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OS QUADRINHOS SOBRE A ÓTICA MUTANTE - ANÁLISE DA REVISTA HERÓI

Resumo

A ideia do presente artigo surge da necessidade de se pensar os quadrinhos para além da Arte
Sequencial. Assim sendo, entender como os meios de comunicação que analisam as HQS e
assim auxiliam, ou não, no consumo de determinada publicação permite criar um panorama
para a compreensão dos impactos que tais produtos de consumo têm na sociedade. Como
objeto de estudo serão utilizados os primeiros números da revista Herói, publicada pela Nova
Sampa a partir de 1994. A Herói foi uma revista semanal que vinculava resenhas, análises,
reflexões, sobre séries, desenhos animados, quadrinhos, RPG, Games e diversos outros
produtos de consumo. A publicação se especializou na análise, divulgação e ponderação sobre
a dita ”cultura pop”. Para a reflexão deste artigo, será observado como a revista tece uma
análise sobre os quadrinhos publicados, e em circulação, no mercado nacional. Outro ponto,
que será ponderado nestas análise, é o de entender quais são os quadrinhos (Comics, Mangá,
etc.) analisados na herói, e quais as escolhas foram realizadas pelo núcleo editorial. A partir
disso entender quais são as escolhas da equipe editorial, e se possível, de cada um dos
escritores que publicaram na Herói. Por fim, visualizar como a Nova Sampa acaba se
convertendo em uma editora de quadrinhos, a Conrad, e se isso é perceptível nas páginas da
Herói.

PALAVRAS-CHAVE: Mercado editorial, impressos. mass mídia.

INTRODUÇÃO

Uma das inúmeras inquietações que permeiam a pesquisa dos quadrinhos, e consome algumas
noites de investigação, é a pergunta: “por que se consome, e quais são, os quadrinhos durante
determinado período?”. É intentando ponderar sobre este tema que surgiu a temática deste
ensaio. Como a revista Herói, intitulada a primeira revista mutante 1, apresenta o cenário do
mercado das HQs, e qual seria sua representação deste secto do mercado de cultura pop? Em
primeiro lugar deve ficar claro a opção de escolha por esta publicação, em detrimento de
outras publicações que versam também sobre o mercado de quadrinhos.
A revista Herói não foi à primeira publicação a falar sobre quadrinhos, ou sobre o que estava
sendo publicado no cenário brasileiro, outras publicações já tratavam sobre o tema das HQs
antes e depois da revista Herói2. No entanto a escolha pela publicação se deve a alguns
fatores: a) A revista foi publicada por mais de 8 anos e atingiu mais de 100 edições; b) Sua
circulação era semanal, além de ter um núcleo editorial constante, permitindo traçar um
panorama de seus conteúdos; c) A mesma utilizava uma vinculação ligada ao Anime

1
Referente ao próprio título da revista. Uma clara alusão ao Tokusatsu Black Kamen Rider.
2
Como a revista Wizard e HQ.
Cavaleiros do Zodíaco, mas a grande maioria de suas matérias versava sobre o mundo dos
Comics americanos, criando um cenário interno de predisposição do tema a cerca do mercado
de quadrinhos.
No decorrer deste artigo, será demonstrado como a revista, na verdade, apresentou de forma
constante, e muitas vezes mais fortemente, os Comics.
Para um melhor aproveitamento da temática com periódicos, em especial as publicações que
versam sobre um tema específico, como as HQs, esta pesquisa se valeráde três pontos de
reflexão.
O primeiro deles faz uma análise teórica sobre a pesquisa com periódicos, e a como devem ser
observadas as publicações que lindam, especificamente com o mercado dos quadrinhos.
Num segundo momento será apresentado um breve histórico sobre a revista Herói, a estrela
principal desta pesquisa. Quando surge, por que, durante quanto tempo é publicada. Assim
sendo, acredito que traçar um panorama sobre a publicação adensa a analise realizada no
terceiro ponto da pesquisa.
Por fim, serão analisadas as 23 primeiras edições da revista. Opto por tais números, pois
compreendo que este período da revista vai alicerçar seu formato, além de permitir
compreender a intenção de seu núcleo editorial.

PESQUISA COM PERIÓDICOS – O PORQUÊ DE STUDAR AS REVISTAS QUE


FALAM DE QUADRINHOS

Entendo que as publicações como a Herói têm a intenção de interpretar o mercado de


entretenimento que as cerca, no entanto é importante pensar que a interpretação do que seria
esse “mercado de consumo” nada mais é do que uma representação apresentada dentro da
revista, e pode ser assimilada pelos leitores que a leem.
Para Darnton, o ato da leitura não está ligado apenas à ação de erudição - mas também ao
deleite, diversão, sedução, compreensão de seu tempo, entre tantas outras relações
Sentimentos possíveis durante o processo de leitura – e como tal deve ser ponderada, pois a
mesma “assumiu muitas formas diferentes entre diferentes grupos sociais em diferentes
épocas” (DARNTON, 1992, p. 212).
A partir dessa relação, de diferenciação do ato da leitura no espaço/tempo, Robert Darnton
entende que a construção da leitura – pelo leitor – e do significado do objeto lido depende do
esquadrinhamento e interpretação do conteúdo, levando em conta, também, o local de onde o
leitor parte, pois as ferramentas de interpretação fazem parte da configuração cultural do
indivíduo. Essas variações de interpretação partem de pontos importantes como: quem lê, o
que lê, quando o faz, aonde, como realiza sua leitura, e por que o faz? E é nesse ponto que
relembro a forma como eu “interpretava” o conteúdo da publicação.
As Heróis podem ser analisadas no cenário das pesquisas historiográficas voltadas para a
imprensa e o impresso. A historiadora Maria Helena Rolim Capelato define que “todos os
jornais procuram atrair o público e conquistar seus corações e mentes. A meta é sempre
conseguir adeptos para uma causa, seja ela empresarial ou política, e os artifícios utilizados
para esse fim são múltiplos.” (CAPELATO, 1988, p.15).
Tal inovação – a utilização do impresso como um conjunto de documentos válidos para o
trabalho historiográfico – começa com os pesquisadores dos Annales, e se expandem ao longo
do século XX. Acredito que os impressos – jornais, revistas, magazines, periódicos, HQs, e
outros – são veículos midiáticos tão importantes quanto a TV, cinema ou rádio; através deles é
possível traçar redes de influência, representação e consumo.
Para além das relações capitais e sociais, os impressos trazem diversos eixos temáticos, além
de uma grande variedade de campos de estudo e abordagens historiográficas como relações de
gênero, práticas culturais, manifestações ideológicas, visibilidade de determinadas classes
sociais, entre outras. O alargamento propiciado pelas fontes impressas levou ao historiador
um conjunto de espaços pouco explorados, potencializando a compreensão das representações
de um determinado grupo.
No momento que a publicação faz a escolha de apresentar determinado conteúdo – no caso da
revista Herói, falar mais de Comics, no lugar de outros gêneros como Mangá, Graphic
Novels, e afins – acaba por fortalecer determinado seguimento. Por exemplo, ao falar mais
sobre Comics como X-Men, a revista não apenas reforça o consumo do produto em
detrimento de outros seguimentos, mas aguça no leitor a curiosidade por mais material sobre o
tema, reforçando um ciclo que mantém tanto sua publicação, quanto fortalece o consumo do
produto exposto. No entanto tomo o cuidado de não adentrar no processo de apropriação,
posto a dificuldade de mapear o público leitor da revista. Para tanto opto por pensar num
processo de representação, da Herói, sobre o mercado de quadrinhos no Brasil nos anos 1990.
Quanto à representação, retorno a Chartier que apresenta a ideia “entendida como relação
entre uma imagem presente e um objeto ausente, uma valendo pelo outro porque lhe é
homóloga” (CHARTIER, 1990, p.17).
A revista Herói intenta um direcionamento a determinado público, e dele se utiliza na
confecção das representações presentes em suas páginas. O cuidado com a diagramação e
conteúdo publicado na revista pode ser entendido como uma intencionalidade de seu núcleo
editorial, em ser parte dos movimentos alternativos que apareciam no cenário nacional. A
reflexão de Tânia de Luca sobre o cuidado com a produção das publicações é apropriada
nesse sentido:
Tinham como características a apresentação cuidadosa, a leitura fácil e
agradável, a diagramação que reservava amplo espaço para imagens e
conteúdo diversificado que poderia incluir acontecimentos sociais, crônicas,
poesias, fatos curiosos do país e que eram capazes de fornecer um lauto
cardápio que procurava agradar a diferentes leitores. (LUCA, 2005, p. 121)

É interessante pensar, nas relações do impresso, como o indivíduo que lê também é


responsável por configurar o veículo lido. Para Pierre Bourdieu, “o consumidor contribui para
produzir o produto que ele consome mediante um trabalho de identificação e decifração.”
(BOURDIEU, 2008, p. 95). No caso da Herói, tal processo de identificação pode ser
encontrado no momento em que seus autores intentam representar os diversos “conteúdos”
desse mercado cultural, sejam quadrinhos, games, desenhos, animações, filmes e afins.
Após este momento de identificação, tanto do autor/núcleo editorial, dos elementos
particulares ao seu momento histórico, temos o processo de decifração. Neste os
consumidores primeiro identificam as peculiaridades dos personagens, e após a decodificação
desses elementos – a partir de suas próprias experiências – decodificam a mensagem proposta
pelo autor/núcleo editorial.
O percurso que se faz vai dos produtores do texto às formas de apropriação diferenciadas das
mensagens pelo público. Falar em história da imprensa é, portanto, se reportar ao que se
produziu, de que forma, ao como se produziu, para quem se produziu e que consequências
trouxeram essa produção para a sociedade. É se referir, igualmente, a forma como o público
reagiu àquelas mensagens e perceber de que forma realizaram leituras ou interpretações
plurais, formas de leituras, formas de apropriação, interpretações plurais de sentido. Utilizo,
para ponderar sobre as especificidades da produção da revista, a proposta do circuito de
comunicação. Tal proposta observa que nas relações durante o processo de confecção de um
objeto impresso, primeiramente pensando no caso dos livros, os estágios de produção e
distribuição eram afetados pelas condições sociais, econômicas, políticas e intelectuais da
época, tal como observa Darnton (1990).
Vejo na publicação da revista Heróis esse circuito sendo realizado da seguinte maneira: o
quadrinista representa o meio em que está inserido, podendo partir de problemas políticos,
culturais, reflexões sociais, entre tantas outras opções; posteriormente, confecciona seu
trabalho, que passa pelo núcleo editorial, que pode, ou não, aprovar sua matéria, efetuando
alterações se necessário. O produto final, a história impressa, vai ser publicada e interpretada
pelo leitor.
Ao examinar o circuito de comunicação proposto por Darnton, sobre as diferentes fases que
marcam sua existência: produção, difusão e consumo, as ponderações que podem ser levadas
para o universo da revista são as seguintes: 1) como as revistas, no caso específico a Herói,
passa a existir? 2) como eles chegam aos leitores? 3) o que, dos quadrinhos, é representado
dentro da revista?
Antes de adentrar a estas inquietações acho importante traçar, ainda que brevemente, um
pequeno histórico da revista herói.

REVISTA HERÓI – UM BREVE HISTÓRICO.

A revista Herói foi editada e publicada de 1994 até 2002, contabilizando mais de 150 edições.
Versando sobre diferentes assuntos: Anime, Mangá, Tokusatsu, Quadrinhos, Seriados, Games
e afins. Manteve a estrutura editorial, de publicar sobre diversos assuntos da “Cultura Pop”.
No entanto mudanças em sua diagramação, e conteúdo, foram sentidas durante o longo de
suas publicações. Opto, para melhor aprofundamento da análise, por dividir em quatro
momentos específicos suas mudanças: a) Herói; b) Herói Gold – Fase I; c) Herói Gold – Fase
II, d) Herói 2000

HERÓI

Trata dos 23 primeiros números da revista, duro formatinho u do fim de 1994 a meados de
1995. Sua diagramação era de formatinho (19X13,5 cm), impressa em papel offset colorido,
com 32 páginas. O conteúdo que dominava suas capas era o desenho “Cavaleiros do
Zodíaco”. No entanto contava com capas, e matérias, de diversos conteúdos, entre eles: X-
Men, Power Rangers, Batman, Superman, Homem Aranha, Street Fighter, entre outros.
Utilizava uma linguagem bem informal.
Durante o processo de confecção da revista foram notados os seguintes espaços: Herói Mix,
Heróis do Futuro, Vilão Especialmente Convidado, Supergatas e Correio Galáctico.
Além dessas sessões, diversas matérias foram sendo inseridas no decorrer da publicação,
apresentando também os futuros escritores da revista, como Marcelo Del Greco e Alexandre
Nagado, entre outros.
Está fase da revista será analisada de forma mais amiúde no decorrer deste artigo, pois
entendo como alicerce para o formato que será adotado nas outras fases da publicação.

HERÓI GOLD – FASE I

Publicada a partir de maio de 1995, já vinha sendo anunciada a 5 números anteriores a estreia
de uma nova herói, traz mudanças interessantes no formato. Saindo das 32 para as 48 páginas.
Além dos espaços anteriormente citados, foram acrescidos os seguintes sessões: Quadrinhos
Clássicos, Os Dez Mais, Super Gatas, Heróis do Cinema, Heróis das Telas, Eles nunca saem
do ar, Meu Herói e Entrevistas.
Mantiveram-se as matérias com temáticas de séries, quadrinhos, animação, desenhos, entre
outros.
Também é nesse momento que a revista começa a vincular seu comercial na rede de Tv
Aberta3.
Noto aqui a intencionalidade da publicação de se firmar como guia de conteúdo desta
“Cultura Pop” que estava sendo vinculada nos meios midiáticos.
Nesse momento um de seus principais carros chefes, o desenho “Cavaleiros do Zodíaco”, têm
seu episódio final apresentado no dia 17 de outubro de 1995. Acarretando assim uma nova
mudança na confecção da revista.

HERÓI GOLD – FASE II

Com a capa da edição 54 trazendo a chamada “Adeus. Cavaleiros: O fim de uma era”, pode-
se notar como a publicação se utiliza de um dos seus principais carros chefes para repensar o
processo de conteúdos a serem agregados à revista.
Como cita o Matheus Mossmann:
“A ruptura com a utilização da série retrata um novo ímpeto de atingir outras
vertentes de conteúdo que não mais a exploração de Cavaleiros do Zodíaco
como o carro-chefe de vendas da publicação. Ao romper com a série, a

3
Aparecendo na Sessão Super Heróis da Rede Manchete e durante os intervalos do desenho Cavaleiros do Zodíaco, para
visualizar a propaganda <http://www.youtube.com/watch?v=HPwDsLrefvs> Acessado em 24 de Maio de 2015
revista atingiu uma nova mutação, vislumbrando a utilização de outros
conteúdos para se mantiver no mercado editorial onde foi pioneira. Para
tanto, além de não utilizar de Seiya e Cia como seu principal mote, ocorreu à
criação de outros três produtos paralelos, atrelados a esta nova mutação: as
revistas Super Herói, Herói Games e Mini Herói, que foram anunciadas a
partir da Herói Gold nº50” (MOSSMANN, 2012, p. 52)

Com a saída dos Cavaleiros, a revista se aproxima de outras publicações (colocar a lazer aqui)
que versam sobre as produções midiáticas japonesas. Mas ainda trazendo elementos dos
quadrinhos, series e afins. No entanto a partir do número 76 temos uma mudança na sua
diagramação. Dou ênfase à mudança do logo, claramente com a intenção de apresentar uma
nova roupagem à publicação.
A partir do número 109 a Herói muda seu formato, sendo impressa em tamanho 21X27 cm e
tendo a periodicidade alterada; de mensal se torna quinzenal.
Do número 134 ao 140 a revista altera novamente sua periodicidade, se tornando uma revista
mensal. E de outubro de 1998 a agosto de 1999 a publicação entra em um hiato, sendo
rompido apenas pela nova mudança da Herói.

HERÓI 2000

Com novo formato, e novo nome, a Herói retorna ao mercado, com diagramação no padrão de
quadrinhos americanos, de 26X17 cm, a revista manteve seu formato até sua ultima edição,
em dezembro de 2002 quando, oficialmente, encerra suas publicações físicas, optando pela
utilização apenas do seu site.
O que torna a revista tão importante não é apenas a sua longevidade, pensando num mercado
consumidor que se familiariza com uma publicação que apresenta um cenário de consumo.
Mas sim na abertura que a revista traz a outras publicações4 que tal qual a Herói, falam a um
público consumidor que consome não apenas o produto de seu interesse, mas outros
conteúdos que versam sobre a temática.
Além disso, acho importante frisar, que a publicação sempre foi atrelada a animação japonesa,
e conteúdos midiáticos orientais. No entanto, como apresentarei no estudo de caso específico,
ela apresentava, de forma muitas vezes mais presente do que os Animes, por exemplo, os
Comics americanos.
Para tanto opto por realizar uma investigação mais amiúde sobre a primeira fase da revista
Herói.
4
Como as revistas Heróis do Futuro, Henshin, Anime Do, entre outras.
ANALISE DA HERÓI E OS COMICS – DO NÚMERO 1 AO 23

Um dos primeiros pontos que deve ficar claro, durante o processo de análise da revista herói,
é a utilização do anime Cavaleiros do Zodíaco como carro chefe da publicação. Como citado
pelo próprio editor da revista Odair Braz Junior:
A gente simplesmente não sabia o que ia acontecer. O que a gente sabia é
que Cavaleiros do Zodíaco estava pegando muito forte entre a molecadinha,
mas a mídia mesmo ainda não tinha descoberto o desenho. A ideia de lançar
a Herói era totalmente arriscada mas era algo que tinha de ser feito. A
tiragem inicial já foi de 100 mil exemplares. Atingimos a venda dos 100 mil,
mas a gente não esperava isso. Todo mundo ficou surpreso. (BRAZ
JÚNIOR, entrevista 2012)

No entanto é possível demonstrar como os quadrinhos, mais especificamente os Comics,


tiveram um espaço tão importante na publicação quanto o anime em questão.
Para tanto serão analisadas as revistas de 1 a 23, que correspondem ao primeiro período da
Herói e permitem identificar o alicercamento do formato adotado nas demais publicações.
Estes números correspondem ao período de dezembro de 1994 a abril de 1995. Todas são
publicadas em tamanho formatinho, de 19X13,5 cm, com 32 paginas, papel offset colorido e
poucos anúncios. Como se pode notar na imagem abaixo.

Figura 1 – Formato Revista Herói. Nº2


Fonte: Acervo Pessoal, 2015.
Nos 32 primeiros números foram publicados 15 capas com a temática do Cavaleiros do
Zodíaco, o que reforça o desenho como tema principal da publicação. Dos 8 números
restantes, 5 tinham como chamada principal a temática de quadrinhos, 2 versavam sobre os
Tokusatsus (citar o que é) e 1 tratava sobre o filme do jogo de vídeo game Street Fighter.
Como apresentado na imagem a seguir.

Figura 2 – Capas Revista Herói. Nº 1 a 23


Fonte: Acervo Pessoal, 2015.

No entanto, e aqui reforço à proposta deste trabalho, as chamadas de capa, que não são a capa
principal, acabam por, esmagadoramente, tratar de temas ligados aos quadrinhos. Nota-se tal
relação na tabela abaixo.

Assunto Nº de Chamadas
Comics 36
Seriados 11
Tokusatsu 10
Anime 3
Mangá 1
Filmes 12
Diversos 2
Games 4
Desenho Animado 5
Quadrinhos 1
RPG 1
Tabela 1 – Chamadas de Capa Revista Herói. Nº 1 a 23
Fonte: Acervo Pessoal, 2015

Outro ponto interessante é notar como, ainda apresentando as chamadas de capa, o grande filo
dos quadrinhos, apresentado pela revista, era ligado ao gênero dos Comics. A revista
apresenta, em sua grande maioria, quadrinhos produzidos pelas editoras americanas Marvel,
DC e Image. Não estou dizendo que outros quadrinhos não aparecem no espaço das chamadas
de capa – Como o quadrinho Vampirella na Herói 6, Conan na nº9 e Zé Carioca nº20, sendo
casos esporádicos - mas compreendo que optar por determinados temas, em detrimento de
outros, acaba por criar uma característica à publicação. Além das chamadas de capa, os
espaços principais da Herói também estavam recheados de matérias sobre os Comics.
Para uma melhor análise serão separados os principais espaços da publicação, são eles: Herói
Mix, Heróis do Futuro, Vilão Especialmente Convidado, Diversos.
Opto por não lidar com o espaço intitulado Correio Galáctico, que trata das “cartas dos
leitores” pois acredito que o mesmo demandaria uma análise própria, pois possibilita a
interpretação do que seria a “visão dos leitores” entrando na perspectiva da apropriação, ou ao
menos da representação deste público, que não competem a essa pesquisa.
Quanto aos espaços deve ficar claro que os mesmos foram aparecendo conforme a revista foi
sendo publicada, aparecendo a partir do segundo numero da Herói e sendo organizados
posteriormente.
Já no número 2 da revista temos a inserção do primeiro espaço analisado, intitulado Herói
Mix traz pequenas sinopses de diversos assuntos: Games, Quadrinhos, Seriados, Filmes,
Desenhos Animados, Animes, entre outros. Como se pode apresentar na imagen a seguir.
Figura 3 – Sessão Herói Mix. Nº 2
Fonte: Acervo Pessoal, 2015.

O que é interessante analisar, neste espaço, é como os personagens criados pelas editoras
Marvel, DC e Image, aparecem em diversos formatos: HQs, Seriados, Filmes, Games.
Apresentando ao público leitor diversos produtos de consumo com essa temática.
Já no espaço Heróis do Futuro, que também aparece à primeira vez na revista nº 2, os
personagens apresentados são, esmagadoramente, dos quadrinhos - com raras exceções, como
os personagens da revista x e y. Além disso um dos pontos mais interessantes é de que muitos
destes Comics ainda não eram publicados no mercado brasileiro.
Nesse ponto é interessante notar como, no espaço intitulado Heróis do Futuro, a Herói intenta
apresentar ao seu público alguns personagens que poderiam ser consumidos a posteriori.
Pensar nestas escolhas se não traz respostas claras sobre as relações com o mercado editorial
de quadrinhos, lança questionamentos de como, por que, tais quadrinhos acabaram sendo
publicados posteriormente nas bancas do Brasil. Um exemplo de artigo da publicação é:
Outro espaço que também é ocupado pelas HQs é a sessão “Vilão(ões) especialmente(s)
convidado(s)”. A proposta, da sessão, é apresentar uma ficha dos personagens com
informações diversas tais como: idade, altura, peso, entre outros. Além de uma sinopse do
histórico do vilão e as ligações no universo cujo qual é pertencente. Como no exemplo abaixo.

Figura 4 – Sessão Vilão Especialmente Convidado. Nº 6


Fonte: Acervo Pessoal, 2015.

Chama a atenção que dos 23 números da revista, 16 utilizaram este espaço, e desses 9
trataram de supervilões dos Comics. Como podemos notar na tabela a seguir.

Assunto Nº de Supervilões
Comics 9
Tokusatsu 1
Anime 1
Filmes 3
Games 1

E por fim os outros espaços da revista, que foram serializados como Diversos, trazem artigos,
análises, sinopses, dicas, entre outros. Falam de quadrinhos, games, Tokusatsu, games, e afins.
No entanto algumas matérias chamam a atenção por trazerem abordagens mais específicas
sobre os quadrinhos. Como exemplo pode-se separar dois artigos: Os Heróis do Brasil (Herói
Nº 20) e A Explosão dos Gibis (Herói Nº22).
A primeira matéria faz um pequeno apanhado sobre super heróis criados no Brasil durante os
anos 1960 e 1970, como: Raio Negro, Capitão 7, Golden Guitar, Judoka, O Morcego, Bola de
Fogo. E como os mesmos foram engolidos pelas publicações norte americanas que aparecem
no mercado brasileiro pós anos 1970

Figura 5 – Artigo Os Heróis do Brasil. Nº 20


Fonte: Acervo Pessoal, 2015.
Já a publicação da edição 22, assinada por Marco Moreti fala sobre as futuras publicações da
Abril Jovem, durante o ano de 1995. Os heróis apresentados são: X-Men, Batman, Lanterna
Verde, Super Man. Além das revistas Grande Heróis Marvel e Super Powers.

Figura 6 – Explosão dos Gibis. Nº 22


Fonte: Acervo Pessoal, 2015.

De forma sucinta é possível notar como a publicação tratou os Comics, em detrimento de


tantas outras vertentes quadrinisticas, de maneira mais ativa em suas páginas. Colocando em
xeque a ideia de que a Herói era uma publicação exclusiva de Mangá e Anime.

CONCLUSÃO

Acredito que este estudo procurou apresentar uma perspectiva diferenciada as pesquisas com
a temática dos quadrinhos. Ainda que tal investigação seja deveras inicial, acredito que é
importante sim pensar sobre o mercado dos quadrinhos, principalmente no cenário brasileiro.
E para tanto uma das formas de mapear este cenário se encontrou nas paginas das revistas
Heróis.
Desmistificar a publicação como voltada apenas ao público consumidor de Anime e Mangá, e
demonstrar como diversos elementos do universo mercadológico ligado aos Quadrinhos
foram apresentados em seus variados espaços, permite delimitar, ainda que de forma modesta
ainda, qual era esse cenário de consumo durante os anos 1990.
Além disso, demonstrar como a publicação viu nos Comics (Marvel, DC e Image) um
conteúdo que estava, sim, sendo consumido durante o período em questão. Para exemplificar
deixo a página a seguir. Propaganda da editora Abril (que detinha os direitos da Marvel, DC e
Image durante os anos 1990) na Herói de nº 22.

Figura 7 – Anúncio Abril Jovem. Nº 22


Fonte: Acervo Pessoal, 2015.

Ou seja, se a própria editora de quadrinhos se utiliza da Herói como espaço de propaganda, a


revista detêm lugar cativo nos espaços que ponderam os quadrinhos, principalmente quanto ao
mercado nacional.

REFERÊNCIAS
BOURDIEU, P. A Distinção – crítica social do julgamento. São Paulo: Zouk / Edusp, 2008.
BRAZ JÚNIOR, O. Entrevista por e-mail. 2012. Apud. MOSMANN, M. M. O Pioneirismo
editorial da revista Herói – “A Primeira Revista Mutante do Brasil”. Nova Hamburgo:
FEEVALE, 2012
CAPELATO, M. H. Imprensa e história do Brasil. Contexto, Editora da Universidade de
São Paulo, 1988.
CHARTIER, R. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
DARTON, R. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
LUCA, T. R. de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In. PINSKY, Carla Bassanezi
(org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.
MOSMANN, M. M. O Pioneirismo editorial da revista Herói – “A Primeira Revista
Mutante do Brasil”. Nova Hamburgo: FEEVALE, 2012

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