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Manifesto

O manifesto é um gênero textual dissertativo, de cunho político, cultural ou social,


que visa a expressar o ponto de vista de um ou mais autores para um grande público,
com intuito de sensibilizá-lo ou convencê-lo.

Sua estrutura divide-se em título, corpo do texto e assinatura. Sua linguagem deve
estar adequada ao seu público, garantindo a acessibilidade e compreensão do
conteúdo. Um dos mais conhecidos textos desse gênero é o “Manifesto antropófago”,
que defende uma cultura nacional com direito à mestiçagem.

Leia também: Crônica argumentativa – texto que visa a apresentar um ponto de vista
sobre temas cotidianos

Características e estrutura do manifesto

O manifesto é um gênero textual dissertativo, utilizado para levar ao público as


opiniões apontadas no texto, com diferentes fins sociocomunicativos. O intuito do
manifesto é sensibilizar ou persuadir a opinião pública por meio da defesa
argumentativa no texto. O propósito é atrair leitores para comungar das ideias e/ou
críticas expostas. A estrutura do manifesto se divide em:

• Título

O título atrai o leitor para realizar a leitura completa do texto, bem como pode fornecer
dicas e pistas do assunto ou da opinião apresentada no manifesto.

• Corpo do texto

O corpo do texto é onde estão inseridas todas as ideias e críticas. O corpo textual do
manifesto deve apresentar uma boa organização e argumentação, pois é essencial que
o público compreenda a linguagem sem dificuldades, ao mesmo tempo em que
reconhece as estratégias argumentativas utilizadas pelo(s) autor(es). É importante
seguir a ordem do tipo dissertativo (introdução – desenvolvimento – conclusão).

A introdução deve apresentar as informações iniciais, que contextualizam o leitor a


respeito do tema bem como indicam o ponto de vista argumentativo do autor.
O desenvolvimento deve aprofundar as críticas e exposições, apresentando dados
comprovadores, pesquisas, comparações e outras estratégias válidas ao contexto.
A conclusão deve promover um desfecho do que foi discutido, apresentar uma síntese
das ideias e, em certos casos, sugerir ou cobrar medidas de intervenção nos problemas
expostos.
• Local, data e assinatura

Após o corpo do texto, o manifesto costuma apresentar a marcação de data e local onde
o documento foi escrito, bem como a assinatura do autor, da instituição ou dos
manifestantes que comungam do seu conteúdo.

Tipos de manifesto

O manifesto é um gênero com maior flexibilidade temática e estrutural, abarca


assuntos e temas de diferentes setores coletivos e, por isso, pode ser diferenciado por
meio das suas diversas funções:

• Manifesto político: abarca uma temática política, geral ou específica, de um


determinado grupo. É possível também que se encontre manifestos teóricos, que
promovem novas visões políticas, como o “Manifesto comunista”.

• Manifesto artístico: trata dos temas estéticos e ideológicos das artes, pode
apresentar textos em defesa de novas ideias ou como resistência a elas.

• Manifesto social/cultural: apresenta temáticas culturais e/ou sociais, propondo


reflexões, mudanças ou retomadas de valores e costumes compartilhados.

Passo a passo de como se faz um manifesto

O manifesto é
um texto de expressão e defesa de ideias ao grande público.
Para fazer um bom manifesto, alguns cuidados se fazem necessários antes, durante e
depois da escrita. Antes escrever o texto, é necessário:

• Buscar temas relevantes para a sociedade geral.


• Refletir sobre questões filosóficas e/ou sociais para aguçar uma perspectiva mais
analítica.

• Pesquisar sobre o assunto, com fontes seguras e informações atualizadas, para


garantir apontamentos relevantes e coerentes.

• Selecionar cuidadosamente as informações que serão expostas e a ordem


hierárquica na qual serão organizadas.

• Refletir sobre seu público-alvo e as características que interferem na construção


linguística do texto.

Na hora da escrita, é necessário que o autor:

• Utilize uma linguagem acessível e adequada ao público-alvo.

• Demonstre sua autoridade e experiência com o assunto.

• Escolha boas estratégias argumentativas para sensibilizar o seu público


específico.

• Expresse a autoria do texto, expondo suas opiniões críticas.

• Faça um texto organizado e bem estruturado, para garantir que a linguagem seja
fluida e compreensível.

• Organize o texto na estrutura dissertativo-argumentativa: introdução –


desenvolvimento – conclusão.

Ao terminar a primeira versão do texto, releia-a para fazer uma análise final e os ajustes
necessários:

• Analise se os sentidos do texto estão claros e objetivos.

• Analise se as estratégias argumentativas estão evidentes e bem estruturadas.

• Analise a adequação da linguagem, se está acessível e se apresenta adequação às


normas ortográficas e gramaticais.

• Analise se há informações desnecessárias ou se é importante acrescentar dados.

• Faça as alterações que julgar necessárias.

Veja também: Editorial – gênero textual cuja função é apresentar o ponto de vista de
um grupo midiático
Exemplos de manifesto

Dentre os mais conhecidos manifestos que servem de exemplo ao estudo do gênero,


destaca-se o “Manifesto antropofágico”, escrito por Oswald de Andrade, em 1928.
Esse documento apresenta as ideias não só do autor como também de outros artistas
da época, que comungavam das opiniões defendidas e propunham uma transformação
cultural no Brasil.

O “Manifesto antropofágico” é um texto de reconhecimento e prestígio social, tanto


por seus aspectos históricos e sociais como por seus aspectos artísticos e culturais. A
argumentação do autor direciona-se na defesa da antropofagia como um elemento
característico da cultura brasileira. Em outras palavras, o texto defende a mistura e a
“digestão” das diferentes identidades que constituem o povo brasileiro, produzindo-se
um resultado novo e mestiço.

Veja um trecho do “Manifesto antropofágico”:


“Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos.
De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi or not tupi, that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com
o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior.
A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da
saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que
era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil. Uma
consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a
mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas
eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos
direitos do homem. A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Où Villeganhon print terre.
Montaigne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução
Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnicizado de Keyserling. Caminhamos.”
Como é possível observar, já nesse pequeno trecho, o autor constrói uma expressão
em defesa de uma cultura nacionalista, cultura essa que deveria abraçar a sua
mestiçagem por meio da antropofagia cultural. Isso significa se “alimentar” de tudo que
chega, mas produzir seu próprio resultado, valorizar suas próprias criações.
Essas características podem ser observadas em trechos como “Queremos a Revolução
Caraiba. Maior que a Revolução Francesa.”, em que o autor valoriza os processos
nacionais em detrimento dos processos europeus.

Outras expressões como “contra todos os importadores de consciência enlatada. A


existência palpável da vida.” reforçam o posicionamento crítico ao conceituar as
culturas como “enlatadas”, comparando-as aos alimentos que vêm desse processo e,
consequentemente, são mais artificiais e menos saudáveis.

Desse modo, percebe-se que, apesar da sua flexibilidade estrutural, o manifesto


apresenta o tipo dissertativo-argumentativo como a tipologia predominante, de modo
que influencia a organização das ideias e críticas em defesa de um ponto de vista.

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