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Diogo Manuel Ferreira Pereira

Texto Reflexivo acerca do artigo Culturas de resistência e média alternativos, os


fanzines punk Portugueses” de Paula Guerra e Pedro Quintela

Trabalho realizado sob a orientação do Prof. Doutor Emanuel Cameira


Breve reflexão sobre o artigo “Culturas de resistência e média alternativos, os fanzines
punk Portugueses” de Paula Guerra e Pedro Quintela

O artigo abordado, procura encontrar a importância dos fanzines na emergência e


consolidação da cena punk portuguesa desde os finais dos anos 70.

Comecemos por compreender o que são fanzines, são “objetos caseiros”, feitos
de forma artesanal, em grupo ou individualmente, e que têm, de modo geral, uma
circulação limitada. Os motivos que levam à criação de um fanzine segundo Atton são, a
criação de um espaço de expressão e discussão para os fãs de um género musical, serve
para fortalecer um género musical e permite aos fãs de um estilo de música de nicho
manter a sua ligação e entusiasmo.

Uma das componentes mais importantes na criação de um fanzine é sem dúvida


a gráfica, de tal forma que por vezes, a componente escrita e gráfica estão misturadas,
não sendo possível analisar separadamente cada um destes dois elementos. Ao contrário
daquilo que se encontra em muitas capas de discos, a criação de um fanzine segue uma
orientação gráfica declaradamente DIY (do-it-yourself), através de técnicas como cut-
and-paste, recorte, desenho/ilustração, textos escritos à mão e datilografados,
manipulação de fotos e por norma os fanzines espelham frequentemente a ideologia do
seu autor, através do posicionamento político-social ou no apoio a determinadas causas.

Em suma, os fanzines são um suporto comunicativo, nos quais encontramos


extensa informação que nos permite compreender melhor, em cada momento histórico e
em cada contexto sociocultural e territorial específico, como se foi desenvolvendo o
movimento punk.

Este artigo através de um método de estudo indutivo e de uma análise


quantitativa, procurou expandir o conhecimento relativamente aos fanzines punk
portugueses e a abordagem tomada para compreender este tema, foi a analise de 93
fanzines diferentes que se desdobram por 177 edições e compreendidos no arco
temporal entre 1978 e 2013. Foram ainda realizadas cerca de 200 entrevistas em
profundidade a atores-chave que ao longo do tempo, integraram a “cena” punk em
Portugal.

Para analisar os dados obtidos foram desenvolvidos diversos quadros e gráficos


onde se puderam retirar informações pertinentes, como por exemplo, a evolução do
número de títulos e edições de fanzines entre 1978 e 2013, dado maior realce à década
de 80 onde a presença punk era maior em Portugal, algo que podemos confirmar pelo
incremento de bandas e atores em torno delas. Foi ainda criado um gráfico demográfico
que nos mostra os locais onde foram editados o maior número de fazines entre 1978 e
2013 e podemos concluir que os locais mais predominantes são Lisboa e Porto.

Infelizmente os fanzines não tem sido um tema muito estudado e por norma
ouvimos apenas falar deles em referências de outros projetos em citações em analises ou
referidos meramente pelo seu aspeto gráfico, contudo nunca são o ponto central.

Na década de 80 podemos dizer que foi o primeiro boom dos fanzines punk em
Portugal, temos como exemplos relevantes Subversão (1982), Subúrbios (1985) ou até
Tosse Convulsa (1985) e apesar de apresentarem uma dimensão fundamentalmente de
critica político-social, a música ganha uma grande relevância a parte deste período,
tornando-se assim, um meio de divulgação de bandas, nacionais e internacionais.

Existe um reconhecimento geral de que os fanzines utilizam uma linguagem de


“resistência”, visto como um lugar de oposição ao “sistema”, político e societal. Tendo
como base esta premissa foi possível concluir que 23% dos fanzines tinham um
posicionamento de critica e antissistema. Outros 10% focam-se na ideia do DIY, mostra
que a ideia de ser punk passa por agir por iniciativa própria e ainda 17% usam a ideia da
contaminação, ou seja, os nomes dos fanzines incorporam coisas negativas da
sociedade. Os restantes tópicos como por exemplo a defesa da liberdade, uma ideia de
irrisão, lutar pelo coletivo, sentimento de destruição e pertença à música são os vários
pontos conseguidos através da análise dos 93 fanzines.

Foi ainda possível criar um quadro que demonstra os temas e subtemas presentes
nos fanzines criados sendo que o subtema mais predominante é a “afinidade e
sociabilidade musical” que detêm o maior número de ocorrências, que acaba por
mostrar a importância da música.
É de referir ainda que perceber que os temas mais recorrentes nas páginas dos
fanzines portugueses é a celebração e o hedonismo e logo a seguir temos a afinidade e
sociabilidade musical. É necessário compreender que os fanzines não assentam num
monólogo escrito, mas sim por um diálogo em comunidade e “permite ao seu leitor
emular as experiências dos seus pares”. O terceiro bloco de conteúdo nos fanzines
assenta sobre a defesa de uma alternativa, à revolta e à critica social. Mostrando assim a
tal temática frequentemente atribuída aos punks. Como tal os fanzines são erigidos em
símbolos portadores de significados intrínsecos a determinada cena, colocando valores,
linguagens e crenças dos grupos sociais.

Foi através desta análise que foi possível concluir que o punk continua a
possibilitar a existência de comunicação contra-hegemónica e capaz de opor à
mercantilização e domesticação proclamadas pela sociedade e foi possível realizar esta
“resistência” através de meios tais como as redes socias, bandas, ideias e estilos ou até
lojas independentes.

É ainda possível através do quadro anteriormente referido, compreender que


independentemente da temática do fanzine criado, existe sempre um ponto que
permanece, a sensação de pertença permanente, isto foi possível aferir pois algumas das
pessoas entrevistadas ainda se afirmam como sendo “punk” e muitas vezes conseguimos
encontrar este sentimento em artefactos como, t-shirts, pins ou até mesmo os fanzines
que têm um papel não só fundamental na dinamização mas também na génese e
perpetuação das diferentes cenas punk, tal como foi observado, no quadro referido, nos
temas e descritores dos seus conteúdos.

Creio que através do artigo e desta reflexão foi possível compreender e perceber
a importância e relação que os fanzines tiveram e ainda têm na cena punk nacional e
internacional. Foi possível através dos dados obtidos encontrar localizações geográficas
predominantes e quais os tópicos mais presentes na criação de um fanzine, foi ainda
possível entender o impacto que os fanzines têm nas pessoas pertencentes a cena punk.

Os fanzines serviram como instrumento de expansão das cenas musicais, para a


documentação, para a visibilidade e para a fidelização da pertença. Foram também
meios de comunicação e ferramentas de pertença e enraizamento num contexto societal.
Isto foi possível devido ao mapeamento por décadas, dos fanzines punk, assim, partindo
de uma existência nos anos 70 os fanzines punk portugueses tiveram uma presença
importante e constante ao longo das décadas seguintes. Também foi possível através do
mapeamento identificar as tendências da própria cena e sub cenas punk portuguesas.

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