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CONCEPÇÕES DE
AUTORIA

Professor :

Dr. Everton Vinicius de Santa

Objetivos de aprendizagem
Apresentar alguns conceitos principais sobre autoria, contextualizar alguns pressupostos históricos sobre a noção de autor,
apontar algumas diferenças teóricas importantes sobre essa noção e demonstrar como o conceito de autor foi mudando ao
longo do tempo.
Demonstrar os conceitos de autoria segundo Bakhtin.
Demonstrar os conceitos de autoria segundo Foucault.
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
O conceito de autor
O autor para Bakhtin
O autor para Foucault

Introdução
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) aos nossos estudos sobre autoria e a todas as implicações que a eles estão interligados. Digo
isso porque o tema da autoria perpassa muitos vieses teóricos que, certamente, não poderão ser abarcados no todo de nossas
reflexões, mas, ainda assim, proponho que vejamos seus pontos mais importantes a partir do recorte que apresento, a fim de que
possamos compreender melhor o nosso objeto.

Diante disso, o objetivo deste estudo é dar a você uma noção mais ampla, quiçá mais profunda, sobre o conceito de autoria que
permitirá compreender melhor que o conceito de autoria caminha entre a linguística e a literatura. Neste caminho, buscaremos
identificar o real papel da figura do escritor e do autor enquanto sujeitos produtores de sentidos. Veremos que a figura do autor
mudou em função de uma série de fatores sócio-históricos que culminaram na visão de autoria que temos hoje, sobretudo, porque
a autoria legitima os discursos.

Neste processo de atribuição da autoria, como estudaremos agora, o papel do escritor e do autor foi melhor definido pela teoria a
fim de deixar claro que a linguagem fala por si só, que o texto ganha vida e ressignificação por meio da figura do autor. Esta figura
será entendida aqui como um sujeito social pelo qual perpassam outros ditos, outras vozes que não apenas a dele mesmo, um
sujeito que pluraliza suas percepções de mundo e que toma a postura de um outro eu para se fazer presente no texto.

Desta forma, espero que, juntos, possamos discutir aqui algumas contextualizações sobre o histórico da figura autoral ao longo do
tempo até chegarmos à visão de autoria que temos hoje, passando por dois conceitos-chave, o do autor-criador e da função-autor,
para que possamos construir reflexões singulares sobre autoria, um conceito básico para os estudos que envolvem fabulação
narrativa e, sobretudo, os gêneros discursivos que fazem parte de nosso cotidiano.

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O conceito de autor
"O autor é aquele que dá à inquietante linguagem da ficção suas unidades, seus nós de coerência, sua inserção no real"
(FOUCAULT, 1996, p. 28).

O tema da autoria e, logo, do autor, está presente em muitos estudos linguísticos e literários por se tratar de um conceito essencial
às nossas manifestações cotidianas, seja na linguagem oral, seja na linguagem escrita. Muitos teóricos se debruçaram sobre a
figura do autor na tentativa de resolver o enigma de seu funcionamento, se assim podemos dizer. Ou seja, de uma instância textual
que vem se modificando com o passar do tempo a tal ponto que, hoje, seria (quase) impossível admitir qualquer tipo de produção
textual na qual a autoria seja indeterminada. Do contrário, estaríamos presenciando uma tentativa de resistência aos moldes do
que se observou em momentos críticos pelo mundo, quando escritores se escondiam por detrás de pseudônimos ou do anonimato
a fim de proteger senão a si mesmos e a seus ideais.

O que veremos neste estudo serão algumas contextualizações e alguns conceitos (dentro de um oceano teórico sobre o qual um
recorte é necessário) relacionados ao autor, para que possamos nos familiarizar melhor com o quanto isso implica às produções
escritas, e também, às práticas de leitura como um todo.

Uma breve contextualização sobre a figura do autor

O conceito e a noção de autor nem sempre foram atribuídos da forma como conhecemos hoje, sobretudo quanto aos gêneros
literários escritos. Foi a partir da Idade Média que essa noção começou a ser delineada e o autor começou a ser reconhecido como
tal. A definição se dava entre diversos tipos de produção que não apenas o texto escrito, como a música, a pintura, a fotografia e
outras manifestações artísticas. A atribuição da autoria era também uma forma das estruturas de poder controlarem seus ideais,
como nos pontua Roger Chartier, um importante historiador francês, ao se referir aos livros que eram queimados por
transgredirem ideais políticos ou religiosos. Para punir os responsáveis, era preciso, então, tratá-los como autores:
A cultura escrita é inseparável dos gestos violentos que a reprimem. Antes mesmo que fosse reconhecido o
direito do autor sobre sua obra, a primeira afirmação de sua identidade esteve ligada à censura e à
interdição dos textos tidos como subversivos pelas autoridades religiosas ou políticas. Esta “apropriação
penal” dos discursos, segundo a expressão de Michel Foucault, justificou por muito tempo a destruição dos
livros e a condenação de seus autores, editores ou leitores (CHARTIER, 1998, p. 23).

Importante assinalar que a questão da apropriação penal era nada mais do que uma estratégia de controle para conter possíveis
discursos progressistas que poderiam subverter a ordem e a ortodoxia da Igreja, ou mesmo, da política. Isso quer dizer que, à
época, o escritor de um texto considerado transgressor poderia ser perseguido e até mesmo condenado, ou seja, “antes de ser o
detentor de sua obra, o autor encontra-se exposto ao perigo pela sua obra”(CHARTIER, 1998, p. 34). Se via aí, então, a necessidade
de punir o autor do discurso transgressor.

Diante desse contexto, da Idade Média à Idade Moderna, o escritor ou o artista não eram considerados providos de nenhuma
originalidade, uma vez que eles eram regidos por uma inspiração divina e, aos poucos, fatores políticos, econômicos e sociais
deram origem a regimes de propriedade do texto junto de regras sobre direitos de autoria, publicações e edições, que, de uma
forma ou de outra, deram autoridade à figura do autor. A aura (um termo de Walter Benjamin, de 1936) que pairava sobre o artista
foi se apagando e dando lugar ao status do autor ao longo do tempo, “re-encontrando assim o velho campo bipolar do discurso,
praticando sistematicamente a transgressão, restaurando o perigo de uma escrita qual, por outro lado, garantir-se- -iam os
benefícios da propriedade” (FOUCAULT, 2006, p. 275).

A noção de autoria que proponho estudarmos neste momento, trata o indivíduo como não proprietário do seu discurso, uma vez
que foram a autoria e as figuras autorais que, paulatinamente, definiram nossa noção de autor

As figuras autorais

Roger Chartier nos apresenta o autor da Idade Média distinguindo o escritor, aquele que escreve livros, do autor, aquele que
publica obras. Tais obras são “identificadas pelo nome próprio de seu autor” (CHARTIER, 1998, p. 31).

Para que exista autor são necessários critérios, noções, conceitos particulares.O inglês evidencia bem esta
noção e distingue o writer aquele que escreveu alguma coisa, e o author, aquele cujo nome próprio dá
,

identidade e autoridade ao texto. O que se pode encontrar no francês antigo quando, em um Dictionnaire
como o de Furetière, em 1690, distingue-se entre os “ écrivain ” e os “ auteur ”. O escritor ( écrivain ) é aquele
que escreveu um texto que permanece manuscrito, sem circulação, enquanto o autor ( auteur ) é também
qualificado como aquele que publicou obras impressas (CHARTIER, 1998, p. 32, grifos do autor).

Todos podem ser escritores, mas nem todos podem ser autores. O que precisamos ter em mente é que, desde aquela época, as
figuras autorais do escritor e do autor, eram (e ainda são) conceitos distintos, sobretudo porque recai sobre o autor
responsabilidades com respeito àquilo que se diz ou que se publica. Segundo também nos coloca Foucault, quanto à atribuição
dada aos textos no geral, estes textos desempenham funções diferentes, ou seja, “nos domínios em que a atribuição a um autor é
de regra - literatura, filosofia, ciência - vê-se bem que ela não desempenha sempre o mesmo papel” (FOUCAULT, 1996, p. 27).

Gostaria de elucidar, aqui, uma diferença importante para nossas discussões, segundo as considerações de
Almeida (2008, p. 223), sobre o escritor e o autor: “o escritor é aquele que, através da vivência abismal da
finitude, é levado a escrever um texto sob ameaça do vazio deixado pela morte de Deus. Já o autor é aquele
que designa, pelo uso de seu nome, a unidade de uma obra.” Então, neste momento de nossos estudos, essa
é a distinção clara a ser levada a cabo em nossas reflexões. Mais tarde, isso mudará um pouco, uma vez que a
figura do escritor ganhará outro papel.

Fonte: elaborado pelo autor.

Para entendermos melhor, podemos pensar que, por exemplo, para o discurso científico, o nome do autor é importante apenas
para dar nome a uma metodologia de pesquisa, a um teorema, a uma doença ou síndrome etc. Para o discurso literário, todas as
narrativas e escritos dessa natureza que, na Idade Média, ainda poderiam circular no anonimato, passaram a clamar,
veementemente, sobre a origem de quem as escreveu, para que o autor pudesse esclarecer possíveis indagações que pudesse
surgir, ou seja, “pede-se-lhe que revele, ou ao menos sustente, o sentido oculto que os atravessa; pede-se-lhe que os articule com
sua vida pessoal” (FOUCAULT, 1996, p. 27). Para alguns tipos de textos, a autoria é fundamental, enquanto, para outros, não.

Assim, a figura do autor foi ganhando espaço, cada vez mais, numa sociedade que não se pautava mais nos ideais religiosos ou os da
Antiguidade Clássica, porque o indivíduo passou a tomar a frente de si mesmo e da sociedade, se individualizando em sua
subjetividade. Os heróis deixaram de ter espaço, e o indivíduo encontrou seu lugar ao dar autenticidade ao que dizia, e ao atribuir
uma voz de autoridade sobre seus pensamentos.

No final do século XVIII, no âmbito da Literatura, alguns escritores começaram a viver da escrita, como alguns pintores já o faziam.
Para esses escritores, surgiram os patrocinadores de seu trabalho, por meio de uma remuneração por recompensa ou um emprego,
por exemplo. A invenção da imprensa, mais precisamente no século XV, e a proliferação de livros publicados, foram significantes
para dar força à figura do autor, uma vez que os livros passaram a representar um processo de individualização e de criatividade. A
consolidação da figura autoral está essencialmente ligada à mecanização do processo, por isso, “é forte a tentação de ligar
estreitamente a definição de autor com os recursos (ou as exigências) próprios à publicação dos textos por meio da impressão”
(CHARTIER, 1998, p. 43).

Nesse sentido, o autor deixou, então, de ser anônimo e desconhecido, o seu nome próprio se consolidou e passou a ter controle
sobre a originalidade da obra, a qual ele pôde esperar algum lucro legítimo, sobretudo, depois que o mercado livreiro começou a
esboçar um grande potencial lucrativo para editores e escritores.

A invenção do autor

Como vimos, a autoria sempre foi peça-chave dentro dos discursos de autoridade e dos literários. Sem estes mecanismos de
atribuição, que dão legitimidade àquilo que se publica, se perde o sentido dialógico de nossas relações com o outro. Aos poucos, a
figura do autor foi delineada e atingiu todas as esferas de atividade humana, cada qual com suas particularidades, e cuja figura
autoral sempre se fez presente, seja no discurso escrito ou falado. Fora de uma contexto literário:

linguisticamente, o autor nunca é mais do que aquele que escreve, assim como “eu” outra coisa não é senão
aquele que diz “eu”: a linguagem conhece um “sujeito”, não uma “pessoa”, e esse sujeito, vazio fora da
enunciação que o define, basta para “sustentar” a linguagem, isto é, para exauri-la (BARTHES, 2004, p. 60).

O que nos é interessa, neste momento, é pensarmos que pessoa e criador estão em níveis diferentes, ou seja, o escritor-pessoa é
diferente do autor-criador, que, por sua vez, desempenha sua função estética no texto ou na obra, e que determinará, no plano do
discurso, quem é o autor que nos fala, sem que tenhamos que associá-lo a uma pessoa, uma vez que “o autor, em seu ato criador,
deve situar-se na fronteira do mundo que está criando, porque sua introdução nesse mundo comprometeria a estabilidade estética
deste” (BAKHTIN, 1997, p. 206).
O autor para Bakhtin
Falar de linguagem é algo sempre muito complexo, por isso a necessidade de delimitarmos nosso campo de discussões, sob pena de
nos perdermos pelo caminho das teorias. Quem somos e o quê somos faz que cada um de nós seja único, ao mesmo tempo em que
nos relacionamos com o outro expressando a singularidade por meio do verbo, da linguagem, na fala e na escrita.

Em se tratando de autoria, o sujeito que nos fala não é mesmo sujeito com nome próprio, ou seja, há uma distinção entre eles, e
essa diferença entre o sujeito que nos fala e o autor da capa é essencial para que entendamos o processo de autoria. A linguagem
fala por si só, e se estrutura por meio de gêneros discursivos e suas condições de produção, elementos que serão determinantes
para a constituição da autoria.

Dessa forma, o que veremos neste estudo será um pressuposto teórico muito importante, para não dizer essencial, para que
entendamos a autoria como uma função expressa pela linguagem que não tem, necessariamente, uma atribuição ao nome próprio,
senão ao sujeito que nos fala. Veremos, a seguir, alguns pressupostos de autoria segundo Bakhtin e sua denominação de autor-
criador.

Mikhail Bakhtin

Certamente, em seus estudos, você já deve ter ouvido falar sobre Mikhail Bakhtin (1895-1975), filósofo e teórico russo, um dos
estudiosos mais importantes da linguagem humana, cujas pesquisas embasam, até hoje, estudos e teorias pelo mundo da
linguagem, da filosofia, da literatura e da sociolinguística, por exemplo. Por se tratar de um teórico um tanto quanto complexo, o
importante, neste momento, é que você tenha claro alguns pontos básicos que regem alguns princípios norteadores dos estudos
de Bakhtin, especificamente ao tratarmos da autoria. Desde já, delimito aqui nossas discussões apenas ao que nos será mais
apropriado, uma vez que são temas amplamente discutíveis.

Em princípio, o que perpassa toda a obra de Mikhail Bakhtin é a sua concepção dialógica da linguagem, ou seja, para ele, a língua é
concreta e viva no seu uso real, “numa dialogização interna da palavra, que é perpassada sempre pela palavra do outro” (FIORIN,
1997, p. 229).

Para Bakhtin, em seus estudos, o sujeito, em seu todo, é um indivíduo histórico, social e cultural, que se expressa por meio da
linguagem dialógica entre o eu e o outro. A linguagem é esse espaço de interação comunicativa entre falantes, por meio do qual
produzimos efeitos de sentidos em determinadas situações de comunicação e em determinados contextos, tanto na interação
verbal quanto no espaço do texto. Esta é a condição essencial à linguagem e o que dá sentido a ela.

A utilização da língua está relacionada às mais variadas formas pelas quais a sociedade interage entre si, e, decorrente dessa
distinção, tais formas apresentam modos e características tão variadas quanto às próprias atividades que a língua desempenha. A
língua, de fato, se efetua por meio de enunciados orais e escritos, por meio dos indivíduos que fazem parte das esferas de
atividades humanas. Para Bakhtin (1997, p. 280), o enunciado é reflexo das condições específicas e das finalidades de cada uma
dessas esferas, não apenas por seu conteúdo temático e por seu estilo verbal (recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais, por
exemplo), mas também, por sua construção composicional. É a partir desses estudos de Bakhtin que partem as teorias e estudos
sobre os gêneros discursivos, por exemplo, tão comumente presentes em nossas práticas de ensino-aprendizagem, assunto para
outro momento. Vamos, a seguir, tratar do autor-criador.

O autor-criador

Assim como na imagem ao lado, a figura do autor sempre está coberta por uma nuvem que, na verdade, não tenta esconder sua
pessoa real, a do escritor, mas sim, deixar claro que ele se encontra em uma outra instância que não a do próprio eu que nos fala.
Quero dizer que a pessoa do escritor assume uma outra posição no discurso, a qual chamamos de autor. É assim que Bakhtin faz a
distinção entre “o autor-pessoa (isto é, o escritor, o artista) do autor-criador (isto é, a função estético-formal engendradora da
obra)” (FARACO, 2005, p. 38).

O autor-criador, por ser uma função estética, que opera dentro do plano da linguagem, dando forma ao objeto estético, neste caso,
a obra, sustenta suas particularidades dentro desse mundo por ele criado, materializando sua relação com seus heróis
(personagens) em um outro mundo possível. A voz do autor-criador, portanto, é a voz de outro, de um sujeito que nos fala. Este
sujeito é proprietário do ato criativo e, então, coloca em evidência sua ação sócio-discursiva segundo os preceitos da dialogia da
linguagem, sobre a qual Bakhtin faz menção em seus estudos, uma discussão filosófica, diga-se de passagem. Para o Bakhtin, “o
autor-criador é componente da obra; ele não é simplesmente Fulano de Tal, que escreveu tal livro” (TEZZA, 2005, p. 210, grifo do
autor).

Veja só o que diz Bakhtin sobre o autor-criador, para que você possa entender melhor a distinção desse para o autor-pessoa.

De acordo com uma relação simples, o autor deve situar-se fora de si mesmo, viver a si mesmo num plano
diferente daquele em que vivemos efetivamente nossa vida; essa é a condição expressa para que ele possa
completar-se até formar um todo, graças a valores que são transcendentes à sua vida, vivida internamente,
e que lhe asseguram o acabamento. Ele deve tornar-se outro relativamente a si mesmo, ver-se pelos olhos
de outro (BAKHTIN, 1997, p. 35).

Diante disso, o que vemos é que o autor, ao escrever, vive em outra consciência, outro plano discursivo, no qual toma conta a
consciência de seus personagens, neste outro mundo que é o da criação estética do artista ou do escritor. De fato, é como se o
escritor assumisse outra identidade, que não a do autor-pessoa, e passasse ao plano do autor-criador quando toma a linguagem
como princípio norteador do processo criativo. Há um deslocamento de planos da linguagem aqui.

A formação do todo, de que se refere Bakhtin, tem relação com a criação desse espaço outro, no qual a linguagem ganha forma,
mas não nos esqueçamos de que essa linguagem se produz por meio de outras linguagens, de outros sujeitos, de vozes alheias, ou
seja, todos nós somos e nos constituímos senão pelo olhar do outro com o qual interagimos e nos comunicamos. Como nos elucida
Faraco (2005, p. 30), a voz do autor-criador que nos fala é uma segunda voz, não é a do escritor, ou seja, essa voz é “um ato de
apropriação refratada de uma voz social qualquer de modo a poder ordenar um todo estético”, qual seja a obra.

O autor-criador, portanto, é a “consciência de uma consciência, é uma consciência que engloba e acaba a consciência do herói e do
seu mundo” (BAKHTIN, 1997, p. 33), e, nesse mundo do autor, é onde são criados os heróis, cada qual com suas particularidades
que se resumem ao plano da linguagem, o do plano ficcional. Em outros termos, é como se procurássemos Bentinho, de “Dom
Casmurro” (1889), pelas ruas do Rio de Janeiro, ou se tentássemos comprovar que o narrador Riobaldo, de “Grande sertão:
veredas” (1956), fosse o próprio autor que assina a capa do livro. As narrativas demonstram as visões do autor-criador, um outro
modo de representar o mundo por meio dos olhos de seus heróis.
Ainda que essa função estética desempenhada pelo autor-criador seja mais complexa em textos literários, por exemplo, não
podemos perder de vista que, em nossas produções textuais da ordem de outros gêneros, também exercemos uma função social ao
tomarmos uma postura como sujeitos enunciadores determinados pelas condições de produção, e também, determinados pelo
outro ao qual nos dirigimos nesse nosso discurso. A relação que temos com o outro vai depender de nosso destinatário, portanto,
fora do plano literário, “dirigir-se a alguém, é uma particularidade constitutiva do enunciado, sem a qual não há, e não poderia
haver, enunciado” (BAKHTIN, 1997, p. 326). A autoria se dá, justamente, nesse processo de atribuição e de propriedades inerentes
à produção textual, e, logo, aos gêneros discursivos sobre os quais os enunciados se estabelecem.

Em sua obra “Estética da criação verbal”, Bakhtin nos elucida todos os pressupostos com relação ao gêneros
discursivos, que, por sua vez, perpassam todas as esferas de atividades humanas relacionadas à língua. Os
gêneros textuais (para além dos modismos prático-pedagógicos), englobam todas as nossas forma de
comunicação, orais e escritas. Por isso, são importantes para entendermos o funcionamento da linguagem
em sociedade.

Fonte: elaborado pelo autor.

O autor para Foucault


As concepções e contribuições que Michel Foucault (1926-1984) nos deixou, são, inegavelmente, essenciais para nossa
compreensão quanto ao tema da autoria, não apenas porque, de algum modo, dialoga com as discussões de Bakhtin, mas, também,
porque trazem à tona muitos pormenores sobre o que ele vai denominar de função-autor dentro dos discursos literários mais
detidamente, mas que nos dão um arcabouço teórico importante para nossas reflexões sobre a questão da autoria e da produção
textual. O escritor está presente em sua ausência, como uma sombra de si mesmo da qual emerge seu discurso.

Não nos esqueçamos de que, como vimos com Chartier, com o passar do tempo, o escritor passou a carregar consigo uma função
de responsável por um texto, fosse ele científico ou literário (ainda que em níveis distintos), assumindo a responsabilidade sobre
ele. Essas atribuições de autoria são os primórdios das discussões sobre direitos autorais e de propriedade intelectual, iniciados já
na Idade Média, e que, hoje, são comumente discutidos. Veremos, agora, uma outra função, como aquela apontada por Bakhtin, na
qual o escritor assume uma função-autor no discurso e que nem todos os textos necessitam receber uma atribuição, haja vista que
circulam em diferentes contextos de produção e têm outros objetivos de diálogo com seus leitores.
Assim, o escritor, homem das Letras, vai se tornar um autor quando este status for associado a uma obra ou a um conjunto de obras
identificadas em determinado contexto de produção, ou seja, todos os textos têm um responsável, mas apenas um número
limitado desses responsáveis receberá o status de autor, em função dos mecanismos que estão atrelados a essa função.

Michel Foucault

Foucault, em “O que é um autor?” (texto de 1969), faz uma abordagem sobre a questão da autoria e pelo direito de falar pelo texto,
texto este tomado como uma propriedade de determinado indivíduo ou sociedade: “Que importa quem fala?” (FOUCAULT, 2006,
p. 288). Neste espaço do autor, é onde ele exercerá sua função. Foucault discute sobre a relação do texto com aquele que o
escreve, e, ao tratar da função-autor, nos revela uma percepção sobre a relação da escrita com a imortalidade, ou seja, para ele, o
escritor desaparece da escrita, se anula, deixa de existir para dar lugar ao autor:

o sujeito que escreve despista todos os signos de sua individualidade particular; a marca do escritor não é
mais do que a singularidade de sua ausência; é preciso que ele faça o papel do morto no jogo da escrita. Tudo
isso é conhecido; faz bastante tempo que a crítica e a filosofia constataram esse desaparecimento ou morte
do autor (FOUCAULT, 2006, p. 269).

Se o escritor, então, está ausente, se ele desaparece, Foucault reitera que não é possível ignorarmos tal categoria do autor, uma vez
que dessa categoria depende a obra, por exemplo. O nome do autor existe como uma função, ou seja, “ele exerce um certo papel
em relação ao discurso: assegura uma função classificatória; tal nome permite reagrupar um certo número de textos, delimitá-los,
deles excluir alguns, opô-los a outros” (FOUCAULT, 2006, p. 273).

Sobre a atribuição da autoria, Foucault salienta que ela não se dá da mesma forma. Para ele, “uma carta particular pode ter um
signatário, ela não tem autor; um contrato pode ter um fiador, ele não tem autor. Um texto anônimo que se lê na rua em uma
parede terá um redator, não terá um autor” (FOUCAULT, 2006, p. 274). Nesse sentido, isso quer dizer que há alguns níveis de
importância dados a certos discursos, e a outros não, a depender de seus contextos de produção e da área as quais estão
relacionados. Note como essa relação de atribuição com os discursos dentro de um contexto de produção, tem relação com os
pressupostos de Bakhtin e seu autor-criador.

A função-autor
A função-autor de Foucault, no plano do discurso, também é uma posição enunciativa definida pelo sujeito que nos fala, e essa
mesma posição pode se referir a um mesmo indivíduo ou a vários, ou seja, o discurso pode estar ligado a uma singularidade do
autor ou aos seus vários “eus” que definem sua pluralidade. Em outros termos, é como se o autor assumisse outras identidades,
como se ele tomasse outros papéis, tudo ao mesmo tempo, para ocupar um lugar. O que poderia ser exemplificado quando, ao
lermos um romance, por exemplo, nos deparamos com vários personagens, cada qual com suas particularidades, todas elas
arquitetadas pelo autor, por esse sujeito por detrás do discurso:

a função autor está ligada ao sistema jurídico e institucional que contém, determina, articula o universo dos
discursos; ela não se exerce uniformemente e da mesma maneira sobre todos os discursos, em todas as
épocas e em todas as formas de civilização; ela não é definida pela atribuição espontânea de um discurso ao
seu produtor, mas por uma série de operações específicas e complexas; ela não remete pura e simplesmente
a um indivíduo real, ela pode dar lugar simultaneamente a vários egos, a várias posições-sujeitos que classes
diferentes de indivíduos podem vir a ocupar (FOUCAULT, 2006, p. 279).

As posições-sujeitos têm, então, relação com as condições de produção do sujeito que nos escreve, e todo o contexto sócio-
histórico no qual está envolvido. Para Foucault, a função-autor nos mostra uma possível presença do autor por detrás da escrita e
da obra. Uma das características apontadas por Foucault na função-autor diz respeito à atribuição discursiva do escrito, sugerindo
que a atribuição dada pelo nome do autor se refere a uma espécie de projeção sobre a atividade da escrita, e daí vem a posição-
sujeito por ele assumida, no ato de escrever: “o sujeito que escreve despista todos os signos de sua individualidade particular”
(FOUCAULT, 2006, p. 269).

O sujeito deixa de ter um papel que originou o discurso para ter uma função nele e em sua representação com o mundo e com a
vida social. A posição-sujeito pode estar, por exemplo, na apresentação de um livro, outra posição no corpo do livro, e outra, ainda,
ao se referir às recepções da obra publicada. Perceba que, em cada um desses discursos, há uma posição, uma postura diferente
tomada pelo autor.

Desse modo, a função-autor nos revela que todo sujeito fala de algum lugar e ocupa uma posição ao se expressar. Assim, não
podemos dizer que ele é dono do seu discurso, uma vez que, por ele, se perpassam outros discursos, como se fossem várias vozes
justapostas que culminam no discurso. O mesmo autor pode, então, assumir várias posições que nos levam a entendê-lo, enfim,
como “um certo foco de expressão que, sob formas mais ou menos acabadas, manifesta-se da mesma maneira, e com o mesmo
valor, em obras, rascunhos, cartas, fragmentos etc.” (FOUCAULT, 2006, p. 269). Diante dessas manifestações, a função-autor, como
nos coloca Cavalheiro (2008, p. 78):

indica que determinado discurso deve ser recebido de certa maneira e que deve, numa determinada cultura,
receber determinado estatuto. O que faz com que um indivíduo exerça a função autor é o fato de, mediante
seu nome, delimitar, recortar e caracterizar os textos que lhe são atribuídos.

O que nos interessa notar, contudo, para além das complexidades filosóficas sobre as quais Foucault se debruçou, ao tratar da
autoria em suas reflexões, para efeitos de nossos estudos, é importante salientar que a função-autor e a autoria são mecanismos
que, de alguma maneira, agrupam discursos, o que nos permite delimitá-los quanto aos seus campos de atuação (científico,
literário, cotidiano etc.), e que controlam a forma como os textos circulam para lhes dar a legitimidade que lhe serão impostas. Esse
controle, que na Idade Média tinha um teor mais religioso e de combate à transgressão, com a modernidade, passou a ser uma
forma de regulação de discursos da personificação do autor na representação de si mesmo e de sua organização social,
delimitando, portanto, seu meio discursivo e seu papel nesse meio.

Hoje, quem é, de fato, um autor? Para quem se escreve? O que “de novo” se diz? Não seríamos todos nós
escritores/autores?
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ATIVIDADES
1.De acordo com a construção da figura do autor da Idade Média à Idade Moderna, considere as afirmações a seguir e assinale a
alternativa correta.

a)A concepção de autoria, desde a Antiguidade, é a mesma que temos hoje, ou seja, os heróis das epopeias gregas ainda residem
em nosso imaginário, assim como os escritores daquela época.

b)A atribuição da autoria foi essencial para que se pudesse punir os transgressores dos dogmas vigentes, ao mesmo tempo em que
colaborou para que as figuras do autor e do escritor ganhassem mais espaço e mais credibilidade, sem mais estarem vinculadas a
uma inspiração divina que teria a arte como resultado.

c)A Igreja e o Estado pouco se importavam com aquilo que se publicava durante a Idade Média, por isso, ninguém era punido por
nada do que dizia ou escrevia.

d) A invenção da imprensa, no século XVIII, não representou nenhum avanço teórico, histórico ou social para a questão da autoria,
ainda que tenha sido uma grande invenção da modernidade.

e) Escritor e autor sempre foram considerados a mesma coisa, sem nenhuma distinção estética ou mesmo comercial, ou seja, todo
escritor é também autor.

2.Segundo Faraco (2005, p. 38), o autor-criador “é entendido fundamentalmente como uma posição axiológica com o herói e seu
mundo”. Esse conceito, em Bakhtin, é essencial aos estudos sobre autoria. Assim, considere as afirmações a seguir.

I)O autor-criador e o autor-pessoa são instâncias distintas no plano da linguagem, o que nos leva a separarmos autor do escritor,
respectivamente.

II)A posição axiológica do autor-criador tem relação com o autor, que deve estar sempre fora de si mesmo, num plano diferente
daquele em que sua pessoa está, ou seja, a criação artística se dá nesse outro mundo, por uma outra consciência de si mesmo, por
uma voz que não é a do escritor.

III)O autor-criador é a consciência de uma consciência e desempenha uma função estética que dá forma e acabamento ao herói e
ao mundo criado. Além disso, essa consciência se dá por meio de uma segunda voz, uma voz social, haja vista que, para Bakhtin, o
sujeito é dialógico, assim como a linguagem.

IV) O autor-criador e o autor-pessoa representam a mesma instância no plano da linguagem, o que nos leva a concluir que autor e
escritor desempenham as mesmas funções.
Está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.

b) I, II e III, apenas.

c) III, apenas.

d) III e IV, apenas.

e) II e IV, apenas.

3.Foucault estabelece que o nome do autor não está ligado diretamente a um indivíduo real com nome e CPF, uma vez que os
discursos têm status específicos, ou seja, lhes são atribuídos autorias representadas pelo sujeito que nos falam, que desempenham
uma função. Sobre a função-autor, considere as afirmativas a seguir.

I)Não são todos os textos que necessitam de uma atribuição de autoria porque circulam em diferentes contextos de produção,
logo, o status de autor não está relacionado com todos os textos publicados.

A função-autor funciona em todos os tipos de textos. Por exemplo, uma pichação anônima na rua clama por seu autor, assim
II)

como uma bula de remédio. Já um romance, nunca clamará pela autoria de seu discurso. I

II)A função-autor nos revela vários egos presentes no discurso. É como se o autor assumisse outros “eus” para se posicionar no
texto, deixando de lado o sujeito que originou o texto para passar a exercer uma função no discurso.

IV) Todos os textos que circulam em uma sociedade clamam pela atribuição de sua autoria, uma vez que sempre esses textos
desempenham uma função social explícita.

Está correto o que se afirma em:

a) III, apenas.

b) I e III, apenas.

c) I, II e III, apenas.

d) I e IV, apenas.

e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

Resolução das atividades

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RESUMO
Vimos, nesse estudo, que o conceito de autoria é um tanto quanto complexo ao trazermos à discussão os conceitos-chave de
Bakhtin e Foucault. A noção de autoria, como vimos, é um dos conceitos que se discute há um bom tempo e, por isso, vimos aqui
apenas algumas de suas noções gerais.

Vimos, também, que a concepção de autoria foi mudando com o passar do tempo, muito em função daquilo que se esperava dos
escritores, e também, como uma forma de punição à transgressão de ideais religiosos ou sociais que se davam por meio da escrita.
Isso tudo acabou fortalecendo a figura do autor.

Além disso, a noção de autoria que nos propusemos a estudar aqui, tratou do indivíduo como não proprietário do seu discurso,
uma vez que a autoria, para Bakhtin e Foucault, são fenômenos mais complexos do que apenas uma posição no texto. Para ambos,
não há um indivíduo proprietário da obra, uma vez que toda palavra está presente no próprio sistema da linguagem, dentro de
discursos que circulam em diferentes contextos.

Assim, vimos que o autor-criador, de Bakhtin, é como uma consciência que vive fora do autor-pessoa, por meio da qual assume uma
posição estética no texto, uma voz social por detrás da linguagem, para dar vida a seu herói ou a si mesmo. A função-autor, de
Foucault, também desempenha uma função social, uma vez que os discursos são recebidos de maneiras diferentes, dependendo de
onde circulam e de quem os escreve, ou seja, a função-autor é uma posição (ou várias delas) assumidas pelo sujeito que escreve.
Este sujeito nunca é um indivíduo somente, haja vista que ele assume diferentes posições no discurso.

Neste estudo, portanto, pudemos rever alguns conceitos importantes sobre autoria e sobre o autor, para que compreendêssemos
melhor como se dá o funcionamento da instância autoral dentro do discurso, problematizando alguns pontos relevantes aos
nossos estudos, sem, contudo, esgotar todas as possibilidades de abordagem que um tema desta natureza nos permitiria fazer.

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Material Complementar

Leitura
Estética da criação verbal

Autor: Mikhail Bakhtin

Editora: WMF Martins Fontes

Sinopse a figura de Mikhail Bakhtin aparece, hoje, como uma das mais
:

fascinantes e enigmáticas da cultura européia de meados do século XX.


De fato, é possível distinguir, como o faz Todorov na introdução, vários
Bakhtin: depois da crítica do formalismo vigente, o Bakhtin
fenomenólogo, autor de um primeiro livro sobre a relação entre o autor e
seu herói; o Bakhtin sociólogo e marxista do final dos anos 20 que
aparece nos complexos “Problemas da Poética de Dostoievski”; o Bakhtin
dos anos 30, marcado pelo Rabelais e pelas grandes explorações culturais
no campo das festas populares, do carnaval, da história do riso, e o
Bakhtin “sintético” dos últimos escritos. Os textos reunidos neste volume
provêm de três momentos importantes dessa rica carreira e permitem
compreendê-la melhor. Iniciam com os extratos da sua primeira grande
obra, “Descrição Fenomenológica do Ato de Criação”

Na Web
Para saber um pouco mais sobre a revolução que a invenção da imprensa
causou ao mundo e ao nosso pensamento moderno como um todo, este
interessante artigo pode ser útil aos seus estudos.

Acesse

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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. P. A função-autor: examinando o papel do nome do autor na trama discursiva. Fractal Revista de Psicologia Rio de ,

Janeiro, v. 20, n. 1, p. 221-235, jan./jun. 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-


02922008000100021&lng=en&nrm=iso Acesso em: 14 set. 2017.
.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BARTHES, R. A morte do autor. In: ______. O rumor da língua São Paulo: Martins Fontes, 2004.
.

CAVALHEIRO, J. S. A concepção de autor em Bakhtin, Barthes e Foucault. SIGNUM Estud. Ling ., Londrina, v. 11, n. 2, p. 67-81, dez.
2008. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/signum/article/view/3042/2585 Acesso em: 14 set. 2017. .

CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Tradução de Mary Del Priore.
Brasília: UNB, 1998.

FARACO, C. A. Autor e autoria. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005. p. 38-60.

FIORIN, J. L. O romance e a simulação do funcionamento real do discurso. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: dialogismo e construção de
sentidos. Campinas: UNICAMP, 1997. p. 229-247.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Loyola, 1996.
.

______. O que é um autor? In: ______. Ditos e Escritos – Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2006. p. 264-298.

TEZZA, C. A construção das vozes no romance. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: dialogismo e construção do sentido. Campinas:
UNICAMP, 2005. p. 209-217.

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APROFUNDANDO
No interessante texto de Eni Pulcinelli Orlandi (1993), intitulado “Nem escritor, nem sujeito: apenas autor”, sua abordagem
procura relacionar a noção de autor além do discurso literário e para o contexto escolar. Partindo de algumas considerações de
Foucault, e de uma posição segundo a Análise do Discurso, Orlandi nos esclarece alguns pontos:
O texto é uma “dispersão de saberes” e isso tem relação com a função-autor desempenhada pelo sujeito na sua produção
escrita.
Dispersão de saberes significa que “o sujeito se representa de diversas maneiras bastante diversas num mesmo espaço textual”
(ORLANDI, 1993, p. 76) e isso implica nas produções de leitura e escrita.
Logo, no discurso, os sujeitos são plurais, ocupando lugares diferentes dentro do texto. Orlandi, contudo, nos apresenta que
essas posições no texto têm relação com funções enunciativo-discursivas porque “o sujeito está inscrito no texto que produz”
(ORLANDI, 1993, p. 76). Isso quer dizer que tais afirmações são diferentes daquelas ditas por Foucault. Veja:
Para Orlandi, o texto até pode não ter um autor específico, mas sempre se poderá requerer uma autoria a ele, ou seja, o autor é
o que faz do discurso coerente, sem nos esquecermos de que esse sujeito é sempre social.
Segundo Orlandi (1993, p. 77), “o autor é a função que o eu assume enquanto produtor de linguagem. Sendo a dimensão
discursiva do sujeito que está mais determinada pela relação com a exterioridade (contexto sócio-histórico), ela está mais
submetida às regras das instituições”.
Tais regras devem respeitar, então, as regras da linguagem.

Este posicionamento interessante, apontado por Orlandi em seu texto, nos interessa porque ele, ainda, vai relacionar a noção de
autoria a um “jogo” no qual o aluno fará parte quando começar a escrever. Mas que jogo seria esse? Segundo a autora:
O sujeito, como indivíduo social, tem que exteriorizar-se no mesmo sentido em que se interioriza, ou seja, ele assume uma
postura como aquele que escreve o texto por meio dos recursos que lhe estão disponíveis (regras textuais, por exemplo) e,
assim, ele vai assumindo seu papel de autor.
Este papel é social e de responsabilidade no qual o autor domina mecanismos discursivos para representar a si mesmo ou às
suas convicções, é na escola, por exemplo, onde o aluno vai aprender a dominar tais mecanismos para a produção escrita.
Em consequência disso: “aprender a se colocar – aqui: representar – como autor é assumir, diante da instituição-escola e fora
dela (nas outras instâncias institucionais) esse papel social, na sua relação com a linguagem, constituir-se e mostrar-se autor”
(ORLANDI, 1993, p. 79).

Mas, então, o que seria a autoria para Orlandi?


Isso quer dizer que a autoria é o reconhecimento daquele que escreve (o sujeito) como proprietário do texto, por meio do qual
evidencia sua ação social. Não podemos perder de vista que a linguagem é dialógica: se fala de algum lugar para alguém. O
princípio do contexto de produção é que definirá o modo como esse sujeito (e estou pensando aqui no aluno) irá se manifestar
por meio da linguagem.
Segundo as considerações de Orlandi, a função-autor acontece sempre que um indivíduo se coloca ao dizer algo, isto é, sempre
que produz um texto segundo certa unidade de sentido com coerência, com uma estrutura por meio da qual seja possível
compreendê-lo.
Nesse ponto é que surge o papel da escola na formação do sujeito, ao mesmo tempo crítico, e que percebe a diferença entre um
simples enunciador do discurso (em seu cotidiano) de um autor (em suas práticas discursivas de produção textual).

Finalizando nossa reflexão diante do contexto da sala de aula:


Pudemos entender que a postura tomada pelo aluno, diante do texto, é que permitirá a ele perceber todos os mecanismos
presentes, quando produzir textos aliados aos seus conhecimentos sobre os princípios que regem o funcionamento dos gêneros
textuais e da própria língua.
É no ambiente escolar que o aluno lidará com o processo discursivo que o permitirá tomar a postura de “autor” e fazer uso dos
mecanismos inerentes aos processos textuais. Tudo isso marcará seu estilo e sua prática, nos quais, “para ser autor, sim: a escola
é necessária, embora não suficiente, uma vez que a relação com o fora da escola também constitui a experiência da autoria”
(ORLANDI, 1993, p. 82).

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

REFERÊNCIAS
ORLANDI, E. P. Discurso e Leitura São Paulo: Cortez, 1993.
.

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; SANTA, Everton Vinicius de.

Autoria: produção textual e leitura colaborativa. Everton Vinicius de Santa.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.

28 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Produção textual. 2. Leitura colaborativa. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 469

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

Fotos Shutterstock
:

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900

Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

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A CIBERCULTURA E O
CIBERESPAÇO: A
AUTORIA DO PAPEL À
TELA
Professor :

Dr. Everton Vinicius de Santa

Objetivos de aprendizagem
Apresentar o conceito e algumas implicações da cibercultura aos estudos da autoria e apontar as concepções sobre o conceito
de ciberespaço que envolvem a autoria.
Demonstrar a relação que os ambientes digitais têm com a configuração de um novo papel de autor e de leitor.
Discutir o conceito de hipertexto e apresentar algumas de suas características na sua relação com as práticas de escrita e de
leitura.
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
A cibercultura e sua relação com a autoria
A autoria e o ciberespaço
O hipertexto e a autoria

Introdução
Caro(a) aluno(a), como vai?

Nossos estudos sobre a autoria, com foco na produção textual e na leitura colaborativa, segue agora por um caminho
indiscutivelmente atual e relevante: o da influência dos meios digitais em nossas práticas cotidianas. É justamente aqui que
poderemos discutir e refletir sobre alguns conceitos importantes a respeito deste tema tão vasto e que permeia nossas práticas
pedagógicas como um todo.

Ainda que nossas discussões, aqui, não possam abarcar todo o universo que o tema nos pressupõe, tentaremos ao máximo extrair
alguns conceitos fundamentais sobre o entendimento dos mecanismos que regem as práticas discursivas neste suporte digital. As
influências desse suporte digital modificaram a forma como a autoria se dá, em função de outra configuração dada ao processo de
escrita e à sua recepção por outros leitores.

Veremos, então, como o conceito de cibercultura ilustra nosso atual cenário social e cultural e que envolve diversas áreas do
pensamento atual. A cibercultura agrega ao nosso cotidiano práticas de leitura e escrita diferentes daquelas observadas quando
apenas o papel impresso predominava em nossa sociedade.

Além disso, poderemos observar que todas essas manifestações ligadas à cibercultura, de um modo geral, se dão no que chamamos
de ciberespaço, um ambiente virtual no qual funcionam e no qual residem as ferramentas e mecanismos ligados aos meios digitais.
Esse é um espaço plural e fluido, que torna possíveis alguns mecanismos interativos do texto e uma maior interação dos sujeitos,
todos imersos nesse espaço. Tal interatividade se dá, sobretudo, em função do hipertexto, elemento que caracteriza a forma de
funcionamento do “novo” texto.

Convido-lhe a me acompanhar, agora, nestas nossas reflexões sobre esse tema tão interessante e tão importante para as práticas
de escrita e leitura, e que marcaram profundamente o modo como lidamos com a linguagem. Vamos lá?

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A cibercultura sua relação com


e a
autoria
A originalidade e a importância da revolução digital apoiam-se no fato de obrigar o leitor contemporâneo a
abandonar todas as heranças que o plasmaram, já que o mundo eletrônico não mais utiliza a imprensa,
ignora o 'livro unitário' e está alheio à materialidade do códex (CHARTIER, 2002, p. 24).

Não podemos perder de vista, ao falarmos sobre autoria, produção textual e leitura, que a tecnologia, de fato, contagiou o modo
como operam os escritores e leitores diante de suas práticas interpessoais e suas relações dialógicas com a linguagem. Não se trata
de abandonar velhos hábitos ou esquecer antigos conceitos e teorias sobre objetos sempre presentes em nossos estudos, a saber,
a linguagem e a própria literatura, mas se trata de revê-los à luz de evidentes transformações e percepções que a tecnologia nos
permitiu fazer, transformando antigos hábitos e expandindo nossas capacidades de interação com os multimeios que estão
presentes conosco o tempo todo, e também, na sala de aula.

Do ponto de vista da autoria, a tecnologia, de certa forma, nos leva a perceber que outros modos de significação dados à figura do
autor e do leitor, consequentemente, se fazem necessários para que se possa compreender outros (para não dizer novos) critérios
e mecanismos, que, por sua vez, operam as práticas discursivas agora permeadas pelas textualidades eletrônicas, que vão além do
papel e tinta para se tornarem dados navegáveis em um emaranhado mundo virtual e em ferramentas dele que “desassossegam
leitores” (CHARTIER, 2002, p. 24), mas também, os autores.

De fato, a internete1, suas implicações e ferramentas, deram à figura do autor uma outra roupagem bastante diferente daquela do
autor da Idade Média. O autor passa a ter seu ofício muito mais valorizado, ao mesmo tempo, mais questionado e com
interferências, uma vez que esse ambiente, o qual chamamos de ciberespaço, é de natureza fluida, aberta e efêmera. Contudo,
essas nuances todas devem ser tomadas não como revolucionárias ou inéditas, porque não o são. Papel e tela se complementam.

Mas o que é a cibercultura?


Entre as diversas definições sobre o conceito, neste estudo, devemos considerar que, em nossas práticas cotidianas, há uma
inevitável relação de interdependência que temos das tecnologias e o modo como lidamos com o texto também foi afetado.
Havemos de considerar, ainda, que a noção de sujeito, neste nosso estudo, sempre estará relacionada à questão da autoria, por
meio da qual a linguagem se faz possível, ao mesmo tempo em que os modos de atribuição de autoria relacionados aos textos
foram deslocados ao longo do tempo, e a sociedade encarava a prática da escrita como um processo criativo individual, restrito ao
autor, e tudo aquilo que ele carregava consigo, em suas convicções como sujeito sócio-histórico que, por sua vez, se desvela no
texto. As funções do autor, o modo como ele é visto, como estudamos anteriormente, vai depender de alguns elementos
constitutivos: contexto de produção e estilo, por exemplo, que operam de diferentes maneiras em diferentes tipos de textos.

No que se refere, então, às práticas de leitura e escrita diante das novas tecnologias, que, aos poucos, começaram a fazer parte de
nosso cotidiano, “novas práticas de escrita e leitura, estimuladas especialmente pelo advento das redes eletrônicas de
comunicação, vêm desestabilizando de fato e na prática o entendimento da autoria como algo de natureza individual” (MARTINS,
2012, p. 40). Ou seja, os processos de escrita e leitura vão tomar outros rumos, uma vez que a individualidade dos agentes
envolvidos se tornará mais coletiva e mais sujeita à modificações e interferências, muito em função do que chamaremos, aqui, de
reflexo da cibercultura.

Pierre Lévy (1999, p. 17) nos apresenta duas definições bastante pertinentes às nossas discussões.

O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão
mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital,
mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de
técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.

Nesse sentido, a cibercultura pode ser entendida como um conjunto de tecnologias ou aparatos tecnológicos que modificam os
modos como a sociedade percebe seu contexto, como observa uns aos outros, e na forma como ela interage consigo mesma, tanto
com relação à arte quanto às práticas cotidianas. O modo como lidamos com a tecnologia faz que estabeleçamos novos hábitos,
novos costumes que estão em constante transformação, porque a natureza da cibercultura acompanha o rápido avanço
tecnológico: o novo deixa de ser novo em um piscar de olhos. Contudo, estas mudanças todas não são, de fato, inéditas, uma vez
que nós, como sociedade, estamos em constante transformação.

Toda cultura é, antes de tudo, híbrida; formação de hábitos, costumes e processos sócio-técnico-semióticos
que se dão sempre a partir do acolhimento de diferenças e no trato com outras culturas. A recombinação de
diversos elementos, sejam eles produtivos, religiosos ou artísticos, é sempre um traço constitutivo de toda
formação cultural. Por outro lado, toda tentativa de fechamento sobre si acarreta empobrecimento,
homogeneidade e morte. A cultura necessita, para se manter vibrante, forte e dinâmica, aceitar e ser, de
alguma forma, permeável a outras formas culturais. Esse processo está em marcha desde as culturas mais
“primitivas” até a cultura contemporânea, a cibercultura. Assim, não é a recombinação em si a grande
novidade, mas a forma, a velocidade e o alcance global desse movimento (LEMOS, 2007, p. 38).

Percebam que a cibercultura não é revolucionária por trazer uma outra visão de mundo aos nossos tempos, isso acontece a todo o
momento. Como toda cultura é dinâmica, o mundo eletrônico nos permite realocar alguns conceitos para que possamos nos
adaptar a tais mudanças, uma vez que, do ponto de vista da linguagem, residem nela novas técnicas de escrita e de difusão da
escrita, se cria uma nova relação com o texto, antes predominantemente passiva com relação aos leitores, e, ainda, o texto se
inscreve em outros formatos e dimensões que vão além do papel.

Havemos de considerar, ainda, mais especificamente sobre a questão da autoria, o tão famigerado tema da atribuição e da
responsabilidade do texto, uma vez diante da maleabilidade, da efemeridade e a da abertura do texto no meio digital. A função-
autor, de Foucault, do ponto de vista da cibercultura e das práticas de leitura e escrita em meio digital, ganha força, uma vez que
“desaparece a atribuição dos textos ao nome de seu autor, já que estão constantemente modificados por uma escritura coletiva,
múltipla, polifônica” (CHARTIER, 2002, p. 25).
A cibercultura, portanto, longe de querermos, aqui, estabelecer limites para sua definição. Ela pode ser entendida como esse todo
emaranhado tecnológico que nos rodeia e nos atinge, permitindo que possamos expandir os limites físicos do mundo real para
além do que chamamos de tela, ou seja, a tela será o espaço no qual reside uma outra forma de vermos a nós mesmos e uma outra
forma de lidarmos com a linguagem.

Este assunto da cibercultura é muito importante para qualquer área da Educação, e você pode pesquisar
mais sobre ele nos trabalhos da Profª. Lucia Santaella, da PUC-SP.

Fonte: elaborado pelo autor.

E como fica o autor?

Diante da textualidade eletrônica, a figura do autor ganha uma outra dimensão com relação à atribuição, justamente em função da
natureza dos meios digitais, que desestabilizam a ordem dos discursos, uma vez que os textos estão todos presentes no mesmo
suporte: o computador. Se antes o livro impresso permitia ao leitor estar ciente, sem dúvidas, da origem de tal discurso, o meio
digital (sem generalizações) mostra que tal origem, que daria credibilidade ao autor de fato, pode se perder. Este é apenas um,
entre vários pontos, positivos e negativos, que o meio digital traz às questões da autoria, sem mencionar os direitos autorais, agora
muito mais discutidos do que antes, haja vista a facilidade de cópia e reprodução que as ferramentas tecnológicas permitem aos
seus autores, mas esta discussão não nos cabe aqui.

O que nos interessa, de fato, é percebermos como a cibercultura, de um modo geral, modificou o modo como vemos a figura do
autor. Ainda que, nela, ocorram algumas problemáticas com relação à atribuição de autoria, por exemplo, ou mesmo quando
falamos em autoria coletiva, outra modalidade propiciada pelos meios digitais, não podemos perder de vista que a figura do autor
continua operante e essencial às nossas relações dialógicas.

Além disso, não podemos nos esquecer de que a cibercultura possibilita novas formas de contato com o texto com relação à escrita
e leitura, onde estão textos, imagens, sons, e uma série de outras ferramentas que co-participam nos processos de linguagem, a
exemplo de gêneros discursivos que se dão neste meio, como os blogues, os imeios, o chat, o fórum, a lista de discussão. Cada qual
com suas características e marcas linguístico-enunciativas.

Desse modo, o sujeito autor que desempenha sua função, ainda que seja fora dos meios digitais, não deixa, de modo algum, de
estar contagiado por todas as implicações decorrentes da cibercultura na qual nos encontramos imersos, direta ou indiretamente.
O que pretendemos demonstrar aqui, ao tratar da cibercultura, é que a sociedade como um todo se configura e se estabelece numa
relação de simbiose com a tecnologia, e, mais especificamente, em relação aos nossos estudos, que há outros espaços de produção
e interação envolvendo a tecnologia que não apenas o papel e o meio impresso, fomentando outros olhares e possibilidades às
práticas de escrita e leitura.

O importante é entendermos que a cibercultura, desde a origem do computador, nos possibilitou a manipulação de diferentes
formatos de conteúdo, como o texto escrito, o hipertexto, o som, a imagem, todos reproduzíveis e modificáveis, aliados à conexão
de todos nós mediado, pela grande rede de informações: a internete. Passamos, então, de uma cultura cujo autor se pautava pelo
objeto físico e pelo papel, para uma cultura mais rápida, imediata, e na qual a tela passa a fazer parte das relações desse autor com
o seu leitor, ou seja, nossas relações sociais estão sendo mediadas pela tecnologia computacional, “de nossa autoidentidade e do
nosso sentido mais amplo de vida social”(SANTAELLA, 2003, p. 105), e numa sociedade sem mais fronteiras físicas, haja vista que a
cibercultura nos dá o sentido pleno do que chamamos globalização, em função das conexões.

“Se a escola não inclui a Internet na educação das novas gerações, ela está na contramão da história, alheia
ao espírito do tempo e, criminosamente, produzindo exclusão social ou exclusão da cibercultura. Quando o
professor convida o aprendiz a um site, ele não apenas lança mão da nova mídia para potencializar a
aprendizagem de um conteúdo curricular, mas contribui pedagogicamente para a inclusão desse aprendiz
na cibercultura.” (Marco Silva)

A autoria e o ciberespaço
No caso do ciberespaço, trata-se da impressão de que nossa identidade não passa mais pelo reencontro de
nós em nossos próprios gestos e no reconhecimento de nossa fisionomia no que fazemos e nas significações
que propomos às coisas e aos fatos, na maneira como visamos a um mundo de significações que se instala à
nossa volta (SANTOS, 2001, p. 11).

Falar sobre o ciberespaço envolve muitos desdobramentos emergentes das mais várias áreas de nossas atividades, e, ao tratarmos
de texto e linguagem, teríamos muito em que nos debruçar, sobretudo trazendo as teorias linguísticas e literárias à ribalta, nossas
discussões reverberariam, muito certamente, para outros espaços de significação que o tema em si nos envolveria. O ciberespaço,
como proposta deste estudo, é estudado segundo alguns pontos importantes sobre sua natureza dinâmica e plural, e como isso
afeta, ou contagia, ou ressignifica nossas reflexões sobre práticas de leitura e escrita considerando esse ambiente, como veremos.

Digo isto porque o ciberespaço “já está se tornando lugar-comum afirmar que as novas tecnologias da informação e comunicação
estão mudando não apenas as formas do entretenimento e do lazer, mas potencialmente todas as esferas da sociedade”
(SANTAELLA, 2003a, p. 23). Não poderíamos deixar de tratar destas transformações ao tratarmos da questão da autoria e,
pensando mais além, porque estes nossos estudos, hora ou outra, serão contextualizados em nossas práticas pedagógicas em sala
de aula, ambiente já permeado pelas tecnologias digitais e as quais tentamos agregar, a nosso favor, obviamente, dentro e fora da
sala de aula.

Diante disso, gostaria de elucidar, desde já, que trataremos aqui do conceito de ciberespaço, segundo Pierre Lévy (1999), e suas
relações com a figura do autor de hoje, para que possamos refletir sobre como isso afeta, de fato, as produções escritas, e, à guisa
da discussão, as práticas de leitura que são afetadas pelos meios digitais, sem que sejamos levados a nos equivocar ao considerar
que tais mudanças se devem exclusivamente aos meios digitais e à tecnologia. Somos sujeitos autores e consumidores, permeados
pelos mecanismos discursivos, reconfigurados e transformados por suportes outros que não apenas o papel.

Algumas considerações sobre o ciberespaço


Uma das mais importantes definições sobre ciberespaço nos é dada por Pierre Lévy, sociólogo, filósofo e estudioso sobre os
impactos da internete em nossa sociedade. Segundo ele, em sua obra “Cibercultura” (publicada originalmente em 1997):

O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão
mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital,
mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que
navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p, 17).

Este não tão novo meio sobre o qual nos fala Lévy (perceba que o livro é de 1997), fala, de um ponto de vista já um pouco
revolucionário, que a tecnologia e sua relação com nosso cotidiano, viriam nos trazer muitas outras novas formas de perceber o
mundo e nossos hábitos, talvez, ainda, nos mostrando que a tecnologia, que ainda nos surpreende, traz marcos importantes para
nossas relações interpessoais e para nossa configuração enquanto sujeitos, haja vista que o ciberespaço, esse espaço outro, nos
permite projetar no virtual outras possibilidades que, no mundo real, não nos seria possível.

O ciberespaço se caracteriza, sobretudo, pela interatividade entre as distintas mídias que nele estão presentes, e que, hoje, mais
do que nunca, cada vez mais nos levam a crer que são irreversíveis algumas formas de comportamentos interpessoais, muito em
função do crescimento desenfreado de novas formas de comunicação facilitadas pelo ambientes virtuais, e as redes sociais são o
melhor exemplo disso. As novas formas de comunicação são espaços de intervenção, comunicação, criação, de crítica, de
transformação muito mais rápidas e interativas que os tradicionais meios de comunicação como rádio, televisão e telefone. É em
função do ciberespaço que teremos a noção de hipertexto, um termo de Ted Nelson, da década de 1970, que dá a ideia de uma
escrita ou leitura não-linear, cujo principal suporte para sua realização é o computador ou um sistema informático, ou seja, o
hipertexto relaciona texto múltiplos por meio de hiperlinques (conexões, nós) das mais variadas naturezas, desde modalidades
textuais até imagens e leituras aos saltos.

Essa ideia de uma nova configuração dos sujeitos tem relação, sobretudo, com a natureza
desterritorializante do ciberespaço, ou seja, a cultura contemporânea promove o que se chama diluição de
fronteiras, que caracteriza globalização. Quero dizer que os meios digitais, desde o advento da internete,
permitem que estejamos presente em muitos acontecimentos ao mesmo tempo, nos permite ter acesso a
várias culturas (multicultural) e inúmeros tipos de informação (mídias de massa) que não estão ao nosso
redor, no nosso território. Podemos ter acesso, por exemplo, a vários jornais de diferentes países, podemos
acompanhar transmissões ao vivo por plataformas outras que não a televisão, como o Youtube ou eventos
com transmissão ao vivo, temos nossos celulares e aplicativos de comunicação que também representam
formas de desterritorialização, ou seja, há novas ferramentas presentes no ciberespaço que ressignificam o
conceito de território, em função do acesso à informação, e dão ao sujeito uma outra noção de
individualidade.

Fonte: elaborado pelo autor.

O ciberespaço, suporte do hipertexto, permitiu que nossas práticas de leitura e escrita passassem a fazer parte de um ambiente
virtual mediado pela tela, que deu maior liberdade ao leitor e ao escritor, embora seja importante frisar que o hipertexto, ainda que
o termo seja recente, tem suas origens no mundo impresso, a se considerar que o leitor já fazia leitura aos saltos quando recorria
às notas de rodapé, às notas de fins de página, ou mesmo quando anotava no próprio livro enquanto lia. Agora, essas ferramentas e
saltos são mais interativos porque envolvem programas específicos, sem contar as ferramentas de busca de informação e bancos
de dados, já essenciais ao funcionamento de muitos setores de nossas sociedade. O hipertexto, agora, é mais interativo do que
antes, sobretudo, porque o leitor diante da tela tem, em suas mãos, mais possibilidades de intervenção e de gerir suas próprias
estratégias de escrita e leitura do que o leitor do papel.
O texto, de um modo geral, quando está na tela, permite ao leitor interagir com ele e com seus elementos de uma forma mais
dinâmica em função da natureza do hipertexto, mais do que faz o leitor do papel, embora seja importante frisar que ambos os
leitores podem ler da mesma forma, no papel ou na tela, se ignorarem, por exemplo, os hiperlinques, notas de rodapé ou qualquer
outro mecanismo de interação presente no texto. Isso cabe ao leitor, e está fora de controle por parte do autor. Nesse sentido, as
tecnologias promoveram maior participação do leitor, de modo que texto, autor e leitor estão muito mais em diálogo, a exemplo de
narrativas escritas em coautoria, ou mesmo dos suportes, como os blogues literários, que permitem interferências do leitor na
tessitura narrativa, ou mesmo comentários de natureza crítica, diferente do que acontece com a escrita impressa no papel, em que
esses tipos de intervenção são mais limitados.

Isto posto, a autoria, na sua relação com o ciberespaço e com a cibercultura, permite ao autor ser, agora, um multiautor, ou seja, se
antes o autor estava preso ao papel e à tinta, restrito ao crivo editorial que pudesse mediar a publicação de seus escritos, por
exemplo, essa figura autoral passa a ser muito mais independente e autônoma. De outro lado, as ferramentas digitais
possibilitaram ao autor se fazer mais presente e mais visível para seus leitores, assim como as publicações e o acesso à leitura,
muito em razão da expansão do ciberespaço e de uma guinada social rumo à imersão digital (ainda que se discuta políticas de
inclusão digital), foram muito mais difundidas do que se estivessem presas ao mundo impresso. A autoria carrega consigo, ainda,
algumas outras questões decorrentes da influência dos meios digitais, sobre as quais veremos a seguir. Entre elas, as
características que envolvem mecanismos de produção e escrita diretamente reconfiguradas em função desse “novo” paradigma
textual frente ao meio digital.

A diluição da autoria

Como temos visto até aqui, o ciberespaço colaborou para que muitos de nossos hábitos e práticas cotidianas pudessem ser
integrados à tecnologia, com as quais podemos facilitar, ou até mesmo, melhorar nossas capacidades tanto de produção quanto de
criação, e em seu sentido mais amplo, ou seja, desde a cadeia produtiva socioeconômica até nossas produções artísticas. Ao se
pensar no tema autoria sob este ponto de vista, nos deparamos com outra figura do autor um tanto quanto distante do autor que
vimos na modernidade, cuja principal característica residia em questões de atribuição e responsabilidade sobre o texto ou a obra,
relacionados ao suporte do papel e tinta que “restringia” o ato criativo ao meio impresso e à mediação editorial de publicações,
sem mencionar os gêneros discursivos também ligados aos meios impressos. De fato, a questão da autoria, no tocante à produção
escrita e, consequentemente, à leitura, é modificada em função das tecnologias, uma vez que outros mecanismo para lidar com a
linguagem foram possibilitados.

De fato, a internete e os meios digitais deram à figura do autor uma outra dimensão que desloca seus processos de escrita,
adquirindo, assim, outra dinâmica referente ao seu ato criativo. Não apenas porque outros suportes permitem ao autor explorar e
difundir aquilo que escreve, mas porque os meios digitais, de uma certa forma, trouxeram um formato de autoria que não está mais
restrito apenas ao trabalho solitário, haja vista que se observam produções de escrita de autoria múltipla e colaborativa (a
Wikipedia e as fanfictions são exemplos disso). Por exemplo, assim como práticas de leitura colaborativa mediadas por
ferramentas digitais com propósitos variados (a exemplo das ferramentas de anotação, como o DLNotes, ou espaços para
comentários presentes em sítios, blogues e páginas da internete), o que se entende aqui, para fins de nosso estudo, é que as
práticas sociais de escrita e de leitura têm mudado, sobretudo, pela conectividade e interatividade. Devemos nos atentar que a
noção de livro fortaleceu a figura autoral como individual, e cuja estrutura já estava acabada, sem mais intervenções externas.

A noção de autoria se torna, então, difusa no ciberespaço justamente porque suscita questões que desestabilizam a
individualidade do autor, assim como a credibilidade da autoria, sua origem e sua assinatura, antes muito bem delimitada e
creditada pelos elementos constitutivos dos textos escritos e impressos, uma vez que o processo de publicação tinha o crivo
editorial que lhe assegurava tal credibilidade. Agora, o processo editorial pode pular etapas, uma vez que qualquer um de nós pode
escrever e publicar o que bem entender por meio de suportes que tornaram a figura do autor mais independente desse processo
editorial. Importante ressaltar que, por mais que se chame a atenção para este aspecto com relação às publicações em meios
digitais, isso não quer dizer que tal aspecto destrói a imagem do autor, e que a internete tenta destituir sua imagem. Este aspecto
da credibilidade é apenas um deles, assim como o da autoria colaborativa, na qual mais de um indivíduo participa do processo de
escrita, diferentemente do que predomina no meio impresso.

A autoria a qual presenciamos já está longe de ser fechada aos grilhões do papel, como víamos até há algum tempo atrás, e passa a
ser vista sob outros olhares, cujos discursos se dão de forma polifônica, descentralizada, e que envolve um sujeito mais conectado
e mais produtivo, ou seja, os meios digitais possibilitaram a mais sujeitos serem autores de fato, o que desestabiliza, de certo modo,
a premissa de Foucault sobre a função-autor e sobre todo o autor ser um escritor, mas nem todo escritor ser autor, porque os
discursos clamam por atribuições distintas dependendo de onde circulam. A diluição da autoria abordada aqui tem relação com a
pluralidade discursiva presente nas condições de produção de alguns gêneros ligados ao meio digita, como blogues e fanfictions,
ao mesmo tempo em que lidamos com romances que podem ser publicados on-line e que continuarão a clamar por sua autoria. Em
um ambiente tão plural como o meio digital, a figura do autor ganha, ainda, de outro lado, mais status, haja vista que, como no meio
impresso, o nome do autor continua sendo importante para dar validade e credibilidade a alguns tipos de textos que circulam na
sociedade.

Nesse sentido, o que pudemos observar até aqui sobre a autoria na sua relação com o ciberespaço e os meios digitais, tema, aliás,
sobre o qual não poderíamos nos desvencilhar, é que há muitos caminhos de discussão que desestabilizam a figura do autor que,
mais do que antes, pode ser questionada e colocada em xeque em função do suporte no qual seu discurso circula, ou seja, “não há
dúvida de que a produção discursiva, como algo próprio de um sujeito individual, está sendo desestabilizada nesse meio, e que é
mais acertado pensar em um sujeito coletivo ou transindividual como seu autor” (MARTINS, 2012, p. 43). O status de autor e sua
função exercida nos discursos devem ser revistos considerando a imersão e a influência das ferramentas digitais em suas práticas
de escrita, ainda considerando que “as formas textuais emergentes nessa escrita são várias e versáteis” (MARCUSCHI, 2004, p.
25). Por isso devemos pensar a autoria, também, como uma função que tem se adaptado aos novos suportes midiáticos, sem nos
esquecermos de que o meio impresso continua operante.

Fanfictions: são histórias ou obras literárias produzidas por fãs de determinadas obras, filmes, quadrinhos,
games, seriados, e, por exemplo, publicadas na internete em páginas pessoais, blogues ou sítios de escrita
colaborativa. O objetivo é dar continuidade à história original ou propor outros desdobramentos do enredo,
propondo finais alternativos e outras possibilidades ao enredo original. As fanfictions já são consideradas
como um gênero textual dos meios digitais. Para saber mais, acesse: .

Fonte: elaborado pelo autor.

O hipertexto e a autoria
No início dos anos sessenta, os primeiros sistemas militares de teleinformática acabavam de ser instalados,
e os computadores ainda não evocavam os bancos de dados e muito menos o processamento de textos. Foi,
contudo, nesta época, que Theodore Nelson inventou o termo hipertexto para exprimir a idéia de
escrita/leitura não linear em um sistema de informática. Desde então, Nelson persegue o sonho de uma
imensa rede acessível em tempo real contendo todos os tesouros literários e científicos do mundo, uma
espécie de Biblioteca de Alexandria de nossos dias (LÉVY, 1993, p. 17).

De um programa militar a uma imensurável rede de comunicação sem a qual não poderíamos nos imaginar sem. Foi assim que a
internete adentrou em nossa sociedade e trouxe consigo muitas transformações que, desde a época em que apenas iniciava, já se
previa que seria uma ferramenta transformadora de nossas práticas cotidianas. O hipertexto, idealizado por Ted Nelson, vinha
estabelecer a relação direta do pensamento e da escrita não-lineares que saltaria do papel para se materializarem nas telas dos
computadores por meio de sistemas de informação. A telemetria, as redes de informação, os bancos de dados e a internete como
um todo representam a imensa rede acessível em tempo real que interconecta todos nós onde quer que estejamos, ainda que
consideremos algumas limitações decorrentes de falhas técnicas.

Computadores e outros suportes midiáticos de informação e de comunicação estão presentes por toda parte e já fazem parte de
nossa cultura contemporânea tecnológica. Tais suportes deixaram de ser apenas máquinas para se tornarem parte integrante de
nós mesmos, sobretudo porque o advento da internete, e, mais tarde, das redes sociais, viriam a afetar profundamente a forma
como nos comunicamos e como produzimos discursos. A cultura letrada do papel foi agregada à então chamada cultura digital, e
que agora funcionam lado a lado.

Isto posto, é preferível que nos atentássemos ao hipertexto propriamente dito, porque é ele que nos permite observar, ainda que
inicialmente, como as práticas de escrita e leitura são afetadas, não porque passamos a pensar diferente ou produzir discursos de
modo diferente, mas porque nos propusemos, diante das possibilidades que o hipertexto nos deu, a integrar aos nossos hábitos
outras formas de pensamento. Não podemos perder de vista que o nosso objetivo maior é estudar mais a fundo a produção textual
e a leitura colaborativa e, por isso, não podemos deixar de considerar a versatilidade que os ambientes virtuais representam para a
linguagem e para a vida social.

O hipertexto e a autoria

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras,
páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem,
eles mesmos, ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com
nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de medo reticular. Navegar em um
hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto
possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p. 20).

Essa navegação aos saltos, que visualizamos na definição de Pierre Lévy, ilustra bem a ideia abstrata do hipertexto e da navegação
aos saltos, a exemplo dos cliques que damos quando usamos nossos computadores. Contudo, é importante reiterar que o meio
impresso tem seus modos de leitura aos saltos, a exemplo do hipertexto informatizado, ao utilizar notas de rodapé, notas de fim de
página, ou mesmo quando o autor propõe a leitura não-linear de um livro, a exemplo de “O jogo da amarelinha” (1963), de Julio
Cortázar, ou seja, “o escritor de um hipertexto produz uma série de previsões para ligações possíveis entre segmentos, que se
tornam opções de escolha para os hipernavegadores. O interessante é que cada leitor faz suas escolhas e seus caminhos”
(MARCUSCHI, 2001, p. 83).

O hipertexto do mundo digital expande a capacidade do autor e do leitor porque possibilita criar caminhos de leitura que guiam o
leitor no processo de leitura em rede, assim como permite ao autor incorporar outras mídias ao texto escrito. Tais mídias antes não
se viam possíveis junto ao texto impresso, como vídeos, sons, gráficos interativos, ou mesmo a construção de uma leitura aos saltos
com linques, que dão ao leitor maior liberdade para construir caminhos de leitura, ou de um “hiper- -leitura”, como nos diz Rösing e
Rettenmaier (2009, p. 1), “entre seus atributos mais fortes, contudo, dessa ‘hiper-leitura’ está a meta-referencialidade das
interfaces digitais, sempre auto-indicativas e em diálogo com o internauta. Isso permite a atividade do leitor na própria
constituição do lido”.

Desse modo, a hiper-leitura, e os cliques aqui e ali, configuram o que se chama de rede de associações que caracterizam o
hipertexto, e que estão à disposição de autores e leitores. Além disso, precisamos considerar, ainda que introdutoriamente,
algumas características importantes sobre como o hipertexto afeta significativamente as produções escritas e as práticas de
leitura.

Sobre a natureza do hipertexto

Para entendermos um pouco mais sobre o funcionamento da natureza do hipertexto, gostaria de elucidar aqui alguns pontos
considerados importantes para fins de nossos estudos sobre autoria, haja vista que muitos outros pontos podem ser levantados
sobre o tema. Estes são apenas alguns entre os temas os quais é necessário chamar a atenção, e não sejamos ingênuos em
considerar tais aspectos exclusivos dos textos hipertextuais.

O primeiro deles tem relação com a não-linearidade, sobre a qual já vimos aqui em nossas reflexões. Essa não-linearidade “traz a
imagem de um labirinto, para falar da multidimensionalidade desse espaço virtual” (MARTINS, 2012, p. 53), ainda que não inédita
em termos de mecanismo textual, mas que funciona junto do hipertexto, ao ser construída por hiperligações cujos caminhos de
leitura dependem também do leitor, ou seja, da interação daquele que vê, lê ou ouve o que está diante de seus olhos e na tela.

O segundo aspecto tem relação com a efemeridade do hipertexto, ou seja, as produções escritas desse meio, por serem virtuais,
estão mais sujeitas a desaparecer sem deixar vestígios, e, ao mesmo tempo, estão sujeitas à reprodutibilidade, que lhe garantiria
alguma segurança quanto à integridade daquilo que se escreve na rede. O papel preza pela reprodução de cópias, enquanto o
hipertexto se preocupa com a volatilidade inerente ao próprio ambiente do ciberespaço.

O terceiro aspecto é sobre a fragmentariedade do texto, que tem relação com a não-linearidade à medida que é construído aos
saltos, e isso faz o autor não ter mais controle sobre aquilo que escreveu, ou seja, o leitor pode traçar outros caminhos de leitura, e
seu texto pode ser desmembrado, sofrer recortes e adendos.

O quarto aspecto tem relação com a sua natureza plurissemiótica, híbrida, recombinante. Ao hipertexto escrito podem ser
agregadas linguagens não-verbais, como sons, vídeos, animações, enfim, integrações que o livro impresso, por exemplo, não
permite que se faça da mesma maneira.

O quinto aspecto é o da interatividade, que, de um modo geral, abrange todos os itens anteriores. Essa interatividade depende
sempre do autor e se concretiza no leitor, por meio do qual ambos podem estar conectados quase que simultaneamente,
dependendo do suporte. Esse contato direto entre autor e leitor modifica profundamente o modo como se produz textos, uma vez
que há a quebra de alguns protocolos e de alguns paradigmas sobre a aura do autor intocável, o colocando no mesmo nível que o
leitor.

De um modo geral, o hipertexto, na sua relação com a autoria (nosso foco nestes estudos), representa um novo espaço para a
produção textual, um espaço múltiplo e que vai além do papel impresso e do espaço restrito do livro, que preza pela virtualidade,
pela abertura, pela diluição de fronteiras, um espaço onde autor e leitor se complementam, de acordo com o gênero em questão,
ao mesmo tempo em que podem trabalhar juntos nas tramas do texto, para o caso da Literatura, o que desloca o papel do autor
como único na origem do texto.

Se pensarmos do ponto de vista da linguagem, a interação entre os sujeitos envolvidos nos processos textuais, a depender do
gênero discursivo em questão, poderemos perceber, também, uma interatividade constante entre os envolvidos em suas inter-
relações instantâneas, a exemplo dos bate-papos e aplicativos como Telegram e WhatsApp assim como as intervenções e
,

comentários que se dão em redes sociais como Facebook Twitter blogues, Instagram Snapchat exemplos de suportes que têm a
, , , ,

comunicação como eixo fundamental de seu funcionamento. De fato, a cultura do papel à tela, no que se refere à autoria,
modificou a imagem que temos do autor e modificou a forma como escrevemos, lemos e nos relacionamos.

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ATIVIDADES
novas práticas de escrita e leitura, estimuladas especialmente pelo advento das redes eletrônicas de comunicação, vêm
1. “(...)
desestabilizando de fato e na prática o entendimento da autoria como algo de natureza individual” (MARTINS, 2012, p. 40). Ou
seja, os processos de escrita e leitura vão tomar outros rumos, uma vez que a individualidade dos agentes envolvidos se tornará
mais coletiva e mais sujeita à modificações e interferências. Sobre o ciberespaço e a cibercultura, leia as afirmativas a seguir e
assinale verdadeiro (V) ou falso (F).

( ) O ciberespaço surge junto com o advento da internete e dos computadores.

( A cibercultura pode ser entendida como um emaranhado de informações


) e de tecnologias em que residem nossas novas
práticas sociais e culturais junto do ciberespaço.

( A cibercultura pouco influenciou na figura do autor, que permanece preso aos mecanismos do meio impresso, sem perder sua
)

postura solitária e restrita ao texto.

( As formas como lidamos com a linguagem foram modificadas não só em função da tecnologia, mas, também, em função dos
)

gêneros discursivos que emergiram a partir do seu advento e desenvolvimento.

A sequência correta para a resposta da questão é:

a) V, V, V, V.

b) F, F, F, F.

c) V, V, F, V.

d) V, F, F, V.

e) F, F, F, V.

2. O ciberespaço modificou a forma como lidamos com a linguagem, com a literatura e com as questões da autoria, sobretudo
porque o texto se tornou mais fluido e mais mutável, sem que, com isso, perdesse sua função comunicativa. Sobre o ciberespaço e
sua relação com a autoria, considere as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta .

a) O ciberespaço é uma ambiente fechado e pouco interativo, o que permite ao autor maior liberdade criativa, uma vez que está
livre da influência de seus leitores, e até mesmo, de outros mecanismos de controle sobre sua produção intelectual.
b) A pluralidade e diversidade de suportes e ferramentas presentes no ciberespaço possibilitaram que alguns textos pudessem se
tornar hipertextos, o que reconfigurou a tão sagrada figura do autor, e esta passou a ser mais suscetível à influência do leitor,
assim, suas produções passaram a estar mais sujeitas à reprodutibilidade, ao mesmo tempo em que se tornaram mais interativas.

c) O ciberespaço é um ambiente puramente virtual e complexo que sofre pouca influência social ou cultural, uma vez que está
restrito às áreas da informática e do processamento de dados, ou seja, áreas ligadas à linguagem e à educação não têm espaço
neste tipo de ambiente, e tampouco são influenciadas por ele.

d)O ciberespaço tem suas origens desde o surgimento da escrita, quando o processo de abstração da linguagem considerava esse
ambiente propício para a criação intelectual e foram determinantes para o modo como a internete se desenvolveu.

e) O ciberespaço se caracteriza por fortalecer as fronteiras existentes entre as sociedades, tem reflexo negativo em nossas
relações interpessoais, uma vez que fortalece a individualidade contemporânea, a exemplo das redes sociais e ferramentas de
comunicação instantâneas.

3.O hipertexto pode ser entendido como “um conjunto de nós interligados por conexões”, segundo Pierre Lévy (1993, p. 20), e
apresenta alguns aspectos sobre sua natureza. Em relação ao hipertexto, assinale a alternativa correta .

a) Linear; Constante; Uniforme; Plural.

b) Interativo; Linear; Constante; Singular.

c) Fragmentado; Efêmero; Estático; Não-linear.

d) Uniforme; Interativo; Linear; Plural.

e) Efêmero; Plurissemiótico; Interativo; Não-linear.

Resolução das atividades

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RESUMO
Pudemos ver, neste nosso estudo, algumas concepções que regem o sistema informacional e que reconfiguraram o papel do autor
de um modo geral. Discutimos como as tecnologias modificaram as formas como nos comportamos diante do texto, formas agora
mais ágeis e mais interativas em função da conectividade presente nas ferramentas disponíveis. Ressaltamos, ainda, que tais
modificações não são de todo inéditas porque muitas delas o meio impresso já trazia consigo.

Discutimos aqui o conceito de cibercultura como uma nova e emergente forma de inter-relação que temos entre nós e mediada
pela tecnologia. Vimos como a cibercultura modifica o comportamento do autor e do leitor agora que o texto, ao passar para o
meio digital, fica sujeito a outras interferências. Passamos a valorizar a cultura da tela e a integrar a tecnologia às nossas formas de
linguagem.

Além disso, vimos o conceito de ciberespaço como ambiente em que se dão as transformações inerentes aos processos de
produção textual e de leitura interativas, que, por exemplo, permitiram ao autor explorar outros mecanismos de escrita e agregar a
eles elementos antes restritos pelo meio impresso. Por isso, se fala da ideia de multiautoria e da escrita colaborativa como
mecanismos de produção que ganharam forma em função do ciberespaço. A diluição da autoria acontece no sentido em que os
ambientes digitais atenuam a ideia de responsabilidade e de atribuição atreladas ao autor, porque os suportes virtuais
desestabilizam a própria noção de origem. A escrita se tornou versátil.

Por fim, vimos que o hipertexto caracteriza tanto a cibercultura quanto o funcionamento do ciberespaço, porque materializa, no
virtual, o funcionamento do texto aos saltos, a hibridização de elementos constituintes do texto e preza pela interatividade com o
leitor. O hipertexto é o novo espaço da produção textual no qual autor e leitor se complementam, deslocando seus papéis
enquanto construtores de sentido numa sociedade cada vez mais conectada.

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Material Complementar

Leitura
Culturas e artes do Pós-humano. Da cultura das mídias à cibercultura

Autor: Lucia Santaella

Editora: Paulus

Sinopse neste livro, a autora apresenta o fruto de suas reflexões desde


:

que a passagem da cultura de massas para a cultura das mídias fertilizou o


terreno sociocultural para o surgimento da cultura digital. A autora tem
como objetivo contribuir com sugestões de respostas às questões
relacionadas aos temas do ciberespaço, cibercultura e ciberarte.

Na Web
Um dos grandes estudiosos sobre a influência da internete e dos meios
digitais em nosso cotidiano foi Pierre Lévy, professor na Universidade de
Paris VIII. Há uma entrevista realizada pelo programa Roda Viva (TV
Cultura), de 2001, na qual Lévy faz algumas considerações muito
relevantes, à época, sobre o tema da cibercultura.

Acesse

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REFERÊNCIAS
CHARTIER, R. Os desafios da escrita. São Paulo: UNESP, 2002.

LEMOS, A. Cibercultura como território dominante. In: MARTINS, C. D.; SILVA, D. C. S.; MOTTA, R. (org.). Territórios
recombinantes: arte e tecnologia, debates e laboratórios. São Paulo: Instituto Sérgio Motta, 2007. p. 35-48.

LÉVY, P. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de
Janeiro: Editora 34, 1993.

______. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

MARCUSCHI, L. A. O hipertexto como um novo espaço de escrita em sala de aula. Linguagem & Ensino Pelotas, , v. 4, n. 1, p. 79-
111, 2001. Disponível em: http://www.rle.ucpel.tche.br/index.php/index/index Acesso em: 14 set. 2017.
.

______. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, A. C. (org.). Hipertexto e
gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p. 13-67.

MARTINS, B. C. Autoria em rede: um estudo dos processos autorais interativos de escrita nas redes de comunicação. 2012. Tese
(Doutorado) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em:
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde31082012-103436/pt-br.php. Acesso em: 14 set. 2017.

RÖSING, T.; RETTENMAIER, M. Leitura e hipertexto: a lição da literatura infanto-juvenil. In: Congresso Internacional de Leitura e
Literatura Infantil e Juvenil, III, 2008, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: PUCRS, 2008. p. 1-8. Disponível em:
https://www.pucrs.br/edipucrs/CILLIJ/ciber/Leitura%20e%20hipertexto.pdf Acesso em: 14 set. 2017.
.

SANTAELLA, L. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003.

_______. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Revista FAMECOS Porto Alegre, n. 22, dez. 2003a. p. 23-
,

32. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/fo/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/3229/2493 Acesso em: 14 .

set. 2017.

SANTOS, A. A construção de identidades e de subjetividades no ciberespaço. Logos, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2001, p. 7-14.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/logos/article/view/14765/11213 Acesso em: 14 set. 2017.
.

SILVA, M. Internet na escola e inclusão na cibercultura. In: Seminário Virtual da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, I,
2004. Anais... Belo Horizonte: 2004. Disponível em: http://www.pbh.gov.br/smed/capeonline/seminario/marco.html Acesso em: .

14 set. 2017.

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APROFUNDANDO
Gostaria de tratar do hipertexto com você, caro(a) aluno(a), sob a perspectiva da Linguística Textual. Ao tratarmos do hipertexto
em meio eletrônico, devemos considerar que, ao autor, estão disponíveis alguns mecanismos de construção do texto, que, por sua
vez, está sempre por fazer em função de sua natureza dinâmica e, algumas vezes, colaborativa, ou seja, “de forma bem simplificada,
poder- -se-ia dizer que o termo hipertexto designa uma escritura não-seqüencial e não-linear, que se ramifica de modo a permitir
ao leitor virtual o acesso praticamente ilimitado a outros textos, na medida em que procede a escolhas locais e sucessivas em
tempo real” (KOCH, 2007, p. 25).

Esta discussão é feita com base no artigo publicado por Ingedore Koch, “Hipertexto e construção do sentido” (2007), uma vez que,
segundo ela, se todo texto é constituído por múltiplos sentidos em sua construção, então, todo texto é um hipertexto, porque
remete a sentidos outros. Contudo, agora, o texto está virtualizado e as diferenças se dão depois, conforme o leitor. Além disso, a
autora nos apresenta, neste seu artigo, algumas características que são inerentes ao hipertexto e que parecem interessante
apresentá-las aqui com mais cuidado.
Não-linearidade ou não-sequencialidade (característica central): o hipertexto se constitui por ligações entre partes
desconectadas e virtualizadas. Sua leitura é indefinida justamente porque foge do controlo do autor o caminho a ser percorrido
pelo ‘navegador’. Sua estrutura é reticular e, por isso, permite muitas possibilidades de leitura e de construção.
Volatilidade: a volatilidade ou efemeridade, em relação ao suporte digital, tem essa característica por ser um espaço instável e
sujeito a falhas técnicas ou mesmo ao apagamento de dados. Uma hora está lá, em outra, pode não estar. Algumas redes sociais
exploram esse princípio da volatilidade do dito e da imagem.
Espacialidade topográfica: por se tratar de um ambiente que não se limita à margens e a espaço físico, como o papel, por
exemplo, os limites do hipertexto são praticamente ilimitados em sua virtualidade.
Fragmentariedade: em função da sua natureza sem limites espaciais, uma vez que o ciberespaço se expande continuamente, o
hipertexto pode se constituir aos pedaços, fator que também reforça a não-linearidade.
Multissemiose: esta característica tem relação com o que é preferível denominar de hibridização do hipertexto, uma vez que
podem ser agregadas ao texto outras linguagens, a exemplo de sons, gráficos animados, janelas e ícones, todos num mesmo
plano de leitura, simultaneamente.
Descentração ou multicentramento: tem relação com a não-linearidade do hipertexto que por ser construído por nós, por
linques, não é possível definir um ponto inicial ou final, como em um livro impresso, por exemplo.
Interatividade: talvez a mais importante entre todas, a natureza interativa do hipertexto é o que rege o sistema dialógico da
linguagem virtual que integra autor, leitor e máquina em suas múltiplas possibilidades.
Intertextualidade: a intertextualidade, presente em muitos textos, no hipertexto aparece justamente em função da
hibridização que ele permite fazer em sua estrutura, com linques a outros textos e informações múltiplas presentes nele. Há
uma simultaneidade de dados e de informações referentes a outros textos.
Conectividade: muito próximo do sentido da interatividade, a conectividade vai além da relação de conexão entre informações
ligadas pelo linques no hipertexto, mas atravessam as telas e diluem fronteiras espaciais ao conectar indivíduos de diferentes
pontos em um só lugar, tendo a tela como mediador do processo de conectividade.
Virtualidade: para Lévy (1999, p. 48), “é virtual toda entidade ‘desterritorializada’, capaz de gerar diversas manifestações
concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem, contudo, estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em
particular”. Ou seja, a virtualidade e a materialidade abstrata do hipertexto são o que rege todo o princípio do ciberespaço.

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

REFERÊNCIAS

KOCH, I. G. V. Hipertexto e construção do sentido. Alfa São Paulo, v. 51, n. 1, 2007, p. 23-38. Disponível em:
,

< http://seer.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/1425/1126 >. Acesso em: 14 set. 2017.

LÉVY, P. Cibercultura Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.


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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; SANTA, Everton Vinicius de.

Autoria: produção textual e leitura colaborativa.

Everton Vinicius de Santa.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.

31 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Produção textual. 2. Leitura colaborativa. 3. EaD. I. Título

CDD - 22 ed. 469

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

Fotos Shutterstock
:

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GÊNEROS
DISCURSIVOS:
AUTORES E LEITORES
Professor :

Dr. Everton Vinicius de Santa

Objetivos de aprendizagem
Compreender o que são gêneros discursivos e sua relação com a autoria.
Compreender o que são gêneros discursivos digitais e como se dão os processos de leitura e escrita nesses enunciados.
Refletir sobre o papel do autor e do leitor em redes colaborativas.
Analisar a influência das redes colaborativas nos processos de escrita e de leitura.
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
Gêneros discursivos e a autoria
Gêneros discursivos digitais
Autor, leitor e redes colaborativas

Introdução
Olá, caro(a) aluno(a)!

Neste estudo, veremos mais cuidadosamente sobre como organizamos nossos enunciados por meio de estruturas que, por
convenção e uso, se tornaram essenciais para organizarmos nossa comunicação, ao que Bakhtin chamou de gêneros discursivos. É
por meio deles que nos tornamos autores e leitores e neles residem todas as nossas formas de produção de sentido e de
comunicação, marcando nossos posicionamentos ideológicos, sociais, políticos e filosóficos para a produção de sentidos.

Para Bakhtin, todas as formas de comunicação se dão por meio de enunciados relativamente estáveis denominados gêneros
discursivos, os quais utilizamos cotidianamente a depender de nossas situações comunicativas e nossos contextos de produção.
Tais práticas de linguagem vão definir tanto a postura do autor como produtor de sentido, assim como a postura do leitor diante de
tais enunciados, sejam eles da esfera literária ou não. Veremos que, por meio de enunciados, nos tornamos autores ao produzirmos
contos, receitas, cartas, bilhetes, ensaios, notícias, entre outros.

Como os gêneros discursivos são mutáveis e sofrem transformações ao longo do tempo, veremos que o advento da tecnologia traz
consigo, também, outras formas de comunicação mediadas por outros suportes, sobretudo o computador, e que os gêneros
modificaram a noção que tínhamos tanto do conceito de autoria quanto sobre o papel do leitor. Veremos que os chamados gêneros
discursivos digitais promovem, de fato, uma maior interatividade e um maior contato entre autor e leitor, reconfigurando seus
papéis.

Além disso, veremos que os tais papéis do autor e do leitor, em função dessa imbricação com o meio digital, maximiza o que se
chama de rede colaborativa. Agora, vários sujeitos participam nos e dos processos de escrita e de leitura, por meio de gêneros que
circulam neste meio, uma vez mais reforçando a ideia de que a tecnologia modifica o papel do autor e do leitor, e que isso deve ser
levado em conta em nossas práticas pedagógicas cotidianas.

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Gêneros Discursivos e a autoria


A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana
é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai
diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa
(BAKHTIN, 1997, p. 280).

Uma dos aspectos mais interessantes sobre a linguagem nos foi apresentada por Bakhtin ao tratar do processo dialógico pelo qual
nos comunicamos. Para o teórico russo, a linguagem se dá por meio de outras linguagens, outras vozes presentes em nosso
discurso, o que demonstra que somos sujeitos plurais, permeados pela voz do outro, sem o qual a comunicação seria inviável. Além
disso, ao longo do tempo, as sociedades se estruturaram e se desenvolveram tanto quanto suas formas de comunicação, e nesse
entremeio, suportes e estruturas inerentes à linguagem, se transformaram em função desse desenvolvimento, ou seja, a ideia de
que nossos discursos se inserem no discurso do outro, nada mais é do que uma grande alusão a nossa natureza comunicativa e
também dialógica.

Ao tratarmos da autoria, os gêneros discursivos são peças-chave para se entender como se firma, no discursos, a imagem do
sujeito que nos fala. A utilização da língua como instrumento integrador e socializante, presente em todos nós, se tornou condição
mediadora de nossos processos comunicacionais que, aos poucos, se sistematizou e se teorizou, assim como a própria função da
linguagem foi cada vez mais explorada e desenvolvida conforme suas realidades e contextos. O que veremos aqui é como os
gêneros discursivos são definidos e essenciais ao funcionamento da noção de autoria, e, consequentemente, à produção escrita e à
leitura, uma vez que eles permeiam todas as esferas de atividades da sociedade. Vamos adotar, aqui, a perspectiva das práticas de
linguagem.

Entendendo os gêneros discursivos

De fato, podemos entender nossas práticas da linguagem como um fenômeno de interlocução presente em todas as nossas
atividades e, de uma forma ou de outra, elas se potencializam na escola, por meio da perspectiva interdisciplinar. Essas práticas
permeiam as diferentes áreas de atividade sociais, seja da esfera discursiva, seja da esfera literária. Dessa forma, podemos dizer
que os discursos se materializam em enunciados que se organizam de acordo com os gêneros discursivos (romances, provas,
relatórios, poemas, atestados médicos, bulas, receitas, anúncios, seminários, teses, editoriais, imeios, contos etc.). Conceituados,
portanto, como enunciados relativamente estáveis que circulam nas diferentes áreas da atividade humana (ciência, literatura,
medicina, pedagogia, jornalismo, publicidade, escola etc.), se caracterizando ou se distinguindo por seu conteúdo temático, por sua
construção composicional e por seu estilo, como postulado por Bakhtin (1997, p. 280).

A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam
dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e
as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou
seja, pela seleção operada nos recursos da língua — recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais —, mas
também, e sobretudo, por sua construção composicional.

Importante assinalar que o princípio que perpassa a obra de Mikhail Bakhtin é a sua concepção dialógica da linguagem, como
temos visto, na qual a língua é concreta e viva no seu uso real, “numa dialogização interna da palavra, que é perpassada sempre
pela palavra do outro” (FIORIN, 1997, p. 229). Além disso, não podemos deixar de considerar que, em função da crítica às práticas
escolarizadas da produção textual e da leitura, Rodrigues (2005) aponta para uma concepção na qual o ensino-aprendizagem das
práticas como interação verbal e social, deve ter os gêneros do discurso como objeto de ensino. Isso tem ganhado força há alguns
anos, e se destaca, ainda, pela discussão da concepção de gênero discursivo na perspectiva do dialogismo da linguagem.

Segundo Bakhtin (1997), o enunciado é reflexo das condições específicas e das finalidades de cada uma das esferas, não apenas por
seu conteúdo temático e por seu estilo verbal (recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais), mas, também, por sua construção
composicional. Esses três elementos é que se unem no todo do enunciado e são marcados, cada um, por suas especificidades.

As condições de produção sobre as quais Bakhtin se refere, ocorrem uma vez que os sujeitos devem ser considerados indivíduos
históricos e sociais, carregados de valores e de modos de dizer, portanto, em cada indivíduo são realizados enunciados a partir das
possibilidades oferecidas pela língua, e esses enunciados só podem se concretiza por meio dos gêneros discursivos. Cada uma das
esferas de atividade utiliza e elabora seus próprios enunciados, que são relativamente estáveis e que circulam nas diferentes áreas
da atividade humana, caracterizando os gêneros discursivos (PERFEITO, 2005).

Veja mais de perto quais são os elementos constitutivos dos gêneros discursivos: conteúdo temático é “o
que pode ser dizível nos textos pertencentes a um gênero” (BRASIL, 1998, p. 21); construção composicional
é a estrutura (o arranjo interno) de textos pertencentes a um gênero; estilo são os recursos linguístico-
expressivos do gênero e as maneiras enunciativas do produtor do texto, o autor. O autor é a peça-chave que
colocará em funcionamento todos esses elementos que estão ao seu dispor.

Fonte: elaborado pelo autor.

Perceba que a variedade dos gêneros discursivos é tão inesgotável quanto as atividades humanas, e cada qual destas esferas
abarca um vasto repertório de gêneros, que, por sua vez, se diferem e evoluem à medida que a esfera se desenvolve, ou seja, os
gêneros, por mais estáveis que pareçam, se ampliam sem perderem suas singularidades. A essa variedade damos o nome de
heterogeneidade dos gêneros discursivos, sejam eles orais ou escritos, e que determinam suas mais variadas formas de exposição
e a ordem de funcionamento dos discursos, e, logo, a função-autor que hierarquiza os textos, como veremos.

A heterogeneidade dos gêneros e constituição da autoria


A heterogeneidade dos gêneros discursivos é outro ponto importante que devemos abordar para entender o funcionamento da
linguagem, e como o próprio nome heterogeneidade diz, ela tem relação com a multiplicidade de formas pelas quais os discursos se
moldam.

Diante da heterogeneidade dos gêneros discursivos, Bakhtin (1997) nos revela uma diferença interessante e que dialoga com a
função-autor de Foucault (2006), porque hierarquiza os discursos de modo que seja possível os relacionarmos com a sua função,
reforçando a ideia de que os textos funcionam de modos distintos, assim como, para alguns desses gêneros, a questão do autor é
essencial, enquanto, para outros, não é, a exemplo de um romance e de um grafite na Avenida Paulista, em São Paulo,
respectivamente.

Bakhtin faz uma distinção do que ele denomina gênero do discurso primário (simples) e o gênero do discurso secundário
(complexo), que, só mais tarde Dolz, Noverraz e Schneuwly (2003) apresentariam as diferenças como gêneros agrupados no
processo de ensino-aprendizagem, em função de regularidades, propondo agrupamentos em ordens (narrar, relatar, expor, instruir
e argumentar), tema, aliás, para outro momento. Os gêneros discursivos e o agrupamento em ordens já estão presentes em muitos
livros didáticos.

Nesse sentido, os gêneros dos discursos primários podem ser exemplificados pelos “tipos do diálogo oral: linguagem das reuniões
sociais, dos círculos, linguagem familiar, cotidiana, linguagem sociopolítica, filosófica etc.” (BAKHTIN, 1997, p. 286), mais próximos
de uma linguagem cotidiana e, por isso, mais simples. Os gêneros secundários do discurso, o romance, o teatro, o discurso
científico, o discurso ideológico etc., aparecem em situações de comunicação mais complexas e evoluídas, sobretudo na escrita
artística, científica e sociopolítica, por exemplo.

Para Bakhtin (1997, p. 282), “durante o processo de sua formação, esses gêneros absorvem e transmutam os gêneros primários
(simples) que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea”. Ou seja, quando gêneros simples, por
assim dizer, passam a compor os complexos, os gêneros simples perdem, relativamente, sua imediata ligação com a realidade
presente e com a realidade dos enunciados de outros. A isso damos o nome de hibridização. Por exemplo, um diálogo cotidiano ou
uma carta, inseridos em um romance, se integram à realidade por meio do romance como um todo, constituinte de uma
manifestação literária, e não como manifestação da vida cotidiana, assim como o romance, em seu todo, é um tipo de enunciado,
porém, complexo.

Os pressupostos teóricos bakhtinianos revelam, ainda, outras elucidações a respeito à natureza do enunciado, aliada às
particularidades do gênero discursivo, que nos permitem compreendê-los de maneira mais objetiva, porém, não menos
desafiadora, afinal, são os enunciados que caracterizam as singularidades do discurso em qualquer estudo linguístico. Mas não
cabe a nós tratarmos deste tema do enunciado neste momento. Nosso foco é na relação dos gêneros discursivos com a noção de
autoria, e não a Análise do Discurso.

Esses nossos estudos não pretendem alçar voos em áreas como Análise do Discurso, Linguística Aplicada,
ou mesmo, Linguística Textual, para as quais o enunciado e o discurso representam outras configurações
teóricas, ainda que algumas referências a essas áreas possam aparecer aqui em menor profundidade.

Fonte: elaborado pelo autor.

Mas, de fato, como podemos entender, para este nosso estudo, a ideia de enunciado e sua relação com a constituição da autoria?

Segundo Rodrigues (2005, p. 157), “para Bakhtin, o enunciado é a unidade da comunicação discursiva”. Cuja concepção, por sua
vez, não pode ser a da frase enunciada, que se constituiria em partes textuais enunciadas, e sim, de uma unidade mais complexa,
que se estende além os limites do próprio texto, quando este é abordado apenas sob o viés da língua e de sua organização textual.
Bakhtin considera como enunciados os romances, as cartas, as crônicas, as notícias, as saudações etc. Contudo, é importante
salientar que os enunciados se constituem a partir de outros enunciados, já ditos e previstos por um indivíduo, uma vez que “o
discurso não pode ser dissociado de seus falantes e de seus atos, das esferas sociais, dos valores ideológicos” (RODRIGUES, 2005,
p. 156).

Dessa forma, o enunciado é produto de uma interação entre indivíduos e constitui uma particularidade individual. Por isso,
podemos dizer que o enunciado reflete as características de quem fala ou escreve, e a isso chamamos de estilo. O estilo está
diretamente ligado aos gêneros discursivos, assim como o conteúdo temático e a construção composicional. Contudo, o estilo está
direto e significativamente ligado aos gêneros da esfera literária, em que se faz presente a estruturação e a expressividade
inerentes ao âmbito da literatura. Gêneros discursivos que são mais padronizados, como documentos oficiais, bulas ou notas de
serviço, por exemplo, são menos favoráveis para se refletir a individualidade na língua, ou seja, exercem outra função social se
comparados aos gêneros literários, uma vez que:

o estilo individual faz parte do empreendimento enunciativo enquanto tal e constitui uma das suas linhas
diretrizes -; se bem que, no âmbito da literatura, a diversidade dos gêneros ofereça uma ampla gama de
possibilidades variadas de expressão à individualidade, provendo à diversidade de suas necessidades
(BAKHTIN, 1997, p. 284).

Se falar de gêneros discursivos implica pensar que todos nós nos comunicamos por meio de textos com estruturas relativamente
estáveis e que dependem das condições de produção, do local ou suporte onde esse enunciado vai circular, e do modo como ele
será recebido (a envolver o leitor), ou seja, do público a quem ele se dirige, a configuração da autoria se dá a partir do momento em
que “ser autor, nesse sentido é assumir, de modo permanentemente negociado, posições que implicam diferentes modalidades de
organização dos textos, a partir da relação com o herói e com o ouvinte” (SOBRAL, 2012, p. 131). Ser leitor implica a produção de
sentidos gerados pela estrutura do enunciado, que por si só, opera em um horizonte de expectativas que serão mobilizadas no ato
de leitura e na relação com o texto, afinal, devemos considerar que tais expectativas de leitura são diferentes ao lermos, por
exemplo, um conto ou um relatório. Ambos enunciados geram leituras diferentes, das quais o leitor espera sentidos diferentes.

De um modo geral, o que vimos aqui foi uma breve definição do que podemos entender como gêneros discursivos e como os
enunciados fazem todos nós sermos autores e leitores, considerando o fato de que nossas relações com o outro se organizam por
meios de tais enunciados, e que podem ser vários, orais ou escritos, literários ou não literários: romance, carta, poema, receita
médica, seminário, ensaio, cantiga, música, novela etc. De uma perspectiva da produção textual, os gêneros discursivos regem os
princípios básicos de nossas relações: a comunicação dialógica e polifônica, atravessada sempre pela voz do outro. E na produção
dos enunciados, como vimos, simples e complexos, é quando o sujeito produz sentidos e assume o papel de autor como produtor e
organizador de textos.

Gêneros discursivos digitais


Na dialética entre o “velho” e o “novo”, há necessariamente um movimento inter-relacional. O “velho” traz,
em s,i elementos do novo, assim como o “novo” traz elementos do velho; esta, aliás, é uma condição sine qua
non da existência do novo (DINIZ, 2005, p. 218).

Nós, que trabalhamos com a linguagem o tempo todo, sabemos, mais do que ninguém, como ela é dinâmica e adaptável às
transformações sociais, cujo uso se solidifica ao longo do tempo, e também se transforma. Ou seja, alguns hábitos e mecanismos da
língua dão lugar a outros, sem que, necessariamente, os anteriores desapareçam. Esta plasticidade da linguagem pode ser vista no
uso de expressões simples do dia dia que deixaram de ser usadas, comportamentos que tínhamos há alguns anos atrás e que, hoje,
não temos mais ou fazemos de outra forma, ou mudanças na estrutura da língua causadas por fatores socioculturais, a exemplo do
tão famigerado “internetês”, a linguagem escrita e iconográfica que se usa em redes sociais, ou, ainda, o hábito da leitura de alguns
tipos de textos no computador em vez do impresso, entre várias outras mudanças que acompanham o desenvolvimento social,
cultural e tecnológico.

Todos estas transformações se devem, sobretudo, ao desenvolvimento tecnológico que promovem e possibilitam outras formas de
lidar com a linguagem, haja vista que, nos últimos anos, outros suportes para os textos agregam outras possibilidades às nossas
formas de comunicação. De fato, é necessário chamar a atenção para as novas tecnologias de comunicação e para os novos
gêneros discursivos que passam a fazer parte de nossa linguagem. São os gêneros discursivos que estruturam todas as nossas
formas de comunicação, sejam orais ou escritas, e, segundo Bakhtin (1997), por meio das quais se estruturam as forma de
comunicação. Neste caso, sabemos que tais gêneros se transformam ao longo do tempo, ainda que mantenham suas estruturas
estáveis, ou seja, uma carta, uma receita, um artigo de jornal, um conto, uma biografia, são exemplos de gêneros cujas estruturas
estão já sedimentadas e convencionadas, o que nos permite diferenciar os enunciados uns dos outros.

O que se agrega ao estudo dos gêneros discursivos, então, com o desenvolvimento tecnológico, são outros gêneros emergentes
dos meios digitais, que proporcionam, ao tema da produção textual e da leitura, outros olhares, uma vez que representam outras
formas de comunicação, outros tipos de enunciados, que dão ao autor e ao leitor outras possibilidades de comunicação e de uso de
outros mecanismos linguísticos, como aponta Chartier (1998, p. 88): “o novo suporte do texto permite usos, manuseios e
intervenções do leitor infinitamente mais numerosos e mais livres do que qualquer uma das formas antigas do livro”.

Desde já é importante dizer que este nosso estudo não pretende investigar ou estudar a linguagem da internete e de todos os
gêneros a ela relacionada. O que se pretende aqui, ao trazer à discussão os gêneros discursivos digitais, é pensar como o papel do
autor e do leitor mudaram em função da tecnologia, uma vez que isso afeta, diretamente, nossas práticas pedagógicas.

O que são gêneros discursivos digitais?

Sabemos que enunciados se organizam em gêneros discursivos, e que eles são variados, inseridos em toda as áreas de atividades
da sociedade. São eles que organizam, em suas estruturas, os enunciados por meio dos quais nos comunicamos, sempre tendo em
vista o seu conteúdo temático, a sua construção composicional e o seu estilo, além de sempre serem consideradas as condições de
produção, ou seja, quando e onde esse enunciado é produzido e para quem ele se dirige. Estes são alguns elementos essenciais que
regem o funcionamento da vida em sociedade, e como os gêneros são inúmeros, mutáveis, e acompanham as transformações
sociais, os gêneros digitais ainda são discutidos pelos teóricos linguistas, mas já são uma realidade cotidiana. Tentar categorizá-los
é uma tarefa difícil, por isso, os gêneros digitais, aqui, especificamente, se diferenciam dos gêneros que circulam em outros
suportes.

Numa referência a esses enunciados do meio digital, Marcuschi (2004, p. 13) diz:

os gêneros emergentes nessa nova tecnologia digital são relativamente variados, mas a maioria deles tem
similares em outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita. Contudo, sequer se consolidaram, esses
gêneros eletrônicos já causam polêmicas quanto à natureza e proporção de seu impacto na linguagem e na
vida social. Isso porque os ambientes virtuais são extremamente versáteis e hoje competem, em
importância, entre as atividades comunicativas, ao lado do papel e do som.
Perceba que, ainda que o advento da tecnologia, cada vez mais presente em nosso cotidiano, nos coloque frente a práticas de
escrita e leitura diferentes, em função da natureza desses gêneros dos meios digitais, a exemplo dos e-mails, dos bate-papos, das
listas de discussões, dos fóruns, dos blogues, videoconferências, videoaulas, enfim, todos esses gêneros não são de todo novidade,
porque têm suas raízes nos suportes existentes até então, seja o impresso, o rádio ou a televisão. O que nos interessa pensar aqui é
a postura de autores e leitores diante dessas outras possibilidades de interação comunicativa.

Estes gêneros ligados aos suportes digitais, como bem aponta Marcuschi (2004), ainda que permita a concomitância de outros
recursos como sons, imagens, programas e aplicativos interativos, se caracterizam pelo “intenso uso da escrita, dando-se a
praticamente o contrário em suas contrapartes nas relações pessoais não virtuais” (MARCUSCHI, 2004, p. 30), ou seja, tais
gêneros tratam de indivíduos reais que produzem textos, leem, se comunicam por meio virtual. Outro aspecto interessante ao
tratarmos de tais gêneros emergentes, e se formos mais além, é a noção do “isto matará aquilo”, muito bem explicitado no texto de
Umberto Eco (1996) sobre a famigerada e temida discussão acerca da fobia causada a alguns, ingenuamente, de que a tecnologia
tornaria obsoleta nossas formas de comunicação, sobretudo, de produção textual e de leitura. Ora, ainda lemos e escrevemos
como sempre fizemos. O que acontece é que, agora, temos à disposição outros suportes que geram outros efeitos de sentidos aos
enunciados, e dão, tanto ao autor quando ao leitor, outros horizontes de expectativas e de possibilidades de lidar com o texto.

Veja que interessante, para visualizarmos melhor a correspondência que há, entre os gêneros já consolidados, frente aos gêneros
“emergentes” do meio digital. Assim, poderemos compreender melhor de quais estratégias estamos falando ao nomear tais
gêneros do ponto de vista de quem os escreve e de quem os lê.

Tabela 1 - Gêneros textuais emergentes na mídia virtual e suas contrapartes em gêneros pré-existentes

Fonte: Marcuschi (2004, p. 31, grifos do autor).

Observe que os exemplos são todos gêneros que, comumente, fazem parte de nosso cotidiano há algum tempo, e eles mudam a
forma como nos comportamos diante da linguagem, além de configurarem novos suportes para o texto. As emergências de
gêneros ligados ao mundo digital, mas, também, as mudanças de paradigma frente aos tradicionais gêneros na sociedade
contemporânea, cada vez mais interativa e conectada, provocam mudanças consideráveis no modo como lemos, produzimos e
fazemos os textos circularem, ou seja, vivemos novas situações de leitura e novas situações de autoria.

Estou considerando como texto, aqui, todo e qualquer evento de comunicação humana oral ou escrita por
meio da língua, não apenas em relação à escrita. Todas as situações de interação interpessoal são textos,
sejam elas mediadas ou não por suportes tecnológicos.

Fonte: elaborado pelo autor.


De um modo geral, o que nos é importante, neste estudo, é entender a relevância desses gêneros para os processos de escrita e
leitura.

O aspecto mais marcante dos gêneros em ambientes digitais é de serem interativos (on ou offline), na
maioria das vezes com simultaneidade temporal. Estabelecendo aspecto revolucionário nas relações entre
fala-escrita, já que possibilitam, cada vez mais, a inserção de elementos visuais no texto (imagens, fotos etc.)
e sons (músicas, vozes) que, segundo Marcuschi, efetiva a “integração de recursos semiológicos” que
imprimem no texto digital aspectos informais, tendo como princípio a necessidade de rapidez, de
comunicação e de interação (SARDINHA, 2011, p. 2119).

Nesse sentido, como dito anteriormente, a proposta deste estudo não era explorar e delimitar características específicas dos
gêneros digitais, mas, senão, provocar a reflexão sobre seu funcionamento e seus mecanismos interativos, afinal, a noção de escrita
e leitura colaborativa muito tem seus fundamentos nos gêneros discursivos digitais. Estes enunciados promovem um maior
contato entre autores e leitores, haja vista que permitem certa prática de intervenção, exemplo do que acontece em blogues,
fanfictions, redes sociais, salas de bate-papo entre outras ferramentas para usos e manifestação do texto, agora sob novas formas
de textualidade, sobretudo, pela influência do hipertexto, que desestrutura algumas noções de linearidade, coesão e coerência já
bastante sedimentados pelo texto no papel, com alguma ressalvas.

Para saber mais sobre a importância do livro e da biblioteca na conservação do saber coletivo e, ainda, sobre
a leitura nesses tempos digitais, acesse “Muito além da internet”, de Umberto Eco, publicado em 2003.
Acesse: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1612200398.htm.

Autor, leitor e redes colaborativas


Se todos os processo de criação na era pós-humana, além de serem coletivos, cooperativos e dialógicos, são
também realizados em uma simbiose com a inteligência e vida artificiais, então, o estilo, tradicionalmente
concebido como marcas qualitativas de um talento individual, está destinado a desaparecer? (SANTAELLA,
2007, p. 80).

Desde que a tecnologia começou a fazer parte de nossas práticas cotidianas de escrita e leitura, sempre nos deparamos com
questões sobre a autoria deixar de ser um trabalho individual e passar a fazer parte de uma rede maior, uma rede colaborativa na
qual autor e leitor interagem muito mais do que no texto do suporte impresso, que também pode ser colaborativo, a depender do
gênero em questão.

Perceba que, mais uma vez, trazemos, a estes nossos estudos, a tecnologia na sua relação com a autoria, e também, com a leitura,
para chamar a atenção para este outro aspecto das produções escritas e dos hábitos de leitura, que, em função da natureza
interativa de determinados gêneros, transformaram o modo como lemos e escrevemos, quando temos, ao nossos dispor, suportes
outros ao texto e ferramentas de edição e de leitura.

Veremos, agora, algumas das questões sobre a autoria e a leitura relacionadas com a ideia de redes colaborativas propiciadas por
práticas socioculturais que envolvem, direta e significativamente, processos coletivos, cooperativos e dialógicos, como nos aponta
Santaella (2007), propiciados pelo ciberespaço, mas que, também, ganham forma em suportes fora da rede.

Uma noção de rede colaborativa

Primeiramente, havemos de considerar que os processo de produção textual e de leitura, por si só, são colaborativos. Tanto a
produção escrita quando a leitura são dialógicas, uma vez que, a cada leitura, se tecem outras leituras dentro da mesma trama
discursiva, e que conduzem à produção de sentidos. Ou seja, as mãos do leitor carregam fios que são retecidos e recombinados por
suas estratégias de leitura, e que, no todo, constituem o emaranhado do universo presente no texto, como nos diz Geraldi (1997, p.
166).

É o encontro destes fios que produz a cadeia de leituras construindo os sentidos de um texto. E como
cadeia, os elos de ligação são aqueles fornecidos pelos fios das estratégias escolhidas pela experiência de
produção do outro (o autor) com que o leitor se encontra na relação interlocutiva de leitura. A produção
deste, leitor, é marcada pela experiência do outro, autor, tal como este, na produção do texto que se oferece
à leitura, se marcou pelos leitores que, sempre, qualquer texto demanda.

O texto é uma rede de conexões e interlocuções elaborados pelo autor, rede que é ressignificada no ato de leitura pelo leitor, e
tanto na produção quanto na leitura, perpassa o princípio da dialogia, aquele a qual os enunciados produzidos carregam consigo
outras vozes, de outras leituras e de outros sujeitos, porque somos plurais ao nos comunicarmos. Mas, o que nos interessa, no
momento, é a ideia de rede colaborativa um pouco diferente da que Geraldi (1997) nos apresenta.

A rede colaborativa, aqui, tem relação com as tecnologias dos meios digitais, sobretudo o hipertexto, que trouxeram consigo
gêneros discursivos mais interativos e colaborativos em seu processo de escrita e leitura do que os papéis do autor e do leitor,
ambos importantes e não mais tão individualizados. A rede aqui referida tem relação com a coletividade, com a interatividade e
com a colaboração, em um processo de escrita e de leitura que se tem visto cada vez mais comum quando observamos os meios
digitais, sobretudo, porque, neste espaço, há ferramentas e mecanismos de produção, edição, publicação e leitura muito mais
abertos do que no suporte impresso.

Observe, por exemplo, que a ferramenta blogue, uma herança dos diários, assim como algumas redes sociais, como Facebook e
Twitter são espaços de escrita e publicação de vários tipos de textos. Espaços nos quais o leitor pode intervir com comentários,
,

sugestões, e, até mesmo, “recopiando” aquilo que foi dito ao mesmo tempo em que ele reescreve, edita, reconfigura, critica, ou
apenas copia o discurso do outro. Outro exemplo interessante são plataformas on-line de edição de textos, em que a escrita se dá
de modo mais participativo e coletivo. Não podemos nos esquecer, ainda, da tão controversa Wikipédia (por ser aberta e
colaborativa, as informações presentes ali podem não ser de todo confiáveis), a enciclopédia livre, que, cada vez mais, ganha
credibilidade como fonte de pesquisa, se bem observadas as fontes. Até mesmo os imeios não deixam de ser espaços de rede
colaborativa, ao lado das lista de discussão virtuais. Por imeio, por exemplo, nos quais os participantes retomam outros ditos para
se colocarem diante do tema em pauta, ou mesmo na troca de arquivos ou documentos editáveis, anexados a imeios, enfim, a ideia
de rede colaborativa é bastante ampla e pode ser visualizada em diferentes enunciados discursivos, cada qual com suas
particularidades, e que nos permite reforçar a ideia de que autores e leitores nunca estiveram tão próximos em seus processos.

Nesse sentido de rede colaborativa, em que os sujeitos interagem ora mais, ora menos, a depender do enunciado, Santaella (2007,
p. 79, apud Domingues, 2002, p. 111-112), nos diz que:

Mesmo nas redes, no seu atual estado da arte, a interatividade permite: acessar informações à distância em
caminhos não lineares de hipertextos e ambientes de hipermídia; enviar mensagens que ficam disponíveis
sem valores hierárquicos; realizar ações colaborativas na rede; experimentar a telepresença, visualizar
espaços reais e virtuais; circular em ambientes que simulam vida e se auto-organizam; pertencer a
comunidades de múltiplos usuários.

Perceba que as redes, que também nos remetem a ideia de rede social, representam espaços plurais e interativos, nos quais
autores e leitores representam papéis que se complementam, tudo isso em função do gênero ao qual nos referimos, em que pode
haver mais ou menos interferências, tanto de um quanto de outro. As wikis por exemplo, páginas em sítios que podem ser editadas
,

por qualquer leitor ou usuário, são espaços colaborativos nos quais se configura a multiautoria, como a Wikipedia Há, ainda, os
.

blogues, uma referência direta ao gênero diário, cujos autores publicam textos das mais variadas naturezas, que podem, por sua
vez, ser comentados pelos leitores, assim como as redes sociais Facebook e Twitter espaços onde há uma projeção de identidades
,

(são espaços de representação) e onde há, também, produção de textos que são copiados, comentados, editados, sempre à deriva
no oceano informacional que é a internete.

Estes são apenas alguns exemplos, entre os gêneros, em que a ideia de rede colaborativa vem à tona, sem nos esquecermos que, no
meio impresso, isso também acontece, por exemplo, em textos com coautoria. A diferença é o suporte como esse texto é
construído e o modo como ele sofre interferências dos leitores. Enquanto no blogue, por exemplo, o leitor pode participar
ativamente, com comentários ao autor diretamente na página, um artigo acadêmico escrito em coautoria, publicado em uma
revista científica, limita a participação do leitor ao tecer comentários, por exemplo, diretamente ao autor.

Assim, o que se pretende demonstrar, neste estudo, é que o processo de autoria e de leitura em rede é sempre híbrido, porque
envolve práticas anteriores, agora com novos suportes ao texto e novas possibilidades ao leitor, e que, de certa forma, não apaga o
autor de todo, mas problematiza a ideia de autoria individual, ideia que a tradição impressa sempre carregou consigo. O autor e o
leitor coletivos, interligados por redes, são descentrados, se auto-organizam, são interativos e sempre são dialógicos.

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ATIVIDADES
1. Para Bakhtin, em seus estudos, podemos entender os gêneros discursivos como sendo enunciados relativamente ______ que
circulam por todas as esferas de atividades humanas e se caracterizam pelo seu ______ sua ______ e seu ______ Em relação às
, .

palavras que completam o sentido dessa frase, assinale a alternativa correta.

a) fechados; dialogismo; polifonia; hermetismo.

b) abertos; conteúdo temático; polifonia; dialogismo.

c) instáveis; ensino-aprendizagem; prática cotidiana; estilo.

d) estáveis; conteúdo temático; construção composicional; estilo.

e) complexos; pluralismo linguístico; estrutura característica; indício de autoria.

2. Os gêneros discursivos digitais acompanham a evolução tecnológica ao implementar outros meios e suportes de textos, ou seja,
passamos da cultura do papel, em que há gêneros bem definidos, como cartas e jornais impressos, para gêneros digitais mais
recentes, como os imeios e os blogues, por exemplo. Com relação aos gêneros discursivos digitais, leia as afirmativas a seguir.

I) Ocorrem exclusivamente nos meios digitais e têm como principal suporte o computador.

São gêneros emergentes que se desenvolveram a partir da tecnologia presente em nosso cotidiano, o que tornou nossa
II)

comunicação mais interativa, dinâmica e participativa, tanto para autores quando para leitores.

São enunciados ligados ao mundo digital, mas, também, ao mundo escolar, e fazemos uso cotidianamente. Gêneros como imeio,
III)
bate-papo e blogues, por exemplo, com raízes do meio impresso, afetaram a forma como produzimos alguns tipos de texto, frente à
emergência das tecnologias e as mudanças ocorridas em nossas práticas sociais.

IV) Os gêneros discursivos digitais representam novos modos pelos quais a linguagem tem se adaptado aos novos moldes
tecnológicos que nos rodeiam, e representam profundas alterações no modo como nos comunicamos.

Está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.

b) III, apenas.

c) I, apenas.
d) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

e) I, II, III e IV.

3. A noção de rede colaborativa, considerando o contexto dos gêneros digitais, tem relação com as tecnologias, sobretudo o
hipertexto, que permitiu o desenvolvimento de gêneros mais interativos e colaborativos em seu processo de escrita e leitura.
Sobre redes colaborativas, leia as afirmativas a seguir.

I)As redes colaborativas de escrita e de leitura reconfiguram o papel do autor e do leitor, uma vez que se dilui a ideia de
individualidade, ao mesmo tempo em que se dá outra configuração à noção de autoria, muito mais aberta e interativa.

II)A multiautoria não é novidade em tempos de internete, assim como a escrita a várias mãos, que sempre aconteceu no meio
impresso. Contudo, a tecnologia e a sociedade conectada de hoje maximizaram a ideia de rede colaborativa, tanto na escrita
quanto na leitura, em que se pode editar, copiar, alterar, fragmentar em coletivo.

As redes sociais são espaços onde, diferentemente de blogues, wikis ou fanfictions não se pode falar em autoria, e nem mesmo
III) ,

que são espaços de produção escrita ou de leitura. Essas redes são sociais porque envolvem questões de identidade, mas se
afastam da ideia de rede colaborativa.

IV) As redes colaborativas tentam destituir a imagem e a noção que se tem de autoria, numa tentativa explícita de tornar obsoleto
o império da mundo impresso, e em nada contribuem para as novas formas de comunicação oral ou escrita nos dias de hoje.

Está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.

b) I, II e IV, apenas.

c) III, apenas.

d) II e III, apenas.

e) I e IV, apenas.

Resolução das atividades

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RESUMO
Neste nosso estudo, pudemos entender melhor a definição e funcionamento dos gêneros discursivos, dentro e fora da esfera
literária, e sob a perspectiva da autoria. Os gêneros discursivos representam nossas formas de comunicação oral e escrita que
estão presentes em todas as esferas de atividades, além de representarem a forma dialógica da linguagem, por meio da qual é
possível a produção de sentidos que autor e leitor, por sua vez, dão aos enunciados que têm uma natureza heterogênea.

Vimos, ainda, que as transformações tecnológicas promoveram outras formas e suportes de linguagem que se agregaram às já
existentes, a exemplo dos gêneros discursivos digitais. Estes passaram a fazer parte de nosso cotidiano, na medida em que se viam
como necessários não apenas em função da tecnologia, mas porque a sociedade em si se via apta a mudar seu modo de
comunicação, como aconteceu quando o rádio e a televisão fizeram parte de nosso cotidiano. Tais enunciados, como imeios,
blogues, bate-papo, videoconferência, jogos eletrônicos, entre outros, nos auxiliam a compreender melhor como se dão os
processos de construção do texto nesses meios, mas, também, fora deles. É impossível dissociar a prática de escrita e leitura sem
considerar o princípio da dialogia e da polifonia. Ou seja, ainda que o suporte digital faça parte desses enunciados, não nos
esqueçamos de que a linguagem de dá pelos sujeitos em sua interação. A tecnologia é um suporte.

Interatividade, conectividade, multiautoria, processo de produção escrita e de leitura colaborativas configuram, ao passo da
tecnologia, formas outras de comunicação oral e escrita, agora muito menos individualizada e menos fechadas, como vimos com a
noção de rede. Autores e leitores, neste sentido, operam juntos na construção de sentidos dentro das possibilidades que alguns
gêneros lhes permitem, quiçá esboçando, para um futuro não tão distante, formas de escrita e leitura cada vez mais plurais e
colaborativas.

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Material Complementar

Leitura
[Re]discutir texto, gênero e discurso

Autor: Inês Signorini (org.)

Editora: Parábola Editorial

Sinopse “[Re]discutir texto, gênero e discurso” pretende contribuir com


:

as discussões em curso no Brasil, desde a década de 1990, sobre


transdisciplinaridade e renovação no campo aplicado dos estudos da
linguagem. Aqui estão reunidos trabalhos voltados para a discussão de
questões específicas relacionadas a texto, gênero e discurso, três objetos
de interesse de diferentes disciplinas, tradições e perspectivas
contemporâneas dos estudos da linguagem.

Na Web
No artigo “Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura”,
de Magda Soares, professora da UFMG, há uma interessante discussão
sobre os novos espaços de escrita e de leitura em relação às tecnologias
digitais.

Acesse

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REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal São Paulo: Martins Fontes, 1997.
.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: língua portuguesa.
Brasília: MEC/SEF, 1998.

CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Tradução de Reginaldo de Moraes. São Paulo: UNESP, 1998.

DINIZ, L. A. G. Cibercultura e literatura: hipertexto e as novas arquiteturas textuais. Alea, v. 7, n. 2, jul./dez. 2005. p. 209-222.
Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/alea/v7n2/a03v7n2.pdf Acesso em 14 set. 2017.
.

DOLZ, J.; NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In:
DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004. p. 95-128.

ECO, U. Da Internet a Gutemberg. Tradução de João Bosco da Mota Alves. New York: Columbia University, nov. 1996. Palestra
proferida em The Italian Academy for Advanced Studies in America. Disponível em:
http://www.inf.ufsc.br/~joao.bosco.mota.alves/InternetPort.html Acesso em: 14 set. 2017.
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______. Muito além da Internet. Observatório da Imprensa Campinas, 16 dez. 2003. Disponível em:
,

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/asp1612200398.htm Acesso em: 14 set. 2017. .

FIORIN, J. L. O romance e a simulação do funcionamento real do discurso. In: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: dialogismo e construção de
sentidos. Campinas: UNICAMP, 1997. p. 229-247.

FOUCAULT, M. O que é um autor? In: _____. Ditos e Escritos – Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2006. p. 264-298.

GERALDI, J. W. Portos de Passagem. 4. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1997.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A.; XAVIER, C. S. (orgs.).
Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p. 13-67.

PERFEITO, A. M. Concepções de linguagem, teorias subjacentes e ensino de língua portuguesa. In: Ritter, L. C. R.; Santos, A. R.
(orgs.). Concepções de linguagem e ensino de Língua Portuguesa. Maringá: EDUEM, 2005. p. 27-75. (Coleção formação de
professores EaD, n. 18).

RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.;
BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.). Gêneros: teorias, métodos e debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005. p. 152-183.

SANTAELLA, L. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

SARDINHA, T. F. R. O contexto da tecnologia digital e os gêneros textuais emergentes. In: Congresso Nacional de Linguística e
Filologia, XV, Rio de Janeiro, 2011. Anais... Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011. p. 2.117-2.122. Disponível em:
http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_3/176.pdf Acesso em: 14 set. 2017.
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SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc. Campinas, , v. 23, n. 81, p. 143-160, dez.
2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf > Acesso em: 14 set. 2017.
.

SOBRAL, A. U. A concepção de autoria do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov: confrontos e definições. Macabéa - Revista
Eletrônica do Netlli Crato, v. 1, n. 2, dez. 2012. p. 123-142. Disponível em:
,

http://periodicos.urca.br/ojs/index.php/MacREN/article/view/380/309 Acesso em: 14 set. 2017.


.

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APROFUNDANDO
Muito se tem falado sobre a emergência dos gêneros discursivos ligados ao meio digital e que trazem consigo correspondência
com outros gêneros, a exemplo do blogue que tem sua raiz nos diários, ou o imeio, que se assemelha a uma carta. Todos esses
gêneros têm estruturas próprias e circulam em nosso cotidiano por meio de suportes, seja a tela do computador, seja por meio do
papel impresso. O que veremos agora são características básicas de alguns gêneros discursivos do meio digital, para que possamos
compreender melhor seu funcionamento que, aliás, está em constante transformação.

1. Imeios (ou e-mail ou correio eletrônico):

Para Marcuschi (2004, p. 39), “os interlocutores são conhecidos ou amigos e raramente ocorre o anonimato, o que é uma violação
de normas do gênero (tal como a carta anônima)”. Sobre a estrutura: cabeçalho padrão do programa, remetente (ou remetentes),
data e hora, assunto, corpo da mensagem, assinatura e possibilidade de anexar vários tipos de mídias. Seu envio é instantâneo, é
uma das ferramentas mais difundidas pelo mundo das comunicações. Sobre a linguagem, o imeio pessoal permite abreviações
típicas de um bilhete e de uma postura mais informal. Contudo, o imeio comercial deve ser mais formal e exige mais cuidados na
escrita, como: não usar abreviações, assunto com resumo objetivo, cuidado com letras maiúsculas, fecho adequado com
expressões como “atenciosamente” ou “cordialmente” (CEREJA; MAGALHÃES, 2009, p. 25).

2. Blogues (ou blog ou weblog):

Pode ser entendido como um diário pessoal publicado na internete, utilizado para tratar de relatos cotidianos, reflexões,
observações, opiniões e textos de muitas naturezas. O blogue se tornou um espaço cada vez mais plural e “uma ferramenta ideal
para a divulgação de ideias, notícias, textos sobre política e cultura, pesquisas, negócios, publicidade etc.” (CEREJA; MAGALHÃES,
2009, p. 26). Ao contrário de uma página na internete, o blogue é alimentado e atualizado pelo seu criador-autor na forma de um
diário, com datas, e tais anotações ficam disponíveis abertamente a qualquer usuário da rede, “trata-se de um Big Brother da
Internet”, nas palavras de Marcuschi (2004, p. 61, grifo nosso).

3. Bate-papo (ou chats):

Um bate-papo ou salas de bate-papo são conversas participativas entre dois usuários ou mais, mediadas por programas ou
aplicativos de telefone celular. Normalmente, os bate-papos são organizados em salas temáticas por assunto ou região, por
exemplo, o que permite ao usuário participar de acordo com suas preferências. Essas salas podem ser abertas ou fechadas. Nos
bate-papos, a linguagem ganha um tom informal, com muitas abreviações, sendo um território, muitas vezes, anônimo, uma vez
que o usuário utiliza um nome fantasia (nickname) para preservar sua identidade, o que lhe dá maior liberdade e segurança para se
expressar sem medo de represálias.

4. Videoconferência:

Totalmente dependentes de boa qualidade de conexão com a internete, as videoconferências são mediadas pelo computador, e se
realizam, normalmente, em ambientes comerciais e institucionais. Elas se caracterizam pelo uso da transmissão simultânea de
vídeo e áudio dos participantes em um programa específico e fechado (não público), cujos interlocutores são predefinidos e com
fins específicos.

5. Listas de discussão:

Seu principal objetivo é debater um assunto por meio da troca de correios eletrônicos, com os participantes cadastrados nesta
lista e com a presença de uma figura moderadora das participações e mensagens trocadas. A participação coletiva faz da lista de
discussão um exemplo de comunidade colaborativa virtual que se reúne para tratar de temas determinados, e “apesar de terem
temas relativamente claros a serem tratado quanto ao campo, ainda não há formas definidas de fazê-lo” (MARCUSCHI, 2004, p.
58).

PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; SANTA Everton Vinicius de.


,

Autoria: produção textual e leitura colaborativa.

Everton Vinicius de Santa.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.

32 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Produção textual. 2. Leitura colaborativa. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 469

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

Diretoria de Design Educacional

Equipe Produção de Materiais

Fotos Shutterstock
:

NEAD - Núcleo de Educação a Distância

Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900

Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360

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CONCEPÇÕES DE
LEITURA

Professor :

Dr. Everton Vinicius de Santa

Objetivos de aprendizagem
Compreender alguns conceitos de leitura.
Entender como as práticas de leitura se transformaram com o passar do tempo e, sobretudo, com a tecnologia. De qual maneira
o processo de leitura na tela reconfigurou a postura do leitor e como o (hiper)leitor de hoje é mais interativo e participativo.
Entender como a leitura colaborativa tem relação com práticas dentro e fora do contexto escolar.
Plano de estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
Aspectos da leitura
Novas (?) práticas de leitura
Leitura colaborativa

Introdução
Caro(a) aluno(a), como vai?

Durante muito tempo se discute o que é leitura e como ela afeta o ensinoaprendizagem de nossos alunos em sala de aula e fora
dela. Contudo, leitura é muito mais do que um tema ligado à alfabetização ou letramento, uma vez que envolve muitas práticas
sociais e cognitivas em busca da produção de sentidos extraídos do texto.

Veremos, neste estudo, alguns aspectos sobre o tema leitura e como ela se relaciona com as práticas cotidianas de aprendizado e
de produção de sentidos, função, aliás, que está inerente a este processo, uma vez que os textos não são apenas palavras, mas
carregam consigo outras significações que só são desvendadas, ainda que não em sua totalidade, por meio do leitor no ato da
leitura, em suas “contrapalavras”, nos termos de Geraldi (1997, p. 167).

Além disso, veremos que as práticas de leitura, assim como as de escrita, sofreram transformações muito em função do contexto
no qual elas estão, ou seja, passamos de uma cultura do papel e da tinta para uma cultura virtualizada e mediada por suportes em
meios digitais, e isso, de fato, alterou a forma como lidamos com o texto e com nossas formas de ler. Ao usar o termo “novas
práticas”, caro(a) aluno(a), você perceberá que chamamos a atenção para práticas que não são inovadoras no todo, mas que
carregam consigo valores que herdamos culturalmente do meio impresso e agregamos a tais práticas outras formas de ler textos.

Dessa forma, de modo mais pontual, ainda que já tenhamos visto que a leitura é um processo interativo que envolve autor, texto e
leitor, veremos como a leitura colaborativa funciona em sala de aula, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), e
também, como as tecnologias configuram o que se chama de hiperleitor, ou seja, um leitor muito mais ativo, interativo e
participativo do ponto de vista tanto da autoria quanto da leitura, uma vez que os sujeitos-leitores são também autores, o que
permeia nossas discussões a respeito da autoria.

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Aspectos da leitura
Toda leitura ocorre no interior de uma estrutura (mesmo que múltipla, aberta) e não no espaço
pretensamente livre de uma pretensa espontaneidade: não há leitura 'natural', 'selvagem': a leitura não
extravasa da estrutura; fica-lhe submissa; precisa dela, respeita-a; mas perverte-a. (BARTHES, 2004, p. 33)

Sabemos que o processo de escrita e de leitura de textos envolve muito mais do que a simples decodificação alfabética, e que, de
uma forma ou de outra, tais processos estão ligados aos processos de letramento e alfabetização. Ambas, escrita e leitura, são
complexas e desenvolvidas aos poucos, sobretudo no momento em que se vai à escola, um espaço onde as concepções de
linguagem tomam forma, e quando nós, enquanto sujeitos, nos expressamos por meio dos enunciados, todos eles sempre
carregados por outros textos, por outras vozes.

Para Koch e Elias (2006, p. 10), a leitura, em sua concepção, depende da postura que se quer tomar ao tentarmos defini-la, ou seja,
decorre do que entendemos por sujeito, língua, texto e sentido. Do ponto de vista da autoria, se a língua representa o pensamento,
então, podemos dizer que os textos refletem os posicionamentos individuais do autor que nos fala, logo, a leitura seria apenas uma
captação de ideias do autor, sem levar em conta a formação que tem o leitor. Do ponto de vista do texto, para Koch e Elias (2006, p.
10), a leitura seria apenas uma codificação do que está dito, na linearidade do texto e na reprodução fiel daquilo que o texto diz,
mas não é assim que a leitura deve ser vista. Ela é mais do que isso.

O que nos interessa, contudo, é sempre considerar que a linguagem é dialógica por natureza e, nesse sentido, a leitura não pode
ser concebida apenas como reprodutora do que está dito, ou que o texto é apenas um repositório de ideias de um determinado
autor desvendado pelo leitor e, por isso, como nos aponta Koch e Elias (2006), a leitura deve ser vista como um processo de
interação entre “autor-texto-leitor”.

os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que - dialogicamente - se constroem
e são construídos no texto, considerando o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores.
Desse modo, há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente
detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação
(KOCH; ELIAS, 2006, p. 10).
Nesse sentido da interação autor-texto-leitor, devemos considerar que a leitura é, também, uma atividade de produção de
sentidos que carrega os enunciados, ou seja, o leitor, diante do texto, não é um sujeito passivo ou apenas contemplativo, no sentido
de que apenas absorve o texto. O leitor é um sujeito-outro que está implicado na construção do próprio texto porque dá
significado a ele, mas um significado que se afasta da decodificação gráfica e passa a um processo de construção de significados,
resultado de uma interação, porque “a leitura é o resultado de uma série de convenções que uma comunidade estabelece para a
comunicação entre seus membros e fora dela” (COSSON, 2016, p. 40).

Os sentidos que serão construídos pela organização do texto na leitura, dependem do leitor, tendo em vista a realidade dele e seus
conhecimentos prévios. Isso quer dizer que, compreender e interpretar um texto são processos delimitados (não limitados) pelas
possibilidades que o leitor tem, ou seja,

o leitor sabe que o autor tem algo a dizer e se esforça para compreendê-lo. Quando o leitor não dispõe de
conhecimentos suficientes para reconstruir os sentidos pelo autor do texto, o processo de construção de
sentidos ou não se efetiva ou não é bem-sucedido (FERREIRA; DIAS, 2005, p. 324).

A leitura, nesse sentido, envolve muitas operações cognitivas complexas que envolvem autor, leitor e texto, assim como a seleção
de conhecimentos, a antecipação prévia de saberes, as inferências, as verificações e uma série de outras estratégias inerentes ao
processo de leitura, sem as quais a produção de sentidos estaria comprometida.

CONCEPÇÃO SOCIOCOGNITIVA: uma concepção sociocognitiva interacional da língua privilegia os


sujeitos e seus conhecimentos em processo de interação. O lugar mesmo da interação é o texto cujo sentido
“não está lá”, mas é construído, se considerando, para tanto, “as sinalizações” textuais dadas pelo autor e os
conhecimentos do leitor, que, durante todo o processo de leitura, deve assumir uma atitude “responsiva
ativa”, ou seja, se espera que o leitor concorde ou não com as ideias do autor, as complete, as adapte etc.
(KOCH; ELIAS, 2006, p. 12, adaptado pelo autor).

Exemplo extraído de: KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo:
Contexto, 2006.

Linguagem e leitura como expressão do pensamento

Numa alusão ao processo de escrita e de leitura como dialógicos e inter-relacionados, ou seja, como o texto ganha vida e sentido
com o leitor que tece uma trama de sentidos, Geraldi (1997) nos salienta o seguinte aspecto.

O texto é, pois, o lugar onde o encontro de dá. Sua materialidade se constrói nos encontros concretos de
cada leitura e estas, por seu turno, são materialmente marcadas pela concretude de um produto com
“espaços em branco” que se expõe como acabado, produzido, já que o resultado do trabalho do autor
escolhendo estratégias que se imprimem no dito. O leitor trabalha para reconstruir este dito baseado
também no que se disse e em suas próprias contrapalavras (GERALDI, 1997, p. 167).
A construção de sentidos se dá, então, na ressignificação do que foi dito, para, então, ser entendido, interpretado, compreendido,
desvendado pelo leitor. Na leitura estão presentes tanto as experiências do autor quanto as do leitor, e, por isso, Geraldi nos
aponta o sentido das contrapalavras. Ler é atribuir significados e dar outra continuidade à produção escrita, que, de certa forma,
culminará no processo de inter-relação entre autor-texto-leitor. Perceba, caro(a) aluno(a), que estamos tratando, aqui, de um
processo completamente interativo e dialógico que vai muito além do texto, muito mais do que um complexo processo cognitivo. A
linguagem, a escrita e a leitura são expressões do pensamento que se dão por meio de processos cognitivos e interativos com o
texto e com o outro. Autor, texto e leitor têm uma relação muito próxima e de interdependência.

Esta relação pode ser mais ou menos interativa a depender da realidade do leitor, do gênero discursivo em questão (em fanfictions ,

por exemplo, o leitor é muito mais participativo do que na leitura de um romance, ainda que sejam posturas diferentes) e, também,
do suporte o qual o texto esteja, ou seja, assim como há as condições de produção para gêneros discursivos, há também diferentes
“circunstâncias de leitura (contexto de uso), fato esse que interfere na produção de sentido” (KOCK; ELIAS, 2006, p. 32).

De uma forma geral, embora muito possa ser dito sobre concepções de leitura, nos interessa ver esta questão sob o foco da autoria
diante da concepção de leitura. Podemos dizer que o leitor é também autor, mas não o autor que deu origem ao texto, mas autor
como o sujeito que dará significado a ele, extraindo do texto seus sentidos, e também preenchendo espaços deixados à margem.
Nesse sentido é que falamos muito em tipos de leituras diferentes diante de um mesmo texto. Há um elemento desencadeador de
múltiplos sentidos que é próprio leitor, e tudo que este carrega consigo enquanto sujeito social, o que implica aceitar que há, de
fato, uma “pluralidade de leituras e sentidos em relação a um mesmo texto” (KOCK; ELIAS, 2006, p. 21).

Novas (?) práticas de leitura


As práticas de leitura (e de escrita) estão significativamente relacionadas a processos cognitivos, mas, também, a processos
tecnológicos: da argila para o papiro, para os pergaminhos e para os livros, para os disquetes e para os CD-roms, para os telefones e
para os e-readers (ANDERI; TOSCHI, 2012, p. 54). Com o passar do tempo, tais práticas foram alteradas e transformadas em função
de nossas necessidades e de nossas possibilidades de lidar com o texto e com a linguagem, e a leitura está presente em todas as
nossas comunicações cotidianas, porque ela, assim como a escrita e a oralidade, fazem parte de nossas situações de comunicação
social. A linguagem e os sujeitos são sociais em sua natureza, e nossas relações se dão por meio de uma linguagem dialógica. A
leitura, por sua vez, passou a ser considerada, de uma simples decodificação de signos escritos, para uma parte da formação
intelectual de todos nós, e tomou um aspecto interativo e intervencionista na relação que temos com o outro e com o mundo.

Um dos aspectos mais relevantes para a leitura é o papel social que ela representa, uma vez que a leitura não é uma simples
decodificação. Isso faz do leitor peça-chave para a produção de sentidos que o texto carrega consigo e torna seu papel
fundamental para que o texto e seu autor possam ser apreendidos nessa construção de sentidos, o que permitirá que haja uma
interação entre autor, texto e leitor em muitos níveis, como nos coloca Leffa (1996) a seguir.

Uma das características do processo de interação entre os vários níveis que se estabelecem entre o leitor e
o texto é, justamente, a dispensa de informação de um determinado nível por informação de um outro nível.
Leitura implica uma correspondência entre o conhecimento prévio do leitor e os dados fornecidos pelo
texto. Leitor e texto são como duas engrenagens correndo uma dentro da outra; onde faltar encaixe nas
engrenagens, leitor e texto se separam e ficam rodando soltos. Quando isso acontece, o leitor fluente, via de
regra, recua no texto, retomando-o num ponto anterior e fazendo uma nova tentativa. Se for bem sucedido,
há um novo engate e a leitura prossegue (LEFFA, 1996, p. 22).

O leitor é parte do processo de leitura tanto quanto o texto, e isso é essencial para que o texto cumpra seu papel social. Não
podemos deixar de falar aqui, também, da tecnologia relacionada ao advento da internete, dos computadores e das redes de
comunicação como um todo. As alterações que ocorreram no âmbito do papel para a tela foram essenciais para que a leitura em si
fosse redimensionada em termos quantitativos e qualitativos, ou seja, a difusão do acesso à informação acarretou em mais sujeitos
leitores e leitores mais críticos e participativos dentro dos discursos disseminados, tanto no papel quanto no formato eletrônico.
De certa forma, a leitura, como a temos hoje, permite a configuração de um leitor mais ativo, menos hierarquizado e mais
informado.

Em “Retratos da Leitura no Brasil”, publicado em 2016, é possível ver, mais claramente, como a leitura no
Brasil tem crescido nos últimos anos, ao mesmo tempo em que aponta muitos problemas de acesso à
informação e ao livro. Para saber mais, acesse:
https://www.prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf .

O aluno (hiper)leitor

É necessário chamar a atenção, caro(a) aluno(a), para um sujeito-leitor do ponto de vista da escola: o aluno-leitor (ORLANDI, 1993,
p. 39). O aluno-leitor, diante da concepção dialógica da linguagem e da relação autor-texto-leitor, deve aprender a compreender,
não apenas a decodificar. E o aluno de hoje é exemplo de um sujeito cada vez mais interconectado com seu contexto (sobretudo
pelo aumento do acesso à informação e às tecnologias como a internete), e a escola pode ser o ambiente ideal para que várias
linguagens dialoguem com o aluno por meio da leitura contextualizada. Veja o que está nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) sobre isso.
O conhecimento atualmente disponível a respeito do processo de leitura, indica que não se deve ensinar a
ler por meio de práticas centradas na decodificação. Ao contrário, é preciso oferecer aos alunos inúmeras
oportunidades de aprenderem a ler usando os procedimentos que os bons leitores utilizam. É preciso que
antecipem, que façam inferências a partir do contexto ou do conhecimento prévio que possuem, que
verifiquem suas suposições — tanto em relação à escrita, propriamente, quanto ao significado (BRASIL,
1998, p. 42).

Perceba que leitura e escrita estão intimamente ligadas, pois são processos que se complementam. Se pararmos para pensar que a
organização dos discursos se dá por meio de enunciados relativamente estáveis, os quais chamamos de gêneros discursivos, a
escola é o lugar onde o aluno-leitor pode ter acesso à imensa variedade de enunciados e desenvolver suas habilidades para, por
meio da leitura e de suas experiências discursivas, estabelecer uma relação com toda as formas de linguagem.

A convivência com a música, a pintura, a fotografia, o cinema, com outras formas de linguagens artificiais,
poderiam nos apontar para uma inserção no universo simbólico que não é a que temos estabelecido na
escola. Essas linguagens todas não são alternativas. Elas se articulam. E é essa articulação que deveria ser
explorada no ensino da leitura, quando temos como objetivo trabalhar a capacidade de compreensão do
aluno (ORLANDI, 1993, p. 40).

Assim, o aluno-leitor deve estar o tempo todo sendo estimulado e colocado em contato com outras linguagens para que possa
articular conhecimentos. À época do texto de Orlandi, não se falava ainda de internete e de suas implicações para o papel do leitor,
mas, podemos incluir aqui, neste estudo, que o aluno-leitor já é outro, já não reside mais apenas no espaço escolar porque é um
outro sujeito, diferente daquele dos anos 1990.

Há, hoje, outras práticas de leitura diferentes daquela em que o sujeito leitor apenas lia um livro no papel. Hoje temos leitores
muito mais interativos e participativos diante do texto, que leem nas telas de seus aparatos eletrônicos, o que consolida a ideia do
dialogismo da linguagem multissemiótica e do interacionismo dos meios de comunicação atuais que, por sua vez, configuram
outras práticas de leitura:

estamos num momento histórico da internet no mínimo curioso, no qual seus usuários não apenas surfam
sobre o conteúdo como também o supervisionam, produzem-no e alimentam frequentemente os sítios
digitais. Eles fazem revisões, críticas e complementações. Essa nova atitude, denominada “faça você mesmo
virtual”, explicita o interacionismo sociodiscursivo proposto por Bronckart (1999) (XAVIER, 2013, p. 42).

Nesse sentido, percebemos que há, de fato, a configuração de um sujeito-leitor que transita entre muitas formas de linguagens
(não podemos restringir este aspecto apenas ao aluno) as quais favorecem sua constituição enquanto leitor ou “hiperleitor”. Assim
como o hipertexto traz consigo um outro espaço de escrita, ou seja, a tela permite ao hiperleitor outras possibilidades e outra
dimensão ao texto, ele traz consigo, também, outro espaço de leitura:

no texto eletrônico, a distância entre autor e leitor se reduz, porque o leitor se torna, ele também, autor,
tendo liberdade para construir, ativa e independentemente, a estrutura e o sentido do texto. Na verdade, o
hipertexto é construído pelo leitor no ato mesmo da leitura: optando entre várias alternativas propostas, é
ele quem define o texto, sua estrutura e seu sentido (SOARES, 2002, p. 154).
Como pudemos ver, neste nosso estudo, ainda há muitos outros aspectos, desafios e temas a serem discutidos diante das práticas
de leitura no atual cenário contemporâneo, dentro e fora das escolas, afinal, a tecnologia afeta a todos nós, mesmo os leitores mais
capacitados, em nossas práticas cotidianas. Do ponto de vista do contexto digital, certamente, a configuração que tentamos
esboçar aqui sobre leitura no indica caminhos nos quais autores, textos e leitores estão cada vez mais conectados e, além disso, é
necessário pensar a prática pedagógica considerando tais conjunturas de escrita e de leitura, sob pena de nos tornarmos omissos a
uma realidade que, inequivocamente, já faz parte de nossas práticas sociais.

Leitura colaborativa
Temos visto que a leitura é muito mais do que uma decodificação gráfica, uma vez que ela envolve o papel de um sujeito, o leitor,
que participa do texto tanto quanto o autor. Aliás, a leitura faz do texto um emaranhado de sentidos evidentes, aparentes e ocultos
que são, de fato, desvendados pelo leitor. Como nos diz Umberto Eco (2004, p. 37), “o texto está, pois, entremeado de espaços
brancos, de interstícios a serem preenchidos, e quem o emitiu previa que esses espaços e interstícios seriam preenchidos”. Diante
disto, podemos dizer que todo enunciado (e aqui nos referimos à noção bakhtiniana), independentemente de seu gênero, passa
pelo leitor, que constrói sentidos diante dele.

A noção de que há uma relação muito significativa entre autor, texto e leitor é essencial para entendermos os processos tanto de
escrita quanto de leitura. A ideia de coprodução de sentidos, que se tem a partir da leitura, é um outro aspecto que devemos
considerar, sobretudo, porque autor e leitor são partes constituintes da comunicação: o autor espera uma resposta do leitor, uma
atitude diante do texto. A postura do autor e do leitor, mediada pelo texto, corrobora a ideia da concepção dialógica da linguagem
por meio da qual o leitor extrai do texto os sentidos ali deixados pelo seu autor, mas, também, outros sentidos que fogem ao
controle desse autor, uma vez que o leitor é, também, elemento participativo do texto e sujeito social igualmente permeado por
outros discursos.

A ideia de coparticipação ou de coletividade pode ser aplicada tanto para a escrita quanto para a leitura, processos que, ainda que
tenham, preponderantemente, aspectos individualizantes, demonstram outras possibilidades, sobretudo, ao lidarmos com
processo colaborativos em gêneros do meio digital, como as wikis e as fanfictions ou em gêneros do meio impresso, como artigos e
,

ensaios escritos em coautoria, por exemplo. Veremos, a seguir, alguns aspectos sobre a leitura colaborativa e qual a sua relação
com o autor, o leitor e o próprio texto.

Leituras em rede
A leitura é um processo cujas etapas são definidas pelo leitor no seu trabalho de extrair significado do texto. Este significado será
delimitado (não limitado) pelas relações sociais, ideológicas e históricas que este sujeito-leitor tem diante do texto. Como todo
processo, o meio é o próprio texto, e o desenvolvimento da habilidade de leitura tem seu espaço já consolidado no ambiente
escolar, e, ali, se desenvolvem estratégias como inferências e verificações, partes do processo interacionista da leitura.

Ao falarmos de leitura colaborativa, os PCNs nos trazem uma orientação interessante

A leitura colaborativa é uma atividade em que o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura,
questiona os alunos sobre as pistas lingüísticas que possibilitam a atribuição de determinados sentidos.
Trata-se, portanto, de uma excelente estratégia didática para o trabalho de formação de leitores. É
particularmente importante que os alunos envolvidos na atividade possam explicitar para os seus parceiros
os procedimentos que utilizam para atribuir sentido ao texto: como e por quais pistas lingüísticas lhes foi
possível realizar tais ou quais inferências, antecipar determinados acontecimentos, validar antecipações
feitas etc. (BRASIL, 1998, p. 45).

Perceba, caro(a) aluno(a), que esta definição de leitura colaborativa foca no aprendizado do aluno enquanto sujeito em formação, e
a leitura envolvendo processos de produção de sentidos que, no ambiente da sala de aula, se faz como uma estratégia didática para
a formação de leitores competentes. Neste processo, a figura do professor é essencial, uma vez que ela é tomada, aqui, como o
elemento mediador das atividades de leitura colaborativa em sala de aula.

Ainda que não entremos aqui na sociolinguística interacional, de Vygotsky, é importante saber do que ela
trata com relação à leitura colaborativa ou compartilhada. A leitura como processo interativo considera
importantes alguns aspectos para a caracterização da leitura compartilhada: 1ª) a linguagem e a interação
entre as pessoas são fundamentais no processo de aprendizagem; 2ª) as ações humanas, incluindo também
a linguagem, constituem processos estabelecidos de forma cooperativa e conjunta pelos interagentes; 3ª) o
conceito de andaimagem, ancorado nas duas primeiras noções e se referindo, segundo Angelo e Menegassi
(2016, p. 273), “a um auxílio visível ou audível que um membro mais experiente de uma cultura pode dar a
um aprendiz”.

Fonte: elaborado pelo autor.

A leitura colaborativa, contudo, pode envolver, também, outros ambientes e suportes que não apenas o da sala de aula e, ainda
assim, configurar estratégia adotada por sujeitos leitores nas suas relações com os enunciados. Se pensarmos do ponto de vista do
ciberespaço, por exemplo, a questão da leitura colaborativa ganha outra dimensão, e as práticas de leitura também, sobretudo,
porque autor e leitor, às vezes, desempenham o mesmo papel nestes espaços colaborativos e comunitários. É como se saíssemos
da sala de aula, onde o professor medeia uma atividade de leitura em grupos para uma posterior discussão, ou se saíssemos de um
grupo de leitura que se encontra, semanalmente, em uma biblioteca para discutir uma leitura, e passássemos para um ambiente
virtual, mediado pelo computador, em que podem estar presentes muitos leitores participando do processo de leitura e escrita ao
mesmo tempo. Na leitura do hipertexto, o hiperleitor (XAVIER, 2013) maximiza a noção de colaborativo e interativo.

Seja por meio de caixas de mensagens assíncronas, seja por chats em tempo real, e até mesmo pela
confecção e manutenção de sites ou apropriação de certos espaços de serviços digitais, ancorados
gratuitamente em certos sítios digitais, os hiperleitores da nova web manifestam sua ânsia por participação.
Eles querem fazer com as próprias mãos, querem em rede (co)construir a rede. É como se o complexo
processo de leitura fosse não só atualizado oticamente, mas também “tocado” virtualmente (XAVIER, 2013,
p. 46).
O hipertexto afeta diretamente a leitura, uma vez que “no hipertexto a multiplicidade de leituras é condição mesma de sua
existência: sua estrutura flexível e não-linear favorece buscas divergentes e o trilhar de caminhos diversos” (KOCH, 2007, p. 27). A
interatividade do leitor com o texto é a marca do hipertexto e da leitura mediada pelo computador. O ciberespaço faz a leitura
muito mais ampla, interativa e colaborativa do que o suporte impresso. Os hiperleitores são mais participativos e mais críticos, de
certa maneira, sobretudo, porque há uma diluição de barreiras entre a autoridade do autor diante do leitor, que também se vê
como parte do processo dialógico da linguagem.

A leitura colaborativa se expande nos meios digitais, sobretudo pela rapidez em que os leitores podem ter acesso a textos e a
outras leituras, a exemplo do que vemos em blogues, nos comentários de leitores; em experiências de criação literária como as
wikis nas quais o leitor é também autor; nas ferramentas de anotações digitais que permitem a criação colaborativa e o uso
,

compartilhado de anotações, muitas vezes, sobre informações a serem destacadas ou ideias sobre o que está no texto, e,
normalmente, utilizado em documentos de bibliotecas digitais; enfim, as possibilidades de colaboração de leituras podem ser
várias, a depender do suporte e do contexto, dentro ou fora de sala de aula, com ou sem a presença do professor.

De todo modo, ainda que se pretendesse explorar e esgotar aqui todas as possibilidades e áreas com respeito à leitura
colaborativa, o objetivo, neste estudo, foi mostrar alguns conceitos e alguns exemplos práticos que leitores tomam diante de textos
e à luz da ideia do colaborativo, que poderão ser mais bem desenvolvidos e discutidos em outros estudos e levados à cabo em
nossas práticas didáticas em sala de aula, sempre com foco em nossos alunos e em seu aprendizado.

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ATIVIDADES
1.Muito se discute sobre o papel e a função da leitura como responsável pela construção de sentidos e, consequentemente, pela
formação leitora e crítica de todos nós, afinal, é por meio da leitura que temos contato direto com a voz do outro, além de
podermos, de fato, desenvolver nossas habilidades de compreensão linguística. Sobre o tema leitura, leia as afirmativas a seguir.

I) A leitura se resume apenas a uma série de eventos cognitivos baseados na decodificação gráfica.

A leitura
II) é resultado de uma série de convenções sociais estabelecidas pela comunidade para a comunicação entre seus
membros.

III) A leitura é uma atividade de produção de sentidos que envolve autor, texto e leitor.

IV) A leitura é uma atividade complexa e solitária, que leva em consideração apenas o texto e nada mais. O leitor é apenas um peça
secundária que decodifica a linguagem para extrair sua mensagem.

Está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.

b) II e IV, apenas.

c) I, II e III, apenas.

d) III, apenas.

e) II e III, apenas.

2. O processo de leitura é sempre interativo e envolve tanto o autor quanto o leitor, que tem papel fundamental no processo de
construção de sentidos. Tal processo de leitura foi modificado ou alterado em função do advento da tecnologia, que agregou a tais
práticas outras formas de lidar com o texto.

Sobre isso, considere as afirmativas a seguir.

I)A tecnologia pouco influenciou no modo como lemos, mesmo se considerarmos as possibilidades proporcionadas pelos novos
suportes.

II)O aluno-leitor deve saber compreender o texto, não apenas decodificá-lo, e deve estar sempre exposto às múltiplas formas de
linguagens, como cinema, música, fotografia, blogues, redes sociais etc. para que possa expandir seu universo simbólico dentro e
fora da escola.
O hiperleitor é apenas uma noção simbólica de leitor ideal que se relaciona com o hipertexto
III) e a leitura interativa, mas, de fato,
não se concretiza na prática.

IV) Os meios digitais são significativos para a constituição do que se entende por hiperleitor, uma vez que tais práticas são muito
mais interativas, participativas e colaborativas do que o leitor comum do papel.

Está correto o que se afirma em:

a) I, II, III e IV.

b) I e IV, apenas.

c) II e III, apenas.

d) II e IV, apenas.

e) I, II e IV, apenas.

3. A leitura colaborativa envolve espaços além da sala de aula, quando pensamos em um tipo de leitura cujo objeto é o mesmo
mediado pelo professor em uma discussão em grupo. O novo contexto tecnológico nos dá outra dimensão de leitura colaborativa
ao configurar estratégias adotadas por sujeitos leitores nas suas relações com os enunciados em meios impresso e digital.

Sobre leitura colaborativa, considere as afirmativas a seguir.

I) A leitura colaborativa só pode acontecer em sala de aula e em grupos de leitura, uma vez que deve envolver, sempre, vários
sujeitos diante de um mesmo texto.

II)A leitura colaborativa não se restringe apenas à sala de aula e às atividades em grupo, uma vez que toda leitura é colaborativa no
sentido de que o leitor dialoga com o texto o tempo todo, ao produzir sentidos e extrair dele significados.

III)A leitura colaborativa ganha maior dimensionamento diante do hipertexto, uma vez que, por ser colaborativa, envolve vários
sujeitos diante de enunciados que permitirão ao leitor interagir, participar, recriar e ressignificar seu ato de leitura, que nunca será
a mesma.

IV) A leitura colaborativa só pode acontecer em um ambiente digital mediado pelo computador, uma vez que deve envolver,
sempre, vários sujeitos diante de um mesmo texto ao mesmo tempo e com o auxílio de um suporte digital para que as informações
sejam melhor apreendidas e verificáveis.

Está correto o que se afirma em:

a) II e III, apenas.

b) I, apenas.

c) III, apenas.

d) I, II e IV, apenas.

e) I e IV, apenas.

Resolução das atividades

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RESUMO
Neste estudo, vimos que a leitura é um processo que envolve muitas habilidades, e que o leitor é um sujeito social, histórico e
cultural, que se articula junto com o texto na produção de sentidos, ressignificando o texto e preenchendo espaços deixados por
esse.

Vimos, neste sentido, que linguagem, escrita e leitura são expressões do pensamento por meio das quais o texto não poderia
funcionar em sua totalidade, sem a presença do leitor. Vimos que a linguagem e sua natureza dialógica também reverberam no ato
de leitura porque há um diálogo constante entre autor, texto e leitor uma vez que a leitura não é apenas decodificação, mas é uma
prática social e intelectual, interativa e intervencionista, de certo modo, porque o leitor carrega consigo outras vozes que se fazem
presentes ao extrair sentidos de um texto, ou seja, nunca uma leitura será solitária.

Além disso, vimos que as práticas de leitura foram transformadas com o tempo, e que a tecnologia foi decisiva para modificar o
modo como lidamos com o texto, tanto no papel quanto na tela. O advento da internete redimensionou as práticas de leitura que,
agora, mais do que antes, vão para além do papel e recaem sobre outras dimensões na produção de sentidos porque envolvem
outros elementos que são disseminados junto com o texto, fazendo da prática da leitura algo muito mais interativo. Vimos que, no
contexto da sala de aula, o aluno deve sempre estar exposto às múltiplas linguagens e aos enunciados, logo, a internete expande os
limites da leitura e permite a esse aluno desenvolver mais habilidades, mesmo fora da sala de aula.

Neste sentido, expandindo os limites da leitura, vimos que a leitura colaborativa é, também, uma forma de expandir os limites do
texto em práticas de leitura com o outro sendo levado em consideração, ou seja, a ideia de coletividade nos processos de leitura se
torna muito mais comum em função das ferramentas que favorecem esse tipo de leitura, sem deixarmos de considerar que, do
ponto de vista da dialogia da linguagem, toda leitura é colaborativa, no sentido de o leitor extrair do texto seus significados e
dialogar com ele. Neste ínterim, vimos que os meios digitais são ambientes propícios às leituras e escritas colaborativas, e que o
hipertexto traz outro espaço de leitura que vai além do papel, transbordando as páginas do impresso em determinados gêneros.

Assim, vimos que a leitura é um tema bastante amplo e que envolve muitas ações diante de um mesmo sujeito cada vez mais plural
e participativo, não apenas em função da tecnologia, mas porque o sujeito de hoje está sempre em contato com outras
possibilidades de leitura e de escrita, sem as quais tanto o aluno quanto o sujeito fora da sala de aula, não poderiam deixar de
considerar. Mais do que dizer que a tecnologia alterou as formas de leitura, é preciso dizer que o sujeito em si, também é outro, e
está em constante transformação.

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Material Complementar

Leitura
Práticas da Leitura

Autor: Roger Chartier

Editora: Estação Liberdade

Sinopse Roger Chartier nos introduz uma seleção de textos cruciais para
:

um país onde o estudo da leitura (ou da não leitura) e do livro, suas


práticas e sua história, são apenas incipientes. Os autores aqui reunidos
percorrem os principais aspectos deste complexo tema, da leitura erudita
e religiosa das elites encasteladas à popular e familiar, exercida
precariamente, e por poucos, numa época em que ler representava status
e ascensão social.

Na Web
Este livro de Marisa Lajolo, “Do mundo da leitura para a leitura do
mundo”, nos elucida muito bem a questão da leitura em sala de aula, as
suas práticas e uma abrangente análise sobre as didáticas em torno do
tema.

Acesse

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REFERÊNCIAS
ANDERI, E. G. C.; TOSCHI, M. S. Leitura: da tabuleta de argila à tela dos computadores. Texto Digital Florianópolis,, v. 8, n. 2,

jul./dez. 2012, p. 53-67. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/textodigital/article/view/1807-


9288.2012v8n2p53/2362 Acesso em: 14 set. 2017..

ANGELO, C. M. P.; MENEGASSI, R. J. A Leitura Compartilhada em Sala de Apoio. Educação em Revista Belo Horizonte, , v. 32, n. 3,
p. 267-292, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
46982016000300267&lng=en&nrm=iso Acesso em: 14 set. 2017. .

BARTHES, R. O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: Secretaria de
Educação Fundamental, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf Acesso em: 14 set. 2017.
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COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2016.

ECO, U. Lector in fabula. São Paulo: Perspectiva, 2004.

FERREIRA, S. P.; DIAS, M. G. Leitor e Leituras: considerações sobre gêneros textuais e construção de sentidos. Psicologia -
Reflexão e Crítica, Porto Alegre, n. 18, v. 3, 2005, p. 323-329. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/prc/v18n3/a05v18n3.pdf .

Acesso em: 14 set. 2017.

GERALDI, J. W. Portos de Passagem . 4. ed. São Paulo, Martins Fontes, 1997.

INSTITUTO PRÓ-LIVRO. Ibope Inteligência. Retratos da Leitura no Brasil - 4. ed. mar. 2016. Disponível em:
https://www.prolivro.org.br/home/images/2016/Pesquisa_Retratos_da_Leitura_no_Brasil_-_2015.pdf Acesso em: 14 set. 2017. .

KOCH, I. G. V. Hipertexto e construção do sentido. Alfa São Paulo, v. 51, n. 1, 2007, p. 23-38. Disponível em:
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https://periodicos.fclar.unesp.br/alfa/article/viewFile/1425/1126 Acesso em: 14 set. 2017. .

KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto São Paulo: Contexto, 2006.
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LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra/DC Luzzatto, 1996.

ORLANDI, E. P. Discurso e Leitura São Paulo: UNICAMP, 1993.


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SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc ., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez.
2002. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf Acesso em: 14 set. 2017. .

XAVIER, A. C. Hiperleitura e interatividade na Web 2.0. In: RÖSING, T.; RETTENMAIER, M. (orgs.). Questões de leitura no
hipertexto. Passo Fundo: UPF, 2013. p. 32-49. Disponível em: http://editora.upf.br/images/ebook/questoes_leitutra_hipertexto.pdf
.Acesso em: 14 set. 2017.

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APROFUNDANDO

Leitores: do contemplativo ao ubíquo

Falar de leitura é falar, também, de um processo histórico que acompanha algumas revoluções ocorridas no Ocidente, e que, de
fato, alteraram profundamente o modo como lidamos com o texto, nossos hábitos e preferências. O texto em si foi modificado, e há
algumas décadas, embora ainda recente, o contexto tecnológico do hipercontexto rompe as ligações entre o texto e o papel
quando passou a ser veiculado em outro suporte, o digital. Dessa forma, o leitor passa a dominar o texto na tela de seu computador
e, a partir dali, se vê frente a outras possibilidades de escrita, de leitura, de significados, enfim, há toda uma estrutura por detrás do
texto que permite ao leitor se adaptar a uma nova experiência cognitiva ao lidar com os enunciados.

Nesse sentido, Lúcia Santaella nos apresenta uma categorização dos tipos de leitores que acompanham a evolução do processo
social da leitura, a qual será apresentado aqui.

Segundo Santaella (2007, p. 24; 2013, p. 22), há quatro tipos diferentes de leitores: contemplativo, movente, imersivo e ubíquo.
Vamos a eles.

Contemplativo: o leitor contemplativo tem suas origens na Idade Média, quando a leitura deixa de ser mediada por um orador ou
um clérigo (poucos sabem ler à época) e passa a ser uma prática individual e sem interferências externas. Este perfil de leitor tem a
leitura como solitária, investigativa e reflexiva sobre o texto que lê, a sua relação com o livro impresso é muito silenciosa e marcada
pela individualidade, uma vez que a sua concentração se volta apenas para o objeto diante de seus olhos, e a construção de
sentidos se dá de forma paulatina e meditativa, entre suas idas e vindas pelas páginas do livro. Seria como os leitores de
bibliotecas, isolados em suas mesas de leitura.

Movente: o leitor movente tem relação com a Revolução Industrial, com o consumo de imagens e textos em movimento, ou seja,
diferente do leitor contemplativo, que se restringe ao ambiente solitário, o leitor movente é fruto inicial do advento da tecnologia
e a sua expansão, quando as propagandas começam a tomar conta das ruas por onde passa, os locais de leitura agora podem ser
mesas de bares, trens e bancos de praças, sobretudo, porque o jornais impressos se tornam muito populares, e sua difusão e acesso
rápidos envolvem cada vez mais leitores. Neste mesmo contexto, devemos considerar o cinema e a televisão como outros suportes
ao texto aos quais o leitor movente tem acesso e consume rapidamente. Um espaço de textos de muitas naturezas, um início do
que é configurado, mais adiante, como leitor imersivo.

Imersivo: este é o leitor que navega diante da tela dos computadores. O universo virtual gera uma multiplicidade de imagens, sons,
cores e mídias, todas diante dos olhos desse leitor que acaba por perceber a natureza efêmera de tais processos, uma vez que o
virtual é temporário e tudo acontece muito rápido. Esse tipo de leitor da hipermídia convive com um número variado de objetos de
informação e de elementos eletrônicos que o fazem estar sempre em prontidão, guiado por um labiríntico processo informacional
que ele próprio ajuda a construir quando está navegando. Isso caracteriza “um leitor implodido, cuja subjetividade se mescla na
hipersubjetividade de infinitos textos num grande caleidoscópio tridimensional, onde cada novo nó e nexo pode conter uma outra
grande rede numa outra dimensão” (SANTAELLA, 2007, p. 33).

Ubíquo: segundo Santaella, “à mobilidade física do cidadão cosmopolita foi acrescida a mobilidade virtual das redes. Ambas as
mobilidades entrelaçaram-se, interconectaram-se e tornaram-se mais agudas pelas ações de uma sobre a outra. A popularização
gigantesca das redes sociais do ciberespaço não seria possível sem as facilidades que os equipamentos móveis trouxeram para se
ter acesso a elas, a qualquer tempo e lugar. É justamente nesses espaços da hipermobilidade que emergiu o leitor ubíquo, trazendo
com ele um perfil cognitivo inédito que nasce do cruzamento e mistura das características do leitor movente com o leitor imersivo”
(SANTAELLA, 2013, p. 21).

REFERÊNCIAS
SANTAELLA, L. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2007.

__________. Desafios da ubiquidade para a educação. Revista Ensino Superior Unicamp Campinas, v. 9, p. 19-28, 2013. Disponível
,

em: https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/edicoes/edicoes/ed09_abril2013/NMES_1.pdf Acesso em: 19 set. 2017.


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PARABÉNS!

Você aprofundou ainda mais seus estudos!

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EDITORIAL

DIREÇÃO UNICESUMAR

Reitor Wilson de Matos Silva

Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho

Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva

Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin

Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ Núcleo de Educação .

a Distância; SANTA, Everton Vinicius de.

Autoria: produção textual e leitura colaborativa.

Everton Vinicius de Santa.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.

29 p.

“Pós-graduação Universo - EaD”.

1. Produção textual. 2. Leitura colaborativa. 3. EaD. I. Título

CDD - 22 ed. 469

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Pró Reitoria de Ensino EAD Unicesumar

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