuns
39 DISTINTIVO DE GORRO ADOTADO POR MIM PARA USO DOS
MILITARES DO PELOPES
41 ORIGEM DA CLAREIRA DO AVIÃO
42 Operações subsequentes
42 Operações da 1ª Cia Fzo na selva — 1981
46 DESLOCAMENTO PARA O CIGS − MANAUS-AM
53 BREVE RESUMO HISTÓRICO DO CIGS
57 Operações da 1ª Cia Fzo na selva — 1982
61 Estágio no CIGS
63 Operação Surumu
64 Teatro de Operações
66 AGUARDANDO A LIBERAÇÃO PARA NOVA HORA DO ATAQUE
67 REGIÃO DOS OBJETIVOS DA 1ª CIA
71 COMENTÁRIOS FINAIS

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COMANDO MILITAR DO NORDESTE

Fotos: http://www.googlemaps.com.br
10ª BRIGADA DE INFANTARIA MOTORIZADA

71º BATALHÃO DE INFANTARIA MOTORIZADA

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Morgan Dowell

Desfile da 1ª Cia fzo na abertura das Olimpíadas internas do batalhão

ESTÁGIO

CANÇÃO DA 1ª CIA FZO DO 71º BIMtz


Abram alas, que vem chegando a primeira companhia
com seus soldados de fé e varonil, que constituem a defesa do Brasil!
É a cg do 71º bi, o batalhão orgulho do Nordeste
tem a nobre missão, de defender o povo do agreste!
O cabo aéreo, comando craw e o rapel, são pontos altos da sua instrução
falsa baiana e o fosso das serpentes, são complementos da pista de reação
a marcha a pé ou motorizada, nas matas densas ou nas jornadas
vai preparando, seu plano ardil, para acabar com os guerrilheiros
inimigos do Brasil.
Cheia de luz e de coragem, a natureza se enche de louvor
não há outra aqui no batalhão, com força, instrução e tanto ardor! Selva!
Autor desconhecido

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ORAÇÃO DO GUERREIRO DE SELVA
Senhor!
Tu que ordenaste ao Guerreiro de Selva
Sobrepujai todos os vossos oponentes
Dai-nos hoje da floresta
A sobriedade para persistir
A paciência para emboscar
A perseverança para sobreviver
A astúcia para dissimular
A fé para resistir e vencer
E dai-nos também, Senhor
A esperança e a certeza do retorno
Mas se defendendo esta brasileira Amazônia
Tivermos que perecer, ó Deus
Que o façamos com dignidade
E mereçamos a vitória!
Selva!
Cel Inf Humberto Batista Leal

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Suzana Negrini/VC no TG

LEIS DA GUERRA NA SELVA


Tenha iniciativa,

1 2 3
pois não receberá Mantenha seu
Procure a
ordens para todas corpo, armamento
surpresa por
as situações. e equipamento em
todos os modos;
Tenha em vista o boas condições;
objetivo final;

Aprenda a
suportar o

4 5 6
Combata sempre
desconforto e Pense e aja como
com inteligência
a fadiga sem caçador, não
e seja o mais
queixar-se e seja como caça;
ardiloso.
moderado em suas
necessidades;

TCel Inf Gélio Augusto Barbosa Fregapani

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OPERAÇÃO RUMO NORTE — SURUMU

UMA HISTÓRIA REAL


N
a Década de 1980, do seu uniforme e do seu Especiais — PELOPES, o
a 10ª Brigada de armamento. que o tornava mais opera-
Infantaria Motori- cional.
zada (Bda Inf Mtz), situa- A seleção foi realizada
da em Recife-PE, recebeu SELEÇÃO DO PESSOAL entre os 6 PELOPES da 10ª
a missão de viabilizar o Brigada de Infantaria Mo-
emprego de sua tropa, não A 1ª Companhia de Fu- torizada: 01 PELOPES do
especializada em opera- zileiros do 71º Batalhão 14º Batalhão de Infantaria
ções na selva, num Teatro de Infantaria Motorizado Motorizado (14º BIMtz), de
de Operações que conti- era oriunda da 1ª Compa- Jaboatão-PE, 02 (dois) do
nha, também, caracterís- nhia AG (antiguerrilha), 71º Batalhão de Infantaria
ticas de terreno de selva, totalmente formada por Motorizado (71º BIMtz), de
no qual a 10ª Bda Inf Mtz militares antigos, pronta Garanhuns-PE, 01 (um) do
constituía a reserva. Para para caso necessário, ser 72º Batalhão de Infantaria
cumprir esta missão, teria empregada em Marabá Motorizado (72º BIMtz),
que ser enviada à Amazô- -Xambioá-PA, na déca- de Petrolina-PE, 01 (um)
nia uma de suas frações, da de 1970. Na década de do 10º Esquadrão de Cava-
com a finalidade de levan- 1980 ainda havia no ba- laria Mecanizado (10º Esq
tar a capacidade de opera- talhão um grande efetivo C Mec) de Recife-PE e 01
ção, da adaptação de seus de cabos e soldados expe- (um) do 7º Grupo de Arti-
homens à área, a adequa- rientes, como também no lharia de Costa (7º GAC), de
bilidade do seu material, meu Pelotão de Operações Olinda-PE.

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2020

1º Comentário
1980

Tenente Josemar,
atualmente Coronel R/1

“I
nicialmente agra- localizado em Garanhuns, ram a trajetória de tão brio-
deço ao meu caro interior de Pernambuco. sa subunidade do Batalhão
e seleto amigo e Eventos que por mo- Duarte Coelho.
companheiro de Turma tivos inexplicáveis, e que Estes eventos foram os
de Infantaria da Academia não conseguimos enten- estágios de adaptação à
Militar das Agulhas Negras, der o porquê: — não fica- selva programados pelo
Coronel R/1 MORGAN DO- ram registrados nos anais escalão superior e coorde-
WELL CABRAL DE BRITO, do 71º Batalhão de Infan- nados pela 10ª Brigada de
pelo convite que me foi for- taria Motorizado e da 1ª Infantaria Motorizada, e
mulado para participar com Companhia de Fuzileiros. que ocorreram na Região
o meu depoimento para a Esta falta de registro oca- Amazônica. Foram exercí-
sua revista “Caserna”. sionou o esquecimento no cios no terreno que tiveram
Publicação bem opor- tempo e no espaço destes por finalidade preparar a
tuna e necessária, elabo- importantes eventos. adaptação do combaten-
rada e preparada por ele, Sendo assim, hoje, se faz te nordestino, o “soldado
com a finalidade específica necessário um resgate atra- da caatinga”, ao ambiente
de resgatar a memória de vés de memórias vivas dos de selva. Os referidos es-
três eventos de grande re- fatos que realmente acon- tágios ocorreram em três
levância ocorridos com a teceram naquele período. (03) anos consecutivos no
1ª Companhia de Fuzileiros Todo este processo de busca início da década de oiten-
do 71º Batalhão de Infanta- tem por finalidade reesta- ta e as instruções foram
ria Motorizado — “Batalhão belecer a justiça resgatando coordenadas e ministradas
Duarte Coelho”, que fica fatos históricos que marca- pelo Centro de Instruções

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de Guerra na Selva em Ma- tegrante da 10ª Brigada de uma razão bastante plausí-
naus, no Amazonas. Infantaria Motorizada, que vel: a Brigada era a grande
“Recordar é Viver” — É é subordinada ao Comando unidade do Comando Mi-
com grande satisfação e Militar do Nordeste. litar do Nordeste a ser em-
imensa alegria, que volto no As nossas classificações pregada de imediato como
tempo para buscar no fun- em uma unidade de escola tropa reserva do Comando
do da memória lembranças do Exército Brasileiro foram Militar da Amazônia em
do início da minha carrei- o que de melhor poderia caso de necessidade. Para
ra militar vividas na minha ter acontecido para aque- a escolha das frações que
primeira unidade em Ga- les dois jovens Aspirantes iriam participarem deste
ranhuns no final da década recém formados e cheios adestramento, a 10ª Briga-
de setenta e início dos anos de vibração. A operacio- da procurou adotar um cri-
oitenta. A finalidade des- nalidade do nosso Batalhão tério de méritos e estabele-
ta volta ao passado foi para nos ajudou a consolidar os ceu uma competição entre
procurar lembranças e fatos conhecimentos teóricos as suas unidades direta-
que marcaram os eventos que havíamos adquirido no mente subordinadas.
que aconteceram com a 1ª decorrer de quatro anos no A seleção começou pri-
Companhia de Fuzileiros do curso de formação de ofi- meiramente com a fração
71º Batalhão de Infantaria ciais na Academia Militar Pelotão. Sagrou-se cam-
Motorizado quando da sua das Agulhas Negras. peão da competição da Bri-
preparação para participar Quando nos apresen- gada o primeiro Pelotão de
dos estágios de adaptação a tamos no Batalhão, eu fui Operações Especiais do 71º
selva programados pela 10ª designado para a 2ª Com- Batalhão de Infantaria Mo-
Brigada no início da década panhia de Fuzileiros, co- torizado, comandado pelo
de oitenta. Fatos estes que mandada na época pelo então Tenente MORGAN e
eu poderia repassar no meu estimado amigo Capitão o vice-campeão foi o se-
depoimento para o meu HIDELGARD FARIAS DE gundo Pelotão de Opera-
amigo MORGAN colocá-los VASCONCELOS, e assu- ções Especiais também do
na sua revista “Caserna”. mi o comando do Pelo- 71º Batalhão de Infantaria
No final do ano de 1978, tão de Apoio. O meu ami- Motorizado, comandado
ao concluir o Curso de In- go MORGAN, foi para a 1ª pelo então Tenente MON-
fantaria da Academia Mili- Companhia de Fuzileiros TEIRO. O Pelotão campeão
tar das Agulhas Negras, na comandada na época pelo foi a fração escolhida para
turma “Marechal Eurico primeiro Tenente DANIEL participar do estágio de
Gaspar Dutra”, juntamen- MEDEIROS LIMA — ele foi adaptação a selva ocorrido
te com o meu estimado designado para assumir no ano de 1980 e que fun-
amigo Coronel MORGAN, o comando do Pelotão de cionou no Centro de Ins-
fomos classificados como Operações Especiais. truções de Guerra na Selva,
Aspirantes no 71º Batalhão A preparação das frações em Manaus.
de Infantaria Motorizado da 10ª Brigada de Infantaria O sucesso do Pelotão
— “Batalhão “Duarte Coe- Motorizada para atuarem no estágio foi eminente!
lho”, unidade de elite in- em ambiente de selva tinha O exercício surtiu o efeito

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desejado pelo escalão su- Decisão mais que acerta- o morteiro 81 mm realizando
perior, que era apresen- da! O Pelotão de Operações o tiro dentro da selva.
tar a selva ao “soldado da Especiais foi novamente co- Foi uma troca de ex-
caatinga” e trazer a místi- mandado pelo experiente periências incríveis e um
ca da selva para contagiar Ten MORGAN. Participaram aprendizado profícuo para
as tropas da 10ª Brigada de também do efetivo desta todos os militares que par-
Infantaria Motorizada que subunidade vários outros ticiparam dos exercícios. A
poderiam ser no futuro militares que haviam par- preparação feita antes dos
empregadas como reserva ticipado do estágio no ano estágios ainda na unidade
no teatro de operações da anterior. Foi outro sucesso em Garanhuns, também,
Amazônia. marcante! A tropa do 71º Ba- contribuiu em muito para a
No ano seguinte, 1981, a 10ª talhão de Infantaria Motori- formação de todos os inte-
Brigada deu prosseguimen- zado ficou conhecida pelo grantes do Batalhão. A co-
to ao projeto e mandou para seu excelente desempenho laboração mútua necessária
um novo estágio de adapta- no Centro de Instruções de entre as subunidades e as
ção a selva a 1ª Companhia Guerra na Selva. seções administrativas do
de Fuzileiros (-Pel Ap) do 71º Para encerrar o ciclo Batalhão afim de coordenar
Batalhão de Infantaria Mo- de estágios programados, as instruções neste período
torizado, composta pelo Pe- no ano 1982, a mesma 1ª aumentou, em muito, o es-
lotão de Operações Especiais Companhia de Fuzileiros, pírito de corpo já existente
que tinha realizado o estágio agora com todo o seu efe- na unidade.
no ano anterior e mais dois tivo inclusive o seu Pelotão Muitas instruções rea-
(02) Pelotões de Fuzileiros. A de Apoio, comandada no- lizadas nos exercícios de
Companhia foi para o está- vamente pelo experiente preparação serviam de
gio na selva comandada pelo Capitão HIDELGARD, se- adestramento para to-
então Capitão HIDELGARD guiu para mais um estágio dos os integrantes do Ba-
FARIAS DE VASCONCELOS, na Amazônia culminando talhão, principalmente
a subunidade era no seu dia com a sua participação na quando eram realizados
a dia no Batalhão comandada “Operação SURUMU” — na região do Magano e na
pelo Ten MORGAN, o Capi- manobra do Comando Mi- Fazenda Santa Rosa, locais
tão desempenhava a função litar da Amazônia ocorrida onde havia resquícios da
de Chefe da Primeira Seção na região de Roraima. Mata Atlântica que repre-
da Unidade (S/1), mas, vi- Todas estas participa- sentavam de maneira bem
sando completar o quadro ções exitosas foram bastan- parecida a selva amazô-
de dotação da subunidade, e tes significativas tanto para nica. Estas regiões ofe-
também, devido a vasta ex- a tropa da 10ª Brigada como reciam também, cursos
periência do Capitão HIDEL- para o Centro de Instruções d’água e locais para todo
GARD que já havia servido na de Guerra na Selva, que pode o tipo de treinamento da
região amazônica, o coman- realizar estudos de empre- parte aquática bastante
dante do Batalhão o colocou go de tropa regular na sel- necessária a todos os mi-
no comando da subunidade va. Podemos salientar como litares, principalmente,
que foi para o estágio. exemplo o estudo feito com aos que iriam para a Ama-

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zônia. Também, existiam Fuzileiros do 71º Batalhão O seu conhecimento
áreas e locais adequados de Infantaria Motorizado profissional, a sua dedica-
para a prática de prepa- nos anos de 1980, 1981 e ção, o seu espírito de ver-
ração de armadilhas, uti- 1982. Sou testemunha ocu- dadeiro “guerreiro de sel-
lização de técnicas espe- lar do desempenho de to- va”, que ele o é! — Todos
ciais, pista de cordas e de dos aqueles episódios ocor- estes fatores pessoais do
sobrevivência. ridos no Batalhão durante a então Ten MORGAN, ali-
Os meus relatos feitos preparação e o desenrolar nhados diretamente para
para a revista são de um dos estágios na selva. este objetivo serviram de
telespectador privilegia- Posso assegurar que exemplo e motivação para
do, que não participou fi- grande parte do sucesso todos os militares que es-
sicamente dos eventos em obtido foi devido ao pro- tavam envolvidos nos es-
questão, mas, assistiu e fissionalismo, a abnega- tágios e que procuraram
participou de todo o pro- ção, o desprendimento, o dar o melhor de si para
cesso de preparação que esforço individual e co- obterem os melhores re-
ocorreram antes dos es- letivo, do Capitão HI- sultados.
tágios no interior do Ba- DELGARD, Comandante Nesta empreitada, o
talhão. Hoje, recordando da Companhia nos dois meu amigo MORGAN, pro-
tudo, verificamos o quanto estágios em 1981 e 1982, curou de fato implementar
foi importante aquela pre- dos Tenentes Comandan- o lema que está gravado
paração para os estágios tes dos Pelotões, dos Sar- até hoje nas paredes da sua
de adaptação a selva rea- gentos Comandantes dos 1ª Companhia de Fuzileiros
lizados pela 1ª Companhia Grupos de Combate e de do 71º Batalhão de Infan-
de Fuzileiros. No contexto todos os militares, do mais taria Motorizado — “A PA-
geral, todo o Batalhão saiu graduado até o último LAVRA CONVENCE, MAS,
ganhando. É uma pena não soldado, que integraram O EXEMPLO ARRASTA”.
terem sidos registrados aquelas frações que parti- Isto foi fundamental para
com mais ênfase aquela ciparam daqueles estágios se obterem os melhores
iniciativa marcante da 10ª de adaptação a selva. resultados.
Brigada e não terem fica- Encerrando este meu de- Sua participação pes-
dos registros mais signi- poimento, não poderia dei- soal nos três estágios que
ficativos nos anais da his- xar de fazer uma referência ocorreram em anos con-
tória do Batalhão Duarte muito especial ao meu esti- secutivos, coordenando e
Coelho e da 1ª Companhia mado amigo MORGAN. Sem orientando, transmitindo
de Fuzileiros. dúvida nenhuma, ele foi a a sua vasta experiência do
Hoje, cabe ressaltar a mola mestra e o responsá- ambiente de selva, levou
louvável iniciativa do Co- vel direto pelos excelentes a tranquilidade necessária
ronel R/1 MORGAN de re- resultados obtidos nos três para o bom desempenho
tratar e rememorar o que estágios de adaptação a sel- das frações que atuaram nos
se passou nos estágios de va que o 71º Batalhão de In- estágios obtendo excelentes
adaptação a selva realiza- fantaria Motorizado partici- resultados no cumprimento
dos pela 1ª Companhia de pou naquela época. da missão. SELVA!”

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R
ecebi esta notícia da competição dos PELOPES, pessoalmente,
do comandante da 1º Cia, 1º Tenente Infantaria Daniel Medeiros
Lima, o estimado Ten Daniel, que me transmitiu a notícia com
bastante vibração:
“Eu estava na área da 1ª Companhia, quando um soldado veio me avi-
sar que o Ten Daniel queria falar comigo. Fui até seu PC (posto de co-
mando), pedi permissão para entrar e me apresentei. Ele olhou para
mim e disse: “muito bem militar!!! tenho uma notícia para você, pois vai
haver uma competição de Patrulha de Pelotão da 10ª Bda Inf Mtz e o
seu pelotão e o do Ten Monteiro vão competir. Tem mais, militar, seu
pelotão tem que ganhar”. O Ten Daniel foi o meu primeiro comandante
de companhia, a quem devo grande parte da minha formação militar
na OM (organização militar). Apoiou, orientou e deu liberdade de ação
para eu bem treinar meu pelotão.
O pelotão que mais se destacasse numa patrulha de combate de
incursão nas linhas inimigas seria o selecionado. A patrulha exigiria
emprego de vários meios como Vtr (viatura), armamentos diversos,
explosivos, embarque e desembarque de Vtr em movimento, além de
muito esforço físico e de técnicas especiais.
A arbitragem ficou a cargo da 10ª Bda Inf Mtz, com o então Maj Inf
Areski. Depois de uma minuciosa avaliação, na ordem preparatória,
na ordem à patrulha e no desempenho do cumprimento da missão,
sagrou-se em primeiro lugar o 1º PELOPES de Garanhuns-PE, do
qual eu, 2º Ten Morgan, era o Cmt. Como prêmio, o Pelotão ganhou
um estágio de selva no Centro de Instrução de Guerra na Selva —
CIGS. O segundo lugar na competição, há de se ressaltar, coube ao
2º Pelopes também do 71º BIMtz, comandado pelo Ten Monteiro,
também da 1ª Cia Fzo.

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CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GUERRA NA SELVA
MANAUS-AM
http://g1.globo.com/am/amazonas/fotos/2013/05/confira-fotos-

Na realidade, só soube-
dos-habitantes-do-zoologico-do-cigs-em-manaus.html

mos qual era o prêmio de-


pois de ganharmos, pen-
sávamos que poderia ser
um passeio para conhecer
outras OM, uma faca trin-
cheira, uma bússola Silva
ou qualquer outra coisa,
menos fazer um estágio
no CIGS.

http://www.cigs.eb.mil.br/zoologico.html?view=article&id=125:zoologico-do-cigs

Foto de parte do zoológico do cigs (local onde a fauna amazônica é apresentada aos alunos)

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2020

2º Comentário
1980

3º Sargento Armando
atualmente comerciante

“O
Pelotão de HOMENS, ainda quase ga- cobradas, como as incur-
Operações Es- rotos, porém imbuídos de sões através dos rios Mai-
peciais (PE- muita responsabilidade, ná, Mainazinho, Branqui-
LOPES), composto por determinação e, sobretu- nho e Puraquequara, ou
soldados de infantaria, de- do, muito bem comanda- as frequentes madrugadas
via atuar como força ope- dos. Partiram, no início sob fortíssimas trovoadas
racional, dando ao Cmt da de outubro, com destino a e navegações através da
Cia uma fração altamente Manaus, para treinamento selva, que só serviram de
flexível e poderosa, trei- intensivo de combate na estímulo para que a nos-
nada principalmente para selva Amazônica. A ansie- sa missão/operação no
o combate de assalto. Foi dade, a expectativa e até CIGS tenha sido tão exi-
assim que, em 1980, no 71º mesmo o medo converte- tosa. Fica a boa lembran-
BIMTz, 1ª Cia Fzo, o 1º PE- ram-se em muita vibração, ça, com a certeza de que o
LOPES do agreste foi en- verdadeiro entusiasmo no bom soldado jamais abre
viado para a imensidão cumprimento de todas as mão de um bom combate.
da Amazônia, formado de missões a nós entregues e SELVA!!!”

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E
u ainda me recuperava do desgaste do CAC C 80/1 (Curso de
Ações de Comandos Categoria “C “) para oficiais e Sargentos, o
qual eu havia cursado na íntegra. Pensei comigo, inicialmente,
que seria mais um desgaste desnecessário, porém, como havia ter-
minado o curso sem ter pedido desligamento e ter saído com a cabe-
ça erguida, resolvi dar uma mostra de que algumas coisas os instru-
tores responsáveis pelo meu desligamento, após término do curso,
não conseguiram tirar de mim: o brio e os conhecimentos adquiridos
no curso. A partir de então decidi que iria ganhar esta competição,
empregaria todo o meu conhecimento e partiria para a certeza do
cumprimento da missão.
Dois grandes filmes de guerra serviram de inspiração para treinar
meu pelotão: “Os comandos atacam Rommel” e os “Boinas Verdes”.
Como fomos formados para a guerra, imaginava-me na situação dos
combatentes desses filmes e me perguntava: será que se um militar
não aguentar e pedir para sair de um curso de paraquedista, de guerra
na selva ou de comandos, sem motivo de saúde ou motivo de força
maior, estaria menos preparado do que os demais?
Sendo assim, eu não poderia desistir de nenhum deles e deveria en-
carar a missão do PELOPES como se fosse uma guerra. Ninguém pode-
ria ficar para trás, nenhum deles, muito menos eu, o Cmt.
https://www.google.com/search?q=FOTOS+DO+FILME+BOINAS+-
VERDES&tbm=isch&ved=2ahUKEwip

Cena do filme os Boinas verdes

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3º Comentário
1980

Soldado Teófilo-padioleiro,
atualmente 3º Sargento PM Res

“E
u, Sd Teófilo, Força Aérea Brasileira. batalhão. Lembro de tudo
servi na 1ª Cia Assim que o avião deco- que passamos na selva, da
do 71º BIMtz, lou, comecei a passar mal ração ao macaco que co-
em 1980, a comando do e vomitar tudo, de Recife memos na sobrevivência.
Ten Daniel e, em 1981, no até Manaus. Chegando no Foi um período de muito
comando de Ten Morgan, CIGS, um oficial perguntou sofrimento, mas também
e fui integrante do glorio- quem sabia nadar, aí eu de muitas alegrias, pois
so PELOPES. Ganhamos logo me afastei, porque só tínhamos no comando do
a competição para repre- nadava “chumbinho”. No pelotão um homem dig-
sentar a 10ª Bda Inf Mtz pelotão eu era o enfermei- no, que sabia cada ponto
no CIGS. Confesso que a ro, mas não sabia nadar. fraco de todos nós e sa-
jornada da competição foi Lembro que pedi ao Ten bia, sobretudo, reanimar
muito intensa para todos Morgan para colocar o Sd e nos dar força para cada
nós, porém meu drama S. Melo no meu lugar, mas momento ruim que passá-
começou mais à frente, ao o Ten Morgan disse que não vamos juntos. Hoje, para
embarcar no C115 — Bú- podia, pois ele era de outro mim, é uma lembrança
falo, que era um avião da pelotão e enfermeiro do MARAVILHOSA. SELVA!!!”

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PREPARAÇÃO FÍSICA, TÉCNICA E PSICOLÓGICA

A
preparação inicial foi feita na própria OM, adaptando a instru-
ção peculiar e parte de adestramento do Batalhão à instrução
de um pelotão de selva. O único militar no pelotão que tinha co-
nhecimento de selva era eu, conhecimento que foi adquirido no Estágio
Especial de Selva, efetuado durante a passagem do Curso de Comandos
pelo CIGS, sendo assim, era eu quem deveria conduzir o treinamento,
por estar mais capacitado
O 1º PELOPES do 71º BIMtz começava sua preparação tendo à frente
de suas instruções: eu, que na época era 2º Ten (Tenente) — Cmt Pel (co-
mandante de pelotão), o 3º Sgt (sargento) Armando Tenório Belo Filho,
Adj Pel (adjunto de pelotão), o 3º Sgt Hipólito Ferreira de Alencar, Cmt (co-
mandante) 1º GC (grupo de combate), 3º Sgt Francisco Ferreira da Silva
Filho, Cmt 2º GC (grupo de combate) 3º Sgt David Oliveira de Melo, Cmt 3º
GC (grupo de combate) e Cb (cabo) Antonio Ferreira Maciel, Ch Pç Mrt 60
(chefe da peça de morteiro).

ORGANOGRAMA DO PELOPES

Cmt Pel (Ten Morgan)

Adj Pel (Sgt Armando) Cmt 1º GC (Sgt Hipólito)

Cmt 2º GC (Sgt Francisco) Ch Pç Mrt (Cb Maciel) Cmt 3º GC (Sgt De Melo)

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Nas instruções, foram implementados o clima permanente de
pronto emprego, a rusticidade, o vigor físico e a ação de comando.
O “brado de Selva!” passou a ser o brado do PELOPES. As instruções
sobre técnicas especiais, explosivos, armamento, rapel, embarque
e desembarque de Vtr em movimento e patrulhas passaram a fazer
parte dos dias e das noites dos militares do pelotão, até a ida para
área de adestramento final, no CIGS e foram ministradas no campo
de instrução do 71º BIMtz.
http://www.71bimtz.eb.mil.br/index.php/component/content/article/
35-programas/127-fiscalizacao-de-produtos-controlados?Itemid=101

71º Batalhão de Infantaria Motorizada

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4º Comentário
1978

3º Sargento Hipólito,
atualmente capitão da reserva

“C
omo integrante da 10ª Brigada de Infanta- Rio Negro que banha aque-
desta tropa de ria Motorizada. la metrópole).
elite do Exército O embarque se deu na Nos primeiros dias ape-
Brasileiro tenho a grata sa- Base Aérea do Recife a bor- nas instruções teóricas nas
tisfação de fazer este relato do de um Hércules da FAB, “salas de aula a céu aber-
sobre o Estágio Especial de no dia 5 de outubro daque- to”. A partir daí, fomos
Sobrevivência e Operações le ano. Foram feitas escalas nos ambientando: Primei-
na Selva realizado no pe- em Fortaleza-CE, Teresina ros Socorros com direito a
ríodo de 6 a 18 de outubro -PI e Santarém-PA. presenciar o monitor Sgt
de 1980, no CIGS (Centro de Ao chegarmos ao aero- Milton demonstrando as
Instrução de Guerra na Sel- porto de Manaus, por volta técnicas de aplicação de
va) em Manaus-AM. O CIGS das 17h, fomos recepciona- injeção de soro antiofídico
é considerado o maior cen- dos pelo 2º Sgt Albuquer- na sua própria barriga —
tro de treinamento em ope- que, chefe da Vtr (ônibus) isso assustou uma abisma-
rações na selva do planeta. para sermos transporta- da plateia Pelopeana; e por
O PELOPES do 71º BI dos para a sede do CIGS; aí em diante...Ofidismo...
Mtz foi designado para lá chegando, já fomos en- na teoria tudo tranquilo,
realizar o estágio em vir- trando no clima da Guerra mas quando um Sgt mo-
tude de ter sido o vence- na Selva, pois fomos leva- nitor chegou com um saco
dor de uma competição de dos à piscina de águas ne- carregado dos amazônicos
OPERAÇÕES EM MISSÕES gras da OM, para fazermos ofídios e derramou umas
DE PATRULHAS envol- um teste de natação (águas 15 sucuris e jiboias sobre a
vendo todos os PELOPES negras semelhantes às do grama do pátio de instru-

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ção. A partir daí teve início Mas aos poucos fomos militares. Eis que, nova-
a parte prática e cada inte- nos adaptando e a selva mente, o mesmo soldado
grante do Pelotão teria que começava a fazer parte da protagonizou mais uma...
capturar seu ofídio, come- nossa rotina. A têmpera por um descuido acabou
çando pelo Cmt Pel e pelos do soldado nordestino se se desgarrando do gru-
Sgt e em seguida os Cb/Sd. evidenciava a cada dia na po e desapareceu...todos
Depois das instruções so- floresta, pois o ambiente saíram à sua procura, mas
bre a fauna amazônica foi a era hostil e além, de tudo, nada de encontrar o des-
hora de conhecer os bichos estávamos sendo testados garrado guerreiro. Por de-
no zoológico do CIGS; nes- como se comportaria o mi- cisão do instrutor do CIGS,
sa ocasião aconteceu a pri- litar de tropa convencional não seria necessário nin-
meira alteração: o meu GC, em ambiente de selva. guém ir procurá-lo pois
reunido em frente à jaula de O nosso armamento era o soldado saberia se vi-
uma onça, observava a be- o FAL, a mochila, a rede, o rar. Voltamos para a Base
leza daquele animal quan- coturno, entres outros que de instrução. No dia se-
do um soldado do meu GC, eram de dotação de tropas guinte, qual não foi nossa
batendo várias vezes o pé no convencionais. Tudo isso di- surpresa? O soldado foi
chão resolveu dar um susto ficultava nossas atividades encontrado por dois ma-
na onça que, em posição de de operações na selva, mas teiros do CIGS e reintegra-
descanso apenas observa- seguimos firmes e fortes no do ao pelotão.
va aqueles curiosos. A onça cumprimento da missão. — “Missão tipo Coman-
se irritou, ergueu-se len- Muitos incidentes fize- dos”: cada integrante do
tamente e deu uma patada ram parte desses 18 dias do pelotão, individualmen-
por entres as grades da jau- melhor PELOPES de todos te, teria que executar uma
la e acertou o rosto de um os tempos no coração da missão noturna fazendo
soldado do pelotão; a unha Amazônia. deslocamentos, rastejan-
do felino provocou um fe- Instruções básicas de do, até chegar a um pos-
rimento um pouco abaixo técnicas e táticas de sobre- to rádio inimigo, sob um
do olho do guerreiro, sendo vivência e de operações na farol que girava para um
necessário conduzi-lo à en- selva foram, aos poucos, se lado e para o outro. No fi-
fermaria do CIGS para sutu- tornando rotina e toman- nal da missão, cada guer-
rar o corte, acho que levou do conta dos aguerridos reiro teria que lançar uma
uns 5 pontos. guerreiros “pelopeanos”. granada e destruir a posi-
Depois da preparação Apesar de terem se passado ção inimiga; após isso, o
nas áreas do aquartela- 40 anos, alguns momentos militar sairia de situação
mento do CIGS, eis que não se apagaram da minha e poderia ir para um pon-
chega o dia do embarque memória, eis alguns: to “fora de situação” (FS)
para a guerra na selva — — Um certo reconheci- que ficava às margens da
lá, a “onça bebe água”. mento foi determinado ao rodovia AM-010. Quando
Conhecer a selva gerava Cmt do PELOPES, o qual conclui minha missão, lá
grandes expectativas...O deveria estar acompa- já estavam na área de des-
temor pelo desconhecido nhado de seu Sgt Adjunto canso, o Sgt Armando e o
e pelo inusitado fazia parte e seus Sgt Cmt GC, bem Ten Morgan e outros mi-
imaginário de todos. como de alguns outros litares do pelotão “toran-

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do” na rasteira vegetação CENTRO DE INSTRUÇÃO DE GUERRA NA SELVA
do acostamento da rodo-

Sgt Hipólito
via; como eu percebia que
a rodovia não tinha grande
movimento, fui torar num
lugar mais agradável...em
dado momento escutei um
som que parecia ser um
ônibus vindo atrapalhar
minha tora no asfalto...
desesperado, procurei me
evadir do “confortável
colchão”, ofuscado pelo
farol do veículo, sai pi-
sando em tudo... inclusive
no Cmt Pel. O Ten Morgan
que, sem saber o que esta- Subtenente Hipólito, em 2003, ao lado de uma mascote do CIGS
va acontecendo, me fitou
com um olhar de espan-
to... com o rosto camu- desta vez em uma missão Bom, meus amigos, de-
flado, com graxa preta e de patrulha noturna, quan- pois de 40 anos, é natural
com os óculos de grau, o do o desembarque de uma que tenha esquecido al-
qual, já faltava uma len- canoa deveria ser ainda na gumas coisas, mas o que
te. Quando retornávamos água, nas proximidades da fica vivo na memória são
para Recife... no avião, margem, percebi o pavor os bons e inesquecíveis
todos cansados, à minha de um soldado ao alcan- momentos de tudo que fi-
frente estava o Ten Mor- çar a margem querendo se zemos com ideal, honra e
gan, ao vê-lo, recordamos desfazer da gandola (parte compromisso com a Pátria.
aquela cena. superior da farda) quando E que não esqueçamos ja-
— Outra cena marcante, de repente saltara dali um mais: “a palavra convence,
pra variar envolveu nova- peixe de aproximadamente o exemplo arrasta”.
mente o mesmo soldado.... uns 40 cm.

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A
“missão tipo comandos” citada pelo Cap Hipólito, era uma
missão noturna, executada próximo à Rodovia AM-10, que
liga Manaus a Itaquatiara. Na situação geral, havia um campo
de prisioneiros onde militares da tropa amiga estavam presos. Após
sermos divididos em duplas, nós tínhamos que progredir sem sermos
vistos, em um terreno contendo charco, cercas de diversos tipos com
arames farpados, armadilhas com cordéis de tropeços e sentinelas
duplos. O deslocamento até o campo de prisioneiros era vigiado por
uma sentinela numa guarita elevada de troncos de madeira, que com
projetor de luz varria todo o terreno, o que dificultava ainda mais nos-
sa progressão que durava cerca de uma hora. Se, durante o percurso,
alguém fosse plotado pelo inimigo, voltaria para o início. Próximo à cerca
do campo, tínhamos que silenciar simultaneamente as duas sentinelas e
lançar uma granada ofensiva, na guarita do posto de escuta/ vigilância.
Terminada a missão, íamos para a margem da estrada descansar e
aguardar a chegada de todo o pelotão. Ao chegar neste local, o então
Sgt Hipólito se deitou no asfalto da estrada, pois estava mais quente e a
noite fria, porém foi acordado com o barulho de carro que vinha na BR,
saltou para a margem da estrada ao perceber que podia ser atropelado,
quase me “atropelando”.

DESLOCAMENTO MOTORIZADO PARA


A GUARNIÇÃO DE RECIFE
No início de outubro de 1980, partimos motorizados para a 10º
Bda Inf Mtz para posteriormente seguirmos de C-115 (aeronave Bú-
falo) e C-95 (aeronave Bandeirante) para Manaus e realizarmos o
estágio especial de sobrevivência e operações na selva, de 06 a 18
de outubro 80.

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https://www.cavok.com.br/brasil-vai-doar-avioes

https://www2.fab.mil.br/musal/index.php/aero-
naves-em-exposicao/55-avioes/384-buffalo
-bandeirantes-a-cabo-verde

C-95 Bandeirante C-115 Búfalo

No Comando da 10ª Bda Inf Mtz, recebemos as orientações finais,


uma rede tipo “arataca” e um plástico do tamanho do telheiro da rede de
selva para cada integrante do PELOPES. Não sei de quem foi essa ideia,
mas a rede depois de molhada, pesava bastante. Também tivemos que
levar o capacete de aço e fibra, apesar de não ser necessário, pois não
era usado em área de selva.
Ministramos algumas instruções na mata atlântica, em volta da 10ª
Bda Inf Mtz, inclusive sobre como montar a rede com o telheiro.

DESLOCAMENTO AEROTRANSPORTADO
PARA MANAUS
Um ou dois dias depois estávamos embarcando numa aeronave
Bandeirante e em uma aeronave Búfalo, na Base Aérea do Recife, com
destino à Manaus, com escalas previstas em Fortaleza, em Teresina e
em Santarém. Poucos ou talvez nenhum soldado jamais tivesse visto
uma aeronave de perto, seus olhos arregalavam só em pensar que voa-
riam naquilo.

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5º Comentário
1980

Cabo Maciel,
atualmente Subtenente R/1

“A
nossa ida para balançava muito, parecia nos deu grande alegria foi
Manaus (eu, a até um “Reo”, caminhão que na chegado ao CIGS,
peça de mor- antigo do Exército. após o estágio, soubemos
teiro 60 que eu chefiava e O calor e o barulho da aprovação de alguns
o Adj do Pel Sgt Armando, eram tantos que torcía- militares do PELOPES
com escalas em Fortaleza, mos para chegar logo. Mas para o CFS (curso de for-
São Luís e Santarém), foi nem tudo foi negativo. A mação de sargentos), en-
realizada em uma aerona- tripulação nos tratou mui- tre os aprovados estavam,
ve C-95, Bandeirante, co- to bem e até nos ofereceu eu e o Sgt Hipólito”
nhecido pela aeronáutica alimentação boa e quente.
como cavalo de carga. Ela Outro fato marcante e que

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NO CENTRO DE INSTRUÇÃO
DE GUERRA NA SELVA – CIGS

N
o desembarque, nossos soldados deram de cara com aque-
les combatentes característicos da Amazônia, com boinas e
com coturnos de lona verde, o que os deixou um pouco as-
sustados. Fitando-os em seus olhos arregalados, eu disse: calma, os
bons aqui somos nós, que somos do melhor PELOPES da 10ª Bda Inf
Mtz. Em contrapartida, os selváticos do CIGS adoraram nossos co-
turnos pretos, muito bem engraxados, armamento e equipamento
em pé de guerra.
Ao apresentar o Pelotão, demos um alto brado de “SELVA!” que
ecoou no pátio interno do CIGS. A partir daí, começamos a mostrar
nossa força. Fomos recebidos pelo Cmt, Ten Cel Inf Fregapani, um
combatente entusiasmadíssimo com o CIGS e com as operações em
ambientes de selva. Sua postura e suas palavras contagiaram o nos-
so PELOPES, embora houvesse um clima de ansiedade e expectativa,
principalmente por parte dos soldados. No mesmo dia, fizemos um
teste de natação e no dia seguinte partimos para a BASE DE SELVA Nº
2, conhecida BI-2.

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6º Comentário
1980

3º Sargento Dorgival,
atualmente Técnico em Enfermagem

“C
mt Morgan! É Dário, Cabo Gonçalves delas e gritando: “vai você!
com imensa (hoje sargento da reser- vai que é sua!” E as cobras
alegria que me va remunerada) e, outros dando o bote.
dirijo ao Sr e aos demais tantos guerreiros que tão Pense numa situação.
membros do nosso grupo, bem representam o nosso No ano seguinte, já sabía-
para poder dar meu tes- soldado do Agreste. mos, nós já saberíamos a
temunho a respeito desse Muitas coisas ficaram na situação que iriamos en-
aprendizado inesquecí- minha mente naquele ano contrar....
vel, após três idas ao CIGS, de 1980, uma delas foi a Outro acontecimento foi
em 1980, em 1981 e em instrução sobre os ofídios, um fato curioso, do cabo
1982, neste como aluno do uma situação que eu nunca que comia alho ou passava
CFST/82. Dentre essas três tinha visto igual. na roupa, “para afastar as
participações, a que mais O instrutor do CIGS, cobras”, então por ocasião
me marcou foi a de 1980, após a teoria, mandou o da marcha através de selva,
em que, por ser recruta, pelotão fazer um círculo. nossa prima marcha com
tudo era novo, desafia- Quando pronto, chegou toda a Cia, o cheiro do alho
dor, e tinha que confiar no um militar com um saco espalhou-se e tomou conta
pouco conhecimento ad- cheio de cobras e as soltou de todos. O Cap Hidelgard
quirido nos períodos bási- no meio do círculo. Ser- ficou muito bravo com o
co e de qualificação, mas, pentes e sucuris com mais cabo, disse: Cb velho, você
principalmente, no Cmt de de um metro de compri- deu alho a toda companhia!
pelotão, nos sargentos, nos mento e os monitores em- Soldado por natureza já é
colegas como Alexandre, purrando a gente para cima gaiato, então foi uma risada

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só. Tempo bom! Isso é ser Nesta época, eu era o Sd vidos à nossa inesquecível
guerreiro de selva, desistir 679 Lima, depois Sargen- 1ª Cia Fzo.
nunca, aprender para ser to temporário Dorgival, “Brasil Acima de Tudo!
melhor sempre! Um forte na reserva não remunera- Deus Acima de todos! SEL-
abraço a todos. da. Nove anos e meio ser- VA!!!”

BASE DE INSTRUÇÃO N° 2

http://www.googlemaps.com.br
A BI-2 é utilizada normalmente para instruções de sobrevivência na selva e instruções de técnicas
individuais. É a primeira base onde os alunos têm o primeiro contato com a selva

CAMPO DE INSTRUÇÃO DE SANTA ROSA


Morgan Dowell

Militares do PELOPES em instrução especializada de sobrevivência:


confecção de abrigos, obtenção da água e fogo, orientação e obtenção de
alimentos vegetais e animais

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O
estágio era composto de três fases: vida na selva, técnicas es-
peciais e operações nível Patrulha, Grupo de Combate e Pelo-
tão. Por determinação do escalão superior, nós não seríamos
chamados nem de turno, nem de estagiários e sim de Pelotão, e os mili-
tares pelo seu posto ou graduação.
Após a alvorada e o deslocamento de madrugada, chegamos a BI-2
(Base de selva nº 2) ainda no lusco-fusco. A estrada de barro estreita
cortada pelo igarapé Candiru, com selva de um lado e do outro, pare-
cia engolir o nosso pelotão, mas não nos abatemos, afinal era o melhor
PELOPES da 10ª Bda, comandado pelo melhor Cmt e com os melhores
Sargentos, Cabos e Soldados do Agreste. Representávamos também o
71º BIMTz, minha primeira OM e havíamos treinado para isso. Recebe-
mos uma área, dentro da selva, para montar nossa base, onde perma-
neceríamos lá nas poucas horas de descanso, durante os 15 (quinze) dias
seguintes, e somente sairíamos de lá ao ouvir um silvo de apito, que po-
deria ser a qualquer hora do dia ou da noite.
https://www.4x4brasil.com.br/forum

Viatura reo para deslocamento até as Bases de Selva

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7º Comentário
1980

Soldado Alexandre,
atualmente Secretário de agricultura
de Terezinha-PE

“N
o dia seguinte, mos com uns oficiais ar- te, o Sd Jurandir fez uma
a sala de aula gentinos, que logo ao final promessa para que, se nós
começou pela nós dois saímos correndo todos fossemos para Ma-
manhã e foi até o próximo da mata e pegamos a estra- naus e voltássemos todos
dia: só instrução para ir da em direção a base, onde bem, daria uma volta de
para selva. Não sei se o que estávamos alojados? Os ar- joelhos em torno do campo
aconteceu, mas deu diar- gentinos não conseguiram de futebol e isso ele fez.
reia em quase todo mundo, aguentar e chegaram atra- Cel Morgan, foi mui-
então na enfermaria deram sados na base. ta coisa que passamos na
uma dose de remédio que Passamos pela sobre- selva e, resumindo, para
passamos dois dias com o vivência e foi terrível, só mim a experiência que ad-
intestino colado. nos deram ração no outro quiri não dá para falar em
A instrução com os botes dia. Estávamos mortos de poucas palavras. Eu par-
era muito engraçada, pois o fome, mas as missões não ticipei das três idas à sel-
bote virava e desvirava. Lem- acabavam. Durante a tra- va e ainda hoje me sinto
bro bem da noite que dormi- vessia de um rio, no cabo honrado de ter servido na
mos num charco, nós tive- submerso, o Sd Lira deixou 1ª Cia Fzo, no 71º BIMTz e
mos a oportunidade de ver os a corda escapar. Ia sendo ao Exército Brasileiro, até
alunos do curso de Guerra na levado pela água quando 1984. SELVA!!!”
Selva passarem por nós. o Sgt De Melo, Francisco e
Cel Morgan, lembra em outros pularam para aju-
uma missão que cumpri- dar. Outro fato interessan-

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INÍCIO DAS INSTRUÇÕES DE SELVA
(AMAZÔNIA, PARAÍSO OU INFERNO?)

P
ara quem não a conhece, não souber usá-la ou tratá-la, a Ama-
zônia é um inferno. Para os nativos e Guerreiros de Selva, é um
paraíso.
Tempestades, chavascais (local sujo com mata fechada de espinhos
e plantas silvestres), charcos, espinhos, animais peçonhentos e muitos
insetos: a tudo isso teríamos que nos adaptar. Nas primeiras instruções
de vida na selva, já começamos ver a necessidade de encarar estas pri-
meiras adversidades.
Embora o Pelotão já tivesse tido este tipo de instrução, na ÁREA DE
INSTRUÇÃO DE SANTA ROSA, em Garanhuns-PE, na Amazônia, por sua
vez, a situação é real. Após as instruções teóricas, fomos levados para
área de sobrevivência, para, durante dois dias, praticarmos o que apren-
demos. Tivemos que fazer coisas básicas para nossa sobrevivência que
eu já conhecia, como fazer o abrigo, o fogo, as armadilhas para caça e
obter alimentos. Neste exercício o pelotão foi divido em equipes com
sargentos e cabos comandando suas frações.
Morgan Dowell

Armadilha de caça — chiqueiro da onça

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Terminada a sobrevivência, bem cansados e com muita fome, após
um lanche, tomamos um banho no igarapé Candiru e trocamos de rou-
pa. Seguimos para as instruções de técnicas individuais específicas de
selva. A partir de agora nossos militares COMEÇAVAM A SE TRANSFOR-
MAR em combatentes de selva: técnicas de orientação, de explosivos,
de silenciamento de sentinelas, de armadilhas antipessoal improvisa-
das e de infiltração noturna, entre outras.

ARMADILHAS ANTIPESSOAL

Fotos: Morgan Dowell

Balanço baiano

Armadilha coletiva com FAL

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Nesta fase também fizemos um deslocamento através selva sem
acompanhamento do instrutor, da BI-3 até a BI-4, num total de aproxi-
madamente 12 km.
Este deslocamento deveria ter sido iniciado às 8h, para chegar a BI-4
às 19h, porém só nos liberaram por volta das 10h. Como a velocidade de
marcha através selva, normalmente é de 1Km por hora e ainda haveria
parada para o almoço, logicamente, através da selva não daria tempo,
mas para não deixarmos de cumprir a missão, já pelas 17h tivemos que
cair na Estrada do Puraquequara para acelerarmos a velocidade de mar-
cha e chegarmos às 19h, como aconteceu.
A BI-4 é a base de instrução onde são desenvolvidas as técnicas aquá-
ticas de flutuação, de utilização de “voadeiras”, de botes à remo, de
orientação fluvial e de operações aquáticas.
http://www.googlemaps.com.br

Bi-4. Base de instrução Cel Jorge Teixeira (“teixeirão”) no lago do Puraquequara

Terminadas as instruções especiais, passamos para as instruções de


patrulhas e de pelotão nas operações na selva.

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OPERAÇÕES NA SELVA

A
gora, a unidade do pelotão, a ação de comando dos comandan-
tes, a capacidade FÍSICA, a resistência PSICOLÓGICA, a RUSTI-
CIDADE, a PRESTEZA e CAPACIDADE de durar na ação estavam
a toda prova.
Diferente dos cursos nos quais havia um xerife, eu estaria, pratica-
mente, à frente de todas as ações, o que provoca um grande desgas-
te. Houve apenas uma patrulha nível pelotão que foi comandada pelo
Adjunto do Pelotão e outra de pequenas frações comandadas pelos
sargentos, mesmo assim, eu acompanhei as duas missões. Embora as
missões fossem quase na totalidade valor pelotão, principalmente no
interior selva, a ação de comando dos Cmt GC e Ch de Esq são funda-
mentais para o bom desempenho das operações.
Missões diurnas, missões noturnas, na selva e no lago, eram sem-
pre testes eficazes. Nosso PELOPES da 10ª Bda Inf, que representava
o CMNE, estava firme, ninguém amolecia, afinal, fomos bem treina-
dos para isso.
Nossas pendências resolvíamos dentro do pelotão, inclusive peque-
nos problemas de saúde. Nenhuma questão foi levada aos instrutores.
Não tinha noite nem dia nem comida fria que nos abalassem.
Durante todo estágio só comemos ração R2 de selva. Apenas um dia
no café da manhã o instrutor deu um pedaço de pão para cada um, pelo
nosso desempenho. A guerra continuava em meio às chuvas, ao frio e
ao equipamento e fardamento não adequados. O PELOPES do Agreste,
suprido com “cabras da peste”, continuava firme e forte.
Eis que então, chegou a última missão: eliminar os guerrilheiros na
Maloca do Índio Manauara (patrulha esta que eu já havia realizado,
quando passei no CIGS com o CAC 80/1).
Saímos da BI-4 de “voadeiras” (barcos de alumínio com motor de
popa) através do Lago do Puraquequara, até as cabeceiras do Branqui-
nho (Rio Branquinho), local onde faríamos contato com um indígena

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para recebermos mais informações. Na época do CAC 80/1, o Rio Bran-
quinho estava muito cheio e com forte correnteza, o que causava muita
dificuldade para subir.
Já quando cheguei com o pelotão, desta vez, ele estava seco demais,
causando dificuldades também, porque as embarcações encostavam
no leito do rio (na vida e, principalmente na selva, nada é fácil).
Durante as operações, para identificar a tropa amiga em um contato
fortuito ou para realizar um contato com um informante ou guia, usa-
mos senhas e contra senhas. Estas senhas e contra senhas, no CIGS,
normalmente, são palavras regionais. Muitos tinham dificuldade de de-
corar. A senha do contato com o índio era: “tem tambaqui no Puraque-
quara?”. Como contra senha, receberíamos a seguinte resposta: “não, só
tem tambaqui nas cabeceiras do branquinho”.
Chegamos ao contato todos muito cansados. Alguns com sinais de
hipoglicemia. Fizemos uma reidratação geral com as pastilhas de sal,
açúcar e água, pois ainda tínhamos que subir mais um pedaço do rio
Branquinho. Desta vez, desligamos o motor e fomos a remo para man-
termos o sigilo da operação. Mais um pouco acima, desembarcamos
antes do local previsto, pois a dificuldade de remar contra a correnteza
nos atrasou.
O instrutor perguntou: “E agora Cmt? A trilha que dava acesso à ma-
loca ainda está longe, vai até ela paralelamente ao rio? “Eu disse: “não,
vou refazer o azimute até a maloca a partir daqui.” Após ter reunido os
Sgt Cmt de GC, que concordaram que seria a melhor opção assegurando
que seus homens chegariam lá, em tempo de cumprir a missão. Deter-
minei que os Cmt GC transmitissem aos seus subordinados o que havía-
mos decidido e prosseguimos na missão.
Depois de cerca de duas horas de uma nova caminhada através
selva de 3 Km, chegamos ao nosso PRPO (ponto de reunião próximo
ao objetivo) com bastante vibração e entusiasmo: cumprimos nossa
última missão!

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8º Comentário
1980

Cabo Brito,
atualmente 2º Sargento R/1

“P
articipei dos
três estágios,
em 80, em 81, e
em 82. Em 80, Sd Brito, 81
e 82 Cb Brito. Muita sauda-
de, lembro que no término
do estágio chegou a notícia
da minha promoção a Cabo
e fui chamado para has-
tear o Pavilhão Nacional, já
como Cabo.”

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RETORNO AO CIGS, RECIFE E GARANHUNS

M
issão cumprida, agora o merecido descanso, com passeio
para conhecer e “muambar” na cidade de Manaus, e retornar
aos nossos lares.
No retorno, fizemos uma escala em Belém-PA, onde fomos leva-
dos para passar o dia com pernoite no 2º BIS (Batalhão de Infantaria
de Selva)
Durante a permanência no 2º BIS alguns de nossos combatentes
aproveitaram a ocasião e trocaram seus coturnos de couro pelos co-
turnos de lona verde e de couro com alguns soldados do 2º BIS, fato
este só visto por mim no embarque da tropa para Recife (até hoje ima-
gino o susto que o Cmt da companhia do 2º BIS deve ter tomado, ao
ver parte de sua Cia com o coturno todo preto).
Em Recife, nos apresentamos, pernoitamos na 10ª Bda Inf Mtz, para,
no dia seguinte, retornamos para Garanhuns (nesta mesma noite ao
chegar na Brigada, soube que minha avó havia falecido, enquanto eu
estava fora).
Quando chegamos no 71º BIMtz, não éramos mais só o PELOPES,
mas também o Pelotão de Selva do Tenente Morgan e da 1ª Cia Fzo.
Esta fama levou nosso pelotão a cumprir muitas outras missões. Pos-
teriormente, providenciei um distintivo para todos os militares do pe-
lotão. Um distintivo de gorro com a onça do CIGS, escrito “Estágio” em
sua parte superior.

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DISTINTIVO DE GORRO ADOTADO
POR MIM PARA USO DOS MILITARES
DO PELOPES

E
sta nova “ESPECIALIZAÇÃO” dos sol-
dados da companhia trouxe uma
grande elevação nos padrões das ins-
truções de sobrevivência, de armadilhas
improvisadas e de técnicas especiais para
o batalhão.
Esta impulsão na instrução especiali-
zada em selva foi fundamental para a 2º
fase da operação (a ida de uma companhia reduzida para o CIGS,
em Manaus).
O Ten Cel Fregapani, Cmt do CIGS, havia me dito que o ideal seria
ir um pelotão sem ninguém com experiência de selva, ou seja, a pior
hipótese para um adestramento, mas com um pelotão comandado
por alguém que já tivesse passado pelo CIGS e com um curso de co-
mandos, o desempenho da tropa seria bem melhor que o esperado,
pois nem sempre receberíamos uma tropa assim.

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9º Comentário
1981

Tenente Brasil,
atualmente, Major R/1 Brasil

“I
nicialmente eu Entusiasta que sempre gan e Ten Josemar, compa-
ressalto a extrema fui, desde a época de cade- nheiros que foram de funda-
relevância da ini- te, em participar de opera- mental importância para a
ciativa do Cel Morgan em ções nas áreas de selva, já adaptação minha e da minha
não deixar sumir no tempo tendo tentado a realização família na nova Guarnição.
fatos que compõem a his- do Curso de Operações na Ao me inteirar sobre a
tória do 71º BI Mtz. Selva do CIGS quando, por utilização da tropa na re-
Ainda 1º Ten fui trans- motivo de saúde, não logrei gião amazônica apurei
ferido do 23 BC para o 71º êxito, vislumbrei aí a opor- que todo o planejamento
BI Mtz, Batalhão Duarte tunidade de retornar para a já estava concluído, com
Coelho, em março de 1981. região amazônica. pessoal já selecionado e
Como é natural, procurei Ao me apresentar no Btl, obedecendo ao escalona-
obter o máximo de infor- então comandado pelo Cel mento de emprego, entre
mações sobre a minha nova José Maria de Aragão Sabino, os anos de 80 e 82, inicial-
unidade; uma delas me dei- fui designado para o coman- mente com um Pel, poste-
xou muito entusiasmado: a do da 2ª Cia Fzo. Encontrei riormente uma Cia. (-) e,
de que a 10ª Bda Inf Mtz, da uma tropa com excepcional finalmente, uma Cia. Pude
qual o Btl faz parte, tinha grau de operacionalidade, verificar que o Blt como
recebido a missão de pre- com oficiais e praças de ele- um todo estava imbuído
parar tropas para emprego vada motivação. e motivado com a missão
na Região Amazônica e que Reencontrei também dois que recebera, até mesmo
fração dessa tropa perten- companheiros de turma de pela expectativa de, futu-
cia ao 71º BI Mtz. AMAN, os então Ten Mor- ramente, ser empregado,

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na sua totalidade, em mis- resultados obtidos, con- é de que graças, acredito
são da mesma natureza. siderados excelentes para eu, ao emprego de tropas da
A instrução e prepara- uma tropa do NE empre- Unidade na região amazô-
ção dos militares selecio- gada pela primeira vez, no nica, no ano de 1983 quatro
nados transcorria em ritmo valor Cia, na região ama- oficiais do Btl entraram com
intenso com participação, zônica, percebi que a mís- requerimento para o COS
não só dos quadros da 1ª Cia tica fora criada, mística que B do CIGS, todos os quatro
mas, também, da minha muito ajudou na manuten- obtiveram êxito no defe-
subunidade que cedeu sar- ção do moral da tropa que rimento dos seus requeri-
gentos, cabos e soldados do se tornara expoente para mentos e, em 1984, con-
núcleo base para completar todas as Unidades do EB se- cluíram com brilhantismo
o efetivo que seria desloca- diadas na região NE. o referido curso. São eles,
do para a região amazônica. Outro fato que gostaria na época, eu, Ten Brasil, Ten
Após o cumprimento da de ressaltar na minha pas- Morgan, Ten Souza Abreu e
missão, com o retorno da 1ª sagem pelo 71º BI Mtz, que Ten Otaviani. O objetivo foi
Cia e com a divulgação dos durou até dezembro de 84, alcançado. Selva”

ORIGEM DA CLAREIRA DO AVIÃO

A
pós decolar do ae-

http://www.googlemaps.com.br
roporto Santos Du-
mont na manhã do
dia 13 de dezembro de 1962,
o Constellation PP-PDE da
Panair do Brasil faria escala
em várias cidades até deco- A clareira do avião fica dentro da área de instrução do CIGS e é um local
lar de Belém para Manaus, de passagem pelos alunos do curso de guerra na selva e alguns estágios,
anualmente. Dista cerca de 8 km da BI-3 e 20 Km do Rio Preto da Eva
destino final da viagem. Du-
rante a aproximação final, na madrugada do dia 14, a tripulação solicitou a torre do Aero-
porto da Ponta Pelada que ligasse as luzes de sinalização da pista. Depois de um breve con-
tato com a torre, a aeronave desapareceu. Ao constatar o desaparecimento, foi acionado o
Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (PARA-SAR) da FAB, que iniciaria buscas na região
de Manaus. Os destroços do Constellation PP-PDE seriam localizados por um avião do PA-
RA-SAR às 10h do dia 15, nas proximidades de Rio Preto da Eva, cerca de 30 km de Manaus.
Por conta de o local ser de difícil acesso e parte do bojo da aeronave ter sido encontrada
intacta, houve uma expectativa de serem encontrados sobreviventes. Uma equipe terres-
tre composta por médicos, engenheiros, funcionários da Panair, Petrobras e soldados seria
destacada para a selva, atingindo o local dos destroços apenas no dia 20. Não seriam en-
contrados sobreviventes entre os 44 passageiros e 6 tripulantes do Constellation PP-PDE.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Constellation_PP-PDE

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OPERAÇÕES SUBSEQUENTES

A
ida do PELOPES, em 1980, foi apenas a 1º fase da operação.
Em 1981, o 71º BIMtz mandaria uma companhia de fuzileiro
reduzida (isto é, sem o pelotão de apoio) e, em 1982, uma
companhia completa.

OPERAÇÃO CIA DE FZO NA SELVA-1981


Tendo como base o meu PELOPES de maioria de cabos e soldados an-
tigos, agora já com estágio de sobrevivência e operações na selva, seriam
treinados, no 71º BIMtz, os demais militares da Cia para a nova missão.
Eu, juntamente com os que já haviam ido, estávamos escalados. O
quadro de oficiais, formado por um capitão que comandaria a 1ª Cia, eu,
1º Ten Morgan, Cmt do 1º pelotão, 2º Ten Monteiro, Cmt do 2º pelotão e
2º Ten Garrett, Cmt do 3º pelotão.

ORGANOGRAMA DA 1ª CIA FZO (-PEL AP)

Cmt Cia (Cap Hidelgard)

Cmt 1º Pel (Ten Morgan) Cmt 2º Pel (Ten Monteiro) Cmt 3º Pel (Ten Garrett)

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Os graduados seriam os disponíveis na 1ª Cia Fzo. Como quem coman-
dava a 1º companhia do Batalhão era eu, embora para a missão devesse
ser com um capitão, terminei ficando encarregado do seu treinamento.
Com minha experiência no curso de comandos e agora com mais um
estágio no CIGS, pude impor um treinamento muito mais especializado
e dirigido para a nova missão.
Para comandar a companhia na operação, foi designado, acertada-
mente, o Cap Inf Hidelgard Farias de Vasconcelos. O Cap Hidelgard era
reconhecidamente um excelente oficial do batalhão, com conhecimen-
to de selva, pois havia servido em Marabá-PA, no 52º BIS (Batalhão de
Infantaria de Selva.

BASE DE INSTRUÇÃO N° 3

http://www.googlemaps.com.br

Na BI-3, o Rio Branquinho corta a estrada do Puraquequara. Neste lo-


cal, próximo ao rio e a estrada, se encontra um tapiri grande conhecido
como a Maloca do Índio Manauara, palco da última missão do nosso PE-
LOPES e de inúmeros cursos e estágios.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Constellation_PP-PDE

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10º Comentário
1980

Parte “A” − Capitão Hidelgard,


atualmente Coronel R/1

“N
os idos de A SU (subunidade) de- cumprimento da missão na
1981, eu servia signada foi a 1º Cia Fzo, data prevista. E foi o que
no 71º BIMtz, então comandada pelo 1º aconteceu.
em Garanhuns-PE, e recebi Ten Morgan, que no ano O estágio teve a duração
a missão de comandar uma anterior tinha participa- de 15 dias e as atividades
Cia Fzo do Btl que iria par- do do referido estágio no foram realizadas de manei-
ticipar de um Estágio Espe- comando do seu Pel. Cou- ra exemplar por todos os
cial de Operações na Selva, be, então, a ele, organizar integrantes da subunidade,
a cargo do CIGS, sediado e preparar a Cia, o que me tendo em vista que nas di-
em Manaus-AM. De acordo deu tranquilidade para to- versas oficinas, as exigên-
com a orientação do CIGS, car minhas atividades fun- cias eram as mesmas para
a Cia deveria ser constituí- cionais, na certeza de que todos, sem distinção de
da por três Pel Fzo. tudo estaria pronto para o posto ou graduação”.

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A
seleção e treinamento começou imediatamente após a incor-
poração. O Cap Hidelgard acompanhava de perto o treinamen-
to e sempre que podia participava, apesar de permanecer com
outras atribuições no batalhão.
Vivia-se o clima de selva, porém os novos soldados não tinham ainda
a menor noção do que seria este “passeio” à Manaus. Contudo, uma coi-
sa eles sabiam: que os que fossem para a missão seriam depois desta-
ques no Batalhão, como eram os veteranos.
Os treinamentos eram sempre forçados até a exaustão, sendo incre-
mentados com muitos polichinelos, cangurus e flexões. Além da ins-
trução normal, as instruções especializadas “apertavam” mais ainda os
nossos combatentes.
Faltava material individual. Não recebemos nada do escalão supe-
rior, era para ir com o que tivéssemos no Batalhão. Alguns improvisos
se fizeram necessários, inclusive alguns militares tiveram que comprar
suas lanternas e seus facões.

https://br.pinterest.com/pin/400961173065950919/

Cobra Surucucu pico-de-jaca

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DESLOCAMENTO PARA O CIGS − MANAUS-AM

A
companhia saiu de Garanhuns em deslocamento motorizado
para o 14º BIMtz em Jaboatão dos Guararapes, onde pernoita-
mos. No dia seguinte fomos para a Base Aérea do Recife e em-
barcamos na aeronave C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira.
http://minhapaixaoeaviaoeaviacao.blogspot.com/2014/08/
c-130-hercules-da-fab-forca-aerea.html

Aeronave Hércules C-130

No CIGS, novamente fomos recebidos pelo Ten Cel Inf Fregapani, que
agora já conhecia a boa fama do meu PELOPES.
A partir da primeira instrução, a Cia passou a ser organizada em GC
de selva, onde cada soldado teria sua especialização: orientador, arma-
dilhador, caçador, homem passo e homem ponto (seu armamento era
uma espingarda 12).

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11º Comentário
1980

Tenente Soares,
instrutor do CIGS, atualmente Coronel R/1

“A
Amazônia Legal tendo em vista pesquisar o participação em Operação
ocupa mais de comportamento do com- Conjunta com tropas de
50% do Terri- batente e produzir doutri- selva na Região de Frontei-
tório Nacional e torna-se nas para emprego imediato ra, em 1982.
necessária a existência de de uma reserva estratégica. O Estágio foi realizado
várias tropas operacionais Inicialmente, as tropas da em duas fases: Vida na Sel-
para combater na área de Região Nordeste atendiam va e Técnica (obtenção de
selva, cuja missão visa pro- os aspectos acima citados, água e fogo, de alimento de
teger, defender e manter a então a 10ª Bda Inf Mtz, após origem animal e vegetal,
integridade e a soberania seleção em 1980, enviou ao abrigos, armadilhas para
do nosso Território. A re- CIGS um Pelotão de Fuzilei- caça e pesca, orientação,
serva estratégica é impor- ros do 71ª BIMtz, localizado armadilhas antipessoal, ti-
tante no Teatro de Ope- no agreste, mas que tam- ros) e Operações.
rações em área de selva, bém opera na caatinga. Em seguida, apresento
a qual poderá ser de outra O sucesso foi tão grande o meu testemunho pessoal
região, mas com alta ca- que nos dois anos seguintes sobre a conduta individual
pacidade de mobilização, o CIGS recebeu a 1ª Cia Fzo dos estagiários, sobre a re-
poder combativo e rápida do 71º BIMtz para realiza- sistência, sobre a determi-
adaptação ao ambiente sel- ção do Estágio de Adapta- nação, sobre a coragem e
vático. Em 1980 iniciou-se ção e operações em Área de sobre o espírito de corpo da
um projeto experimental Selva, em 1981 e para reali- tropa, quando participei do
de emprego de tropas de zação do Estágio de Adap- Estágio como 1º Ten Instru-
outras regiões do Brasil, tação em área de selva e tor do CIGS em 1981 e 1982.

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A expectativa era grande 3ª Lei da Guerra na Selva tente.” (Canção do CIGS),
para receber a Companhia (“Mantenha o corpo, o ar- ela pode tornar-se aliada
(-Pel Apoio) em 1981, co- mamento, os equipamen- do combatente de selva.
mandada por um Capitão. tos em boas condições) e da A fase de Operações,
A Companhia sentiu o liderança em todo escalão. com a realização de patru-
impacto do clima quente, As instruções minis- lhas e deslocamentos atra-
úmido e abafado nos pri- tradas, na fase de Vida na vés selva utilizando os en-
meiros dias, fator normal Selva e Técnica, exigiram sinamentos aprendidos foi
no período de adaptação. muita habilidade por parte o coroamento com sucesso
As instruções eram mi- dos instruendos na escolha da passagem pelo CIGS.
nistradas até a madrugada e no manuseio do mate- Finalmente, em 1982 o
e reiniciadas no início da rial adequado encontrado CIGS realizou o Estágio com
manhã, disponibilizando na selva, e na utilização a 1º Companhia de Fuzilei-
poucas horas para repou- eficiente do armamento ros completa do 71º BIMtz.
so e para refeições. Apesar e do equipamento. Nes- A troca de experiências en-
destas adversidades, senti te quesito o combatente tre os militares do CIGS e da
que o Estágio seria diferen- da caatinga estava muito Caatinga trouxe ferramen-
te dos outros pela rustici- bem preparado e o nível de tas para trabalhar na área
dade, pela operacionalida- aprendizado alcançou alto de pesquisa, de análise do
de e pela ânsia de aprender grau de rendimento. pessoal, do equipamento e
o que era ministrado. As- A primeira fase estava do material, e na produção
sim, o resultado seria muito concluída. A Companhia de doutrinas para empre-
acima do esperado. rapidamente adaptou-se go de reservas estratégi-
Observei, também, que ao novo ambiente e o sen- cas diante de um Teatro de
ao término de cada jornada timento do Guerreiro de Operações envolvendo a
o Cmt Cia realizava a manu- Selva já era parte da tropa, Região Amazônica.
tenção do armamento junto pois pensava e agia como A Selva e a Caatinga for-
com a tropa. A inspeção era caçador e nunca com caça mam combatentes de fibra,
detalhada e a preocupação (5ª Lei da Guerra na Selva) determinados, persistentes
com as condições físicas e e sentia que se “a selva não e resistentes, sempre tendo
sanitárias era constante. pertence ao mais forte, mas em vista o objetivo final, a
Vi o emprego com rigor da ao sóbrio habilidoso e resis- vitória. Selva!”

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D
epois das instruções de vida na selva e de técnicas especiais,
passamos às operações na selva. A Cia, na selva, deslocava-se
normalmente com os pelotões justapostos (os três pelotões em
coluna um do lado do outro).
Nas áreas de reuniões clandestinas (áreas dentro do território inimi-
go), cada pelotão ocupava um terço do dispositivo circular com o grupo
de comando no centro.
Foram realizadas várias operações terrestres na selva e no lago do
Puraquequara. Em algumas das operações, após longo deslocamento,
ao FCVS (Fim do Crepúsculo Vespertino de Selva) começávamos a mon-
tar nossa base de Companhia, deslocando-nos em coluna, fazendo um
círculo com cerca de 80 homens, em silêncio, sem iluminação artificial,
até o homem da testa encontrar o último da coluna.
Neste local nos abastecíamos de água e de alimento, em seguida nos
deitávamos com os pés apontando para fora do dispositivo para dormir
e tirar o serviço de escuta em segurança, sem sair da posição.
Durante a madrugada a arbitragem mandou uma patrulha com a
missão de encontrar a nossa companhia e inquietá-la, mas a figuração
(militares que fazem papel do inimigo) não a encontrou.
Em uma dessas noites aconteceu um fato inusitado: como eu não ti-
nha mais suco (o Tang), resolvi fazer uma caneca de suco de guaraná da
Amazônia e dividir com o Ten Garret e Cap Hidelgard. Como resultado,
tomamos bastante suco e já eram quase 23h e não conseguíamos dor-
mir, aí lembramos que foi devido ao guaraná, pois é muito energético.
Para este tipo de atividade na selva, a tropa tem que estar muito trei-
nada devido à dificuldade de coordenação e controle. No ICMS (Início do
Crepúsculo Matutino de Selva), como não houve interferência do inimi-
go, retomamos nosso deslocando para nova missão.
Dentre as operações nível companhia, fizemos uma Operação de lon-
ga duração, partindo da BI-2 até a Clareira do Avião, local onde caiu um
avião na década de 1960 (e também mal assombrado, segundo algumas
pessoas), onde haveria uma ação. O pernoite, depois, seria em uma área
de reunião clandestina, e o retorno pela trilha do foguete, até a BI-3.

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12º Comentário
1980

Cabo Aux Enf S. Melo,


atualmente 3º Sargento Res

“A
lguns momen- após a retirada do sangue,
tos foram ines- mas o problema foi que os
quecíveis: um outros dois enfermeiros
deles foi a minha promo- adoeceram, então demo-
ção a Cabo durante o es- rou muito, porém eu disse
tágio de selva. O outro foi para o Capitão que podia
quando chegou minha vez deixar que eu faria o ser-
de apreender o ofídio. Aí foi viço sozinho.
mão de obra. Só sei que colocaram um
Lembro também que, recipiente com um monte
em Recife, quando che- de seringas dentro. Aí em
gamos, todos tinham que meti o “cacete” na veia do
tirar sangue para exame. pessoal. Aí, quando foi 8h,
O Cap Hidelgard disse que já tinha tirado o sangue de
só podíamos tomar café todo mundo.”

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D
urante esse pernoite, o Cabo Gonçalves sentiu muita dor com
uma crise de rins.
O enfermeiro tentou dar uma injeção de buscopan, mas o
Cabo pediu para me chamar para eu aplicar, pois eu já tinha aplicado
injeção nele na instrução de primeiros socorros.
O Gonçalves dormiu bem à noite, mas pela manhã, no deslocamento
para a BI-3 de 8 Km, através trilha, sentiu muita dor novamente, tendo
que ser evacuado para Manaus ao chegar na Base.

A
pós várias operações no interior da selva, chegamos à Base de
selva Nº3. Partindo da BI-3, fizemos uma grande emboscada
noturna, próxima ao igarapé Do Oito com todo nosso efetivo,
cerca de 80 homens, um espetáculo noturno de explosões e tiros tra-
çantes. Fizemos mais uma operação, mesclando marcha para o comba-
te na estrada e parte na selva, saindo da BI-3, com a missão de atacar as
instalações da BI-4.
Na BI-4, uma das patrulhas no Lago do Puraquequara, eu, Cap Hidel-
gard e o Ten Garrett tivemos que, à noite, fazer um contato com um
caboclo que estava no velório de seu amigo, dentro do cemitério.
Quando tentávamos fazer contato com o caboclo, que estava debru-
çado sobre o caixão, perto da viúva, o padre dizia que nós estávamos
assediando a viúva e dava um “tapão” no patrulheiro que estivesse mais
perto dele, começando a confusão. Terminamos por sequestrar o cabo-
clo e levá-lo para longe do local.

Terminado o Estágio, deslocamo-nos para o CIGS, onde houve a for-


matura em homenagem à companhia e a entrega do diploma do Está-
gio de Sobrevivência e Operações na Selva.

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13º Comentário
1980

2º Tenente Garrett,
atualmente Coronel R/1 da PM Rondônia

“A
no de 1981, eu, A viagem transcorreu de a posição determinada no
Comandante do forma normal. A única coi- dispositivo do cerco, o fiz
3º Pelotão da 1ª sa a se registrar foi o fato deslocando o pelotão todo
Companhia de Fuzileiros de que uma parte da tropa de uma só vez na transpo-
do 71º BIMtz, indo partici- vomitou muito durante o sição de uma estrada.
par com toda a Cia de um deslocamento aéreo, que Na oportunidade, o ob-
estágio de operações e so- durou 06 (seis) horas. servador de condutas, após
brevivência na selva. O primeiro fato marcante a transposição, me tirou da
O primeiro registro im- ocorrido com o pelotão foi situação e alegou que aque-
portante é o fato de que a determinação que eu re- la manobra estava errada.
na época nós servimos de cebi do então Cmt do CIGS Talvez por ser de artilharia,
cobaia para a vacina de Ten Cel Gelio Fregapani, o oficial observador desco-
Leishmaniose, que estava no sentido de realizar uma nhecia o fato de que aque-
sendo testada no Brasil. ação operacional (assalto) la manobra da transposi-
A ansiedade por parte em uma reunião que esta- ção da estrada teria que ser
da maioria dos integrantes va ocorrendo em um tapiri realizada daquela forma, ou
da tropa era muito grande, com o restante da Cia. seja, todo o pelotão ao mes-
considerando que muitos Outro fato a registrar: mo tempo e não homem a
jamais tinham tido a opor- durante uma ação de cerco homem, como o observa-
tunidade de realizar uma à BI4 (lago de Puraquequa- dor alegou. Após as expli-
viagem para outro Estado e ra), quando realizei a trans- cações técnicas feitas por
nunca haviam entrado em posição de uma estrada mim, horas depois da ação
um avião. com o objetivo de ocupar realizada o oficial observa-

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dor fez contato comigo di- di-me colocando minhas do Pelotão, considerando
zendo que minha atuação pernas por trás das dele, que a todo o momento ele
havia sido correta. que não caiu porque se se- tem que estar descansa-
Durante uma patrulha gurou em mim. Isto o dei- do e de moral alto para não
de contato feita no cemi- xou furioso. baixar o moral de sua tro-
tério, um oficial de nome Gostaria de ressaltar que pa. Como aluno do curso,
Cap B. M., que na simu- o estágio, embora não se em alguns momentos você
lação representava o Pa- compare com o Curso de deixa de ser o foco, passan-
dre, tentou nos bater com Operações na Selva, des- do despercebido, não por
socos e pontapés. Defen- gasta muito o Comandante muito tempo.”

BREVE RESUMO HISTÓRICO DO CIGS

O
Centro de Instrução de Guerra na Selva, CIGS foi criado em 02 de março de
1964, pelo decreto Nr 53649, tendo como seu primeiro Comandante o então
Major de Artilharia Jorge Teixeira de Oliveira, o TEIXEIRÃO.
Até junho de 1969, o CIGS foi subordinado ao Grupamento de Elementos de Frontei-
ra. Em fevereiro de 1970, passou a ser subordinado à Diretoria de Especialização e Ex-
tensão (DEE). Em outubro de 1970, passou a designar-se Centro de Operações na Selva e
Ações de Comandos (COSAC), com a missão de ministrar além dos cursos de Operações
na Selva e de Ações de Comandos.
Em 1978, retornou à sua antiga designação, deixando de ministrar o curso de Ações
de Comandos. Em setembro de 1982, o CIGS passou à subordinação do Comando Militar
da Amazônia, permanecendo vinculado tecnicamente à DEE, Atual DETMil.
O primeiro curso de Guerra na Selva funcionou no ano de 1966, os cursos eram minis-
trados em duas categorias, uma para oficiais e outra para subtenentes e sargentos. À
partir de outubro de 1969, passou a ser de três categorias: “A” para oficiais superiores, “B”
para Capitães e Tenentes e “C” para Sub Tenentes e Sargentos.
Ao longo de seus 56 anos de existência, o CIGS especializou 6.728 combatentes de
selva, sendo 566 de nações amigas (até 12 Nov 2020).
www.cigs.eb.mil.br

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N
a Amazônia, a existência de algumas doenças tropicais, como
a febre amarela, leishmaniose e a malária, requer prevenção e
orientação para as pessoas que irão para lá.
A febre amarela, na selva, é transmitida pelos mosquitos silvestres do
gênero haemagogus e sabethes, em áreas urbanas pelo mosquito Ae-
des aegiypti. A febre amarela causa diversas complicações que podem
levar a óbito. A prevenção é a vacina, que deve ser aplicada cerca de 20
dias antes da ida para a Amazônia.
A malária é uma doença infecciosa aguda, transmitida pela fêmea do
mosquito Anopheles, que, na falta de tratamento, pode também levar à
morte. Não há vacina contra a malária, mas há a prevenção e tratamen-
to com comprimidos HARALEN antimaláricos (hidroxicloroquina) que
pode ser tomado antes durante e após a viagem.
A leishmaniose é transmitida pela fêmea do mosquito denominado
Flebotomínio, também chamado de flebótomo, mosquito palha e ou-
tras denominações. São dois os tipos de leishmaniose, a tegumentar e a
visceral. A doença causa feridas na pele ou vísceras, neste último caso,
se não tratada, pode levar à morte. Na nossa ida para Manaus com a
companhia, foi testada uma vacina experimental, mas não obteve êxito
e até hoje não existe vacina para seres humanos, apenas para cães.
freepik.com

Cobra Sucuri

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Fotos: Morgan Dowell
Formatura no Centro de Instrução de Guerra na Selva e entrega de diploma (1981)

De volta a Garanhuns, a partir de agora, o batalhão passou a ter


uma companhia especializada em selva. Para marcar este evento, foi
desenhado o símbolo de selva na parede, próxima à entrada do PC da
1ª Cia Fzo.

Símbolo da 1º CIA FZO SL, marcado


na parede da companhia junto ao
PC CMT 1º CIA FZO, em 1981.

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14º Comentário
1980

Soldado Wilson,
atualmente 2º SGT RR PM

“P
articipei da Cia operação era mais forte e
na selva, no assim terminamos a missão
ano de 1981, que ficou na história da mi-
onde aprendi a viver em nha carreira militar.
caso de necessidade de Eu tenho muitas recor-
sobrevivência, inclusive dações da selva, porém a
aprendia a boiar, a sub- mais significante foi na ins-
mergir e a emergir em uma trução de cobras, porque
piscina de azulejos pretos, todo mundo tinha que co-
para dar a mesma sensação mer um pedaço do animal.
de estar nas águas escuras Quando chegou a minha
do Rio Negro. vez eu, acostumado a co-
Durante os dias, passei mer ovo, fui logo ignorando
entre alegria e tristeza, por, a minha participação, pois
no início do estágio, em estava enjoando, mas de-
uma operação no braço do pois que comi, fui logo para
Rio Amazonas, ter perdido o final da fila de novo.
a minha dentadura. Mas a Brasil acima de tudo!
vibração de participar da SELVA!”

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OPERAÇÃO CIA DE FZO NA SELVA-1982

E
sta última fase da operação contava com a 1ª Cia de Fzo com-
pleta, QO (quadro de organização) de guerra a comando do Cap
Hidelgard. Como subalternos estávamos eu, o 2º Ten Otaviani,
2º Ten Souza Abreu e o 2º Ten Monteiro. Muitos dos sargentos, cabos e
soldados que estiveram nas operações da 1ª e 2ª fases foram também
para a 3ª fase.

ORGANOGRAMA DA 1ª CIA FZO

Cmt Cia (Cap Hidelgard)

Cmt 1º Pel/SCmt Cia (Ten Morgan)

Cmt 2º Pel (Ten Monteiro) Cmt 3º Pel Fzo (Ten Souza Abreu) Cmt Pel Ap (Ten Otaviani)

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15º Comentário
1980

Tenente Otaviani,
atualmente Coronel R/1

“A
missão impos- Nossos treinamentos, altos e baixos. Diante de
ta para a nos- realizados tanto para a mis- uma dificuldade prolon-
sa companhia são em Manaus-AM, como gada, é natural que alguns
de exercício não era uma para a operação na região possam apresentar fra-
missão fácil. Afinal, a de Boa Vista-RR, foram gilidades pontuais e mo-
vida no Batalhão não ha- muito bem planejados e mentâneas, sejam físicas
via parado. realizados. Isso foi funda- ou psicológicas.
Pertencíamos a um ba- mental para os bons resul- Mas, quando se consegue
talhão de infantaria im- tados obtidos. trabalhar com uma tropa
portante e tudo continua- Sob a coordenação dos, que possui boa liderança,
va acontecendo, a despeito então, Cap Hidelgard e 1º motivação e comprometi-
da nossa missão extra: in- Ten Morgan, conseguimos mento com a missão, tudo
tegrar uma companhia de montar uma boa equi- pode ser superado. Foi o
fuzileiros, para participar pe de trabalho. Sabemos que aconteceu com nossa
de uma operação na região que em qualquer grupo as companhia. Selva!!!”
Amazônica. pessoas podem apresentar

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16º Comentário
1980

CAPITÃO HIDELGARD
ATUALMENTE CORONEL R/1

“N
o ano seguin- ção do pessoal, preparação vibração, desprendimento
te, 1982, fui profissional específica para e capacidade profissional de
designado o estágio no CIGS e para a todos os seus integrantes,
para comandar outra Cia manobra, preparação físi- executando as atividades
Fzo do Btl, agora com QO e ca e psicológica de todos os previstas e inopinadas com
dotação de material com- integrantes da SU. correção, presteza, segu-
pletos, que iria participar A missão apresenta- rança e responsabilidade e,
de um Estágio Especial de va uma série de novidades apesar da grande exigência
Sobrevivência e Operações para a maioria do pessoal física, nunca demonstrou
na Selva, a cargo do CIGS, selecionado, como vaci- cansaço nem desânimo.
bem como da manobra que nação contra leishmaniose Durante as duas semanas
seria realizada pelo CMA na e febre amarela, prepara- de emprego, teve apenas
cidade de Boa Vista-RR. O ção do material individual uma baixa e por motivo de
objetivo do estágio era ava- e coletivo, inclusive kits de saúde e nenhum problema
liar e levantar informações primeiros socorros e ma- disciplinar.
sobre o emprego de uma nutenção de armamento O destaque da nossa
Cia Fzo em área de selva. para uso em área de selva, missão foi o desempenho
Considero que a fase deslocamento aéreo e flu- da Subunidade, cada ho-
mais importante da missão vial, dentre outros. mem sabia exatamente o
ocorreu no 71º BIMtz, onde Tanto no estágio no que, como, onde e quando
foram realizadas as princi- CIGS, como na manobra, na fazer e, na oportunidade
pais atividades para a sua região de Boa Vista, a SU se adequada, fazia sempre da
execução, tais como: sele- destacou pelo entusiasmo, melhor maneira possível,

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estando todos comprome- a capacidade profissional do trabalho realizado, de-
tidos com a missão. do soldado do 71º BIMtz — sejando que tudo e todos
Por fim, destaco a CA- “Batalhão Duarte Coelho”, estejam bem e, o coronel
MARADAGEM, o ESPIRITO sediado em Garanhuns-PE, Morgan, em especial, pela
DE CORPO, a DISCIPLINA no agreste meridional. iniciativa de rememorar
CONSCIENTE e a DETER- Aproveito a oportuni- fatos importante de nossas
MINAÇÃO de todos os in- dade para, mais uma vez, vidas profissionais”.
tegrantes da Subunidade cumprimentar todos os
em demonstrar e provar senhores pela excelência

PÁTIO DE FORMATURA DO CIGS


Cel Hidelgard

Formatura de término do estágio de sobrevivência e operações na selva, com direito a diploma. Presentes na foto,
o Ten CeL Fregapani, Cmt do CIGS, seu SCmt, Cap Hildelgard e eu, Ten Morgan. Terminada esta primeira parte da
missão, a 1ª Cia Fzo deslocou-se para Boa Vista-RR, com a finalidade de participar da operação Surumu

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Estágio no CIGS

N
esta terceira fase, passaríamos por um estágio de sobrevivên-
cia e operações na selva no CIGS, já não sendo mais novidade
para alguns, principalmente para mim, já que seria meu 4º Es-
tágio no CIGS.
O número de militares na companhia com estágio de selva facilitou
muito o aprendizado dos demais. A nossa presença no CIGS já não era
mais novidade: era esperada.

A
pesar da passagem pelo CIGS de diversos outros cursos como
COMANDOS, COMANF, PARASAR e tropas do 26º BI Pqdt, a
nossa companhia também despertava interesses dos instruto-
res por estar levantando dados técnicos e táticos sobre deslocamentos,
emprego de armamentos, inclusive de Morteiros 81mm e metralhado-
ras MAG e ações nível companhia no interior da selva.
Com a intenção de avaliar o tiro de morteiro, de fora para o interior da
Selva, O Maj Barros Moura, instrutor do CIGS, determinou que a seção
de morteiros 81mm ocupasse uma posição fora da selva, a comando do
Cmt do Pel Ap, o Ten Otaviani, para realizar tiros em alvos determinados
no interior da mata.
Visando conduzir o tiro o mais precisamente, o Maj Barros Moura e
o Cap Hildelgard ocuparam uma toca coberta por toras de madeira, o
mais próximo possível da zona de impacto das granadas, dentro de uma
margem de segurança, para corrigir e conduzir os tiros ao alvo. Sem dú-
vida foi uma situação vibrante e inovadora.

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2020

17º Comentário
1980

Tenente Souza Abreu,


atualmente Coronel R/1

“E
m 1982, apre- intenso treinamento em sertão nordestino, operan-
sentando-me Garanhuns. do no ambiente operacio-
como aspiran- Depois, seguimos em ae- nal da Amazônia.
te a oficial recém-egresso ronaves da FAB para Manaus. Foram quase trinta dias
da AMAN na 1ª Companhia O objetivo era participar do fora da nossa sede. Inicial-
de Fuzileiros do 71º BIMtz exercício de grande coman- mente, no Centro de Ins-
(Garanhuns), tive a honrar do denominado “Operação trução de Guerra na Selva
de ter sido comandado pelo Surumu. A nossa SU — a (CIGS), cumprimos o Está-
então 1º Ten MORGAN — “SUOPES” do batalhão — re- gio de Operações na Selva,
posteriormente meu padri- cebeu a missão de represen- com a finalidade de adapta-
nho de casamento e de meu tar o 71º BIMtz e a 10ª Brigada ção dos homens ao ambien-
primeiro filho. Juntamente de Infantaria Motorizada — te de selva. Posteriormen-
com os tenentes temporá- uma brigada com emprego te, integramos a manobra
rios GARRETT, MONTEIRO previsto nas hipóteses conti- estratégica concebida pelo
e JEFERSON, formamos um das nos Planos Operacionais CMA na região do lavrado
time de primeira linha. do Exército para o Comando de Roraima, com a parti-
O fato mais marcante Militar da Amazônia (CMA) cipação de contingentes de
desse ano foi o emprego da em caso de conflito. várias partes do Brasil.
nossa companhia na Ama- Tratou-se de um de- Foi uma emoção sem
zônia. Reforçada em pes- safio único participar do igual, tanto para o meu
soal pelo Ten OTAVIANI e adestramento daqueles aperfeiçoamento profis-
por outros oficiais e praças homens, acostumados às sional quanto para a au-
do batalhão, fizemos um agruras do agreste e do toestima da tropa. Palavras

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como igarapé, tambaqui, hostil, foram determinantes OM e para os que dela parti-
xexuá, carapanã e outras para a criação de uma mís- ciparam que cinco tenentes
tantas foram incorporadas tica inspirada na Amazônia. daquela geração se candida-
ao linguajar daqueles bra- Chegamos até a usar nas taram ao Curso de Operações
vos soldados do 71º BIMtz. nossas coberturas o símbo- na Selva e concluíram com
A vibração e o conhecimen- lo da onça e o nosso grito de êxito, sendo que MORGAN,
to técnico-profissional do guerra era “Selva!”. OTAVIANI e eu fomos no-
Ten MORGAN, já experiente A aventura no CMA foi de meados instrutores do CIGS
em operações em ambiente tal modo marcante para a nos anos seguintes. Selva!”

TÉRMINO DO ESTÁGIO DO CIGS (1982)

Morgan Dowell
Formatura em homenagem a 1ª Cia e entrega de diploma (1982)

Operação Surumu − Roraima

A
pós o estágio realizado no CIGS (Manaus-AM), fomos transportados por meio
de aeronaves de C-130 — Hércules, até Boa Vista. Partindo de Boa Vista fomos
transportados motorizados para a Área de Concentração de tropa próximo ao
Rio Uraricoera, passando a fazer parte do 1º Escalão do 2º BIS (Batalhão de Infantaria de
Selva), comandado pelo Cel Berredo. A 1ª Cia de Fzo do Agreste de Pernambuco passou a
ser enquadrada como a 1ª Cia Fzo de Sl do 2º BIS, participando das manobras principais.
A companhia passou um ou dois dias na área de concentração, enquanto esperava
as demais tropas da manobra. A nossa subtenência, neste período, funcionava servin-
do as refeições, água, demais suprimentos e fazia atividades de combate, como eva-
cuação de feridos e mortos etc.

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Teatro de Operações

A
pós um deslocamento de Boa Vista até a margem norte do Rio
Uraricoera, chegamos à Área de Concentração da tropa. A ope-
ração iniciaria com uma marcha para o combate motorizada,
seguindo rumo Norte cruzando o Rio Surumu, em São Marcos, até pró-
ximo a nossa fronteira com a Venezuela (Santa Elena de Uairén).
Imagens: http://www.googlemaps.com.br

Mapa de Roraima

Mapa da Região da Área de Operações, do Rio Urariquera ao


Rio Surumu e São Marcos

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D
entre os nossos meios de combate, havia também a força aérea
e um pelotão paraquedista.
A operação constou de uma marcha para o Combate moto-
rizada com atuação da aviação inimiga, com ocupação de uma zona
de reunião, com uma transposição do Rio SURUMU ao amanhecer, em
botes de apoio da Engenharia, com um ataque coordenado e com uma
junção com a tropa paraquedista.
A marcha motorizada com a presença de vários incidentes do inimi-
go, inclusive aéreo, começou logo cedo pela manhã.

http://www.googlemaps.com.br
Eixo principal da marcha para o combate

O itinerário era muito recortado por vários Igarapés com vegetação


ciliar de selva. Aproveitávamos quando havia incidentes da figuração
próximos a estes igarapés, para que um homem por GC abastecesse os
cantis do grupo, pois, com a dinâmica da operação, a logística não con-
seguia acompanhar de imediato a tropa. Após ocuparmos nossa zona
de reunião, à tarde houve um reconhecimento até próximo do Objetivo
da 1º Cia Fzo para identificar no terreno o itinerário, a Linha de Partida,
a Posição de Ataque e Posições Inimigas. Ao alvorecer, a nossa compa-
nhia realizou a travessia do Rio Surumu (LP), em barcos de assalto da
Engenharia de Combate, com bastante dificuldade devido a pouca visi-
bilidade e inclinação das margens do rio e prosseguimos no ataque até
próximo a posição de assalto.

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http://www.googlemaps.com.br

Rio Surumu

A partir daí a manobra parou por determinação do escalão superior e


a hora do ataque, que seria 06:00h, passou para 07:30h.

AGUARDANDO A LIBERAÇÃO PARA NOVA


HORA DO ATAQUE
O ataque reiniciou com
Morgan Dowell

muita vibração e determi-


nação até a conquista do
nosso Objetivo e prossegui-
mos até a junção com a tro-
pa paraquedista.
Ficou patente o desem-
penho e a competência pro-
fissional dos nossos solda-
dos do nordeste, mesmo em
ambientes poucos conhecidos, tanto na parte operacional quanto
na logística.

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REGIÃO DOS OBJETIVOS DA 1ª CIA

http://www.googlemaps.com.br
Novamente a nossa gloriosa 1ª Cia Fzo do 71º BIMTz, especializada em
Operações na Selva, cumpriu mais uma missão, sem nenhuma baixa,
em um território longínquo dentro floresta amazônica, com formações
arbustivas e herbáceas e faixas de cerrado.
Encerrada a manobra, nossa companhia fez um deslocamento ad-
ministrativo até a Zona de Reunião, onde embarcaríamos para a Área
de Concentração.

REAGRUPANDO AS FRAÇÕES APÓS O EXERCÍCIO Morgan Dowell

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Após a Operação, voltamos para a Área de Concentração da tropa,
próximo ao Rio Uraricoera e lá permanecemos fora de situação, durante
três dias, enquanto escoava toda a tropa envolvida na manobra.
Fotos: Morgan Dowell

Área de concentração da tropa

Aguardando o embarque para o deslocamento para Boa Vista

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18º Comentário
1980

Tenente Monteiro,
Atualmente Prof. Educação Física

“U
m fato que me falecimento do Sd Filho
marcou mui- na travessia do Rio. Uma
to foi, logo baixa lamentável de um
após a transposição pelo companheiro de manobra.
Rio SURUMU, em embar- Moro aqui em Taperoá-PB,
cações da engenharia com tenho esposa e um casal de
muita dificuldade, devido filhos, e duas netas, e con-
à inclinação das margens e tinuo à disposição dos ve-
a pouca visibilidade. Nes- lhos amigos”.
sa situação soubemos do

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O
Sd Filho servia no 2º BIS, em Belém do Pará-PA. Durante a
transposição do Rio Surumu, que era a Linha de Partida para
o ataque, o Sd Filho realizava a travessia em um cabo sub-
merso com os demais militares de sua companhia, quando, por mo-
tivo não sabido por nós, largou o cabo submerso, afundou e afogou-
se. Recebemos a notícia, extraoficialmente, em meio ao ataque que
se iniciava, o qual não foi interrompido, pelo menos para a 1º Cia Fzo,
através da estação rádio da companhia. Nunca soubemos como real-
mente aconteceu o acidente.
Ao Sd Filho que morreu cumprindo gloriosamente sua missão no
Exército Brasileiro como um bravo herói, a ele, nós da 1ª Cia de Fzo, seus
irmãos de arma, prestamos nossas honrosas homenagens, extensivas a
seus familiares. Selva!
Após cerca de 20 dias em operações fora de nossa sede, retornamos
para nosso batalhão, onde fomos recebidos em uma formatura. Mais
uma vez, vitoriosos, desembarcamos em nosso 71º BIMtz, o batalhão
orgulho do nordeste. Entramos em forma, apesar de todo o cansaço,
desfilamos com o peito arfante anunciando nossa chegada, cantando a
canção da companhia: “Abram alas que vem chegando a 1ª companhia
com seus soldados de fé e varonil, que constitui a defesa do Brasil”.

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Morgan Dowell
COMENTÁRIOS FINAIS

M
eu interesse pelo Ao chegarmos em Reci- tando muito nossas mis-
Exército vem des- fe vindos de Caicó, devido sões que estavam por vir.
de pequeno quan- a última transferência de Cerca de dois anos após,
do morava em Natal. Meu meu pai, surgiu a oportu- já servindo em Altamira-
pai, na época ainda sar- nidade de estudar no Colé- PA, eu concluí o Curso de
gento, servia no 16º RO gio Militar do Recife no 1º Guerra na Selva com mais
(Regimento de Obuses) ano do científico e, poste- três oficiais que servi-
costumava me levar para riormente, concorrer para ram comigo no 71º BIMtz.
o quartel, que era ao lado ingressar na AMAN ou fa- O conhecimento técnico,
da vila dos subtenentes e zer vestibular para medici- tático e a experiência no
sargentos, em Santos Reis. na e tentar a Escola de Saú- comando de pelotão, ad-
Enquanto ele trabalhava, de do Exército. Orientado e quiridos nestes estágios de
eu perambulava pelos pas- incentivado pelo meu pai, sobrevivência e operações
sadiços das baterias e anti- a quem devo muito, agar- na selva, fizeram com que
go Campo de aviação (co- rei a primeira oportunida- meu desempenho duran-
nhecido como Aero-geral) de e me tornei aspirante te o curso fosse destacado,
às margens do Rio Poten- em 1978. pois muitos instrutores co-
gi. Tudo isso me fascina- Hoje sinto-me mui- mentavam que, ali, tinha
va e me fazia gostar cada to gratificado por ter par- um tenente PhD em selva.
vez mais do Exército, des- ticipado dos três estágios Os estágios realizados
pertando minha vocação. de operações na selva no pelo Pelotão e pela Compa-
Além da vila militar de Na- CIGS e da Operação Suru- nhia trouxeram o espírito
tal, morei na Vila Militar mu, praticamente no início da selva Amazônica para o
do antigo 1/3ª GACosM, em de minha carreira, pois foi 71º BIMTz e os elementos
Olinda-PE e do 1º BEC (Ba- muito mais que gratifican- necessários para que a 10ª
talhão de Engenharia de te. Foi, na verdade, uma Bda Inf Mtz fosse emprega-
Construção), Caicó-RN, e honra ter ombreado com da, com êxito, em sua mis-
sempre que podia andava tão ilustres combatentes da são na Amazônia.
pelos quarteis. Toda a ex- 1ª Cia Fzo e do 71º BIMtz.
periência de vida junto aos A experiência trazida Selva!
quarteis com meu pai me fez dessas jornadas foi um di-
logo cedo decidir sobre qual visor de águas em nossas MORGAN DOWELL CABRAL
profissão gostaria de seguir. vidas profissionais, facili- DE BRITO — CEL INF

CASERNA | Revista Edição única | 2021


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“Árdua é a missão de desenvolver a
amazônia, muito mais difícil, porém,
foi a de nossos antepassados em
conquistá-la e mantê-la.”

Gen Ex Rodrigo Otávio

Projeto gráfico e diagramação: Joselma Firmino


Revisão: Morgan Dowell
Fotos: Acervo do autor, dos colaboradores e da internet
Impressão e acabamento:

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