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Editorial
“Se você está disposto a chegar aonde a maioria não chega,
terá que fazer as coisas que a maioria não faz.” SELVA!
I
nicialmente, gostaria, tel General do Exército. Em quele Teatro de Operações,
nesta oportunidade, de 2004, enquanto servia no como seria a aclimatização,
expressar a minha feli- Colégio Militar do Recife, a adequabilidade do nosso
cidade de, mesmo após 40 passei para a reserva, em- material, do armamento,
anos, estar relembrando fa- bora tenha permanecido no da alimentação, qual seria o
tos tão antigos e pessoas que, colégio até 2017, como pro- tempo de instrução de selva
até hoje, sou grato por terem fessor PTTC de Filosofia e necessário e, até, como se-
participado de momentos da Sociologia. Sou filho do Cap ria a adaptação do homem
minha vida profissional e da Dent Mac Dowell Perdigão do nordeste à Amazônia.
minha história de vida. Sen- de Brito e de Maria Cabral Naquela época, o plano era
do assim, não poderia deixar de Brito, casado com Angela mandar uma fração pequena
tudo isso se perder no seio da Maria Waked de Brito, te- (pelotão) sem experiência na
família e no meio militar. nho dois filhos, Hogan Wa- área, com os meios normais
Eu sou o Coronel R/1 de in- ked de Brito e Denis Waked de um pelotão de infantaria
fantaria, turma da AMAN de de Brito, aos quais agradeço e, nos anos seguintes, au-
1978, participei do curso de todo o apoio em minha vida mentar, gradualmente, o es-
ações de comandos 80/1 Cat familiar e profissional. calão. Seriam levantados os
“C” e realizei o curso de guer- As operações na selva dados necessários para servir
ra na selva 84/2 Cat “B”. Fre- exigem uma tropa espe- de orientação para qualquer
quentei três estágios de selva cializada e um equipamen- emprego de tropa do Nordes-
no Centro de Guerra na Selva- to diferenciado e adequa- te na Amazônia, no futuro.
CIGS, com tropa do 71º BIMtz, do para que dure na ação e Deixo também a minha
onde servi nos anos de 1980, aproveite o máximo do am- homenagem e agradeci-
1981 e 1982. Servi ainda dois biente de selva a seu favor. mento a todos aqueles que
anos no 51º BIS, em Altamira- A 10ª Brigada de Infan- não foram citados em nossa
PA, no 28º BC, em Aracaju-SE taria Motorizada, localiza- história, mas que dela par-
e no 31º BIMtz, em Campina da na Guarnição de Recife ticiparam com a mesma im-
Grande-PB. -PE, opera também como portância.
Em 1988, cursei a EsAO uma reserva estratégica da
e em 1989 e 1990, fui ins- Amazônia. Para isso havia a “Tudo pela Amazônia!
trutor do CIGS. Passei oito necessidade de saber como Selva!”
anos em Brasília na função uma tropa do Nordeste iria MORGAN DOWELL CABRAL
de Comandante do Quar- desempenhar seu papel na- DE BRITO — CEL INF
ESTÁGIO DE OPERAÇÕES
NA SELVA NO CIGS
REFERÊNCIAS:
- Cel R/1 Antonio Carlos Duarte Soares - 2º Sgt PM José Wilson de Araújo Silva
- Cel R/1 Josemar Rodrigues de Souza - 2º Sgt R/1 José Amaury de Brito
- Cel R/1 Otaviani Luciano Souza - 3º Sgt R/1 José Santos de Melo
- Cel PM R/1 Amoan Itai Garrett - 3º Sgt Res Armando Tenório Belo Filho
- Maj R/1 José Washinton Bastos Brasil - 3º Sgt Res Dorgival Lima de Souza
Fotos: http://www.googlemaps.com.br
10ª BRIGADA DE INFANTARIA MOTORIZADA
ESTÁGIO
1 2 3
pois não receberá Mantenha seu
Procure a
ordens para todas corpo, armamento
surpresa por
as situações. e equipamento em
todos os modos;
Tenha em vista o boas condições;
objetivo final;
Aprenda a
suportar o
4 5 6
Combata sempre
desconforto e Pense e aja como
com inteligência
a fadiga sem caçador, não
e seja o mais
queixar-se e seja como caça;
ardiloso.
moderado em suas
necessidades;
1º Comentário
1980
Tenente Josemar,
atualmente Coronel R/1
“I
nicialmente agra- localizado em Garanhuns, ram a trajetória de tão brio-
deço ao meu caro interior de Pernambuco. sa subunidade do Batalhão
e seleto amigo e Eventos que por mo- Duarte Coelho.
companheiro de Turma tivos inexplicáveis, e que Estes eventos foram os
de Infantaria da Academia não conseguimos enten- estágios de adaptação à
Militar das Agulhas Negras, der o porquê: — não fica- selva programados pelo
Coronel R/1 MORGAN DO- ram registrados nos anais escalão superior e coorde-
WELL CABRAL DE BRITO, do 71º Batalhão de Infan- nados pela 10ª Brigada de
pelo convite que me foi for- taria Motorizado e da 1ª Infantaria Motorizada, e
mulado para participar com Companhia de Fuzileiros. que ocorreram na Região
o meu depoimento para a Esta falta de registro oca- Amazônica. Foram exercí-
sua revista “Caserna”. sionou o esquecimento no cios no terreno que tiveram
Publicação bem opor- tempo e no espaço destes por finalidade preparar a
tuna e necessária, elabo- importantes eventos. adaptação do combaten-
rada e preparada por ele, Sendo assim, hoje, se faz te nordestino, o “soldado
com a finalidade específica necessário um resgate atra- da caatinga”, ao ambiente
de resgatar a memória de vés de memórias vivas dos de selva. Os referidos es-
três eventos de grande re- fatos que realmente acon- tágios ocorreram em três
levância ocorridos com a teceram naquele período. (03) anos consecutivos no
1ª Companhia de Fuzileiros Todo este processo de busca início da década de oiten-
do 71º Batalhão de Infanta- tem por finalidade reesta- ta e as instruções foram
ria Motorizado — “Batalhão belecer a justiça resgatando coordenadas e ministradas
Duarte Coelho”, que fica fatos históricos que marca- pelo Centro de Instruções
Na realidade, só soube-
dos-habitantes-do-zoologico-do-cigs-em-manaus.html
http://www.cigs.eb.mil.br/zoologico.html?view=article&id=125:zoologico-do-cigs
Foto de parte do zoológico do cigs (local onde a fauna amazônica é apresentada aos alunos)
2º Comentário
1980
3º Sargento Armando
atualmente comerciante
“O
Pelotão de HOMENS, ainda quase ga- cobradas, como as incur-
Operações Es- rotos, porém imbuídos de sões através dos rios Mai-
peciais (PE- muita responsabilidade, ná, Mainazinho, Branqui-
LOPES), composto por determinação e, sobretu- nho e Puraquequara, ou
soldados de infantaria, de- do, muito bem comanda- as frequentes madrugadas
via atuar como força ope- dos. Partiram, no início sob fortíssimas trovoadas
racional, dando ao Cmt da de outubro, com destino a e navegações através da
Cia uma fração altamente Manaus, para treinamento selva, que só serviram de
flexível e poderosa, trei- intensivo de combate na estímulo para que a nos-
nada principalmente para selva Amazônica. A ansie- sa missão/operação no
o combate de assalto. Foi dade, a expectativa e até CIGS tenha sido tão exi-
assim que, em 1980, no 71º mesmo o medo converte- tosa. Fica a boa lembran-
BIMTz, 1ª Cia Fzo, o 1º PE- ram-se em muita vibração, ça, com a certeza de que o
LOPES do agreste foi en- verdadeiro entusiasmo no bom soldado jamais abre
viado para a imensidão cumprimento de todas as mão de um bom combate.
da Amazônia, formado de missões a nós entregues e SELVA!!!”
3º Comentário
1980
Soldado Teófilo-padioleiro,
atualmente 3º Sargento PM Res
“E
u, Sd Teófilo, Força Aérea Brasileira. batalhão. Lembro de tudo
servi na 1ª Cia Assim que o avião deco- que passamos na selva, da
do 71º BIMtz, lou, comecei a passar mal ração ao macaco que co-
em 1980, a comando do e vomitar tudo, de Recife memos na sobrevivência.
Ten Daniel e, em 1981, no até Manaus. Chegando no Foi um período de muito
comando de Ten Morgan, CIGS, um oficial perguntou sofrimento, mas também
e fui integrante do glorio- quem sabia nadar, aí eu de muitas alegrias, pois
so PELOPES. Ganhamos logo me afastei, porque só tínhamos no comando do
a competição para repre- nadava “chumbinho”. No pelotão um homem dig-
sentar a 10ª Bda Inf Mtz pelotão eu era o enfermei- no, que sabia cada ponto
no CIGS. Confesso que a ro, mas não sabia nadar. fraco de todos nós e sa-
jornada da competição foi Lembro que pedi ao Ten bia, sobretudo, reanimar
muito intensa para todos Morgan para colocar o Sd e nos dar força para cada
nós, porém meu drama S. Melo no meu lugar, mas momento ruim que passá-
começou mais à frente, ao o Ten Morgan disse que não vamos juntos. Hoje, para
embarcar no C115 — Bú- podia, pois ele era de outro mim, é uma lembrança
falo, que era um avião da pelotão e enfermeiro do MARAVILHOSA. SELVA!!!”
A
preparação inicial foi feita na própria OM, adaptando a instru-
ção peculiar e parte de adestramento do Batalhão à instrução
de um pelotão de selva. O único militar no pelotão que tinha co-
nhecimento de selva era eu, conhecimento que foi adquirido no Estágio
Especial de Selva, efetuado durante a passagem do Curso de Comandos
pelo CIGS, sendo assim, era eu quem deveria conduzir o treinamento,
por estar mais capacitado
O 1º PELOPES do 71º BIMtz começava sua preparação tendo à frente
de suas instruções: eu, que na época era 2º Ten (Tenente) — Cmt Pel (co-
mandante de pelotão), o 3º Sgt (sargento) Armando Tenório Belo Filho,
Adj Pel (adjunto de pelotão), o 3º Sgt Hipólito Ferreira de Alencar, Cmt (co-
mandante) 1º GC (grupo de combate), 3º Sgt Francisco Ferreira da Silva
Filho, Cmt 2º GC (grupo de combate) 3º Sgt David Oliveira de Melo, Cmt 3º
GC (grupo de combate) e Cb (cabo) Antonio Ferreira Maciel, Ch Pç Mrt 60
(chefe da peça de morteiro).
ORGANOGRAMA DO PELOPES
4º Comentário
1978
3º Sargento Hipólito,
atualmente capitão da reserva
“C
omo integrante da 10ª Brigada de Infanta- Rio Negro que banha aque-
desta tropa de ria Motorizada. la metrópole).
elite do Exército O embarque se deu na Nos primeiros dias ape-
Brasileiro tenho a grata sa- Base Aérea do Recife a bor- nas instruções teóricas nas
tisfação de fazer este relato do de um Hércules da FAB, “salas de aula a céu aber-
sobre o Estágio Especial de no dia 5 de outubro daque- to”. A partir daí, fomos
Sobrevivência e Operações le ano. Foram feitas escalas nos ambientando: Primei-
na Selva realizado no pe- em Fortaleza-CE, Teresina ros Socorros com direito a
ríodo de 6 a 18 de outubro -PI e Santarém-PA. presenciar o monitor Sgt
de 1980, no CIGS (Centro de Ao chegarmos ao aero- Milton demonstrando as
Instrução de Guerra na Sel- porto de Manaus, por volta técnicas de aplicação de
va) em Manaus-AM. O CIGS das 17h, fomos recepciona- injeção de soro antiofídico
é considerado o maior cen- dos pelo 2º Sgt Albuquer- na sua própria barriga —
tro de treinamento em ope- que, chefe da Vtr (ônibus) isso assustou uma abisma-
rações na selva do planeta. para sermos transporta- da plateia Pelopeana; e por
O PELOPES do 71º BI dos para a sede do CIGS; aí em diante...Ofidismo...
Mtz foi designado para lá chegando, já fomos en- na teoria tudo tranquilo,
realizar o estágio em vir- trando no clima da Guerra mas quando um Sgt mo-
tude de ter sido o vence- na Selva, pois fomos leva- nitor chegou com um saco
dor de uma competição de dos à piscina de águas ne- carregado dos amazônicos
OPERAÇÕES EM MISSÕES gras da OM, para fazermos ofídios e derramou umas
DE PATRULHAS envol- um teste de natação (águas 15 sucuris e jiboias sobre a
vendo todos os PELOPES negras semelhantes às do grama do pátio de instru-
Sgt Hipólito
via; como eu percebia que
a rodovia não tinha grande
movimento, fui torar num
lugar mais agradável...em
dado momento escutei um
som que parecia ser um
ônibus vindo atrapalhar
minha tora no asfalto...
desesperado, procurei me
evadir do “confortável
colchão”, ofuscado pelo
farol do veículo, sai pi-
sando em tudo... inclusive
no Cmt Pel. O Ten Morgan
que, sem saber o que esta- Subtenente Hipólito, em 2003, ao lado de uma mascote do CIGS
va acontecendo, me fitou
com um olhar de espan-
to... com o rosto camu- desta vez em uma missão Bom, meus amigos, de-
flado, com graxa preta e de patrulha noturna, quan- pois de 40 anos, é natural
com os óculos de grau, o do o desembarque de uma que tenha esquecido al-
qual, já faltava uma len- canoa deveria ser ainda na gumas coisas, mas o que
te. Quando retornávamos água, nas proximidades da fica vivo na memória são
para Recife... no avião, margem, percebi o pavor os bons e inesquecíveis
todos cansados, à minha de um soldado ao alcan- momentos de tudo que fi-
frente estava o Ten Mor- çar a margem querendo se zemos com ideal, honra e
gan, ao vê-lo, recordamos desfazer da gandola (parte compromisso com a Pátria.
aquela cena. superior da farda) quando E que não esqueçamos ja-
— Outra cena marcante, de repente saltara dali um mais: “a palavra convence,
pra variar envolveu nova- peixe de aproximadamente o exemplo arrasta”.
mente o mesmo soldado.... uns 40 cm.
https://www2.fab.mil.br/musal/index.php/aero-
naves-em-exposicao/55-avioes/384-buffalo
-bandeirantes-a-cabo-verde
DESLOCAMENTO AEROTRANSPORTADO
PARA MANAUS
Um ou dois dias depois estávamos embarcando numa aeronave
Bandeirante e em uma aeronave Búfalo, na Base Aérea do Recife, com
destino à Manaus, com escalas previstas em Fortaleza, em Teresina e
em Santarém. Poucos ou talvez nenhum soldado jamais tivesse visto
uma aeronave de perto, seus olhos arregalavam só em pensar que voa-
riam naquilo.
5º Comentário
1980
Cabo Maciel,
atualmente Subtenente R/1
“A
nossa ida para balançava muito, parecia nos deu grande alegria foi
Manaus (eu, a até um “Reo”, caminhão que na chegado ao CIGS,
peça de mor- antigo do Exército. após o estágio, soubemos
teiro 60 que eu chefiava e O calor e o barulho da aprovação de alguns
o Adj do Pel Sgt Armando, eram tantos que torcía- militares do PELOPES
com escalas em Fortaleza, mos para chegar logo. Mas para o CFS (curso de for-
São Luís e Santarém), foi nem tudo foi negativo. A mação de sargentos), en-
realizada em uma aerona- tripulação nos tratou mui- tre os aprovados estavam,
ve C-95, Bandeirante, co- to bem e até nos ofereceu eu e o Sgt Hipólito”
nhecido pela aeronáutica alimentação boa e quente.
como cavalo de carga. Ela Outro fato marcante e que
N
o desembarque, nossos soldados deram de cara com aque-
les combatentes característicos da Amazônia, com boinas e
com coturnos de lona verde, o que os deixou um pouco as-
sustados. Fitando-os em seus olhos arregalados, eu disse: calma, os
bons aqui somos nós, que somos do melhor PELOPES da 10ª Bda Inf
Mtz. Em contrapartida, os selváticos do CIGS adoraram nossos co-
turnos pretos, muito bem engraxados, armamento e equipamento
em pé de guerra.
Ao apresentar o Pelotão, demos um alto brado de “SELVA!” que
ecoou no pátio interno do CIGS. A partir daí, começamos a mostrar
nossa força. Fomos recebidos pelo Cmt, Ten Cel Inf Fregapani, um
combatente entusiasmadíssimo com o CIGS e com as operações em
ambientes de selva. Sua postura e suas palavras contagiaram o nos-
so PELOPES, embora houvesse um clima de ansiedade e expectativa,
principalmente por parte dos soldados. No mesmo dia, fizemos um
teste de natação e no dia seguinte partimos para a BASE DE SELVA Nº
2, conhecida BI-2.
6º Comentário
1980
3º Sargento Dorgival,
atualmente Técnico em Enfermagem
“C
mt Morgan! É Dário, Cabo Gonçalves delas e gritando: “vai você!
com imensa (hoje sargento da reser- vai que é sua!” E as cobras
alegria que me va remunerada) e, outros dando o bote.
dirijo ao Sr e aos demais tantos guerreiros que tão Pense numa situação.
membros do nosso grupo, bem representam o nosso No ano seguinte, já sabía-
para poder dar meu tes- soldado do Agreste. mos, nós já saberíamos a
temunho a respeito desse Muitas coisas ficaram na situação que iriamos en-
aprendizado inesquecí- minha mente naquele ano contrar....
vel, após três idas ao CIGS, de 1980, uma delas foi a Outro acontecimento foi
em 1980, em 1981 e em instrução sobre os ofídios, um fato curioso, do cabo
1982, neste como aluno do uma situação que eu nunca que comia alho ou passava
CFST/82. Dentre essas três tinha visto igual. na roupa, “para afastar as
participações, a que mais O instrutor do CIGS, cobras”, então por ocasião
me marcou foi a de 1980, após a teoria, mandou o da marcha através de selva,
em que, por ser recruta, pelotão fazer um círculo. nossa prima marcha com
tudo era novo, desafia- Quando pronto, chegou toda a Cia, o cheiro do alho
dor, e tinha que confiar no um militar com um saco espalhou-se e tomou conta
pouco conhecimento ad- cheio de cobras e as soltou de todos. O Cap Hidelgard
quirido nos períodos bási- no meio do círculo. Ser- ficou muito bravo com o
co e de qualificação, mas, pentes e sucuris com mais cabo, disse: Cb velho, você
principalmente, no Cmt de de um metro de compri- deu alho a toda companhia!
pelotão, nos sargentos, nos mento e os monitores em- Soldado por natureza já é
colegas como Alexandre, purrando a gente para cima gaiato, então foi uma risada
BASE DE INSTRUÇÃO N° 2
http://www.googlemaps.com.br
A BI-2 é utilizada normalmente para instruções de sobrevivência na selva e instruções de técnicas
individuais. É a primeira base onde os alunos têm o primeiro contato com a selva
7º Comentário
1980
Soldado Alexandre,
atualmente Secretário de agricultura
de Terezinha-PE
“N
o dia seguinte, mos com uns oficiais ar- te, o Sd Jurandir fez uma
a sala de aula gentinos, que logo ao final promessa para que, se nós
começou pela nós dois saímos correndo todos fossemos para Ma-
manhã e foi até o próximo da mata e pegamos a estra- naus e voltássemos todos
dia: só instrução para ir da em direção a base, onde bem, daria uma volta de
para selva. Não sei se o que estávamos alojados? Os ar- joelhos em torno do campo
aconteceu, mas deu diar- gentinos não conseguiram de futebol e isso ele fez.
reia em quase todo mundo, aguentar e chegaram atra- Cel Morgan, foi mui-
então na enfermaria deram sados na base. ta coisa que passamos na
uma dose de remédio que Passamos pela sobre- selva e, resumindo, para
passamos dois dias com o vivência e foi terrível, só mim a experiência que ad-
intestino colado. nos deram ração no outro quiri não dá para falar em
A instrução com os botes dia. Estávamos mortos de poucas palavras. Eu par-
era muito engraçada, pois o fome, mas as missões não ticipei das três idas à sel-
bote virava e desvirava. Lem- acabavam. Durante a tra- va e ainda hoje me sinto
bro bem da noite que dormi- vessia de um rio, no cabo honrado de ter servido na
mos num charco, nós tive- submerso, o Sd Lira deixou 1ª Cia Fzo, no 71º BIMTz e
mos a oportunidade de ver os a corda escapar. Ia sendo ao Exército Brasileiro, até
alunos do curso de Guerra na levado pela água quando 1984. SELVA!!!”
Selva passarem por nós. o Sgt De Melo, Francisco e
Cel Morgan, lembra em outros pularam para aju-
uma missão que cumpri- dar. Outro fato interessan-
P
ara quem não a conhece, não souber usá-la ou tratá-la, a Ama-
zônia é um inferno. Para os nativos e Guerreiros de Selva, é um
paraíso.
Tempestades, chavascais (local sujo com mata fechada de espinhos
e plantas silvestres), charcos, espinhos, animais peçonhentos e muitos
insetos: a tudo isso teríamos que nos adaptar. Nas primeiras instruções
de vida na selva, já começamos ver a necessidade de encarar estas pri-
meiras adversidades.
Embora o Pelotão já tivesse tido este tipo de instrução, na ÁREA DE
INSTRUÇÃO DE SANTA ROSA, em Garanhuns-PE, na Amazônia, por sua
vez, a situação é real. Após as instruções teóricas, fomos levados para
área de sobrevivência, para, durante dois dias, praticarmos o que apren-
demos. Tivemos que fazer coisas básicas para nossa sobrevivência que
eu já conhecia, como fazer o abrigo, o fogo, as armadilhas para caça e
obter alimentos. Neste exercício o pelotão foi divido em equipes com
sargentos e cabos comandando suas frações.
Morgan Dowell
ARMADILHAS ANTIPESSOAL
Balanço baiano
A
gora, a unidade do pelotão, a ação de comando dos comandan-
tes, a capacidade FÍSICA, a resistência PSICOLÓGICA, a RUSTI-
CIDADE, a PRESTEZA e CAPACIDADE de durar na ação estavam
a toda prova.
Diferente dos cursos nos quais havia um xerife, eu estaria, pratica-
mente, à frente de todas as ações, o que provoca um grande desgas-
te. Houve apenas uma patrulha nível pelotão que foi comandada pelo
Adjunto do Pelotão e outra de pequenas frações comandadas pelos
sargentos, mesmo assim, eu acompanhei as duas missões. Embora as
missões fossem quase na totalidade valor pelotão, principalmente no
interior selva, a ação de comando dos Cmt GC e Ch de Esq são funda-
mentais para o bom desempenho das operações.
Missões diurnas, missões noturnas, na selva e no lago, eram sem-
pre testes eficazes. Nosso PELOPES da 10ª Bda Inf, que representava
o CMNE, estava firme, ninguém amolecia, afinal, fomos bem treina-
dos para isso.
Nossas pendências resolvíamos dentro do pelotão, inclusive peque-
nos problemas de saúde. Nenhuma questão foi levada aos instrutores.
Não tinha noite nem dia nem comida fria que nos abalassem.
Durante todo estágio só comemos ração R2 de selva. Apenas um dia
no café da manhã o instrutor deu um pedaço de pão para cada um, pelo
nosso desempenho. A guerra continuava em meio às chuvas, ao frio e
ao equipamento e fardamento não adequados. O PELOPES do Agreste,
suprido com “cabras da peste”, continuava firme e forte.
Eis que então, chegou a última missão: eliminar os guerrilheiros na
Maloca do Índio Manauara (patrulha esta que eu já havia realizado,
quando passei no CIGS com o CAC 80/1).
Saímos da BI-4 de “voadeiras” (barcos de alumínio com motor de
popa) através do Lago do Puraquequara, até as cabeceiras do Branqui-
nho (Rio Branquinho), local onde faríamos contato com um indígena
8º Comentário
1980
Cabo Brito,
atualmente 2º Sargento R/1
“P
articipei dos
três estágios,
em 80, em 81, e
em 82. Em 80, Sd Brito, 81
e 82 Cb Brito. Muita sauda-
de, lembro que no término
do estágio chegou a notícia
da minha promoção a Cabo
e fui chamado para has-
tear o Pavilhão Nacional, já
como Cabo.”
M
issão cumprida, agora o merecido descanso, com passeio
para conhecer e “muambar” na cidade de Manaus, e retornar
aos nossos lares.
No retorno, fizemos uma escala em Belém-PA, onde fomos leva-
dos para passar o dia com pernoite no 2º BIS (Batalhão de Infantaria
de Selva)
Durante a permanência no 2º BIS alguns de nossos combatentes
aproveitaram a ocasião e trocaram seus coturnos de couro pelos co-
turnos de lona verde e de couro com alguns soldados do 2º BIS, fato
este só visto por mim no embarque da tropa para Recife (até hoje ima-
gino o susto que o Cmt da companhia do 2º BIS deve ter tomado, ao
ver parte de sua Cia com o coturno todo preto).
Em Recife, nos apresentamos, pernoitamos na 10ª Bda Inf Mtz, para,
no dia seguinte, retornamos para Garanhuns (nesta mesma noite ao
chegar na Brigada, soube que minha avó havia falecido, enquanto eu
estava fora).
Quando chegamos no 71º BIMtz, não éramos mais só o PELOPES,
mas também o Pelotão de Selva do Tenente Morgan e da 1ª Cia Fzo.
Esta fama levou nosso pelotão a cumprir muitas outras missões. Pos-
teriormente, providenciei um distintivo para todos os militares do pe-
lotão. Um distintivo de gorro com a onça do CIGS, escrito “Estágio” em
sua parte superior.
E
sta nova “ESPECIALIZAÇÃO” dos sol-
dados da companhia trouxe uma
grande elevação nos padrões das ins-
truções de sobrevivência, de armadilhas
improvisadas e de técnicas especiais para
o batalhão.
Esta impulsão na instrução especiali-
zada em selva foi fundamental para a 2º
fase da operação (a ida de uma companhia reduzida para o CIGS,
em Manaus).
O Ten Cel Fregapani, Cmt do CIGS, havia me dito que o ideal seria
ir um pelotão sem ninguém com experiência de selva, ou seja, a pior
hipótese para um adestramento, mas com um pelotão comandado
por alguém que já tivesse passado pelo CIGS e com um curso de co-
mandos, o desempenho da tropa seria bem melhor que o esperado,
pois nem sempre receberíamos uma tropa assim.
9º Comentário
1981
Tenente Brasil,
atualmente, Major R/1 Brasil
“I
nicialmente eu Entusiasta que sempre gan e Ten Josemar, compa-
ressalto a extrema fui, desde a época de cade- nheiros que foram de funda-
relevância da ini- te, em participar de opera- mental importância para a
ciativa do Cel Morgan em ções nas áreas de selva, já adaptação minha e da minha
não deixar sumir no tempo tendo tentado a realização família na nova Guarnição.
fatos que compõem a his- do Curso de Operações na Ao me inteirar sobre a
tória do 71º BI Mtz. Selva do CIGS quando, por utilização da tropa na re-
Ainda 1º Ten fui trans- motivo de saúde, não logrei gião amazônica apurei
ferido do 23 BC para o 71º êxito, vislumbrei aí a opor- que todo o planejamento
BI Mtz, Batalhão Duarte tunidade de retornar para a já estava concluído, com
Coelho, em março de 1981. região amazônica. pessoal já selecionado e
Como é natural, procurei Ao me apresentar no Btl, obedecendo ao escalona-
obter o máximo de infor- então comandado pelo Cel mento de emprego, entre
mações sobre a minha nova José Maria de Aragão Sabino, os anos de 80 e 82, inicial-
unidade; uma delas me dei- fui designado para o coman- mente com um Pel, poste-
xou muito entusiasmado: a do da 2ª Cia Fzo. Encontrei riormente uma Cia. (-) e,
de que a 10ª Bda Inf Mtz, da uma tropa com excepcional finalmente, uma Cia. Pude
qual o Btl faz parte, tinha grau de operacionalidade, verificar que o Blt como
recebido a missão de pre- com oficiais e praças de ele- um todo estava imbuído
parar tropas para emprego vada motivação. e motivado com a missão
na Região Amazônica e que Reencontrei também dois que recebera, até mesmo
fração dessa tropa perten- companheiros de turma de pela expectativa de, futu-
cia ao 71º BI Mtz. AMAN, os então Ten Mor- ramente, ser empregado,
A
pós decolar do ae-
http://www.googlemaps.com.br
roporto Santos Du-
mont na manhã do
dia 13 de dezembro de 1962,
o Constellation PP-PDE da
Panair do Brasil faria escala
em várias cidades até deco- A clareira do avião fica dentro da área de instrução do CIGS e é um local
lar de Belém para Manaus, de passagem pelos alunos do curso de guerra na selva e alguns estágios,
anualmente. Dista cerca de 8 km da BI-3 e 20 Km do Rio Preto da Eva
destino final da viagem. Du-
rante a aproximação final, na madrugada do dia 14, a tripulação solicitou a torre do Aero-
porto da Ponta Pelada que ligasse as luzes de sinalização da pista. Depois de um breve con-
tato com a torre, a aeronave desapareceu. Ao constatar o desaparecimento, foi acionado o
Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento (PARA-SAR) da FAB, que iniciaria buscas na região
de Manaus. Os destroços do Constellation PP-PDE seriam localizados por um avião do PA-
RA-SAR às 10h do dia 15, nas proximidades de Rio Preto da Eva, cerca de 30 km de Manaus.
Por conta de o local ser de difícil acesso e parte do bojo da aeronave ter sido encontrada
intacta, houve uma expectativa de serem encontrados sobreviventes. Uma equipe terres-
tre composta por médicos, engenheiros, funcionários da Panair, Petrobras e soldados seria
destacada para a selva, atingindo o local dos destroços apenas no dia 20. Não seriam en-
contrados sobreviventes entre os 44 passageiros e 6 tripulantes do Constellation PP-PDE.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Constellation_PP-PDE
A
ida do PELOPES, em 1980, foi apenas a 1º fase da operação.
Em 1981, o 71º BIMtz mandaria uma companhia de fuzileiro
reduzida (isto é, sem o pelotão de apoio) e, em 1982, uma
companhia completa.
Cmt 1º Pel (Ten Morgan) Cmt 2º Pel (Ten Monteiro) Cmt 3º Pel (Ten Garrett)
BASE DE INSTRUÇÃO N° 3
http://www.googlemaps.com.br
https://pt.wikipedia.org/wiki/Queda_do_Constellation_PP-PDE
10º Comentário
1980
“N
os idos de A SU (subunidade) de- cumprimento da missão na
1981, eu servia signada foi a 1º Cia Fzo, data prevista. E foi o que
no 71º BIMtz, então comandada pelo 1º aconteceu.
em Garanhuns-PE, e recebi Ten Morgan, que no ano O estágio teve a duração
a missão de comandar uma anterior tinha participa- de 15 dias e as atividades
Cia Fzo do Btl que iria par- do do referido estágio no foram realizadas de manei-
ticipar de um Estágio Espe- comando do seu Pel. Cou- ra exemplar por todos os
cial de Operações na Selva, be, então, a ele, organizar integrantes da subunidade,
a cargo do CIGS, sediado e preparar a Cia, o que me tendo em vista que nas di-
em Manaus-AM. De acordo deu tranquilidade para to- versas oficinas, as exigên-
com a orientação do CIGS, car minhas atividades fun- cias eram as mesmas para
a Cia deveria ser constituí- cionais, na certeza de que todos, sem distinção de
da por três Pel Fzo. tudo estaria pronto para o posto ou graduação”.
https://br.pinterest.com/pin/400961173065950919/
A
companhia saiu de Garanhuns em deslocamento motorizado
para o 14º BIMtz em Jaboatão dos Guararapes, onde pernoita-
mos. No dia seguinte fomos para a Base Aérea do Recife e em-
barcamos na aeronave C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira.
http://minhapaixaoeaviaoeaviacao.blogspot.com/2014/08/
c-130-hercules-da-fab-forca-aerea.html
No CIGS, novamente fomos recebidos pelo Ten Cel Inf Fregapani, que
agora já conhecia a boa fama do meu PELOPES.
A partir da primeira instrução, a Cia passou a ser organizada em GC
de selva, onde cada soldado teria sua especialização: orientador, arma-
dilhador, caçador, homem passo e homem ponto (seu armamento era
uma espingarda 12).
11º Comentário
1980
Tenente Soares,
instrutor do CIGS, atualmente Coronel R/1
“A
Amazônia Legal tendo em vista pesquisar o participação em Operação
ocupa mais de comportamento do com- Conjunta com tropas de
50% do Terri- batente e produzir doutri- selva na Região de Frontei-
tório Nacional e torna-se nas para emprego imediato ra, em 1982.
necessária a existência de de uma reserva estratégica. O Estágio foi realizado
várias tropas operacionais Inicialmente, as tropas da em duas fases: Vida na Sel-
para combater na área de Região Nordeste atendiam va e Técnica (obtenção de
selva, cuja missão visa pro- os aspectos acima citados, água e fogo, de alimento de
teger, defender e manter a então a 10ª Bda Inf Mtz, após origem animal e vegetal,
integridade e a soberania seleção em 1980, enviou ao abrigos, armadilhas para
do nosso Território. A re- CIGS um Pelotão de Fuzilei- caça e pesca, orientação,
serva estratégica é impor- ros do 71ª BIMtz, localizado armadilhas antipessoal, ti-
tante no Teatro de Ope- no agreste, mas que tam- ros) e Operações.
rações em área de selva, bém opera na caatinga. Em seguida, apresento
a qual poderá ser de outra O sucesso foi tão grande o meu testemunho pessoal
região, mas com alta ca- que nos dois anos seguintes sobre a conduta individual
pacidade de mobilização, o CIGS recebeu a 1ª Cia Fzo dos estagiários, sobre a re-
poder combativo e rápida do 71º BIMtz para realiza- sistência, sobre a determi-
adaptação ao ambiente sel- ção do Estágio de Adapta- nação, sobre a coragem e
vático. Em 1980 iniciou-se ção e operações em Área de sobre o espírito de corpo da
um projeto experimental Selva, em 1981 e para reali- tropa, quando participei do
de emprego de tropas de zação do Estágio de Adap- Estágio como 1º Ten Instru-
outras regiões do Brasil, tação em área de selva e tor do CIGS em 1981 e 1982.
12º Comentário
1980
“A
lguns momen- após a retirada do sangue,
tos foram ines- mas o problema foi que os
quecíveis: um outros dois enfermeiros
deles foi a minha promo- adoeceram, então demo-
ção a Cabo durante o es- rou muito, porém eu disse
tágio de selva. O outro foi para o Capitão que podia
quando chegou minha vez deixar que eu faria o ser-
de apreender o ofídio. Aí foi viço sozinho.
mão de obra. Só sei que colocaram um
Lembro também que, recipiente com um monte
em Recife, quando che- de seringas dentro. Aí em
gamos, todos tinham que meti o “cacete” na veia do
tirar sangue para exame. pessoal. Aí, quando foi 8h,
O Cap Hidelgard disse que já tinha tirado o sangue de
só podíamos tomar café todo mundo.”
A
pós várias operações no interior da selva, chegamos à Base de
selva Nº3. Partindo da BI-3, fizemos uma grande emboscada
noturna, próxima ao igarapé Do Oito com todo nosso efetivo,
cerca de 80 homens, um espetáculo noturno de explosões e tiros tra-
çantes. Fizemos mais uma operação, mesclando marcha para o comba-
te na estrada e parte na selva, saindo da BI-3, com a missão de atacar as
instalações da BI-4.
Na BI-4, uma das patrulhas no Lago do Puraquequara, eu, Cap Hidel-
gard e o Ten Garrett tivemos que, à noite, fazer um contato com um
caboclo que estava no velório de seu amigo, dentro do cemitério.
Quando tentávamos fazer contato com o caboclo, que estava debru-
çado sobre o caixão, perto da viúva, o padre dizia que nós estávamos
assediando a viúva e dava um “tapão” no patrulheiro que estivesse mais
perto dele, começando a confusão. Terminamos por sequestrar o cabo-
clo e levá-lo para longe do local.
13º Comentário
1980
2º Tenente Garrett,
atualmente Coronel R/1 da PM Rondônia
“A
no de 1981, eu, A viagem transcorreu de a posição determinada no
Comandante do forma normal. A única coi- dispositivo do cerco, o fiz
3º Pelotão da 1ª sa a se registrar foi o fato deslocando o pelotão todo
Companhia de Fuzileiros de que uma parte da tropa de uma só vez na transpo-
do 71º BIMtz, indo partici- vomitou muito durante o sição de uma estrada.
par com toda a Cia de um deslocamento aéreo, que Na oportunidade, o ob-
estágio de operações e so- durou 06 (seis) horas. servador de condutas, após
brevivência na selva. O primeiro fato marcante a transposição, me tirou da
O primeiro registro im- ocorrido com o pelotão foi situação e alegou que aque-
portante é o fato de que a determinação que eu re- la manobra estava errada.
na época nós servimos de cebi do então Cmt do CIGS Talvez por ser de artilharia,
cobaia para a vacina de Ten Cel Gelio Fregapani, o oficial observador desco-
Leishmaniose, que estava no sentido de realizar uma nhecia o fato de que aque-
sendo testada no Brasil. ação operacional (assalto) la manobra da transposi-
A ansiedade por parte em uma reunião que esta- ção da estrada teria que ser
da maioria dos integrantes va ocorrendo em um tapiri realizada daquela forma, ou
da tropa era muito grande, com o restante da Cia. seja, todo o pelotão ao mes-
considerando que muitos Outro fato a registrar: mo tempo e não homem a
jamais tinham tido a opor- durante uma ação de cerco homem, como o observa-
tunidade de realizar uma à BI4 (lago de Puraquequa- dor alegou. Após as expli-
viagem para outro Estado e ra), quando realizei a trans- cações técnicas feitas por
nunca haviam entrado em posição de uma estrada mim, horas depois da ação
um avião. com o objetivo de ocupar realizada o oficial observa-
O
Centro de Instrução de Guerra na Selva, CIGS foi criado em 02 de março de
1964, pelo decreto Nr 53649, tendo como seu primeiro Comandante o então
Major de Artilharia Jorge Teixeira de Oliveira, o TEIXEIRÃO.
Até junho de 1969, o CIGS foi subordinado ao Grupamento de Elementos de Frontei-
ra. Em fevereiro de 1970, passou a ser subordinado à Diretoria de Especialização e Ex-
tensão (DEE). Em outubro de 1970, passou a designar-se Centro de Operações na Selva e
Ações de Comandos (COSAC), com a missão de ministrar além dos cursos de Operações
na Selva e de Ações de Comandos.
Em 1978, retornou à sua antiga designação, deixando de ministrar o curso de Ações
de Comandos. Em setembro de 1982, o CIGS passou à subordinação do Comando Militar
da Amazônia, permanecendo vinculado tecnicamente à DEE, Atual DETMil.
O primeiro curso de Guerra na Selva funcionou no ano de 1966, os cursos eram minis-
trados em duas categorias, uma para oficiais e outra para subtenentes e sargentos. À
partir de outubro de 1969, passou a ser de três categorias: “A” para oficiais superiores, “B”
para Capitães e Tenentes e “C” para Sub Tenentes e Sargentos.
Ao longo de seus 56 anos de existência, o CIGS especializou 6.728 combatentes de
selva, sendo 566 de nações amigas (até 12 Nov 2020).
www.cigs.eb.mil.br
Cobra Sucuri
14º Comentário
1980
Soldado Wilson,
atualmente 2º SGT RR PM
“P
articipei da Cia operação era mais forte e
na selva, no assim terminamos a missão
ano de 1981, que ficou na história da mi-
onde aprendi a viver em nha carreira militar.
caso de necessidade de Eu tenho muitas recor-
sobrevivência, inclusive dações da selva, porém a
aprendia a boiar, a sub- mais significante foi na ins-
mergir e a emergir em uma trução de cobras, porque
piscina de azulejos pretos, todo mundo tinha que co-
para dar a mesma sensação mer um pedaço do animal.
de estar nas águas escuras Quando chegou a minha
do Rio Negro. vez eu, acostumado a co-
Durante os dias, passei mer ovo, fui logo ignorando
entre alegria e tristeza, por, a minha participação, pois
no início do estágio, em estava enjoando, mas de-
uma operação no braço do pois que comi, fui logo para
Rio Amazonas, ter perdido o final da fila de novo.
a minha dentadura. Mas a Brasil acima de tudo!
vibração de participar da SELVA!”
E
sta última fase da operação contava com a 1ª Cia de Fzo com-
pleta, QO (quadro de organização) de guerra a comando do Cap
Hidelgard. Como subalternos estávamos eu, o 2º Ten Otaviani,
2º Ten Souza Abreu e o 2º Ten Monteiro. Muitos dos sargentos, cabos e
soldados que estiveram nas operações da 1ª e 2ª fases foram também
para a 3ª fase.
Cmt 2º Pel (Ten Monteiro) Cmt 3º Pel Fzo (Ten Souza Abreu) Cmt Pel Ap (Ten Otaviani)
15º Comentário
1980
Tenente Otaviani,
atualmente Coronel R/1
“A
missão impos- Nossos treinamentos, altos e baixos. Diante de
ta para a nos- realizados tanto para a mis- uma dificuldade prolon-
sa companhia são em Manaus-AM, como gada, é natural que alguns
de exercício não era uma para a operação na região possam apresentar fra-
missão fácil. Afinal, a de Boa Vista-RR, foram gilidades pontuais e mo-
vida no Batalhão não ha- muito bem planejados e mentâneas, sejam físicas
via parado. realizados. Isso foi funda- ou psicológicas.
Pertencíamos a um ba- mental para os bons resul- Mas, quando se consegue
talhão de infantaria im- tados obtidos. trabalhar com uma tropa
portante e tudo continua- Sob a coordenação dos, que possui boa liderança,
va acontecendo, a despeito então, Cap Hidelgard e 1º motivação e comprometi-
da nossa missão extra: in- Ten Morgan, conseguimos mento com a missão, tudo
tegrar uma companhia de montar uma boa equi- pode ser superado. Foi o
fuzileiros, para participar pe de trabalho. Sabemos que aconteceu com nossa
de uma operação na região que em qualquer grupo as companhia. Selva!!!”
Amazônica. pessoas podem apresentar
16º Comentário
1980
CAPITÃO HIDELGARD
ATUALMENTE CORONEL R/1
“N
o ano seguin- ção do pessoal, preparação vibração, desprendimento
te, 1982, fui profissional específica para e capacidade profissional de
designado o estágio no CIGS e para a todos os seus integrantes,
para comandar outra Cia manobra, preparação físi- executando as atividades
Fzo do Btl, agora com QO e ca e psicológica de todos os previstas e inopinadas com
dotação de material com- integrantes da SU. correção, presteza, segu-
pletos, que iria participar A missão apresenta- rança e responsabilidade e,
de um Estágio Especial de va uma série de novidades apesar da grande exigência
Sobrevivência e Operações para a maioria do pessoal física, nunca demonstrou
na Selva, a cargo do CIGS, selecionado, como vaci- cansaço nem desânimo.
bem como da manobra que nação contra leishmaniose Durante as duas semanas
seria realizada pelo CMA na e febre amarela, prepara- de emprego, teve apenas
cidade de Boa Vista-RR. O ção do material individual uma baixa e por motivo de
objetivo do estágio era ava- e coletivo, inclusive kits de saúde e nenhum problema
liar e levantar informações primeiros socorros e ma- disciplinar.
sobre o emprego de uma nutenção de armamento O destaque da nossa
Cia Fzo em área de selva. para uso em área de selva, missão foi o desempenho
Considero que a fase deslocamento aéreo e flu- da Subunidade, cada ho-
mais importante da missão vial, dentre outros. mem sabia exatamente o
ocorreu no 71º BIMtz, onde Tanto no estágio no que, como, onde e quando
foram realizadas as princi- CIGS, como na manobra, na fazer e, na oportunidade
pais atividades para a sua região de Boa Vista, a SU se adequada, fazia sempre da
execução, tais como: sele- destacou pelo entusiasmo, melhor maneira possível,
Formatura de término do estágio de sobrevivência e operações na selva, com direito a diploma. Presentes na foto,
o Ten CeL Fregapani, Cmt do CIGS, seu SCmt, Cap Hildelgard e eu, Ten Morgan. Terminada esta primeira parte da
missão, a 1ª Cia Fzo deslocou-se para Boa Vista-RR, com a finalidade de participar da operação Surumu
N
esta terceira fase, passaríamos por um estágio de sobrevivên-
cia e operações na selva no CIGS, já não sendo mais novidade
para alguns, principalmente para mim, já que seria meu 4º Es-
tágio no CIGS.
O número de militares na companhia com estágio de selva facilitou
muito o aprendizado dos demais. A nossa presença no CIGS já não era
mais novidade: era esperada.
A
pesar da passagem pelo CIGS de diversos outros cursos como
COMANDOS, COMANF, PARASAR e tropas do 26º BI Pqdt, a
nossa companhia também despertava interesses dos instruto-
res por estar levantando dados técnicos e táticos sobre deslocamentos,
emprego de armamentos, inclusive de Morteiros 81mm e metralhado-
ras MAG e ações nível companhia no interior da selva.
Com a intenção de avaliar o tiro de morteiro, de fora para o interior da
Selva, O Maj Barros Moura, instrutor do CIGS, determinou que a seção
de morteiros 81mm ocupasse uma posição fora da selva, a comando do
Cmt do Pel Ap, o Ten Otaviani, para realizar tiros em alvos determinados
no interior da mata.
Visando conduzir o tiro o mais precisamente, o Maj Barros Moura e
o Cap Hildelgard ocuparam uma toca coberta por toras de madeira, o
mais próximo possível da zona de impacto das granadas, dentro de uma
margem de segurança, para corrigir e conduzir os tiros ao alvo. Sem dú-
vida foi uma situação vibrante e inovadora.
17º Comentário
1980
“E
m 1982, apre- intenso treinamento em sertão nordestino, operan-
sentando-me Garanhuns. do no ambiente operacio-
como aspiran- Depois, seguimos em ae- nal da Amazônia.
te a oficial recém-egresso ronaves da FAB para Manaus. Foram quase trinta dias
da AMAN na 1ª Companhia O objetivo era participar do fora da nossa sede. Inicial-
de Fuzileiros do 71º BIMtz exercício de grande coman- mente, no Centro de Ins-
(Garanhuns), tive a honrar do denominado “Operação trução de Guerra na Selva
de ter sido comandado pelo Surumu. A nossa SU — a (CIGS), cumprimos o Está-
então 1º Ten MORGAN — “SUOPES” do batalhão — re- gio de Operações na Selva,
posteriormente meu padri- cebeu a missão de represen- com a finalidade de adapta-
nho de casamento e de meu tar o 71º BIMtz e a 10ª Brigada ção dos homens ao ambien-
primeiro filho. Juntamente de Infantaria Motorizada — te de selva. Posteriormen-
com os tenentes temporá- uma brigada com emprego te, integramos a manobra
rios GARRETT, MONTEIRO previsto nas hipóteses conti- estratégica concebida pelo
e JEFERSON, formamos um das nos Planos Operacionais CMA na região do lavrado
time de primeira linha. do Exército para o Comando de Roraima, com a parti-
O fato mais marcante Militar da Amazônia (CMA) cipação de contingentes de
desse ano foi o emprego da em caso de conflito. várias partes do Brasil.
nossa companhia na Ama- Tratou-se de um de- Foi uma emoção sem
zônia. Reforçada em pes- safio único participar do igual, tanto para o meu
soal pelo Ten OTAVIANI e adestramento daqueles aperfeiçoamento profis-
por outros oficiais e praças homens, acostumados às sional quanto para a au-
do batalhão, fizemos um agruras do agreste e do toestima da tropa. Palavras
Morgan Dowell
Formatura em homenagem a 1ª Cia e entrega de diploma (1982)
A
pós o estágio realizado no CIGS (Manaus-AM), fomos transportados por meio
de aeronaves de C-130 — Hércules, até Boa Vista. Partindo de Boa Vista fomos
transportados motorizados para a Área de Concentração de tropa próximo ao
Rio Uraricoera, passando a fazer parte do 1º Escalão do 2º BIS (Batalhão de Infantaria de
Selva), comandado pelo Cel Berredo. A 1ª Cia de Fzo do Agreste de Pernambuco passou a
ser enquadrada como a 1ª Cia Fzo de Sl do 2º BIS, participando das manobras principais.
A companhia passou um ou dois dias na área de concentração, enquanto esperava
as demais tropas da manobra. A nossa subtenência, neste período, funcionava servin-
do as refeições, água, demais suprimentos e fazia atividades de combate, como eva-
cuação de feridos e mortos etc.
A
pós um deslocamento de Boa Vista até a margem norte do Rio
Uraricoera, chegamos à Área de Concentração da tropa. A ope-
ração iniciaria com uma marcha para o combate motorizada,
seguindo rumo Norte cruzando o Rio Surumu, em São Marcos, até pró-
ximo a nossa fronteira com a Venezuela (Santa Elena de Uairén).
Imagens: http://www.googlemaps.com.br
Mapa de Roraima
http://www.googlemaps.com.br
Eixo principal da marcha para o combate
Rio Surumu
http://www.googlemaps.com.br
Novamente a nossa gloriosa 1ª Cia Fzo do 71º BIMTz, especializada em
Operações na Selva, cumpriu mais uma missão, sem nenhuma baixa,
em um território longínquo dentro floresta amazônica, com formações
arbustivas e herbáceas e faixas de cerrado.
Encerrada a manobra, nossa companhia fez um deslocamento ad-
ministrativo até a Zona de Reunião, onde embarcaríamos para a Área
de Concentração.
18º Comentário
1980
Tenente Monteiro,
Atualmente Prof. Educação Física
“U
m fato que me falecimento do Sd Filho
marcou mui- na travessia do Rio. Uma
to foi, logo baixa lamentável de um
após a transposição pelo companheiro de manobra.
Rio SURUMU, em embar- Moro aqui em Taperoá-PB,
cações da engenharia com tenho esposa e um casal de
muita dificuldade, devido filhos, e duas netas, e con-
à inclinação das margens e tinuo à disposição dos ve-
a pouca visibilidade. Nes- lhos amigos”.
sa situação soubemos do
M
eu interesse pelo Ao chegarmos em Reci- tando muito nossas mis-
Exército vem des- fe vindos de Caicó, devido sões que estavam por vir.
de pequeno quan- a última transferência de Cerca de dois anos após,
do morava em Natal. Meu meu pai, surgiu a oportu- já servindo em Altamira-
pai, na época ainda sar- nidade de estudar no Colé- PA, eu concluí o Curso de
gento, servia no 16º RO gio Militar do Recife no 1º Guerra na Selva com mais
(Regimento de Obuses) ano do científico e, poste- três oficiais que servi-
costumava me levar para riormente, concorrer para ram comigo no 71º BIMtz.
o quartel, que era ao lado ingressar na AMAN ou fa- O conhecimento técnico,
da vila dos subtenentes e zer vestibular para medici- tático e a experiência no
sargentos, em Santos Reis. na e tentar a Escola de Saú- comando de pelotão, ad-
Enquanto ele trabalhava, de do Exército. Orientado e quiridos nestes estágios de
eu perambulava pelos pas- incentivado pelo meu pai, sobrevivência e operações
sadiços das baterias e anti- a quem devo muito, agar- na selva, fizeram com que
go Campo de aviação (co- rei a primeira oportunida- meu desempenho duran-
nhecido como Aero-geral) de e me tornei aspirante te o curso fosse destacado,
às margens do Rio Poten- em 1978. pois muitos instrutores co-
gi. Tudo isso me fascina- Hoje sinto-me mui- mentavam que, ali, tinha
va e me fazia gostar cada to gratificado por ter par- um tenente PhD em selva.
vez mais do Exército, des- ticipado dos três estágios Os estágios realizados
pertando minha vocação. de operações na selva no pelo Pelotão e pela Compa-
Além da vila militar de Na- CIGS e da Operação Suru- nhia trouxeram o espírito
tal, morei na Vila Militar mu, praticamente no início da selva Amazônica para o
do antigo 1/3ª GACosM, em de minha carreira, pois foi 71º BIMTz e os elementos
Olinda-PE e do 1º BEC (Ba- muito mais que gratifican- necessários para que a 10ª
talhão de Engenharia de te. Foi, na verdade, uma Bda Inf Mtz fosse emprega-
Construção), Caicó-RN, e honra ter ombreado com da, com êxito, em sua mis-
sempre que podia andava tão ilustres combatentes da são na Amazônia.
pelos quarteis. Toda a ex- 1ª Cia Fzo e do 71º BIMtz.
periência de vida junto aos A experiência trazida Selva!
quarteis com meu pai me fez dessas jornadas foi um di-
logo cedo decidir sobre qual visor de águas em nossas MORGAN DOWELL CABRAL
profissão gostaria de seguir. vidas profissionais, facili- DE BRITO — CEL INF