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► Artigo de opinião

O artigo de opinião, tal como o texto de opinião, é um texto de carácter


argumentativo, em que o autor expõe o seu ponto de vista sobre um determinado
assunto de interesse atual, recorrendo a argumentos válidos para convencer o público-
leitor da sua tese. Há, pois, uma seleção pertinente e uma exposição objetiva e verídica
da informação, de forma a, coerentemente, validar uma determinada perspetiva.
Este género textual aparece frequentemente na imprensa, em jornais e em revistas,
em textos assinados pelo autor, daí a necessidade de ser veiculada informação
fidedigna. Entre eles, encontramos a crónica, o editorial ou o artigo de opinião
propriamente dito, que abordam assuntos diversificados como política, economia,
sociedade, tecnologia, saúde, ambiente, cultura, desporto, e que despertam a
curiosidade do leitor em aprofundar o seu conhecimento sobre um destes temas, sem
esquecer que se trata de um ponto de vista pessoal de alguém que interpreta de forma
subjetiva a realidade.

Exemplo de artigo de opinião

Opinião Capicua Rapper

A cena toda

Aprendi que o nosso calão, o nosso sotaque, a nossa linguagem quotidiana, as nossas
referências locais e as nossas vivências individuais podiam ser matéria-prima para a
criação artística.

Nasci no Porto em 1982 e o meu primeiro contacto com a música foi através dos discos
que os meus pais ouviam. José Afonso, Fausto, Zé Mário Branco, Sérgio Godinho
fizeram com que, na minha conceção de música, a palavra fosse sempre indissociável.
Não só do ponto de vista estético (no seu protagonismo e inventividade), mas
sobretudo enquanto veículo de mensagem, enquanto discurso e (porque não?)
enquanto posicionamento. Talvez, por isso, tenha encontrado no Hip Hop (anos mais
tarde) um sentido de identificação, uma familiaridade.
Era adolescente no Porto em 1997 e o meu primeiro contacto com a cultura Hip
Hop foi através do Graffiti. Comecei a prestar atenção aos rabiscos nas paredes e
procurei saber mais sobre aquele misterioso código estético. Fui investigando,
experimentando no caderno e na parede e conhecendo cada vez mais gente com o
mesmo interesse.
Foi assim que cheguei a um pequeno bar na Rua de Cedofeita, em que todas as
quintas-feiras havia noite de Hip Hop. Todos os writers, mc’s, b-boys e dj’s da cidade
cabiam ali. Era um lugar de partilha de informação, num tempo em que era preciso
trocar cassetes, revistas, desenhos e dicas presencialmente e em que a
comunidade Hip Hop do Porto começava a consolidar-se numa cena.
Foi uma pequena e poderosa revolução e, nessa legitimação identitária, abriu-se
diante de mim a possibilidade de escrever as minhas próprias letras. Tinha encontrado
a minha tribo. […]
O Hip Hop ensinou-me muita coisa e foi a ele que dediquei quase todo o meu tempo
livre. Foi com ele que escolhi rotular-me nos anos da minha adolescência, sobrepondo-
me às classificações que externamente se impunham. Foi com ele que criei uma
relação estreita com a minha cidade e com a língua portuguesa. Foi com ele que
aprendi a ética da autossuperação e que estimulei o espírito de iniciativa, numa
espécie de DIY militante que me anima até hoje. E foi ele que deu sentido à minha
escrita, que me impeliu a desenvolver a minha vocação e que (ultimamente) me tem
permitido ganhar a vida. [...]
Digo e repito sempre que posso, perguntada ou não, que tenho nos Dealema um
exemplo e uma inspiração. Não apenas por terem sido fundadores da cena portuense,
mas por terem ajudado a consolidá-la ano após ano, “incentivando os putos como
mandam as leis”. Na perspetiva de que o mc é também um mentor, servindo de fio de
prumo para o crescer do movimento, alimentando o espírito de coletivo, mantendo
uma ética de trabalho, eles têm estado sempre lá e a tribo mostra reverência.
No palco do Rivoli tocaram na íntegra o seu primeiro álbum e lembrei-me de mim,
de discman na mão e phones nos ouvidos, ouvindo-o pela primeira vez, impressionada.
Dei por mim, de novo com 20 anos, sendo fã como só um adolescente consegue,
entoando os refrões em coletivo, de braços no ar e sentindo cada rima como se nos
definisse.

                                                                                                                           in Visão,
https://visao.sapo.pt/opiniao/2016-06-06- -A-cena-toda (consultado em 24-03-2017)

Estrutura
• Título: sugestivo – “A cena toda”, que remete para uma música dos Dealema, com o
mesmo título.

• Resumo / destaque: explicitação do título e antevisão do tema do artigo de opinião.

• Introdução (1.° parágrafo):


› apresentação do tema do artigo – importância da influência musical dos pais da
cantora, dando-lhe a conhecer músicos nacionais que valorizam o poder da palavra, o
que explica a sua preferência pelo hip hop.

• Desenvolvimento (2.° a antepenúltimo parágrafo):


› exposição dos argumentos e dos exemplos comprovativos da sua opinião – sumário
da sua relação com o hip hop, através de argumentos que validam a importância desse
género na sua formação musical, recorrendo a exemplos pertinentes do seu contacto
com artistas portuenses. É ainda de referir a importância do hip hop enquanto lição de
vida.

• Conclusão (dois últimos parágrafos):


› reiteração da opinião veiculada ao longo do texto – importância do hip hop no seu
crescimento enquanto pessoa e enquanto artista.

Marcas de género específicas

Explicitação de um ponto de vista


• Apresentação da perspetiva pessoal da cantora sobre a importância dada à palavra
nas músicas ouvidas na infância e na juventude, de José Afonso até Dealema, que a
marcaram profundamente. O assunto tem interesse geral e atual, mais
especificamente no campo social e musical.

Clareza e pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos desenvolvidos e dos


respetivos exemplos
• Recurso a argumentos objetivos que justificam a opinião pessoal apresentada,
exemplificados com referências pertinentes que comprovam a credibilidade da opinião
veiculada.

Discurso valorativo
• Manifestação de um juízo de valor explícito sobre a importância do contacto, no
Porto, com o hip hop.

Neste exemplo, destacam-se os seguintes aspetos:

• o recurso a uma linguagem valorativa, marcada por recursos com acentuado valor
expressivo, como a metáfora (“servindo de fio de prumo para o crescer do
movimento”); e por uma adjetivação apreciativa (“Foi uma pequena e poderosa
revolução”);
• o recurso, geralmente, à primeira pessoa (“Digo e repito sempre que posso,
perguntada ou não, que tenho nos Dealema um exemplo e uma inspiração”).

► Texto de opinião

Na comunicação social, a opinião surge, frequentemente, em forma


de editorial (geralmente, assinado por um elemento da direção editorial) a fazer a
apreciação sobre os acontecimentos marcantes da atualidade; de
um comentário (assinado por um diretor, editor ou jornalista) ou artigo de fundo, que
permite a interpretação e a apreciação valorativa sob o seu próprio ponto de vista; e
em forma de artigo de opinião, propriamente dito (assinado por um jornalista ou
qualquer outra pessoa convidada), que pode abordar questões diversas desde factos
noticiados a questões de arte, de literatura, de cinema ou televisão ou artigos de
divulgação científica.

Em síntese, o texto de opinião caracteriza-se por apresentar informação significativa


sobre um determinado tema ou facto sob a perspetiva do seu autor. Este recorre a
argumentos desenvolvidos e exemplos significativos para sustentar o seu ponto de
vista, o que prova o elevado grau de subjetividade deste género textual.
Apresentando uma estrutura predominantemente argumentativa, obedece, tal como
os outros géneros, às três etapas fundamentais de expressão escrita – planificação,
textualização e revisão. Tal como no exemplo anterior, apenas serão apresentadas as
marcas específicas deste género.

Etapa 1: Planificação

• Pesquisa de informação pertinente e adequada ao tema em análise, com vista à


defesa de um ponto de vista.
• Estruturação do texto de opinião em diferentes momentos, atendendo às marcas
específicas de género, nomeadamente a explicitação de um ponto de vista, a clareza e
pertinência da perspetiva adotada, dos argumentos explanados e dos exemplos
significativos.

• Elaboração de um plano-guia em esquema ou tópicos, após a recolha da informação.

Etapa 2: Textualização

• Redação do texto, respeitando as marcas de género específicas.

• Escrita norteada pela coerência e pela correção linguística:


› mobilização da informação adequada, aprofundada e fundamentada através de
exemplos significativos;
› uso adequado de recursos da língua: vocabulário adequado ao âmbito do tema,
repertório lexical variado e sugestivo (adjetivos e verbos) e recursos expressivos que
embelezam o texto e criam empatia com o leitor.

Etapa 3: Revisão

O artigo de opinião abaixo apresentado mobiliza informação pertinente e devidamente


fundamentada sobre um assunto da atualidade e de interesse geral – a atribuição do
Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan. Veja-se, a partir dos tópicos laterais, como
este é um exemplo significativo das linhas orientadoras anteriormente referidas.

Exemplo de texto de opinião

Com Bob Dylan, o Nobel chegou às canções

Era um nome na corrida desde finais do século passado. Mas a atribuição do Nobel
da Literatura de 2016 a Bob Dylan surpreendeu toda a gente... Em 2001, aqui
na Visão, já se falava nessa real possibilidade. Os prémios têm sido uma constante na
vida do músico.

A propósito do disco que Bob Dylan editou em 2012, Tempest, escrevíamos aqui


na Visão: “Quem é que se lembraria, hoje, de escrever uma canção de 14 minutos
sobre o naufrágio do Titanic, à maneira de um velho e ritmado romance de cordel?”.
Resposta: o futuro Nobel da Literatura Bob Dylan, aliás, Robert Allen Zimmerman,
nascido em Duluth, Minnesota, a 24 de maio de 1941.

Os prémios não são uma novidade para ele. Incluindo com a marca do país que agora
lhe deu o mais prestigiado prémio literário do mundo. No ano 2000, a Real Academia
Sueca de Música distinguiu-o pela “influência indiscutível no desenvolvimento da
música popular, no século XX, como cantor e escritor de canções”. “Esse pode muito
bem ser um degrau a caminho do Nobel”, escrevíamos nós, em 2001, num texto que
assinalava a chegada de um dos nomes mais icónicos dos anos 60 aos… 60 anos. Afinal,
desde 1997 que um grupo sediado na Noruega, mas com fortes ligações ao meio
académico norte-americano, trabalhava para promover o nome de Dylan ao Olimpo do
Nobel da Literatura. A vitória, precisamente em 1997, de Dario Fo deu-lhes força.
Afinal, nas palavras do professor Gordon Bali, era “um distinto criador, cujas peças, tal
como as letras e canções de Dylan, dependem da performance para a sua realização
completa”.

Quando o presidente Bill Clinton lhe entregou, em 1997, o Prémio Kennedy (Kennedy
Center Honors Lifetime Achievement Award), disse dele: “Teve provavelmente mais
impacto nas pessoas da minha geração do que qualquer outro artista criativo”. Um
Grammy por toda a carreira foi-lhe dado, precocemente (ainda faltavam tantos
discos...), em 1991, por Jack Nicholson. No currículo de prémios, o cada vez mais
discreto e silencioso Bob Dylan tem também um Oscar (o de melhor canção original
por Things Have Changed, do filme Wonder Boys, de Curtis Hanson).

Se associamos, ainda hoje, o nome de Bob Dylan sobretudo à folk contestatária e


revolucionária dos anos 60, é justo dizer que foram muitas as máscaras que lhe
assentaram ao longo das décadas numa carreira cheia de altos e baixos. Ele é o
trovador vagabundo de caracóis desgrenhados e voz roufenha mas também o judeu
espiritual e obediente às tradições, o músico cansado e entediado dos maus concertos
e o poeta e executante exímio de concertos inesquecíveis, o romântico tímido, o
discreto pai de família, o mal-humorado e antipático entrevistado... Muitas vezes, Bob
Dylan é, tão-só, um mistério.

Aparentemente, mais do que um prémio com conotações políticas (nos últimos anos a
participação pública de Bob Dylan tem sido escassa), este Nobel da Literatura é
um statement da Academia Sueca: toda a palavra escrita num contexto artístico é
literatura e digna das mais altas distinções.

Em termos puramente literários a sua carreira começou bem sintonizada com a beat
generation com Tarantula (publicado em 1971 mas escrito nos anos 60), num registo
de prosa poética experimental. E a sua autobiografia em curso (Chronicles, com edição
portuguesa do primeiro volume na Ulisseia) é o mais próximo que nos podemos
aproximar do homem por detrás da máscara.

                  in Visão. Disponível na Internet: https://visao.sapo.pt/actualidade/cultura/


2016-10-13-Com-Bob-Dylan-o-Nobel-chegou-as-cancoes (consultado em 30-12-2016)

Tópicos

• Título sugestivo e que capta a atenção do leitor

• Subtítulo que explicita o título

• Estrutura bem definida em três momentos:


› Introdução – apresentação do tema, com informação geral sobre a história
apresentada.
› Desenvolvimento – informação sobre os antecedentes da atribuição deste prémio.
› Apresentação de argumentos precisos e credíveis e de exemplos pertinentes – Dario
Fo, Gordon Bali...
› Uso de conectores variados e de recursos expressivos como a metáfora.
› Conclusão – reiteração da imagem arrevesada da fama que o artista cultivou, sendo a
leitura da sua autobiografia uma tentativa de ver um pouco para lá do véu.

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